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INTA - INSTITUTO SUPERIOR DE TEOLOGIA APLICADA

FACETE - FACULDADE DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA

Título:

A FORMAÇÃO HISTÓRICA E AS DIFERENTES CORRENTES TEOLÓGICAS


SOBRE A DOUTRINA DA TRINDADE

Autor:

Marcos Peter Teixeira Soares1. Professor, especialista em Língua Inglesa, Professor


visitante de Língua Inglesa Instrumental e de Leitura e Produção Textual da UNEB –
Campus VI e professor de Escola Bíblica da Igreja Adventista do Sétimo Dia
Movimento de Reforma. Aluno do curso de graduação Bacharel em Teologia da
FACETE cursando o quarto período. (marcospeter1@hotmail.com.br)

Caetité, 11 de fevereiro de 2011.

RESUMO

Este artigo tem como objetivo discutir a formação histórica e as diferentes visões
teológicas concernentes a doutrina da Trindade. Para este trabalho foi necessário
fazer um aprofundamento teórico e nesse aprofundamento abordaram-se alguns
conceitos que foram de extrema importância para o desenvolvimento do mesmo.
Após toda a análise, constatou-se que a formação da doutrina da Trindade se
desenvolveu ao longo de vários períodos da história da igreja cristã. O artigo
também buscou destacar as diferentes concepções teológicas sobre a Trindade.

1
Graduando do Curso Bacharel em Teologia da FACETE. (marcospeter1@hotmail.com.br)
2

PALAVRAS-CHAVE:
Trindade, Bíblia, Concepções Teológicas, Doutrina. História, Cristianismo

ABSTRACT

This article has as objective discusses the historical formation and the different
theological currents on the doctrine of Trinity. For this work was necessary to do a
deep search theoretical and in that search some concepts were approached that
went of extreme importance for the development of the same.
After the whole analysis, it was verified that the formation of this doctrine grew along
several periods of the history of the christian church. The article also looked for to
detach the different theological conceptions on Trinity.

KEY- WORDS

Trinity, Bible, Theological Conceptions. Doctrine, History, Christianity,


3

1 INTRODUÇÃO

O objetivo geral desse artigo científico foi o de analisar a história da formação


da doutrina conhecida como Trindade dentro do cristianismo e verificar as diferentes
concepções teológicas sobre a mesma doutrina. Buscou-se, recapitular as vertentes
trinitariana, ariana e outras anti-trinitarianas, englobando assim as principais visões
sobre esta doutrina em diferentes segmentos do cristianismo.

A doutrina da Trindade, é provavelmente, a mais difícil e misteriosa das


doutrinas que encontramos na teologia cristã. Esta doutrina foi gerada num período
conturbado da história eclesiástica. Por isto, é uma insensatez afirmar que podemos
dar uma explicação completa sobre a doutrina. Devido à natureza do tema, só
podemos saber, a respeito de Deus, o pouco que as Escrituras nos revelam. A tripla
personalidade de Deus, como é exposta na doutrina da Trindade é aceita por uma
parcela considerável da cristandade, mas, também discutida por outra parcela não
menos relevante.

Antes de toda e qualquer criação, Deus era completamente auto-suficiente e


todo-inclusivo. Tudo que existia era Deus; não havia nada que não fosse Deus. Sem
início, Deus existe para sempre numa essência imutável, escolhendo eternamente
ser a si mesmo a partir de sua natureza.1 Além disso, o Ser supremo é infinito em
cada uma de suas características, muitas que talvez nunca foram reveladas e nem
poderiam ser entendidas pelos seres humanos.2

Sob o nome de Deus (a maior parte dos que professam) a fé cristã vê o Pai, o
Filho e os Espírito Santo em eterna correlação, interpenetração e amor. De sorte
que são um só Deus uno.3 A unidade significa a comunhão das Pessoas divinas. No
princípio não está na solidão do Uno, mas a comunhão das três divinas pessoas.

A razoabilidade da fé na Trindade transparece melhor quando confrontada


com o monoteísmo e o politeísmo, em diálogo como a unidade e a pluralidade. No
monoteísmo nos defrontamos com a solidão do Uno. Por mais rico e pleno de vida,
inteligência e amor que ele seja, não terá jamais alguém do lado dele. Ele estará
eternamente só. Todos os demais seres lhe serão subalternos e dependentes. Se
comunhão houver, ela sempre será desigual.
4

No politeísmo na compreensão comum, temos a ver com a pluralidade de


divindades, com hierarquias e diferenças de natureza, benéfica ou maléfica. Esvai-
se a unidade divina.

A base para entender-se a Trindade é a personalidade de Deus. A Escritura


apresenta-nos um Deus pessoal, Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na
eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com
o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar
o coração dos contritos. Isaías 57:15. Visto que o homem foi criado conforme a
imagem de Deus, podemos compreender algo da vida pessoal de Deus pela
observação da personalidade como a conhecemos no homem.4

Evidentemente, pela natureza das coisas, a personalidade divina é algo


infinitamente superior à personalidade humana; mas é a única alternativa para um
Deus pessoal é, cremos, um Deus impessoal. E quando afirmamos que Deus é
impessoal, passamos a defender o primeiro dogma do ateísmo. Loraine Boettner,
conhecido teólogo reformado, afirma que: se Deus existe, tem que ser pessoal. Não
podemos adorar o Princípio do Absoluto, nem ter comunhão com um Poder
Cósmico; e, afirmar que Deus é superpessoal, é iludirmos, com uma frase
altissonante.

