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Tratamento.....................................................................................14 Tratamento.................................................................................... 36
Tratamento.................................................................................... 63 Angiodisplasias............................................................................. 90
Dieta................................................................................................ 63 Hemobilia....................................................................................... 90
Chama-se atenção para o fato de que a sub- As doenças motoras do esôfago geralmente
mucosa é a porção mais resistente da parede envolvem a musculatura estriada no terço
esofágica, elemento importante nas anasto- superior, ou a musculatura lisa no esôfago ter-
moses esofágicas. minal de maneira isolada, e raramente há um
comprometimento difuso do esôfago.
A parte externa, que é muscular, é constituída
A adventícia do esôfago é formada por tecido
por uma camada circular interna e uma camada
conectivo aureolar frouxo, com fibras elásti-
longitudinal externa. Entre a camada circular e
cas originárias das outras estruturas medias-
a longitudinal do esôfago, existem os chama-
tínicas. Não existe a presença de uma serosa,
dos plexos mioentéricos, seja na musculatura
como em outros segmentos do tubo digestivo.
lisa, seja na estriada, os quais são responsáveis
Esse fato prejudica a segurança das anastomo-
pela mobilidade coordenada da deglutição.
ses esofágicas, ao mesmo tempo que facilita a
O esôfago cervical tem continuidade com propagação das células tumorais para outras
fibras do esfíncter esofágico superior e fibras estruturas anatômicas.
provenientes da cartilagem cricoide e é cons- A transição da mucosa esofágica para a
tituído, em sua totalidade, por musculatura mucosa gástrica se faz com a mudança do epi-
estriada. No esôfago torácico existe uma télio escamoso do esôfago para epitélio cilín-
mescla de fibras musculares estriadas e lisas, drico do estômago, mudança identificada pelo
com prevalência da musculatura lisa à medida clareamento brusco na cor da mucosa, o que
que o esôfago vai se tornando mais caudal. O determina a chamada linha Z.
ESFÍNCTERES ESOFÁGICOS
O músculo cricofaríngeo separa a faringe do esôfago e forma o esfíncter esofágico superior que
mede aproximadamente 3 a 5 cm de comprimento, e tem função de evitar a eructação, com
regurgitação de conteúdo esofágico.
Já o esfíncter esofágico inferior está localizado O segmento inferior do esôfago é suprido pela
nos 3 ou 4 cm distais do esôfago e caracteriza- artéria frênica inferior e pela artéria esofago-
-se por um segmento de musculatura lisa, com cardiotuberositária, que é ramo da artéria gás-
tônus basal, sendo caracterizado como uma trica esquerda. Funcionalmente, essas artérias
zona de alta pressão da camada muscular do tendem a uma vascularização do tipo terminal.
esôfago, e tem como função evitar a regurgita-
ção de conteúdo do estômago para o esôfago.
A pressão de repouso normal do esfíncter
esofágico inferior é de 10 a 30 mmHg, porém
flutua de minuto a minuto em geral, essas flu-
tuações têm pequena amplitude, de 10 a 20
mmHg, porém grandes flutuações ocorrem,
e essas estão relacionadas com a atividade
motora migratória do estômago.
O tônus desse esfíncter é influenciado por
um grande número de fatores, entre os quais
estão os alimentos, fumo, drogas e hormônios.
Gastrina, polipeptídio pancreático, motilina e
bombesina aumentam o tônus.
Secretina, colecistoquinina, polipeptídio intes-
tinal vasoativo, glucagon e progesterona redu-
zem o tônus.
Alimentos ricos em proteínas o elevam; gordu-
ras, chocolate e etanol o reduzem. Entre outras
substâncias e medicamentos, a histamina, os
antiácidos, a metocloparamida, a domperidona,
Figura 1.5 - Vascularização arterial do esôfago.
cisaprida e a prostaglandina F2α produzem
aumento na pressão esfinctérica, ao passo que
VENOSA
a teofilina, as prostaglandinas E2 e I2, a seroto-
nina, a meperidina, a morfina, a dopamina, os Na submucosa esofágica, existe um fino plexo
bloqueadores de canais de cálcio, o diazepam e venoso microscópico que drena para outras
os barbituratos produzem sua redução. veias da submucosa, mais calibrosas, que
estão situadas de maneira regular ao redor da
VASCULARIZAÇÃO circunferência esofágica, formando uma rede
longitudinal paralela a toda a extensão do esô-
fago. Essa rede venosa paraesofágica se comu-
ARTERIAL nica com os sistemas porta e sistêmico no nível
dos três segmentos esofágicos.
A vascularização arterial da porção cervical do
esôfago é feita pelas artérias tireoideas inferio- O terço superior, através das veias tireoideas
res (Figura 1.5). inferiores, drena para a veia cava superior.
FISIOLOGIA DO ESÔFAGO
A função básica do esôfago é transportar o
material deglutido da boca ao estômago e,
ocasionalmente, em direção contrária. Possui
um esfíncter em cada extremidade com a fina-
lidade principal de mantê-lo vazio.
QUADRO CLÍNICO
Disfagia e regurgitação do alimento ingerido
são as grandes marcas dessa condição.
DIVERTÍCULOS PARABRÔNQUICOS
São caracteristicamente pequenos, com ponta Figura 2.6 - Divertículo epifrênico. Geralmente, achado incidental próximo
delgada e plana virada para cima, na direção à junção esofagogástrica.
A cirurgia só está indicada para os casos com Hérnia hiatal ou um EEI incompetente asso-
sintomas clínicos importantes e quando tiver- ciados a divertículos epifrênicos de indicação
mos estudo adequado da motilidade do esô- cirúrgica também devem ser reparados na
fago e do EEI. mesma operação.
INTRODUÇÃO DISFAGIA
Funcionalmente, o esôfago é dividido em três
Disfagia é a dificuldade de deglutir. É o principal
regiões: EES, corpo e EEI, que estão sob o con-
sintoma presente na totalidade dos distúrbios
trole do SNC e sistema nervoso entérico, e é motores do esôfago. Não é sintoma específico,
na avaliação da disfunção dessas estruturas sendo resultante tanto de distúrbios da função
que podemos classificar diferentes distúrbios esofágica como de lesões anatômicas intrínse-
motores, como listado na Tabela 3.1. cas, ou de compressões extrínsecas.
Achados importantes da propedêutica são: Corpo estranho: a obstrução causada por ali-
mento é uma causa frequente de disfagia, com
• Avaliar a evolução temporal do sintoma:
os sintomas instalando-se geralmente após a
agudo, subagudo ou crônico;
ingestão de carne, levando à obstrução total
• Quais alimentos causam disfagia: sólidos,
do esôfago. De modo geral, os doentes têm
líquidos ou ambos;
alguma anormalidade esofageana precedendo
• Sintomas contínuos, progressivos ou o quadro. O tratamento é endoscópico.
intermitentes;
AVC: é a causa mais comum de disfagia oro-
• Doenças previamente diagnosticadas:
faríngea aguda, acometendo de 22 a 65% dos
câncer, história de radioterapia, doenças
doentes; a disfagia é um marcador de mau
neurológicas, autoimunes, história de
prognóstico, aumentando o risco de aspira-
cirurgia bariátrica;
ção, desnutrição, institucionalização após a
• Interrogar todos os medicamentos ingeri- alta e óbito. A aspiração é um agravante da
dos recentemente; disfagia e está relacionada ao aumento da
• Dor à deglutição: indica um componente morbidade e da mortalidade e ao aumento
inflamatório associado, tal como esofagite dos custos durante a internação nos doentes
(química, infecciosa); com AVC agudo.
• Dor torácica ou retroesternal: pode se Perfuração esofágica: pode ser não traumá-
assemelhar à angina e pode indicar uma tica (90% dos casos envolve o esôfago distal),
alteração motora do esôfago (refluxo, relacionada ao trauma, ingestão de cáusti-
espasmo) ou perfuração esofágica; cos, corpo estranho ou iatrogênico (cirurgia,
• Questionar sintomas de outros sistemas: procedimentos endoscópicos), ou ainda pode
perda de peso, anorexia, vômitos, diar- ser consequência de vômitos incoercíveis (sín-
reia, tremor, artrite etc.; drome de Boerhaave).
Acidente vascular cerebral Sintomas de início súbito associados ao deficit neurológico focal
Tumores intracranianos Sintomas progressivos e déficit neurológico focal
Sintomas neurológicos diversos não explicados por lesão cerebral
Esclerose múltipla
única
Doença de Parkinson Estágio avançado da doença
Demência de Alzheimer Estágio avançado da doença
Deficits motores assimétricos progressivos, com envolvimento de
Esclerose lateral amiotrófica
neurônios motores superiores e inferiores
Faringite/abscesso retrofaríngeo ou
Dor em orofaringe, odinofagia, febre
periamigdaliano
Iatrogênicas
Alterações anatômicas após cirurgia Pós-operatório de cirurgia de pescoço ou orofaringe
Medicações Neurolépticos, sedativos
Radiação Alterações anatômicas e funcionais devido à radioterapia
Tabela 3.2 Causas de disfagia orofaríngea e dados para suspeição diagnóstica
Com o evoluir do processo, o esôfago vai se de acalasia para câncer do esôfago, o tipo his-
dilatando, surgindo então o megaesôfago, que tológico mais comum é o carcinoma epider-
é uma alteração anatômica consequente a um moide em 3% dos casos.
distúrbio funcional.
