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Etiologia.......................................................................................... 44 Diagnóstico.................................................................................... 65
Tratamento.....................................................................................47 Vitiligo...............................................................................................70
Patogênese.....................................................................................70
Farmacodermias.......................................................................... 48
Histopatologia...............................................................................70
Síndrome de Stevens-Johnson e necrólise
epidérmica tóxica........................................................................ 48 Diagnóstico diferencial...............................................................70
Etiologia.......................................................................................... 48 Evolução..........................................................................................71
Tratamento.....................................................................................49 Tratamento.....................................................................................71
PERCEPÇÃO
PRINCIPAIS FUNÇÕES
As funções da pele envolvem mecanismos de A presença de terminações nervosas livres e
proteção, percepção, hemorregulação, termor- de corpúsculos sensitivos permite que o orga-
regulação, secreção, excreção e metabolização, nismo reconheça sensações especiais e con-
todos com o intuito maior de manter a integri- duz a um mecanismo de defesa no sentido de
dade e homeostase orgânica. sobrevivência.
Unidade
apócrina
Ducto reto
Epiderme
Terminação nervosa Glândula espiralada
de Meissner
papilar
Unidade
Derme sudorípada écrina
Ducto espiralado
reticular Ducto reto
Glândula sebácea Ducto espiralado
Músculo eretor do pelo Glândula écrina
Haste do pelo
Terminação Vasculatura
nervosa de Pacini dérmica
Tecido subcutâneo
Plexo superficial
Plexo profundo
O epitélio da pele é do tipo estratificado pavimentoso, composto por uma camada basal de justapostas, com núcleo
alongado e perpendicular à superfície. Os queratinócitos sofrem um processo de diferenciação enquanto ascendem
nas camadas da epiderme. O tempo de maturação do queratinócito basal até atingir a camada córnea é de aproxi-
madamente 26 dias. Acima da camada basal há uma camada espinhosa ou malpighiana caracterizada pela presença
de estruturas desmossomais de adesão, que conferem aspecto espinhoso à microscopia, uma camada de células
granulosas, com grânulos de querato-hialina, importantes elementos para a transformação da célula espinhosa em
corneócito, e a camada córnea com células que perdem seus núcleos e dispõem-se paralelamente à epiderme, confe-
rindo o verdadeiro limite entre o indivíduo e o meio ambiente.
Os melanócitos são célula dendríticas responsáveis pela síntese de melanina. A quantidade de melanócitos não varia
em relação às raças e as diferenças de pigmentação da pele dependem da capacidade funcional dos melanócitos, e
não de sua quantidade.
Células de Langerhans são originadas na medula óssea e funcionam como sentinelas, além de serem apresentadoras
de antígenos profissionais, participando ativamente de processos patológicos que envolvam a imunidade celular. É
uma célula dendrítica, que tem como principal marcador imuno-histoquímico o CD1a.
aparecem por baixo da derme. A derme do plexo fornece um rico suprimento de capilares,
lactente é composta por pequenos ramos de arteríolas terminais e vênulas para as papilas
colágeno que se coram em vermelho-escuro. dérmicas. O plexo horizontal mais profundo
Muitos fibroblastos estão presentes. Na derme encontra-se na interface dérmica/subcutânea
do adulto, poucos fibroblastos persistem, e os e é composto por vasos sanguíneos maiores
troncos de colágeno são espessos e se coram do que aqueles do plexo superficial. Infiltrados
em vermelho-claro. linfoides nodulares que circundam esse plexo
O principal componente da derme é o colá- inferior são típicos da morfeia inflamatória ini-
geno, uma família de proteínas fibrosas que cial. A vasculatura da derme é particularmente
compreendem pelo menos 15 tipos geneti- bem desenvolvida nos locais das estruturas
camente distintos na pele humana. O colá- anexas. Encontramos os linfáticos e nervos da
geno é a principal proteína estrutural de todo derme associados ao plexo vascular.
o corpo. Ele é encontrado nos tendões, liga- A derme é rica em nervos. Na derme, os fei-
mentos e revestimento dos ossos, bem como xes nervosos são encontrados junto às arterío-
na derme, e representa 70% do peso seco da las e vênulas como parte do feixe neurovascu-
pele. Corresponde ao principal material de lar. Na derme profunda, os nervos cursam em
resistência contra o estresse da pele. paralelo à superfície, e a presença de granulo-
As fibras elásticas contribuem minimamente mas alongados nessa região é característica de
contra a deformação e ruptura da pele, mas quadro hansênico.
são importantes na manutenção da elastici- O toque e a pressão são mediados pelos cor-
dade. “Doenças do tecido conjuntivo” é um púsculos de Meissner encontrados nas papilas
termo utilizado para designar um grupo clini- da derme, particularmente nos dedos, palmas
camente heterogêneo de doenças autoimunes, e plantas, e pelos corpúsculos de Vater-Pa-
incluindo lúpus eritematoso, esclerodermia e cini, localizados na porção mais profunda da
dermatomiosite. A esclerodermia envolve as derme de superfícies de sustentação de peso
anormalidades mais visíveis do colágeno, pois e genitália. Órgãos mucocutâneos terminais
os feixes de colágeno se tornam hialinizados e são encontrados na derme papilar da pele sem
o espaço entre os feixes de colágeno diminui. pelo modificada nas junções mucocutâneas,
O lúpus e a dermatomiosite produzem um ou seja, glande, prepúcio, clitóris, pequenos
aumento da mucina dérmica, principalmente lábios, região perianal e bordo vermelhão dos
ácido hialurônico. Já o lúpus bolhoso possui lábios. Temperatura, dor e sensação de coceira
autoanticorpos contra o colágeno do tipo VII. são transmitidas por fibras nervosas não mie-
Os defeitos na síntese do colágeno foram linizadas que terminam na derme papilar e ao
descritos em inúmeras doenças hereditárias, redor dos folículos pilosos. Os impulsos pas-
incluindo a síndrome de Ehlers-Danlos, cútis sam para o sistema nervoso central por via do
laxa ligada ao X e osteogênese imperfeita. Os gânglio da raiz dorsal. A coceira evocada pela
defeitos no tecido elástico são vistos em outro histamina é transmitida por neurônios polimo-
grupo de doenças hereditárias, como a sín- dais-C não mielinizados de condução lenta.
drome de Marfan e pseudoxantoma elástico.
As fibras adrenérgias pós-ganglionares do sis-
A vasculatura da derme consiste em dois tema nervoso autônomo regulam a vasocons-
importantes plexos intercomunicantes: o plexo trição, secreções de glândulas apócrinas e con-
subpapilar, ou rede horizontal superior, que tração dos músculos eretores dos pelos dos
contém as vênulas pós-capilares e cursa na folículos pilosos. As fibras colinérgicas fazem a
junção entre a derme papilar e a reticular. Esse mediação da secreção écrina do suor.
Certas dermatoses inflamatórias, conhecidas das doenças, quando ainda não afetadas por
como paniculites, afetam particularmente alterações secundárias produzidas pelo pru-
esse nível da pele, produzindo nódulos sub- rido ou por infecção secundária, que podem
cutâneos. O padrão da inflamação, especifi- dificultar e alterar elementos clínicos que per-
camente se ela afeta os septos ou a gordura mitam o diagnóstico dermatológico.
propriamente dita, serve para a distinção das É na biópsia de lesões elementares recentes que
várias condições que clinicamente podem se estão as chaves histopatológicas para o diag-
assemelhar. A inflamação na paniculite sep- nóstico definitivo das doenças que apresentam
tal irá se derramar sobre o lóbulo de gordura, diagnósticos clínicos diferenciais entre si.
mas o lóbulo permanece intacto. Na paniculite
lobular, o lóbulo se torna necrótico. O lóbulo MÁCULA OU MANCHA
necrótico geralmente é visível como pequenos
e grandes agregados arredondados de gordura Área plana (sem relevo ou depressão), com
coalescente. Quando as membranas necróti- tamanho ou forma variáveis, bordas geral-
cas do lipócito se calcificam (como na panicu- mente nítidas, e com cor alterada em relação à
lite pancreática), a gordura não pode coalescer pele que circunda a lesão. Por exemplo: mácula
em maiores agregados. Esse fato também é hipocrômica, se há tonalidade mais clara que a
verdadeiro quando o lipídio intracelular se cris- pele normal; mácula eritematosa, se há tonali-
taliza (como no esclerema neonatal, necrose dade avermelhada, comparando-a com a pele
do tecido subcutâneo do neonato ou necrose ao redor. O tamanho também pode ser indica-
esteroide da gordura). tivo de algumas doenças: em casos de mácula
pequena (<1 cm), é sugestivo de efélides e
nevos; em máculas grandes (>1cm), é sugestivo
LESÕES ELEMENTARES de vitiligo ou mancha por café com leite.
VEGETAÇÃO
URTICA
Lesão sólida, pedunculada ou com aspecto de
Lesão elevada e achatada, de limites bem defi-
couve-flor, que sangra facilmente por papilo-
nidos, transitória, causada por edema locali-
matose e acantose.
zado da derme. É comumente encontrada em
GOMA reações alérgicas (por exemplo, por picadas de
inseto, por drogas, por sensibilidade ao frio,
Nódulo que se liquefaz na porção central e que calor, pressão ou luz solar e nas urticárias físi-
pode ulcerar, eliminando material necrótico. cas ou idiopáticas).
VESÍCULA TELANGIECTASIAS
Lesão elevada e circunscrita, com diâme- Vasos sanguíneos dérmicos superficiais dilata-
tro menor do que 1 cm e conteúdo líquido, dos (capilares da derme papilar). As teleangiec-
podendo ser citrino, hemorrágico ou puru- tasias podem ser eventualmente avistadas em
lento, a depender do nível de clivagem da pele casos de rosácea, de algumas doenças sistêmi-
e da presença de infecção secundária. cas (ataxia-teleangiectasia, esclerodermia), ou
podem ser resultantes de tratamento tópico
BOLHA prolongado com corticosteroides fluorados,
mas, na maioria das vezes, são de etiologia
Lesão elevada de conteúdo líquido com diâ- desconhecida.
metro maior que 1 cm. As vesículas e bolhas
são comumente causadas por irritantes pri- LESÕES SECUNDÁRIAS
mários, dermatite de contato alérgica, trau-
mas, queimadura solar, picadas de insetos ou As lesões secundárias resultam da evolução
infecções viróticas (herpes simples, varicela, natural da lesão primária (por exemplo, uma
herpes-zóster). Outras causas incluem rea- bolha se rompe, formando uma área exulce-
ções por drogas e doenças bolhosas autoimu- rada) ou de manipulação da lesão primária pelo
nes (como pênfigos ou penfigoides) ou as paciente (por exemplo, coçadura de bolhas ou
genodermatoses bolhosas. vesículas, deixando uma área exulcerada).
PÚSTULA ESCAMAS
Lesão circunscrita, superficial e elevada, de con- Massa furfurácea, micácea ou foliácea, que se
teúdo purulento. As pústulas podem resultar da desprende da superfície cutânea, por alteração
da queratinização. As escamas estão presen- que ocorre no nível dérmico representado por
tes nos casos de psoríase, dermatite sebor- uma dificuldade de pregueamento da pele,
reica, infecções fúngicas superficiais, pitiríase como ocorre na esclerodermia. Podem estar
versicolor, pitiríase rósea e eczemas crônicos juntas (atrofia e esclerose) ou separadas.
de qualquer tipo.
CICATRIZ
CROSTAS
Resultado da cura após destruição parcial da
Soro, sangue ou pus ressecado. As crostas derme. Algumas cicatrizes, assim como as
podem ser encontradas em um grande número úlceras, podem ter sua etiologia facilmente
de doenças inflamatórias e infecciosas. identificável (leishmaniose), enquanto outras
se apresentam como formas evolutivas de
EROSÃO alguma dermatose, a exemplo do lúpus erite-
matoso discoide.
Perda parcial somente da epiderme. As erosões,
em geral, são encontradas em infecções por DISPOSIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DAS
vírus, como nos quadros de herpes e pênfigo.
LESÕES
ÚLCERA Alguns tipos de doenças cutâneas apresen-
tam padrões característicos de disposição das
Perda total da epiderme e, pelo menos, parcial
lesões. O agrupamento e a configuração linear
da derme. As úlceras decorrentes de trauma
de vesículas tensas encontrados nos casos de
físico ou de infecções bacterianas, em geral,
herpes simples e de herpes-zóster orientam o
têm etiologia facilmente identificável. As úlceras
diagnóstico para essas doenças.
com causas menos óbvias incluem as úlceras
crônicas bacterianas ou fúngicas, úlceras factí- A tendência a formar anéis (lesões anulares) é
cias, úlceras por afecções vasculares ou neuro- típica de granuloma anular, eritema polimorfo,
lógicas, esclerodermia sistêmica e neoplasias. infecções por dermatófitos e sífilis secundária.
A linearidade de lesões pode ser encontrada
LIQUENIFICAÇÃO no nevo epidérmico, na esclerodermia linear
e na dermatite de contato. O fenômeno de
Pele espessada com acentuação de seus sulcos Koebner, ou reação isomórfica, aparece na
naturais. Pode ser primária do processo cutâ- psoríase, no líquen plano, no vitiligo e nas ver-
neo patológico ou representar resposta da pele rugas planas, reproduzindo as lesões em locais
ao trauma da coçadura compulsiva. A liquenifi- de trauma da pele.
cação associa-se aos quadros de eczema, como
A distribuição das lesões dá indícios preciosos
na dermatite atópica crônica, de líquen simples
para o diagnóstico, a ponto de alguns derma-
crônico (neurodermite) e líquen plano.
tologistas estudarem as dermatoses de modo
ATROFIA a caracterizá-las como parte do que se inti-
tula Dermatologia Topográfica. A psoríase, por
Pele adelgaçada e enrugada. A atrofia pode ser exemplo, em geral acomete áreas de extensão
encontrada nas pessoas de idade avançada, no como joelhos, cotovelos, região lombar e couro
lúpus eritematoso discoide e após uso tópico cabeludo, mas pode acometer áreas de flexão,
de corticosteroides fluorados por tempo pro- as plantas e as palmas, ou mesmo a glande.
longado. A esclerose compreende um processo Alguns padrões típicos de distribuição são:
Placa de
urticária
Placa
Pápula Tumor
Nódulo
Vesícula A
Pústula
Bolha
Figura 1.9 – Representação de lesões vesiculares, bulhosas e pustulares.
São doenças ocasionadas por microrganismos A erisipela apresenta um quadro agudo, possui
patogênicos, como bactérias, fungos, vírus evolução entre 1-2 dias, com picos dos níveis
e protozoários. Esse grande grupo divide-se térmicos (39-400C) associados à presença de
entre doenças que, direta ou indiretamente, placas eritematosas de alta sensibilidade
se disseminam de uma pessoa para outra e as que se estendem rapidamente para vasos lin-
fáticos, resultando em linfangite, linfadenite e
que não fazem isso.
septicemia. À medida que o quadro se agrava,
podem surgir lesões bolhosas e até chegar à
necrose do tegumento.
DOENÇAS BACTERIANAS
A celulite é uma infecção subaguda mais pro-
Bactérias são organismos unicelulares e proca-
funda, que acomete a derme e a hipoderme.
riontes. Vivem em colônias presentes por toda
Há edema e eritema, com discreto aumento
a parte, além de possuírem vasto número de
local da temperatura. Em geral não há sinto-
agentes patogênicos. Neste capítulo, elenca- mas sistêmicos associados, exceto adenite.
remos as doenças que representam as classes
O diagnóstico é clínico, e o ágil atendimento
aguda e crônica de infecções bacterianas e que
é de extrema importância. Recomenda-se
têm alto valor para a dermatologia.
o uso de antibióticos orais quando diagnos-
ticado no início da infecção, como penicilina,
ERISIPELA E CELULITE procaína ou cristalina e penicilina intramuscu-
lar em casos mais avançados.
É uma infecção bacteriana não contagiosa cau-
sada frequentemente por Streptococcus β-he-
IMPETIGO
molítico do grupo A e mais raramente por Hae-
mophilus influenzae tipo B e Staphylococcus O impetigo é causado por estafilococos plas-
aureus. O agente penetra na pele através de mocoagulase positivos e estreptococos hemo-
um trauma ou, em alguns casos, por infecção líticos. Pode apresentar-se na forma bolhosa
secundária a uma micose já estabelecida. Pode ou vesicocrostosa (impetigo não bolhoso). Tra-
acometer pessoas de qualquer idade, mas é ta-se de infecção contagiosa mais comum em
mais comum em diabéticos, obesos e em por- crianças. A lesão cutânea característica é uma
tadores de deficiência da circulação das veias vesicopápula ou bolha purulenta superficial
dos membros inferiores. que logo desseca e há o surgimento das crostas
as lesões não deixam cicatrizes. As localizações dias) ou famciclovir (125 mg, duas vezes ao dia
mais frequentes são os lábios e a região geni- por 5 dias). Nos pacientes imunossuprimidos,
tal, mas o herpes pode aparecer em qualquer as doses indicadas são as mesmas, porém o
lugar da pele. tratamento é estendido em função da gravi-
dade do quadro (7 dias). Quadros graves em
A latência viral se dá nos gânglios sensitivos da
imunossuprimidos podem ser tratados com
raiz dorsal dos nervos periféricos sacrais (no
aciclovir venoso na dose de 10 mg por kg de 8
caso do HSV-2) e nos gânglios trigeminais para
em 8 horas.
o HSV-1.
