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dência Médica, mas possibilitar conhecimento e cultura para o desenvolvimento de sua carreira
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Classificação.................................................................................. 44 Tratamento.................................................................................... 67
Tratamento.................................................................................... 45 Tratamento.................................................................................... 69
Complicações................................................................................ 45 Conservador................................................................................. 69
Tratamento.................................................................................... 55 Anatomia.........................................................................................76
Hemotórax..................................................................................... 56 Avaliação........................................................................................ 77
Quilotórax...................................................................................... 58 História........................................................................................... 77
Laringe.............................................................................................61 Ausculta.......................................................................................... 79
Avaliação de ferimentos penetrantes.................................... 80 Tratamento não operatório das lesões esplênicas......... 107
Sondagens..................................................................................... 82 Tratamento...................................................................................111
Radiologia...................................................................................... 83 Tratamento...................................................................................116
POLITRAUMA
Terceiro pico de morte (cerca de 20% dos óbi- Distribuição Trimodal das
tos) ocorre dentro de vários dias a semanas Mortes por Trauma
após o evento traumático. Aqui, as mortes Lacerações:
Cérebro
ocorrem por complicações do trauma, princi- 1º Pico Aorta
Medula
palmente devido a sepse, disfunção de múl- Coração
Mortes
2º Pico Epidural
(TEP), sendo que o atendimento prestado em Subdural
3º Pico
cada fase do trauma tem impacto direto sobre Hemopneumotórax
Fraturas Pélvicas Sepse
a mortalidade dessa fase. Fraturas de Ossos Longos
Lesões Abdominais
DMOS
2. Moderado
NOVO ÍNDICE DE GRAVIDADE DA
3. Sério LESÃO (NISS)
4. Grave (sobrevida provável) O NISS é obtido pela soma dos quadrados das três
lesões mais graves do AIS, independentemente
do segmento corporal acometido. Pacientes que Lembrando que este índice não é um preditor
apresentem lesões graves associadas ao mesmo de complicações, mas correlaciona-se com a
segmento corporal, o que é relativamente fre- probabilidade de sobrevida. O valor do RTS
quente em traumas penetrantes, podem ser con- pode variar de aproximadamente 8 (7,8408)
siderados para calcular o NISS. até 0, onde quanto menor o valor, menor a
probabilidade de sobrevida. Um paciente
com RTS < 4 deverá ser transferido a um cen-
ÍNDICES FISIOLÓGICOS tro de trauma.
0.969 0.988
1 0.919
0.9 0.807
0.8
0.7
0.605
0.6
0.5 0.361
0.4
0.3
0.2 0.172
0.071
0.1 0.027
0
Figura 1.4
Revised Trauma Score (RTS)
que podem retardar um pouco a remoção até e habilitados para a realização de medidas
o hospital, já que existe a presença de médi- invasivas para a estabilização hemodinâ-
cos que podem fazer procedimentos no local mica e ventilatória desses pacientes antes do
(scoop and play). No sistema norte-americano, transporte à referência hospitalar;
há a figura do paramédico, que foca em fazer • Ambulâncias do Tipo C (Unidades de Res-
reanimação básica e transporte rápido para o gate), tripuladas por agente, militar ou
centro de trauma (scoop and run). civil, maiores de idade, com ensino médio
hospital que irá transferir o paciente, mas sim, C. Se um paciente apresentar sintomas respi-
priorizar e não retardar a transferência. A deci- ratórios, coloque imediatamente uma máscara
são desses exames deverá ficar a critério do facial no paciente;
médico assistente do hospital de destino. D. A anamnese deve conter perguntas sobre
A transferência deve ser considerada toda vez febre, sintomas respiratórios superiores,
que as necessidades de tratamento do doente COVID-19, histórico de exposição, histórico de
excederem a capacidade da instituição que o viagens e histórico de isolamento apropriado;
recebeu. Essa decisão requer uma avaliação E. Minimize o número de pessoas à beira do
detalhada das lesões do doente e da capaci- leito para apenas àquelas que são necessárias
dade da instituição, incluindo equipamentos, para o atendimento direto ao paciente;
recurso e equipe.
F. Desenvolver políticas e procedimentos para
Na fase hospitalar é preciso ter planejamento. o manejo das vias aéreas para pacientes com
A organização antecipada à chegada do doente probabilidade de infecção por COVID-19 e que
traumatizado é essencial: os equipamentos necessitam de intubação emergente.
devem estar testados (laringoscópios, tubos
TRIAGEM
etc.) e disponíveis para serem usados assim que
necessário, além de soluções cristaloides aque- É a avaliação e screening (classificação) dos
cidas devem estar prontamente disponíveis. pacientes politraumatizados de acordo com a
probabilidade de sobrevida, recursos e pessoal
Além disso, para o atendimento do politrauma-
disponível e tratamento provável necessário.
tizado deve ser usada proteção contra doen-
ças transmissíveis (hepatite, AIDS etc.), usando O atendimento prestado deve ser baseado nas
máscaras, protetor ocular, avental impermeá- prioridades, com ênfase nas lesões ameaça-
vel, luvas etc. O ATLS obriga sempre o cuidado doras à vida. A classificação dos doentes no
local do acidente e a decisão do tipo de hospi-
com o controle da infecção e a utilização de
tal para o qual deve ser transportado o doente
EPI adequado.
são primordiais, principalmente tratando-se de
A Organização Mundial de Saúde reconheceu, catástrofes.
a partir de março de 2020, a existência de uma
Em situações de catástrofes, a triagem rea-
pandemia do novo coronavírus que surgiu na
lizada pelas equipes deverá obedecer a dois
China no final de 2019, e cuja doença foi deno-
aspectos:
minada COVID-19. Nesse contexto, as recomen-
dações de proteção no atendimento ao trauma • O número de pacientes não excede a capa-
são ainda mais importantes. O Colégio Brasi- cidade dos cuidados disponíveis: pacientes
leiro de Cirurgiões emitiu, em abril de 2020, um com lesões graves são cuidados primeiro;
guia rápido com as orientações relacionadas • O número de pacientes excede a capaci-
ao atendimento inicial ao paciente politrauma- dade de cuidados disponíveis: pacientes
tizado em vigência da citada pandemia: com maior chance de sobrevivência são tra-
tados primeiro.
A. A avaliação do paciente com trauma não
O algorítimo de triagem de vítimas mais uti-
deve ser adiada para determinar o status do
lizado no Brasil é o START (“Simple Triage And
COVID-19, mas devem ser tomadas as devi-
Rapid Treatment”) que permite a avaliação
das precauções;
rápida de parâmetros vitais dos pacientes
B. Garantir o uso estrito do EPI nas precau- (deambulação, respiração, circulação e cogni-
ções de contato com gotículas para TODOS ção) para classificá-los em escala de gravidade
os pacientes ; e prioridade de atendimento: verde (gravidade
menor, deambulando, pode até ajudar no aten- (*) O ABCDE dos cuidados com o politraumati-
dimento de outras vítimas), amarelo( gravidade zado é a sistematização do atendimento que
moderada mas pode esperar algumas horas), objetiva identificar as condições que impli-
vermelho (grave com chance de sobrevida, tra- cam risco de morte na seguinte sequência:
tamento e, ou, transferência imediata) e preto
(óbitos ou lesões incompatíveis com a vida, con-
duta paliativa ou expectante). Fig em anexo1. (AIRWAY CERVICAL SPINE
A triagem baseia-se na ideia de fazer o melhor, CONTROL) – VIAS AÉREAS
para o maior número de doentes. Dessa forma, PÉRVIAS E PROTEÇÃO DA
o doente que possui problemas na via aérea é
COLUNA CERVICAL;
tratado primeiro do que o doente que possui
problemas ventilatórios, que por sua vez é tra- (Breathing) – Respiração e ventilação;
tado antes dos doentes com problemas relacio- (Circulation) – Circulação e controle da hemor-
nados à circulação, e assim por diante. ragia.;(Disability) – Diagnóstico com exame
A triagem ocorre nos mais diversos níveis de aten- neurológico sumário: GLASGOW e pupilas ou
dimento, podendo ocorrer da cena do acidente AVDI* rápido.
ou até mesmo dentro dos grandes centros. (Exposure) – Exposição do doente, com controle
Além disso, o centro médico, ao receber a da temperatura do ambiente e medidas contra
vítima, deve definir se a mesma possui condi- a hipotermia.
ções de ser tratada naquele local, caso contrá-
*AVDI é um mnemônico para avaliação rápida
rio, uma transferência a um centro especiali-
do status neurológico do doente, sendo
zado que seja capaz de realizar o tratamento
A-Alerta, V-Verbalizando, D-Respondendo à
definitivo das lesões deve ocorrer após o aten-
estímulo Doloroso e I-Inconsciente.
dimento inicial à vítima politraumatizada.
Durante o exame primário, todas as condições
que implicam risco à vida deverão ser diag-
nosticadas e, simultaneamente, o tratamento
AVALIAÇÃO E EXAME PRIMÁRIO
deverá ser instituído imediatamente. Lembre-
Os pacientes serão avaliados conforme prio- -se de que o ATLS 10 traz para o atendimento
ridades de tratamento. Para os gravemente das vítimas politraumatizadas o conceito de
feridos, é estabelecida uma sequência lógica TEAM que já era utilizado no ACLS, onde uma
no tratamento, obedecendo-se as prioridades equipe treinada realiza o atendimento integral,
baseadas na avaliação geral do doente. Um simultâneo e sistematizado da vítima.
paciente com problemas na via aérea morre
mais facilmente do que aquele com pro- Deve-se considerar a cinética do trauma e seu
blemas respiratórios que, por sua vez, tem mecanismo para suspeição diagnóstica de
mais chances de morrer do que um que tem lesões associadas. O uso de cinto de segu-
hemorragia. rança pode relacionar-se diretamente com
lesões de vísceras ocas retroperitoniais
Sempre obedeça à sequência do ABCDE, seja (trauma duodenal e explosão de ceco) e
no intra ou extra-hospitalar(*)! fraturas de Chance na coluna lombar, além
O tratamento começa paralelamente ao exame pri- de trauma a órgãos retroperitoneais como
mário rápido e consiste na reanimação das funções pâncreas, rim e ureter. O uso de airbags rela-
vitais comprometidas, pois o tempo é fator funda- ciona-se às fraturas de face, mas já foram des-
mental no resultado final, em que as decisões tera- critos outros tipos de lesões como casos de
pêuticas exigem rapidez e precisão. rotura cardíaca por esse dispositivo.
A C
B D
Figuras 2.5 Manobra de Jaw-Thrust: elevação da mandíbula e tração do mento a ser usada no trauma quando amanobra head-tilt-chin-lift (hiperextensão
da cabeça) está contraindicada.
Figuras 2.6 Manobra de Heimlich para remoção de corpo estranho. A: manobra de Heimlich em ortostase com paciente consciente, JAMAIS deverá ser
realizada em pacientes inconscientes; B: compressões abdominais no epigástrico; C: compressões torácicas semelhantes às usadas na reanimação cardior-
respiratória.
Além dessas manobras, para as vítimas incons- O finger sweep (“dedo em gancho”) não está
cientes é possível abrir mão do uso do dis- mais indicado e pode ser prejudicial (classe III).
positivo orofaríngeo (cânula de Guedel) para E o tapa nas costas não está mais contraindi-
manter a permeabilidade das vias aéreas. Mas cado por relatos de que essa manobra foi efe-
lembre-se de que esses dispositivos devem tiva em desobstruir previamente a via aérea.
ser utilizados apenas em vítimas com nível de As compressões abdominais em crianças < 1
consciência reduzido a ponto de perderem o ano de idade estão contraindicadas, preferin-
reflexo do vômito. do-se as compressões torácicas e o tapa nas
costas (back bows); no paciente obeso, a prefe-
rência é por compressões torácicas pela maior
CORPO ESTRANHO efetividade.
Na suspeita de corpo estranho deve-se reali- Uma vez que o A (via aérea) esteja garantido
zar a manobra de Heimlich e ligar para o ser- com controle de coluna cervical, procede-se
viço de emergência (193) quando o paciente para o B (respiração).
cair inconsciente. Após a sequência, iniciam-se Se as manobras de permeabilização das vias
compressões torácicas, abdominais e ventila- aéreas não foram efetivas, deve-se ime-
ções na tentativa de desobstruir a via aérea. diatamente garantir via aérea definitiva
Via aérea definitiva é aquela que protege a via Figura 2.8 A escolha do tamanho da cânula de Guedel consiste em: aproxi-
mar o bocal da cânula à rima e verificar se a ponta da mesma atinge o ângulo
aérea do paciente contra broncoaspiração. da mandíbula, não ultrapassando o lóbulo da orelha.
Ou seja, para uma via aérea artificial ser con- Na impossibilidade de intubação, outra forma
siderada como definitiva, ela deve apresentar de via aérea avançada é mandatória, seja uma
via aérea cirúrgica, seja uma via aérea avançada
um tubo intratraqueal com o balão insuflado
temporária através de dispositivos supraglóticos,
abaixo das cordas vocais e conectado à uma
o método de escolha para via aérea cirúrgica, na
fonte de oxigênio sob ventilação assistida (intu- maioria dos traumas, é a cricotireoidostomia.
bação orotraqueal ou nasotraqueal, cricotireoi- A traqueostomia deve ser evitada, via de regra,
dostomia cirúrgia, traqueostomia). Já as tem- por ser mais trabalhosa, demorada e com maior
porárias não apresentam o balão insuflado na chance de sangramento, mas existem situações
traqueia (cricotireoidostomia por punção, más- em que seu emprego é necessário na urgência,
como nas fraturas de laringe e também em crian-
cara laríngea, combitubo).
ças menores que 12 anos de idade.
Particularidades: A via aérea da criança exige
Relembrando: Em doentes pediátricos, a cri-
conhecimento adequado de suas peculiarida- cotireoidostomia cirúrgica é contraindicação
des. A traqueia infantil é mais curta e angulada relativa na faixa etária abaixo dos 12 anos de
em relação a do adulto, portanto, a intubação idade, pois a cartilagem cricóide constitui o
nasotraqueal fica contraindicada em < 12 anos esqueleto de sustentação da laringe, e, dessa
de idade. A cricotireoidostomia cirúrgica tam- forma, se houver uma lesão extensa dessa car-
tilagem e da membrana cricotireoideana, pode
bém é contraindicada para pacientes abaixo
ocorrer um grave desabamento de laringe em
de 12 anos de idade, pois a membrana cricoti-
direção ao mediastino, obstrução da via aérea
reoidea é o único ponto de sustentação alta da e óbito. Poderá, em algumas situações, ser rea-
traqueia infantil. lizada por profissionais experientes e plena-
mente conhecedores da anatomia infantil.
cricotireoidostomia por punção é permitida
em crianças. Um jelco (Abocath) 16-18 é colo-
cado na cricóide e adaptado a um tubo T sob
jatos intermitentes, que é conectado a 15 litros
de O2/minutos e até tempo máximo de 30-45
minutos para evitar hipercarbia, até que possa
ser realizada a traqueostomia ou outro dispo-
sitivo de via aérea avançada, como será abor-
Figura 2.7 Cânulas de Guedel. dado no capítulo de via aérea.
COR DA PELE
A coloração da pele poderá ser importante na
avaliação do choque. A coloração acinzentada
da face e pele esbranquiçada das extremida-
des são sinais sugestivos de hipovolemia. Figura 2.9 Pressão direta da ferida com compressa.
a hemorragia durante a fase de transporte e não guarda correlação com a medida de pres-
reanimação inicial. são arterial nesse grupo de doentes. O uso de
Os mecanismos de trauma por ejeção, esma- anticoagulantes orais para patologias como
gamento ou queda de mais de 3,6 metros são fibrilação atrial, doença coronariana e aciden-
bastante sugestivos de fraturas pélvicas. tes isquêmicos transitórios podem aumentar a
perda sanguínea.
Pacientes em choque persistente, de causa
obscura, sem evidência de fraturas devem ser Atenção: a medida e reavaliação da pressão de
investigados: pulso (pressão sistólica – pressão diastólica) é
ponto fundamental de correlação com o débito
• Tórax;
cardíaco em qualquer faixa etária.
• Abdômen;
• Crianças: demonstram poucos sinais de
• Retroperitônio;
perda volêmica, mesmo quando são signifi-
• Bacia; cativas, já que têm reserva fisiológica exu-
• Ossos longos. berante. Então, quando aparece a deterio-
A fonte de sangramento geralmente é identifi- ração hemodinâmica, geralmente é muito
cada no exame físico e de imagem, por exem- rápida e catastrófica;
plo, radiografias de tórax e pelve, ou avalição do • Atletas: Possuem mecanismos de compen-
ultrassom direcionado para o trauma – FAST. sação semelhante aos da criança, normal-
O tratamento pode incluir: descompressão do mente são bradicárdicos. Quando ficam
tórax, compressão da pelve, uso de imobiliza- taquicárdicos é porque já houve perda sig-
dores e intervenções cirúrgicas. nificativa de sangue.
Sobre a reposição no paciente com choque
Perdas sanguíneas em fraturas:
hemodinâmico, o ATLS 10 não menciona
Fratura de fêmur: 1,5 mil mL mais a solução salina hipertônica. Houve
a padronização do uso das soluções crista-
Fratura de tíbia/fíbula: 750 mL loides, seja soro fisiológico(SF 0,9%) e/ou
ringer lactato na reanimação inicial desses
Fratura de úmero: 750 mL
pacientes, priorizando o último, pois altos
Fratura de bacia: 2 litros ou mais!
volumes de SF 0,9% podem levar à acidose
hiperclorêmica, sobretudo em pacientes
Tabela 2.1 com a função renal diminuída.
Armadilhas: a resposta às perdas sanguíneas
Outro ponto importante do ATLS mais
é variável e não ocorre de modo semelhante recente é não mais ser indicada a realização
ou mesmo normal nos pacientes idosos, crian- de grandes volumes de solução cristalóide
ças, usuários de medicamentos, atletas e indi- na reanimação volêmica, é preconizado
víduos portadores de doenças crônicas. bolus 1 litro de solução em adultos ou 20 ml/
• Idosos: mesmo saudáveis, têm capacidade kg em crianças ou pacientes de até 40 Kg,
limitada de elevação da frequência cardíaca aquecidos a 37 – 40ºC para evitar hipoter-
(FC), devido à rigidez miocárdica e retardo ele- mia. Se não houver resposta a essa hidra-
trofisiológico na condução elétrica cardíaca. tação inicial, provavelmente necessitará de
sangue e hemoderivados.
Muitas vezes, o primeiro sinal de choque (a
taquicardia) pode não aparecer precocemente Atualmente, o ATLS preconiza a reanimação
no idoso, sobretudo quando o paciente usa balanceada baseada na hipotensão permis-
betabloqueador. Além disso, o débito cardíaco siva e na abertura precoce do protocolo de
transfusão maciça para o tratamento do choque hipovolêmico no trauma. Esses assuntos serão
melhores explicados no capitulo de choque.
Perda de sangue (%
< 15% 15 a 30% 31 a 40% > 40%
volume total)
Aumentada ou
Normal ou leve-
Frequência cardíaca Normal Aumentada muito aumen-
mente aumentada
tada
Normal ou aumen-
Respiração/minuto Normal Normal Aumentada
tada
Déficit de base
a -2 -2 a -6 -6 a -10 -10
(mEq/L)
Protocolo de
Necessidade de
Observar Possivelmente Sim transfusão
sangue
maciça
Tabela 2.2 Data from: Mutschler A, Nienaber U, Brockamp T, et al. A critical reappraisal of the ATLS classification of hypovolaemic shock: does it really reflect
clinical reality? Resuscitation 2013,84:309–313.