DIAGNÓSTICO
Na forma chagásica, as anormalidades do
relaxamento esfincteriano são semelhantes
Para estabelecer o diagnóstico é necessário
às da idiopática, no entanto, a pressão basal
a manometria, para confirmar as alterações
do EEI costuma ser menor do que a da acala-
motoras, e estudo contrastado do esôfago,
sia idiopática.
para avaliar a sua morfologia, além de endos-
copia para excluir diagnóstico diferencial (prin-
QUADRO CLÍNICO
cipal é o câncer de esôfago), e também para
Disfagia é o principal sintoma, presente em rastreio de neoplasia precoce de esôfago,
pelo menos 90% dos casos, e tipicamente visto que a acalasia é condição de risco para o
piora lentamente com o tempo e ocorre com desenvolvimento de câncer esofágico.
progressão inicialmente de alimentos sólidos Os achados manométricos diagnósticos da
e depois para líquidos também. Ela é referida acalasia são:
como sensação de entalo precordial. Pode ser
• Relaxamento incompleto do esfíncter eso-
relatada também como dor torácica, em cerca
fágico inferior;
de 25% dos pacientes, e pode se confundir com
• Aperistalse nos dois terços distais do esô-
dor anginosa.
fago;
É comum a realização de manobras para aju-
• Pressão do EEI em repouso elevada – a
dar na progressão do bolo alimentar, tal como
perda de neurônios inibitórios em pacien-
elevação dos braços, extensão da cabeça e
tes com acalasia pode fazer com que as
principalmente ingestão de líquidos (efeito de
pressões LES em repouso subam para
coluna-d'água).
níveis hipertensivos (acima de 45 mmHg).
A regurgitação ocorre com frequência, em torno Na Classificação de Chicago, obtida através do
de 80%, sobretudo à medida que a doença pro- estudo manométrico, a acalasia é subdividida em
gride, o que justifica nesses pacientes episódios três tipos de acordo com padrão manométrico:
de pneumonia de aspiração, e classicamente é
descrito a regurgitação de alimentos não digeri- • Tipo I (acalasia clássica): É caracterizado
dos, ingeridos horas ou dias antes. por falha da peristalse em 100% das con-
trações e não há pressurização esofágica;
A presença de pirose, observada em até 40%
• Tipo II (acalasia com pressurização): Apre-
dos pacientes, é presente pela esofagite pela
senta falha da peristalse em 100% das
estase alimentar, que chega a ser até mais
contrações, com pressurização pan-eso-
intensa que a esofagite de refluxo.
fágica em ≥20% de deglutições;
A perda de peso é, assim como a disfagia, lenta
• Tipo III (acalasia espástica): A degluti-
e progressiva, que marca um achado e ajuda
ção resulta em contrações ou espas-
a diferenciar o quadro da acalasia da clínica de
mos anormais, que obliteram o lúmen.
paciente com neoplasia de esôfago.
É definido pela presença de fragmentos
A ocorrência de carcinoma de esôfago é dez preservados de peristalse distal ou con-
vezes mais frequente em quem tem acalasia do trações prematuras por pelo menos 20%
que na população geral. Uma vez progredindo das deglutições.
Figura 3.6 - Esofagografia evidenciando sinal de “bico de pássaro”, ou ponta de lápis, no megaesôfago.
deve sempre ser cogitada, bem como contato significativamente os índices de positividade
com o triatomíneo ou transfusões de sangue. dos resultados dos exames.
20% das deglutições, visto que as contrações nitroglicerina, que atuam relaxando a muscu-
simultâneas são absolutamente incomuns em latura lisa.
indivíduos saudáveis.
Pode-se associar também antidepressivos tri-
O esofagograma baritado é normal em 50% cíclicos, como a amitriptilina, 25 a 50 mg na
das vezes, mas pode mostrar divertículos e hora de dormir.
espasmos segmentares, que são contrações Deve-se ainda esclarecer ao paciente sobre a
simultâneas não peristálticas, vistas ao exame benignidade da condição que o mesmo apre-
contrastado com aspecto em “parafuso ou senta, e, se houver suspeita, realizar logo no
saca-rolhas”; no entanto, esse achado não é início do seguimento investigação de síndro-
patognomônico do EED. mes coronarianas.
Figura 3.11 Miotomia ampla por via torácica no paciente com EED.
ESÔFAGO EM QUEBRA-NOZES
(EQN)
Critérios manométricos para o diagnóstico
de esôfago em quebra-nozes incluem evidên-
cia de peristalse normal, com contrações de
Figura 3.10 - EED: as deglutições de água desencadeiam ondas simultâneas grande amplitude no esôfago distal, superio-
e repetitivas de pressão no esôfago distal.
res a 180 mmHg, que também podem ter uma
duração aumentada.
TRATAMENTO
Observa-se que, em torno de 35-40% dos pacien-
O tratamento é essencialmente clínico, com tes com EQN, há associação com DRGE, aspecto
bloqueadores do canal de cálcio, nitratos e importante durante a orientação terapêutica.
No que diz respeito ao quadro clínico, a dor Quanto aos procedimentos diagnósticos e tera-
torácica é a principal queixa, com característi- pêuticos segue-se a mesma orientação des-
crita no EED.
cas similares à descrita no EED, entrando tam-
bém no diagnóstico diferencial de dor torácica
de origem coronariana.
Anéis e membranas são patologias pouco fre- surgimento de quadros disfágicos e impacta-
quentes, sendo geralmente achados de exa- ção de corpos estranhos.
mes radiológicos ou endoscópicos. Manifestam-se nos exames radiológicos como
Constituem-se como projeções endoluminais constrição anelar móvel, dependente dos
do esôfago, de forma circunscrita, podendo movimentos respiratórios e da contração ou
relaxamento da musculatura esofágica. Podem
ocasionar estreitamento de sua luz. Podem
passar despercebidos ao exame endoscópico,
cursar com quadros de disfagia intermitente,
pois dificilmente oferecem obstáculos ou resis-
de longa data, a sólidos e líquidos. De caráter
tência à passagem do aparelho.
benigna, sua etiologia é discutida, podendo ser
congênita ou adquirida. Apresentam-se revestidos por mucosa esca-
mosa, tanto em sua face proximal como distal.
Estudos manométricos demonstram a pre-
sença de contrações peristálticas de elevada
ANÉIS ESOFÁGICOS
amplitude no corpo do esôfago, com pressão e
Os anéis são estreitamentos anulares e simé- relaxamento normais no nível do EEI.
tricos encontrados no terço distal do esôfago.
O anel do tipo B - denominado anel esofá-
São geralmente constituídos de camadas de gico mucoso ou de Schatzki - é constituído
mucosa e submucosa e raramente de camada por estrutura mucosa no nível da junção
muscular. Podem ser divididos em dois tipos. escamocolunar. Trata-se de anel de diâmetro
O tipo A, denominado anel muscular (anel de constante e independente das manobras res-
piratórias. Caracteriza-se como linha divisória
Templeton), é revestido por tecido epitelial
entre o revestimento escamoso e o colunar,
escamoso, sendo comumente encontrado a
demarcando o final do esôfago tubular.
cerca de 2 cm a 3 cm acima da junção escamo-
colunar, junto à margem proximal do esfíncter Encontra-se com maior frequência em adul-
esofágico inferior (EM). tos e idosos, o que não afasta a possibilidade
de ser diagnosticado em crianças ou de ser
Autores atribuem como origem uma exacer- congênito, com sintomatologia tardia. A etio-
bação da estrutura muscular fisiológica no logia do anel de Schatzki não está totalmente
nível da margem proximal da ampola frênica. esclarecida. É difícil determiná-la, porque,
Embora raros, podem ocasionar redução não havendo refluxo clinicamente evidente e
significante da luz do órgão, possibilitando ocorrendo mais frequentemente em jovens,
pode-se inclusive aceitar a possibilidade de disfagia. Para fazer-se o diagnóstico por endos-
etiologia congênita. Sabe-se que, em quase copia digestiva, o médico deve ser experiente
sua totalidade, é enfermidade adquirida, e ter informações sobre a clínica apresentada,
tendo como causa a agressão repetida do epi- pois as alterações endoscópicas são discretas e
télio esofágico por refluxo. podem passar despercebidas.
O estudo da motilidade esofágica por intermé-
QUADRO CLÍNICO dio da manometria também auxilia no diagnós-
tico evidenciando contrações com amplitude
Assim como em outras numerosas doenças
alta, longa duração e múltiplos picos de contra-
esofágicas, a disfagia é o principal sintoma, com
ção, com esfíncter esofágico inferior normal.
característica de ser intermitente para sólidos e
líquidos e evolução progressiva com intervalo No diagnóstico diferencial, devem-se excluir as
de vários anos, tornando-se, assim, crônica. lesões esofágicas extrínsecas, estenose péptica,
Outra característica dela é sua sensação que distúrbios motores e carcinoma de esôfago, os
ocorre em qualquer segmento do esôfago torá- quais podem ser facilmente identificados com
cico, mesmo sendo o anel de localização baixa. os exames anteriores.
DIAGNÓSTICO
ETIOPATOGENIA
TRATAMENTO
Pode ser tratada efetivamente por meio de suplementação de ferro e dilatações endoscópicas.
Em muitos casos, apenas a reposição de ferro pode resolver. Todavia, em casos de obstrução
significativa do lúmen esofágico, a dilatação impõe-se.
Usualmente uma sessão de dilatação é suficiente para alívio dos sintomas, mas, ocasionalmente,
são requeridas múltiplas sessões, como no presente caso. Controle endoscópico anual é necessá-
rio, visto que a doença é considerada fator de risco para neoplasias de faringe e esôfago.