Recentemente, iniciaram-se testes para o
• Primoinfecção: sintomática (1% a 10%) ou
desenvolvimento de vacinas para o HSV-2,
assintomática (90% a 99%);
com resultados iniciais satisfatórios, por meio
• Herpes recidivante: sintomático ou assin- de técnicas de engenharia genética utilizando
tomático (portador crônico – 75% a 90% pool de receptores de superfície do HSV, como
da população). as glicoproteínas B, C e D.
Imunodeprimidos podem apresentar lesões
persistentes, formando grandes ulcerações e, HERPES-ZÓSTER
mais raramente, lesões verrucosas, fazendo
diagnóstico diferencial com lesões cutâneas do É uma erupção vesicobolhosa produzida pelo
Citomegalovírus (CMV). Herpesvírus varicellae (VZV), benigna e autoli-
mitada, que ocorre preferencialmente após a
O herpes simples pode associar-se aos qua-
quinta década, em adultos que já tiveram
dros de eritema polimorfo (ver eritema poli-
varicela. O vírus, que estava latente nos gân-
morfo), principalmente no hemisfério Norte,
glios, invade os nervos cutâneos correspon-
configurando o eritema polimorfo herpético.
dentes, levando à formação de lesões na pele,
em geral unilaterais, respeitando o dermátomo
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
correspondente a sua inervação, sem ultrapas-
sar a linha média.
O diagnóstico do herpes simples é eminen-
temente clínico e, em caso de dúvida, pode- O herpes-zóster é uma doença autolimitada,
-se empregar o método de Tzank (citologia de tendo um ciclo evolutivo de cerca de 15 dias,
imprint da lesão sem seu teto, com visualiza- exceto em imunodeprimidos, nos quais pode
ção de inclusões virais após coloração com o ter evolução mais protraída e com lesões mais
Giemsa ou Leishmann). extensas e necróticas. Antes do surgimento
das lesões na pele, ocorrem sintomas doloro-
O tratamento consiste em higiene das lesões
sos ou parestésicos locais, devido à inflamação
com água e sabão. O tratamento sistêmico
do nervo, podendo simular quadros de infarto
com drogas específicas está indicado na pri-
agudo do miocárdio (IAM) ou até pancreatite,
moinfecção na dose de 200 mg a 400 mg de
dependendo da topografia. As vesículas sur-
aciclovir, cinco vezes ao dia ao longo de 5 dias;
gem sobre a base eritematosa, agrupadas
pode ser indicado para casos extremamente
em um padrão herpetiforme e com evolução
recidivantes, entretanto seu uso como tera-
para eventuais pústulas e algumas lesões
pêutica específica é questionável na literatura.
necróticas. Deve-se lembrar que as pústu-
Atualmente, também podem ser usados o las fazem parte da evolução natural do her-
valaciclovir (500 mg, duas vezes ao dia por 5 pes-zóster e não traduzem necessariamente
infecção secundária. No decorrer da doença, pelo HIV; nesses casos, pode ser mais exube-
os sintomas dolorosos podem se agravar, tor- rante e multidermatomal.
nando-se muitas vezes insuportáveis. A dor O uso de antivirais sistêmicos deve ser ini-
melhora gradativamente, mas, especialmente ciado prontamente, visando impedir a ocor-
em idosos, pode permanecer por meses ou rência da neuralgia pós-herpética. As lesões
anos após o final do quadro cutâneo, caracteri- da pele têm involução espontânea, mas medi-
zando a neurite pós-herpética. das para evitar a infecção secundária devem
ser tomadas, como o uso de banhos de per-
Os nervos mais frequentemente atingidos,
manganato de potássio e cremes antibióti-
pela ordem decrescente, são: intercostais
cos. Aciclovir (800 mg cinco vezes ao dia por
(50%), trigêmio (15%) e cervical, lombar e lom-
7 dias); valaciclovir (1 g, três vezes ao dia por
bossacro. O acometimento da ponta nasal por
7 dias) ou famciclovir (500 mg, duas vezes ao
lesões de herpes-zóster é preditivo de lesão de
dia por 7 dias) são as drogas utilizadas. Esta-
córnea associada. Vertigem e surdez podem
tisticamente, o valaciclovir é o antiviral que
acompanhar quadros cutâneos que acometam
mais se associou a um efeito protetor à neurite
o conduto auditivo externo. A síndrome de
pós-herpética. Há autores que preconizam a
Hansey-Hunt caracteriza-se por envolvimento associação de prednisona (0,5 mg/kg/dia) nas
ipsilateral do nervo facial e auditivo, paralisia primeiras 48 horas do quadro, para redução da
de Bell, lesões em conduto auditivo externo e chance de neurite.
tímpano, surdez, tinido e vertigem.
Deve-se lembrar que a epidemiologia desta
Pode se apresentar como manifestação cutâ- enfermidade deve se transformar após a
nea indicadora de neoplasia, especialmente recente introdução da vacina antivaricela em
um linfoma de Hodgkin e na imunodeficiência nosso meio.
Figura 2.1 – Herpes-zóster intercostal (A); Herpes-zoster facial (B) Colocar letra “B” na segunda imagem
VERRUGA VULGAR
É o tipo de verruga mais comum, geralmente
causada por HPV 1 e 4; as lesões são verru-
cosas, endurecidas, de superfície áspera e
coloração esbranquiçada. Algumas apre-
sentam pontilhado escuro, que corresponde
aos capilares dérmicos trombosados, sendo
elemento diagnóstico importante, espe-
cialmente no diferencial de verruga vulgar Figura 2.3 – Verruga filiforme.
e calosidades. Isoladas ou coalescentes,
podem variar de milímetros a centímetros VERRUGA PLANA
de diâmetro. As áreas mais atingidas são as
extremidades dos membros, sendo muito fre- Geralmente causadas pelos HPV 3 e 10. As
quentes nas mãos, cotovelos e joelhos. Quando lesões são pequenas, de superfície plana e
atingem os cantos das unhas, recebem a deno- em grande número. As regiões mais atingidas
minação de verrugas periungueais, mais fre- são a face e o dorso das mãos. Mais frequentes
quentes nas crianças, e podem levar à distrofia em adolescentes.
da matriz, com deformidade da unha.
crescem para dentro da pele e podem ser con- recorrência varia de 39% a 70%, dependendo
fundidas com calosidades. Quando curetadas, do método de tratamento adotado. Todos
mostram uma superfície irregular e pontos buscam promover uma resposta inflamató-
escuros no seu interior. São dolorosas e mui- ria, que garanta resposta imune específica
tas vezes dificultam a marcha normal. Se com- ao vírus através de citocinas.
paradas às calosidades, são mais dolorosas à
Descrevem-se como técnicas possíveis:
pressão lateral, enquanto que a calosidade apre-
senta-se mais dolorosa à pressão vertical. • Podofilina: para lesões mucosas, fun-
ciona como fator irritativo local (aplica-
-se na lesão, com remoção após 4 horas),
sendo formalmente contraindicado na
gestação pelo seu efeito antimitótico, que
pode ocasionar abortamento, prematuri-
dade ou morte fetal. A aplicação só pode
ser feita por profissional médico;
• Podofilotoxina: com efeito menos irrita-
tivo, podendo ser aplicado pelo próprio
paciente duas vezes ao dia por 3 dias na
semana durante 4 semanas;
• Imiquimode: antimitótico tópico com
Figura 2.4 – Verruga plantar.
segurança na gravidez não estabelecida e
aplicação três vezes por semana durante
CONDILOMA ACUMINADO
16 semanas. É altamente custoso;
Na região genital ou perianal, geralmente cau- • ATA (ácido tricloroacético): em concen-
sadas pelos HPV 6 e 11. A transmissão venérea trações de 30% a 70% com aplicações a
está bem estabelecida, assim como a associa- cada 7 dias, podendo ser utilizado na gra-
ção destes HPVs com transformação epitelial videz;
maligna, sobretudo em colo de útero em lesões
• Nitrogênio líquido (crioterapia): des-
prolongadas (principalmente subtipos 16 e 18,
truição das lesões por congelamento, sem
associados ao alto risco de neoplasia maligna).
contraindicação na gravidez e com índice
O condiloma acuminado gigante de Buschke-Lo-
de clareamento elevado (até 80%).
wenstein é lesão exofítica proliferativa que,
apesar da clínica exuberante, é determinado
por HPV de baixo risco neoplásico. Lesões em
MOLUSCO CONTAGIOSO
mucosa uretral e vaginal ocorrem, mas a loca-
Trata-se de dermatose produzida por vírus
lização mais comum no homem é no frênulo
do grupo Poxvírus, a qual determina lesões
peniano. Na gravidez, elas tendem a aumentar
papulosas pequenas e translúcidas (brilhan-
de tamanho pelo estímulo hormonal.
tes) com característica própria de umbilica-
ção central. Por ser lesão viral, é autoinoculável
TRATAMENTO
e, por isso, observamos infecções tão disse-
O tratamento das verrugas pode ser feito por minadas em crianças – localizadas frequente-
meio de diferentes modalidades. O índice de mente no tronco, nas axilas e nas genitais.
extensas podem sugerir diminuição da imuni- lateral e progressão para a matriz; existem
dade celular, como no HIV positivo. quadros de características clínicas e evolução
Nos pés, podemos ter quadros causados pelo diferentes, porém menos importantes para
T. rubrum (antropofílico) e pelo T. mentagro- nós no momento.
phytes (variante mentagrophites – zoofílico – e
Caracteristicamente, causam descolamento
variante interdigitalis – antropofílico). O rubrum da lâmina ungueal do leito (onicólise), espes-
e o mentagrophytes causam lesões na região samento da unha com presença de material
plantar, descamativas e pruriginosas, predo- sob a lâmina (hiperceratose subungueal) e
opalescência da lâmina.
minantemente no cavo plantar. O mentagro-
phytes variante interdigitalis causa a derma- A prevalência das onicomicoses em adultos
tofitose interdigital, o chamado “pé de atleta”. aumenta com a idade, sendo o tratamento
É importante destacar o tipo de lesão dermato- também mais demorado e difícil, já que o fungo
lógica causada por hipersensibilidade à dis- passa a viver em equilíbrio com o hospedeiro.
tância de foco infeccioso fúngico denominado O tratamento varia de acordo com a extensão
dermatofítide, ou simplesmente “ide”. Ocorre do comprometimento da lâmina. Se menor do
predominantemente nas mãos, com lesões que 50%, existe a possibilidade de melhora
vesiculosas palmares, também pruriginosas, com esmaltes. No caso de quadros com com-
mas sem a presença do fungo ao exame mico-
prometimento maior do que 50% da lâmina
lógico. É um processo de hipersensibilidade que
(mesmo que longitudinalmente, com uma
pode ser resolvido com o tratamento do foco fún-
estreita faixa próxima à borda lateral), o trata-
gico à distância. Se o prurido for intenso, pode-
-se utilizar cremes de corticoides, desde que mento sistêmico é imperativo.
se tenha afastado a possibilidade de fungo no O uso dos antifúngicos é mantido por um
local com exame micológico direto de raspado longo período (6 a 9 meses, tempo de cres-
da lesão negativo, já que os corticoides acabam cimento da unha), a depender da melhora
facilitando o crescimento fúngico por efeito de
clínica. Controle de função hepática e de
imunossupressão local e pelo fato de o veículo
transaminases é obrigatório. O isolamento
utilizado nas preparações servir, muitas vezes,
do fungo com exame micológico de mate-
de alimento para os micro-organismos.
rial subungueal e cultura é necessário para
O diagnóstico é feito pelo exame direto, de raspado da o início do tratamento, uma vez que existem
lesão e pela cultura para fungos deste material
outras doenças dermatológicas não infeccio-
O tratamento é feito com antifúngicos tópi- sas que podem causar comprometimento
cos (cetoconazol, flutrimazol, terbinafina, ungueal semelhante.
oxiconazol, ciclopiroxolamina) nas lesões
do corpo, exceto na Tínea cruris, que pode
ESQUEMAS PARA TRATAMENTO DAS
necessitar de tratamento sistêmico (cetocona- ONICOMICOSES
zol 200 mg ao dia por 20 a 30 dias). A tínea do
couro cabeludo de crianças já requer uso de • Terbinafina 250 mg ao dia por 16 sema-
medicação sistêmica, sendo a griseofulvina 15 nas;
mg/kg/dia a droga de escolha que, por sua vez,
• Itraconazol 200 mg duas vezes ao dia
é manipulada em xarope por 45 dias.
por 1 semana, permanecendo as outras
3 semanas do mês sem utilizar a medica-
ONICOMICOSE CLÁSSICA
ção (um pulso) e repetindo o esquema de
Denomina-se onicomicose clássica aquela com pulso por 4 ou 5 meses;
comprometimento da borda ungueal distal ou • Fluconazol 150 mg por semana.
MICOSES PROFUNDAS
CROMOBLASTOMICOSE
As micoses profundas são doenças nas quais o
fungo acomete inicialmente o tecido cutâneo e Infecção fúngica da pele e tecido subcutâ-
subcutâneo. Geralmente erradiam para outros neo causada por várias espécies de fungos
tecidos. melanizados, dentre os quais se destacam
a Fonsecaea pedrosoi (a mais frequente no
ESPOROTRICOSE Brasil), Fonsecaea compacta, Rhinocladiella
acquaspersa e Cladophialophora ajeloi. A
Produzida pelo fungo dimórfico Sporothrix inoculação também é traumática, frequen-
schenckii, que se comporta, como todos os temente em membros inferiores, com lesões
dimórficos, como levedura a 37 graus e como que podem se apresentar como nodular,
fungo filamentoso em temperatura ambiente. tumoral, verrucosas (ou vegetantes) ou
face ou nos membros e pode até involuir colagenoses, leishmaniose anérgica, micose de
espontaneamente. Jorge Lobo, xantomatose e farmacodermias.
A B C D
Figura 2.7 – Hanseníase indeterminada (A); Tuberculoide (B); Dimorfa (C) e Virchowiana (D), esta com madarose e infiltração do tegumento.
A infiltração bacilar das vias aéreas superiores a reversão da queda da imunidade, os resul-
pode levar à obstrução nasal refratária, redu- tados podem ser catastróficos e com grandes
ção da irrigação do pericôndrio com perfura- danos aos troncos nervosos.
ção do septo nasal e desabamento das pirâmi-
des com destruição dos cornetos. A infiltração REAÇÕES DO TIPO 2 (ERITEMA NODOSO
nasal pode levar à dificuldade de drenagem HANSÊNICO)
lacrimal e dacriocistite. O lacrimejamento tam-
O eritema nodoso hansênico (ENL) ocorre em
bém pode ser reduzido, por infiltração glandu-
lar, mas também, como efeito colateral do uso metade dos pacientes com hanseníase border-
da clofazimina. Episódios reacionais podem line virchowiana (BV) ou hanseníase virchowiana
levar às uveítes e iridociclites. (V), 90% das vezes alguns anos depois da ins-
tituição do tratamento com antimicrobianos
Dentre as vísceras mais acometidas pelos baci- para hanseníase ou durante a gravidez. O ENL
los estão os testículos e a região supragló- é uma doença mediada por imunocomplexos
tica da laringe. circulantes, formando-se a maioria dos com-
A gravidez causa piora das lesões, com ten- plexos em locais de pesada carga bacteriana.
dência à evolução ao polo virchowiano. Isso Assim sendo, diferentemente das reações do
ocorre por depleção da imunidade celular tipo 1, pode resultar em acometimento de múl-
determinada pela alta concentração de estró- tiplos sistemas e, geralmente, é acompanhado
geno. Episódios reacionais também são mais por sintomas sistêmicos (febre, mialgias, artral-
frequentes na gestação. No pós-parto, com gias, anorexia).
As lesões de pele são caracteristicamente nódulos sub- secundários à dapsona, como hemólise por
cutâneos e dérmicos eritematosos amplamente dis- deficiência G6PD ou farmacodermias gra-
tribuídos e lesões de pele graves podem ulcerar. Dife- ves como a síndrome DRESS, pode-se trocar
rentemente do eritema nodoso clássico, as lesões são
generalizadas e favorecem as superfícies extensoras do por clofazimina nos paucibacilares, ou ofloxa-
membro superior e a parte medial das coxas. cina nos multibacilares. A clofazimina pode ser
substituída pela ofloxacina ou pela minociclina.
O ENL é uma doença multissistêmica e pode
produzir conjuntivite, neurite, queratite, irite, A internação compulsória por hanseníase nos
sinovite, nefrite, hepatoesplenomegalia, sanatórios de antigamente, dentre os quais se
orquite e linfadenopatia. A intensidade da rea- destaca o do Complexo Hospitalar Padre Bento
ção pode variar de leve a intensa e durar de de Guarulhos, não faz sentido na atualidade, em
alguns dias a semanas, meses ou até anos. His- função da consciência de que, após a primeira
tologicamente, o ENL demonstra vasculite leu- dose supervisionada de rifampicina, 99% dos
cocitoclástica. Talidomida é a droga de escolha bacilos já não mais se encontram viáveis.
para o ENL. Drogas alternativas: pentoxifilina
Esquemas de tratamento para Hanseníase
e prednisona.
