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Porto, 2011
Perturbações do Espectro do Autismo - Factores associados à idade de diagnóstico
RESUMO
ABSTRACT
Objective: To summarize the current knowledge about the signs and factors that influence
the age of diagnosis of autism spectrum disorders.
Results: This review was divided into two sections: etiopathogenesis and early signs. In the
first section are discussed the genetic, epigenetic and environmental factors which may
contribute to the autism's development. The second section analyzes the early signs of
autism, which commonly arise during the first two years of life. Eye contact, imitation,
orienting to name, joint attention and affect sharing are some of this signs. The knowledge
of risk factors and early signs will contribute to the early diagnosis of this disease.
Conclusions: The diagnosis of autism in close family members and especially in brothers,
advanced parental age, maternal immigration, prematurity and low birth weight were
reported as risk factors for autism, but more studies are needed to replicate and explain
these results. The early signs are good markers of children who need more screenings
tests but they are not necessarily good markers for autism diagnosis.
Keywords: Autism, autism spectrum disorders, risk factors, early signs, early identification
ADVERTÊNCIAS
O termo autismo é utilizado neste artigo num sentido lato e como sinónimo de
perturbações do espectro do autismo.
Os irmãos de crianças com autismo são referidos como crianças de alto risco ou grupo
de risco e os irmãos de crianças com um desenvolvimento típico são referidos como
crianças de baixo risco ou grupo de controlo.
LISTA DE ABREVIATURAS
DSM-IV-TR – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 4th Edition, Text
Revision
SF – Still Face
INTRODUÇÃO
O autismo é uma perturbação crónica do neurodesenvolvimento que se manifesta
precocemente e se repercute clinicamente numa tríade de dificuldades: (1) interacção social
recíproca, (2) comunicação verbal e não verbal, (3) interesses restritos e comportamentos
repetitivos e estereotipados.57
Em 1943, o psiquiatra Leo Kanner descreveu esta entidade pela primeira vez e
introduziu na língua inglesa o termo autismo precoce infantil ou Síndrome de Kanner. 37 No
mesmo ano, o médico austríaco Hans Asperger descreveu um quadro clínico semelhante,
num grupo mais alargado e diversificado de crianças com boas competências na fala, mais
tarde designado por síndrome de Asperger.3 O autismo e a síndrome de Asperger integram,
nas classificações de diagnóstico DSM-IV-TR, da Associação Americana de Psiquiatria, e
CID-10, da Organização Mundial de Saúde, o grupo das Perturbações Globais do
Desenvolvimento (PGD), juntamente com a perturbação de Rett, a perturbação
desintegrativa da segunda infância e as PGD sem outra especificação. 2,76 Na próxima
revisão destes sistemas de classificação (DSM-V e CID-11), as actuais categorias
diagnósticas englobadas dentro das PGD (com excepção da perturbação de Rett) darão
lugar a uma entidade única, as Perturbações do Espectro do Autismo (PEA), que realça a
grande variabilidade clínica dos indivíduos que mantêm em comum a tríade de dificuldades.
(6-9 anos).56 Ainda não existem dados relativos à frequência das PEA na população adulta.
As PEA atingem mais homens do que mulheres (4 para 1), sendo esta proporção maior na
perturbação de Asperger e menor quando há um atraso mental associado. 24
Ainda não há cura para as PEA, mas um diagnóstico precoce e uma intervenção
atempada, durante a fase de maior plasticidade cortical e consequentemente fase de maior
potencial evolutivo, podem alterar o curso do desenvolvimento e o futuro das pessoas com
autismo.54
OBJECTIVOS
Este artigo tem como objectivo sintetizar o actual conhecimento científico sobre os
principais factores e sinais que influenciam a idade de diagnóstico das PEA. Encontra-se
dividido em duas partes: etiopatogenia e sinais precoces. Na primeira parte são abordados
os factores genéticos, epigenéticos e ambientais que poderão contribuir para o
desenvolvimento das PEA. Na segunda parte são discutidos os sinais precoces,
identificados em estudos com irmãos de crianças com autismo, que podem alertar para o
diagnóstico das PEA. O conhecimento dos factores de risco e dos sinais precoces
contribuirá para um diagnóstico antecipado da doença.