A doença do refluxo gastroesofágico é a doença Embora a DRGE ocorra em todas as faixas etá-
orgânica mais comum do TGI. É afecção crô- rias, a prevalência dessa condição clínica, bem
nica decorrente do fluxo retrógrado anormal como de suas complicações como estenoses e
do conteúdo gastroduodenal para o esôfago úlceras, é maior entre indivíduos idosos.
e/ou órgãos adjacentes a ele, acarretando um
Alguns estudos sugerem que a evolução da
espectro variável de sintomas esofágicos e/ou
doença do refluxo seja diferente entre homens
extra esofágicos, associados ou não a lesões
e mulheres. A esofagite de refluxo é mais pre-
teciduais (complicações).
valente (3:1) em homens. Já entre as mulheres,
Tem prevalência mundial estimada de 20%, durante a gravidez, a prevalência de pirose
sendo que 25-70% fazem uso de IBP de alcança 40 a 80% das pacientes.
forma inapropriada.
A participação de fatores genéticos condicio-
No Brasil, a incidência estimada é de 11,9% da nando a ocorrência de doença do refluxo ainda
população (20 milhões), acometendo todas as não é conhecida, muito embora sintomas de
faixas etárias e ambos os sexos. refluxo sejam mais comuns entre familiares de
pacientes do que entre controles.
Os fatores de risco envolvidos são aqueles asso- Pilar direito do Secreção de bicarbonato
diafragma e muco na saliva
ciados ao aumento da pressão intra-abdominal,
sendo o principal a obesidade (87% dos pacientes Resistência do epitélio
Prega de Gubaroff
com IMC>35 tem queixa de pirose), destacando esofágico
ainda os pacientes com abdominoplastia prévia. Tabela 5.1
São achados patognomônicos de DRGE a pre- total de refluxo ácido >6% ou escore de DeMe-
sença de esofagite, sendo patognomônico ester>14,7.
quando esofagite erosiva grau C ou D de Los A impedâncio-pHmetria permite um aumento
Angeles ou Esôfago de Barrett Longo (>3 cm). de sensibilidade em relação à pHmetria por
A Phmetria de 24 horas tem sensibilidade permitir avaliar também o refluxo não ácido.
60-70% e é indicada nos pacientes que irão O Esofagograma é exame útil para avaliar a
para cirurgia ou em situações de dúvida diag- morfologia do esôfago, permitindo evidenciar
nóstica, como nos pacientes com sintomas atí- hérnia hiatal e excluir diagnóstico diferencial
picos. Confirma o diagnóstico quando tempo como acalasia.
Dentre os antiácidos destaca-se o sucralfato, O tratamento cirúrgico tem por objetivo atuar
uma droga que atua localmente ligando-se ao em três fatores bastante importantes na fisio-
ácido, à pepsina e à bile, com bom e rápido patogenia da DRGE:
controle dos sintomas. A absorção sistêmica Relaxamento espontâneo do EEI: as valvu-
do sucralfato é mínima e poderia eventual- loplastias alteram o relaxamento receptivo do
mente ser utilizada durante a gravidez. Tem fundo gástrico, reduzindo, de forma significativa,
como efeito comum a constipação. a ocorrência de relaxamento espontâneo do EEI
O uso de procinéticos é comum, apesar de dados que é, atualmente, aceito como o principal distúr-
conflitantes, sendo indicados para pacientes com bio esfincteriano em pacientes com DRGE.
predominância de sintomas de retardo do esva- Tônus pressórico do EEI: com a realização das
ziamento (empachamento ou plenitude). valvuloplastias, espera-se potencializar a ação
A utilização dos antagonistas da histamina do EEI, por elevação do seu tônus pressórico.
diminui bastante, visto a superioridade no Posicionamento do EEI: aceita-se que a exis-
controle dos sintomas pelos IBPs, porém ainda tência de um segmento esofágico posicionado
é listada como opção no tratamento da DRGE, abdominalmente seja fator importante na
Fundoplicatura à Nissen
como dimeticona.
DRGE E GRAVIDEZ
A ocorrência de disfagia discreta é muito comum
no pós-operatório imediato. Pode ser resultante As mulheres grávidas têm maior prevalência
do edema decorrente da dissecção local. Caso de DRGE. A embebição gravídica, associada a
seja intensa ou se persistir além do terceiro fatores mecânicos, facilita o RGE. Em razão de
mês, pode significar falha técnica na confecção restrições medicamentosas e caso as medidas
da válvula, migração da válvula, hiatoplastia não farmacológicas sejam insuficientes, dá-se
preferência para antiácido ou sucralfato, por serem pouco absorvidos. Se necessário, emprega-
-se antagonistas da histamina, dos quais a cimetidina, a ranitidina e a famotidina são seguros. A
nizatidina deve ser evitada pela falta de estudos de segurança adequados em seres humanos.
Os agentes procinéticos, especialmente a metoclopramida, devem ser usados quando há sinto-
mas atípicos e/ou dismotilidade.
Quanto aos IBP, há poucos estudos clínicos prospectivos sobre a segurança em grávidas, fica
então seu uso restrito aos casos de insucesso com as medicações anteriores, em pacientes
muito sintomáticas ou com doença grave à EDA.
• Orientações dietéticas.
Apesar de não haver estudos fundamentados em
evidências sobre a utilidade das orientações com-
portamentais e dietéticas, atesta‑se, na prática
clínica assistencial, a relevância de tais medidas.
Hérnia de hiato refere-se à protusão de ele- hérnia com saco de hérnia e é caracterizada
mentos da cavidade abdominal através do por um deslocamento do fundo gástrico atra-
hiato esofágico do diafragma. É a anormali- vés de um defeito na membrana fenoesofá-
dade mais diagnosticada por esofagograma gica. É dividida em tipos II, III e IV.
nos EUA, sendo estimado que 10% da popula- A hérnia tipo II resulta de um defeito localizado
ção americana sejam portadores de hérnia hia- na membrana fenoesofágica, onde o fundo
tal. Dos doentes com hérnia hiatal, 5% têm gástrico serve como ponto principal de hér-
refluxo. As mulheres são de duas a quatro nia, enquanto a JEG permanece fixa ao nível do
vezes mais suscetíveis a desenvolver uma hiato esofágico.
hérnia paraesofágica do que os homens.
CLASSIFICAÇÃO
As hérnias de hiato são divididas em hérnias
por deslizamento e hérnias paraesofágicas.
longitudinal usual e o fundo permanece abaixo As hérnias do tipo III têm elementos das hér-
da JEG. É o tipo mais comum. nias dos tipos I e II, com deslocamento da JEG
acima do hiato esofágico, e deslocamento tam-
bém do fundo gástrico acima da JEG.
QUADRO CLÍNICO
A presença de hérnia diafragmática não é sufi-
ciente por si só para estabelecer diagnóstico de
refluxo GE. Da mesma maneira, ter hérnia hia-
tal isoladamente não implica tratamento cirúr-
gico de imediato.
Figura 7.6 - Hérnia hiatal tipo 1. A junção esofagogástrica (seta) Figura 7.7 - Hérnia hiatal tipo 2. A junção esofagogástrica (seta)
se desloca para o tórax. permanece na posição normal.
A perfuração esofágica foi primeiro descrita mortalidade é maior nas perfurações espon-
por Boerhaave em 1724 após observação de tâneas e nas lesões do esôfago torácico.
evolução desfavorável em paciente com múlti-
plos vômitos. Em 1947, Barrett descreveu o pri-
meiro tratamento cirúrgico para uma perfura- ETIOLOGIA
ção identificada por uma radiografia de tórax.
As perfurações esofágicas têm como causas prin-
A partir dessa descrição, surge a possibilidade cipais a espontânea (síndrome de Boerhavee), a
de intervenção pelo cirurgião para alterar o iatrogênica, por ingestão de corpo estranho, ou
desfecho desfavorável dessa condição. Desde por trauma.
a primeira descrição da condição clínica e seu Antigamente, se relatava que a principal causa
tratamento cirúrgico, temos grande avanço em era a espontânea, porém estudos mais recen-
métodos diagnósticos e tratamentos minima- tes demonstram que, hoje, a principal causa
mente invasivos (endoscópicos e laparoscópi- é a iatrogênica por lesões acidentais durante
cos); entretanto, a perfuração persiste como procedimento endoscópico.
diagnóstico associado a grande morbidade e
Lesões acidentais ocorrem em 1% dos proce-
mortalidade.
dimentos endoscópicos, apesar do percentual
Conforme estudo demográfico do Reino Unido pequeno em vista do grande número de exa-
observa-se a importância de um centro de mes endoscópicos realizados atualmente, e
grande experiência para a melhor condução torna a perfuração iatrogênica relativamenteo
dos casos com impacto em resultado final– comum.
tempo de internação e mortalidade. Além Alguns procedimentos endoscópicos têm risco
disso, observa-se transição epidemiológica, ainda maior de perfuração como a esclerose
considerando a causa iatrogênica a mais pre- de varizes esofagianas, até 3% dos pacientes;
valente dentre as etiologias com o crescimento passagem de próteses endoscópicas, de 7-15%;
das intervenções endoscópicas. e dilatação endoscópica, em torno de 7%; esta
A mortalidade associada às lesões traumá- última associada principalmente às estenoses
ticas do esôfago ainda é elevada e mantém e à acalasia.
relação com a etiologia, a localização da lesão Os ferimentos por arma de fogo ou arma branca
e o tempo decorrido entre seu diagnóstico e comumente provocam mais lesão na porção
seu tratamento. Em relação à etiologia, a cervical. Sheely et al. avaliaram 700 pacientes
DIAGNÓSTICO
Como avanço na área de diagnóstico, a ferra- Figura 9.1 -Tomografia com achado de
extravasamento do meio de contraste.
menta mais empregada é a tomografia cervical
tórax e abdome com contraste oral hidrosso-
lúvel demonstrando extravasamento (perfu-
ração livre ou contida), sinais de perfuração
(pneumomediastino, pneumoperitôneo, des-
continuidade da parede esofágica) e acome-
timento/relação com estruturas adjacentes,
sendo, portanto, o exame mais importante
para o manejo.
de procedimentos cirúrgicos para tratamento. Entretanto, com base em nossos dados, há consi-
derações importantes em relação à localização anatômica da perfuração e se no exame de ima-
gem a perfuração se apresenta contida.
