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Apresentação à 16ª edição
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Sumário
1 Embriologia e anatomia ............................................................................................................................ 27
2 Roteiro propedêutico básico em ginecologia.......................................................................... 37
3 Fisiologia do ciclo menstrual ................................................................................................................ 42
4 Sangramento uterino disfuncional ...................................................................................................48
5 Amenorreia .........................................................................................................................................................54
6 Síndrome dos ovários policísticos.....................................................................................................63
7 Síndrome pré-menstrual..........................................................................................................................72
8 Dismenorreia .....................................................................................................................................................77
9 Endometriose ................................................................................................................................................... 81
10 Vulvovaginite .................................................................................................................................................... 89
11 DST.........................................................................................................................................................................100
12 Doença in昀氀amatória pélvica aguda ............................................................................................... 113
13 Atendimento à vítima de violência sexual................................................................................. 119
14 Distopias genitais .........................................................................................................................................124
15 Dor pélvica crônica .....................................................................................................................................132
16 Papilomavírus Humano (HPV) .............................................................................................................................136
17 Doenças benignas do útero .................................................................................................................................142
18 Lesões precursoras do câncer do colo do útero .................................................................................152
19 Câncer do colo uterino .............................................................................................................................................159
20 Neoplasias malignas do corpo uterino ....................................................................................................... 168
21 Neoplasias benignas do ovário ..........................................................................................................................178
22 Neoplasias malignas do ovário ..........................................................................................................................182
23 Doenças da vagina ......................................................................................................................................................195
24 Tumores de vulva ........................................................................................................................................................200
25 Uroginecologia ..............................................................................................................................................................207
26 Infertilidade conjugal ................................................................................................................................................220
27 Climatério........................................................................................................................................................................... 228
28 Colposcopia ......................................................................................................................................................................241
29 Fisiologia mamária ...................................................................................................................................................... 249
30 Propedêutica mamária ............................................................................................................................................ 255
31 Afecções benignas da mama ............................................................................................................................ 263
32 Câncer de mama.......................................................................................................................................................... 277
33 Anticoncepção – planejamento familiar ....................................................................................................295
34 Fertilização assistida ...................................................................................................................................................311
Caderno de imagens
Figura 6.3 Pacientes portadoras da síndrome dos ovários policísticos e Acantose nigricans.
A B C
Leiomiomas
Mioma
Útero
tuba
miométrio
endométrio
colo
vagina
Mioma
Partículas
Artéria uterina
Cateter
Epitélio
mais
maduro
Epitélio JEC original
menos Orifício
maduro cervical
JEC atual Figura 18.4 Lesão pré-neoplásica em colo de útero.
Cérvix
Vagina
Colo uterino
Área a ser
removida
Vagina
IB1 IB2
> 4 cm
≤ 4 cm
IIB
IIIB
IA
IIA
Útero
Endometrio
ΙΙΙA A
IVA
IA IB II
IIIC2
IIIC1
IVA
IVB
Classificação histológica
Melanoma 6%
Figura 24.2 Carcinoma de vulva com doença avançada. Figura 24.4 Melanoma vulvar.
Fatores
Femininos
Fatores
Masculinos
Desconhecido
Fatores
Associados
Figura 26.1 Porcentagem de causas de infertilidade.
Figura 28.5 Zona de transformação anormal com epitélio Figura 28.9 Zona de transformação anormal com
branco e mosaico. epitélio branco de relevo acentuado.
Ducto
Broto primário lactífero
(primórdio da Brotos
glândula secundários
mamária)
A B C D
Mesênquima Derme
Clavícula
Músculo
intercostal
Músculo
peitoral maior
Alvéolos
Dúctulo
Ducto
Ducto
lactífero
Seio
lactífero
Poro
mamilar
Figura 28.12 Aspecto colposcópico do colo uteri- Ligamentos
suspensores
no normal com orifício uterino ovalado e padrão de de Cooper
Papilas
supranumerárias
Figura 29.4 Imagem de mamilos acessórios (ou su-
pranumerários).
Linfonodos
axilares
laterais
(braquiais)
Linfonodos
Linfonodos subclaviculares
subescapulares Linfonodos
mamários internos
Linfonodos axilares
anteriores (peitorais) Vias através da
mama para a
Vias para linfonodos contralateral
subdiafragmáticos
e fígado
Cauda de Spence
Superior Superior
inferior externo
Inferior Inferior
externo interno
Figura 30.3 Varredura da parede torácica. Arraste a Figura 30.7 Tipos de fluxo mamilar. A: descarga lei-
palma da sua mão desde a clavícula até o mamilo, co- tosa; B: descarga multicolorida pegajosa; C: descarga
brindo a área desde o esterno até a linha axilar média. purulenta; D: descarga aquosa; E: descarga serosa; F:
descarga sanguinolenta.
Mastalgia cíclica
Primeiro passo
Terceiro passo
Tamoxifeno
cadeia
linfonodos mamária Figura 33.2 Contraceptivos hormonais orais.
axilares interna
Estimulação
ovariana
2
Óvulos
captados 3
Espema- 5
tozoides Transfe-
rência de
embriões
4
óvulos + espermatozoides
1
Embriologia e anatomia
os folhetos que revestem o reto e o útero é denominado hormonal. No entanto, diversas situações, algumas delas
escavação retouterina (fundo de saco de Douglas). A fi- fisiológicas (nascimento, puberdade, gravidez, parto),
xação do útero é realizada diretamente pela sua inserção propiciam a saída do epitélio simples colunar do canal
na vagina, entretanto diversos ligamentos oriundos do endocervical para a superfície externa do colo uterino.
seu revestimento contribuem nessa função. A partir das O epitélio simples colunar presente no ambiente vaginal
margens direita e esquerda do corpo uterino, as duas lâ- é frequentemente substituído (processo de metaplasia)
minas de revestimento peritoneal (anterior e posterior) por um epitélio escamoso (metaplásico), mais resistente
se projetam lateralmente e formam os ligamentos lar- e que pode conter, de entremeio, os cistos ou folículos de
gos. Estes se estendem até as paredes da pelve. Inferior- Naboth. Estes, quando maiores, podem ser identificados,
mente, suas lâminas peritoneais se afastam e, superior- à visão desarmada, durante o exame especular.
mente, aproximam-se e envolvem a tuba uterina. Ainda
A irrigação sanguínea do útero é realizada pelas
na região superior, o ligamento largo possui uma dobra
artérias uterinas. Elas são ramos das artérias ilíacas
posterior denominada mesovário. O mesovário contém
internas, ocupam as faces superiores dos ligamentos
ramos dos vasos ováricos e uterinos. A região do liga-
cardinais e enviam ramos para o colo uterino, o corpo
mento largo entre o mesovário e a tuba uterina é
uterino e a parte superior da vagina. A drenagem veno-
denominada mesossalpinge. Nela, situam-se rema-
sa é realizada por um plexo venoso que acompanha a artéria
nescentes dos ductos mesonéfricos (paroóforo ou órgão
uterina. A linfa da parte superior do corpo uterino e
de Rosenmüller e epoóforo) que, ocasionalmente, podem
do fundo é drenada para os linfonodos lombares. A do
originar cistos. Abaixo do mesovário e da mesossalpinge,
restante do corpo drena para os linfonodos ilíacos ex-
o ligamento largo é também denominado mesométrio.
ternos e a do colo para os linfonodos ilíacos internos,
O paramétrio é o tecido conjuntivo frouxo e muscular
externos e sacrais. Fibras autônomas e sensitivas são en-
contido entre as lâminas do ligamento largo. Os liga-
mentos redondos são projeções de tecido fibroso que viadas ao útero pelos plexos uterovaginais, que se situam ao
contêm também musculatura lisa. Eles se prendem an- longo das artérias uterinas.
teriormente ao útero, na região próxima à implantação
das tubas uterinas. Projetam-se anterior, lateral e infe-
riormente, expandem-se em direção à parede pélvica,
atravessam o canal inguinal e se inserem na tela subcu- Anatomia das tubas
tânea dos grandes lábios. No feto, um prolongamento
peritoneal acompanha o ligamento redondo no canal in- uterinas
guinal. Ocasionalmente, esse prolongamento permanece
na mulher adulta e pode formar o cisto do canal de Nuck. As tubas uterinas (em língua grega: salpinx) são ór-
Dois outros ligamentos fazem parte da fixação uterina gãos pares e ocos que ligam o útero aos ovários. Outrora
e se projetam inferiormente em torno da porção supra- denominadas trompas de Falópio e possuem as funções
vaginal do colo uterino. Os ligamentos cardinais (cer- de captar o oócito, conduzir os espermatozoides, propi-
vical lateral, transverso, paracervical ou de Mackenrodt) ciar a fertilização e transportar o embrião em desenvolvi-
projetam-se lateralmente e contêm os vasos uterinos. Os mento até a cavidade uterina. Assim como o útero, são
ligamentos uterossacros projetam-se posteriormente estruturas derivadas dos ductos paramesonéfricos
e se inserem no sacro. (müllerianos). Na mulher adulta, possuem cerca de
O colo uterino é a porção inferior e de menor mobi- 10 cm de comprimento. Localizam-se entre as duas lâ-
lidade do útero. Ele se estende inferiormente a partir do minas do ligamento largo. A sua região mais proximal ao
istmo, penetra na cavidade vaginal e é dividido por esta útero, denominada intersticial (intramural ou uterina),
em porções supravaginal e vaginal. A porção supravagi- localiza-se no interior da parede uterina e abre-se na ca-
nal se relaciona anteriormente com um tecido conjuntivo vidade endometrial através do óstio uterino da tuba. Par-
frouxo e posteriormente com a escavação retouterina. A tindo da região intersticial, as tubas se direcionam para a
parte interna do colo uterino é denominada canal endo- parede pélvica, em um trajeto posterior e lateral, indo até
cervical (ou endocérvice), sendo mais estreito nas extre- as proximidades dos ovários. Descrevem um arco sobre
midades que no centro. Superiormente, o canal endocer- os ovários e terminam em contato direto com sua super-
vical é contínuo com o corpo uterino, limitando-se com fície medial e borda livre. As outras regiões tubárias são
este através do óstio interno do colo uterino. Inferior- o istmo, a ampola e a porção infundibular (ou fimbriada).
mente, o canal endocervical se abre na vagina por meio O istmo se situa entre a região intersticial e a ampola e,
do óstio externo do colo uterino. Na nulípara, o óstio apesar de ser a região de menor calibre, possui as paredes
externo possui, comumente, aspecto circular deprimido mais espessas. A ampola é a região de maior extensão,
e, na multípara, com partos vaginais, seu contorno pode calibre e tortuosidade. Possui paredes finas e antecede a
ser irregular. Em condições fisiológicas, a superfície ex- região infundibular; possui formato de funil e é consti-
terna da porção vaginal do colo uterino é revestida por tuída por numerosos processos digitiformes, denomina-
epitélio estratificado pavimentoso e o canal endocervical dos fímbrias, que possuem a propriedade de captação do
por epitélio simples colunar. Este último reveste proje- oócito. A fímbria ovárica é a de maior extensão e fixa-
ções do estroma em forma de criptas e possui ativida- -se à superfície ovariana. A região infundibular se abre
de mucossecretora que varia de acordo com a produção na cavidade pélvica através do óstio abdominal da tuba
uterina, propiciando a comunicação da cavidade perito- um tubo cuja porção anterior (fórnice) é extensa (9 cm) e
neal com o meio externo. Em conexão com as fímbrias as porções laterais apresentam maior rigidez. A parede
ou, às vezes, com o ligamento largo das proximidades, anterior relaciona-se, da porção superior para a inferior,
ocasionalmente observam-se pequenas vesículas pedun- com o colo uterino, o ureter, a bexiga e a uretra. A pare-
culadas, denominadas hidátides de Morgagni. de posterior relaciona-se com a escavação retouterina
A parede tubária é constituída por três camadas. A (fundo de saco de Douglas), reto e centro tendíneo do pe-
mais externa é a camada serosa, formada pelo peritônio ríneo. A porção superior da parede lateral encontra sus-
do ligamento largo. A túnica muscular é intermediária, tentação no paramétrio, relacionando-se com o ureter
exerce movimentos peristálticos e é constituída por duas e com a artéria uterina. Mais inferiormente, relaciona-
camadas de fibras musculares lisas, uma interna circular -se com a porção pubococcígea do músculo elevador do
e outra externa longitudinal. A mucosa tubária é forma- ânus, glândulas vestibulares maiores, bulbo do vestíbulo
da por estroma em forma de criptas. Estas aumentam de e músculo bulbocavernoso.
tamanho nas regiões tubárias mais próximas do útero As paredes vaginais são formadas por três ca-
e são revestidas por epitélio simples colunar ciliado. Os madas: uma mucosa, uma muscular e outra fibrosa. A
movimentos ciliares ocorrem em direção ao útero e, em camada mucosa possui pregas transversais, mais proemi-
ação simultânea aos movimentos peristálticos da cama- nentes no terço inferior, nas mulheres na menacme e nas
da muscular, facilitam a condução da mórula até a cavi- paucíparas. Esta camada é revestida por epitélio estrati-
dade endometrial. ficado pavimentoso. A túnica muscular é intermediária
A irrigação tubária é realizada pelo ramo às demais e formada por músculo liso. A túnica fibrosa
tubário da artéria uterina e por pequenos ramos contém um proeminente plexo venoso que, além de rea-
da artéria ovárica. Estes vasos se anastomosam na lizar a drenagem sanguínea, produz um transudato lubri-
mesossalpinge. As veias das tubas uterinas apre- ficante no momento do coito.
sentam um trajeto semelhante ao das artérias. A A vagina é também dividida longitudinalmente em
linfa é drenada para os linfonodos lombares (aórticos), três terços (superior, inferior e médio). O terço superior
e a inervação é proveniente dos plexos ovárico e hipo- possui expansão em recesso que dá projeção à parte va-
gástrico inferior. ginal do colo uterino, formando os fórnice (ou fórnix) la-
terais, anterior e posterior. O fórnice posterior é o mais
extenso e se relaciona com a escavação retouterina (fun-
do de saco de Douglas).
Formação da vagina A irrigação vaginal é distinta em cada terço.
No terço superior é realizada por ramos da artéria
A genitália externa tem origem distinta da interna, uterina; no terço médio, pelas artérias vaginais (ra-
derivando de uma região chamada de seio urogenital, mos da artéria ilíaca interna) e, no inferior, por pequenos
que formará inclusive o terço superior da vagina e de ramos da artéria do bulbo do vestíbulo. A drenagem ve-
onde migrarão células para compor o epitélio vaginal em nosa é realizada pelo plexo venoso que envolve a túnica
toda sua extensão. fibrosa. Os linfáticos do terço superior drenam para os
O contato entre o primórdio uterovaginal (deriva- linfonodos ilíacos externo e interno, os da porção média
do da junção dos ductos paramesonéfricos) e o seio uro- para os ilíacos internos, e os do terço inferior para os sa-
genital forma o tubérculo do seio (ou de Müller), o qual crais, ilíacos comuns e inguinais superficiais. A inervação
induz a formação de evaginações denominadas bulbos mais inferior é realizada pelo nervo pudendo e o restante
sinovaginais. Estes se fundem para formar a placa vagi- pelo plexo uterovaginal.
nal. Posteriormente, ocorre a desintegração das células
centrais da placa vaginal, originando a luz da vagina. Na
região de divisão entre as partes vaginais originárias do
seio urogenital e do primórdio uterovaginal permanece
delgada membrana, geralmente perfurada, conhecida
como hímen.
Anatomia vaginal
Uma vez completada sua formação, a vagina é o ór-
gão feminino da cópula, de formato tubular e que serve Figura 1.2 Esquema de cortes longitudinais de feto
também como conduto excretor do fluxo menstrual. Sua mostrando o desenvolvimento gradual do útero e da
cavidade comunica-se superiormente com a cavidade vagina. A: formação da porção mais inferior da vagina
uterina e inferiormente com o vestíbulo. Em condições a partir da parede posterior do seio urogenital. B: sep-
de repouso, seu eixo forma, habitualmente, um ângulo tação da membrana cloacal. C: separação da vagina e
de aproximadamente 90° com o eixo uterino. A vagina é da uretra.
Anomalias müllerianas:
tipos e frequência de aparecimento
Anomalias uterinas %
Útero bicorno 37
Útero arqueado 15
Septo incompleto 13
Útero didelfo 11
Septo completo 9
Figura 1.3 Esquema mostrando os ductos genitais
antes da descida do ovário. Útero unicorno 4
Tabela 1.1
Malformações Mullerianas
As anomalias dos ductos de Müller são rela-
tivamente comuns (5% das mulheres em geral).
Tais anomalias podem se originar da ausência da fu- Figura 1.5 Tipos de malformações müllerianas. A:
são, da fusão incompleta, de distúrbios na conexão útero duplo (útero didelfo) e vagina dupla. B: útero
com o seio urogenital. Também, a incapacidade de se duplo com vagina única. C: útero bicorno. D: útero bi-
criar um lúmen na porção superior da vagina e/ou ca- corno com uma trompa esquerda rudimentar. E: útero
vidade uterina. septado. F: útero unicorno.
A feminilização da genitália externa e a formação dos órgãos reprodutores ocorrem sem a pre-
sença de hormônio sexual. Sem a ação da testosterona as saliências lábioescrotais darão origem aos grandes
lábios, e ainda se juntam na parte posterior formando a comissura labial posterior. O falo originário do tubér-
culo genital não se alonga e origina o clitóris. As porções posteriores deste se fundem e formam o freio dos
pequenos lábios.
Anatomia da vulva
A genitália externa ou vulva é a área losangular situada abaixo do diafragma da pelve. Contém
o monte de Vênus, as formações labiais (pequenos e grandes lábios), o vestíbulo com suas glândulas acessórias
(parauretrais e vestibulares maiores) e os órgãos eréteis (clitóris e bulbos do vestíbulo).
O monte de Vênus é a porção externa e superior da vulva, de formato triangular na mulher adulta, e que
se limita superiormente com o abdome inferior. É rico em gordura e pelos e exerce uma proteção natural à
genitália externa.
As formações labiais são compostas pelos grandes e pequenos lábios. Os grandes lábios são duas pregas fi-
broaDIPAosas que se projetam do monte de Vênus em direção inferoposterior. Posteriormente, unem-se na linha
média situada adiante do ânus, formando a comissura posterior. São ricos em glândulas sebáceas e apresentam
pelos na superfície externa. Internamente, são sedes das terminações do ligamento redondo. Os pequenos lábios
são duas pregas menores, situadas internamente aos grandes lábios, de coloração rósea, desprovidas de gordura e
pelos e que, no repouso, cobrem e protegem o vestíbulo. Posteriormente, fundem-se às porções distais dos gran-
des lábios. Anteriormente, dividem-se e as porções resultantes se unem com as homólogas contralaterais para
formar, anteriormente, o prepúcio do clitóris e, posteriormente, o frênulo do clitóris.
O vestíbulo consiste no espaço interlabial. Nele se projetam os óstios vaginal, uretral e das glândulas
acessórias. A uretra tem o seu orifício externo entre o orifício vaginal e o clitóris. As glândulas parau-
retrais (de Skene) podem ou não desembocar no vestíbulo. No vestíbulo, elas se abrem de ambos
os lados do óstio uretral. Quando não se apresentam externamente, desembocam na uretra distal. As
glândulas vestibulares maiores (de Bartholin) se localizam atrás do bulbo do vestíbulo e secretam muco
lubrificante durante o coito. Seus ductos se abrem no vestíbulo, em posição posterolateral ao óstio vagi-
nal. Nas virgens, o orifício vaginal é recoberto pela membrana himenal e esta, após sua ruptura, é subs-
tituída pelas carúnculas himenais. O hímen varia de tamanho e forma. As formas mais comuns são
as anulares e crescentes. Mais raramente, pode ter uma feição cribiforme ou até mesmo se apresentar
imperfurado. Após sua ruptura, formam-se pequenos fragmentos nas bordas de sua inserção denomina-
dos carúnculas himenais.
O clitóris e o bulbo do vestíbulo são os órgãos eréteis, situados na genitália externa. O clitóris é
órgão homólogo do pênis e, assim como este, aumenta de tamanho pelo engurgitamento sanguíneo pro-
duzido pela excitação sexual. Possui 2 cm a 3 cm de comprimento e se localiza posteriormente à junção
anterior dos lábios maiores. É formado por dois ramos provenientes dos ossos isquiáticos da pelve que
são recobertos pelo músculo isquiocavernoso. Em seu trajeto em direção à vulva, passa rente ao osso pú-
bico. Do espaço perineal superficial em diante, os ramos são denominados corpos cavernosos do clitóris.
A união dos corpos cavernosos forma o corpo do clitóris. O clitóris possui um ligamento suspensor que o
conecta à sínfise púbica. Possui também uma glande formada por tecido erétil e que recobre a extremidade
do corpo. É envolvido anteriormente pelo prepúcio e posteriormente pelo frênulo, ambas as formações
provenientes dos pequenos lábios.
O bulbo do vestíbulo corresponde ao corpo esponjoso masculino. É formado por massas pares de tecido
erétil, altamente vascularizadas e que circundam o vestíbulo. São localizadas internamente, em posição lateral ao
óstio vaginal e recobertas pelos músculos bulbocavernosos.
O períneo é constituído por conjunto de músculos, ligamentos e fáscias de forma losângica, que localiza-se
na abertura inferior da pelve e tem como limites ósseos a sínfise púbica anteriormente, o cóccix posteriormente e
as tuberosidades ciáticas lateralmente. Uma linha imaginária partindo das tuberosidades ciáticas passa anterior-
mente ao ânus e divide o períneo anatômico nos triângulos urogenital (anterior) e anal (posterior).
O triângulo urogenital é atravessado pela vagina e uretra e contém as estruturas vulvares descritas
anteriormente. Essas estruturas externas cobrem os espaços denominados compartimentos superficial e
profundo do períneo, que são formados, principalmente, por músculos. O compartimento superficial
situa-se entre a fáscia perineal superficial e a fáscia inferior do diafragma urogenital. Contém os bulbos
do vestíbulo, as glândulas vestibulares maiores e os músculos isquiocavernoso, bulbocavernoso
e transverso superficial do períneo. O compartimento profundo do períneo ou diafragma uroge-
nital é formado pelos músculos transverso profundo do períneo e esfíncter da uretra. É limitado
inferiormente pela fáscia inferior do diafragma urogenital. Sua fáscia superior é indistinta. O suprimento
sanguíneo do triângulo urogenital é realizado pelas artérias pudenda interna e dorsal do clitóris.
Sua drenagem venosa é realizada pelas veias pudendas internas; a linfática, pela cadeia ilíaca interna, e sua
inervação provém do nervo perineal.
O triângulo anal é atravessado pela extremidade inferior do canal anal e possui o músculo esfíncter externo
do ânus e, de cada lado, a fossa isquiorretal. Sua vascularização é realizada pelas artérias e veias retais inferiores
(hemorroidárias) e a inervação é proveniente do ramo perineal do quarto nervo sacral e do nervo retal inferior.
O corpo perineal ou centro tendíneo do períneo é uma formação fibromuscular situada entre o ca-
nal anal e o diafragma urogenital. Nele se inserem os músculos transverso superficial e profundo do períneo,
bulbocavernoso, elevador do ânus, esfíncter externo do ânus, o músculo liso da túnica longitudinal do reto e as
fáscias superficial e profunda do períneo e inferior e superior do diafragma urogenital. Daí sua extrema impor-
tância na estática pélvica feminina devido à possibilidade de sua ruptura no momento do parto.
O canal pudendo (de Alcock) é um túnel que passa desde as espinhas ciáticas até a borda posterior do
diafragma urogenital. É um importante ponto de referência para a anestesia locorregional devido ao fato de ser
local de trajeto da artéria, da veia e do nervo pudendo.
O diafragma da pelve situa-se imediatamente acima da região perineal e exerce importante papel na sus-
tentação dos órgãos pélvicos e na resistência às elevações da pressão intra-abdominal. É formado pelos músculos
elevador do ânus, coccígeo e suas respectivas fáscias. O músculo elevador do ânus é composto pelos ramos
pubococcígeo, iliococcígeo e puborretal. O diafragma da pelve é inervado por ramos dos terceiro e quarto
nervos sacrais e pelo ramo perineal do nervo pudendo.
História: prinatal,
pregressa, familiar
Exame físico:
incluindo avaliação de gônadas palpáveis
e presença ou ausência de útero
Outras investigações
Análise de mutações no DNA
Figura 1.8 Algoritmo para investigações no desenvolvimento sexual. A genitografia é um exame radiológico no
qual injeta-se contraste no orifício do seio urogenital por via retrógrada para acentuar uretra, bexiga e vagina. ACTH:
hormônio adrenocorticotrófico; AMH: hormônio antimülleriano; HSRC: hiperplasia suprarrenal congênita; SDHEA:
sulfato de desidroepiandrosterona; FISH: hibridização in situ por fluorescência; FSH: hormônio folículo-estimulante;
GcRH: hormônio liberador de gonadotrofina; hCG: gonadotrofina coriônica humana; LH: hormônio luteinizante.
2
Roteiro propedêutico básico
em ginecologia
E, por fim, nos antecedentes familiares (AF), milar (CAM). Existem duas técnicas de palpação ma-
é importante verificar histórico familiar de câncer mária: a de Valpeau (apertando a mama) ou, a mais
de mama e ovário, além de outras doenças crônico- utilizada, do dedilhamento da mama (como tocar
-degenerativas. Em relação ao câncer de mama, dois piano; ver capítulo de Mama, da apostila volume 2).
genes já foram isolados, o BRCA1, que se encontra no A expressão mamilar, apesar de ser considerada
cromossomo 17, e o BRCA2, que está no cromossomo o último tempo do exame clínico mamário, não é
13. O BRCA1 associa câncer de mama com câncer mais obrigatória, devendo ser realizada apenas
de ovário, sendo considerado risco aumentado o nos casos em que a paciente referir saída de se-
parentesco de primeiro grau (mãe, irmã e filha). creção pelos mamilos (fluxo papilar).
No exame ginecológico, faz-se necessário o es-
vaziamento vesical prévio, para reduzir o desconfor-
to durante o exame e facilitar a palpação do fundo e
O exame físico da parede anterior do útero. Exceção se faz aos casos
em que a paciente apresentar queixa de perda de
O exame físico de uma paciente ginecológica
urina aos esforços pois, segundo a Sociedade Inter-
deve-se iniciar exame físico geral, com maior ênfase
nacional de Continência Urinária, devemos demons-
para a região abdominal. Apesar de os órgãos genitais
trar clinicamente essa perda de urina, por meio da ma-
internos se encontrarem na pelve, quando eles estão
nobra de Valsalva, para afirmar sua existência.
comprometidos por um processo neoplásico, princi-
palmente os ovários, podem atingir até o andar supe- Imposta ressaltar que no exame ginecológi-
rior do abdome. co apenas ficará descoberta a parte da paciente a
ser examinada. O exame da genitália tem início pela
Muito embora as mamas não sejam consi-
inspeção estática da vulva. Com a paciente em posição
deradas órgãos genitais, o exame ginecológico
ginecológico o examinador avalia o monte pubiano,
específico começa por elas. A análise mamária tem
a região clitoridiana, os pequenos e grandes lábios, a
início pela inspeção estática, com a paciente sentada,
fúrcula vaginal (principal sítio de encontro das lesões
o tórax desnudo e os braços ao longo do corpo. A pa-
iniciais das DSTs, exceto do gonococo, que tem trofis-
ciente deve posicionar-se de frente para o examinador,
mo pela endocérvice) e regiões perineal e perianal.
que vai simplesmente olhar as mamas, seu formato,
simetria, contornos e a presença de algum abaula- Feita a inspeção estática, partimos para a
mento, retração ou lesões de pele das mamas, aréolas dinâmica, na qual a paciente faz a manobra de
e mamilos. Valsalva (aumenta a pressão abdominal) e veri-
ficamos a presença de procedência de estruturas
Segue-se a inspeção dinâmica, quando a pa-
genitais e a perda de urina.
ciente, ainda sentada de frente para o examinador,
com o tórax descoberto, faz movimentos para con- O examinador calça luvas e procede à palpação
trair e relaxar o músculo peitoral maior. A mama vulvar (tempo muito esquecido nas faculdades pelo
repousa sobre esse músculo e na presença de lesões constrangimento), palpando-se o monte pubiano
mamárias profundas, aderidas ao músculo peitoral (sítio comum de foliculites), região periclitoridiana
maior, há acentuação de abaulamentos e retrações (nunca o clitóris, para não estimulá-lo), palpa-se e
nas contrações musculares. afastam-se os pequenos dos grandes lábios, região de
fúrcula vaginal, perineal e perianal.
Após a inspeção estática e dinâmica, inicia-se a
palpação, que se divide na palpação da glândula ma- Na sequência, realiza-se o exame especular, dan-
mária e dos linfonodos. Com a paciente ainda senta- do sempre preferência para o de plástico ou transpa-
da, o tórax descoberto e de frente para o examinador, rente, por permitir a visualização das paredes vagi-
começamos a palpação dos linfonodos, iniciando pelas nais. O uso de lubrificante está indicado apenas
cadeias cervicais, supra e infraclaviculares, interpei- nos casos em que não será necessária a coleta de
torais e, por fim, axilares. Agora, a paciente deita-se secreção vaginal e/ou cervical. Durante o exame
em decúbito dorsal horizontal para a realização da especular, avaliam-se as rugosidades vaginais, o con-
palpação das mamas, preferencialmente com um co- teúdo vaginal e as características do colo uterino.
xim abaixo da mama a ser examinada. Não importa E, por fim, realiza-se o toque vaginal bimanual.
por qual mama começar, nem se a palpação é do centro Introduz-se o indicador e o dedo médio, lubrificados,
para a periferia ou da periferia para o centro. O im- na vagina da paciente e avalia-se a elasticidade vagi-
portante é que os quatro quadrantes das duas mamas nal, a consistência, o formato e a mobilidade do colo
sejam palpados. A mama apresenta dois quadrantes uterino. A outra mão é colocada no abdome da pacien-
superiores (o medial e o lateral), dois quadrantes in- te e empurra-se o colo uterino para cima, acentuando
feriores (o medial e o lateral) e o complexo areoloma- a anteversoflexão uterina e avalia-se a parede anterior
Figura 2.13 Técnica para a inspeção da cérvice. A: abertura do espéculo após ter sido completamente inserido e
rodado para a posição transversa. B: vista interna da cérvice quando o espéculo é corretamente inserido.
Você precisa saber o que quer conseguir, mas quando souber, deixe-se conduzir. E se parecer que está sendo
desviado de sua trilha, não se detenha, porque talvez seja ali que instintivamente você queira estar.
E se frear e insistir em permanecer onde estava antes, você perderá o vigor.
Gertrude Stein
3
Fisiologia do ciclo menstrual
Introdução
Por volta da 6ª a 8ª semanas de vida intrauterina, a superfície externa do ovário é recoberta pelo epitélio
germinativo. À medida que o feto se desenvolve, os ovócitos diferenciam-se deste epitélio e migram para o
córtex ovariano.
Cada ovócito é circundado por uma camada de células fusiformes do próprio estroma ovariano
e que constituem as células da granulosa. O conjunto ovócito mais granulosa, assim constituído, é
denominado folículo primordial, que, aos poucos, aumenta seu volume. Neste folículo, o ovócito que o
constitui está estacionado na primeira divisão meiótica graças a produção de substâncias inibidores de meiose
pela granulosa.
Todos os ovócitos vão se diferenciar do epitélio germinativo em folículos primordiais, e grande parte apre-
sentará degeneração ainda na vida fetal e que continuará até a menopausa. O ovário de um feto de 20 semanas
apresenta em torno de seis milhões de folículos primordiais. Ao nascimento, restam apenas um milhão desses
folículos e calcula-se um total de 300 a 400 mil na puberdade.
A degeneração folicular indepente da regulação hormonal e está relacionada à primeira divisão
meiótica, sendo que os óvulos que passaram por tal processo não degeneram. Durante os anos repro-
dutivos da mulher, cerca de 400 desses folículos desenvolvem-se o suficiente para expelir seus ovó-
citos, um a cada mês, e os restantes degeneram. Na menopausa (final da fase reprodutiva), apenas poucos
folículos permanecem nos ovários e acabam se degenerando.
O funcionamento ovariano
Os anos reprodutivos caracterizam-se por alterações rítmicas mensais na velocidade da secreção dos hor-
mônios femininos e por mudanças correspondentes nos ovários e nos órgãos sexuais. Esse padrão rítmico é cha-
mado ciclo menstrual ou ciclo sexual feminino. Consagrou-se como padrão o ciclo menstrual com intervalo
em torno de 28 dias, com duração de dois a seis dias e com uma quantidade de sangue, perdido por
menstruação, entre 20 a 80 mL. Geralmente, logo após a menarca (primeira menstruação), o ciclo é
irregular e tende a se tornar cada vez mais rítmico. Cerca de cinco anos após a menarca o ciclo torna-se
próximo do padrão convencional. De dois a sete anos que antecedem a menopausa, a menstruação em geral,
torna-se gradativamente mais irregular.
43
3 Fisiologia do ciclo menstrual
Fatores Fatores
1,0
intrínsecos extrínsecos
0,6
0,3
3 6 9 5 10 30 50
idade idade
Sistema nervoso Central / Hipotálamo
(meses do útero) (anos)
GnRH Retroação
Figura 3.1 Número de oócitos presentes em ambos Retroação alça
os ovários em diferentes idades. alça longa ultracurta
Hipófise
Retroação
alça curta
FSH, LH
Ovário
Regulação
intraovariana
Figura 3.3 O feedback no sistema hipotálamo-
hipófise-ovário.
Célula da teca
Colesterol
LH
Androstenediona Testosterona
Aromatização
Dentro de poucas horas, a teca começa a libe-
rar enzimas proteolíticas dos lisossomas que tornam
a parede folicular enfraquecida, com degeneração do
Estrona Estradiol estigma (área mais delgada do folículo dominante,
próxima a periferia do ovário) e ruptura do folículo
nesta região, para liberação do ovócito. Auxilia nesta
Figura 3.5 Sistema das duas células. ruptura o intumescimento folicular provocado por
transmudação local de plasma causada por elevação
de prostaglandinas. Assim, a ovulação ocorre 24 a
Após uma semana ou mais de crescimento, 48 horas após o pico de estradiol e 12 a 24 horas
um dos folículos começa a se destacar dos demais, após o pico de LH (início do pico de LH ocorre 32
pois secreta maior quantidade de estrogênio e au- a 36 horas antes da ovulação).
menta o número de seus receptores para FSH. Com Em seguida, as células da granulosa re-
isso ele continua a crescer mesmo com baixos ní- manescentes, sob ação do LH, transformam-
veis deste hormônio cuja secreção passa a ser redu- -se em células luteínicas (duas ou mais vezes
zida por feeedbck negativo de estrogênio e inibida maiores que as células da granulosa e com inclu-
em ascensão. sões lipídicas), formando o corpo lúteo produtor
O folículo de maior tamanho cresce enquanto os principalmente de progesterona e de pequena
quantidade de estrogênio. Após 12 a 14 dias, o
demais entram em atresia. Estamos frente ao folículo
corpo lúteo perde sua função secretora e co-
dominante, pré-ovulatório, maduro ou de Graaf,
meça a involuir, sendo substituído por tecido
quando já houve grande desenvolvimento da granu-
conjuntivo, transformando-se no corpo al-
losa e produção de estradiol que, com o FSH, produz bicans ou corpo branco, que não tem nenhuma
proteína receptora para LH nas células da granulosa, função hormonal. No final da fase lútea, aparecem
tornando-a capaz de se luteinizar, ou seja, produzir nas células da teca-granulosa luteinizadas recep-
progesterona. O estradiol vai sendo produzido cada tores sensíveis ao hCG (hormônio gonadotrófico
vez em maior quantidade até atingir seu pico. Esse coriônico humano), fazendo com que o corpo lúteo
pico de estradiol, após 12 a 24 horas, desenca- persista na presença de tal hormônio, que tem sua
deia o pico do LH. produção iniciada após a fecundação.
O pouco estrogênio liberado pelo corpo lúteo O componente estromal evolui a partir de sua
inibe a secreção de FSH e LH, assim como a pro- condição menstrual celular densa, através de um
gesterona inibe a secreção de LH. Além disso, as breve período de edema, para um estado final se-
células luteínicas secretam inibina que, por sua melhante a um sincício frouxo. As arteríolas espi-
vez, diminui a secreção de FSH. O resultado é que- raladas tornam-se finas. Todos os componentes te-
da de FSH e LH, responsável pela degeneração do corpo ciduais (glândulas, células estromais e endoteliais)
lúteo. Após 12 a 14 dias de vida do mesmo, a falta de se- demonstram proliferação, com pico nos dias 8 a 10
creção de estrogênio, de progesterona e de inibina esti- do ciclo. Essa proliferação é marcada por aumento
mula a secreção de FSH e LH, que iniciam o crescimento da atividade mitótica e da síntese nuclear de DNA e
de novos folículos para outro ciclo ovariano. citoplasmática de RNA. Durante a proliferação, o en-
dométrio cresce de aproximadamente 0,5 mm para
3,5 mm a 5 mm de altura. Essa proliferação ocorre
principalmente na camada funcional do endométrio,
pelo espessamento do estroma.
Uma característica importante dessa fase de
crescimento endometrial é o aumento de células ci-
liadas e microvilosas, responsáveis pela mobilização
e distribuição de secreções endometriais durante a
fase secretória.
No início da fase lútea, a taxa de cresci-
mento endometrial diminui significativamente,
no entanto o endométrio atinge uma espessura
máxima em torno de 8 mm a 10 mm. O número
Figura 3.7 Esquema da anatomia microscópica do
ovário. Indicam-se, em sentido horário, as alterações de receptores estrogênicos cai, mas os receptores de
nos componentes do complexo folicular que ocorrem progesterona permanecem abundantes, principal-
durante a atresia e a ovulação de um folículo primordial mente no estroma. Sabemos, de larga data, que o en-
(em cima, à esquerda) até a formação de um corpo albi- dométrio é relativamente insensível à progesterona,
cans (embaixo, à esquerda). a menos que previamente exposto a estímulo estro-
gênico. Dessa forma, no endométrio proliferado, a
progesterona é capaz de provocar intensas modifica-
ções, produzindo uma resposta secretora. A ação pré-
As fases do ciclo via dos estrogênios estimula a síntese dos receptores
de progesterona, dando ao endométrio a capacidade
menstrual de responder a este esteroide.
Assim, as glândulas endometriais tornam-se
Em um ciclo menstrual ovulatório ocorrem altera- mais tortuosas e sofrem um aumento em seu lúmen,
ções anatômicas e funcionais específicas nos componen- passando a secretar grande quantidade de glicogênio,
tes glandulares, vasculares e estromais do endométrio. preparando-se para a implantação do blastocisto. Na
O endométrio pode ser dividido, do ponto fase lútea tardia, o estroma desenvolve características
de vista morfológico, na camada funcional, que de reação decidual pré-menstrual, com grande infiltra-
compreende os dois terços superiores, e na cama- do de linfócitos e aspecto edematoso.
da basal, que compreende o terço inferior. A fina- De um modo geral, a atividade mais impor-
lidade da camada funcional é preparar-se para a tante durante a fase folicular do ciclo menstrual é a
implantação do embrião em fase de blastocisto.
secreção de gonadotrofinas, que controla a foliculo-
Na fase folicular ou proliferativa do ciclo mens- gênese e influencia a proliferação endometrial. Os
trual, o esteroide sexual ovariano que predomina é o eventos dominantes da fase periovulatória são
estrogênio, que age proliferando as células endome- o pico de LH e a ovulação. A alteração significa-
triais, daí o nome dessa fase: proliferativa. tiva que ocorre na fase lútea é a produção de glico-
As glândulas representam a porção mais respon- gênio pelas glândulas endometriais, em preparação
siva do endométrio à ação estrogênica. A princípio, para um blastocisto embrionário. Esses eventos (e
elas são estreitas e tubulares, revestidas por células os processos metabólicos que os regulam) têm um
de epitélio colunar baixo. Graças à ação do estrogênio, amplo efeito sobre todo o organismo. A influência
mitoses tornam-se proeminentes e se observa a pseu- do ciclo menstrual ilustra a extensão da importân-
doestratificação endometrial, sendo que as glândulas cia do processo reprodutivo sobre todo o corpo hu-
tornam-se alongadas e um pouco tortuosas. mano (Figura 3.9).
20
100
10
5 Largura do
orifício cervical
4 Mecanismos da remodelação
mm
3
2 endometrial
Quantidade de
800 muco cervical
600 Com a queda dos níveis de progesterona ao final
mm³
400
do ciclo menstrual, dada a falta de estímulo decorren-
200
te da inibição de LH, o endométrio não se sustenta e
Viscosidade descama provocando o fluxo menstrual e caracteriza
15
10
início de um novo ciclo. No entanto, mecanismos he-
cm
5
mostáticos são criados pela própria progesterona.
Transparência
O fluxo menstrual depende do controle hemos-
1 2 3 4 4 3 2 2 1 1 1 tático, da descamação endometrial e do processo de
Arborização remodelação ou reparação endometrial. O sistema
0 1 2 3 4 3 2 2 1 1 1
hemostático é importante para o controle do fluxo
Penetração do
0 1 2 3 4 2 1 0 0 0 0 espermatozoide menstrual e dependente dos seguintes fatores: contra-
tilidade vascular local; adesão plaquetária; e formação
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28
do coágulo com o reforço da fibrina e do sistema fibri-
Dia do ciclo
nolítico (estabilidade do trombo nas artérias espirala-
Figura 3.8 Alterações fisiológicas associadas ao ciclo das). As prostaglandinas e os hormônios sexuais
menstrual. Os números de 0-4 indicam uma caracterís-
atuam na regulação desse sistema.
tica crescente do muco cervical. Note que o padrão ar-
boriforme, a transparência e a penetração do esperma- Ha várias substâncias que controlam a contra-
tozoide são máximos no meio do ciclo. FSH: hormônio tilidade vascular no endométrio, regulando o fluxo
folículo-estimulante; LH: hormônio luteinizante. menstrual. Assim, a endotelina, a prostaglandina
4
Sangramento uterino disfuncional
dante e filante que se apresenta rajada de sangue função da falência funcional dos ovários, quando ainda
e eventualmente associada à dor da ovulação produzem estrogênios sem mais ovularem e, consequen-
(Mittelschmerz). temente, não produzindo progesterona. Os ovários po-
SUD por supressão estrogênica: não ocor- derão, também, estar policísticos, desde que exista ainda
re produção de estrogênio. Fisiologicamen- uma população folicular suficiente, porém não é a regra.
te ocorre para todas as mulheres durante a O sangramento ocorre superficialmente, na camada
menopausa, uma vez que só há produção de compacta, e representa uma perda por deprivação estro-
óvulos até trinta semanas de idade gestacio- gênica (hemorragia de privação) ou por níveis estrogêni-
nal. Dessa forma, quando o ovário entrar em cos incapazes de manter um estímulo endometrial cons-
falência, não haverá mais produção estrogêni- tante e adequado (break through bleeding, ou hemorragia
ca. Sem estrogênio o endométrio se tornará de escape), portanto, diferente da descamação ordenada
atrófico, “careca”, sem células, provocando da camada funcional do endométrio que ocorre na mens-
um sangramento por exposição vascular. truação de ciclos ovulatórios. A estimulação contínua dos
Trata-se da principal causa de sangramento estrogênios induzirá uma progressão da resposta endo-
na pós-menopausa – o endométrio atrófico. metrial, podendo chegar eventualmente ao adenocarci-
SUD por ruptura progestacional: os níveis de noma. Na ausência das ações limitantes da progesterona
progesterona diminuem antes do esperado, e a sobre a proliferação induzida pelos estrogênios e da des-
queda da progesterona provoca vasoconstrição camação ordenada da camada funcional, o endométrio
endometrial seguida de isquemia, gerando des- continuará crescendo, sem o concomitante suporte es-
camação desta área que se exterioriza na forma trutural e, assim, gerando o sangramento.
do sangramento. O maior exemplo desse tipo
Outro exemplo de SUD seria a persistência
de sangramento é a insuficiência do corpo
do corpo lúteo (síndrome de Halban) que não
lúteo; o corpo lúteo é substituído por tecido
ocorre de maneira cíclica. É episódio esporádico e o
conjuntivo antes do esperado (antes dos 12 a 14
dias). Sem corpo lúteo, cai a progesterona. Se a diagnóstico geralmente não é feito, porque não se
progesterona cair antes do esperado, o endomé- pensa nessa possibilidade. É frequentemente con-
trio sofrerá vasoconstrição com consequente is- fundida com gravidez ectópica, pois ocorre um atra-
quemia também antes do esperado, antecipando so menstrual, seguido de perdas irregulares, dor no
o sangramento menstrual. Trata-se de um san- baixo ventre e presença de massa anexial represen-
gramento pré-menstrual. tada por um corpo lúteo hemorrágico. Com esses
achados, é natural pensar em ectópica. Se o diag-
SUD por supressão progestacional: não há
nóstico correto for confirmado por ultrassonografia
produção de progesterona. Sem progesterona
e β-hCG (afastando a gravidez), a evolução espontâ-
não ocorre vasoconstrição endomentrial e sem
essa vasoconstrição o endométrio não descama. nea seguirá sem maiores problemas.
Trata-se de uma irregularidade menstrual
para menos, ou seja, a mulher não sangra ou
o sangramento menstrual demora a aparecer.
O maior exemplo desse tipo de SUD é a ano- Diagnóstico
vulação, pois sem ovulação não há formação de
corpo lúteo e sem corpo lúteo não há produção O diagnóstico de SUD é feito após exclusão
de progesterona. de outras causas de sangramento uterino. A ava-
liação inicial da paciente, após história e exame físico,
deve incluir os exames descritos a seguir:
No sangramento disfuncional ovulatório são Teste de gravidez: deve ser solicitado para toda
descritos os seguintes tipos: paciente na menacme que apresente sangramen-
Ciclos anovulatórios podem ocorrer em qual- to uterino anormal, mesmo que ela negue ter
quer época da menacme, mas é particularmente tido relações sexuais.
frequente nos extremos da vida reprodutiva, ou Hemograma e coagulograma: avaliação de pos-
seja, logo após a menarca ou no período pré-me- sível anemia e coagulopatia. Em adolescentes, as
nopausal. Na puberdade, a anovulação é consequência alterações da coagulação podem estar relacio-
de uma imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise-ovário nadas com sangramento aumentado e também
(H-H-O), ainda incapaz de levar um folículo ao estágio devem ser investigadas. A anemia de Fanconi, as
maduro e desencadear o pico ovulatório de LH. Nessa anormalidades plaquetárias, com ou sem trom-
época, é comum encontrarmos os ovários policísticos. bocitopenia, a moléstia de von Willebrand e a
Na menacme, a anovulação crônica é, geralmente, con- fibrinogenemia podem estar presentes.
sequência de um mecanismo de feedback inapropriado, Testes de função tireoidiana: só devem ser rea
cujo resultado levará invariavelmente aos ovários poli- lizados se a história clínica da paciente for suges
císticos. No período climatérico a anovulação ocorre em tiva de tireoideopatias.
Ultrassonografia (US): o estudo de imagem sendo o sulfato ferroso o preparado padrão. Uma dose
complementará o exame físico. A ultrassonogra- diária de 200 mg de ferro elementar (l.000 mg de sulfato
fia (US) permite a avaliação uterina, da cavidade ferroso) produz ótima resposta, normalizando os índices
endometrial e dos anexos; é um método não in- hematimétricos em dois meses. O tratamento deve ser
vasivo e de baixo custo. A via transvaginal per- mantido por três a seis meses, para a reposição das
mite obter imagens de melhor qualidade, já que a reservas corporais de ferro.
maior proximidade das estruturas com o transdu-
tor permite o uso de sondas de maior frequência. Tratamento com ferro-dextrano (Noripurum) na
Se a paciente ainda não tiver iniciado sua vida se- concentração de 50 mg/mL pode ser administrado por
xual, ou não tolerar o uso da sonda transvaginal, via intramuscular ou endovenosa na dose:
o US pélvico transabdominal deve ser solicitado.
Histeroscopia: permite avaliação da cavidade
Ferro a ser injetado (mg) =
uterina e biópsia dirigida de áreas específicas do
{(15-hemoglobina do paciente g/dL) ×
endométrio com maior probabilidade de diag-
peso corporal × 3}.
nosticar a lesão; no entanto, é método de alto
custo e invasivo e não pode ser realizado na vi-
gência do sangramento. Esse método também Esse tratamento está indicado para pacientes
permite o tratamento de lesões benignas. que não toleram ou não absorvem adequadamente o
ferro, quando administrado pela via oral, e portadoras
No estudo anatomopatológico, o endométrio de distúrbios como colite ulcerativa, cujos sintomas se
pode ser proliferativo, hiperplásico, misto e atrófico, agravam com a administração do ferro por via oral.
conforme o tipo de sangramento e a época em que o Em pacientes com distúrbio de coagulação,
material foi colhido. Quando o endométrio for se- principalmente na doença de von Willebrand e
cretor normal, deve-se pensar em causa orgânica em casos leves a moderados de Hemofilia A, po-
ou, o que é comum, emocional.
de-se administrar a desmopressina, que aumenta
Biópsia aspirativa endometrial ou dilatação a concentração do fator VIII e do fator de von Wille-
seguida de curetagem semiótica: já foi o méto- brand de duas a cinco vezes o valor basal através da
do de escolha para avaliação endometrial dessas
liberação de estoques endoteliais. A dose terapêutica é
pacientes, porém requer anestesia para a sua rea-
lização e a biópsia é feita às cegas. de 0,3 pg/kg de peso diluídos em 50 mL de soro fisio-
lógico, devendo ser administrada por via endovenosa
Biópsia com Pipelle®: é método simples, pode ser
no período de 15 a 30 minutos.
realizado ambulatorialmente e não requer dilatação
do colo uterino, o que diminui o desconforto para a Para o tratamento durante a fase aguda
paciente. A acurácia na detecção de câncer endome- nos sangramentos disfuncionais do tipo anovu-
trial por esse método é de 91% a 99% em pacientes latório, preconiza-se os estrogênios conjugados
pós e pré-menopáusicas, respectivamente. na dose de 1,25 a 2,5 mg a cada 4 ou 6 horas, por
A tomografia computadorizada e a ressonância via oral. Cessando a perda de sangue, diminui-se a
magnética não são úteis na avaliação inicial do SUD. dose de estrogênios conjugados até se obter a menor
Em pacientes na pós-menopausa o estu- dose livre de sangramento, o que se consegue, em
do do endométrio é imperativo, uma vez que a geral, com 2,5 a 5 mg ao dia até completar um ciclo
ação estrogênica sobre o endométrio, sem a an- de 21 dias. Nos últimos 10 dias, deve-se associar
tagonização progestacional, aumenta o risco de um progestagênio, de preferência um 19-nores-
hiperplasia e carcinoma endometriais. Cuidado teroide. Outra alternativa aos estrogênios conjuga-
em especial deve ser dada às mulheres que tem dos é administrar pílulas anticoncepcionais contendo
refratariedade e clínica ao tratamento princi- etinilestradiol, na dose de (50) 35 mcg, 3 a 4 compri-
palmente as que possuem 45 anos ou mais, nessa midos ao dia, e diminuir paulatinamente, mantendo-
população uma avaliação endometrial por bióp- -se a menor dose livre de sangramento (1 ou 2 com-
sia ambulatorial ou histeroscopia é obrigatória. primidos ao dia). Ainda não há estudos comprovando
que o emprego de estrogênios por via transdérmica
ou nasal seria eficiente no controle de sangramento
uterino anormal. Em 2012 o FDA aprovou o uso do
Tratamento valerato de estradiol com dienosgest como sendo a
única pílula contraceptiva com indicação de uso no
tratamento da hemorragia uterina disfuncional, sen-
Tratamento da anemia do que a prescrição da mesma seguiria o uso das pílu-
Na maioria dos casos, basta uma dieta rica em pro- las conforme a cartela, da mesma forma que ela é uti-
teínas e suplementação oral de ferro. Várias são as apre- lizada na contracepção. Esse contraceptivo com essa
sentações comerciais do ferro disponíveis no mercado, propriedade devido ao progestogênio dienogest que
Na fase crônica, deve-se corrigir a causa do san- A ablação por balão térmico é uma técni-
gramento disfuncional do endométrio do tipo anovu- ca nova que tem apresentado bons resultados.
latório ou prescrever um progestagênio na segunda Consiste em posicionar um balão térmico com solu-
fase do ciclo por 10 a 14 dias. Dá-se preferência aos ção salina na cavidade uterina sob anestesia local. A
noresteroides, em vez dos derivados da pregnana, por solução atinge a temperatura de 85ºC. A técnica de
produzirem um endométrio dimórfico e, portanto, um micro-ondas implica colocação de sonda de 8 mm de
sangramento de menor intensidade. diâmetro dentro da cavidade uterina. Essa sonda é
conectada a equipamento que aquece a ponta da son-
Nas menorragias não intensas, pode-se optar da por micro-ondas. O endométrio é, assim, caute-
apenas pelo anti-inflamatório não-hormonal, espe- rizado por aplicações múltiplas da ponta aquecida
cialmente quando o sangramento for do tipo ovula- sobre a sua superfície.
tório. Estima-se que ocorra diminuição de 30 a 50%
na quantidade de sangue perdido. Um procedimento Essas técnicas estão indicadas para pacien-
terapêutico importante é o dispositivo intrauterino tes sem doença endometrial e com a cavidade
(DIU) medicado (levonorgestrel), que provoca ame- uterina de até 10 cm, e em útero de tamanho
norreia em 50% dos casos e oligomenorreia nos de- compatível com até dez semanas de gestação ao
mais. Deve ser testado antes de qualquer manobra toque bimanual. Ablação endometrial não deve ser
cirúrgica. proposta para mulheres sem prole definida devido ao
comprometimento da fertilidade.
Outra modalidade de tratamento após a fase
aguda é a indução da ovulação, nos casos de sangra- O DIU contendo levonorgestrel pode ser uma al-
mento anovulatório, com citrato de clomifeno ou com ternativa para essas pacientes.
gonadotrofinas. Indica-se a indução para pacientes A histerectomia reserva-se para os casos de
jovens e desejosas de engravidar, e por períodos não falha dos tratamentos clínicos e cirúrgicos acima
superiores a 6 meses. descritos.
Orgânico Disfuncional
Correção Anti-inflamatório
da discrasia Cirúrgico Avaliar
a causa não-hormonal e
sanguínea antifibrinolítico
Específico Hormonal
Figura 4.1 Algoritmo de acompanhamento da paciente com sangramento uterino anormal.
5
Amenorreia
De昀椀nição
Amenorreia significa ausência de menstruação tanto quando a mulher nunca menstruou (primária) quanto
na interrupção temporária dos ciclos menstruais. A amenorreia primária é definida pela ausência de mens-
truação em uma mulher de 14 anos sem caracteres sexuais secundários ou em uma mulher de 16 anos,
independentemente da presença de caracteres sexuais. Outra definição seria a da ACOG que define
a ausência de menstruação até 15 anos de idade independentemente dos caracteres sexuais . Já a
amenorreia secundária é a ausência de menstruação por seis meses, em mulheres com irregularidade
menstrual, ou 3 ciclos em mulheres regulares (ou o equivalente a três ciclos consecutivos em uma mulher
que já teve pelo menos um episódio espontâneo de menstruação).
Classi昀椀cação
Classificação
Primária: nunca houve menstruação.
Secundária: já houve um episódio espontâneo de menstruação.
Fisiológica: amenorreias esperadas no ciclo de vida da mulher, como na infância, gestação, pós-menopausa e lactação.
Criptomenorreia: falsa amenorreia (ausência de menstruação devido a obstruções). Divide-se em congênitas (hí-
men imperfurado, septo vaginal transversal, atresia e agenesia do colo uterino) e adquiridas (sinequias pós-cirúrgicas
de vagina e do colo).
Tabela 5.1
A amenorreia é um sintoma que pode ser proveniente de diversas causas no eixo hipotálamo-hipófise-ová-
rio-útero. Essas alterações podem ser supra-hipotalâmicas, hipotalâmicas, hipofisárias, ovarianas, útero canalicu-
lares e alterações da retroalimentação. Em aproximadamente 85% dos casos, uma boa anamnese, associa-
da a um exame clínico minucioso, pode ser capaz de revelar o diagnóstico etiológico. A propedêutica
complementar deverá ser selecionada de acordo com cada situação.