Uma das objeções mais comuns alegadas contra a doutrina da Trindade é


que ela implica no triteísmo, ou seja, a crenças em três Deuses. E como veremos
adiante, o desenvolvimento histórico da doutrina se deu nas controvérsias anti-
trinitárias. Porém, o fato é que, as Escrituras nos ensinam que há um só Ser, auto-
existente, eterno e supremo, em quem são inerentes todos os atributos divinos.
Tanto o Velho como o Novo Testamento ensinam a unidade de Deus.

A doutrina de um só Deus, Pai e criador, constitui o pano de fundo e a


premissa inquestionável da fé da igreja. Herdada do judaísmo, ela foi sua proteção
contra o politeísmo pagão, o emanacionismo gnóstico5 e o dualismo marcionita.6
Para a teologia, o problema era integrá-la no âmbito intelectual como os novos
dados da revelação especificamente cristã. Reduzimos à sua formulação mais
simples, tratavam-se das convicções de que Deus Se havia dado a conhecer na
Pessoa de Jesus, o Messias, ressuscitando-o dos mortos e oferecendo salvação aos
5

homens por seu intermédio, e que Ele havia derramado Seu Santo Espírito sobre a
igreja.7

A TRINDADE E O VELHO TESTAMENTO

O Velho Testamento não contém a plena revelação da existência trinitária de


Deus, mas contém várias indicações dela. Esta revelação vai tendo maior clareza,
na medida em que a obre redentora de Deus é revelada mais claramente, como na
encarnação do Filho, e no derramamento do Espírito.

Alguns teólogos divergem quanto as provas bíblicas da Trindade no Velho


Testamento. Berkohf não concorda que a distinção, muito utilizada, entre Iavé e
Elohim, e o plural Elohim, sejam provas da doutrina. Segundo ele; é mais plausível
entender que as passagens em que Deus fala de si mesmo no plural, em Gn 1:26;
11:7, contém uma indicação de distinções pessoais em Deus, conquanto não
sugiram uma triplicidade, mas apenas uma pluralidade de pessoas.9

Leonardo Boff, também não crê que Gn 1:26, indique a Trindade. A fórmula
plural de Gn 1:26, não possui caráter trinitário; trata-se, segundo ele, de um plural
majestático, como alguns querem, ou de um plural deliberativo, como outros
interpretam: Deus estaria deliberando consigo mesmo; o plural é apenas estilístico.
Para Boff, o tríplice santo de Is 6 não possui também característica trinitária; tríplice
repetição do "santo" é um recurso estilístico para enfatizar a transcendência e
soberania de Deus. Boff, não segue o pensamento dos Pais da Igreja, que sempre
se referiam à estas passagens como base para a elaboração dos conceitos
trinitários .

Os escritores do Velho Testamento afirmam o monoteísmo divino. É a partir


dele que definiu-se a doutrina da Trindade. Deus é uno tanto no Antigo como no
novo Testamento: Dt 6:4 "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus, é o único Senhor", Mc
12:29 "Respondeu Jesus: o principal é : Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o
único Senhor!"; Ef 4:6 (Há) um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por
meio de todos e está em todos".

Vemos aqui afirmações claras e inequívocas de monoteísmo: Deus é um só.


Essa confissão de fé assinala Israel como uma nação absolutamente dedicada ao
6

monoteísmo. Separa claramente a fé religiosa do Antigo Testamento de qualquer


das formas de politeísmo.

Os nomes de Deus no Velho Testamento são importantes para entender a


Trindade. Muito se escreveu desde o século passado em relação a este tema,
principalmente a escola teológica liberal alemã, que baseou suas pesquisas nas
diferenças no uso dos nomes de Deus em todo o V.T., dando origem a famosa teoria
documental.10

No primeiro capítulo de Gênesis, verifica-se que os nomes de Deus estão no


plural, Elohim, e, também, Adonai; e a estes plurais do nome divino, juntam-se em
geral verbos e adjetivos no singular. Um fenômeno singular extraordinário, dado que
em hebraico existe uma palavra singular El, para Deus. O texto de Deuteronômio,
afirma em hebraico, palavras no plural: "Iavé, nosso Elohim, é um só Iavé".

Isto mostra que Deus, o Senhor, na Sua maneira de ser e nos pactos
firmados por Ele com os homens, é mais do que um, ainda que "um só Iavé", quanto
à essência do Seu ser.

Muito importante é o fato de que, começando no livro de Gênesis, e


prosseguindo, cada vez mais com nitidez, através de outros livros do V. T.,
encontramos uma distinção entre Iavé e o Anjo de Iavé, que se apresenta como um
em essência com Iavé, porém distinto d'Ele. Tal acontecimento, em que Deus toma
a forma de um anjo ou de um homem, para falar, visível e audivelmente, ao homem
é chamado de Teofania.

À medida que a revelação vai sendo desenvolvida, mediante uma sucessão


de profetas, verifica-se que títulos divinos, e adoração divina, são dados a este Anjo,
que Este os aceita; que Ele se revela como um Ser eterno, o Deus Todo-Poderoso,
o Príncipe da Paz, o Adonai, o Senhor de Davi; que vai nascer de uma virgem; que
Ele será desprezado e rejeitado pelos homens. Varão de dores e experimentado em
trabalhos; que Ele levará sobre Si o pecado de muitos e que, acima de tudo,
estabelecerá o reino de justiça, que aumentará até encher a terra.

Estas profecias, como o Novo Testamento mostra, foram cumpridas em Cristo, a


Segunda Pessoa da Trindade.
7

Em geral, as referências, no A.T., a respeito do Espírito Santo, eram tão


indistintas, que pareciam referir-se apenas a uma energia ou influência, procedente
de Deus. Em parte alguma se chama ao Espírito, especificamente, uma Pessoa; e,
no entanto, quando se fala Dele, é em termos que poderíamos aplicar muito bem a
uma pessoa.