MÉTODOS
De modo a alcançar o objectivo proposto, foi efectuada uma pesquisa na base de
dados PubMed, de artigos publicados entre 1990 e 2011, em português e inglês. As
palavras-chave utilizadas foram: autism, autism spectrum disorders, risk factors, early signs
e early identification. Da pesquisa automática resultaram 167 artigos, tendo-se seleccionado
apenas aqueles cujo título e/ou resumo foram considerados relevantes, no contexto da
revisão em causa. As referências bibliográficas dos artigos previamente encontrados foram
analisadas no sentido de identificar bibliografia adicional. Foram depois obtidos os referidos
artigos em texto integral.
ETIOPATOGENIA
A etiopatogenia das PEA ainda não é clara mas as evidências científicas apontam
diversos factores que poderão estar na base destas perturbações. Os factores genéticos
parecem ter um papel relevante mas é cada vez mais provável que factores epigenéticos e
ambientais influenciem o seu aparecimento e gravidade. 68
O autismo é um dos distúrbios psiquiátricos para o qual existe a mais forte evidência
sobre a participação dos factores genéticos na etiologia, sendo calculada uma
hereditabilidade de aproximadamente 90%. 45 Os estudos de gémeos demonstraram que a
concordância nos monozigóticos varia entre 70% e 90%, e nos dizigóticos não ultrapassa os
10%.4,45 A concordância nos gémeos monozigóticos inferior a 100% apoia a teoria
multifactorial, sugerindo que outros factores contribuem para o desenvolvimento das PEA.
Os irmãos (não gémeos) de crianças com autismo têm um risco de recorrência que ronda os
3-8%, sendo este risco muito superior ao da população geral. 51
O risco genético estende-se não apenas ao diagnóstico das PEA, mas também a
expressões mais leves da doença, como por exemplo atrasos da linguagem, dificuldades na
integração sensorial, e dificuldades potenciais na regulação das emoções e na
comunicação.5,72 Portanto, os comportamentos e traços que são conceptualmente idênticos
aos sintomas do autismo clássico, mas insuficientes para fazer um diagnóstico, são
referidos como fenótipo alargado. 64,75 Lainhart et al. (2002)41 constataram que 32% dos pais
de crianças com autismo apresentam um fenótipo alargado da doença. Quanto aos irmãos,
Bolton et al. (1994)9 reportaram uma prevalência de aproximadamente 20% e Losh et al.
(2008)47 uma prevalência de cerca de 40%. As diferenças nas prevalências devem-se à
ausência de uma definição padronizada de fenótipo alargado, o que faz com que cada
estudo caracterize de forma diferente o grupo de crianças de alto risco que não cumpre os
critérios de diagnóstico das PEA.66
Algumas das mutações de novo que mostraram forte associação com as PEA foram
mutações raras relacionadas com as neuroliginas (NLGN4X e NLGN3), neurexinas (NRXN1)
e SHANK3, responsáveis por uma pequena proporção dos casos (cerca de 1%). Embora o
quadro clínico associado a estes genes inclua características autistas, verifica-se
frequentemente um predomínio do défice intelectual. A falta de especificidade levanta
dúvidas sobre em que medida estes achados podem ser informativos para a maioria dos
casos de PEA.68
Factores Ambientais
Está em curso uma reapreciação do papel etiológico dos factores ambientais que
possa esclarecer o aumento da prevalência das PEA a partir da década de 90.
Alguns estudos tentaram encontrar uma relação entre a idade materna e a severidade
do autismo, embora sem sucesso. 7,15,63 No entanto, esses estudos apresentam como
limitação avaliarem a severidade do autismo apenas do ponto de vista cognitivo e/ou social,
quando existem muitos outros factores que a influenciam, nomeadamente o grau de
comportamentos motores estereotipados, interesses restritos, desenvolvimento da
linguagem, entre outros.