55
5 Amenorreia
Deve ser lembrado que o sistema nervoso cen- Disfunções neurais podem determinar hiperpro-
tral, cujos neurônios comunicam-se entre si através lactinemia, que pode, por si só, causar amenorreia,
de neurotransmissores, apresenta outras áreas liga- desvios menstruais, anovulação e fase lútea inade-
das à reprodução, além do hipotálamo. Essas áreas, quada. Há galactorreia em aproximadamente 33% dos
genericamente denominadas supra-hipotalâmicas, casos, e 20% de todas as mulheres com amenorreia se-
estão situadas principalmente no sistema límbico. O cundária funcional têm hiperprolactinemia.
conhecimento dos neurotransmissores envolvidos em Em geral, níveis elevados de prolactina associam-
alterações psicológicas e gonadotróficas ainda é par- -se à amenorreia, níveis baixos de gonadotrofinas e de
cial; no entanto, os estudos realizados sobre os meca- estradiol; não há menstruação de privação com pro-
Uma classificação histeroscópica muito rona, indicando função ovariana normal, ovulatória,
utilizada divide as aderências intrauterinas em aparentemente responsabilizando o endométrio e/ou
três graus: útero como um todo pela amenorreia.
1. acentuado; A tuberculose genital determina perturba-
2. moderado; ções menstruais em aproximadamente 20% das
pacientes. Com a tuberculose pulmonar ativa, não
3. mínimo.
se pode invocar causa central para a amenorreia. A
A graduação depende da aglutinação das pare- destruição completa dos ovários é excepcional, o
des, da espessura das aderências e do comprometi- que afasta causa ovariana. A explicação mais aceita
mento dos óstios tubários. é de lesão endometrial importante com formação
As aderências são constituídas de tecido fibromus- de aderências intrauterinas.
cular, às vezes recobertas de endométrio, ligando suas A estenose cervical como causa de amenorreia
paredes. Retraem ou dividem a cavidade em espaços pode seguir-se à infecção crônica, diatermo ou crio-
menores, diminuindo a área de endométrio funcional. coagulação do colo uterino, ou ainda ser de natureza
As pacientes podem ser inteiramente assintomáticas, congênita. Nesse último caso, confunde-se com atre-
mas frequentemente têm desvio menstrual, amenor- sia do colo uterino. Todas essas condições podem de-
reia, dismenorreia, esterilidade, partos prematuros e
terminar hematometra e têm sido consideradas de
outras intercorrências, tais como placenta prévia.
alto risco para endometriose.
Na chamada ovulação silenciosa, responsável
Tanto na síndrome de Asherman como na
por amenorreia primária, todos os parâmetros do ci-
estenose cervical, as pacientes podem queixar-
clo menstrual são normais, exceto a descamação he-
-se de uma secreção menstrual. A histerometria
morrágica, que está ausente. Duas alternativas têm
pode ultrapassar a obstrução e, caracteristica-
sido aventadas para explicar a ocorrência de fluxos
menstruais mínimos, que passaram despercebidos, mente, dar vazão ao sangue escuro acumulado
ou ausência congênita dos mecanismos responsáveis na cavidade uterina. A amenorreia somente ocorre
pela descamação endometrial. A ovulação silenciosa quando o estreitamento é acentuado; essa amenorreia
pode ocorrer nos casos de atrofia endometrial após pode ser do tipo criptomenorreia ou não, dependendo
o emprego de anticoncepcionais hormonais em que da lesão uterina associada.
haveria bloqueio dos receptores estrogênicos endome- A síndrome de Rokitansky-Küster-Hauser
triais. São quadros mal definidos e muito polêmicos. designa ausência ou atresia de vagina com útero
A paciente tem cavidade uterina e canal cervical nor- rudimentar sólido, geralmente bipartido e ovários
mais, e também, função ovariana normal. Estrogênios normais (agenesia mülleriana). Esses casos devem
e progestogênios administrados em altas doses para ser diferenciados da síndrome de Morris, forma
induzir a menstruação são impotentes. O exame his- completa. Há duas grandes diferenças: presença de
tológico endometrial revela endométrio atrófico pelos axilares e pudendos, e ovários na primeira; ao
ou em repouso. passo que, na condição intersexual os pelos estão
ausentes e as gônadas são testículos. Na agenesia
vaginal ocorrem malformações urológicas em apro-
Fatores etiológicos aventados ximadamente 60% dos casos; às vezes há associação
com anormalidades esqueléticas, como, por exem-
para explicar refratariedade plo, escoliose.
endometrial O septo vaginal transverso é caracterizado pela
1. Lesão bacteriana, inclusive tuberculose da ca- presença de vagina em fundo cego, útero normal e
mada funcional do endométrio acompanhada de fibrose. septo nas proximidades da junção do terço superior
2. Choque emocional. Em relação ao evento com os dois terços inferiores do órgão e hematocol-
emocional, foram correlacionados episódios repetidos pos. Da mesma forma que, no hímen imperfurado, as
de amenorreia com situações emocionais adversas, pacientes vêm com queixa de amenorreia primária e
sendo que a normalização menstrual foi precedida da dor pélvica periódica, resultante da formação de he-
estabilização emocional. matometra.
Condições semelhantes parecem existir no caso É preciso lembrar ainda de amenorreias iatrogê-
de fístulas vesicovaginais, resultados de lesão obsté- nicas que seguem a histerectomia, miometrectomia,
trica associada com amenorreia. Biópsias endome- irradiação e conização ou amputação do colo uterino,
triais demonstram endométrio não funcionante ou como a síndrome de Youssef-Machado caracteri-
atrófico. No entanto, muitos casos mostram conco- zada por amenorreia e hematúria cíclica. A base
mitantemente níveis normais de estradiol e progeste- anatomopatológica é uma fístula vesicouterina.
Amenorreia
Exame pélvico
Aumentada Aumentada
Figura 20.1 Algoritmo diagnóstico para investigação de amenorreia. SITA: síndrome da insensibilidade total aos
angrogênios; HSRC: hiperplasia suprarrenal congênita; SDHEA: sulfato de desidroepiandrosterona; FSH: hormônio
folículo-estimulante; hCG: gonadotrofina coriônica humana; HHI: hipogonadismo hipogonadotrófico idiopático;
RM: ressonância magnética; 17-OH-P: 17-hidroxiprogesterona; SOP: síndrome do ovário policístico; IOP: insuficiên-
cia ovariana prematura; TSH: hormônio estimulante da tireoide.
A felicidade pode ser definida, pelo menos em parte, como o fruto do desejo e da capacidade
de sacrificar o que queremos agora pelo que queremos no futuro.
Stephen R. Covey
6
Síndrome dos ovários policísticos
Introdução Etiopatogenia
Conhecida desde o final do século passado, pas- Ainda é pouco conhecida. De acordo com Berger,
sou a ser considerada entidade clínica definida após poderiam ocorrer dois eventos:
publicação de Stein e Michael Leventhal, em 1935. 1. Alterações primárias do sistema hipotálamo-
A anovulação hiperandrogênica ou Síndro- -hipofisário, com ovários aumentados de volume e ní-
me dos Ovários Policísticos (SOP) é a causa mais veis plasmáticos elevados de LH (Tipo 1).
comum de infertilidade de causa endócrina e ca- 2. Alterações não centrais, com ovários de tama-
racteriza-se pela perda da ciclicidade ovulatória nho normal e valores normais ou baixos de LH (Tipo 2).
por alteração nos mecanismos de retrocontrole
hipotalâmico-hipofisário-ovariano, resultando Segundo Yen, trata-se de uma disfunção hipo-
em ciclos anovulatórios e irregulares, com graus talâmica devido à secreção anômala de opioides e do-
variados de hiperandrogenismo manifestado clí- pamina com produção atípica de GnRH. A queda dos
nica ou laboratorialmente. Ovários aumentados, opioides hipotalâmicos, associada a um tônus dopa-
com múltiplos cistos ovarianos bilaterais, além de minérgico diminuído, leva ao aumento da secreção
obesidade central, podem ser encontrados em grande pulsátil de GnRH pelo hipotálamo, alterando a secre-
número de pacientes. Nos últimos anos, esse quadro ção de gonadotrofinas hipofisárias. Acredita-se tam-
vem sendo tratado como uma doença metabólica bém na existência de defeito enzimático primário da
com repercussões sistêmicas importantes, espe- suprarrenal, a qual se manifesta através da adrenarca
cialmente sobre o sistema cardiovascular, meta- acentuada. As taxas aumentadas de androgênios pro-
bolismo glicêmico e no perfil lipídico. moveriam, pela sua conversão periférica e hipotalâmi-
ca, liberação anômala de LH, aumento da relação LH/
Corresponde a 20%-30% dos casos de infertilida- FSH e feedback anômalo.
de feminina. É a endocrinopatia mais comum na mu-
lher, atingindo 6% a 10% delas na idade reprodutiva, Berger observou que, após a administração de
estima-se que essa doença seja responsável por 80% GnRH, há elevação dos níveis de LH e redução de FSH,
dos quadros de irregularidade menstrual de origem sugerindo resposta anômala primária ou secundária
ovulatório na mulher no período reprodutivo. No en- da hipófise.
tanto, a heterogeneidade da doença, associada à au- Observa-se secreção elevada e inapropriada
sência de padronização de critérios para o diagnóstico, de LH, constante e baixa ou diminuída de FSH. O
pode produzir grande variabilidade nos dados epide- aumento da frequência de amplitude de GnRH promo-
miológicos. Os dados de prevalência são oriundos de veria um estado de dessensibilização da hipófise, re-
grupos de pacientes estudados em amostras popula- sultando na liberação predominante de LH em relação
cionais relativamente pequenas. ao FSH.
64
Ginecologia
Na gônada há déficit parcial de duas enzimas que quebra a androstenediona e a testosterona em estrona
promovem a conversão de androgênios em estrogê- e estradiol, aumentando ainda mais o nível estrogê-
nios, isto é, 3β-ol desidrogenase e aromatase. nio, alimentando o ciclo vicioso da SOP.
Speroff sugere provável herança autossômica do- A SOP representa o clássico exemplo de per-
minante, à vista do aparecimento da afecção em vários da da ciclicidade funcional por retroalimentação
membros de uma mesma família. Para Toledo, a ocor- anômala. A produção excessiva de androgênios
rência familiar de afecção seria resultado do distúrbio e sua conversão em estrogênios constituem o
gênico, provavelmente hereditário, dos receptores substrato fisiopatológico da anovulação crônica.
hipotalâmicos-hipofisários envolvidos no controle A produção excessiva de androgênios e sua subse-
gonadotrófico. Atualmente, é considerada, acima de quente conversão em estrogênios constituem o substrato
tudo, uma desordem da biossíntese, utilização e/ou fisiopatológico da anovulação crônica. Haveria, pois, re-
metabolismo de androgênios em mulheres. troalimentação acíclica, com secreção inadequada de LH
e FSH pelo sistema hipotálamo-hipofisário. Forma-se,
assim, verdadeiro ciclo vicioso em que a disfunção central
condiciona alterações morfológicas e funcionais nos ová-
rios. Associa-se em graus variados à obesidade e a quadro
Fisiopatologia de infertilidade. Pacientes com SOP apresentam, ain-
da, risco aumentado para o desenvolvimento de cân-
A anovulação crônica caracteriza-se pela ausência per-
cer de endométrio e doenças cardiovasculares, bem
sistente da ovulação. Para ocorrer ovulação é impres- como alterações no metabolismo de glicose e risco
cindível que o eixo hipotalâmico-hipofisário e o com- para desenvolvimento precoce de diabetes melito.
partimento teca folicular do ovário estejam atuantes
e os níveis de estradiol circulantes sejam adequados. A insulina é considerada um fator funda-
mental na fisiopatologia da doença. Grande parte
Durante o fluxo menstrual, o baixo nível de es- das pacientes (obesas e não obesas) apresenta resis-
trogênio, através de mecanismo de retroalimentação tência periférica à insulina (50 a 75%), o que leva a um
positiva, promove abrupta elevação de FSH, que é quadro de hiperinsulinismo relativo. O mecanismo
muito importante no crescimento folicular e esteroi- exato da resistência à insulina ainda é desconhecido,
dogênese. O crescimento folicular progressivo deter- porém parece se tratar de defeito pós-receptor de in-
mina produção de estradiol, que induz o aparecimento sulina. Estudos sugerem que haveria uma fosforilação
de receptores de FSH, mantendo os folículos sensíveis excessiva em resíduos de serina do receptor de insuli-
a ele. A ação combinada de FSH e estradiol estimula o na ou de proteínas dessa via de sinalização. O campo é,
aparecimento de receptores de LH nas células da gra- atualmente, objeto de intensa investigação.
nulosa. Conforme os folículos vão crescendo, o estra-
A insulina age diretamente e, também, através
diol é produzido em maior quantidade e, por feedback
de ação sinérgica com o LH, na produção androgêni-
positivo, estimula a hipófise a secretar as gonadotro- ca das células da teca interna do ovário. Além disso,
finas. A ovulação é precedida por rápida elevação dos diminui a produção hepática da globulina carreadora de
níveis de estradiol que estimula a hipófise anterior, esteroides sexuais (SHBG), permitindo que maior fração
desencadeando o pico de LH, indispensável para a pos- de androgênios circule em sua forma ativa. Por fim, estu-
tura ovular e formação do corpo lúteo. dos têm indicado que poderia estimular a atividade enzi-
Na portadora da SOP a hipófise não reco- mática do citocromo P450, que é essencial para a produ-
nhece os altos níveis de estrogênio e não inverte ção de androgênios. Estudos mostram, também, que essa
o feedback. Mesmo em níveis elevados o estrogênio enzima tem comportamento anômalo em mulheres com
continua estimulando a hipófise a secretar cada SOP e que o fator de crescimento insulinoide 1 (IGF-1) pa-
vez mais gonadotrofinas, não ocorrendo a queda rece ter papel na SOP.
estrogênica, fundamental para a formação do pico Em relação à obesidade central. estatísticas ameri-
do estradiol, que é essencial para a ocorrência do pico canas apontam que 60% das mulheres com SOP são
de LH, que é o grande responsável pela ovulação. obesas, o que agrava a resistência insulínica e hiperin-
Como o estradiol, mesmo em nível elevado, sulinemia, contribuindo assim para maior prevalência
continua estimulando a liberação de gonadotrofinas de desordens menstruais, hirsutismo e infertilidade.
hipofisárias, muito FSH e LH acaba sendo liberado. O excesso de testosterona na SOP promove
Pela teoria das duas células, o LH se liga aos seus re- maior risco de síndrome metabólica, indepen-
ceptores na célula da teca e quebra o colesterol em an- dentemente da obesidade e resistência insulínica,
drostenediona e testosterona. Esses dois androgênios enquanto que a presença de interleucinas e a baixa
entram na célula da granulosa que tem receptor para concentração de aDIPAonectina propiciam lesão en-
FSH. Quando o FSH se liga ao seu receptor na célula dotelial precoce e consequentemente maior risco de
da granulosa, ativa a ação da enzima aromatase, que doença cardiovascular.
O quadro clínico da síndrome pode variar em razão da heterogeneidade da doença, e muitas vezes estão
presentes fatores correlacionados, tais como obesidade, infertilidade, sinais de resistência à insulina (Acantose
nigricans), entre outros.
Embora a espaniomenorreia seja mais comum, observa-se amenorreia em cerca de 55% dos casos, e
sangramento anormal em 28%. Hirsutismo está presente em quase 50% das pacientes. Tanto o hirsutismo
quanto as alterações menstruais iniciam-se na fase peripuberal, geralmente acompanhadas de aumento de peso.
Não é grande a associação de ovários policísticos com neoplasias ovarianas. A literatura registra
como variedades de neoplasias associadas: teratoma cístico, arrenoblastoma, tumor de Leydig, tumor de
restos adrenais, disgerminoma, tumor de células da granulosa.
A associação com câncer de endométrio é registrada por diversos autores (19%-37%). Ocorre
devido à maior produção extraglandular de estrogênio em pacientes obesas.
Consequências
em curto prazo
Obesidade
Infertilidade
Menstruação irregular
Dislipidemia
Hirsutismo/acne/alopecia androgênica
Intolerância à glicose/acantose nigricante
Consequências
em longo prazo
Diabetes melito
Câncer endometrial
Doença cardiovascular
Tabela 6.4
Centro córtico-hipotálamo
GnRH Obesidade
Anovulação Androgênios
Atresia
folicular Estimula receptor
IGF-1
Disfunção
Infertilidade
menstrual
Hiperplasia estromal
Hipertecose CA de endométrio
Tratamento Do hiperandrogenismo
Tem como objetivo o restabelecimento da fertili-
dade, normalização dos ciclos menstruais, controle do
Acetato de ciproterona
hirsutismo e prevenção do carcinoma de endométrio. O acetato de ciproterona possui ação central
Pode ser clínico ou, excepcionalmente, cirúrgico. antigonadotrófica e periférica. Diminui a sínte-
se de androgênios por bloquear a liberação de
gonadotrofinas hipofisárias. Perifericamente,
atua na unidade pilossebácea, impedindo a li-
Prevenção das consequências gação da DHT aos receptores citosólicos ou, na
Mudanças nos hábitos de vida, com prescrição pele, inibindo a enzima 5α-redutase. A dose re-
de dieta e exercício físico, corresponde ao tratamento comendada é de 50 a 100 mg diários, VO, do 5º ao
14º dia do ciclo, pelo período mínimo de seis me-
de primeira linha para prevenção das repercussões da
ses, podendo estender-se até 12 meses. Associa-se
doença em longo prazo. A redução do peso favorece a
0,02 mg de etinilestradiol (quando se deseja a an-
redução dos níveis androgênicos, melhora o perfil lipí-
ticoncepção) ou 1,25 mg de estrógenos conjugados
dico e diminui a resistência periférica à insulina, sendo
ao dia, VO, do 5º ao 24º dia do ciclo (quando não é
úteis, assim, para o retorno dos ciclos ovulatórios e para
necessária a contracepção).
a prevenção de diabetes e doenças cardiovasculares.
A metformina tem sido indicada em razão dos
benefícios a longo prazo.
Espironolactona
A espironolactona, antagonista da aldostero-
na, também possui ação antiandrogênica. Inibe a
Da disfunção menstrual síntese de testosterona nas células produtoras
Os anticoncepcionais orais estroprogestativos de esteroides tanto na gônada quanto na su-
(combinados) são empregados em pacientes anovula- prarrenal, além de competir perifericamente
doras com hiperandrogenismo sem desejo de gravidez com os androgênios que ocupam os mesmos
iminente. A droga reduz os níveis circulantes de an- receptores. É utilizada na dose de 50 a 200 mg di-
drogênio, combate o hirsutismo e o hiperandroge- ários, por período mínimo de 12 meses. A melhora
nismo, regulariza os ciclos, protege o endométrio e dos sintomas, tais como despigmentação e menor
promove contracepção quando esta é desejada. Os densidade dos pelos, começa a ser observada, em
ACO diminuem os níveis androgênicos circulantes por geral, após três meses de tratamento. Adotam-se
meio de inibição da secreção adequada de gonadotrofi- ainda, para combater o hirsutismo, medidas de or-
nas e pelo aumento dos níveis de SHBG hepático que au- dem geral, como a depilação, a descoloração com
xilia na redução dos androgênios circulantes. O esquema água oxigenada e a eletrocoagulação do folículo pi-
terapêutico é o mesmo utilizado na contracepção. loso. Em pacientes obesas, a perda de peso, isola-
No entanto, não promove melhora da resistên- damente, é capaz de reverter os sinais e sintomas
cia à insulina, normalmente associada à síndrome, e advindos do hiperandrogenismo.
pode, eventualmente, até piorá-la. Os contraceptivos Recentemente, tem-se empregado a flutamida,
orais também devem ser prescritos com maior critério na dose de 250 mg/dia. Devido aos efeitos colaterais,
em pacientes hipertensas ou com dislipidemia. principalmente a intoxicação hepática, o cetoconazol
é pouco usado.
Progestagênios
Em pacientes sem atividade sexual ou na Metformina
impossibilidade de uso de contraceptivos orais O efeito da metformina na anovulação, con-
combinados, pode-se fazer uso intermitente de cepção e taxa de recém-nascidos vivos em mulheres
progestagênios, visando a regularização do ciclo com SOP está bem documentado, mas sua eficácia
menstrual e à proteção endometrial. Não há, até o é questionada em comparação a outros autores. A
momento, estudos controlados avaliando o efeito me- metformina é um agente sensibilizador da insuli-
tabólico do uso dessas drogas ou benefícios adicionais. na que reduz a resistência e a secreção de insulina,
Procura-se prescrever agentes progestacionais com bai- seguida por uma diminuição na produção de an-
xo potencial androgênico, e o mais usado é o acetato de drogênios ovarianos. A ação direta da metformina
medroxiprogesterona, 5-10 mg/dia por 7 a 10 dias. sobre as células da teca ovariana diminui a produ-
As gonadotrofinas são administradas na dose ini- rona ou ωhCG. A fertilização in vitro (FIV) pode ser
cial de 75 UI por dia, iniciando-se nos primeiros cinco utilizada nos casos em que a estimulação ovariana foi
dias de sangramento menstrual (natural ou induzido), exagerada, com o objetivo de evitar o cancelamento do
desde que a ultrassonografia demonstre endométrio ciclo. Pacientes com SOP parecem ter maior risco de
fino (< 6 mm) e ausência de cistos ovarianos. abortamento após FIV. Gestações têm sido obtidas em
O ajuste da dose inicial deve ser realizado após, pacientes com SOP após maturação in vitro de oócitos,
pelo menos, cinco dias de medicação e baseia-se no podendo ser opção para pacientes com má resposta ao
desenvolvimento folicular ao ultrassom. A ovulação tratamento medicamentoso ou risco de hiperestímulo
é desencadeada pela gonadotrofina coriônica (de ovariano.
5.000 a 10.000 UI, em dose única), administrada
no dia em que pelo menos um folículo atinja mais
de 18 mm. Deve-se cancelar o ciclo quando houver
mais de quatro folículos com mais de 14 mm de di-
âmetro médio ou mais de três folículos acima de 16 Cirurgia
mm, para evitar a gravidez múltipla e a síndrome
A terapêutica cirúrgica, ressecção cuneiforme,
de hiperestímulo ovariano. Em ciclos subsequentes,
a dose inicial é determinada pela resposta prévia parcial, de ambas as gônadas (cirurgia de Thaler), é
da paciente, podendo ser reduzida ou aumentada. cada vez menos indicada, estando reservada aos casos
Constitui método racional na terapêutica da anovu- em que falham as tentativas clínicas para restabelecer
lia crônica por retroalimentação inadequada. Pes- a fertilidade. Pode causar aderências pós-operatórias,
quisas têm utilizado os análogos de GnRH associa- transformando uma esterilização de causa endócrina
dos às gonadotrofinas. em outra de etiologia peritoneal.
Parece haver benefício com a utilização de análo- Tem-se realizado cauterização elétrica ou com
go do GnRH previamente à indução da ovulação, com raio laser através da laparoscopia com a finalidade
aumento das taxas de gravidez e redução das taxas de extirpar todos os folículos subcapsulares visíveis.
de abortamento. Nesses casos, torna-se obrigatória a Ao que parece, com essa técnica evita-se a formação
suplementação hormonal na fase lútea com progeste- de aderências.
Prevenção
Mais que uma desordem reprodutiva, a SOP deve ser considerada uma doença metabólica complexa, que
precisa ter abordagem terapêutica global, uma vez que constitui em fator de risco para doenças como diabetes e
câncer de endométrio e, possivelmente, doença cardiovascular.
A mudança de hábitos de vida, com prescrição de dieta e exercício físico, consiste no tratamento de primeira
linha para prevenção das repercussões da doença em longo prazo. A perda de peso favorece a redução dos níveis
androgênicos, melhora o perfil lipídico e diminui a resistência periférica à insulina, contribuindo, assim, para o
retorno dos ciclos ovulatórios e para a prevenção de diabetes e doenças cardiovasculares.
A metformina tem sido indicada em razão dos benefícios de longo termo, porém, ainda hoje, faltam estudos
que comprovem sua eficácia. Para alguns autores a metformina não deve ser mantida na gravidez.
7
Síndrome pré-menstrual
Introdução Fisiopatogênese
O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia A ocorrência da SPM apenas na menacme
conceitua a Síndrome Pré-Menstrual (SPM) como “ocor- supõe que os hormônios ligados ao eixo hipotála-
rência cíclica de sintomas psíquicos e/ou somáticos mo-hipófise-ovário tenham função relevante. De
de severidade suficiente para interferir com al- fato, os sintomas pré-menstruais desaparecem após
guns aspectos da vida cotidiana, relacionando-se ooforectomia, tratamento com análogos ou agonistas
renitentemente com a fase lútea do ciclo menstru- do GnRH, ou mesmo após ciclos anovulatórios espon-
al”. Essa conceituação pressupõe que os sintomas desa-
tâneos. Por muitos anos entendeu-se a fisiopatogenia
pareçam nos primeiros dias do ciclo, excluindo-se assim
da SPM com base nas inter-relações existentes entre
a exacerbação pré-menstrual de doenças crônicas.
os esteroides sexuais, a prolactina e o sistema renina-
As alterações na esfera emocional estão repre- -angiotensina-aldosterona. Dessa forma, ficavam mui-
sentadas por irritabilidade, depressão, ansiedade e
to bem explicados os sintomas de retenção hídrica,
labilidade, determinando profundas modificações no
mas não os neuropsíquicos. Outro eixo que pode estar
humor, cujas crises infundadas de choro destacam-se
com marcada incidência e recorrência. envolvido é o hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal,
pois este pode agir sobre a reprodução, o apetite e o
As queixas físicas mais consistentes concentram-
sentimento de bem-estar. Esse eixo atua na regulação
-se em torno da astenia, da distensão abdominal, da
da resposta ao estresse e pode envolver catecolaminas
mastalgia, de cefaleia, polaciúria, insônia e alterações
da libido, além das modificações do apetite, em que pre- e esteroides.
domina a predileção aos hidratos de carbono da dieta. Além do estrogênio, da progesterona, das endor-
Para muitas mulheres essas alterações, em geral, finas e das prostaglandinas que podem atuar nessa
são de pequena intensidade e não interferem na ati- síndrome, é importante evidenciar que muitas vezes
vidade rotineira. Entretanto, os sintomas provocam estão envolvidos outros hormônios, como os indois
prejuízo das tarefas cotidianas num significativo gru- (melatonina e serotonina), e os neurotransmisso-
po e, assim, geram problemas de relacionamento pro- res dopamina e ácido gama-aminobutírico (GABA) e,
fissional, familiar e social. principalmente, a serotonina.
73
7 Sìndrome pré-menstrual
As endorfinas têm efeito marcante sobre o hu- toma tem sido atribuído a níveis alterados de
mor e o comportamento, sendo que os estados de fa- prolactina, que alguns advogam ser a causa da
diga, depressão, mal-estar, euforia, irritabilidade, an- SPM, por ter sido constatada elevação em mais
siedade, atitudes agressivas, modificações de apetite, de 40% das doentes. Sua secreção parece estar sob
distúrbios do sono, sudorese e inquietação dependem dependência frenadora do neurotransmissor dopa-
das oscilações de seus níveis. mina. Já a hiperprolactinemia indica redução da sua
atividade, que está relacionada, por sua vez, ao de-
Existem receptores de endorfinas em neurônios
senvolvimento de depressão. Além disso, a dopamina
dopaminérgicos. Por isso, as endorfinas influenciam
exerce controle tônico sobre a secreção da aldostero-
a secreção dos neuro-hormônios e das aminas biogê-
na, que também age nessa afecção. Recentemente,
nicas, dessensibilizando os receptores de dopamina.
verificou-se um desequilíbrio nas prostaglandinas.
Tais receptores atuam ainda como inibidores periféri-
cos das prostaglandinas, reduzindo a atividade contra- A cefaleia tipo enxaqueca, muito frequente, re-
tural da musculatura lisa, o que poderia explicar a obs- sulta da alteração da atividade contrátil da musculatu-
tipação intestinal e a distensão abdominal observadas ra lisa dos vasos, para a qual concorrem a serotonina,
em muitas mulheres. as prostaglandinas e os estrogênios, agravando-se pela
falha do sistema endógeno de analgesia, por depleção
A redução da atividade da serotonina e a ele-
das monoaminas e dos opioides.
vação da melatonina ocupam também lugar des-
tacado no determinismo da depressão, ansieda- Alguns autores relacionam o aparecimento
de e agressividade. Como resultado da eficácia dos dos sintomas da SPM com a ingestão inadequada
medicamentos inibidores de recaptação de serotonina de nutrientes como o cálcio e o magnésio. Esses
no tratamento do transtorno disfórico pré-menstrual, íons regulam a contratilidade da musculatura
o sistema serotoninérgico tem sido investigado como lisa dos vasos próximos ao tecido nervoso. Além
ponto relevante. Inúmeros trabalhos já demonstra- disso, hormônios femininos como o estrogênio
ram níveis reduzidos de serotonina em sangue total e regulam o fluxo de cálcio e magnésio intracelular
captação de serotonina plaquetária diminuída na fase e o balanço eletrolítico no organismo. Assim, es-
lútea em mulheres com SPM. ses autores acreditam que variações hormonais
durante a fase pré-menstrual poderiam causar
As endorfinas e a serotonina podem deter- oscilações importantes que, por sua vez, pode-
minar, no pré-mênstruo dessas pacientes, os riam contribuir para a SPM.
sintomas de natureza psíquica. Os sintomas de
retenção hídrica podem ser atribuídos à redução Ainda se tem estudado a possível participação
de atividade da suprarrenal, com consequente etiopatogênica dos baixos teores de vitamina A, E, B6
e o envolvimento de zinco, cobre, magnésio e cálcio,
elevação da prolactina e da aldosterona e libera-
que regulam a produção dos neurotransmissores e a
ção de vasopressina.
corrente sanguínea para o tecido nervoso.
A progesterona e seus metabólicos atua-
Alguns especialistas acreditam que a deficiência
riam na SPM por interferência na regulação do
de magnésio pode ser responsável pelo desencadea-
neurotransmissor GABA. A alteração dos níveis
mento dos sintomas da SPM, visto que mulheres com
sanguíneos deste esteroide com redução dos de GABA
essa afecção têm menores concentrações desse íon. O
estaria relacionada a crises de depressão, ansiedade e
magnésio é cofator de centenas de reações enzi-
agitação. Além disso, trabalhos clínicos mostram que
máticas, atua como regulador de trocas iônicas e
mulheres com a forma mais grave de SPM têm baixos
é ainda modulador da secreção de insulina pelo
níveis de GABA.
pâncreas. Observam-se alterações da atividade da mo-
A concentração cerebral de todos esses neuro- noaminoxidase e dos níveis de serotonina nos gânglios
transmissores recebe interferência de diversas subs- basais de animais com deficiência de magnésio. Alguns
tâncias, especialmente dos hormônios sexuais. Por- trabalhos demonstram melhora dos sintomas emocio-
tanto, efeito indireto dos esteroides ovarianos sobre nais e de retenção hídrica em mulheres que receberam
os neurotransmissores ou sobre os tecidos-alvo preci- suplementação de cálcio e magnésio, embora a explica-
pitaria os sintomas. ção fisiopatológica não esteja ainda estabelecida.
Um sintoma muito incômodo e bastante rela- Aceita-se, então, que a SPM seja uma afec-
tado é a mastalgia, que, além do inconveniente da ção psiconeuroendócrina complexa. Logo, os fato-
dor, causa prejuízos ao relacionamento amoroso e res psicológicos participam também da SPM. Em estu-
temor de sua ligação com neoplasia. Embora tradi- do clínico que usou placebo (droga inerte) para tratar
cionalmente não seja considerada indicadora de pe- pacientes com SPM, os autores perceberam que quase
rigo, há relatos de maiores índices de sensibilidade 60% tiveram melhora dos sintomas após três meses de
pré-menstrual em doentes com câncer de mama, tratamento. Assim, o fator psicológico influi muito na
após controlado o efeito de outros fatores. Esse sin- sintomatologia e na melhora das pacientes com SPM.
A inibição da ovulação pode ser realizada com o Existe alguma evidência de que a vitamina E
uso de agonistas de GnRH, isoxazol, gestrinona e anti- possa modular a produção das prostaglandinas,
concepcionais hormonais. Em decorrência do alto cus- reduzindo os sintomas dolorosos. A dose reco-
to e dos efeitos colaterais dessas drogas, recorre-se, mendada é de 150 a 400 IU/dia.
em geral, aos anticoncepcionais orais de preferência As drogas como os diuréticos espironolacto-
no regime contínuo. na ou os tiazídicos devem ser usadas apenas nos
O uso do implante de etonorgestrel (implanon) casos de edema importante.
pode ser usado por pacientes com sintomas físicos im- A espironolactona (diurético poupador de potás-
portantes e que desejam anticoncepção. sio) na dose de 100 mg/dia ou tiazídico na dose de 25
Quando os sintomas da SPM forem acompanha- mg/dia são as recomendações.
dos por hiperprolactinemia, pode-se usar bromoergo- Outras alternativas não farmacológicas são a
criptina 2,5 mg/dia, nos últimos dez dias do ciclo. acupuntura e a fisioterapia (para casos selecionados),
Nos últimos anos, suplementos nutricionais que podem ter algum papel no tratamento dos pacien-
têm sido utilizados no tratamento da SPM. Uma tes com cefaleia, porém a qualidade e a quantidade
das substâncias mais empregadas é a piridoxina dos estudos que as recomendam não são plenamente
(vitamina B6) na dose de 100 a 600 mg/dia. Essa convincentes. Deve ser considerado método auxiliar e
vitamina é cofator na biossíntese de dopamina de eficácia limitada, permanecendo à espera de novos
e de serotonina a partir do triptofano, atuando estudos com metodologia adequada.
como regulador da produção da monoaminoxida- Como fitoterápicos, podemos usar o extrato de
se (MAO). Suplementação de cálcio (200 mg/dia) passiflora, ácido gamalinoleico e o Hypericum perfura-
associado ao magnésio (100 mg/dia), na segun- tum. Sua eficácia é contestada por alguns autores, pois
da fase do ciclo, também tem sido recomendada, não há superioridade em relação ao placebo. As vita-
porém alguns estudos não mostram melhora sig- minas e os fitoterápicos devem ser usados apenas em
nificativa do quadro de SPM. casos leves.
TPM
Enxaqueca Edema
Fluoxetina +
Sertralina ganho de peso
Paroxetina
Diazepínico
Combinados
Outros
Ergotamina
Anti-inflamatórios não hormonais
Sumatriptano
Bromoergocriptina,
Galactorreia ou
Lisurida,
Mastalgia grave
Carbegolina
Espironolactona
Sem resultado Hidroclorotiazida
Furosemida
8
Dismenorreia
Introdução
Quase todas as mulheres sentem desconforto abdominal às vésperas da menstruação. Quando essa dor é
intensa, dificultando os afazeres habituais, fala-se em dismenorreia. Dismenorreia é definida como dor pélvica
pré-menstrual, com ou sem associação a sintomas sistêmicos. Os sintomas mais frequentes são: cólicas,
náuseas, vômitos, fadiga, nervosismo, dor lombar, diarreia, tonturas e cefaleia. Cinquenta por cento das mulhe-
res sofrem algum mal-estar no período menstrual, sendo que o distúrbio torna-se problemático em 5% a 10%
delas. Pode ocorrer nos diferentes grupos etários, incidindo em mais de 60% no grupo de 18 a 25 anos, prin-
cipalmente nas nulíparas.
Classi昀椀cação
Primária, intrínseca, essencial ou idiopática
Ocorre na ausência de doenças pélvicas orgânicas. Em geral, a dor surge na puberdade, 6 a 12 meses
após a menarca e quando ocorrem as menstruações ovulatórias. A dor acompanha o fluxo menstrual ou inicia-
-se poucas horas antes.
A dor ocorre antes e durante a menstrua- tentes vasoconstritores que induzem a contração da
ção. Segundo a sua intensidade, pode ser considerada musculatura uterina, levando à hipoxia, à isquemia
leve, moderada e grave; devido ao fato de a dor ser um e à dor.
fenômeno subjetivo, apresenta dificuldades e limites O aparecimento da dor na dismenorreia pri-
para ser mensurada e estudada e, dessa forma, são mária ocorre, habitualmente, entre seis meses e
utilizados os critérios de avaliação da intensidade da dois anos após a instalação da menarca; inicia-se
dismenorreia (Tabela 8.1). algumas horas antes ou no 1º dia do catamênio
e, então, desaparece, gradativamente, nos dias
subsequentes. Na maioria das vezes, caracteri-
Sistema de avaliação verbal para a dismenorreia za-se por cólica de intensidade variável, desde
Sintomas leve até acentuada ou incapacitante, que situa-
Ativida- Dura- Atividades Analgési-
sistêmi- -se no hipogástrio, propagando-se à raiz das co-
de ção habituais cos
cos xas (face interna) e região lombossacral.
Leve 1º dia Normais Nenhum Raramente É comum, também, a aceleração do trato intes-
necessários tinal, traduzido por diarreia acompanhada de vômi-
Modera- 1 a 3 Diminuição Diarreia e/ Necessários tos. Raramente registra-se em cada menstruação a
da dias do rendimen- ou cefaleia expulsão de verdadeiro molde da cavidade do útero,
to acompanhada de intensa cólica no baixo ventre, sendo
Acentua- Antes e Nitidamente Presentes Pouco chamada dismenorreia membranácea.
da durante afetadas efeito
o fluxo Em aproximadamente 50% dos casos, há a
Tabela 8.1
associação da dismenorreia primária com a sín-
drome da tensão pré-menstrual, caracterizada
por nervosismo, náuseas, vômitos, cefaleia, fa-
diga etc.
Sem Sem
resultado resultado
Resultado
satisfatório
Sem
resultado
Associação
contraceptivo
+ AINH
Sem resultado
Os julgamentos nos impedem de ver o bem que existe por trás das aparências.
Wayne Dyer
9
Endometriose
De昀椀nição
Endometriose é uma doença não neoplásica caracterizada pela presença e proliferação do te-
cido endometrial fora da cavidade uterina. Tal proliferação geralmente apresenta um padrão progressiva,
embora possa haver regressão espontânea. Da mesma forma que o endométrio normal, o tecido da endome-
triose é estrogênio dependente, o que pode trazer ciclicidade aos sintomas, embora não seja uma regra.
Há duas formas anatomoclínicas:
Adenomiose (endometriose interna): quando a ectopia endometrial está localizada na camada muscular do
útero. Trata-se de uma invasão do miométrio por tecido endometrial, que põe estar em continuidade com o
endométrio tópico.
Endometriose externa: quando a ectopia endometrial está localizada fora do útero e não tem relação de con-
tinuidade anatômica com o tecido normalmente situado. A localização mais comum é ovariana, onde forma
estrutura cística com líquido espesso e achocolatado, chamado endometrioma.
Incidência
Estima-se que 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva possam ser portadoras dessa enfermidade.
A endometriose afeta mulheres na menacme, e a maior incidência se dá na quarta década de vida. As pacien-
tes mais propensas a apresentar a endometriose são as de raça branca, classe social mais favorecida, nulí-
paras, normotensas, ansiosas, e com história de dor pélvica. Em mulheres com este perfil, a laparoscopia
revela incidência de endometriose da ordem de 30%, ou seja, o dobro da média observada no pool completo de
mulheres em idade reprodutiva.
82
Ginecologia
endometriais.
Teoria dos restos embrionários. Remanescen-
Classi昀椀cação
tes dos ductos de Wolf poderiam originar a en- Classificar a doença tem por finalidade a unifor-
dometriose ou, sob estímulos específicos, restos mização nos padrões de linguagem sobre a doença,
dos ductos de Müller poderiam ser ativados e,
tornando possível agrupar casos, traçar esquemas te-
assim, formar endométrio funcionante.
rapêuticos e fazer prognósticos.
Teoria composta. Combina a implantação, a
disseminação linfática/muscular e a teoria da ex- A classificação mais utilizada é a da American
tensão direta. Fertility Society, que avalia a quantidade total
da superfície afetada, diferenciando-a entre doença
As duas teorias mais aceitas são a da metaplasia
peritoneal, ovariana e tubária. A área considerada afe-
celômica, a do fluxo retrógrado e a da disseminação
mecânica. tada envolve não só aquela diretamente atingida por
tecido endometrial ectópico, mas também as aderên-
Na maioria dos casos a menstruação retrógra-
cias pélvicas (Figura 9.3).
da, presente em grande parte das mulheres, levaria o
tecido endometrial para a cavidade pélvica, onde sua Histologicamente pode ser classificada
fixação como endometriose de fato da-se apenas em como superficial ou profunda. Na primeira a en-
mulheres com predisposição genética, em quem o sis- dometriose compromete até 5 mm de profundi-
tema imune é ineficaz em destruir tal tecido. dade do tecido e, na segunda, acima de 5 mm.
– A ultrassonografia: confirma a presença de massa do GnRH por três a seis meses seguidos de laparoscopia.
pélvica, seu tamanho, seu volume e se há modificações O agonista do GnRH, além de atrofiar os focos de en-
com o tempo. Tem-se usado bastante ultrassonografia dometriose, deixa as aderências pélvicas mais frouxas.
pélvica com preparo intestinal, e esta vem mostrando Na sequência, por laparoscopia, retiram-se todos os fo-
sensibilidade semelhante à ressonância magnética. cos visíveis da doença, além de se praticar a lise de ade-
rências. No pós-operatório a conduta depende se o casal
– Ressonância Magnética de Pelve: pode mostrar
quer ou não engravidar. Se o casal não quer engravidar,
implantes pélvicos e espessamentos ligamentares.
mantém-se a paciente com anticoncepcional oral com-
– Os níveis de CA-125: são altos na super- binado contínuo ou agente progestacional. Caso o casal
fície das membranas das lesões endometriais, opte pela gestação, deve-se aconselha-lo a fazê-lo o mais
apresentando positividade em 48%. Como pode rapidamente possível, na medida em que a taxa de recidi-
estar aumentado em diversas situações, como DIPA, va da doença é alta.
menstruação, neoplasias epiteliais, anexite, adenomio-
se, salpingite aguda e gravidez, deve, então, ser dosado
no início do ciclo menstrual, podendo refletir atividade
da doença. Este marcador apresenta sensibilidade de Da dor
20% a 80% e especificidade de 80%, com performan- Como se trata de doença estrogenio-dependente,
ce diagnóstica reduzida. Parece ser melhor como teste o tratamento ideal baseia-se na suspensão da ativida-
diagnóstico nos estágios III e IV. Outro marcador é o de ovariana, que pode ser obtida com o uso de agentes
CA 19-9, que apresenta positividade em torno de hormonais, em especial aqueles à base de progesterona
52% nas pacientes com endometriose. (Tabela 9.3). As drogas disponíveis e estudadas até o
Níveis séricos da IL-6 acima de 2 pg/mL (90% presente têm eficácia semelhante com diferentes per-
de sensibilidade e 67% de especificidade) e de fator fis de efeitos adversos e custos. Os anti-inflamatórios
de necrose tumoral alfa (TNF-α) no líquido peritoneal e analgésicos são apenas sintomáticos e coadjuvantes
acima de 15 pg/mL (100% de sensibilidade e 89% de no tratamento.
especificidade) podem ser usados para diferenciar en-
tre pacientes com e sem endometriose. Tratamento clínico da endometriose*
Frequên-
Medicamento Via Dose
cia
Endometriose: diagnóstico
Progestogênios
Acetato de medroxi- VO 30 mg Diária
Clínico Exames Cirúrgico -progesterona
complementares
Acetato de medroxi- IM 150 mg Cada 3
-progesterona (depot) meses
Marcadores
imagem Antiprogestogênios
Gestrinona VO 1,25 ou 2 vezes/
Figura 9.4 Diagnóstico da endometriose.
2,5 mg semana
Danazol VO 400 Diária
(2 x 200 mg)
Agonista do GnRH
Tratamento Leuprolide SC l mg Diária
O tratamento da endometriose pode ser clíni- IM 3,75 mg Mensal
co, cirúrgico ou envolver a combinação de ambos.
Goserelina SC 3,6 mg Mensal
Independentemente da modalidade terapêutica es-
colhida, o objetivo principal é o alívio da dor, a Buserelina IN 3 x 300 mg Diária
obtenção de gravidez e a prevenção de recorrên- Nafarelina IN 2 x 200 mg Diária
cias. Embora haja inúmeros estudos na literatura, os
Triptorelina IM 3,75 mg Mensal
achados são contraditórios e inconclusivos. A melhor
abordagem terapêutica para a endometriose ainda Tabela 9.3 VO: via oral; SC: subcutânea; IM: intra-
não foi estabelecida. muscular; IN: intranasal. *Duração habitual: seis meses.
Atualmente prefere-se apenas tratamento clí-
nico às mulheres que não apresentam infertilida-
de, que não possuem obstruções e que respondem O danazol é agente androgênico que induz
bem a estas medidas. Para as demais, o tratamento amenorreia pela supressão do eixo hipotálamo-hipó-
considerado de escolha é o combinado: clínico e cirúrgi- fise-ovário, além de aumentar os níveis séricos dos
co. A opção mais usada, nestes casos, é uso de agonistas androgênios e reduzir os de estrogênios. Embora a
eficácia do danazol no alívio da dor em pacientes com Opções menos usadas são os inibidores da
endometriose tenha sido demonstrada por inúmeros enzima aromatase. Os implantes de endometriose
estudos, o seu uso é limitado pelos efeitos cola- contêm a enzima aromatase P450, possuindo então a
terais androgênicos (edema, ganho de peso, acne, capacidade de converter precursores estrogênicos, an-
oleosidade da pele e hirsutismo). Além disso, é con- drostenediona e testosterona, em estradiol e estrona:
traindicado em pacientes com doença hepática independem, portanto, dos esteroides ovarianos para
ou dislipidemia. sobreviver. O anastrozol (1 mg/dia) e o letrozol (2,5 mg/
dia) podem ser associados aos análogos do GnRH, tam-
Os agentes progestacionais vêm sendo usa-
bém por seis meses, visando elevar o índice de sucesso
dos no tratamento da endometriose há vários anos. com o tratamento clínico.
Esses compostos induzem decidualização endome-
trial, além de inibir a ovulação e produzir amenor- O sistema intrauterino de levonorgestrel
reia. Os progestogênios mais usados no tratamento (SIU-LNG-Mirena®) parece produzir alívio da dor em pa-
da endometriose são o acetato de medroxiproges- cientes com endometriose comparável ao obtido com os
terona (MPA) por via oral (20 mg-100 mg/dia) ou análogos do GnRH. O SIU-LNG é uma opção para mu-
lheres com endometriose e dor pélvica que não desejam
parenteral (150 mg IM trimestral). Outros proges-
engravidar pelo melhor custo-benefício, além de não cau-
togênios utilizados no tratamento da endometriose
sar hipoestrogenismo e apresentar efeito a longo prazo.
incluem o acetato de noretindrona (5 mg - 20 mg/
A Tabela 9.4 apresenta as recomendações baseadas em
dia), o acetato de megestrol (40 mg/dia), o desoges-
evidências da Sociedade Europeia de Embriologia e Re-
trel (75 mcg/dia) e, mais recentemente, dienogeste
produção Humana (ESHRE) para o tratamento da dor
(2mg/dia). Os efeitos colaterais incluem ganho de
pélvica crônica na endometriose.
peso, retenção hídrica, mastalgia, sangramento ge-
nital e depressão.
Os anticoncepcionais orais combinados Tratamento da DPC na endometriose
(ESHRE, 2005)
(ACO) usados de maneira contínua ou cíclica consti-
tuem outra opção no tratamento da endometriose. O Uso de A1NE pode ser eficaz no tratamento da
uso ininterrupto do ACO induz amenorreia e decidu- dor na endometriose (grau A, nível la).
alização endometrial, além de mimetizar o ambien-
te hormonal gravídico (“pseudogravidez”) e induzir Supressão da função ovariana por 6 meses me-
apoptose do endométrio ectópico dessas pacientes. lhora a dor. As drogas investigadas (GnRH,
ACO, danazol, gestrinona e AMP são igualmen-
Os análogos do GnRH são, na atualidade, os te eficazes, mas o perfil de efeitos adversos e cus-
medicamentos de escolha para o tratamento clí- tos são diferentes) (grau A, nível la)
nico da endometriose. Esses agentes induzem um
SIU-LNG parece ser eficaz no tratamento da dor
estado hipoestrogênico devido à dessensibilização dos
na endometriose, mas as evidências até o mo-
receptores hipotalâmicos e hipofisários com conse- mento não são suficientes para serem feitas re-
quente redução da secreção das gonadotrofinas. Assim, comendações
observa-se supressão da ovulação e, por conseguin-
te, da secreção estrogênica. A falta de estrogênio terá
Dependendo da gravidade da doença, o ideal é
diagnosticar e remover os implantes identifica-
efeitos, também, diretamente sobre as células endome-
dos no mesmo tempo cirúrgico (GPP)
triais ectópicas promovendo a apoptose. São inúmeras
as formulações disponíveis, com várias formas de admi- Não há evidências de que a LUNA seja necessá-
nistração, intramuscular, subcutânea e nasal. Podem ria, pois não influencia ocorrência de dor asso-
ser aplicados diariamente (spray nasal), mensalmen- ciada à endometriose; remoção da doença infil-
te ou trimestralmente (IM/SC), por não mais de seis trativa pode reduzir dor (GPP)
meses. Como efeito colateral, temos sinais e sintomas
semelhantes aos encontrados no climatério, fogachos, As evidências não sugerem benefício do trata-
alterações psíquicas, diminuição da libido e do trofismo mento hormonal pré-operatório
vaginal e, principalmente, diminuição de massa óssea.
Podemos, pela adição de pequenas doses de compostos
Uso pós-operatório de GnRH ou danazol, as-
com ação estrogênica, diminuir esses efeitos colaterais, sociado à redução de dor, retarda recorrência
bem como inibir a perda de massa óssea, sem prejudi- quando comparado ao placebo (grau A, nível la)
car o efeito da medicação sobre a doença; para tanto,
prescrevemos estrogênios equinos conjugados 0,3 mg Tabela 9.4 DPC: dor pélvica crônica; AINE: analgési-
a 0,625 mg por dia, ou tibolona 2,5 mg/dia. Pelo fato co anti-inflamatório não esteroide; LUNA: neurectomia
de poderem ser usados por apenas seis meses acabam pré-sacral; GPP: recomendação de boa prática clínica;
sendo preferíveis no final da vida menstrual, ou como SIU-LNG: sistema intrauterino de liberação de lev-
adjuvantes em terapia cirúrgica. onorgestrel.
Sintomas sugestivos
de endometriose
Dor Infertilidade
Tratamento Cirurgia
Adolescentes Adolescentes Adultas clínico definitiva
Dor
< 16 anos > 16 anos agonista GnRH caso não
persistente
COCs agonista GnRH (+ terapia de acréscimo se planeje
(+ terapia de [add-back]) mais filhos
acréscimo Danazol, COCs
[add-back]*) Progestogênios ou
ou COCs inibidores da aromatase
Figura 9.5 Algoritmo para diagnóstico e tratamento de mulheres com endometriose suspeita ou comprovada.
CC: citrato de clomifeno; COCs: contraceptivos orais combinados; GnRH: hormônio liberador da gonadotrofina; IIU:
inseminação intrauterina; AINEs: anti-inflamatórios não esteroides. aAgente não recomendado para adolescentes
com menos de 16 anos. *N. de T. Terapia add-back é aquela feita com uma pequena quantidade de progesterona ou
com progesterona e estrogênio utilizada concomitantemente com os agonistas do GnRH.
10
Vulvovaginites
Ao realizar o diagnóstico baseando-se ape- ao exame a fresco. A vaginose foi chamada de bac-
nas nas características clínicas do corrimento, teriana devido à ausência de fungos ou parasitas
pode-se incorrer em erro. Por isso, a observação como fatores causais.
cuidadosa deve ser apenas a primeira etapa de Trata-se de síndrome caracterizada por in-
um procedimento sistemático de testes de fácil fecção polimicrobiana, resultante da prolifera-
execução. Recomendam-se os seguintes: ção maciça de uma microbiota bacteriana mista,
Medida do pH vaginal: teste rápido e simples associada a uma grande diminuição de lactobaci-
que produz informações valiosas, realizado com fita de los, cuja ocorrência depende do sinergismo en-
papel indicador de pH colocada em contato com a pa- tre Gardnerella vaginallis e bactérias anaeróbias,
rede vaginal. Deve-se tomar cuidado para não tocar o particularmente Mobiluncus e Bacteroides.
colo, que possui pH mais básico do que a vagina e pode Cabe ressaltar que a Gardnerella, isoladamente,
provocar distorções na leitura. O valor do pH vaginal pode fazer parte da microbiota vaginal normal, não
fisiológico varia de 3,8 a 4,5. necessitando de tratamento se não produzir sintomas.
Teste das aminas (teste do cheiro): aminas, As bactérias anaeróbias produzem as enzimas
em especial cadaverina, putrecina e trimetilamnina, que são responsáveis pelo odor de pescado, que está
são produzidas pela flora bacteriana vaginal, parti- intimamente associado à síndrome, dado que produ-
cularmente pelos germes anaeróbicos, podendo ser zem aminas em grande quantidade quando em am-
identificadas quando o conteúdo vaginal é misturado biente de pH alcalino, sendo as principais: cadaverina,
com uma gota de hidróxido de potássio (KOH) a 10%. putrecina e trimetilamina.
O teste é considerado positivo quando exala odor de-
Assim, a a secreção vaginal na vaginose bac-
sagradável (“odor de peixe”), indicando quantidade
teriana é caracterizada pela presença de Gardne-
anormalmente alta de anaeróbios.
rella vaginallis e bactérias anaeróbicas associada a re-
Bacterioscopia do conteúdo vaginal: a aná- dução do número de lactobacilos.
lise microscópica do conteúdo vaginal é, na prática,
método útil no diagnóstico etiológico do corrimento
vaginal. Tal conteúdo poderá ser analisado a fresco,
com KOH a 10% e/ou esfregaço corado pelo Gram. O Epidemiologia
achado microscópico típico do conteúdo vaginal nor-
A incidência da doença varia de acordo com a po-
mal inclui: células epiteliais vaginais em quantidade
pulação. No Brasil, a incidência é de aproximadamente
moderada (usualmente em maior número que os leu-
45% das das doenças vaginais infecciosas, mas há es-
cócitos); predominância de lactobacilos em relação às
tudos com índices mais reduzidos, de até 10%.
outras espécies de bactérias; ausência de clue cells ou
Trichomonas vaginalis. Geralmente, a vaginose bacteriana afeta mulhe-
res em idade reprodutiva, indicando um possível papel
Causas de corrimento vaginal dos hormônios sexuais na sua patogênese. Segundo
Amsel (1983), o maior fator de risco para a vaginose
Corrimento vaginal fisiológico
é o número de parceiros sexuais, embora não seja con-
Vulvovaginites infecciosas
(vaginose bacteriana, candidíase, tricomoníase) siderada uma DST. O uso de métodos de barreira e
Vulvovaginites não infecciosas (irritativas, alérgicas) de anticoncepcionais orais (ACO) parece prote-
Cervicite (pelo HPV ou gonocócica) ger contra a VB. No caso dos ACO, estes atuam pro-
Tabela 10.1 movendo a proliferação de uma microbiota composta
predominantemente por lactobacilos.
A importância da vaginose não se deve ape-
nas à sua elevada frequência e à sua sintomato-
Vaginose bacteriana logia desagradável, mas, principalmente, ao re-
lacionamento com patologias obstétricas, tais
A vaginose bacteriana (VB), anteriormente como corioamnionite, trabalho de parto prema-
chamada de vaginite inespecífica ou vaginite turo e endometrite pós-parto. Além dessas en-
por Gardnerella, é a mais frequente das infec- tidades, há também relação com endometrites,
ções genitais baixas, sendo responsável por salpingites (DIPA), infecções pós-operatórias,
40%-50% dos casos. Utiliza-se o termo vagino- infecções do trato urinário e até mesmo displa-
se, em vez de vaginite, para destacar a discreta sia cervical, acreditando-se que as aminas pro-
resposta inflamatória observada nessa infecção, duzidas pela ação dos anaeróbios sejam impor-
denotando uma ausência marcante de leucócitos tantes cofatores carcinogênicos.