Lidos à luz do Novo Testamento, porém, há bastante lugares em que se


percebe que é uma Pessoa distinta. As Escrituras usam pronomes pessoais para
indicar o Espírito Santo, elas revelam o Espírito não como uma força abstrata, um
poder ou uma coisa, mas como "ele".

Por exemplo, aquilo que é dito sobre Deus Pai é dito também a respeito do Espírito
de Deus. As expressões "Deus disse" e "o Espírito disse" são repetidamente
intercaladas. E as obras do Espírito Santo aparecem como obras de Deus.

Em Isaías 6:9, Deus diz: "Vai e diz a este povo". No N.T. é citado da seguinte
maneira, At 28:25, começando com estas palavras, "Bem falou o Espírito Santo a
vossos pais, por intermédio do profeta Isaías..." Nesse caso o apóstolo atribuiu o
falar de Deus ao Espírito Santo.

A TRINDADE E O NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento traz consigo uma revelação mais clara das distinções da
Divindade. Esta revelação foi feita na encarnação de Cristo, e no derramamento do
Espírito Santo. Segundo Warfield, foi na vinda do Filho de Deus, na semelhança da
carne do pecado, para se oferecer a Si mesmo com um sacrifício pelo pecado; e na
vinda do Espírito Santo, para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo,
que a Trindade de Pessoas na Unidade da Divindade foi revelada, de uma vez para
sempre, aos homens.11

O texto básico para discutir-se a divindade do Filho é João 1:1-2, 14.

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
8

Ele estava no princípio com Deus. E o Verbo se fez carne, e habitou entre
nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de
verdade.

O vocábulo Verbo, é traduzido por "Palavra" nas versões modernas, como a


NVI, BLH e Bíblia de Jerusalém. O vocábulo original para Verbo é Logos. O termo
indica que o Logos é uma Pessoa divina, que estava no princípio da Criação.
Interessante notar que na Septuaginta, versão grega do A.T., a construção poética
de Gênesis 1 tem um paralelo formidável com este texto de João.

A expressão de João que o Verbo era Deus, indica a divindade do Verbo, e o


verso 14, indica a sua humanidade, quando afirma que ele habitou entre nós.

O Espírito Santo é apresentado como a terceira pessoa divina, ligado ao Pai e


ao Filho, mas distinto deles, da mesma forma que o Pai e o Filho são distintos um do
outro. A sua individualidade está dentro da unidade de Deus. A própria palavra santo
sugere sua divindade. Jesus declara que o nome de Deus, em que devem ser
batizados aqueles que se tornam seus discípulos, é tripessoal.12

FORMAÇÃO DAS IDÉIAS TRINITARIANA E ARIANA

A teologia, nos primórdios, rumou-se para a filosofia neo-platônica buscando


idéias para definir o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
"A filosofia grega, que primava pelo seu acume lógico, forneceu aos teólogos
cristãos o instrumental necessário para que pudessem elaborar a reta formula da fé."
(Diálogo Ecumênico, 2° ed. pág. 67)
A controvérsia trinitariana, que chegou ao clímax no conflito entre Ário e Atanásio,
teve suas raízes no passado. Os Pais da Igreja Primitiva, conforme vimos, não tinham
idéias claras sobre a Trindade. Alguns deles concebiam o Logos como razão impessoal,
que se tornara pessoal quando da criação; outros, porém, reputavam-nO pessoal e co-
eterno com o Pai, participante da essência divina, embora Lhe atribuíssem certa
subordinação ao Pai. O Espírito Santo não ocupava lugar importante nas discussões
deles. Aludiam a Ele primariamente em conexão com a obra de redenção aplicada aos
corações e à vida dos crentes.
9

Alguns consideravam-nO subordinado, não somente ao Pai, e sim também ao


Filho. Tertuliano foi o primeiro a declarar claramente a tri-personalidade de Deus e a
manter a unidade substancial das três Pessoas. Mas não Chegou a exprimir de forma
clara a doutrina da Trindade.

Ário e o arianismo.

O grande conflito trinitariano geralmente se chama de controvérsia ariana, por ter


sido motivado pelas idéias anti-trinitarianas de Ário, um presbítero de Alexandria, o qual
sabia debater com maestria, embora não fosse um espírito profundo. Suas idéias
dominante era o princípio monoteísta do monarquianismo, isto é, que só existe um Deus
não gerado, um único Ser não-originado, sem qualquer começo de existência.

Oposição ao arianismo.

Ário foi contestado, primeiramente pelo seu próprio bispo, Alexandre, que
contendia pela verdadeira e devida deidade do Filho, ao mesmo tempo que mantinha o
ensino da filiação eterna por geração. No decorrer do tempo, entretanto, seu real
oponente mostrou-se ser o arquidiácono de Alexandria, o grande Atanásio, que figura
nas páginas da história como um poderoso, inflexível e resoluto campeão da verdade.
Atanásio salientava bem a unidade de Deus e insistia em verbalizar a doutrina da
Trindade de um modo que não pudesse em perigo essa unidade. Se o Pai e o Filho são
da mesma essência divina, por outro lado não há divisão ou separação no Ser essencial
de Deus, e assim é errôneo falar de um Theos Deuteros.
O Concílio de Nicéia foi convocado em 325 d.c para solucionar a disputa.
Após considerável debate, finalmente o Imperador lançou o peso de sua
autoridade na balança, dando a vitória ao partido de Atanásio. O concílio adotou a
seguinte declaração a respeito da questão em pauta:
“Cremos em um Deus, o Pai Todo-Poderoso, Criador das coisas visível e invisível .
E em um Senhor Jesus Cristo, gerado, não criado, sendo da mesma substância
(homoousios) com o Pai”, etc.
A disputa em torno do Espírito Santo. Até esse tempo não se tinham feito intensas
considerações sobre o Espírito Santo. Embora houvessem sido expressadas opiniões
discordantes sobre o assunto. Ário afirmara que o Espírito Santo fora o primeiro ser
10