Tabela 9.1
• Clínico
• Consiste de jejum oral, suporte nutricio-
nal (dieta enteral ou parenteral) e antibio- Figura 9.3 - Uso de clipe para tratamento de perfuração de esôfago.
ticoterapia.
Baseado no quadro clínico e nas opções tera-
• Endoscópico
pêuticas, segue o fluxograma de atendimento:
• Clipe endoscópico (quando a perfuração
ocorre durante a EDA);
PERFURAÇÃO CERVICAL
• Passagem de endoprótese (principal-
mente quando tumor perfurado); • Perfuração contida: tratamento clínico;
PERFURAÇÃO ABDOMINAL
• Perfuração não contida em paciente com acalasia: cirurgia com sutura, miotomia contrala-
teral e fundoplicatura;
• Perfuração não contida em paciente sem acalasia: cirurgia com sutura e fundoplicatura.
de tórax para avaliar o tamanho da lesão e sua cirúrgica, sendo possível a enucleação das
relação com as estruturas adjacentes. lesões pequenas, enquanto que os grandes
tumores exigem esofagectomia.
CISTOS DE DUPLICAÇÃO DO
ESÔFAGO
Os cistos de duplicação são anomalias congê-
nitas que surgem durante o desenvolvimento
embrionário inicial.
Acalasia: em pacientes com acalasia, o risco Outros: no sul do Brasil, assim como na Argen-
de desenvolvimento do câncer é cerca de 14 a tina, no Paraguai e no Uruguai, a ingestão de
16 vezes maior em relação à população geral. chá quente (chimarrão) desde a infância é
ADENOCARCINOMA
tar em uma emergência oncológica. médio do esôfago. B: espécime cirúrgico correspondendo à topografia da
lesão radiológica.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é obtido por meio de biópsia por
endoscopia digestiva alta (EDA) que determina
a presença e a localização da lesão.
No rastreio de CEC de esôfago, como em Figura 11.3 - EDA evidenciando lesão infiltrativa e vegetante obliterando da
pacientes com acalasia, a cromoendoscopia luz do esôfago.
O PET tem maior sensibilidade para o diagnós- nula. Abaulamento móvel da via respiratória
tico de doença à distância e avaliação de linfo- não é sinal de inoperabilidade.
nodos acometidos. Nos pacientes com neoplasia precoce pode
ser realizado a ultrassonografia endoscópica,
Em tumores do esôfago torácico médio e pro-
método mais eficaz para definir a profun-
ximal (acima da carina), a broncoscopia pode
didade da lesão (T) com acurácia de 85%. A
ser necessária com o objetivo de diagnosticar
USE permite também a avaliação dos linfono-
ou excluir invasão da árvore traqueobrônquica dos periesofágicos com acurácia de 70 a 79%. A
ou a fistulização. Quando há abaulamento fixo, PAAF pode melhorar a acurácia do método
desvio de eixo ou invasão, a ressecabilidade é (superior a 90%).
Câncer de esôfago por estágio patológico
Tis: Carcinoma in situ
T1: Tumor invade a lâmina própria ou submucosa
T1a: Tumor invade a mucosa ou lâmina própria
T1b: Tumor invade a submucosa
T2: Tumor invade a muscular própria
T3: Tumor invade a adventícia
T4: Tumor invade as estruturas adjacentes.
Figura 11.5 - PET (tomografia com emissão de pósitron), em um paciente com metástases decorrentes de um adenocarcinona da junção esofagogástrica.
Observe as múltiplas áreas de lesões líticas no esqueleto, nos linfonodos e tecidual.
TRATAMENTO
O tratamento varia de acordo com o estadia-
mento do paciente.
preferida é o fluconazol oral, com dose de ata- podem ter herpes labial ou úlceras orofarín-
que de 200 mg, depois 100 mg diariamente. geas coexistentes.
Os sintomas clínicos remitem em mais de 90% O diagnóstico de esofagite por vírus Herpes
dos pacientes que usam essa terapia. Estudos Simplex é geralmente com base em achados
mostram que a resposta clínica e micológica é endoscópicos confirmados por exame histo-
melhor com fluconazol do que com nistatina e patológico.
até mesmo com itraconazol oral.
Lesões típicas são úlceras pequenas, com
A recorrência é um problema frequente se os menos de 2 cm, no esôfago distal. Essas úlce-
fatores de risco subjacentes, como o uso de ras são bem circunscritas e têm uma aparência
esteroides ou quimioterapia, ainda estiverem “semelhante a um vulcão”.
presentes. Nesses pacientes, a terapia profilá-
tica com 100 mg de fluconazol uma vez ao dia
é preferida.
A infecção pelo vírus Herpes Simplex (HSV) do O tratamento da esofagite HSV depende da
esôfago é geralmente observada em pacientes condição imunológica subjacente do paciente.
com deficiência de imunidade, mas ocasional- A resolução espontânea geralmente ocorre
mente pode ser visto em pessoas saudáveis. após 1 a 2 semanas em pacientes sem imuni-
Isso está principalmente relacionado ao HSV dade prejudicada, embora alguns possam res-
tipo 1, embora HSV-2 também foi relatado. ponder mais rapidamente se tratados com um
curto período de aciclovir oral, 400 mg/ 3 vezes
Esofagite pelo HSV ocorre com mais frequência
por dia, durante 1 a 2 semanas.
em receptores de transplantes de órgãos sóli-
dos e medula óssea. Geralmente por consequ- Pacientes com imunodeficiência devem ser
ência da reativação com disseminação. tratados por mais tempo com um curso de
terapia oral de aciclovir, 400 mg/5 vezes ao dia,
Os pacientes geralmente se queixam de odino-
durante 2 a 3 semanas.
fagia e/ou disfagia. Febre e dor torácica retro-
esternal podem estar presentes em cerca de Pacientes com odinofagia grave podem exi-
50% dos indivíduos. Os pacientes também gir hospitalização para terapia parenteral de
aciclovir 5 mg/kg 3 vezes ao dia, durante 1 a 2 Cerca de 10–20% dos casos de esofagite por
semanas. CMV ocorre por reativação do vírus latente
Pacientes que não respondem à terapia prova- quando o sistema imunológico do hospedeiro
velmente estão infectados com um vírus cepa fica comprometido.
resistente ao aciclovir. Nesse caso, o trata- Os últimos 10–20% representam superinfec-
mento com foscarnet pode ser a opção. ção. Apresenta-se com febre, odinofagia e náu-
ESOFAGITE POR CMV sea, e ocasionalmente é acompanhada por dor
em queimação subesternal. A EDA geralmente
O Citomegalovírus (CMV) é, como o HSV, um
revela grandes úlceras solitárias e profundas
membro da família Herpesviridae. Esofagite
no esôfago distal.
por Citomegalovírus é observada em pacientes
que foram submetidos a transplante, aque-
les em diálise de longo prazo, infectados com
HIV ou aqueles com terapia de esteróides de
longa duração.
DIETA
Atualmente, existem três opções para o manejo oleaginosas, frutos do mar) alimentos alergêni-
dietético da EEo. O primeiro tipo é uma dieta cos comuns tem se mostrado eficaz.
elementar, que consiste na eliminação com-
pleta de todos os alérgenos alimentares, é uma
fórmula baseada em aminoácidos por 6 a 8 TRATAMENTO ENDOSCÓPICO
semanas. No caso de remissão da doença, isso
A dilatação endoscópica com balões ou bougies
seria seguido pela reintrodução de alimentos
individuais ou grupos de alimentos para iden- guiados por fio-guia é um procedimento seguro
tificar os alimentos culpados. A grande maioria e eficaz para o tratamento de estenoses esofá-
dos pacientes (> 90%) apresenta boa resposta gicas em pacientes com EEo.
clínica e histológica com a dieta elementar.
Uma alta taxa de complicações foi relatada em
Outra opção de tratamento dietético é uma pequenas séries de casos até 2006, mas estu-
dieta de eliminação orientada por teste, que dos recentes demonstraram um baixo risco de
consiste em usar as informações dos testes perfurações (menos de 1%) quando as precau-
de alergia (IgE específica para alimentos, teste
ções usuais são tomadas, inclusive dilatação
cutâneo de punção e/ou teste de Atopia) para
lenta e gradual.
orientar a dieta. Apenas alimentos identifi-
cados como potencialmente alergênicos são Recomenda-se tratamento clínico concomi-
excluídos da dieta. tante (IBPs, esteroides, dieta) para reduzir a
A eliminação empírica da dieta de quatro (leite, chance de recorrência da estenose ao tratar a
trigo, soja e ovos) ou seis (trigo, leite, soja, ovos, inflamação esofágica subjacente.
CAMADAS DO ESTÔMAGO
É composto de quatro camadas principais:
DRENAGEM VENOSA
A veia gastroepiplóica direita drena para a veia
mesentérica superior.