Sem resposta 1
EXAME SECUNDÁRIO
EXAMES ADJUNTOS AO EXAME É o exame pormenorizado que se faz com a
PRIMÁRIO E À REANIMAÇÃO reavaliação do paciente, sendo importante
• Oxímetro de pulso; sobretudo no diagnóstico de lesões poten-
cialmente ameaçadoras à vida. Na avaliação
• Monitor cardíaco/pressão arterial/frequên-
secundária, o paciente é examinado dos pés
cia respiratória;
à cabeça, incluindo toques retais e vaginais
• Gasometria arterial e laboratório; quando necessários.
• Capnógrafo;
No exame secundário é a hora de se revisar a
• Exames radiológicos: raios X cervical perfil
história do doente. A mnemônica AMPLA é útil:
(C1-T1), devem ser usados racionalmente,
nunca retardando o tratamento de lesões • A – Alergias;
ameaçadoras à vida, porém o raios X de • M – Medicamentos;
tórax e o de pelve (rX diagnóstico) quando • P – Passado médico/passado gestacional;
forem necessários, podem ser realizados na
• L – Líquidos/sólidos ingeridos pela última
sala do trauma podendo identificar lesões
vez;
que podem ameaçar a vida do doente, sem
interromper o processo de reanimação; • A – Ambiente e eventos relacionados ao aci-
dente.
• Segundo o ATLS as radiografias diagnósticas
podem ser obtidas mesmo em pacientes É a hora do exame pormenorizado:
grávidas; • Cabeça: procura por lesões de couro cabe-
• Sondagem nasogástrica e vesical (atentar ludo, tábua óssea (crânio), região mastóide e
para as contraindicações, como na presença base do crânio. Sinais de fratura de base do
de sangue no meato uretral, equimose peri- crânio: Sinal de Battle (Sinal de Batalha);
neal – suspeita de trauma de uretra). A nova Sinal do Guaxinim (Racoon Eyes), otoliquor-
edição do ATLS, não recomenda a palpação ragia/otorragia (saída de líquor/sangue pelo
ouvido); Sinal do duplo halo (líquor que se lavado peritoneal diagnóstico (LPD) ou FAST
mistura com sangue e aparece no lençol do e, se estáveis, tomografia computadorizada.
leito do doente) sugerindo otoliquorragia e Fraturas de pelve ou de arcos costais baixos
ou rinoliquorragia (mancha em alvo); podem dificultar o exame abdominal, pois a
• Otoscopia e fundo de olho. Verificar a pre- palpação deste pode gerar dor advinda des-
sença de hemotímpano, e/ou ruptura do sas regiões.;
tímpano, otorragia (lesão do andar médio), • Genitália/períneo: o períneo deve ser exa-
e/ou perda liquórica que fala a favor de TCE minado à procura de contusões, hemato-
e fratura de base de crânio; mas, lacerações e sangramento uretral. O
• Face: traumas maxilofaciais sem obstrução toque retal pode ser realizado com cuidado,
das vias aéreas ou sangramentos importan- lembrando que a palpação prostática por-
tes só são tratados após completa estabili- menorizada não e mais recomendada. Nas
zação dos doentes; mulheres, o toque vaginal é parte funda-
• Pescoço e coluna cervical: Para pacien- mental do exame secundário, desde que
tes com trauma maxilofacial ou de crânio, haja risco de lesão vaginal. Fazer o toque
presume-se que tenha também lesão de vaginal e retal. Nesse último, verifique a
coluna cervical até que se prove o contrário. competência do esfíncter (lesão raquimedu-
Logo, esta deve se mater imobilizada até lar), a presença de sangue na ampola, lace-
sua exclusão. O exame do pescoço inclui a rações e fragmentos ou pontas ósseas (fra-
investigação de enfisema subcutâneo, des- tura de bacia) e presença de crepitação (gás
vio de traqueia, fraturas de laringe, lesão de no retroperitônio - trauma duodenal). Veri-
esôfago (derrame pleural sem associação ficar se existe equimose perineal ou locais
com fratura de arcos costais ou contusão de contusões (escoriações) e outras lesões
pulmonar). A parte vascular também deve (fraturas, luxações, perfurações e cortes);
ser investigada atentando para sopros caro-
• Extremidades/musculoesqueléticas: as
tídeos, hematomas pulsáteis ou em expan-
extremidades devem ser inspecionadas
são, principalmente em traumas fechados
à procura de contusões, deformidades,
onde esse tipo de lesão é menos evidente;
edema, hematomas, ausência de pulsos,
• Tórax: lesões torácicas significativas
sinais de isquemia e síndrome comparti-
podem manifestar-se por dor, dispneia
mental. Fraturas pélvicas podem ser sus-
ou hipóxia. A avaliação inclui a ausculta e
peitadas pela identificação de equimoses
o exame radiológico. Doentes idosos não
sobre as asas do ilíaco, púbis, grandes lábios
toleram lesões torácicas, mesmo relativa-
ou saco escrotal. A dor à palpação do anel
mente pequenas, entrando rapidamente
pélvico é um achado importante no doente
em insuficiência respiratória;
consciente;
• Abdome: o diagnóstico e tratamento das
• Sistema nervoso: a avaliação neurológica
lesões abdominais deve ser rápido e agres-
adequada não inclui somente a apreciação
sivo. Um exame inicial normal do abdome
sensória e motora, mas também a reavalia-
não exclui lesões intra-abdominais. Paciente
ção do nível de consciência (GCS) e do tama-
com contusões abdominais deve ser obser-
vado de perto e com frequentes reavalia- nho e da resposta da pupila do doente. Qual-
ções. Doentes com hipotensão não expli- quer evidência de perda de sensibilidade,
cada, lesões neurológicas, alterações do paralisia ou fraqueza sugere lesão grave da
sensório devido ao uso de álcool e/ou dro- coluna ou do sistema nervoso periférico;
gas e com achados abdominais duvidosos • Por vezes, as lesões medulares não podem
devem ser considerados candidatos a um ser avaliadas pelo fato de o paciente
encontrar-se comatoso. Assim, a análise do mecanismo de trauma pode ser a única arma dis-
ponível para o médico
Exames adjuntos ao exame secundário
Uma vez que as lesões ameaçadoras ou potencialmente ameaçadoras à vida foram identificadas e
tratadas na avaliação primária, exames mais sofisticados poderão ser feitos para confirmar a sus-
peita diagnóstica existente desde que o doente esteja hemodinamicamente estável.
São adjuntos ao exame secundário:
• Exames contrastados (arteriografia, uretrocistografia, esofagografia);
• Tomografia computadorizada com contraste / Ressonância, ultrassonografia, ecodoppler, eco-
cardiograma;
• Demais estudos radiológicos sem ser aqueles incluídos no exame primário, incluindo os de
extremidades;
• Endoscopias digestivas / fibrobroncoscopia.
Mas, lembre-se, uma vez que exista a necessidade de transferência do paciente, é inadmissível
que ocorra retardo em função de quaisquer exames.
Cuidados definitivos: realizado o tratamento das lesões ameaçadoras à vida no exame primário,
e, em alguns casos, com o resultado de exames mais especializados em mãos, procederemos aos
cuidados definitivos.
Segurança
1º passo Controle de cena Mecanismo de trauma
Controle cervical
2º passo Abordagem primária Consciência
rápida Respiração - sim/não
Circulação • pulso
• color/umidade
• temperatura
• enchimento/umidade
Grandes lesões/hemorragia
Comunicação com médico
regulador
Via aérea (VA), juntamente com o controle A agitação do paciente sugere hipóxia; já
cervical, é prioridade absoluta no atendi- sonolência levanta suspeita de hipercapnia.
mento ao politraumatizado. E a permea- Respiração ruidosa, com roncos ou estridor,
leva-nos a pensar em obstrução de faringe.
bilidade da VA não implica necessariamente
Presença de disfonia sugere obstrução de
ventilação adequada. O tórax do paciente
laringe. A tríade rouquidão, enfisema subcutâ-
deve ser exposto completamente para ava-
neo cervical e crepitação de laringe remete à
liar a ventilação pulmonar após o controle da
fratura de laringe.
via aérea. Além disso, devemos identificar a
origem da disfunção respiratória com diag- As manobras de desobstrução da VA depen-
nóstico diferencial do problema: será que a dem da causa, a queda da base da língua con-
dispneia é por obstrução da VA, por problema sequente a um TCE, por exemplo, é a causa
pulmonar ou ainda por má perfusão periférica mais comum de obstrução de VA e a simples
tração do mento e elevação da mandíbula ( jaw-
ou problema neurológico associado? A oferta
-thrust) ou apenas elevação do mento (Chin-lift)
inadequada de sangue oxigenado ao cérebro
podem resolver.
e aos órgãos vitais é fator que mais rapida-
mente leva o doente à morte. Para aspirar secreções e corpos estranhos
deve ser usado aspirador rígido. Sondas flexí-
A VA pode ficar comprometida pela queda
veis devem ser evitadas. Independentemente
de estruturas anatômicas (como a base da
da manobra realizada, o cuidado com a coluna
língua), no paciente inconsciente, pela pre- cervical é obrigatório durante esse processo.
sença de corpo estranho, restos alimentares, O colar cervical deverá estar posicionado
sangue, hematoma cervical, trauma direto de de modo adequado. Ele poderá ser mobili-
laringe, fratura de face, entre outros. Pacien- zado desde que um socorrista fixe a cabeça,
tes com TCE, trauma bucomaxilofacial e ou enquanto o médico examina a região cervical
trauma na região cervical são particularmente e coloca o colar.
propensos a apresentar problemas na VA.
Todo paciente politraumatizado deverá
O diagnóstico de obstrução da VA começa no receber suplementação com oxigênio (10-
primeiro contato com o doente. A verificação 12 litros/minuto) em máscara de alto fluxo
da consciência com as perguntas: “como você (correspondente a uma FiO2 de aproximada-
está?”, “qual é seu nome?”, fornece-nos vários mente 100%).
dados importantes. Doente que fala e está O oxímetro de pulso deverá ser também aco-
orientado mostra que a VA está pérvia e plado. Esse aparelho oferece informações
existe boa oxigenação cerebral, ou seja, sobre a saturação de O2, mas não garante que a
essa simples ação já fornece informação de ventilação esteja adequada. A leitura do oxíme-
via aérea, ventilação e circulação potencial- tro é realizada através da leitura colorimétrica
mente adequadas. do fluxo sanguíneo, a hemoglobina reduzida
possui uma coloração diferente da hemoglo- O balão adulto tem 1-2 litros e deve ofertar
bina não reduzida, logo o aparelho diferencia um volume corrente de 600 mL, o que é sufi-
os dois padrões e realiza a mensuração da ciente para a expansão do tórax e preservação
saturação periférica de oxigênio. Sendo assim, da normocarbia. A ventilação deve durar 1
a hipoperfusão dos tecidos periféricos pode segundo e o fluxo conectado é 10-12 L/min. No
levar à leitura inadequada pelo aparelho. caso de ventilação durante reanimação cardio-
Manter a oxigenação e prevenir a hipercarbia pulmonar (RCP), devem ser feitas 30 compres-
são fundamentais no gerenciamento de poli- sões para duas ventilações, o que equivale à
traumatizados, especialmente aqueles que uma ventilação a cada 6-8 segundos. Quando
sofreram traumatismo cranioencefálico. existe uma via aérea definitiva não há mais a
necessidade de sincronizar com as compres-
sões, mantendo-se frequência de compressões
torácicas de 110-120 por minuto. Vale lembrar
AÉREA TEMPORÁRIA
também que a ventilação não invasiva (Balão-
Para obtenção da via aérea temporária, pode- -Válvula-Máscara) no paciente consciente pode
mos utilizar alguns dispositivos, tais como: (a) dar suporte temporário até melhor planeja-
ventilação com sistema balão-válvula-máscara mento da VA definitiva.
(AMBU) acoplado a reservatório de O2 (lem-
bre-se de que o dispositivo balão-válvula-más- Lembre-se de que o dispositivo balão-válvu-
cara quando ligado a uma fonte de O2 e com la-máscara oferece duas ofertas possíveis de
bolsa reservatório fornece uma FIO2 próxima concentração de oxigênio:
a 100%, já sem reservatório fornece uma FIO2 • Quando ligado a uma fonte de oxigênio e
de 21%, pois capta o ar do ambiente), (b) cânula com o reservatório acoplado fornece apro-
orofaríngeo (Guedel); (c) cânula nasofaríngea; ximadamente uma FiO2 de 100%;
(d) máscara laríngea (intubação difícil); (e) tubo
• Sem o reservatório acoplado ele capta o ar
laríngeo (intubação difícil); (f) Combitubo (tubo
ambiente, logo fornece uma concentração
duplo lúmen, intubação difícil); (g) cricotireoi-
de O2 de aproximadamente 21% (concentra-
dostomia por punção, entre outros
ção presente no ar atmosférico).
Existem critérios padronizados para a obtenção
da VA definitiva. A VA temporária não subs-
titui VA definitiva, mas ela é importante até CÂNULAS ORO E
planejamento da VA definitiva a fim de garantir
oxigenação adequada. NASOFARÍNGEAS
Via aérea definitiva é definida pelo ATLS como Somente devem ser introduzidas em pacien-
um tubo colocado na traquéia com o balonete tes inconscientes porque provocam reflexo de
(balão) insuflado abaixo das cordas vocais, vômito. O fato do doente aceitar uma cânula de
conectado a uma fonte de oxigênio, sob venti- Guedel pode ser um sinal de que o mesmo real-
lação assistida e com o tubo fixado. mente necessita de uma via aérea definitiva. O
Guedel deverá ser introduzido e rodado 180º
para a correta inserção, voltando-se a conca-
SISTEMA BALÃO-VÁLVULA- vidade para baixo. Momentaneamente, evita a
-MÁSCARA (AMBU) ACOPLADO queda da língua na orofaringe.
MÁSCARA LARÍNGEA (ML) deve ser garantida por um médico com treina-
mento adequado.
Quando a ventilação com AMBU e a tentativa de
intubação orotraqueal falham devido a uma VA
difícil, a ML é proposta atraente naquele socor-
rista treinado com esse tipo de dispositivo de
via aérea avançada temporária. O mesmo é
colocado sem visualização da glote.
Figura 3.4 Combitube.
CRICOTIREOIDOSTOMIA POR
PUNÇÃO
É de fácil e rápida realização. A punção é reali-
zada com jelco calibroso (14-16 no adulto e 16-18
na criança) na membrana cricotireoideana,
usando-se, inicialmente, uma seringa (pressão
Figura 3.5 cricotireoidostomia por punção: jelco 1416 em adultos, sendo
negativa) até entrada na laringe em 45º. Em 16-18 em crianças. É conectada uma seringa e faz-se pressão negativa até
aspiração de ar, indicando-se a entrada da traqueia. É conectado O2 a 15 L/
seguida, deve ser conectado um tubo em T, e min., a não ser que haja obstrução, quando a pressão de O2 deverá ser mais
baixa. Conecta-se à extensão em Y e se faz a oclusão de 1 s (inspiração) para
realizar uma insuflação intermitente de forma 4 s sem oclusão (expiração).
realização de obtenção da via aérea defini- verificação de som claro pulmonar bilateral-
tiva em pacientes com critérios de VA difí- mente, bem como o raios X de tórax.
cil, porém em ambiente controlado e com o
Dispositivos de auxílio na IOT são o monitor de
paciente em jejum. CO2 (capnógrafo) e o oxímetro de pulso.
A intubação pode ser realizada sem sedação
O ATLS indica que o uso da capnografia de
em pacientes comatosos, porém tal conduta
onda(medida contínua) é preferível e mais
pode gerar aumento da pressão intracraniana
efetivo que a capnometria colorimétrica
e pode aumentar o grau de dificuldade na IOT. (medida isolada).
Na dificuldade de adequado relaxamento o
etomidato pode ser suficiente para relaxar os O raios X de tórax é importante para inspecio-
músculos da mandíbula e do pescoço. A sequ- nar a presença de líquido ou ar no espaço pleu-
ência rápida de intubação (intubaçao farmaco- ral, atelectasia, expansão de tórax adequada,
logicamente assistida – ATLS 10) é um caminho avaliação de deslocamento do TET e intubação
seletiva. Entretanto, ele não exclui a intubação
possível na realização da obtenção da via aérea
esofágica. A investigação radiológica, à priori,
no trauma, porém deve ser realizada por pro-
só poderá ser realizada diante de estabilidade
fissional experiente e deve estar disponível um
hemodinâmica e a certificação de que o TET
plano B caso haja falha da IOT.
encontra-se locado na via aérea do paciente.
O laringoscópio deve ser usado com a mão
esquerda, entrando na orofaringe com movi-
PREDIZENDO A VA DIFÍCIL
mento de deslocar a língua da direita para
a esquerda em movimento de levantar a tra- Fatores externos: suspeita de lesão de coluna
quéia na valécula da glote até visualização das cervical, artrite cervical avançada, trauma
cordas vocais (laringoscópio curvo) evitando- mandibular e maxilofacial grave, limitação da
-se o movimento de báscula que pode causar abertura da boca e variações anatômicas como
trauma dentário. micrognatia, prognatismo, pescoço curto são
O tubo para ser introduzido no paciente poli- desafios que caracterizam a VA difícil. O ATLS
traz a mnemônica LEMON para lembrete do
traumatizado adulto, é o maior possível para
potencial de dificuldade da VA.
minimizar a resistência na VA.
• Look: observe externamente.
Após, introduz-se o tubo endotraqueal (TET)
sem lesar estruturas. Na criança, o tubo ade- Examine a regra 3-3-2*.
quado é aquele do tamanho do 5º dedo da Três dedos dentro da boca embaixo dos incisi-
mão da criança. O AMBU deve ser conectado vos superiores e inferiores;
e o paciente ventilado até a chegada do ventila-
Três dedos abaixo da mandíbula até o osso
dor apropriado.
hioide;
Após IOT, deve-se proceder à checagem pri-
– Dois dedos acima da protuberância laríngea.
mária (ausculta pulmonar – ápices e bases – e
ausculta epigástrica) e secundária (detector • Mallampati: paciente sentado deve abrir a
de dióxido de carbono). A detecção de níveis boca para avaliar o grau de visibilidade da
muito baixos de CO2 sugere intubação esofá- hipofaringe com o auxílio de uma lanterna;
gica, assim como baixos níveis deste sugere • Obstrução (epiglotites, abscessos e trauma);
bom posicionamento, porém não diferencia se • Neck (mobilidade do pescoço): normal-
a intubação ficou seletiva no brônquio direito mente é avaliado pedindo-se ao doente
(mais verticalizado). Nesse caso, a ausculta pul- para fletir o queixo até o peito e hiperexten-
monar torna-se extremamente importante na der o pescoço olhando ao teto. É claro que o
paciente politraumatizado com colar cervical não deve fazer isso e é classificado com VA difícil.
*Na regra 3-3-2 há de se considerar se cabe a distância de:
Caso não haja espaço suficiente colocados na regra 3-3-2, então trata-se de VA difícil. Além disso,
o uso de drogas sedativas, anestésicas e bloqueadores neuromusculares (curare) facilitam a
entubação e manutenção da IOT de modo confortável. Observe a figura abaixo demonstrando a
correta IOT somente após a visualização das cordas vocais.
INTUBAÇÃO NASOTRAQUEAL
(INT)
Antes de saber suas indicações é prudente ter
ciência das contraindicações. São contraindica-
ções da INT:
• Apneia;
• Suspeita de fratura de 1/3 médio da face e
fratura de base de crânio;
• Criança < 12 anos de idade (traqueia curta e
angulada).
Figura 3.7 Intubação orotraqueal: após a visualização da glote e das cor-
das vocais deve ser introduzido o TET sob visão direta.