Fator desencadeante
(contato sexual?) Proliferação da Proliferação de
G. vaginalis microplasmas, bacteróides
(anaeróbios facultativos) e Mobiluncus
(anaeróbios obrigatórios)
Odor de peixe
Potencial de
Aminas voláteis óxido-redução
Critérios de Nugent
Os critérios de Nugent (ou gradiente de Nugent) constituem um sistema de escore para o diagnóstico de
VB com coloração pelo Gram que quantifica os elementos microbiológicos. Fundamenta-se, principalmente, na
quantidade de lactobacilos e outras bactérias. Tendo como padrão de normalidade escores variando de 0 a 3; flora
vaginal indefinida, o escore de 4 a 6; e o diagnóstico de vaginose bacteriana, um escore de 7 a 10.
Critérios de Nugent
Escore Lactobacillus spp. Gardnerella bacteroides Bacilos curvos: Mobiluncus
0 ++++ Neg. Neg.
1 +++ + + ou ++
2 ++ ++ +++ ou ++++
3 + +++
4 Neg. ++++
Tabela 10.2 Critérios de Nugent.
A cultura de secreção vaginal, que é o método de escolha para fechar o diagnóstico de vulvovaginite, perde
seu valor na VB, uma vez que é provacada por vários patógenos e não por um único agente.
Tratamento
O objetivo do tratamento é aliviar a sintomatologia e restabelecer o equilíbrio do sistema vaginal. Como
medidas gerais, preconizam-se a abstinência sexual, higiene local (duchas vaginais com peróxido de hidrogênio a
1,5%), calcinha de algodão e banho com sabonete neutro. O peróxido de hidrogênio libera oxigênio e cria ambien-
te desfavorável ao crescimento das bactérias anaeróbias causadoras da doença.
Quanto à terapêutica medicamentosa, ela deve ser preferencialmente sistêmica, com ou sem medicação
tópica, sendo o metronidazol a droga de escolha.
A VB, onde existe uma grande dificuldade em se manter uma flora vaginal normal, pode ter como causa
a presença de vírus (phages) que infectam os lactobacilos vaginais produtores de peróxido de hidrogênio,
cursando com diminuição destes, desequilíbrio da flora vaginal e subsequente aumento da população de
anaeróbios. Existem indícios de que os vírus possam ser adquiridos e transmitidos por relação sexual, o que
poderia justificar maior número de parceiros e maior frequência de relações sexuais como fatores desenca-
deantes e mantenedores do desequilíbrio da flora vaginal observados na vaginose bacteriana.
Tabela 10.3 (a) A clindamicina creme tem base oleosa, que pode enfraquecer o látex de condons e diafragmas. (b) Os
esquemas recomendados de metronidazol são igualmente eficazes. (c) A clindamicina creme parece ser menos eficaz
que os regimes que utilizam metronidazol. (d) Os esquemas alternativos são menos eficazes no tratamento da VB. (e)
Esses tratamentos não são mais recomendados pelo CDC.
Candidíase vulvovaginal
É a segunda causa mais frequente de infecções vulvovaginais. Estima-se que aproximadamente três
quartos de todas as mulheres adultas apresentam pelo menos um episódio de candidíase vaginal. Dentre essas
mulheres, há um grupo que apresenta episódios ocasionais de gravidade variável, mas que responde prontamente
ao tratamento tópico ou oral. Um outro grupo é representado por aquelas mulheres com candidíase vulvovaginal
(CVV) recorrente, frequentemente crônica.
A Candida albicans é responsável pela maioria dos casos, mas de 10% a 20% deles são causados por Candida
não albicans (C. tropicalis, C. glabrata, C. Krusei). A C. albicans é um fungo gram-positivo dimorfo, de baixa viru-
lência, que habita a vagina de forma comensal e é encontrado em 1/3 das mulheres assintomáticas, promovendo
infecção apenas na sua proliferação. Não é considerada DST.
Fisiopatologia
São três as condições para que o fungo produza infecção. Em primeiro lugar, é necessário o contato
com o fungo patógeno; em segundo lugar, este tem de penetrar no organismo humano, e, por último, encontrar
um terreno favorável para o seu desenvolvimento.
Ambiente rico em estrogênio é o principal fator de risco para o desenvolvimento da doença. Caso seja en-
contrada candidíase vaginal em mulheres com baixos níveis de estrogênio (por exemplo: pacientes no climatério
sem reposição hormonal) é um sinal para que se investigue a presença de diabetes melito, pois o epitélio vaginal
atrófico não propicia o crescimento da cândida.
Devem sempre ser lembradas as situações que fa- e do colo em geral apresentam-se hiperemiadas,
vorecem seu desenvolvimento e perpetuação: observando-se aumento no conteúdo vaginal, de
coloração variável, flocular, viscoso (em “leite
Uso recente de antibiótico, que extermina os
talhado”) e, na maioria das vezes, aderente às
competidores não patogênicos.
paredes vaginais.
Tratamento antimicótico deficitário.
Abstinência sexual não observada durante o tra-
tamento.
Diagnóstico micológico
Anovulação crônica.
Na prática clínica, o prurido e o corrimento vagi-
Diabete (a glicosúria e as concentrações aumen- nal são comumente a base para o diagnóstico da can-
tadas de glicose nas secreções vaginais aumen- didíase, mas para reduzir o erro é adequado ao menos
tam o crescimento de leveduras). um exame complementar.
Gravidez (o índice de colonização vaginal au- O exame a fresco é de fácil realização: retira-se
menta durante a gravidez, especialmente no úl- material da cavidade vaginal, permitindo a visualiza-
timo trimestre). O conteúdo de glicogênio das ção de elementos leveduriformes à microscopia direta.
células vaginais encontra-se aumentado em res- É um exame muito específico, mas só apresenta 50%
posta aos altos níveis hormonais circulantes. Isso de sensibilidade, todavia a visualização das hifas pode
aumenta a proliferação, a germinação e a aderên- ser facilitada com adição de KOH. Igualmente fácil de
cia da C. albicans. realizar é a medida do pH vaginal, que se encontra
Imunossupressão.
ácido. Swabs para cultura não são necessários em um
primeiro exame, se os sinais e sintomas típicos estive-
Fatores locais: a produção de calor; umidade e rem presentes. Se os sintomas persistirem, a despeito
maceração da pele, pelo uso de roupas e peças de um tratamento antifúngico correto, devem ser co-
íntimas excessivamente justas e apertadas (prin- lhidas amostras para exames micológico e microbio-
cipalmente se confeccionadas com fibras sinté- lógico, em meios apropriados, como o de Nickerson
ticas); obesidade e hábitos incorretos de higiene e/ou Sabouraud. Importante acréscimo às diretrizes
íntima. do CDC desde 2002 foi a diferenciação entre CVV
complicada e não complicada para fins de tratamen-
to. Essa diferenciação é baseada no quadro clínico, na
microbiologia, em fatores relacionados à paciente e na
Sintomatologia e exame clínico resposta ao tratamento. A Tabela 10.4 apresenta essa
O sintoma mais frequente é o prurido vagi- nova classificação.
nal, presente em praticamente todas as mulhe-
res afetadas, que piora à noite e é exacerbado
pelo calor local. O corrimento, quando presente, Classificação da candidíase vulvovaginal
apresenta-se em pequena quantidade e, embora (CVV) (CDC 2006)
seja descrito como de cor branca, de aspecto se-
melhante ao do leite talhado, pode variar de es- CVV não complicada CVV complicada
pesso a aquoso, com coloração variando de bran-
co a amarelado. A ausência de odor característico CVV esporádica CVV recorrente
a distingue de outros processos infecciosos. São ou infrequente
frequentes e importantes a irritação vaginal, o
ardor vulvar, a dispareunia e a disúria de saída. CVV com sintomas de CVV com sintomas acentuados
O pH vaginal encontra-se por volta de 3,5, indi- intensidade leve/mod-
cando acidez. erada
Seu início é súbito e, em mulheres que não es- CVV provocada, CVV provocada
tão grávidas, os sintomas tendem a manifestar-se provavelmente, por C. por Candida não albicans
ou exacerbar-se na semana anterior à menstruação. albicans
Mulheres com candidíase vaginal recorrente podem
desenvolver problemas psicossexuais em decorrência Mulheres Mulheres com diabete descon-
da doença. imunocompetentes trolada, imunossupressão, debi-
litadas, portadoras do vírus HIV
O exame ginecológico pode revelar edema e/
ou grávidas
ou eritema vulvar, com presença ou não de fissu-
ras na vulva e no períneo. As mucosas da vagina Tabela 10.4
Existir, fazer e ter são como um triângulo em que cada lado ajuda a sustentar os outros.
Eles não estão em conflito entre si. Eles existem simultaneamente.
Shakti Gawain
11
DST
Outras opções terapêuticas são: 1ª opção: ci- Amoxicilina a 3 g, VO, dose única + probenecida 1 g, VO
profloxacina 500 mg VO, dose única; cefixima 400
Tianfenicol a 2,5 g, VO, dose única
mg via oral, dose única; ofloxacina 400 mg via oral,
dose única; espectinomicina 2 g IM, dose única; Atenção: desde 2007, as quinolonas não são
azitromicina 1 g via oral, dose única; doxiciclina mais recomendadas nos EUA para tratamento da
100 mg, via oral, a cada 12 horas, por sete dias. gonorreia e condições associados.
As grávidas podem ser tratadas com ceftriaxone ou
outras cefalosporinas, havendo ainda opção de uso Tabela 11.1
de azitromicina.
Pacientes infectadas com N. gonorrhoeae são
frequentemente co-infectadas com C. trachomatis; de Seguimento e recomendações
modo que na persistência de sintomas esta bactéria
deve ser combatida também. Pacientes com gonorreia não complicada, trata-
das com o regime recomendado (cefalosporina), não
Cabe lembrar que as quinolonas (ciprofloxaci-
na, olfoxacina) não devem ser utilizadas em meno- necessitam de retorno para avaliar a cura. Porém,
res de 18 anos e em gestantes pelo risco de afeta- aquelas sintomáticas, após o tratamento, devem ser
rem as epífises ósseas, e que a doxiciclina não deve avaliadas pela cultura e testada sua suscetibilidade
ser utilizada em gestantes. Os parceiros devem ser ao antimicrobiano.
Não Sim
Sim Não
Treponema pallidum
(espiroqueta)
Sexual Maternofetal
Adquirida Congênita
Diagnóstico
O diagnóstico baseia-se no quadro clínico e é confirmado pelo exame direto (método de eleição nos casos de
lesões primárias) e das sorologias, que podem ser treponêmicas ou lipídicas (não treponêmicas).
Na fase primária da doença, a visualização do protossifiloma (cancro duro), embora seja difícil, trará a
hipótese diagnóstica. A confirmação pode ser feita por exame microscópico em campo escuro do material ob-
tido da profundidade da lesão, que mostrará os espiroquetas, presentes em grande quantidade. Essa forma de
diagnóstico não será possível em fases latentes ou doença terciária. Os testes sorológicos nesta fase, em
geral, são negativos.
As sorologias serão realizadas a partir de lesões secundárias. Entre elas há os testes treponêmicos e não tre-
ponêmicos. Entre estes últimos destaca-se a reação VDRL (Veneral Diseases Research Laboratory). Esta se torna
positiva 14 dias após o surgimento do cancro sifilítico, tem alta sensibilidade e baixa especificidade,
tornando-se negativa ou com títulos baixos (cicatriz sorológica) um ano após a cura da doença, de modo que pode
servir de controle para essa cura (através da titulação).
Já as reações treponêmicas têm alta especificidade e sensibilidade, sendo o FTA-ABS (Absorção de
Anticorpos Treponêmicos Fluorescentes) a mais utilizada. Esta prova não se aplica para controle de cura uma
vez que, sendo reagente, persistirá positivo por toda a vida.
Para pacientes sem evidências históricas ou clínicas de sífilis, mas com resultado de FTA-Abs reativo,
o teste deve ser repetido. O uso de outro teste treponêmico, como o TP-PA (micro-hemaglutinação), pode
ser útil em casos problemáticos. O teste TP-PA é menos sensível do que os testes VDRL ou o FTA-ABS na
sífilis inicial. Sua sensibilidade e especificidade são, sob os demais aspectos, aproximadamente idênticas às
do teste FTA-Abs.
Tratamento
A penicilina é o antibiótico de eleição para o tratamento da sífilis. Sua posologia e via de administração va-
riam conforme a fase da doença.
Alternativas terapêuticas, embora menos eficazes, são eritromicina e doxiciclina, que devem ser utilizadas
somente em casos de exceção.
É importante ressaltar que, com o tratamento, pode ocorrer a reação de Jarisch-Herxheimer, caracterizada pela
ocorrência de febre acompanhada de cefaleia, mialgia e outros sintomas gerais que incidem, normalmente, nas pri-
meiras 24 horas após o inicio do tratamento. É mais frequente nas fases precoces e decorre da liberação maciça de
endotoxinas pela destruição das espiroquetas. As pacientes devem ser avisadas sobre a possibilidade da reação e
orientadas a utilizar antipiréticos, a fim de não confundirem os efeitos com reação alérgica penicilina e interrompe-
rem o tratamento.
Seguimento
Após o tratamento da sífilis, recomenda-se o seguimento sorológico quantitativo de três em três
meses, durante o primeiro ano e, se ainda houver reatividade em titulações decrescentes, deve-se manter
o acompanhamento de seis em seis meses. Elevação de duas diluições acima do último título do VDRL
justifica novo tratamento, mesmo na ausência de sintomas (20% a 30% dos pacientes experimentam
recorrências). As mulheres com história comprovada de alergia à penicilina devem ser dessensibilizadas.
Na impossibilidade, deve ser administrado o estearato de eritromicina (2 gramas diários, durante duas
semanas na sífilis recente, prolongando para três semanas na latente ou tardia). Caso a gestante tenha
sido tratada com eritromicina não se deve considerar o feto tratado em decorrência do reduzido potencial
de transferência placentária da droga.
Cancro mole
O cancro mole ou lesão cancroide é uma DST causada pela bactéria Haemophylus ducreyi. Tem
período de incubação curto (três a sete dias), é altamente contagioso e caracteriza-se por lesões ulcerosas e
autoinoculáveis, que se acompanham de linfadenite. Promiscuidade e precárias condições de higiene são
fatores importantes na prevalência desta infecção.
A penetração do agente na epiderme ocorre na região do trauma, com solução de continuidade local. A lesão
cancroide é iniciada por uma pápula, circundada por halo eritematoso. Entre 24 e 48 horas após seu sur-
gimento a pápula adquire aspecto de pústula, com posterior erosão e ulceração. A úlcera formada é geralmente
rasa, com bordas bem delimitadas, dolorosa (diferentemente do cancro duro), possuindo uma base
purulenta e friável.
Outra diferença em relação ao cancro duro reside no fato de que este é único, enquanto no cancroide, em
geral, as lesões são múltiplas devido à característica de serem autoinoculáveis (tanto que podem se apresentar
em espelho). São localizadas nos grandes lábios, na fúrcula vaginal e no clitóris. A adenopatia inguinal com
características inflamatórias ocorre em 30% a 50% das pacientes, sendo em geral unilateral e do lado
homólogo à úlcera inicial.
Calymmatobacterium granulomatis
Deforma a genitália
Diagnóstico laboratorial
Exame direto das lesões: a coloração pelo Gram ou Giemsa da secreção da lesão evidencia cocobacilos
curtos, gram-negativos, com disposição em “cardume de peixe”, em “impressão digital”, em paliçada ou
mesmo em cadeias idsoladas. O material para análise deve ser coletado das bordas da lesão, evitando-
-se o pus superficial. Pode também ser feito esfregaço de secreção obtida pela aspiração dos linfonodos
comprometidos.
A cultura é de difícil execução, com sensibilidade menor que 80%, e deve ser semeada imediatamente após coleta.
PCR multiplex (M-PCR): é o exame de maior sensibilidade e especificidade, porém não comercialmente dis-
ponível.
A biópsia não é recomendada, pois não confirma a doença.
Tratamento
As medidas de higiene local, como utilização de permanganato de potássio 1:10.000 ou água boricada 2%
são aconselhadas em todos os casos, seguidas de antibióticos sistêmicos.
Com o acometimento linfonodal fica compro- Doxiciclina a 100 mg, a cada 12 horas, por 21
metida a drenagem linfática e consequentemente há dias;
edema duro progressivo na vulva, que pode ulcerar. A Eritromicina a 500 mg, a cada 6 horas, por 21
esse quadro dá-se o nome de elefantíase vulvar ou dias;
estiômeno vulvar de Huguier.
Tetraciclina a 500 mg, a cada 6 horas, por 21 dias.
Sinais e sintomas: são de três tipos, O uso de azitromicina 1 g/semana durante 3 se-
dependendo da fase da doença manas é alternativa terapêutica eficaz.
1ª fase: lesão de inoculação, presença de úlcera Está contraindicada a drenagem do bubão com
indolor, pápula ou pústula no pênis ou na parede
bisturi. No entanto, pode ser aspirado com agulha gros-
vaginal. Frequentemente não é notada pelo pa-
ciente e raramente é vista pelo médico. sa, nos casos em que a descompressão for imperativa.
2ª fase: disseminação linfática, aparecimento de Na gravidez e lactação a mulher deve ser tratada
linfadenopatia inguinal que se desenvolve uma com estearato de eritromicina 500 mg VO 6/6 horas,
a seis semanas após a lesão inicial. Geralmente por sete dias. O tianfenicol também pode ser utilizado
unilateral e que se constitui no principal moti- (1,5 g/dia via oral por três semanas), restringindo-se
vo de consulta. O comprometimento ganglionar
aos trimestres finais da gestação.
evolui para supuração e fistulização múltipla.
3ª fase: sequelas, devido à obstrução linfática
crônica, pode haver elefantíase genital.
Tabela 11.5
Seguimento
As pacientes devem ser seguidas clinicamente
Diagnóstico laboratorial até o desaparecimento dos sinais e sintomas. Os par-
ceiros sexuais devem ser examinados e tratados se ti-
O diagnóstico clínico não é fácil, pois se asseme-
ver havido contato sexual com a paciente nos trinta
lha às outras DSTs, e sua confirmação é obtida com
dias anteriores ao início dos sintomas.
o isolamento da Clamídia no aspirado dos linfonodos,
através de cultura em meio de Mc Coy. O processo é
dispendioso e demorado (cinco dias).
O teste de reação intradérmica imunológica
de Frei é um auxiliar diagnóstico e consiste na Donovanose
inoculação de antígenos na pele, sendo positivo
se houver surgimento de halo eritematoso de Também chamada de granuloma inguinal, é
mais de 5 mm 48 horas pós-inoculação. uma infecção granulomatosa crônica, causada pela
Antígenos bacterianos podem ser detectados por bactéria gram-negativa Calymmatobacterium granu-
imunofluorescência direta, utilizando-se anticorpos lomatis, também conhecida como Donovania granulo-
monoclonais fluorescentes. Nos casos positivos por matis. Seu período de incubação é muito difícil de ser
este método, os corpúsculos elementares podem ser determinado, variando de uma semana a seis meses.
identificados no material obtido do bubão. A inoculação se dá em pequenas soluções de conti-
Os testes sorológicos, como fixação do nuidade da pele ou mucosa resultante do traumatis-
complemento ou Elisa, tornam-se positivos mo pelo coito.
após quatro semanas da infecção, sendo su-
gestivos de infecção atual títulos superiores
a 1:64. No entanto, essas provas apresentam-se
positivas em casos de uretrite, cervicite, conjun-
Diagnóstico clínico
tivite e psitacose (causadas por outros subtipos Após o referido período de incubação variável,
de clamídia). Apesar do alto custo operacional, a surge lesão nodular subcutânea única ou múltipla,
técnica mais precisa no diagnóstico é por meio da cuja erosão forma ulcerações com base granulosa de
amplificação do DNA com reação em cadeia da po- aspecto vermelho vivo e sangramento fácil, com bor-
limerase (PCR). das planas ou hipertróficas. Não ocorre adenite. As
lesões são mais frequentes nas dobras das regiões ge-
nitais e perigenitais. São descritas ainda lesões extra-
Tratamento genitais e sistêmicas.
Para tratamento desta moléstia, recomenda-se a As úlceras tendem a se unir formando uma única
administração de: e grande lesão avermelhada (lesão em “bife vermelho”).
No início, as pessoas se recusam a acreditar que uma coisa nova e estranha possa ser feita; depois,
começam a ter esperança de que possa ser feita; mais tarde, percebem que ela pode ser feita –
por fim ela é feita e todos se perguntam por que não foi feita séculos antes.
Frances Hodgson Burnett.
12
Doença inflamatória pélvica aguda
Diagnóstico
Os critérios para diagnóstico da DIPA têm sofri-
do algumas modificações nos últimos anos. Estudos
realizados por laparoscopia demonstraram que mui-
tos dos casos cujo diagnóstico clínico havia sido DIPA
na verdade eram de outras entidades ou até mesmo
pelve normal.
A laparoscopia, apesar de ser considerada pa-
drão-ouro para o diagnóstico da DIPA, não tem sido
utilizada amplamente, devido ao alto custo.
Os critérios para diagnóstico de DIPAA, se-
gundo o CDC, incluem:
Critérios maiores:
- dor abdominal infraumbilical;
Figura 12.2
- dor anexial ao exame pélvico;
- dor à mobilização do colo uterino.
Critérios menores:
- sinais de infecção do trato genital inferior (vul-
vovaginite);
- temperatura oral acima de 101°F (38,3°C);
- conteúdo vaginal ou secreção cervical anormais;
- aumento de leucócitos em microscopia de con-
teúdo vaginal;
- aumento da VHS;
- proteína C reativa elevada;
- identificação de infecção cervical por C. tracho-
matis ou N. gonorrhoeae.
Critérios elaborados:
- biópsia endometrial compatível com endometrite;
Figura 12.3 - ultrassonografia transvaginal ou ressonância
magnética demonstrando tubas com conteúdo líquido
ou espessamento de paredes, com ou sem líquido livre
Nas Figuras 12.1, 12.2 e 12.3, observe diferentes em cavidade peritoneal ou presença de coleção tubo-
-ovariana, ou estudo Doppler com aumento da vascu-
fases da doença inflamatória pélvica aguda.
larização sugerindo processo inflamatório;
- visualização laparoscópica direita do processo
inflamatório pélvico.
Sinais e sintomas da DIPA O diagnóstico de DIPAA será firmado na
Dor à mobilização do colo presença de um único critério elaborado ou se
Dolorimento anexial estiverem presentes os três critérios maiores as-
Dispareunia sociados a, pelo menos, um critério menor.
Corrimento vaginal mucopurulento Os dados referentes à epidemiologia são mui-
Queixas urinárias to importantes e devem ser observados. Entre estes,
destacam-se: parceiro com queixa de corrimento ure-
Sangramento intermenstrual
tral ou úlcera genital, múltiplos parceiros ou, ainda,
Anorexia, náuseas, vômitos ausência de parceiro fixo. Dentre os dados clínicos
Febre (20%-30% dos casos) ressalta-se a alteração do muco cervical (aspecto mu-
Tabela 12.2 copurulento) ou sinais de cervicite.
Ultrassonogra昀椀a transvaginal
A ultrassonografia transvaginal (USTV) apresenta
pouca sensibilidade (81%) e especificidade (78%) nos
casos leves e atípicos. Os achados mais específicos
incluem espessamento da tuba (> 5mm) com con-
teúdo líquido em seu interior e líquido livre em
fundo de saco de Douglas. Coleções pélvicas com li-
mites imprecisos e conteúdo heterogêneo e com debris
são associadas a abscessos. A presença de abscessos pode
passar despercebida ao exame clínico em cerca de 70%
dos casos, de modo que a ultrassonografia é auxiliar no
reconhecimento deste importante elemento de conduta.
Nos casos duvidosos, a USG ainda auxilia no diag-
nóstico diferencial de gravidez ectópica, cistos hemor- Figura 12.4 DIPAA (salpingite) – RM da pelve. Presença
rágicos, torção anexial, endometriose e apendicite. de formação serpiginosa na região anexial direita (setas
em A, B e D), claramente separada do útero (estrelas em
A USTV permite a boa identificação do útero e dos A e B), com intenso realce parietal pelo meio de contraste,
anexos. A identificação das tubas é limitada, a menos caracterizando sua natureza inflamatória (seta em C). O
que estejam dilatadas ou com conteúdo líquido. Por aspecto em C é bastante sugestivo de tuba uterina com
outro lado, a ultrassonografia transabdominal (USTA) paredes espessadas. (A, B: plano axial T1 e T2, respectiva-
complementa o exame transvaginal por permitir ava- mente; C: plano axial T1 com técnica de saturação de gor-
liação mais ampla das estruturas abdominais e pélvicas. dura após a injeção de contraste; D: plano coronal T2).
Classificação da DIPAA
Estágio I: endometrite e salpingite aguda sem perito-
nite
Estágio II: salpingite com peritonite
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial da DIPA deverá ser
feito com todas as condições clínicas e cirúrgicas que
possam cursar com dor e/ou massa na pelve. Den-
tre estas, destacam-se gravidez ectópica e apendicite
como as que trazem maior dificuldade diagnóstica.
Devem ainda ser lembradas litíase e infecções do trato
urinário, endometriose (endometrioma roto), ruptura
ou torção de cisto ovariano, dentre outras.
13
Atendimento à vítima de
violência sexual
Introdução A paciente
O atendimento às pacientes obedece as diretri-
O atendimento à vítima de violência sexual é um zes abaixo:
assunto bastante abordado ultimamente em todos
os fóruns e seminários de saúde, devido ao crescente
aumento da violência e à necessidade de se reduzirem 1. Quando as pacientes chegam não gestantes:
os riscos de gestações indesejadas e DSTs associadas, acolhimento;
além de se minimizarem as sequelas psicológicas.
encaminhamento ao pronto-atendimento espe-
A definição de violência sexual tem um sen-
cializado após afastadas urgências;
tido amplo, como: qualquer ato sexual ou contra
os princípios de pudor de uma pessoa, imposto sob exame clínico e ginecológico: ficha padronizada
ameaça, sem o seu consentimento inteligente e/ou com anotações sobre anamnese e exame físico,
responsável, com a intenção de obter satisfação sexual com fotos de lesões porventura existentes;
para o agressor ou humilhação da vítima. coleta de material para possível estudo de DNA;
Em 07 de agosto de 2009 foi aprovada a lei nú- profilaxia de gravidez e DSTs – inclusive Aids, se
mero 12.015 , que altera o Título VI da Parte Especial
cabível;
do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –
Código Penal, e o art. 1º da Lei n. 8.072, de 25 de julho orientações sobre a realização de boletim de ocor-
de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, nos rência, direitos da mulher, cuidados em relação à
termos do inciso XLIII do art. 5º da Constituição Fede- saúde física e mental, encaminhamento para am-
ral e revoga a Lei n. 2.252 de 1º de julho de 1954, que bulatório. A violência sexual necessita de represen-
trata de corrupção de menores. Como resultado práti- tação e cabe à vítima denunciar ou não o agressor.
co, qualquer forma de coito (vaginal, anal, oral ou tratar intercorrências;
manipulação) passa a ser considerada estupro se
forem contra o consentimento inteligente e res- encaminhamentos para controle ambulatorial.
ponsável da vítima. Outra mudança interessante é
que o estupro de menor de 14 anos, deficiente men-
2. Quando chegam gestantes:
tal grave ou qualquer pessoa fora de seu juízo normal
(efeito de drogas, sedação etc.) passa a ser considerado avaliação obstétrica;
como estupro de vulnerável, existindo um acréscimo discussão da possibilidade de interrupção legal
de pena nessas situações. da gestação;
120
Ginecologia
Após ter sido atendida no pronto-socorro, a pa- garantir privacidade, escuta, apoio e crença;
ciente deverá ser atendida por equipe multiprofissio- jamais criticar, reprovar, repreender ou duvidar;
nal que desenvolverá atuações bem definidas, confor-
orientar adequadamente e colocar-se disponível;
me exposto a seguir.
colaborar com a comunicação junto aos outros
profissionais.
Deve haver também avaliação prévia de equipe parado à curetagem uterina clássica. Algumas vezes,
multidiciplinar. A equipe deve atender a paciente, con- pode-se usar misoprostol intravaginal algumas horas
frontando os exames clínicos e ultrassonográficos com a antes do procedimento para o preparo do colo uterino.
história da violência. Em reunião conjunta, a equipe mul- A interrupção medicamentosa também é válida e para
tiprofissional pode concluir pela interrupção da gravidez tal usa-se misoprostol 800 mcg via vaginal de 12/12h
nos casos em que os dados são concordantes e negá-la se até completar 3 doses. A alta hospitalar deve ser a
houver alguma incongruência relevante. mais precoce possível.
O boletim de ocorrência realizado em delega- Após 12 semanas a eliminação medicamentosa do
cias não é obrigatório, mas deve ser estimulado; o produto conceptual é obrigatória, com uso de misopros-
alvará judicial não é necessário; e não há razão para se tol 200 mcg via vaginal a cada 6 a 12 horas durante 48
solicitar qualquer autorização por um juiz para que o horas. A dose pode ser duplicada em casos de idade ges-
procedimento de interrupção seja realizado, pois já está tacional entre 13 e 15 semanas ou no insucesso.
prevista na Constituição Brasileira a legalidade desse ato. Nas pacientes em que o tempo de gravidez não
A interrupção, quando aprovada, deverá ser discu- permita mais a interrupção da gestação será oferecida a
tida com a paciente e seus familiares; a data e o horário possibilidade de um pré-natal diferenciado, sempre com
do procedimento devem ser definidos; e, de preferência, o acompanhamento da equipe constituída de psicólogo e
deve-se contar com o acompanhamento do enfermeiro, serviço social, observando a relação dessa paciente com
psicólogo ou assistente social. sua nova condição. Pela situação emocional de rejeição
Essa paciente deverá ficar o menor tempo pos- ao feto, muitas vezes essas pacientes realizam pré-natal
sível internada e, de possível, sem contato com pa- abandonado, com número insuficiente de consultas e
cientes gestantes, em razão de sua situação emocional apresentam comportamento de risco (drogas, álcool etc.),
diferenciada. O procedimento deve ser sempre o mais o que faz com que a gestação também se torne de risco.
simples e seguro. Até 12 semanas o ideal é realizá-lo A entrega do concepto para adoção ainda no perío-
por métodos de aspiração aspiração manual intraute- do gestacional é possível, sendo função do serviço social
rina – AMIU, pois apresenta menor risco quando com- intermediar a negociação junto aos órgãos competentes.
14
Distopias genitais
Aparelho de sustentação
Composto por diafragma pélvico, diafragma uro-
genital e fáscia endopélvica (assoalho pélvico).
1. Diafragma pélvico principal: É formado
pelos músculos: elevador do ânus e isquiococcí-
geo. O elevador do ânus se subdivide nos músculos
ileococcígeo e pubococcígeo, este último que emite os
Figuras 14.2 e 14.3 Musculatura do assoalho pélvico.
feixes pubococcígeo propriamente dito, pubovaginal e 1) Hiato urogenital. 2) Músculo ileococcígeo. 3) Mús-
puborretal. O diafragma pélvico não fecha totalmente culo coccígeo. 4) Músculo puborretal. 5) Músculo pub-
a pelve, deixando um espaço no músculo levantador ovaginal. 6) Músculo pubococcígeo.
do ânus para passagem da vagina, da uretra e do reto:
o hiato urogenital.
2. Diafragma pélvico acessório ou urogeni- Etiopatogenia
tal, abaixo do pélvico, sendo formado por:
A lesão de qualquer dos sistemas, não compensa-
Músculo transverso profundo do períneo. da pelo outro, é suficiente para determinar perturba-
Cunha perineal (núcleo fibromuscular do ções na estática genital e provocar o prolapso.
períneo, centro tendinoso, núcleo fibroso ou Os prolapsos são, em grande parte, consequên-
rafe anovulvar de Cruvellier), formada pelos cias da má assistência obstétrica ou do número ex-
músculos transversos superficiais do períneo, cessivo de gestações e partos (tocotraumatismo) com
bulboesponjoso, isquiocavernoso, esfíncter lesão ou relaxamento do aparelho de sustentação, fi-
estriado do ânus e feixes puborretais do ele- cando a menor porção dos casos por conta da hipo-
vador do ânus. plasia ou atrofia do sistema de suspensão (provocada
Variedades e graus
1) Prolapsos de multíparas, jovens ou idosas –
lesão do sistema de sustentação.
Figura 14.5 Padronização dos pontos de medida pelo sistema de classificação da distopia genital pre-
conizado pela Sociedade Internacional de Continência (Bump et al). Aa: Ponto Aa. Ba: Ponto Ba. C: Ponto C.
D: Ponto D. Ap: Ponto Ap. Bp: Ponto Bp. gh: Hiato genital (HG). pb: Corpo perineal (CP). M: Comprimento
vaginal total (CVT).
A coleta dos dados foi assim padronizada: a primeira medida obtida, antes de qualquer manipulação,
deve ser as do hiato genital e do corpo perineal com o histerômetro ou a régua plástica, sob esforço da paciente.
Se o prolapso ultrapassassar o anel himenal, as medidas dos pontos externos devem ser obtidas primeiramente.
Não havendo prolapso, parte-se para as medidas dos pontos A e B posteriores e anteriores, realizadas com auxílio
de um especulo. Para a medida a paciente realiza manobra de Valsalva e reduz-se a parede vaginal oposta à que se
está analisando.
O espéculo vaginal é lentamente retirado, com a paciente ainda realizando manobra de Valsalva. Medem-se,
então, os pontos C e D com o histerômetro.
A colocação de telas para reforço de estruturas O tratamento cirúrgico ideal é aquele que preser-
enfraquecidas tem sido amplamente utilizada. va a atividade sexual, retornando a cúpula vaginal à
sua posição anatômica. Pode ser feito via vaginal, ab-
dominal ou laparoscópico. A colpocleise é uma opção
em pacientes selecionadas.
Cirurgia de Donald-Fothergill
A sacropexia infracoccígea ou IVS posterior (in-
Indicada nos casos de prolapso uterino sintomático travaginal slingplasty) consiste na colocação de faixa
em pacientes que desejam engravidar. Consiste em cisto- livre de tensão na porção posterior da vagina, para
pexia, ligadura e secção dos ligamentos cardinais, ampu- suspensão da cúpula vaginal, criando um novo liga-
tação plana do colo uterino e fixação dos ligamentos car- mento uterossacro. O procedimento é minimamente
dinais na porção ístmica do útero. Com isso promove-se invasivo, com tempo cirúrgico curto e taxas de sucesso
uma anteversão uterina, permitindo que a pressão ab- próximas a 90%.
dominal seja exercida sobre a parede posterior, compri-
mindo o útero no osso pélvico e evitando seu descenso. A fixação no ligamento sacroespinhoso via vaginal
Essa técnica está praticamente abandonada. É também consiste na fixação da cúpula vaginal no ligamento sa-
conhecida como cirurgia de Manchester. croespinhoso uni ou bilateralmente. A maioria dos au-
tores aconselha a fixação unilateral, à direita, pelo risco
maior de lesão do reto. As taxas de sucesso são de 80%-
90%. Como complicações, pode ocorrer lesão de arté-
Histerectomia vaginal ria e veia pudenda, veias perirretais ou sacrais; lesões
Cirurgia de escolha em pacientes com prolap- nervosas; lesão de reto e bexiga (raras). Além disso, por
so uterino e prole definida. A cirurgia consiste em: modificar o eixo da vagina, a cirurgia pode predispor ao
cistopexia, ligadura e secção dos ligamentos cardinais, surgimento de cistocele e hipermobilidade uretral.
artérias uterinas, ligamentos largos e tubo-ovarianos A colpossacrofixação via abdominal consiste na
progressivamente até a retirada do útero, fechamen- suspensão e fixação da cúpula vaginal na porção média
to do peritôneo parietal, aproximação dos ligamentos do sacro ou no promontório, que pode ser realizada
entre si e na linha média e sua fixação à cúpula vagi- diretamente ou com interposição de material autólo-
nal recém-formada. Trata-se de procedimento de baixa go ou heterólogo, não havendo consenso sobre qual
morbimortalidade; as complicações mais comuns são seria o mais adequado: no uso da fáscia autóloga, os
hemorragia, infecção do trato urinário e lesão vesical. resultados são semelhantes ao uso do material sintéti-
co (sucesso próximo a 90%), com a vantagem de evitar
erosão e infecção; por outro lado, o uso de material
Cirurgia de Neugebauer-Le Fort sintético diminui o tempo cirúrgico, é mais resistente
que o tecido autólogo e evita dor no local da retirada
Em pacientes idosas, com risco cirúrgico muito
do tecido autólogo. A técnica mantém a função vaginal
aumentado e sem vida sexual ativa, pode-se realizar
a colpocleise, que consiste na ressecção de um reta- e preserva o comprimento da vagina. Pode ser feito via
lho retangular da mucosa vaginal anterior e posterior laparotômica ou laparoscópica e é padrão ouro para te-
e aproximação das superfícies cruentas, promovendo rapia de prolapso de cúpula.
a interiorização gradativa do útero dentro da vagina, A cirurgia de Te Lind, ou colpopexia na pare-
que fica em fundo cego. Completa-se o procedimento de abdominal anterior, consiste na fixação da cúpula
com a cirurgia de Kahr que, por sua vez, consiste em vaginal na parede abdominal, anteriorizando o eixo
uma episiocleise ou estreitamento do orifício vulvova- vaginal. A técnica pode predispor à enterocele ou dis-
ginal em que a fúrcula vaginal posterior fica situada função sexual.
no mesmo nível do meato uretral. A técnica tem como
ponto negativo a obliteração da cavidade vaginal, im-
pedindo a vida sexual e visualização do colo uterino.
Do defeito paravaginal lateral
Este defeito é caracterizado pelo destacamento
Do prolapso da cúpula vaginal da fáscia pubocervical do arco tendíneo da fáscia pélvi-
O prolapso de cúpula vaginal ocorre principal- ca. A lesão desse tecido leva à perda do ângulo uretro-
mente após histerectomia; mais comumente após vesical, o que promove uretrocistocele e incontinência
histerectomia vaginal do que abdominal, embora pos- urinária de esforço. O tratamento, que consiste no
sa se seguir aos dois tipos de cirurgia. Pode ocorrer reparo do defeito, pode ser realizado por via vaginal,
também devido ao hipoestrogenismo ou por excesso abdominal ou laparoscópica. Não há diferença signi-
de esforços físicos. O prolapso também ocorre em pa- ficativa no resultado quanto à via cirúrgica. O sucesso
cientes jovens, mas é mais comum depois dos 60 anos está na ordem de 90% para correção de prolapsos e de
de idade. 57%-74% para correção de incontinência urinária.
Inversão uterina
Invaginação do fundo uterino na cavidade do ór-
gão. A progressão do processo pode fazer com que o
corpo uterino invertido se exteriorize na vagina, atra-
vés do colo dilatado.
Etiopatogenia
Quadro clínico Tocogenética ou puerperal: devido às expres-
sões violentas do fundo uterino, associadas à tra-
Em geral é assintomática, sendo detectada ao ção do cordão umbilical.
exame de toque. Quando fixa pode causar lombalgia,
hipermenorragia, dismenorreia, complicações graví- Oncogenética: tentativa do útero em expulsar o
dicas (encarceramento uterino), dispareunia e pertur- leiomioma submucoso.
bações retais e vesicais. Idiopática: relaxamento constitucional das es-
truturas pélvicas.
Gestão do tempo é de fato uma expressão inadequada – o desafio não é gerenciar o tempo, mas a própria vida.
Stephan R. Covey
15
Dor pélvica crônica
Etiologia DIU
Endometrite
As causas da algia pélvica crônica podem ser divi- Estenose cervical
didas em ginecológicas e não ginecológicas. Tensão pré-menstrual
Entre as causas ginecológicas, a principal é a Ovulação dolorosa
endometriose (veja capítulo 9), responsável por 40%
a 45% dos casos de dor pélvica crônica. Outras cau- Varizes/congestão pélvica
sas a serem lembradas incluem adenomiose, mioma
133
15 Dor pélvica crônica
Causas ginecológicas mais frequentes de DPC trial por hiperatividade uterina, o que explicaria
(cont.) a maior incidência em pacientes acima de 40
anos. A prevalência de adenomiose na litera-
Causas ginecológicas não cíclicas
tura varia de 5% a 70% e depende da quanti-
Uterinas dade de secções de tecido analisadas. É mais
Mioma
comum em multíparas.
Adenomiose
DIU
Endometrite crônica
Pólipo endometrial Quadro clínico
Extrauterina
Embora o diagnóstico definitivo seja feito apenas
Doença inflamatória pélvica crônica
por meio do exame histopatológico do útero, há suspeita
Endometriose
clínica quando uma mulher, principalmente multípara,
Síndrome do ovário residual
apresenta-se com menorragia, dismenorreia, aumento
Encarceramento ovariano
difuso e frequentemente macio do útero. O sangramen-
Massa anexial to é, em geral cíclico, maciço e prolongado. Não parece
Vulvodínia haver relação significativa entre raça e obesidade.
Relaxamento das estruturas de sustentação dos órgãos
pélvicos
Vasculares
Varizes pélvicas Diagnóstico
Congestão pélvica A suspeita diagnóstica é apontada na história clí-
Peritoneal nica. A ultrassonografia auxilia o diagnóstico ao mos-
Aderências trar o aumento uterino e áreas hipoecoicas no interior
do miométrio. Não raro notam-se pequenos cistos
Tabela 15.1
miometriais que são decorrentes da ação secretiva do
tecido adenomiótico local
Neste capítulo, abordaremos a adenomiose, as Entre os exames de imagem, o mais adequado é
varizes pélvicas e as aderências pélvicas, uma vez que a ressonância magnética, que evidencia o aumento da
as demais causas ginecológicas são abordadas em ca- zona juncional (transição entre o endométrio e o
pítulos específicos. miométrio). A confirmação diagnóstica, porém, é re-
alizada apenas com estudo anatomopatológico.
O diagnóstico de adenomiose pode ser mui-
to difícil em consequência da natureza focal des-
Adenomiose sa condição. Evidentemente, o índice de diagnós-
tico aumenta, se maior amostra de miométrio é
A adenomiose é a ocorrência de tecido examinada. Citam-se percentuais de 10% a 50%. A
endometrial (glândulas e estroma) no miomé- forma localizada da adenomiose (adenomioma, com
trio. Geralmente, a adenomiose é difusa. Com me- limites bem definidos) deve ser distinguida de sua for-
nor frequência, a adenomiose pode ser focal, com ma difusa (de limites imprecisos), que é mais comum.
massas distintas ou adenomiomas na parede do
útero. Acompanha-se de hipertrofia compen-
sadora do miométrio.
Tratamento
Embora haja acordo sobre esta definição básica,
a profundidade exata da invasão necessária para levar Nos casos de sintomatologia discreta ou de pa-
ao diagnóstico de adenomiose continua sendo assun- cientes na pré-menopausa, a terapêutica clínica deve
ser tentada. O objetivo é antagonizar o estrogênio
to controverso. As glândulas endometriais podem ser
ou inibir a função ovariana, podendo-se utilizar,
encontradas desde a base do miométrio até à superfí-
progestagênios, danazol, gestrinona e até análo-
cie peritoneal. Há referências a uma profundidade gos de GnRH. A colocação do sistema intrauterino de
de 3 mm. liberação de levonorgestrel (Mirena®) é também uma
As teorias que tentam explicar esta invasão boa opção terapêutica.
miometrial incluem a proliferação de restos em- Nos casos refratários ao tratamento hormo-
brionários dos ductos paramesonéfricos; a meta- nal opta-se pela terapêutica cirúrgica, ou seja, a
plasia do epitélio celômico e a herniação endome- histerectomia em suas várias formas.
Outros tratamentos para controle da dor recorrente devida a aderências pélvicas são as medicações para
coibir os estímulos dolorosos. Destaca-se a gabapentina, que, originalmente, foi utilizada para convulsões, mas
também se mostrou eficaz em diminuir a hipersensibilidade neuronal e cuja eficácia já foi comprovada na síndro-
me de dor pélvica crônica. Similarmente, a amitriptilina tem o mesmo efeito, porém as evidências apontam me-
nor eficácia e seus efeitos colaterais são mais desconfortáveis. Os anti-inflamatórios não hormonais e os opioides
também são opções terapêuticas.
Alternativa relevante e pouco lembrada é a acupuntura, que, progressivamente, se estabelece como conduta
terapêutica no meio médico.
A ablação laparoscópica dos ligamentos uterossacros e a neurectomia pré-sacral são procedimentos destina-
dos a romper a inervação aferente da região pélvica. Esses procedimentos, atualmente, são raramente utilizados,
já que o valor terapêutico foi pouco significativo.
16
Papiloma vírus humano (HPV)
Diagnóstico
É possível se realizar o diagnóstico de infecções
latentes, clínicas e neoplásicas.
O diagnóstico da forma clínica, a condilomatose, é
basicamente clínico, porém, recomenda-se uma biópsia
das lesões quando existe dúvida diagnóstica ou suspei-
ta de neoplasia intraepitelial (lesões pigmentadas, en-
durecidas, fixas ou ulceradas), quando as lesões não res-
pondem ao tratamento convencional, quando as lesões
aumentam de tamanho ou número durante ou após o
Figura 16.1 HPV vulvar. tratamento e quando a paciente é imunodeprimida.
Colposcopicamente, o condiloma aparece branco
Quadro clínico: resumo e o grau dessa cor depende da espessura da lesão e da
A maioria das mulheres se infecta nos primeiros anos do associação com hiperceratose. Como citado anterior-
início da atividade sexual, por volta dos 15 aos 25 anos, mente, as formas subclínicas aparecem como áreas
sendo comum a infecção repetida e por múltiplos tipos acetobrancas e espículas digitiformes.
oncogênicos.
Regressão espontânea pode ocorrer em qualquer fase
Microscopicamente, o aspecto histológico do
desta evolução. A resposta imunológica do hospedeiro condiloma e das lesões subclínicas se sobrepõe e in-
é que determina o tipo de evolução. clui alterações arquiteturais, como papilomatose,
São as infecções persistentes que justificam o risco acantose, paraceratose e hiperceratose, além de alte-
substancial para o desenvolvimento de neoplasias in- rações citológicas, como coilocitose (manifestada por
traecteriais e neoplasias. cavitações citoplasmáticas perinucleares), aumento
São HPV de baixo risco oncogênico: HPV 6, 11, 13, do núcleo e atipias. A multinucleação também é fre-
42, 43 e 44. quentemente encontrada. Podem estar associados à
Os HPV de alto risco mais frequentemente implicados neoplasia intraepitelial cervical 1 (NIC 1), mas apenas
com oncogênese são: HPV 16 seguido pelo HPV 18. raramente com NIC 2 e 3, e quase nunca estão relacio-
Fatores hormonais (estrógeno e seus derivados) ativam nados com carcinoma invasivo de células escamosas
o HPV e atuam como promotores da carcinogênese e do colo uterino.
facilitam imortalização das células infectadas. A coilocitose indica infecção em atividade
Tabela 16.2 com multiplicação virótica e lesões contagiosas.
Geralmente se associa a benignidade, pois, no câncer
de colo, o vírus se incorpora ao DNA celular e não
se formam coilócitos.
picos mais comuns, que são direcionadores de região Taxa de cura de apenas 48%;
a ser biopsiada, são epitélio acetobranco, pontilhado, Neurotoxicidade, mielotoxicidade, ulcerações de
mosaico, vasos atípicos e teste de Schiller positivo. pele e as fístulas;
As formas latentes somente podem ser diagnós- PROIBIDO para gestantes (teratogênico).
ticas por técnicas de biologia molecular que, além de
terem um alto custo, apresentam baixa utilidade prá-
tica, uma vez que não há tratamento específico para a Ácido tricloroacético 70 a 90%
erradicação do HPV. Essas técnicas são: Tem sido o mais utilizado como primeiro tratamento;
Hibridização molecular: usa sondas de DNA É uma substância cáustica que atua localmente,
tipo específica, marcada com substância radioa- ocasionando desnaturação proteica dos tecidos
tiva (pode-se fazer na peça, é a chamada hibridi- (ela também pode afetar tecidos sadios, o que
zação in situ). requer cuidado na aplicação);
PCR (Polymerase Chain Reaction): síntese e Não possui absorção sistêmica;
amplificação in vitro de sequências específicas de
Pode ser usado em gestantes;
DNA, que permitem revelar quantidades míni-
mas de DNA. Apresenta poucos efeitos colaterais.
Captura híbrida: é o exame mais recente no diag-
nóstico do HPV e possui alta sensibilidade. Trata-se Podo昀椀lotoxina 0,15% creme
de um teste de hibridização molecular que detecta,
com alta sensibilidade e especificidade, o material
Componente ativo da podofilina; mecanismo de
genético dos HPV em amostra de escovado ou bi- ação semelhante;
ópsia do trato genital inferior, definindo o tipo e a Aplicação duas vezes ao dia por três dias conse-
quantidade viral. O sistema utiliza sondas de RNA cutivos, seguidos de 4 dias de pausa;
altamente especificas para detectar os tipos de HPV O ciclo pode ser repetido se necessário por até
que comumente infectam o trato genital e são agru- quatro vezes;
pados em dois grupos: Grupo A (tipos não oncogê-
nicos) e Grupo B (tipos de HPV de alto risco).
Contraindicado o uso em crianças e mulheres
grávidas.
Tratamento 5-fluorouracil
Essa medicação bloqueia a síntese de DNA e suas
Nenhuma forma de tratamento assegura a cura funções, de modo que promove necrose tecidual;
da infecção pelo HPV, o que se visa é a retirada de leões Pode ocasionar inflamação local intensa, às vezes
esteticamente desagradáveis e altamente contagian- com necrose, além de ter baixa eficácia;
tes, como as verrugas do condiloma, ou a erradicação
de lesões pré-malignas e malignas. Neste capítulo, in- Seu uso é restrito a pacientes imunossuprimidas,
dicaremos os tratamentos às formas clínicas. Os casos com focos multicêntricos de neoplasia intraepi-
telial de alto grau e falhas terapêuticas;
de malignidade serão abordados a contento em outro
capítulo deste livro. Efeito local importante: lesões mucosas, hi-
persensibilidade, sinéquias e ulcerações (esteno-
Baseado nisso, o tratamento pode ser químico, se futura).
cirúrgico ou com imunomoduladores.
Imunomoduladores
Tratamento químico
Imiquimod a 5% creme
Podo昀椀lina 10 a 25% em vaselina
Sua ação baseia-se no estímulo às células de de-
sólida fesa, especialmente macrófagos e monócitos,
Quase em desuso: abandonada pela baixa efi- promovendo sua proliferação e atuação;
cácia e pelos efeitos adversos; não utilizar em lesões Obtém-se boa resposta após a aplicação local;
abertas ou feridas; A paciente deve aplicar o creme ao deitar-se, três ve-
Age na mitose celular, inibindo a atividade mi- zes por semana, até o máximo de 16 semanas. A área
tocondrial; deve ser lavada de 6 a 10 horas após a aplicação;
De acordo com as decisões do Ministério da o HPV é medida preventiva, não substituiu a realização
Saúde ficou estabelecido no calendário vacinal de de exames periódicos e o uso de preservativo nas rela-
2014 a inclusão destas vacinas para meninas de 11 a ções”, alerta a coordenadora do Programa Nacional de
13 anos. A campanha nacional de combate ao HPV come- Imunização, Carla Domingues.
çou no dia 10 de março desse ano. A vacina contra HPV
Ainda que as atuais vacinas profiláticas protejam
que é distribuída no SUS é a quadrivalente, que pre-
as mulheres ainda não infectadas contra os vírus de
vine contra quatro tipos de HPV (6, 11, 16 e 18). Dois
deles (16 e 18) respondem por 70% dos casos de câncer de
maior potencial oncogênico, aquelas infectadas antes
colo de útero, responsável atualmente por 95% dos casos da vacinação ou infectadas com outros tipos virais não
de câncer no país. São três doses, segunda 6 meses após a incluídos na vacina ainda irão requerer diagnóstico e
primeira, e a terceira dose daqui a cinco anos. tratamento de lesões pré-neoplásicas, portanto, con-
tinuamos com a necessidade de manter os exames de
Em 2015, a vacina foi ofertada também para
rastreamento populacional.
meninas de 9 e 10 anos. Cada menina deve receber três
doses da vacina para estar imunizada contra o HPV. Após
a primeira dose, a segunda deverá ocorrer em dois meses
e a terceira, em seis. Será feito um cadastro com nome, Atenção!
endereço e telefone das meninas imunizadas para que o
Ministério da Saúde tenha controle de que todas as doses O ministério da Saúde anunciou em 19 de janei-
serão aplicadas. ro de 2016 mudanças no calendário de vacinação.
As 36 mil salas de vacinação em todo o país, além No caso da vacina contra HPV, serão neces-
de escolas públicas e privadas, vão estar envolvidas nessa sárias agora apenas duas doses: a segunda seis me-
campanha. ses depois da aplicação da primeira. De acordo com o
A vacina deve ser aplicada com autorização dos pais Ministério da Saúde, estudos recentes mostraram que
ou responsáveis. Ela tem eficácia comprovada para mu- duas doses são efetivas para proteger as meninas entre
lheres que ainda não iniciaram a vida sexual e, por isso, 9 e 14 anos de idade. As mulheres com HIV entre 9
não tiveram nenhum contato com o vírus. “Vacina contra e 26 anos continuarão recebendo três doses.
Lembre-se o quanto você não sabe. Não despeje medicamentos estranhos em seus pacientes.
Sir William Osler
17
Doenças benignas do útero
já que se dispõem anarquicamente, o que dificulta o ainda no diagnóstico de questionável gestação conco-
miotamponamento vascular; estase venosa no endo- mitante e para distingui-la de patologias anexiais. Esse
métrio adjacente ao mioma por dificuldade de drena- método tem sensibilidade elevada (95 a 100%) para de-
gem; e produção aumentada de prostaciclina, substân- tectar miomas de tamanhos menores que os atingidos
cia que é vasodilatadora e ainda dificulta a formação em 10 semanas (comparável ao útero gravídico).
de trombos no endométrio adjacente ao nódulo. A A localização dos miomas em úteros maiores ou
grande quantidade de estrogênio local talvez seja res- quando há muitos tumores é limitada. Com raras exce-
ponsável pela quantidade elevada de prostaciclina. É ções, nódulos superiores a 1 ou 2 cm de diâmetro não
de se esperar, com base no exposto, que os miomas passam despercebidos em uma topografia subserosa
subserosos apresentem menos sangramentos. Os in- ou intramural.
tramurais, por sua vez, cursam com sangramentos
A histerossonografia é utilizada para estabele-
abundantes na menstruação (hipermenorragia). Já os
cer o nível do mioma submucoso em relação à cavidade
submucosos apresentam um sangramento irregular
endometrial, melhorando a sensibilidade da ultrasso-
(metrorragia), pois, por estarem na cavidade uterina,
nografia, pois se trata de um exame de ultrassonogra-
podem sofrer atrito e isquemia a qualquer momento.
fia com infusão salina na cavidade uterina para disten-
2) Dismenorreia secundária: não é um sintoma dê-la, o que possibilita uma melhor identificação de
comum ou esperado, já que o mioma, em si, não é do- imagens intraútero (leiomiomas, pólipos ou septos).
loroso. Todavia, esse sintoma pode ocorrer se houver Depois do advento da histeroscopia, a histerossono-
degeneração vermelha, torção de mioma pediculado grafia tem sido pouco usada.
ou expulsão de mioma parido.
A histerossalpingografia, quando utilizada,
3) Pressão pélvica: sensação dada pelo peso do tem por objetivo diagnosticar possíveis obstruções
útero. das tubas uterinas causadas pelo mioma.
4) Aumento do volume abdominal: ao exame, A histeroscopia pode auxiliar na elucidação da
nota-se massa abdominal endurecida e geralmente bo- verdadeira localização dos leiomiomas submucosos
celada, decorrente do aumento do útero pelos miomas. (total ou parcialmente submucosos), contribuindo,
5) Sintomas urinários e gastrintestinais: são dessa forma, tanto para a decisão da via cirúrgica mais
decorrentes de obstruções impostas pelo tumor. adequada como para o diagnóstico diferencial de póli-
pos e espessamento endometrial.