Figura 14.4 - Zonas linfáticas perigástricas (D1). I: paracárdicos direito. II:
paracárdico esquerdo. III: pequena curvatura. IV: grande curvatura. V: arté-
As veias gástricas direita e esquerda drenam ria gástrica direita. VI: vasos gastroepiplóicos direito. VII: Artéria gástrica
esquerda.
diretamente na veia porta, tendo comunicação
com as veias esofágicas inferiores, que no con- ZONAS LINFÁTICAS D2
texto de hipertensão portal tem importância
na patogênese das varizes esofagogástricas. 8. Ao longo da artéria hepática comum;
Bactéria gram negativa espiralada, móvel na neutraliza o ácido clorídrico e permite que a
mucosa gástrica, sendo uma das mais poten- bactéria sobreviva no meio ácido.
tes produtoras de urease dentre as bactérias.
A motilidade da bactéria provida por seus fla-
O H. pylori tem distribuição cosmopolita, e esti- gelos tem um papel central na colonização
ma-se que cerca de metade da população mun- do estômago e permite que ela se mova pelo
dial esteja infectada com soroprevalência, é muco gástrico e alcance as células epiteliais.
igualmente encontrada em homens e mulheres.
A maioria das cepas da H. pylori expressa a
A prevalência da infecção aumenta com a citotoxina vacuolizante (vacA), que é incor-
idade, mas é nos primeiros 5 anos de idade porada pela célula epitelial do hospedeiro e
que ocorre mais comumente a infecção, sendo induz apoptose. A citotoxina não é essencial
caracterizada a transmissão fecal-oral, oral-o- para a colonização gástrica, porém é asso-
ral e iatrogênica. ciada à doença mais grave. Cepas produto-
Assim, em países em desenvolvimento a taxa ras de vacA são mais comumente isoladas de
de infecção chega a 80%, e em países indus- pacientes com úlcera péptica, atrofia gástrica
trializados chega a 50%; logo, entende-se que a e câncer gástrico.
infecção é inversamente proporcional ao nível Já o gene cagA codifica a proteína cagA. Pacien-
socioeconômico. tes com úlcera duodenal, gastrite atrófica
A transmissão interpessoal é considerada a e carcinoma gástrico são mais comumente
mais importante, conforme é evidenciado em infectados com cepas cagA-positivas do que
estudos com famílias que moram em condi- cagA-negativas. As cepas cagA-positivas são
ções de aglomeração. Estudos utilizando tipa- mais virulentas, associadas a maior grau de
gem de DNA confirmaram que membros de infiltração de polimorfonucleares neutrófilos e
uma mesma família tendem a ser infectados produção de interleucina-8.
pela mesma cepa de bactéria. Patologia do Helicobacter pylori
Toxinas
VacA
PATOGENIA CagA
Figura 15.1 Resumo dos possíveis mecanismos pelos quais o H. pylori pode dar origem à anormalidades gástricas. D: célula da somatostatina; ECS: célula
símile a entercromafin; G: célula G; IFN: interferon; IL: interleucina; P: célula parietal; SMF: somatostatina; FNT: fator de necrosetumoral.
QUADRO CLÍNICO
Não está claro se a história natural do H. pylori ocorre diferentemente em partes diferentes do
mundo. Os fatores genéticos do hospedeiro, as cepas do H.pylori envolvidas e fatores ambientais
interagem entre si e todos os infectados têm gastrite crônica ativa.
Apresenta-se associada às condições benignas (doença ulcerosa péptica, gastrite aguda e crô-
nica), representando 90% das úlceras duodenais e 75% das úlceras gástricas, e às condições
malignas (adenocarcinoma gástrico e linfoma gástrico).
Métodos diagnósticos
Teste Sensibilidade Especificidade Comentários
Não invasivo
Utilizado em estudos epidemiológicos, não é usado na
Sorologia 88-99 (%) 86-95 (%)
prática clínica
Análise da ureia Sua principal indicação é o seguimento após a terapia
90-97 (%) 90-100 (%)
respiratória de erradicação
Ensaio rápido de O mais utilizado (padrão-ouro); falso-negativo com uso
89-98 (%) 93-98 (%)
urease recente de IBP, antibióticos ou compostos de bismuto
Histologia 93-99 (%) 95-99 (%) Exige processamento de patologia e coloração
Demorado, dispendioso e depende de experiência
Cultura 77-92 (%) 100 (%)
Permite determinar a sensibilidade aos antibióticos
Tabela 15.2
O termo gastrite deve ser reservado para a Neste estágio, a mucosa gástrica se mostra
inflamação da mucosa gástrica documentada fina e os vasos sanguíneos nitidamente visí-
histologicamente, decorrente de injúria de veis. A presença de metaplasia intestinal
origem diversa, em geral associada a uma res- (conversão das células gástricas para um
posta inflamatória aguda, crônica ou mista, e fenótipo de intestino delgado) é um fator
que se expressa clinicamente como uma sín- de risco para câncer gástrico.
drome dispéptica.
De acordo com o local de acometimento, a gas-
As causas mais comuns de gastrite aguda são trite crônica se classifica em:
infecciosas. O H. pylori pode desencadear um
I. Gastrite crônica Tipo A: envolvimento predo-
quadro agudo de gastrite. O micro-organismo minante do corpo, doença autoimune, forma
penetra na camada de muco e se multiplica menos frequente de gastrite, e que pode se
em contato íntimo com as células epiteliais do apresentar com anemia perniciosa, asso-
estômago. O epitélio responde com depleção ciada aos anticorpos circulantes contra célu-
de mucina, esfoliação celular e alterações rege- las parietais (90%) e fator intrínseco (50%).
nerativas iniciais. Este quadro pode se expres-
sar clinicamente por dor epigástrica súbita, II. Gastrite crônica Tipo B: envolvimento pre-
náuseas e vômitos. Se não houver tratamento, dominante do antro, relacionado ao Hp. A
o quadro evoluirá para gastrite crônica. conversão para pangastrite ocorre em torno
de 20-25 anos de idade. Esta forma de gas-
A gastrite crônica é definida como um pro- trite (pangastrite) tem maior incidência em
cesso inflamatório que histologicamente se indivíduos acima de 70 anos de idade e se
caracteriza por um infiltrado celular formado associa a um número menor de micro-orga-
por linfócitos e plasmócitos. A evolução do nismo H. pylori.
processo inflamatório poderá ser estadiada
em duas etapas: III. Gastrite crônica Tipo AB: pangastrite.
e antro (grande e pequena curvatura). A impor- apresentar maior risco de sangramento e per-
tância da histologia estaria no diagnóstico dife- furação, especialmente do duodeno.
rencial das causas de gastrites, avaliação da
Nos casos de trauma cranio-encefálico há
intensidade do processo inflamatório, identifi- maior risco de LAMG, denominando-se úlce-
cação ou não de atrofia e/ou metaplasia intesti- ras de Cushing. Essas são particularmente
nal e investigação de infecção pelo Helicobacter agressivas, em razão da hipersecreção ácida
pylori. Apesar disso, a realização das biópsias decorrente da hipergastrinemia e, em geral,
não é rotina para todos os endoscopistas. profundas. As úlceras de Cushing provocam
O diagnóstico endoscópico deve estar de hemorragias e perfurações com mais frequên-
acordo com os termos descritivos convencio- cia do que qualquer outra forma de gastropa-
nados. Deve-se também avaliar a intensidade tia de estresse.
dos achados (leve, moderada e intensa) e sua Para evitar hemorragia e perfuração, não se
distribuição topográfica, para posteriormente deve subestimar a importância da identifica-
estes dados serem correlacionados com os ção dos pacientes verdadeiramente de alto
achados histológicos. risco, dando início, nesses casos, à profilaxia
contra a gastrite de estresse.
Classificação de Sidney revisada
Divisão endoscópica Álcool: este quadro é mais bem caracterizado
Topografia Tipo Intensidade como gastropatia alcoólica, uma vez que não
Pangastrite Enantematosa Leve há obrigatoriamente um processo inflamató-
Gastrite do antro Erosiva plana Média rio, e sim um processo de regeneração epitelial
Erosica elevada em resposta a um agente agressor.
Atrófica
Hemorrágica
Gastrite do corpo Por refluxo Intensa
Com hiperplasia GASTRITE CRÔNICA
de pregas muco- AUTOIMUNE
sas
Tabela 16.1
Conhecida também como gastrite tipo A, aco-
mete corpo e fundo gástricos, raramente
atingindo o antro.
GASTRITE EROSIVA/ Caracteriza-se por uma atrofia seletiva, parcial
HEMORRÁGICA ou completa das glândulas gástricas no corpo
Esta forma de gastrite se associa a algumas e fundo do estômago, ocorrendo uma substi-
tuição, parcial ou completa, das células superfi-
situações específicas:
ciais normais por mucosa tipo intestinal (meta-
AINE (anti-inflamatórios não esteroides): plasia intestinal). Por quase não ser acometida
associados às petéquias, erosões e úlceras na nesta região, a mucosa antral mantém sua
mucosa gástrica; as erosões são superficiais e estrutura glandular normal e apresenta células
raramente sangram de forma significativa. endócrinas hiperplásicas.
Estresse (LAMG: lesão aguda de mucosa Funcionalmente, a atrofia das glândulas gástri-
gástrica): observada em doentes criticamente cas do corpo se associa à hipocloridria (atro-
enfermos; a fisiopatologia parece estar ligada à fia parcial) ou, em casos avançados, acloridria,
isquemia da mucosa. Esta é uma causa de HDA secundária à redução da massa de células parie-
em UTI, que acomete cerca de 20% dos pacien- tais; paralelamente, há um decréscimo tam-
tes. Nos queimados, obervam-se lesões únicas, bém na secreção de fator intrínseco, podendo
chamadas de úlceras de Curling, que parecem ocasionar a redução da absorção de vitamina
endoscopia, quando se insufla ar no estômago, anterior, como urticária, asma ou rinite), ali-
o pregueado mucoso do corpo se desfaz total mentares (alguns alimentos podem desen-
ou parcialmente e observa-se uma mucosa de cadear sintomas intestinais) e a presença de
aspecto liso, brilhante e delgado, com os vasos parasitas têm sido considerados.
da submucosa facilmente visualizados.
