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a solução para o seu concurso!

SEE-SP
SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO
DE SÃO PAULO

Professor de Ensino Fundamental


e Médio - QUÍMICA

EDITAL DE ABERTURA DE INSCRIÇÕES Nº 01/2023

CÓD: SL-116MA-23
7908433236672
INTRODUÇÃO

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação. É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como
estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.

Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou esta introdução com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!


• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho;

• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área;

• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total;

• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo;

• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.

• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame;

• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.

A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Vamos juntos!

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INTRODUÇÃO

O concurso SEE-SP é uma oportunidade única para quem deseja ingressar no serviço público como servidor da
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Por isso, é importante se preparar adequadamente para enfrentar
essa prova desafiadora. A Editora Solução se orgulha de apresentar uma apostila exclusiva para Conhecimentos
Específicos - Especialidade, a fim de auxiliar os estudantes a alcançar seus objetivos.
Nosso material foi organizado de forma a introduzir o aluno no que é cobrado pelo edital e nas principais
bibliografias indicadas para o concurso. Ressaltamos que a apostila é uma ferramenta introdutória e complementar
aos estudos. Para obter um conhecimento completo, é fundamental que o estudante vá atrás de cada bibliografia e
documento oficial indicado no edital.
Nossa apostila visa auxiliar na compreensão dos principais pontos cobrados no edital, assim como fornecer uma
base teórica sólida para a resolução de questões. Acreditamos que, com dedicação e empenho, nossos alunos terão
sucesso nesse desafio.
É importante lembrar que, além do conteúdo abordado na apostila, o edital do concurso SEE-SP também
exige conhecimentos específicos em outras áreas. Por isso, é fundamental que o estudante busque informações
complementares em outras fontes.
Por fim, ressaltamos a importância do estudo sério e constante, bem como a dedicação ao aprendizado.
Desejamos a todos um excelente preparo e sucesso no concurso SEE-SP. A Editora Solução está à disposição para
auxiliar no que for preciso.

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ÍNDICE

Conhecimentos
1. Das transformações químicas e conservação de massa em sistemas que envolvam quantidade e constituição da matéria,
conservação de energia.............................................................................................................................................................. 9
2. Métodos sustentáveis de extração, processos produtivos, uso e consumo de: combustíveis alternativos e recursos minerais,
fósseis, vegetais e animais, considerando situações cotidianas e processos produtivos que priorizem o desenvolvimento sus-
tentável, o uso consciente dos recursos naturais e a preservação da vida em todas as suas formas........................................ 10
3. Dos sistemas térmicos, termoquímica, efeito estufa e aquecimento global, considerando sua composição e os efeitos das
variáveis termodinâmicas sobre seu funcionamento, considerando também o uso de tecnologias digitais que auxiliem no
cálculo de estimativas e no apoio à construção dos protótipos................................................................................................. 11
4. Do conhecimento sobre tabela Periódica................................................................................................................................... 16
5. As características dos radioisótopos para avaliar as potencialidades e os riscos da aplicação de radiações em equipamentos
de uso cotidiano, na saúde, no ambiente, na indústria, na agricultura e na geração de energia elétrica.................................. 19
6. Dos benefícios e os riscos à saúde e ao ambiente, considerando a composição, nível de exposição, toxicidade e reatividade
de substâncias químicas............................................................................................................................................................. 20
7. Poluição de ambientes aquáticos e terrestres provenientes do descarte incorreto, posicionando-se criticamente e propondo
soluções individuais e/ou coletivas para seus usos e descartes responsáveis............................................................................ 20
8. Dos ciclos biogeoquímicos (soluções e concentrações) e interpretar os efeitos de fenômenos naturais e da interferência hu-
mana (agentes poluidores do ar, da água e do solo) sobre esses ciclos, para promover ações de tratamento e minimização de
impactos ambientais, concentração de poluentes e parâmetros quantitativos de qualidade................................................... 21
9. Das tecnologias e possíveis soluções para as demandas que envolvem a geração, o transporte, a distribuição e o consumo de
energia elétrica, considerando a disponibilidade de recursos, a eficiência energética, a relação custo/benefício, a produção
de resíduos e os impactos socioambientais e culturais em usinas hidrelétricas, térmicas e termonucleares............................ 23
10. Da reatividade dos elementos químicos e as transformações químicas que envolvem corrente elétrica: pilhas, baterias e o
processo da eletrólise, seus Impactos ambientais e descarte adequado................................................................................... 23
11. Da evolução dos modelos atômicos para comparar distintas explicações sobre o surgimento e a evolução da Vida, da Terra e
do Universo com as teorias científicas aceitas atualmente........................................................................................................ 26
12. Das diversas formas de manifestação da vida em seus diferentes níveis de organização, bem como as condições ambientais
favoráveis e os fatores limitantes a elas, por meio do estudo das ligações químicas, das forças de interação interpartículas, da
rapidez das transformações e do equilíbrio químico.................................................................................................................. 39
13. Dos efeitos de intervenções nos ciclos biogeoquímicos e ecossistemas, com base na toxicidade das substâncias químicas,
tempo de permanência dos poluentes, reações químicas, transferências de energia, avaliando seus impactos ambientais, nos
seres vivos, no corpo humano e nos mecanismos de manutenção da vida............................................................................... 62
14. Das atividades experimentais, fenômenos naturais e processos tecnológicos, reconhecendo os limites explicativos das ciên-
cias, considerando as variáveis que influenciam na rapidez das transformações químicas....................................................... 63
15. Da importância da preservação e conservação da biodiversidade, considerando conceitos da Química Ambiental como parâ-
metros qualitativos e quantitativos (dos gases poluentes na atmosfera.................................................................................... 63
16. Dos resíduos e substâncias encontradas nas águas.................................................................................................................... 64
17. Dos contaminantes do solo e dos aterros sanitários), para avaliar os efeitos da ação humana e das políticas ambientais para
a garantia da sustentabilidade do planeta.................................................................................................................................. 64
18. Das vulnerabilidades vinculadas às vivências e aos desafios contemporâneos aos quais as juventudes estão expostas, consi-
derando os aspectos físico, psicoemocional e social, a fim de desenvolver e divulgar ações de prevenção e de promoção da
saúde e do bem-estar por meio do estudo dos compostos orgânicos (funções orgânicas: estrutura, propriedades e caracte-
rísticas para a saúde humana).................................................................................................................................................... 64
19. Dos princípios da evolução biológica para analisar a história humana, por meio das interações intermoleculares e estrutura
dos aminoácidos, proteínas, DNA e RNA, valorizando e respeitando a diversidade étnica e cultural humana.......................... 95
20. Da evolução estelar associando-a aos modelos de origem e distribuição dos elementos químicos no Universo, compreenden-
do suas relações com as condições necessárias ao surgimento de sistemas solares e planetários, suas estruturas e composi-
ções e as possibilidades de existência de vida............................................................................................................................ 132

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ÍNDICE

21. Da investigação científica (definição da situação problema, objeto de pesquisa, justificativa, elaboração da hipótese, revisão
da literatura, experimentação e simulação, coleta e análise de dados, precisão das medidas, elaboração de gráficos e tabelas,
discussão argumentativa, construção e apresentação de conclusões)....................................................................................... 132
22. Da divulgação e comunicação de resultados, conclusões e propostas pautados em discussões, argumentos, evidências e lin-
guagem científica (Feira de Ciências, Olimpíadas, canais digitais, jornal, rádio, painéis informativos, seminários e debates).. 133
23. Da leitura e interpretação de temas voltados à Química, utilizando fontes confiáveis (dados estatísticos; gráficos e tabelas;
infográficos; textos de divulgação científica; mídias; sites; artigos científicos).......................................................................... 133
24. Das situações controversas sobre a aplicação de conhecimentos de Química, tais como agrotóxicos, controle de pragas e pro-
dução de alimentos, plásticos (polímeros), com base em argumentos consistentes, legais, éticos e responsáveis, distinguindo
diferentes pontos de vista........................................................................................................................................................... 134
25. Do uso indevido da Química na justificativa de processos em diferentes contextos sociais e históricos, considerando a ética
científica e a utilização indevida de reações químicas e nucleares que provocaram impacto na história e no planeta............. 134
26. Dos riscos envolvidos em atividades cotidianas, aplicando conhecimentos da Química, para justificar o uso de equipamentos
de proteção individual (EPI) e coletiva (EPC), ações de segurança e descarte adequado de materiais, resíduos, substâncias
nocivas e tóxicas produzidas em ambientes de trabalho e/ou laboratórios químicos, visando à integridade física, individual e
coletiva, e socioambiental.......................................................................................................................................................... 135
27. Das propriedades físico-químicas, estruturas, composições, características, toxicidade dos materiais para avaliar a adequação
de seu uso em diferentes produtos como ferro-gusa, cobre, cal, alumínio, aço, soda cáustica, hipoclorito de sódio, polímeros,
amônia e diferentes aplicações como industriais, cotidianas, arquitetônicas ou tecnológicas, para propor soluções seguras e
sustentáveis considerando seu contexto local e cotidiano......................................................................................................... 135
28. Das transformações químicas que envolvem corrente elétrica: processos da eletrólise (galvanoplastia), pilhas e baterias, para
compreender as tecnologias contemporâneas e avaliar seus impactos sociais, culturais e ambientais (descarte consciente e
lixo eletrônico)............................................................................................................................................................................ 136
29. Da entalpia de combustão (eficiência energética), questões socioambientais, políticas e econômicas relativas à dependência
do mundo atual em relação aos recursos não renováveis (gasolina, diesel) para discutir a necessidade de introdução de alter-
nativas (biodiesel, biogás, etanol), novas tecnologias energéticas e processos de produção de novos materiais..................... 136
30. Dos efeitos de programas de infraestrutura e demais serviços básicos como tratamento de água, esgoto e produção de
alimentos, identificando a estrutura e propriedades dos compostos orgânicos (proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas),
propondo ações que contribuam para uma alimentação saudável, nutritiva, melhoria na qualidade de vida e nas condições
de saúde da população............................................................................................................................................................... 137

Bibliografia Livros e Artigos


1. ATKINS, Peter; JONES, Loretta. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 7. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2018........................................................................................................................................................................... 143
2. BAIRD, Colin; CANN, Michael. Química Ambiental. 4. ed. Ed. Bookman, 2011........................................................................... 143
3. BATINGA, V. T. S.; BARBOSA, T. V. DA S. Questão sociocientífica e emergência da argumentação no Ensino de Química. Quí-
mica Nova na Escola, v. 43, n. 1, 2021........................................................................................................................................ 144
4. CHIARO, S.; AQUINO, K. A. S. Argumentação na sala de aula e seu potencial metacognitivo como caminho para um enfoque
CTS no ensino de química: uma proposta analítica. Educação e Pesquisa, v. 43, n. 2, p. 411-426, 2017................................... 150
5. DAS C. DE A. RIBEIRO, D. et al. Sustentabilidade e Educação Ambiental no Ensino de Química: contribuições para a tomada
de consciência sobre agricultura sustentável. Química Nova na Escola, v. 44, n. 2, 2022.......................................................... 160
6. FRANÇA, D. et al. As faces do plástico: uma proposta de aula sobre sustentabilidade. Química Nova na Escola, v. 44, n. 3,
2022............................................................................................................................................................................................ 167
7. LORRAINE, M.; MARCIA BORIN DA, C. Problematização: possibilidades para o Ensino de Química. Química Nova na Escola,
2020. .......................................................................................................................................................................................... 176
8. MARA, T. et al. Ensino de soluções químicas por meio do enfoque ciência-tecnologia-sociedade............................................ 183
9. S. RIBEIRO, J. et al. Abordagem dos temas Indústria 4.0 e sustentabilidade: contextualização baseada em fatos históricos e
na cadeia produtiva do alumínio. Química Nova na Escola, v. 44, n. 2, 2022. ........................................................................... 192

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ÍNDICE

10. STEFANNIE S., I.; ROSÁRIA, J. Contribuições de ações favoráveis ao ensino envolvendo argumentação para a inserção de
estudantes na prática científica de argumentar. Química Nova na Escola, v. 43, n. 1, 2021....................................................... 200
11. ZANOTTO, R. L.; SILVEIRA, R. M. C. F.; SAUER, E. Ensino de conceitos químicos em um enfoque CTS a partir de saberes popu-
lares. Ciência & Educação (Bauru), v. 22, n. 3, p. 727–740, 2016. ............................................................................................. 210
12. W. ADAMS, F.; MARIA T. NUNES, S. A Contextualização da Temática Energia e a Formação do Pensamento Sustentável no
Ensino de Química. Química Nova na Escola, v. 44, n. 2, 2022................................................................................................... 217

Publicações Institucionais
1. SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Currículo paulista. São Paulo: SEDUC, [2019]. p. 375-394................................. 227
2. SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Currículo paulista: etapa ensino médio. São Paulo: SEDUC, 2020. p. 133-137,
145-166, 218-228, 249-250........................................................................................................................................................ 227

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CONHECIMENTOS

Transformações
DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS E CONSERVAÇÃO DE As transformações podem ocorrer das seguintes maneiras:
MASSA EM SISTEMAS QUE ENVOLVAM QUANTIDADE E
CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA, CONSERVAÇÃO DE ENERGIA -Por ação do calor
Muitas substâncias são transformadas quando submetidas a
uma fonte de calor. O cozimento de alimentos é um exemplo.
Quando há decomposição de um material devido ao calor, cha-
As transformações químicas ocorrem quando há alteração na mamos o processo de termólise.
constituição do material, formando assim novas substâncias. Ex: Termólise do magnésio
Ao aproximarmos um fósforo aceso de um recipiente com ál- Magnésio + oxigênio → óxido de magnésio
cool, este começa a queimar. Essa queima é uma transformação
química, pois há alteração na constituição do álcool, que ao entrar -Por ação de uma corrente elétrica
em contato com o ar oxigênio, se converte em gás carbônico e Algumas substâncias necessitam de energia elétrica para que
água, liberando energia. possam se transformar. A esse processo damos o nome de eletró-
Chamamos de sistema o conjunto de materiais isolados para lise.
estudo. Uma maneira de comprovar a existência de uma transfor- Para a decomposição da água, em hidrogênio e oxigênio, por
mação química é através da comparação do estado inicial e final exemplo, utilizamos uma corrente elétrica para esta transforma-
do sistema. Algumas evidências podem ser observadas, permitindo ção.
verificar a ocorrência dessas transformações, como modificação na
cor, cheiro, estado físico e temperatura. -Por ação da luz
Confira a tabela com a descrição do sistema antes e depois da A fotossíntese é um exemplo de reação química que ocorre
transformação: na presença da luz, onde a água e o dióxido de carbono do ar são
transformados em oxigênio e glicose.
dióxido de carbono + água → oxigênio + matéria orgânica
A transformação do oxigênio em ozônio acontece através da
luz ultravioleta. Essa reação por ação da luz também é de extrema
importância, pois assim é formada a camada de ozônio que protege
a Terra dos raios ultravioletas.

-Por ação mecânica


Uma ação mecânica (atrito ou choque) é capaz de desencadear
transformações em certas substâncias.
Um exemplo é o palito de fósforo, que quando entra em atrito
com a caixinha que o contém, produz uma faísca, que faz as subs-
tâncias inflamáveis do palito entrarem em combustão.
Em alguns casos, somente pela observação visual, não é possí-
A explosão da dinamite e o acender de um isqueiro também
vel identificar se houve uma transformação. Por exemplo, quando
são exemplos de transformações por ação mecânica.
misturamos soluções de ácido clorídrico e hidróxido de sódio, am-
bas incolores. Após a mistura, o líquido resultante ainda é incolor,
-Pela junção de substâncias
sem aparentar a formação de um novo material. No entanto uma
Através da junção de duas substâncias podem ocorrer reações
reação química acontece quando essas substâncias são misturadas.
químicas. Isso frequentemente ocorre em laboratórios de química.
Portanto é importante identificar e reconhecer os diferentes mate-
A adição do sódio metálico em água é um exemplo:
riais que participam de uma transformação.
sódio + água → hidróxido de sódio + hidrogênio
Toda transformação química constitui uma reação química. As
substâncias presentes no início da reação recebe o nome de rea-
O balanceamento de uma equação de oxirredução se baseia
gentes, e as que se formam recebem o nome de produto.
na igualdade do número de elétrons cedidos com o número de elé-
Exemplo:HCl+NaOH→NaCl+H2O
trons recebidos. Um método simples de se realizar esse balancea-
HCl, o ácido clorídrico, e NaOH,o hidróxido de sódio, são as
mento é dado pelos passos a seguir:
substâncias que reagem, ou seja os reagentes. NaCl, o cloreto de
sódio, e H2O, a água, são as substâncias que se formam, ou seja,
os produtos.

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CONHECIMENTOS

invertemos os valores no membro que tiver maior número de es-


pécies químicas. Foi isso o que foi realizado aqui, pois o 2º membro
possui mais substâncias.

4º passo: Balanceamento por tentativa:


KMnO4 + HCl → KCl + 2 MnCl2 + 5 Cl2 + H2O
• Visto que no segundo membro há dois átomos de man-
ganês, conforme mostrado pelo coeficiente, no primeiro também
deverá haver. Portanto, temos:
2 KMnO4 + HCl → KCl + 2 MnCl2 + 5 Cl2 + H2O
• Com isso, a quantidade de potássio (K) no 1º membro fi-
cou de 2, que será o mesmo coeficiente para esse átomo no segun-
do membro:
2 KMnO4 + HCl → 2 KCl + 2 MnCl2 + 5 Cl2 + H2O
Vejamos na prática como aplicar esses passos, por meio do se- • A quantidade de cloros (Cl) no 2º membro é de 16 no to-
guinte exemplo: tal, por isso o coeficiente do HCl do 1º membro será:
Reação entre uma solução aquosa de permanganato de potás- 2 KMnO4 + 16 HCl → 2 KCl + 2 MnCl2 + 5 Cl2 + H2O
sio e ácido clorídrico: • O número de hidrogênios do 1º membro é 16, por isso o
KMnO4 + HCl → KCl + MnCl2 + Cl2 + H2O coeficiente da água (H2O) do 2º membro será igual a 8, pois a multi-
plicação do índice do hidrogênio (2) por 8 é igual a 16:
*1º passo: Determinar os números de oxidação: 2 KMnO4 + 16 HCl → 2 KCl + 2 MnCl2 + 5 Cl2 + 8 H2O
Esse passo é importante porque normalmente não consegui- • Para conferir se a equação está corretamente balanceada
mos visualizar rapidamente quais são as espécies que sofrem oxi- podemos ver dois critérios:
dação e redução.
+1 +7 -2+1 -1 +1 -1 +2 -1 0 +1 -2 1º) Verificar se a quantidade de cada átomo nos dois membros
KMnO4 + HCl → KCl + MnCl2 + Cl2 + H2O está igual:
2 KMnO4 + 16 HCl → 2 KCl + 2 MnCl2 + 5 Cl2 + 8 H2O
*2º passo: Determinação da variação da oxidação e da redu- K =2 K =2
ção: Mn = 2 Mn = 2
Cl = 16 Cl = 16
H = 16 H = 16
O=8O=8

2º) Ver se o número total de elétrons perdidos é igual ao nú-


mero total de elétrons recebidos:

Observe que o manganês (Mn) sofre redução e o cloro (Cl) so-


fre oxidação.
MnCl2 = ∆Nox = 5
Cl2 = ∆Nox = 2
No caso do cloro, podemos notar que o HCl originou 3 compos-
tos (KCl, MnCl2, e Cl2), mas o que nos interessa é o Cl2, pois é o seu
Nox que sofreu variação. Cada cloro que forma Cl2 perde 1 elétron;
como são necessários 2 cloros para formar cada Cl2, são perdidos
MÉTODOS SUSTENTÁVEIS DE EXTRAÇÃO, PROCESSOS
então dois elétrons.
PRODUTIVOS, USO E CONSUMO DE: COMBUSTÍVEIS
ALTERNATIVOS E RECURSOS MINERAIS, FÓSSEIS, VE-
3º passo: Inversão dos valores de ∆:
GETAIS E ANIMAIS, CONSIDERANDO SITUAÇÕES COTI-
Nesse passo, os valores de ∆ são trocados entre as espécies
DIANAS E PROCESSOS PRODUTIVOS QUE PRIORIZEM O
citadas, tornando-se os coeficientes delas:
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, O USO CONSCIEN-
MnCl2 = ∆Nox = 5 → 5 será o coeficiente de Cl2
TE DOS RECURSOS NATURAIS E A PRESERVAÇÃO DA
Cl2 = ∆Nox = 2→ 2 será o coeficiente de MnCl2
VIDA EM TODAS AS SUAS FORMAS
KMnO4 + HCl → KCl + 2 MnCl2 + 5 Cl2 + H2O

Nesse momento já é possível conhecer dois coeficientes da O uso consciente de recursos naturais e a busca por alterna-
equação. tivas sustentáveis são temas de extrema importância quando se
Observação: normalmente, na maioria das reações, essa inver- pensa em preservação ambiental e de todas as formas de vida.
são de valores é efetuada no 1º membro. Mas, como regra geral, Pensando no uso e consumo de combustíveis, é fundamental con-
isso deve ser feito no membro que tiver maior número de átomos siderar tanto os recursos vegetais e animais quanto os minerais e
que sofrem oxirredução. Se esse critério não puder ser observado, fósseis, levando em conta situações cotidianas e processos produ-
tivos que priorizem o desenvolvimento sustentável.
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CONHECIMENTOS