Classificação
Paucibacilar: 6 Multibacilar:
TRATAMENTOS PARA Medicamentos
meses 12 meses
HANSENÍASE 600 mg/mês: 600 mg/mês:
Rifampicina dose única dose única
A Organização Mundial de Saúde (OMS) esta- supervisionada supervisionada
beleceu protocolos de tratamento com a deno- Dapsona 100 mg/dia 100 mg/dia
Culex, Aedes e Anopheles. Os vermes adultos são intracelular Wolbachia. Isso leva à esteriliza-
semelhantes aos fios, cilíndricos e de cor branca ção a longo prazo dos vermes fêmeas adultos,
cremosa. As fêmeas têm um comprimento de e está sendo estudado para determinar seu
4 a 10 cm. Os embriões microfilariais podem lugar no tratamento tanto da filaríase bancrof-
ser vistos espiralados, cada um em sua própria tiana quanto da oncocercose.
membrana, próximo à ponta posterior. As micro-
Um esforço mundial para eliminar essa doença
filárias totalmente crescidas e embainhadas têm
está em andamento. Têm sido arquitetadas
comprimento de 130 a 320 µm.
operações cirúrgicas para remover o tecido
Os vermes adultos vivem no sistema linfático, subcutâneo edematoso do escroto e da mama.
onde produzem microfilárias. Elas permane- As medidas profiláticas consistem no controle
cem nos vasos linfáticos ou entram na circula- apropriado do mosquito. A dietilcarbamazina
ção sanguínea periférica. É necessário um hos- tem sido eficaz na profilaxia em massa, e, se
pedeiro intermediário para o desenvolvimento uma viagem de mais de 1 mês for planejada
subsequente do parasita. para áreas endêmicas em W. bancrofti e se
for provável grande exposição aos mosquitos,
É importante compreender que a infestação
recomenda-se tomar 500 mg/dia por 2 dias a
pela filária é quase sempre assintomática, e
cada mês.
que a elefantíase só ocorre, habitualmente, se
centenas de milhares de picadas de mosquitos
ocorrerem no período de anos, com episódios
de linfangite estreptocócica intercorrentes. A ESCABIOSE (SARNA): ETIOLOGIA E
filaríase foi endêmica por meio século na popu- INCIDÊNCIA
lação samoana do Havaí, e apenas um caso de A escabiose é causada pelo ácaro Sarcoptes
elefantíase ocorreu neste grupo. scabiei var. hominis. A fêmea, após período de
A busca pelas microfilárias deve ser feita em incubação de até 4 semanas, carregada de ovos,
lamínulas frescas de sangue (colhidas à noite), penetra na camada córnea da pele, formando
urina ou outro fluido corporal e examinadas túneis e, então, deposita seus ovos ao longo do
com lente objetiva de baixa potência. Os ver- trajeto. As larvas nascem em poucos dias e se
mes adultos calcificados podem ser demons- agregam ao redor de folículos pilosos. Acredita-
trados no exame de raios X, e a ultrassono- -se que as lesões sejam decorrentes de hiper-
grafia pode detectar os vermes adultos. Às sensibilidade aos parasitas. O macho morre
vezes, as filárias adultas são encontradas nos após a cópula. O ciclo vital da fêmea é de 15 a 30
abscessos ou no material colhido para exame dias, durante o qual elimina 40 a 50 ovos.
patológico. Estão disponíveis testes sorológi-
A escabiose é transmitida com muita facili-
cos específicos e card test simples para antí-
dade, sendo comum encontrar toda uma famí-
geno filariano. O prognóstico, no que diz res-
lia acometida. O contágio se faz de pessoa a
peito à vida, é bom, mas viver pode tornar-se
pessoa (por exemplo, quando se dorme junto
difícil de suportar, a não ser que a condição
ou por meio de roupas pessoais ou de cama).
seja aliviada.
Como o ácaro não sobrevive por muito tempo
A dietilcarbamazina em doses crescentes fora do corpo humano, não é necessário o uso
por um período de 14 dias é o tratamento de medidas profiláticas extremas no trata-
preferido. Este regime remove as microfilá- mento da escabiose, tais como a dedetização.
rias, mas não os vermes adultos. Uma dose A simples lavagem em máquina de lavar de
única de ivermectina também pode ser efi- toda a roupa da pessoa infestada, assim como
caz. A doxiciclina mata a bactéria simbiótica sua roupa de cama e toalhas, é suficiente.
Importante ressaltar que o agente não é trans- órgão, doença enxerto versus hospedeiro, leu-
mitido por animais. cemia adulta de célula T, hanseníase ou AIDS.
Nesses pacientes, a infestação assume uma
QUADRO CLÍNICO DIAGNÓSTICO aparência altamente escamosa e crostosa. As
crostas e as escamas proliferam com os ácaros
O prurido é muito intenso, principalmente em e há envolvimento da face e, especialmente, do
período noturno (o calor do leito facilita a pro- couro cabeludo. O prurido pode ser ligeiro. A
gressão do parasita). A lesão inicial caracte- descamação similar à psoríase é observada em
rística é o túnel, que aparece como linha volta e sob as unhas. As pontas dos dedos das
escura, tortuosa, de poucos milímetros a 1 mãos ficam intumescidas e crostosas; as unhas
cm de comprimento, com pequena pápula ficam distorcidas. A fissuração e a escamação
na porção terminal – iminência acarina. As intensas da genitália e das nádegas podem
lesões inflamatórias são encontradas predo- estar presentes. As áreas que sofrem pressão
minantemente nos interdígitos das mãos, na são os sítios de predileção das lesões querató-
superfície flexora dos punhos e dos cotovelos, ticas espessas, nas quais os ácaros podem ser
pregas axilares, auréola mamária em mulheres abundantes.
e genitais nos homens, ao longo da cintura e
nas nádegas. A face, em geral, é poupada nos
adultos, mas pode estar acometida em crian-
ças. Pacientes apresentando alterações neuro-
lógicas ou alguma forma de imunodeficiência
podem apresentar descamação não prurigi-
nosa por infecção por miríades de ácaros (prin-
cipalmente nas palmas e plantas). O achado de
túneis pode ser dificultado pelas escoriações e
por lesões secundárias, como urticária, líquen
Figura 2.10- Sarna norueguesa palmar de indivíduo adulto.
simples crônico, eczema, infecções bacterianas
etc. Quanto mais antigo for o quadro, mais difí-
cil será o achado da lesão primária. O diagnós-
tico é confirmado por meio da demonstração
do ácaro em raspado de lesão (túnel). O exame
direto da lesão (raspado) pode ser feito com
qualquer solução transparente (por exemplo,
óleo mineral, hidróxido de potássio ou mesmo
água). Na bolsa escrotal, as lesões podem
adquirir aspecto nodular e responder apenas à
Figura 2.11 – Sarna norueguesa plantar infantil.
infiltração com corticoide ou talidomida.
benzila a 25% na forma de creme ou de loção, O prurido “de memória” pode ocorrer até
em todas as áreas afetadas (exceto na cabeça) 20-30 dias após o tratamento, sem lesões de
eram as drogas mais utilizadas. Tanto o lindano atividade da escabiose.
quanto o benzoato de benzila podem causar
irritação e o lindano foi proscrito por casos de O tratamento sistêmico é feito com tiaben-
neurotoxicidade. Para crianças menores de 2 dazol na dose de 50 mg/kg por dia, com dose
anos de idade, gestantes e lactentes, usa-se a máxima de 3 g/dia por 10 dias e Ivermectina
pomada de enxofre precipitado, com concen- na dose de 6 mg a cada 30 kg de peso, dose
tração variando de 5% a 10%, que não possui única, repetindo-se após 1 a 2 semanas. Assim,
absorção sistêmica. A permetrina é uma droga um paciente com 60 quilos deve tomar dois
mais segura que o lindano. É empregada sob a
comprimidos de 6 mg, um de 75 quilos, dois
forma de creme ou de loção a 5%, sem o risco
comprimidos e meio e assim por diante. Não
de irritação da deltametrina, que é um pire-
prescrever para menores de 12 anos de idade.
troide natural, ao contrário da permetrina, que
é um piretroide sintético atóxico. Todos os contatos (família), adultos ou crian-
O enxofre precipitado a 5% em vaselina ou a ças, devem ser tratados simultaneamente.
pasta-d’água é menos irritante do que os pre- Em geral, um tratamento é suficiente para
parados com enxofre mais concentrados (10%
erradicar o parasita, mas havendo reinfecção
a 21%), sendo recomendado principalmente
é necessário tratar de novo. Quando o prurido
em crianças com escabiose eczematizada.
Recomenda-se o tratamento por 3 dias sendo persistir mesmo após o término do tratamento,
repetido depois de 7 a 10 dias. Cuidado com pode-se usar pomada de corticoide fluorado a
a eventual eczematização das lesões, determi- 0,1% duas vezes/dia, até o desaparecimento
nada pelo potencial irritativo do tratamento. dos sintomas (1 a 2 semanas).
Neste capítulo, abordaremos as doenças de pele (International Study of Allergy and Asthma in
de maior acometimento na população em geral. Childhood).
Lembre-se de que a apresentação clínica das A ocorrência familiar é de até 70%. O antece-
lesões é de extrema importância, então faremos dente familiar positivo para dermatite atópica
importantes apontamentos sobre as doenças e da mãe está mais relacionado à dermatite ató-
como diferenciá-las entre si. Vamos lá! pica da criança do que o antecedente positivo
do pai. O atópico, além da dermatite, pode apre-
sentar asma ou rinite alérgica. São caracterís-
DERMATOSES ECZEMATOSAS ticas na criança atópica a labilidade emocional,
Os eczemas são caracterizados por lesões a hiperatividade, a insegurança, a agressividade
reprimida e a inteligência superior à média.
nas quais predominam o eritema, o edema, a
vesiculação, a presença de crostas e a desca-
mação. O prurido nunca falta e com a croni- IMUNOLOGIA DA DERMATITE
cidade do processo aparece outro elemento ATÓPICA
característico, que é a liquenificação. O eczema
Há aumento de IgE sérica em 80% dos pacien-
agudo é marcado pelo eritema, edema e vesi-
tes de DA (a concentração de IgE no sangue do
culação, o subagudo pelas escamas e crostas e
cordão umbilical é fator preditivo para o desen-
o crônico pela liquenificação. O eczema de con-
volvimento da dermatite atópica), cujos títulos
tato é mais prevalente do que o ezcema ató-
se correlacionam com a gravidade da doença.
pico, o qual, por sua vez, é mais prevalente do
Observam-se também IgE antiantígenos ali-
que o eczema seborreico. mentares e inalantes e aumento da suscetibi-
lidade às reações anafiláticas. A IgG pode estar
aumentada principalmente nos casos em que
DERMATITE ATÓPICA a alergia alimentar tem papel indutor ou agra-
A atopia é uma doença adquirida por vante da dermatite atópica. É descrita também
herança genética poligênica, com claras evi- uma deficiência de IgA transitória no atópico
dências de alterações imunológicas e forte- e a exposição a antígenos neste período cria
mente influenciada por fatores ambientais condições para o desenvolvimento da doença.
expressiva produção de IL-4 e IL-5, de citocinas das outras formas de apresentação da atopia
que estimulam a diferenciação de linfócitos B (asma ou rinite), na chamada marcha atópica.
em plasmócitos e a produção de IgE específica; Há aumento da susceptibilidade às infecções
esse padrão é mais observado em pacientes fúngicas, virais e bacterianas, especialmente na
que evoluem com lesões de eczema do tipo fase de predomínio da resposta Th2, já que o
agudo e subagudo. Na evolução do processo combate aos patógenos específicos se dá, prin-
há um “switch” Th2 para Th1 por meio da pro- cipalmente, via citocinas IL-2, IFN-γ e TNF-α, que
dução de IL-12 pelos próprios linfócitos. A pro- constituem marcadores de resposta Th1.
dução de IL-2 e INF-γ por esse novo padrão de
Outra característica da pele do atópico é a sua
resposta imunológica determina a cronicidade
tendência maior ao ressecamento que, por si só,
das lesões.
pode dar origem ao prurido e à descamação. O
Stapyhilococcus aureus colonizam sobrema- estresse emocional pode desencadear períodos
neira a pele do atópico (são encontrados em de piora e não deve ser menosprezado.
79% dos indivíduos com pele sã e em 89% dos
indivíduos com lesões de dermatite atópica) e
podem expressar superantígenos que exacer-
bem a doença.
QUADRO CLÍNICO
O principal sintoma é o prurido (é o critério
maior da doença), que pode começar antes
mesmo de as lesões cutâneas se manifesta-
rem. Na infância, as lesões são avermelhadas
e descamativas. Podem atingir a face, o tronco
e os membros. Com o ato de coçar, tornam-se
escoriadas e podem sofrer infecção secundária.
Alérgenos alimentares são mais implicados
com o desencadeamento da dermatite atópica Figura 3.1 – Lesões eczematosas em pregas
cubitais e punhos na dermatite atópica de adolescente.
em recém-nascidos, enquanto aeroalérgenos
são mais ligados à dermatite atópica infantil.
Nos adolescentes e adultos, as lesões se loca-
lizam preferencialmente nas áreas de dobras
da pele, como a região posterior dos joelhos,
do pescoço e das dobras dos braços. A pele
desses locais se torna mais grossa, áspera e
escurecida (liquenificada). Usualmente locali-
zada nessas áreas, a dermatite atópica pode se
generalizar, atingindo grandes áreas corporais.
Passada a infância, pode ocorrer o desapareci-
mento total das lesões (50% dos casos), mas,
geralmente, a doença tem curso crônico, apre-
sentando períodos de melhora e de piora. É
comum, após o desaparecimento da dermatite
atópica, ocorrer a substituição desta por uma Figura 3.2 – Placas eczematosas em locais típicos da DA infantil.
SINTOMAS E SINAIS
TRATAMENTO
Tanto a terapia dermatológica específica
quanto a elevação dos membros inferiores
para aumentar o retorno venoso e diminuir
o edema são necessárias no tratamento. A
terapêutica dermatológica depende do está-
Figura 3.4 – Dermatite irritativa de contato por detergentes. gio evolutivo do quadro. Quando o quadro é
agudo, prednisona via oral pode ser indicada,
na dose de 0,5 mg/kg/dia. Cremes tópicos de
DERMATITE DE ESTASE corticoides de média potência (betametasona
(DERMATITE OCRE) ou mometasona) podem ser aplicados nas
lesões eczematosas. Lesões ulceradas devem
A dermatite de estase reflete um quadro ecze- ser tratadas com bandagens e curativos, tam-
matoso em membros inferiores que é secun- bém à base de pasta de óxido de zinco.
dário à hipertensão venosa crônica e pro-
Alguns pacientes com úlcera de perna podem
voca a diminuição no fornecimento de oxigênio
ser tratados ambulatorialmente, usando Bota
aos tecidos e o sequestro de leucócitos, com de Unna (gelatina de zinco), curativo simples
liberação de enzimas proteolíticas e de radicais de gelatina de zinco (menos inconveniente)
livres, levando à injúria tecidual e à reação infla- ou curativos “colódios”. Depois da cicatriza-
matória. Há tendência para pigmentação de ção, o paciente deve sempre usar meia elás-
cor ocre, em geral associada à estase venosa. tica de média compressão, colocando-a de
manhã, antes mesmo de se levantar da cama. dermatite (por exemplo: atópica, psoriásica,
Deve-se evitar o uso de medicamentos tópi- de contato, pitiríase rubra pilar etc.) ou pode
cos, comerciais ou caseiros, pois a pele com ser induzida por drogas usadas sistematica-
dermatite de estase é vulnerável aos irritan- mente (por exemplo, penicilina, sulfonami-
tes primários e aos agentes tópicos poten- das, isoniazidas, fenitoínas ou barbitúricos),
cialmente sensibilizantes (antibióticos, anes-
em 40% dos casos. Agentes irritantes tópicos
tésicos e veículos de medicamentos tópicos,
também podem causar eritrodermia. A der-
especialmente lanolina e alcoóis).
matite esfoliativa também pode, em 17%
dos casos, estar associada aos linfomas ou
à micose fungoide.
ECZEMA DISIDRÓTICO
Corresponde de 5% a 20% das lesões ecze- CLASSIFICAÇÃO (RABELO)
matosas das mãos e dos pés, fazendo diag-
nóstico diferencial com eczema de contato, • Tóxicas (40%);
psoríase, dermatofitose e eczema atópico • Metatípicas (26%);
(polpite descamativa). É caracterizado clinica-
• Hemo-histoblástica (17%);
mente pelo surgimento súbito de lesões vesi-
culosas claras e profundas, nas palmas e plan- • Idiopática (12%).
tas e nas regiões laterais de mãos, pés e dedos.
O eritema é discreto e o prurido intenso. As SINTOMAS E SINAIS
lesões desaparecem espontaneamente em 2 a
3 semanas, mas a recorrência é regra. O aparecimento do quadro pode ser insidioso
ou rápido. Toda a pele se torna eritematosa,
Entre as eventuais causas estão as reações de
descamativa, espessada e, às vezes, crostosa.
hipersensibilidade aos focos fúngicos à dis-
O prurido pode estar presente ou ausente.
tância, o uso de drogas como os derivados da
penicilina, o estresse emocional e a ingestão Quando presente, pode variar em intensidade,
de níquel (contido no feijão, por exemplo) em desde algo simples e suportável até casos
indivíduos previamente sensibilizados. O trata- incontroláveis. Em geral, o aspecto caracterís-
mento segue as mesmas bases do tratamento tico de qualquer lesão primária desaparece.
dos eczemas, com banhos de permanganato Quando a eritrodermia esfoliativa é secundá-
seguidos pelo uso de corticoides tópicos. ria à psoríase, à micose fungoide ou à pitiríase
Casos mais intensos podem ser tratados com rubra pilar, é possível encontrar áreas locali-
corticoides orais ou de depósito. zadas de pele sã entre as áreas acometidas.