6) Infertilidade: o mioma não é uma causa co-
mum de infertilidade, mas, se aquele estiver presen- A imagem por ressonância magnética é o me-
te, esta se associa mais aos nódulos submucosos, aos lhor exame para visualizar o tamanho e a posição de
que comprimem as tubas e aos intramurais maiores todos os miomas uterinos. Ela deve ser solicitada prin-
que 5 cm. cipalmente nos casos de múltiplas imagens em que é
proposto o tratamento por miomectomia, permitindo
7) Abortamento habitual: pode haver dificulda- avaliar a viabilidade dessa cirurgia conservadora.
de de implantação e nutrição embrionária.
O CA-125, marcador inespecífico de endo-
metriose, também pode estar aumentado na
miomatose uterina.
Diagnóstico
A suspeita diagnóstica se inicia pela clínica e é
embasada nos informes obtidos por meio da anamne-
se e de rigoroso exame clínico e ginecológico. Neste,
especialmente o palpar do hipogástrio e o toque bima-
nual revelam o útero com superfície quase sempre no-
dular, firme, bocelada e de proporções variáveis. Há,
ainda, a mobilidade do útero.
O diagnóstico diferencial deverá ser feito com
gravidez, tumores de ovário, adenomiose, neoplasias
do endométrio, endometriose, processos inflamató-
rios crônicos anexiais etc. Os testes imunológicos de
gravidez deverão ser realizados sempre na suspeita de
gestação incipiente.
A ultrassonografia é um método não invasivo
que ocupa posição principal entre os demais exames
subsidiários. Útil em todas as situações, ela tem papel Figura 17.7 RM: imagem de ressonância magnética
crucial em condições adversas ao bom exame físico (em T2) evidenciando múltiplos miomas (setas) em um
(como obesidade e falta de colaboração da paciente) e útero aumentado para 24 semanas.
Agonistas do GnRH
Agonista Nome comercial Via de administração Dose
Naferelina Synarel Nasal 400/800 mg/dia
Triptorelina Neodecapeptil Intramuscular 3,75 mg/mês
Leuprolide Lupron-depot Intramuscular 3,75 mg/mês
Goserelina Zoladex Subcutâneo 3,6 mg/mês
Tabela 17.3
seletivamente as artérias uterinas com uso de con- A embolização arterial proporciona um óti-
traste. Uma vez na artéria uterina, libera-se o agente mo resultado no controle dos sintomas (alterações
embolizante (polivynil álcool-PVA ou embospheras, menstruais, algia pélvica e sintomas compressivos)
de 500 a 700 micra), com baixa pressão e lentamente e uma significativa redução dos volumes do útero e
até desaparecer o fluxo dos miomas. Depois é feito o dos miomas.
controle arteriográfico. A necrose maciça do útero ou endométrio e a
As indicações são divididas em dois grupos: insuficiência ovariana prematura são as eventuais
1- Mulheres com prole definida: complicações tardias. A necrose do útero tinha uma
incidência de 7 casos em 1.000 procedimentos, e esse
Se o mioma uterino acarreta sintomas (sangra-
risco diminuiu muito graças a algumas mudanças na
mento, dor pélvica e compressão);
tática do procedimento, especialmente com relação ao
Miomas com crescimento progressivo; tamanho das partículas (atualmente são usadas par-
Falha de tratamentos conservadores prévios; tículas maiores, acima de 500 m). Outra mudança foi
Mulheres jovens; o ponto ideal da parada do lançamento das partículas
(end it point). Até alguns anos atrás, bloqueava-se o
Pacientes que desejam a manutenção do útero;
tronco da artéria uterina; atualmente, bloqueia-se
Quando a paciente não tem condições clínicas a circulação dos miomas sem que se comprometa o
para tratamento cirúrgico. tronco da artéria uterina.
2- Pacientes com desejo futuro reprodutivo:
Quando a mulher apresenta mioma associado à
infertilidade e não é suscetível a outro tratamen-
to cirúrgico conservador;
Quando há falha de tratamento conservador
prévio.
Contraindicações:
1- Absolutas:
Doenças autoimunes e/ou uso de medicamentos
imunossupressores;
Arteriopatias graves;
Coagulopatias ou uso de anticoagulantes; Figura 17.9 Esquema de embolização com a in-
Insuficiência renal; trodução de um cateter e liberação de partículas para
ocluir os vasos principais que irrigam o mioma.
Antecedente de reação adversa grave ao contras-
te iodado;
Miomas pediculados;
Neoplasia maligna ginecológica;
Radioterapia pélvica pregressa;
Presença de infecção pélvica ativa;
Gestação.
2- Relativas:
Mioma com predomínio submucoso, único, me-
nor que 5 cm;
Endometriose severa;
Adenomiose;
Mio-hipertrofia uterina difusa.
É comum a presença de dor no procedimento
pela isquemia que os miomas sofrem na emboli-
zação arterial, sendo atualmente preconizada uma Figura 17.10 Angiografia da artéria uterina eviden-
analgesia efetiva. ciando sua oclusão após a embolização (seta).
Sintomáticos - Dor/
sangramento/
sintomas compressivos
Pólipos uterinos
Deseja tratamento Deseja
definitivo - prole manter função Os pólipos são crescimentos sésseis ou pedicula-
constituída reprodutora
dos, localizados, de um eixo de tecido conjuntivo e re-
cobertos por um tipo de epitélio. No útero, eles podem
Histerectomia Miomectomia Embolização
uterina ser endocervicais ou endometriais.
Figura 17.11 Fluxograma de tratamento da mioma-
tose uterina.
Pólipos endocervicais
Eles crescem no interior do colo do útero, exte-
Leiomioma uterino e gestação riorizando-se pelo seu orifício. Apresentam, portanto,
O diagnóstico de leiomiomas uterinos durante a revestimento de epitélio cilíndrico glandular.
gravidez é mais frequente na atualidade que no pas-
sado. Hoje, sua incidência varia de 0,09 a 3,9%. Originam-se de ação estrogênica em mulheres
Um dos motivos seria a tendência atual da mulher predispostas, motivo pelo qual somem na pós-meno-
moderna em postergar suas gestações para o extremo pausa e aumentam na gestação.
superior de sua vida reprodutiva, sobretudo após os Podem ser assintomáticos ou causar sangramen-
30 anos, ocasião em que os leiomiomas são mais co- tos, sejam eles espontâneos ou pós-coito (sinusiorra-
muns. Outra razão seria a difusão da ultrassonografia gia), ou ainda podem ocasionar leucorreia.
obstétrica durante o pré-natal.
O diagnóstico é feito via visualização direta por
A complicação mais comum é a chamada “sín- especular ou colposcopia.
drome dolorosa dos leiomiomas na gravidez”,
presente em 10% dos casos. Ela consiste classica- O tratamento consiste em exérese e, se possível,
mente de dor localizada, náusea, vômito, febre cauterização da base. A transformação maligna é
baixa, leucocitose e aumento da atividade uterina, extremamente rara.
principalmente no segundo e no início do terceiro
trimestre de gravidez, cedendo em média dez dias
após seu início. O tratamento é clínico, com o uso de
anti-inflamatórios não esteroidais. Outras compli- Pólipos endometriais
cações são também frequentemente associadas a Os pólipos endometriais também se desenvol-
gestações com leiomiomas uterinos: apresentação vem por ação estrogênica, em áreas localizadas que
fetal anômala (o mioma dificulta a acomodação fe- apresentam maior sensibilidade a esse hormônio.
tal), trabalho de parto prematuro (os nódulos dimi-
nuem a cavidade e o útero é distendido pelo feto em São de três tipos, de acordo com o revestimento
crescimento), restrição do crescimento intraútero epitelial que apresentam:
(má implantação e consequente má irrigação da Atróficos: revestidos por epitélio colunar baixo
placenta por causa dos miomas), placenta prévia (o e glandular cuboide, são mais comuns na pós-
ovo busca implantar-se em uma região sem mioma), -menopausa e decorrentes dos outros tipos;
discinesias e atonia (dificuldade de contração pela
anarquia das fibras dos tumores).
Funcionais: com revestimento epitelial que
acompanha a histologia do endométrio, inclusi-
Observa-se na gestação um aumento do volu-
ve em suas mudanças;
me da neoplasia em apenas 20% dos casos, sendo
que o restante se mantém inalterado ou até diminui. Hiperplásicos: envoltos por endométrio proli-
Há aumento da incidência de degeneração vermelha. ferativo com atipias.
Tratamento
O tratamento pode ser expectante ou cirúrgico,
que consiste na exérese do pólipo, e está indicado em
casos de crescimento rápido, sintomas ou tamanhos
maiores que 1,5 cm.
A histeroscopia apresenta-se como tratamento
de escolha, uma vez que, sob visão direta, pode-se reti-
rar o pólipo em sua totalidade. Em casos selecionados,
como atipias ou presença de outra patologia associa-
da, a histerectomia pode ser o tratamento de opção.
Figura 17.12 Útero seccionado e, na sua porção
Para mulheres na pós-menopausa, é prudente a
fúndica, identifica-se a presença de um pólipo (seta). retirada se a idade for maior que 65 anos e houver fa-
tores de risco para câncer de endométrio, hipertensão
ou ocorrência de sangramento.
Quadro clínico É preciso salientar que mulheres portadoras de
Cerca de 80% dos pólipos endometriais são as- pólipo endometrial apresentam risco aumentado de
câncer de endométrio no futuro.
sintomáticos.
O sintoma mais frequentemente associado à
presença dos pólipos uterinos é o sangramento irre-
gular, tanto na mulher em idade reprodutiva quanto
no climatério, sendo responsável por 7 a 25% dos ca-
Adenomiose
sos de menometrorragia. Os padrões de hemorragia A adenomiose é caracterizada pela presença de
podem ocorrer tanto na forma de aumento do fluxo glândulas e estroma endometrial dentro do mio-
quanto na forma de spotting. As mulheres na mena- métrio, ou seja, é um tipo de endometriose. A pri-
cme apresentam mais comumente hipermenorragia meira descrição de um caso foi realizada em 1860,
(abundância de sangue na menstruação), enquanto as por Rokitansky.
pós-menopáusicas, metrorragia. A frequência da adenomiose na literatura varia
de 5 a 70%, e essa ampla variação se deve aos dife-
A dor, quando presente, será decorrente de
rentes critérios diagnósticos e histopatológicos obser-
necrose do tecido ou infecção após estiramento,
vados. Além disso, como o diagnóstico definitivo é
causados pela atividade uterina. Um aumento na realizado apenas por avaliação histopatológica do
secreção vaginal também poderá ocorrer e ser mucosa, útero, somente aqueles removidos cirurgicamente e
sanguinolenta, fétida ou mesmo de aspecto purulen- provenientes de pacientes sintomáticas são examina-
to, quando secundária a uma infecção. dos e incluídos na análise estatística.
A incidência varia de acordo com a faixa etária, forma simétrica, mais no sentido anteroposterior
sendo mais frequente em pacientes entre a quarta (geralmente não ultrapassa o tamanho equivalente a
(40-50 anos) e a sexta décadas de vida, como tam- uma gravidez de 12 semanas), e a consistência macia
bém em pacientes multíparas (80% dos casos). do útero.
Existem duas formas de adenomiose – a difusa
e a focal –, que frequentemente estão associadas. Na
focal, aparecem “tumores” circunscritos com hiper-
trofia da musculatura lisa ao redor do foco. O apare- Patologias associadas
cimento de hiperplasia no epitélio desses focos é in-
frequente. Cerca de 60 a 80% dos úteros adenomióticos estão
acompanhados de outra patologia pélvica. A mais fre-
quentemente encontrada é a miomatose uterina (35
a 55%), seguida de endometriose pélvica e das pato-
Etiopatologia logias endometriais, como a hiperplasia. Esses achados
sugerem um agente causador comum para essas patolo-
Não se sabe ao certo a maneira como ocorre essa
gias, que pode ser o quadro de hiperestrogenemia.
penetração; entretanto, as teorias da proliferação de
restos embrionários dos ductos paramesonéfricos e da
herniação endometrial por hiperatividade uterina ou
lesão da camada basal do endométrio (por trauma ci-
rúrgico ou por gravidez) são as mais aceitas atualmente. Diagnóstico
A suspeita clínica surge pelas queixas da pa-
ciente associadas ao exame físico. Entretanto, esse
quadro clínico é bastante inespecífico, e pode estar
Quadro clínico presente, de forma idêntica, em outras situações. A
Aproximadamente 35% das mulheres portado- ultrassonografia pode, também, sugerir a presen-
ras de adenomiose são assintomáticas, sendo a ade- ça de adenomiose em razão de imagens císticas na
nomiose um mero achado casual ao exame histopato- parede miometrial. Se comparado aos achados his-
lógico do útero removido por outra causa. O principal topatológicos, o uso da ressonância magnética tem
sintoma observado em mulheres com adenomiose demonstrado resultados promissores nesse diagnós-
como única patologia é a menometrorragia (50 a
tico, mas seu elevado custo parece não justificar seu
60%). O sangramento pode ser suficiente para causar
uso rotineiro. O diagnóstico definitivo só é firmado
anemia ferropriva.
após uma análise histopatológica do útero remo-
O mecanismo exato para o desenvolvimento des- vido cirurgicamente mostrando padrão trabecu-
se sintoma ainda é incerto, no entanto, sugere-se que lar com hipertrofia da musculatura lisa.
o útero esteja com sua capacidade contrátil dimi-
nuída durante o período catamenial, permitindo,
assim, um aumento na perda sanguínea. Além dis-
so, o aumento da superfície endometrial presente nes-
sas situações também pode contribuir para o aumento
Tratamento
do fluxo sanguíneo. O principal método propedêutico e tera-
pêutico para a adenomiose ainda é a histerec-
A dismenorreia é outro sintoma frequente, pre-
sente em 15 a 30% das mulheres com adenomiose. Ela tomia. O uso de tratamento clínico baseado em
pode ocorrer secundariamente a uma irritabilidade ute- antiestrogênicos, como danazol e gestrinona, ou
rina ocasionada por sangramento dos focos adenomió- nos análogos do GnRH também pode ser feito.
ticos intramiometriais, além de um pseudoedema des- Contudo, existe a recorrência dos sintomas após
ses locais. Os focos de adenomiose são responsáveis a interrupção desses medicamentos, além de que
por uma produção aumentada de prostaglandinas, eles não permitirão a confirmação diagnóstica ou
outro mecanismo que explicaria a dor. A dispareunia, o seguimento do tratamento. Portanto, são usados
encontrada em menor frequência, também pode ocor- em mulheres na perimenopausa.
rer pelos mesmos mecanismos já citados. A ablação de endométrio pela histeroscopia pro-
Ainda que bastante inespecíficos, os sinais mais porciona a diminuição do sangramento menstrual,
frequentes observados em exame clínico são o au- mas, nos casos de adenomiose, geralmente não se con-
mento não muito acentuado do volume uterino de segue alcançar a amenorreia.
18
Lesões precurssoras do câncer do
colo de útero
Introdução
O câncer de colo de útero é o tumor do trato genital inferior mais comum em nosso país, respondendo
pela quarta causa de morte por câncer nesse grupo. Em mais de 90% dos casos, ele está comprovadamente asso-
ciado a algum tipo de HPV, vírus que não possui cura, de modo que a única forma de se evitar sua alta morbimor-
talidade é por meio de detecção precoce de lesões precursoras ou estádios iniciais, quando ainda é possível a cura
em praticamente 100% dos casos.
As lesões pré-neoplásicas do colo uterino foram amplamente estudadas desde o início do século XX. O termo
displasia foi utilizado por Papanicolau, em 1949, para indicar lesões que não comprometiam toda a espessura
do epitélio. As lesões pré-neoplásicas, ou precursoras, são aquelas localizadas no epitélio do colo uterino, sem
ultrapassar sua camada basal. Por não serem de comunicação compulsória, inexistem dados de incidência real de
lesões precursoras na população em geral.
Fisiopatologia
O colo uterino constitui a porção distal do útero, que compreende dois epitélios distintos, separados pela
junção escamocolunar (JEC).
A ectocérvice é revestida por um epitélio escamoso pluriestratificado, semelhante ao da vagina, ori-
ginário do seio urogenital e formado por quatro camadas: basal, parabasal, intermediária e superficial. A
endocérvice é constituída por epitélio cilíndrico ou pseudoglandular. A JEC, quando no colo normal, deve
coincidir com o orifício interno. Quando a JEC ocupa parte da ectocérvice, denominamos o fenômeno de
ectopia, e as transformações fisiológicas para reepitelização constituem o tecido metaplásico.
153
18 Lesões precurssoras do câncer do colo do útero
Exame ginecológico
As lesões intraepiteliais não provocam sintomas
nem alterações ao exame físico. A olho nu, é possível
apenas a observação de ectopia, que favorece o apa-
recimento da lesão em mulheres de risco, e dos cistos
de Naboth, decorrentes da epitelização da área de ec- Figura 18.4 Lesão pré-neoplásica em colo de útero.
topia. Esta aparece como tecido avermelhado, pouco
captante de iodo (teste de Schiller). Os cistos de
Naboth são cistos de retenção da secreção mucoi-
de das glândulas cervicais recobertas e obstruídas
pelo tecido de reepitelização.
Figura 18.2 Colo uterino sem ectopia. Figura 18.5 Câncer de cérvice.
Diagnóstico Colposcopia
A colposcopia serve para localizar uma lesão
A NIC tem uma incidência máxima na terceira e na suspeitada pela citologia oncótica, distinguindo a
quarta décadas de vida, enquanto o carcinoma invasor região a ser biopsiada. O exame baseia-se na visão
tem incidência máxima na quarta e na quinta décadas. ampliada do colo uterino com lentes de aumento e
aplicação de substâncias como ácido acético e iodo.
Como a sintomatologia é ausente, o diagnósti-
Os achados compatíveis com lesões displásicas são:
co é feito por meio do tripé citologia, colposcopia
epitélio acetobranco (é o primeiro a aparecer e o mais
e histologia.
persistente), vasos atípicos, pontilhado, mosaico,
leucoplasia (proliferação epitelial) e área iodonegati-
va (teste de Schiller positivo).
Colpocitologia
Diagnóstico de
neoplasia
intracervical
Histologia
Colposcopia Anatomopatológico A histologia é feita por análise de material de
biópsia colhido com pinça saca-bocado guiada pela
Figura 18.6 Diagnóstico das NIC: colpocitologia, col- colposcopia. Essa análise pode ou não confirmar os
poscopia e histologia. achados histológicos. Em relação às displasias, pode-
mos encontrar:
Em virtude da estreita relação existente entre
as neoplasias intraepiteliais da genitália inferior e a
infecção pelo papilomavírus humano, os testes de hi-
bridização molecular mostram a maior frequência de
HPV de alto risco oncogênico na gênese das lesões de
pior prognóstico.
Citologia
A citologia, no caso a citologia oncótica, é popu- Figura 18.7 Mucosa ectocervical normal. O epitélio
larmente chamada de Papanicolau (nome da coloração ectocervical é um epitélio escamoso, extratificado, não
usada no exame) ou exame preventivo. Baseia-se em queratinisado, que sofre maturação e resposta à estim-
coleta de material da ectocérvice com espátula de Ayre ulação estrogênica. As mitoses normalmente estão limi-
e da endocérvice com escova, colocação em lâmina e tadas às camadas mais profundas, ou seja, as camadas
análise microscópica das células obtidas. Os resulta- basal e parabasal.
dos seguem a classificação de Bethesda com base nos
indicativos das características citoplasmáticas e nucle-
ares das células analisadas.
Em termos de displasia, podemos encontrar:
NIC I (displasia leve): são exclusivamente al-
terações em células superficiais e intermediárias.
Os núcleos são únicos ou múltiplos, a cromatina
é finamente granular e, muitas vezes, se associa à
infecção pelo HPV. De acordo com a classifica-
ção Bethesda, a NIC I é considerada uma lesão
de baixo grau.
NIC II (displasia moderada): as alterações che-
gam até a camada parabasal, encontrando disca-
riose (perda da relação adequada núcleo/citoplas-
ma). De acordo com a classificação Bethesda, a
NIC II é considerada uma lesão de alto grau.
NIC III (grave + Ca in situ): as alterações ocu-
pam toda a extensão do epitélio, com células de
dimensões semelhantes às parabasais. Além dis- Figura 18.8 NIC I (displasia leve): epitélio de super-
so, há a característica de disposição celular em fície plana e espessura pouco aumentada e arquitetura
fileiras. De acordo com a classificação Bethesda, e polaridade semelhantes ao normal. Discreta discariose
a NIC III é considerada uma lesão de alto grau. nas camadas basais, com figuras de mitose frequentes.
Prognóstico
Oliveira, em 1989, estudando a correlação col-
poscópica, citológica e histológica em patologia cervi-
cal, encontrou 72,2% de correlação na NIC I, 52,4% na
NIC II, 87,5% na NIC III e 10% no carcinoma in situ.
O conjunto de dados pessoais e de outros autores
vem evidenciando o valor relativo de cada um dos mé-
todos, sua sensibilidade e especificidade, revelando,
por outro lado, o grande aumento da acurácia diagnós-
tica por sua associação.
Mesmo com chances de regressão, as NICs II e III
são as que possuem maior risco de progressão. Um fator
a ser considerado é a ploidia celular: a DIPAloidia e a poli-
ploidia estão relacionadas a lesões benignas e regressivas
e a aneuploidia, às pré-neoplásicas e neoplásicas.
Fox relata a progressão da NIC III para carcinoma
invasor em 18% em um período de 10 anos e 36% em 20
anos. Dexeus refere o tempo de progressão de NIC I, II e
III para carcinoma in situ de 58, 38 e 12 meses, respecti-
vamente. Quando a NIC é associada ao HPV, a taxa de
Figura 18.9 NIC II (displasia moderada): além das regressão é mais baixa. Nem todas as NICs progridem
alterações já citadas, há maior densidade celular, es- e é provável que as que regridem tenham fatores etio-
lógicos pouco agressivos, como HPV 6 e 11.
pessura total do epitélio aumentada e estratificação
e polaridade inalteradas. Além disso, metade ou três Em geral, 57% das NICs I regridem, 32% per-
quartos das camadas profundas do epitélio apresentam sistem, 11% evoluem para NIC III e 1% evolui para
células indiferenciadas carcinoma invasor.
Tratamento
Repetir citologia
em 6 meses
Negativa Positiva
Mesmo após a histologia positiva, pode-se man- distinta de acordo com seus achados. Essa ampliação
ter uma conduta expectante, realizando citologias on- da área de biópsia recebe o nome de conização e pode
cóticas de 3 em 3 meses no primeiro ano e de 6 em 6 ser feita com bisturi frio, por alta frequência (CAF) ou
meses no segundo ano, para, então, retornar à rotina. vaporização a laser de CO2.
Entretanto, esse tipo de conduta somente é per-
mitida quando a JEC é bem visível, as lesões são ex- Conização por alta frequência
clusivamente ectocervicais e não há discordância cito-
-histológica. Essa conduta é, ainda, contraindicada em Consiste na excisão do colo por meio de uma
lesões que recobrem mais de ¼ do colo pela colposco- alça, utilizada tanto para o diagnóstico como para
pia, quando há imunossupressão ou caso a lesão seja o tratamento das lesões pré-neoplásicas cervicais. A
recidivante ou persistente. Nesses casos, utiliza-se conização por alta frequência tem sido utilizada com
agentes químicos (podofilina 25% ou 5-fluorouracil) sucesso nos últimos 10 anos. Ela recebe várias deno-
ou físicos (cautério ou vaporização a laser). Lesões que minações (LLETZ, LEEP, radiocirurgia) e é conhecida
invadem o canal endocervical devem ser retiradas com em nosso meio como CAF (cirurgia de alta frequên-
cia). É um método ambulatorial, de fácil e rápida
conização ou vaporização a laser.
execução, que pode ser realizado com anestesia
local e que possibilita o estudo histopatológico da
peça operatória.
Assuma consigo mesmo o compromisso de descobrir um procedimento significativo e eficaz que você possa
executar para favorecer e apoiar a recuperação e a transformação do mundo.
Olhe a seu redor para ver alguns dos problemas próximos a você ou mais distantes na sua comunidade.
Shakti Gawain
19
Câncer do colo uterino
Sem considerar os tumores de pele não mela- O tabagismo também está associado com o
noma, o câncer do colo do útero é o mais inciden- câncer de colo uterino, por reduzir a resposta imune
te na região Norte (22/100.000). Nas regiões Sul do colo, por efeitos relacionados ao metabolismo dos
(24/100.000), Centro-Oeste (19/100.000) e Nordes- hormônios sexuais femininos e por dano genético dos
te (18/100.000) ocupa a segunda posição mais fre- carcinógenos do tabaco.
quente e, no Sudeste (18/100.000), a quarta posição. Um estudo chileno mostrou que uma dieta rica
Apesar dos avanços tecnológicos da medicina, o em frutas e vegetais reduz em 40% a chance de cân-
exame preventivo continua sendo a forma mais eficaz cer de colo uterino. Foram publicados estudos que de-
de controle da doença. Após a introdução desse exame monstram um possível efeito protetor de uma dieta
e dada sua abrangência local, os EUA reduziram em rica em frutas, vegetais, vitaminas C e E, alfa e betaca-
70% a mortalidade por câncer de colo uterino. rotenos, licopeno, luteína/zeaxantina e criptoxantina,
apesar de que, quando fazemos essa avaliação levando
em consideração o estado de infecção por HPV, o bene-
fício não seja totalmente evidente.
Classi昀椀cação histológica O Centers of Disease Control (CDC) determi-
nou, em 1993, o câncer de colo uterino como doen-
Histologicamente, de 90 a 95% das neoplasias ça definidora de Aids em mulheres HIV positivo. A
cervicais invasivas que se originam do colo uterino são coinfecção HIV-HPV é esperada pelo perfil de risco se-
carcinomas de células escamosas (CCE), ou seja, originá- melhante e o HIV diminui a imunidade do organismo,
rios da ectocérvice; e 10 a 15% são adenocarcinomas, facilitando a ação do papilomavírus.
derivados do endocérvice. Os carcinomas adenoescamo- Diversos estudos têm demonstrado a associa-
so e de células pequenas são relativamente raros. ção entre a infecção por Clamydia trachomatis e cân-
cer de colo do útero. Há, ainda, relatos de outras
doenças sexualmente transmissíveis associadas à
Tipo histológico Grau de diferenciação neoplasia. Possivelmente, as alterações na resposta
Carcinoma 90% Cerca de 20% – bem do hospedeiro frente a uma infecção concomitante
epidermoide diferenciado HPV-clamídia reduzam a capacidade da mulher de
Adenocarci- 10 a Cerca de 60% – modera- combater o HPV.
noma 15% damente diferenciado
A multiparidade é outro fator de risco clássi-
Carcinoma 2 a 3% Cerca de 20% – indiferen-
adenoescamoso ciado co de câncer de colo do útero. Uma explicação seria a
Sarcoma 3%
manutenção da zona de transformação na exocérvice
por muitos anos, o que facilitaria a exposição ao HPV.
Tabela 19.2
O uso de anticoncepcional combinado oral é
identificado em mulheres com câncer de colo do úte-
ro por seu uso estar associado a um comportamento
sexual mais regular, a uma rotina mais frequente de
Fatores de risco realização de exame de Papanicolau e a relações sexu-
ais sem o uso de métodos de barreira, levando a uma
O fator de risco mais importante para o desen-
maior exposição ao HPV e a uma maior frequência de
volvimento do câncer de colo do útero é a infecção
rastreamento, o que explica as maiores taxas de inci-
pelo HPV. A prevalência de infecção latente pelo HPV va-
dência em usuárias de ACO.
ria de 5 a 44% da população sexualmente ativa em todo
o mundo, contudo, na maior parte das vezes, a infecção é Há evidência de associação familiar no câncer
transitória ou intermitente, e os estudos mostram que o de colo do útero. Estudos americanos e italianos verifi-
risco de câncer é maior para mulheres com infecção per- caram um risco 2 a 3 vezes maior dessa doença em
sistente. O risco relativo entre HPV e câncer de colo do mulheres com antecedente familiar de CA de colo.
útero varia entre 20 e 70, risco maior que a clássica Apesar disso, a única alteração genética relacionada
associação câncer de pulmão e tabagismo. Aproxima- com câncer cervical foi a deficiência de alfa-1-anti-
damente 90 a 95% dos casos de câncer de colo estão com- tripsina, mais comum em negros.
provadamente associados a algum tipo de HPV. O baixo nível socioeconômico também está as-
Os demais fatores de risco diferem entre o ade- sociado à neoplasia de colo uterino pelo menor aces-
nocarcinoma e o escamoso. Aquele apresenta perfil so aos serviços de saúde e à realização de Papanicolau.
epidemiológico semelhante ao câncer de endométrio, A maior chance de exposição ao vírus HPV
sendo mais comum em obesas, hipertensas e diabé- também entra no rol de fatores de risco, o que
ticas. Os fatores de risco para o tipo escamoso estão inclui início precoce de atividade sexual e múlti-
descritos a seguir. plos parceiros.
Diagnóstico
Como a sintomatologia é frustrante na maio-
ria das vezes, o diagnóstico é realizado por exames
complementares.
A propedêutica complementar abrange a cito-
logia, a colposcopia e o estudo anatomopatológico.
Quando usados em associação, a acurácia fica pró-
xima de 100%. Entretanto, o emprego isolado desses
exames implica uma margem de erro ao redor de 10 a
15%. Em nosso país, a citologia cervicovaginal é em-
pregada como exame de rastreamento populacional,
enquanto os demais exames são usados na investiga-
ção de quaisquer situações anormais de rastreamento.
A colposcopia permite a visualização da área possivel-
mente alterada por ampliação de sua imagem, servin-
do de guia para biópsia, cuja análise histopatológica
permite o diagnóstico definitivo.
Por vezes, faz-se necessária na investigação
diagnóstica a realização de conização para ampliar a
Figura 19.2 Ilustração da drenagem linfática do colo
análise histológica, visando a melhor terapêutica. Isso
uterino. Os linfonodos parametriais são removidos
ocorre especialmente nos casos de microinvasão (está-
como parte da histerectomia radical. A dissecção de lin-
dio I), quando a investigação tem o intuito de avaliar
fonodos nos casos de câncer do colo uterino inclui a re-
se não há áreas com invasões maiores, o que modifica-
moção dos linfonodos pélvicos (de artéria e veia ilíacas
ria o tratamento.
externas, artéria ilíaca interna e artéria ilíaca comum)
com ou sem dissecção dos linfonodos para-aórticos ao
nível da artéria mesentérica inferior.
Outros exames
Radiografia do tórax (avaliar metástases pulmo-
nares).
Apresentação clínica Urografia excretora (infiltração uretral com hi-
dronefrose – Estádio IIIB).
A grande maioria dos casos é assintomática, ra- Ultrassonografia abdominal e pélvica (avaliação
ramente há sintomas em fases iniciais e, quando ocor- de metástases).
rem, são sangramentos leves pós-coito. Os sintomas Avaliação da função renal.
mais exuberantes são reservados aos casos avan-
Tomografia computadorizada.
çados. Podemos dizer que o câncer de colo tem cresci-
mento lento e silencioso. Ressonância nuclear magnética.
Estadiamento
O estadiamento do câncer de colo do útero é ba-
seado no exame clínico da paciente. A pelve é avaliada
pelo toque vaginal, retal e retovaginal. O toque vaginal
permite verificar o tamanho e a extensão do tumor no
colo e na vagina, caso esta esteja acometida. O toque
retal avalia, principalmente, se há acometimento de
paramétrios e a extensão deste. Ele permite, ainda ob-
Figura 19.4 RM: Imagem ponderada em T1 no plano servar, as características do esfincter anal e da mucosa
do eixo curto do útero demonstra lesão de aspecto in- retal, avaliando sua integridade, elasticidade, presen-
filtrativo com isossinal na topografia do colo uterino, ça de fístulas ou massas retais. Pode-se, ainda, deter-
apresentando extensão à gordura adjacente (setas). minar os linfonodos da cadeia obturatória.
Por ser uma doença tratada na maior parte das ve- Margens cirúrgicas acometidas pós-tratamento.
zes por radioterapia, quimioterapia e braquiterapia, o Propagação linfonodal: é o fator mais importan-
sistema de estadiamento da FIGO para o câncer de colo te no prognóstico. Pacientes tratadas com
uterino é baseado em dados clínicos. Assim, a avaliação histerectomia e linfadenectomia, sem evi-
deve ser realizada por um examinador experiente. dências de envolvimento ganglionar, apre-
sentaram sobrevida de 90%. Naquelas em
que se evidenciou tal comprometimento, a
Sistema FIGO de estadiamento do tumor de colo sobrevida foi de 65%. A localização dos linfo-
uterino nodos, seu número e seu tamanho também estão
Estágio I Tumor confinado à cérvice (extensão para relacionados ao prognóstico.
o corpo uterino deve ser ignorada) Volume tumoral: associa-se ao grau de invasão
IA Carcinoma invasivo microscópico com inva- linfonodal.
são em profundidade ≤ 5 mm e em extensão
Diâmetro do tumor versus acometimento
≤ 7 mm
linfonodal:
IA1 Invasão estromal ≤ 3 mm em prfundida-
de com extesnão ≤ 7 mm 1 cm: 18% de acometimento linfonodal (sobrevi-
IA2 Invasão estromal de 3 a 5 mm em profun- da de 85% em cinco anos).
didade e extensão até 7 mm 2-3 cm: 22% de acometimento linfonodal (so-
IB Tumor clinicamente visível, limitado brevida de 85% em cinco anos).
à cérvice uterina ou tumor pré-clínico 4-5 cm: 35% de acometimento linfonodal.
maior que o estágio IA
IB1 Tumor ≤ 4 cm
Estadiamento: a sobrevida em 5 anos para está-
dios iniciais ultrapassa 90% e fica em torno de
IB2 Tumor > 4 cm
60% para o estádio IIB. A sobrevida também se
Estágio II Carcinoma invade além do útero, porém relaciona ao grau de acometimento linfonodal.
sem comprometer parede pélvica ou terço
infeior da vagina
Sobrevida em cinco anos
IIA Sem invasão parametrial
Estádio Cirurgia (%) RxT (%)
IIA1 Tumor ≤ 4 cm
I 86,3 87 a 91
IIA2 Tumor > 4 cm
IIA 75,0 73 a 83
IIB Com invasão parametrial
IIB 58,9 66 a 68
Estágio Carcinoma invade parede pélvica ou envolve
III terço inferior da vagina ou causa hidronefrose Tabela 19.5
ou disfunção renal
IIIA Tumor invade terço inferior da vagina No estádio I: 15 a 20% de linfonodos acometidos:
sem extensão para parede pélvica IA1: 0-1% de linfonodos positivos.
IIIB Tumor invade parede pélvica e/ou hidro-
nefrose ou disfunção renal IA2: 3-6% de linfonodos positivos.
Estágio Carcinoma invade além da pelve ou en- IB1: 15-20% de linfonodos positivos.
IV volve a mucosa da bexiga ou reto (com- IB2: 25-30% de linfonodos positivos.
provado por biópsia)
IVA Compromete os órgãos adjacentes No estádio II: 25-40% de linfonodos acometidos.
IVB Compromete órgãos a distância No estádio III: 50% de linfonodos acometidos.
Tabela 19.4
Prognóstico
Diversos são os fatores prognósticos para o cân-
cer de colo uterino, sendo os mais importantes:
Tipo histológico: o carcinoma espinocelular tem
melhor prognóstico que o adenocarcinoma.
Grau de diferenciação: como nas demais neoplasias,
quanto mais indiferenciado o tumor, pior a evolução.
Propagação endometrial.
Presença de HPV de alto risco: as formas de
câncer associadas ao HPV de alto risco são mais
agressivas. Figura 19.8 Carcinoma cervical.
Figura 19.9 Ilustrações do estadiamento FIGO para câncer do colo do útero (veja a Tabela 19.4) para correlação.
20
Neoplasias malignas
do corpo uterino
Introdução Etiopatogenia
A maioria dos cânceres do corpo uterino (97%) São identificados dois tipos de câncer endométrio,
é de origem endometrial, os restantes são repre- o de baixo grau (tipo I) e o de alto grau (tipo II),
sentados pelos sarcomas. O câncer do endométrio que apresentam características epidemiológicas e evo-
ocorre em mulheres na peri ou pós-menopausa e lutivas distintas.
sua agressividade é proporcional à idade de apa- O tipo II ocorre em mulheres mais velhas, na
recimento. Na maioria dos casos, pode ser estabele- pós-menopausa tardia, desenvolvendo-se em en-
cida uma relação com a exposição prolongada a es- dométrios atróficos sem correlação com um estí-
trogênios, endógenos ou exógenos, sem a devida mulo estrogênico. Ele é predominantemente do tipo
oposição progestogênica. seroso-papilar e de células claras, possuindo menor
grau de diferenciação, maior profundidade de inva-
Em decorrência de sua importância clínica e epi-
são miometrial, metástases linfáticas mais precoces e,
demiológica, dar-se-á maior ênfase às neoplasias en-
portanto, pior prognóstico.
dometriais e seus diversos aspectos.
O tipo I, mais comum, ocorre preferencial-
No Brasil, são esperados anualmente 5.685 casos mente em mulheres mais jovens, na perimeno-
novos de adenocarcinoma de endométrio, com uma pausa, e relaciona-se com a exposição prolongada
taxa de 7,6 casos por 100 mil mulheres, variando de a estrogênios, o que pode ser notado na avaliação
2/100 mil na região Norte a 9,9/100 mil na região Su- dos fatores de risco e que sabemos decorrer do es-
deste. Em mulheres norteamericanas, o adenocarcino- tímulo proliferativo dos estrógenos sobre o endo-
ma de endométrio é hoje o tumor ginecológico mais métrio. Esse tipo geralmente é endometrioide, possui
incidente, com um número crescente de casos novos a maior grau de diferenciação (G) e idade mais precoce
cada ano. Estima-se que 2 a 3% das mulheres desen- ao diagnóstico, evoluindo com melhor prognóstico.
volverão câncer do corpo uterino durante sua vida. Diferentemente dos carcinomas do tipo II, os de
Os casos dessa doença representam cerca de 11% das baixo grau costumam vir precedidos de hiperplasias
neoplasias malignas do aparelho genital. endometrais, consideradas lesões precursoras. As hi-
169
20 Neoplasias malignas do corpo uterino
Carcinoma misto
Patologia O câncer de endométrio pode se apresentar com
combinações de dois ou mais tipos puros. Para ser
classificado como carcinoma misto, cada compo-
Adenocarcinoma endometrioide nente deve compreender no mínimo 10% do tu-
Representa cerca de 80% dos cânceres do endomé- mor. Executando-se a histologia com células serosas
trio, assemelhando-se histologicamente a glândulas
ou claras, a combinação de outros tipos normalmente
não tem relevância clínica. Por isso, carcinoma misto
endometriais normais. À medida que esses tumores
normalmente se refere a uma mescla de carcinoma
tornam-se mais indiferenciados, aumenta seu compo-
tipo I (adenocarcinoma endometrioide e suas varian-
nente sólido e de atipias, bem como sua agressividade
tes) e carcinoma tipo II.
biológica. Portanto, é de extrema importância a deter-
minação do grau de diferenciação desses tumores, pois
ele possui alto valor prognóstico. O tumor é consi-
derado grau 1 (G1 ou bem-diferenciado) quando Carcinoma indiferenciado
até 5% dele mostra padrão de crescimento sóli- Em 1 a 2% dos cânceres de endométrio, não há
do; grau 2 (G2 ou moderadamente diferenciado) evidência de diferenciação glandular, sarcomatosa
se o padrão de crescimento for de 6 a 50%; e grau ou escamosa. Esses tumores indiferenciados caracteri-
3 (G3 ou pouco diferenciado) se esse mesmo pa- zam-se por proliferação de células epiteliais monótonas de
drão atingir acima de 50%. tamanho médio que crescem em lâmincas sólidas e sem
nenhum padrão específico. De modo geral, o prognós- A obesidade aumenta o risco do câncer de en-
tico é pior do que o de pacientes com adenocarcino- dométrio por vias endócrinas paralelas. A obesidade
mas endometrioides pouco diferenciados. está associada ao aumento do nível de insulina, que
leva ao aumento da atividade do fator de crescimento
insulina-like (IGF1), que por sua vez pode aumentar a
produção dos andrógenos pelos ovários. A produção
Tipos histológicos raros excessiva dos andrógenos inibe a ovulação cronica-
Menos de 100 casos de carcinoma de células es- mente, que por sua vez leva a deficiência de proges-
camosas do endométrio foram relatados. O diagnósti- terona. O tecido aDIPAoso é importante fonte das
co exige a exclusão de componente de adenocarcinoma aromatases (enzimas que convertem andrógenos pro-
e nenhuma ligação com o epitélio escamoso do colo duzidos nas glândulas suprarrenais e nos ovários em
uterino. Normalmente, o prognóstico é reservado. estrógenos), e portanto a obesidade leva ao aumento
O carcinoma de células transicionais do endométrio do nível de estrogênio biodisponível também na pós-
também é raro, e doença metastática da bexiga ou do -menopausa. Os estrogênios aumentam a proliferação
ovário deve ser excluída na investigação diagnóstica. endometrial e inibem a apoptose, parcialmente, atra-
vés da síntese local do IGF1. A progesterona geralmen-
te contrapõe este estímulo através de vários mecanis-
Classificação dos carcinomas de endométrio mos, como o estímulo da síntese de proteína ligante
Adenocarcinoma endometrioide (80% dos casos) de IGF1 (IGFBP1). A falta da progesterona é então
Tipo histológico usual um importante fator de risco fisiológico para a
Papilífero, viloglandular, secretor proliferação endometrial. Em adição ao estrogênio,
Com diferenciação escamosa a própria insulina pode promover a proliferação endo-
Carcinoma mucinoso metrial através da redução da concentração sérica de
Carcinoma seroso papilífero SHBG (globulina ligante de hormônio sexual), com
Carcinoma de células claras consequente aumento do estrogênio biodisponível.
Carcinoma escamoso (raro, prognóstico muito sombrio) Idade: 75% dos casos ocorrem acima de 50 anos.
Carcinoma indiferenciado Estados anovulatórios: destaca-se a síndrome
Carcinoma misto
dos ovários policísticos. Havendo ciclos anovu-
Tabela 20.2 Classificação dos carcinomas de endométrio. latórios, a mulher mantém-se quase constante-
mente na primeira fase do ciclo menstrual, pro-
Graus de diferenciação histológica duzindo progesterona, sem aumentar os níveis
Grau 1 (G1): 5% ou menos do tumor apresenta um
de progestágenos.
padrão sólido; tumor bem-diferenciado Nulíparas.
Grau 2 (G2): 6 a 50% do tumor apresenta padrão de cres- Menopausa tardia e menarca precoce: mais
cimento sólido; tumor moderadamente diferenciado tempo sob ação estrogênica.
Grau 3 (G3): mais de 50% do tumor apresenta um Tumores funcionantes do ovário: tumores
padrão de crescimento sólido; tumor predominante- que produzem estrogênios.
mente indiferenciado Hiperplasias atípicas.
Tabela 20.3 Graus de diferenciação histológica.
Estrogênios exógenos
Terapia de reposição hormonal sem oposição da
Fatores de risco progesterona.
Tamoxifeno: amplamente usado no câncer de
Os fatores de risco estão mais relacionados aos mama, pode causar aumento de até 7,5 vezes no
tumores do tipo I e envolvem, além de características aparecimento do câncer de endométrio.
genéticas, ação exacerbada estrogênica sem a devida
Fator de Risco Risco Relativo
oposição de progestágenos.
Idade avançada 2-3
Maior nível educacional 1,5-2
Raça branca 2
Aumento de estrogênios endógenos Nuliparidade 3
Obesidade: mulheres com 10 a 20 kg acima do Infertilidade 2-3
peso ideal têm 3 vezes mais chance de câncer de endo- Menopausa tardia 2-3
métrio. As com 25 kg a mais do que o peso ideal têm Menarca precoce 1,5-2
sua chance elevada em 10 vezes. Terapia estrogênica sem oposição 10-20
Diagnóstico
Como cerca de 95% das mulheres com diagnós-
tico de câncer do endométrio apresentam algum sinal
ou sintoma da doença, em especial hemorragia geni-
tal e secreção vaginal (presentes em 90% dos casos),
e como a maioria dos casos ocorre pós-menopausa,
qualquer sangramento vaginal nessa fase deve ser in-
vestigado. Na pré-menopausa, a hipótese é aventada
quando a hemorragia anormal for persistente ou re-
corrente, principalmente em pacientes obesas. Essas
pacientes devem ser encaminhadas para propedêutica.
Havendo sangramento vaginal, inicia-se a investi-
Figura 20.1 Epidemiologia da portadora de adeno- gação com uma ultrassonografia transvaginal/pélvica,
carcinoma endometrial. exame que permite a suspeita diagnóstica mesmo em
casos assintomáticos, pois revela espessamento endo- As curetagens ambulatoriais às cegas são valori-
metrial. Isso permite seu uso para rastreamento do cân- zadas apenas quando apresentam resultado positivo,
cer em mulheres de alto risco na pós-menopausa. dada a alta probabilidade de obtenção de material en-
Mulheres menopausadas com eco endome- dometrial normal.
trial maior ou igual a 5 mm, sem uso de terapia A biópsia guiada pela histeroscopia é a me-
hormonal, ou 8 mm, com terapia hormonal, pre- lhor escolha. A via histeroscópica permite a realiza-
cisam ser submetidas a uma biópsia de endomé- ção de biópsia no sítio de maior suspeição, a inspe-
trio para avaliação de suas condições. O risco de ção da endocérvice sob magnificação e a verificação
câncer do endométrio é menor que 1% na presença de da extensão do tumor. O exame, para o diagnóstico
espessura endometrial abaixo de 5 mm e pode ser de do câncer de endométrio, apresenta sensibilidade de
cerca de 20% se a espessura estiver acima desse limite. 93,1%, especificidade de 99,96%, valor preditivo posi-
tivo de 98,18% e valor preditivo negativo de 99,85%.
A curetagem uterina foi gradativamente substi-
tuída pela histeroscopia e ficou reservada apenas aos
casos em que esta esteja indisponível.
Exames como tomografia e ressonância po-
dem ser usados eventualmente para analisar o
grau de invasão tumoral na parede uterina, o
acometimento de paramétrios e a presença de
Figura 20.2 Ultrassonografia evidenciando espessa- metástases.
mento endometrial, no caso, de 30 mm.
Marcadores tumorais
A dosagem de CA 125 pode ser utilizada na
predição de doença extrauterina, mas não tem
sensibilidade suficiente para prescindir do es-
tadiamento cirúrgico. Sabe-se que, quanto maior o
nível de CA 125, maior a chance de linfonodectomia,
porém, o ponto de corte não foi estimado. Os valores
normais de CA 125 na mulher pós-menopausa são me-
nores do que na mulher pré-menopausa. A atual utilida-
de desse marcador é o seguimento após o tratamento,
se no diagnóstico ele apresentava níveis elevados.
Estadiamento
O estadiamento clínico usado pela Federação In-
Figura 20.3 Exame ultrassonográfico mostrando en- ternacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), até
dométrio espessado e heterogêneo (A), com áreas cís- 1988, era baseado em informações como histerome-
ticas no interior, além de perda dos contornos devido a
tria, curetagem uterina fracionada de colo e corpo ute-
infiltração da camada interna do miométrio. O estudo
rinos e ultrassonografia pélvica. A partir de outubro
com Doppler demonstra vasos com baixo índice de re-
sistência (B). O exame antomapatológico confirmou de 1988, vários fatores de risco associados ao prog-
carcinoma endometrioide. nóstico e à recorrência da doença foram incorporados
pela Figo ao estadiamento. Entre eles, destacam-se:
Grau histológico;
Como referido, o próximo passo após a detec-
ção de alteração ultrassonográfica é a realização de Grau nuclear;
biópsia endometrial, que pode ser realizada às cegas, Profundidade de invasão miometrial;
em nível ambulatorial e com cureta de Novak ou as- Invasão glandular e do estroma cervical;
piração endometrial; cirurgicamente, por curetagem
uterina; ou, ainda, pode ser feita sob visão direta por Metástases anexiais e/ou vaginais;
via histeroscópica. Citologia positiva;
nua, sendo opções 30 mg/dia de acetato de medro- A análise anatomopatológica de todo o material,
xiprogesterona, 50 mg/dia de acetato de megestrol, inclusive do grau de diferenciação; da intensidade de
20 mg/dia de noretisterona ou mesmo DIU medicado invasão; da localização tumoral; do comprometimento
com levonorgestrel. de linfonodos, da miocérvice, do ovário e do omento; e
da positividade ou não do líquido peritoneal ditarão o
Já nos casos em que há atipia, nas recidivas complemento terapêutico. Se tudo for negativo, o tra-
ou em doenças associadas, a histerectomia deve tamento está encerrado.
ser indicada.
Embora a sobrevida a longo prazo seja de 85 a 95%
com o tratamento correto, a afecção é grave e esforços
devem ser efetuados para a melhora dos resultados.
Curativo Nos demais estádios I (IAG3, IBG2, IBG3 e IC),
a terapêutica cirúrgica deve ser complementada por
Consiste em tratar o adenocarcinoma. As armas
radioterapia.
terapêuticas disponíveis nesse sentido são cirurgia,
radioterapia (braqui e teleterapia) e, mais raramente,
terapia hormonal e quimioterapia.
A cirurgia utilizada no tratamento, a princípio, é Estádio II
a mesma do estadiamento, com algumas nuances para Também nesse grupo, o tratamento consiste em
cada estádio. Apenas para relembrar, ela consiste em: cirurgia e radioterapia, com algumas particularidades
Histerectomia total abdominal; relacionadas a essa última terapêutica. Caso o aco-
metimento do colo seja microscópico e previamente
Salpingo-oforectomia bilateral;
reconhecido (observado em material de curetagem
Omentectomia infracólica; endocervical positiva), pode-se realizar a radioterapia
Coleta de lavado peritoneal; intracavitária pré-operatória.
Linfadenectomia pélvica com avaliação periaór- Em casos de envolvimento macroscópico do colo,
tica e retirada, se necessário (sampling). notados em exame físico ou tomografia, também faz-
-se radioterapia pré-operatória, combinando-se radia-
A histerectomia vaginal fica reservada apenas ção externa e intracavitária. Além disso, complemen-
para os casos com prolapsos uterinos importantes. ta-se a cirurgia com remoção de paramétrios.
Toda e qualquer lesão suspeita deve ser biopsiada.
Deve-se considerar ainda terapia hormonal e/ou
Ao retirar o útero, deve-se abrí-lo para ver o local quimioterapia complementar.
do tumor e a invasão miometrial e também para remo- Nas pacientes inoperáveis ou que recusem a ci-
ver uma pequena porção para a análise de receptores rurgia, o tratamento é efetuado com a radioterapia
hormonais (quando não houver radioterapia prévia). exclusiva, com resultados satisfatórios.
A seguir, mostraremos as complementações ne-
cessárias em cada estádio. Lembramos que, em casos
de invasão de estruturas vizinhas com múltiplas ade-
rências, não há possibilidades cirúrgicas, limitando-se
Estádio III
ao tratamento a radio, a quimio e a hormonioterapia. No geral, pacientes com estádio III são tratadas
com cirurgia e radioterapia. As pacientes com doença
inoperável pelo fato de o tumor se estender à parede
pélvica devem ser tratadas apenas com radioterapia.
Estádio I Uma abordagem comum é utilizar a radioterapia ex-
terna associada à radioterapia intracavitária.
O tratamento do estádio clínico I é, preferen-
cialmente, cirúrgico. Radioterapia adjuvante será Vários estudos têm utilizado quimioterápicos
necessária em casos selecionados. Para as pacientes para aumentar a sobrevida livre de doença e a sobre-
nos estádios IAG1 e G2 e IBG1, a cirurgia é suficiente, vida global dessas mulheres. A associação de paclitaxel
com doxorrubicina e cisplatina é superior à aborda-
dispensando-se a radioterapia.
gem adjuvante realizada apenas com a radioterapia.
Tumores do tipo endometrioide, em estádio
Coleta-se material para análise da presença ou au-
IAG1, podem ser tratados apenas com histerectomia sência de receptores progestogênicos no tumor, orien-
e salpingo-oforectomia bilateral, mas, para tanto, a ci- tando-se a hormonioterapia, quando necessário, com al-
tologia abdominal deve ser imediata e negativa, bem tas doses de acetato de medroxiprogesterona ou acetato
como há necessidade de pronta avaliação anatomo- de megestrol. O tratamento hormonal mais utilizado é
patológica por congelação para certificar-se da baixa com progestágenos, que produzem resposta antitumoral
invasão da parede miometrial. Os demais casos neces- favorável em 15 a 30% das pacientes, melhorando a so-
sitam da cirurgia completa. brevida. Os progestágenos utilizados são: hidroxiproges-
terona, medroxiprogesterona e megestrol. As pacientes renciado ou se houver invasão, deve-se reoperar para
que possuem tumores com receptores de progestero- tirar os ovários e fazer a linfadenectomia seletiva pél-
na positivos (mais de 50 fentomoles/mg de proteína) vica e periaórtica. Caso contrário, apenas completar o
respondem melhor; por coincidência, em geral, esses tratamento com irradiação pélvica.
são os tumores histologicamente mais diferenciados.
Aqui, a resposta pode chegar a até 80%.
Sarcomas do útero
Estádio IV Os sarcomas do útero são tumores raros, repre-
No estádio IV, a princípio, não há indicação ci- sentando 3 a 5% de todas as neoplasias uterinas. Fortes
rúrgica. Entretanto, as pacientes devem receber radio- evidências correlacionam a exposição à radiação ioni-
terapia em toda a pelve e tratamento sistêmico, com o zante e o desenvolvimento de sarcomas na pelve, sendo
intuito de melhorar o estado geral e os sintomas como observados 2 a 20 anos após a irradiação.
dor, sangramento etc. Na doença pélvica volumosa, a
radioterapia externa e intracavitária é uma opção. De maneira geral, caracterizam-se por serem tumo-
res de crescimento rápido e com metástases frequentes.
Assim como no estádio III, o uso de quimioterá-
picos com paclitaxel, doxorrubicina e cisplatina tem São derivados do estroma do endométrio ou de
mostrado aumento na sobrevida global dessas mulhe- células musculares da parede uterina. Pela grande di-
res, bem como a hormonioterapia, especialmente se versidade de tipos histopatológicos, o Grupo America-
os receptores forem positivos. no de Oncologia Ginecológica apresentou a seguinte
classificação:
É necessário fazer radioterapia das metástases cere-
brais e ósseas e considerar a exenteração pélvica quando Leiomiossarcoma;
o tumor for central e se presumir não haver linfonodos Sarcoma do estroma endometrial;
pélvicos positivos e outras metástases aà distância (IVB).
Sarcoma mülleriano misto homólogo (carcinos-
sarcoma);
Sarcoma mülleriano misto heterólogo (sarcoma
mesodérmico misto);
Seguimento ambulatorial Outros sarcomas uterinos.