A utilização de combustíveis fósseis, como o petróleo e o -Calor de reação


carvão mineral, tem sido predominante ao longo dos anos, mas Calor de reação representa à variação de entalpia (calor ab-
causam impactos ambientais significativos. A extração desses re- sorvido) observada em uma reação, e sua classificação depende do
cursos pode causar degradação dos ecossistemas, poluição do ar tipo de reação decorrente. Esse calor de reação recebe, conforme
e liberação de gases de efeito estufa, contribuindo para o aqueci- a reação, as seguintes denominações: calor de formação, calor de
mento global e as mudanças climáticas. Além disso este tipo de combustão, calor de neutralização etc.
matéria-prima é considerado como recurso não-renovável, ou
seja, tem reservas limitadas e quando estas forem esgotadas não - Calor de Formação
há como repor em um curto período de tempo. É a quantidade de calor liberada ou absorvida durante a forma-
O uso de combustíveis alternativos se apresenta como uma ção de 1 mol de um composto, a partir de substâncias simples, no
solução viável e necessária. A energia renovável, proveniente de estado padrão. Por exemplo: a 25 °C e 1 atm, temos:
fontes como a solar, eólica e hidrelétrica, tem sido uma alternativa
para reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Os recursos H2(g) + 1/2 O2(g) →1 H2O(l) ΔH = –68,4 kcal / mol,
vegetais também desempenham um papel importante na busca
por alternativas sustentáveis. A produção de biocombustíveis, por Interpretação: para formar um mol de água líquida, a partir de
exemplo, utiliza matéria orgânica, como cana-de-açúcar, milho e substâncias simples, H2(g) e O2(g), no estado padrão (25 °C, e 1 atm,
óleos vegetais, para gerar energia. estado físico e alotrópico mais estável) há a liberação de 68,4 kcal.
Sendo assim, também é fundamental considerar o equilíbrio Os valores das entalpias de formação são muito importantes, pois
entre o uso de recursos naturais e a preservação dos ecossiste- representam a própria entalpia de 1 mol da substância que está
mas. A exploração desenfreada de recursos minerais e vegetais sendo formada, já que, nas reações de formação, Hi é sempre zero.
pode levar à escassez e à destruição de habitats naturais, afetando
a biodiversidade e comprometendo a vida em todas as suas for- - Calor de Combustão
mas. Portanto, é necessário adotar práticas de extração e produ- A reação entre uma substância e o oxigênio chama-se reação
ção responsáveis, além de investir em tecnologias de reciclagem de combustão. A energia liberada na combustão completa de 1 mol
e reutilização de materiais, visando reduzir o impacto ambiental. de uma substância no estado padrão é chamada de entalpia de
combustão. É a variação de entalpia (ΔH) na combustão de 1 mol de
uma substância a 25°C e 1 atm.
DOS SISTEMAS TÉRMICOS, TERMOQUÍMICA, EFEITO
ESTUFA E AQUECIMENTO GLOBAL, CONSIDERANDO Exemplo:
SUA COMPOSIÇÃO E OS EFEITOS DAS VARIÁVEIS TER- C6H12O6(s) + 6O2(g) → 6CO2(g) + 6H2O(l)ΔHc = – 673 kcal/mol
MODINÂMICAS SOBRE SEU FUNCIONAMENTO, CONSI-
DERANDO TAMBÉM O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS Assim, a combustão de 1 mol de glicose libera 673 kcal.
QUE AUXILIEM NO CÁLCULO DE ESTIMATIVAS E NO O ΔH nesse caso é sempre negativo, pois as combustões são
APOIO À CONSTRUÇÃO DOS PROTÓTIPOS sempre exotérmicas.

Entalpia (ΔH)
A termoquímica é uma parte da termodinâmica que estuda as
trocas de calor desenvolvidas durante uma reação química entre o Entalpia é o conteúdo de calor de um sistema, à pressão cons-
sistema e o meio ambiente, além do possível aproveitamento desse tante. Não é possível fazer a medida absoluta da entalpia de um
calor na realização de trabalho. Vamos agora definir alguns concei- sistema, mas podemos medir (com calorímetros), a variação de
tos importantes na termoquímica: entalpia, ΔH, que ocorre numa reação. Esta variação é entendida
como a diferença entre a entalpia final (dos produtos da reação) e
-Caloria a entalpia inicial (dos reagentes da reação), conforme observado
Uma caloria é a quantidade de calor necessária para aquecer abaixo:
um grama de água de 14,5°C a 15,5°C. Seu múltiplo é a quilocaloria,
(kcal) Estado inicial → Estado final
H1 → H2
-Calor ∆H = H2 – H1
Calor é a energia que se transfere entre dois corpos com dife- ou
rentes temperaturas. ∆H = HP – HR

-Temperatura Tipos de entalpia


Temperatura é uma grandeza do calor. você não tira a tempera- a) Entalpia de Formação:É a quantidade de energia absorvida
tura corporal, verifica. Se tirar a temperatura do seu corpo, morre. ou liberada quando um mol de substâncias simples reage e o pro-
duto final é uma única substância composta.
Exemplo: H2 + 1/2 O2 → H2O

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CONHECIMENTOS

b) Entalpia de combustão
É quantidade de energia envolvida na queima de 1 mol de uma determinada substância na presença de gás oxigênio. Nesse caso,
todas as substâncias envolvidas estão no estado padrão.
Exemplo: CH4 + O2 → CO2 + H2O

c) Entalpia de neutralização
É a quantidade de energia liberada ou absorvida quando um mol de hidrônio (H+) reage com um mol de hidróxido (OH-), estando
ambos presentes em soluções diluídas. De uma forma geral, teremos uma entalpia de neutralização sempre que uma solução ácida for
misturada com uma solução básica.

Exemplo: HCl(aq) + NaOH(aq) → NaCl(aq) + H2O

d) Entalpia de decomposição É a quantidade de energia absorvida ou liberada quando um mol de uma substância composta decom-
põe-se e o produto final são várias substâncias simples.
Tipos de reações: Vamos estudar as trocas de energia, na forma de calor, envolvidas nas reações químicas e nas mudanças de estado
físico das substâncias. Esse estudo é denominado termoquímica. São dois os processos em que há troca de energia na forma de calor: o
reações exotérmicas e o endotérmicas.
Reações exotérmicas É aquele que ocorre com liberação de calor ambiente e sua entalpia diminui. Essas reações possuem um balanço
negativo de energia quando se compara a entalpia total dos reagentes com a dos produtos. Assim, a variação na entalpia final é negativa
(produtos menos energéticos do que os reagentes) e indica que houve mais liberação de energia, na forma de calor, para o meio externo
que absorção – também sob forma de calor.

Exemplos de Reações Exotérmicas


-½ O2(g) + H2(g) -> H2O(l) (ΔH = -68,3 Kcal/mol ou -285,49
KJ/mol)
-½ H2(g) + ½ Cl2(g) -> HCl(g) (ΔH = -22,0 Kcal/mol ou -91,96
KJ/mol)
-½ H2(g) + ½ Br2(g) -> HBr(g) (ΔH = -8,6 Kcal/mol ou -35,95
KJ/mol)
-C(s) + ½ O2(g) -> CO(g) (ΔH = -26,4 Kcal/mol ou -110,35 KJ/
mol)

Diagrama de Entalpia das reações exotérmicas

No diagrama de entalpia, relacionamos num eixo vertical os valores de Hp e Hr e podemos, portanto, calcular o valor de ΔH.

Reações endotérmicas: É aquela que ocorre com absorção de calor e sua entalpia aumenta. Assim, a variação dessa energia (variação
de entalpia) possui sinal positivo (+ΔH) e indica que houve mais absorção de energia do meio externo que liberação. Ambas em forma de
calor.

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CONHECIMENTOS

Exemplos de Reações Endotérmicas


-½ H2(g) + ½ I2 (g) -> HI(g) (ΔH = +6,2 Kcal/mol ou
+25,92 KJ/mol)
-2C(s) + H2(g) -> C2H2(g) (ΔH = +53,5 Kcal/mol ou
+223,63 KJ/mol)

Diagrama de Entalpia das reações endotérmicas

Lei de Hess

Germain Herman Hess, ao estudar os calores de reação, constatou que: “A variação de entalpia (ΔH) de uma reação química depende
apenas dos estados final e inicial, não importando o caminho da reação”. Esta importante lei experimental foi chamada de lei dos estados
final ou inicial, lei de adição de calores ou Lei de Hess.
Seja uma reação genérica A → B da qual se quer determinar o ΔH. Esta reação pode ser realizada por diversos caminhos, onde, para
cada um deles, os estados inicial e final são os mesmos.

Para que A se transforme em B temos 3 caminhos:


A→B
A→C→D→B
A→E→B

Sendo que:ΔHx = ΔH1 + ΔH2 + ΔH3 ouΔHx = ΔH4 + ΔH5


Diante disso, não importa o número de etapas que o processo apresenta, o ΔH da reação total será a soma dos ΔH das diversas eta-
pas, e em consequência a equação termoquímica pode ser tratada como uma equação matemática. Assim, quando usamos a Lei de Hess
no cálculo do ΔH de uma reação, devemos arrumar as equações fornecidas de modo que a soma delas seja a equação cujo ΔH estamos
procurando. Para isso, usamos os seguintes procedimentos:

Cálculo do ∆H de uma reação, usando a lei de Hess


Podemos calcular o ∆H de uma reação trabalhando algebricamente as equações termoquímicas. Considere as reações abaixo, a 25°C
e 1 atm

1) C(grafita) + O2(g) → CO2(g)∆H = - 94,1 kcal

2) H2(g) + 1/2 O2(g) → H2O (l) ∆H = - 68,3 kcal

3) CH4(g) + 2 O2(g) → CO2(g) + 2H2O (ι) ∆H = - 212,8 kcal

Vamos determinar o ∆H da reação:


C(grafita) + 2H2(g) → CH4(g)∆H = ?

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CONHECIMENTOS

Siga os passos abaixo:


a) escreva a equação 1.
b) escreva a equação 2 multiplicada por 2.
c) escreva a equação inversa de 3.

Assim, basta soma-las


C(grafita) + O2(g) → CO2(g); ∆H = - 94,1 kcal
2H2(g) + O2(g) → 2H2O(l); ∆H = - 136,6 kcal
CO2(g) + 2H2O(l) → CH4(g) + 2O2(g); ∆H = + 212,8 kcal
C(grafita) + 2H2(g) → CH4(g); ∆H = - 17,9 kcal
Através da lei de Hess, as equações termoquímicas podem ser somadas como se fossem equações matemáticas ou algébricas.

A reação espontânea e não-espontânea


A reação espontânea é aquela que percorre por si mesma. Toda reação espontânea libera energia livre, enquanto a energia não-es-
pontânea absorve energia livre.
A energia livre de Gibbs (∆Gº), é uma grandeza termodinâmica definida como a diferença entre variação de entalpia (∆Hº) e a tempe-
ratura (T) vezesa variação de entropia (∆Sº) em uma reação. De acordo com a equação abaixo:

∆Gº=∆Hº - T∆Sº
onde:

∆Hº= é uma função de estado chamada de variação de entalpia que informa a variação de energia em pressão constante.

T= a temperatura é uma grandeza física intensiva que é influenciada ou sofre influência das variações energéticas durante a movimen-
tação das partículas.
∆Sº= a variação de entropia é uma função de estado que informa a variação de energia em função do estado de liberdade das partí-
culas.

Exemplo:
Calcule a variação de energia livre da formação da amônia a 25ºC e 1atm. Quando ∆Hº=-46,11KJ∙mol-1 e ∆Sº=-99,37 J∙K-1∙mol-1, de
acordo com a reação:

Passo 1: Transformar a temperatura que está em Celsius para Kelvin e a variação de entropia de J∙K-1∙mol-1 para KJ∙K-1∙mol-1.

Passo 2: substituir na equação os dados:

- Efeito estufa: é um processo que ocorre quando uma parte da radiação solar refletida pela superfície terrestre é absorvida por
determinados gases presentes na atmosfera. Como consequência disso, o calor fica retido, não sendo liberado ao espaço. O efeito estufa
dentro de uma determinada faixa é de vital importância pois, sem ele, a vida como a conhecemos não poderia existir.
O que se pode tornar catastrófico é a ocorrência de um agravamento do efeito estufa que desestabilize o equilíbrio energético
no planeta e origine um fenômeno conhecido como aquecimento global. O IPCC (Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáti-
cas, estabelecido pelas Nações Unidas e pela Organização Meteorológica Mundial em 1988) no seu relatório mais recente diz que a maior
parte deste aquecimento, observado durante os últimos 50 anos, se deve muito provavelmente a um aumento dos gases do efeito estufa.

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CONHECIMENTOS

Os gases de estufa, dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), CFC’s (CFxClx), absorvem alguma radiação infraver-
melha emitida pela superfície da Terra e radiam por sua vez alguma da energia absorvida de volta para a superfície. Como resultado, a
superfície recebe quase o dobro de energia da atmosfera do que a que recebe do Sol e a superfície fica cerca de 30°C mais quente do que
estaria sem a presença dos gases (de estufa).
Um dos piores gases é o metano, cerca de 20 vezes mais potente que o dióxido de carbono, é produzido pela flatulência dos ovinos e
bovinos, sendo que a pecuária representa 16% da poluição mundial
Ao contrário do significado literal da expressão -efeito estufa-, a atmosfera terrestre não se comporta como uma estufa (ou como um
cobertor). Numa estufa, o aquecimento dá-se essencialmente porque a convecção é suprimida. Não há troca de ar entre o interior e o
exterior. Ora acontece que a atmosfera facilita a convecção e não armazena calor: em média, a temperatura da atmosfera é constante e a
energia absorvida transforma-se imediatamente na energia cinética e potencial das moléculas que existem na atmosfera. A atmosfera não
reflete a energia radiada pela Terra. Os seus gases, principalmente o dióxido de carbono, absorvem-na. E se radia, é apenas porque
tem uma temperatura finita e não por ter recebido radiação. A radiação que emite nada tem que ver com a que foi absorvida. Tem um
espectro completamente diferente.
O efeito estufa, embora seja prejudicial em excesso, é na verdade vital para a vida na Terra, pois é ele que mantém as condições
ideais para a manutenção da vida, com temperaturas mais amenas e adequadas. Porém, o excesso dos gases responsáveis pelo Efeito
Estufa, ao qual desencadeia um fenômeno conhecido como Aquecimento Global, que é o grande vilão.
O problema do aumento dos gases estufa e sua influência no aquecimento global, tem colocado em confronto forças sociais que não
permitem que se trate deste assunto do ponto de vista estritamente científico. Alinham-se, de um lado, os defensores das causas antro-
pogênicas como principais responsáveis pelo aquecimento acelerado do planeta. São a maioria e onipresentes na mídia. Do outro lado
estão os “céticos”, que afirmam que o aquecimento acelerado está muito mais relacionado com causas intrínsecas da dinâmica da Terra,
do que com os reclamados desmatamento e poluição que mais rápido causam os efeitos indesejáveis à vida sobre a face terrestre do que
propriamente a capacidade de reposição planetária. Ambos os lados apresentam argumentos e são apoiados por forças sociais.
A poluição dos últimos duzentos anos tornou mais espessa a camada de gases existentes na atmosfera. Essa camada impede a disper-
são da energia luminosa proveniente do Sol, que aquece e ilumina a Terra e também retém a radiação infravermelha (calor) emitida pela
superfície do planeta. O efeito do espessamento da camada gasosa é semelhante ao de uma estufa de vidro para plantas, o que originou
seu nome. Muitos desses gases são produzidos naturalmente, como resultado de erupções vulcânicas, da decomposição de matéria or-
gânica e da fumaça de grandes incêndios. Sua existência é indispensável para a existência de vida no planeta, mas a densidade atual da
camada gasosa é devida, em grande medida, à atividade humana. Em escala global, o aumento exagerado dos gases responsáveis pelo
efeito estufa provoca o aquecimento do global, o que tem consequências catastróficas. O derretimento das calotas polares e de geleiras,
por exemplo, eleva o nível das águas dos oceanos e dos lagos, submergindo ilhas e amplas áreas litorâneas densamente povoadas. O su-
peraquecimento das regiões tropicais e subtropicais contribui para intensificar o processo de desertificação e de proliferação de insetos
nocivos à saúde humana e animal. A destruição de habitats naturais provoca o desaparecimento de espécies vegetais e animais. Multipli-
cam-se as secas, inundações e furacões, com sua sequela de destruição e morte.
O mecanismo que mantém aquecido o ambiente das estufas de vidro é a restrição das perdas convectivas quando o ar é aquecido
pelo contato com solo que por sua vez é aquecido pela radiação solar. No entanto, o chamado “efeito de estufa” na atmosfera não
tem que ver com a supressão da convecção. A atmosfera facilita a convecção e não armazena calor: absorve alguma da radiação infraver-
melha emitida pela superfície da Terra e radia por sua vez alguma da energia absorvida de volta para a superfície. Como resultado, a
superfície recebe quase o dobro de energia da atmosfera do que a que recebe do Sol e a superfície fica cerca de 30°C mais quente do
que estaria sem a presença da atmosfera.
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CONHECIMENTOS

Toda a absorção da radiação terrestre acontecerá próximo à superfície, isto é, nas partes inferiores da atmosfera, onde ela é mais
densa, pois em maiores altitudes a densidade da atmosfera é baixa demais para ter um papel importante como absorvedor de radiação
(exceto pelo caso do ozônio). O vapor d’água, que é o mais poderoso dos gases estufa, está presente nas partes inferiores da atmos-
fera, e desta forma a maior parte da absorção da radiação se dará na sua base. O aumento dos gases estufa na atmosfera, mantida a
quantidade de radiação solar que entra no planeta, fará com que a temperatura aumente nas suas partes mais baixas. O resultado deste
processo é o aumento da radiação infravermelha da base da atmosfera, tanto para cima como para baixo. Como a parte inferior (maior
quantidade de matéria) aumenta mais de temperatura que o topo, a manutenção do balanço energético (o que entra deve ser igual ao
que sai) dá-se pela redistribuição de temperaturas da atmosfera terrestre. Os níveis inferiores ficam mais quentes e os superiores mais
frios. A irradiação para o espaço exterior se dará em níveis mais altos com uma temperatura equivalente a de um corpo negro irradiante,
necessária para manter o balanço energético em equilíbrio.

DO CONHECIMENTO SOBRE TABELA PERIÓDICA

Em Química, os critérios utilizados para a organização dos elementos químicos foram estabelecidos ao longo do tempo. No ano
de 1869, Dimitri Mendeleev iniciou os estudos a respeito da organização da tabela periódica através de um livro sobre os cerca de
60 elementos conhecidos na época, cujas propriedades ele havia anotado em fichas separadas. Ao trabalhar com esses dados ele
percebeu que organizando os elementos em função da massa de seus átomos, determinadas propriedades se repetiam diversas
vezes, e com uma mesma proporção, portanto era uma variável periódica. Lembrando que periódico é tudo o que se repete em
intervalos de tempo bem definidos, como é o caso das estações do ano e das fases da lua, por exemplo.
Ela foi criada com o intuito de organizar as informações já constatadas a fim de facilitar o acesso aos dados. Quando foi proposta
muitos elementos ainda não haviam sido descobertos, muito embora seu princípio seja seguido até hoje com 118 elementos. Alguns
outros modelos de tabela vêm sendo propostos, como por exemplo a que apresenta forma de espiral proposta por Philip Stewart
com base na natureza cíclica dos elementos químicos, porém a mais utilizada ainda é a de Mendeleev.
Dimitri Ivanovich Mendeleev nasceu na Sibéria e era professor da Universidade de São Petersburgo quando descobriu a lei pe-
riódica. O elemento de número atômico 101 da tabela periódica tem o nome em homenagem a ele, o Mendelévio.
A tabela tem os elementos químicos dispostos em ordem crescente de número atômico e são divididos em grupos (ou famílias)
devido a características que são comuns entre eles. Cada elemento químico é representado por um símbolo, por exemplo a prata
é representada por Ag devido a seu nome no latim argentum. Cada elemento possui ao lado de seu símbolo o número atômico e o
número de massa.