criado pelo Filho, opinião que se harmonizava bem como a de Orígenes. Atanásio dizia
que o Espírito Santo é da mesma essência que o Pai, mas o Credo Niceno contém
apenas uma declaração indefinida: “E (eu creio) no Espírito Santo”.
A concepção ocidental da Trindade chegou à sua declaração final na grande obra
de Agostinho, De Trinitate. Ele também res-saltou a unidade de essência e a trindade de
Pessoas. (A História das Doutrinas Cristãs, pág. 77-84 – cap. 12)
O Concílio de Nicéia realizado no ano 325, no período da Igreja de Pérgamo.
Este concílio foi o mais famoso da história da Igreja, por ter sido convocado pelo
Imperador Constantino, que nele pronunciou um discurso assentado sobre o seu trono
de ouro, por ser encontrarem presentes 318 bispo...
Tais foram às influências que se concentraram ao redor do bispo de Roma, e
assim tendeu tudo a rapidamente elevá-lo ao domínio espiritual da cristandade . Mas o
quarto século estava destinado a presenciar um obstáculo colocado no caminho desse
sonho ambicioso. Ário, pároco da antiga e influente igreja de Alexandria, pregou sua
doutrina ao mundo e ocasionou tão violenta controvérsia na igreja cristã, que o
imperador Constantino convocou o concílio de geral de Nicéia em 325 para considerar e
decidir acerca da doutrina ariana. Ário sustentava “que o Filho era total e essencialmente
distinto do Pai; que era o primeiro e mais nobre dos seres que o Pai criou do nada, o
instrumento por cuja operação subordinada o Pai Todo-Poderoso formou o universo, e
portanto era inferior ao Pai tanto em sua natureza como em Sua dignidade.” Esta opinião
foi condenada pelo concílio, o qual decretou que Cristo era de uma mesma substância
com o Pai. Com isso Ário foi desterrado para a Ilíria, e seus seguidores foram
compelidos a dar seu assentimento ao credo composto naquela ocasião. (História da
Igreja Oriental, pág. 239)
O Neoplatonismo era uma interpretação panteísta e mística do pensamento
Platônico. A influência do Neoplatonismo sobre a teologia cristã viria a ser muito
pronunciada, especialmente em Agostinho.
Em Agostinho, portanto, o primeiro pensamento a respeito de Deus era sempre o
ser uma relação pessoal com um ser, somente em quem o homem pode encontrar real
satisfação e bem. Quando, no entanto, refletia em Deus filosoficamente, fazia-o em
termos tomados do Neoplatonismo. Agostinho não estava satisfeito com a distinção em
termos de pessoas... É evidente que, embora Agostinho se mantivesse fiel à tradição
eclesiástica, suas próprias tendência e sua filosofia neoplatônica levavam-no em direção
do monarquianismo Modalista. (História da Igreja Cristã, 4ª ed., pág. 146,235 Vol. 1e2)
11

Para Agostinho, “Pai, Filho e Espírito, são um só Deus, único, grande,


onipotente, bom, justo, misericordioso. O Pai, o Filho e o Espírito Santo, de uma só
e mesma substância. Não são três deuses, ou três bens,, ou três onipotentes, mas
um só Deus, bom e onipotente, que é a Trindade. Tertuliano, Orígenes e Atanásio
haviam ensinado a subordinação do Filho e do Espírito Santo ao Pai. Agostinho deu
tal ênfase à unidade que ensinou a plena igualdade das pessoas.” (História da Igreja
Cristã, pg. 236, Williston Walker)
Entre os sacerdotes originados das instituições de ensino religioso, Agostinho
merece destaque: seu pensamento, baseado em preceitos pagões e neoplatonistas,
deu origem a uma adaptação e solidificação das questões doutrinais cristãs. Faz uma
junção entre o platonismo e a religião, fazendo correspondência entre o lado espiritual e
o mundo material. Agostinho procurou adaptar o pensamento pagão de Platão às
exigências teológicas cristãs. (Enciclopédia Digital, disco 1)
Este pensamento Agostiniano é também defendido por várias igrejas
evangélicas e pela Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Veja: Desde a infinita eternidade, três são os que regem o universo.
Iguais em onipotência, onisciência, onipresença, em substância, em glória e em
eternidade. São três santos, são três grandes poderes, três pessoa, quer dizer três
seres independentes um do outro.
Cada um deles é chamado Deus." (Revista Adventista, outubro de 1978, pág. 39)
A partir de Agostinho, vimos à idéia de plena igualdade entre as pessoas do
Trio celeste. Esse teólogo, ensinava de que não havia subordinação entre as três
pessoas. Para ele, o Espírito Santo de nada dependia do filho e nem do Pai. Todos
eram soberanos numa mesma plataforma de igualdade. Assim ensinava quando
representava o poder eclesiástico.
Todavia, quando refletia filosoficamente fazia-o em termos tomados do neo-
platonismo, o panteísmo grego; usando idéias como: a memória, o entendimento e a
vontade; o amor, o que ama e o que é amado; como a água, em estado: Líquido,
sólido e gasoso.
Antes de Agostinho, os teólogos eminentes e respeitados, Tertuliano, Orígenes
e Atanásio, os principais inimigos dos Arianos ensinavam uma certa diferenciação,
indicando não haver igualdade plena. Esta igualdade vimos que originou-se a partir
de uma mente Panteística. Porque:
12