COMPLICAÇÕES DA IOT
• Intubação esofágica com hipóxia e morte;
• Intubação seletiva (atelectasia);
• Impossibilidade de intubação;
• Indução ao vômito (aspiração, hipóxia,
morte);
• Trauma com hemorragia e aspiração;
• Trauma dos alvéolos dentários (corpo estra-
nho);
• Perfuração do cuff (balão);
Fratura instável com déficit neurológico à mobi- Figura 3.8 Intubação nasotraqueal: ouvir as respirações para acertar a
intubação – a inserção do TET é realizada no momento da inspiração; logo,
lização da VA. não há como intubar com apneia.
Figura 3.9 Cricotireoidostomia cirúrgica: é realizada uma incisão com lâmina de bisturi na membrana cricotireoidea, vira-se o cabo do bisturi a 90º e, se o
doente estiver ventilando, o ar já pode sair. Feita corretamente, é rápida e não há sangramento.
de luz. A luz emitida é absorvida em maior ou Detecta a presença de CO2. Sob níveis baixos
menor grau pela hemoglobina oxigenada em de CO2, o monitor mostra coloração roxa; já
nível diferente da hemoglobina não oxige- em níveis altos, a coloração é amarelada, o que
nada. Por este motivo a leitura é prejudicada sugere intubação correta. Deve-se esperar ao
pela baixa perfusão periférica (choque), hipo- menos seis ventilações para ver a coloração final.
tensão, esfigmomanometro acima do local da O monitor de CO2 não permite diagnosticar intu-
medida, hipotermia (< 30ºC), anemia grave (< 5 bação seletiva.
g/dL), carboxiemoglobina, metemoglobinemia,
esmalte e ambiente muito iluminado provocam INTUBAÇÃO DE SEQUÊNCIA
uma leitura inadequada da oximetria de pulso. RÁPIDA (RSI)
A relação entre saturação de oxigênio e curva
de pressão parcial de oxigênio não é linear. Deve ser empregada quando a via aérea defini-
Observe o quadro abaixo: tiva é premissa e o doente está acordado. O ATLS
10 denomina a técnica como Intubação farmaco-
PaO2 SatO2 logicamente assistida. A seguir, encontram-se os
passos detalhados:
90 mmHg 100%
1. Ter um plano em caso de falha que inclua a
60 mmHg 90% possibilidade de realizar uma via aérea cirúr-
gica. Saiba onde o seu equipamento de res-
30 mmHg 60% gate da via aérea está localizado;
2. Certifique-se de que os equipammentos de
27 mmHg 50% aspiração e de ventilação estão disponíveis e
Tabela 3.1 relação entre saturação e pressão parcial de O2. funcionando;
Além disso, existem variáveis que influenciam 3. Prexigenar o paciente com 100% de oxigênio;
na curva de dissociação da hemoglobina. 4. Aplique pressão sobre a cartilagem cricoide
100 pH (manobra de Sellik);
pH 5. Administrar um fármaco de indução (por
80 exemplo, etomidato, 0,3 mg/kg) ou sedativo,
Saturação O2 (%)
Suspeitar de lesão
da coluna cervical
Indução por
sequência rápida
Intubação orotraqueal
Sim
Bem-sucedido? Não
Sim
Continuar
Reanimação
Figura 3.10 – Algoritmo para tratamento da via aérea no paciente com trauma. Existe um papel estabelecido da máscara laringea (ML) no tratamento dos
doentes com via aérea difícil. Particularmente, quando a intubação endotraqueal e a ventilação com máscara falharem.
Zona III
Trígono anterior
Zona II
Figura 4.1 Divisão anatômica do pescoço. A: triângulo anatômicos do pescoço. Os triângulos anatômicos anterior e posterior do pescoço são definidos pelo
músculo esternocleidomastoideo. As estruturas vasculares e aerodigestórias mais importantes no pescoço estão contidas no triângulo anterior. Os ferimen-
tos envolvendo apenas o triângulo posterior têm uma baixa probabilidade de necessitar de intervenção cirúrgica urgente. B: zonas do pescoço. O limite entre
a zona I e a zona II está no nível da cartilagem cricoide. O limite entre a zona II e a zona III está no ângulo da mandíbula. Essas zonas são principalmente úteis
no tratamento das lesões nos triângulos anteriores do pescoço.
A avaliação do trato aerodigestório pode ser não operatório para dissecções e tromboses
feita no pré-operatório ou no momento da nas citadas condições. Lembrando que em
exploração cirúrgica no intraoperatório. Os pacientes com TCE associado à anticoagula-
ferimentos cervicais que não necessitam de ção pode ser contraindicada. Nunca esqueça
exploração operatória imediata podem pre- de ver o paciente como um todo para decidir
cisar de avaliação aerodigestória com tomo- pela melhor conduta. Em pacientes sintomáti-
grafia computadorizada, fibrobroncoscopia, cos, com lesões graves (transecções, pseudo-
endoscopia alta ou esofagografia para excluir- aneurismas), ou que não podem anticoagular,
-se uma lesão. a técnica endovascular, quando disponóvel, é a
melhor opção.
Acesso cirúrgico: incisão na borda interna do
esternocleidomastoideo desde a zona I até a III
se necessário. E se houver ferimento de zona
I, concomitante à incisão oblíqua, poderá ser TRATAMENTO CIRÚRGICO E
estendida ao tórax para a região supraclavicu- CONSERVADOR
lar ou para o esterno (esternotomia). Vale lem- As prioridades do ATLS (ABCDE) deverão ser
brar também que a incisão mais usada no sempre consideradas. A cirurgia será reali-
trauma é a toracotomia anterolateral e não zada naqueles pacientes com ferimentos
a esternotomia. Reserva-se a esternotomia penetrantes (platisma) que estejam sin-
para ferimentos de subclávia na sua emergên- tomáticos ou que apresentem lesões com
cia junto à primeira costela, bem como lesões risco de vida.
de tronco braquioencefálico e veias jugulares
A preocupação volta-se para cessar o san-
de zona I (geralmente protegidos pela incisura
gramento, restaurar o fluxo arterial e resol-
jugular do esterno).
ver precocemente as lesões faringe, esôfago,
Zona III (zona da arteriografia e de desar- laringe e traqueia.
ticulação mandibular): como é uma área
Ferimentos no trato aerodigestório:
de difícil acesso, se o paciente estiver está-
vel, a arteriografia é boa opção para manejo • Boca: operar/observar;
diagnóstico e terapêutico. Na instabilidade, o • Orofaringe/rinofaringe: observar;
acesso aberto à carótida interna distal exige • Hipofaringe/esôfago: operar, desviar trân-
procedimentos mais complexos como a sec- sito (não deixar salva nem alimento passar
ção do ventre posterior do músculo digástrico por lá) e drenar;
ou a desarticulação da mandíbula e então
• Laringe: reparo + traqueostomia;
consegue-se o controle vascular da artéria
carótida interna junto à base do crânio no • Traqueia: reparo + traqueostomia;
forame carotídeo. • Tireoide: sutura hemostática/ressecção.
Atualmente, alguns tipo de lesões altas da arté- As lesões traqueais devem ser desbridadas e
ria carótida interna em trauma fechado e em fechadas primariamente. Nas lacerações sim-
pacientes estáveis e ou assintomáticos são tra- ples da traquéia, frequentemente recomen-
tadas com tratamento conservador com anti- da-se sutura direta com fio não absorvível.
coagulação ou antiagregação. Isso porque Quando há perda de uma porção maior da tra-
a maior parte das sequelas desses pacientes queia, pode haver a necessidade de uma tra-
queostomia ou de complexos procedimentos
decorre de trombose aguda, propagação de
reconstrutivos.
trombo ou embolização distal, em virtude do
trauma, que facilita a tríade de Virchow (estase Já as lesões da faringe são tratadas com sutura
venosa, lesão da parede vascular e hipercoa- das lacerações da mucosa e redução das fratu-
gulabilidade). Assim, a tendência é tratamento ras cartilaginosas.
ringe;
Vascular
• Pequenos hematomas de laringe;
• Medula e cérebro concomitantes ao trauma Hematoma expansivo
Disfagia/odinofagia
TRATAMENTO ENDOVASCULAR Enfisema subcutâneo
No trauma vascular o uso da técnica endo- Sangue na orofaringe
vascular tem sido crescente. O implante de
stents revestidos ou abertos e a embolização Neurológica
de pseudoaneurismas vem ganhando espaço
no tratamento de pacientes estáveis. Tal abor- Deficiência neurológica lateralizada consistente
com a lesão; estado alterado da consciência não
dagem é de grande valia principalmente nas
causado pelo trauma craniano.
lesões de zonas I e III, em que o acesso cirúr-
ˆ
gico padrão é bem difícil. Tabela 4.1
Figura 4.2 Classificação das fraturas maxilares. Padrão horizontal (Le Fort I),
FRATURA DA MAXILA
padrão “V” invertido (Le Fort II) e padrão “W” da disjunção craniofacial (Le Fort
III).
Pacientes com fratura de maxilar no terço Podem ocorrer fraturas sagitais ou parassa-
médio da face frequentemente apresentam gitais, também conhecidas como fraturas de
concomitantemente fraturas do nariz, malar
Lannelongue e, também, fraturas transversas
(arco zigomático), fraturas da base do crânio e
de maxila, chamadas de fraturas de Walther,
lesão encefálica (atenção!).
que dividem a maxila em quatro segmentos.
Destas, as fraturas parassagitais, de Walther e
Le Fort I, quando isoladas, são as que deter-
CLASSIFICAÇÃO
minam menor repercussão clínica do ponto de
As fraturas maxilo-faciais são classificadas em: vista estético na avaliação inicial, por envolve-
• Fraturas Le Fort I: fraturas com traço que rem somente os processos palatinos e alveola-
tangenciam a margem inferior da abertura res, segmentos inferiores da maxila.
COMPLICAÇÕES
EXAME RADIOGRÁFICO Complicações precoces:
A melhor combinação para estudo do esque- • Imediatas: a mais frequente é a obstrução
leto do terço médio da face é a obtida a partir das vias aéreas superiores e a hemorragia;
das incidências de Waters e perfil do crânio.
• Mediatas: a mais grave é a fístula liquórica.
Waters permite a visão panorâmica de todos
os ossos do terço médio da face, possibilitando Complicações tardias: as mais graves são a
identificar fraturas no processo frontozigomá- pseudoartrose e a consolidação viciosa. A pseu-
tico, rebordo orbital inferior, crista maxiloma- doartrose é uma complicação rara das fraturas
lar, esqueleto nasal e seio maxilar. A incidência da face, mas a consolidação viciosa é frequente
de perfil demonstra os desvios da maxila no e caracterizada pela má oclusão dentária.
sentido de intrusão e ou de colapso posterior.
Outras complicações tardias também ocorrem:
As incidências em frontonaso e mentonaso
demonstram os traços de fratura que causam diplopia por distopia ocular, oftalmoplegia e
disjunção frontozigomática e nasofrontal, bem déficit na acuidade visual, advindos de lesões
como velamento de seios frontal e etmoidal. A de nervos cranianos. Outro dano neurológico
incidência de Hirtz para arcos zigomáticos pos- observado com certa frequência é a demora
sibilita o estudo destes. no retorno da sensibilidade cutânea no terço
médio da face e na arcada dentária superior,
consequente à neuropraxia traumática dos
TRATAMENTO nervos infra-orbitais.
A imobilização maxilo-mandibular é quase sem- As fraturas da maxila são as mais relevantes
pre necessária. A colocação das barras consti- para as provas. Como reforço, deixamos na
tui a primeira etapa. Esses pacientes devem tabela abaixo um resumo de outros sítios de
ser operados o mais rapidamente possível. fratura na região maxilofacial.
Tabela 4.2
Cerca de 25% dos casos morrem pelo trauma O atendimento prestado deve ser baseado nas
de tórax sobretudo relacionado ao choque prioridades, com ênfase nas lesões ameaçadoras
hemorrágico (rotura traumática de aorta, lesão à vida a serem reconhecidas no exame primário.
cardíaca); choque cardiogênico (pneumotórax Lesões ameaçadoras à vida devem ser reco-
hipertensivo, hemotórax maciço, tampona- nhecidas no exame primário, tais como:
mento cardíaco) e contusão pulmonar grave
1. Obstrução da via aérea;
com tórax instável ou rotura traqueobrônquica
(hipóxia, acidose e hipercarbia). 2. Pneumotórax hipertensivo;
3. Pneumotórax aberto;
Aproximadamente 80% dos traumas de tórax
4. Contusão pulmonar com tórax instável;
serão resolvidos com medidas de drenagem
torácica em selo d’água, passíveis de serem 5. Hemotórax maciço;
realizadas em hospitais de emergência por 6. Tamponamento cardíaco.
qualquer tipo de médico com conhecimento Lesões potencialmente ameaçadoras à
de trauma. vida devem ser reconhecidas até o final do
exame secundário:1. Pneumotórax simples;
Menos de 10% dos traumas fechados requer
toracotomia e 15-30% dos ferimentos pene- 2. Hemotórax;
trantes irão à cirurgia. 3. Contusão pulmonar;
4. Lesão traqueobrônquica;
Classificação proposta para
os Traumatismo torácico
5. Trauma cardíaco fechado;
6. Rotura da aorta;
Doentes
Morte iminente (10-15%)
7. Lesão diafragmática traumática;
instáveis 8. Ferimento transfixante de mediastino;
na busca de corpos estranhos, a via aérea aspi- gravidade do choque, ela não é obrigatória
rada e garantida. Os batimentos de asa nasal porque os pacientes podem receber tempo-
e tiragens denunciam o esforço respiratório rariamente sangue O negativo sem prova cru-
na tentativa de compensar possíveis distúrbios zada até que o sangue tipo específico seja dis-
ventilatórios. Ver capítulo de VA para mais deta- ponibilizado.
lhes, lembrando dos critérios para obtenção de
Checar qualidade, frequência e regularidade
VA definitiva.
dos pulsos. Paciente gravemente hipovolê-
mico tem pulsos radiais e pediosos ausentes.
A Pressão Arterial é monitorada pela pressão
RESPIRAÇÃO de pulso (PA sistólica – PA diastólica). Perfusão
A exposição do tórax permite a avaliação da tecidual pode ser avaliada pela cor e tempera-
amplitude dos movimentos torácicos, presença tura da pele e débito urinário.
de movimentos paradoxais (afundamento Observar estase jugular para suspeita de
torácico), simetria da expansibilidade, fraturas lesões de risco imediato de morte (tampo-
do gradil costal, enfisema subcutâneo e tatu-
namento cardíaco e pneumotórax hiperten-
agem do trauma. Todo o paciente politrau-
sivo), o hemotórax maciço não costuma gerar
matizado necessita de oxigênio em máscara
estase jugular, visto que frequentemente estes
com reservatório de O2. O tórax deverá ser
doentes encontram-se hipovolêmicos pela
auscultado em ápices e bases e a oximetria de
grande perda sanguínea, logo, lembre-se de
pulso deve ser monitorada. A cianose é sinal
que pacientes com hipovolemia frequente-
tardio de hipóxia no paciente traumatizado e
mente não têm distensão de jugulares. A
não há de se esperar que ela se manifeste para
hipóxia e acidose aumentam a possibilidade
ser tomada alguma conduta. Da mesma forma,
de morte, bem como espasmo coronariano
a ausência de cianose não indica uma oxigena-
e contusão miocárdica, caso tenha ocorrido
ção tecidual adequada e via aérea permeável.
por desaceleração rápida, ou haja fratura de
A fácies pletórica com cianose facial e cervico- esterno, ou ferimento em zona de Sauer-Mur-
torácica é alerta para possibilidade de pneu- dock ou de Ziedler (regiões de alta suspeição de
motórax hipertensivo e tamponamento cardí- lesão cardíaca). Há de se reavaliar o paciente.
aco como explicados a seguir. Monitor cardíaco deve ser instalado. Na sus-
peita de lesão cardíaca, é obrigatório eletrocar-
diograma e monitoramento por 24-48h .
CIRCULAÇÃO
Paciente adulto deverá receber reposição volê-
mica com SF 0,9% ou Ringer lactato (39ºC) em TIPOS DE TRAUMA DE TÓRAX
veia periférica do braço respeitando-se os con-
ceitos de reanimação balanceada e hipotensão LESÕES SUPERFICIAIS
permissiva. Sangue será retirado para exames
(ver capítulo de choque), em crianças podemos São tratadas do mesmo modo que aquelas em
proceder com expansões de volume através do qualquer outra parte do corpo, o ferimento é
cálculo de 20 mL/ kg, seguindo igualmente os superficial se não atinge a fáscia endotorá-
conceitos de reanimação balanceada; é impor- cica e o gradeado costal. A exploração digital
tante lembrar que o volume infundido inclui o ou instrumental de ferimentos superficiais deve
volume iniciado no pré-hospitalar. O diagnós- ser evitada no tórax, em áreas de trajeto vascu-
tico de choque deverá ser precoce e a tipagem lar e em precórdio, pelo risco de sangramento
sanguínea é importante, mas dependendo da de ferimento tamponado e pneumotórax.
FRATURAS COSTAIS E ESTERNO de tal forma que costuma haver lesões associa-
das graves, frequentemente letais. As vítimas
É a lesão mais comum do traumatismo torá- jovens possuem boa elasticidade da caixa torá-
cico (35-75% dos casos), atingindo preferen- cica, que por sua vez absorve grande parte dos
cialmente do 4-9º arcos costais. As fraturas de traumas sem desenvolver fratura. As fraturas
arcos costais comprometem primariamente a de esterno representam 1 a 4% dos traumatis-
ventilação, uma vez que a dor associada res- mos de tórax.
tringe os movimentos da parede torácica, pode
Os principais mecanismos de fratura do
levar a atelectasia e pneumonia. Além disso,
esterno são: impacto frontal e compressão
fraturas de costelas inferiores podem ocasio-
direta (mais comum); secundário à fratura-lu-
nar lacerações pulmonares (hemopneumotó-
xação da coluna vertebral.
rax), trauma de baço e trauma hepático.
Traumas contra o volante ocasionam desa-
Fraturas dos primeiro e segundo arcos cos-
celeração brusca e o esterno é deslocado
tais, além de fraturas no esterno e clavículas,
posteriormente resultando na fratura e com-
denotam alta energia biomecânica relacionada
pressão das estruturas mediastinais sobre
ao trauma e deve levantar suspeita a respeito
a coluna. O cinto de segurança e o air bag
de trauma intratorácico importante, tais como:
têm papel importante na profilaxia desse
rotura de aorta e contusão miocárdica.
trauma. Além do acidente automobilístico,
As fraturas de costelas podem ser isoladas a queda livre e situações menos frequentes,
ou escalonadas (múltiplas). São escalonadas como massagem cardíaca, podem também
quando três ou mais arcos costais são fratura- determinar tais fraturas. As fraturas patoló-
dos em um mesmo lado. gicas podem ocorrer, porém com frequência
O tórax instável (flácido) ocorre nas fraturas mais reduzida.
escalonadas na presença de fratura de três Em função da ligação entre o esterno e a
arcos costais em dois ou mais pontos. Assim, coluna vertebral através dos arcos costais, ele
a região vizinha às lesões ósseas se deprime, pode ser fraturado em consequência de uma
desabando a cada inspiração, em vez de se
fratura-luxação da coluna.
expandir como o restante da caixa torácica.
Essa é uma situação de ameaça à vida não só O local mais comum de fratura é na transição
pelas fraturas em si, mas pela dor e comprome- para o manúbrio esternal e em função de forte
timento respiratório e pulmonar (lacerações, fixação do esterno à clavícula, ele costuma
contusões, hemopneumotórax) e é conhecida deslocar-se anteriormente, cavalgando o seg-
como respiração paradoxal do tórax instável. mento inferior. Apesar disso, o periósteo da
face posterior do esterno costuma permane-
cer intacto. As fraturas costumam ser simples
e transversas.
O diagnóstico deve ser suspeitado quando
clinicamente existe dor local à compressão
profunda, equimose, hematoma, escoriação
 Figura 5.1 Fraturas de costelas.