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CONHECIMENTOS

Classificação dos elementos Grupo 17 (ou 7A): Halogênios: São os elementos mais ele-
• Metais: São bons condutores de calor e eletricidade. tronegativos da tabela periódica, ou seja, possuem a tendência
São sólidos nas CNTP (com exceção do mercúrio), além de ma- de receber elétrons em uma ligação. Podem se combinar com
leáveis e dúcteis. quase todos os elementos da tabela periódica. O flúor por exem-
• Não metais: São maus condutores de corrente elétrica plo possui aplicação na higiene bucal.
e calor. Podem assumir qualquer estado físico na temperatura Grupo 18 (ou 8A): Gases nobres: possuem essa intitulação
ambiente. devido a ser constatado antigamente que não possuíam tendên-
• Gases nobres: Apresentam baixa reatividade, sendo até cia alguma a formarem ligações. Isto ocorre devido à estabili-
pouco tempo considerados inertes. dade de seus orbitais da camada mais externa completamente
preenchidos. Hoje alguns compostos conseguiram ser prepara-
Os elementos podem ser classificados em representativos dos com estes elementos e incluem geralmente o Xenônio (Xe)
ou de transição (interna e externa). Os representativos são aque- que possui a primeira energia de ionização muito próxima do
les cuja distribuição eletrônica termina em s ou p. Os elementos oxigênio.
de transição externa são aqueles cuja distribuição acaba em d, a Tabela Periódica atual é organizada em linhas horizontais
e os de transição interna acabam em f. A localização de um ele- em ordem crescente de número atômico. Tanto que o primei-
mento na tabela periódica pode ser indicada pelo seu grupo e ro elemento químico que aparece da esquerda para a direita na
seu período. Os elementos de transição interna são os que se parte superior é o hidrogênio, que é o elemento de menor nú-
encontram nas duas linhas bem embaixo na tabela e na verdade mero atômico, 1. Logo à sua direita vem o hélio, He, com número
é como se estivessem localizados no no sexto e sétimo período atômico igual a 2, depois vem o lítio, com número atômico igual
do grupo três. a 3, seguido do berílio, Be, de número atômico igual a 4, e assim
Cada linha no sentido horizontal da tabela periódica repre- por diante.
senta um período. Eles são em número de sete, e o período em Essa classificação crescente de números atômicos permite
que o elemento se encontra indica o número de níveis que pos- organizar os elementos em grupos ou famílias (colunas) que
sui. Por exemplo o sódio (Na) está no período três, o que signifi- possuem propriedades semelhantes, além disso, as linhas ho-
ca que o seu átomo possui três camadas eletrônicas. rizontais também nos revelam particularidades a respeito dos
Já os grupos são as linhas verticais que apresentam elemen- átomos dos elementos. Observe como se dá essa organização:
tos químicos que compartilham propriedades. Por exemplo o
flúor (F) e o cloro (Cl) estão no grupo 17 (ou 7A) por possuírem • Grupos ou famílias – Colunas:
alta tendência de receber elétrons, o que chamamos de eletro- As colunas são chamadas de grupos ou famílias. Esses no-
negatividade. Alguns grupos possuem nomes específicos como mes são bem apropriados, pois os membros de uma família
os listados abaixo e os demais recebem o nome do primeiro ele- possuem várias características físicas, emocionais e psicológicas
mento de seu grupo. semelhantes; além disso, os membros de um grupo específico
Grupo 1: Metais alcalinos: esses elementos são muito rea- possuem também objetivos e gostos similares. Da mesma forma,
tivos principalmente com a água. Esta reatividade aumenta os elementos pertencentes a um mesmo grupo ou a uma mesma
conforme aumenta o número atômico e o raio do átomo. To- família da Tabela Periódica possuem propriedades físicas e quí-
dos os elementos desse grupo são eletropositivos, metais bons micas semelhantes.
condutores de eletricidade, e formam bases fortes. São sólidos
a temperatura ambiente, apresentam brilho metálico e quando Isso acontece porque os elementos químicos que estão em
expostos ao ar oxidam facilmente. São utilizados na iluminação uma mesma família possuem a mesma quantidade de elétrons
no caso das lâmpadas de sódio, na purificação de metais e na na camada de valência, isto é, na última camada eletrônica:
fabricação de sabões sendo combinados com a gordura. • Família 1: Possuem todos 1 elétron na camada de va-
Grupo 2: Metais alcalino-terrosos: Possuem esse nome por lência;
serem geralmente encontrados na terra. São bastante reativos, • Família 2: Possuem todos 2 elétrons na camada de va-
porém menos que os metais do grupo 1. Também são eletropo- lência;
sitivos e são mais duros e densos do que os metais alcalinos. São • Família 13: Possuem todos 3 elétrons na camada de
utilizados em ligas metálicas como é o caso por exemplo do Berí- valência;
lio (Be), na composição do gesso e do mármore sendo o caso do • Família 14: Possuem todos 4 elétrons na camada de
cálcio (Ca) e em fogos de artifício magnésio (Mg) e estrôncio (Sr). valência;
Grupo 16 (ou 6A): Calcogênios: Os elementos desse grupo • Família 15: Possuem todos 5 elétrons na camada de
recebem esse nome derivado do grego que significa “formado- valência;
res de cobre”. Neste grupo pode-se perceber facilmente anali- • Família 16: Possuem todos 6 elétrons na camada de
sando todos os elementos do grupo a presença de características valência;
metálicas e não metálicas. Os elementos mais importantes deste
grupo são o oxigênio (O) e o enxofre (S) sendo o primeiro o gás • Família 17: Possuem todos 7 elétrons na camada de
utilizado inclusive em nossa respiração e o último é responsável valência;
inclusive pelo fenômeno da chuva ácida. • Família 18: Possuem todos 8 elétrons na camada de
valência.

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CONHECIMENTOS

Propriedades químicas 2. Energia ou potencial de ionização: é a energia mínima


A Tabela Periódica organiza os elementos químicos até en- necessária para remover um elétron de um átomo ou íon no es-
tão conhecidos em uma ordem crescente de número atômico (Z tado gasoso.
– quantidade de prótons no núcleo do átomo). Esse elétron é sempre retirado da última camada eletrônica,
Muitas propriedades químicas e físicas dos elementos e das que é a mais externa e é conhecida como camada de valência.
substâncias simples que eles formam variam periodicamente, ou
seja, em intervalos regulares em função do aumento (ou da di- Quanto maior o raio atômico, mais afastados do núcleo os
minuição) dos números atômicos. As propriedades que se com- elétrons da camada de valência estarão, a força de atração en-
portam dessa forma são chamadas de propriedades periódicas. tre eles será menor e, consequentemente, menor será a energia
As principais propriedades periódicas químicas dos elemen- necessária para retirar esses elétrons e vice-versa. Por isso, a
tos são: raio atômico, energia de ionização, eletronegatividade, energia de ionização dos elementos químicos na Tabela Perió-
eletropositividade e eletroafinidade. Já as físicas são: pontos de dica aumenta no sentido contrário ao aumento do raio atômico,
fusão e ebulição, densidade e volume atômico. isto é, de baixo para cima e da esquerda para a direita:

A seguir, veja mais detalhadamente as propriedades perió-


dicas químicas:

1- Raio atômico: pode ser definido como a metade da dis-


tância (r = d/2) entre os núcleos de dois átomos de um mesmo
elemento químico, sem estarem ligados e assumindo os átomos
como esferas:

Ordem de crescimento da energia de ionização na Tabela


Periódica

3. Eletronegatividade: representa a tendência que um áto-


mo tem de atrair elétrons para si em uma ligação química cova-
Ilustração de raio atômico lente em uma molécula isolada.
Os valores das eletronegatividades dos elementos foram de-
Na tabela periódica, o raio atômico aumenta de cima para terminados pela escala de Pauling. Foi observado que, conforme
baixo e da direita para a esquerda. o raio aumentava, menor era atração do núcleo pelos elétrons
Isso acontece porque em uma mesma família (coluna), as compartilhados na camada de valência. Por isso, a eletronega-
camadas eletrônicas vão aumentando conforme se desce uma tividade também aumenta no sentido contrário ao aumento do
“casa” e, consequentemente, o raio atômico aumenta. Em um raio atômico, sendo que varia na Tabela Periódica de baixo para
mesmo período (linha), o número de camadas eletrônicas é o cima e da esquerda para a direita:
mesmo, mas a quantidade de elétrons vai aumentando da es-
querda para a direita e, com isso, a atração pelo núcleo aumen-
ta, diminuindo o tamanho do átomo.

Ordem de crescimento da eletronegatividade na Tabela


Ordem de crescimento do raio atômico na Tabela Periódica
Periódica

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CONHECIMENTOS

4. Eletropositividade: é a capacidade que o átomo possui Resumidamente, temos:


de se afastar de seus elétrons mais externos, em comparação a
outro átomo, na formação de uma substância composta.
Visto que é o contrário da eletronegatividade, a sua ordem
crescente na tabela periódica também será o contrário da mos-
trada para a eletronegatividade, ou seja, será de cima para baixo
e da direita para a esquerda:

AS CARACTERÍSTICAS DOS RADIOISÓTOPOS PARA AVA-


LIAR AS POTENCIALIDADES E OS RISCOS DA APLICAÇÃO
DE RADIAÇÕES EM EQUIPAMENTOS DE USO COTIDIA-
NO, NA SAÚDE, NO AMBIENTE, NA INDÚSTRIA, NA
AGRICULTURA E NA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
Ordem de crescimento da eletropositividade na Tabela
Periódica

5. Eletroafinidade ou afinidade eletrônica: corresponde à O radioisótopo é um isótopo de um elemento químico que é


energia liberada por um átomo do estado gasoso, quando ele radioativo, ou seja, que seu núcleo é instável e se decompõe es-
captura um elétron. pontaneamente ao longo do tempo, emitindo radiação ionizante.
Essa energia é chamada assim porque ela mostra o grau de Os isótopos são variantes de um mesmo elemento químico, pois
afinidade ou a intensidade da atração do átomo pelo elétron adi- têm o mesmo número de prótons, mas diferem no número de
cionado. nêutrons em seus núcleos. Essa radiação pode ser aproveitada em
Infelizmente, não são conhecidos todos os valores para as diversas áreas e equipamentos do nosso cotidiano.
eletroafinidades de todo os elementos, mas os que estão dispo- Na área da saúde, os radioisótopos são utilizados em diag-
níveis permitem generalizar que essa propriedade aumenta de nósticos médicos e tratamentos. Por exemplo, em exames de ima-
baixo para cima e da esquerda para a direita na Tabela Periódica: gem, como a tomografia que permite visualizar o funcionamento
dos órgãos e detectar doenças. E também na radioterapia que uti-
liza estes isótopos para tratar o câncer, direcionando a radiação
para as células cancerígenas e minimizando os danos às células
saudáveis. No ambiente, eles são utilizados em estudos de da-
tação de rochas, sedimentos e fósseis, permitindo compreender
melhor a história geológica e evolutiva da Terra. Já na indústria,
são aplicados em diversos processos, como na inspeção de sol-
das, na análise de materiais e no controle de qualidade de produ-
tos. Na agricultura, os radioisótopos são utilizados em estudos de
absorção de nutrientes pelas plantas e na análise de solos. Além
disso, são aplicados no controle de pragas e no melhoramento ge-
nético de plantas. Na geração de energia elétrica, os radioisótopos
são utilizados em reatores nucleares, onde a fissão nuclear gera
calor que é convertido em energia elétrica. Esse tipo de geração
de energia é considerado limpo, pois não emite grandes quantida-
Ordem de crescimento da afinidade eletrônica na Tabela des de gases de efeito estufa, mas também apresenta desafios em
Periódica relação ao gerenciamento seguro do material radioativo.
Apesar de todos estes benefícios, existem alguns riscos à
saúde quando há a exposição excessiva e não controlada a esta
radiação ionizante. Esses efeitos variam de acordo com a dose de
radiação recebida, do tipo de radiação, do tempo de exposição e
da sensibilidade de cada indivíduo, podendo causar câncer, muta-
ções genéticas, náuseas, vômitos, fadiga, perda de cabelo, danos
ao sistema imunológico entre outros.
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CONHECIMENTOS

bientes. A maior parte dessa prática irresponsável é causada pelo


DOS BENEFÍCIOS E OS RISCOS À SAÚDE E AO AMBIEN- esgoto não tratado e lixo que é jogado diariamente em seus leitos,
TE, CONSIDERANDO A COMPOSIÇÃO, NÍVEL DE EXPO- e tais atitudes podem deixar a água em um nível de contaminação
SIÇÃO, TOXICIDADE E REATIVIDADE DE SUBSTÂNCIAS tão extremo que ela fica impossível de ser recuperada.
QUÍMICAS
Tipos de Poluição das Águas2
As formas de poluição de nossas reservas hídricas são classifica-
As substâncias químicas estão presentes em todas as áreas da das em biológica, térmica, sedimentar e química.
nossa vida. Essas substâncias podem trazer inúmeros benefícios,
mas também apresentam riscos potenciais à saúde humana e ao Biológica: Consiste na presença de agentes patogênicos (bac-
ambiente. A compreensão e estudo da composição, nível de expo- térias, vírus, protozoários e vermes) presentes na água, com uma
sição, toxicidade e reatividade dessas substâncias é fundamental atenção maior para os microrganismos nocivos presentes na água
para avaliar seus impactos e tomar medidas adequadas para mi- potável. Essa contaminação é causada pelo despejo de esgotos
nimizar os danos. domésticos e industriais. As principais consequências do uso des-
Quando utilizadas de maneira correta e controlada, as subs- se tipo de água são os diferentes tipos de doenças que podem ser
tâncias químicas apresentam muitos benefícios. Por exemplo, transmitidas, tais como tais como febre tifoide, cólera, salmonela,
medicamentos são desenvolvidos a partir de substâncias quími- leptospirose, hepatites, esquistossomose, amebíase e giardíase.
cas que combatem doenças e melhoram a qualidade de vida das Térmica: Essa forma de poluição é causada pelo constante des-
pessoas. E os produtos de limpeza e desinfetantes ajudam a man- carte de água, nos corpos receptores, geralmente usada no resfria-
ter ambientes higienizados e livres de microrganismos prejudiciais mento de alguns processos industriais, aumentando a temperatura
à saúde. No entanto, a exposição a substâncias químicas tóxicas da água ali presente. Com esse aumento de temperatura, diminui
pode causar efeitos adversos à saúde humana. A toxicidade de a quantidade de gases solubilizados na água, prejudicando assim a
uma substância química depende de sua concentração e tempo respiração dos animais aquáticos. Também ocorre a diminuição do
de exposição. Algumas substâncias podem causar irritação na tempo de vida de certas espécies aquáticas, além poder potencia-
pele e nos olhos, enquanto outras são carcinogênicas ou neurotó- lizar a ação de outros poluentes pelo aumento na velocidade das
xicas. Além disso, a exposição a substâncias químicas pode ocor- reações.
rer não apenas por meio do uso direto de produtos, mas também Sedimentar: A poluição sedimentar da água é o acumulo de par-
pela poluição ambiental, como a liberação de gases tóxicos por tículas em suspensão, como partículas de solo e produtos químicos
indústrias. insolúveis, tanto orgânicos quanto inorgânicos. Esse é o maior tipo
A reatividade química das substâncias também é um fator de poluição encontrado e corresponde a maior massa de poluentes,
importante a ser considerado. Algumas substâncias químicas po- como consequência os sedimentos impedem a entrada de raios so-
dem ser altamente reativas e reagir com outros componentes do lares na água, o que interfere na fotossíntese de plantas aquáticas
ambiente, formando produtos nocivos. Certos gases emitidos por diminuindo sua quantidade e dificultando que animais aquáticos
veículos e indústrias podem reagir na atmosfera e contribuir para encontrem esse alimento.
a formação de poluentes atmosféricos, como o ozônio troposféri- Química: Provavelmente a mais problemática de todas as for-
co, que é prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente. mas seja a poluição química, causada pela presença de produtos
A proteção da saúde humana e do meio ambiente envolve a químicos nocivos ou indesejáveis. A poluição química é um pouco
avaliação adequada dos benefícios e riscos das substâncias quími- diferente e um pouco mais sutil que as outras formas de poluição.
cas. É importante realizar estudos toxicológicos para determinar a A poluição térmica tem pouco efeito sobre a potabilidade da água.
dose segura de exposição e identificar os possíveis efeitos adver- A poluição sedimentar é normalmente muito visível e facilmente
sos. Também é de extrema importância seguir as regulamenta- removível. Mesmo a poluição biológica parece em alguns casos
ções e padrões de segurança estabelecidos para garantir a utiliza- menos perigosa do que a poluição química, uma vez que a maio-
ção segura e responsável destas substâncias. ria dos microrganismos podem ser destruídos pela fervura da água
que eles estejam infectando, ou pelo tratamento com substâncias
químicas, como o hipoclorito de sódio e a cal viva. Já a poluição
POLUIÇÃO DE AMBIENTES AQUÁTICOS E TERRESTRES química não é assim tão simples. Os efeitos nocivos podem ser sutis
PROVENIENTES DO DESCARTE INCORRETO, POSICIO- e levar muito tempo para serem sentidos. Os agentes poluidores
NANDO-SE CRITICAMENTE E PROPONDO SOLUÇÕES mais comuns dessas águas são os fertilizantes agrícolas, petróleo,
INDIVIDUAIS E/OU COLETIVAS PARA SEUS USOS E DES- compostos orgânicos sintéticos, compostos inorgânicos e minerais.
CARTES RESPONSÁVEIS
Poluição do Solo
A poluição do solo corresponde a qualquer mudança em sua
natureza, causada pelo contato com produtos químicos, resíduos
Poluição da Água1
sólidos e líquidos.
Cada ecossistema natural possui um limite de quanta matéria
Essa situação torna o solo improdutível e ocasiona a morte dos
orgânica gerada pelas atividades humanas ele é capaz de decom-
seres vivos que dele dependem.
por, ou seja, quando o ser humano despeja uma quantidade que
ultrapassa essa capacidade de decomposição, nos ecossistemas
aquáticos, o resultado é uma drástica transformação desses am-
1 https://capacitacao.ead.unesp.br 2 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA, Poluição e Tratamento de Água N° 10, NOVEMBRO 1999
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

São causas da poluição do solo:


Liberação de poluentes no solo como: solventes, detergentes,
lâmpadas fluorescentes, componentes eletrônicos, tintas, gasolina,
diesel, óleos automotivos e chumbo
Despejo de lixo doméstico, resíduos de atividades industriais e
esgoto diretamente no solo

DOS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS (SOLUÇÕES E CONCEN-


TRAÇÕES) E INTERPRETAR OS EFEITOS DE FENÔMENOS
NATURAIS E DA INTERFERÊNCIA HUMANA (AGENTES
POLUIDORES DO AR, DA ÁGUA E DO SOLO) SOBRE ES-
SES CICLOS, PARA PROMOVER AÇÕES DE TRATAMENTO
E MINIMIZAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS, CONCEN-
TRAÇÃO DE POLUENTES E PARÂMETROS QUANTI-
TATIVOS DE QUALIDADE
Fonte: https://goo.gl/YnMVwL

Ciclos biogeoquímicos 2. Ciclo do carbono


Os ciclos biogeoquímicos é a permuta cíclica de elementos quí- 3
O carbono é um elemento químico importante porque partici-
micos que ocorre entre os seres vivos e o meio ambiente. Tais ciclos pa da composição química de todos os compostos orgânicos.
envolvem etapas biológicas, físicas e químicas alternadamente, daí Os seres vivos só conseguem aproveitar o carbono na natureza
a deificação usada. sob a forma de bióxido de carbono (CO2), encontrado na atmosfera.
Os principais ciclos biogeoquímicos são: Ou sob a forma de bicarbonato (HCO3-) e carbonato (CO3-) dissolvido
1. Ciclo da água; na água.
2. Ciclo do carbono; Os carbono entra nos seres vivos quando os vegetais, utilizando
3. Ciclo do oxigênio; o CO2 do ar ou os carbonatos e bicarbonatos dissolvidos na água,
4. Ciclo do nitrogênio realizam fotossíntese. Dessa maneira, o carbono é utilizado na sín-
5. Ciclo do fósforo tese de compostos orgânicos.
Os compostos orgânicos mencionados são o açucares (carboi-
1. Ciclo da água ou ciclo hidrológico dratos). Mas as plantas são capazes de produzir além dos carboidra-
A água passa do meio físico para os organismos vivos e destes, tos, proteínas, lipídeos, vitaminas, ceras e etc.
novamente para o meio físico, constituindo um ciclo. O carbono incorporado pelas plantas pode seguir três cami-
A água existe no meio ambiente em três estados: sólido (gelo), nhos:
liquido e gasoso (vapor d´água). Esses três estados físicos são re- 1. devolvido sob a forma de CO2 ao meio ambiente pela respi-
versíveis. ração;
Assim, a água no estado líquido passa para o vapor com o aque- 2. passado aos animais quando estes se alimentam das plantas;
cimento (100°C) e esse fenômeno é chamado de ebulição, ou pode 3. pela morte e decomposição do vegetal passa a ser novamen-
passar lentamente para o estado de vapor, constituindo a evapora- te CO2.
ção. O vapor d`água passa para o líquido (liquefação) e desse para Nos animais, é adquirido direta ou indiretamente do reino ve-
o sólido (solidificação) a 0°C. O gelo derrete (fusão) a 0°C, passando getal durante a sua nutrição. Assim, os animais herbívoros recebem
novamente para o estado líquido. dos vegetais os compostos orgânicos e, através de seu metabolis-
O ciclo hidrológico é dirigido pela energia solar e compreende o mo, são capazes de transforma-los e sintetizar novas substâncias
movimento da água dos oceanos para a atmosfera por evaporação orgânicas. O mesmo ocorre com os carnívoros, que se alimentam
e de volta aos oceanos pela precipitação que leva à lixiviação ou dos herbívoros, e assim sucessivamente.
à infiltração. Cerca de 97% do suprimento de água está nos ocea- O carbono nos animais, assim como nos vegetais, pode seguir
nos, 2% nas geleiras e muito menos que 1% na atmosfera (0,001%). três caminhos:
Aproximadamente 1% do total da água contida nos rios, lagos e len- 1. Pela respiração é devolvido à natureza sob a forma de CO2;
çóis freáticos é adequada ao consumo humano. 2. Passa para outros animais através da nutrição;
A evaporação da água do solo e dos oceanos e mais a transpira- 3. Pela morte e decomposição volta ao estado de CO2.
ção vegetal e a animal, enriquecem a atmosfera de vapor de água. É importante lembrar que a queima (combustão) de
Condensando-se, a água retorna ás suas fontes por precipitação. A combustíveis orgânicos (petróleo, carvão e lenha) é um mecanismo
precipitação sobre o mar é cerca de três vezes superior à que cai de retorno do carbono ao meio ambiente, na forma de CO2, CO e
sobre a terra. Caindo nas massas terrestres, a água pode infiltrar-se outros gases.
no solo, ser absorvida pelos vegetais, empregada na fotossíntese,
consumida pelos animais e, afinal, transpirada. Pode, ainda, correr
pelos lenções subterrâneos, unir-se a rios e, eventualmente, ir aos
mares, onde novamente evapora fechando o ciclo.