A anamnese e o exame físico (clínico, ginecológico
e retal) ainda são os métodos mais efetivos de segui-
mento das pacientes tratadas com câncer do endomé- Estadiamento do sarcoma de corpo uterino
trio. A maioria das recidivas ocorrem nos primei- Estádio – FIGO Descrição
ros 3 anos pós-tratamento. As pacientes devem ser I: tumor confinado
examinadas a cada 3-4 meses nos primeiros 2 anos e, ao corpo uterino
a partir daí, semestralmente, por 5 anos. Aproximada- IA Tumor de até 5 cm no maior
mente metade das pacientes com diagnóstico de câncer IB eixo
recorrente será sintomática, e 75 a 80% das recorrên- Tumor > 5 cm no maior eixo
cias serão detectadas, inicialmente, ao exame físico. II: Tumor estende-
-se além do corpo
Deve ser dada uma atenção particular aos linfonodos
uterino, confinado
periféricos, ao abdome e à pelve – particularmente ao
à pelve Tumor envolve anexos
coto vaginal (cuja recorrência pode ser tratada com su-
IIA Tumor envolve outros tecidos
cesso pela radioterapia). Os exames de imagem devem IIB pélvicos
ser solicitados conforme suspeita clínica. A citologia va- III: tumor infiltra
ginal de rotina não tem valor para detecção de recidivas. tecidos abdominais
As recidivas mais comuns são em vagina (parede IIIA Infiltra um sítio
anterior e cúpula), púbis, abdome superior, pulmões, IIIB Infiltra mais do que um sítio
fígado, cérebro e ossos. IIIC Envolvimento metastático lin-
fonodal regional
O CA-125, periodicamente, pode orientar se há
IV: disseminação a
recidiva da doença.
distância
Raramente acontece de se realizar histerectomia IVA Envolvimento de bexiga ou
por doença benigna e haver câncer de endométrio. IVB reto
Nesses casos, deve-se analisar o grau de diferenciação Metástases a distância
e a intensidade da invasão miometrial. Se for indife- Tabela 20.10
21
Neoplasias benignas do ovário
Introdução Diagnóstico
O diagnóstico de tumor anexial baseia-se primor- O diagnóstico das formações benignas do ová-
dialmente na história, no exame ginecológico e na ul- rio é baseado principalmente nos achados ultras-
trassonografia, pois esta, na última década, incorporou- sonográficos, já que o quadro clínico costuma ser
-se à rotina diária da clínica ginecológica na apreciação frustro. Todavia, características clínicas como idade
dos órgãos e estruturas pélvicas. A maioria das alte- e emagrecimento, juntamente com os achados da
rações ovarianas são assintomáticas e achados de ultrassonografia, têm fundamental importância na
exame. O mais importante é identificar características predição de malignidade, e essa é a que importa na
clínicas e ultrassonográficas de malignidade e estipular conduta terapêutica.
o tratamento correto baseado nessas características. A ultrassonografia apresenta alta sensibilida-
de para a malignidade (80 a 100%), com alto valor
preditivo negativo (91 a 100%) e baixo valor pre-
ditivo positivo (37 a 73%), o que implica dizer que
Classi昀椀cação casos suspeitos devem ser melhor investigados.
Os achados compatíveis com malignidade
Os tumores ovarianos podem ser neoplásicos ou são conhecidos como critérios de Sassone, e
não neoplásicos. Esses últimos são chamados de cistos incluem:
funcionais e incluem o cisto folicular, o luteínico, o teca- Massas em idade pré-pubere e pós-menopausa:
luteínico, o luteoma e os cistos de inclusão germinativa. quando a chance de cisto funcional é remota. A
As neoplasias ovarianas, por sua vez, são clas- idade é um critério tão importante que, na pós-
sificadas de acordo com sua origem histológica: -menopausa, mesmo que formações císticas te-
nham carcterísticas benignas, devem ser melhor
Oriundas do epitélio superficial: cistoade- investigadas se forem maiores que 5 cm, aceitan-
noma seroso, cistoadenoma mucinoso, cistoade- do-se expectação apenas em cistos simples me-
noma endometriótico, adenofibroma de células nores que esse tamanho e desde que sem história
claras e tumor de Brenner benigno; de câncer e marcadores negativos. Tal acompa-
Oriundas de células germinativas: teratoma nhamento é feito por USG em 1, 3, 6 e 12 meses.
cístico benigno; Diâmetro da massa maior que 10 cm: tumores
Oriundas do estroma ovariano: tumores da maiores, especialmente na pós-menopausa, têm
tecagranulosa e fibromas. maior potencial de malignidade.
179
21 Neoplasias benignas do ovário
lútea do ciclo menstrual. Também aparecem tipi- Cistoadenoma mucinoso: trata-se do segundo
camente na menacme, pois se relacionam a um tumor benigno epitelial mais comum, destacan-
ciclo menstrual ativo. Em sua maioria, são assin- do-se por seu grande volume. Esse tipo de neo-
tomáticos, a não ser em casos de rotura com ex- plasia apresenta multilobulação, paredes bastan-
travasamento de sangue para a cavidade pélvica. te finas e conteúdo transparente e viscoso, que,
Aparecem como cisto de paredes finas e conteúdo quando em contato com a cavidade, em casos de
hemático (heterogêneo à ultrassonografia), e cos- rotura, pode levar à formação de pseudomixo-
tumam ter pequenas dimensões. Fazem diagnós- mas peritoneais, ou seja, áreas de produção desse
tico diferencial com endometrioma e gestação ec- líquido na parede peritoneal. Atingem litros de
tópica. A conduta também é expectante, inclusive volume, o que lhe valem a alcunha de “tumores
se houver rotura sem alterações hemodinâmicas. mamutes”. Seu tratamento é também cirúrgico,
Cistos tecaluteínicos: são decorrentes do estí- uma vez que apresenta malignidade confirma-
mulo excessivo das gonadotrofinas sobre o corpo da posteriormente em 5 a 10% dos casos.
lúteo gravídico, fazendo-o crescer em demasia.
Ocorre apenas em casos de níveis extremamen- Tumor endometrioide: representa menos de
te elevados desse hormônio, como nas neoplasias 5% das neoplasias ovarianas, sendo mais inciden-
trofoblásticas gestacionais e administração exóge- te em idades mais avançadas, como nas quinta e
na para tratamento de infertilidade. Na ultrasso- sexta décadas de vida. São macroscopicamente
nografia, aparecem como estruturas anecoicas de semelhantes a endometriomas, com conteúdo
grande volume e que merecem terapêutica expec- avermelhado e heterogêneo, entretanto, micros-
tante, pois regridem ao se tratar a doença de base copicamente, lembram as hiperplasias endome-
ou suspender a medicação. triais, pela proliferação e arranjo dos elementos
Luteoma da gravidez: tumor que aparece ao final epiteliais, com pouco estroma. Mais uma vez, o
da gravidez, tem características sólidas e apresenta tratamento é cirúrgico e geralmente se opta por
pequeno volume, com tendência a desaparecimen- histerectomia e salpingo-oforectomia, em razão
to pós-parto. A conduta é, portanto, expectante. da idade das pacientes afetadas.
Cistos de inclusão germinativa: decorrem de Tumor de Brenner: mais raro que os demais,
encarceramento de tecido epitelial no interior do muitas vezes é descoberto por acaso em exame
estroma ovariano, com líquido no seu interior, o anatomopatológico pós-cirurgia por outros mo-
que ocorre logo após a ovulação. São de tamanho tivos. Também afeta preferencialmente mulheres
bastante diminuto, por vezes múltiplos, e apresen- acima dos 50 anos de idade. É um tumor sóli-
tam conteúdo anecoico, localizando-se mais na do que não atinge grande volume. A superfície
periferia ovariana. A conduta terapêutica é expec- é branco acinzentada e, à palpação, possui as-
tante e deve-se atentar para uma maior chance de pecto semelhante a calcificações. Na histologia,
transformação maligna, segundo alguns autores. aparecem ilhotas de células cuboides claras,
Nos casos de neoplasias ovarianas, a remoção ci- chamadas de ninhos de células da Walthard.
rúrgica está quase sempre indicada, podendo en- O tratamento, mais uma vez, é cirúrgico, geral-
volver apenas o tumor, todo o ovário ou, ainda, mente realizando-se histerectomia e salpingo-
ambos os ovários e o útero, sendo que essa condu- -oforectomia, pois afeta mulheres na peri e pós-
ta mais radical é a preferida em mulheres meno- -menopausa.
pausadas, pois pode evitar uma reabordagem no
Teratoma maduro: diferentemente das outras
caso de eventual malignidade inicial.
neoplasias benignas ovarianas, essa é mais co-
Seguem-se as principais neoplasias benignas, mum em jovens, com mais de 50% dos casos
com suas características e terapêutica associada. acontecendo até os 40 anos de idade; também
por isso, é o tumor ovariano mais comum na
Cistoadenoma seroso: juntamente com o cisto-
adenoma mucinoso e os tumores endometrioides gestação. É derivado de uma linhagem germina-
e de Brenner, compõe neoplasia de origem epite- tiva, a partir de células com potencial de trans-
lial. É a neoplasia benigna mais comum e afeta formação em qualquer tipo de tecido, não sendo
preferencialmente mulheres de 30 a 50 anos de rara a presença de cabelos, dentes e ossos no in-
idade. Ao exame macroscópico, é esbranquiçado, terior da massa neoplásica. Com predominância
com superfície externa lisa e atinge diâmetros de tecido tireoideano, o tumor recebe o nome de
de 20 a 30 cm. Pode ser uni ou multilocular. À Struma ovarii e pode ocasionar hipertireoidis-
ultrassonografia, apresenta componente sólido mo e até crise tireotóxica. Se houver predomínio
e tem microcalcificações na parede, conhecidas de tecido carcinoide, ocorre grande produção de
como corpos psamomatosos. Exige tratamento serotonina, com consequentes rubores, cólicas,
cirúrgico de remoção do tumor para análise mi- diarreias e sintomas cardiovasculares, enfim, cri-
croscópica a fim de se afastar definitivamente a ses serotoninérgicas. Aparece como massa hete-
malignidade, sendo importante ainda a biópsia rogênea à ultrassonografia. Macroscopicamente,
do ovário contralateral. apresenta se arredondado, não assumindo gran
des volumes (é raro ser maior que 15 cm), com apresentar atividade androgênica ou estrogênica,
cápsula espessa, branca e lisa, e seu diferencial já que normalmente as células da Teca produzem
encontra-se no conteúdo, formado por um líqui- andrógenos a partir de colesterol, que são trans-
do bastante viscoso e sebáceo, com a presença formados em estrogênio na granulosa. Os dois
comum de pelos. O tratamento consiste na reti- últimos casos são associados, respectivamente, a
rada do tumor, sem a necessidade de extirpação sinais de hiperandrogenismo e à irregularidade
de todo o ovário, o que deve ser feito, inclusive, se menstrual. Quando produzem estrogênio, ainda
esse for um achado de cesariana. Deve-se tomar elevam a chance de hiperplasias e adenocarcino-
cuidado para não romper a cápsula, já que seu lí- ma de endométrio. O tratamento consiste na re-
quido pode proporcionar peritonite química. tirado do tumor e, na pós-menopausa, convém
retirar-se os ovários e o útero.
Tecoma: juntamente com os fibromas, representa
neoplasia do estroma ovariano. São raros, corres- Fibroma: trata-se de tumor de estroma, sendo
pondendo a 1,3% dos tumores ovarianos benig- mais comum na menacme. Costuma ser peque-
nos. Afetam mulheres mais velhas, com idade no, sólido, firme, branco e bocelado; nas raras ve-
média de 52,6 anos. Caracterizam-se por possuir zes que ultrapassa 6 cm, pode ser acompanhado
células repletas de colesterol (matéria-prima das de ascite, cuja etiologia é desconhecida. Outras
células da Teca) e, por isso, à macroscopia, são, vezes, junto com a ascite, ocorre derrame pleural
além de arredondados e firmes, amarelados. O decorrente da passagem de líquido ascítico pe-
microscópio revela hiperplasia de células do es- los canais linfáticos do diafragma. Essa situação
troma cortical (Teca) com aparência epitelioide, é conhecida como síndrome de Meigs. Micros-
alongadas (inclusive o núcleo), citplasma claro, copicamente, vemos células fibrosas fusiformes
cheias de vacúlos ricos em lipídeos, dispondo- dispostas em feixe. Como nas demais neoplasias,
-se de forma entrecruzada. Podem ser inertes ou o tratamento é a retirada do tumor.
Massa Anexial
Persistente Persistente
pré-menopausa pós-menopausa
CA125
US pélvico com Doppler
Normal Elevado
Preditivo Preditivo
de benigno de maligno
Cirurgia oncológica
Unilocular Complexo
cístico multilocular
< 10 cm Outros
sólido
sem ascite
< 10 cm > 10 cm
Laparotomia
Laparoscopia
(remoção intacta)
Laparoscopia Laparotomia
A preocupação com o próprio homem e seu destino deve ser sempre o principal interesse
de todos os empreendimentos técnicos... para que as criações de nossa mente sejam uma benção
e não uma maldição para a humanidade.
Albert Einstein
22
Neoplasias malignas do ovário
Derivados do estroma/cordão sexual: podem acontecer em qualquer idade e incluem os tumores da granu-
losa, os malignos da Teca, androblastomas e ginadroblastomas.
A maioria dos cânceres ovarianos é de origem epitelial (65 a 70%).
O câncer ovariano é bilateral em quase metade dos casos, e, quando unilateral, são grandes as proba-
bilidades de recidiva no ovário oposto, eventualmente conservado.
Classificação histopatológica
dos tumores ovarianos
Fatores de risco
Tumores derivados do epitélio celômico (epitelial)
Seroso Podem-se dividir os fatores de risco para câncer
Mucinoso de ovário em reprodutivos, genéticos e ambientais. De
Endometrioide qualquer forma, o estímulo constante sobre a ativida-
de ovariana representará um risco, enquanto a manu-
Indiferenciado
tenção de sua quiescência, como com o uso de anticon-
Células claras
cepcionais hormonais, será um fator protetor.
Tumores derivados de células germinativas
Teratoma Fatores reprodutivos: a nuliparidade, por man-
Disgerminoma ter o ciclo menstrual, aumenta em 30 a 60% os riscos
de câncer ovariano, da mesma forma, indutores de
Carcinoma embrionário
ovulação, usados por um longo período, elevam esse
Tumor de seio endodérmico
risco em 2,5 vezes.
Coriocarcinoma
Gonadoblastoma Fatores ambientais: neoplasias malignas de
ovário são 2 vezes mais comuns em países industriali-
Tumores derivados do estroma gonadal
zados. Dietas ricas em gorduras saturadas aumentam
Tecagranulosa
o risco em 1,5 vezes, assim como a exposição ao asbes-
Células de Sertoli-Leydig to, presente em talcos de uso íntimo, também pode
Ginandroblastoma elevar esse risco.
Células lipídicas
Fatores genéticos/familiares: mulheres com
Neoplasma ovariano metastático
história de câncer de ovário na família apresentam 3 a
Tumor de Krukenberg
4 vezes mais chances de desenvolvê-lo. A raça branca
Tabela 22.2 Classificação histopatológica dos tu- é mais suscetível a ele, assim como pessoas com tipo
mores ovarianos. sanguíneo A.
Um novo comprometimento à prática da ginecologia oncológica foi introduzido com a identificação dos
genes BRCA1 e BRCA2 como preditores de suscetibilidade ao câncer de ovário. Estima-se que 10 a 15%
das mulheres com câncer de ovário carreiem mutações germinativas em genes de alta penetrância, sendo os genes
BRCA1 ou BRCA2 os responsáveis pela síndrome de câncer de mama e ovário hereditária (HBOC). Na sequência
destes achados, os genes MLH1, MSH2 e MSH6 foram implicados no desenvolvimento da síndrome de
Lynch, responsável por adicionais 2% dos cânceres de ovário, levando à sugestão por muitos grupos de
que a testagem genética rotineira devesse ser oferecida a todas as mulheres com diagnóstico de câncer de ovário.
Os genes BRCA1 e BRCA2 são supressores de tumor e estão diretamente ligados à manutenção da
integridade do genoma com suas atividades no checkpoint do ciclo celular e no reparo de quebras da
fita dupla do DNA.
Entre portadoreas de mutação em BRCA1, o risco de desenvolver câncer de ovário é de aproximadamente
1% ao ano a partir dos 35 anos, perfazendo aproximadamente 40% de chance acumulada ao longo da vida. En-
tre portadoras de mutações em BRCA2, o risco é menor, aproximadamente 15%, e geralmente não se
manifesta antes dos 50 anos de idade. Apesar de a mutação ser a mesma, indivíduos de uma mesma família
podem desenvolver tumores com características distintas e em idades variadas, provavelmente em decorrência da
interferência de fatores exógenos.
Quebra no cromossomo
Instabilidade no genoma
Disfunção em
BRCA1 ou BRCA2
Ponto de
checagem intacto
Sim no ciclo celular Não
(i.e., proteína p53
funcional)?
Ativação do Erros no genoma
ponto de checagem tolerados
Desvantagem Transformação
no crescimento maligna acelerada
seletivo e não há
desenvolvimento
tumoral
Figura 22.1 Diagrama descrevendo o papel da mutação em BRCA no desenvolvimento do tumor. As células com
DNA danificado frequentemente são bloqueadas nos pontos de checagem ao longo do ciclo celular e, consequente-
mente, impedidas de prosseguir para a fase de mitose. Se esses pontos de checagem não estiverem funcionando, os
erros genômicos podem ser tolerados, levando à transformação maligna.
Em relação aos aspectos genéticos dos tumores de linhagem não epitelial, existem algumas síndromes ge-
néticas que a eles se associam. A síndrome de Peutz-Jeghers (pigmentação mucocutânea e pólipos intestinais),
a doença de Ollier (condromatose) e a síndrome de Maffucci (condromatose e hemangiomas) associam-se aos
tumores da linhagem estromal.
Parâmetros ultrassonográficos
Potencial de Baixo Alto
malignidade
Tamanho < 10 cm > 10 cm
tumoral
Septações Ausentes ou Grosseiras
finas (1-2 mm)
Número de Uniloculada Multiloculada
lóculos Figura 22.2 Cistoadenocarcinoma. A: USTV eviden-
Densidade Hipoecogênica/ Hiperecogênica ciando imagem tipicamente suspeita de malignidade –
homogênea e/ou mista e/ou massa heterogênea em região de fossa ilíaca esquerda
com componente (setas), de contorno irregulares, conteúdo ecogênico
sólido heterogêneo, com Doppler evidenciando visualização
Saliências Ausentes Presentes no componente sólido da massa. B: USTV mostrando,
papilares também, massa ecogênica complexa, com Doppler col-
Tabela 22.6 Critérios ultrassonográficos para caracteri- orido evidenciando vascularização no componente só-
zação da suspeita da malignidade de massas anexiais. lido da massa (asterisco).
Marcador Tumor
Figura 22.3 Ultrassonografia de abdome e pelve. Note CA-125 Tumores epiteliais
a extensa lesão de conteúdo predominantemente cístico
com áreas sólidas formando imagem heterogênea. CEA Cistoadenocarcinoma mucinoso
β-hCG Coriocarcinoma
Alfafetoproteína Tumor de seio endodérmico
LDH Disgerminoma
Marcadores tumorais Estradiol Tumor de células da granulosa
Os marcadores tumorais são substâncias que Progesterona Tecoma
apresentam níveis elevados na presença de um deter- Testosterona Arrenoblastoma
minado tumor. Cada neoplasia ovariana associa-se a
um tipo de marcador, sendo os mais importantes: Tabela 22.7 Marcadores tumorais e histologia ovari-
ana correlacionada.
CA-125: trata-se de um antígeno encontrado em
células que derivam do epitélio celômico, como
tubas, endométrio, decídua, endocérvice, pleura,
peritônio, brônquios e âmnio, podendo se elevar
Anatomia patológica
quando houver proliferação de qualquer desses O exame histopatológico é uma forma definitiva
tecidos, de modo que não pode ser usado como
de diagnóstico, trazendo a exata origem da neoplasia
método diagnóstico único, tendo valor agregati-
ovariana e permitindo terapêutica adequada. A seguir,
vo, prognóstico e de acompanhamento.
descreveremos as principais características dos carci-
É marcador de tumores epiteliais, em especial o nomas ovarianos mais importantes.
cistoadenocarcinoma seroso. Deve-se valorizar ní-
veis superiores a 35 U/mL com achados ultrasso-
nográficos sugestivos de malignidade, ou valores
maiores que 50 a 65 U/mL na pós-menopausa. Epiteliais
Paciente na pós-menopausa com massa anexial e ní- Cistoadenocarcinoma seroso: neoplasia cís-
vel sérico de CA-125 muito alto (> 200 U/mL), apresenta tica revestida por células epiteliais colunares, ci
valor preditivo positivo para neoplasia maligna de 96%. liadas, altas e com conteúdo seroso. Correspon-
de a maioria dos casos.
Valores menores que 65 U/mL mostram me-
lhor prognóstico, enquanto valores acima de 586 Cistoadenocarcinoma mucinoso: tumores
UI no pré-operatório se associam a alta probabi- multiloculados cheios de líquido gelatinoso e
lidade de citorredução insatisfatória. pegajoso, rico em glicoproteínas. Microscopi-
camente, são revestidos de células colunares
É importante para o seguimento pós-terapêuti- altas, sem cílios e com mucina atípica e apre-
co, avaliando resposta à quimioterapia adjuvante. Em sentam atipias e áreas de necrose. 5 a 10% dos
pacientes cujos valores do CA-125 se normali- cancêres epiteliais do ovário verdadeiros são
zam com a quimioterapia, sua elevação em mais adenocarcinomas mucionos. A frequência em
de uma medida subsequente é altamente prediti- geral é superestimada em razão de não detecção
va de doença ativa. de sítios intestinais primários, como o apêndice
Pode, ainda, ser usado no acompanhamento de ou o cólon.
mulheres com síndromes familiares associadas a cân- Adenocarcinoma endometrioide: apresen-
cer de ovário. É preciso ressaltar que, no estádio I, 50 a tam glândulas atípicas, semelhantes às de origem
77% das doentes apresentam dosagem sérica normal. endometrial.
útero. Posteriormente ocorre acometimento de outros A via de disseminação linfática para os linfono-
órgãos pélvicos, como bexiga e reto. O revestimento epi- dos pélvicos e para-aórticos é relativamente comum,
telial simples do ovário, bem como seu posicionamento principalmente na doença avançada.
pélvico, favorece a disseminação direta para outros ór- Esta via de disseminação parece respeitar dois
gãos pélvicos. A mobilização fisiológica das alças intesti- trajetos: disseminação retrógrada pelo ligamento
nais e a circulação e drenagem do líquido peritoneal pare- largo, linfáticos obturadores, ilíacos internos e exter-
cem contribuir para a disseminação extrapélvica através nos, e por fim linfonodos paraórticos; e via de disse-
do carreamento de células malignas esfoliadas. Tal fluxo minação direta, pelos ligamentos infundibulopélvi-
de disseminação parece explicar a presença de implantes cos até as regiões paraórtica e paracaval. A drenagem
seguindo localizações específicas, como no fundo de saco através dos ductos linfáticos do diafragma e através
pélvico, na goteira parietocólica direita, no recesso sub- dos linfonodos retroperitoneais pode levar a disse-
diafragmático, hilo esplênico, ligamento falciforme, jun- minação acima do diafragma, especialmente para lin-
ção ileocecal, omento e retossigmoide. Apesar de a disse- fonodos supraclaviculares.
minação peritoneal ser considerada a mais frequente, foi
sugerido que o carcinoma ovariano com origem epitelial A via de disseminação hematogênica é rela-
poderia se desenvolver em qualquer superfície celômica, tivamente incomum no momento do diagnóstico,
surgindo simultaneamente nos ovários e no peritônio ocorrendo com maior frequência em algum momento
(tumores sincrônicos ou de novo), contrariando a teoria após o tratamento. Disseminação para o parênquima
da via de disseminação intraperitoneal progressiva. pulmonar ou hepático ocorre em 2 a 3% dos casos.
Figura 22.6 Estadiamento da FIGO para câncer de ovário (veja a Tabela 22.10 para correlação adequada).
Prognóstico
A taxa de sobrevida global em cinco anos de todos os estádios do câncer epitelial de ovário é
45%, muito abaixo do câncer de útero (84%) ou de colo uterino (73%). As taxas de sobrevida dependem
muito de haver ou não metástase, espelhando o estadiamento da FIGO. Curiosamente, as portadoras de
mutação nos genes BRCA têm melhor prognóstico, principalmente em razão de maior sensibilidade
à platina. Contudo, mesmo com fatores prgonósticos favoráveis e apesar das inovações recentes, a maioria
das pacientes finalmente sofre recidiva.
Fatores prognósticos favoráveis mais importan- O procedimento cirúrgico começa com laparo-
tes para câncer de ovário tomia mediana, seguida de ressecção do tumor ou
Idade decrescente
ovário afetado e congelação. Caso ela seja positiva,
Boa performance complementa-se o ato cirúrgico com lavado perito-
Tipo celular diferente de tumor de células claras e neal, biópsias de lesões suspeitas, omentectomia in-
mucinoso fracólica, histerectomia e salpingo-oforectomia bila-
Tumor bem diferenciado teral, linfadenectomia pélvica e paraórtica seletiva e
Volume menor do tumor anteriormente à ressecção retirada de implantes (citorredução). Deve-se tomar
cirúrgica cuidado para evitar a ruptura da cápsula do tumor,
Ausência de ascite pois isso piora o prognóstico. Os princípios do trata-
Tumor residual menor após cirurgia de citorredução mento cirúrgico do câncer de ovário são mostrados
primária na Tabela 22.13.
Tabela 22.11
Há várias razões que explicam por que a ressec-
ção de implantes de câncer de ovário parece prolongar
O volume tumoral residual é o único fator a sobrevida. Primeiro, a cirurgia remove grandes volu-
prognóstico que o cirurgião pode mudar, sendo a mes de clones de células tumorais quimiorresistentes.
ressecabilidade, de fato, influenciada pela experiência, Segundo, a remoção das massas necróticas melhora a
pelo julgamento e esforço do cirurgião. distribuição de medicamentos às células bem vascula-
rizadas remanescentes. Terceiro, pequenos implantes
tumorais residuais devem ter crescimento mais rápi-
Sobrevida em estágios iniciais de
do e, portanto, são mais suscetíveis à quimioterapia.
câncer epitelial de ovário
Quarto, a redução do número de célular cancerosas
Sobrevida 1 ano 2 anos 5 anos
resulta em menos ciclos de quimioterapia e reduz a
IA 98,4 96,2 89,6 probabilidade de quimiorresistência. Finalmente, a re-
IB 100 93,9 86,1 moção do tumor volumoso potencialmente fortalece o
IC 96,3 91,4 83,4 sistema imune.
IIA 93,0 87,2 70,7
IIB 93,4 84,5 65,5
IIC 93,6 85,6 71,4
Princípios do tratamento cirúrgico do câncer de
Tabela 22.12 ovário
1. Laparotomia mediana ampla para inventário de
toda cavidade peritoneal
2. Coleta de ascite ou lavado peritoneal para ser envia-
do para exame citopatológico
Tratamento 3. Histerectomia total tipo I com anexectomia bilateral,
que poderá ser realizada no sentido anteroposterior e
em bloco, com ressecção do peritônio pélvico vesical e
Cirúrgico do fundo de saco de Douglas em casos de metastatiza-
A princípio, todo câncer de ovário requer trata- ção nessas localizações; ou em bloco, com ressecção de
mento cirúrgico. parte da bexiga e/ou do retossigmoide e/ou dos vasos
da parede pélvica
A cirurgia para o câncer de ovário tem como 4. Omentectomia infracólica, caso não exista metástase
principais objetivos o estadiamento da neoplasia e a macroscópica (8,9% de metástase microscópica) ou
citorredução, que é a ressecção máxima do tumor, ain- total se houver metástase macroscópica
da que incompleta, visando obter melhores resultados 5. Biópsias peritoneais nos locais suspeitos para
no tratamento quimioterápico adjuvante. A respon- estadiamento ou citorredução
sabilidade do cirurgião é muito grande, no sentido de 6. Linfadenectomia paraórtica e pélvica, indicada como
que ele sempre deverá se esforçar totalmente para res- estadiamento sempre que a avaliação da cavidade
secar o máximo de tumor possível (idealmente, todo indique estádio menor que IIIC, pois a presença de
o tumor macroscópico). Considera-se como ótima metástase linfática determinará estadiamento IIIC
uma citorredução com a persistência de um vo- 7. Apendicectomia, indicada em caso de metástase ou
lume tumoral macroscópico inferior a 1 cm de de envolvimento do apêndice cecal pelo tumor
diâmetro. Dessa forma, o tratamento cirúrgico do 8. Citorredução com ressecção de segmento de alça de
câncer de ovário exige um cirurgião oncológico capaz intestino delgado ou grosso deverá ser realizada em caso
de realizar procedimentos cirúrgicos “não ginecológi- de implantes maiores, que não sejam ressecáveis pela
cos”, envolvendo os aparelhos gastrintestinal e uriná- simples excisão da seromuscular
rio, entre outros. Tabela 22.13
Os tumores estádio IAG1, de formas não agres- Critérios de tratamento mais conservador para
sivas, podem ser tratados apenas com anexectomia manutenção do futuro reprodutivo em pacientes com
envolvendo o ovário afetado e retirada de alguns linfo- câncer de ovário
nodos ipsilaterais, desde que o lavado peritoneal seja
negativo e nunca se esquecendo de biopsiar o ovário Estádio IA
oposto. O risco desse tipo de tratamento apenas é váli- Tumor bem diferenciado
do em mulheres na pré-menopausa desejosas de gravi-
dez, fato esse que impede radioterapia posterior, pois Pelve completamente normal, exceto pelo tumor unila-
esta leva à infertilidade. teral do ovário, encapsulado e livre de aderências
Ausência de invasão da cápsula, do mesovário e de lin-
Uma segunda cirurgia citorredutra pode ser
fáticos
realizada se houver recidiva tumoral, mas esta con-
duta já sinaliza para um prognóstico mais restrito. Lavado peritoneal negativo
Embora a seleção de pacientes seja de certa for- Biópsia do ovário contralateral e do omento negativas
ma arbitrária, as melhores candidatas à cirurgia citor- Possibilidade de acompanhamento próximo da paciente
redutora secundária apresentam: (1) doença sensível
Possibilidade de completar a cirurgia após o término da
à platina, (2) intervalo prolongado livre de doença, (3)
vida reprodutiva
um único local de recorrência e (4) ausência de ascite.
Para que se obtenha benefício máximo em termos de Tabela 22.14 Critérios de tratamento mais conser-
sobrevida, a citorredução deve resultar em doença re- vador para manutenção do futuro reprodutivo em pa-
sidual mínima. No entanto, aproximadamente meta- cientes com câncer de ovário.
de das pacientes será submetida à exploração cirúrgica
sem que este objetivo seja atingido. A resposta à quimioterapia pode ser de
quatro tipos: completa, quando desaparece todo
tumor em 1 mês; parcial, quando hã desapareci-
Quimioterapia mento de ao menos 50% de áreas tumorais em 1
mês; doença estável, quando não há alteração das
Levando-se em considerações que em muitos dimensões das massas tumorais; progressão da do-
casos a citorredução cirúrgica ótima primária não é ença, quando ocorre aparecimento de nova massa
alcançada, os benefícios de um esquema quimioterá- tumoral ou aumento de 50% ou mais de qualquer
pico de indução (neoadjuvante), antes da citorre- massa pré-existente.
dução cirúrgica, têm sido testados, demonstrando au-
mento significativo na porcentagem de pacientes que As pacientes que não respondem à quimiote-
conseguirão citorredução completa. rapia primária, ou seja, apresentam doença estável
ou progressão da doença, têm prognóstico péssimo,
O tratamento quimioterápico adjuvante à mesmo utilizando drogas de segunda linha. As pa-
cirurgia é indicado a praticamente todos os ti- cientes que inicialmente respondem à quimioterapia
pos de tumor, ficando isentos apenas aqueles em primária, mas recidivam menos de seis meses após o
estádio IA e IB, desde que não sejam G3 nem per- término desse tratamento, devem receber tratamen-
tencentes a variedades agressivas, como tumor to com drogas de segunda linha. São considerados
de células claras, do seio endodérmico ou terato- aceitáveis como segunda linha os seguintes agentes:
ma imaturo. altretamina, topotecano, tamoxifeno, etoposide, vi-
O esquema de drogas é variável de acordo com a norelbina, doxorrubicina lipossomal, gemcitabina,
neoplasia, mas a melhor resposta é obtida quando há ifosfamida e a radioterapia.
um derivado de platina (cisplatina ou carboplatina). A
combinação mais usada é paclitaxel e cisplatina.
Os tumores ovarianos são considerados Radioterapia
heterogeneamente sensíveis à quimioterapia,
sendo a eficácia terapêutica diretamente de- Os carcinomas ovarianos são, em geral, pouco
pendente do tamanho do tumor residual após sensíveis à radioterapia, além de haver dificulda-
a cirurgia. Quanto maior o tumor residual, menor des técnicas de irradiação de todo o abdome. En-
a possibilidade de que a quimioterapia elimine a do- tretanto, esse tipo de tratamento deve ser usado
ença completamente. Isso se deve ao maior número em casos de disgerminomas puros, pois são bas-
de células na fase GO e, portanto, fora do espectro tante radiossensíveis. Exceção se faz em tratamen-
de ação dos citotóxicos. Além disso, também é maior tos cirúrgicos conservadores, visando preservar a
a chance de desenvolvimento de linhagem de células fertilidade, uma vez que a radioterapia é imcompa-
resistentes à quimioterapia. tível com essa preservação.
Seguimento Profilaxia
O seguimento pós-tratamento para detectar A única forma comprovada de prevenção do câncer
recidiva ou persistência de doença é realizado em in- de ovário é a ooforectomia cirúrgica. As tubas uterinas,
tervalos regulares. Enquanto o seguimento ideal não como outro local com possibilidade de desenvolvimento
está definido, as orientações do NCCN – National Com- da doença em mulheres com alto risco, também devem
prehensive Cancer Network – são os seguintes: ser removidas. Em portadoras de mutação nos genes
BRCA1 ou BRCA2, a salpingo-ooforectomia bilateral
Consultas a cada 2 a 4 meses por 2 anos, e então (SOB) profilática pode ser realizada tanto após a pro-
a cada 6 meses por 3 anos, e depois anualmente. le completa quanto aos 35 anos. Nessas pacientes, esse
Dosagem de CA 125 a cada consulta. procedimento é cerca de 90% efetivo com relação à pre-
venção do câncer epitelial de ovário. Em mulheres com
Exame físico, incluindo ginecológico, radiografia HNPCC, a redução do risco aproxima-se de 10%.
de tórax; e tomografia de tórax, abdome e pelve,
conforme clinicamente indicado. Além de prevenir o câncer de ovário, a SOB pro-
filática reduz em 50% o risco de desenvolvimento de
No pós-operatório, um CA 125 elevado ou a câncer de mama. Previsivelmente, o efeito protetor é
elevação do mesmo por pelo menos três dosagens maior entre as mulheres pré-menopáusicas.
consecutivas geralmente sugerem recidiva ou per- A histerectomia é obrigatória quando se reali-
sistência de doença. Entretanto, o valor de dosagem za a SOB profilática em mulheres com síndrome de
de marcador tumoral após o tratamento inicial é HNPCC em razão dos riscos coexistentes de câncer
questionável, visto que estudos não demonstraram de endométrio. Em portadoras de mutação no gene
melhora na sobrevida (e piora da qualidade de vida) BRCA, a histerectomia não é necessária.
para instituição precoce de quimioterapia de segun- Quando houver gônadas disgenéticas, como na
da linha baseada isoladamente em elevação do CA síndrome de Swyer, ou nos estados intersexuais de ca-
125, quando comparada à espera até progressão clí- riótipo XY, como na síndrome de Morris, este procedi-
nica ou radiológica. mento também é recomendado (SOB).
No confronto entre o mar e a rocha, o mar sempre vence – não pela força,
MAS PELA PERSEVERANÇA.
H. Jackson Brown
23
Doenças da vagina
Tipos histológicos
Carcinoma epidermoide – é o tipo mais comum, representando 90% dos casos e acometendo mulheres
com mais de 50 anos de idade. Caracteriza-se por envolver mais comumente o terço superior da vagina
em sua parte posterior.
Adenocarcinomas – dividem-se em 4 tipos, a saber: de células claras, mucinoso, mesonéfrico e endometrio-
ide. O primeiro é o mais comum (4 a 5% de todos os casos) e caracteriza-se por acometer pacientes mais jovens,
com idade média de 17 anos. Ele é diferente do carcinoma epidermoide, que apresenta predileção pela parede
anterossuperior da vagina. O adenocarcinoma está associado ao uso de dietilbestrol durante a gesta-
ção e tem como precursor a adenose de vagina.
Melanoma maligno – trata-se de um câncer extremamente agressivo que afeta mulheres idosas, com mais
de 70 anos de idade. O sítio primário principal é a parede anteroinferior da vagina.
Rabdomiossarcoma (sarcoma botroide) – trata-se de neoplasia maligna típica da infância, afetando
crianças com menos de 5 anos de idade. Juntamente com corpo estranho, é uma das causas de sangramento
vaginal nessa idade. Afeta principalmente a parede anterior da vagina.
Leiomiossarcoma – ainda que raro, é o sarcoma mais comum da vagina em adultos, apresentando cresci-
mento rápido e com várias ulcerações.
Tumor do seio endodérmico – como o sarcoma botroide, também afeta crianças pequenas, com menos de
2 anos de idade, porém, sua localização principal é a parede posterior da vagina. É altamente agressivo e rapida-
mente metastatizante.
Tumores metastáticos – a vagina é um sítio comum de metástase. Em ordem decrescente de frequên-
cia, os sítios primários principais são: colo, endométrio, ovário, intestino grosso e rins.
Porcentagem das
Tipo histológico neoplasias de Idade Disseminação Características
vagina
Carcinoma de células 85-87% 60 anos Local, sanguínea e Mais comum no terço superior
escamosas linfática da vagina
Carcinoma verrucoso Raro 60 anos Local Variante do carcinoma de
células escamosas, com tumor
agressivo; a radioterapia é
contraindicada
Adenocarcinoma de 9% 19 anos Local, sanguínea e Associado à exposição
células claras linfática intraútero ao dietilestilbestrol
Melanoma 0,5-2% 60 anos Local, sanguínea e Parede vaginal anterior inferior,
linfática com prognóstico ruim
Sarcoma botryoides Raro 3 anos Local, sanguínea e Câncer vaginal mais comum em
linfática crianças
Tumor seio Muito raro 10 meses Local Agressivo, a alfafetoproteína é
endodérmico um marcador dessa neoplasia
Leiomiossarcoma < 2% Qual- Local, sanguínea e Pode ser secundário à
quer linfática irradiação prévia
idade
Tabela 23.2
Quadro clínico
O principal sintoma relacionado ao câncer de vagina é o sangramento genital. Por ser friável, pode,
ainda, levar à sinusiorragia (sangramento pós-coito). Áreas de necrose podem ocasionar corrimento vaginal féti-
do. Em casos mais avançados, é possível a visualização de lesão vegetante no canal vaginal, além de sintomas por
acometimento de órgãos adjacentes.
Diagnóstico Tratamento
O diagnóstico é baseado no quadro clínico, segui- O tratamento é dependente do estádio em que
do de citologia vaginal que, se alterada, é complemen- a doença se encontra, do tipo de tumor e da idade da
tada por vaginoscopia e biópsia de lesão acetobranca paciente. Basicamente, usa-se a radioterapia em jo-
encontrada, que trará o diagnóstico definitivo. vens, a cirurgia em casos de má resposta ou idade
avançada e, em raras vezes, a quimioterapia. Como
Assim como no colo do útero, as neoplasias de
se trata de um tumor que se dissemina por extensão
vagina são precedidas por lesões precursoras in-
local e por meio dos vasos linfáticos, a abordagem ci-
traepiteliais, chamadas Niva, e sua associação com
rúrgica deve levar em consideração a drenagem linfá-
NIC é frequente. Elas dividem-se em: tica da vagina e o estadiamento do tumor. Os terços
Niva I: alterações histológicas confinadas ao ter- superior e médio drenam para os linfonodos pélvicos
ço inferior do epitélio; e o terço inferior, para os linfonodos inguinofemorais.
Niva II: alterações acometem os dois terços in- Os tratamentos cirúrgicos de acordo com o está-
feriores do epitélio; dio da doença são descritos a seguir.
Niva III: lesão intraepitelial em mais de dois ter-
ços da espessura do epitélio.
As lesões precursoras são assintomáticas Estádio 0
e a alteração da citologia oncótica é o único O tratamento das NIVA é a destruição local (com
alerta. Essas lesões são, em geral, multifocais e a laser ou aplicação de 5-fluorouracil a 5%) ou exérese
vagina deve ser avaliada inteiramente com o uso do das lesões.
colposcópio. A alteração à colposcopia pode variar
desde um epitélio branco tênue a padrões de mosai-
co e queratose.
Estádios I e II
O tratamento cirúrgico depende do local da vagi-
na em que se encontra a massa tumoral.
Terços superior e médio da vagina: histerec-
Estadiamento tomia abdominal total radical, colpectomia par-
cial ou total e linfadenectomia pélvica;
Após o diagnóstico, deve-se realizar o estadia-
mento clínico, incluindo exame pélvico, cistoscopia e Terço inferior: colpectomia parcial associada à
vulvectomia e linfadenectomia inguinal.
a retossigmoidoscopia.
Semelhante aos casos de tumores de colo, na
presença de gânglios linfáticos comprometidos, a
Estadiamento (FIGO, 2003) radioterapia externa coadjuvante deve ser indicada
Estádio 0: neoplasia intraepitelial vaginal, carcinoma após a cirurgia.
in situ A radioterapia é indicada como adjuvante se
Estádio I: tumor limitado à parede vaginal houver acometimento linfonodal.
Estádio II: tumor que infiltra o tecido subvaginal, mas
não atinge a parede pélvica
Estádio III: tumor que atinge a parede pélvica
Estádios III e VI
Estádio IV: tumor que se estende pela pelve verdadei-
ra ou que atinge a mucosa do reto ou da bexiga; o ede- O tratamento preferencial é a radioterapia
ma bolhoso de bexiga não pode ser considerado como interna e externa. A exenteração limita-se aos casos
estádio IV de estádio IVA sem extensão do tumor à parede pélvi-
Estádio IVA: tumor que se propaga para órgãos adja- ca e aos gânglios linfáticos.
centes (bexiga e reto)
Estádio IVB: metástase a distância
A quimioterapia é útil no tratamento de sarcoma
A propagação é feita, principalmente, pelos linfáticos da botroide e tumor do seio endodérmico ou em casos
vagina, alcançando os linfonodos inguinais, pélvicos e avançados.
paraórticos Após o tratamento, deve-se fazer seguimento
Tabela 23.3 Estadiamento (FIGO, 2003). com exame clínico, citológico e colposcópico.
Septos vaginais
Ausência congênita de vagina Podem ser encontrados septos transversos ou
Pode acontecer em várias doenças, inclusive na longitudinais.
síndrome de Morris, ou insensibilidade androgênica. O septo vaginal transverso pode ocorrer em
Nesta, o cariótipo é XY, há testículos que produzem fa- qualquer ponto do canal vaginal, mas é mais fre-
tor antimülleriano, impedindo o desenvolvimento dos quente entre os terços superior e médio. Poderá
ductos de Müller que formariam o terço superior da apresentar um orifício ou ser imperfurado, o que
vagina, o útero e as trompas. Como há insensibilidade influirá na sintomatologia. A paciente pode se quei-
periférica à ação de andrógenos produzidos pelos tes- xar de dor pélvica cíclica, relacionada à menstrua-
tículos, não se desenvolve genitália externa masculi- ção não escoada, e pode-se notar massa palpável no
na, permanecendo esta feminina e rudimentar, assim abdome. Ao exame físico, nota-se vagina curta, em
como outros caracteres sexuais secundários. fundo cego. A paciente apresenta normalmente os
Entretanto, a agenesia vaginal é mais comum em caracteres sexuais secundários.
doenças müllerianas puras, em especial na síndrome A ultrassonografia pélvica auxilia o diagnóstico.
de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser, em que a au- O tratamento consiste na excisão do septo, tomando-
sência congênita dos terços superiores da vagina se -se o cuidado para que o processo cicatricial não forme
deve à falha no desenvolvimento e na fusão dos ductos uma estenose anular, o que provocaria dispareunia.
müllerianos. Em mais de 90% dos casos, está ausen- Essa cirurgia não traz maiores dificuldades, a menos
te também o útero. Clinicamente, são pacientes com que o septo se apresente espesso.
amenorreia primária e caracteres sexuais secundários O septo vaginal longitudinal também é uma pa-
presentes. O terço inferior da vagina, que é decorrente tologia mülleriana, decorrente da má junção desses
do seio urogenital, está presente. As trompas e os ová- ductos. Pode se apresentar produzindo uma vagina
rios geralmente são normais. dupla, inclusive com dois colos e dois úteros (útero di-
A ultrassonografia pélvica é muito útil na ava- delfo – má fusão completa). Em alguns casos, o septo
liação da intensidade da malformação uterina e na será curto no sentido craniocaudal, ou teremos uma
verificação da presença de endométrio funcionante. vagina normal e uma rudimentar com hematocolpo.
Na presença deste, a paciente informará dor pélvica O septo que não produz obstrução vaginal é assinto-
cíclica, pois não há como escoar o sangue produzido mático e não precisa ser removido. Aos obstrutivos, a
na menstruação. exérese é a solução.
24
Tumores de vulva
Estadiamento
Inicialmente, o estadiamento do câncer de
vulva era baseado em fatores clínicos, utilizando
o sistema TNM, adotado pela FIGO pela primeira
vez em 1969. Este modelo era focado na avaliação
clínica do tumor primário, dos linfonodos regio-
nais e uma pesquisa complementar de acometi-
mento a distância. Entretanto, a avaliação exclu-
sivamente clínica dos linfonodos inguinocrurais é
inacurada em 25 a 30% dos casos. E a percenta-
Figura 24.1 Carcinoma espinocelular invasivo na vulva.
gem de falso-negativo utilizando o estadiamento
clínico aumenta de 18% em pacientes com estágio
I para 44% naquelas em estágio IV. Em 1998, o
estadiamento cirúrgico foi adotado e finalmente
atualizado em 2010. O estadiamento cirúrgico é
preferencial, uma vez que o estadiamento dos
linfonodos inguinocrurais representa indivi-
dualmente o principal fator prognóstico nos
casos de câncer de vulva localizado.
Com base no modelo de estadiamento atual,
quatro estágios são previstos. Conforme dito ante-
riormente, os estágios III e IVa caracterizam doença
localmente avançada e são encontrados em cerca de 30
a 40% dos casos recém-diagnosticados. Já o estágio
Figura 24.2 Carcinoma de vulva com doença avançada. IVb configura doença avançada e é encontrado ao
diagnóstico em cerca de 5 a 10% dos casos.
Tamanho do tumor como fator prognóstico cas da população em geral. Ainda não existem re-
sultados publicados da vacina profilática bivalente
Diâmetro do tumor Sobrevida de 5 anos (%)
(cm)
contra os tipos de HPV 16 e 18 sobre a prevenção
das NIV, mas é previsível que sejam sobreponíveis
0-1 90
aos da vacina quadrivalente.
1-2 89
2-3 83
3-4 63
>4 44
Tabela 24.6 Da neoplasia invasora
O tratamento de eleição para o câncer da vulva
é o cirúrgico.
Uma das inovações mais importantes no tra-
Tratamento tamento do câncer de vulva é o reconhecimento de
que dissecção seletiva de um linfonodo solitário ou
Como nos demais tumores, o tratamento é de- de linfonodos, denominada biópsia de linfonodo
pendente do estádio. Aqui, envolve cirurgia e radiote- sentinela, pode reduzir drasticamente a morbida-
rapia, raras vezes optando-se por quimioterapia. de cirúrgica, mantendo avaliação adequada do com-
prometimento linfonodal. O princípio básico desse
procedimento é que o primeiro linfonodo a receber
Tratamento NIV a drenagem linfática do local do tumor, denomina-
do linfonodo sentinela, deve ser o primeiro local de
Existem dois motivos para o tratamento das le- disseminação linfática maligna. Portanto, um linfo-
sões de NIV: o alívio sintomático da doente e a evitável nodo sentinela livre de doença implica ausência de
progressão da doença para carcinoma invasivo. Pode
metástases linfonodais em toda a bacia de drena-
ser feito por exérese local ou destruição das lesões.
gem. Atualmente, recomendam-se as técnicas que
A exérese local com margens de 0,5 a 1 cm é utilizam linfocintigrafia ou corante azul de isossul-
o tratamento preferencial das NIV. Para reduzir a fano para identificação do linfonodo sentinela nos
mutilação cirúrgica associada à cirurgia das NIV, po- casos de câncer da vulva.
demos optar pela realização de enxerto cutâneo (skin-
ning vulvectomy). A exérese é utilizada para o trata- O prognóstico das pacientes com metásta-
mento de lesões de NIV multifocais e extensas. se no linfonodo sentinela medindo > 2 cm foi
significativamente pior do que daqueles com
A destruição das lesões do epitélio vulvar tem metástase < 2 cm.
como principal desvantagem a inexistência de ma-
terial para estudo histológico, o que obriga a um
exame vulvoscópico exaustivo, com múltiplas bi-
ópsias, a fim de excluir qualquer foco de carcinoma
invasivo, contudo, tem a vantagem de reduzir em Estádio I e II
muito a morbidade. No estádio IA, o tratamento pode ser vulvecto-
Dos métodos destrutivos da NIV, a vaporização mia simples ou a ressecção com 2 cm de margem
com laser de CO2 foi o que adquiriu maior popularida- sem dissecção linfonodal. O risco de metástase lin-
de e deve ser a escolha quando se opta por essa condu- fonodal é desprezível nesse estádio.
ta. Conectado ao colposcópio, permite o controle da Nos estadios IB e II, as pacientes devem ser
profundidade da destruição e identificação dos planos submetidas à vulvectomia simples associada à lin-
cirúrgicos, sendo que as taxas de recidivas são seme- fonodectomia ipsilateral. A linfonodectomia será
lhantes às dos tratamentos excisionais. bilateral caso a lesão esteja na linha média.
Prevenção NIV
Estádio III
A vacina quadrivalente profilática contra os
tipos de HPV 6, 11, 16 e 18, e em relação ao place- O tratamento neste estádio deve ser a vulvec-
bo, demonstrou uma eficácia de 100% na prevenção tomia radical, com esvaziamento ganglionar ingui-
da NIV, quando ensaiada com intuito profilático, e nal e femoral.
uma eficácia de 71% quando administrada em uma Se os linfonodos inguinais forem positivos,
população de mulheres jovens, com as característi- deve-se realizar radioterapia no pós-operatório.
Alguns estudos em fase II têm adicionado qui- Microestadiamento dos melanomas da vulva
mioterapia à radioterapia pré-operatória, obtendo-
Níveis de Clark Chung et al Breslow
-se bons resultados de taxas de resposta do tumor.
I Intraepitelial Intraepitelial < 0,76 mm
II Penetrando a ≤ 1 mm a partir da 0,76 a 1,50
derme papilar camada granular mm
Estádio IV III Preenchendo as 1,1 a 2 mm a 1,51 a 2,25
papilas dérmicas partir da camada mm
O tratamento desses casos avançados envolve a granular
radioterapia e a quimioterapia. Em tumores centrais, IV Penetrando a > 2 mm a partir 2,26 a 3,0 mm
sem acometimento de linfonodos ou metástases a dis- derme reticular da camada
tância, a exenteração pélvica é uma opção. granular
V Penetrando a Penetrando a gor- > 3 mm
gordura subcu- dura subcutânea
tânea
Quimioterapia Tabela 24.7
Os agentes quimioterápicos mais comumente
utilizados para o tratamento do câncer de vulva são:
5-fluorouracil, mitomicina-C e cisplatina. Podem ser
utilizados em pacientes nos estádios III e IV.
Seguimento
Após completarem o tratamento primário,
todas as pacientes são submetidas a exame físi-
co minucioso, incluindo palpação dos linfonodos
inguinais e exame da pelve a cada três meses nos
primeiros 2 a 3 anos. Os exames de monitoramento
Figura 24.4 Melanoma vulvar.
são então agendados a cada seis meses até que se
completem 5 anos. Daí em diante as pacientes livres
da doença podem ser avaliadas anualmente. Vul- O tratamento de escolha é a excisão cirúrgica ra-
voscopia e biópsias são realizadas se áreas suspeitas dical (vulvectomia com linfadenectomia inguinofemo-
forem percebidas durante a história ou o exame fí- ral bilateral). Entretanto, uma vez que a maioria das
sico. Exames radiológicos e biópsias para diagnos- falhas ocorre a distância, hemivulvectomia tem sido
ticar possível recorrência do tumor são realizados aceita como forma adequada para controle local, des-
conforme indicação médica. de que margens satisfatórias e livres sejam alcançadas.
Apesar de a linfadenectomia não ter efeito terapêutico
comprovado no melanoma, ela traz importantes in-
formações prognósticas que podem guiar a estratégia
terapêutica subsequente.
Outras afecções
Carcinoma verrucoso de vulva
Melanoma Muito parecido clinicamente com o carcinoma
O melanoma maligno é o segundo tumor mais epidermoide, inclusive apresentando prurido e rela-
frequente na vulva, acomete mais mulheres cionando-se ao HPV. Entretanto, esse tipo apresenta
brancas e com mais de 50 anos de idade. Caracteri- invasão local, comprimindo estruturas adjacentes,
za-se por apresentar lesões bastante escurecidas e ele- enquanto naquele há mais invasão linfonodal. Apre-
vadas nos pequenos lábios e no clitóris. Apresentam senta-se como uma grande lesão verrucosa tipo cou-
prognóstico sombrio, exceto em casos muito iniciais, ve-flor. Raramente apresenta metástase linfonodal.
com sobrevida em cinco anos apresentando valor mé- O tratamento consiste na excisão local com margem
dio de apenas 35%. de segurança.
Neoplasias benignas
Apesar de as neoplasias benignas com sede na
vulva serem mais frequentes do que as malignas, elas
têm pequena incidência.
A maioria possui dimensões pequenas – meno-
res do que 1 cm de diâmetro. As neoplasias mais fre-
quentes são os cistos epidérmicos e ontogenéticos.
Seguem-se, em frequência, os cistos da glândula de Figura 24.5 Imagem de cisto de Bartholin à direita (seta).
Bartholin e os cistos serosos dos lábios menores.
Os cistos sebáceos e epidérmicos corresponden-
tes a 90% dos casos de tumor benigno e são causados
por oclusão dos ductos pilossebáceos e sudoríparos
apócrinos.
Os cistos de Nuck aparecem no trajeto do canal
inguinal e nos lábios maiores e podem ser confundi-
dos com hérnia inguinal.
Os cistos da glândula de Bartholin localizam-se
nas porções caudal e dorsal dos lábios maiores. Podem
ser uni ou bilaterais. Frequentemente, são sequelas de
episódio infeccioso, principalmente por Gonococo, mas
pode se associar a vários tipos de bactérias. A causa
principal é a obstrução do ducto excretor e o tratamen-
to é cirúrgico, por marsupialização ou bartolinectomia.
Se houver persistência, áreas sólidas ou ocorrendo em
idades avançadas, deve-se suspeitar de câncer.
O hidroadenoma da vulva é um tumor benigno
das glândulas sudoríparas e localiza-se mais frequen-
temente nos lábios maiores. São tumores de 1 a 2 cm
de diâmetro, bem-delimitados, firmes ou císticos.
Podem ulcerar e causar dor, sangramento, prurido e
infecção secundária. O tratamento é cirúrgico. O póli-
po fibroepitelial, ou molusco pêndulo, é um tumor de
consistência mole e pode apresentar-se séssil ou pedi-
culado. É constituído de epitélio malpighiano hiperce-
ratótico e hiperacantótico.
O granuloma piogênico é uma forma rara de
hemangioma vulvar. Apresenta-se como nódulo
único, carnoso, séssil ou pediculado e com 0,5 a 2 Figura 24.6 Marsupialização da glândula de Bartho-
cm de diâmetro. lin. A parede do cisto é evertida e suturada na mucosa.
25
Uroginecologia
Normal: quando a micção é iniciada por con- Fatores de risco para a incontinência urinária na
tração detrusora voluntária e pode ser inibida. mulher
Acontrátil: ausência de contração durante o es Fatores Sexo
tudo urodinâmico. predisponentes Genéticos
Hipocontrátil: quando a contração detrusora Raça
é de magnitude e/ou duração inadequada para Cultura
efetuar voluntariamente o esvaziamento vesical Neurológicos
normal. Anatômicos
Status de colágeno
Fatores Paridade
Função uretral durante a micção desencadeantes Cirurgias
1. Normal: a uretra relaxa no momento da con- Lesões de nervo pélvico ou mus-
tração voluntária do detrusor. cular
Radiação
2. Obstrutiva: Fatores Disfunção intestinal
Hiperativa: ocorre quando o mecanismo de promotores Irritantes dietéticos
fechamento uretral se contrai involuntariamente Tipo de atividade
ou não relaxa no momento da micção; Obesidade
Dissinergia vesicoesfincteriana: contrações Menopausa
fásicas dos músculos estriados intrínsecos da Infecção
uretra durante a contração do detrusor, geral Medicamentos
Estado de doença pulmonar
mente decorrente de distúrbio neurológico;
Estado de doença psiquiátrica
Dissinergia detrusor/colo vesical: con- Fatores transitó- Idade
tração do detrusor com falha na abertura do rios Delírio
colo vesical. e reversíveis Infecção
Vaginite atrófica
Ação medicamentosa
Unidades de medida da ICS Distúrbios psicológicos
Quantidade Unidade Símbolo Poliúria
Volume Mililitros mL Capacidade de movimentação li-
Tempo Segundos s mitada
Obstipação intestinal
Fluxo
Mililitros por segundos mL/s Tabela 25.2
urinário
Pressão Centímetros de água cm H2O
m, cm, A anamnese deve conter alguns aspectos, incluin-
Comprimento Metros ou submúltiplos do o início dos sintomas, sua duração, gravidade, condi-
mm
Metros ou submúltiplos/ ções associadas e descrição do impacto social e higiênico
Velocidade m/s, cm/s
segundo à mulher. Embora a história forneça diversos dados, é
Temperatura Graus Celsius ºC frequente não se obter o diagnóstico, uma vez que os
Tabela 25.1 sintomas urinários podem ser similares, mesmo quando
as etiologias são diferentes. Isso faz do exame físico uma
parte integrante da avaliação uroginecológica da paciente,
constituindo, porém, apenas um segmento da avaliação. A
Incontinência urinária mulher deve ser examinada na posição de litotomia e or-
tostática, de preferência com a bexiga cheia. Vários pesqui-
Incontinência urinária é conceituada como toda sadores relataram fraca correlação entre os sintomas e os
condição na qual a perda involuntária de urina, obje- achados urodinâmicos, preconizando sua realização para a
tivamente demonstrável, cause problema social ou hi- identificação das causas da incontinência.
giênico à mulher.