óssea. A radiografia de tórax em perfil ou oblí-
qua confirma o diagnóstico.
A fratura do esterno isolada apenas promove
FRATURA DO ESTERNO dor. Quando associado às fraturas de costelas,
É necessário trauma grave, com grande ener- pode fazer parte de tórax instável e contusão
gia cinética para promover fratura do esterno, miocárdica descrita adiante.
Nos idosos, esse tipo de fratura é mais preo- ser realizada se o paciente for ser submetido
cupante. A incidência de pneumonia e morte é à cirurgia para reparo de uma outra lesão. A
o dobro em relação aos doentes mais jovens, simples sutura das bordas da fratura com fios
ataduras, cintas costais são contraindicadas, de aço é suficiente para estabilizar o esterno.
a analgesia é importante para manter padrão
ventilatório e o alinhamento dos ossos do arca-
bouço torácico fraturados.
TRATAMENTO
O tratamento de fratura de costelas é conser-
vador com analgesia e eventual bloqueio anes-
tésico. Com exceção no pneumotórax aberto
que, por associação com perda de substância,
A
podem ser fixadas concomitantemente à repa-
ração do ferimento. O ATLS deve ser seguido
e o foco inicial segue voltado para a atenção
quanto a necessidade de obtenção de uma via
aérea definitiva.
A fratura de esterno é tratada com analgesia.
Quando não existem outras lesões associa-
das, comprometimento respiratório ou des-
vio importante dos fragmentos, uma fratura
simples de esterno deve ser tratada apenas
com analgésicos, eventualmente comple-
mentados por bloqueio local. A presença de
movimento paradoxal sem comprometimento B
respiratório ou dor importante não requer Figura 5.2 Fratura esternal. A: radiografia em PA não revelou a fratura
esternal que só aparece no raios X tórax perfil. B: radiografia em perfil
maiores cuidados e não é critério para obten- demostrando a fratura em dois fragmentos.
A espessura da parede do tórax influencia na • Divulsionar com uma pinça Kelly até o arco
probabilidade de sucesso da descompres- costal e introduzi-la através da musculatura
são com a agulha. As evidências sugerem que intercostal, na borda superior da costela
um cateter de 5 cm sobre a agulha atingirá inferior até penetrar na pleura parietal do
o espaço pleural> 50% do tempo, enquanto pulmão onde se verifica a saída de ar da
um cateter de 8 cm sobre a agulha atingirá o cavidade pleural. Introduz-se o dedo enlu-
espaço pleural > 90% do tempo. vado para tocar o pulmão e certifica-se de
que realmente se está na cavidade pleu-
Estudos também demonstraram que a colo-
ral e não há presença de alças intestinais,
cação do cateter sobre a agulha no campo na
podendo também, nesse mesmo momento,
parede torácica anterior por paramédicos foi
remover coágulos e aderências;
muito mediana em 44% dos pacientes.
• Introduz-se a o dreno com múltiplos furos
Evidências recentes apoiam a colocação do que deverá estar pinçado com uma piça
cateter grande, sobre a agulha no 5º espaço, estática no comprimento medido no início
ligeiramente anterior à linha média-axilar. No do procedimento. Realiza-se a introdução
entanto, mesmo com um cateter com tamanho do dreno (o ATLS 10 traz medidas de 28-32),
apropriado, a manobra nem sempre será bem o mesmo deve ser introduzido posterior
sucedida. Para esses casos, deve ser realizada e cranialmente. Deverá ser observada a
a descompressão digital, já mencionada acima. existência de coluna móvel do líquido após
A descompressão bem sucedida da agulha con- o dreno ser conectado no sistema de selo
verte o pneumotórax hipertensivo em um pneu- d´água previamente preparado e embaça-
motórax simples. A toracostomia com drenagem mento do dreno.
em selo d´água é obrigatória após a descompres- Lembre-se de que todos os furos do dreno
são da agulha e ou digitrocrasia para ampliar o devem estar alocados no interior da cavidade
orificio da toracostomia realizada. torácica. Se necessário, o dreno pode ser cor-
tado para que esse objetivo seja atingido;
Descrição do procedimento de drenagem torá-
cica (importante para a prova prática): • Fixar o dreno em pontos em “U”, seguida de
uma bailarina e realizar curativo;
• Paciente em decúbito dorsal horizontal
com o membro superior do lado que será Solicitar raios X de tórax.
drenado posicionado em flexão sobre a
cabeça do paciente + antissepsia e coloca- COMPLICAÇÕES DA
ção de campos estéreis, realize a medição DRENAGEM DE TÓRAX
estimada do dreno torácico para o tamanho
do paciente e marque com uma pinça Kelly. • Drenagem do subcutâneo (principalmente
Importante: a medição é realizada esti- em obesos) ao invés da cavidade pleural;
mando-se o orifício de entrada do tubo e o Para evitar, certifique-se de estar na cavidade
ápice pulmonar: torácica introduzindo-se o dedo através do ori-
• Anestesia com xilocaína sem vasoconstritor, fício criado com a pinça kelly por entre a mus-
que deve ser realizada no local da incisão culatura intercostal.
para a drenagem torácica até o periósteo • Lesão de nervo, artéria ou veia intercostal
do arco costal; resultando em hemopneumotórax e nevral-
• Incisão transversa com bisturi frio entre o gia intercostal;
4º e 5º EIC do lado acometido junto à borda Para evitar, realize a toracostomia usando
superior da costela inferior, fugindo assim como parâmetro anatômico a borda supe-
do feixe vásculo nervoso intercostal; rior da costela inferior, visto que o feixe
vásculo nervoso passa na porção inferior do parietal, sendo que, tanto o trauma pene-
arco costal. trante quanto o trauma torácico fechado e as
fraturas/luxações da coluna torácica, podem
• Dreno em posição incorreta no tórax;
causar o pneumotórax. A laceração pulmonar
Para evitar, realize a medição do dreno esti- com vazamento de ar é a causa mais comum
mando o ápice pulmonar e o orifício da tora- de pneumotórax.
costomia. Lembre-se de que todos os orifícios
do dreno devem ficar posicionados no interior Normalmente, a cavidade torácica está com-
da cavidade torácica. pletamente preenchida pelo pulmão, man-
tido em íntimo contato com a parede torácica
• Desconexão do selo d’água e obstrução do por uma tensão superficial existente entre as
dreno com pneumotórax persistente; superfícies pleurais e presença de aproximada-
Para evitar, certifique-se de que após a cone- mente 10 mL de líquido pleural. A presença de
xão do sistema em selo d´água houve a saída ar no espaço pleural rompe a força de adesão
de bolhas de ar através do líquido que veda o entre as pleuras visceral e parietal, permitindo
sistema e certifique-se de haver alteração do o colapso do pulmão. Isso resulta em alteração
nível líquido no sistema durante os ciclos ven- na ventilação/perfusão, porque há sangue oxi-
tilatórios. genado, mas não ocorre perfusão com trocas
de O2 por CO2.
• Enfisema subcutâneo do dreno;
Para evitar, certifique-se de que todos os orifí- Na presença de um PTX, o murmúrio vesicu-
cios do dreno encontram-se dentro da cavidade lar está diminuído no lado afetado e a percus-
são demonstra hipertimpanismo. O raios X de
torácica e nenhum no subcutâneo. Realize uma
tórax PA em expiração pode auxiliar no diag-
toracostomia com o tamanho mínimo necessário
nóstico de pequeno pneumotórax.
e suficiente para a passagem do dreno e realize a
correta fixação do mesmo na pele. O diagnóstico é clínico com a presença de dimi-
• Reação anestésica à xilocaína local; nuição de murmúrio respiratório, hiperresso-
Para evitar, certifique-se de que o paciente não nância e atenuação do frêmito toracovocal.
possui alergias conhecidas ao medicamento e, ATLS anteriores ao de 2008 declaravam que
se o nível de consciência do mesmo permitir, todo o PTX deveria ser drenado. Hoje sabe-se
realize uma aspiração com pressão negativa que o tratamento conservador de PTX poderá
antes da introdução do agente anestésico, ser feito considerando-se cada caso e a esco-
certificando-se assim de que a agulha não se lha deve ser feita por um médico qualificado.
encontra dentro de algum vaso e que o agente Na ausência de um, o tórax deve ser drenado.
anestésico não seja lançado, dessa forma, dire- Entretanto, em casos de transferência,
tamente na corrente sanguínea. aérea ou terrestre, deve-se fazer a drena-
gem do PTX conforme descrito anterior-
Ausência de expansão pulmonar, com borbu- mente. Devemos nos atentar também para
lhamento persistente no frasco de selo d’água, àquelas vítimas com necessidade de ventila-
mesmo com um ou dois drenos instalados, remete ção mecânica. Nesses casos, um pneumotórax
à possibilidade de lesão traqueobrônquica. Nesse simples pode se converter prontamente em
caso, deve ser solicitada broncoscopia. um pneumotórax hipertensivo. Esses pacien-
tes, portanto, devem ter o tórax drenado.
Portanto atenção: Os doentes vítimas de PTX
PNEUMOTÓRAX SIMPLES (PTX) traumático não devem ser submetidos à aneste-
O pneumotórax resulta da entrada de ar sia geral ou à ventilação com pressão positiva, até
no espaço virtual entre a pleura visceral e a que tenham seu tórax drenado. Um PTX simples
pode transformar-se prontamente em PTX hiper- da pressão parcial do oxigênio arterial e pela
tensivo com risco de vida, particularmente estimativa do trabalho respiratório, devido ao
quando seu diagnóstico não é feito desde o início risco de fadiga dos músculos ventilatórios.
após acoplado na prótese ventilatória.
Nem todos os pacientes terão critérios de VA
Dica: não confunda PTX traumático com PTX definitiva e é importante a analgesia e monito-
espontâneo. No PTX espontâneo (não relacio- rização, sobretudo a cautelosa administração
nado com trauma), quando < 20% pode ser da reposição volêmica devido ao risco iminente
observado clinicamente e o com colabamento de edema agudo pulmonar, caso esses pacien-
superior a 20% da área pulmonar deverá ser tes sejam submetidos à hidratação vigorosa.
submetido à drenagem torácica. Geralmente,
O exame radiológico do tórax pode sugerir fra-
esses pacientes têm roturas de bolhas (blebs)
turas múltiplas de costelas, mas a disjunção cos-
no pulmão e necessitam ser avaliados para
tocondral pode passar despercebida. A dispneia
possível decorticação e talcagem pleural para
pode ser logo após o trauma ou pode manifestar-
evitar recidiva do PTX espontâneo. Já a maior
-se tardiamente. A insuficiência respiratória que
parte dos PTX traumáticos é drenado, mas a
se segue vai depender de três principais fato-
decisão final é do médico assistente.
res: o grau de instabilidade da caixa torácica,
a intensidade da dor e a extensão da lesão pul-
TÓRAX INSTÁVEL OU FLÁCIDO monar subjacente (contusão pulmonar).
(RETALHO COSTAL MÓVEL) O nível de insuficiência respiratória quantificada
Ocorre quando um segmento da parede torá- com base em parâmetros clínicos (frequência
cica não tem mais continuidade óssea com o e fadiga respiratória) e gasométricos orienta
resto da caixa torácica. Isso é decorrente de o tipo de tratamento e a superficialidade dos
três ou mais costelas fraturadas em dois ou movimentos respiratórios está intimamente
mais pontos. O achado clínico de movimento relacionada à dor associada e pode gerar movi-
paradoxal (respiração paradoxal) desse seg- mentos ventilatórios inadequados, dificultando
mento afetado, associado à crepitação das a troca gasosa e a higiene brônquica.
fraturas costais ou costocondrais, é indicativo
do seu diagnóstico. É importante entender TRATAMENTO
que o tórax instável comumente é associado
com contusão pulmonar e, nesse caso, o trata- Ao paciente devem ser ofertados cuidados
mento inicial deve conter a presença de aporte gerais, tais como:
suplementar de oxigênio e analgesia potente • Oferta suplementar de oxigênio via más-
associada à drenagem de tórax, se indicado. cara de alto fluxo com reservatório;
Se essas medidas não forem suficientes para
• Reexpansão pulmonar, drenando o tórax
garantir uma ventilação adequada à vítima,
quando há indicação;
deve ser ofertado suporte respiratório através
de via aérea avançada e ventilação mecânica, • Reposição volêmica cautelosa, evitando o
como recomendado nos critérios de indicação edema agudo de pulmão;
para ventilação mecânica no tórax instável. O • Analgesia potente permitindo movimen-
ATLS orienta que o momento apropriado para tos ventilatórios adequados (neste caso
intubação e a ventilação é definido pela ava- pode ser realizado bloqueio intercostal
liação cuidadosa da frequência respiratória, intermitente, anestesia peridural além da
Os pacientes com FR > 30 mov/min. e hipóxia Figura 5.8 Tórax flácido ou instável. Observe o padrão de respiração para-
doxal com retração do segmento fraturado a cada inspiração, ao contrário
grave, mantendo PaO2 < 65 mmHg (equivale a a fisiologia normal.
trauma fechado, são as causas mais comuns • Hemotórax < 1,5 mil mL mas que persiste
do hemotórax simples. Visto que a circula- drenagem > 200 mL/h nas primeiras 2-4
ção pulmonar apresenta baixa pressão, essas horas;
hemorragias normalmente são autolimitadas e • Tamponamento cardíaco;
não necessitam de tratamento cirúrgico.
• Necessidade constante de hemotransfusão;
A ausculta pulmonar revela murmúrio vesi- Ferimentos na área de Ziedler, também cha-
cular diminuído, associado à percussão sub- mada Zimmerman ou Salmer-Murdock (medial-
maciça no hemitórax comprometido e dimi- mente entre as escápulas e entre as linhas
nuição do frêmito toracovocal. O diagnóstico hemiclaviculares e a linha intermamilar) reque-
do hemotórax traumático também deve ser rem atenção especial pelo alto risco de lesão
clínico. Entretanto, eventualmente pequenos cardíaca. O FAST e eventualmente ecocardio-
hemotórax sem sintomas poderão ser visuali- grama transesofágico são indicados para ava-
zados apenas no exame de imagem. liação de derrame pericárdico. Ferimentos
Volume de líquido mínimo para aparecer no raios penetrantes nessa região têm alta incidência
X de tórax para velar e deslocar medialmente o de toracotomia por lesões cardíacas, de gran-
seio costofrênico é 150-300 mL (derrame pleural des vasos, estruturas hilares e pelo potencial
subpneumônico). de tamponamento cardíaco.
Pequenos derrames pleurais só são vistos no Fique atento: o ATLS 10 traz um fluxograma
raios X em decúbito lateral. O derrame pleural de atendimento à parada cardiorrespiratória
> 10 mm no raios X em decúbito lateral exige no trauma que amplia as indicações da tora-
realização de toracocentese para drenagem. cotomia de reanimação, antigamente estava
indicada a toracotomia de reanimação para
Segundo o ATLS 10 a drenagem pleural deve ser
àqueles pacientes vítimas de ferimento perfu-
realizada com um dreno de 28 - 32F (antigamente
rante em área de Ziedler, que evoluíram para
o indicado era 36 ou 40F, atualmente o preconi-
PCR presenciada com atividade elétrica sem
zado passou a ser 28-32F tanto para pneumo,
pulso. Atualmente, após o ATLS 10, todos os
quanto para hemotórax), com o propósito de ali-
pacientes vítimas de trauma torácico seja
viar o espaço pleural, quantificar o volume de san-
ele contuso ou aberto, em PCR, que não
gue perdido e observar o débito de sangramento
pleural nas horas após a colocação do dreno. voltaram à circulação espontânea após as
medidas iniciais e à toracostomia descom-
O sangramento oriundo da periferia do pul- pressiva bilateral, têm indicação de toraco-
mão cessará com a reexpansão pulmonar em tomia anterolateral esquerda de emergên-
aproximadamente 85% dos casos. cia para:
Caso haja sangramento persistente pelo • . Descompressão de tamponamento cardíaco;
dreno torácico com volume > 200 mL por
• 2. Clampeamento da aorta descendente
hora durante as primeiras 2-4 horas, ou a dre-
para controle de sangramentos intra-abdo-
nagem imediata de > 1,5 mil ml ou a necessi-
minais se necessário e direcionamento da
dade de transfusões repetidas de sangue, a
circulação sanguínea para o segmento cor-
abordagem cirúrgica via toracotomia deve
póreo superior, priorizando pulmões, cora-
ser considerada.
ção e cérebro;
São indicações de toracotomia:
• 3. Controle de sangramentos no miocárdico
• Hemotórax maciço agudo com drenagem ou intratorácicos de uma maneira geral e
inicial pelo dreno torácico > 1,5 mil mL de massagem cardíaca interna. Após 30 minu-
sangue; tos de esforços sem retorno da circulação
limpeza e aspiração da cavidade pleural e Cerca de 50% dos quilotórax são por tumores
decorticação pulmonar. Entretanto, proce- mediastinais, especialmente linfoma. Vale lem-
dimentos clínicos como a administração de brar que a ocorrência do quilotórax, como
Ferimentos que se comunicam com o espaço Grupo III – edema e laceração grave da mucosa.
pleural podem resultar em pneumotórax Presença de fraturas com desvio;
hipertensivo. O borbulhamento intenso do
Grupo IV – lesão grave da laringe com instabili-
dreno em selo d’água sem expansão pulmo-
dade anatômica e funcional;
nar é um achado patognomônico do ferimento
traqueobrônquico. Grupo V – disjunção laringotraqueal.
Grupo II – edema, hematoma com laceração O doente apresenta hemoptise, enfisema sub-
moderada da mucosa, sem exposição da car- cutâneo e/ou pneumotórax hipertensivo com
tilagem. Podem existir pequenas fraturas da desvio do mediastino. É comum as lesões de
cartilagem, mas sem desvio; traqueia e brônquios passarem despercebidas.
Pneumotórax com grande fuga aérea pelo saída da subclávia esquerda onde se encon-
dreno torácico sugere lesão traqueobrônquica. tra o ponto fixo do ligamento arterioso (liga-
A fibrobroncoscopia é o exame padrão-ouro mento de Botalo, resquício do ducto arterioso
para o diagnóstico da lesão e deve ser realizada, embrionário).
de preferência, em ambiente cirúrgico, com a via
Local mais comum de rotura traumática da
aérea protegida por intubação traqueal.
aorta nos pacientes sobreviventes é na aorta
A inserção de mais de um dreno de tórax fre- descendente no ligamento arterioso (liga-
quentemente é necessária para superar um mento de Botalo).
grande vazamento e expandir o pulmão. Para
garantir um fornecimento adequado de oxigê- Se a adventícia estiver íntegra, forma-se o hema-
nio, pode ser necessária, em caráter temporá- toma mediastinal contido o que evita que o
rio, a intubação seletiva do brônquio principal paciente sangre até a morte. Essa é a caracterís-
do pulmão oposto. tica encontrada nos sobreviventes de rotura de
aorta. A hipotensão persistente geralmente é
Frequentemente a intubação pode ser difícil, seja
devida a um sangramento não identificado em
pela distorção anatômica decorrente do hema-
outro lugar que não a aorta, visto que os sangra-
toma paratraqueal, pelas lesões orofaríngeas
mentos ativos desse vaso estão relacionados ao
associadas ou pela própria lesão traqueobrôn-
choque irreversível com rápida progressão para o
quica. Nesses casos, está indicada a intervenção
óbito por hipovolemia. Pode ocorrer ruptura livre
cirúrgica imediata. Já em doentes estáveis, o tra-
da aorta dentro do hemitórax esquerdo, porém
tamento cirúrgico das lesões traqueobrônquicas
pode ser postergado até a resolução do processo trata-se de uma situação gravíssima que leva o
inflamatório agudo e do edema local. doente ao óbito em questão de poucos minutos.