“Agostinho não estava satisfeito com a distinção em termos de pessoas, mas


ela (termo pessoas) estava consagrada pelo uso e ele não conseguiu sugerir um
substituto melhor. Quando nos indaga o que são esses três (Pai, Filho e Espírito),
temos de reconhecer a indigência (pobreza) extrema da linguagem humana.
Dizemos, no entanto, “três pessoas”, não como se pretendêssemos definir, mas para
não ficar em silêncio.” (Pensamento de Agostinho – História da Igreja Cristã, pág.
236.)
“A fé apostólica no tocante ao Espírito foi confessada pelo segundo concílio
ecumênico em 381, em Constantinopla... O Credo da Igreja, do Concílio de
Constantinopla, confessa: Com o Pai e o Filho ele recebe a mesma adoração e a
mesma glória.” (Catecismo Igreja Católica pág. 69 8° edição pop.)
“No decurso dos primeiros séculos, a Igreja procurou formular mais
explicitamente a sua fé trinitária, tanto para apro-fundar a sua própria compreensão
da fé, quanto para defendê-la contra erro que a estavam deformando. Isso foi obra
dos Concílios antigos, ajudados pelo trabalho teológico dos Padres da Igreja e
apoiados pelo senso da fé do povo cristão.
Para a formulação do dogma da Trindade, a Igreja teve de desenvolver uma
terminologia própria recorrendo as noções de origem filosófica... ao fazer isto, não
submeteu a fé a uma sabedoria humana senão que imprimiu um sentido novo,
inaudito, a esses termos, chamados a significar a partir daí também um Mistério
inefável...” (Catecismo da Igreja Católica pág. 70 8a edição popular )

CREDO ATANASIANO:

“O professo cristianismo, mesmo os chamados protestantes, aceitam o credo


elaborado pelo bispo Atanásio no IV Século; no qual diz:
1 – Para todo aquele que deseja ser salvo; antes de tudo é necessário que
mantenha a fé católica.
2 – Por cuja fé, a menos que cada um se conserve íntegro e incontaminado;
sem dúvida perecerá para sempre.
3 – E a fé católica é esta: Que adoramos um Deus em trindade, e trindade
em unidade...” (Philip Schaff, Creeds of Christendom, 1919, citado por Pr. Pedro
Apolinário, Adv. No livro, As Testemunhas de Jeová e sua interpretação da Bíblia
pág. 229, .)
13

“Há pois um Deus Trindade em quem nós cristãos acreditamos...” (Folheto


Nós e Nós, Série II)
“Essas palavras do Concílio Vaticano II nos indicam claramente a importância
do batismo para o movimento ecumênico. É nele (no batismo) que se fundamenta
todo o esforço pela consecução de uma unidade visível...”
(Guia Ecumênico, pág. 25, 1986)
“Os cristãos são batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Antes
disto eles respondem Creio... no Pai, no Filho e no Espírito – A fé de todos os
cristãos consiste na Trindade.
O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã.”
(Catecismo da Igreja Católica, págs. 66, 67 8° ed. popular)
“A imagem do Triângulo representa bem a unidade da TRINDADE...” (Folheto
Nós e Nós, Série II)
* Vimos na história como a doutrina da Trindade teve seu acesso na Igreja, no
período (323 a 538 a.d.) da Igreja de Pérgamo (apoc. 2:12-17). Período da
apostasia, quando foi mudado o dia de repouso, o sábado para o domingo.
“Foi à apostasia que levou a igreja primitiva a procurar o auxílio do governo
civil, e isto preparou o caminho para o desenvolvimento do papado – a besta.”
“Assim a apostasia na igreja preparará o caminho para a imagem à besta.”
(O Grande Conflito pág. 443,444 )

A SUPREMACIA DO PAPA E OS TRÊS REINOS ARIANOS

Então, ele disse: O quarto animal será um quarto reino na terra, o qual será
diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará em
pedaços. Os dez chifres correspondem a dez reis que se levantarão daquele mesmo
reino; e, depois deles, se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e
abaterá a três reis. Daniel 7:23,24 ver 7:8
* Porque esses três (chifres) reinos foram destruídos? Essas três nações não
eram trinitárias e nem simpatizavam com o papado (chifre pequeno); razão porque
foram destruídos.
Contudo, a própria controvérsia não seria suprimida desta maneira sumária,
mas continuaria por século a agitar o mun-do cristão; e os arianos se fizeram, por
toda parte, acerbos inimigos do papa e da igreja Católica Romana. Estes fatos
14

evidenciam que a difusão do arianismo tolheria a influência do catolicismo, e que a


posse de Roma e da Itália por um po-vo ariano seria fatal para a supremacia de um
bispo católico. Mas a profecia declara que este chifre chegaria ao poder supremo e
que, para alcançar esta situação, subjugaria três reis.
A relação que estes reis arianos mantinham com o papa, pela qual se pode ver
que teriam de ser submetidos para se abrir o caminho à supremacia papal, é
mostrado no seguinte testemunho de Mosheim, em sua história eclesiástica. (As
profecias de Daniel, Urias Smith, pág. 98a101)
Três dos primeiros chifres. O “Chifre pequeno” é um símbolo de Roma Papal.
Portanto o arrancar dos três chifres simboliza a derrota de três das nações bárbaras.
Entre as principais obstruções à elevação de Roma papal ao poder político
estavam os hérulos, os vandalos e os ostrogodos. Todos os três eram sustentáculos
do arianismo, que era o mais tremendo rival do catolicismo. (Comentário Sobre
Daniel pág. 242-244 3a ed. – Inst. Adv. de Ensino)
Esses últimos três reinos foram destruídos entre 493 e 538
“Porque a Roma papal, para firmar sua supremacia, teve de desarraigar três
povos que, havendo abraçado o arianismo (antitrinitarismo), não reconheceu sua
autoridade religiosa.” (O Mundo do Futuro, pág. 219 – CPB da IASD)
Em 538, extipado o último poder ariano, Justiniano procedeu “sem demora ao
estabelecimento completo da Igreja católica”. (Gibbon XLI, 21). O Papa foi revestido
de poder temporal, para que, como “castigador dos hereges”, pudesse proceder
contra os que se lhe opunham. (Um Novo Mundo, pág. 99 – autor A. Balbach)