Como dito anteriormente, o diagnóstico fisio-
patológico é essencial, uma vez que as formas mais De esforço
frequentes de perda urinária – incontinência de
esforço, pela deficiência esfincteriana ou pela hiper- A incontinência de esforço é uma afecção de
mobilidade na uretra, e incontinência de urgência, grande importância pela sua morbidade e constitui a
secundária à instabilidade do detrusor – apresentam queixa urinária mais frequente das pacientes que pro-
tratamentos distintos. curam os ambulatórios de ginecologia.
Exame ginecológico
Fisiopatologia
No exame ginecológico, deve-se dar espe-
Os dois tipos de incontinência urinária podem se cial atenção aos seguintes aspectos: presença
sobrepor, embora apresentem mecanismos etiopato- de distopias urogenitais, rotura perineal, trofismo
gênicos distintos. da mucosa e outras doenças ginecológicas associa-
A hipermobilidade ocorre devido a alterações no das. A função muscular do assoalho pélvico pode
mecanismo uretral extrínseco, ou seja, secundário à mu- ser avaliada pela observação e pelo toque durante
dança da posição do colo vesical e da uretra proximal. a contração perineal. A perda urinária deve ser de-
Nessa situação, há lesão de algum componente respon- monstrada de forma objetiva por meio de mano-
sável pela sustentação da uretra, ou seja, do músculo bras de esforço com a paciente em posição gineco-
pubococcígeo (fibras do elevador do ânus que formam o lógica e em pé. Deve-se ter em mente que distopias
assoalho pélvico), da fáscia endopélvia e principalmente genitais podem modificar a conformação anatômi-
dos ligamentos pubouretrais. Essas situações podem ser ca do trato urinário inferior e levar à perda uriná-
causadas por múltiplos partos em pacientes predispos- ria. Uma das formas de se saber se há incontinên-
tas, o que enfraquece as estruturas mencionadas. Inde- cia urinária verdadeira acompanhando a distopia é
pendentemente da causa, como a base está enfraquecida, corrigir esta no exame físico antes de solicitar que
a uretra sofre uma queda em direção à posição infrapúbi- a paciente realize esforço.
ca durante os esforços, de tal modo que a pressão abdo-
Um teste objetivo para avaliar se realmen-
minal é exercida sobre a bexiga, mas não sobre a uretra.
Não obstante, com a lesão dos ligamentos pubouretrais, te há perda urinária e quantificá-la é o pad test.
a vagina fica mais solta, não é tracionada com a contra- Nele, um absorvente é pesado e, em seguida, orienta-
ção do músculo pubococcígeo (que também pode estar -se que a paciente o coloque e exerça suas atividades,
lesado) e não comprime a uretra. reavaliando o peso depois. Uma diferença de 1 g in-
dica perda de urina. Todavia, este teste não permite
A deficiência esfincteriana intrínseca decorre da diagnosticar o tipo de incontinência.
perda do mecanismo de continência próprio da uretra,
ou seja, o pregueamento da mucosa. Isso decorre de O teste do cotonete permite avaliar a mo-
fibroses locais por traumas (inclui partos), cirurgias bilidade do colo vesical de forma clínica. Após
anteriores, radioterapia ou por hipoestrogenismo. antissepsia da vulva, um cotonete estéril lubrifi-
cado com lidocaína em gel é introduzido no meato
uretral externo, até atingir a resistência do colo
vesical. Mede-se o ângulo que a haste do cotonete
Quadro clínico faz com o plano horizontal no repouso e seu des-
A queixa principal é a perda involuntária de locamento durante a manobra de esforço. Valores
urina, a princípio em pequena quantidade, a partir superiores a 30 graus sugerem hipermobilidade
de esforços. A perda se inicia e termina junto com uretral.
Cirúrgico
A cirurgia representa a terapêutica mais comu-
mente empregada para o tratamento da incontinência Figura 25.4 Imagens da uretra. A: uretra normal; B:
urinária de esforço. É fundamental que se considere o uretra incontinente; C: uretra com a alça de suporte
tipo de IUE na escolha da técnica cirúrgica. (sling) na correção da incontinência urinária.
Estudo urodinâmico
Diagnóstico O diagnóstico definitivo de hiperatividade
Devem-se diferenciar os casos idiopáticos dos do detrusor é dado pela urodinâmica, na qual se
neurológicos. demonstram contrações involuntárias do detrusor
Biofeedback
Cistoscopia No biofeedback, por meio de um estímulo sonoro
ou visual que alerta a presença de contração do detru-
A cistoscopia deve ser realizada na suspeita de
sor, a paciente aprende a inibir a contração de forma
litíase renal ou vesical, corpos estranhos, cistite crô- consciente. Os serviços que utilizam esta modalidade
nica intersticial, neoplasia de bexiga, ou quando não descrevem melhora de até 85%.
houver resposta ao tratamento clínico. Esse exame
Embora possa ser utilizado como recurso isola-
é obrigatório em pacientes com idade superior a 55
do, habitualmente, ele é aplicado em conjunto com
anos e início recente de sintomas, principalmente se
exercícios da musculatura do assoalho pélvico e trei-
forem fumantes. O achado cistoscópico mais frequen-
namento vesical.
te é trabeculação da parede vesical devido à hipertrofia
do detrusor.
Medicamentoso
As melhores taxas de sucesso com o tratamento
medicamentoso são de 70%. O princípio do trata-
Tratamento mento medicamentoso é o relaxamento da muscu-
Após o diagnóstico de bexiga hiperativa, trata- latura vesical, embora também possa atuar manten-
mentos conservadores constituem a primeira linha do a tensão uretral.
de opções entre as quais estão incluídas a reabilitação As contrações vesicais são decorrentes do es-
do assoalho pélvico e a terapia comportamental. A tímulo colinérgico dos receptores muscarínicos M2
combinação de drogas e terapia comportamental em e M3. Já a abertura da uretra é decorrente da inibição
mulheres produz melhores resultados que o alcança- do sistema simpático com menor liberação de nora-
do por ambas as terapias individualmente. Nota-se, drenalina, que atua localmente promovendo a contra-
então, que diferentemente da incontinência urinária ção do esfincter da uretra.
de esforço, aqui o tratamento de escolha é clínico e a
cirurgia, exceção.
Anticolinérgicos
Os anticolinérgicos provocam inibição dos recep-
tores muscarínicos da bexiga, diminuindo a amplitude
Terapia comportamental das contrações e aumentando o volume da primeira
O consumo de vegetais, pão e carne de frango di- contração e a capacidade funcional da bexiga.
minui o risco de sintomas relacionados com a bexiga Como efeitos colaterais, são referidos boca seca,
hiperativa. As bebidas gaseificadas, a obesidade, o ta- constipação intestinal, turvação visual, entre outros.
bagismo e a diminuição da atividade física são fatores Esses sintomas variam de intensidade de acordo com
de risco e também devem ser evitados. o fármaco e a dose.
É possível fazer um “treinamento vesical”, esta-
belecendo-se horários fixos e aumentados gradativa- Tolterodina
mente para micção, inibindo reflexos nos intervalos. É um antimuscarínico, cujo mecanismo de
Há relatos de melhora da incontinência urinária em ação é a competição direta nos receptores colinér-
até 15% dos casos e dos sintomas relacionados à bexi- gicos periféricos. Há uma seletividade in vivo para
ga hiperativa em 50%. receptores muscarínicos vesicais, fazendo com que
essa droga tenha menos efeitos colaterais e maior coadjuvante da bexiga hiperativa. A partir de seu
adesão das pacientes. A tolterodina é considera- uso, existe risco de retenção hídrica e hiponatremia,
da uma droga de primeira linha no tratamento principalmente no idoso.
da bexiga hiperativa.
Nome
Fármaco Dose recomendada
comercial
Propantelina Tolterodina Detrusitol 1 a 2 mg 2 x/dia
Brometo de Manipulada 15-30 mg 4 x/dia
É uma droga de baixo custo e útil quando a fre- propantelina
quência miccional aumentada é o principal sintoma. Oxibutinina Retemic/ 2,5-10 mg 3 a 4 x/dia
Incontinol/
Frenurin
Oxibutinina Imipramina Tofranil 10-25 mg 3 x/dia
Tabela 25.3
Além do efeito antimuscarínico, apresenta
também ação relaxante muscular e anestésica local.
Tem como efeito principal a inibição dos recepto-
res M1 e M3. minimamente invasivo
Os efeitos colaterais são comuns e podem deter- O uso de substâncias intravesicais no tratamento da
minar abandono do tratamento. O principal deles é a bexiga hiperativa é baseado na suposição de que pequenas
boca seca. fibras aferentes não mielinizadas (fibras-C) seriam respon-
Juntamente com a tolterodina, a oxibutinina é sáveis por um aumento da excitabilidade do detrusor. Em
considerada uma droga de primeira escolha no trata- bexigas normais, o estímulo aferente do reflexo da micção
mento da bexiga hiperativa. é conduzido principalmente por fibras mielinizadas tipo
A-Delta, enquanto as fibras-C estão inativas. Em situa-
ções como infecção urinária e lesão medular, as fibras-C
tornam-se ativas e há aumento do seu número.
Antidepressivos tricíclicos
Imipramina Capsaicina
A imipramina é um antidepressivo tricíclico ini- É usada na forma de instilação intravesical. Exerce
bidor da recaptação de noradrenalina e serotonina na um efeito bifásico sobre os nervos. Inicialmente, ocorre
membrana pré-sinática, resultando em relaxamento excitação, seguida por um bloqueio de longa duração.
vesical, aumento da resistência uretral, ação anticoli- Esse bloqueio leva a uma resistência da ativação das
nérgica e propriedades anestésicas. Apresenta como fibras sensitivas fibras-C pelos estímulos naturais, blo-
efeitos colaterais comuns: boca seca, tremor, sedação queando o estímulo aferente da bexiga para a medula.
e convulsões. Os efeitos cardiovasculares são descritos Os principais efeitos colaterais da aplicação intravesical
como alterações do eletrocardiograma, taquicardia, da capsaicina são desconforto e sensação de queimação
flutter atrial ou ventricular e bloqueio atrioventricu- na região suprapúbica e uretra, que podem ser supera-
lar. A imipramina também pode ser usada no trata- dos com a aplicação de lidocaína antes do procedimento.
mento da noctúria e da enurese noturna. Os riscos
e benefícios da imipramina no tratamento da bexiga
hiperativa ainda não estão bem-esclarecidos para que
seu uso seja recomendado.
Resiniferatoxina
É um análogo da capsaicina, com 1.000 vezes
mais potência. Além disso, gera menos dor quando
instilada na bexiga.
Antidiuréticos Atualmente, os estudos em pacientes com bexiga
O DDAVP (1-desamino-8-D-arginina-vaso- hiperativa estão em andamento para liberação dessa
pressina) é um análogo sintético do hormônio an- medicação.
tidiurético. É útil no tratamento da noctúria e da
enurese noturna, diminuindo o ritmo de filtração
glomerular e, assim, a produção de urina. Está con-
traindicado a pacientes com insuficiência corona- Toxina botulínica
riana ou cardíaca, hipertensão arterial ou epilepsia. É uma neurotoxina produzida pelo Clostridium
Poucos estudos citam sua utilização no tratamento botulinum. Seu uso na musculatura detrusora para o
Neuromodulação sacral
É realizada por meio de um dispositivo, cuja
implantação é feita em dois estágios. O primeiro
consiste no implante de um eletrodo no forame S3,
ligado a um estimulador externo, com o objetivo
de avaliar a integridade dos nervos periféricos,
a viabilidade da estimulação e identificar o local
ideal para posicionamento do eletrodo definitivo,
o que permite um teste terapêutico antes da im-
plantação definitiva. O dispositivo de teste (es-
timulador externo) permanece por 3 a 7 dias no
paciente. Nessa ocasião, este é reavaliado; havendo
uma melhora maior ou igual a 50% nos sintomas,
procede-se ao implante do estimulador definitivo
no subcutâneo. O modo de ação da neuroestimula-
ção sacral ainda não está plenamente esclarecido.
Há evidências para o uso da neuromodulação sa-
cral no tratamento da bexiga hiperativa refratária
ao tratamento farmacológico.
Cirúrgico
Reservado a casos excepcionais, em que as te-
rapias anteriores não foram suficientes. Consiste em
rizotomias e denervações periféricas. Como complica-
ções, essas intervenções podem levar a necessidade de
cateterismo vesical intermitente por toda a vida pela Figura 25.5 A: A incontinência de esforço genuína.
ausência de contração da bexiga, fístulas e litíase. B: Dissinergia de detrusor.
Bexiga neurogênica
Esta é uma condição em que se encontra retenção urinária ou incontinência como resultado de disfunção
uretral ou do detrusor, causadas por lesões neurológicas. O tipo de disfunção é dependente do local da lesão neu-
rológica. A lesão da coluna espinhal acima da região sacral resulta em isolamento medular distal, sendo capaz de
produzir apenas contrações fracas do detrusor e, na maioria dos casos, falta de coordenação (dissinergia) detru-
sor-esfinctérica. Em casos de lesões intracerebrais, pode acontecer perda do controle voluntário da micção, mas
sem incoordenação, geralmente desenvolvendo hiper-reflexia vesical. Quando ocorrem lesões sacrais ou de plexo
pélvico (cirurgias pélvicas radicais, radioterapia, traumatismos, neuropatias), geralmente advém um quadro de
hipotonia vesical, também denominada bexiga neurogênica flácida, com IU por transbordamento ou escória para-
doxal. Nesses casos, perde-se a inervação da bexiga, que elimina uma pequena parte de seu conteúdo (transborda)
quando está extremamente cheia.
Para o diagnóstico de bexiga neurogênica, é fundamental a avaliação neurológica dos segmentos S2 a S4, pois o
centro sacral de controle vesical encontra-se nesses segmentos. O diagnóstico definitivo, porém, baseia-se nos achados
da cistometria, às vezes necessitando de eletromiografia e testes neurológicos mais acurados.
Sugestão de Sugestão de
diagnóstico clínico: diagnóstico clínico:
Especialista
Tratamento:
1- Farmacológico: (antimuscarínicos)
2- Comportamental Falha
26
Infertilidade conjugal
Introdução Epidemiologia
A taxa de concepção mensal de um casal com Cerca de 15% dos casais são inférteis, núme-
número de relações sexuais em torno de seis por mês ro que vem aumentando, pois o principal fator relacio-
sem uso de método anticoncepcional é de 20 a 25% nado ao sucesso de uma gravidez é a idade e o mundo
em mulheres de até 35 anos, o que denota uma dificul- atual gera gestações mais tardias. Com o passar do
dade natural dos seres humanos em procriar. Essa di- tempo, há uma diminuição quantitativa e qualitativa
ficuldade pode ser exacerbada em algumas situações, de gametas, além de um aumento da incidência de do-
gerando a infertilidade ou esterilidade. enças que podem ser obstáculos à fecundação, como
endometriose e miomas (mais incidentes na 3ª e 4ª
Infertilidade é a redução da capacidade fértil e foi
décadas de vida).
definida pela Associação Americana de Medicina Re-
produtiva como a ausência de gravidez após um ano de Estima-se que aproximadamente 30 a 40%
tentativas sem qualquer método contraceptivo. Nesse das causas de infertilidade estão associadas a
grupo de casais inférteis, apesar de todas as técnicas fatores exclusivamente femininos, 25 a 30% a
de reprodução assistida, cerca de 1 a 2% jamais con- fatores masculinos, e cerca de 30% têm causa mista,
seguirão êxito gravídico, passando a ser um casal es- masculina e feminina. Ainda, 15% das infertilida-
des são de causa desconhecida e recebem o nome
téril. Portanto, esterilidade é a impossibilidade total e
de Esca (esterilidade sem causa aparente).
irreversível de gerar filhos, mesmo com as técnicas de
reprodução assistida. Dividimos os fatores femininos causado-
res de infertilidade em três grupos: os associa-
Podemos dividir a infertilidade em dois tipos:
dos a disfunções ovulatórias, que respondem por
primária, quando nunca houve gravidez, ou secundá-
cerca de 30 a 30% dos casos; os de causas tubárias,
ria, se ela já existiu.
peritoneais e uterinas, que representam 25 a 50%
Fecundidade, termo também usado corriqueira- dos casos, com principal participação do fator tubá-
mente, refere-se à capacidade de conceber uma gesta- rio; e os de causas cervicais, infecciosas e imunoló-
ção em um único ciclo. gicas, englobando 5 a 10%.
221
26 Infertilidade conjugal
e menos incômodo. Exceto nos casos de miomas ou mal- Figura 26.4 Avaliação do fator uterino. VHD: vídeo-
formações uterinas, ele não traz grandes informações. histeroscopia diagnóstica; VLP: videolaparoscopia.
Anovulação
Juntamente com o fator tuboperitoneal, a anovulação é uma das principais causas de infertilidade conjugal.
Sua frequência é maior em pacientes mais jovens, ao redor de 20 a 30 anos. Não existem métodos ideais e
diretos para confirmar a presença de ciclos ovulatórios normais. A regularidade dos ciclos menstruais pressupõe
ovulação.
A investigação será feita no intuito de avaliar se está ou não havendo ciclos ovulatórios e ela é dirigida, prin-
cipalmente, em casos de alterações do ciclo menstrual, como espaniomenorreia e opsomenorreia.
Os testes que avaliam a ovulação são:
É o mais antigo, simples e não invasivo. Baseia-se na medida diária da temperatura, sendo que o aumento
do valor basal em 0.2 a 0.3 graus Celsius durante dois dias consecutivos indica possibilidade de ovulação, isso
porque a progesterona da segunda fase do ciclo tem ação termogênica e, se ela está sendo produzida, é porque
deve ter havido ovulação. No entanto, cerca de 20% dos ciclos ovulatórios podem ocorrer sem a curva bifásica da
temperatura corporal basal. A temperatura basal deve ser tomada em repouso durante 5 minutos antes
de levantar-se e sempre na mesma hora.
1a semana 2a semana 3a semana 4a semana
37,3
37,2
37,1
37,0
36,9
36,8
36,7
36,6
aumento da
36,5 temperatura
36,4
36,3 Ovulação
3. Biópsia de endométrio
É uma análise indireta da ovulação. Analisa-se o endométrio cerca de três dias antes da suposta menstrua-
ção. Isso porque, havendo ovulação, a ação da progesterona produzida no corpo lúteo gerado após aquela modifi-
cará o endométrio. É um método de alta acurácia, porém, invasivo.
4. Dosagem de progesterona
Nível acima de 10 ng/mL no 21º dia do ciclo (ou entre 5 e 9 após a ovulação) é confirmatório de ter ocor-
rido ovulação e atividade normal do corpo lúteo. Esse é o exame de escolha devido à facilidade do método.
Todavia, ele não permite avaliação da qualidade da fase lútea, o que deve ser feito com dosagem seriada de
progesterona nos dias 4º, 7º e 10º após a possível ovulação. Um nível médio de progesterona menor que
10 pg/mL é indicativo de insuficiência lútea.
5. USG e Doppler
O uso do ultrassom para detectar a ovulação é o
método padrão, tanto em ciclos naturais quanto em
induzidos.
A ultrassonografia seriada permite a documen-
tação de todo o desenvolvimento folicular, a avaliação
endometrial (aspecto e espessura) e possibilita a con-
tagem de folículos antrais. Um exame único avalia a
possibilidade de cistos ovarianos ou endometriomas,
auxilia o diagnóstico de síndrome de ovários policísti-
cos e das doenças anexiais em geral.
6. Avaliação da reserva ovariana Figura 26.6 Síndrome dos ovários policísticos com in-
Deve ser realizada em todas as mulheres úmeros folículos dispostos na periferia do ovário.
acima de 37 anos e naquelas com mais de 35
anos e irregularidade menstrual ou suspeita
de baixa reserva ovariana, como amenorreicas Fator cervical
(nestas últimas pacientes, é preciso promover
O fator cervical é responsável por uma pequena
menstruação com hormônios antes da realização
parcela da infertilidade feminina. Estão incluídas as
do teste). A avaliação é feita pela dosagem sérica
malformações, alterações anatômicas decorrentes de
de FSH e estradiol na fase folicular precoce, entre
o 3º e o 5º dias do ciclo. Níveis de FSH maiores procedimentos cirúrgicos, neoplasias malignas ou be-
que 15 mUI/mL indicam baixíssima reserva e nignas, pólipos, infecções e fatores imunológicos.
prognóstico gestacional sombrio. Após exame físico normal afastando principal-
O teste do clomifeno (ou teste de Navot) é mente lesões obstrutivas, o fator cervical pode ser
indicado para mulheres com as condições mencio- avaliado in vivo pelo teste pós-coito, ou in vitro pelos
nadas, mas que ainda menstruem. Ele é realizado a testes de lâmina, ambos baseados na interação entre
partir da administração de 100 mg/dia de citrato de os espermatozoides e o muco cervical.
clomifeno do 5º ao 9º dia do ciclo e dosagem de FSH O teste pós-coito, também conhecido como Si-
no 3º e 10º dias do ciclo, ou seja, antes e depois de ms-Huhner, consiste na coleta e análise de material
suposta ovulação induzida. É indicativo de reserva coletado do orifício da cérvice uterina com agulha de
ovariana presente a soma de valores de FSH dosa- insulina, cerca de 8 a 10 horas após uma relação sexual
dos menor que 26. em período ovulatório. Os parâmetros a serem ava-
liados são:
filância do muco: deve ser maior que 75%
7. Avaliação do per昀椀l hormonal cristalização: deve estar presente
Alterações nos níveis de TSH e prolactina po- presença de espermatozoides com movimentos
dem influir no ciclo menstrual, já que atuam na hipó- rápidos (mais de 5 por campo), ou mais de 50%
fise e inibem a liberação de gonadotrofinas, de modo
do total.
que os valores séricos desses hormônios devem ser
investigados. No teste de lâmina, coloca-se espermatozoides
em contato com o muco cervical e observa-se a in-
terface entre os meios. Caso os espermatozoides não
Período FSH LH adentrem o muco ou modifiquem a motilidade ao fa-
Pré-puberal < 2 mUI/mL < 1 mUI/mL zê-lo, considera-se que há fator cervical.
Fase folicular 5 a 20 mUI/mL 10 a 30 mUI/mL
Essas avaliações não são realizadas de maneira
Fase ovula- 12 a 50 mUI/mL 30 a 150 mUI/mL
tória inicial, apenas quando outros testes não mostram al-
Fase luteínica 5 a 20 mUI/mL 10 a 30 mUI/mL terações a despeito da infertilidade.
Menopausa 30 a 150 mUI/mL 40 a 450 mUI/mL De qualquer forma, o fator imunológico deve ser
Tabela 26.3 Valores de referência do FSH e LH investigado sempre que a pesquisa do fator cervical
sanguíneos. for positiva.
Fator psicológico
Há associação entre estresse relacionado ao trabalho e menor probabilidade de concepção em mulheres. O
estresse psicológico pode afetar o relacionamento do casal, diminuindo também a libido e, assim, interferindo
novamente na concepção. Em homens, uma maior frequência de relatos de perda da libido e diminuição na frequ-
ência do coito tem sido observada durante procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Pelo menos dois estudos
randomizados demonstraram que intervenções psicológicas melhoraram índices de gravidez em mulheres com
menos de dois anos de infertilidade.
Idade
Hábitos: álcool, cafeína e tabaco
Obesidade
Mulher Homem
Espermograma
Videolaparoscopia Histeroscopia
Tratamento
O tratamento de infertilidade pode ser de baixa complexidade, in vivo, ou de alta complexidade, in vitro. O
primeiro é reservado apenas para causas anovulatórias ou cervicais e o segundo tem espaço em causas obstrutivas
ou na falha do primeiro tratamento.
Tratamento de baixa complexidade (in vivo) tor masculino em que haja concentração de esperma-
tozoides entre 2 e 5 milhões/mL. Sua realização é feita
É indicado em pacientes anovuladoras ou com
com passos sequenciais.
impedimento cervical e consiste na indução da ovu-
lação seguida de coito programado ou inseminação Primeiramente, deve-se realizar a dessensibiliza-
artificial. Para que seja eficaz, há necessidade de ha- ção hipofisária para que haja um crescimento homo-
ver uma concentração de espermatozoides maior que gêneo dos folículos e para evitar picos inadequados
5.000.000/mL. de LH, que podem vir a ocorrer. Para isso, administra-
-se análogo de GnRH (ou antagonista, de forma mais
A indução ovulatória é feita com citrato de clomi-
rara). Essas drogas ocuparão os sítios de ligação do
feno, medicação que ocupa receptores estrogênicos no
GnRH, impedindo sua ação.
hipotálamo e hipófise, impedindo o feedback negativo
exercido por este hormônio e mantendo a liberação de Ao se usar o análogo, cerca de 14 dias depois par-
FSH para ovulação. Usa-se uma dose de 50 a 200 mg/ te-se para o segundo passo, que é a indução da ovula-
dia (a depender da resposta) por 5 dias consecutivos, ção. Esta será feita com FSH recombinante na dose de
iniciando-se no 2º ao 5º dia do ciclo. 150, 225 ou 300 UI, IM, diariamente.
A partir do 8º dia, faz-se uma avaliação ultrasso- Após cinco dias, avalia-se diariamente o cresci-
nográfica diária dos folículos. Pode ser que haja ovula- mento folicular por ultrassonografia. Quando ao me-
ção espontânea, mas, caso ela não ocorra, no próximo nos dois folículos atingem 18 mm, é hora de adminis-
ciclo deve-se administrar β-hCG 5.000 a 10.000 UI trar β-hCG ou LH recombinante.
quando o folículo atingir 18 mm, medicação que, a se-
Cerca de 32 a 36 horas depois, procede-se a co-
melhança do LH, permitirá a ruptura da parede folicu-
leta dos ovócitos, que em dois a três dias devem ser
lar com liberação do oócito.
fertilizados em laboratório, gerando zigotos. Estes
Caso não haja sucesso após três ciclos com clomi- serão implantados no útero de três (como embriões
feno, parte-se para um hiperestímulo, em que, além de de 4 a 8 células) a cinco dias (como blastocisto) após
clomifeno 100 mg/dia por 5 dias, administra-se gona- a fertilização. O número de embriões a serem trans-
dotrofina (FSH, por exemplo) na dose de 75 a 150 UI feridos foi regulamentado pela norma ética 1957/10
no 1º, 3º e 5º dias do ciclo, como adjuvante. do CFM publicada no Diário Oficial da União em 6 de
O coito será programado para 24 a 72 horas janeiro de 2011 e varia com a idade. Assim, deve ser
após a administração de β-hCG. Em casos de fator ce- de no máximo dois para mulheres até 35 anos, três
vical, alguns tipos de endometriose, ejaculação retró- para mulheres de 35 a 39 anos e quatro para aquelas
grada ou Esca, indica-se a inseminação artificial, ou com mais de 40 anos.
seja, a inoculação de preparado de espermatozoides A ICSI consiste na injeção do espermatozoide di-
no interior do útero 34 a 38 horas após a administra- retamente no interior do ovócito por meio de técnicas
ção de β-hCG. de micromanipulação. É indicada em casos de concen-
É importante garantir que o endométrio perma- tração de espermatozoides menor que 2.000.000/mL,
neça proliferado, pois não se sabe se, nesse sentido, alterações seminais graves e até mesmo em casos em
o ovário responderá ao β-hCG endógeno produzindo que não se produz espermatozoides, podendo-se cole-
progesterona pelo menos até a placenta assumir essa tar precursores por meio de biópsia testicular. A téc-
função. Assim, até a 12ª semana de gestação, deve-se nica segue os mesmos passos da FIV, diferindo apenas
orientar uso de progesterona micronizada via vaginal pela manipulação laboratorial.
na dose de 200 mcg de 12 em 12 horas.
Doação de gametas
A ovodoação é indicada em: mulheres com mais
Tratamento de alta complexidade (in vitro) de 40 anos ou com FSH alto, menopausa prematura,
falência ovariana pós-radio ou quimioterapia, oofo-
Atualmente, os tratamentos de alta complexida-
de realizados são a fertilização in vitro e a injeção in- rectomia bilateral, má resposta a FIV convencional e
tracitoplasmática de espermatozoides (ICSI). risco de transmissão de doença genética grave à prole.
O FIV consiste em unir espermatozoides e ovó- O uso de banco de sêmen é indicado nas seguin-
citos em meio laboratorial e deixar que se encontrem tes situações: falha em fertilização prévia, infertilida-
ao acaso, gerando zigotos. É indicado na presença de de masculina imunológica, risco de transmissão de
fator tubário de infertilidade, Esca sem sucesso com doença genética grave e mãe Rh negativa com aloimu-
inseminação artificial, endometriose avançada ou fa- nização grave e marido Rh positivo.
27
Climatério
Introdução
De acordo com a Sociedade Internacional de Menopausa, o climatério é o período de transição entre a
fase reprodutiva e a não reprodutiva da vida da mulher, podendo ser acompanhado de sintomas. De acordo
com a Organização Mundial da Saúde, o climatério compreende uma fase pré-menopausal, que começa com a
queda na capacidade reprodutiva – o que se dá em torno dos 40 anos de idade –, e se estende até o início da irre-
gularidade menstrual e/ou de sintomatologia atribuível à falência ovariana, de modo que sua duração é variável;
uma fase peri-menopausal, que se inicia com o final da fase anterior e se estende até o primeiro ano após a
menopausa e tem em geral duração de 3 a 5 anos; e uma fase pós-menopausal, que se estende até os 65 anos de
idade, quando se inicia a senectude. A menopausa é dita precoce quando ocorre antes dos 40 anos de idade
e tardia quando ocorre após os 52 ou 55 anos.
Deve-se ressaltar que a menopausa é definida como a última menstruação. Seu diagnóstico é estabelecido
retrospectivamente após um ano sem sangramento uterino.
Última menstruação
Estágios -2 -1 0 +1 +2
Transição Menopausa Pós-menopausa
Terminologia Precoce Tardia Precoce Tardia
Perimenopausa
Duração do está- Variável a) 1 ano b) 1 ano Até a morte
gio
Ciclos menstruais Variação no inter- Falha ≥ 2 ciclos Amenorreia Ausentes
valo (> 7 dias do ou falha ≥ 60 dias por 12 me-
normal) ses
Tabela 27.1 Terminologia da ASRM (Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva), que renomeou os estágios
de senescência reprodutiva conforme o padrão menstrual de FSH.
229
27 Climatério
O estrogênio é um importante auxiliar na manu- Os exames solicitados nessa fase visam a detec-
tenção da rigidez de estruturas de suspensão e sustenta- ção precoce das doenças mais prevalentes, no intuito
ção de vísceras pélvicas, assim como mantém a vasculari- de minimizar os riscos a elas associados.
zação da uretra e sua mucosa proliferada, o que permite O diagnóstico da síndrome climatérica é essen-
melhor coaptação e mais continência. Assim, torna-se cialmente clínico, necessitando, em raras ocasiões, da
fácil perceber que as mulheres climatéricas estão mais realização de exames complementares.
sujeitas a prolapsos genitais e incontinência urinária.
Também por causa da queda estrogênica, ocorre
diminuição da espessura dos epitélios vaginal e cervi-
cal e alteração da flora genital, com consequente mu- Atendimento primário
dança do pH local. Isso favorece quadros de dispareu- Identificação e rastreamento de doenças crônicas.
nia, sinusiorragia, pruridos e corrimentos. Rastreamento do câncer ginecológico.
Incluem-se ainda nesse grupo as disfunções se- Avaliação do risco para doença coronariana is-
xuais e a queda do turgor da pele. quêmica.
3) Alteração a longo prazo: três tipos de mudan- Avaliação do risco para osteoporose.
ças preocupam mulheres na pós-menopausa tardia: as
coronariopatias, a osteoporose e o mal de Alzheimer. Suporte psicológico.
Sabe-se que o estrogênio participa ativamente no pro- Orientação quanto ao significado do climatério.
cesso de remodelação óssea, atua de maneira direta Orientação quanto a hábitos de vida.
sobre os osteoblastos, induzindo sua atividade, e tam-
bém atua sobre os osteoclastos, estimulando a apop- Avaliação e discussão com a paciente sobre a te-
tose e reduzindo sua atividade por meio de inibição rapia hormonal.
de indutores como IL-1 e aumento de inibidores como Visando rastreamento das doenças mais preva-
TGF beta. Além disso, protegem vasos sanguíneos da lentes no climatério, são exames obrigatórios nessa
formação de placas ateroscleróticas. Isso explica por- fase: TSH, lipidograma, glicemia, sangue oculto nas
que ocorre elevação considerável de índices de corona- fezes, citologia oncótica, mamografia, ultrassonogra-
riopatias e osteoporose na pós-menopausa, devendo- fia pélvica e densitometria óssea. São ainda essenciais
-se atentar para as condutas preventivas. o hemograma e a análise urinária.
Níveis de TGO e TGP são importantes quando se
pretende a terapia hormonal.
A seguir, descreveremos as características pecu-
liares dos principais exames.
Exames laboratoriais
Dosagem de FSH: na maioria das mulheres,
não é necessário dosar o FSH para se chegar a
um diagnóstico de menopausa. A amenorreia
com duração de um ano ou mais em uma
mulher com sintomas indicativos de defi-
ciência estrogênica é suficiente para que se
faça o diagnóstico. Alguns casos, no entanto,
justificam a dosagem, tais como em mulheres
Figura 27.3 Redução da produção estrogênica e suas histerectomizadas e naquelas em que a sintoma
manifestações. tologia sugere uma falência ovariana prematura.
A dosagem normal em mulheres que menstruam Exames laboratoriais para avaliação de rotina
no 3º dia do ciclo deve ser de 5 a 10 UI/L, na (cont.)
transição menopáusica, entre 10 e 25 UI/L e, na
Triglicérides
pós-menopausa, acima de 40 UI/L. Vale lembrar
TGO, TGP Alterações na função hepática
que, às vezes, a função ovariana pode aumentar
Sumário de urina Infecção no trato urinário, com-
ou diminuir durante anos.
(e urocultura) prometimento da função renal
Dosagem de inibina: é a primeira substância Pesquisa de san- Doenças do aparelho digestivo
a se alterar no climatério, porém, os custos limi- gue oculto nas fezes
tam sua dosagem em nível populacional. (PSO)
Dosagem de TSH: a avaliação da função tireoi- Tabela 27.4
deana de rotina é recomendada pelo manual de
assistência à mulher no climatério, do Ministério
da Saúde, dada a alta incidência de hipotireoidis-
mo nessa fase.
Colpocitologia oncótica
Lipidograma: as dislipidemias, principalmen-
te aquelas com elevação do colesterol total, do É método muito útil no diagnóstico precoce das
colesterol de baixa densidade (LDL-C) e dos lesões pré-malignas do colo do útero. Para tanto, a
triglicérides e redução do colesterol de alta den- colpocitologia oncótica deve ser realizada a cada três
sidade (HDL-C), são consideradas fatores de anos em mulheres com três exames anuais consecu-
risco endógeno de maior importância para as tivos e normais ou anualmente nos demais casos. Os
doenças cardiovasculares. Todos esses fatores índices de sobrevida estão diretamente relacionados
aumentam na pós-menopausa, justificando seu ao estádio de diagnóstico da doença.
rastreamento em todas as mulheres após os 40 Esse exame faz parte da rotina ginecológica mes-
anos de idade. É desejável que o colesterol total mo em mulheres na menacme, porém, pode apresentar
esteja abaixo de 200 mg/dL e que o LDL se situe algumas dificuldades de coleta e análise no climatério.
abaixo de 130 mg/dL.
A ocorrência de hipo ou atrofia da mucosa pode
Glicemia: o diabetes mellitus é considerado um comprometer a qualidade do material citológico, po-
fator de risco importante para a aterosclerose e dendo ocorrer sangramentos por traumatismos e
para a doença e mortalidade cardíacas. A gli- processo inflamatório, comuns nessa fase. A presença
cemia deve fazer parte dos exames iniciais no de atrofia que comprometa a qualidade do exame ou
climatério, tendo em vista a alta prevalência de traga desconforto importante à mulher indica a utili-
diabetes na população, muitas vezes sem diag- zação prévia de estrogênio vaginal. Preferencialmen-
nóstico e sem sintomas sugestivos. te, utiliza-se estriol ou promestrieno, aplicando-se 2
Pesquisa de sangue oculto nas fezes: o cân- cc do creme durante sete dias e aguardando de três a
cer colorretal é a terceira causa de morte por cinco dias (ideal) para a coleta. Quando a atrofia for
câncer em mulheres e a maioria dos casos ocorre intensa, pode ser utilizado creme à base de estrogê-
acima dos 50 anos. Essa pesquisa deve ser reali- nios conjugados (1 a 2 cc do creme durante sete dias,
zada anualmente, a partir dos 50 anos de idade aguardando de três a cinco dias para coleta), sempre
para todas as mulheres, e a partir dos 40 anos atentando para possíveis alterações endometriais,
para aquelas que possuem alto risco para esse sangramentos ou mastalgia nas mais idosas ou mais
tipo de neoplasia, dado principalmente por his- sensíveis ao tratamento hormonal.
tórico familiar, pólipos intestinais, retocolite e
doença de Crohn.
Mamogra昀椀a
Exames laboratoriais para avaliação de rotina É o principal recurso capaz de diagnosticar pre-
Exame Agravos associados cocemente o câncer de mama, pois detecta as lesões
Hemograma Anemia, irregularidades mens- no estágio subclínico, antecipando o diagnóstico em
truais, processos infecciosos, pelo menos 20 meses em relação ao diagnóstico clíni-
alterações imunológicas co. Deve ser feita a cada dois anos entre 40 e 49 anos
TSH Distireoidismo de idade e, anualmente, acima dos 50 anos, de acordo
Glicemia Intolerância à glicose, diabetes com a Sociedade Americana de Câncer. Outras entida-
Teste de tolerância à des consideram intervalos distintos. As mulheres de
glicose (TTG) alto risco (um ou mais parentes de primeiro grau com
Colesterol total e Dislipidemias câncer de mama antes dos 50 anos; um ou mais paren-
HDL tes de primeiro grau com câncer de mama bilateral ou
câncer de ovário; histórico familiar de câncer de mama endométrio. Quando, ao contrário, a medida for igual
masculino; lesão mamária proliferativa com atipia ou maior que 5 mm ou menor que 8 mm nas condições
comprovada em biópsia) serão avaliadas anualmente expostas, a propedêutica endometrial deve avançar,
a partir dos 35 anos de idade. realizando-se biópsias, histerossonografias e histeros-
O rastreamento assintomático reduz a mortali- copias para afastar lesões endometriais.
dade em 30%, em seguimentos durante 10 anos em
mulheres dos 50 aos 69 anos, com menor morbidade e
melhor qualidade de vida.
Densitometria óssea
O Ministério da Saúde do Brasil, em um traba-
lho conjunto com o Instituto Nacional do Câncer, com É o melhor e mais acurado método de quanti-
a Área Técnica de Saúde da Mulher e com a Sociedade ficação da densidade mineral óssea. A densitometria
Brasileira de Mastologia, publicou, em abril de 2004, óssea permite uma medição não invasiva, rápida e pre-
um documento de consenso em que recomenda a rea- cisa da massa óssea. O pico de massa óssea e a densi-
lização de mamografia em mulheres entre 50 e 69 anos dade óssea observados por ocasião da menopausa têm
em um intervalo máximo de dois anos. No entanto, a bom valor preditivo para o desenvolvimento da oste-
entidade não emitiu parecer com relação à realização do oporose. O exame também é útil na monitorização da
exame em mulheres situadas em outras faixas etárias. massa óssea em pacientes submetidas a medicamen-
tos com atuação no metabolismo ósseo.
Os índices de acerto da mamografia dependem
não só da técnica, mas também do tipo de mama que No Brasil, somente uma em cada três pessoas
está sendo estudada, e algumas mudanças do climaté- com osteoporose é diagnosticada e, destas, somente
rio podem interferir nessa análise. A mama da mulher uma em cada cinco recebe algum tipo de tratamento. A
climatérica apresenta, com a idade, uma substituição taxa anual de fraturas de quadril chega a aproximada-
aDIPAosa, o que favorece sua investigação. No entan- mente 100.000. Cerca de 10 milhões de brasileiros(as)
to, com o uso da terapia hormonal, o tecido mamário sofrem com a osteoporose, 24 milhões de pessoas te-
sofre várias alterações (das glândulas, do tecido co- rão fraturas a cada ano e 200.000 indivíduos morrerão
nectivo e dos ductos) que se traduzem por alterações como consequência direta de suas fraturas.
mamográficas. As alterações mais frequentes são o au- De acordo com o último Consenso Brasileiro
mento da densidade difusa e o aumento da densidade de Osteoporose, as indicações para a densitome-
focal, assimétrico ou não. Esse aumento da densidade tria óssea nas mulheres são as seguintes:
mamária ocorre principalmente em mulheres mais ve- Todas as mulheres acima de 65;
lhas na pós-menopausa e é transitório e rapidamente
Mulheres no climatério que apresentam outros
reversível após a interrupção da terapia hormonal.
fatores de risco para osteoporose (raça caucasia
na, IMC < 18, tabagismo, alcoolismo, sedentaris-
mo, alta ingestão de cafeína, pós-gastrectomia,
doença celíaca etc);
Ultrassonogra昀椀a pélvica
Fratura por trauma mínimo ou atraumática;
A ultrassonografia pélvica impõe-se atualmen-
te como método propedêutico ideal para a avaliação
Evidências radiológicas de osteopenia ou fratu
pélvica por ser um exame não invasivo, sem efeitos ras vertebrais;
colaterais e que pode ser repetido quantas vezes fo- Perda de estatura (> 2,5 cm) ou hipercifose
rem necessárias. Nos dias de hoje, tem sido utilizada torácica;
anualmente com vistas à detecção precoce de tumo- Uso de corticoide por três meses ou mais (doses
res ovarianos e doenças endometriais proliferativas, maiores do que 5 mg/dia de prednisona);
como adenocarcinoma de endométrio, em especial na Índice de massa corporal baixo (menor do que
vigência de terapia hormonal que favorece essa con- 19 kg/nr);
dição. Serve ainda como método propedêutico inicial
em casos de sangramento pós-menopausa que, embo-
Doenças ou uso de medicações associadas à per-
da de massa óssea;
ra mais associados à atrofia, podem ser uma primeira
manifestação de câncer de endométrio. Monitoramento de mudanças de massa óssea de-
correntes da evolução da doença e dos diferentes
Existem vários estudos valorizando a medida
tratamentos disponíveis.
ecográfica da espessura das duas camadas do eco en-
dometrial como marcador de alterações endometriais. A densitometria óssea é calculada em desvios-
Quando a medida encontra-se abaixo de 5 mm, em -padrões (DP), tomando como referência a DMO
mulheres pós-menopáusicas sem terapia hormo- média do pico da massa óssea em adultos jovens. Os
nal, ou abaixo de 8 mm em mulheres com terapia critérios diagnósticos propostos pela OMS baseados
hormonal, pode-se excluir estados patológicos do nesse parâmetro são:
pós-menopausa. Por outro lado, é possível reverter Prevenção e melhoria das moléstias urogenitais atró-
esse processo por meio de atividade física. Também se ficas;
sabe que o exercício físico reduz o risco de osteoporo- Prevenção e tratamento da osteoporose.
se, de doenças cardiovasculares, de diabetes, de obe- Contraindicações da TH:
sidade, de hipertensão arterial, de câncer colorretal e Em vista dos resultados dos últimos estudos, não se justi-
ainda leva à melhoria no estado psicológico. fica o uso de TH em pacientes assintomáticas ou na ausên-
O programa de exercício físico deve ser compa- cia de fatores de risco para osteoporose. Para aquelas por-
tível com a saúde cardiovascular do indivíduo e levar tadoras de doença coronariana, câncer de mama e história
em consideração a presença de alterações articulares, de tromboembolismo, o uso de TH não está indicado. Ou-
tras contraindicações incluem: câncer hormônio-depen-
neuromusculares e metabólicas. Para a mulher clima-
dente, hepatopatia aguda e sangramento genital anormal
térica, caminhadas, natação, hidroginástica e pedalar
de causa não identificada, além do tromboembolismo.
de bicicleta são as atividades físicas mais indicadas,
As contraindicações absolutas da TH são:
por serem atividades aeróbicas com efeito positivo
Câncer de mama e endométrio;
comprovado sobre a saúde cardiovascular e o bem-es-
tar geral, além de serem atividades de baixo impacto Hepatopatia ativa e grave;
Dadzeína;
Serms Gliciteína.
Os Serms não têm ação no alívio dos sintomas para mulheres que apresentam efeitos colaterais
vasomotores, podendo até mesmo agravá-los em algu- durante a TH;
mas mulheres. Por isso, também não são de uso difun- contraindicação à TH;
dido como TH, que geralmente é iniciada a partir dos para mulheres sintomáticas em que a resposta à
fogachos. terapia hormonal é insatisfatória.
5 mg/dia. O alendronato de sódio é o mais utilizado utilização do análogo de PTA, contendo os primei-
e a dose recomendada para o tratamento da os- ros 34 aminoácidos da molécula (PTH 1-34), na
teoporose estabelecida é de 10 mg/dia ou 70 mg/ dose de 20 pg subcutânea/dia, demonstra efetiva-
semana, via oral, em jejum, com água. De acordo mente aumentar a massa óssea, quando compara-
com vários estudos, os bifosfonatos aumentam a massa do ao placebo, bem como reduz significativamente
óssea na coluna e no fêmur e reduzem o risco de fraturas o risco de fraturas.
vertebrais em 30 a 50%. Reduzem também o risco de
fraturas não vertebrais em mulheres com osteoporose.
Não há certeza sobre o seu efeito na redução de fraturas Grupos de pacientes no climatério
não vertebrais em mulheres sem osteoporose.
Pré-menopausa sem déficit hormonal
A calcitonina, apesar de sua ação analgésica rele-
Pré-menopausa com deficiência de progesterona
vante, é considerada de segunda linha nessa terapêu-
tica. Pode ser administrada por via subcutânea ou in- Pré-menopausa com sintomas de hipoestrogenismo
tranasal. A dose indicada é de 200 UI intranasal após Pós-menopausa assintomática
ingestão de cálcio, durante dois ou três anos. Em estu-
Pós-menopausa sintomática
dos dessa droga, nessa dose, houve redução de risco de
fraturas vertebrais de 33 a 36%. Sintomas neurovegetativos
O hormônio da paratireoide (PTH) pode exer- Sintomas psíquicos
cer estimulação na formação ou reabsorção óssea, Sintomas genitourinários
conforme a dose e a maneira como é utilizado. A Tabela 27.8
28
Colposcopia
No VII Congresso Mundial de Patologia Cervical e a aplicação do ácido acético, devido ao edema provoca-
Colposcopia, adotou-se como classificação do pela aplicação deste. Ele também evidencia melhor
colposcópica (cont.) a JEC (junção escamocelular), que costuma estar afas-
Colo não visível tada do orifício interno do colo uterino, aproximando-
V – Achados variados -se das suas periferias. Em geral, é coberta por muco e
Superfície micropapilar, não acetobranca cada papila pode mostrar um capilar central.
Condiloma exofítico O teste de Schiller é negativo, pois o epitélio cilín-
Inflamação drico não contém glicogênio.
Atrofia
Histologicamente, as papilas estão aumenta-
Úlceras das, contíguas e arredondadas no corte longitudinal e
Outros achados bem-individualizadas nos cortes transversais.
1- Alterações menores
Epitélio acetobranco
Mosaico fino
Pontilhado fino Zona de transformação
Leucoplasia tênue
2- Alterações maiores
normal
Epitélio acetobranco acentuado Trata-se de uma reepitelização da ectopia
Mosaico áspero quando esta se afasta externamente do orifício in-
Pontilhado áspero terno do colo do útero, ou seja, tem-se um epitélio
Leucoplasia densa metaplásico que recobre o glandular ectópico. Ela
Vasos atípicos apresenta aspecto erosado ou branco, inicia-se junto
Erosão à JEC primitiva, com restos do epitélio glandular, e
Tabela 28.1 se extende até a nova JEC, ao final da ectopia. O te-
cido glandular recoberto pode continuar produzindo
fluido, mas este não pode ser drenado, o que origina
os cistos de Naboth.
Achados colposcópicos A aplicação de lugol evidencia as áreas da JEC e,
no interior da área de ectopia, as ilhotas do epitélio
A seguir, descrevemos os principais achados col- metaplásico irão fixar o iodo de uma maneira variável,
poscópicos seguindo-se a terminologia definida, em dependendo da maturidade do epitélio.
2002, durante o XI Congresso Mundial de Patologia Com a aplicação de ácido acético, ficam mais evi-
Cervical e Colposcopia de Barcelona, pela Federação dentes os locais onde existem epitélio glandular e epi-
Internacional de Patologia Cervical e Colposcopia. télio metaplásico.
Histologicamente, o aspecto varia de acordo com
o local da biópsia. Predominando a área de ectopia,
Normais tem-se mais papilas, e, nos locais do epitélio metaplá-
sico, tem-se um epitélio escamoso de espessura variá-
vel sobre o epitélio glandular.
Epitélio escamoso original
Situa-se desde a junção escamocolunar até o fun-
do do saco vaginal. Apresenta-se com coloração rosa-
da, sem a visualização dos vasos do tecido conjuntivo.
Anormais
A aplicação do ácido acético a 5% não modifica A grande importância da colposcopia está em
o epitélio e a embrocação com lugol torna-o marrom- se identificar as áreas alteradas, em especial onde há
-escuro, ou seja, com teste de Schiller negativo. zona de transformação anormal (ZTA), para que elas
sejam biopsiadas com vistas à detecção de neoplasias
Mostra-se como um epitélio pluriestratificado, intraepiteliais.
bem-diferenciado histologicamente.
A ZTA consiste no aparecimento de um epité-
lio esbranquiçado, antes ou depois da aplicação do
ácido acético, com ou sem alterações vasculares,
Epitélio cilíndrico que pode mostrar em seu interior arranjos de mo-
saico, pontilhado, leucoplasia ou vasos atípicos.
É chamado de ectopia, ou seja, marca a presença
Em geral, esse epitélio esbranquiçado localiza-se entre
de epitélio glandular na ectocérvice, mostrando papi- a última glândula e a nova JEC.
las ou micropapilas que se tornam mais evidentes após
O pontilhado também é visto nas colpites, onde 1- Superfície irregular, erosão ou ulceração.
os capilares dispõem-se difusamente sobre a ectocér- 2- Alteração acetobranca densa.
vice sem demarcação entre o tecido atípico e o normal.
3- Pontilhado e mosaico amplos e irregulares.
O teste de Schiller é positivo no pontilhado e negativo
na colpite. 4- Vasos atípicos.
4- Mosaico, pontilhado e
vasos atípicos
Semelhantes aos do colo uterino. Podem de-
monstrar aspecto de condiloma plano ou acuminado
e alguns se relacionam com NIV.
Figura 28.4 A e B: epitélio acetobranco denso. Figura 28.8 Mesma paciente com teste de Schilller.
Descubra as pessoas diante das quais você se sente mais ágil, mais criativo
e mais capaz de perseguir seus objetivos de vida.
Mantenha distância de pessoas que o fazem sentir-se apreensivo ou que o inflenciam a duvidar de si mesmo.
Acima de tudo, fique afastado das pessoas que o esgotam,
fazendo com que a sua energia seja toda consumida na tentativa de manter o relacionamento.
Dennis F. Augustine
29
Fisiologia mamária
Figura 29.2 Mamilos supranumerários e tecidos podem surgir ao longo da “linha do leite”, uma linha embrionária.
O mamilo (ou papila) está localizado centralmente, exceto por uma pequena área sobre a quarta costela,
envolto pela aréola. A aréola é um espessamento cutâneo de onde se originam os dois brotos mamários e o ma-
hiperpigmentado, de formato circular, medindo entre 4 e milo. Esse evento ocorre na quinta semana de gesta-
6 cm, geralmente situado na projeção do 4º arco costal. Na ção e é coincidente com o desenvolvimento dos órgãos
cútis areolar, existem saliências denominadas glândulas urogenitais. A politelia ocorre quando há falha da re-
de Morgani, que são glândulas sebáceas modificadas, as gressão da crista mamária. A persistência da crista em
quais se hipertrofiam na gravidez e secretam material pontos diferentes dos habituais ocasiona a formação
gorduroso com a função lubrificar a papila. As saliências de mais brotos mamários acessórios e de um mamilo
cutâneas dessas glândulas hipertrofiadas na gravidez para cada ponto de falha de regressão da crista. Des-
são conhecidas como tubérculos de Montgomery. sa forma, a politelia pode ser unilateral ou bilateral. O
A papila é uma formação cilíndrica com largura e altura número de mamilos acessórios é variável.
de aproximadamente 1 cm e está localizada no centro da
aréola, onde existem de 15 a 25 óstios, que correspon-
dem cada um à drenagem dos ductos galactóforos princi-
pais. A papila é composta por epitélio infiltrado por fibras
musculares lisas circulares e longitudinais. A contração
do músculo liso, induzida por estímulos táteis, sensiti-
vos ou autonômicos, produz a ereção da papila e causa o
esvaziamento dos ductos lactíferos. O processo de ereção
é sustentado por estase venosa no tecido vascular erétil.
Alguns folículos pilosos podem ser encontrados em tor-
no da circunferência areolar.
Mamilos supranumerários, ou tecido mamário,
estão presentes, eventualmente, ao longo da linha
mamária, que se estende a partir da axila durante o
desenvolvimento embrionário. Figura 29.4 Imagem de mamilos acessórios (ou
Politelia é o nome dado à presença de um ou mais supranumerários).
mamilos (papilas) supranumerários. Conforme descri-
to previamente na embriogênese normal, a crista ma- A politelia é evidente no nascimento e o exame
mária surge e se estende da axila até a face medial das físico de todo recém-nascido deve identificar o nú-
coxas. Normalmente, a crista regride completamente, mero e a localização das papilas (mamilos). Diversas
Estima-se que a cadeia axilar receba 97% do fluxo linfático de mama e a cadeia torácica interna, em
torno de 3%.
Na região axilar, estão contidos em média 20 linfonodos, cuja distribuição topográfica foi classificada
por Berg em três níveis:
Nível I: localizado abaixo da margem inferior do músculo peitoral menor, contém em média de 12 a 15 linfo-
nodos.
Nível II: localizado entre a margem superior e inferior do músculo peitoral menor, ou seja, atrás dele, e contém
de 4 a 6 linfonodos.
Nível III: localizado acima da margem superior do músculo peitoral menor, entre este e o ápice da axila, e con-
tém de 3 a 5 linfonodos.
Entre os dois músculos peitorais, existe a cadeia linfática de Rotter, com 1 ou 2 linfonodos.
Na cadeia torácica interna existem em média 4-6 linfonodos, com distribuição variável nos espaços intercos-
tais, em média um por espaço. No primeiro e no segundo espaço, os linfonodos geralmente são mediais aos vasos
torácicos internos, e nos espaços inferiores, ocupam geralmente a borda lateral desses vasos, que se localizam a
aproximadamente 2 cm da borda do osso esterno. Os linfonodos situam-se abaixo do músculo intercostal, entre os
arcos costais, logo na frente do folheto parietal da pleura; algumas vezes, localizam-se na face posterior da costela.