O achado de linfadenopatia superficial gene-
ralizada associado à eritrodermia esfoliativa
ERITRODERMIA ESFOLIATIVA é comum e a biópsia, em geral, revela linfa-
Erupção universal eritemato-escamosa crô- denite benigna. A temperatura do paciente
nica, com eritema difuso e descamação, além geralmente está aumentada e ele pode sen-
de prurido moderado a intenso. É mais fre- tir frio devido à perda excessiva de calor que
quente no adulto masculino. ocorre, em função do aumento do fluxo san-
guíneo na pele da esfoliação. Esses fatores
ETIOLOGIA também podem causar perda de peso, hipo-
proteinemia, deficiência de ferro e até insufi-
Em 12% dos casos não se consegue determi- ciência cardíaca de alto débito em pacientes
nar a causa. Em 26% é secundária a alguma com doenças cardíacas.
FORMAS ESPECÍFICAS DE
TRATAMENTO
URTICÁRIA
O tratamento da urticária visa, inicialmente,
• Dermografismo: placa de urticária linear
a remoção da causa, se identificável, e o com-
após friccionar a pele com objeto rombo;
bate ao sintoma de prurido. Portanto, os anti-
• Urticária por pressão: lesões em áreas
-histamínicos são os medicamentos indicados.
da pele que sofrem pressão contínua
O hidroxizine é o medicamento de escolha
(área do sutiã ou do elástico das calças);
para o dermografismo e para a urticária
• Urticária por frio: lesões após exposição colinérgica. É importante a orientação quanto
ao frio (banhos de mar ou piscina com à possibilidade de algumas drogas estarem
água gelada). Raros casos podem ser envolvidas por mecanismos diretos no pro-
associados às crioglobulinas e crioagluti- cesso de degranulação mastocitária. Portanto,
ninas ou criofibrinogênio; uma história medicamentosa deve ser reali-
• Urticária de contato: lesões urticarifor- zada com cuidado. Dietas de exclusão apenas
mes após contato com preparados pro- são indicadas se a anamnese francamente se
teicos ou luvas de borracha, mesmo sem dirigir para tal causa.
haver pressão localizada;
No caso do edema de Quincke ou de casos
• Urticária vasculite: forma de vasculite leu- graves de urticária com potencial para o
cocitoclástica com lesões urticariformes desenvolvimento de anafilaxia, o trata-
mais dolorosas que pruriginosas que, ao mento é de emergência e deve ser instituído
regredirem em período maior de 24 horas, com as seguintes medicações:
mostram lesão purpúrica cicatricial. Fre-
1. Corticosteroide, hidrocortisona 100 mg IV
quentemente, se associa à redução dos
ou 2 mg/kg/dia em crianças;
níveis de complemento e a doenças sistê-
micas como LES, Sjöegren, hepatites B e C; 2. Adrenalina 1/1.000: 0,3 ml a 0,5 ml IM ou
SC, podendo se repetir a cada 15 ou 30
• Urticária colinérgica: lesões urticarifor-
minutos, de acordo com a tolerância; para
mes pequenas, muito pruriginosa e com
crianças a dose é de 0,01 ml/kg, não ultra-
halo periférico eritematoso, predomi-
passando 0,5 ml na primeira hora.
nantemente em mulheres adolescentes
e jovens com fator emocional marcante. No caso das urticárias crônicas, além da medi-
Pode se associar ao aumento da tempera- cação sintomática, é importante identificar
tura corporal – banhos quentes, exercícios a causa, o que nem sempre é possível. Atual-
e estresse emocional. São lesões de curta mente, foi aprovado pela Anvisa o uso de medi-
duração (1 hora); cação imunobiológica para o tratamento da
Estudo recente retrospectivo do grupo EuroSCAR ana- da orelha, mucosa oral e unhas. Hiperpig-
lisou os efeitos da terapêutica na mortalidade da SSJ- mentação pré-tibial é o padrão mais comum,
-NET. A corticoterapia sistêmica e a imunoglobulina
sendo muito semelhante ao induzido pela
endovenosa não mostraram efeito significante na mor-
talidade em relação à terapêutica apenas de suporte. minociclina. A gengiva ou o palato duro tam-
Houve tendência de efeito benéfico da corticoterapia bém podem ter alteração de cor. A quinidina
sistêmica. O potencial benéfico da corticoterapia sistê-
mica na SSJ-NET necessita ser avaliado por estudo pros-
também pode raramente causar tal padrão
pectivo randomizado. de hiperpigmentação. A quinacrina é amarela
e concentra-se na epiderme. Alteração de cor
SÍNDROME DO HOMEM amarela generalizada da pele e esclera (simu-
VERMELHO lando icterícia) ocorre reprodutivelmente nos
pacientes, mas desbota em 4 meses depois de
A infusão intravenosa de vancomicina frequen- ser suspensa a droga. Nos pacientes com pele
temente é complicada, especialmente se for escura, essa cor é mascarada e não é tão sig-
rápida, por uma reação característica chamada nificativa esteticamente. Histologicamente, em
de “síndrome do homem vermelho”. Em qual- ambas as formas de pigmentação, os grânulos
quer momento durante a infusão, aparece uma de pigmento estão presentes dentro de macró-
erupção macular inicialmente na nuca, algumas fagos na derme.
vezes propagando-se até a parte superior do
tronco, face e braços. Tem sido descrito angioe- A amiodarona, depois de 3 a 6 meses, causa
dema. Há prurido e “calor” associados, bem fotossensibilidade entre 30% e 57% dos
como hipotensão. Esta pode ser intensa o sufi- pacientes tratados. De 1% a 10% dos pacien-
ciente para provocar parada cardíaca. A reação tes, desenvolvem hiperpigmentação com cin-
é causada por elevação da histamina no san- za-cimento nas áreas de fotossensibilidade. A
gue. A “síndrome do homem vermelho” pode pigmentação gradualmente descora depois
ser prevenida, na maioria dos pacientes, por que a medicação é interrompida. O trata-
redução da taxa de infusão do antimicrobiano mento com clofazimina é reprodutivelmente
ou pelo pré-tratamento com anti-histamínicos. complicado pelo aparecimento de uma alte-
Embora tipicamente relatada com a vancomi- ração de coloração rósea, que gradualmente
cina, têm sido vistas reações “anafilactoides” se torna azul-avermelhada ou castanha e é
semelhantes com ciprofloxacino, anfotericina B, concentrada nas lesões de pacientes com a
rifampicina, infliximab e teicoplanina. doença de Hansen. Esta pigmentação pode
ser muito desfigurante e é a principal causa
PIGMENTAÇÃO INDUZIDA POR de não adesão a esta droga no tratamento.
DROGAS A zidovudina causa uma hiperpigmenta-
ção azul ou castanha mais frequentemente
Pode ocorrer pigmentação da pele como con- observada nas unhas. A lúnula pode ser azul
sequência da administração de drogas. O ou a placa ungueal inteira pode se tornar cas-
mecanismo pode ser de hiperpigmentação tanho-escura. Hiperpigmentação difusa da
pós-inflamatória em alguns casos, mas fre- pele, pigmentação lateral da língua e aumento
quentemente está relacionado com a deposi- do bronzeamento são menos comuns. Ocorre
ção real da droga causadora na pele.
em pessoas com pele escura, é dependente
Cloroquina, hidroxicloroquina e quinacrina da dose e desaparece depois que a medicação
podem todas causar pigmentação negro- é interrompida. A hidroxiureia causa padrão
-azulada na face, extremidades, cartilagem muito semelhante de hiperpigmentação.
Como a reatividade cruzada entre estas dro- envolvidos. Casos desencadeados por hidro-
gas é alta, o benefício terapêutico de uma xicloroquina podem evoluir com lesões pus-
medicação desta classe precisa ser cuidadosa- tulosas extensas que confluem e simulam um
mente reconsiderado. Se o tratamento for para quadro de NET. O intervalo entre a exposição
depressão, profilaxia depois de traumatismo à droga e o desenvolvimento de sintomas é de
craniano ou síndromes dolorosas atípicas geralmente 24 a 48 horas, com tempo médio
poderá ser usada medicação de outra classe de 1 a 11 dias. O manejo se dá por suspensão
na substituição. O tratamento inicialmente é da droga identificada como gatilho, suporte
de suporte até que sejam avaliadas a extensão clínico e corticoterapia sistêmica e/ou tópica,
e a intensidade da síndrome. Alguns pacientes dependendo da extensão das lesões.
têm resolução do quadro simplesmente inter-
rompendo a medicação. Se houver acometi-
mento hepático ou renal ou se o paciente pare- ERITEMA NODOSO
cer muito doente ou precisar de hospitalização
Síndrome caracterizada por erupção aguda de
e não houver contraindicação, serão adminis-
nódulos eritematosos e dolorosos, recorrentes
trados esteroides sistêmicos. Esta síndrome,
e de etiologia variada, acometendo principal-
independentemente da erupção da pele com
mente a face anterior dos membros inferiores,
a qual se apresente, melhora com o uso sistê-
sendo frequentemente acompanhada de sinto-
mico de esteroides. A terapia com esteroides
mas gerais. É mais frequente nos adultos, nos
é continuada nas doses necessárias para con-
quais predomina no sexo feminino. Quando
trole e é gradualmente reduzida. Podem ser
ocorre em crianças, não apresenta predileção
necessários meses de terapia com esteroides.
por sexo.
Se os esteroides forem reduzidos de maneira
rápida demais, a síndrome poderá recorrer. Inúmeros agentes etiológicos estão envolvidos
Imunoglobulina intravenosa (IGIV) tem sido na etiologia desta síndrome, com destaque
usada com sucesso num caso refratário aos para infecções (estreptocócicas e outras
esteroides. Pode ocorrer hipotireoidismo tran- bactérias, vírus e fungos) e drogas (sulfas e
sitório por 1 a 3 meses após as síndromes de contraceptivos orais). Podemos considerar o
hipersensibilidade aos anticonvulsivantes. fenômeno de formação de imunocomplexos
com discreta vasculite como substrato anato-
mopatológico. Acompanha ou precede várias
PEGA (PUSTULOSE EXANTEMÁTICA
doenças como tuberculose, sarcoidose, lin-
GENERALIZADA AGUDA) fomas, pioderma gangrenoso, doença de
Behçet, Crohn e outras doenças autoimu-
A pustulose exantemática generalizada aguda
nes. Trata-se de uma paniculite septal.
é uma reação medicamentosa rara caracteri-
zada pela presença de pústulas não foliculares O quadro clínico é característico, as lesões
sobre áreas de eritema difuso com edema, que cutâneas são nodulares e dolorosas, inicial-
pode evoluir para eritrodermia, acompanhado mente avermelhadas, evoluindo para tona-
por febre alta e leucocitose. O início do quadro lidade vinhosa e discretamente amarelada
costuma acometer as dobras, com posterior (nódulos contusiformes). Há tendência por
progressão. O acometimento de mucosas é simetria. A involução das lesões geralmente
pouco frequente. É ocasionada por exposição se faz sem ulceração; podem deixar seque-
às drogas em mais de 90% dos casos, sendo las que são representadas por manchas acas-
os antibióticos, principalmente da classe tanhadas e leve depressão nas áreas em que
dos betalactâmicos os mais frequentemente ocorreram os nódulos. A presença de sintomas
sistêmicos pode ser representada por febre, remissão espontânea. É importante repouso,
cefaleia, mal-estar, náuseas, vômitos, diarreia com elevação dos membros. Podem ser usa-
e dores articulares. dos anti-inflamatórios não hormonais (aspirina
Laboratorialmente, faz-se necessária a dosa- 3 a 4g/dia, naproxeno 500 a 1.000 mg/dia etc.).
gem de velocidade de hemossidimentação, Outra opção terapêutica é o iodeto de potás-
hemograma, ASLO, realização de PPD, radio- sio (0,5 a 1,0 g/dia). Após exclusão de doenças
grafia de tórax, urina do tipo 1 e avaliação de infecciosas, pode ser introduzida corticoterapia
outros focos infecciosos (ginecológicos e den- sistêmica em dose anti-inflamatória. Esta é indi-
tários, entre outros). cada em casos extensos e de difícil controle.
O prurido pode ser desencadeado por muitos intenso que o paciente – apesar de perceber
estímulos de ocorrência normal, como o toque que está lesando a pele – não consegue parar
leve, mudança de temperatura e estresse emo- antes de infligir tal lesão.
cional. Estímulos químicos, mecânicos, térmi-
Prurido deste tipo distinto é caracterís-
cos e elétricos também podem desencadear
tico apenas de algumas dermatoses: líquen
prurido.
simples crônico, dermatite atópica, eczema
O prurido é mediado pela liberação de substâncias quí- numular, dermatite herpetiforme, escoriações
micas como histamina, serotonina e triptase. A substân- neuróticas, foliculite eosinofílica, prurido urê-
cia P é um peptídio com 11 aminoácidos que tem sido
implicado na causa de prurido em alguns distúrbios. mico, prurigo subagudo e prurigo nodular. Em
geral, somente estes distúrbios produzem pru-
Não há antagonistas específicos da substância
rido intenso a ponto de induzir sangramento.
P; entretanto, a capsaicina causa depleção das
Em casos individuais, outras doenças podem
terminações nervosas de substância P depois
manifestar sintomas tão intensos.
de repetidas aplicações tópicas. A prostaglan-
dina E reduz o limiar para o prurido induzido
pela histamina, enquanto as encefalinas, pen-
ABORDAGEM DIAGNÓSTICA
tapeptídios que se ligam aos receptores de
O prurido generalizado foi atribuído a uma
opiáceos no cérebro, modulam a dor e o pru-
doença sistêmica subjacente entre 10% e 30%
rido central. Certos opioides causam prurido
dos pacientes em quatro séries publicadas. Os
de maneira periférica e central, sendo o último
testes laboratoriais que visam detectar esses
mecanismo provavelmente através de recepto-
distúrbios estão relacionados na Tabela 3.3.
res de serotonina. A interleucina-2 também
Os componentes da avaliação laboratorial ini-
tem sido implicada, particularmente no
cial obviamente devem ser determinados pela
prurido por dermatite atópica.
população de pacientes, bem como sendo con-
siderada por quaisquer indícios obtidos atra-
vés da anamnese e do exame físico. Em mui-
PADRÕES DE PRURIDO tos contextos, é provável que um hemograma
Há amplas variações de pessoa para pessoa, completo, medidas da creatinina, ureia, níveis
na mesma pessoa e até variação de reações ao de enzimas hepáticas e tireoxina e raios-X de
mesmo estímulo. O calor geralmente agrava tórax de rotina sejam suficientes. Quaisquer
um prurido preexistente. Estresse, ausên- resultados positivos nessa bateria de avalia-
cia de distrações, ansiedade e medo aumen- ção devem ser investigados, até conseguir um
tam o prurido. Tende a ser mais intenso no diagnóstico definitivo.
momento de trocar de roupas para dormir.
Avaliação laboratorial para
Também ocorrem variações por região da pele; o prurido generalizado
os canais auditivos, pálpebras, narinas e áreas Procedimento Doenças detectadas
perianais e genitais são especialmente suscetí- Estudos do sangue
veis ao prurido. Anemia (ferropriva ou devida a
uma doença crônica)
Prurido intenso, persistente ou recorrente,
Hemograma Policitemia
com ou sem lesões de pele prévias, costuma completo
ter caráter paroxístico: início súbito, intenso, a Leucemia
letal. Pode aparecer pela evolução de uma e. Artrite interfalangeana distal – 5%. Esta forma é
a mais típica da doença, pois a difere do compro-
psoríase crônica ou após um quadro de
metimento articular da artrite reumatoide, mas é
psoríase pustulosa generalizada e de forma a menos comum
aguda, a partir de uma psoríase instável, Tabela 3.5 – Formas de comportamento articular.
geralmente após intolerância às medicações
tópicas ou terapia UV. Pode ser precipitada COMORBIDADES EM PSORÍASE
por infecção, hipocalcemia, coaltar, suspen-
são de corticoide, medicações diversas e em A psoríase está sabidamente associada a um
pacientes com AIDS; risco aumentado para mortalidade e comor-
5. Ungueal – 30% a 50% dos casos cursam com bidades como artrite psoriásica, depressão
lesões ungueais já descritas. Em 80% a 90% e ansiedade, além de doenças inflamató-
dos casos, a presença de lesões ungueais se rias imunomediadas, alcoolismo, tabagismo,
associa à artropatia psoriásica; malignidades, infecções e, atualmente, mais
amplamente estudado, o risco para doenças
6. Gutata – Corresponde a menos de 2% dos
cardiovasculares.
casos de psoríase. Caracteriza-se por ser
uma erupção aguda de pequenas pápulas Pacientes com psoríase apresentam frequen-
arredondadas eritemato-descamativas, com temente um perfil pró-aterogênico, caracte-
acometimento do tronco e associação com rizado por hipertrigliceridemia, crescentes
infecções estreptocócicas das vias aéreas concentrações de LDL e VLDL, redução do
superiores em crianças e adultos-jovens, HDL, bem como decréscimo das apolipo-
com 1 ou 2 semanas antes do início do qua- proteínas A e B. Estudos recentes vêm mos-
dro. Em cerca de 30% dos casos, há resolu-
trando que a síndrome metabólica também
ção espontânea do quadro de 2 a 3 meses.
tem prevalência aumentada nos pacientes
Ocasionalmente, evolui para psoríase crô-
com psoríase. A causa da associação da pso-
nica em placas após o surto;
ríase com a síndrome metabólica não está
7. Invertida – em dobras flexurais, mais fre- esclarecida, porém a explicação pode estar
quentes em negros e HIV positivos; no estado pró-inflamatório crônico encon-
8. Artropática – compromete 5% a 40% dos trado tanto na psoríase como nos compo-
pacientes com psoríase. O HLA B27 se nentes da síndrome.