CAMINHOS EQUIVOCADOS

Os servos da congregação que estão encarregados do Salão do Reino dar-


lhe-ão boas vindas com rostos sorridentes e braços abertos. Eles falarão do amor
que encontraram na Organização de Deus, a Sociedade Torre de Vigia, a religião
das Testemunhas de Jeová.13

As palavras de David Reed, são um alerta para a Igreja. Apesar do zelo, do


cuidado, da postura quase cristã, as Testemunhas de Jeová negam a autoridade
das Escrituras, negam a divindade de Cristo e do Espírito, bem como sua
pessoalidade. A Trindade para eles é uma forma de politeísmo pagão.
15

Para muitos crentes alheios à história da igreja, este discurso se apresenta


como novidade. E mesmo as Testemunhas de Jeová desconheciam seus
antecedentes históricos. Sua postura teológica é ariana. De acordo com o bispo Ário
do quarto século. Que negava a preexistência de Cristo, afirmando que ele tinha
sido criado pelo Pai. Cristo era divino, mas não em igualdade com o Pai.

Segundo Gordon D. Fee, hoje eles se declaram arianos autoconscientes, em


uma nota de seu livro, "Paulo, o Espírito e o Povo de Deus",14 Fee afirma:

"Foram necessárias muitas décadas para as Testemunhas de Jeová


descobrissem que eram arianos. Desde aquele dia eles cessaram de 'testemunhar' a
respeito do assunto do 'reino', como era sua praxe, e em vez disso adotaram seu
arianismo antitrinitário com total e intencional vigor".15

Quais são as distorções da doutrina da Trindade? Pode-se dividir


didaticamente em três principais:

a) Pai, Filho e Espírito Santo, três modos de aparecer do mesmo Deus.

O modalismo.

O termo foi cunhado por Adolf Von Harnack, no século XIX. Diz a doutrina:

Deus é um e único. Ele funda uma monarquia cósmica, pois somente Ele é
senhor sobre todas as coisas. É por Ele que os reis e governadores governam.
Entretanto, em sua comunicação com a história, este Deus único se mostrou sob
três modos. A mesma e única divindade aparece sob três rostos e mora em nosso
meio de três maneiras diferentes como Pai, Filho e Espírito Santo.

O mesmo Deus enquanto cria e nos entrega a Lei se chama Pai; o mesmo
Deus enquanto nos redime se chama Filho; e o mesmo Deus enquanto nos santifica
e nos dá sempre a vida se chama Espírito Santo. O mesmo Deus teria três
pseudônimos. Deus é indivisível, não existe comunhão de três pessoas nele; o que
existe é a unicidade divina projetando para nós mediante três modos diferentes.

O modalismo foi condenado insuficiente para expressar a fé cristã na


Trindade. No batismo de Jesus, foram manifestadas a três pessoas distintas da
16

Trindade - o Pai falando do céu, o Filho saindo das águas, e o Espírito repousando
sobre Ele (Mc 1:11). Nos evangelhos, encontramos Jesus, freqüentemente, fazendo
menção do Pai como outra Pessoa. Muitas vezes Ele se dirigia ao Pai em oração
(João 17).

b) O Pai é o único Deus, o Filho e o Espírito Santo são criaturas subordinadas.

Subordinacionismo

Afirma-se também a unidade de Deus, em detrimento as outras pessoas


divinas. Deve-se tributar prudente veneração a Jesus Cristo, mas não ao ponto de
igualá-lo a Deus mesmo, pois tal excesso destrói o sentido autêntico de Deus. Ele
pode ser semelhante (homoioúsios) a Deus, jamais porém igual (homooúsios) a Ele.
Ele é a primeira criatura, o protótipo de todas as criaturas, mas não Deus.

Ário é o teólogo mais influente que defendeu esta tese. Ele e seus discípulos
enfatizavam o fato de que Jesus foi um ser humano perfeitíssimo, porque ele estava
cheio do Espírito. Nota-se uma influência muito grande do pensamento filosófico
grego em Ário. Para ele o Logos de João não é Deus. Pois Deus não pode se
comunicar com o mundo, Ele é um mistério indecifrável e transcendente. Sua
natureza é incomunicável, portanto, para ser conhecido Ele tem que se servir de um
mediador, o Logos. Este Logos não é Deus, mas pertence a esfera divina.

Jesus, cheio do Espírito, alcançou a perfeição a ponto de merecer um nome


divino. Foi adotado pelo Pai como seu filho. O filho permanece sempre subordinado
ao Pai, porque foi criado ou gerado pelo Pai. Também é chamado de
subordinacionismo adocianista ou monarquismo dinâmico, porque, para eles, Jesus
mereceu ser adotado pelo Pai.

Ele é a criatura mais semelhante ao Pai que se possa conceber


(homoioúsios), sem entretanto chegar à igualdade de natureza com o Pai
(homooúsios). Os críticos sempre se deleitaram em escarnecer a doutrina da
Trindade, porque afirmavam que ela era uma disputa de loucos, sem relevância,
pois os teólogos se digladiavam por um iota.
17

Esta corrente pretendia fazer justiça a duas doutrinas básicas da fé. A


unidade de Deus, pois não há ninguém igual a Ele e, ao mesmo tempo, ele possui
um Primogênito, perfeito, divino porquanto foi adotado por Deus, e proposto como
mediador, salvador e caminho exclusivo de acesso ao Pai.

