Os distribuidores teorema, o qual postula que a esco- pretendem e necessitam lha racional selecciona a quantidade, de saber quem são os desde que benefício e custo margi- nal sejam iguais. seus clientes e o que Mas estamos a falar de consumido- é que eles querem. res... e a primeira responsabilidade O que os consumidores de qualquer distribuidor, para além de gerar lucros através da venda de querem é muito simples bens e serviços, consiste em garan- e resume-se a uma tir a satisfação dos seus clientes, o única palavra: TUDO. que só será exequível se o distribui- dor conhecer, de facto, quem são os Em conformidade com seus clientes e quais as respectivas esta análise sugerimos necessidades. Na verdade, se algum um “Manifesto do princípio existe em distribuição que nunca poderá ser subestimado ou Consumidor” desvalorizado, é o de conhecer os consumidores e suas necessidades, como único meio eficaz de os satis- fazer e garantir a sua fidelidade. Uma forma simples e pragmática, de pôr em prática este princípio, foi lançada, ainda no século XIX, nos Estados Unidos, por Marshall Field e John Wananeker, através do slogan “O cliente tem sempre razão”. Mais tarde, Stew Leonard, na sua loja de Nova Iorque escreveu na pedra, não só esta regra mas também a seguin- Gonçalo Gameiro/Who
te: “E se alguma vez tiver dúvidas
leia novamente a primeira regra”. Na verdade, o valor que um consumidor representa para qualquer distribuidor não se circunscreve apenas ao mon- tante, mais ou menos elevado, por ele gasto numa única deslocação à loja ou num mero acto de compra. O que os distribuidores devem tentar A realidade há muito vem de- a melhor relação preço/ qualidade que se retira delas, ou seja, o benefí- contabilizar é o montante que esse monstrando que os consumidores ou, ainda, pelos que possuem todas cio que se obtém dessa utilidade re- consumidor irá gastar em sucessi- possuem um sentido apurado da estas características reunidas, estão lativamente ao respectivo custo, isto vas deslocações às suas lojas ou em economia e aplicam, porventura a ser, no fundo, racionais e equilibra- é, ao preço que se tem de pagar ou múltiplos actos de compra efectua- inconscientemente, os seus princí- dos. às outras utilidades que se deixam dos nos seus estabelecimentos ao pios fundamentais, nomeadamente, Racionais porque em função dos de ter. longo de períodos longos de dez, os princípios da racionalidade e do seus interesses próprios assumem Da combinação desta teoria do vinte ou mais anos. equilíbrio. decisões que pretendem ir ao en- valor do consumidor, se assim lhe E esse cálculo só poderá ser válido Quando os consumidores, entre contro da melhor solução, e equili- podemos chamar, com as referidas para o distribuidor se, em cada des- as diferentes opções de pontos de brados porque procuram combinar características básicas da teoria locação ou compra, o consumidor venda que lhes são oferecidos, op- da melhor forma possível essas económica, resulta que os consumi- ficar satisfeito e repetir, frequente- tam pelos que lhes proporcionam decisões, conduzidos pela tal “mão dores estão, sem o saber, a aplicar mente e ao longo do tempo, a deslo- os preços mais baixos, ou que ofe- invisível” que Adam Smith foi o pri- não só o primeiro teorema da econo- cação e a compra. recem a maior variedade e qualida- meiro a conseguir ver. mia, que estabelece que a escolha Ora, considerando que qualquer de do sortido, ou que se encontram Por outro lado, qualquer pessoa, deve recair sobre a alternativa que processo de aprendizagem consiste abertos nos dias e nas horas em que pelo menos intuitivamente, sabe que possua maiores benefícios líquidos em sucessivas mudanças compor- mais necessitam ou que apresentam o que dá valor às coisas é a utilidade de custos, mas também o segundo tamentais resultantes de experiên-
30 Dezembro de 2010 O novo agregador da advocacia
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cias acumuladas, o consumidor, ao comprar coloca o consumidor pe-
