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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Faculdade de Comunicação Social


Comunicação Comunitária – Professor Adair Rocha
Romullo César Herzer Peixoto

Mídia local e suas interfaces com a mídia comunitária no Brasil

O texto de Cecília Peruzzo se desenvolve na problemática acerca do que


seria mídia local e mídia comunitária e suas aplicações práticas, causas e
causalidades além de promover a reflexão sobre o conceito de comunitário. A
principio entende-se que mídias locais e comunitárias se distinguem no que refere
ao seu conteúdo. A bem da verdade, não há erro nesta afirmação. Entretanto seria
simplista compreender as distinções e características de cada meio apenas por seu
conteúdo. Antes é necessário compreender como se desenvolveram. A questão
central é com relação aos interesses que cada um desses veículos visa atender, ou
seja, quem se beneficia com material que se publica.

De maneira breve, a mídia local seleciona sua área de atuação de acordo


com a potencialidade de capitalizar sobre o público que ela será direcionada. De
maneira prática, a mídia local atende aos interesses das grandes corporações de
mídia e sua necessidade de enviesar o conteúdo a fim de propiciar melhores
condições para seus anunciantes e para sua linha editorial político-econômica.
Assim sendo, mídia local nem sempre tem relação com os interesses diários de uma
determinada comunidade. Neste tipo de mídia, a escolha pelo recorde de público
local em detrimento ao conteúdo que se produz a nível municipal, estadual e federal
é com a finalidade de potencializar a inserção dos conglomerados de mídia no meio
de determinado espaço.

Por outro lado a mídia local “é aquela gerada no contexto de um processo de


mobilização e organização social dos segmentos excluídos (e seus aliados) da
população com a finalidade de contribuir para a conscientização e organização de
segmentos subalternos da população visando superar desigualdades e instaurar
mais justiça social”, nas palavras de Peruzzo.

O texto ainda discorre sobre assuntos correlatos, como a questão dos


agentes sociais que promovem mídias comunitárias, a problemática sobre a
apropriação indevida do termo “comunitário” para legitimação de ações que não
partem de (e para) uma comunidade em específico, entre outros temas,
Internet e sociedade em rede

Este trabalho dispõe a respeito do nascimento e difusão da Internet como a


conhecemos, seu papel na globalização e sobre como a sociedade contemporânea
se relaciona com esta ainda nova ferramenta de comunicação. Castells constrói um
pequeno histórico de como a Internet surgiu e flertou com o fracasso uma vez que
poucos enxergaram nela um novo instrumento a serviço da sociedade.

Felizmente a internet acabou por se concretizar, de maneira orgânica, com


seus protocolos abertos, isto é, passível de ser manuseado por todos que detinham
domínio sobre a linguagem, isto em contraponto a quase “compra” da internet por
empresas gigantes do ramo da tecnologia nos anos de 1970.

A primeira questão a se indagar sobre o papel globalizador da internet é com


relação a sua geografia. Quando observamos, geograficamente, ainda hoje, o
número de pessoas com acesso a internet no mundo todo, vamos nos deparar com
a brutal discrepância entre países desenvolvidos e os subdesenvolvidos. O
problema é simples: quem primeiro dispõe de uma ferramenta, primeiro aprende a
operá-la e para ela impõe regras e disposições. Portanto, de certa maneira, não é
incoerente afirmar que a Globalização que a internet promove não é de fato global.
Ela segue padrões impostos pelo sistema capitalista, relegando às localidades
pobres do mundo defasagem tecnológica, uma vez mais.

Castells ainda trabalha a sociabilidade e política internet. De maneira breve,


os três conceitos trabalham de maneira muito próxima e muito fluida na internet.
Hoje, a capacidade de organização social na internet é alta, propiciando com mais
facilidade que movimentos políticos germinem. Por outro lado é um desafio à política
tradicional.

Por último, a questão dos meios de comunicação e a internet. Neste ponto o


texto se torna um pouco aquém dos tempos que vivemos, uma mostra que a
velocidade da evolução tecnológica torna obsoleto conclusões de alto nível
acadêmico. Hoje, a internet vem como braço auxiliar das mídia tradicionais, tendo
um caráter multimídia, isto é, uma informação complementando a outra. Quando
Castells escreveu seu texto, os conglomerados midiáticos ainda tentavam entender
como poderia melhor dispor da internet. Hoje já é cristalino como a internet veio para
dar suporte ao conteúdo tradicional.
“Um olhar comunitário sobre a cidade” e “Santa Marta - Duas semanas no
morro”

O curta de Eduardo Coutinho e o texto de Adair Rocha conversam


entre si da maneira que menos gostaríamos que o fizessem, ainda que
didaticamente necessários. Enquanto Coutinho esmiúça o cotidiano da favela Santa
Marta na zona sul do Rio de Janeiro, Rocha se debruça sobre o papel da
comunicação e da cultura nesse processo. Já no final dos anos 1980 - quando o
documentário foi gravado -, já é possível enxergar aspectos dos quais foram citados
anteriormente neste trabalho. A globalização, que através de um processo midiático
toma valor positivo, não se faz valer em localidades periferias nas cidades. As
mídias tradicionais chegam nas favelas, nos guetos, e nessas telas ou papéis o que
não é possível encontrar é a realidade de quem lá vive.

O sentido de vivencia é muito importante nesse ponto. Rocha cita o


imaginário que foi criado e difundido de violência e miséria que permeia sobre as
favelas, e áreas periferias de maneira geral. Isso não condiz com a pluralidade de
vivências que tem nessas regiões, onde muito se cria, muito se produz e consome.
A comunicação comunitária surge destas necessidades. Da necessidade de se
encontrar consigo mesmo, com suas notícias descritas por olhos e mãos de quem lá
habita e, principalmente, para quem lá habita. A comunicação comunitária não
somente é uma vertente do comunicação dita tradicional, ela é oposição. Todo
desgaste público e midiático somadas a busca por representatividade nos conduzem
ao que hoje de comunicação comunitária.

É obviamente difícil realizar um prognóstico quanto ao tema, afinal, os


elementos dessa equação são humanos e inerentemente voláteis. Contudo,
analisando o histórico recente onde sabidamente mais e mais processos
comunitários estão em franca expansão associados novas ferramentas e
potencialidades podemos trazer novas questões pertinentes ao que foi visto. Sobre a
internet e suas possíveis utilidades para os processos comunitários acredito que
Castells seja bem congruente com o tema:

Ela (a internet) é a infra estrutura tecnológica e o


meio organizativo que permitem o
desenvolvimento de uma série de novas formas
de relação social que não tem sua origem na
Internet, que são fruto de uma série de
mudanças históricas mas que não poderiam
desenvolver-se sem a Internet

Isso fica bem claro ao comparar o discurso dos moradores da favela Santa
Marta a Eduardo Coutinho, quando se queixam sobre como são vistos e tratados
pelos autoridades e como hoje se desenvolvem os discurso nos meios comunitários
impressos e online, onde é possível encontrar o fruto de comunidade mais coesa e
menos inerte ao poder midiático tradicional.

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