Em 1-2% das vezes o paciente pode ter rotura
ACESSO CIRÚRGICO traumática da aorta e não ter qualquer achado
na radiografia de tórax. Nesses casos, a cine-
Para acesso à traqueia intratorácica, brônquio mática do trauma pode levar à suspeita de
direito e brônquio esquerdo proximal, o acesso trauma de aorta e, caso o paciente encontre-se
cirúrgico mais indicado é a toracotomia pos- hemodinamicamente estável, uma angiotomo-
terolateral direita 4º-5º EIC (essa abordagem grafia de tórax deve ser solicitada.
evita o coração e arco da aorta). Já para aces-
sar o brônquio esquerdo e a porção acima de 3 Paciente que está hipotenso e tem sinais
cm da carina deve ser realizada uma toracoto- radiológicos sugestivos de rotura traumática
mia posterolateral esquerda. Lembrando que da aorta não está sangrando da aorta! Senão,
à direita, para o acesso traqueal e esofágico é já teria morrido. Buscar outras causas prová-
necessária a ligadura da veia ázigos. veis para o choque hipovolêmico, como fra-
tura de bacia e trauma abdominal.
FERIMENTO DE GRANDES VASOS Se todos os pacientes com achado radiológico
de alargamento de mediastino (maior que 8
A rotura traumática de aorta é a causa mais
comum de morte súbita após acidente auto- cm) fossem submetidos à aortografia, apenas
mobilístico ou queda de grande altura. A ace- 3% confirmariam a rotura real da aorta. Por
leração e desaceleração rápida fazem com isso que, atualmente, não se justifica a reali-
que haja o cisalhamento nos pontos de fixa- zação rotineira de arteriografia em todos os
ção do coração e da aorta (ligamento arte- pacientes com mediastino alargado, porém a
rioso). É importante entender que 80% dos tomografia com contraste em fase arterial e
pacientes com rotura traumática da aorta venosa é essencial. A presença do mediastino
morrem no local do trauma (transsecção com- alargado (90% das vezes associado) e fraturas
pleta da aorta). O local mais comum dessa nas três primeiras costelas podem se relacio-
rotura é na sua porção descendente após a nar à outras lesões vasculares torácicas.
Hematomas supraclaviculares
Esmagamento torácico
Hemotórax volumoso
Figura 5.13 Aortografia demonstrando a topografia da lesão mais comum na
Tabela 5.3 aorta descendente e formação de pseudoaneurisma.
TRATAMENTO
Pacientes estáveis devem ser submetidos a
tratamento endovascular com endoprótese
(stent revestido). Além disso, o uso de beta-
bloqueadores (propanolol ou labetalol) para
controle de pressão é realizado na maioria dos
centros, porém após a estabilização inicial do
trauma. Na ausência de serviço endovascular,
a cirurgia permanece como método de esco-
lha. O interessante do tratamento endovascu-
lar é que se evita o risco da isquemia medular
Figura 5.17 Desvio da traqueia para direita: suspeita de rotura traumática
e paraplegia e da isquemia visceral que pode da aorta.
lesão cardíaca ou dos grandes vasos. O tam- como asma, embolia pulmonar, pneumotórax
ponamento pode desenvolver-se rapidamente hipertensivo e pericardite constritiva também
ou de modo mais lento porque o saco pericár- fundamentam tal achado.
dico é estrutura fibrosa inelástica e menos de
O sinal de Kussmaul (aumento da pressão
200 mL de sangue é suficiente para restringir
venosa na inspiração espontânea) e a ativi-
os movimentos cardíacos (geralmente 50 mL
dade elétrica sem pulso (na ausência de hipo-
mostra sintomas) e apresentar quadro clínico
volemia e de pneumotórax hipertensivo) suge-
de tamponamento cardíaco.
rem tamponamento cardíaco.
Ferimentos penetrantes na área de Ziedler ou
área de Salmer-Murdock sugere trauma cardí- Quando disponível, o exame ultrassonográfico
aco ou de grandes vasos. Da mesma maneira, na sala de emergência FAST (Focused Assessment
fáscies pletórica, engurgitamento de veias cervi- with Sonography for Trauma ATLS®) avalia a pre-
cais e pulso paradoxal sugerem trauma cardíaco. sença de líquido no saco pericárdico com 90%
de acurácia e 5% de falsos-negativos. O tra-
Limites anatômicos da zona de Ziedler:
tamento de escolha para o tamponamento
Linha horizontal que passa pelo ângulo de cardíaco é a rafia da lesão sangrante atra-
Louis do esterno; vés de toracotomia anterolateral esquerda,
• Linha horizontal que passa à altura da extre- a qual é a incisão mais usada no trauma.
midade anterior da décima costela; Atenção: o tratamento de escolha para o tam-
• Linha paraesternal D; ponamento cardíaco é a toracotomia e não a
• Linha axilar anterior E. pericardiocentese sendo esta última, uma
medida de alívio provisória e emergencial.
O trauma cardíaco fechado pode determinar O paciente pode ser assintomático, mas acha-
arritmias cardíacas e o ECG (eletrocardiografia) dos radiológicos podem sugerir o diagnóstico
é utilizado para triagem desses doentes. Os através da elevação da cúpula diafragmática
achados do ECG mais comuns são: extrassís- ou presença de nível hidroaéreo no tórax.
toles ventriculares, alterações do segmento Lembre-se que lesões penetrantes toracoabdo-
S-T, taquicardia sinusal inexplicada, fibri- minais, até que se prove o contrário, apresen-
lação atrial e bloqueios de ramos. Novas tam lesão de diafragma e é obrigatória a busca
arritmias súbitas poderão ocorrer em 24 a ativa por essa lesão.
48 horas, razão pela qual os doentes deve-
O diagnóstico também pode ser melhor elu-
rão ficar monitorados. Após esse período
cidado por angiotomografia de tórax (não é
de tempo, a incidência de arritmias dimi- um bom exame para ver lesões pequenas de
nui consideravelmente. Os pacientes que diafragma) ou esofagograma. Todavia, com
apresentarem um ECG normal à admissão, certeza, o método diagnóstico mais fácil da
dificilmente apresentarão alguma arritmia avaliação da hérnia diafragmática traumá-
posteriormente. tica é através de passagem de SNG e raios X
Para os doentes com instabilidade hemodi- de tórax PA, que demonstrará a SNG enro-
nâmica passageira inexplicada, está indicado lada no tórax, sugerindo o defeito traumá-
tico característico.
a realização de ecocardiografia, ou simples-
mente o FAST (Focused Abdominal Sonography
in Trauma), para afastar um eventual derrame
pericárdico.
DIAFRAGMÁTICA TRAUMÁTICA
O trauma penetrante, na maioria das vezes,
causa pequena perfuração no diafragma que
não leva imediatamente à formação de hér-
nia diafragmática. Já o trauma contuso pro-
Figura 5.20 Hérnia diafragmática traumática esquerda. Observam-se o
duz grandes e radiadas lesões que conduzem fundo do estômago no hemitórax esquerdo pelo raios X de esôfago, estô-
mago e duodeno contrastado (SEGD).
facilmente à herniação. O lado mais comum
da hérnia diafragmática traumática é à
esquerda. No entanto, estudos em cadáve- TRATAMENTO
res demonstraram que, em necrópsias, o lado
direito aparece mais frequentemente, porém, • Fase aguda: videolaparoscopia;
não é diagnosticado em razão da posição do • Fase tardia: toracoscopia.
fígado. Raramente, o trauma diafragmático é É importante entender que alternativamente
descoberto no período imediato pós-trauma. em serviços que não tenham laparoscopia
poderá ser feito a laparotomia exploradora e Suspeita-se desse tipo de lesão quando o feri-
a toracotomia, respectivamente. No trauma mento de entrada encontra-se em um hemitó-
agudo, a preferência pela via abdominal é indi- rax e o de saída no hemitórax contralateral.
cada porque não há o problema relacionado
A presença de pneumomediastino (enfisema
com a formação de aderências como existe em
mediastinal) faz suspeitar de lesão esofagiana
trauma diafragmático tardio. E as anuências
ou traqueobrônquica. Por outro lado, quando
ocorrem mesmo sem cirurgia e somente pelo
há hematoma de mediastino, deve-se pensar
trauma.
em lesão de grandes vasos.
Dica: não confunda hérnia diafragmática trau-
Há dois tipos de doentes com ferimento trans-
mática com hérnia paraesofagiana e hérnia
fixante de mediastino: hemodinanicamente
hiatal de deslizamento. As hérnias hiatais
estáveis e instáveis.
têm revestimento de peritônio enquanto as
hérnias traumáticas não. Pacientes instáveis deverão ter os dois hemitó-
rax drenados e encaminhados imediatamente
ao centro cirúrgico para toracotomia.
Já os doentes estáveis hemodinamicamente
também terão seus dois hemitórax drenados
e irão provavelmente à toracotomia, mas terão
tempo de fazer exames que auxiliarão no diag-
nóstico e reparo da lesão: FAST, EDA, bron-
coscopia, angiotomografia helicoidal, esofago-
grama com contraste baritado.
Deve-se considerar uma possível lesão de esô-
A
fago quando:
• 4. Eliminação de restos alimentares pelo
dreno torácico;
A presença de ar no mediastino também
sugere o diagnóstico, frequentemente confir-
mado por estudos contrastados e EDA.
B
Grau da lesão Descrição das lesões
Figura 5.21 Raios X de tórax PA na suspeita de hérnia diafragmática. A:
nível hidroaéreo no tórax à esquerda. Borramento do hemidiafragma à
esquerda. B: observe a imagem da sonda nasogástrica no tórax. Contusão/hematoma ou lacera-
I
ção parcial sem abertura
LESÃO TRANSFIXANTE DE II
Laceração < 50% da circunferên-
cia
MEDIASTINO
O trauma penetrante que atravessa o medias- Laceração ≥ 50% da circunferên-
III
tino pode acarretar lesão de qualquer estru- cia
tura que esteja no tórax: coração, grandes
Perda tecidual ou desvasculariza-
vasos, ducto torácico, árvore traqueobrôn- IV
ção < 2 cm
quica, pulmões, lesão medular e ainda esôfago.
Sutura SNE
Drenagem
Lesão de Esôfago Cervical Figura 5.22 conduta nas lesões de esôfago cervical. SNE: sonda nasoenteral.
Drenagem Jejunostomia
Figura 5.23 Conduta nas lesões de esôfago abdominal.
em zona de Ziedler que evoluíam para ativi- para ida ao centro cirúrgico ou, até mesmo, para
dade elétrica sem pulso presenciada, agora a realização de exames complementares, a não
essa indicação é muito mais ampla. De acordo ser que essas etapas tenham sido realizadas
com a atualização de 2017, todos os traumas, antes da parada cardiorrespiratória.
sejam eles contusos ou perfurantes que evo-
luem para parada cardiorrespiratória devem
ser tratados de acordo com a seguinte ordem TORACOTOMIA DE EMERGÊNCIA
de atendimento:
Os pacientes candidatos a esse tipo de proce-
• Intubação orotraqueal, ventilação com dis- dimento são aqueles hemodinamicamente ins-
positivo bolsa-válvula-máscara com reser- táveis: em choque profundo, sem parada cardí-
vatório, acesso venoso com reposição volê-
aca. Nesses casos, toracotomia de reanimação
mica + drogas segundo o protocolo ACLS
obviamente não se aplica. É necessário trata-
e massagem cardíaca externa. Se houver
mento para coibir a hemorragia intratorácica.
retorno da circulação espontânea segue-se
a rotina habitual de abordagem ao trauma, O diagnóstico do local de sangramento só é
porém caso não haja retorno da circulação obtido durante a cirurgia. Não há tempo para
espontânea; obter o diagnóstico por meio de exames. Pode
• Toracostomia descompressiva bilateral, se ser difícil decidir sobre a via de acesso se a
houver retorno da circulação espontânea fonte de sangramento ainda não foi diagnos-
conclui-se a drenagem torácica bilateral e ticada. É preciso usar uma via que permita
segue-se a rotina habitual de tratamento, rápido acesso aos órgãos suspeitos de causar
porém caso não haja retorno da circulação o sangramento.
espontânea; Nos ferimentos penetrantes, a toracotomia
• Realiza-se a toracotomia anterolateral deve ser direita ou esquerda, conforme o hemi-
esquerda com os seguintes objetivos: tórax comprometido. A decisão fica mais difícil
• Pericardiotomia vertical com liberação de quando o ferimento é transfixante no medias-
tamponamento cardíaco, se houver; tino. Nesses casos, é preferível a toracotomia
anterolateral esquerda, pois esta via permite
• Rafia/hemostasia de lesões do miocárdio se
acesso à maioria dos órgãos responsáveis por
houverem;
hemorragia: coração e grandes vasos. São raras
• Hemostasia de lesões intratorácicas se hou- as situações em que esta via não permite tratar
ver necessidade; a lesão. Se isto acontecer, deve-se ampliar a inci-
• Clampeamento da aorta descendente, rea- são via esternotomia transversal. Assim, pode-
lizando o controle do sangramento abaixo -se alcançar o lado oposto do tórax através de
do diafragma se houver e represando o uma toracotomia bilateral.
fluxo sanguíneo no segmento superior,
priorizando-se, dessa forma, coração, cére-
bro e pulmões; TORACOTOMIA DE URGÊNCIA
• Massagem cardíaca interna. Os candidatos a este tipo de toracotomia são os
Caso não haja retorno da circulação espontânea pacientes hemodinamicamente estáveis. Nesses,
há tempo hábil para realizar exames subsidiários
após 30 minutos o fluxograma determina o óbito
e, portanto, tentar firmar o diagnóstico definindo-
da vítima; caso haja vítima, ela deve ser levada ao
-se assim o melhor acesso e estratégia cirúrgica.
tratamento cirúrgico definitivo imediatamente.
Raios X, endoscopia, arteriografia, TC, videotora-
A toracotomia de reanimação muitas vezes ocorre coscopia são exames que permitem confirmar o
na sala de emergência não havendo tempo hábil diagnóstico, sendo realizados principalmente em
função do mecanismo do trauma, não pelos sin- rebaixamento de brônquio esquerdo (rotura
tomas dos pacientes. traumática da aorta). Visualizar se não há pre-
Na toracotomia de urgência, não há dificulda- sença de pneumomediastino em linha tênue
des para escolher a via de acesso, pois a lesão lateralmente à traqueia;
já é conhecida. Além disso, a maior disponibili-
C. Respiração: avaliar parênquima pulmonar:
dade de tempo para o atendimento ao trauma-
observar se a trama vascular vai até a periferia
tizado permite a chegada de um especialista.
(PTX aparece preto no raios X e denota ausên-
cia de trama vascular); avaliar recessos costo-
VIDEOTORACOSCOPIA frênicos se estão velados ou há deslocamento
medial sugerindo presença de hemopneumo-
Para os pacientes portadores de hemotórax, tórax. Avaliar presença de infiltrações e opaci-
pneumotórax ou hemopneumotórax traumá-
dades sugestivas de contusão pulmonar pela
tico, quando a drenagem pleural não for eficaz
história do trauma.
(são poucos os casos) o próximo passo é a vide-
ocirurgia, logo, é tratamento de exceção. • Coração: avalie o mediastino superior em
Em relação ao ferimento da transição toraco- busca de alargamento de mediastino (> 8 cm)
abdominal, uma área de difícil avaliação, parti- ou apagamento do cajado aórtico (sinal mais
cularmente no trauma penetrante e em espe- confiável na rotura traumática da aorta); rever
cial no diagnóstico de lesão diafragmática, a se não há nenhum pneumomediastino. No
videocirurgia é um método excelente, seja por mediastino inferior, considerar alteração na
via toracoscópica ou laparoscópica. silhueta cardíaca (pneumomediastino) e sus-
Quando o ferimento está localizado no tórax e peita de insuficiência cardíaca (índice de área
há derrame pleural, dê preferência à toracos- cardíaca > 0,5).
copia. Caso se constate lesão diafragmática, • Diafragma: avaliar se não existe nível
complemente com videolaparoscopia.
hidroaéreo no tórax, elevação da cúpula
diafragmática ou presença de pneu-
moperitônio (observe lâmina de ar à
PECULIARIDADES DA ANÁLISE esquerda); localização de bolha gástrica.
DA RADIOGRAFIA DE TÓRAX • Esqueleto: analisar possíveis fraturas de cla-
Da mesma maneira como existe a sequência vícula, escápula, costelas e esterno.
ABCDE no atendimento ao politraumatizado, • (fat) subcutâneo: procurar evidência de
existe uma padronização da visualização do enfisema subcutâneo e deslocamento ou
raios X de tórax, a saber: interrupção de planos teciduais.
A. Verificar se o raios X realmente é do paciente; • (guides and tubs) guias e tubos: analisar
B. Via aérea: avaliar traqueia e brônquios: posição de tubo endotraqueal, drenos de
desvio de traqueia para direita (PTX ou rotura tórax, cateteres venosos centrais, sonda
traumática da aorta) ou para a esquerda nasogástrica e outros dispositivos e obje-
(PTX ou lesão de artéria inominada) e ou tos de maneira geral.
Por outro lado, um aumento involuntário da o mesmo não trata-se de um bom exame para
tensão da musculatura é um sinal fidedigno excluir a lesão uretral.
de irritação peritoneal, sendo que essa alte-
De qualquer forma, o toque retal continua
ração pode, por vezes, ser visualizada apenas
como um exame indicado na avaliação secun-
durante a manobra de palpação profunda
dária para casos selecionados, porém não com
seguida de descompressão brusca (DB).
função de definir a segurança da sondagem
Através da palpação podemos encontrar sinais vesical como antigamente. No paciente com
de irritação peritoneal por hemoperitônio e fratura de bacia, equimose perineal, uretrorra-
secreções do trato gastrintestinal na cavidade, gia, ou outros sinais clínicos de lesão uretral,
bem como estabelecer diagnóstico de útero
uma uretrocistografia retrógrada deve ser rea-
gravídico, estimar a idade do feto e identificar
lizada antes do cateterismo vesical. Essa con-
a presença de alterações anatômicas tais como
duta também é válida para aqueles pacientes
massas, por exemplo.
cujo toque retal é alterado.
É importante ressaltar a divergência de lite- dade peritoneal e lesões traumáticas por feri-
raturas, visto que a vigésima edição do Sabis- mento penetrante. Há de se entender que
ton Textbook of Surgery, ainda traz a avalia- várias lesões intestinais passavam desperce-
ção da ferida como uma importante aliada bidas porque antigamente não se fazia o cor-
na avaliação dos ferimentos por arma branca rer de alças por laparoscopia que foi o grande
(isto frente à baixa energia envolvida nessas objetivo da padronização dos procedimen-
lesões). Segundo a vigésima edição do Sabis- tos laparoscópicos desse trabalho também
ton, os pacientes vítimas de arma branca, citado no ATLS.
sem sinais de peritonite, evisceração ou
choque devem ter a ferida explorada, frente O trabalho demonstrou que na ocorrência de
à confirmação de integridade da cavidade traumas penetrantes existem “pontos cegos
abdominal o paciente pode receber alta para no abdome” para a laparoscopia que se asso-
a residência. Os demais pacientes, segundo ciam ao alto índice de lesões despercebidas. A
o fluxograma, deverão ser submetidos à evidência de ferimentos penetrantes nos pon-
uma avaliação clínica e laboratorial seriadas tos cegos do abdome é indicação de conversão
e poderão ou não ser submetidos à exames para laparotomia exploradora.
tomográficos, lavado peritoneal diagnóstico,
laparotomia exploradora ou até mesmo à Eis os pontos cegos: (hematoma retroperito-
laparoscopia diagnóstica, sendo esta última neal de zona I, II ou III, ferimentos em segmento
com o principal objetivo de descartar a inva- hepático VI e VII, lesão na parte posterior do
são da cavidade abdominal. baço e ferimentos de cólon).