Aproximadamente 20% das mulheres apresentam linfonodos intramamários. Eles podem estar dispos-
tos em qualquer quadrante e parecem não estar associados às vias usuais de drenagem linfática da mama.
Fase proliferativa
A mama, em geral, apresenta glândulas pouco desenvolvidas, ou seja, os lóbulos mostram-se compactos
e com luz mal definida. Não se observam figuras de mitose e a maioria das células epiteliais possui núcleos pe-
quenos, irregulares, escuros e ricos em heterocromatina. O estroma mamário apresenta quadro semelhante; é
compacto e constituído por fibroblastos, contendo núcleos irregulares e ricos em heterocromatina. Esses dados
indicam ser pequena a atividade celular.
Menstruação
Alguns dias antes do início da fase menstrual, as
mamas tornam-se mais volumosas e tensas, podendo
se apresentar dolorosas à palpação. Com o início da
menstruação, as mamas em geral diminuem de volu-
me, devido principalmente à perda de substância in-
tercelular amorfa e consequente diminuição da água
de solvatação.
Alterações no ciclo
gravídico-puerperal
Figura 29.6 Quadrantes da mama esquerda e cauda
axilar de Spence.
Gravidez
Com o progredir da gestação, as mamas aumen- Padrões de drenagem linfática
tam de tamanho, principalmente pelo maior desen- Área da mama Drenagem
volvimento do parênquima. Em relação ao estroma,
Superficial
os fibroblastos tornam-se mais volumosos e secretam
principalmente glicosaminoglicanas. O crescimento é Quadrante supe- Linfonodos escapular, braquial,
bem evidente até o sexto mês de gravidez. rior lateral intermediários em direção aos lin-
Concomitantemente a esses eventos, ocorre re- fonodos axilares
modelação do tecido conjuntivo, no qual parte do con- Porção medial Cadeia mamária interna em di-
reção à mama contralateral e ab-
juntivo interlobular (denso) pode ser substituído por
dome
tecido epitelial. Ocorre, ainda, nítido aumento dos áci-
Profunda
nos no interior dos alvéolos. Nessas áreas, há grande
proliferação de capilares dilatados e tortuosos. Parede e porção Linfonodos axilares posteriores
torácica posterior (subescapulares) do braço
Parede torácica Linfonodos axilares anteriores
anterior (peitorais)
Braço Linfonodos axilares laterais (bra-
Involução na quiais)
Área retroareolar Linfonodos interpeitorais (de Rot-
pós-menopausa ter) na cadeia axilar
Aréola e mamilo
Na pós-menopausa, a mama sofre um processo Linfonodos axilares médios, subclaviculares e supraclavi-
de atrofia. No parênquima, os ácinos desaparecem e culares
o sistema de ductos se reduz. O estroma perde par- Tabela 29.1
30
Propedêutica mamária
Inspeção estática
A inspeção estática analisa o número de mamas,
sua simetria, forma, volume, contorno e modificações
de pele (que podem ser edema e eritema – sugestivos
de mastite, retração da pele, infiltração por células
neoplásicas ou ulceração – sugestivos de tuberculose
mamária ou carcinoma avançado e circulação colateral
– como nos casos de gestação e sarcomas).
Inspeção dinâmica
Visa a contratura do músculo peitoral maior, para re-
alçar a presença de nódulos ou outras lesões, como retra-
ções ou abaulamentos. Para realizar a inspeção dinâmica,
a paciente deve colocar as mãos na cintura e pressioná-las
contra esta, no intuito de contrair a musculatura peitoral
e, como segunda manobra, ela deve elevar os braços.
256
Ginecologia
Palpação
Pode ser pela técnica de Vealpeau (com as
mãos espalmadas) ou pela técnica Bloodgood (dedi-
lhamento). Todos os quadrantes devem ser avaliados.
A expressão dos mamilos na busca de fluxo papilar
também deve ser realizada por meio da compressão da
base da papila, em toda a sua volta, quando a paciente
se queixar de secreção mamilar.
Figura 30.5 Palpação da cauda de Spence.
Exame visual
1) Em frente ao espelho, olhe suas mamas, pro-
Exames subsidiários curando alterações nos mamilos, pregas na pele e/ou
e autoexame covinhas.
2) Junte as mãos atrás da cabeça e empurre-as
Para a detecção precoce do câncer de mama na para a frente. Observe se há alguma mudança na pele
população geral, as recomendações vigentes são: ou na forma das mamas.
Mamografia anual, a partir dos 40 anos de idade; 3) Aperte as mãos firmemente contra seus qua-
em mamas radiologicamente densas, preconiza dris e dobre-se um pouco para a frente. Observe com
-se a associação com ultrassonografia. muita atenção se a pele ou a forma das mamas sofre
alguma mudança.
Exame físico anual, por médicos e enfermeiros, a
partir dos 25 anos.
Autoexame mensal, a partir dos 25 anos.
Para as mulheres de alto risco hereditário de cân- Palpação
cer de mama, a primeira mamografia deve ser solicita- 1) Deite-se com uma almofada pequena embaixo
da 10 anos antes da idade em que a parente de primei- das costas do lado direito, com o braço deste mesmo
ro grau teve câncer de mama. Depois, essa solicitação lado debaixo da nuca.
2) Com os três dedos do meio de sua mão esquer- calcificações são as menores de 2 mm e são as mais
da, examine a mama direita, firme e cuidadosamente, preocupantes, pois, em geral, macrocalcificações estão
em toda sua extensão. Comece pela superfície externa, associadas a processos benignos.
apertando a parte média e plana de seus dedos contra a
mama. Mova-os em pequenos círculos de fora para den- d) presença de alterações estruturais – retração
tro, até chegar ao mamilo. Preste atenção se existem cutânea, espessamento de pele, adenopatia axilar, hi-
massas ou inchaços que você não tenha notado antes. pervascularização e distorção de arquitetura.
3) Repita o procedimento para examinar a mama Considera-se como sinal primário de malignidade a
esquerda. presença de nodulações e, como sinal secundário, micro-
4) Agora, de pé, toque suavemente a mama direi- calcificações, espessamentos, retração e adenopatia axilar.
ta com os dedos da mão esquerda, começando na axila Já como sinais indiretos de malignidade, temos: distorção
e movendo pouco a pouco a mão ao redor da mama em da arquitetura mamária, assimetria e neodensidade.
direção ao mamilo.
5) Inverta a posição para examinar o lado esquer-
do. Esse exame pode ser feito também durante o ba-
nho, já que, com o peito ensaboado, os dedos deslizam
facilmente e não é preciso pressionar.
Consideram-se os métodos por imagem mais
importantes para a detecção precoce do câncer de
mama, a saber: mamografia (que identifica lesões
suspeitas a partir de 1 mm) e ultrassonografia.
Mamogra昀椀a
Figura 30.8 Mulher sendo posicionada no mamógrafo.
A mamografia deve ser realizada em duas inci-
dências obrigatórias, a craniocaudal e a oblíqua mé-
dio-lateral. Como é necessário que se faça compressão
do tecido mamário durante o exame, existe a sensação
de incômodo na maioria das vezes. Para minimizar
esse inconveniente, recomenda-se que as mamogra-
fias sejam feitas na primeira fase do ciclo menstrual,
quando as mamas estão menos túrgidas. Além disso,
é aconselhável a prescrição de um analgésico comum
por via oral aproximadamente 15 minutos antes da re-
alização do exame. No caso de alterações suspeitas, a
mamografia pode ser complementada com a compres-
são localizada, que visa desfazer estruturas sobrepos-
tas. Essa compressão é indicada nos casos de assime-
tria focal ou com a magnificação, que amplia uma área
desejada e é indicada nos casos de microcalcificações.
A análise da mamografia deve levar em considera-
ção a idade da paciente, paridade, ciclo menstrual, utili-
zação de hormônios, perda de peso, cirurgias mamárias
prévias e o motivo pelo qual a mamografia foi solicitada
(rastreamento ou alterações no exame físico).
Ultrassonogra昀椀a (USG)
mamária
O princípio da ultrassonografia para diagnóstico
por imagem é o fenômeno de reflexão, à medida que
o feixe ultrassônico, ao atingir meios de diferentes
densidades, é parcialmente refletido, e a qualidade de
ondas refletidas depende da impedância acústica dos Figura 30.14 Ultrassonografia. Imagem anecoica
tecidos. Para se realizar o exame, é necessário que a com componente hiperecoico que não se modifica às
paciente se deite em decúbito dorsal, com os braços alterações de decúbito, correspondendo ao nódulo de-
scrito na mamografia. Apresenta fluxo ao Doppler em
elevados. Inicia-se a passagem sistemática do transdu-
cores (não mostrado). Trata-se de um cisto complexo
tor pelos cinco quadrantes de cada mama, em secções
(com componentes cístico e sólido).
transversais e longitudinais, incluindo a região retro-
areolar (quadrante central). Qualquer achado anormal
precisa ser analisado minuciosamente por meio de Como nos laudos mamográficos, os ecográficos
inúmeros “cortes” ultrassonográficos sobre a área. devem ser descritivos e conclusivos, evitando-se ter-
A USG mamária NUNCA substitui a mamo- mos de descrição histopatológica.
grafia no rastreamento do câncer de mama e A proposta para classificação dos laudos ecográ-
não deve ser solicitada como exame de rastrea- ficos que mais tem sido empregada é o Modelo BI-
mento. A ultrassonografia é quase sempre indicada RADS, revisto recentemente (dezembro de 2003).
em conjunto com a mamografia; os dois métodos se
completam. As principais indicações de ultrassono- Categoria 1 – Negativo
grafia mamária são as seguintes: Sem achados ultrassonográficos
Rastreamento de câncer em mamas densas ou É necessário ter mamografia para correlação
jovens. Conduta: nada a fazer.
Esclarecimento e caracterização de nódulos ma- Categoria 2 – Achado benigno
mográficos para discernir quanto à presença de Cistos simples
conteúdo líquido. Cistos com debris
Monitorização de punções esvaziadoras de cistos. Cistos septados
Orientação de biópsias de fragmento (core) ou Linfonodo intramamário
mamotomias. Alterações pós-cirurgia e/ou radioterapia
Pesquisa de recidivas locais em mamas operadas Conduta: nada a fazer. Não é necessário controle. Pode-se
e irradiadas ou após reconstrução mamária. indicar punção se o cisto for palpável e/ou se a paciente for
Diagnóstico de ginecomastia. sintomática.
Ninguém vive o tempo necessário para aprender tudo o que precisa ser aprendido a partir do zero.
Para ser bem-sucedido, precisamos, sem sombra de dúvida,
encontrar pessoas que já tenham pago o preço para aprender a fim de alcançar nossos objetivos.
Brian Tracy
31
Afecções benignas da mama
foi estratificada em categorias de risco relativo. Isso e dor fisiológica devido à influência hormonal cíclica
ocorreu a partir de 1985, em conferência de consenso, sobre a mama. A secreção papilar é um sintoma co-
na qual o Colégio Americano de Patologia sugeriu o mum na clínica com muitas causas diferentes, como
abandono do termo doença fibrocística para com- papiloma intraductal, ectasia ductal, cistos infecta-
plexo fibrocístico, dada a alta prevalência do quadro e dos, abscessos, câncer de mama e, raramente, esta-
o pequeno risco de câncer para a maioria das biópsias. dos hiperprolactinêmicos.
O relatório agrupou os elementos da doença fibrocísti-
ca em quatro categorias definidas pelos níveis de risco
para câncer: não proliferativas, proliferativas com e Classificação clínica de Caldwell
sem atipia e carcinoma in situ. I- Lesões sem Nodularidade fisiológica
descarga papilar Mastoplasia: adenose e hiperplasia
epitelial
Intensidade Dimensão Fibroadenoma
Lesões
do Risco do Risco Tumor phyllodes
Não considera- Adenose simples, flo- Cistos
das de risco rida ou esclerosante; Fibroadenolipomas ou harmarto-
macro ou microcis- mas
tos; ectasia ductal; Galactocele
fibroses; hiperplasias Fibromatose
leves (com até quatro Lipoma
camadas de células) e II- Lesões Adenoma
metaplasias apócri- associadas à Lesões papilares
nas descarga papilar Ectasia ductal
Risco leve 1 a 2 vezes Hiperplasias modera- Galactorreia
das (quatro camadas III- Lesões Mastite puerperal e abscessos da lac-
de células); papilomas inflamatórias tação
com eixo fibrovascular Abscesso subareolar crônico recidi-
Risco moderado 5 vezes Hiperplasia ductal ou vante
lobular atípicas Abscessos da mama
Risco acentuado 8 a 10 vezes Carcinoma ductal ou Eczema areolar
lobular in situ Necrose gordurosa
Flebite superficial ou doença de
Tabela 31.1 Lesões mamárias e risco relativo para
Mondor
carcinoma invasivo.
IV- Anormalida- Distúrbios congênitos e adquiridos
des do desenvol-
As lesões benignas da mama são importantes não vimento da dor
só por sua frequência, mas também pelo diagnóstico di- mamária (cíclica
ferencial com o câncer de mama. A patologia mamária ou não cíclica)
benigna pode ter origem congênita, inflamatória, trau- Tabela 31.2
mática, neoplásica ou hormonal, entretanto, a etiologia
de grande parte dessas lesões é obscura. Não está de-
finido se certas condições são o resultado de infecção,
inflamação química, alterações degenerativas da idade
ou metaplasia. Há ainda a possibilidade de essas ano-
Diagnóstico
malias estarem ligadas a influências genéticas e agen- O diagnóstico se inicia com uma história clínica
tes infecciosos como vírus. Não havendo como separar cuidadosa, incluindo a data do exame; a idade da pa-
etiologicamente as afecções benignas da mama de for- ciente; a queixa principal; a data de início, duração e
ma coerente, a classificação das doenças mamárias é ba- características dos sintomas; a presença e as caracte-
seada principalmente em critérios clínicos. rísticas da dor; e a presença da descarga papilar, se bi-
lateral, espontânea ou provocada. O histórico familiar
inclui a pesquisa de casos de câncer de mama. Devem
ser verificados dados obstétricos como paridade, ida-
Conceito e classi昀椀cação de da paciente na primeira gestação e parto, amamen-
tação e tempo. Dieta, estado nutricional e medicações
Para fins didáticos, será adotada a classificação que podem ter como resposta uma alteração mamária
clínica clássica de Caldwell, que divide as lesões de também devem ser investigados.
acordo com a presença ou não de descarga papilar, O exame físico é essencial não só para o diagnós-
lesões inflamatórias, anomalias do desenvolvimento tico correto, mas também para indicar o tratamento
apropriado. A presença de massas, eritema, edema, para-areolar. As incisões periareolares são recomen-
retração e ulceração são elementos importantes para o dadas, exceto quando a lesão se localiza muito longe
diagnóstico clínico diferencial entre lesões benignas e da aréola. A anestesia geral raramente é necessária.
malignas. A axila e a fossa supraclavicular deverão ser Pode-se empregar a infiltração local com lidocaína ou
examinadas com a paciente em pé ou sentada. É acha- o bloqueio intercostal.
do usual um espessamento maior do tecido mamário
no quadrante superior externo. Na mulher madura, a
maior parte do tecido mamário se localiza nesse qua-
drante e ao redor do complexo areolar. Não é surpresa, Lesões sem descarga
portanto, que a maioria das patologias mamárias se
localizem nesse local. Também é muito importante a Nodularidade 昀椀siológica
quantidade de tecido gorduroso da mama. Uma mama Podem apresentar-se como nodulações focais
volumosa frequentemente requer o emprego de ou- ou disseminadas por toda a glândula mamária, si-
tros métodos diagnósticos. Os achados físicos devem mulando tumorações quando volumosas. Tais mo-
ser cuidadosamente documentados, de preferência dificações levam as mulheres a descrever as mamas
em forma de diagrama, indicando precisamente o lado como incômodas, pesadas e com áreas císticas de ta-
acometido, o tamanho da lesão e as condições a ela manho variável. A etiopatogenia não é totalmente
associadas. A propedêutica complementar é indicada conhecida, porém, parece evidente que o desequi-
judiciosamente e pode incluir exames como biópsia líbrio entre os níveis de estrogênio e progesterona
aspirativa, biópsia de fragmento e exames de imagem. induz algumas modificações epiteliais e estromais.
Sempre que os resultados forem concordantes, Em casos específicos de tumorações, uma prope-
a avaliação diagnóstica composta pelo exame clínico dêutica adequada se impõe.
mamário, punção aspirativa, ultrassonografia e ma-
mografia têm condições de estabelecer um diagnóstico
clínico bastante confiável. A maioria das doenças be-
nignas da mama pode ser adequadamente investigada Mastoplasia: hiperplasia epitelial e
apenas com o auxílio desses exames. Isso permite o adenose
acompanhamento e o tratamento da doença de forma
A hiperplasia epitelial é o aumento do número
confiável. Atualmente, a biópsia de fragmento tam-
de camadas das células epiteliais (três ou mais) acima
bém tem suas indicações nos casos em que se deseja
da membrana basal, acometendo ductos terminais ex-
esclarecer a natureza da lesão. No entanto, se houver
tralobulares (hiperplasia ductal) ou intralobulares (hi-
qualquer dúvida a respeito do diagnóstico em um caso
perplasia lobular). Ocorre proliferação de células com
de nódulo dominante – ou o médico e a paciente esti-
aumento do diâmetro do ducto. É atípica se houver
verem inseguros ou ansiosos com relação ao diagnós-
atipia do núcleo das células proliferadas ou simples se
tico –, será preciso proceder a biópsia a céu aberto para
não houver. Clinicamente, pode apresentar-se como
o estabelecimento do quadro histopatológico exato.
nódulos ou associada a outras nodulações mamárias.
O examinador deverá ter sempre em mente a
A adenose tumoral é uma doença mamária
possibilidade da presença de uma lesão maligna ou
muito rara, representada microscopicamente por
precursora, uma vez que o diagnóstico precoce segu- um quadro de aumento dos ácinos que crescem a
ramente vai diminuir a mortalidade. ponto de produzir um tumor palpável distinto. Os
tumores são pequenos e firmes, não tão endurecidos
como a maioria dos carcinomas. Entretanto, à palpa-
ção, o diagnóstico diferencial entre esses dois tipos
Tratamento de tumores é difícil. É uma doença da menacme, em
geral acometendo mulheres na quarta década de vida.
Como a maioria dos nódulos mamários benignos
deverá ser ressecada, dois aspectos devem ser consi-
derados com atenção: o estético, já que esses tumores
são mais frequentes em mulheres jovens, e o psicoló-
Fibroadenomas
gico, pois essas pacientes temem o câncer e é neces- São formações nodulares, pseudoencapsuladas e
sário amenizar a ansiedade natural. A incisão nunca resultantes do crescimento do epitélio e do estroma
deve ser radiada, mas sim arciforme, seguindo as li- periductal. Constituem os tumores mais comuns da
nhas cutâneas de Langerhans, que são concêntricas e mama e podem ser vistos em qualquer época após
circulares em torno da aréola e do mamilo. De acordo a puberdade. A incidência é maior na terceira década
com a localização do tumor, quatro vias de acesso po- de vida, acometendo mais frequentemente mulheres
dem ser utilizadas: periareolar, axilar, inframamária e abaixo dos 25 anos de idade. Essas formações nodula-
res podem ser observados em mulheres menopausa- na jovem, faz sentido uma conduta seletiva individu-
das, mas o mais provável é que tenham surgido antes alizada, levando em consideração os resultados da pro-
da menopausa e se tornado visíveis após a involução pedêutica, a idade da paciente e a vontade desta.
dos tecidos que os cercam. Se muito pequenos e perceptíveis apenas no exa-
Sua etiologia não é claramente conhecida. Sabe- me de imagem, os fibroadenomas podem ser observa-
-se que o desenvolvimento da mama inicia-se com os dos no exame clínico e imagenológico. Em pacientes
estímulos hormonais que deflagram a puberdade. A com idade inferior a 25 anos, após exame citológico
mama pré-púbere é constituída de reduzido número (punção aspirativa por agulha fina – Paaf) ou histo-
de pequenos ductos. Mediante o estímulo hormonal patológico (biópsia por agulha grossa – core biopsy)
puberal, ocorre o desenvolvimento ductal, com acrés- que afaste malignidade, pode-se aguardar. Nesse caso,
cimo de estruturas lobulares. Os lóbulos desenvol- a paciente é orientada a autoexaminar mensalmente
vem-se especificamente entre 15 e 25 anos de idade e, ao menor sinal de crescimento do nódulo, ela deve
e representam o sítio de origem dos fibroadenomas, retornar ao serviço para reavaliação clínica e ultras-
provavelmente decorrentes de reação anormal e in- sonográfica. O exame físico realizado pelo médico
tenso influxo hormonal fisiológico do período. deve ser realizado semestralmente por três anos
Estudos recentes demonstraram a existência e depois, anualmente. A transformação maligna é
de receptores de estrogênio em fibroadenomas. extremamente rara e nunca ocorre antes dessa ida-
Raramente ocorre no homem e é mais comum na de. Um tipo especial é o fibroadenoma juvenil, que
raça negra. ocorre na puberdade, cresce rapidamente, deforma
a mama e pode ser confundido com massas tumo-
O diagnóstico é essencialmente clínico, da-
rais ou com hipertrofia.
das as características muito típicas desses tumores.
Indolores, bem-delimitados, móveis e de contornos
Nódulo compatível
arredondados ou lobulados, eles apresentam uma
com fibroadenoma
consistência firme e semelhante à borracha, podendo,
quando calcificados, tornarem-se pétreos. Normal-
mente, ao se desenvolver, o fibroadenoma cresce até Idade < 25 anos Idade > 25 anos
atingir 2 a 3 cm de diâmetro e depois se estabiliza.
Mas, na verdade, depois de bem-formado, o compor-
tamento biológico do fibroadenoma é variável e po- Desejo de Opção por
dem ocorrer três possibilidades: regressão espontânea conservação remoção
(total ou parcial), manutenção de tamanho ou cresci-
mento. Os nódulos que persistem após a menopausa
sofrem atrofia e hialinização e, muitas vezes, processo PAAF / core-biopsy
de calcificação.
Geralmente, são únicos, porém, em 15% dos ca- Resultado Resultado
sos, surgem múltiplos na mesma mama ou bilaterais. normal alterado
O achado radiológico característico é de um
nódulo com limites precisos, densidade semelhan- Observação
te à do parênquima mamário e rodeado por peque- semestral por
3 anos
na camada de hipotransparência. A mamografia é
pouco elucidativa nas pacientes jovens, devido à hi-
perdensidade mamária. Nessas pacientes, o uso da Crescimento
ultrassonografia pode detectar uma massa sólida, de
média atenuação acústica, relativamente homogênea
Acompanhamento
e com limites precisos. Nas mulheres menopausadas, é anual Exérese
frequente o achado de calcificações grosseiras no inte-
rior do nódulo. O carcinoma circunscrito mostra mui- Figura 31.1
tas vezes o aspecto clínico e radiológico do fibroadeno-
ma, sendo necessária a confirmação histopatológica.
Cistossarcoma Phillodes
Neoplasia rara, descrita por Mueller em 1938,
Conduta cujo nome é devido ao aspecto macroscópico do tumor
Tendo em vista os conhecimentos sobre o compor- – cisto e phillodes (folha em grego) –, que se apresen-
tamento biológico dos fibroadenomas e reconhecendo- ta como projeções em forma de folhas no interior de
-se a raridade da concomitância com neoplasia maligna cavidades císticas. O termo sarcoma foi utilizado para
Cisto
Simples Complexo
Punção
líquido sanguinolento
células atípicas
área endurecida
após punção
Acompanhamento Cirurgia
Fibroadenolipomas ou harmartomas
São tumores bem-circunscritos que não possuem
uma cápsula verdadeira e se compõem de quantidades
variáveis de gordura e de tecidos glandulares e conjun-
tivos fibrosos. Essas lesões são raras.
Galactocele
É uma lesão não neoplásica, não inflamatória,
causada pela obstrução canalicular e com consequen-
te acúmulo de secreção láctea em mamas lactantes.
Afecção pouco comum, seu diagnóstico é baseado em
anamnese, exame físico e punção. Nela, nota-se nodu-
Figura 31.3 Cisto simples de mama: conteúdo an- lação sem características inflamatórias que geralmen-
ecoico sem imagens sólidas em seu interior. te é curada com punção, na qual se usa uma agulha
de grosso calibre, pois o material leitoso retido pode
permanecer muito tempo na mama e adquirir uma
Indica-se a exérese cirúrgica de um cisto para consistência mais firme. Quando não for possível sua
descartar a presença de câncer nas seguintes condi- aspiração, é necessário realizar incisão e drenagem.
ções: encontro de células atípicas na citologia, cisto
complexo no ultrassom, conteúdo sanguinolento, per-
manência de área endurecida após punção e recidiva
no mesmo local. Fibromatose
Inicialmente, temia-se o risco de deposição de A fibromatose mamária, ou tumor desmoide da
células cancerosas ao longo do trajeto da agulha da glândula mamária, é rara e corresponde a cerca de
aspiração, o que não foi confirmado em vários estu- 0,2% dos tumores da mama. Na literatura, há cer-
dos. A incidência de carcinomas intracísticos está em ca de 30 casos relatados. Ela deriva de estruturas
torno de 1/1.000 cistos palpáveis e, mesmo quando musculoaponeuróticas, ocorre em mulheres entre 17
existe carcinoma intracístico, raras vezes a citologia e 80 anos e tem etiopatogenia obscura. São tumores
consegue definir o diagnóstico. A citologia do líqui- que apresentam tamanho variável e crescimento rápi-
do dos cistos não é considerada um procedimento do, são duros e mal delimitados, têm contornos irre-
custo-eficaz, pois a grande maioria dos exames reve- gulares, são indolores e unilaterais, estão localizados
la achado benigno. Apenas raramente essa citologia principalmente na região areolar, têm evolução estri-
apresentará algum valor, pois isso só ocorrerá caso tamente local e apresentam infiltração de estruturas
ela seja hemorrágica. adjacentes. Em geral, simulam fibromatose de outros
5. Exteriorização
Lipoma Monorificial – saída de líquido unilateral por
O lipoma é uma neoplasia benigna do tecido apenas um orifício ductal (uniductal).
aDIPAoso, geralmente superficial e não palpável. Poliorificial – saída de líquido por mais de um
Quando palpável, apresenta consistência macia e orifício ductal (poliductal).
grande mobilidade. É importante o diagnóstico dife-
rencial entre ele e certas neoplasias, como o sarco-
ma, que também apresenta consistência amolecida. 6. Natureza
O diagnóstico é feito por Paaf (punção aspirativa com Funcional – origem hormonal geralmente subse-
agulha fina). O tratamento, quando indicado, é a exé-
quente à alteração na função hipotálamo-hipofisária.
rese cirúrgica.
Orgânica – o fluxo decorre de lesões orgânicas
localizadas nas mamas.
2. Motivação
Espontâneo – o fluxo não é causado pela expres- Adenomas tubulares
são da papila, mas é consequentemente percebido Têm origem lobular e predominam na paciente
como mancha na parte interna do sutiã. jovem (20 a 30 anos), mas podem ser encontrados
Provocado – o fluxo só ocorre mediante expres- também em crianças e nos últimos anos da menacme.
são da papila. Apresentam-se como um tumor de limites precisos,
consistência firme, móvel, indolor e não associado a
alterações cutâneas ou derrame papilar. À microsco-
3. Duração
pia, há um limite nítido entre eles e o tecido mamário
Persistente – identifica-se em pelo menos duas adjacente. São raras as figuras de mitose, não existe
observações com intervalo mínimo de 15 dias. atipia celular e as pequenas glândulas amontoadas
Temporário – a saída do líquido é episódica e não são revestidas por uma camada cuboide circundada
se repete. de mioepitélio.
Adenoma pleomór昀椀co
Papilomatose 昀氀orida (múltipla)
Apresenta consistência cartilaginosa que leva à
suspeita de câncer, porém, é bem-delimitado e tem as- Geralmente, apresenta-se como massa sem des-
pecto histológico característico. carga papilar que compromete os ductos terminais e
afeta principalmente as pacientes mais jovens. Mi-
croscopicamente, as lesões são similares aos papilo-
Papiloma intraductal mas solitários, porém, áreas de atipia são encontradas
Trata-se de neoplasia benigna originada no epi- com maior frequência. Aproximadamente metade dos
télio do ducto terminal, próximo à papila, de cresci- casos tende à recidiva e estão associados ao apareci-
mento lento e mais frequente por volta da quarta mento do carcinoma mamário.
tacional, sem relação com processos inflamatórios a mastectomia simples. Atualmente, o tratamento
específicos. Em geral, atinge mulheres na menacme, mais utilizado consiste na exérese do sistema duc-
particularmente na quarta década de vida, e corres- tal proximal junto ao mamilo, englobando o trajeto
ponde de 1 a 2% de todas as entidades sintomáticas fistuloso. Se a recorrência acomete um ou mais ductos
da mama. É conhecida também por vasta sinonímia, da mesma mama, eles devem ser ressecados em bloco,
como mastite periareolar recidivante, mastite peri- para prevenir futuras recorrências.
ductal e fístula mamária.
Acomete os ductos principais e retroareola-
res. Os fatores predisponentes são o mamilo inverti- Abscessos periféricos da mama
do (associado à metade dos casos), cirurgias prévias
De etiologia desconhecida, os abscessos perifé-
e a metaplasia escamosa do epitélio ductal, ou seja, a
ricos da mama são mais comuns na pré-menopausa.
substituição de um tipo de epitélio por outro. Neste
Podem estar associados com outras doenças, como
caso em particular, o epitélio colunar é substituído
diabetes ou artrite reumatoide, ao uso de esteroides,
por um pavimentoso (escamoso), o qual se insinua a
a trauma e a implantes de silicone ou parafina, po-
partir da cútis papilar para dentro, em direção à base
rém, eles frequentemente se apresentam sem fatores
do corpo mamário. O tecido escamoso neoformado li-
predisponentes. A mastite oleogranulomatosa parece
bera queratina, que faz dilatar o ducto e acaba por de- ser exclusivamente endêmica em Hong Kong, onde as
terminar a formação de um verdadeiro tampão local. mulheres realizam cirurgia com colocação de parafina
Ocorre reação periductal como uma reação a um corpo para aumentar as mamas.
estranho e, muitas vezes, também ocorre contamina-
ção bacteriana. Havendo germes, predominam os ana- Apresenta-se como nódulo característico doloro-
eróbios. Todo esse complexo inflamatório promove so com edema e eritema. A febre ocorre raramente e os
um aumento de pressão intraluminal e esse processo sintomas são pouco debilitantes. Deverá ser realizada
determina a formação de uma fístula cutânea, quase cultura para aeróbios e anaeróbios. O tratamento pre-
sempre exteriorizada na região adjacente à aréola, na coce pode evitar a formação de abscesso, no qual está
qual a pele é mais fina e oferece menor resistência à indicada a drenagem cirúrgica. No caso da mastite ole-
rotura. A fístula geralmente é unilateral e única. ogranulomatosa, o tratamento é cirúrgico.
A metaplasia escamosa do epitélio ductal, que
ocorre em 70% dos casos, estaria relacionada ao ta-
bagismo na maioria das pacientes. Eczema areolar
O diagnóstico é baseado no histórico e na evidên- O eczema areolar é uma dermatite escamosa da
cia clínica óbvia. O quadro clínico caracteriza-se por aréola, geralmente bilateral, podendo ser pruriginoso.
um processo inflamatório típico, isto é, dor, calor e ru- O tratamento usual é feito à base de cremes com cor-
bor periareolar, que evolui em surtos intercalados por ticoides. Se não houver regressão, o diagnóstico dife-
períodos de melhora. Com frequência, ocorre retração rencial deve ser feito com a doença de Paget.
mamilar, consequente à fibrose subareolar. O trata-
mento visa, além da cura definitiva, obter o resultado
estético mais satisfatório possível. Considerando-se a
etiologia microbiana habitualmente envolvida – ger- Mastite luética
mes anaeróbios –, recomenda-se a antibioticoterapia A lesão inicial, o cancro duro, é mais frequente na
com, por exemplo, metronidazol 500 mg, via oral, de mama lactante, sendo transferida pela boca da criança
8/8 horas, por 10 dias. Simultaneamente, prescreve- acometida de sífilis congênita ou por contato oral de um
-se anti-inflamatórios não hormonais. Se existe his- adulto contaminado. A lues secundária pode se apre-
tórico de surtos prévios de inflamação de repetição, sentar com erupção cutânea típica, porém, pode ser ob-
após as medidas de antibioticoterapia e subsequente servada no sulco mamário como um grupo de pápulas
acalmia local, está indicado o tratamento cirúrgico. ou placas, às vezes estendendo-se à parede torácica. O
Quando se trata do primeiro episódio de inflamação, terciarismo pode apresentar alterações difusas, a mama
na sequência ao tratamento clínico, aguarda-se a evo- é dura e indolor, podendo apresentar reação do mamilo.
lução natural do processo, esperando-se que não haja O tratamento consiste em cuidados de higiene, na cura
recorrência; diante de nova agudização, recomenda-se da doença-base e, às vezes, na mastectomia.
novo tratamento clínico e depois cirurgia. A cirurgia
na vigência de inflamação e sepse leva à alta morbida-
de e a frequentes recidivas.
Desde a descrição inicial por Urban, em 1951, vá- Mastite tuberculosa
rias formas de tratamento já foram propostas, da sim- É entidade muito rara. Haagensen, em 1986, esti-
ples drenagem a formas extremamente radicais, como mou que apenas 700 casos foram descritos na literatura.
A doença ocorre mais comumente em mulheres, Algumas vezes, os esfregaços citológicos não
geralmente é secundária a um foco distante, é disse- possibilitam o diagnóstico, por apresentarem campos
minada (via retrógrada) por linfáticos cervicais ou com detritos celulares, porém, demonstram células in-
axilares ou ainda é hematogênica. O sintoma mais co- flamatórias com linfócitos e histiócitos.
mum é um nódulo simples na mama. As massas múl- Os sinais radiológicos mais característicos são as
tiplas são raras. calcificações vesiculares, em forma de anel ou punti-
O diagnóstico é feito em bases clínicas e na pes- formes, e o espessamento da pele. O tratamento con-
quisa do bacilo em culturas e exame anatomopatológi- siste em medidas usuais como analgésicos, anti-infla-
co. Confirmado o diagnóstico, a paciente deve receber matórios não hormonais e calor local. O quadro clínico
o tratamento específico para tuberculose. deve regredir após o tratamento e as mamografias tor-
nam-se normais. A presença de nódulo inalterado ou
alterações radiológicas persistentes torna obrigatória
a biópsia excisional.
Outras mastites não lactacionais
Ainda podem ser citadas como formas raras
de mastites específicas a sarcoidose e a mastite por
fungos e parasitas. Provocam nódulos às vezes indis- Outras
tinguíveis do carcinoma. A sarcoidose é uma doença
multissistêmica de natureza idiopática, que se carac-
teriza pela presença de granulomas não caseosos que
Mamilos supranumerários (politelia)
envolvem linfonodos de diversos órgãos. A biópsia Constituem numa anomalia congênita que ocorre
excisional confirma o diagnóstico e o tratamento é em ambos os sexos com frequência de 1 para 500 pes-
dirigido às manifestações sistêmicas da doença. As soas. Podem estar associados com outras doenças con-
parasitoses e fungos provocam mastites de corpo es- gênitas, como anomalias vertebrais, arritmias cardíacas
tranho e são excepcionais. ou anomalias renais. A localização mais frequente é
imediatamente abaixo da mama normal. O tratamento
cirúrgico está indicado na presença de descarga, tumor
ou formação cística ou por motivos estéticos.
Doença de Mondor
É uma doença incomum que ocorre mais em
mulheres de meia-idade. Caracteriza-se por trom-
boflebite superficial envolvendo classicamente as Mama supranumerária (polimastia)
veias toracoepigástricas e/ou suas confluentes. A A polimastia resulta da crista mamária embrio-
etiologia pode ser primária ou secundária a traumas nária que deixa de sofrer regressão normal. A localiza-
locais ou desconhecida. O diagnóstico é feito pela pre- ção mais comum é ao longo de uma linha que se situa
sença de dor aguda e cordão fibroso e doloroso na re- entre a axila e a sínfise púbica. A importância dessa
gião da veia trombosada. Apresenta tensão lateral na alteração é a necessidade potencial de se investigar ou-
parede do tórax, depressão e retração local. Pode ha- tras anomalias a ela associadas.
ver sinais inflamatórios, simulando carcinoma, o que
aponta a importância da doença de Mondor. Casos ra-
ros têm sido relatados em sítios atípicos, como braços,
abdome e pescoço. Tecido mamário acessório (ectópico)
O tratamento consiste no uso de analgésicos É a persistência de tecido mamário ao longo da
e anti-inflamatórios; geralmente não deixa nenhu- linha láctea e é mais comum na axila. Em geral, é uma
ma sequela. anomalia congênita bilateral e, muitas vezes, sem a pre-
sença de aréola ou mamilo. Torna-se evidente na puber-
dade ou na gravidez. Alguns autores recomendam sem-
pre a exérese, uma vez que, durante a lactação, o tecido
Esteatonecrose mamário acessório pode se tornar muito doloroso.
Consiste na necrose das células aDIPAosas ma-
márias e está relacionada, na maioria das vezes, a um
trauma ou ato cirúrgico prévio. Em alguns casos, a ne-
crose inicial é seguida por fibrose. Forma-se uma área Hipertro昀椀a juvenil
de tecido mais denso, ocasionando um tumor endure- Consiste no aumento progressivo do volume mamá-
cido e mal delimitado com retração de pele que poderá rio ao longo da adolescência, persistindo na maturidade.
ser confundido com uma patologia maligna. Embora o comprometimento bilateral e simétrico seja a
regra, podem existir casos unilaterais mais raros. Inicial- homem. Na grande maioria dos casos, ela é de etiologia
mente, a hipertrofia juvenil foi atribuída ao aumento da idiopática e pode ser classificada como fisiológica ou en-
concentração plasmática de estrona ou estradiol, mas a dógena. O evento desencadeante da ginecomastia é a al-
dosagem desses hormônios não mostrou correlação clí- teração do metabolismo dos hormônios esteroides, obser-
nica. A diminuição da progesterona plasmática, frequen- vada principalmente no período neonatal, na adolescência
temente associada, ou a possível existência de receptores e na senescência. Fatores como a aromatização periférica
altamente responsivos aos hormônios que regulam o cres- intensificada dos androgênios para estrogênios, com o au-
cimento e o desenvolvimento das mamas (estrogênios e mento da aDIPAosidade, contribuem para o aparecimento
progesterona) podem ser importantes fatores etiológicos. de tecido mamário glandular feminino no homem.
O tratamento vai depender da preferência da Estão implicados na etiopatogênese da gineco-
paciente e pode-se fazer a opção pela cirurgia plásti- mastia fatores como doenças que levam a aumento de
ca reconstrutora. Atualmente, está em estudo o uso hormônios (tumores testiculares, distúrbios endócri-
de moduladores de receptores para hormônios como nos, doenças do fígado, insuficiência renal, distúrbios
da nutrição), drogas que inibem a ação da testosterona
o tamoxifeno.
ou com ação estrogênica e drogas cujo mecanismo é
idiopático (metildopa, verapamil, isoniazida).
Na grande maioria dos casos, o diagnóstico é clí-
Hipoplasia mamária nico, guiado pela inspeção e palpação. A palpação visa
distinguir a consistência mais firme em relação ao tecido
É a falta de desenvolvimento completo da mama.
aDIPAoso. A mamografia, a ultrassonografia e a punção
Pode ser congênita ou por manipulação iatrogênica aspirativa por agulha fina podem auxiliar no diagnóstico
(traumatismos, incisões, abscessos, lesões infecciosas ou da natureza do aumento volumétrico da mama no ho-
radioterapia) no broto mamário, na infância ou no perí- mem. O diagnóstico diferencial é feito com fibroadeno-
odo pré-puberal. Não são recomendados procedimentos ma, adenose esclerosante, esteatonecrose e carcinoma.
cirúrgicos em fase de desenvolvimento incompleto da
O tratamento deve ser específico e sempre ba-
mama para evitar lesões definitivas e irreversíveis. seado na etiologia desencadeadora do processo. No
recém-nascido, o aumento transitório da mama, de-
corrente da ação de estrogênios placentários, desapa-
rece espontaneamente em poucos dias. Também pode
Amastia haver aumento na puberdade, em geral entre 12 e 15
É a ausência de origem congênita de uma ou am- anos, muitas vezes unilateral. A grande maioria re-
bas as mamas e é mais comum na forma unilateral. A gride no período de um a dois anos. Nesses casos, a
amastia unilateral, associada à agenesia dos músculos orientação quanto à natureza benigna da lesão pode
peitorais grande e pequeno e a malformações do mem- ser suficiente. Quando a ginecomastia persiste após os
bro superior ipsilateral, é conhecida como síndrome 18 anos, trazendo desconforto físico ou emocional, a
de Poland. ressecção cirúrgica deve ser indicada.
O tratamento cirúrgico varia de acordo com o volu-
me da glândula e a posição do mamilo na aréola. A inci-
são clássica para a ginecomastia pura é a periareolar. Nos
Telarca prematura casos de mamas de grande volume, a lipoaspiração asso-
Consiste no desenvolvimento precoce isolado das ciada é uma das técnicas com bom resultado estético.
mamas, sem outros sinais de maturação sexual. Esse
desenvolvimento é geralmente transitório em meninas
abaixo de oito anos de idade. Como as dosagens hor-
monais com frequência estão normais, a hipersensibi-
lidade do tecido mamário a pequenas concentrações de
estrogênios, presentes em pré-púberes, tem sido suge-
rida como causa. Não há necessidade de tratamento e
a conduta é expectante. O cuidado é para que não se
realizem manobras intempestivas como extirpação do
broto mamário e consequente amastia iatrogênica.
Ginecomastia
Denomina-se ginecomastia a presença de desen- Figura 31.5 Ginecomastia: presença de glândulas
volvimento de tecido mamário glandular feminino no mamárias femininas em homem.
Essas patologias não respondem à manipulação hormonal e requerem ser tratadas com anti-inflamatórios
não hormonais e até infiltração local de corticoides e substâncias anestésicas.
Mastalgia cíclica
Primeiro passo
Segundo passo
Terceiro passo
Tamoxifeno
Figura 31.6 Tratamento para a mastalgia cíclica.
32
Cancêr de mama
Inspeção dinâmica
Nessa etapa, que envolverá a realização de deter- Calci昀椀cações
minados movimentos, como a elevação dos braços ou Mesmo com a análise minuciosa de suas caracterís-
a pressão das mãos sobre os quadris, poderão ser nota- ticas, a classificação das calcificações em malignas e be-
das retrações mamárias, quando houver envolvimento nignas nem sempre é fácil. Apesar disso, é fundamental
da fáscia do músculo peitoral. procurar separar as calcificações certamente relaciona-
Ainda com a paciente assentada, deverá ser feita das a processos benignos, pois assim evitam-se procedi-
a palpação das regiões supraclaviculares e axilares. mentos invasivos desnecessários e há uma diminuição
dos custos tanto financeiros quanto psicológicos.
Cerca de 40% dos carcinomas não palpáveis
Palpação das mamas apresentam calcificações agrupadas como único
sinal suspeito de malignidade. Como essas calcifi-
A palpação das mamas deve ser realizada com a
cações podem apresentar-se com dimensões extre-
paciente em decúbito dorsal. Recomenda-se repetir o
mamente reduzidas, muitas vezes há necessidade de
exame na posição em que a paciente relata ter notado
magnificação (ampliação de imagem) tanto para de-
a alteração, caso esta não seja encontrada durante o
tecção quanto para avaliação da extensão tumoral.
exame inicial. Em primeiro lugar, examina-se a mama
assintomática. É importante que as mamas sejam com-
pletamente examinadas, incluindo a cauda axilar. Ao
ser encontrada qualquer anormalidade, deve-se confe- Nódulos e densidades de aspecto maligno
rir com a paciente se é aquilo que a incomoda, pois pode
Geralmente, os nódulos só se tornam palpáveis
existir mais de uma alteração na mesma mama.
quando têm pelo menos l cm de diâmetro. Em condi-
ções excepcionais, podem ser detectadas lesões meno-
res, dependendo do tamanho da mama e da localiza-
Expressão dos ductos galactóforos ção periférica ou superficial da alteração.
Após a palpação, realiza-se a expressão bilateral As lesões que apresentam contornos maldefini-
das mamas e verifica-se a existência ou não de descarga e dos, estriados ou espiculados são mais comumente
suas características (se vem por um ou mais ductos, sua associadas ao carcinoma mamário, mas podem tam-
coloração, quantidade, facilidade de saída e, se possível, bém corresponder a hiperplasia ductal esclerosante
o setor mamário com o qual tem correspondência). É (cicatriz radial), necrose gordurosa, fibroadenoma
importante separar as descargas papilares espontâneas hialinizado e abscesso. Sua percepção pode ser difícil,
daquelas só obtidas por meio da expressão da papila. As principalmente se apresentarem dimensões reduzidas
primeiras são mais relacionadas a processos patológicos ou ocorrerem em mamas radiologicamente densas.
e as segundas, a processos fisiológicos da mama.
Em contrapartida, alguns tumores malignos, como
os carcinomas mucinoso, medular, papilífero e alguns car-
cinomas ductais bem diferenciados, apresentam-se com
Exames complementares contornos bem-definidos, o que sugere benignidade.
Tem sido muito importante em nosso meio a uti-
Mamogra昀椀a lização da categorização dos achados imaginológicos
O aperfeiçoamento de técnicas radiológicas espe- da mama, por meio do modelo proposto pelo American
cíficas para o estudo da mama tem contribuído decisiva- College of Radiology – Sistema BI-RADS (breast imaging
mente para a detecção mais precoce do câncer de mama. reporting and data system).
Estadiamento (cont.)
Metástases
Tratamento
M0 – Ausência de metástases a distância Recomenda-se que o tratamento do câncer de
M1 – Metástases a distância mama seja feito em centros de referência que tenham
Tabela 32.3 equipe multidisciplinar que inclua cirurgião, cirurgião
plástico, oncologista clínico, radioterapeuta, patolo-
gista e imaginologista, além de outros especialistas da
Estadiamento área da saúde, como fisioterapeuta, enfermeiro, assis-
Estádio 0 Tis N0 M0 tente social e psicólogo.
Estádio 1 T1 N0 M0 Segue-se uma linha geral de conduta, baseada na
Estádio IIA T0 N1 M0 individualização de cada caso, no estadiamento da do-
T1 N1 M0 ença e nos fatores prognósticos.
T2 N0 M0
Estádio IIB T2 N1 M0
T3 N0 M0
Estádio IIIA T0 N2 M0 Neoplasia lobular in situ
T1 N2 M0
T2 N2 M0 (carcinoma lobular in situ)
T3 N1,2 M0 O procedimento padrão atual para a neoplasia lo-
Estádio IIIB T4 Qualquer N M0 bular in situ é a biópsia excisional, suficiente para o diag-
Qualquer T N3 M0 nóstico e tratamento dessa condição, que é somente um
Estádio IIIC Qualquer T N3 M0 fator de risco para o desenvolvimento de carcinoma ma-
Estádio IV Qualquer T Qualquer N M1 mário e exige vigilância clínica e mamográfica rigorosa.
Tabela 32.4 Pacientes com esse tipo de achado anatomopatológico
têm 25% de chances de desenvolver carcinoma invasor,
tanto ductal quanto lobular, em ambas as mamas. A pa-
Recomendações mínimas para o estadiamento ciente deverá ser conscientizada da grande possibilidade
Anamnese e exame Rotina de vir a desenvolver um câncer invasivo e da importância
físico completos de seu comprometimento com um acompanhamento ri-
Exame bioquímico e Rotina (marcadores tumorais goroso, que deverá constar de autoexame mensal, exame
hematológico (sérico) não estão indicados) clínico semestral e mamografia anual.
Raio X de tórax Em geral, não indicado para EC
I; facultativo para EC II e/ou
com características histológicas
desfavoráveis; recomendado Carcinoma ductal in situ
para EC III e/ou exame físico
anormal Para o carcinoma ductal in situ, a mastectomia ou
Exame de imagem do Em geral, não indicado para EC o tratamento conservador com radioterapia são vistos
abdome superior I; facultativo para EC II e/ou como alternativas comparáveis em termos de resulta-
com características histológicas do. A ausência de margem de segurança e a presença de
desfavoráveis; recomendado comedonecrose acentuada são fatores de risco de reci-
para EC III, com testes de fun- diva local diante de tratamentos conservadores. A mas-
ção hepática ou exame físico tectomia simples é um tratamento curativo para 98%
anormais dos casos, mas certamente representa um procedimen-
Cintilografia óssea Facultativa se houver ausência de to excessivamente mutilante para a maioria dos casos.
sintomas e marcadores de lise ós-
A radiografia do espécime cirúrgico, a pintura da
sea estiverem normais; recomen-
peça operatória e a mensuração das margens são ele-
dada para EC III
mentos essenciais no manejo dessas lesões.
Raio X do esqueleto Se houver sintomas localizados
(TC ou RM para a co- ou áreas suspeitas na cintilogra- Os tumores com diâmetro inferior a 2 cm e
luna vertebral) fia óssea margens livres de comprometimento podem ser
Biópsia de lesão(ões) Casos selecionados tratados pela ressecção segmentar seguida de ra-
suspeita(s) dioterapia complementar. Para esses casos, foi des-
PET Casos selecionados e como al- crita uma taxa de sobrevida global em 15 anos de 96%.
ternativa à biópsia de lesões É importante ressaltar que, até para casos de tu-
suspeitas mores menores que 4 cm e margens de ressecção li-
Tabela 32.5 vres, a conduta conservadora com radioterapia é ainda
aceitável, levando em torno de 10% de recidiva local. O protocolos recomendam que esse exame seja o mais
fator determinante na extensão da ressecção é a rela- cuidadoso possível, para evitar as altas taxas de falso-
ção entre o tamanho do tumor e o tamanho da mama. -negativos (até 25%) ou perdas de material e artefatos
Indicam-se cirurgias radicais da mama, segui- induzidos por congelamento, que poderão comprome-
das ou não de reconstrução mamária, para tumores ter o exame pós-operatório da peça incluída em parafi-
com impossibilidade de obtenção de margens livres na. A sensibilidade do exame intraoperatório depende
em razão da extensão ou de multicentricidade. do tamanho da metástase e a sensibilidade é alta para
as macrometástases.
A linfadenectomia de nível I (base da axila) ou a
dissecção do linfonodo sentinela deve ser realizada em O Colégio Americano de Patologia (CAP) reco-
casos de comedonecrose ou alto grau nuclear (GIII), menda que na avaliação intraoperatória seja feito um
devido a possibilidades de microinvasão e envolvi- exame macroscópico cuidadoso. Cada linfonodo deve
mento axilar. ser medido e, na sequência, seccionado em seu eixo
longitudinal em fatias de 0,5 a 2 mm de espessura. De
Recomenda-se, após a cirurgia, avaliar o uso de cada fatia deve-se fazer o exame citológico de imprint
hormonioterapia adjuvante, com tamoxifeno 20 mg/ corado pelo HE, Papanicolau ou Diff-Quik. Essa téc-
dia, por cinco anos. Um estudo clínico, com cinco anos nica é preferível ao corte de congelação, para se evitar
de seguimento, mostrou redução da média anual de artefatos e gastos significantes de tecido.
recorrências invasoras pós-cirurgia conservadora e
radioterapia de 1,6% para 0,9% (risco relativo: 0,56 e Recomenda-se, de rotina, a realização de radiote-
redução do risco absoluto: 0,7%). rapia complementar na mama, sendo opcional o refor-
ço no leito tumoral.
Nos casos em que a relação tumor/mama não
permite a realização de cirurgia conservadora com
Carcinomas invasores bom resultado estético, a mastectomia com linfade-
Os tumores em que a relação tumor/mama per- nectomia (ou biópsia de linfonodo sentinela) deve
mitam podem ser tratados com ressecção segmentar ser indicada. As técnicas modificadas, com preserva-
seguida de linfadenectomia axilar (ou biópsia de lin- ção de um ou ambos os músculos peitorais, são as
fonodo sentinela) e radioterapia. Os resultados onco- mais empregadas, pois asseguram resultados seme-
lógicos são semelhantes àqueles tratados com mas- lhantes à radical, facilitam a reconstrução e reduzem
tectomia radical, preenchendo os pré-requisitos que a morbidade.
norteiam o tratamento cirúrgico do câncer de mama, Sempre que se indica uma mastectomia em pa-
que são: máximo controle locorregional, estadiamen- cientes com boas condições clínicas, deve-se discutir a
to, prognóstico com menor morbidade e mutilação. perspectiva de reconstrução mamária. A reconstrução
É fundamental, para indicar tratamento conser- plástica não interfere no prognóstico oncológico das
vador do câncer de mama, ter exames de imagens que pacientes e condiciona maior equilíbrio e melhor qua-
demonstrem o tamanho do tumor e sua relação com a lidade de vida.
mama, tumor único e avaliação de margens cirúrgicas. Atualmente, uma nova perspectiva tem se fir-
O grande problema da cirurgia conservadora é mado para essas pacientes, que inicialmente não
que podem ocorrer recidivas locais, com prejuízo emo- eram candidatas a uma terapia conservadora do
cional e repercussão negativa no prognóstico oncoló- câncer de mama devido ao tamanho da lesão: a re-
gico. A recidiva local depende do grau de agressividade alização de quimioterapia neoadjuvante, com o ob-
do tumor, do diâmetro tumoral e do comprometimen- jetivo de reduzir o volume tumoral e possibilitar o
to microscópico das margens cirúrgicas. A avaliação tratamento conservador. Os tumores T1-3 N0-1, que
das margens pode ser feita no intraoperatório, opor- foram randomizados para cirurgia seguida de quatro
tunidade em que pode-se modificar a extensão da ci- ciclos de Adriamicina e Ciclofosfamida (AC) ou qua-
rurgia e contribuir para reduzir a incidência de recidi- tro ciclos de AC antes da cirurgia, após cinco anos
va local após as cirurgias conservadoras. de seguimento, não indicaram diferenças na taxa de
sobrevida livre de doença ou de sobrevida global. A
Quando se verificam margens comprometidas no cirurgia conservadora foi possível em 67,8% das pa-
pós-operatório, recomenda-se a reintervenção cirúrgica. cientes que haviam feito quimioterapia neoadjuvante
Procede-se à biópsia do linfonodo sentinela e em apenas 59,8% daquelas que foram inicialmente
(LS) na mesma oportunidade da cirurgia mamária, para a cirurgia. Não houve diferença na recorrência
podendo-se realizar seu estudo intraoperatório. A local entre os dois grupos de pacientes. Entretanto,
avaliação intraoperatória tem a vantagem de permitir naquelas pacientes que somente tiveram indicação
ao cirurgião completar a dissecção axilar nas pacien- de cirurgia conservadora após a redução dos tumores
tes linfonodo sentinela positivos, evitando-se um se- pela quimioterapia neoadjuvante, observou-se maior
gundo procedimento cirúrgico. No entanto, os novos taxa de recidiva local (14,5% versus 6,9%).
Radioterapia
Com Com biópsia
Após a cirurgia conservadora, a conduta geral é esvaziamento de linfonodo
irradiar-se toda a mama, independentemente do tipo axilar sentinela
histológico, idade, uso de quimioterapia e/ou hormo-
nioterapia e mesmo com as margens cirúrgicas livres. Figura 32.3 Possibilidades cirúrgicas no câncer de
mama.
O reforço de dose no leito tumoral (boost) deve
ser indicado para as pacientes com menos de 50 anos,
com mais de 25% de carcinoma in situ na peça cirúrgi-
ca, na presença de margens menores que 1 cm, com-
prometidas ou desconhecidas, e em casos de tumores
com alta agressividade local.
Com relação aos carcinomas ductais in situ, se a
opção for por cirurgia conservadora, as pacientes de-
vem ser submetidas à radioterapia em toda a mama.
O papel da radioterapia pós-mastectomias tem
sido controverso, mas algumas publicações recomen-
dam essa indicação. Figura 32.4 Mulher mastectomizada à direita, sem
reconstrução.