Três formas de apresentação têm sido descri-
Anticorpos anticélula parietal e anti-fator tas, considerando a intensidade e a localização
intrínseco, embora presentes em até 90% do infiltrado: acometimento predominante da
dos portadores de anemia perniciosa, com mucosa, ou da parede muscular, ou da serosa.
frequência estão ausentes em portadores Nas formas de acometimento mucoso predo-
apenas de gastrite atrófica, sem alterações minante, o antro é mais frequentemente
hematológicas. acometido, e, endoscopicamente, as pregas
A gastrina sérica encontra-se comumente estão espessadas, podendo haver nodosida-
elevada, embora em pequeno número de casos des e ulcerações.
possa mesmo estar normal ou reduzida, quando A sintomatologia inclui naúseas, vômitos, diar-
a atrofia atinge também o antro gástrico. reia, dor abdominal e perda de peso.
O diagnóstico é geralmente estabelecido
TRATAMENTO pela demonstração de infiltrado eosinofí-
lico na lâmina própria, associado à eosinofi-
A gastrite crônica autoimune do corpo é assin-
lia importante no sangue periférico.
tomática na maioria dos pacientes e, dessa
forma, não requer tratamento. A presença, Anemia ferropriva, hipoalbuminemia e redu-
entretanto, de anemia perniciosa exige a repo- ção das imunoglobulinas séricas também são
sição de vitamina B12, por via parenteral, na observadas como consequência de perdas
dose de 200 mg por mês, durante toda a vida. proteicas por meio do epitélio lesado.
A maioria dos pacientes com doença de Naqueles pacientes em que a doença esteja
Ménétrier é do sexo masculino (H/M = 3:1), associada ao Helicobacter pylori ou ao Citome-
com idade entre 30 e 60 anos e cujas mani- galovírus está indicada a terapêutica específica
festações clínicas são perda ponderal, dor para estes microorganismos, uma vez que nes-
epigástrica, vômitos, diarreia, anorexia, tas circunstâncias são descritos casos de invo-
dispepsia, hematêmese, hipoalbuminemia, lução da doença em resposta ao tratamento.
A lesão ulcerada péptica representa uma solu- A incidência de doença ulcerosa gastroduo-
ção de continuidade da mucosa que ultra- denal é de aproximadamente 1 a 2 por 1 mil
passa os limites da muscularis mucosae. Ao habitantes por ano. Dois terços dos pacientes
contrário da úlcera, a erosão não ultrapassa a com úlcera são homens, e a doença é mais
muscularis mucosae da parede gástrica e, em comum em fumantes.
razão de seu caráter superficial, mantém ele- O risco de recorrência da doença após a cura
mentos glandulares em sua base que favore- inicial é alto. Mais de 50% dos pacientes têm
cem uma rápida cicatrização, sem sequelas. úlcera recorrente dentro dos 12 meses de
É resultado do produto do desequilíbrio entre cura na ausência de tratamento. A terapia
fatores de proteção (fluxo sanguíneo, prosta- supressora de ácido, usada como manutenção,
glandinas, mucosa, muco, bicarbonato e cap- reduz a taxa de recorrência.
tação H+).
Teve evolução mudada drasticamente com intro-
dução dos IBP e estudos sobre o H. pylori, com
FISIOPATOLOGIA
declínio da incidência. Porém, a necessidade de De modo geral, pode-se afirmar que a lesão
tratamento cirúrgico para perfuração perma- péptica ocorre quando existe um desequilíbrio
nece estável, pelo crescente uso de AINEs. entre os fatores de agressão e de defesa, acar-
retando, deste modo, dano à mucosa quando
Os principais fatores de risco são a infecção
os fatores agressores preponderam.
pelo H. Pylori e AINE, destacando outros como:
tabagismo, alcoolismo, sexo masculino, fatores
genéticos e estados hipersecretivos (ZE, Infec- FATORES DE DEFESA
ções gástricas, crack).
A defesa epitelial pode ser, didaticamente, divi-
dida em três níveis:
Figura 17.1
Figura 17.2
São três formas de apresentação da doença Representa 20% das úlceras pépticas, com H.
Pylori em 75%, porém com achado de neopla-
ulcerosa péptica: úlcera esofágica (discutido
sia em 10% dos casos, tendo como complica-
em DRGE), gástrico e duodenal.
ção mais comum a perfuração.
Figura 17.4
A pefuração é a complicação mais séria da sintomas passou a ter menor ênfase do que no
úlcera (em até 7% dos pacientes). As úlceras são passado. A endoscopia permite não apenas a
ditas perfuradas quando se estendem através caracterização da lesão, como a obtenção de
das paredes muscular e serosa, permitindo tecido para análise histopatológica.
comunicação entre a luz da víscera e a cavidade
As úlceras por estresse costumam ser superfi-
abdominal, e denomina-se penetrante quando
ciais, com bordas intensamente hiperemiadas,
é bloqueada pelas vísceras vizinhas.
bem definidas e abruptas. Diferem das úlce-
As úlceras localizadas em parede anterior e nas ras pépticas por não apresentarem indícios de
curvaturas geralmente perfuram em peritônio deformidade ou convergência de pregas, pela
livre, instalando-se o quadro de peritonite, intensidade do processo inflamatório perifé-
com toda a gama de manifestações próprias rico e pela rapidez com que cicatrizam quando
do abdome agudo. As úlceras de parede pos- da remissão da condição subjacente. Devido a
terior penetram, em geral, no pâncreas (úlcera essas características, a endoscopia é o exame
terebrante), originando quadro de pancreatite.
de escolha para o diagnóstico da úlcera péptica.
Nesses casos, a dor irradia-se para o dorso,
com caráter transfixante, ou para os flancos. As úlceras gástricas merecem maior atenção
na observação e descrição de suas caracterís-
Cerca de 60% das perfurações de úlceras pép-
ticas, já que podem estar associadas à maligni-
ticas localizem-se no duodeno, e o diagnóstico
dade. Câncer gástrico precoce pode se apre-
geralmente simples, em função da exuberân-
sentar como úlcera de aspecto benigno.
cia de sinais peritoneais, que surgem quando
o conteúdo visceral causa irritação química na Mais de 95% das úlceras duodenais encon-
superfície parietal do peritônio, traduzida por tram-se no bulbo, especialmente em sua
dor e contratura involuntária ao exame físico. porção mais proximal, sendo raramente
maiores que 1 cm. São habitualmente bem
A obstrução é a mais rara das complicações (1
a 2% dos pacientes), presente em geral durante delimitadas e por vezes alcançam a camada
a atividade da lesão. É comum a do tipo parcial muscular própria.
no duodeno e, em menor frequência, do piloro Atualmente, a classificação de Sakita é a
ou da região pré-pilórica. mais utilizada em nosso meio e divide os
A obstrução pode ocorrer por espasmos, pro- achados da lesão em três etapas: A (active),
cesso inflamatório e edema, hipertrofia mus- H (healing) e S (scar).
cular e/ou retração fibrosa. Na fase ativa, a úlcera atinge o seu maior diâ-
A estase gástrica é acompanhada de alteração metro, com acentuado depósito de fibrina em
da ritmicidade e da característica da dor, sín- sua base e borda bem delimitada, com forma
drome hipoestênica, náuseas e vômitos. usualmente arredondada ou ovalada. A fase
A1 é caracterizada pelo acentuado edema da
Quando a obstrução é secundária à fibrose, a
borda da úlcera, que é frequentemente ele-
tendência do quadro é agravar-se gradativa-
vada. Na fase A2 observam-se redução do
mente, e quando é por edema periulceroso,
edema e do perfil da borda, dando lugar à for-
os sintomas surgem repentinamente, durando
poucos dias e recrudescendo com a terapêutica. mação de halo enantemático, podendo haver
discreta convergência de pregas.
as alterações cicatriciais são mais evidentes e a 1. Cuidados dietéticos - cessar álcool e fumo,
base da úlcera frequentemente assume forma evitar alimentos que reproduzam sintomas;
linear ou estrelada, preservando discreto 2. Drogas antissecretoras - inibidor de bomba
depósito de fibrina. de próton, por exemplo, omeprazol, por 4-6
O estádio S1 é caracterizado pela ausência de semanas (alguns pacientes até 12 semanas)
com intuito de controle de sintomas e cica-
base com fibrina, dando lugar à área deprimida
trizar a úlcera;
linear com intenso enantema. A cicatrização se
completa na fase S2 com redução do enan- 3. Erradicação do H. Pylori, se presente (o trata-
tema, aspecto esbranquiçado da linha cicatri- mento de primeira Linha é Amoxacilina 1g,
cial, correspondendo à reparação epitelial. 2 vezes ao dia, + Claritromicina 500 mg, 2
vezes ao dia, +Omeprazol 20 mg, 2 vezes ao
Classificação das úlceras pépticas dia, por 14 dias);
Tabela 17.1
Figura 17.5
TRATAMENTO
Nas formas não complicadas é recomendado: Figura 17.6
1. Hemorragia: Tratamento é através de hemos- Quando por edema, tem bons resultados
tasia por endoscopia, sendo ideal a terapia com tratamento clínico.