A B
FAB Toracoabdominal ou em flanco
Penetração da cavidade peritonial?
FAF ou FAB ABDOMINAL
(Paciente Estável)
Considere
Estável Instável
Toracoabdominal Tangencial Abdominal
(central)
FAST + Cristaloides TORACOTOMIA
Laparotomia
LPD Laparoscopia
Figura 6.3 Algoritmo de indicação de laparoscopia no trauma. Adaptado de Kawahara & Alster et al. Standard
Examination system for laparoscopy in penetrating abdominal trauma. J Trauma 2009; 67(3):589-595.
Tanto pacientes estáveis como instáveis Tabela 6.1 Lavado peritoneal diagnóstico (LPD).
hemodinamicamente podem ser submeti-
Parâmetros que positivam o LPD no trauma
dos a um LPD na dúvida de lesão abdominal,
abdominal fechado
sobretudo naqueles com alteração do nível
de consciência por TCE ou drogas e trauma Aspiração de mais de 10 mL de sangue
raquimedular (TRM), com perda de sensibili-
dade abdominal. Líquido da lavagem com uma das seguintes carac-
terísticas:
As contraindicações relativas referentes à rea-
100 mil hemácias/mm³
lização da LPD são: presença de cirurgias abdo-
500 leucócitos/mm³
minais prévias, gestação avançada, obesidade
mórbida, cirrose avançada e coagulopatia. A Presença de bile, bactérias (Gram), secreções TGI
ou urina
única contraindicação absoluta para a reali-
zação da LPD é a indicação de laparotomia já Dosagem de amilase > 175 UI/dL
Indicações
mediana infraumbilical de 3 a 4 cm, incisa-se
a aponeurose, realiza-se sutura em bolsa com
Exame físico duvidoso fio inabsorvível no peritônio, abre-se o peritô-
nio e posiciona-se cateter de diálise peritoneal
Choque a esclarecer
em direção ao fundo de saco de Douglas.
Alteração sensorial (TCE, drogas, intoxicações)
A próxima etapa é a aspiração com seringa de
Anestesia geral para cirurgias extra-abdominais 20 mL. Se houver saída de 5-10 mL de sangue
(por exemplo, neurocirurgias) ou conteúdo do TGI, considera-se a LPD como
positiva. Caso contrário, infundem-se 1 mil
TRM com lesão de medula
mL de soro fisiológico na cavidade peritoneal
Contraindicação absoluta do adulto e 10 mL/kg de peso na criança. Ao
final, aspira-se por sifonagem o líquido, deven-
Indicação clara de laparotomia exploradora
do-se recolher de volta ao menos 20% do total
infundido. Considere a Tabela 6.2 para os crité- eventual sangramento que ocorra nesse inter-
rios de positividade do LPD. valo ou um trauma muito precoce pode ser
identificado com segurança.
Na análise laboratorial, considera-se positivo o
exame que apresente 105 (100 mil) eritrócitos Cuidado: O FAST identifica líquido livre na
ou 500 leucócitos por mm3, presença de fibras cavidade abdominal. Muitas questões tra-
vegetais, bactérias, amilase acima de 175 U/dL, zem como armadilhas, em suas alternativas,
secreções do TGI ou urina. Com LPD positiva, indi- a possibilidade de identificação de sangue na
ca-se a laparotomia ou laparoscopia exploradora cavidade abdominal. Essa afirmação é falsa! O
dependendo se tiver critérios para a cirurgia mini- exame é capaz de identificar líquido mas não
mamente invasiva (trauma penetrante toracoab- diferenciar o sangue de outros líquidos, um
dominal ou flanco em pacientes estáveis com paciente ascítico, por exemplo, pode apresen-
dúvida da penetração da cavidade peritoneal). tar FAST positivo, mesmo sem sangramento
abdominal.
Atenção: O LPD, para evitar iatrogenias e com-
plicações, deve ser realizado após descom- Hoje em dia, algumas literaturas incluem
pressão gástrica e vesical, com SNG e CVD. o FAST no ABCDE do trauma, como ABCDE
F(FAST). Vale lembrar também que atualmente
LPD também pode ser feito pela técnica
existe uma nova complementação desse pro-
fechada (técnica de Seldinger) com punção
tocolo que é o FAST-Estendido (eFAST) que
percutânea, mas o ATLS preconiza a técnica
inclui a janela pulmonar bilateral no exame e
aberta por ser mais segura.
é capaz de identificar rapidamente sinais de
LPD supraumbilical: na presença de fratura pneumotórax e líquido no espaço pleural .
pélvica ou gravidez, a abordagem é supraum-
bilical aberta, para não entrar em hematoma
pélvico, ocasionando hemorragias ou lesionar
o útero e ou o feto.
ULTRASSONOGRAFIA NO
TRAUMA (FOCUSED ASSESSMENT
SONOGRAPHY FOR TRAUMA –
FAST)
Interposição de gás
• O custo é elevado;
• Tem acurácia deficiente para trauma de dia-
Baixa sensibilidade de líquido livre < 500 mL fragma, pâncreas (< 8 horas), bexiga e intes-
tino delgado.
Falsos-negativos: líquido retroperitoneal e lesão de
víscera oca A presença de líquido intra-abdominal na
ausência de trauma hepático ou esplênico iden-
Tabela 6.3 Risco-benefício do FAST.
tificado na TC levanta alta possibilidade para
lesão intestinal. Porém, não podemos esque-
cer que esse líquido peritoneal também pode
ser oriundo de lesão vascular, mesentérica ou
de lesão vesical, isso porque a TC não identifica
claramente ou diferencia essas lesões. Nessa
situação, em se tratando de trauma abdominal,
hemodinamicamente estável, com líquido livre
na TC e sem evidência de trauma de víscera oca,
o paciente poderá ser submetido a uma lapa-
roscopia diagnóstica.
ações aonde a laparoscopia tem sido utili- • Ferimentos penetrantes com orifício de
zada no contexto do trauma, tanto para diag- entrada em dorso;
nóstico, quanto para tratamento, no trauma • Existência de laparotomias prévias extensas;
penetrante e também no contuso. • Crianças com idade < 12 anos.
Nível III de evidência. Não tem indicação aceita de modo geral. Entretanto, pode ser
usada, em centros de pesquisa, como “screening”, sendo realizada laparotomia a
Trauma Fechado seguir para determinação do índice de lesões despercebidas; tratamento conser-
vador do trauma hepático com coleção abdominal que precisa ser drenada; trauma
de bexiga.
*Pacientes hemodinamicamente estáveis, Glasgow > 12, pressão sistólica > 90 mmHg; reposição volêmica < 3
L na 1ª hora de atendimento.
'
Tabela 6.5
Serviço de TC 24 h
TRATAMENTO NÃO
Banco de Sangue 24 h
OPERATÓRIO
O tratamento não operatório das lesões em Laboratório 24 h
O trauma diafragmático é mais comum à esquerda separados de fio inabsorvível em U ou com pro-
em 54-87% das vezes, onde ocorre uma ruptura lene 0 ou 1 em lesões < 5 cm. Lesões maiores
de 5–10 cm de extensão que envolve a porção exigem tela (Marlex, Dacron ou Prolene). Alguns
posterolateral do hemidiafragma esquerdo. A cirurgiões preconizam a realização de outra
lesão diafragmática direita só se torna frequente sutura contínua sobre as bordas que restaram
quando forem considerados estudos de necrop- da sutura em U. Caso haja lesão pleural, pode-se
sia, chegando, inclusive, a se equiparar estatis- drenar a cavidade pleural com dreno de tórax
ticamente com as lesões do lado esquerdo. Isto tubular multiperfurado (28-32 F) sob selo d’água
ocorre, pois normalmente os traumas que levam do lado do ferimento. A lesão diafragmática tam-
à ruptura do diafragma à direita envolvem maior bém pode ser tratada por laparotomia ou toraco-
energia e frequentemente levam a vítima a óbito tomia. Existe 55% de associação de rotura trau-
antes que a lesão seja identificada e registrada. mática do diafragma e fratura de bacia (pela alta
A cavidade peritoneal está sujeita à lei de Boyle. energia). Em 93% a rotura do diafragma direito
Quando ocorrer um trauma por compressão do
está associada a trauma hepático.
abdome, haverá diminuição do tamanho da cavi-
dade peritoneal, aumentando a pressão intra- As complicações agudas mais comuns da
-abdominal, e o ponto mais fraco é o diafragma lesão diafragmática traumática são: deiscên-
à esquerda, já que à direita o fígado absorve o cia de sutura, paralisia do hemidiafragma,
impacto e protege do trauma. decorrente de lesão traumática ou iatrogênica
do nervo frênico, insuficiência respiratória,
As lesões bilaterais ocorrem em aproxima-
empiema ou abscesso subfrênico. Complica-
damente 2% dos casos. Em geral, as lesões
ções mais tardias são: a hérnia estrangulada e
por ferimentos penetrantes são pequenas e
perfurada de vísceras abdominais e a obstru-
raramente provocam herniação logo após a
ção intestinal recorrente.
ocorrência. Na maioria das vezes são encontra-
das durante a laparotomia exploradora, tora-
Trauma do diafragma
coscopia ou laparoscopia.
Já as lesões resultantes de trauma fechado Grau Descrição da lesão
pequenos hemopneumotórax.
O tratamento da lesão diafragmática pode ser TRAUMA DE ESTÔMAGO E
feito por laparoscopia (hérnia diafragmática
aguda) ou toracoscopia (hérnia diafragmática tar-
INTESTINO DELGADO
dia > 6 meses) com retorno das estruturas her- As contusões abdominais geralmente
niadas ao abdome e sutura da lesão com pontos são resultantes de desaceleração brusca,
O FAST só visa identificar líquido sem avaliar inicia-se o tratamento das lesões de estômago
se é sangue ou secreção do TGI. O LPD, com e de intestino. Para inspeção adequada, a inci-
exame laboratorial do lavado, apresenta boa são deve ser ampliada e o estômago mobili-
sensibilidade para identificação dessas lesões. zado de maneira que permita avaliação ade-
A TC com duplo e triplo contraste pode não quada, principalmente da região posterior
identificar a lesão de intestino delgado mas onde há maior índice de lesão despercebida.
a presença de líquido intra-abdominal sem As lesões gástricas devem ser suturadas em
evidência de trauma de baço, ou trauma de dois planos. Geralmente, a sutura contínua
fígado, levanta alta suspeita. seromuscular é feita com fio absorvível 3-0, e
a sutura serosserosa com pontos separados e
Pequenos pneumoperitônios podem ser iden-
fio inabsorvível 3-0 ou 4-0. Aquelas que envol-
tificados à TC e abdome.
vem o piloro devem ser tratadas realizando-se
O achado mais frequente da TC sugestivo de sutura e piloroplastia. As lesões do corpo gás-
lesão intestinal é a presença de líquido livre trico devem ser cuidadas com sutura primária.
na cavidade peritoneal, sem lesão de víscera Caso a lesão envolva a transição gastroesofá-
parenquimatosa associada. gica após a sutura do ferimento, deve-se fazer
esofagogastrofundoplicatura, cobrindo a lesão
O líquido livre pode ser oriundo de lesão
hemorrágica do mesentério, lesão de bexiga e, ou somente Patch de Thal (fundo do estômago).
finalmente, lesão de intestino delgado. Sinais Caso a lesão seja extensa nessa localização,
tomográficos indiretos de lesão de intes- pode haver lesão do nervo vago. Nessa even-
tino delgado são o espessamento de parede tualidade, deve-se acrescentar a piloroplastia.
intestinal e de mesentério. É fundamental
Para as lesões extensas do estômago, reco-
lembrar que diagnóstico e tratamento tar-
dios da lesão intestinal estão associados ao menda-se a ressecção com reconstrução a
aumento de morbidade e mortalidade. Após Billroth I ou II, conforme seja possível. Deve-se
o diagnóstico definido de lesão gastrintesti- ter cuidado especial com os doentes que apre-
nal ou indicação de laparotomia é realizada a sentam associação de lesão gástrica e de dia-
sondagem gástrica e vesical e administração fragma. A contaminação da cavidade pleural,
de antibioticoterapia profilática com 2 g de principalmente na vigência de choque hemor-
cefalosporina de segunda geração na indução rágico, está associada à complicações pleuro-
anestésica (ver também ferimentos de cólon). pulmonares infecciosas. A cavidade pleural
Nos ferimentos com menos de 12 horas de deve ser cuidadosamente lavada através da
evolução, a duração da antibioticoterapia limi- lesão diafragmática.
ta-se ao ato cirúrgico nos ferimentos de maior
Tratamento das lesões do intestino delgado:
tempo de evolução e a mesma é mantida por
24 horas. Prioridades de tratamento de lesões • Menores de 50% e borda antimesentérica:
intra-abdominais: rafia simples;
Nas lesões múltiplas próximas uma da outra, Classificação da lesão de intestino delgado
prefere-se a ressecção de todas as lesões e
anastomose primária. Tipo de
Grau Descrição da lesão AIS-90**
lesão
Em doentes com lesões extensas, graves, na
vigência de instabilidade hemodinâmica e ou Contusão ou
sinais de encaminhamento para a tríade mor- I* Hematoma hematoma sem 2
tal (coagulopatia, acidose e hipotermia), rea-
desvascularização
lizam-se ressecção e fechamento das bocas
proximal e distal, deixando-se a reconstrução Laceração de espes-
do trânsito para o momento em que o doente sura parcial sem
se encontrar equilibrado (Cirurgia de Controle perfuração
II* Laceração 3
de Danos). Tanto em doentes portadores de
lesão gástrica como naqueles portadores de Laceração < 50% da
lesão intestinal, a cavidade peritoneal deve ser circunferência
cuidadosa e meticulosamente lavada para reti-
rar todo conteúdo do tubo digestivo que tenha Laceração > 50% sem
III Laceração 3
eventualmente ali caído. transecção
Caso não seja possível oferecer dieta via oral, Transecção de seg-
deve-se administrar nutrição enteral ou paren- IV Laceração mento intestinal com 4
teral (por exemplo, lesões de duodeno). perda de substância
TRAUMA DUODENAL
Perda tecidual ou desvasculariza-
V 4 A primeira parte do duodeno situa-se ao nível
ção > 2/3 do estômago
da primeira vértebra lombar (L1) e é intraperi-
*Aumente um grau para lesões múltiplas até a grau toneal. A segunda porção do duodeno acom-
III. **AIS: Abbreviated Injury Scale. JGE: junção gas- panha L2 e L3 e é retroperitoneal contendo
troesofageana. abertura da papila maior (colédoco e ducto de
Tabela 6.11 Classificação para trauma de estômago. Wirsung) e menor (ducto de Santorini). Esse
segmento pode ser mobilizado pela manobra (mortalidade tardia > 48 h pós-trauma). Aproxi-
de Kocher. A terceira porção da víscera cruza a madamente 90% dos traumas duodenopan-
coluna lombar ao nível de L3 e passa na frente creáticos têm lesões associadas.
da veia cava inferior, ureter, coluna lombar e
Os ferimentos penetrantes são a causa da
aorta. Em cima da terceira porção do duodeno
lesão do duodeno na maioria dos casos. O
passa a artéria mesentérica superior consti-
trauma contuso também pode provocar lesões
tuindo a pinça aortomesentérica. A quarta por-
do duodeno e de estruturas vizinhas e, nesse
ção acaba no Treitz.
caso, o mecanismo mais comum de produção
Assim, com exceção dos dois primeiros centí- da lesão do duodenal é a compressão direta do
metros em que o duodeno é intraperitoneal, abdome, devendo-se atentar para tatuagens
ele situa-se na maior parte em posição retro- do trauma em região epigástrica e traumas
peritoneal e é protegido medialmente pela diretos nessa área com guidom de bicicleta,
coluna vertebral e a posterior pela musculatura muito comum em crianças, ou de moto.
paravertebral. Exceção faz a quarta porção do
duodeno que cruza a coluna e volta à cavidade A lesão isolada do duodeno pode provocar pou-
abdominal continuando-se com o jejuno. cos sintomas na fase inicial. Essa lesão pode
sangrar para o intraluminal com exteriorização
A localização retroperitoneal de 2/3 da anato-
pela cavidade gástrica e consequentemente
mia do duodeno confere ao órgão relativa pro-
pela SNG. Quando o sangramento for extralu-
teção no trauma contuso, sendo que a maior
minal, pode ocorrer edema de alça ou hema-
quantidade de lesões ocorre nas lesões pene-
toma periduodenal. O raios X de abdome ou a
trantes (4% das lesões penetrantes da cavidade
TC também podem mostrar ar no retroperitô-
abdominal apresentam lesão duodenal x 0,1%
nio. Os dois achados relatados podem levantar
dos traumas contusos), sendo que as lesões
a suspeita de lesão de duodeno. O diagnóstico
por arma de fogo são aquelas que apresentam
de certeza pode ser feito por meio de raios X
maior chance de culminar com acometimento
simples ou com contraste via oral, arteriografia
do duodeno. As lesões desse órgão apre-
do TGI ou TC com contraste oral e endovenoso.
sentam alta taxa de mortalidade associada,
podendo chegar a 24,5%. O contraste oral deve ser bem visível em todas
Em virtude dessa localização, o duodeno situ- as porções do duodeno e pode ocorrer extra-
a-se em proximidade ou em contato com o vasamento de contraste na lesão. É importante
fígado, o pedículo hepático, o pâncreas, o rim lembrar que existem exames falso-negativos.
direito, a veia cava inferior, os vasos mesentéri- A LPD não é útil na lesão de duodeno isolada
cos, a aorta e o rim esquerdo. porque não avalia o retroperitônio. Entretanto,
o LPD pode ser útil em alguns casos, pelo alto
Destaca-se, em decorrência da topografia duo-
índice de lesões associadas que podem fazer
denal acima mencionada, a associação de feri-
com que a LPD seja positiva.
mentos duodenais com lesões pancreáticas, já
que ambos dividem a mesma vascularização. A LPD também apresenta taxa significativa
Isso é importante porque há mortalidade de de falso-negativos por lesões pouco impor-
20-30% relacionada e 60% de morbidade rela- tantes já que é exame altamente sensível,
cionada, principalmente à gravidade do trauma mas pouco específico. Na laparotomia por
do duodeno, com ocorrência de hemorragia trauma contuso, a presença de sangue, ar
exsanguinante (mortalidade precoce), cho- ou bile na região duodenal exige explora-
que séptico e disfunção de múltiplos órgãos ção minuciosa do duodeno. Na laparotomia
por ferimento penetrante, deve-se fazer exame sistematizado de todo o tubo digestivo à pro-
cura de lesão.
O segredo para o tratamento das lesões duodenais está na exposição adequada desse seg-
mento de intestino, que é conseguida com dissecção cuidadosa e ampla, utilizando mano-
bras como a de Cattell-Braasch (descolamento do peritônio junto ao cólon direito, liberando
a goteira parietocólica direita) e de Kocher (descolamento e exposição do duodeno). A lesão
duodenal isolada e pequena pode ser tratada com sutura simples, sendo que deve ser
realizada uma ampla dissecção na manobra de Kocher, permitindo uma sutura sem ten-
são. Recomenda-se a sutura em dois planos com pontos separados com fio inabsorvível.
As lesões duodenais simples compreendem 80% dos casos. Nas lesões mais extensas é pos-
sível também fazer a sutura duodenal e, a seguir, suturar a serosa de outra alça intestinal sobre
a lesão suturada do duodeno e, sempre que possível, deve-se alocar uma porção de mesentério
saldável ou omento protegendo a sutura da lesão em forma de pacth. Outra opção seria a diverti-
culização do duodeno, na qual se realiza gastrectomia parcial com reconstrução a Bilrotth II para
lesões maiores, ou a realização de ressecção com anastomose primária para casos selecionados,
os quais envolva uma porção maior do órgão, porém envolvem a região da ampola.