3 Bellinello, L. C.. Livro 4. p. 66.


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CONHECIMENTOS

para a maioria dos seres vivos. O processo que remove N2 do ar e


torna o nitrogênio acessível aos seres vivos é denominado fixação
do nitrogênio. A fixação de N2 em íons nitrato (NO3-) é a mais impor-
tante, pois é principalmente sob a forma desse íon que as plantas
absorvem nitrogênio do solo. A fixação pode ocorrer por proces-
sos físicos, como sob ação de relâmpagos durante tempestades, e
também por processos industriais, quando se criam situações de
altíssima pressão e temperatura para a produção de fertilizantes
comerciais. A fixação biológica, porém, é a mais importante, repre-
sentando 90% da que se realiza no planeta.
A fixação biológica do nitrogênio é realizada por bactérias de
vida livre no solo, por bactérias fotossintéticas, por cianofíceas (al-
gas azuis), e principalmente por bactérias do gênero Rhizobium,
que somente o fazem quando associadas às raízes de plantas legu-
minosas - soja, alfafa, ervilha, etc. Nessas raízes formam-se nódulos
Fonte: https://goo.gl/WSYnVG densamente povoados pelas bactérias, onde ocorre a fixação de N2
até a formação de nitrato. Essas plantas podem assim desenvolver-
3. Ciclo do oxigênio -se mesmo em solos pobres desse íon. Além da atmosfera, outro
O oxigênio pode ser encontrado na atmosfera sob várias for- reservatório de nitrogênio é a própria matéria orgânica. Os decom-
mas. Seja na forma de oxigênio molecular (O2) ou em composição positores que promovem a putrefação transformam compostos ni-
com outros elementos (CO2, NO2, SO2, etc.) o fato é que o oxigênio trogenados em amônia (NH3), processo denominado amonificação.
é o elemento mais abundante na crosta terrestre e nos oceanos As bactérias Nitrosomonas transformam a amônia em nitrito (NO2-)
(99,5% do oxigênio está contida ali) e o segundo mais abundante (nitrosação) e as Nitrobacter o transformam em nitrato (nitratação).
na atmosfera (0,49% do oxigênio existente está na atmosfera, os Esse processo todo é denominado nitrificação, e estas bactérias são
outros 0.01% estão contidos nos seres vivos). O ciclo de transforma- conhecidas genericamente como nitrificantes.
ções do oxigênio por estes reservatórios (atmosfera, oceano e cros- O retorno do nitrogênio a atmosfera é promovido no proces-
ta terrestre) constitui o chamado ciclo do oxigênio que é mantido so de desnitrificação, realizado por bactérias desnitrificantes, que
por processos biológicos, físicos, geológicos e hidrológicos. transformam o nitrato em nitrogênio gasoso (N2). O solo, fonte de
O ciclo do oxigênio está estritamente relacionado com o ciclo nitrato para as plantas terrestres, é também importante exportador
do carbono, uma vez que o fluxo de ambos está associado aos pro- de sais para os ecossistemas aquáticos, geralmente veiculados pela
cessos fotossintéticos e respiratórios. Os processos de fotossíntese água de chuvas.
liberam oxigênio para a atmosfera, enquanto os processos de res-
piração e combustão o consomem. Parte do O2 da estratosfera é
transformado pela ação de raios ultravioletas em ozônio (O3). Este
forma uma camada que funciona como um filtro, evitando a pe-
netração de 80% dos raios ultravioletas. A liberação constante de
clorofluorcarbonos (CFC) leva a destruição da camada de ozônio.

Fonte: https://goo.gl/6yz1oT

5. Ciclo do fósforo
Fonte adaptada: https://goo.gl/vkzp9k
O fósforo é um dos elementos essenciais à vida, é um nutriente
limitante do crescimento de plantas, especialmente em ambientes
4. Ciclo do nitrogênio4
aquáticos e, por outro lado, se presente em abundância causa sé-
O nitrogênio participa das moléculas de proteínas, ácidos nu-
rios problemas ambientais. Se, por exemplo, grande quantidade de
cleicos e vitaminas. Embora seja abundante na atmosfera (78% dos
P, geralmente utilizado como fertilizante e em detergentes, entra
gases), a forma gasosa (N2) é muito estável, sendo inaproveitável
em um lago (principalmente se este for o caso), esse nutriente pode
causar aumento da população de bactérias e algas verdes (fotossin-
4 www.sobiologia.com
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CONHECIMENTOS

téticas). Devido ao crescimento intenso, esses organismos podem e a implementação de sistemas que aproveitam o calor residual
cobrir toda a superfície do lago, inibindo a entrada de luz e provo- para geração de energia térmica, podem aumentar a eficiência
cando, consequentemente a morte de plantas que vivem abaixo da energética e reduzir as emissões. Já as usinas termonucleares ofe-
superfície. Quando as plantas subsuperficiais morrem, assim como recem uma fonte de energia com baixa emissões de gases de efei-
as algas e bactérias superficiais, todas são consumidas por outras to estufa, mas enfrentam desafios relacionados à segurança e ao
bactérias que usam o CO2 dissolvido no lago ao se alimentares. Se gerenciamento dos resíduos radioativos. Mas tecnologias como
o nível de O2 tornar-se muito baixo, a vida aquática fica comprome- os reatores de fissão avançados e a fusão nuclear, estão sendo de-
tida. Os peixes morrerão e desenvolver-se-ão bactérias anaeróbias. senvolvidas como possíveis soluções para tornar a energia nuclear
mais segura e sustentável.
No transporte e na distribuição de energia elétrica, são utiliza-
das linhas de transmissão de alta tensão que permitem transpor-
tar grandes quantidades de energia a longas distâncias, reduzindo
as perdas durante o transporte. Além disso, o uso de sistemas
inteligentes de distribuição, que permitem o monitoramento em
tempo real e a otimização do fornecimento de energia, contribui
para a eficiência do sistema elétrico como um todo.
No consumo de energia elétrica, a eficiência energética é
fundamental para reduzir a demanda e minimizar os impactos
ambientais. Atitudes como utilizar iluminação LED, eletrodomés-
ticos de baixo consumo e sistemas de gestão energética têm sido
adotadas para promover a eficiência energética e reduzir o des-
perdício.
A relação custo/benefício também é um fator importante a
Fonte: https://goo.gl/1KhjR1 ser considerado na implementação de soluções energéticas. O
desenvolvimento de processos e tecnologias mais eficientes, a re-
dução dos custos de instalação e manutenção tornam as energias
DAS TECNOLOGIAS E POSSÍVEIS SOLUÇÕES PARA AS DE- renováveis, como a solar e a eólica, cada vez mais competitivas
MANDAS QUE ENVOLVEM A GERAÇÃO, O TRANSPORTE, em comparação com fontes tradicionais de energia.
A DISTRIBUIÇÃO E O CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA, Também é importante considerar os impactos socioambien-
CONSIDERANDO A DISPONIBILIDADE DE RECURSOS, A tais e culturais dessas soluções energéticas. Além disso, promover
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA, A RELAÇÃO CUSTO/BENEFÍ- a inclusão social e o acesso à energia em áreas remotas e em de-
CIO, A PRODUÇÃO DE RESÍDUOS E OS IMPACTOS SO- senvolvimento é fundamental para garantir um desenvolvimento
CIOAMBIENTAIS E CULTURAIS EM USINAS HIDRELÉ- igualitário.
TRICAS, TÉRMICAS E TERMONUCLEARES

DA REATIVIDADE DOS ELEMENTOS QUÍMICOS E AS


A demanda por energia elétrica continua a crescer em todo TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS QUE ENVOLVEM COR-
o mundo, impulsionada pelo aumento da população, do desen- RENTE ELÉTRICA: PILHAS, BATERIAS E O PROCESSO DA
volvimento econômico e do avanço tecnológico. Para suprir essa ELETRÓLISE, SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS E DESCAR-
demanda de forma sustentável, é necessário considerar uma sé- TE ADEQUADO
rie de fatores, como a disponibilidade de recursos, a eficiência
energética, a relação custo/benefício, a produção de resíduos e os
impactos socioambientais e culturais. Nesse contexto, várias tec- A eletroquímica é a parte da Química que estuda não só os fe-
nologias e soluções têm sido desenvolvidas e implementadas para nômenos envolvidos na produção de corrente elétrica a partir da
abordar essas questões de maneira mais eficiente e sustentável. transferência de elétrons em reações de óxido-redução, mas tam-
Considerando a geração de energia elétrica, as usinas hidrelé- bém a utilização de corrente elétrica na produção dessas reações.
tricas são muito utilizadas devido à disponibilidade de recursos O seu estudo pode ser dividido em duas partes: pilhas e eletrólise.
hídricos em muitas regiões. Porém essas usinas causam impactos
significativos no meio ambiente, como o deslocamento de comu-
nidades e a alteração dos ecossistemas fluviais. Assim, visando
minimizar o impacto sobre a vida aquática e a biodiversidade,
tecnologias como as turbinas de baixa pressão e a construção de
escadas para peixes têm sido implementadas. As usinas termelé-
tricas, que utilizam combustíveis fósseis, também são uma fonte Oxirredução
importante de energia elétrica, mas causam emissões de gases ‘Uma reação de oxirredução é aquela em que há transferência
de efeito estufa e poluentes atmosféricos. Para reduzir esses im- de elétrons (oxidação e redução); com isso uma espécie química
pactos, processos como a captura e armazenamento de carbono ganha elétrons e simultaneamente outra espécie química perde
têm sido desenvolvidas, permitindo a redução das emissões de elétrons.
gás carbônico dessas usinas. Além disso, o uso de biocombustíveis

Editora
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Oxidação: ocorre quando o número de oxidação de um átomo


aumenta. E para que ocorra um aumento no número de oxidação, o
átomo precisa perder elétrons.
Redução: ocorre quando o número de oxidação diminui. Para
que ocorra essa diminuição, o átomo precisa receber elétrons.

Exemplo: Fe2O3(s) + 3 CO(g) →Fe2 (s) + 3 CO2(g)

A reação de oxidorredução acima ocorre em fornos siderúrgi-


cos, em que o minério hematita (Fe2O3(s)) reage com o monóxido
de carbono (CO), obtendo-se assim o ferro metálico. A partir das
variações dos números de oxidação (Nox) das espécies reagentes e
dos produtos é possível verificar quem sofre redução e quem sofre
oxidação:
Assim, podemos prever a ocorrência dos seguintes semi-rea-
ções:
-Oxidação: Zn0(s)-Zn2+(aq) + 2e-
-Redução: Cu2+ + 2e- -Cu0(s)

Somando as semi-reações acima, obtemos a reação de oxirre-


Observe que o Nox do ferro diminuiu de +3 para zero. Isso sig-
dução ocorrida entre a barra de zinco e a solução de Cu2+.
nifica que ele recebeu elétrons (que possuem carga negativa, por
Zn0 (s)+ Cu2+(aq)-Zn2+(aq) + Cu0(s)
isso o valor diminui), ou seja, ele sofre uma redução. Mas, para que
o ferro da hematita ganhe elétrons e reduza é necessário que outra
A função da ponte salina: Conforme aumenta a concentração
espécie química forneça esses elétrons para ela. No caso, a substân-
de Zn2+, a solução passa a adquirir um excesso de cargas positivas.
cia que faz isso é o monóxido de carbono (CO).
Por outro lado, uma diminuição da quantidade de íons Cu2+ faz com
que a solução adquira excesso de carga negativa. Diante disso, a
Sabemos disso, porque o Nox do carbono aumentou de +2 para
ponte salina atua como “veículo iônico”, permitindo a passagem de
+4, isso quer dizer que ele perdeu elétrons. Portanto, visto que o CO
íons de uma sequência para outra. Assim, a cada instante, as duas
causou a redução da hematita, então ele é considerado o agente
soluções permanecem eletricamente neutras.
redutor.
Sentido dos elétrons Os elétrons circulam do eletrodo de maior
Podemos seguir a mesma linha de raciocínio no caso da oxida-
potencial de oxidação para o de menor potencial de oxidação. No
ção do CO: sua oxidação foi causada por alguma espécie, que no
caso da pilha de Daniell os elétrons vão do zinco para o cobre.
caso foi a hematita. Desse modo, a hematita é o agente oxidante.
Cátodo e Ânodo
PILHAS
-Cátodo – placa de menor potencial de oxidação – Cu. Onde
Muitas reações de oxirredução ocorrem espontaneamente.
ocorre redução.
Uma situação ilustrativa é a reação do metal zinco com uma so-
-Ânodo – placa de maior potencial de oxidação – Zn. Onde
lução aquosa contendo cátions de Cu2+ (aq). Uma grande vantagem
ocorre oxidação.
dessas reações de oxirredução espontâneas é que podem ser uti-
lizadas para gerar eletricidade. Para isso, basta montar um aparato
Variação de massa nas placas
denominado pilha.
-Placa de maior potencial de oxidação – diminui – Zn.
-Placa de menor potencial de oxidação – aumenta – Cu.
A pilha de Daniel
Pilhas ou célula voltaicas são dispositivos que transformam
Como medir os potenciais dos eletrodos?
energia química em energia elétrica por meio de um sistema apro-
O potencial de cada eletrodo-padrão é determinado acoplan-
priado e montado para aproveitar o fluxo de elétrons provenien-
do-se a ele outro eletrodo-padrão de hidrogênio e medindo-se a
tes de uma reação química de oxirredução. A pilha de Daniell é um
diferença de potencial. Para tal, chamaremos de E0 o potencial do
exemplo deste sistema. É formado por uma placa de zinco mergu-
eletrodo padrão e ΔE0 à diferença de potencial entre dois eletrodos-
lhada em uma solução de sulfato de zinco, e uma placa de cobre
-padrão. Por convenção, temos que:
imersa em uma solução de sulfato de cobre. As duas placas (eletro-
O eletrodo padrão de hidrogênio apresentam potencial igual
dos) são conectadas por um fio metálico, que permite a passagem
a zero.
de elétrons de um eletrodo ao outro. As duas soluções são interli-
E0(H2)= zero
gadas por uma ponte salina, um tubo de vidro recurvado que con-
tém uma solução de um sal (sulfato de sódio, neste caso) e possui
pedaços umedecidos de algodão nas extremidades.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Vamos medir, por exemplo, o potencial do eletrodo-padrão de zinco.

De acordo com o sentido dos elétrons, fica claro que teremos as seguintes semi-reações:
-Eletrodo de hidrogênio: 2H+ + 2e- --H2 (redução)
-Eletrodo de zinco: Zn0 -Zn2+ + 2e- (oxidação)

Previsão de reações de oxirredução


É possível prever a espontaneidade de uma reação de oxirredução através dos potenciais de oxidação ou de redução E0 das semi-re-
ações.

Exemplo:Zn0 + Cu2+ -Zn2+ + Cu0


Para confirmar se uma reação de oxi-red ocorre ou não espontaneamente, é necessário observar os potenciais de redução de cada
semi-reação.

Zn2+ +2e- ↔ Zn0 E0red=-0,76V


Cu2+ 2e- ↔Cu2+E0red=+0,34V

Esses valores de E0red mostram que o Cu2+ reduz mais facilmente que o Zn2+, pois tem maior E0red. Já o Zn2+ oxida melhor que o Cu2+, uma
vez que possui menor E0red, e assim apresenta maior E0oxi.

ELETRÓLISE
É um processo não-espontâneo, em que a passagem de uma corrente elétrica através de um sistema líquido, no qual existam íons,
produz reações químicas. As eletrólises são realizadas em cubas eletrolíticas, nas quais a corrente elétrica é produzida por um gerador
(pilha). Nesse sistema, os eletrodos são geralmente inertes, formados por platina ou grafita (carvão).As substâncias que serão submetidas
à eletrólise podem estar liquefeitas (fundidas) ou em solução aquosa. A seguir, vamos estudar essas duas possibilidades.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Esquema da Eletrólise Estequiometria da Eletrólise


Quando realizamos a eletrólise da água, o volume que obtemos
de H2(g) no cátodo é o dobro do volume que obtemos de O2(g) no
ânodo. Agora vamos aprender a calcular a quantidade de substân-
cia liberada num eletrodo. Sendo:
i – intensidade de corrente.
Q – quantidade de carga elétrica.
t –tempo de passagem da corrente pelo eletrólito.
Temos: Q= i.t

Conceito de faraday (F)


A quantidade de eletricidade de 1 mol de elétrons (6,02 x 1023
elétrons) é chamada d
e faraday (F). A carga elétrica que um elétron transporta é 1,6 x
10-19C. Um mol de elétrons terá carga:
6,02 x 1023 x 1,6 x 10-19 C 965000 C
965000 C = 1 Faraday
Os íons negativos são atraídos pelo polo positivo (+) (ânodo),
onde irão perder elétrons (oxidação). Os elétrons cedidos ao polo
(+) migram através do circuito externo até o polo (-) (cátodo). Lá, DA EVOLUÇÃO DOS MODELOS ATÔMICOS PARA COM-
estes serão “ganhos” pelos íons positivos (redução). PARAR DISTINTAS EXPLICAÇÕES SOBRE O SURGIMEN-
TO E A EVOLUÇÃO DA VIDA, DA TERRA E DO UNIVERSO
COM AS TEORIAS CIENTÍFICAS ACEITAS ATUALMENTE

A estrutura atômica é composta por três partículas funda-


mentais: prótons (com carga positiva), nêutrons (partículas neu-
tras) e elétrons (com carga negativa).
Para que ocorra a eletrólise é necessária a presença de íons Toda matéria é formada de átomo sendo que cada elemento
livres. químico possui átomos diferentes.
A eletricidade chega às nossas casas através de fios e da
IMPORTANTE: A eletrólise é basicamente o inverso da reação movimentação de partículas negativas que fazem parte dos elé-
de uma pilha. Assim, para que ocorra uma hidrólise, é necessário trons, que circulam pelos fios.
que o gerador forneça uma ddp superior à reação da pilha. Se isso Modelos Atômicos
não ocorrer, não temos a ocorrência da eletrólise. Os modelos atômicos são os aspectos estruturais dos áto-
mos que foram apresentados por cientistas na tentativa de com-
Eletrólise Ígnea: preender melhor o átomo e a sua composição.
Esse tipo de reação é muito utilizado na indústria, principal- Em 1808, o cientista inglês John Dalton propôs uma expli-
mente para a produção de metais. Veja o exemplo de eletrólise do cação para a propriedade da matéria. Trata-se da primeira teo-
NaCl (cloreto de sódio – sal de cozinha), com produção do sódio ria atômica que dá as bases para o modelo atômico conhecido
metálico e do gás cloro: atualmente.
Semirreação no cátodo: Na+ + e- → Na. (2) A constituição da matéria é motivo de estudos desde a an-
Semirreação no ânodo: 2 Cl- → Cl2 + 2e-____ tiguidade. Os pensadores Leucipo (500 a.C.) e Demócrito (460
Reação global: 2 Na+ + 2 Cl- → 2 Na + Cl2 a.C.) formularam a ideia de haver um limite para a pequenez das
partículas.
Eletrólise Aquosa: Eles afirmavam que elas se tornariam tão pequenas que não
Na eletrólise aquosa faz parte os íons da substância dissolvida poderiam ser divididas. Chamou-se a essa partícula última de
(soluto) e da água. Na eletrólise do cloreto de sódio em meio aquo- átomo. A palavra é derivada dos radicais gregos que, juntos, sig-
so são produzidos a soda cáustica (NaOH), o gás hidrogênio (H2) e o nificam o que não se pode dividir.
gás cloro (Cl2). Note como se dá:
Dissociação do NaCl: 2NaCl- → 2Na+ + 2Cl-
Autoionização da água: 2H2O → 2 H+ + 2OH-
Semirreação no cátodo: 2H++ 2e- → H2
Semirreação no ânodo: 2Cl- → Cl2 + 2e-
Reação global: 2 NaCl- + 2H2O → 2 Na++ 2OH- + H2 + Cl2

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

O Modelo Atômico de Dalton Ele descobriu essa mínima partícula e assim estabeleceu a
teoria da natureza elétrica da matéria. Concluiu que os elétrons
eram constituintes de todos os tipos de matéria, pois observou
que a relação carga/massa do elétron era a mesma para qual-
quer gás empregado em suas experiências.

Em 1897, Thomson tornou-se reconhecido como o “pai do


elétron”.