percepcionar os elementos que lhe rante a opção loja ou qualquer das são oferecidos, selecciona-os e or- “Os consumidores modalidades de venda à distância ganiza-os mentalmente, interpretan- são racionais porque ou venda directa, tais como, má- do-os de modo a enformar as suas em função dos seus quinas automáticas, catálogos, te- atitudes (ou seja, a predisposição ou leshopping, comércio electrónico, ou tendência para agir de determinada interesses próprios perante o meio a utilizar para efec- maneira) e opiniões (a verbalização assumem decisões tuar o pagamento, nomeadamente, dessas atitudes). que pretendem ir ao o dinheiro, o cheque, o cartão de José António Rousseau A forma como os consumidores encontro da melhor crédito, e a compra a pronto ou em Consultor e professor no IADE e IPAM evoluem neste processo de aprendi- solução, e equilibrados prestações. zagem tem dado origem à segmen- Por vezes, e não obstante o cuidado tação dos consumidores em grupos porque procuram e a preocupação em escolher bem, diferentes, cujas atitudes, opiniões e combinar da melhor os produtos adquiridos ou os servi- comportamentos podem ser isola- forma possível essas ços utilizados não satisfazem total- dos para se estudarem e compreen- decisões, conduzidos mente os consumidores ou acabam derem. pela tal ‘mão invisível’ por frustrar as suas expectativas. Procede-se, assim, a uma espécie Esta sensação negativa de que se de catalogação dos consumidores que Adam Smith errou na decisão tomada configura em diversos tipos possuidores de foi o primeiro uma espécie de dissonância cog- características comuns de consu- a conseguir ver” nitiva no espírito dos consumidores mo, designando-os genericamente geradora de múltiplas consequên- por exploradores, realizados, corajo- cias penalizadoras, tais como, nunca sos, esforçados, aventureiros, cren- mais voltar a comprar esse produto tes, etc. ou frequentar esse ponto de venda. Obviamente que o conhecimento No fundo, e independentemente da dos consumidores não se restringe concretização prática destas fases aos estereótipos referidos, sendo e do grau de profundidade e de re- fundamental analisar também, e por flexão que estas possuam, o fun- exemplo, as tendências de cresci- damental é que os consumidores mento da população, as suas carac- possam participar em experiências terísticas étnicas, as suas idades, a globais de compra satisfatórias. nunca de encontrar sempre am- composição e natureza dos agrega- E estas experiências globais de biente, relação, envolvimento dos familiares, o grau de educação, compra só serão uma realidade e experiências gratificantes de as suas actividades profissionais, o efectiva, sempre que e quando, os compra através de novos produ- nível social e económico, o valor de distribuidores quiserem e souberem tos e serviços. consumo que geram, etc. proporcioná-las aos consumidores. 3. O consumidor deseja ser seduzi- Por outras palavras, diria que a fa- No fundo, aquilo que os distribui- do e surpreendido, gosta que o mosa máxima socrática “Conhece- dores pretendem e necessitam de façam sonhar, muitos pretendem te a ti mesmo” deveria, para o dis- saber, independentemente do meio ser ajudados a se auto-definirem tribuidor, significar “Conhece o teu utilizado, é quem são os seus clien- e alguns esperam até conseguir cliente como a ti mesmo”. “Sem o saber, os tes e o que é que eles querem. mudar as suas vidas. Este esforço de procura por uma consumidores aplicam E o que os consumidores querem é 4. O consumidor exige fazer as suas mais profunda compreensão do muito simples e resume-se a uma compras onde e quando puder não só o primeiro comportamento de compra destes única palavra: TUDO. ou quiser, sem constrangimentos grupos de consumidores conduziu teorema da economia, Proponho assim, de forma sistema- nem condicionantes, e ser livre ao desenvolvimento de inúmeros que estabelece que a tizada e sintética, para responder a de poder optar pelas melhores modelos que tentam explicar os escolha deve recair esta mera exigência de apenas que- propostas de valor que lhe forem processos de decisão de compra, sobre a alternativa rer TUDO, o seguinte “Manifesto do apresentadas. partindo todos eles da premissa de Consumidor”: 5. O consumidor quer garantir o di- que possua maiores que o comportamento dos consu- 1. O consumidor assume-se hoje reito a poder reclamar e resolver midores é uma actividade que con- benefícios líquidos de como um ser mutante, um pou- qualquer problema decorrente siste em resolver problemas através custos, mas também co andrógino, racional e exigen- da aquisição e utilização de pro- de opções que têm de ser tomadas o segundo teorema: te que pretende, sempre e em dutos defeituosos ou avariados. pelos consumidores. a escolha racional simultâneo, custos baixos, ra- 6. O consumidor acha-se no direito Por exemplo, o que comprar exige pidez, confiança e comodidade de ser devidamente informado selecciona a quantidade fazer opções entre produtos, preços nas suas compras, seja qual for e, à transparência das ofertas e marcas diferentes; onde comprar desde que benefício o local ou o meio através do qual comerciais, a não ser enganado obriga a escolher entre os tipos de e custo marginal as efectue. por publicidade enganosa ou por lojas ou serviços oferecidos; como sejam iguais” 2. O consumidor não prescinde propostas não sérias.