PITIRÍASE RÓSEA
Dermatose inflamatória eritemato-descama-
tiva, autolimitada, caracterizada por lesões
descamativas. O agente causal ainda não está
Figura 3.7 – Placa eritematodescamativa caracteristicamente encontrada
na psoríase. Observam-se escamas prateadas que são facilmente destaca- completamente estabelecido, de modo que há
das pela curetagem metódica de Brocq.
estudos que correlacionam a doença à infec-
ção pelo HHV 8 (Herpes Vírus Humano do tipo
8), ou às reações às vacinas anti-BCG, HPV e
difteria, além da possibilidade reativa às dro-
gas. Pode ocorrer em qualquer idade, mas é
observada com maior frequência em adultos e
jovens. Nos países de clima temperado, a inci-
dência é maior durante a primavera e o outono.
SINTOMAS E SINAIS
distribuição típica em “árvore de natal” (o eixo e achatadas, que podem coalescer formando
longo da lesão se dispõe paralelamente às placas espessadas e pouco descamativas; em
linhas de clivagem da pele e se irradia a partir 15% a 35% dos casos, elas vêm acompanhadas
da coluna vertebral). Em pacientes negros, as de lesões mucosas. A incidência é de aproxima-
lesões podem ser primariamente papulosas, damente 1% na população geral, sem preferên-
com pouca descamação. Às vezes, as lesões cias raciais ou sexuais. Crianças e idosos são,
podem se localizar principalmente nos bra- geralmente, menos afetados.
ços, poupando o tronco. Ocasionalmente, a
face pode ser acometida. A generalização das
ETIOLOGIA
lesões é rara e, quando isso acontece, o qua-
dro lembra a erupção da escarlatina. Sintomas A causa da doença é desconhecida. Algumas
gerais são pouco frequentes, mas pode haver drogas como arsênico, bismuto e ouro, ou a
mal-estar, cefaleia e prurido, geralmente leve. exposição aos reveladores fotográficos colo-
Há cura espontânea em, aproximadamente, 4 ridos podem causar lesões indistinguíveis do
a 8 semanas, mas por vezes as lesões podem líquen plano. A ingestão de quinacrina por lon-
persistir mais tempo; recidivas são raras. gos períodos pode causar líquen plano hiper-
trófico das pernas, além de outras alterações
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL dermatológicas. A radiação solar pode estar
envolvida, precipitando lesões em áreas fotoe-
A pitiríase rósea deve ser diferenciada da Tinea xpostas no denominado líquen plano actínico
corporis, da pitiríase versicolor, das reações (variante mais comum em crianças).
às drogas, da psoríase e, mais importante, da
sífilis secundária. Reações sorológicas para sífi- Hepatopatias como a do vírus C e, menos fre-
lis devem ser feitas rotineiramente. quentemente, o vírus B, têm correlação des-
crita. Descreve-se associação com HLA DR1
e DR10.
TRATAMENTO
Não há tratamento específico, mas em geral SINTOMAS E SINAIS
nenhum é necessário. O mais importante é
explicar ao paciente que as lesões desapare- O aparecimento pode ser abrupto ou gra-
cem espontaneamente. Acredita-se que a luz dual. O quadro inicial dura várias semanas ou
solar natural ou artificial possa acelerar o pro- meses, podendo ocorrer recidivas intermiten-
cesso de cura. Caso as lesões se apresentem tes por anos.
muito pruriginosas ou inflamadas, pode-se As pápulas primárias variam de 2 mm a 4 mm
aplicar mentol a 0,25% em creme base. Nos de diâmetro, são poligonais, achatadas, de
casos de prurido muito intenso, recomenda-se superfície lisa e brilhante de cor vermelho-vio-
prednisona oral na dose de 0,5 mg/kg/dia até
láceo. Têm estrias em sua superfície, que rece-
que haja remissão do prurido, quando, então,
bem a denominação de Estrias de Wickham.
a dose começa a diminuir até a retirada com-
O prurido é achado frequentemente, variando
pleta em 14 dias.
em intensidade e geralmente resistente ao tra-
tamento. As lesões, em geral, distribuem-se
simetricamente, acometendo, de preferência,
LÍQUEN PLANO áreas flexoras dos punhos, pernas, tronco,
Erupção inflamatória, pruriginosa e recidivante, glande, mucosas vaginal e oral. São generaliza-
caracterizada por pápulas violáceas, poligonais das em alguns casos, mas a face quase nunca
3. Atrófico: forma involutiva de lesões vulga- 10. Ungueal: em 10% dos casos, geralmente
res ou hipertróficas; nas mãos, com depressões cupuliformes na
lâmina ungueal e estriação longitudinal, oni-
4. Linear: seguindo linhas de Blaschko, relacio- cólise ou anoníquia (destruição completa da
nado ao HIV; unha doente).
5. Actínico: em áreas fotoexpostas, predomi-
nantemente em crianças e mulheres, com DIAGNÓSTICO
erupção aguda. Tem sido associado ao LP
oral e hepatite crônica em atividade; O líquen plano tem um padrão histológico carac-
terístico. Há casos de líquen plano oral ou vagi-
6. Mucosa: de 35% a 50% dos casos, acom- nal apresentando espessamento e coalescência
panhando ou não as lesões cutâneas; leve das lesões que podem ser difíceis de distinguir,
predominância em negros; mais comum na clinicamente, da leucoplasia. Apesar de a bióp-
mucosa oral, na qual pode se apresentar sia ser sempre indicada, lesões antigas podem
como uma placa esbranquiçada de aspecto não apresentar nenhum achado específico.
arboriforme, geralmente na mucosa jugal,
Lesões orais erosivas disseminadas devem ser
com sensação de queimação evidente.
diferenciadas das lesões de candidíase, leuco-
Podem ocorrer lesões no esôfago e na
plasia, carcinoma, aftas, estomatite herpética
mucosa ano-genital, com menor frequência.
e eritema polimorfo. Ao examinar as muco-
Nas lesões orais, pode ocorrer forma ero- sas, deve-se procurar extensões dendríticas
siva, caracterizada por ulcerações superfi- na periferia das lesões e a cor branca-azulada
ciais, dolorosas e recidivantes. Essa variante características do líquen plano.
clínica tem tendência à malignização, com
carcinoma espinocelular se desenvolvendo
TRATAMENTO
em até 6% dos casos. O amálgama dentário
tem sido implicado na patogênese do líquen O líquen plano assintomático não requer tra-
plano oral e há casos nos quais a remoção tamento. Caso se suspeite de alguma droga ou
do amálgama, que tem o mercúrio como agente químico causador das lesões, seu uso
base, favoreça o controle da doença; deve ser suspenso. Quando houver prurido,
PATOGÊNESE
lio folicular, fazendo com que o conteúdo foli- Mas há também tipos menos conhecidos,
cular penetre na derme. como os tipos a seguir.
Acne conglobata: forma grave de acne com A acne em geral piora durante os meses de
predomínio no homem, com lesões císticas, inverno e melhora durante o verão, provavel-
abscessos e flegmões que se intercomuni- mente pelo efeito benéfico dos raios solares. A
cam por fístulas e intensa reação inflamatória, dieta tem pouco ou nenhum efeito sobre o qua-
podendo haver lesões queloideanas cicatri- dro, mas, se houver suspeita quanto a algum
ciais. Tronco, braço, pescoço e nádegas podem alimento, deve-se suspendê-lo por algumas
ser acometidos. semanas e, então, voltar a comê-lo em grande
quantidade para observar se há piora ou não.
Acne fulminans: forma aguda e exuberante,
Na maioria das vezes, essa prova demonstra
acompanhada de febre, mal-estar, artralgia,
que o quadro não se relaciona à alimentação.
leucocitose e, eventualmente, lesões osteolíti-
A acne pode estar relacionada ao ciclo mens-
cas em pontos dolorosos. É quase que exclu-
trual e pode piorar ou melhorar com a gravi-
siva do sexo masculino.
dez. O aparecimento de acne em mulheres
Acne medicamentosa: tipicamente abrupta e entre os 20 e 30 anos de idade muitas vezes é
monomórfica. consequência do uso de cosméticos “hidratan-
tes” ricos em óleos comedogênicos, mas caso
• Esteroides anabólicos (danazol, testoste-
o quadro surja na idade adulta, em pacientes
rona, corticotropina): fenitoína, lítio, feno-
que nunca tiveram acne, deve-se investigar
barbital;
fatores hormonais (ovários policísticos, tumo-
• Isoniazida: iodetos e brometos: aza- res hipofisários, entre outras doenças endocri-
tioprina, ciclosporina; nológicas) e introduzir medicação antiandrogê-
• Tetraciclinas; nica, se for o caso.
• Vitaminas B1, B6, B12, D2: tioureia, tiouracil;
• PUVA: dissulfiram, quinidina. DIAGNÓSTICO
Acne por detergentes: acne por lavagens em
O diagnóstico da acne é clínico. Quase sempre
excesso. Tanto sabões comedogênicos como a
há comedões e lesões em diferentes estágios
fricção podem contribuir.
evolutivos simultaneamente. É importante ter
Acne mecânica: acne que ocorre por fricção, em mente que a rosácea pode lembrar a acne,
como por alças no queixo, chapéus, violinos, mas não apresenta comedões. As lesões acnei-
gessos etc. formes induzidas por corticosteroides, com-
plexos vitamínicos (vitamina B12) e suplemen-
Acne escoriada: acne manipulada, escoriada.
tos alimentares proteicos ou anabolizantes,
Cloracne, acne ocupacional: acne por con- em geral, são pústulas foliculares e todas se
tato com substâncias químicas comedogênicas, encontram no mesmo estágio evolutivo, além
incluindo óleos, alcatrão e piche. Desenvolve-se de não haver comedões, configurando a cha-
após semanas de exposição, com uma distribui- mada erupção acneiforme.
ção clássica, incluindo região malar, retroauricu-
Uma investigação endócrina e ginecológica
lar e mandibular. Pode incluir também o escroto
é recomendada nos casos em que a acne se
e as axilas. Surtos recorrentes podem ocorrer
associar à hipertricose, menstruações irregula-
após a eliminação da exposição.
res, alopecia androgênica, aumento da libido,
Acne inversa: tríade de oclusão folicular que voz mais grossa, clitoromegalia e alterações na
inclui a hidradenite supurativa, a foliculite dis- compleição muscular – sinais de hiperandro-
secante do couro cabeludo e a acne conglo- genismo. Os testes sanguíneos devem incluir
bata; ocorre mais frequentemente em homens. testosterona sérica livre e total, DHEAS e razão
LH/FSH. A elevação da DHEAS sugere origem vezes, desenvolvem-se sérios problemas psi-
suprarrenal do excesso de androgênios. A tes- cológicos e de relacionamento, e o adolescente
tosterona total elevada sugere origem goná- passa a usar a doença como desculpa para
dica. Na síndrome do ovário policístico há, evitar situações que não o agradem. Essas
além da elevação da testosterona, uma razão situações devem ser abordadas e esclarecidas
LH/FSH acima de 3:1. A acne tem sido uma indi- pelo médico, pelo paciente, pelos pais dele e,
cação para o diagnóstico da hiperplasia suprar- se necessário, por um psicólogo. O médico
renal congênita de início tardio, síndrome XYY, também deve estar atento às ideias errôneas
síndrome do ovário policístico e tumores hipo- e aos mitos existentes, quanto à relação da
fisários, suprarrenais e gonádicos. acne com dieta, esporte e sexo, e orientar o
paciente nesse sentido. Alguns tipos de cos-
TRATAMENTO méticos podem agravar a acne (principalmente
aqueles com ingredientes comedogênicos, por
Basicamente, visa à desobstrução folicular, à oclusão folicular). Deve-se evitar o uso de pro-
diminuição do conteúdo bacteriano e à acele- dutos gordurosos, como filtros solares com
ração da esfoliação da epiderme. veículos creme.
Apesar de comum, muitos adolescentes apre- Outros tipos de tratamento dependem da gra-
sentam problemas para aceitar a doença. Por vidade das lesões.
Tratamento da acne
Leve
1. Comedoniana
Retinoide tópico ± extração física (primeira escolha)
Retinoide alternado, ácido salicílico, ácido azelaico (segunda escolha)
2. Papular/pustular
Combinação de antimicrobiano tópico + tópico, banho com peróxido de benzoíla se há lesões leves no tronco
(primeira escolha)
Alternar antimicrobiano + retinoide tópico alternado,ácido azelaico, sulfacetamida de sódio-enxofre, ácido
salicílico (segunda escolha)
Moderada
1. Papular/pustular
Antimicrobiano oral + retinoide tópico + peróxido de benzoíla (primeira escolha)
Antimicrobianos alternados, tópico alternado, peróxido de benzoíla alternado (segunda escolha)
Nas mulheres, espironolactona + contraceptivos orais + tópicos com ou sem antimicrobiano tópico e/ou
peróxido de benzoíla
Isotretinoina se recidivar rapidamente sem antimicrobianos orais, se as lesões não desaparecerem ou se
houver cicatrizes
Intensa
1. Nodular/conglobata
Isotretinoína
Antimicrobiano oral + tópico + peróxido de benzoíla
Nas mulheres, espironolactona + contraceptivo oral + tópico com ou sem antimicrobianos tópicos ou orais
e/ou peróxido de benzoíla
Tabela 3.7
Filtros solares são componentes importantes precisa ser melhor estudado para fornecer
da terapia para todos os pacientes. Devem ser maiores esclarecimentos.
aplicados todas as manhãs. Os que contêm
Dos produtos tópicos, aqueles para limpeza e
bloqueadores físicos em geral são mais bem
cremes com metronidazol, sulfacetamida de
tolerados – especialmente pelos pacientes sódio e enxofre e o ácido azelaico são aprova-
eritrotelangiectásicos –, do que aqueles com dos para uso na rosácea, são os mais comu-
agentes químicos. A cobertura do eritema e mente prescritos e são especialmente úteis
das teleangiectasias com cosméticos é melhor para os pacientes com o tipo papulopustular e,
com uma base no tom verde-claro com pó. Se o em alguns casos, com o tipo eritroteleangiec-
rubor for induzido por fatores desencadeantes tásico. Peróxido de benzoíla e a clindamicina
específicos, é melhor evitá-los o máximo possí- tópica, isoladamente ou combinados, costu-
vel. Lasers, como o laser contrastado pulsátil, o mam ser muito benéficos e bem tolerados pelo
laser de fosfato titanil de potássio (KTP) e o laser subgrupo glandular de pacientes. Já o tacroli-
de dupla frequência bombeado por diodo, são mus tópico ajuda a pele descamativa, irritada
todos úteis para tratar o eritema e as telean- e eritroteleangiectásica, acalmando a inflama-
giectasias, mas nos EUA o custo não é coberto ção e abatendo os sintomas nesses pacientes,
por planos de saúde, e isso limita sua disponibi- mas exige breve pré-tratamento (não mais que
lidade. Alguns lasers vasculares também podem 1 semana) com um esteroide tópico potente
ajudar na remodelação do colágeno dérmico e que seja tolerado inicialmente. O pimecrolimus
no rejuvenescimento não ablativo, de tal modo apresenta bons resultados nas diversas apre-
que a matriz dérmica possa ser fortalecida. Há sentações clínicas de rosácea por minimizar a
a hipótese de que a parte central da face seja inflamação como um todo. O papel dos retinoi-
predisposta à rosácea à medida que o edema e des tópicos precisa de maiores investigações,
a falta de movimento dos tecidos, com o movi- mas, ao que se sabe, pode ajudar a reparar a
mento muscular, possam levar ao linfedema e à pele danificada pelo sol e normalizar algumas
inflamação, sendo que uma massagem circular, das anormalidades presentes, a exemplo de
por alguns minutos ao dia, nos pacientes, leva tretinoína em loção, que apresenta boa tole-
a uma impressionante melhora. Mas tal evento rância desde que feita aplicação noturna.
Tratamento de rosácea por subgrupo
1. Todos os subgrupos
Filtro solar diariamente
Estratégias para evitar o sol
Cobertura com cosméticos
Evitar fatores específicos que desencadeiem o rubor
Laser e luz intensa pulsada
Se houver acometimento ocular, tetraciclinas orais
2. Subgrupo eritrotelangiectásico
Manhã: sulfacetamida de sódio-enxofre para limpeza, seguido de um hidratante com filtro solar e/ou cosmé-
tico de camuflagem com filtro solar
Noite: deixar com um produto que contenha metronidazol, ácido azelaico ou sulfacetamida de sódio-enxofre
Tabela 3.9
VITILIGO
Com distribuição universal, acomete de 0,38 a
2,9% da população mundial, sem preferência
por sexo ou raça. É relativamente comum um
comportamento familiar. Caracteriza-se por
manchas acrômicas de distribuição simétrica,
preferencialmente em face (regiões periorfi-
ciais), punhos, dorso dos dedos, genitália e imi-
nências ósseas. É descrito o fenômeno de Köe-
bner. Histologicamente, é caracterizado pela
ausência ou diminuição dos melanócitos.