As crianças com PEA surgem mais vezes associadas a sofrimento fetal, restrição do
crescimento intra-uterino, parto por cesariana e apgar diminuído no primeiro e quinto
minutos.30,32 O perfil de complicações obstétricas parece estar directamente relacionado com
a severidade das PEA, uma vez que as crianças diagnosticadas com autismo estiveram
mais vezes associadas a complicações durante a gravidez e o parto do que as crianças
diagnosticadas com perturbação de Asperger. 30
As crianças com PEA têm um risco de anomalias congénitas quase duas vezes
superior ao da população geral. Esta associação deve-se provavelmente a factores
genéticos e/ou ambientais comuns às PEA e às anomalias congénitas, ou as anomalias
congénitas funcionam como factores predisponentes para as PEA. Quando comparadas as
diferentes PEA, o risco de anomalias congénitas foi idêntico entre as crianças com autismo
e as com PGD sem outra especificação, mas foi menor nas crianças com perturbação de
Asperger.20
SINAIS PRECOCES
Inicialmente pensou-se que o aparecimento das PEA seguia um de dois padrões:
início precoce ou regressão. O padrão de início precoce, que provavelmente ocorre na
maioria dos indivíduos com autismo, caracteriza-se por défices no desenvolvimento social e
comunicativo, que surgem habitualmente nos dois primeiros anos de vida, antecedendo os
atrasos da linguagem. No padrão regressivo, as crianças apresentam um desenvolvimento
típico durante o primeiro ou segundo ano e, a partir daí, demonstram uma perda das
capacidades previamente adquiridas e os sintomas de autismo começam a manifestar-se.60
Os mecanismos responsáveis pela regressão não são conhecidos, mas sabe-se que ela é
mais comum no autismo do que nas outras perturbações do desenvolvimento, o que leva a
admitir a regressão como um possível indicador das PEA. 68 Mais tarde, verificou-se que esta
classificação dicotómica não permitia explicar todas as formas de aparecimento do autismo.
Ozonoff et al. (2005)59 identificaram um grupo de crianças que não evidenciaram um
desenvolvimento normal antes da regressão. Esta combinação dos sinais precoces e
regressão representa um terceiro padrão, que parece ser relativamente comum. Outros
estudos sugeriram ainda um padrão de início adicional, referido como pseudo-regressão ou
estagnação do desenvolvimento, que se caracteriza por um desenvolvimento social normal
e/ou anormalidades não específicas seguidos, não por uma perda de capacidades, mas por
uma falha na progressão e na aquisição de novas capacidades. Surgiu entretanto a hipótese
de os padrões de início das PEA serem encarados como um continuum, com os padrões de
início tradicionais (início precoce e regressivo) como extremos, associados a muitos outros
padrões intermediários.60 Os padrões de início do autismo que se caracterizam pelo
aparecimento de sinais precoces durante a primeira infância serão mais facilmente
identificados, se esses sinais forem reconhecidos.
resultados viáveis. Tendo-se demonstrado que os irmãos de crianças com autismo têm um
risco muito aumentado para desenvolverem a doença, propôs-se estudar prospectivamente
estas crianças, desde os primeiros meses de vida, para identificar os precursores de
autismo.66
Apesar dos comportamentos repetitivos fazerem parte dos critérios de diagnóstico das
PEA, alguns desses comportamentos podem ser considerados normais ou apropriados, em
determinadas idades, contribuindo para o desenvolvimento motor da criança. 73 Os primeiros
estudos concluíram que os comportamentos repetitivos e padrões anormais de movimento
não permitiam diferenciar as PEA no segundo ano de vida, mas esta hipótese tem sido
colocada de parte por estudos mais recentes com crianças de alto risco. 66
Ozonoff et al. (2008)61, num estudo sobre a exploração de objectos em crianças com
12 meses, codificaram quatro comportamentos adequados à idade (levar à boca, agitar,
atirar e bater) e quatro comportamentos atípicos (girar, rodar, rolar e olhar peculiar). Na
amostra utilizada, 9 crianças foram diagnosticadas com PEA, 47 sem atraso do
desenvolvimento e 10 com outros atrasos do desenvolvimento. Relativamente aos
comportamentos adequados à idade, os três grupos evidenciaram diferenças significativas
em apenas um (atirar), que ocorreu com maior frequência no grupo de crianças com outros
atrasos do desenvolvimento. Quanto aos comportamentos atípicos, o grupo com autismo
revelou níveis significativamente mais altos dos seguintes comportamentos: girar, rodar e
olhar peculiar. O comportamento atípico mais frequente neste grupo foi o olhar peculiar,
demonstrado em 7 das 9 crianças.
desenvolvimento motor (sentar sem apoios, mostrar, andar) mais tardiamente, as diferenças
entre os grupos não eram significativas. Além disso, as crianças de alto risco passavam
significativamente menos tempo num maior número de posturas, o que sugere uma menor
estabilidade postural. O único comportamento atípico identificado consistia em movimentos
repetitivos dos braços e, contrariamente ao que se esperava, surgiu mais significativamente
no grupo de controlo.