Os fatores considerados consensuais, bastan-
do somente a presença de um deles para a indicação
de radioterapia pós-mastectomia, são:
Tumores maiores ou iguais a 5 cm (somar com Quimioterapia
biópsia prévia).
A quimioterapia adjuvante é recomendada para as
Pele comprometida. pacientes sem evidência de metástase, com carcinoma
Grau III. ductal ou lobular invasivo, com linfonodos positivos ou
tumor acima de 1 cm, devendo ser considerada em mu-
Dissecção axilar inadequada (menos que 10 lin-
fonodos). lheres com menos de 40 anos e com tumores entre 0,6 e
1 cm e com invasão angiolinfática ou grau 3.
Invasão extracapsular linfonodal (mesmo em
um único linfonodo). Pacientes consideradas de baixo risco – sem
necessidade de quimioterapia adjuvante e risco de
Margem comprometida (menor que 1 cm).
morte menor que 10%:
Quatro ou mais linfonodos comprometidos. Tumor menor/igual 0,5 cm.
Se houver utilização de quimioterapia com an- Tumor entre 0,6 e 1 cm na ausência de fatores
tracíclicos no período pós-operatório, tanto nas cirur- adversos (grau 3, invasão angiolinfática, idade
gias conservadoras quanto nas mastectomias, deve-se jovem, Her 2 positivo).
protelar o início da radioterapia para o término da te-
Tumor entre 1 e 2 cm GH1 GN1 e na ausência
rapêutica sistêmica, não devendo ultrapassar o perío-
dos fatores adversos citados anteriormente.
do de seis meses da cirurgia.
Pacientes de risco intermediário de morte (10
A indicação de irradiar as drenagens linfáticas é a
a 20%):
mesma tanto para as pacientes submetidas a cirurgias
conservadoras quanto para as pacientes submetidas a Tumor entre 0,6 e 1 cm e qualquer um dos fato
mastectomias. A presença de um único linfonodo com- res adversos citados anteriormente.
prometido deve ser suficiente para indicar a irradiação Tumor entre 1 e 2 cm, Her 2 negativo e qualquer
da fossa supraclavicular homolateral. Existindo acima um dos fatores adversos citados anteriormente.
É importante realçar que a ablação ovariana ou citarabina 50 mg, inicialmente 2 a 3 vezes por se-
(cirúrgica, radioterápica ou por meio de análogos do mana, com redução gradual da frequência em função
GnRH) nas pacientes pré-menopausadas está associa- da resposta. A citarabina lipossomal permite adminis-
da à redução do risco de recidiva e morte na ausência trações menos frequentes. Ocasionalmente, a RT ou
de utilização da quimioterapia. um tratamento sistêmico podem ser úteis.
O uso do tamoxifeno é relacionado a um acrés- Em pacientes com doença sistêmica evolutiva e/
cimo na incidência de câncer de endométrio, assim, ou pouca chance de resposta a uma nova linha de tra-
é recomendável a realização anual da ecografia en- tamento, não existe indicação para tratar o SNC e a RT
dovaginal em suas usuárias. Depressão, ansiedade e deve ter um papel puramente paliativo.
dificuldades de ajustamento familiar, social e sexual
são condições bastante frequentes quando se trata do
diagnóstico e tratamento do câncer de mama e, mui-
tas vezes, vêm requerer intervenções específicas de Plexopatia axilar
toda a equipe multidisciplinar.
Metástases para linfonodos axilares, infra ou
supraclaviculares devem ser agressivamente tratadas,
Neoadjuvante pois podem resultar em plexopatia axilar e/ou com-
pressão vascular, o que compromete a qualidade de
Em pacientes pós-menopáusicas (POM), a uti-
vida das pacientes. Se as chances de resposta à HT não
lização de HT com estádio um IA aumenta as chances
forem excelentes, pode-se optar diretamente pela QT,
de cirurgia conservadora em relação ao tamoxifeno. As
na tentativa de obtenção de uma resposta rápida. A RT
candidatas ideais são pacientes com tumores com forte
pode ser uma opção em certos casos, preferencialmen-
expressão de Rh que tenham ou não recusado ser can-
te como tratamento de consolidação.
didatas a uma QT neoadjuvante (por exemplo, idosas) e
que desejam um tratamento cirúrgico conservador.
de que o tamoxifeno reduziu em 69% a incidência de temente do risco, a não ser em ensaios clínicos
câncer invasivo com receptores de estrogênio posi- controlados, até que seja nitidamente comprovado
tivos, entretanto, não houve diferença na incidência o seu benefício para a saúde como um todo ou para
do câncer invasivo com receptores negativos entre os a sobrevivência.
grupos placebo e tamoxifeno. Diferentemente do tamoxifeno, o raloxifeno
Entretanto, outros dois estudos, um inglês não reduziu a incidência de câncer não invasivo de
e um italiano, de tamanho amostral menor que o mama (CDIS e Clis). Inibidores de aromatase, deri-
americano e de diferentes características de ris- vados do ácido retinoico, agentes anti-inflamatórios,
co, não conseguiram os mesmos resultados, de tal fitoquímicos e estatinas são agentes preventivos po-
forma que na Europa não está indicado o uso de tenciais, e outros estão atualmente sendo avaliados
tamoxifeno em mulheres saudáveis, independen- em experiências clínicas.
COMPAIXÃO
é a capacidade de imaginar inteiramente o que é ser outra pessoa,
a força que constroi uma ponte que liga a ilha de um indivíduo à ilha do outro.
É a capacidade de pisar fora de nossa perspectiva, de nossas limitações e de nosso ego,
e de ficar atento ao mundo oculto de uma outra pessoas,
de maneira vulnerável, encorajadora, crítica e criativa.
John O’donohue
33
Anticoncepção – planejamento
familiar
No seu uso perfeito, a taxa de gravidez é de 3% A camisinha feminina é pré-lubrificada com lu-
em 12 meses. Esse uso correto envolve não só a ade- brificante à base de silicone. A taxa de gravidez é de 21
quada colocação, para evitar perdas de sêmen pelas em 100 mulheres após o primeiro ano de uso, usado
bases mal ajustadas e ruptura do material pela pre- da maneira mais comum, e de cinco em 100, quando
sença de ar, mas também a imediata retirada após a usado correta e constantemente.
ejaculação, pois a perda, ainda que parcial, da ere- Como é feita de poliuretano, pode ser usada em
ção, permite a saída do sêmen pelas bordas do pre- indivíduos com alergia ao látex.
servativo. A colocação deve ser feita no momento
do ato sexual.
Algumas pessoas apresentam alergia ao látex, o
que pode ser um problema para seu uso.
Diafragma
Trata-se de um dispositivo contraceptivo circular
de látex ou silicone, em forma de calota, que cobre o
colo uterino. Deve ser usado juntamente com esper-
micidas para aumento da eficácia. Existem em vários
tamanhos e um médico treinado deve realizar a medi- Figura 33.10 Posicionamento adequado do diafragma.
da para escolha do tamanho adequado a cada vagina.
O mecanismo de ação é o bloqueio da entrada do es-
perma pelo colo do útero. A eficácia é dependente do usu-
ário. Em uso perfeito, a taxa de sucesso anticoncepcional
Esponja anticoncepcional
é de mais de 90%, mas, na média, fica em torno de 84%. Trata-se de uma esponja descartável de poliure-
Deve ser colocado na vagina 2 horas antes da re- tano, em forma de cogumelo, impregnada de material
lação sexual e lá permanecer por 6 a 8 horas pós-coito. espermicida.
Relações sexuais sucessivas são possíveis, mas a cada É umedecida e colocada no fundo da vagina, ocluin-
uma delas é preciso reforçar a dose de espermicida. do o colo do útero, e lá pode permanecer por 24 horas.
Pode ser reutilizado e é contraindicado se houver
Sua eficácia varia de 73 a 91%.
infecções do trato genital ou malformações na vagina.
A fertilidade não é interrompida com seu uso.
Oferece pouca proteção contra DSTs, de modo que não
deve ser recomendado com tal finalidade. Espermicidas
Correspondem a substâncias químicas que ina-
Efeitos colaterais tivam os espermatozoides. Seus representantes são o
Irritação vaginal ou peniana nonoxynol-9 (mais usado), o octoxinol-9 e o menfegol.
Lesões vaginais na inserção Existem em várias apresentações, mas a forma mais
Síndrome do choque tóxico (raro) usada é em gel.
começou a ser cada vez com doses mais baixas (50 mcg, C ≡ CH Alta dose
30 mcg, 20 mcg e até 15 mcg de etinilestradiol). > 50 mcg
A Figura 33.12 apresenta os diferentes progesta- aumento do apetite, hirsutismo, ganho de peso cons-
gênios e sua classificação por geração. tante, atrofia mamária, hemorragia intermediária, se-
borreia e queda de cabelo. Desses, o mais incômodo é
PROGESTAGÊNIOS
a presença de hemorragias intermediárias (spotting),
pela atrofia endometrial que produzem. Podem ainda
17-OH-P 19-nor-testosterona 17α espironolactona
promover elevação da resistência insulínica e seu uso
crônico associa-se à perda de massa óssea.
acetato 1a geração drospirenona Os anticoncepcionais hormonais podem se respon-
de ciproterona noretisterona sabilizar, ainda, pela elevação dos níveis de colesterol.
diacetato de etinodiol
acetato
de clormadinona 2a geração
norgestrel Efeitos sobre o sistema reprodutor
levonorgestrel
*Ovários:
3a geração Certo grau de maturação folicular
desogestrel
gestodene Fibrose do estroma transitória
Diminuição na incidência de cistos funcionais
Figura 33.12 Classificação dos progestagênios das
*Miométrio:
pílulas.
Hipotrofia (diminui o número de receptores estrogê-
nicos)
*Endométrio:
E昀椀cácia Proliferação do estroma com edema localizado
Arteríolas espiraladas pouco desenvolvidas
O índice de Pearl dos anticoncepcionais orais
Atrofia endometrial
combinados varia entre 0,2/100 mulheres/ano, no uso
*Colo uterino:
perfeito, a 3/100 mulheres/ano, no uso típico. Desse
Hiperplasia polipoide adenomatosa
modo, podemos observar claramente que a eficácia do
Ectopia
método é individual, baseada na maneira correta do
uso da pílula, sendo a orientação fundamental para o *Vagina:
Vaginite, principalmente pela Candida albicans
objetivo da anticoncepção.
*Vulva:
Se usada corretamente, oferece proteção no pri- Alterações tróficas
meiro ciclo de uso, todavia, é mais prudente usar um *Mamas:
método de barreira concomitante nos primeiros dias. Modificações no volume
Algumas medicações podem interagir com anti- Aumento na sensibilidade (10%)
concepcionais, diminuindo sua eficácia por competição *Lactação:
enzimática. As principais são: fenitoína, barbitúricos, Redução no volume e duração
carbamazepina, rifampicina, ampicilina e griseofulvina. Maior concentração de proteínas, lipídios e compo-
nentes inorgânicos
Ginecomastia
*Galactorreia e hiperprolactinemia:
Efeitos colaterais Nos casos de anticoncepcionais orais de altas dosa-
O principal efeito colateral associado ao estrogê- gens
nio é o aumento dos fatores de coagulação II, V, VII, Tabela 33.4
VIII, IX, X e XII, proporcionado por estímulo hepá-
tico de primeira passagem por esse órgão. Ainda por Efeitos sobre outros órgãos e sistemas
esse efeito, pode levar a aumento da pressão arterial. *Fatores de coagulação:
Além disso, se associa a outros sinais e sintomas, tais Estrogênio
como cefaleia, náuseas, vômitos, tonturas, cãibras, ir- Aumento dos fatores II, V, VII, VIII, IX, X e XII
ritabilidade, nervosismo, meteorismo, ganho de peso, Diminuição da antitrombina III (anticoagulante)
edema pré-menstrual, ingurgitação venosa, mastal- Aumento do número, adesividade e agregação plaque-
gia, cloasma, queda da libido e alterações do humor. tária
Esses sintomas são variáveis de pessoa para pessoa. Aumento do tromboxano (vasoconstritor)
Diminuição da prostaciclina (vasodilatadora)
Já os progestagênios apresentam a redução da
velocidade do sangue intravascular como principal Progesterona:
Reforça o calibre do vaso
efeito colateral, além de outras alterações, principal-
Diminui a velocidade do fluxo sanguíneo
mente cutâneas, como fadiga, depressão, alteração da
Aumenta a prostaglandina
libido, hipomenorreia, amenorreia, acne, exantema,
Efeitos colaterais
Indicações Amenorreia – acontece com a maioria das mu-
lheres e muitas consideram o efeito benéfico, en-
Mulheres “esquecidas”; tretanto, pode permanecer por mais de um ano
Pacientes com náuseas e vômitos com uso do após a suspensão do método, o que acontece em
ACO; 55% das mulheres;
Síndromes de má absorção; Sangramento escasso e infrequente assim como
nas pílulas, a progesterona isolada pode ocasio-
Pacientes gastrectomizadas ou com bypass
nar atrofia endometrial e promover spottings.
intestinal;
Alteração na frequência, duração e quantidade
Pacientes psiquiátricas não colaborativas; de sangramento.
Alternativa ao ACO. Ganho de peso: 0,5 a 2 kg ao final de um ano de uso.
Como não tem primeira passagem hepática, pro- Aumento de tecido aDIPAoso.
duz menos efeitos sobre a pressão arterial, sendo uma
Cefaleia, depressão, diminuição da libido,
boa opção em hipertensas.
dores e distensão abdominal.
Redução da densidade mineral óssea – o
efeito é reversível após descontinuidade
Contraindicações do uso do método.
Por possuírem a mesma base dos anticoncepcio- Alguns estudos mostram alteração do metabolis-
nais orais, as contraindicações de ambos os métodos mo lipídico com aumento do LDL e diminuição
são praticamente as mesmas. do HDL.
Elevam à resistência periférica a ação da insulina.
Efeitos secundários
Vantagens
Alteração do ciclo menstrual – sangramento
prolongado, amenorreia ou spotting; Longa duração;
Ganho de peso; Não inibe a lactação;
Cefaleia e vertigem;
Diminui incidência de DIPAa pela maior hostili-
dade do muco cervical;
Esses problemas tendem a desaparecer com a
Diminui a incidência de vaginite por Candida
manutenção do método, mas, caso persistam por mais
albicans;
de três meses, deve-se considerar a substituição por
outra forma contraceptiva. Previne a anemia (pela amenorreia ou hipome-
norreia);
Os injetáveis mensais tendem a manter a regu-
Anemia falciforme (pode evitar crises de falci-
laridade do ciclo menstrual e, se não o fazem, é por
zação).
diferenças em velocidade de absorção. Geralmente, há
rápido retorno da fertilidade, ou seja, logo após três Diminui a chance de câncer de endométrio.
meses da última aplicação. Ajuda a reduzir sintomas de endometriose.
Implantes
Os implantes são bastões de 4 cm de comprimen-
to por 2 mm de diâmetro colocados no subcutâneo da
face interna do antebraço, pouco acima do cotovelo,
no sulco entre o bíceps e o tríceps. Eles contêm um
progestagênio, o etonogestrel cristalino, na dose de
68 mg, com liberação contínua. A taxa de liberação in
vitro foi de 60 a 70 mcg/dia nas semanas 5 e 6 pós-
-colocação, reduzindo para 35 a 40 mcg/dia no final do
Figura 33.13 Anticoncepcional transdérmico.
primeiro ano, para 30 a 40 mcg/dia no final do segun-
do ano e para 25 a 30 mcg/dia ao término do terceiro
ano. Está aprovado para até três anos de uso.
Os efeitos colaterais, indicações e contraindica- Anel vaginal
ções são coincidentes com os dos injetáveis trimestrais.
Contém 2,7 mg de etinilestradiol e 11,7 mg de
etonogestrel, com liberação diária de 15 mcg de eti-
nilestradiol e 120 mcg de etonorgestrel. Para usar um
E昀椀cácia anel vaginal, a mulher o introduz na vagina com os
Em três anos, a taxa de gravidez foi de zero em dedos, colocando-o na posição que lhe for mais con-
2.362 mulheres. Dessas, 16% descontinuaram o mé- fortável. O melhor encaixe se dá na parte superior da
todo no primeiro ano e 8%, no segundo ano, a maioria vagina. Deve ser colocado na vagina entre o primeiro
por alterações no padrão de sangramento. O retorno e o quinto dia do ciclo e mantido por três semanas,
da ovulação ocorre em média três semanas após a re- quando é retirado e então há a pausa de uma semana,
tirada do implante. período no qual a mulher menstrua. A eficácia é seme-
lhante à do anticoncepcional oral. O nome comercial
é Nuvaring. Não interfere nas relações sexuais e a
maioria dos homens não o sente. Caso seja deslocado,
Anticoncepcional transdérmico basta reintroduzi-lo. Apresenta a vantagem da troca
O adesivo anticoncepcional transdérmico, dispo- apenas após 21 dias, todavia, requer manipulação de
nível no mercado brasileiro com o nome de Evra, tem genitais e conhecimento da anatomia, o que pode res-
uma superfície de contato de 20 cm² de área, com um tringir seu uso em algumas mulheres.
E昀椀cácia
No primeiro ano de uso, a taxa de gravidez com
DIU de cobre é de 0,6 a 0,8 por 100 mulheres. Os es-
tudos clínicos demonstram que esse é o método de
menor taxa de descontinuidade (em um ano, a cada
100 mulheres, apenas 12 trocam o método, sendo as
causas mais frequentes o sangramento aumentado e
Figura 33.14 Anel vaginal. Método para inserir e o
anel da vagina. a dor). O DIU com levonorgestrel apresenta taxa de
gravidez de 0 a 0,2 por 100 mulheres em cinco anos.
Dispositivo intrauterino
(DIU)
Cerca de 100 milhões de mulheres utilizam DIU. O
DIU nada mais é do que um corpo estranho intrauteri-
no que estimula uma reação inflamatória no endométrio
(endometrite asséptica), tornando-o hostil e cheio de
macrófagos que podem fagocitar espermatozoides em
ascensão. Além disso, possui ação espermicida e provoca Figura 33.15 Imagem dos fios do DIU (seta) se exteriori-
reações bioquímicas que interferem no transporte desses zando pelo orifício do colo uterino ao exame especular.
espermatozoides no aparelho genital. Alguns, como será
explicitado a seguir, liberam progesterona, o que faz com
que, além dos efeitos citados, ocasionem anovulação, re-
dução do peristaltismo tubário e espessamento do muco
cervical, elevando a eficácia anticoncepcional.
Tipos
DIU com cobre – feito de plástico e revestido com
filamento de cobre.
DIU que libera hormônio – feito de plástico e re-
vestido por cápsula que libera pequenas quantidades Figura 33.16 Imagem ultrassonográfica evidencian-
de levonorgestrel. do a presença do DIU de cobre dentro do útero (seta).
Perfuração da parede do útero; não são visualizáveis, a gestação deve ser acompanhada
Bacteremia transitória (deve-se fazer uso de an- com cuidados redobrados, pois o risco de corioamnioni-
tibioticoprofilaxia na introdução de DIU em pa- te e ruptura prematura de membranas com consequente
cientes com doenças valvares). interrupção prematura da gravidez aumenta muito.
A Tabela 33.8 traz as contraindicações do uso de DIU,
mas é preciso lembrar que ele promove uma comunicação
do meio vaginal, onde está o fio-guia para futura retirada, Usuárias de DIU com DIPAa
com o intrauterino, de modo que favorece infecções do
O DIU não causa infecção, mas favorece que uma
trato genital superior, como DIPAa. Desse modo, não deve
infecção do trato genital inferior ascenda ao superior,
ser colocado em mulheres com promiscuidade sexual, pas-
com a consequência de doença inflamatória pélvica, sal-
sado recente de DIPAa ou infecção vulvovaginal vigente.
pingite e pelviperitonite, como foi explicado anterior-
mente. As chances dessa complicação estão diretamen-
te relacionadas ao comportamento de risco para DSTs.
Complicações durante o uso Muito embora alguns autores recomendem a manu-
Expulsão; tenção do DIU em casos de DIPAa leve, o manual de anti-
Dor pélvica e dismenorreia; concepção da Febrasgo (Federação Brasileira das Associa-
Sangramento anormal: menorragia e hiperme- ções de Ginecologia e Obstetrícia) orienta a remoção do
norreia; dispositivo diante do diagnóstico de DIPAa confirmado.
Infecção.
O risco de gravidez ectópica em mulheres que A Organização Mundial da Saúde (OMS) consi-
usam DIU é obviamente menor do que naquelas que derou as seguintes categorias de usuárias de DIU
não usam nenhum método anticoncepcional, acre- Categoria 4: contraindicações absolutas
ditando-se que, diante da falha do método, há mais Gravidez confirmada ou suspeita
chance de a gravidez ser ectópica. Infecção pós parto ou pós-aborto
para 25% com a remoção. Se os fios de reparo do DIU cular, risco de tromboembolismo)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) conside- previnem a gravidez em ¾ dos casos e reduzem a chan-
rou as seguintes categorias de usuárias de DIU ce de gestação em uma relação desprotegida no meio
(cont.) do ciclo de 8% para 2%.
Categoria 1: uso sem restrições Os efeitos colaterais principais são náuseas, vô-
Mais de 4 semanas pós-parto sem infecção mitos, cefaleia, tonturas, mastalgia, diarreia, dor ab-
Após aborto de primeiro trimestre sem infecção dominal e irregularidade menstrual, que tendem a
Idade acima de 35 anos desaparecer em alguns dias.
HAS, diabetes, doenças tromboembólicas, cardio-
vasculares isquêmicas, cardiopatia valvular, doenças
hepáticas, obesidade e hiperlipidemias Esquemas
Antecedente de gravidez ectópica e DIPA com gravidez ACO contendo 50 mcg de etinilestradiol + 50 mg
posterior de levonorgestrel, duas drágeas seguidas de mais
Cefaleia duas após 12 horas (método de Yuzpe);
Doenças da mama
Levonorgestrel 0,75 mg, 1 comprimido a cada
Epilepsia
12 horas, em duas ingestões ou os dois compri-
Antecedente de cirurgia abdominal ou pélvica
midos em uma única ingestão, lembrando que a
As associações de duas ou mais condições podem ele-
administração do levonorgestrel em dose única
var a categoria
ou a cada 12 horas tem resultados semelhantes.
Tabela 33.8
O esquema com uso apenas de progestagênio
causa menos náuseas e vômitos e é mais eficaz.
É importante orientar a paciente que o uso
Anticoncepção pós-coital desse método provoca antecipação do fluxo sanguí-
neo, sendo comum alterações no padrão de sangra-
ou de emergência mento do ciclo tratado. Em caso de persistência,
deve ser afastada a possibilidade de gravidez.
RU-486
Também conhecida como pílula do aborto, tem como princípio ativo o mifeprostone, um derivado 19-no-
retisteroide sintético que apresenta efeito antiprogestogênico. Assim, liga-se a receptores de progesterona,
principalmente no endométrio, impedindo a ação desse hormônio e o amadurecimento endometrial para a
gravidez (decidualização).
No Brasil, pode ser usada para qualquer mulher até cinco dias pós-coito e é uma opção melhor que o DIU para
nulíparas. Entretanto, apresenta eficácia variando de 82 a 94% até o dia anterior à data da próxima menstruação
esperada. Porém, após o quinto dia posterior à relação sexual, a permissão de uso segue a legislação vigente, isso
porque, nesse período, passa a ser um abortivo. A dose é única, de 600 mg via oral.
Critérios de eligibilidade
Orais monofásicos
Mestranol 0,1 mg + noretindrona 0,5 mg Biofim 21 ativas + 7 placebos
Megestran
Etinilestradiol 0,05 mg + linestrenol 1 mg Anacyclin 21 ativas + 7 placebos
Etinilestradiol 0,05 mg + levonorgestrel 0,5 mg Anfertil 21 ativas
Primovlar
Etinilestradiol 0,05 mg + levonorgestrel 0,25 mg Evanor 21 ativas
Neovlar
Etinilestradiol 0,0375 mg + linestrenol 0,75 mg Ovoresta 22 ativas
Etinilestradiol 0,03 mg + levonorgestrel 0,15 mg Microvlar 21 ativas
Nordette
Levordiol
Ciclo 21
Normamor
Levogen
Esterilização de昀椀nitiva
As esterilizações constituem cirurgias definitivas com o intuito de romper dutos de passagem de gametas, o
que impede a fertilização, ou seja, o encontro entre óvulo e espermatozoide.
Podem ser masculinas, as vasectomias, e femininas, com ampla sinonímia, que inclui: laqueadura tubária,
ligadura tubária, ligadura de trompas ou anticoncepção cirúrgica.
Esterilização feminina
Quanto aos tipos de esterilização definitiva feminina, temos:
Salpingectomia parcial: é o tipo mais comum de esterilização e consiste na retirada de parte da trompa.
A técnica mais utilizada é a de Pomeroy (Figura 33.17).
Legislação
No Brasil, os critérios de eligibilidade são base-
ados na Lei sobre Planejamento Familiar. Somente é
permitida a esterilização voluntária nas seguintes si-
tuações (Fonte: Diário Oficial, nº 10, seção 1, 15 de
janeiro de 1996):
I. Em homens e mulheres com capacidade civil ple-
na e maiores de 25 anos de idade ou, pelo menos, com
dois filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo
de sessenta dias entre a manifestação da vontade e o
ato cirúrgico, período no qual será propiciado à pessoa
Figura 33.18 Aplicação dos grampos na tuba para
interessada acesso a serviço de regulação da fecundida-
esterilização definitiva.
de, incluindo aconselhamento por equipe multidiscipli-
nar, visando desencorajar a esterilização precoce;
II. Risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro
E昀椀cácia concepto, testemunhado em relatório escrito e assina-
No primeiro ano após o procedimento, a taxa do por dois médicos.
de gravidez é de 1 em cada 200 mulheres. As taxas de § 1º – É condição para que se realize a esterili-
arrependimento variam bastante, de 2 a 13%, depen- zação o registro de expressa manifestação da vontade
dendo da idade e das circunstâncias nas quais o proce- em documento escrito e firmado, após a informação a
dimento foi realizado. respeito dos riscos da cirurgia, possíveis efeitos cola-
terais, dificuldades de sua reversão e opções de contra-
cepção reversíveis existentes.
Benefícios § 2º – É vedada a esterilização cirúrgica em mu-
lher durante os períodos de parto ou aborto, exceto
É permanente;
nos casos de comprovada necessidade, por cesarianas
Não interfere nas relações sexuais nem no prazer sucessivas anteriores.
sexual;
Não apresenta riscos à saúde;
§ 3º – Não será considerada manifestação da
vontade, na forma do § 1º, se expressada durante
Pode reduzir o risco de doença inflamatória pélvica.
ocorrência de alterações na capacidade de discerni-
Em casos especiais, é possível tentar-se a reanas- mento por influência de álcool, drogas, estados emo-
tomose tubária, com taxas de sucesso ao redor de 50%. cionais alterados ou incapacidade mental temporária
ou permanente.
§ 4º – A esterilização cirúrgica como método
Efeitos adversos contraceptivo somente será executada através da la-
queadura tubária, vasectomia ou de outro método
Além do fato de ser, em sua maioria, um método cientificamente aceito, sendo vedada por meio de his-
irreversível, considera-se que pode causar a síndrome terectomia e ooforectomia.
pós-laqueadura, que consiste no aumento do fluxo
menstrual. Postula-se que isso seja decorrente de al- § 5º - Na vigência de sociedade conjugal, a esteri-
teração da irrigação do ovário e consequente mudan- lização depende do consentimento expresso de ambos
ça na produção hormonal. Isso porque parte do fluxo os cônjuges.
sanguíneo para os ovários advém de vasos e ramos de § 6º - A esterilização cirúrgica em pessoas abso-
uterinas, que acompanham as trompas e são secciona- lutamente incapazes somente poderá ocorrer median-
dos com a ligadura destas. te autorização judicial, regulamentada na forma da lei.
34
Fertilização assistida
Fertilização in vitro
(FIV)
Estimulação da ovulação
Na ausência de fator ovulatório, a inseminação
intrauterina com sêmen de doador (Iiud) pode ser
Convencional Micromanipulação: Outras técnicas:
injeção Transferência
realizada durante um ciclo menstrual natural. Entre-
intracitoplasmática intrafalopiana de zigoto tanto, a literatura tem mostrado que, independente-
de espermatozoide: (ZIFT) mente da indicação da Iiuh, os resultados em ciclos
(ICSI) Transferência
naturais são desanimadores e estas pacientes devem
tubária de embrião
(TET) sempre ser submetidas à estimulação ovariana. O ob-
Transferência jetivo da estimulação ovariana nos casos de Iiuh é a
falopiana de obtenção de um a três folículos de boa qualidade. Os
gametas (GIFT)
esquemas de estimulação podem variar de acordo com
Figura 34.1 TRA mais utilizadas. a resposta da paciente.
Os principais esquemas utilizados são:
citrato de clomifeno (Clomid, Serofene, Indux)
Indicações na dose de 50 a 100 mg/dia, em dose única diária,
por cinco dias consecutivos, iniciando-se do ter-
A IIU deve ser realizada na ausência de fatores
ceiro ao quinto dia do ciclo menstrual;
tuboperitoniais (com a certeza de que a tubas uteri-
nas estão pérveas), em ciclos ovulatórios e na presen- gonadotrofina humana (contendo concen-
ça de cavidade uterina normal. trações iguais de LH e FSH: Menogon,
Merional, Menopur) na dose de 75 a 150 UI/
Principais indicações para a IIUH: dia, em dias consecutivos ou alternados, a par-
esterilidade sem causa aparente; tir do terceiro dia do ciclo menstrual. A dose
endometriose estádio I e II – da American Socie- poderá ser reajustada de acordo com a respos-
ty for Reproductive Medicine (ASRM); ta da paciente, avaliada pela ultrassonografia
transvaginal (US);
fator cervical ou imunológico;
hormônio folículo-estimulante (FSH) recombi-
impossibilidade de ejaculação vaginal; nante (Gonal F, Puregon) na dose de 37,5 a
fator masculino leve (oligoastenozoospermia leve). 150 UI ao dia.
Atualmente, com a preocupação cada vez meio de cultivo, é possível fazer soluções com
maior de evitar gestações múltiplas, tem-se densidades variadas. Um gradiente de densidade
procurado atingir o desenvolvimento de folí- descontínua é produzido, colocando-se em um
culos de boa qualidade e em menor número. A tubo de plástico de 15 mL duas ou três camadas
obtenção de mais de quatro folículos pode ser de concentrações diferentes, uma em cima da
indicação de cancelamento, devido à grande outra. Por exemplo:
chance de resultar em gestação múltipla. 1,5 mL de solução de Percoll a 40% sobre 1,5
mL de solução de Percoll a 90%. A amostra de
sêmen é então pipetada delicadamente sobre esta
A paciente deverá ser monitorizada por ultras- coluna de densidade e centrifugada;
sonografia (US), por via transvaginal. A US deverá
no pellet ficarão as células funcionalmente normais;
informar sobre o número, tamanho e evolução dos
folículos, assim como relatar a espessura e aspecto os espermatozoides imóveis e anormais e os leu-
endometriais e a presença de muco cervical. Os exa- cócitos presentes ficarão entre as camadas de
mes, geralmente, iniciam-se no décimo dia do ciclo e 40% e 90%. O pellet é isolado e lavado com meio
são realizados em dias alternados até que os folículos de cultura para que os espermatozoides sejam
alcancem diâmetro médio de aproximadamente 18 usados na inseminação;
mm. Nesse período, o endométrio deverá apresentar este método é indicado para pacientes com oli-
espessura superior a oito milímetros e aspecto pe- gozoospermia ou astenozoospermia leve.
riovulatório. A paciente receberá, então, uma injeção
intramuscular de hCG (Choragon, Choriomon), na
dose de 5000 UI/mL. Esta injeção irá simular o pico
endógeno de LH, promovendo a ruptura folicular após
Procedimento
32 a 36 horas aproximadamente. Uma outra opção é o A IIU é realizada em regime ambulatorial e não
uso de uma injeção de LH recombinante (Ovidrel), na requer nenhum preparo especial por parte da pacien-
dose de 250 ug. te. O momento adequado da realização é cerca de 24 a
36 horas após a injeção de hCG. O ideal é que a inse-
minação seja realizada pouco antes da ovulação. Em-
bora alguns trabalhos sugiram a realização de duas IIU
Preparo do sêmen no mesmo ciclo, uma no dia do hCG e outra no dia
seguinte, as taxas de gravidez são semelhantes ao se
O preparo do sêmen para IIU é feito frequente-
mente por uma das duas técnicas descritas a seguir: comparar ciclos em que foram realizadas uma ou duas
inseminações. Portanto, a realização de duas insemi-
Swim-up: a amostra de sêmen é diluída em meio nações no mesmo ciclo não estaria indicada por não
de cultivo suplementado com soro da própria apresentar melhores resultados, além de ter maior
paciente ou soro sintético a 10%. A amostra é en-
custo e oferecer desgaste para a paciente.
tão centrifugada a 3008, por duas vezes, usando
um tubo cônico de plástico de 15 mL não tóxico O sêmen deve ser colhido por automanipulação
e estéril. O sobrenadante será descartado e no e, a seguir, processado no laboratório. No caso de Iiud,
fundo do tubo haverá uma concentração de cé- o banco de gametas deverá ser previamente avisado
lulas, o pellet, que será diluído em 1 mL de meio do provável horário da IIU. Quando o sêmen já estiver
de cultivo, centrifugado e incubado a 37ºC por preparado, a paciente será colocada em posição de lito-
pelo menos 45 minutos em tubo de plástico de tomia e a amostra beneficiada será injetada dentro do
5 mL. O tubo, com as células situadas no pellet, útero por cateter apropriado. O procedimento é prati-
é colocado obliquamente inclinado, permitindo camente indolor, não sendo necessária a utilização de
que haja a subida dos espermatozoides para o lí- anestesia. A paciente poderá se queixar apenas de leve
quido (técnica do swim-up – “nadar para cima”). desconforto abdominal. É aconselhável que a paciente
No fundo do tubo ficarão os espermatozoides
permaneça em repouso por alguns minutos, podendo,
imóveis e outras células e, na superfície, estarão
em seguida, retornar a suas atividades habituais. Qua-
os melhores espermatozoides a serem usados
torze dias após a IIU, caso não ocorra a menstruação,
na inseminação. Essa técnica (deve ser utilizada
quando a amostra de sêmen possui valores nor- a paciente deverá realizar uma dosagem sérica de hCG
mais em seus parâmetros espermáticos, de acor- para diagnóstico de possível gravidez.
do com os critérios de normalidade da OMS. Mulheres portadoras de vaginismo devem ser
Gradiente de Percoll : é baseado na diferença monitoradas por ecografia transabdominal e a inse-
de gravidade entre os espermatozoides e entre es- minação deve ser realizada intravaginal, com sêmen
tes e outras células presentes no sêmen. Percoll fresco, sem o emprego de espéculo. O sêmen é colo-
é uma suspensão de partículas de sílica cobertas cado em uma seringa, é liquefeito e injetado por uma
com polivinilpirrolidona. Ao diluir Percoll em pequena sonda na vagina.
Pela OMS, contagens após beneficiamento aci- utilização de ciclos naturais apresenta as vantagens
ma de 5 milhões de espermatozoides/mL poderão se de baixo custo e mantém ausente o risco da síndrome
beneficiar de IIU. Com contagens após beneficiamen- do Hiperestímulo Ovariano e gestações múltiplas. Em
to entre 2 e 5 milhões/mL, pode-se indicar FIV. Nos contrapartida, apresenta índices extremamente bai-
casos abaixo de 2 milhões, a melhor indicação será a xos de gravidez, o que levou a maioria dos centros de
ICSI. Nos casos de azoospermia obstrutiva, isto é, o reprodução a abandonar esse método.
paciente produz espermatozoides, mas eles não estão
presentes no ejaculado, indica-se FIV com micromani-
pulação de espermatozoides obtidos por punção dos
epidídimos ou deferentes. Nos casos de azoospermia FIV em ciclos hiperestimulados
secretora, com produção de número muito baixo de Antes do início do hiperestímulo ovariano,
espermatozoides, a biópsia testicular pode recuperar promove-se uma dessensibilização dos receptores
alguns espermatozoides que sejam viáveis para micro- hipofisários com o uso de análogos do GnRH. O
manipulação. O desenvolvimento científico não tem uso geralmente resulta em um crescimento folicu-
sido promissor no sentido de se realizar micromani- lar mais homogêneo e impede o desencadeamento
pulação com células precursoras de espermatozoides do pico endógeno do LH, que poderia levar a uma
aspiradas do testículo e maturadas in vitro. ovulação precoce.
Apesar de o fator tubário ainda constituir a prin- Os agonistas, inicialmente, causam uma estimu-
cipal indicação para as técnicas de reprodução assisti- lação hipofisária (efeito flare), seguida de dessensibili-
da, a prevalência destas varia de acordo com a popu- zação (diminuição do número de receptores de GnRH
lação estudada. Em países menos desenvolvidos e nas nas células hipofisárias); esse efeito paradoxal dos
populações de baixo poder socioeconômico, as seque- análogos do GnRH culmina com um bloqueio parcial
las de infecções pélvicas apresentam prevalência ainda da secreção das gonatrofinas e, portanto, evita o apa-
maior. Não existem estudos suficientes que comparem recimento do pico ovulatório de LH. Os antagonistas
resultados entre IIU e FIV para casais com Esca. A ten- também podem ser usados para bloquear o pico en-
dência tem sido realizar alguns ciclos de IIU antes de dógeno de LH; estes provocam bloqueio imediato dos
se optar por FIV. receptores do GnRH.
Os esquemas de estimulação ovariana que utili-
Número de zam os agonistas são divididos, basicamente, em dois
Técnica de reprodução grupos:
espermatozoides após
assistida recomendada
beneficiamento esquema curto de análogo (flare-up): é indi-
Acima de 5 milhões Inseminação intrauterina cado principalmente para pacientes com idade
Entre 2 e 4 milhões Fertilização in vitro mais avançada ou que apresentaram resposta
Abaixo de 2 milhões Micromanipulação – ICSI ovariana pobre em ciclos anteriores. O análogo,
que começa no primeiro ou no segundo dia do
Tabela 34.1 Técnica de reprodução assistida a de-
ciclo menstrual, promove o aumento das gona-
pender do número de espermatozoides
dotrofinas endógenas (efeito flare) que irão ini-
ciar o crescimento folicular e, posteriormente,
Indicações de FIV promove um bloqueio da hipófise e queda das
Causas Porcentagem gonadotrofinas endógenas. O análogo é mantido
Tubária 65,6 até a época da injeção do hCG;
Endometriose 16,8 esquema longo de análogo: inicia-se o aná-
Outras causas femininas 3,9 logo na metade da fase lútea do ciclo anterior,
Masculina 8,13 com base no fato de que a dessensibilização
Inexplicada 5,6 completa ocorre dentro de 10 a 12 dias após
o início do uso e mantém-se até dias após a
Tabela 34.2
injeção do hCG. Tem sido o esquema mais
utilizado e que apresenta as melhores taxas
de gravidez. No esquema longo, pode-se uti-
FIV em ciclos naturais lizar o agonista em forma de depósito ou em
pequenas doses diárias. Apesar de a taxa de
Requer que a paciente esteja ovulando normal- gravidez ser semelhante, o uso da forma de
mente. Pacientes com idade mais avançada e/ou índi- depósito resulta em uma estimulação ovariana
ces séricos de Hormônio Folículo Estimulante (FSH) mais demorada, requerendo maior número de
> 12 UI/mL no terceiro dia do ciclo apresentam me- ampolas de gonadotrofina, o que eleva o custo
nores chances de sucesso nesses procedimentos. A final do tratamento.
Meio de cultivo
O meio de cultivo para FIV deve refletir o mais
próximo possível o líquido no qual o oócito e o futu-
ro embrião se encontram em circunstâncias naturais.
Esse meio de cultivo é constituído de aminoácidos, sais
minerais e proteínas. Existem vários tipos de meios de
cultivo formulados e comercialmente disponíveis para
embriões humanos usados em FIV, inclusive meios
mais elaborados, que podem cultivar embriões até a
Figura 34.4 Imagem ultrassonográfica do ovário evi- fase de blastocisto.
denciando múltiplos folículos; quando esse pool folicular Uma vez escolhido o meio de cultivo a ser usado,
atingir a média de 18 mm, o hCG deve ser administrado. este deve ser colocado, um dia antes da coleta ovular,
em estufa apropriada com saturação de 5% ou 6% de
CO2 (dependendo do meio de cultivo utilizado), em
uma temperatura de aproximadamente 37ºC, para
que se estabilize e mantenha um pH em torno de 7,4.
É importante ressaltar que todo o material usa-
do, assim como o meio de cultivo escolhido, tem que
ser de alta qualidade, estéril, não tóxico e testado para
embrião humano.
Maturação oocitária
A maturação oocitária sofre influência do surgi-
mento natural do LH ou da injeção artificial de hCG.
Em torno de 25 horas após o pico de LH ou da inje-
Figura 34.5 Coleta ovular. ção de hCG, surge a vesícula germinal do oócito. Esta
O aparecimento de um único pró-núcleo se deve a alguns fatores, tais como assincronia no aparecimento
dos pró-núcleos, o pró-núcleo materno ou paterno não se desenvolveu, houve aumento da temperatura ou houve
trocas osmóticas repentinas ativando o oócito. Pode ocorrer uma ruptura precoce dos grânulos corticais e, conse-
quentemente, uma reação da zona pelúcida, impossibilitando a penetração espermática.
Esses zigotos podem dar origem a embriões anormais, a maioria deles inviáveis, com riscos de gravidez
molar e aborto espontâneo.
Cultivo do embrião
Após a verificação dos dois pró-núcleos, é necessário que o oócito seja transferido para um meio de cultivo
fresco, aquecido a 37ºC e com pH equilibrado em estufa de CO2.
Esses oócitos serão colocados em placas de quatro poços ou microgotas sob óleo e ficarão em estufa de CO2,
incubados até o dia seguinte, quando serão acessados para a verificação da clivagem ou divisão embrionária. Nes-
se dia (segundo dia após a coleta ovular), os embriões estarão com quatro a seis células ou blastômeros.
Esses embriões poderão ser transferidos. No quinto ou sexto dia de cultivo após a coleta ovular, os embriões
estarão em estágio de mórula ou blastocisto. A escolha do tempo de cultivo para os embriões depende da quanti-
dade de zigotos obtida e da qualidade desses embriões.
grau 1: os blastômeros são simétricos e não há espermatozoides e embriões com facilidade, pois seu
fragmentação. Citoplasma claro e homogêneo; sistema provê uma percepção delicada e bem-con-
grau 2: os blastômeros são simétricos, porém, trolada em três planos e possui ainda um alcance de
há 10 a 20% de fragmentação; movimento ajustável. O procedimento da microma-
grau 3: os blastômeros são assimétricos e desi-
nipulação é feito utilizando-se microscópio invertido,
guais e existe 20 a 50% de fragmentação; equipado com micromanipuladores hidráulicos e mi-
cropipetas encaixadas em porta-pipetas controladas
grau 4: os blastômeros são assimétricos e existe por microinjetores.
mais de 50% de fragmentação.
Espermatozoides podem ser obtidos por mas-
Após essa classificação, os embriões são seleciona- turbação ou, em casos especiais de obstrução do epi-
dos para transferência. Terão preferência os embriões dídimo, por microcirurgias como Microaspiração do
de graus 1 e 2; os graus 3 e 4 também podem ser trans- Esperma do Epidídimo (Mesa) ou Aspiração Percutâ-
feridos, mas a taxa de implantação pode diminuir. nea do Epidídimo (Pesa). Espermatozoides dos testí-
A determinação do número de embriões a serem culos podem ser obtidos mediante biópsias testicula-
transferidos para cada paciente depende de alguns fa- res ou aspirações com agulhas finas, mesmo em casos
tores como idade da paciente, causa da infertilidade e de azoospermia não obstrutiva, com interrupção da
qualidade embrionária. espermatogênese.
Em pacientes jovens, o número de embriões trans- Existe uma condição rara, denominada ejacula-
feridos não pode exceder três. Mesmo assim, elas corre- ção retrógrada, em que os espermatozoides são cole-
rão o risco de gravidez múltipla. Em pacientes acima de tados da bexiga após masturbação ou eletroejaculação
37 anos, o número de embriões transferidos pode ser (sonda colocada no reto que promove ejaculação).
maior, tendo em vista que os oócitos de mulheres aci- Atualmente, a micromanipulação é uma técnica
ma de 40 anos não são de boa qualidade. Esses oócitos muito flexível e pode também ser usada em diversos
podem fertilizar, mas os embriões não terão um bom outros procedimentos, tais como:
desenvolvimento e serão bem-fragmentados.
assisted hatching: consiste em fazer uma aber-
tura na zona pelúcida para facilitar a saída do
embrião (eclosão ou hatching). Essa abertura
pode ser feita de forma mecânica, química ou
com a utilização de laser e é realizada quando o
embrião possui oito ou mais células. Esse pro-
cedimento tem sido utilizado em pacientes mais
velhas (> 39 anos) e naquelas com falhas repeti-
das de implantação. Entretanto, seu emprego é
controverso e, de acordo com as evidências mais
recentes, não deve ser usado;
remoção de fragmentos: as interações celula-
res entre os blastômeros podem sofrer interferên-
cias quando ocorre a formação de fragmentos,
os quais podem prejudicar o processo de com-
Figura 34.8 Representação da fertilização in vitro. pactação das células, dificultando a blastulação.
Podem-se remover esses fragmentos realizando-
-se uma abertura na zona pelúcida, como a des-
crita anteriormente e, a seguir, com o auxílio de
Injeção intracitoplasmática uma micropipeta de calibre apropriado, remover
os fragmentos entre os blastômeros. Uma pipeta
de espermatozoide (ICSI) de apreensão (holding) mantém o embrião fixo
com uma leve sucção. Esse procedimento deve
ser realizado de preferência quando o embrião
Este método revolucionou o tratamento de infer-
possuir de quatro a oito blastômeros. Sua utiliza-
tilidade masculina grave. Nesse procedimento, usam-
ção é ainda experimental;
-se técnicas de micromanipulação, injetando-se um
único espermatozoide dentro do citoplasma do oócito biópsia embrionária pré-implantação (PGD):
para alcançar a fertilização. os embriões são examinados visando à detecção de
alterações genéticas antes da ocorrência de gravi-
O propósito da micromanipulação é transformar dez. As alterações genéticas podem ser classificadas
os movimentos grosseiros da mão em micromovi- em: anormalidades cromossômicas numéricas e
mentos. Micromanipuladores permitem ao operador estruturais, alterações no DNA ou mutações gené-
trabalhar com estruturas microscópicas como oócito, ticas e desordens multifatoriais. As técnicas de pes-
quisa com genética molecular incluem Fish (Fluo- diminui a motilidade dos espermatozoides e permite
rescent in Situ Hybridization), usada para detectar sua imobilização e aspiração. O PVP também lubrifica a
alterações cromossômicas numéricas (aneuploi- pipeta e impede a aderência de espermatozoides dentro
dias) e estruturais. A reação em cadeia da polime- dela. Em torno desta gota são colocadas várias outras
rase (PCR – Polymerase Chain Reaction) permite gotas de meio de cultivo sob óleo, onde ficarão os oóci-
a identificação de doenças monogênicas. Embora tos. Esta placa é feita um dia antes da realização da ICSI,
as técnicas de diagnóstico genético tenham melho-
para que haja o equilíbrio de pH e temperatura.
rado sensivelmente (1,8% de erros diagnósticos),
ainda se recomenda a realização de diagnóstico O espermatozoide é, então, aspirado com a pi-
pré-natal (amniocentese ou biópsia vilocorial) para peta do micromanipulador e levado para a gota, que
confirmação dos achados da biópsia pré-implan- contém o oócito a ser injetado. O oócito é mantido
tação. Deve-se ressaltar que o PGD é um procedi- fixo por pressão negativa exercida por uma pipeta de
mento caro e invasivo, que não aumenta as taxas de apreensão (holding). A pipeta, com o espermatozoide,
gravidez ou de nascidos vivos. Além disso, os pos- atravessa a zona pelúcida penetrando o oolema (mem-
síveis efeitos da biópsia sobre o embrião-feto ainda brana plasmática do oócito) até alcançar o centro do
não foram completamente elucidados. oócito onde o espermatozoide é injetado.
A biópsia também pode ser feita do primeiro cor- Os oócitos são examinados para evidenciar a
púsculo polar, em embriões de quatro a oito células e fertilização 14 a 20 horas após a injeção, quando os
em estágio de blastocisto. dois pró-núcleos poderão ser visualizados. As etapas
seguintes de cultivo embrionário seguem o modelo da
FIV convencional.
Preparo dos oócitos
Os oócitos são coletados e cultivados como para
FIV convencional, porém, para serem injetados com o Transferência de embriões
espermatozoide, é necessário que o complexo cumulus-
Geralmente as transferências são feitas nos dias
-corona seja removido por meio da exposição de 0,05
2 e 3 ou 5 e 6 após a coleta ovular.
a 0,1% de hialuronidase por 15 a 30 segundos, segui-
do do uso de pipetas de Pasteur, afiladas em chama,
de maneira que se consigam diâmetros de diferentes
tamanhos para a remoção das células da corona. Os
oócitos devem estar em metáfase II para a realização
Transferência no dia 2
da injeção intracitoplasmática. (36 a 48 horas após a inseminação)
Os embriões estarão no estágio de duas a quatro
células e, menos comumente, seis a oito células tam-
bém podem ser observadas. A vantagem de transferir
Preparo do sêmen embriões nesse estágio é basicamente relacionada ao
O método usado para a preparação do sêmen de- tempo de exposição ao meio externo, que pode exercer
pende da qualidade da amostra usada. influências sobre as condições de cultivo quando há flu-
Para micromanipulação, o método mais usado é tuações de CO, temperatura e umidade do ar, correndo-
o de gradiente de densidade, porém, um número sig- -se o risco de contaminação por micro-organismos.
nificativo de espermatozoides deve estar presente na
amostra para que espermatozoides móveis com morfo-
logia adequada sejam encontrados no final da prepara-
ção. Espermatozoides coletados via aspiração do epidí- Transferência no dia 3
dimo ou biópsia testicular geralmente têm contagem e Os embriões estarão no estágio de seis a oito cé-
motilidade baixa. Essas amostras podem ser centrifu- lulas e, mais raramente, no de 10 a 12 células.
gadas e o pellet restante adicionado ao meio de cultivo
para facilitar a localização dos espermatozoides. A escolha de transferir os embriões no dia três é
feita quando existe uma quantidade maior de embri-
ões de mesma qualidade. Esperar mais um dia pode
ser mais fácil para selecionar os melhores embriões.
Preparo das placas para a
realização da ICSI
A ICSI é feita cm placas de Petri contendo micro- Transferência no dia 5 ou 6
gotas sob óleo. No centro da placa, é colocada uma gota Os embriões estarão nos estágios de mórula ou
com solução viscosa de PVP (Polyvinylpyrrolidone), que blastocisto.
dos ciclos e pode significar risco de vida para a paciente. A preservada por videolaparoscopia e a fertilização
fisiopatologia da Sheo ainda não foi totalmente elucidada, ocorre in vivo. O embasamento da Gift é o de que,
mas parece estar relacionada com o sistema resina-angio- nesse procedimento, o embrião atingiria a cavi-
tensina e liberação de substâncias vasoativas pelo ovário, dade endometrial em um período mais fisiológico
sob a ação do hCG. Entre essas substâncias, o fator de cres- que na FIV, o que aumentaria as taxas de implan-
cimento vascular endotelial (VEGF) parece ser o principal tação. As principais indicações para Gift seriam a
agente. Essa condição se caracteriza por um aumento na endometriose (estádios I e II), a infertilidade por
permeabilidade capilar, com passagem de fluidos do espa-
fator cervical e a esterilidade sem causa aparente
ço intravascular para o chamado “terceiro espaço”, resul-
(Esca). Esse método tem sido pouco utilizado pelos
tando em um acúmulo de líquidos nesses espaços e em
hemoconcentração. Apesar de a síndrome se manifestar diversos centros de reprodução, que têm indicado
apenas no período pós-ovulatório desses ciclos estimula- preferencialmente a FIV.
dos, alguns sinais e sintomas podem predizer o apareci-
mento dela. Pacientes jovens, magras, portadoras de Sín-
drome do Ovário Policístico (SOP), com nível elevado de
estradiol e grande número de folículos e oócitos coletados Doação de gametas
estão mais propícias a desenvolver a Sheo. Esquemas de
estimulação com doses muito elevadas de gonadotrofinas A legislação sobre doação de gametas varia de
também apresentam maior chance de desenvolvimento acordo com o país. No Brasil, a doação de gametas
da Sheo. Na sua forma mais leve, esta síndrome se mani- é regulamentada pela resolução 1.358/92, do Conse-
festa como um aumento no volume ovariano e desconfor- lho Federal de Medicina, e pela resolução de diretoria
to abdominal que irão se resolver espontaneamente, sen- colegiada (RDC) nº33, da Anvisa, que estabelecem
do necessário apenas que se faça observação da paciente e a obrigatoriedade do anonimato dos doadores e re-
oriente-a para permanecer em repouso. Em suas formas
ceptores. A escolha do doador é de responsabilidade
mais graves, a Sheo pode evoluir com ganho de peso acen-
do centro e a utilização da gravidez de substituição,
tuado, ascite, derrame pleural e peripericárdico, hemocon-
centração, tromboembolismo, oligúria, insuficiência renal quando indicada, é permitida com preferência da
aguda e óbito. Nos casos mais graves, é necessária a inter- receptora biológica por pessoas da mesma família e
nação da paciente com monitorização rigorosa e manu- sem fins lucrativos.
tenção do equilíbrio hemodinâmico e hidroeletrolítico. Na O risco de consanguinidade é evitado caso seja
suspeita do aparecimento de Sheo após a injeção do hCG, limitado a não mais que 25 gravidezes provenientes
desaconselha-se a transferência dos embriões nesse ciclo. de um único doador (sêmen ou oócito), numa popula-
Eles devem ser criopreservados para serem transferidos ção de 800 mil, entretanto, a resolução 1.358/92, do
posteriormente. Quando se suspeita da possibilidade de CFM, define que, na região de localização da unida-
se desenvolver a Sheo (presença de altos níveis de estra-
de, deve-se evitar que um doador produza mais que
diol ou grande número de folículos), deve-se suspender a
duas gestações, de sexos diferentes, numa área de um
administração do hCG ou dar o hCG e não fazer a trans-
ferência de embriões (realizar o congelamento embrioná- milhão de habitantes. Em caso de doação de óvulos,
rio). Na presença de gravidez, a Sheo pode se manifestar essa possibilidade é diminuída pela recomendação da
antes do atraso menstrual e, nesses casos, ela é mantida ASRM de se limitar a seis o número de ciclos de doação
via produção endógena pelo hCG. Alguns estudos têm por doadora.
mostrado que o uso de albumina intravenosa na época da
coleta pode prevenir o desenvolvimento das formas seve-
ras de Sheo em pacientes de alto risco. Outra estratégia
para prevenir a síndrome seria o chamado coasting, que
consiste em uma diminuição (primeira dose de gonado-
Doação de óvulos
trofinas durante o estímulo em pacientes que apresentem Diversos trabalhos descrevem uma boa taxa de
maior risco). sucesso de doação de oócitos mesmo em pacientes cujo
tratamento ocorra até vários anos após a menopausa
natural. Utilizamos a doação compartilhada, durante
a qual o casal receptor doa a medicação necessária à
Transferência intrafalopia- realização da FIV ou ICSI para o casal doador. Parte
dos óvulos é doada ao casal receptor, caso haja número
na de gametas (Gift) suficiente de oócitos para doação. Realiza-se sincroni-
zação dos ciclos doadora-receptora, preparando-se o
A Gift é um método de reprodução assistida endométrio das receptoras com estradiol e progeste-
em que os óvulos e os espermatozoides são trans- rona. Os casais assinam um termo de consentimento
feridos para a trompa uterina anatomicamente livre e esclarecido.
Desperdicei mais de 9.000 arremessos em minha carreira. Perdi quase 300 partidas.
Em 26 ocasiões fui encarregado de fazer o arremesso que daria a vitória à equipe... e errei.
Fracassei repetidas vezes em minha vida. Por isso mesmo tive sucesso.
Michael Jordan
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