PATOGÊNESE
Existem três teorias para tentar explicar a
patogênese: Figura 3.14 – Bases fisiopatológicas do vitiligo.
hipopigmentadas, mas associadas a uma ou recessivo, mas sem dúvida parece ter uma
mudança na textura da pele, da pitiríase alba base genética multifatorial.
que apresenta lesões hipocrômicas, levemente
Os efeitos psicológicos do vitiligo não devem ser subes-
papular e pouco definida. As máculas hipocrô- timados, pois os pacientes são frequentemente ansio-
micas da pitiríase versicolor situam-se, habi- sos ou deprimidos devido à aparência de sua pele e à
maneira que isso afeta suas interações sociais.
tualmente, no tórax e nas porções proximais
dos membros superiores e caracteristicamente
apresentam descamação furfurácea ao esti- TRATAMENTO
ramento da pele. Nessa dermatose, as células
O vitiligo é uma doença frustrante de se tratar.
fúngicas são observadas no exame direto com
Repigmentação espontânea ocorre em não
hidróxido de potássio (KOH). Lesões hipocrô-
mais de 15% a 25% dos casos. A resposta ao
micas residuais observadas na psoríase ou
tratamento é lenta e, por vezes, insatisfatória.
ainda mácula hipocrômica hipo ou anestésica
Além do mais, algumas formas de tratamento,
presente na hanseníase. O estágio terciário da
tais como a fototerapia, inicialmente pioram a
pinta muito facilmente leva à confusão de diag-
aparência do vitiligo pela pigmentação da pele
nóstico, mas uma história pregressa e testes
ao redor, acentuando as áreas despigmentadas.
sorológicos ajudarão a elucidar o diagnóstico.
Pelo fato do maior interesse ser cosmético,
É importante que você se recorde do exame pela luz de
Wood, que torna as lesões mais evidentes, permite veri- várias estratégias de cobertura têm sido desen-
ficar a extensão da afecção, excluir afecções hipocrômi- volvidas. Existem várias marcas de maquiagem
cas e acompanhar a evolução do quadro. disponíveis para encobrir temporariamente as
lesões. Corantes tópicos são mais resistentes
EVOLUÇÃO à lavagem e são muito satisfatórios em alguns
pacientes. Os novos cremes autobronzeado-
A evolução das lesões é completamente impre- res contendo diidroxiacetona são úteis para
visível e a duração é indefinida. Lesões sobre pacientes com a cútis clara e suave e com
áreas de panículo adiposo mais proeminente lesões acrais.
evoluem com melhor resposta, enquanto
Pacientes de pele clara (peles tipos I e II) com
aquelas sobre superfícies ósseas têm piores
vitiligo podem algumas vezes administrar efe-
respostas ao tratamento. Crianças repigmen-
tivamente sua doença com bloqueador solar.
tam mais que os adultos.
Se o paciente puder prevenir o bronzeamento
As doenças mais frequentemente asso- da pele ao redor da lesão do vitiligo, a mancha
ciadas ao vitiligo são outras doenças se parecerá com a pele não bronzeada e não
“autoimunes”. Estas incluem Diabetes Melli- irá requerer tratamento adicional. A proteção
tus insulinodependente, anemia perniciosa, solar é mandatória para todos os pacientes
tireoidite de Hashimoto, doença de Graves, com vitiligo, devido ao risco aumentado de
doença de Addison e alopecia areata. A tria- tumor de pele nas áreas despigmentadas.
gem é direcionada pelos sinais e sintomas. O
Esteroides tópicos podem ser úteis nas lesões
vitiligo ocorre em 13% dos pacientes com a sín-
focais ou limitadas. As áreas de pele fina da
drome da poliendocrinopatia-candidíase-dis-
face parecem responder melhor. As lesões do
trofia ectodérmica autoimune (PCDEA).
tronco e acrais são com frequência resisten-
Embora a agregação familiar do vitiligo seja tes a esse tratamento. Esteroides de média e
observada – 15% a 30% dos pacientes com viti- alta potência são frequentemente necessários,
ligo têm um parente afetado, a doença não é her- mas devem ser evitados por tempo prolon-
dada como um traço autossômico dominante gado, principalmente na face.
O calcipotriol tópico uma vez ao dia pode 50 sessões de tratamento, a fototerapia deve
aumentar a eficácia do tratamento com este- ser descontinuada. Fotossensibilidade conhe-
roide tópico. Embora os esteroides sistêmicos cida, porfiria e lúpus eritematoso sistêmico são
levem à repigmentação temporária, este efeito contraindicações para a fototerapia.
geralmente se perde quando a dose é redu-
A aplicação tópica de 8-metoxipsoraleno a
zida. Logo, esta não é uma estratégia viável a
uma concentração de 0,05% a 0,1%, seguida
longo prazo.
pela exposição ao UVA, pode levar à repigmen-
O uso de tacrolimus a 0,1% tem sido particu- tação. PUVA tópico é usado para lesões focais
larmente eficaz no tratamento do vitiligo facial. ou limitadas. Queimaduras inadvertidas com
Ele é tão eficaz como os esteroides tópicos e bolhas são frequentes durante o tratamento,
evita as complicações de atrofia, discromia mesmo quando o paciente é tratado por pro-
e acne induzida pelos corticoides tópicos. As fissionais. A combinação de tacrolimus tópico
lesões da cabeça e do pescoço melhoram em mais o eximer laser de cloreto de xenônio 308
torno de 75% ou mais na metade das crianças nm parece efetiva para lesões locais e evita
tratadas, enquanto somente 25% das lesões a toxicidade do PUVA tópico. Essa combina-
do tronco e extremidades se curam em 75% ou ção é mais eficaz que o laser sozinho e pode
mais. Pacientes que iniciam o tratamento no funcionar mesmo em lesões que tendem a ser
verão têm um maior índice de resposta tera- resistentes ao UV.
pêutica. A aplicação contínua pode ser neces-
Tratamentos cirúrgicos podem ser aplicados
sária para manter a resposta. Novas áreas de
às lesões limitadas se os métodos anterio-
vitiligo aparecem nas áreas não tratadas, suge-
res não trouxerem benefícios, mas estes são
rindo que não existe efeito sistêmico.
demorados. Eles são recomendados primei-
Terapia com UVB de banda estreita duas vezes ramente para pacientes com vitiligo segmen-
por semana tem sido a forma preferida de foto- tar (que é relativamente resistente aos trata-
terapia para tratar o vitiligo. Ela evita a neces- mentos) e para pacientes em que falharam as
sidade de proteção prolongada para os olhos outras formas de tratamento e que têm uma
e a náusea ocasional induzida pelo psoraleno. doença estável (sem novas lesões ou expan-
Cerca da metade dos pacientes atingem mais são das existentes por 1 ano). Procedimentos
de 50% de repigmentação da face, tronco, bra- cirúrgicos não são eficazes em pacientes que
ços e pernas. As lesões das mãos e dos pés exibem fenômeno de Köebner no local doador
repigmentam em menos de 25% dos pacien-
ou tenham vitiligo ativo. Enxerto epidérmico,
tes. As crianças podem ter índices de respostas
minienxertos autólogos, transplantes de cul-
levemente melhores do que os adultos. Trata-
tura de melanócitos e de melanócitos/cerati-
mentos a longo prazo podem ser necessários.
nócitos não cultivados têm sido descritos.
A terapia com PUVA pode também ser usada
para tratar a doença. A adição de calcipotrieno
a 0,005% uma vez ao dia aumenta significativa-
mente a intensidade e a extensão da resposta
DESPIGMENTAÇÃO TOTAL
à fototerapia, devendo ser usada se não hou- Quando o vitiligo atinge área superior a 50%
ver contraindicação. A repigmentação devido da superfície cutânea, a possibilidade de
à fototerapia pode começar após 15 a 25 ses- repigmentação é diminuída. Nessa condição
sões; contudo, uma melhora significativa pode é indicada a despigmentação. Essa forma de
ser obtida com 100 a 200 sessões (6-24 meses). tratamento é definitiva e o objetivo é a des-
Se a repigmentação folicular não acontecer pigmentação total. Áreas limitadas (tais como
depois de 3 a 6 meses, ou aproximadamente as expostas diariamente) podem ser tratadas,
mas uma despigmentação satélite ou distante importante destacar que tanto a psoríase
pode ocorrer, então a ação da medicação não quanto a dermatite seborreica (doenças que
pode ser limitada à área aplicada. mais acometem o couro cabeludo) não cau-
sam alopecia.
ALOPECIA ANDROGENÉTICA
A alopecia androgenética é extremamente
comum.
de androgênio. Os eunucos não desenvolvem linfoide esparsa também pode ser observada
a calvície se forem castrados antes ou durante no nível da protuberância do pelo.
a adolescência. Se receberem terapia de andro-
Os folículos pilosos miniaturizados humanos,
gênio, a calvície pode se desenvolver. A redu-
quando enxertados em camundongos imuno-
ção 5-ct da testosterona é elevada no couro
deficientes, podem se regenerar rapidamente
cabeludo dos indivíduos calvos, resultando
e crescer tão bem ou melhor do que os folícu-
na elevação da diidrotestosterona. OTG-
los terminais do mesmo indivíduo. Isso sugere
F-β1, que pode ser induzido pelo androgênio,
que até mesmo a alopecia de padrão avançado
derivado das células da papila dérmica, parece
pode ser reversível. Infelizmente, as interven-
mediar a supressão do crescimento do pelo.
ções farmacológicas disponíveis produzem
Na deficiência congênita de 5-α redutase, a
pouco efeito na alopecia de padrão avançado.
isoenzima do tipo 2 está ausente e a calvície
não ocorre. A alopecia padrão não ocorre nos
homens com ictiose ligada ao X, indicando que ALOPECIA ANDROGENÉTICA DE
a sulfatase esteroide não é importante para a PADRÃO FEMININO
produção da alopecia.
Não é rara entre as mulheres e refere-se à
O encurtamento progressivo da fase anágena
diminuição na espessura dos cabelos, prin-
do crescimento do pelo é observado conforme
cipalmente nas regiões frontal e parietal. Já a
o diâmetro da diáfise do pelo diminui, de modo
alopecia total, em qualquer área, é difícil de
que os pelos estão não apenas se estreitando,
ser encontrada na mulher. Para casos femini-
mas também estão mais curtos. Uma pro-
nos iniciados precocemente, com associação
porção mais alta de pelos telógenos na área
a outros sinais de hiperandrogenismo, como
afetada resulta num maior desprendimento
acne, irregularidade menstrual e hirsutismo,
telógeno. Também pode haver aumento na
é imperativa a avaliação endocrinológica na
duração da fase de demora entre telógeno e
busca de síndrome dos ovários policísticos
anágeno (a fase de demora cenógena).
e hiperplasia adrenal congênita ou tumores
Histologicamente, vê-se diminuição nos folí- ovarianos. Nesse caso, a relação LH/FSH e os
culos anágenos e aumento nos telógenos. níveis de testosterona livre e total, de 17-hidro-
São observadas uma miniaturização folicular xiprogesterona e sulfato de diidroepiandroste-
e uma variabilidade no diâmetro da diáfise. nerona (DHEA-S) podem ser úteis.
Esses aspectos são particularmente evidentes
O tratamento inclui o uso de solução capilar de
nas secções transversais. Abaixo do nível do
minoxidil (3% na mulher e até 5% no homem,
folículo miniaturizado ou telógeno há um rema-
com efeitos adversos como taquicardia, edema
nescente vascular do trato fibroso ou fibromu-
cinoso; eles aparecem em quantidade na sec- de membros inferiores, dor anginosa e dispep-
ção transversal. Muitos mastócitos podem ser sia) e o uso de solução de 17-α estradiol. Esse
observados no remanescente do trato fibroso, último parece agir inibindo topicamente a 5-α
mas as células inflamatórias estão ausentes. As redutase no folículo piloso, inibindo a conver-
glândulas sebáceas podem estar aumentadas são periférica de testesterona em diidrotestos-
e o afinamento do pelo pode estar associado terona, que tem ação inibitória sobre o cresci-
à elastose solar. A inflamação linfoide esparsa mento capilar.
com espongiose pode ser observada no nível O tratamento sistêmico no homem inclui a finasterida
do infundíbulo folicular. Isso pode representar 1 mg/dia, que é um inibidor específico da 5-α redutase
tipo 2.
foliculite seborreica associada. Uma infiltração
Os resultados são observados durante o uso, ter ouvido a teoria popular da ligação entre
havendo retomada do ritmo de queda capilar alopecia e a qualidade emocional do indiví-
após a interrupção da droga. Redução da libido, duo e, de fato, parece haver algum valor real.
do volume do sêmen ejaculado e disfunção eré-
O tratamento tópico pode ser realizado com
til são relatados em menos de 2% dos casos.
substâncias irritantes, na tentativa de causar
Na mulher, o uso de antiandrógenos orais res-
algum estímulo, como a antralina. Corticoides
tringe-se à espironolactona e ao acetato de tópicos e minoxidil também são tentados. Algu-
ciproterona; a flutamida, apesar do excelente mas publicações já descrevem o uso de imuno-
resultado, foi proscrita por casos frequentes de moduladores tópicos no tratamento da alope-
hepatite medicamentosa fulminante. cia areata, como o tacrolimus (Protopic®) e o
pimecrolimus (Elidel®), com alguma resposta.
ALOPECIA AREATA Corticoides intralesionais são altamente efica-
zes, com o cuidado de diluição para que não
A alopecia areata se caracteriza pela perda
se provoque atrofia. A triancinolona é a droga
abrupta dos cabelos de uma área circunscrita e
de escolha. A sensibilização com DNCB (dinitro-
ocorre em pacientes sem quaisquer alterações
clorobenzeno) também é vista como efetiva, já
de pele que justifiquem o quadro. Também não
que mobiliza uma resposta inflamatória ruim,
se observa alterações sistêmicas. Qualquer tendo efeito irritativo de grande proporção. A
área pilosa pode ser acometida, mas as mais psicoterapia está indicada em casos com com-
frequentemente atingidas são o couro cabe- ponente psicológico marcante.
ludo e a barba. Quando todo o couro cabeludo
é acometido, temos o quadro de alopecia areata
TRICOTILOMANIA
total e se todos os pelos do corpo são afetados,
temos a alopecia areata universal. O prognós- Tricotilomania é o hábito neurótico de arrancar
tico das alopecias areatas extensas ou que apa- ou quebrar os fios de cabelo; é mais observado
recem na infância é mais reservado que o das em crianças. Às vezes, seu diagnóstico é difícil
alopecias que aparecem em adultos, ou são e prolongado. O diagnóstico diferencial da alo-
restritas a pequenas áreas; essas últimas em pecia areata é difícil, principalmente quando
geral regridem em poucos meses. As recidivas há sinais de repilação. A dermatoscopia e a
são frequentes e a repilação, quando ocorre, biópsia podem ser úteis para o diagnóstico.
é com pelos brancos inicialmente. Em alguns Trata-se de um TOC (Transtorno Obsessivo-
casos, pode-se detectar autoanticorpos contra -Compulsivo), com tensão progressiva antes do
células parietais gástricas, tireoglobulina, célu- arrancamento e alívio imediato após. O trata-
las adrenais e da tireoide. Acredita-se, então, mento se baseia no suporte psicológico.
em fator autoimune como desencadeador.
EFLÚVIO TELÓGENO
É relatada a incidência de HLA DR4, DR5 e
DQW8 em casos de maior gravidade e há maior Trata-se da queda exagerada e rápida dos cabe-
associação da alopecia areata com síndrome los após um estímulo determinado, ocorrendo
de Down e dermatite atópica. A distribuição após 3 meses. Os fios passam rapidamente da
é universal, com homens e mulheres sendo fase anágena (de crescimento e maturação),
afetados igualmente. Alterações ungueais (pit- para a fase catágena (repouso) e por fim para a
tings) estão presentes em até 60% dos casos, telógena (desprendimento e queda). São des-
podendo se associar à catarata. Você já deve critos como fatores desencadeantes:
• Parto;
• Suspensão de contraceptivos orais;
• Febres altas;
• Estresse emocional intenso;
• Dietas radicais;
• Cirurgias;
• Hemorragias;
Figura 3.17 – Alopecia areata feminina manifestada
• Após infecções; na região ocipital craniana.
mais graves, a erupção pode ser vesicular ou mais característico é a palidez e as alterações
bolhosa (pelagra úmida). A lesão da pelagra vacuolares dos queratinócitos nas camadas
fotossensível aguda leva quatro vezes mais superiores do estrato de Malpighi, logo abaixo
tempo para cicatrizar do que a queimadura da camada granulosa, a qual pode estar ate-
provocada normalmente pelo sol. Após diver- nuada. Se essa alteração for acentuada, pode
sos eventos fototóxicos, há espessamento, haver a formação de uma fenda alta na epi-
descamação e hipopigmentação da pele afe- derme, correlacionando-se com as vesículas
tada. A pele apresenta uma coloração aco- vistas na pelagra úmida.
breada ou da cor do mogno. Nos casos protraí-
dos, a pele, finalmente, se torna seca, lisa, fina DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
e vítrea, com uma consistência de pergaminho.
Raramente, ocorre formação de cicatrizes. Se as lesões cutâneas características estiverem
presentes, não é difícil realizar o diagnóstico
A aparência do nariz é razoavelmente caracte-
clínico. O tratamento dietético é essencial para
rística. Há eritema intenso com descamação
corrigir a má nutrição. O consumo de proteí-
fina, amarelada nos orifícios foliculares (flo-
nas animais, ovos, leite e vegetais é benéfico.
cos de enxofre). Exceto pela sua localização, a
É recomendável administrar 100 mg de nicoti-
erupção é semelhante à dermatite seborreica.
namida três vezes ao dia por várias semanas.