Modelo Atômico de Rutherford

Modelo atômico de Dalton

O Modelo Atômico de Dalton, conhecido como o modelo


bola de bilhar, possui os seguintes princípios:
1. Todas as substâncias são formadas de pequenas partí-
culas chamadas átomos;
2. Os átomos de diferentes elementos têm diferentes pro-
priedades, mas todos os átomos do mesmo elemento são exata-
mente iguais;
3. Os átomos não se alteram quando formam componen-
tes químicos;
4. Os átomos são permanentes e indivisíveis, não poden-
do ser criados nem destruídos; Modelo atômico de Rutherford
5. As reações químicas correspondem a uma reorganiza-
ção de átomos. Em 1911, o físico neozelandês Rutherford colocou uma fo-
lha de ouro bastante fina dentro de uma câmara metálica. Seu
Modelo Atômico de Thomson objetivo era analisar a trajetória de partículas alfa a partir do
obstáculo criado pela folha de ouro.
Nesse ensaio de Rutherford, observou que algumas partícu-
las ficavam totalmente bloqueadas. Outras partículas não eram
afetadas, mas a maioria ultrapassava a folha sofrendo desvios.
Segundo ele, esse comportamento podia ser explicados graças
às forças de repulsão elétrica entre essas partículas.
Pelas observações, afirmou que o átomo era nucleado e sua
parte positiva se concentrava num volume extremamente pe-
queno, que seria o próprio núcleo.
O Modelo Atômico de Rutherford, conhecido como modelo
planetário, corresponde a um sistema planetário em miniatura,
no qual os elétrons se movem em órbitas circulares, ao redor do
núcleo.

Modelo de Rutherford – Bohr


Modelo Atômico de Thomson

O Modelo Atômico de Thomson foi o primeiro a realizar a


divisibilidade do átomo. Ao pesquisar sobre raios catódicos, o
físico inglês propôs esse modelo que ficou conhecido como o
modelo pudim de ameixa.
Ele demonstrou que esses raios podiam ser interpretados
como sendo um feixe de partículas carregadas de energia elétri-
ca negativa.
Em 1887, Thomson sugeriu que os elétrons eram um cons-
tituinte universal da matéria. Ele apresentou as primeiras ideias
relativas à estrutura interna dos átomos.
Thomson indicava que os átomos deviam ser constituídos
de cargas elétricas positivas e negativas distribuídas uniforme-
Modelo Atômico de Rutherford-Bohr
mente.

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CONHECIMENTOS

O modelo apresentado por Rutherford foi aperfeiçoado por Em 1932, o físico inglês James Chadwick (1891-1974) des-
Bohr. Por esse motivo, o aspecto da estrutura atômica de Bohr cobriu o nêutron, partícula neutra, companheira do próton no
também é chamada de Modelo Atômico de Bohr ou Modelo Atô- núcleo atômico.
mico de Rutherford-Bohr. No início dos anos 60, os cientistas já achavam que prótons e
A teoria do físico dinamarquês Niels Bohr estabeleceu as se- nêutrons eram formados por partículas ainda menores. Murray
guintes concepções atômicas: Gell-Mann, nascido em 1929 sugere a existência dos quarks, que
1. Os elétrons que giram ao redor do núcleo não giram ao seriam essas partículas menores. Os quarks são mantidos juntos
acaso, mas descrevem órbitas determinadas. por outras partículas denominadas gluons.
2. O átomo é incrivelmente pequeno, mesmo assim a maior Acreditava-se, na Antiguidade, que os átomos eram indivi-
parte do átomo é espaço vazio. O diâmetro do núcleo atômico síveis e maciços. No século XX ficou provado que os átomos são
é cerca de cem mil vezes menor que o átomo todo. Os elétrons formados por outras partículas. São três partículas fundamen-
giram tão depressa que parecem tomar todo o espaço. tais: elétrons, prótons e nêutrons.
O átomo se divide em duas partes: o núcleo e a eletrosfera.
3. Quando a eletricidade passa através do átomo, o elétron Os prótons e nêutrons ficam no núcleo do átomo e os elétrons
pula para a órbita maior e seguinte, voltando depois à sua órbita ficam na eletrosfera.
usual.
4. Quando os elétrons saltam de uma órbita para a outra
resulta luz. Bohr conseguiu prever os comprimentos de onda a
partir da constituição do átomo e do salto dos elétrons de uma
órbita para a outra.

ÁTOMO
Toda matéria é formada por partículas muito pequenas. Es-
sas partículas chamamos de átomo.
ÁTOMO – É uma partícula indivisível.
Há cerca de 2,5 mil anos, o filósofo grego Demócrito disse
que se dividirmos a matéria em pedacinhos cada vez menores,
chegaremos a grãozinhos indivisíveis, que são os átomos (a =
não e tomo = parte). Em 1897, o físico inglês Joseph Thompson
(1856-1940) descobriu que os átomos eram divisíveis: lá dentro
havia o elétron, partícula com carga elétrica negativa.
Fonte: http://www.infoescola.com/Modules/Articles/Images/full-
-1-3d6aba4843.jpg

Essas partículas são caracterizadas pelas suas cargas elétri-


cas. O elétron tem carga -1 e massa desprezível (sendo aproxi-
madamente 1/1836 a massa do próton). A massa do próton seria
então igual a 1 e a carga +1. O nêutron não possui carga elétrica
e sua massa é igual a do próton.
Observe a tabela entre as relações de massa das partículas
fundamentais do átomo. Adota-se como padrão o próton com
massa igual a 1:

Em 1911, o neozelandês Ernest Rutherford (1871-1937) PARTÍCULA MASSA CARGA ELÉTRICA


mostrou que os átomos tinham uma região central compacta
chamada núcleo e que lá dentro encontravam-se os prótons, p 1 +1
partículas com carga positiva. n 1 0
é 1/1836 -1

Note que a massa do elétron é 1.836 vezes menor que a do


próton, por isso desconsidera-se a sua massa.

Tamanho do Átomo
O tamanho do átomo é medido em angstrons (Å).
1 angstron = 10-10metros
O diâmetro médio do núcleo de um átomo fica entre 10-4 Å
e 10-5 Å e o da eletrosfera é de 1Å.
Fonte: http://static.hsw.com.br/gif/atom-rutherford.jpg

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CONHECIMENTOS

A eletrosfera de um átomo é entre 10000 e 100000 vezes Observe a tabela:


maior que o seu núcleo. Essa diferença de tamanho nos leva a
NOME DA Nº MÁX. DE É NA
admitir que o átomo é quase feito de espaço vazio. NÍVEL
CAMADA CAMADA
Em termos práticos, se o núcleo tivesse o tamanho de uma
bola de tênis, o primeiro elétron estaria a uma distância de 1 km. K 1 2
L 2 8
Configuração Eletrônica
A configuração eletrônica ou configuração eletrónica de um M 3 18
átomo ou íon é uma descrição da distribuição dos seus elétrons N 4 32
por nível de energia.
O 5 32
As configurações eletrônicas descrevem cada elétron como
se movendo independentemente em um orbital, em um campo P 6 18
médio criado por todos os outros orbitais. Matematicamente, Q 7 8
as configurações são descritas pelos determinantes de Slaterou
pelas funções do estado de configuração.
O número de camadas ou níveis de energia varia de acordo
De acordo com as leis da mecânica quântica, para sistemas
com o número de elétrons de cada átomo.
com apenas um elétron, um nível de energia está associado a
Em todo átomo (exceto o paládio – Pd) o número máximo de
cada configuração eletrônica e, em certas condições, os elétrons
elétrons em uma camada K só suporta 2 elétrons.
podem passar de uma configuração para outra pela emissão ou
A penúltima camada deve ter no máximo 18 elétrons.
absorção de um quantum de energia, na forma de um fóton.
Para os átomos com mais de 3 camadas, enquanto a penúl-
O conhecimento da configuração eletrônica de diferentes
tima não estiver com 18 elétrons, a última terá no máximo 2
átomos é útil para entender a estrutura da tabela periódica dos
elétrons.
elementos e também para descrever as ligações químicas que man-
Observe algumas distribuições:
têm os átomos unidos. Em materiais, essa mesma ideia ajuda a ex-
H (hidrogênio) nº de é = 1 K=1
plicar as propriedades peculiares dos lasers e semicondutores.
K (potássio) nº de é = 19 K = 2 L=8 M = 8N = 1
Be (berílio) nº de é = 4 K = 2 L = 2
Camadas Eletrônicas / Níveis de Energia
Zr (zircônio) nº de é = 40 K = 2L = 8M = 18 N = 10 O = 2
Na eletrosfera, os elétrons giram em torno do núcleo ocu-
pando o que chamamos de NÍVEIS DE ENERGIA ou CAMADAS
Número Atômico (Z)
ELETRÔNICAS. Cada nível possui um número inteiro de 1 a 7 ou
Cada átomo possui o seu número atômico. Ele indica o nú-
pelas letras maiúsculas K,L,M,N,O,P,Q. Nas camadas, os elétrons
mero de elétrons e prótons do átomo. Se ele estiver com sua
se movem e quando passam de uma camada para outra absor-
carga elétrica zero ele está neutro, ou seja, é um átomo neutro.
vem ou liberam energia.
O número atômico é indicado pela letra (Z).
Quando um elétron salta para uma camada mais interna ele
Número Atômico é o número de prótons e elétrons (átomo
libera energia.
neutro) que existem no átomo.
Quando um elétron salta para uma camada mais externa ele
absorve energia.
Exemplos:
A energia emitida é em forma de luz. Chamamos essa ener-
Na (sódio) Z=11
gia de “quantum” de energia. O “quantum” também é chamado
He (hélio) Z=2
de fóton.
V (vanádio) Z=23
Br (bromo) Z=84
Po (polônio) Z=84

Pode-se dizer que o número atômico é igual ao número de


prótons do núcleo. Se o átomo for neutro, é igual ao número de
elétrons também.
Z=p=é

Número de Massa (A)


Cada camada eletrônica pode conter certo número máximo Número de massa é o peso do átomo. É a soma do número
de elétrons. de prótons (Z) e de nêutrons (n) que existem num átomo.

A = p + n ouA = Z + n
É este número que informa se o átomo é mais “leve” ou mais
“pesado”. São os prótons e nêutrons quem dão a massa do áto-
mo, já que os elétrons são muito pequenos, com massa despre-
zível em relação a estas partículas.
Exemplos:
Na (sódio) A = 23

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CONHECIMENTOS

Se o Na tem A = 23 e Z = 11, qual o número de n (nêutrons)? Exemplo:


A = 23
Z=p=é K Ca
40 40

A=p+n 1920

23 = 11 + n A = 40 A = 40
n = 12 Z = 19 Z = 20

A partir do Z, temos o número de prótons e de elétrons do São átomos de elementos químicos diferentes, mas que tem
átomo. A partir da fórmula A = p + n, isolamos o n para achá-lo, o mesmo número de massa.
substituindo o A e o p na fórmula. Então podemos utilizar tam- Os isótonos são átomos que possuem o mesmo número de
bém a fórmula: nêutrons e com diferentes números de prótons e de massa. São
n=A–p átomos de diferentes elementos químicos.
Observe o modelo: Exemplo:
a) K (potássio) A = 37ClA = 40Ca
A = 39 Z = 17 Z = 20
Z = 19 __________ __________
p = 19 n = 20n = 20
é = 19
n = 20 Os isótonos têm propriedades químicas e físicas diferentes.

Encontramos estes valores na Tabela Periódica dos Elemen- Diagrama de Pauling


tos. Toda tabela possui a sua legenda informando o número atô- O diagrama de Pauling ou princípio de Aufbau nada mais é
mico e o número de massa. Aplicando a fórmula correta, conse- do que um método de distribuir os elétrons na eletrosfera do
guimos encontrar o valor de nêutrons. átomo e dos íons. Este método foi desenvolvido pelo físico ale-
mão Erwin Madelung (no Brasil, em muitos livros de química, o
ÍON modelo é atribuído à Linus Pauling; entretanto, não há evidên-
O átomo que possui p = é, ou seja, o número de prótons cias de que tenha sido ele o criador desse método). Ele provou
igual ao número de elétrons é eletricamente neutro. experimentalmente que os elétrons são dispostos nos átomos
Átomo neutro = p = é em ordem crescente de energia, visto que todas as vezes que o
Se o átomo tiver elétrons a mais ou a menos, então não será elétron recebe energia ele salta para uma camada mais externa a
mais um átomo neutro. Este átomo passará a ser chamado de qual ele se encontra, e no momento da volta para sua camada de
ÍON. origem ele emite luz, em virtude da energia absorvida anterior-
Íon = p ≠ é mente. Baseado na proposição de Niels Borh de que os elétrons
giram ao redor do núcleo, como a órbita dos planetas ao redor
Íon é um átomo que perde ou ganha elétrons. Ele pode ficar do sol.
negativo ou positivo. Então: Uma lâmpada fluorescente, por exemplo, ela contém uma
Íon positivo (+) doa elétrons – íon cátion. Ex. Na+ substância química em seu interior, obviamente formada por
Íon negativo (-) recebe elétrons – íon ânion. Ex. Cl- átomos, os elétrons presentes na eletrosfera destes átomos, ao
Quando um cátion doa elétrons, ele fica positivo. receber a energia elétrica são excitados, e começam a saltar para
Quando um ânion ganha elétrons, ele fica negativo. outras camadas e ao retornarem emitem a luz.

ISÓTOPO, ISÓBARO E ISÓTONO


Se observarmos o número atômico, número de massa e de
nêutrons de diferentes átomos podemos encontrar conjuntos de
átomos com outro número igual.
Os isótopos são átomos que possuem o mesmo número de
prótons (p) e diferente número de massa (A).
Exemplo: o hidrogênio (H)
¹H ²H³H
¹¹¹

hidrogênio deutériotrítio
Z=1Z=1Z=1
A = 1A = 2 A = 3

Este fenômeno é muito comum na natureza. Quase todos os


elementos químicos naturais são formados por mistura de isó-
topos.
Os isóbaros são átomos que possuem o mesmo número de
massa (A) e diferente número de prótons.
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CONHECIMENTOS

Diagrama de Pauling
1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d104p6 5s2 4d10 5p6 6s2 4f14 5d106p6 7s2 5f146d10 7p6 ...

Ordem crescente de energia

Número Quântico Principal (n): também conhecido como nível energético são representados pelos números inteiros corres-
pondentes a:
• K= 1 s
• L=2 s p
• M= 3 s p d
• N= 4 s p d f
• O= 5 s p d f g
• P= 6 s p d f g h
• Q= 7 s p d f g h i...

Número Quântico Azimutal(l): é comumente conhecido como subnível energético e representado pelas (“s, p, d, f,”...), respec-
tivamente, “s(Sharp), p(Principal), d(difuse) e f(fundamental)”.Os subníveis energéticos são formados por orbitais, que comportam
2 elétrons com spins opostos segundo o Princípio da exclusão de Pauli.

• s²= 1 orbital e 2 spins


• p6= 3 orbitais e 6 spins
• d10= 5 orbitais e 10 spins
• f14= 7 orbitais e 14 spins
Número Quântico Magnético(m): o número quântico magnético é útil para identificação dos orbitais. Onde o orbital da direita
tem valor (+) e os da esquerda valor (-). Por exemplo, utilizando o subnível f que possui um maior número de orbitais, temos:

Número Quântico de Spin (Ms): são representações em forma de seta dos elétrons distribuídos nos orbitais. O valor dos de
cada spin é:
↑ Para cima é positivo Ms=+½(meio) e ↓ Para baixo é negativo e Ms=-½(meio)
Exemplo: é necessário fazer a distribuição eletrônica do átomo de Praseodímio:
Passo 1: procurar o elemento na tabela periódica e observar seu número atômico.
Utilizando o diagrama de Pauling e seguindo pelas diagonais obtém-se:

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CONHECIMENTOS

No átomo de Pr as camadas possuem:


K=2 elétrons, L=8 elétrons, M=18 elétrons, N=21elétrons, O=8 elétrons e P=2 elétrons.
Passo 2: dispor os spins em orbitais(aqui representados pelos quadrinhos) sendo

Para os íons a distribuição é diferente, visto que íons são átomos que possuem carga e são subdividos em Cátions - tem tendên-
cia de perder seus elétrons e Ânions – tem tendência de ganhar elétrons.
Para o Cátion de Pr+2 por exemplo, a distribuição passa a ser para 57 elétrons pois ele perde 2 em virtude de sua valência:

K=2 elétrons, L=8 elétrons, M=18 elétrons, N=19 elétrons, O=8 elétrons e P=2 elétrons.

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CONHECIMENTOS

Para um átomo de cloro, por exemplo, a distribuição é 17, porém para o ânion cloreto passa a ser de 18 elétrons por que ele
ganha 1 elétron:
17
Cl:
1s2
2s2 2p6
3s2 3p5 ou1s2 2s2 2p6 3s2 3p5
K=2, L=8 e M=7 elétrons

Cl-1:
17

2
1s

2s2 2p6
3s2 3p6 ou1s2 2s2 2p6 3s2 3p6
K=2, L=8 e M=8 elétrons

É importante salientar que no texto acima existem reticências demonstrando a continuação das camadas, níveis, subníveis etc.
Simplesmente por que Pauling seguiu o raciocínio de Mendeleyev, sabendo que novos elementos ainda serão descobertos e ocupa-
rão, por exemplo, a camada R nível 8 e subníveis s,p,d,f,g,h,i, j e assim por diante.

Princípio da Exclusão de Pauli


De acordo com a Química Quântica, para cada elétron em um átomo poderá ser associado um conjunto de valores referente
aos quatro números quânticos, que determinarão a posição ocupada pelo elétron, incluindo o orbital, assim como a orientação em
que executa seu movimento de rotação.
“Existe uma restrição, todavia, quanto aos valores que esses números podem ter. Esta restrição é o Princípio de Exclusão de
Pauli, que estabelece que dois elétrons em um átomo não podem ter todos os quatro números quânticos iguais. Isto significa que, se
escolhermos um conjunto particular de valores para n, l e ml correspondente a um orbital particular (por exemplo, n=1, l=0, ml=0; o
orbital 1s), poderemos ter apenas dois elétrons com valores diferentes do número quântico de spin, ms (isto é, s= +1/2 ou s= -1/2).
Com efeito, isso limita a dois o número de elétrons em um dado orbital, também requer que os spins destes dois elétrons estejam
em direções opostas”.
Portanto, os valores dos quatro números quânticos podem ser atribuídos para cada elétron em um átomo, de acordo com as re-
gras precedentes e o Princípio da Exclusão de Pauli. Uma maneira objetiva de prever a localização provável de um elétron no interior
de um átomo (sua camada, subcamada e orbital) é através de um conjunto matemático de valores denominado números quânticos.

a) NÚMERO QUÂNTICO PRINCIPAL (n)


Representa a camada atômica em que o elétron se encontra. Seus valores são números inteiros positivos, sendo experimental-
mente determinado com variação de 1 a 7. Representa a distância média do elétron em relação ao núcleo do átomo, sendo assim,
quanto maior for o valor de n mais afastado este elétron estará.

b) NÚMERO QUÂNTICO AZIMUTAL (l)


Representa a subcamada, assim, a forma do orbital. Pode apresentar valores inteiros de zero até n-1. Quando l=0, tem-se a sub-
camada s e forma simetricamente esférica para o orbital, l=1 designa uma subcamada p e um orbital apresentando uma forma típica
de dois lobos de um orbital p. De forma idêntica, l=2 representa uma subcamada d e l=3 uma subcamada f.

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CONHECIMENTOS

NÚMERO QUÂNTICO MAGNÉTICO (ml)


“O termo magnético é relativo ao fato de que os orbitais de uma dada subcamada possuem diferentes energias quantizadas, na
presença de um campo magnético”. O valor deste número quântico oferece informações a respeito da orientação de um orbital no
espaço. Para a subcamada s apresenta valor zero, para a subcamada p pode assumir valores inteiros no intervalo de –1 a +1, para a
subcamada d valores de –2 a +2 e para a subcamada f valores de –3 a +3.

c) NÚMERO QUÂNTICO SPIN (ms)


O quarto número quântico, denominado muitas vezes apenas de spin, representa o eixo de rotação do elétron no orbital. Possui
valor de +1/2 e –1/2, “sendo atribuido o primeiro a uma rotação em sentido anti-horário e o segundo em sentido horário”.

Na Tabela 1 há um sumário referente aos valores para os quatro números quânticos obtidos por algumas informações.

Nome Símbolo Característica especificada Informação fornecida Valores possíveis


Principal n Camada Distância média do núcleo 1, 2, 3, 4,...
Azimutal l Subcamada Forma do orbital 0, 1, 2,...(n-1)
Magnético ml Orbital Orientação do orbital -l, (-l+1),...0,...(l-1), l
Spin ms Spin Spin -1/2, +1/2

O PRINCIPIO DA EXCLUSÃO DE PAULI E A CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA DOS ELEMENTOS


Sabendo que um orbital não pode acomodar mais do que dois elétrons, podemos prever o número máximo de elétrons em cada
camada ou subcamada eletrônica.
Somente dois elétrons podem ser atribuídos a um orbital s.
Como cada um dos três orbitais em uma subcamada p pode acomodar dois elétrons, esta subcamada pode acomodar um má-
ximo de seis elétrons.
Os cinco orbitais de uma subcamada d podem acomodar um total de dez elétrons.