Temperamento
Zwaigenbaum et al. (2005)82 concluíram que, aos 6 meses, as crianças de alto risco
que desenvolveram autismo mostraram uma passividade marcada, não evidenciando um
temperamento mais difícil que as crianças de alto risco que não desenvolveram autismo ou
que as crianças de baixo risco. No entanto, ao longo do tempo, as diferenças no
temperamento tornaram-se mais evidentes e, aos 12 meses, as crianças que
desenvolveram uma PEA evidenciavam reacções de sofrimento mais frequentes e intensas
quando confrontadas com uma série de estímulos. Aos 24 meses, estas crianças
demonstraram menor controlo inibitório do comportamento e menos respostas afectivas. A
ausência de diferenças no temperamento aos 6 meses sugere que ele não precede, mas
antes acompanha, as alterações do comportamento que marcam o aparecimento de
sintomas de autismo em crianças afectadas.
Desenvolvimento Social
Por volta dos 4-6 meses, as crianças com um desenvolvimento típico observam as
expressões afectivas dos outros e respondem de forma diferente a faces que expressam
emoções distintas. Vários estudos utilizaram situações de still face/face inexpressiva (SF)
para examinar a sensibilidade social das crianças de alto risco. Este modelo experimental
envolve interacções entre a mãe e a criança e divide-se em três fases: fase de interacção
activa (a mãe sorri, conversa com a criança e estabelece contacto visual), fase de SF (a
mãe deixa de interagir, mantém o contacto visual mas com uma expressão neutra e sem
falar), e nova fase de interacção activa. Normalmente, as crianças reagem à SF reduzindo
significativamente o contacto visual e o sorriso, e aumentando o número de afectos
negativos.1
Yirmiya et al. (2006)78 concluíram que, aos 4 meses, o grupo de risco mostrou-se
menos incomodado/irritado perante a SF e evidenciou um maior número de expressões
neutras durante as 3 fases de interacção. Aos 6 meses, as crianças de alto risco sorriram
significativamente menos vezes e exibiram um maior número de expressões neutras. 11
Merin et al. (2007)50 não comprovaram a hipótese do perfil neutro durante a SF no grupo de
risco, aos 6 meses. Neste estudo, todas as crianças demonstraram uma diminuição
significativa do número de sorrisos e um aumento significativo de mudanças no olhar e
afectos negativos, em resposta à SF.
permitiram diferenciar, aos 12 mas não aos 6 meses, as crianças de alto risco que
desenvolveram autismo.
Merin et al. (2007)50 colocaram ainda a hipótese do grupo de risco apresentar menos
olhares para a região dos olhos e mais para a região da boca, baseando-se no trabalho
prévio de Klin et al. (2002)39 que mostrou estas diferenças no olhar de adultos com PEA.
Apesar da maioria das crianças evitar repetidamente o olhar da mãe durante a SF, quando
olhavam para ela o olhar era significativamente mais vezes dirigido para os olhos. Isto é
consistente com a teoria da atenção visual das crianças para os olhos da mãe ser uma
estratégia para extrair significado de uma situação ambígua. Embora a maioria das crianças,
independentemente do grupo, exibisse um maior número de olhares para os olhos da mãe,
10 das 11 crianças que demonstraram mais olhares para a boca, durante as 3 fases de
interacção, pertenciam ao grupo de risco. No entanto, estas diferenças no padrão do olhar
aos 6 meses não mostraram qualquer relação com os sintomas de autismo aos 24 meses.
Três crianças do grupo de risco desenvolveram autismo e olharam para os olhos da mãe
durante todo o episódio de SF. Uma criança do grupo de controlo observou a boca da mãe
durante toda a fase de SF, porém não evidenciou sintomas de autismo aos 24 meses.
Apenas uma variável mostrou associação com o desenvolvimento da criança aos 24 meses:
a duração do olhar dirigido aos olhos da mãe durante a SF, aos 6 meses, estava
negativamente relacionada com o desenvolvimento da linguagem expressiva aos 24
meses.81
Toth et al. (2007)74 concluíram que, aos 20 meses, o grupo de risco apresentava
défices maiores em parâmetros como a linguagem receptiva, comportamentos adaptativos e
comunicação social. Além disso, um número significativo de crianças de alto risco
demonstrou níveis mais baixo de linguagem expressiva. Finalmente, estas crianças
demonstraram também menos comportamentos simbólicos e sorrisos sociais, e uso menos
frequente de palavras e gestos distais incluindo apontar.