Tampões de sebo espesso podem projetar-se
A reposição de fluido e eletrólitos perdidos
dos orifícios dilatados no nariz, dando-lhe uma
devido à diarreia tem de ser feita e, nos pacien-
aparência áspera.
tes com sintomas gastrointestinais que interfi-
No início, ocorrem fraqueza, perda de apetite, ram na absorção, deve-se pensar em reposição
dor abdominal, diarreia, depressão e fotossen- endovenosa. A resolução das lesões cutâneas
sibilidade. As lesões cutâneas podem ser o sinal tem início 24 horas após o começo do trata-
mais precoce, sendo a fototoxicidade o sintoma mento com niacina, confirmando o diagnós-
de apresentação na maioria dos casos. Os sin- tico. O etilismo, se presente, deve ser tratado e
tomas neurológicos e gastrointestinais podem os fatores que possam ter levado ao desenvol-
ocorrer sem as alterações cutâneas. Nos está- vimento de pelagra devem ser corrigidos.
gios mais avançados, pode haver predomínio
dos sintomas neurológicos; apatia, depressão,
fraqueza muscular, parestesia, cefaleia e episó- DEFICIÊNCIA DE ZINCO
dios de tonteira ou quedas são manifestações
A deficiência de zinco pode ser uma anorma-
típicas. Podem ocorrer alucinações, psicose,
convulsões, demência, degeneração neuroló- lidade herdada, a acrodermatite enteropática,
gica e coma. A doença é progressiva, podendo ou adquirida. Lactentes prematuros têm risco
ser fatal se não for tratada. particularmente aumentado devido aos depó-
sitos reduzidos presentes no organismo, à
absorção reduzida e à necessidade aumentada
PATOLOGIA
de zinco. Em geral, o leite materno tem quanti-
Histologicamente, as alterações cutâneas dades adequadas de zinco e o desmame, tipi-
variam de acordo com o estágio da doença. camente, desencadeia uma deficiência clínica
Pode haver ortoqueratose ou paraqueratose de zinco nos lactentes prematuros e naqueles
discretamente confluente; a pigmentação que apresentam acrodermatite enteropática.
basal está aumentada. A derme papilar apre- Entretanto, ela pode ocorrer nos lactentes
senta vasos dilatados e edema. O aspecto a termo e nos prematuros que ainda estão
sendo amamentados. Isso acontece por causa aparência mais psoriática. Pode haver alo-
dos baixos níveis de zinco no leite materno ou pecia generalizada.
a uma necessidade aumentada deste mine-
A diarreia está presente na maioria dos casos.
ral, acima da quantidade encontrada no leite
Há retardo do crescimento, manifestações
materno (mesmo que sua quantidade no leite
oftalmológicas, dificuldade na cicatrização
materno seja normal). Uma síndrome rara
de feridas e acometimento do sistema ner-
de miopatia congênita, diarreia recorrente,
voso central. Os pacientes são extremamente
microencefalia e surdez tem sido associadas
irritáveis e têm labilidade emocional. Na defi-
à erupção bolhosa neonatal característica da
ciência de zinco há diversas anormalidades
deficiência nutricional. Essas crianças precisam
na resposta inflamatória. A histopatologia das
da suplementação de doses elevadas de zinco.
deficiências hereditária e adquirida de zinco é
A nutrição parenteral sem teor adequado de idêntica. Ocorre vacuolização dos queratinóci-
zinco pode levar a sua deficiência. A deficiência tos do estrato superior da camada de Malpighi.
adquirida de zinco também ocorre nos etilistas Essas áreas de vacuolização se tornam con-
devido à ingestão nutricional inadequada e à fluentes, formando uma bolha subcórnea. Nas
excreção urinária aumentada; como complica- lesões maiores, pode haver necrose epidér-
ção da má absorção, doença intestinal inflama- mica total com formação de bolhas subepidér-
tória ou cirurgia gastrintestinal e, às vezes, em micas. A presença de neutrófilos é típica.
casos de anorexia nervosa e síndrome da imu-
Deve-se suspeitar do diagnóstico nos indiví-
nodeficiência adquirida (Aids). Pacientes com
duos que apresentam um alto risco para esta
doença oral erosiva, como pênfigo ou doença
condição e com dermatite acral ou periorifi-
enxerto versus hospedeiro, podem desenvol-
cial, especialmente em lactentes com assadura
ver deficiência de zinco decorrente da desnu-
crônica e diarreia. O diagnóstico pode ser con-
trição. As necessidades de zinco estão aumen-
firmado pelos baixos níveis séricos de zinco.
tadas nos períodos de estresse metabólico e,
Níveis reduzidos de fosfatase alcalina, uma
por isso, a deficiência sintomática pode ocorrer
enzima dependente de zinco, podem ser um
durante infecções, após trauma ou cirurgia, em
casos de tumores malignos, durante a gravidez exame adjunto valioso quando o nível sérico
e na doença renal. Dietas ricas em grãos apre- de zinco for normal ou próximo ao normal. Em
sentam níveis elevados de fitato (ácido fítico), alguns pacientes, mesmo que os níveis séricos
que liga o zinco, tendo causado deficiência de zinco estejam normais, se as lesões cutâ-
endêmica em certas áreas do Oriente Médio e neas forem características, deve-se levar em
norte da África. consideração a instituição do tratamento com
zinco. A reposição é feita com 1 a 2 mg/kg/dia
A dermatite encontrada em todas as formas de deficiên-
cia de zinco é pustular e bolhosa, com uma distribuição de sulfato de zinco (50 mg de zinco elementar
acral periorificial. Na face, virilha e outras superfícies em cada comprimido de 220 mg de sulfato de
flexoras ocorrem áreas de descamação seca e erite-
matosa com exsudação, queilite angular com crostas e zinco). Nos casos adquiridos, além do trata-
estomatite. mento transitório, deve-se tratar a patologia
As áreas periungueais apresentam eritema, de base. Nos casos de acrodermatite entero-
descamação e, algumas vezes, pústulas fláci- pática, deve-se administrar 3 mg/kg/dia do
das superficiais. Pode ocorrer distrofia ungueal suplemento indefinidamente. Deve-se evitar a
com unhas finas e sulcos longitudinais proemi- suplementação excessiva de zinco, pois pode
nentes. As lesões crônicas podem ter uma causar redução nos níveis de cobre.
comum, mas, com a introdução da terapêutica na ZMB (de 50% a 70%), além de FAN positivo
corticoesteroide, as últimas lesões a desapa- (80%). Esses pacientes são classificados por
recerem são as das áreas fotoexpostas. alguns autores como portadores da síndrome
de Senear-Usher. Acredita-se que tais pacien-
O pênfigo eritematoso (PE ou Síndrome de
tes apresentem PF associado ao quadro de
Senear- Usher) é a forma frusta do PF, locali-
lúpus eritematoso.
zada na face, no pescoço e no tronco superior,
ou seja, nas áreas seborreicas e fotoexpostas. A IFI identifica os autoanticorpos séricos, sendo
O quadro imunológico do PE se assemelha ao que os títulos de IgG se correlacionam com a
pênfigo foliáceo, com a adição de uma faixa extensão da doença.
linear de depósito de IgG e C3 na zona da mem-
brana basal. TRATAMENTO
O pênfigo hgerpetiforme é uma variante do O tratamento de escolha é a corticoterapia
pênfigo que se assemelha clinicamente à der- sistêmica, sendo, geralmente, necessárias
matite herpetiforme, com características imu- doses mais baixas do que as empregadas no
nológicas do pênfigo foliáceo e, por vezes, do PV para controle do quadro. Nos casos loca-
pênfigo vulgar. Vale ressaltar que o PF, assim lizados de PE, pode-se utilizar apenas corti-
como o PV, pode ser induzido por drogas coide tópico, além da fotoproteção. Como a
que contêm grupo sulfidril, como a penicila- radiação ultravioleta induz o aparecimento
mina, captopril, enalapril e rifampicina. das lesões, pode-se empregar a cloroquina no
tratamento, sendo fundamental a fotoprote-
DIAGNÓSTICO ção. Um poupador de corticoide que oferece
bons resultados terapêuticos é a dapsona.
A IFD demonstra depósito intercelular de IgG Nas lesões queratósicas resistentes à corti-
e C3 na epiderme, como no PV. Doentes com coterapia sistêmica e nos casos refratários à
quadro localizado de PF nas áreas fotoexpostas corticoterapia, pode-se empregar as mesmas
podem apresentar depósitos de autoanticorpo medicações utilizadas no PV.
Pênfigo vulgar
Observa-se clivagem baixa, suprabasal, com células acantolíticas (perdem o formato hexagonal, tornando-
-se arredondadas). Autoanticorpos (IgG) podem ser detectados pela técnica de imunofluorescência direta em
fragmento de pele perilesional (aspecto rendilhado na camada espinhosa) e da imunofluorescência indireta,
no soro do paciente.
Pênfigo foliáceo
Observa-se bolha intraepidérmica acantolítica em nível mais alto do que no pênfigo vulgar, geralmente logo
abaixo da camada córnea ou na camada espinhosa alta. A técnica de imunofluorescência (direta e indireta)
revela a presença de autoanticorpos da classe IgG semelhantes ao verificados no pênfigo vulgar.
Penfigoide bolhoso
O exame histopatológico revela bolha subepidérmica. Autoanticorpos da classe IgG, direcionados contra antí-
genos de 230 kDa e 180 kDa, podem ser evidenciados pela imunofluorescência, direta e indireta. A imunofluo-
rescência direta, realizada em pele perilesional, revela depósito linear de IgG na zona da membrana basal.
Tabela 3.10
Figura 3.22 - (A) Pênfigo foliáceo com apresentação superficial; (B) Histopatologia evidenciando acantólise; (C) A microscopia de imunofluorescência do pên-
figo foliáceo revela IgG intercelular na proporção alta da epiderme. Correção: Colocar “A”, “B” e “C” nas figuras
Figura 3.23 - (A) Pênfigo vulgar moderado em região abdominal; (B) PV intenso em região anterior e mamária; (C) Lesões bolhosas orais típicas do PV.
Figura 3.24 - (A) Lesão bolhosa de pênfigo vulgar; (B) Histopatologia evidenciando células individuais livres dentro da bolha suprabasal (células acantolíticas);
(C) O depósito de IgG nas áreas intercelulares da epiderme é característico de pênfigo.
Figura 3.25 - Lesões bolhosas tensas de base eritematosa, às vezes urticada em áreas flexoras; com conteúdo amarelo-citrino.
clorambicil, metotrexate) são necessários para em adultos jovens, com as mulheres ultrapas-
o controle do quadro. sando os homens em números (2:1).
A grande maioria das lesões aparece na face, Superficial ou pagetoide: segundo em fre-
principalmente nos dois terços superiores. quência, crescimento inicialmente radial e
Principais indicações para a cirurgia micrográ- cirúrgica é inviável, a AAD recomenda o uso
fica de Mohs: CBC esclerodermiforme, tumo- tópico de imiquimode ou 5- fluorouracil. Vale
res maiores que 2 cm, bordas mal definidas, ressaltar que a terapia tópica requer ajuste de
tumores recorrentes (Rook). dosagem baseada na tolerância e apresenta-
ção de eventos adversos.
A criocirurgia com nitrogênio líquido é uma
boa e versátil opção terapêutica para os
tumores cutâneos de baixo risco, quando OUTRAS TERAPIAS
terapias mais efetivas são contraindicadas
ou impraticáveis. Com aparelhos especiais, Segundo a AAD, terapias baseadas em braqui-
consegue-se crionecrose dos tecidos, obtida terapia a laser ou eletrônica no tratamento do
com temperaturas que variam de -30 a -60°C, carcinoma basocelular não apresentaram, até
e a morte celular ocorre por formação de gelo o presente momento, resultados expressivos
intra e extracelular. Ocorrem também fenôme- para que se possa recomendar o uso rotineiro.
nos imunológicos. Algumas indicações e vanta-
gens da criocirurgia são: RECOMENDAÇÃO PARA
a. Tratamento de lesões tumorais localiza- METÁSTASE E INVESTIGAÇÃO DE
das em áreas anatômicas, com mobili- OUTROS TUMORES ASSOCIADOS
dade mínima do tecido, tais como nariz,
pavilhões auriculares, região frontal e Em casos de pacientes com metástáse, a AAD
dorso das mãos; recomenda avaliação e acompanhamento
multidisciplinar para que se chegue à melhor
b. Áreas com possibilidade de ocorrerem opção terapêutica para aquele paciente em
cicatrizes e retrações indesejáveis, tais específico. É possível que a estratégia terapêu-
como pálpebras e região pré-esternal.
tica envolva cirurgias e medicamentos para
A criocirurgia não deve ser utilizada em pacien- quimioterapia sistêmica. Além disso, é impres-
tes com histórico clínico de sensibilidade ao cindível o rastreio anual de outros tumores,
frio, com doença ou fenômeno de Raynaud, ou inclusive benignos, pois estudo recente verifi-
que tenham exames alterados para crioglobu- cou forte evidência de que, quando há apre-
linas e crioaglutininas. sentação de um CBC, esse paciente possui
altas chances de desenvolver não somente a
TERAPÊUTICA FOTODINÂMICA mesma lesão como outros tipos de tumores.
(PDT)
SÍNDROME DE GORLIN
Para tumores de baixo risco, há alternativa do
uso de terapia fotodinâmica com MAL (meti- A síndrome do carcinoma de células basais
laminolevinato) ou ALA (ácido aminolevulí- nevoide (SCCBN), ou a síndrome do nevo de
nico) e terapia de radiação através do uso de células basais, é um distúrbio autossômico
radiação superficial, braquiterapia, feixe de dominante, caracterizado pelo desenvolvi-
elétrons externo, entre outros. mento de múltiplos carcinomas de células
basais; cistos odontogênicos na mandíbula;
IMUNOBIOLÓGICOS TÓPICOS pequenas depressões nas mãos e nos pés;
anomalias ósseas nas costelas, coluna e crânio;
Recentemente, novas drogas estão sendo e outros múltiplos distúrbios. Cistos de quera-
estudadas para o tratamento dos tumores tina são vistos com frequência, podendo haver
cutâneos em geral. Nos casos em que a terapia a presença de depósitos de cálcio na pele,
queratose actínica, 17% para cicatriz de quei- orelha (8,8%). O risco de metástase aumenta
maduras, 20% para radiodermite crônica e 31% para as lesões com mais de 2 cm de diâme-
para fístula de osteomielite crônica. tro, lesões cutâneas com mais de 4 mm de
profundidade e lesões no lábio com mais de
8 mm de profundidade.
METÁSTASES
Os pacientes com disseminação perineural
A incidência de metástases no carcinoma apresentam incidência de recorrência local de
de células escamosas varia de 0,5% a 5,2%. 47,2% e metastática de 34,8%. As chances de
Deve-se dar atenção especial aos linfonodos metástases são seis vezes maiores no carci-
regionais que drenam o local do tumor. Eles noma de células escamosas desmoplásico do
devem ser avaliados no exame inicial, quando que nos outros padrões histológicos, excluindo
a lesão suspeita é identificada, e nas consultas as formas neurotrópicas.
após o tratamento do tumor.
Os pacientes com carcinoma de células esca-
Os fatores de risco para a recidiva local e mosas apresentam risco maior de desenvol-
metástases incluem: ver outros tumores malignos, como tumor
dos órgãos respiratórios, da cavidade oral, da
1. Modalidade de tratamento que não verifique
faringe, do intestino delgado (nos homens), lin-
as margens do espécime (como curetagem e
foma não Hodgkin e leucemia. O tratamento
dissecação, crioterapia ou radioterapia);
do CEC obedece aos mesmos princípios do tra-
2. Recorrência após o tratamento; tamento do carcinoma basocelular.
3. Localização (têmporas, couro cabeludo, ore- Cabe aqui ressaltar que os carcinomas do
lha, lábios); tipo basocelular e espinocelular, juntos, cons-
tituem o grupo determinado de “tumores não
4. Tamanho;
melanoma”. Esses dois tipos, embora sejam
5. Profundidade; de baixa mortalidade quando comparados a
6. Diferenciação histológica; outros tipos de tumor, são os tumores de maior
incidência no Brasil. Diante disso, as diretrizes
7. Evidência histológica de invasão perineural; para prevenção do câncer de pele em crianças
8. Evidência histológica de desmoplasia; e adultos, atualizadas em 2018, destacaram
que pessoas de cútis clara, com sardas e que
9. Outros fatores precipitantes além da luz UV; e
se bronzeiam com facilidade devem receber
10. Paciente imunossuprimido. Em referência imprescindível aconselhamento médico acerca
às metástases, as maiores taxas estão asso- do uso de filtro solar na idade entre 6 meses e
ciadas às cicatrizes (37,9%), lábio (13,7%) e 24 anos e a partir de 24 anos de idade.
A B C
Figura 4.2 – Carcinoma espinocelular com características de corno cutâneo (A). Lesão
ulceroinfiltrativa avançada (B). CEC de mucosa de glande – eritroplasia de Queyrat (C).
A B C
Figura 4.3 – Variações topográficas do carcinoma verrucoso: plantar ou epitelioma cuniculatum (A); Urogenital ou condiloma acuminado
gigante de Buscke-Loewenstein (B) e da cavidade oral ou papilomatose oral florida (C).
Angiogênese Imortalização
Figura 4.4 - Visão resumida das alterações moleculares detectadas no melanoma cutâneo identificadas por Hanahan & Weinberg.