Transição de Níveis de Energia

Ocorre emissão de fóton quando o elétron vai de um nível mais energético para um menos energético

Ocorre absorção de fóton quando o elétron vai de um nível menos energético para um mais energético
Elétrons em átomos e moléculas podem trocar (fazer transição) de níveis de energia ao emitirem ou absorverem um fóton, ou radia-
ção eletromagnética, tal energia deve ser exatamente igual à diferença energética entre os dois níveis. Elétrons podem também ser com-
pletamente removidos de uma espécie química, como um átomo, molécula, ou íon. A remoção completa de um elétron de um átomo pode
ser uma forma de ionização, que é efetivamente mover o elétron para um orbital com um número quântico principal infinito, tão longe de
forma a praticamente não ter efeito algum sobre o átomo remanescente (íon). Para vários tipos de átomos, existem a 1ª, 2ª, 3ª energia de
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CONHECIMENTOS

ionização e assim por diante, que podem ser fornecidas ao átomo Já vimos que a frequência, o comprimento de onda e a ve-
em estado fundamental para remover elétrons do menor ao maior locidade da luz estão relacionados pela equação c = u l, que,
nível de energia. Energia em quantidades opostas também pode ser substituindo, obtemos:
liberada, muitas vezes em forma de energia fotoelétrica, quando
elétrons entram em contato com ións positivamente carregados (ou E fóton = hc / l
átomos). Moléculas também podem passar por transições em seus
níveis de energia vibracionais e rotacionais. A transição de nível
Desta equação podemos ver que um fóton de energia ele-
de energia também pode ser não-radioativa, significando que não
tromagnética tem sua energia e comprimento de onda relacio-
ocorre a emissão ou absorção de um fóton.
nados em uma proporcionalidade inversa (lembre-se: h e c são
Se um átomo, íon ou molécula está no menor nível de energia
constantes). Segundo Bohr, cada elétron pode Ter somente um
possível, ele e seus elétrons são ditos em estado fundamental. Se
valor de energia.
estão no maior nível de energia, são ditos excitados, ou qualquer
Ele estabeleceu que um átomo tem um conjunto de energias
elétron possui uma energia maior que o estado fundamental está
quantizadas, ou níveis de energia, disponível para seus elétrons
excitado. Tal espéciepode ser excitada a um nível de energia maior
e cada nível de energia tem uma quantidade máxima de elé-
ao absorver um fóton cuja energia é igual a diferença de energia
trons. Um átomo está normalmente em seu estado fundamental,
entre dois níveis. Por outro lado, uma espécie pode ir para um ní-
no qual todos os seus elétrons estão nos níveis de energia mais
vel de energia inferior ao emitir espontaneamente um fóton com
baixos que lhes são disponíveis.
energia igual a diferença energética. A energia de um fóton é igual a
Bohr conseguiu calcular a energia absorvida numa transição
constante de Plank (h) vezes a sua frequência (f) e, portanto, é pro-
eletrônica no átomo de hidrogênio. Para tanto utilizou a seguinte
porcional a sua frequência, ou inversamente proporcional ao seu
equação: (o sinal negativo indica que a energia é absorvida)
comprimento de onda (λ).
{\displaystyle \Delta \mathrm {E} =hf=hc/\lambda }
E total = - R (z2 / n2)

Onde:
z = número atômico do elemento
onde c, velocidade da luz, é igual a {\displaystyle f\lambda n = 6,02 x 1023 (número de Avogadro)
} f λ)
O raio atômico também pode ser calculado pela equação:
O ÁTOMO DE BOHR
Para explicar a estabilidade do átomo, o físico dinamarquês
Raio = Ao (n2 / z)
Niels Bohr admitiu que um gás emite luz quando uma corrente
elétrica passa através deste, devido aos elétrons em seus áto-
mos primeiro absorverem energia da eletricidade e posterior- Onde:
mente liberarem aquela energia na forma de luz. Ao = 0,529 x 10-10 m (Raio de Bohr - constante)
Para explicar a estabilidade do átomo, o físico dinamarquês
Niels Bohr admitiu que um gás emite luz quando uma corrente Estas equações podem ser aplicadas a qualquer átomo ou íon
elétrica passa através deste, devido aos elétrons em seus áto- hidrogenóide, isto é, com apenas um elétron, mas não se aplicam a
mos primeiro absorverem energia da eletricidade e posterior- outros elementos com mais de um elétron. Isto porque as repulsões
mente liberarem aquela energia na forma de luz. inter-eletrônicas teriam que ser levadas em consideração nas tran-
Ele imaginou que a radiação emitida é limitada para um cer- sições eletrônicas e no tamanho do raio atômico.
to comprimento de onda. Deduziu então que, em um átomo, um Sabia-se no século XIX que a luz exercia efeito sobre alguns
elétron não está livre para ter qualquer quantidade de energia. metais, removendo elétrons de uma chapa metálica lisa no vá-
Ele pode ter somente certas quantidades de energia, isto é, a cuo. Esse fenômeno ficou conhecido como efeito fotoelétrico.
energia de um elétrons em um átomo é quantizada. Quando um átomo absorve energia de uma fonte externa, al-
No século XIX acreditava-se que a luz e outras formas de guns de seus elétrons ganham energia e são elevados a um nível
radiação eletromagnética eram fluxos contínuos de energia. Mas de energia maior. Esse fenômeno é chamado de salto quântico.
no início do século XX, os físicos alemães Max Planck e Albert Diz-se que o átomo se encontra num estado excitado. Al-
Einstein mostraram independentemente que todas as radiações guns dos níveis de energia mais baixos ficam livres e, assim, um
eletromagnéticas comportavam-se como se fossem compostas elétron pode cair de um nível mais alto para um nível de energia
por minúsculos pacotes de energia denominados fótons. Cada mais baixo. Quando Isso acontece, a energia absorvida pelo elé-
fóton tem uma energia proporcional à frequência da radiação. tron é liberada na forma de fóton de radiação eletromagnética,
com um comprimento de onda diferente do original.
Esse fenômeno é chamado de fluorescência. Muitas subs-
E fóton = h u tâncias ficam fluorescentes quando atingida por luz ultraviole-
ta, a qual não podemos enxergar - vemos apenas a luz de baixa
Onde:: energia produzida pela fluorescência.
h = 6,63 x 10-34 J.s (constante de Planck) O fóton, portanto, corresponde à diferença entre dois níveis
u = frequência de energia de um elétron, quando este realiza um salto quântico.
Uma vez que a energia do fóton é quantizada, o comprimento

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CONHECIMENTOS

de onda também deve ser quantizado, ou seja, só pode um par núcleos atômicos alvo. Nêutrons, ao contrário, podem penetrar,
específico de níveis em um ter um valor discreto e fixo. Cada em princípio, qualquer núcleo, já que não são repelidos pelos
transição eletrônica entre átomo contribui para a produção de prótons.
uma linha individual no espectro daquele elemento.
O ponto mais fraco da teoria atômica de Bohr reside na sua Reações artificiais
concepção de um modelo atômico planetário modificado no Os núcleos radioativos artificiais são produzidos por rea-
qual cada nível quantizado de energia corresponde a uma órbi- ções nucleares. Os elementos transurânicos, em particular, são
ta eletrônica circular, específica e estável, com raio quantizado. normalmente produzidos pela captura de nêutrons seguida de
Outros mais tarde estenderam o modelo de Bohr a órbitas elípti- decaimento b-. Por outro lado, o que se chama de espalhamen-
cas. Por razões que se tornarão evidentes adiante, não falaremos to é a reação nuclear em que projétil e partícula liberada são a
mais em elétrons percorrendo órbitas ao redor do núcleo. mesma partícula. O espalhamento é elástico quando, durante o
Como Bohr encarou o fato de que os elétrons não irradiam processo, não varia a energia cinética da partícula, e inelástico,
energia continuamente, o que causaria o colapso no átomo? Em caso contrário.
primeiro lugar, desde que a energia de um elétron é quantizada,
a radiação contínua não é possível, pois a energia do elétron te- Fissão nuclear
ria de variar continuamente para que o elétron fosse capaz de A fissão é a divisão do núcleo de um átomo, pelo bombar-
perder energia continuamente. deamento com nêutrons, em dois núcleos menores com libera-
Em segundo lugar, Bohr foi capaz de mostrar que a menor ção de grande quantidade de energia.
energia utilizável para um elétron não é zero. Ele interpretou isto A quantidade de energia armazenada nos núcleos atômicos é
como significando que há um tamanho mínimo permitido para a incomparavelmente maior que a armazenada nas ligações quími-
órbita de um elétron. cas presentes nas camadas eletrônicas. Só para se ter uma ideia,
Embora os conceitos de órbitas de Bohr sejam incorretos, se todos os núcleos de 1 kg de urânio-235 se desintegrassem por
acreditamos hoje que há realmente uma energia mínima cons- fissão, seria liberada mais de um milhão de vezes a quantidade
tante, maior do que zero, que um elétron pode ter. De acordo de energia produzida na combustão de 1 kg de petróleo.
com Bohr, os átomos não entram em colapso porque eles não Em 1934, o físico italiano Enrico Fermi, descobriu como libe-
podem ter menos energia do que em seu estado fundamental. rar energia armazenada nos núcleos dos átomos, através da rea-
ção de fissão nuclear em cadeia. Em 1938, Hahn e Strassmann,
Principais transformações nucleares artificiais e naturais. repetindo a mesma experiência, constataram a existência de bá-
Quando dois núcleos se movem um em direção ao outro e, rio-142 entre os produtos obtidos. No mesmo ano, Meitner e
apesar da repulsão colombiana, se aproximam o suficiente para Frisch explicaram o fenômeno admitindo a quebra ou fissão ou
que haja interação entre as partículas de um com as partículas desintegração do átomo de urânio-235.
do outro pela força nuclear, pode ocorrer uma redistribuição de
núcleos e diz-se que aconteceu uma reação nuclear. Fusão nuclear
Usualmente, as reações nucleares são produzidas bombar- A fusão nuclear é o processo pelo qual átomos menores (hi-
deando-se um núcleo alvo com um projétil que pode ser algum drogênio 1H1, deutério 1H2, etc.) são agregados, produzindo áto-
tipo de partícula ou núcleo pequeno, de modo que a repulsão mos maiores (trítio 1H3, hélio 2He3 ou hélio 2He4) com liberação
colombiana não se torne um obstáculo muito grande. As reações de grande quantidade de energia. Reações desse tipo ocorrem
que envolvem energias não muito grandes ocorrem em duas no Sol e estrelas.
fases. Na primeira fase, o núcleo alvo e o projétil se agrupam, É muito difícil se fazer aqui na Terra a fusão nuclear devido
formando o que se chama de núcleo composto num estado alta- a exigência de temperaturas elevadíssima (300 000 000ºC) e de
mente excitado. Na segunda fase, o núcleo composto decai por recipientes capazes de suportar essa temperatura, o que seria
qualquer processo que não viole os princípios de conservação. ideal, pois não deixa rejeitos radioativos como na fissão.
Por exemplo, uma partícula a com uma energia cinética de Essa façanha só foi realizada, até hoje, nas bombas de hi-
cerca de 7 MeV colide com um núcleo de nitrogênio 14. O resul- drogênio com o auxílio de uma bomba atômica que, ao explodir,
tado é um núcleo composto que consiste de todos os núcleos fornece a temperatura necessária para a fusão do hidrogênio.
da partícula a e do nitrogênio 14 num estado altamente excita- Em outras palavras, a bomba atômica funciona como espoleta da
do. Esse núcleo composto, sendo constituído de 9 prótons, é um bomba de hidrogênio; desse modo, são conseguidas explosões
núcleo de flúor. Como esse núcleo composto está num estado de até 500 megatons (2,092 x 1018 J), o que equivale a energia
altamente excitado, pode-se esperar que ele emitisse uma partí- liberada pela explosão de 500.000.000 toneladas de TNT.
cula (ou um fóton) no processo de passagem a um estado menos A primeira bomba de hidrogênio foi construída por Edward
excitado ou ao estado fundamental do núcleo filho. Teller e seus colaboradores e explodiu em 1952.

Cinética das reações nucleares Bomba Atômica


Essas reações são interessantes porque produzem prótons e Bomba atômica é uma arma explosiva cuja energia deriva de
nêutrons com grandes energias cinéticas. Por outro lado, as par- uma reação nuclear, por isso também é denominada de bomba
tículas a de fontes radioativas naturais são efetivas para produzir nuclear. Ela tem um poder destrutivo imenso, para ter ideia des-
transformações nucleares apenas em núcleos com números atô- sa potência, basta citar que ela é capaz de destruir totalmente
micos menores que Z = 19 (correspondente ao potássio) devido à grandes cidades.
intensidade da repulsão colombiana entre essas partículas a e os

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CONHECIMENTOS

Na história há relatos de duas situações nas quais bombas – No Brasil, ocorre a produção de lixo nuclear nas Usinas
atômicas foram utilizadas e causaram estragos irreversíveis. As Atômicas de Angra I e Angra II, situadas em Angra dos Reis (RJ)
bombas foram lançadas durante a Segunda Guerra Mundial, am-
bas pelos Estados Unidos contra o Japão, nas cidades de Hiroshi- Resumo:
ma e Nagasaki. O poder de destruição das bombas foi imenso, Transformações nucleares ocorrem em núcleos pesados cuja
quase 200 mil foram mortos, iniciando, assim, a era nuclear. densidade da matéria nuclear é constante. As naturais se mani-
Tudo começou quando Einstein, em 1939, admitiu que po- festam em elementos radioativos e nos isótopos que se encon-
deria ser viável a construção de uma bomba atômica. Já no início tram na natureza e poluem o meio ambiente. E as artificiais são
da década de 40 essa ideia começou a ser difundido, o que foi aquelas que se bombardeiam núcleos com partículas apropria-
uma oportunidade para dezenas de cientistas europeus, fugindo das (artificial)5
do nazismo e do fascismo, encontrarem refúgio nos Estados Uni-
dos. Um desses cientistas era o físico italiano Enrico Fermi que, Relações de Massa, Mol e Constante de Avogadro
em 1942, juntamente com sua equipe, produziu uma reação atô- Quando queremos medir a massa de uma barra de chocolate,
mica em cadeia. devemos utilizar uma medida padrão. No caso do Brasil, utiliza-se
As teorias de Einstein começavam a entrar em prática, mas o quilograma (múltiplos e submúltiplos). Já os ingleses medem a
muitos já temiam o mais provável: que a bomba pudesse causar massa em libras (que corresponde a 0,454 kg).
grandes estragos, pois era impossível determinar e controlar o Na especificada da Química dos átomos, seria quase impossível
impacto de uma explosão dessa natureza. a infinidade de zeros depois da vírgula para representar o peso de
No ano de 1945, a equipe liderada por J. Robert Oppenhei- um átomo. A solução foi encontrada com as Grandezas Químicas.
mer construiu uma bomba de fissão nuclear. Os primeiros testes
ocorreram na manhã de 16 de julho de 1945, no deserto do Novo No caso do átomo, portanto, utiliza-se o seguinte procedi-
México. Posteriormente foi inventada a bomba de hidrogênio, mento para a indicação da Massa Atômica:
testada em Bikini, chamada de bomba H, a qual se revelou cinco • Unidade de massa atômica (u): é igual a 1/12 da massa de
vezes mais destruidora do que todas as bombas convencionais um átomo do isótopo de carbono-12 (12C).
usadas durante a Segunda Guerra Mundial. • Massa ou peso atômico: é a massa do átomo medida em
De lá pra cá, as bombas nucleares já foram usadas centenas unidades de massa atômica.
de vezes em testes nucleares por vários países do mundo. Atual- • Ex.: 19F – possui massa atômica= 19 u.
mente, as maiores potências mundiais buscam o chamado “po- • Massa molecular: é a massa da molécula medida em uni-
der bélico”, que consiste na aquisição das técnicas de destruição dades de massa atômica (u).
mais eficazes e precisas. Nações que possuem tal poder é mais • Mol: é o número de átomos de carbono presente em 12 g
respeitado no âmbito político. do isótopo de carbono-12.
O idealizador da bomba atômica, Einstein, tomando cons-
ciência da tragédia provocada pela bomba atômica, e sendo ele
o idealizador desta ameaça mundial proferiu a seguinte frase:
“Tudo havia mudado… menos o espírito humano”.

Lixo Nuclear
O lixo nuclear é todo resíduo formado por compostos ra-
dioativos que perderam a utilidade de uso.
Este lixo é produzido por diversas fontes, sendo as princi-
pais:
– Usinas nucleares: após o processo de fissão nuclear, o que
sobra do uso do urânio é considerado lixo nuclear.
– Armas Nucleares: na fabricação, manutenção ou desativa-
ção deste tipo de arma, vários resíduos nucleares são gerados. Veja o Número de Avogadro:
– Laboratórios de exames clínicos: alguns instrumentos de
exames médicos usam produtos radioativos como, por exemplo,
máquinas de raio-x.
O lixo nuclear deve ser transportado, tratado e isolado com
máximo rigor de cuidado, seguindo diversas normas de seguran-
ça internacionais, a fim de evitar qualquer tipo de acidente ou
contaminação. Um dos principais problemas atuais é o destino
deste tipo de lixo.
O contato do ser humano com este tipo de lixo pode ter
como conseqüência o desenvolvimento de várias doenças (cân-
cer é a principal) e até a morte imediata.
Esse número é chamado de número (constante) de Avogadro e
Curiosidades: equivale a 6,023X1023.
– O lixo nuclear pode levar de 50 a 100 anos para perder 5Fonte: www.quimicalivre.wordpress.com/www.mundovestibular.com.
toda sua radiação. br/www.pt.wikipedia.org
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Massa molar (MM): é a massa de 1 mol de partículas (molécu- R é constante e a unidade depende das unidades dos outros
las, átomos, íons). A unidade de medida é dada em g.mol-1. (0,082 atm x L/K x mol ou 62,3 mmHg x L/K x mol ou 8,314 Pa x
m3/K x mol).

Quantidade de matéria
A quantidade de matéria está relacionada ao número de partí-
culas que compõe um sistema, ou seja, se o número de partículas é
alto, a quantidade de matéria também será.
O mol é considerado a quantidade de matéria que um sistema
com entidades elementares pode ter.
Vejamos os exemplos:
Sendo m unidade de massa, n a quantidade de matéria, N nú-
mero de partículas.
Teremos:
N = 6,02 .1023 moléculas
n = 1 mol
m = 2g
N = 12,04. 1023 Moléculas
n = 2 mol
m = 4g

Suponhamos que exista uma quantidade de recipientes iguais


contendo 32g de enxofre, logo, formamos 1 mol.
Se constituirmos 20 recipientes, o total será de 640g de enxo-
fre, ou seja, 20 mols de enxofre, pois:

A figura acima mostra que o composto cinza possui massa mo-


lar maior que o composto laranja.
Volume molar (VM): é o volume que um mol de gás, em deter- O fato de existir quantidades menores que o mol, a partir daí
minada condição de temperatura e pressão, ocupa. vem a fração de mol, que é 0,1 mol: 0,05 mol etc…
Verifica-se experimentalmente que nas CNTP (condições nor- Agora, vamos supor que colocamos 3600g de glicose distribu-
mais de pressão e temperatura), ou seja, 0ºC e 1 atm (760 mmHg), ídos em recipientes, com 180g cada um. Lembrando que a massa
o volume que um mol de gás ocupa é de 22,4 l. molecular da glicose é de 180u e a massa molar da é também de
180u. Logo temos:
Equação de Clapeyron: Massa molecular = 180u
É a Equação Geral dos Gases Ideais (perfeitos), ou, ainda, a Massa molar = 180g/mol
Equação de estado dos gases, para uma massa constante de um 3600 = 20 mol x 180 g/mol
mesmo gás (número de mols constante), vale sempre a relação: m = n. massa molar

Lembrando que NA é a Constante de Avogrado, que é igual a


6,02. 1023 mol-1.
É importante sabermos também que a quantidade de partícu-
las N, é totalmente proporcional à quantidade de matéria n. Logo:
o valor da constante é nR N = NA. n
Tem-se então a equação completa:
Observe a resolução do número de moléculas de hidrogênio
(H2), em um sistema contendo 1,5 mol desse gás, onde a constante
de Avogrado é o número de Avogrado multiplicado por mol-1.
N = NA. n
N = 6,02. 1023 mol-1. 1,5 mol = 9,03. 1023
onde R é a constante universal dos gases perfeitos, n é o núme- O símbolo mol não leva plural, apenas o nome mol, no Brasil o
ro de mols, m é a massa dada, MM a massa molar, T é a temperatu- plural de mol é mols, e o símbolo é mol, em outros países o plural é
ra em Kelvin (K= ºC+273). moles. Lembrando que nenhum símbolo leva plural, portanto:
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

3 gramas—–3g
3 mols———3 mol DAS DIVERSAS FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA VIDA
EM SEUS DIFERENTES NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO, BEM
Número de Avogadro COMO AS CONDIÇÕES AMBIENTAIS FAVORÁVEIS E OS
O número de Avogadro é uma constante adimensional (não FATORES LIMITANTES A ELAS, POR MEIO DO ESTUDO
possui unidade, logo não representa uma grandeza) que indica a DAS LIGAÇÕES QUÍMICAS, DAS FORÇAS DE INTERAÇÃO
quantidade de átomos de Carbono-12 que, juntos, representam INTERPARTÍCULAS, DA RAPIDEZ DAS TRANSFORMA-
12g da substância – 1 mol de C-12. O nome da constante é uma ÇÕES E DO EQUILÍBRIO QUÍMICO
homenagem ao cientista Amedeo Avogadro.
Assim, 1 mol de quaisquer substâncias possuem obrigatoria-
mente NA entidades constituintes, incluindo-se os gases às mesmas Primeiramente precisamos saber que a Química estuda a
condições de temperatura e pressão, ex.: se Nitrogênio e Oxigênio matéria, a matéria é formada por átomos e os átomos não vi-
encontram-se à 1 atm num recipiente de 22,4 l e a 0°C (273,15 K), vem sozinhos, eles se unem através das ligações espontâneas
o número de moles (mols) de ambos será igual a 1. A partir daí, para formar substâncias que nos cercam. Essas ligações espon-
Avogadro conseguiu explicar como os gases se combinavam facil- tâneas são extremamente importantes, pois é através de uma
mente quando os respectivos volumes obedeciam a proporções forte atração que se ligam criando estabilidade e imitando os
simples entre si; além de, algum tempo depois, descobrir que os gases nobres.
gases apresentam-se na Natureza em formas diatômicas. A grande diversidade de substâncias que existem na nature-
za deve-se à capacidade de combinação dos átomos de um mes-
A constante de Avogadro mo elemento ou elementos diferentes.
Vários experimentos foram realizados em busca do número de
Avogadro. No início do século XX o professor de físico-química da Teoria das colisões
Universidade de Paris Jean Baptiste Perrin estimou a constante de Quanto mais choques com energia e geometria adequada hou-
Avogadro como um número entre 6,5 x 1023 e 7,2 x 1023. Como con- ver, maior a velocidade da reação, formando as Ligações Químicas.
sequência recebeu o prêmio Nobel de física em 1926.
Com o aperfeiçoamento dos experimentos e dos métodos de
cálculos, chegou-se ao seguinte valor: NA = 6,02214179x1023.