O Concílio de Nicéia (325) refutou a doutrina de Ário, e afirmou que Jesus


Cristo é o único Filho de Deus. "Cremos em um só Senhor Jesus Cristo, Filho
Unigênito de Deus, gerado desde a eternidade do Pai: Deus de Deus, luz da luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubtancial ao Pai.16

Mas ao afirmar-se a divindade de Cristo, temos que lembrar que Ele optou
esvaziar-se e tornar-se submisso ao Pai. Mantendo na Trindade uma subordinação,
mas não como afirmou Ário.

c) O Pai, o Filho e o Espírito Santo são três deuses.

O Triteísmo

O triteísmo afirma as três Pessoas divinas. Acredita na divindade do Filho, na


Pessoa do Espírito como Deus em igualdade. Mas são três substâncias
independentes e autônomas. Não se afirma a relação entre elas nem a comunhão
como constitutivo da Pessoa divina. A Trindade transforma-se em três deuses.
Soma-se os três divinos, como se atrás de cada Pessoa não houvesse um Único.

Existem então três absolutos e não um, três seres eternos e não um, e três
criadores e não um.

A afirmação trinitária destaca a existência objetiva de três Únicos, Pai, Filho e


Espírito Santo. Mas não os vê separados e não-relacionados. Crê que as Pessoas
da Trindade estão eternamente relacionadas em comunhão infinita. Pode-se dizer,
há três Pessoas de uma única comunhão.

O termo usado para explicar a comunhão das Pessoas da Trindade é


pericórese, (latim, circumincessio). O sentido seria o fato de envolver - circum - e
entrar numa profunda intimidade.17 Cada membro da Trindade, em algum sentido,
habita no outro, sem diminuição da total pessoalidade de cada um.
18

TRINDADE IMANENTE E TRINDADE ECONÔMICA

Ao discutir a doutrina da Trindade, temos que distinguir o que é tecnicamente


conhecido como Trindade Imanente e Trindade Econômica.

Por Trindade Imanente, entende-se a Trindade que subsiste na Divindade,


desde toda eternidade. Na sua vida essencial e inata, dizemos que o Pai, o Filho e o
Espírito Santo são os mesmos em substância, possuindo atributos e poderes
idênticos e, portanto, são iguais em glória. Isto diz respeito à existência essencial de
Deus.

Por Trindade Econômica, significamos a Trindade tal como se manifesta no


mundo, especialmente na redenção do pecador. Existem três obras adicionais, se
assim podemos descrever, que são atribuídas à Trindade, a saber, a Criação, a
Redenção e a Santificação.

Encontramos nas Escrituras que o plano da redenção toma a forma de um


pacto, não só entre Deus e o Seu povo, como também entre as várias Pessoas
dentro da Trindade, de maneira que há, por assim dizer, uma divisão de tarefas,
cada Pessoa tomando, voluntariamente, determinada fase da obra.

Ao Pai atribui-se, em primeiro lugar, a obra da Criação, assim como a eleição


de certo número de indivíduos que Ele deu ao Filho. Ao filho atribui-se a obra da
Redenção, para o cumprimento da qual se encarnou, tomando a natureza humana,
de forma que, como representante de seus eleitos, assume a culpa do seu pecado,
para resgatá-los da morte. Ao Espírito Santo são atribuídas as obras de
Regeneração e de Santificação, ou a aplicação aos corações dos indivíduos, da
expiação objetiva que Cristo realizou. Ele faz isto renovando espiritualmente os
corações, operando neles a fé e o arrependimento. E glorificando-os finalmente no
céu.

A redenção, pois é um assunto da graça soberana, planejada antes da


fundação do mundo, apresentada na forma de um pacto ou aliança. Não é um plano
departamentalizado, dispencionalizado ou repartido, mas é uma ação global que
envolve toda a Pessoa da Trindade. Ela é planejada pelo Pai, comprada pelo Filho,
e aplicada pelo Espírito Santo.
19

A TRINDADE E A JUSTIFICAÇÃO

Como um Deus perfeitamente santo pode prover perdão aos pecadores? A


análise tem que passar necessariamente pela impossibilidade do Deus uno salvar e
pela possibilidade lógica da pluralidade divina salvar o pecador.

Para Scott Horrell, o Deus uno se comprometeria em sua santidade para


providenciar a salvação.18 Se Deus fosse uma só pessoa, ele poderia ser
perfeitamente justo e santo, mas seria incapaz de perdoar os nossos pecados sem
comprometer sua santidade. Por exemplo, no islamismo, Alá fica acima da ponte da
morte que passa da via terrestre para o paraíso. Embaixo da ponte estreita fica o
abismo do inferno. Um homem que teve uma vida 70% boa e 30% má talvez tenha
permissão de passar para o paraíso e para a presença de Deus. mas um homem
com menos virtude seria empurrado por Alá para o abismo. Pressupondo que
nenhum homem é 100% bom ( e assim moralmente igual a Alá), Alá deve
comprometer sua santidade ao permitir qualquer pessoa entrar no paraíso.

Como é que o Absoluto Moral do universo pode perdoar e Ter comunhão com
um pecador? Na Bíblia, Deus é justo mas também o Justificador de nossos pecados
(Rm 3:23-26), precisamente porque ele é mais do que uma pessoa. Por causa da
pluralidade de pessoas, o Deus Triúno pode ser o Santo Juiz sem se comprometer,
o Cordeiro sacrificial que morreu em meu lugar e o Espírito santificador que atua em
mim.