LENTIGO MALIGNO-MELANOMA
MELANOMA EXTENSIVO SUPERFICIAL
O melanoma nodular é responsável por 10%- O melanoma primário das mucosas é raro, mas
15% de todos os melanomas, sendo o segundo tipicamente demonstra um padrão de cresci-
tipo mais comum. Pode aparecer em qualquer mento lentiginoso (juncional). Na boca, espe-
parte do corpo, sendo encontrado com maior cialmente no palato, a lesão é geralmente pig-
frequência em pacientes entre os 20 e 60 anos mentada, podendo ser ulcerada. Na mucosa
de idade (idade média de aproximadamente 53 nasal, ele pode se apresentar como um tumor
anos ), no tronco, na cabeça e no pescoço. Tam- polipoide. No lábio, pode tomar a forma de
bém é assintomático, a não ser que se ulcere. O uma úlcera indolente. O melanoma da vulva se
paciente, em geral, procura o médico se quei- manifesta como um tumor, geralmente ulce-
xando do aparecimento de pápulas protube- rado, com sangramento e prurido. Normal-
rantes e escuras ou de uma placa escura que mente, ele é detectado depois da instalação de
cresceu rapidamente com pouco aumento no metástases para a virilha.
sentido radial. A cor pode variar do branco per-
láceo ao cinza ou ao preto. Ocasionalmente, o MELANOMA AMELANÓTICO
melanoma nodular pode apresentar pouco ou
Merece destaque pela dificuldade e pelo
nenhum pigmento. A evolução é rápida (6-18
retardo de reconhecimento como lesão
meses), com prognose mais grave.
maligna. Suas células são incapazes de pro-
Geralmente, surge em pele sã (melanoma de duzir melanina, sua função básica, daí o alto
novo). grau de indiferenciação e a alta malignidade,
com comportamento mais agressivo que o dos
MELANOMA LENTIGINOSO ACRAL melanomas melanóticos e maior capacidade
de invasão.
Corresponde à forma mais comum de mela-
noma entre negros e asiáticos (60%-72% em Trata-se do melanoma desmoplásico, cujas
negros e 29%-46% em asiáticos). É o tipo menos localizações mais comuns são a cabeça e a
frequente em indivíduos de pele clara (2%-8%). parte superior do tronco e 50% podem apre-
A idade média de aparecimento é de 55 a 65 sentar neurotropismo. Ocorre em pacientes
anos. O período de evolução é de aproximada- de idade média de 63 anos, tendo prognóstico
mente 2 anos e meio. Pode ser palmar, plantar reservado. Os principais diagnósticos diferen-
ou subungueal. A lesão é castanha, marrom ou ciais são granuloma piogênico, CBC e quera-
negra, com variação na cor e bordas irregula- tose actínica.
res, podendo haver pápulas e nódulos na fase
de crescimento vertical com grande poder de DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
metástase.
Os principais diagnósticos diferenciais do mela-
O melanoma subungueal é raro, geralmente noma cutâneo são com nevo atípico, nevo de
ocorre no hálux, ou polegar, podendo se apre- Spitz, nevo de Reed, carcinoma basocelular pig-
sentar apenas como uma faixa de cor preta, mentado, nevo azul, hemangioma trombosado,
maior que 6 mm de largura ou mesmo envol- queratose seborreica, melanoníquia estriada,
vendo toda a unha, por vezes hipercromia do hemantoma subungueal e alguns tumores ane-
leito ungueal proximal (pigmentação da prega xiais raros.
Figura 4.6 – Melanoma lentiginoso acral. Figura 4.8 – Melanoma nodular com satelitose.
Regra do ABCDE:
A. Assimetria;
B. Bordas irregulares;
C. Cores variadas;
Figura 4.9 – Lentigo maligno-melanoma. D. Diâmetro ≥ 6 mm, ou em crescimento;
BIÓPSIA
podem apresentar regressão liquenoide, simu- As metástases locais ocorrem por via linfática
lando a queratose liquenoide benigna. A coli- e podem ser lesões satélites (se até 2 cm do
são com outras lesões pigmentadas, como o tumor de origem) ou metástases em trânsito
lentigo solar benigno, o acantoma pigmentado (se distantes mais de 2 cm do tumor). Metásta-
de células grandes e a queratose actínica pig- ses regionais, também linfáticas, são caracte-
mentada, é comum. rizadas pelo comprometimento de linfonodos.
Como existe o potencial de se biopsiar a área A ulceração da lesão é o maior predisponente
errada, pequenas biópsias frequentemente de envolvimento linfonodal. O risco de acome-
levam a um diagnóstico errôneo. A melhor téc- timento de linfonodo também é diretamente
nica de biópsia na suspeita de lentigo maligno proporcional ao nível de Breslow, que será
é geralmente a biópsia superficial tangencial abordado na sequência. Metástases sistêmicas
ampla. Isso resulta em uma cicatriz mínima têm origem hematogênica e privilegiam órgãos
e fornece ao patologista uma ampla área da como a própria pele (42%-59%), o pulmão (18%-
junção dermoepidérmica para ser examinada. 36%), o fígado (14%-20%), o SNC (12%-20%), os
Se a lesão for heterogênea, devem-se biopsiar ossos (11%-27%) e o trato gastrintestinal (1%-
diversas áreas. Se existe a suspeita de lentigo 7%). As metástases para o SNC são a princi-
maligno ou melanoma desmoplásico, deve-se pal causa de óbito.
realizar uma biópsia incisional. Os erros de
biópsia são mais comuns com as biópsias por
PROGNÓSTICO
punção. A PAAF é realizada nos casos de mela-
noma com doença em trânsito (melanoma O prognóstico do melanoma está direta-
que se dissemina para qualquer um dos gân- mente relacionado ao grau de invasão da
glios linfáticos). pele. Existe uma correlação linear entre o
grau de invasão (Breslow) e a sobrevida em 10
HISTOPATOLOGIA
anos. Assim como a classificação de Breslow,
os níveis elevados de desidrogenase lática e a
As biópsias devem ser examinadas por um der-
matopatologista ou um patologista com expe- presença de ulceração no tumor primário são
riência em lesões pigmentadas. O laudo deve considerados fatores independentes de mau
incluir: a espessura máxima em milímetros, prognóstico. Se houver acometimento linfo-
conforme o método de Breslow; o nível de nodal ou doença metastática, o prognóstico é
invasão de Clark; a presença ou a ausência sombrio independentemente da gravidade do
de ulceração; o estado das margens da exé- acometimento da pele.
rese; e a presença de lesões satélites, que é
um forte indicador de prognóstico adverso. CLASSIFICAÇÃO DE BRESLOW
Outros fatores importantes incluem regres-
são, índice mitótico, linfócitos infiltrando • TIS: tumor não invasivo, in situ, não sendo
o tumor, fase de crescimento (radial versus encontrados melanócitos atípicos abaixo
vertical), invasão angiolinfática, neurotro- da membrana basal;
pismo e subtipo histológico. • TI: melanócitos atípicos não mais profun-
dos do que 0,75 mm da superfície cutânea
METÁSTASES no corte histopatológico;
• TII: 0,75 a 1,5 mm;
As metástases ocorrem por via linfática e
sanguínea e são divididas em locais, regionais • TIII: 1,5 a 3 mm;
e sistêmicas. • TIV: 3 a 4 mm;
[
Figura 4.12 - O nível de Breslow é medido do topo da camada granulosa até a célula tumoral mais profunda.
Não utilizamos um limite inferior para definir proporcionais ao índice de Breslow (microes-
a presença de metástases nodais regionais. tadiamento) da lesão primária, uma vez que
No consenso anterior, tumores com depósitos o aumento de espessura piora o prognóstico
nodais < 0,2 mm de diâmetro não eram con- desse tumor.
siderados metastáticos. Entretanto, tumores
Breslow Margem de excisão
pequenos podem ser clinicamente significati-
In situ 0,5 - 1,0 cm
vos. O DHL elevado permanece como um sig- ≤ 1 mm 1 cm
nificativo preditor de sobrevida e pode ser uti- 1-2,0 mm 1 - 2,0 cm
lizado para categorizar o estádio M. > =2 mm 2 cm
Sítios de metástase à distância continuam Tabela 4.7 - Margem de excisão cirúrgica em
comparação ao estágio Breslow.
representando primariamente um compo- O Comitê de Melanoma da AJCC recomenda
nente da categoria M. Cintilografia, mapea- que todos os pacientes com LN regionais cli-
mento dos linfáticos e biópsia de linfonodo nicamente negativos e que possam ser con-
sentinela (linfadenectomia) permanecem como siderados para futuros ensaios terapêuticos,
ferramentas importantes no estadiamento do cirúrgicos ou adjuvantes, devem ser mapeados
melanoma e podem ser utilizadas na definição intraoperatoriamente, com a técnica do linfo-
de doença oculta estádio III em pacientes com nodo sentinela, e consequente estadiamento
apresentação clínica IB ou II. patológico, para que haja homogeneidade
A presença de microssatélites não tem boa dentro dos grupos tratados e melhor discer-
correlação com o prognóstico e, pela classifi- nimento entre o impacto proveniente da his-
cação do Melanoma Task Force, deve ser esta- tória natural e/ou da terapêutica utilizada nos
diada como N2c. O melanoma metastático de diferentes ensaios. Melanomas com Breslow
sítio primário desconhecido, diagnosticado em acima de 1 mm de espessura ou menores com
linfonodos, pele e tecido celular subcutâneo, é ulceração merecem a realização de um linfo-
caracterizado mais como estágio III do que IV. nodo sentinela com efeito de estadiamento e
possível remoção de micrometástases.
A sobrevida dos pacientes com metástases
(+) ECRM/Avaliar
regionais intralinfáticas é melhor que a dos parotidectomia
Linfonodos Pesquisa
outros pacientes do estádio IIIB. clinicamente negativos linfonodo sentinela
Seguimento
(-)
TRATAMENTO
Linfonodos
clinicamente positivos
O tratamento do melanoma maligno é cirúr-
gico e deve ser realizado o mais precocemente Figura 4.13 - Fluxograma da AJCC para conduta sobre
linfonodos de pacientes com melanoma.
possível. O diagnóstico e o tratamento preco-
ces são fundamentais para a cura. Atualmente, as indicações da pesquisa do lin-
fonodo sentinela são:
A abordagem inicial consiste em exame clí-
nico da lesão e, se necessário, exame derma- • Lesões primárias com espessura maior do
toscópico para determinar a necessidade de que 0,76 mm;
exérese da lesão. Faz-se uma biópsia excisio- • Lesões com espessura menor que 0,76
nal da lesão, com margem mínima de 2 mm, e mm, associadas à ulceração e/ou ao índice
um estudo anatomopatológico. Em caso posi- mitótico diferente de zero, e/ou nível de
tivo para melanoma, o tratamento cirúrgico Clark IN, e/ou regressão extensa.
complementar, com ampliação de margens O melanoma subungueal merece algumas
cirúrgicas iniciais, deve ser feito com margens considerações especiais: como o polegar é o
sítio anatômico mais comum, sempre que pos- são necessários para que a terapia com vaci-
sível, deve ser tratado por ressecção ao nível nas possa ser considerada como uma opção de
da articulação interfalangeana distal, para pre- terapia adjuvante.
servar a função de oponência e manter a fun-
A radioterapia adjuvante deve ser considerada
cionalidade do membro; em relação ao hálux, em pacientes com envolvimento extranodal e
recomenda-se a desarticulação metatarso-fa- com a presença de linfonodos coalescentes e
langeana, preservando a cabeça do primeiro no envolvimento linfonodal em pacientes com
metatarso para manter a base de apoio, obten- melanoma de cabeça e pescoço.
do-se um resultado funcional bastante aceitá-
vel. Para os demais dedos, a amputação em Em pacientes com metástases em trânsito ou
raio é recomendável na maioria das ocasiões. satélite, para os casos com pouca doença e
possibilidade de ressecção, a excisão completa
com margens negativas é o tratamento prefe-
TERAPIA ADJUVANTE
rido. Os pacientes com metástase em trânsito,
O uso de interferon-α2b adjuvante em altas única e completamente ressecada, devem rea-
doses mostrou melhora na sobrevida livre lizar a análise do linfonodo sentinela, pela alta
de recidiva em três estudos cooperativos e probabilidade de metástase linfonodal; para os
melhora na sobrevida global em dois deles, pacientes com número finito de metástases em
levando à aprovação dessa terapia para trânsito, sem possibilidade de excisão completa,
pacientes com melanomas com mais de 4 mm as opções são injeção intralesional com BCG ou
de espessura (IIB ou IIC) ou envolvimento de interferon, perfusão isolada hipertérmica de
linfonodos regionais (III), sem patologias sérias membro com melfalano, radioterapia (baixa efi-
preexistentes e com uma expectativa de vida cácia), terapia sistêmica (particularmente após a
maior do que 10 anos. Essa terapia com altas falha de terapia local e/ou regional).
doses causa muitos efeitos colaterais (fadiga,
sintomas constitucionais, cefaleia, náuseas, TRATAMENTO DA DOENÇA METASTÁTICA
perda de peso, mielossupressão, depressão), e
A abordagem terapêutica dos pacientes com
frequentemente requer redução de doses. Por
melanoma estádio IV (cirurgia, radioterapia,
isso, deve ser administrada por um profissio-
quimioterapia, imunoterapia) varia de acordo
nal que esteja familiarizado com a sua toxici-
com a localização da metástase, o número de
dade. As críticas ao uso do IFN-α2b estão rela-
lesões e sítios envolvidos, as condições clíni-
cionadas ao fato de ser um tratamento tóxico
cas e a idade do paciente.
e sem evidências de vantagem consistente na
sobrevida a longo prazo. A despeito da toxici- Pacientes com metástase única no cérebro ou metás-
tases pulmonares (nesse caso, não necessariamente
dade, da modesta eficácia e do custo elevado metástase única) devem ser considerados para trata-
do IFN-α2b, análises retrospectivas mostram mento cirúrgico.
que o uso desse agente está associado com a
Após o tratamento cirúrgico da metástase
melhora na qualidade de vida e apresenta um
cerebral, recomenda-se radioterapia de todo o
custo-benefício favorável.
cérebro. Pacientes com metástase cerebral não
Várias vacinas têm sido investigadas como candidatos à cirurgia, cuja lesão seja menor
terapia adjuvante potencial para pacientes do que 3 cm, são candidatos a um tratamento
com melanoma de alto risco. Poucos estudos radiocirúrgico, seguido de radioterapia total
de fase III testaram a eficácia das vacinas. Ape- do cérebro. Para pacientes com metástase
sar de alguns resultados animadores, estudos cerebral e metástases sistêmicas concomitan-
prospectivos confirmando esses resultados tes, além de radioterapia de todo o cérebro, é
necessário tratamento sistêmico. A fotemus- hepática. Esse tratamento deve ser realizado
tina atravessa a barreira hematoencefálica e em centros capacitados para atender às inter-
demonstra modesta resposta em estudos clí- corrências da bioquimioterapia. Para pacientes
nicos fases II e III em melanoma metastático, que não preenchem os critérios para o uso de
embora sem impacto na sobrevida. Recomen- bioquimioterapia, considerar tratamento com
da-se fotemustina 100 mg/m2 nos dias 1, 8 e quimioterapia (combinação ou droga única) ou
15, concomitantemente com a radioterapia do encaminhar para participar de estudo clínico.
cérebro e com 4 semanas de repouso. Após
Uma nova classe de drogas com ação imuno-
reavaliação, e se obtiver resposta, continuar
terápica vem sendo desenvolvida nos últimos
o tratamento com 100 mg/m2 a cada 21 dias.
anos: os bloqueadores de CTLA-4. São anti-
Outra opção a considerar para potencializar o
corpos humanos, com afinidade pelo receptor
efeito da radioterapia no cérebro é administrar
CTLA-4 do linfócito T. Este, é responsável pela
temozolomida 75 mg/m2 VO/dia durante 6
contrarregulação do estímulo provocado pela
semanas concomitantes.
apresentação do antígeno, de forma que, com
Para pacientes com doença sistêmica sem um estímulo inibitório, a ação efetora imune é
metástases para o cérebro, considerar trata- diminuída. Com o bloqueio desse receptor, o
mento com bioquimioterapia ou quimiotera- sinal inibitório é interrompido, permitindo que
pia. Embora a recomendação de terapia sistê- a atividade efetora do linfócito T seja máxima.
mica seja amplamente aceita, deve-se salientar O princípio teórico é de que com uma ativação
que os ensaios clínicos randomizados realiza- imune inespecífica, possa haver um melhor
dos até o momento não apresentaram vanta- controle do melanoma, que por si só é uma
gem significativa na sobrevida para nenhuma neoplasia caracterizada por uma importante
droga ou combinação específica, incluindo a imunogenicidade.
dacarbazina e a interleucina-2 em altas doses,
O uso de drogas, com alvos moleculares espe-
ambas aprovadas para o uso. Na decisão sobre
cíficos, também vem sendo estudado em mela-
o uso de quimioterapia ou bioquimioterapia,
noma, a exemplo das demais neoplasias. A pri-
devem pesar alguns pontos: a bioquimiote-
meira droga utilizada foi o sorafenibe, por seu
rapia induz toxicidade severa e por isso deve
potencial de bloqueio do BRAF. Atualmente, o
ser reservada para pacientes selecionados e
uso do vemuracenibe foi aprovado como tera-
ser administrada por profissionais habituados
pia imunobiológica, assim como o ipilimumab
com os efeitos tóxicos; ela se mostrou superior
(anticorpo anti CTLA 4), o pembrolizumab e o
à quimioterapia em apenas um estudo ran-
nivolumab, ambos anticorpos anti-PD1. São
domizado; a bioquimioterapia induz resposta
aguardados os dados dos estudos clínicos des-
duradoura acima de 3 anos em 5% a 10% dos
sas drogas para os próximos anos.
pacientes.
LINFOMA CUTÂNEO DE
CÉLULAS T
O linfoma cutâneo de células T corresponde a
uma classe de tumores originários dos linfóci-
tos T. Entre os subtipos, o mais frequente é a
Figura 4.14 – Micose fungoide no estágio de placa,
micose fungoide. com placas pequenas e grandes.
TRATAMENTO
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