Número de Avogadro e a Massa Molar


Com o aparecimento do número de Avogadro foi possível a
determinação mais precisa das massas molares de qualquer subs-
tância formada a partir de elementos da tabela periódica. Para
isso, utiliza-se a definição de UMA (Unidade de Massa Atômica), da
constante de Avogadro e da massa atômica dos constituintes.
1 UMA ≈ 1,66x10-24g
NA ≈ 6,022x1023 Esta estabilidade está relacionada com a configuração ele-
Ex.: Calculemos o valor da massa molar do dióxido de carbono. trônica na última camada de valência que poderá ser de 2, 8,18
Sendo uma molécula de dióxido de carbono (CO2) constituí- e 32e-, essas combinações entre os elementos ocorrem de algu-
da por dois átomos de Oxigênio e um átomo de Carbono, a massa mas maneiras: pela perda, pelo ganho ou, também, pelo simples
molar dessa molécula é dada pela soma das massas atômicas do compartilhamento de elétrons da última camada de valência do
Carbono e dos dois átomos de Oxigênio multiplicando-se pela cons- átomo, portanto os elementos químicos que não adquiriram esta
tante de Avogadro e pela constante UMA: estabilidade procuram espontaneamente com outro elemento
MMCO2 = (MAC + 2MAO).NA.UMA imitar os gases nobres.
MMCO2 = (12 + 32). 6, 022x1023 . 1,66x10-24
MMCO2 = 44 . 6,022x1023 . 1,66x10-24 Os tipos de ligação são:
Regra do octeto: A partir da observação dos gases nobres
Repare que o produto 6,022x1023 . 1,66x10-24 é aproximada- que possuem 8 elétrons em sua última camada (com exceção do
mente igual a 1, assim, a massa molar do dióxido de carbono é nu- Hélio que possui 2 elétrons), formulou-se a regra de que os áto-
mericamente igual à sua massa molecular: mos se estabilizam eletronicamente quando atingem esse valor.
MMCO2 = 44 g/mol Essa regra não abrange todos os casos de ligações atômicas, mas
auxilia preliminarmente no estudo do assunto.
Por isso que as massas molares de uma molécula, íon, átomo 1. Ligação iônica ou eletrovalente
ou radical sempre coincidem com as respectivas massas molecula- 2. Ligação covalente ou molecular
res, massas-fórmulas (para os íons) e massas atômicas dos mesmos. 3. Ligação covalente dativa ou coordenada
4. Ligação metálica
Ligações iônicas – (metal + não metal)
Os Metais tendem a doar elétrons, portanto tendem a pos-
suir cargas positivas.
Os Não Metais tendem a receber elétrons, portanto tendem
a possuir cargas negativas.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Regra básica.

Metais Não Metais ou Ametais


1,2,3 e- camada de valências (cv) 4,5,6,7e-camada de valências (cv)
Doar e- Íons (+) positivos Receber e- Íons (-) negativos
Chamados cátions Chamados ânions.

Exemplos: 11Na e 17Cl distribuição eletrônica Linus Pauling


11
Na 1s22s22p63s1 cv (metal) tendem a doar e-
17
Cl 1s2 2s22p63s23p5cv ( não metal) tendem a receber e-

Íons formados = 1[Na]+1 1[Cl]-1

Resumo:
Ligação entre íons, de natureza eletromagnética

Exemplo: NaCl → cloreto de sódio (sal de cozinha)

Obs.: Íons são átomos que possuem uma carga elétrica por adição ou perda de um ou mais elétrons.

Na ligação iônica o resultado final é eletricamente neutro.


Na fórmula dos compostos iônicos a quantidade de elétrons cedidos é igual à quantidade de elétrons recebidos.

Uma regra prática é que os coeficientes da fórmula final sejam o inverso dos índices de carga elétrica.
Normalmente os elementos que se ligam ironicamente são os das famílias IA, IIA e IIIA com os das famílias VA, VIA e VIIA da
tabela periódica.

Ligações covalentes – (não metal + não metal)


São elementos que gostam de receber elétrons, portanto são átomos que ao se unirem, o elétron da última camada de valência
de cada átomo irá sobrepor uns aos outros formando uma nuvem eletrônica comum compartilhando elétrons.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Exemplos:

TIPOS DE LIGAÇÕES

Ligações covalente dativas


Essa ligação é semelhante a molecular, com a diferença de que só um dos núcleos cede o par de elétrons compartilhados.

Obs.: dessa maneira os núcleos estão estabilizados eletronicamente.

Exemplo: O = S → O

Só podem ser realizada se o átomo que ceder o par de elétrons estiver estabilizado de acordo com a regra do octeto (com oito
elétrons na camada de valência).Ou seja, um átomo torna-se apto a “doar” elétrons se estiver na condição de gás nobre.

Ligações Metálicas – (metal + metal)


Ambos gostam de doar elétrons, portanto tendem perder estes elétrons são sólidos cristalinos, exceto o mercúrio que se en-
contra no estado líquido.
Os metais tendem a doar elétrons na última camada de valência, formando nuvens de íons com carga positivas chamadas de
cátions livres, facilitando a condução de corrente elétrica.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Suas propriedades físicas são: Fórmula Estrutural


- Brilho – Características dos metais. Esse é o tipo de apresentação detalhada de como os átomos
- Densidade elevada - Normalmente os metais são densos, de uma molécula estão ligados entre si. Por exemplo, a molécula
em virtude das estruturas compactas dos retículos cristalinos. de água, onde dois átomos de Hidrogênio se unem a um átomo
- Altos pontos de fusão e ebulição. de Oxigênio.
- Condutibilidade elétrica e térmica.
- Maleabilidade – É a capacidade de moldar os metais em
lâminas finas, por martelar o metal aquecido ou passá-lo por ci-
lindros laminadores.
- Ductibilidade - é a transformação de fios.

Suas propriedades químicas - possuem relativa estabilidade


como:
- Ouro (Au) e platina (Pt), não apresentando transformações Na fórmula estrutural além de fornecer o número de átomos
mesmo expostos na presença da umidade, não perdendo o seu ligados, pode observar também como eles estão ligados entre si.
brilho.
- Ferro (Fe), alumínio (Al) e zinco (Zn), estes já sofrem pro- Tipos de fórmula estrutural
cessos de corrosão na presença de água ou do oxigênio do ar.
Fórmula Condensada
Ligas metálicas Nesse tipo de fórmula as ligaçõesentre os átomos não são
Os metais não são usados na sua forma pura, devido pro- representadas. Exemplo de fórmula condensada:
cessos de corrosão na presença da água ou do ar atmosférico, Hexano: (C6H14)
portanto costumam misturar a outros metais para melhorar a CH3 CH2 CH2 CH2 CH2 CH3
qualidade e suas propriedades como:
1.Ferro (Fe) + Cromo (Cr) = aço inoxidável No entanto, se algum índice se repetir deve-se colocá-lo en-
2.Ferro (Fe) + carbono ( C) = aço são comumente utilizados tre colchetes e indicar quantas vezes ele aparece na fórmula:
em molas, engrenagens, componentes agrícolas sujeitos ao des- CH3 [CH2]4 CH3
gaste, pequenas ferramentas, etc..
3.Ferro (Fe) + tungstênio (W) = dureza utilizadas para obten- Fórmula Condensada Linear
ção de ligas de metais pesados exemplo laminas de turbinas de Os carbonos são representados em forma de linhas em zi-
foguetes. guezague. Cada extremidade da linha há um carbono. Como o
carbono faz quatro ligações o restante é hidrogênio. Exemplo:
Observação: Na ponta e no fim da reta, o carbono está fazendo três ligações
Como os metais possuem a tendência de formar cátions pela então há três hidrogênios. No fim e início de cada reta o carbono
cessão de elétrons, esses cátions formam um retículo cristalino está fazendo duas ligações por isso tem dois hidrogênios.
envolto em uma nuvem eletrônica.

Fórmula eletrônica ou de Lewis


A fórmula eletrônica de Lewis mostra os elementos, o núme-
ro de átomos envolvidos, os elétrons da camada de valência de
cada átomo e a formação de pares eletrônicos.
Exemplo: Ferro (Fe), Alumínio (Al), Cobre (Cu).

Fórmulas Estruturais
Os compostos químicos podem ser representados de diver-
sas formas, no entanto cada um tem sua estrutura diferenciada,
pois depende de quantos elétrons possuem na camada de valên-
cia, entre outras particularidades. Dentre diversas maneiras de
representar uma molécula existe a fórmula estrutural apresen-
tada a seguir.

O átomo de oxigênio possui seis elétrons na sua camada


de valência, que são representados por seis pontos na fórmula
eletrônica de Lewis.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

O químico norte-americano Gilbert N. Lewis (1875-1946)


propôs a regra do octeto, que diz:
“Os átomos de diferentes elementos estabelecem ligações
químicas, doando, recebendo ou compartilhando elétrons, a
fim de adquirirem a configuração eletrônica de gás nobre, isto
é, com 8 elétrons na última camada (ou com 2 elétrons no caso
daqueles átomos que possuem apenas uma camada eletrônica,
como ocorre com o hidrogênio).”
Em 1916, Lewis sugeriu que para ficarem estáveis, atingindo
o octeto ou o dueto, os elementos que compõem as substân-
cias moleculares realizam um compartilhamento de pares de
elétrons. Essas substâncias são formadas apenas por átomos de
hidrogênio, ametais e semimetais, todos com a tendência de
receber elétrons. Por isso, não tem como nenhum deles doar
algum elétron (como ocorre com os metais nas ligações iônicas),
mas todos precisam receber, de modo que compartilhem seus
elétrons por meio de uma ligação covalente ou molecular.
Assim, Gilbert Lewis propôs uma forma de representar a li-
gação covalente ou molecular, que ficou sendo conhecida como
fórmula de Lewis. Ela também é chamada de fórmula eletrôni-
caou, ainda, fórmula eletrônica de Lewis, porque a sua principal
característica é que ela mostra os elétrons na camada de valên- Na fórmula de Lewis, cada par de elétrons compartilhado
cia de cada átomo e a formação dos pares eletrônicos. representa uma ligação química (covalente), em que os elétrons
Cada elétron é representado por um ponto, que fica ao re- se encontram na região da eletrosfera que é comum a cada par
dor do símbolo do elemento químico correspondente. Apenas de átomos que estão unidos.Por isso, na representação, eles são
os elétrons da camada de valência é que ficam ao redor do ele- colocados lado a lado.
mento. Por exemplo, vamos descobrir qual é a fórmula de Lewis
Como mostra a tabela abaixo, para sabermos a quantidade para o gás hidrogênio, cuja fórmula molecular é: H2.
de elétrons da camada de valência, basta saber a família da Ta- Cada átomo de hidrogênio possui apenas um elétron na ca-
bela Periódica: mada de valência, pois esse elemento pertence à família 1 da
Tabela Periódica. Cada um precisa receber mais um elétron, para
ficar estável, com dois elétrons na camada eletrônica K. Assim,
eles compartilham seus elétrons e ambos ficam com dois. Veja:

Essa é a fórmula eletrônica de Lewis da molécula de gás hi-


drogênio.
O oxigênio possui seis elétrons na sua camada eletrônica,
assim cada um precisa receber mais dois elétrons para ficar está-
vel, com oito elétrons. Por isso, a fórmula eletrônica de Lewis da
molécula de gás oxigênio é:

Veja que são duas ligações, pois há dois pares compartilha-


dos.
Veja outros exemplos de fórmulas eletrônicas de substân-
cias moleculares abaixo:

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Reatividade dos metais Ordem de crescimento da eletronegatividade na Tabela


Os metais em geral são muito reativos, eles reagem com a Periódica
água, com ácidos, com bases, entre outros. Vejamos exemplos
de cada uma dessas ocorrências: Polaridade das ligações

Reação com ácidos


O ouro é um exemplo de metal que sofre esse tipo de rea-
ção, mas possui uma condição: não reage com ácidos isolados.
Para que o ataque aconteça é preciso uma mistura de ácidos, é
a chamada água régia. Esta solução se forma da junção de ácido
clorídrico (HCl) e ácido nítrico (HNO3). Acompanhe a reação:

Au (s) + 3 HNO3 (aq) + 4 HCl (aq) → HAuCl4 (aq) + 3 H2O (l) +


3 NO2 (g)

Reação com água


A água reage com alguns metais originando como produto
gás hidrogênio (H2) e hidróxido de sódio (NaOH). Estes metais
são pertencentes à classe de Metais alcalinos e Metais alcali-
no-terrosos, como: Lítio (Li), Bário (Ba), Césio (Cs), Potássio (K),
Rádio (Ra), Cálcio (Ca), Estrôncio (Sr), entre outros.
Equação do processo:
2 Ba (s) + 2 H2O (l) → 2 BaOH (aq) + H2 (g)
A ligação covalente do HCl é apolar. A nuvem eletrônica está
Reação com bases mais deslocada no sentido do cloro, pois ele é mais eletronega-
Somente alguns metais possuem a propriedade de reagir tivo que o hidrogênio
com bases, são eles: Zinco (Zn), Chumbo (Pb), Estanho (Sn), Alu- Os compostos no cotidiano apresentam diferentes proprie-
mínio (Al). dades, tais como estado de agregação (sólido, líquido e gasoso) à
Zn (s) + 2 NaOH (aq) → Na2ZnO2 (aq) + H2 (g) temperatura ambiente, pontos de fusão e ebulição e solubilida-
O produto será um sal e gás hidrogênio (H2). de. Falando, por exemplo, da solubilidade, algumas substâncias
dissolvem em uns solventes, mas em outros não. O álcool etílico
Eletronegatividade: dissolve em água e na gasolina, mas a gasolina não se dissolve
Representa a tendência que um átomo tem de atrair elé- em água.
trons para si em uma ligação química covalente em uma molé- Essas diferenças ocorrem, entre outros fatores, porque,
cula isolada. numa molécula, diferentes ligações podem ocorrer, sendo que
Os valores das eletronegatividades dos elementos foram de- algumas serão polares e outras apolares. Vamos ver como iden-
terminados pela escala de Pauling. Foi observado que, conforme tificar se uma ligação química é polar ou apolar:
o raio aumentava, menor era atração do núcleo pelos elétrons
compartilhados na camada de valência. Por isso, a eletronega- Ligações iônicas:
tividade também aumenta no sentido contrário ao aumento do Uma ligação iônica se forma pela transferência definitiva de
raio atômico, sendo que varia na Tabela Periódica de baixo para um ou mais elétrons de um elemento para outro, com a forma-
cima e da esquerda para a direita: ção de íons. O átomo do elemento que doa os elétrons adquire
carga positiva, tornando-se um cátion, e o átomo do elemento
que recebe os elétrons se torna negativo, sendo chamado de
ânion.

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CONHECIMENTOS

Visto que em toda ligação iônica há a presença de íons com É importante ressaltar que, nas ligações covalentes polares,
excesso de cargas elétricas opostas (positiva e negativa), essas deve-se representar o polo negativo por δ- e o polo positivo por
ligações sempre serão polares. δ+, e não pelos sinais (+) e (-), porque isso passaria a ideia errada
Ligações covalentes: de que a espécie química é constituída de cátions e ânions, isto
A ligação covalente se dá pelo compartilhamento de pares é, que a ligação é iônica. A letra delta indica que se trata de uma
de elétrons. ligação covalente, cuja distribuição de carga não é uniforme.
Se ela ocorrer entre átomos de um mesmo elemento quími- Outros exemplos de ligações covalentes polares são: HF e
co, a ligação será apolar. HBr.
Por exemplo, abaixo temos a ligação covalente entre dois
átomos de oxigênio, formando uma molécula de gás oxigênio, Resumidamente, temos então:
O2. Visto que ela é formada por átomos do mesmo elemento,
não há diferença de eletronegatividade entre eles e os elétrons
serão atraídos da mesma forma pelos dois núcleos. Com isso,
não há o acúmulo de carga elétrica em nenhum dos polos da
molécula, sendo, portanto, apolar:

A polaridade das ligações aumenta neste sentido:

Mas, entre as ligações covalentes polares, qual apresenta


maior polaridade?
A polaridade de uma ligação aumenta proporcionalmente
ao aumento da diferença de eletronegatividade entre os átomos
Outros exemplos de ligações covalentes apolares são: H2,
dos elementos que participam da ligação.
F2, N2e C?2.
Por meio de medidas experimentais, o cientista Linus Pau-
ling criou uma escala de eletronegatividade para os elementos
Se a ligação covalente ocorrer entre átomos de elementos
da Tabela Periódica, que pode ser vista a seguir:
químicos diferentes, a ligação será polar.
Por exemplo, a seguir temos a ligação covalente que forma
a molécula de cloreto de hidrogênio, HC?. O cloro é mais eletro-
negativo que o hidrogênio, por isso ele atrai os elétrons para si
com maior intensidade, adquirindo um “caráter” negativo, sim-
bolizado por δ-, enquanto o átomo de hidrogênio adquire um
“caráter” positivo, δ+. Esse dipolo elétrico que é formado devido
à diferença de eletronegatividade entre os elementos faz com
que a ligação seja polar:

As setas indicadas, que mostram o sentido do crescimento


da eletronegatividade dos elementos (da esquerda para a direita
e de cima para baixo), e a parte mais escura indicam os elemen-
tos mais eletronegativos. Considerando esses elementos mais
importantes, a escala pode ser representada simplificadamente
por:

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CONHECIMENTOS

Assim, entre as ligações covalentes polares de HF, HC? e HBr, a de maior polaridade é a do HF, pois o hidrogênio e o flúor estão
nas extremidades da escala, ou seja, a diferença de eletronegatividade entre eles é a maior. Depois, a polaridade mais intensa é a
do HC? e, por último, a do HBr.
Essa diferença de eletronegatividade (?) pode ser calculada. Por exemplo, no caso das ligações covalentes apolares, esse valor
é igual a zero:
C? ? C?
? = 3,0 -3,0= zero
? = 3,0 -3,0= zero

Já nas ligações polares, este valor será diferente de zero. Se ele for menor ou igual a 1,6, a ligação será predominantemente
covalente, como nos casos abaixo:
H ? C? I ? F
2,13,0 2,54,0
? = 3,0 – 2,1 = 0,9 ? = 4,0 – 2,5 = 1,5 (essa ligação é mais polar que a anterior)

No entanto, se o valor da diferença de eletronegatividade (?) for maior que 1,6, a ligação será predominantemente iônica.
Exemplos:
Na+C?- K+ F-
0,93,0 0,8 4,0
? = 3,0 – 0,9 = 2,1 ? = 4,0 – 0,8 = 3,2

Outro fato importante a se observar é que a carga parcial (δ) dos átomos de cada elemento não pode ser definida como um
único valor, mas ela pode variar, dependendo de qual elemento está ligado a ele. Por exemplo, o hidrogênio possui caráter zero (δ 0)
na molécula de H2, enquanto na molécula de HC?, sua carga é de +1 (δ+1).