Glória sempre seja dada ao Pai

Glória ao Filho e ao Santo Espírito.

Um só Deus, supremo e redentor,

Por todos os tempos sem fim. Amém.

Salmos e Hinos no. 35


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REFERÊNCIAS

1J. Scott Horrell. Uma Cosmovisão Trinitária, in Vox Scripturae. 4 (março de 1994).
2Vale destacar várias obras que discutem os atributos de Deus, entre elas, Louis
Berkof, Teologia Sistemática. James I. Packer. O Conhecimento de Deus. João
Calvino. As Institutas da Religião Cristã.
3 Leonardo Boff. A Trindade, a Sociedade e Libertação. Editora Vozes. 1986.
4Louis Berhof. Teologia Sistemática. Luz para o caminho. 1990.
5O Gnosticismo foi uma heresia refutada pela igreja primitiva. Ele afirmava entre
outras coisas, que o corpo de Jesus Cristo não era real, era apenas uma emanação
(ilusória) da divindade.
6Márcion (85-160 d.C.) Defendia que a matéria era má, enquanto valorizavam o
espírito, a salvação proposta por Cristo, era só para o espírito, não incluia o corpo.
Ele rejeitava o Deus do Antigo Testamento, porque achava que este era um Deus
cruel.
7J.N.D. Kelly. Doutrinas Centrais da Fé Cristã. São Paulo. Edições Vida Nova.1994.
8Louis Berkohf. Teologia Sistemática. Luz para o Caminho. 1990.
9Conquanto que Boff e Berkhof não creiam que os textos citados acima não
conduzem ao conceito trinitário, eles alistam outras passagens do V.T. que revelam
a Trindade. Mas outros teólogos seguem o pensamento tradicional dos Pais da
Igreja e baseiam sua formulação trinitária nos textos acima citados. Gleason Archer.
Enciclópedia de Dificuldades Bíblicas. São Paulo. Editora Vida. Loraine Boettner e
Benjamin Warfield. A Doutrina da Trindade. Portugal. Edições Vida Nova.
10Para maiores esclarecimentos veja. Gehard Von Radd. Teologia do Antigo
Testamento. São Paulo. ASTE. 1965, para a defesa da posição liberal, e Gleason
Archer. Merece Confiança o Antigo Testamento? São Paulo. Edições Vida Nova.
1990, para a refutação conservadora.
11Benjamin B. Warfield. A Doutrina da Trindade. Portugal. Edições Vida Nova. pp
135
12Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai,
e do Filho, e do Espírito Santo; Mateus 28:19
13 David Reed. A Liberdade Religiosa versus o Domínio da Torre de Vigia das
Testemunhas de Jeová. In Defesa da Fé, n. 5 julho/setembro 1997.
14Gordon D. Fee é um erudito pentecostal, especializado em estudos do Novo
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Testamento. Ele já lecionou no Seminário Gordon-Conwell, em Boston, e hoje está


no Regent College, em Vancouver, Canadá. O livro citado foi publicado pela United
Press em 1997. Campinas, SP. Para Fee a experiência carismática leva-nos a um
entendimento mais profundo da Trindade. Veja também, Tom Smail. A Pessoa do
Espírito Santo. São Paulo. Editora Loyola.
15Gordon D. Fee. Paulo, o Espírito e o Povo de Deus. Campinas. United Press. Pp
52
16O Credo Niceno-Constantinoplano (325-381). O Credo de Nicéia foi composto e
aprovado no primeiro concílio da igreja. Citado por J. Scott Horrell. Uma Cosmovisão
Trinitária. Op. cit. pp 75
17Yves Raguin. O Espírito Santo sobre o Mundo. São Paulo. Edições Paulinas. pp 8

18J. Scott Horrell. Uma Cosmovisão Trinitária. Op.cit.

BIBLIOGRAFIA

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Ramos. São Paulo: Editora Vida,1997. 479 pp.
BARTH, Karl. The Holy Ghost and the Christian Life. Translated by R. Birch Hoyle.
London: Frederick Muller Limited, 1938. 86 pp.
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Trad. Odayr Olivetti. Campinas: Luz para o
Caminho Publicações, 1990. 791 pp.
BOETTNER, Loraine & WARFIELD, Benjamin. A Doutrina da Trindade. Leira:
Edições Vida Nova. 176 pp.
BOFF, Leonardo. A Trindade, A Sociedade e a Libertação. 2o. edição. Petrópolis:
Editora Vozes, 1986. 296 pp.
FEE, Gordon D. Paulo, o Espírito e o Povo de Deus. Trad. Rubens Castilho.
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HORRELL, John Scott. O Deus Trino que se dá, a Imago Dei e a Natureza da Igreja
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Dezembro, 1996. 243-262 pp.
HORRELL, John Scott. Uma Cosmovisão Trinitária. In Vox Scripturae. Revista
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JÜNGEL, Eberhard. La doctrina de la Trinidad. Trad. Arnoldo Canclini. Miami:
22

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KELLY, J.N.D. Doutrinas Centrais da Fé Cristã. Origem e Desenvolvimento. Trad.
Márcio L. Redondo. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994. 390 pp.
RAGUIN, Yves. O Espírito Santo sobre o Mundo. Trad. M. Cecília de M. Duprat. 2o.
edição. São Paulo: Edições Paulinas, 1980. 287 pp.
SMAIL, Tom. A Pessoa do Espírito Santo. Trad. José A. Ceschin. São Paulo:
Edições Loyola, 1998. 219 pp.
SPROUL, R.C. O Mistério do Espírito Santo. Trad. Bentes traduções. São Paulo:
Editora Cultura Cristã, 1997. 192 pp.

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