Gamliel et al. (2007)27 estudaram crianças de alto risco que não desenvolveram
autismo e crianças de baixo risco entre os 4 e os 54 meses, e dividiram-nas em quatro
subgrupos: (1) crianças de alto risco com atrasos cognitivos ou de linguagem significativos
aos 14 meses; (2) crianças de alto risco com atrasos cognitivos ou de linguagem
significativos aos 24 meses, mas não aos 14 meses; (3) crianças de alto risco sem atrasos
significativos em qualquer idade; (4) crianças de baixo risco. Os subgrupos 1, 2 e 3
evidenciaram atrasos significativos no desenvolvimento da linguagem aos 14 meses. Aos 24
meses, estes três subgrupos mostraram atrasos significativos na linguagem receptiva, e os
subgrupos 1 e 2 demonstraram atrasos na linguagem expressiva. Aos 36 meses, os
subgrupos 1 e 2 continuaram a apresentar atrasos significativos tanto na linguagem
receptiva como na expressiva. Aos 54 meses, não se verificaram diferenças significativas
entre os grupos no que diz respeito à linguagem receptiva. Relativamente à linguagem
expressiva, foram evidentes diferenças significativas no subgrupo 2. Verificou-se um padrão
semelhante em termos cognitivos, com os subgrupos 1 e 2 a demonstrarem uma
imaturidade significativa aos 4, 14 e 24 meses. Aos 36 e aos 54 meses, não se verificaram
diferenças significativas entre os grupos. Yizhak et al. (2011) 79 continuaram o seguimento
destas crianças entre os 9 e os 12 anos. Os irmãos de crianças com autismo foram divididos
em dois subgrupos: (1) irmãos com fenótipo alargado e (2) irmãos com desenvolvimento
típico. O subgrupo 1 evidenciou menos competências pragmáticas, que constitui um défice
universal nas PEA. As capacidades cognitivas, de linguagem receptiva e expressiva
estavam intactas neste mesmo subgrupo.
Resposta ao Nome
mais frequentes, contudo não identificará todas as crianças em risco para atrasos do
desenvolvimento.
Atenção Conjunta
Yoder et al. (2009)80 utilizaram uma amostra de crianças de alto risco, que seguiram
dos 15 aos 34 meses, para estudar a iniciação da atenção conjunta como possível preditor
do desenvolvimento social futuro e do diagnóstico de autismo. Concluíram que o número de
vezes em que iniciaram a atenção conjunta não permitiu prever disfunções sociais futuras.
Imitação
CONCLUSÕES
Apesar dos enormes recursos disponibilizados na área da investigação genética nos
últimos anos, não ocorreram avanços significativos na identificação dos mecanismos
genéticos subjacentes no autismo. Os diversos estudos apontam para uma etiologia
multifactorial, que traduz a interacção entre factores genéticos, epigenéticos e ambientais.
Da revisão bibliográfica sobre a etiopatogenia salienta-se a ausência de associação entre o
autismo e as vacinas, e o elevado risco de doença nos irmãos de crianças com PEA. Os
estudos indicam a idade parental avançada, a imigração materna, a prematuridade e o baixo
peso ao nascer como possíveis factores de risco para as PEA. No entanto, são necessários
mais estudos que repliquem estes resultados.
Embora existam diversas formas de aparecimento das PEA, pensa-se que na maioria
das crianças os sintomas surjam gradualmente durante os primeiros 18 meses de vida. Os
estudos prospectivos longitudinais com irmãos de crianças com autismo permitiram
identificar alguns desses sintomas precoces. As diferenças no desenvolvimento parecem
manifestar-se apenas aos 12 meses, idade a partir da qual se verifica uma desaceleração
no desenvolvimento global destas crianças. As diferenças encontradas antes dos 12 meses
não mostraram ser específicas das PEA. Comportamentos como a resposta ao nome,
contacto visual, imitação, partilha de atenção e afecto, foram identificados por estudos
anteriores como bons indicadores de autismo. No entanto, estes comportamentos parecem
ser mais úteis na identificação de crianças que necessitam de maior vigilância e avaliações
mais frequentes, do que propriamente na identificação de autismo ou outros atrasos do
desenvolvimento.
Apesar de ainda não existirem muitas certezas quanto à etiopatogenia das PEA e se
os sinais precoces identificados serão na realidade características prodrómicas da doença, é
importante conhecer uns e outros. Só assim será possível identificar as crianças em risco,
diagnosticar e intervir precocemente, de forma a alterar o curso do desenvolvimento e o
futuro das pessoas com autismo.
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