A lesão duodenal associada à cabeça do pâncreas, colédoco e papila, pode requerer procedimen-
tos maiores, como a gastroduodenopancreatectomia (GDP) e a pancreaticojejunoanastomose
mais anastomose bileodigestiva; não são procedimentos de escolha no trauma em um primeiro
momento. O mais comum é controlar o sangramento, a contaminação, deixar vários drenos e,
após estabilização clínica na UTI, com diminuição de interleucinas, nova reintervenção e GDP ou
pancreaticojejunoanastomose (Cirurgia de Controle de Danos).
HEMATOMA DUODENAL
Uma lesão particular do duodeno que deve ser comentada é o hematoma duodenal. Embora
possa ocorrer em adultos, ele é mais frequente em crianças e resulta da compressão
súbita sobre o epigástrio. A instalação do quadro ocorre em menos de 48 horas após o
trauma. O doente queixa-se de dificuldade para comer e de vômitos associados à dor no
epigástrio. O raios X de esôfago, estômago e duodeno contrastado mostra parada de con-
traste no duodeno.
Atualmente a TC com contraste oral também revela parada de contraste no duodeno. Em 20%
desses casos, pode ocorrer lesão associada do pâncreas. O tratamento do hematoma duodenal
sem lesões associadas não é cirúrgico, voltando-se para colocação de SNG e aplica-se nutrição
parenteral total. Habitualmente o hematoma é reabsorvido entre 5 e 7 dias. Caso isso não
ocorra, pode-se esperar até 15 dias para indicar cirurgia com objetivo de esvaziar o hematoma
cirurgicamente.
Grau da
Tipo de lesão Descrição
lesão
Rotura de 50-75% de D2
III Laceração
Rotura 50-100% de D1, D3 ou D4
A B
Figura 6.8 Trauma duodenal. A: note estreitamento da primeira e terceira porções do duodeno no raios X contrastado de esôfago, estômago e duodeno. B:
TC de abdome com duplo contraste demonstrando espessamento duodenal da terceira porção.
Lesão abdominal/intestinal
Controle de sangramento
e contaminação
Figura 6.9 Conduta no trauma duodenal. Para o reparo simples das lesões graus I e II o período de 6 horas é divisor de conduta. Nas primeiras 6 horas,
reparo primário simples; decorridas 6 horas, o risco de deiscência de sutura aumenta, portanto descompressão duodenal é a conduta.
TRAUMA PANCREÁTICO
Devido à localização próxima ao duodeno, lesões envolvendo os dois órgãos são frequentemente
encontradas nos pacientes que apresentam lesões penetrantes no abdome, o pâncreas está pre-
sente em cerca de 6,6% das vezes, uma lesão relativamente pouco incidente, porém associada à
uma alta mortalidade, podendo chegar de 23 a 30,2%.
Figura 6.10 Trauma pancreático com rotura da cauda do pâncreas no 10º PO.
A 1ª TC havia mostrado pâncreas normal porque foi feita em tempo menor
de 6 horas pós-trauma. Os níveis de amilase começaram a subir no 9º PO.
Esse paciente fez colangiorressonância que não mostrou lesão de Wirsung e
o paciente não foi operado.
Tipo de
Grau* Descrição**
lesão
à direita dos vasos distais, que compro- peripancreático que resultam de debrida-
metem o ducto pancreático devem ser mento inadequado (20%), pancreatite (10-
tratadas com pancreatectomia distal, 20%), pseudocistos, hemorragia requerendo
preservando-se, sempre que possível, o transfusões (10%) e insuficiência exócrina e
baço. Alguns autores consideram factível a endócrina.
preservação esplênica se esta não aumentar
A maior parte das fístulas pancreáticas é de
o tempo operatório em mais de 30 minutos
pequeno débito (< 200 mL) e 90% resolve em
ou não exigir a transfusão de mais de uma
duas semanas com tratamento conserva-
unidade de sangue. A ressecção esplênica
dor com nutrição parenteral ou enteral (SNE
pode tornar-se imperiosa para facilitar tecni-
jejunal) pobre em gordura. Fístulas de alto
camente a ressecção do pâncreas em pacien-
débito (> 500 mL) são raras e exigem cirur-
tes instáveis.
gia. Os abcessos são resolvidos através de
As lesões pancreáticas proximais aos vasos drenagem percutânea que também ajuda a
mesentéricos possuem alto potencial para diferenciar se é um abscesso ou um pseudo-
evoluirem com fístulas pancreáticas. O cisto. A pancreatite pós-operatória é tratada
debridamento e a drenagem ampla dessas conservadoramente, com SNG, hidratação e
lesões são o manejo mais apropriado, acom- jejum via oral além de suporte nutricional.
panhados de controle da hemorragia e das
A pancreatite necro-hemorrágica ocorre em
lesões associadas. As fístulas pancreáticas
2% dos pacientes que têm pancreatite. A mor-
pós-trauma evoluem favoravelmente, desde
talidade dessa complicação alcança 80%. Em
que bem drenadas e com suporte nutricional
relação aos pseudocistos tudo vai depender da
adequado. A drenagem das lesões pancre-
integridade do Wirsung. Sem rotura do ducto
áticas é recomendação universal, devendo
pancreático, somente a drenagem externa
ser ampla e realizada com drenos que permi-
percutânea pode resolver o quadro. Entre-
tam a irrigação e aspiração de debris e secre-
tanto, não há de se fazer drenagem externa
ções, em geral por meio de sistemas fecha-
dos. Drenagens abertas com drenos tipo em casos de pseudocisto que se comunicam
Penrose devem ser evitadas. As lesões pan- com o Wirsung porque resultarão em fístula
creáticas mais graves, com envolvimento crônica. Nesses casos de pseudocisto e com-
da papila de Vater e do duodeno são mais prometimento do ducto pancreático podem
bem tratadas com controle de danos ser feitos os seguintes tratamentos:
(“laparotomia abreviada”), drenagem e • Ressecção distal da glândula (tratamento
reconstrução postergada, à semelhança preferido do pseudocisto de cauda);
das lesões duodenais de mesmo grau.
• Cistojejunostomia em Y de Roux;
A duodenopancreatectomia (DPT) está indi-
• Gastrocistostomia (pseudocistos que abau-
cada somente quando as outras alternativas
lam o estômago);
forem impraticáveis e, ainda assim, idealmente,
em segundo tempo, com o paciente estabili- • Stent transpapilar endoscópico do ducto
zado. A DPT na abordagem inicial restringe-se pancreático.
aos casos de pacientes que foram “pancreatec-
É preciso 20% do tecido pancreático para
tomizados” pelo próprio trauma.
função pancreática normal, ou seja, pode-
Complicações do trauma pancreático: fís- -se ressecar 80% da glândula distal aos
tula (20-30%), abscesso subfascial ou vasos mesentéricos.
IV
Rotura parenquimatosa 25-75% de um lobo ou de 1-3 segmentos de Couinaud
Vascular 4
dentro de um único lobo.
TRAUMA HEPÁTICO
O fígado é o segundo órgão mais atingido no trauma fechado (baço é o primeiro), mas o trauma
hepático representa 5% das admissões hospitalares. Aproximadamente 85% de todos os pacien-
tes com trauma hepático fechado estabilizam após a ressuscitação inicial. Os graus I, II e III corres-
pondem a 75% das lesões hepáticas. A mortalidade global do trauma hepático é 10%.
Figura 6.13 Tomografia computadorizada demonstrando Figura 6.14 TC abdominal demonstrando laceração
hematoma hepático do segmento VIII. hepática grau IV do segmento VII.
Há de se lembrar que a maior parte da vascu- reanimação inicial, devem ser levados para
larização do fígado vem pela veia porta (80%). laparotomia de imediato;
Entretanto, aqueles 25-30% que vêm pela artéria • Transfusão < 4 unidades de concentrado de
hepática representam a maior parte do sangue hemácias transfundidas nas primeiras 24
oxigenado (50%). horas: se houver necessidade de mais uni-
dades é sinal de que o sangramento ainda
persiste e o paciente necessitará de transfu-
são de sangue, arteriografia ou laparotomia
exploradora;
• Ausência de sinais de irritação peritoneal
difusa: dor localizada em quadrante supe-
rior direito não exclui o tratamento não
operatório, pois a lesão hepática por si
Figura 6.15 TC abdominal demonstrando o blush característico do trauma
hepático arterial em segmentos VII e VIII em laceração hepática grau IV. A
só pode causar tal alteração. Entretanto,
arteriografia nesses doentes é diagnóstica e terapêutica. qualquer suspeita de lesões intestinais
contraindicaria o tratamento conservador
TRATAMENTO NÃO OPERATÓRIO e declararia necessidade de laparotomia
DAS LESÕES HEPÁTICAS de urgência;
• Graduação da lesão: a TC com contraste é
O êxito da conduta não operatória das lesões fundamental para que a lesão seja gradu-
hepáticas está na dependência da seleção e ada. Há relatos de lesões até grau V terem
estratificação criteriosa dos pacientes e avalia- sido tratadas conservadoramente. Entre-
ção da capacidade institucional. tanto, quanto maior a graduação da lesão,
menor a probabilidade de não necessitar
Critérios fundamentais para a conduta não
cirurgia e maior a chance de sangramento e
operatória:
instabilidade precoce ou tardia.
• Pacientes hemodinamicamente estáveis; O tratamento das lesões hepáticas de acordo
• Disponibilidade de monitorização em UTI; com o grau das lesões pode ser assim resumido:
• Tomógrafo amplamente disponível; • Graus I e II: apenas hemostasia com cautério;
• Banco de sangue;
• Grau III: suturas com categute cromado 2.0
• Presença de centro cirúrgico; ou vicryl 2.0 com agulha atraumática longa;
• Presença de equipe de cirurgia com experi- • Grau IV: Damage control. Pode-se suturar ou
ência em trauma. realizar desbridamento do fígado. As hepatec-
A instituição que oferece condições para trata- tomias regradas são evitadas no trauma;
mento não cirúrgico de tais lesões deve contar • Grau V: Damage control. Pringle. Shunt
com estrutura que possa proporcionar assis- atriocaval. Transplante;
tência intensiva e imediata ao paciente trauma-
• Lembrando que em ferimentos hepáticos
tizado, em todas as circunstâncias e possíveis
com paciente estável e sinais de blush (extra-
complicações.
vasamento de contraste arterial) na TC, pode
Os pacientes candidatos ao tratamento não ser indicado o tratamento endovascular com
operatório são os que preenchem os seguintes técnicas como a embolização dos vasos lesa-
critérios: dos ou de pesuedoaneurismas.
• Estabilidade hemodinâmica: este é um crité- Devem-se evitar suturas em massa e gros-
rio básico e fundamental que deve ser obe- seiras, englobando muito tecido hepá-
decido sempre. Pacientes instáveis, após tico, pois essa técnica provoca necrose nas
TRAUMA ESPLÊNICO
B
O baço é o órgão mais lesado nos traumas
fechados.
A
Funções do baço:
Defesa: exerce função primordial como pri-
meira linha de defesa do organismo; é respon-
sável pela opsonização inicial contra antígenos
circulantes (processo que facilita a fagocitose),
além de remover aqueles mal opsonizados.
Isso se deve à anatomia da microcircula-
Figura 6.19 Shunt atriocaval. Faz-se toracotomia anterolateral esquerda ção esplênica. Os antígenos fagocitados por
e clampeia-se o átrio direito para incisão com bisturi para passar um tubo
endotraqueal por dentro do coração até a veia cava inferior. Em seguida, macrófagos do sistema reticuloendotelial dos
infla-se o balão acima das renais. O tubo endotraqueal estará preenchido
por SF 0,9%. Será feita sutura em bolsa do átrio direito. Pelo tubo endotra-
sinusoides da polpa vermelha são carregados
queal poderá ser administrado cristaloide e sangue e desse modo consegue-
-se o controle de todo o sangramento hepático.
para os centros germinativos, onde se dá a
produção de IgM, uma imunoglobulina de fase
aguda que surge 4-5 dias após o contato com
DAS VIAS BILIARES o antígeno. A IgM é capaz de opsonizar e de
ativar o sistema complemento, tanto pela via
O local mais comum de lesão no trauma ao
clássica quanto pela via alternativa. Enquanto
pedículo hepático é no ducto hepático comum.
isso, após 2-3 dias, já se pode titular IgG espe-
As lesões das vias biliares extra-hepáticas cífica, de meia-vida mais longa, também pro-
(vesícula biliar, cístico, ductos biliares direito e duzida no baço.
IV
Envolvendo segmento ou vaso hilar que desvascularize > 25% do parên-
Laceração
quima esplênico
é sugestivo de lesão intestinal. No trauma contuso, quando não existe indicação absoluta de lapa-
rotomia, a TC com triplo contraste pode identificar lesão de cólon.
A antibioticoprofilaxia tem hoje sua indicação bem definida e a literatura aponta uma preferên-
cia pela monoprofilaxia com cefalosporinas de segunda geração por, no máximo, 24 horas de
uso.
Em pacientes com traumatismo cranioencefálico ou raquimedular, e mesmo em casos de trauma
abdominal em tratamento não operatório, é necessária avaliação clínica seriada, visando a iden-
tificação precoce de anormalidades na evolução do paciente.
Acrescente-se ao arsenal diagnóstico desses pacientes, quando a indicação cirúrgica não é evi-
dente, a ultrassonografia e a tomografia computadorizada com contraste.
As técnicas cirúrgicas utilizadas para o tratamento das lesões de cólon intraperitoneal são seme-
lhantes ao intestino delgado:
• Menores de 50% da circunferência do órgão e borda antimesentérica = rafia simples;
• Maiores de 50% ou aquelas que acomentam borda mesentérica = ressecção e anastomose
terminal (Hartmann), anastomose em alça (Mikulicz) ou anastomose primária com um ou dois
planos.
O mesentério deverá ser fechado para não ocorrer pontos de facilitação de hérnia interna. Além
disso, poderá ser feita anastomose de cólon mais colostomia proximal protetora com exterioriza-
ção no local da lesão após a ressecção ou ampliação da lesão. A sutura primária ou ressecção do
cólon com anastomose primária colocólica ou ileocólica são as alternativas mais frequentemente
utilizadas.
TRATAMENTO
A avaliação inicial, na sala de emergência, assume papel fundamental no prognóstico e deve ser
realizada seguindo os preceitos do programa Advanced Trauma Life Support (ATLS).
Critérios para realização da colostomia ao invés da anastomose primária:
• Mais de 6 horas de trauma;
• Contaminação maciça da cavidade;
TRATAMENTO
Intraperitoneal: as mesmas condutas preconizadas para os demais segmentos colônicos. Extra-
peritoneal: desbridamento + sutura + drenagem pré-sacra + colostomia de proteção obrigatória.
Nesses casos, a colostomia deve ser realizada para desviar o trânsito para que as fezes não pas-
sem pela lesão e contamine a ferida e ou atrapalhe a cicatrização.
Grau IV Grau V
TRATAMENTO
As lesões renais podem ser tratadas de forma con-
servadora ou por meio de exploração cirúrgica. A
maioria das lesões renais é tratada de forma
conservadora em 80-98% dos adultos e 95%
das crianças com trauma renal fechado; não
têm indicação de cirurgia, ao contrário daqueles
Figura 7.4 Trauma renal. A: TC de abdome, sugerindo oclusão de artéria
renal após acidente de trânsito com motorista com cinto de segurança. O com ferimentos penetrantes (consegue-se fazer
rim esquerdo não está perfundido e demonstra mínima intensificação com
contraste dos vasos capsulares. Esse achado é patognomônico de oclusão
manejo conservador em 50% dos FAB e 25% dos
da artéria renal e não seria necessária a arteriografia (B), confirmando a FAF, desde que sem lesão intra peritoneal asso-
oclusão arterial já evidenciada na TC de abdome.
ciada). A indicação de tratamento cirúrgico no
A tomografia computadorizada é contraindicada
trauma renal encontra-se relacionada à insta-
para pacientes instáveis hemodinamicamente e
bilidade hemodinâmica e não à classificação
refratários à reposição volêmica adequada (estes da injúria ou mecanismo do trauma.
candidatos à laparotomia de emergência). Na fase
arterial do exame são avaliados os vasos hilares RIM (Organ injury scale)
e a contrastação homogênea do parênquima
renal, com atenção para a presença de sinais de Grau Tipo Descrição
> 1 cm de profundidade
parenquimatosa. Sem rup-
III Laceração
tura de sistema coletor ou
A extravasamento urinário
IV
C Lesão de artéria ou veia
Vascular renal com hemorragia
tamponada (contida)
B
Laceração Rim completamente destruído
Figura 7.5 Trauma renal complicado após FAB em paciente com hema-
túria macroscópica. TC de abdome, demostrando laceração profunda no
V
Avulsão de hilo renal. Des-
rim direito e hematoma perirrenal moderado. O paciente estava em trata- Vascular
mento conservador quando fez hipotensão (mas respondeu a cristaloides), vacularização do rim
hematúria macroscópica e precisou 4 UI de concentrado de hemácias. B:
foi levado à arteriografia que demonstra duas áreas de fístula aerocalici-
nal manejada com sucesso por embolização seletiva. C: arteriografia tardia Observação: avançar um grau para lesões bilaterais
demonstrou área de infarto em forma de cunha devido à embolização. Esse
teria sido um paciente que se não tivesse sido submetido à arteriografia até o grau III.
teria ido à laparotomia e provavelmente nefrectomia total.
Tabela 7.2Cirurgia imediata - indicações:
A ausência de hematúria não exclui lesão renal.
• Instabilidade hemodinâmica;
diamento incompleto devem ser avaliados com Grande laceração da pelve renal ou
Relativa
cuidado pois possuem indicações cirúrgicas avulsão da junção ureteropiélica
relativas. A maior parte das lesões traumáticas
Lesões pancreáticas e intestinais
é leve, sendo que em apenas 5% dos casos apa- Relativa
associadas
recem lesões significativas (> grau II). Pacientes
com lesões > grau IV são praticamente cirúrgi- Persistência da perda urinária mesmo
Relativa após a colocação do cateter duplo J e
cos, mas inicia-se sempre o tratamento conser-
drenagem das coleções perirrenais
vador e avalia-se a evolução.
Segmento renal desvitalizado com
O tratamento clínico conservador consiste em Relativa
extravasamento de urina
repouso, manutenção da volemia, correção do
hematócrito com transfusões e monitoração Completa trombose da artéria renal
Relativa de ambos os rins ou quando há ape-
clínica e radiológica. Não se deve esquecer que
nas um rim
um paciente submetido a tratamento conser-
vador pode se tornar cirúrgico em qualquer Relativa
Lesão vascular quando o tratamento
hemodinâmico falhar
momento de sua evolução. A monitorização
desse paciente deve ser intensa e realizada sob Relativa Hipertensão renovascular
ambiente de terapia intensiva.
Tabela 7.3 Indicações absolutas e relativas de cirurgia no trauma renal.
O tratamento cirúrgico é realizado por meio de
laparotomia por incisão mediana xifopubiana,
isolamento e controle dos vasos renais (artéria e
veia) antes da abertura da fáscia de Gerota e da
exploração da lesão. O cólon é mobilizado antero A B
com a pelve renal, no cruzamento com os O quadro clínico pode se apresentar com peri-
vasos ilíacos e na junção com a bexiga. Esses tonite caso extravasamento de urina na cavi-
locais devem ser observados com cuidado dade abdominal, formação de tumoração local,
durante a manipulação endoscópica para evi- dor, febre e infecção secundária.
tar perfurações. Aproximadamente 50 a 70% das lesões ure-
Grande parte da extensão ureteral está frouxa- terais agudas não são diagnosticadas de ime-
mente aderida ao retroperitônio, possibilitando diato e, quando não tratadas, podem deter-
avulsões durante tentativas intempestivas de minar sequelas graves como hidronefrose e
tração para retirada endoscópica de cálculos ou perda da função renal.
ao forçar a passagem de endoscópios. Nas situações em que exista suspeita de lesão
Por possuírem íntima relação com as artérias ute- intraoperatória, o ureter deve ser minuciosa-
rinas, podem ser lesados durante a ligadura des- mente examinado e a injeção intravenosa de
azul de metileno poderá auxiliar no diagnós-
ses vasos para a realização de histerectomia.
tico. Lesões mínimas podem ser tratadas com a
O ureter é reconhecido no intraoperatório introdução de cateter ureteral duplo J. Conside-
porque o seu pinçamento com pinça anatô- rar o risco benefício do azul de metileno, pois
mica demonstra peristalse significativa. pode causar meta hemoglobinemia quando
utilizado por via intravenosa.