As úlceras Forrest Ia, Ib ou IIa são um fator A monoterapia não é recomendada, devendo
de risco isolado para ressangramento, neces- se associar dois métodos.
sitando intervenção endoscópica. O mais
Em caso de recidiva de sangramento após
comum são as úlceras IIc ou III, presentes em
terapia endoscópica inicial, uma segunda EDA
mais de 50%, não tendo benefício no uso de
pode ser realizada com método terapêutico
terapia endoscópica.
diferente do utilizado antes.
Nas úlceras IIb a terapia endoscópica é contro-
versa, uma vez que a terapia intensiva com IBP Se sem sucesso na nova tentativa de endosco-
de forma isolada possa ser suficiente. pia, deve-se proceder com medidas de resgate
que variam conforme etiologia:
O tratamento endoscópico pode ser dividido
em métodos de: 1. HDA não varicosa: indicada cirurgia com liga-
dura do vaso sangrante.
• Injeção;
• Térmicos; 2. HDA varicosa:
VARIZES DE ESÔFAGO
Quando avaliamos os pacientes com hepatopa-
tia crônica, cerca de 30% daqueles com doença
compensada e 60% dos com doença descom-
pensada apresentam varizes gastroesofágicas.
O câncer gástrico é o quarto tipo mais comum neutrófilos são eventos suspeitos de potencial
de câncer e a terceira causa mais frequente de carcinogênico.
morte no mundo, sendo responsável por 10%
Condições que intercorrem com teor de ácido
do total de casos de óbito do planeta. clorídrico diminuído no estômago, como a gas-
A forma mais comum é o adenocarcinoma trite crônica e a anemia perniciosa, estão
em 95% dos casos, sendo outras neoplasias associadas com maior risco de câncer gástrico.
comuns o GIST, tumor neuroendócrino e lin- A gastrite crônica cursa com extensa metapla-
foma gástrico. sia intestinal da mucosa gástrica, que constitui
a base para as alterações displásicas e, no longo
Tem tendência de redução da incidência,
prazo, induzem o aparecimento do carcinoma
sendo mais comum em negros e nos homens,
gástrico do tipo intestinal de Lauren. Os porta-
em uma proporção 2:1, com pico de incidência
dores de anemia perniciosa oriunda de atrofia
entre 50-70 anos de idade.
de mucosa gástrica (que é substituída por meta-
Classicamente se descreve como mais comum plasia de mucosa intestinal) têm prevalência de
o acometimento de lesões distais do estômago, adenoma e carcinoma gástricos três a quatro
mas há uma elevação de casos de lesões proxi- vezes maior que a população normal.
mais, principalmente de cárdia.
Tem-se demonstrado a participação de
vários genes na carcinogênese gástrica, seja
por mutação (ras, APC, p53), deleção (APC,
FATORES DE RISCO p53, DCC, E-caderina), transcrição anormal
Os principais fatores de risco: dieta com baixo (CD44) ou amplificação (erbB, C-erbb2, K-sam,
teor de proteína, operação gástrica prévia (Bill- c-met). Mutações do gene p53 estão entre as
roth II principalmente), infecção pelo Helicobacter mais comumente encontradas nos tumores
pylori, pólipos adenomatosos e tabagismo. humanos. O gene p53 atua no ciclo celular,
interrompendo a divisão celular e estimulando
Com a infecção pelo H. pylori, o micro-orga-
a apoptose quando há um dano no DNA celular
nismo passa a ser fonte de inflamação ativa,
durante a replicação. É, por isso, denominado
durando décadas se não erradicado. Embora
o guardião do genoma.
os efeitos do micro-organismo sobre o micro-
ambiente da cavidade gástrica não sejam Etiologia e fatores de risco
Gastrite atrófica crônica: embora associada com Para classificação macroscópica destaca-se
câncer gástrico, parece não ser condição precursora a classificação de borrman e classificação da
direta sociedade japonesa de endoscopia digestiva,
Úlcera gástrica crônica: risco menor que 1% de esta última voltada para os casos de câncer
desenvolver carcinoma. Não é considerada como gástrico precoce.
fator de risco real
Cirurgia gástrica prévia: as ressecções gástri- CLASSIFICAÇÃO DE BORRMAN
cas para doença benigna estão associadas com
o aumento do risco de câncer gástrico, principal- I. Lesão polipoide ou vegetante, bem delimitada;
mente associado à cirurgia Bilroth II (gastrectomia II. Lesão ulcerada, bem delimitada, de bordas
com anastomose jejunal). Risco de 5% geralmente elevadas;
após 15 anos da cirurgia inicial. A etiologia provável
parece estar associada à gastrite crônica secundária
III. Lesão ulcerada, infiltrativa em parte ou em
Helicobacter pylori - 60-80% dos casos de câncer
todas as suas bordas. É a forma mais comum;
gástrico estão associados à Helicobacter pylori e IV. Lesão difusamente infiltrativa, não se notando
parece que o papel da bactéria estaria asso- limite entre o tumor e a mucosa normal, com
ciado ao seu potencial inflamatório, levando pior prognóstico;
à proliferação epitelial, ao erro mitótico, à
V. Não se encaixa nas outras classificações.
mutação celular e, finalmente, ao câncer. Os
portadores de Helicobacter pylori com CagA
(proteína associada com citotoxidade) apre-
sentam maior risco
Tabela 19.1
CLASSIFICAÇÃO
ANATOMOPATOLÓGICA
Tabela 19.2
Figura 19.6
Figura 19.7 Representação esquemática das camadas ecográficas da parede gástrica. EUS: ultrassonografia endoscópica
Figura 19.8 Ecoendoscopia mostrando imagem de tumor infiltrante (T) no fundo gástrico, que penetra todas as paredes do estômago.
É possível a realização de ressecção endoscópica dos pacientes com câncer gástrico precoce
como tratamento curativo, devendo respeitar alguns critérios: tumor <2 cm, com lesão bem dife-
renciada, não ulcerada, sem invasão angiolinfática ou perineural e sem acometimento linfonodal,
observando sobrevida de 90% em 5 anos.
Os GISTs originam-se primariamente das célu- GIST. Essa mutação causa estímulo à prolife-
las de Cajal na musculatura do trato gastroin- ração celular sem controle. Em torno de 4%
testinal, e representam os tumores mesenqui- não expressam a proteína Kit, observando-se
mais mais frequentes do tubo digestório e 50% mutação em outro receptor tirosina quinase
de todas as lesões submucosas observadas com atividades semelhantes ao Kit, denomi-
durante endoscopia digestiva alta ou baixa. nado de Receptor do Fator de Crescimento Ati-
É um tumor gastrointestinal raro, que acomete vado Plaquetário (PDGFRa).
especialmente o estômago, potencialmente Em alguns casos são associados às síndromes
maligno, mas de comportamento benigno em genéticas:
80% dos casos.
TRATAMENTO
DIAGNÓSTICO
A ressecção cirúrgica completa ainda se
O consenso atual é que o diagnóstico de GIST
constitui no tratamento padrão para o GIST
exige exame de imagem (EDA e TC) e biópsia
não metastático, pois é a única modalidade
da lesão com evidência de características mor-
capaz de proporcionar cura. Não está esta-
fológicas celulares típicas e imunohistoquímica
belecida qual a extensão ideal da margem
positiva para c-Kit (CD117 e DOG1).
cirúrgica, porém há consenso de que não é
À EDA o achado é de lesão subepitelial. Logo, é necessária margem ampla para ressecção
necessário para biópsia guiada a realização de completa da lesão.
ultrassom endoscópico. Observa-se à EDA uma
As lesões com suspeita de invasão de órgãos
protusão endofítica da parede gástrica coberta
adjacentes devem ser tratadas por cirurgia
por mucosa habitual, podendo, porém, estar
radical por meio da ressecção em monobloco
presente ulceração central e sangramento, e ao
dos órgãos acometidos.
ultrassom endoscópico a descrição é de lesão
que cresce entre a terceira camada (camada A presença de metástase linfonodal não tem
muscular). sido reconhecida como fator prognóstico, não
havendo subsídio na literatura que corrobore a Nos casos de doença metastática ou recidi-
realização de linfadenectomia de rotina. vada é recomendado uso de Qt com inibidor
Após a análise da peça cirúrgica é avaliado o de tirosina Kinase durante 1 ano, e se houver
potencial de malignadade do tumor. resposta favorável é indicada ressecção como
resgate cirúrgico.
A predição do comportamento biológico do
GIST é problemática, pois o potencial de malig- Nos pacientes com lesão localmente avançada
nidade varia conforme localização (estômago (consideradas as com mais de 5 cm) ou nos
tem melhor prognóstico), tamanho e índice pacientes com lesão irressecável, é possível a
mitótico (por 50CGA). Outro importante fator realização de terapia neoadjuvante com o ini-
prognóstico é se houve fratura do tumor bidor da tirosina kinase (por exemplo, imatinib)
durante a cirurgia, determinando uma grande por 8 a 12 semanas. Nesses casos foi possí-
chance de recidiva peritoneal. vel reduzir o volume tumoral e diminuição de
Nos casos de risco intermediário ou alto é reco- complicações intraoperatórias. Após a cirurgia
mendado uso de quimioterapia com inibidor é recomendado manutenção da quimioterapia
da tirosina kinase (por exemplo, imatinib), no por mais 2 anos. Houve ganho de sobrevida
período de 3 anos. global, alcançando 77% em 5 anos.
São neoplasias derivadas das células entero- com necessidade de altas doses de antiácido
cromafins-like do corpo gástrico. para controle.