Quando a suspeita diagnóstica é tardia, a
DIAGNÓSTICO realização de pielografia ascendente é o pro-
cedimento mais adequado, pois permite a
As lesões ureterais podem ser iatrogênicas
identificação precisa do local da lesão e, even-
(80%) ou decorrentes de traumatismos abdo-
tualmente, seu tratamento, mesmo que tem-
minais externos (20%) e, mais raramente,
porário, por meio de cateter duplo J. Alternati-
sequelas de tratamentos radioterápicos. vamente, na impossibilidade de cateterização
As lesões iatrogênicas são decorrentes de inci- ureteral e na presença de hidronefrose, devem
sões e transecções inadvertidas, ligaduras, ser realizadas pielografia percutânea e nefros-
queimaduras por eletrocautério, isquemias do tomia com o objetivo de preservar a função
coto ureteral por dissecções extensas, avul- renal e derivar o trato urinário, criando con-
sões e perfurações por manipulação endoscó- dições locais mais satisfatórias para o trata-
pica. As lesões por FAF ou FAB incidem em até mento definitivo a ser realizado posterior-
10% dos casos, quando não identificadas no mente, em prazo não inferior a 90 dias.
ato intraoperatório, as lesões ureterais devem A TC com reconstrução sagital da via excre-
sempre ser suspeitadas nas evidências de fís- tora mostra-se a mais adequada para avaliar
tulas urinárias, abscessos retroperitoneais e conjuntamente lesões viscerais e ureterais nos
hidronefrose pós-operatória. traumatismos abdominais externos.
Tabela 7.4 Escala de Moore para trauma de ureter pela escala da AAST: Associação Americana para a Cirurgia do Trauma. *Avançar um grau na classificação
quando a lesão for bilateral até o grau 3.
TRATAMENTO
Pequenas perfurações provocadas por proce-
dimentos endoscópicos podem ser tratadas
apenas com a colocação de cateter duplo J.
mente, pode ser feito de flap para a confecção • Dreno externo próximo à sutura (sem sucção)
de um tubo de bexiga (técnica de Boari).
• Proteção da sutura com peritônio ou omento
Formas de tratamento do traumatismo ureteral 7.11 Topografia das lesões uretrais e opções terapêuticas.
O quadro clínico da lesão vesical é composto oferecem estresse ao anel ósseo pélvico, favo-
por dor suprapúbica, incapacidade de urinar, recendo fraturas. Fraturas que comprometem
coágulos intravesicais, baixo volume urinário, a estabilidade da bacia são consideradas de
grandes traumas perineais, liquido livre intra- maior potencial para trauma de bexiga e ure-
peritoneal, distensão abdominal, íleo paralitico tra. A fratura de bacia é a lesão que mais se
associa ao trauma de bexiga. Obviamente,
e aumento das escorias urinarias (ureia e crea-
contusões abdominais, sobretudo em hipo-
tinina sérica).
gástrio, no momento em que a bexiga está
O diagnóstico é feito pela cistografia retrograda repleta, favorecem rupturas vesicais, sem
com acurácia de 85-100%, porém a investigação haver necessariamente fratura de bacia.
se inicia com radiografia simples do abdômen Na prática clínica, longe de ser regra, obser-
para avaliar fratura pélvica. Posteriormente, va-se que fraturas que geram instabilidade
via sondagem vesical, é injetada solução salina vertical do anel ósseo pélvico (isto é, impacto
0,9% no interior da bexiga previamente esva- frontal, esmagamento anteroposterior) são
ziada e o contrataste deve ser instilado por gra- mais propensas a provocarem ruptura intra-
vidade a uma altura de 75 cm da pelve óssea peritoneal. Fraturas com instabilidade rota-
(em adultos utilizar 400ml, em crianças 60ml tória (tipo livro aberto) podem causar lesões
+ 30ml/idade até no máximo 400 ml) e reali- extraperitoneais. Com mais energia no
zado radiografia com grande enchimento e pós impacto, lesões combinadas possuem maior
probabilidade de ocorrência.
esvaziamento, lembrando que 13% das vezes a
lesão aparece no período de esvaziamento. A Traumas penetrantes, como aqueles provoca-
cistotomografia é uma alternativa em serviços dos por arma branca ou projétil de arma de
que possuem esse exame. fogo, podem comprometer a bexiga. Armas
de fogo com projéteis de grande energia
podem lesar a bexiga sem mesmo haver con-
tato do projétil com o órgão. Nesses casos,
CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES DE a lesão ocorre por cavitação: a transmissão
BEXIGA energética confere diferenças de pressão em
diferentes locais da pelve, provocando rup-
As lesões vesicais geralmente acompanham lesões
tura vesical.
de uretra. Elas podem ser observadas como:
• Contusões de bexiga: são resultados de
força sobre a área da parede detrusora,
sem haver ruptura do órgão; QUADRO CLÍNICO
• Ruptura intraperitoneal: lesão de todas as cama- A lesão de bexiga, de causa iatrogênica, tem
das da parede da bexiga com extravasamento sua constatação no momento da lesão na
de urina e sangue para a cavidade peritoneal; maioria dos casos. Quando isso não ocorre,
• Ruptura extraperitoneal: ruptura vesical a lesão pode ser suspeitada pelos sintomas
com extravasamento de sangue e urina apresentados pelo paciente. Por exemplo,
ao espaço retroperitoneal, de Retzius, sem lesões decorrentes de ressecções transure-
haver urina dentro do peritônio; troscópicas de bexiga podem provocar ruptu-
ras vesicais cujo extravasamento de urina no
• Lesão combinada: lesões intra e extraperi-
espaço retroperitoneal provoca dor lombar e
toneais concomitantes.
até torácica dorsal importante. Essas lesões
extraperitoneais podem evoluir com infecção
ou fístula para outros órgãos pélvicos ou para
MECANISMO DE LESÃO a pele. Lesões com extravasamento intraperi-
Traumas como esmagamento, atropela- toneal podem gerar desconforto e dor abdomi-
mento e golpe contuso são mecanismos que nal, além de sinais de irritação peritoneal.
(trígono)
Tabela 7.8 Escala de Moore para trauma de bexiga pela escala da AAST: Associação Americana para a Cirurgia do Trauma. *Avançar um grau na classificação
quando a lesão for bilateral até o grau 3.
Suspeita de traumatismo
fechado de bexiga
Uretrocistografia
Lesão Lesão
retrógrada ou
intraperitoneal extraperitoneal
tomografia de abdome
Sondagem
Exploração Contusão
vesical por 10
cirúrgica
a 14 dias
Sutura da
bexiga sondagem
por 10 a 14 dias
Figura 7.14 Algoritmo de tratamento do trauma de bexiga.
TRAUMATISMO URETRAL
As lesões traumáticas de uretra são pouco frequentes. Tradicionalmente, são divididas em lesões de
uretra anterior e posterior, uma vez que o manuseio inicial varia de acordo com o grau e a localização
destas. As rupturas de uretra posterior costumam estar associadas à lesões de múltiplos órgãos
e mortalidade considerável, ao passo que as lesões de uretra anterior em geral ocorrem de
forma isolada.
ETIOLOGIA
A maioria das lesões de uretra posterior é decorrente de trauma contuso associado à fratura
pélvica. A ruptura uretral ocorre em aproximadamente 10% dessas fraturas que, em geral, são
secundárias a acidentes automobilísticos (68 a 78%), quedas e lesões pélvicas por esmagamento
(6 a 25%).
As fraturas pélvicas têm maior incidência nas primeiras três décadas de vida, acometendo duas
vezes mais homens do que mulheres. As mulheres são menos acometidas em razão de menor
comprimento e maior mobilidade uretral em relação ao arco púbico. Os subtipos de fraturas pél-
vicas mais comumente associadas à ruptura de uretra posterior incluem a fratura em livro aberto,
tantes costumam ter consequências graves na brana perineal. Na uretrografia, o contraste é visto
extravasando-se acima da membrana perineal
continência. Lesões uretrais em mulheres na
maioria das vezes estão associadas à lacera-
Tipo 3: ruptura completa ou parcial da uretra mem-
ções vaginais (75%) e retais (33%).
branosa, com ruptura do diafragma urogenital. O con-
traste extravasa para dentro da pelve e do períneo
MECANISMO DE LESÃO
Tipo 4: lesão do colo vesical com extensão para den-
Na uretra anterior, a força de impacto no períneo tro da uretra
esmaga a uretra bulbar contra o ramo púbico,
ocasionando contusão ou laceração da uretra. Já Tipo 5: ruptura vesical extraperitoneal com lesão na
o mecanismo de lesão da uretra posterior con- base da bexiga e extravasamento periuretral, simu-
siste em uma força de cisalhamento, que avul- lando uma lesão tipo 4
siona o ápice da próstata da uretra membranosa,
com rotura do ligamento pubo prostático, alto Tipo 6: lesão de uretra anterior
risco de lesão do esfíncter estriado, podendo,
Tabela 7.9
assim, comprometer a continência.
O tipo 3 constitui o tipo mais frequente, ocor-
Pokorny postulou três mecanismos por meio rendo em 66 a 85% das lesões de uretra poste-
dos quais esse cisalhamento pode ocorrer. rior. Os tipos 1 e 2 são incomuns, representando
O primeiro envolve o deslocamento supe- aproximadamente 10 e 15%, respectivamente.
rior de uma hemipelve (por exemplo, fratura As lesões tipo 4 são raras.
de Malgaigne) com laceração para dentro da O sistema de classificação utilizado com mais
uretra. O segundo inclui lesões por fratura frequência para lesões de uretra anterior foi
Figura 7.15 A: radiografia de pelve mostrando fratura dos ramos iliopúbico e isquiopúbico esquerdos e da asa sacral direita, em associação à diastase da
sínfise púbica. B: uretrocistografia, na fase retrógrada, mostrando opacificação até o nível da uretra bulbar. C e D: uretrocistografia, na fase retrógrada, mos-
trando indefinição de uretra membranosa e prostática com extravasamento de contraste. E: uretrocistografia de controle evolutivo após 3 meses, na fase
miccional, mostrando ainda extravasamento do contraste.
Porém, rupturas testiculares não são comuns, quais existe solução de continuidade das túni-
o que se dá, em parte, à sua mobilidade e resis- cas que compõem a bolsa escrotal ou nos
tência da túnica albugínea, sendo que o mais casos onde existe suspeita de comprometi-
comum é a existência de hematomas testicula- mento vascular. Já nos traumas penetrantes,
res autolimitados após o trauma. o objetivo é evacuar o hematoma, desbridar o
O exame físico e o quadro clínico são de difícil tecido inviável e controlar a infecção, a fim de
interpretação. Durante a avaliação, frente à reparar e preservar o testículo.
INTRODUÇÃO
Os acidentes automobilísticos são responsáveis pela maioria das fraturas da pelve, exceto para
as pessoas acima dos 60 anos de idade, onde as quedas levam à maioria das fraturas pélvicas.
As fraturas do anel pélvico estão presentes em aproximadamente 25% dos pacientes traumatiza-
dos. Os tipos principais de fraturas pélvicas são:
• Compressão anteroposterior;
• laterolateral;
• Cisalhamento vertical;
• Padrões complexos (combinados);
O anel pélvico é composto de três ossos: osso ilíaco direito, osso ilíaco esquerdo e o sacro que
são estabilizados por ligamentos fortes. O osso ilíaco é formado pelo íleo, o pube e o ísquio que
se fundem no acetábulo.
Ligamento Ligamento
sacroilíaco iliolombar
anterior
Ligamento
sacroilíaco
posterior
Ligamento
sacroespinhoso
A B Ligamento sacroespinhoso
Figura 8.1 A e B: imagens mostrando aspectos anterior e posterior da pelve, com suas estruturas ligamentares.
Esses tipos de trauma têm associação com alta morbimortalidade sobretudo devido às lesões
associadas. Daí a importância de se reconhecer o padrão de lesão à pelve porque há relação com
o mecanismo de trauma e o tratamento apropriado. O segredo é verificar se houve deslocamento
da hemipelve, facilmente visualizado no raios X de pelve, porque é isso que irá indicar a cinemá-
tica do trauma:
Compressão lateral é o mecanismo mais comum. Pode ocorrer rotação interna da hemipelve
afetada com deslocamento da hemipelve que geralmente leva à lesão de uretra associada,
podendo haver disjunção sacroilíaca associada ou não. Geralmente, essas fraturas não destroem
os ligamentos pélvicos e não “abrem” a pelve, logo, não necessitam de estabilização. Fraturas
horizontais nos ramos púbicos são características desse tipo de mecanismo e podem estar asso-
ciadas à lesão de uretra; geralmente não relacionam-se com sangramentos significativos (exceto
àquelas que lesam espinha esquiática maior e que podem lesar artéria glútea, mas é muito raro).
Suspeitar de fratura pélvica em doente chocado, sem resposta à reposição volêmica, que não
tem sinal de fratura ao exame físico.
O alargamento de sínfise púbica sugere fratura instável do anel pélvico. A fratura pélvica é
importante marcador da magnitude da lesão retroperitoneal.
I- Alargamento da sínfise púbica < 2,5 cm sem lesão pélvica posterior significativa.
II- Alargamento da sínfise púbica > 2,5 cm sem lesão pélvica posterior significativa.
III- Rotura completa da sínfise púbica e ligamentos posteriores com deslocamento da hemipelve.
I- Compressão posterior da articulação sacroilíaca sem rotura ligamentar. Fratura oblíqua do pube.
II- Rotura do ligamento sacroilíaco posterior: rotação interna da hemipelve em direção anterior à sacroilíaca
com lesão de esmagamento do sacro. Fratura oblíqua do pube.
Cisalhamento vertical
Tabela 8.2
As lesões por compressão anteroposterior (APC), causadas por forças exercidas no sentido
anteroposterior da bacia, tendem a abrir a pelve com ruptura da sínfise púbica e das arti-
culações sacroilíacas, promovendo a rotação das asas ilíacas para fora. A pelve tende a se
abrir anteriormente como se fosse um livro (open-book). Essas fraturas podem ser subdivididas
em 3 tipos, APC I, II e III.
Ao tipo APC-I, corresponde à uma lesão estável do anel pélvico, com diástase isolada da sín-
fise pubiana ou com fratura dos ramos do púbis. Corresponde a um afastamento da sínfise
< 2,5 cm e o anel posterior permanece intacto.
• A determinação do volume dos hematomas próprio coágulo aspirado do paciente para ser-
retroperitoniais pélvicos de causa traumá- vir de agente embolizante. Estas embolizações
tica sugere que volumes > 500 mL têm 45% podem agir até mesmo no plexo venoso, pois
de probabilidade de estarem relacionados passam das arteríolas para os capilares e des-
com hemorragias causadas por lesões arte- tes para a rede venosa.
riais, permitindo indicação de arteriografia
pélvica seguida de embolização. Pacientes com maior probabilidade de san-
gramento arterial:
ARTERIOGRAFIA • Compressão anteroposterior II e III e com-
pressão laterolateral II e III;
O paciente com fratura de bacia e instabilidade • Cisalhamento vertical;
hemodinâmica deve ser submetido inicial-
• Hematoma pélvico grande à TC;
mente ao FAST. Se forem positivos no paciente
instável, ele deverá ir à laparotomia. Se esses • Pseudoaneurisma pélvico à TC;
exames forem negativos, os pacientes devem • Instabilidade hemodinâmica com FAST e
ir à arteriografia e embolização mesmo que LPD negativos;
instáveis hemodinamicamente. • Mais de 4 U de concentrados de hemácias
Pacientes com hematomas retroperitone- em menos de 24 horas.
ais podem se beneficiar da arteriografia se Na maior parte dos sangramentos que se resol-
houver um componente arterial associado vem com arteriografia, os vasos que mais san-
porque, nesse caso, o procedimento é diag- gram são ramos anteriores da artéria ilíaca
nóstico e terapêutico em 11% das fraturas interna (como a obturatória) e dos ramos
pélvicas. Vinte por cento das fraturas em posteriores, a artéria glútea superior .
livro aberto e cisalhamento vertical reque-
rem embolização, enquanto que só 2% das
secundárias requer compressão lateral TRATAMENTO
desse procedimento.
Politraumatizado com
Caso o sangramento possa ser identificado lesão da pelve
possibilidade de injetar pelas hipogástricas o Figura 8.4 Algoritmo do tratamento das fraturas da pelve.
Figura 8.5 Fratura de bacia exposta e em livro aberto com ferimento complexo pelviperineal grave, com destruição e avulsão da genitália e sangramento
expressivo. Em um primeiro momento, até a fixação cirúrgica da bacia, a aplicação de talafix pelo dorso + faixas ou mesmo lençóis é útil na tentativa de
fechar a pelve em livro aberto. Levá-lo para laparotomia para realizar colostomia protetora é primordial para desviar o trânsito intestinal e evitar síndrome
de Fournier nesses pacientes.
Figura 8.7 London splint é esta faixa preta aplicada em fraturas de bacia no resgate pré-hospitalar.
morte ocorre em minutos. Nesses doentes, Hematomas da zona II: localizam-se nas
quanto mais precoce a hemostasia, melhor goteiras parietocólicas e loja renal bilateral.
será o prognóstico. Hematomas da zona III: pélvicos. Abaixo da
As três maiores fontes de sangramento são: linha horizontal que passa nas cristas ilíacas.
focos de fraturas ósseas, lesões arteriais e
lesões venosas. Admite-se que o sangramento
oriundo dos focos de fratura e das lesões veno-
sas sejam auto-limitante devido ao aumento
na pressão no espaço retroperitoneal pélvico.
Atualmente, aceita-se que em 86% dos casos a
hemorragia associada com as fraturas pélvicas
seja constituída de sangue venoso proveniente
dos focos de fratura e que em 10% dos casos o
sangramento seja de origem arterial. A lesão em
grandes veias é mais rara e ocorre em menos de
1% dos pacientes.
Figura 8.10 Na manobra de Catell, incisa-se a goteira parietocólica direita para acessar os rins e vasos do retroperitônio.Essa é a mesma manobra que faze-
mos para acessar o apêndice retroperitoneal. Nessa imagem, foi feito também manobra de Kocher de liberação do peritônio da segunda porção do duodeno
que se pode palpar pâncreas e colédoco distal.
Tronco
Celíaco
a. Mesentérica
Superior
a. Renal
Esquerda
Manobra de Mattox
Figura 8.11 Manobra de Mattox consiste na abertura da goteira parietocólica esquerda; há exposição da aorta; pode-se fazer Mattox deslocando-se o rim
e baço apenas pela incisão de reflexos peritoneais.
Figura 8.12 a manobra de Kocher, a segunda porção do duodeno é liberada de sua reflexão deperitônio e o duodeno volta a ter a mobilidade que possuía
embriologicamente.
Figura 8.13
FIGURA 8.14 Estudo NEXUS e o Protocolo Canadense para avaliação clínica da coluna cervical e decisão sobre a necessidade de avaliação radiológica da
mesma para retirada do colar. Adaptado do ATLS 10 pág 9
Figura 8.15