O volvo gástrico crônico responde pela maioria confirmar o volvo gástrico, permite informa-
dos casos (89,5%). Seus sintomas incluem dor ções que auxiliam na estratégia cirúrgica.
epigástrica incomum que começa após refei-
A radiografia simples também pode definir o
ções seguidas de distensão abdominal, vômi-
diagnóstico, demostrando uma víscera disten-
tos e até disfagia.
dida, com nível líquido, localizada no tórax ou
O volvo gástrico agudo ocorre em 30 a 60% dos abdome superior.
pacientes. A apresentação súbita de volvo gás-
O estudo radiológico contrastado com bário do
trico agudo inclui dor epigástrica que se irradia
trato gastrointestinal superior confirma o diag-
para as costas e região escapular. Náusea sem
conseguir vomitar e distensão abdominal são nóstico e demonstra o eixo de rotação do volvo.
comuns na apresentação inicial.
TRATAMENTO
tentada a passagem de uma sonda nasogás- EDA, é indicada abordagem cirúrgica de urgên-
trica. A redução do volvo agudo pode até ser cia. Se houver sucesso com a descompressão
conseguida com essa intervenção isolada. No não cirúrgica, deve-se planejar a cirurgia como
entanto, em metade dos casos não é possí- tratamento definitivo de forma eletiva.
vel a passagem de sonda, principalmente no
A correção do volvo gástrico pode ser feita por
volvo organoaxial, que apresenta obstrução
cirurgia aberta ou laparoscopia. Os objetivos
da cárdia. No tipo mesenteroaxial, em que a
da cirurgia são: a redução do volvo, fixação
cárdia permanece aberta, esse procedimento
do estômago na sua posição intra-abdominal
é mais factível.
habitual (gastropexia) e a prevenção da sua
No contexto da urgência e no insucesso do tra- recorrência com a reparação dos fatores pre-
tamento conservador, a redução endoscópica disponentes, ou seja, dos defeitos diafragmáti-
do volvo pode ser tentada, a princípio, como
cos e alterações intra-abdominais.
medida temporária, evitando cirurgia de urgên-
cia, permitindo a abordadgem definitiva para O procedimento cirúrgico geralmente inclui
uma cirurgia eletiva em melhores condições. O a realização de fundoplicatura para tratar
procedimento deve ser realizado sob fluorosco- doença do refluxo gastroesofágico preexis-
pia com o objetivo de observar a anatomia gás- tente, prevenir possível refluxo gastroesofágico
trica e assegurar que o estômago não seja mais pós-operatório e fixar o estômago no abdome.
torcido, agravando potencialmente a situação. No caso da presença de necrose, gastrecto-
Se não houver possibilidade de redução do mia parcial ou total podem ser necessárias. A
volvo nem por descompressão com SNG ou por recorrência do volvo no pós-operatório é rara.
Os bezoares gástricos são corpos estranhos frequência no sexo feminino, sendo encontra-
pouco comuns formados por conglomerados dos em cerca de 90% dos pacientes.
de substâncias ingeridas que se acumulam Quanto à idade, 80% compreendem menores
com o tempo no estômago. de 30 anos, e o grupo etário mais frequente
Podem ser constituídos por uma variedade situa-se dos 10 aos 20 anos, geralmente
de substâncias, sendo as mais comuns: fibras em pacientes com transtornos emocionais
vegetais (fitobezoar), cabelo (tricobezoar), deri- ou retardo mental. O tamanho é variável e
depende do tempo de evolução e do hábito de
vados de produtos do leite (lactobezoar), medi-
tricofagia. O maior tricobezoar já relatado tinha
camentos (farmacobezoar), areia, cimento e
3,2 kg e 62 cm. Os tricobezoares se compõem
outros corpos estranhos intactos.
de cabelo e substâncias vegetais e compreen-
Os bezoares gástricos são mais comuns após dem cerca de 3% do total de casos reportados
cirurgias gástricas, mas em pacientes que não na literatura médica.
são submetidos à cirurgia, quase sempre são
A perda do mecanismo regulador de evacua-
acompanhados de distúrbios psiquiátricos,
ção gástrica favorece a estase e a retenção de
como a tricotilomania (compulsão de arran- alimentos, com o consequente acúmulo de
car os próprios cabelos) e a tricofagia (hábito fibras vegetais. A gastrite resultante aumenta a
de engolir o cabelo). Eles também ocorrem, produção de muco, que colabora para a forma-
embora raramente, em pacientes diabéticos ção e o crescimento do fitobezoar.
(com fisiologia gástrica alterada), com distro-
O uso de opiáceos, a distrofia muscular e a
fia muscular miotrófica e em alguns casos em
neuropatia alcoólica são fatores predisponen-
terapia com cimetidina.
tes, com mecanismo parecido com a gastro-
Apresentam-se com maior frequência (mais paresia diabética.
de 70%) no sexo masculino, favorecidos pela Os lactobezoares são descritos em lactentes que
ingestão de determinados alimentos, defei- recebem leite artificial insuficientemente dilu-
tos no mecanismo de esvaziamento gástrico ído ou que estão recebendo leite espesso como
e antecedente de cirurgia gastrointestinal. tratamento antiemético, e também naqueles
Os tricobezoares foram os tipos mais comuns tratados com atropina ou seus derivados.
de bezoar antes do advento das modernas Os farmacobezoares são compostos por
técnicas cirúrgicas e ocorrem com maior medicamentos, sendo os mais frequentes:
antiácidos (gel hidróxido de alumínio, sucral- O fitobezoar aparece geralmente como uma
fato), colestiramina, fórmulas enterais, prepa- massa amarela, verde ou marrom, frequen-
rados de psillium, nifedipina, teofilina, aspirina temente associada às ulcerações. Os tricobe-
tamponada etc. zoares tendem a ser maiores, pretos ou mar-
rom-escuros, caracterizados por uma massa
coberta por muco, que pode se estender por
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
toda a câmara gástrica e até o intestino delgado.
Os sinais e os sintomas dos bezoares são geral-
mente inespecíficos e variam de acordo com a TRATAMENTO
sua localização.
A conduta varia de acordo com a composição
Os bezoares podem se apresentar com sinto- e o tamanho do bezoar. Os fitobezoares são
mas de obstrução intestinal alta com dor abdo- efetivamente tratados sem cirurgia na maioria
minal, náuseas, vômitos, anorexia, distensão dos casos.
abdominal, perda de peso, dispepsia e intole-
Os bezoares gástricos pequenos podem ser
rância alimentar. extraídos endoscopicamente, e alguns fitobe-
Em alguns casos, eles se comportam como zoares podem ser eliminados por métodos
uma subobstrução intestinal crônica e com enzimáticos ou tratados conjuntamente.
halitose intensa pelo material em putrefação Dos métodos enzimáticos descritos, destaca-
no estômago. mos a dissolução do bezoar com papaína ou
Úlceras gástricas com hemorragia ocorrem em acetilcisteína, associada à metoclopramida
ou à cisaprida nos pacientes com retardo no
cerca de 20% dos casos, particularmente se o
esvaziamento gástrico. A enzima mais efetiva
bezoar é um fitobezoar mais abrasivo. A perfu-
é a celulase, que apresenta um índice de dis-
ração gástrica ou intestinal com peritonite é
solução de 83 a 100%, sendo, porém, de difícil
menos frequente.
obtenção.
A obstrução intestinal é a complicação mais
O tratamento endoscópico dos fitobezoares
comum e requer cirurgia. Tem sido relatado é efetivo. O bezoar pode ser fragmentado de
que cerca de 60% dos fitobezoares podem cau- vários modos e então removido, auxiliado por
sar quadros de obstrução intestinal. lavagem do estômago, por meio de grande
overtube.
DIAGNÓSTICO Os tricobezoares são mais resistentes ao tra-
tamento do que os fitobezoares. Nenhuma
Histórias de antecedentes de transtornos psi-
lavagem ou terapia enzimática tem sucesso e
cológicos ou retardo mental, tricotilomania,
geralmente são tão volumosos que não é pos-
tricofagia e áreas de alopecia facilitam o diag- sível sua rotura endoscópica pelos métodos
nóstico no caso dos tricobezoares. habituais, requerendo, frequentemente, extra-
A endoscopia digestiva alta é o método diag- ção cirúrgica.
nóstico mais efetivo e permite confirmar o Os lactobezoares e farmacobezoares são tra-
diagnóstico pela visualização direta de uma tados mediante jejum de 24 horas, hidratação
massa gelatinosa, irregular, de volume variável, endovenosa e eliminação da causa, sendo rara
dependendo do tipo e do tamanho. a necessidade da rotura endoscópica.
Desde 2017 é autorizado pelo CFM a realização Cirurgia segura com menor curva de aprendi-
de cirurgia bariátrica em pacientes com IMC zado do que o BGYR perda do excesso de peso
entre 30 e 35 com diabetes de difícil controle (PEP%) de até 67%.
(insulinodependente, doses altas e controle Sua principal desvantagem é um efeito refluxo-
inadequado), visto potencial de melhora da gli- gênico e no menor controle da diabetes Mellitus.
cemia com a cirurgia bariátrica.
É melhor em adolescentes, pacientes que
As cirurgias bariátricas classicamente são divi- fazem uso de imunossupressão via oral (pela
didas em restritivas, disabsortivas e mistas, disabsorção presente no BGYR), pacientes com
sendo atualmente divididas em cirurgias deri- hérnia gigante de parede abdominal (dificul-
vativas (bypass gástrico em Y de Roux) e não dade de mobilização das alças para o BGYR) e
derivativas (gastrectomia vertical). em pacientes com pólipos gástricos.
comum. O quadro clínico pode ser agudo com tomografia de abdome com contraste venoso,
obstrução intestinal ou crônico com dor abdo- e o tratamento é com cirurgia para fechar a
minal recorrente. O diagnóstico é realizado por brecha da hérnia