Geometria molecular e polaridade de moléculas


Os compostos são classificados em compostos iônicos e compostos moleculares.
Os compostos iônicos são aqueles que possuem uma ou mais ligações iônicas, mesmo que apresente várias ligações covalentes.
Na ligação iônica, as forças de atração são consequência da transferência completa de um ou mais elétrons de um átomo para
outro sendo que um deles adquire carga positiva e o outro, negativa, surgindo as forças responsáveis pela ligação. A maioria dos
compostos iônicos são sólidos, nas temperatura e pressão ambientes, porque a força de atração elétrica mantém os cátions e os
ânions firmemente ligados uns aos outros.
Os compostos moleculares são aqueles que possuem somente ligações covalentes entre seus átomos. A menor partícula deste
composto denomina-se molécula.
Na ligação covalente a transferência de elétrons nunca é completa, pois estes são compartilhados e neste caso a força de atração
entre o par de elétrons (carga negativa) e o núcleo (carga positiva) é o que mantêm os átomos unidos.

Polaridade
A polaridade de uma molécula está diretamente vinculada à polaridade das ligações entre seus átomos constituintes e também
a sua geometria. A molécula polar é uma molécula com momento de dipolo diferente de zero enquanto uma molécula não-polar ou
apolar tem momento dipolo elétrico igual a zero. Cada ligação de uma molécula poliatômica pode ser polar, mas a molécula como
um todo pode ser não-polar ou apolar se os dipolos das ligações individuais se cancelarem.
Experimentalmente, quando uma molécula se orienta na presença de um campo elétrico externo é considerada polar, caso
contrário é apolar.
Diferentes materiais têm diferentes tendências de ceder ou receber elétrons. Ao atritar vigorosamente dois materiais, estamos
fornecendo energia para que haja transferência de elétrons de um material para outro. O material que recebeu elétrons fica com
carga negativa e o que cedeu com carga positiva. A seqüência dos materiais em função da tendência de receber ou ceder elétrons
é mostrada pela série triboelétrica. Ao atritar dois materiais quaisquer de uma série triboelétrica, aquele que estiver posicionado à
esquerda ficará eletrizado positivamente e aquele que estiver posicionado à direita ficará eletrizado negativamente.

Ponto de Fusão
O ponto de fusão (PF) de um composto é a temperatura na qual este composto no estado sólido se transforma em líquido. O
ponto de fusão está relacionado com as interações entre partículas (átomos, íons e moléculas). Compostos que possuem fortes
interações entre partículas, terão maiores pontos de fusão.

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CONHECIMENTOS

1. Polaridade
Os compostos iônicos são constituídos por íons positivos e negativos, dispostos de maneira regular formando um retículo cris-
talino. Para que ocorra a fusão do retículo precisamos de uma considerável energia, por isso os compostos iônicos possuem elevado
ponto de fusão e ebulição, geralmente são sólidos e muito duros.
Quanto mais fortes forem as interações intermoleculares, maior o ponto de fusão. Compostos contendo moléculas polares pos-
sui ponto de fusão mais alto que moléculas apolares.

Condução de corrente elétrica


Para que haja condução de corrente elétrica é necessária a presença de elétrons livres, com mobilidade. Os compostos iônicos
não conduzem corrente na fase sólida (quando os elétrons estão firmemente ligados uns aos outros), mas conduzem na fase líquida
ou em solução aquosa, quando os íons adquirem mobilidade.
O composto que se dissolve originando uma solução que conduz corrente elétrica (solução eletrolítica) é chamado de eletrólito.

Geometria molecular
A geometria molecular baseia-se na forma espacial que as moléculas assumem pelo arranjo dos átomos ligados. Assim, cada
molécula apresenta uma forma geométrica característica da natureza das ligações (iônicas ou covalentes) e dos constituintes (como
elétrons de valência e eletronegatividade).

Teoria da Repulsão dos Pares Eletrônicos


A teoria da repulsão dos pares eletrônicos de valência (TRPEV) aponta que os pares eletrônicos (elétrons de valência, ligantes
ou não) do átomo central se comportam como nuvens eletrônicas que se repelem e, portanto, tendem a manter a maior distância
possível entre si. Mas, como as forças de repulsão eletrônica não são suficientes para que a ligação entre os átomos seja desfeita,
essa distância é verificada no ângulo formado entre eles.

Formas Geométricas
Para que se torne mais fácil a determinação da geometria (e, estrutura) de uma molécula, deve-se seguir os seguintes passos:
1. Contagem do número total de elétrons de valência (levando em consideração a carga, se for um íon);
2. Determinação do átomo central (geralmente, o menos eletronegativo e com o maior número de ligações);
3. Contagem do número de elétrons de valência dos átomos ligantes;
4. Cálculo do número de elétrons não ligantes (diferença entre número total e o número de elétrons dos átomos ligantes com a
camada de valência totalmente completa);
5. Aplicação do modelo da TRPEV.

Desse modo, as geometrias mais comuns obtidas (observando-se, principalmente, os pares eletrônicos não ligantes) são:

Geometria Pares eletrônicos totais Pares eletrônicos não ligantes Pares eletrônicos ligantes
2 0 2
Linear 5 3 2
6 4 2
Triangular 3 0 3
Angular 34 12 22
Tetraédrica 4 0 4
Piramidal 4 1 3
Bipiramidal 5 0 5
Octaétrica 6 0 6

Obs.: toda molécula biatômica assume geometria linear. E, apenas as geometrias linear, triangular e angular são planas: as ou-
tras são espaciais.

Modelos Moleculares

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CONHECIMENTOS

Geometria linear Geometria bipiramidal

Geometria triangular

Geometria octaédrica

Polaridade das moléculas

Geometria angular

As moléculas de água são polares

A polaridade das moléculas é um tópico importante no es-


tudo da Química, pois nos ajuda a entender como as moléculas
de uma ou mais substâncias interagem, o que pode determinar a
solubilidade ou o ponto de fusão e ebulição dessas substâncias.
A partir da análise da polaridade das moléculas, por exem-
plo, podemos explicar o fato de encontrarmos a substância dióxi-
Geometria tetraédrica do de carbono (CO2) no estado gasoso, à temperatura ambiente,
e a água (H2O) no estado líquido. Outra importância de analisar a
polaridade das moléculas é entender por que a água apresenta
uma grande facilidade em dissolver o ácido clorídrico HCl, en-
quanto o mesmo não ocorre com o dióxido de carbono.
A polaridade das moléculas está relacionada com o fato
de o composto apresentar ou não áreas com cargas diferentes
(positiva e negativa). As moléculas com polos são denominadas
polares, e as que não os apresentam são as apolares.
Para determinar a polaridade das moléculas, é importante
conhecer os seguintes aspectos:
• Diferença de eletronegatividade entre os átomos;
Geometria piramidal • Geometria da molécula: indica o posicionamento dos
átomos na molécula;
• Vetor momento dipolar: seta que indica o sentido da
atração dos elétrons na ligação.

Determinação da polaridade por meio do vetor momento


dipolar resultante
1º Exemplo: determinar a polaridade na molécula de triclo-
reto de fósforo (PCl3).

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CONHECIMENTOS

Fórmula estrutural do PCl3

A molécula de tricloreto de fósforo apresenta geometria pi-


ramidal, na qual há dois átomos de cloro nas diagonais inferiores Vetores momento dipolar na estruturado BF3
e um átomo de cloro na região inferior.
O átomo de cloro é mais eletronegativo do que o átomo Como existem dois vetores diagonais, também será neces-
de fósforo, logo, nessa molécula, três vetores momento dipolar sário realizar a sua decomposição utilizando a regra do parale-
saem do fósforo em direção aos átomos de cloro. logramo. Dessa forma, surge um único vetor momento dipolar.

Vetores momento dipolar na molécula do PCl3

Como existem dois vetores diagonais, é necessário realizar a sua Decomposição dos vetores diagonais na molécula do BF3
decomposição utilizando a regra do paralelogramo, na qual forma-se
essa figura geométrica a partir dos dois vetores (unindo suas pontas). Após a decomposição, fica evidente que a molécula do BF3
Dessa forma, surge um único vetor momento dipolar (seta rosa). possui, na realidade, dois vetores, um para baixo e um para
cima, os quais serão anulados por terem mesma direção e sen-
tido opostos. Assim, o vetor momento dipolar resultante dessa
molécula é igual a 0, ou seja, trata-se de uma molécula apolar.

Determinar a polaridade a partir da relação entre nuvens


eletrônicas e ligantes
Nessa forma de determinar a polaridade das moléculas,
comparamos o número de nuvens presentes no átomo central
com o número de ligantes, que estão ligados a ele:
Decomposição dos vetores diagonais na molécula do PCl3 • Se o número de ligantes iguais for igual ao número de
nuvens no átomo central, a molécula é apolar;
Após essa decomposição, fica evidente que a molécula do • Se o número de ligantes iguais for diferente do número
PCl3 possui, na realidade, dois vetores para baixo que, ao serem de nuvens no átomo central, a molécula é polar.
somados (por terem mesma direção e sentido), fornecem um 1º Exemplo: determinar a polaridade na molécula de amô-
vetor momento dipolar resultante diferente de 0. Assim, trata-se nia (NH3).
de uma molécula polar.
2º Exemplo: determinar a polaridade na molécula de trifluo-
reto de boro (BF3).

Fórmula estrutural da amônia

A amônia é uma molécula que apresenta geometria pirami-


Fórmula estrutural do BF3 dal e possui três átomos de hidrogênio ligados ao átomo central
por meio de ligações sigma (já que o hidrogênio só realiza uma
ligação), nas quais há um elétron de cada um dos átomos envol-
vidos.

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CONHECIMENTOS

Entretanto, o átomo de nitrogênio pertence à família VA, Força dipolo-induzido: é causada pelo acúmulo de elétrons
portanto, apresenta cinco elétrons na camada de valência, dos em determinada região da molécula.
quais três estão sendo utilizados nas ligações sigma, sobrando, As interações intermoleculares presentes nas moléculas
então, um par de elétrons, ou seja, uma nuvem eletrônica. apolares são as dipolo-induzido, mas não ocorrem o tempo
Por essa razão, a amônia apresenta três ligantes iguais (os todo, a distribuição de elétrons na eletrosfera dessas moléculas
hidrogênios) e quatro nuvens eletrônicas (três ligações sigma e é uniforme. Contudo, em algum instante ocorre um acúmulo de
uma nuvem que sobra no nitrogênio), o que configura uma mo- cargas δ + e δ- (pólos) nas extremidades, é aí que as forças dipo-
lécula polar. lo-induzido aparecem, e como o próprio nome já diz, elas indu-
zem as moléculas vizinhas a também entrarem em desequilíbrio.
2º Exemplo: determinar a polaridade na molécula de tri- Veja exemplos de compostos apolares cujas moléculas inte-
fluoreto de boro (BF3). ragem através de forças dipolo-induzido:
Cl2, CO2, CH4, H2, O2

Forças dipolo-dipolo: força intermolecular presente em


compostos polares.
δ + δ-δ + δ- δ + δ-
H ? Br ------------------------- H ? Br --------------------- H ? Br

Repare que nas moléculas de ácido bromídrico (HBr) exis-


tem pólos δ + e δ-, são eles os responsáveis por esta molécula
Fórmula estrutural da trifluoreto de boro (BF3) ser polar.
Exemplos de compostos polares em que ocorre interação
O trifluoreto de boro é uma molécula que apresenta geo- dipolo-dipolo:
metria trigonal e possui três átomos de flúor ligados ao átomo H2S, CO, SO2, HCl
central por meio de ligações sigma (já que o flúor só realiza uma Ligações de hidrogênio: essa é a interação mais forte que
ligação), nas quais há um elétron de cada um dos átomos envol- ocorre entre moléculas, é comparada à força dipolo-dipolo bem
vidos. mais intensificada. Esta ligação ocorre entre moléculas que con-
Porém, o átomo de boro pertence à família IIIA e, por essa têm átomos de hidrogênio ligados a átomos de nitrogênio, flúor,
razão, apresenta três elétrons na camada de valência, os quais oxigênio, ou seja, elementos muito eletronegativos, por isso os
são todos utilizados nas ligações, não sobrando, então, nenhum pólos δ + e δ- ficam mais acentuados.
elétron. A molécula de água é um exemplo clássico das ligações de
Portanto, o trifluoreto de boro apresenta três ligantes iguais hidrogênio, onde átomos de H se unem fortemente aos átomos
(os átomos de flúor) e três nuvens eletrônicas, caracterizando de H de outras moléculas para formar a cadeia de H20.
uma molécula apolar. Veja qual força intermolecular é mais intensa através da fi-
gura abaixo:
Relação entre polaridade e solubilidade
As moléculas que apresentam a mesma característica com
relação à polaridade têm a tendência de dissolverem-se, o que
significa que semelhante dissolve semelhante:
• Composto polar dissolve outro composto polar;
• Composto apolar dissolve outro composto apolar. A seta indica a ordem crescente da intensidade de intera-
ção.
Relação entre polaridade e forças intermoleculares
De acordo com a caraterística polar da molécula, ela intera- Número de Oxidação (Nox)
ge com suas moléculas, ou com as moléculas de outras substân- Diversas transformações químicas ocorrem através de rea-
cias, por meio de diferentes forças intermoleculares: ções de oxirredução. E muitas delas possuem aplicações para
• Dipolo induzido: ocorre entre moléculas apolares; nós, desde usos industriais, como na produção de ferro, queima
• Dipolo permanente: ocorre entre moléculas polares; de combustível para gerar energia, extração de metais de miné-
• Ligação de hidrogênio: ocorre entre moléculas apola- rios, etc. até usos domésticos, em pilhas e baterias, alvejantes e
res. produtos de limpeza, dentre outros. Além disso, muitos proces-
sos metabólicos essenciais para manutenção da vida são reações
Além disso, quanto maior a intensidade da força intermo- de oxirredução, como a respiração, a produção de energia pela
lecular, maior será o ponto de fusão e o ponto de ebulição, fato quebra da glicose, a fotossíntese, etc. Mas como é possível iden-
que influi diretamente no estado físico em que podemos encon- tificar se uma reação é redox?
trar uma substância. Uma reação é considerada de oxirredução quando há trans-
ferência de elétrons de uma espécie a outra, para isso foi criado
Forças intermoleculares o número de oxidação, ou Nox. Ele foi definido de forma que,
As forças intermoleculares são aquelas responsáveis por quando ocorre uma oxidação, haverá aumento do número de
manter moléculas unidas na formação dos diferentes compos- oxidação, e quando houver redução, haverá diminuição, facili-
tos, elas se classificam em: tando o reconhecimento de uma reação redox. O Nox de um ele-

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CONHECIMENTOS

mento é a carga elétrica que ele adquire quando faz uma ligação iônica ou a carga parcial (δ) que ele adquire quando faz uma ligação
covalente, que irá depender da eletronegatividade do elemento, isto é, se na ligação covalente ele atrairá mais ou menos elétrons
para si e dos outros elementos que formam o composto.
Sendo assim, alguns elementos apresentarão números de oxidação diferentes, dependendo do composto que ele está consti-
tuindo. Outros, porém, por serem bastante eletronegativos ou eletropositivos, apresentarão um mesmo Nox em diversos compostos
distintos, são elementos que seguem um certo padrão. Então, para determinar o número de oxidação dos elementos de um compos-
to, partimos primeiro daqueles que já são conhecidos, de acordo com a tabela abaixo.

Principais Nox
Metais Alcalinos (família 1A) + Prata (Ag) Em substâncias compostas +1
Metais Alcalino-terrosos (família 2A) + Zinco (Zn) Em substâncias compostas +2
Alumínio (Al) Em substâncias compostas +3
Enxofre (S) Em sulfetos (quando for o elemento mais eletronegativo) -2
Halogênios (família 7A) Em halogenetos (quando for o elemento mais eletronegativo) -1
Ligado a ametais (mais eletronegativos que ele) +1
Hidrogênio (H)
Ligado a metais (menos eletronegativos que ele) -1
Maioria das substâncias compostas -2
Em peróxidos -1
Oxigênio (O)
Em superperóxidos -1/2
Em fluoretos +1

O próximo passo, então, é determinar os Nox dos elementos restantes, sabendo que:
• A soma de todos os Nox dos elementos de um composto sempre dá igual a zero; pois trata-se de uma substância neutra.
• A soma de todos os Nox dos elementos em um íon composto é sempre igual à carga do íon.
• O Nox de substâncias simples é sempre igual a zero. (Exemplos: N2, H2, Na, Fe, etc.)
• O Nox de íons é igual a sua carga. (Exemplos: Na+ possui Nox = +1; S2- possui Nox = -2).

Assim, quando temos uma reação de oxirredução para se determinar os Nox, iniciamos com os das substâncias simples e de íons
simples. Para substâncias e íons compostos, determinamos os Nox de elementos conhecidos para depois encontrar os valores dos
outros elementos, fazendo uma equação simples, na qual a soma de todos os números de oxidação dos elementos do composto é
igual a zero (substância composta) ou à carga do íon (íon composto).

Exemplos
HCl
Hidrogênio ligado a ametal → nox +1
Cloro → halogênio → nox -1
O HCl é uma substância composta e neutra, logo a soma dos nox é igual a zero.
HClO
Hidrogênio ligado a ametal → nox +1
Cl → ?
Oxigênio → nox -2
Da mesma forma, o HClO é uma substância composta e neutra, logo a soma dos nox é igual a zero:
nox H + nox Cl + nox O = 0
1 + x + (-2) = 0
logo o nox do Cloro será +1

OBSERVAÇÃO: um átomo que não se encaixe nas regras (como o Cloro) não precisa ter o mesmo NOX em todas as moléculas.
Acima notamos que no HCl o nox do Cloro é -1 , e no HClO, seu nox é +1.
CaCO3
Neste caso, precisamos multiplicar o nox das regras, pelo numero de átomos do elemento na molécula.
nox oxigênio = -2 . 3 = -6
nox cálcio = metal alcalino-terroso = +2
Para descobrir o nox do carbono:
(-2 . 3) + 2 + x = 0
-6 + 2 + x = 0
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CONHECIMENTOS

Logo o nox do carbono é +4.6

EQUILÍBRIO QUÍMICO
Um equilíbrio químico é a situação em que a proporção entre
as quantidades de reagentes e produtos em uma reação química se
mantém constante ao longo do tempo. Foi estudado pela primeira
vez pelo químico francês Claude Louis Berthollet em seu livro Essai
de statique chimique de 1803. Teoricamente, toda a reação quí-
mica ocorre nos dois sentidos: de reagentes se transformando em
produtos e de produtos se transformando de volta em reagentes.
Contudo, em certas reações, como a de combustão, virtualmente
100% dos reagentes são convertidos em produtos, e não se observa
o contrário ocorrer (ou pelo menos não em escala mensurável); tais
reações são chamadas de irreversíveis. Há também uma série de
reações nas quais logo que certa quantidade de produto(s) é forma- Velocidade das reações direta e inversa em função do tempo
da, este(s) torna(m) a dar origem ao(s) reagente(s); essas reações
possuem o nome de reversíveis. O conceito de equilíbrio químico
praticamente restringe-se às reações reversíveis.

Reversibilidade de reações químicas


Um exemplo de reação reversível é a da produção da amônia
(NH3), a partir do gás hidrogênio (H2) e do gás nitrogênio (N2) — que
faz parte do Processo de Haber:
N2(g) + 3H2(g) 2NH3(g)

Note-se que a seta dupla ( ) significa que a reação ocorre nos


dois sentidos, e que o subscrito (g) indica que a substância se
encontra na fase gasosa. Nesta reação, quando as moléculas de
nitrogênio e as de hidrogênio colidem entre si há uma certa chan-
ce da reação entre elas ocorrer, assim como quando moléculas de Concentração das substâncias envolvidas em função do tem-
amônia colidem entre si há uma certa chance de elas se dissocia- po
rem e de se reorganizarem em H2 e N2. Um raciocínio similar, em princípio, pode ser aplicado para
No início do processo, quando há apenas uma mistura de hi- qualquer equilíbrio. Deve-se salientar que quando uma reação atin-
drogênio e nitrogênio, as chances das moléculas dos reagentes (H2 ge o equilíbrio ela não para. Ela continua se processando, porém
e N2) colidirem umas com as outras é a máxima de toda a reação, o tanto a reação direta como a inversa ocorrem à mesma velocida-
que fará com que a taxa (ou velocidade) com que a reação ocorre de, e desse jeito a proporção entre os reagentes e os produtos não
também o seja. Porém à medida com que a reação se processa o varia . Por outras palavras, estamos na presença de um equilíbrio
número de moléculas de hidrogênio e de nitrogênio diminui, re- dinâmico (e não de um equilíbrio estático).
duzindo dessa forma as chances de elas colidirem entre si e, con-
sequentemente, a velocidade desse sentido da reação. Por outro Constante de Equilíbrio
lado, com o avançar da reação, o número de moléculas de amônia “Por exemplo, a constante dessa reação na temperatura de
vai aumentando, o que faz com que cresçam as chances de elas 1000 K é 0,0413, note que a constante é Adimensional.” Uma vez
colidirem e de se voltar a formar hidrogênio e nitrogênio, elevando atingido o equilíbrio a proporção entre os reagentes e os produtos
assim a velocidade desse sentido da reação. Por fim chegará um não é necessariamente de 1:1 (lê-se um para um). Essa proporção
momento em que tanto a velocidade de um dos sentidos quanto é descrita por meio de uma relação matemática, mostrada a seguir:
a do outro serão idênticas, nesse ponto nenhuma das velocidades
variará mais (se forem mantidas as condições do sistema onde a Dada a reação genérica: aA + bB yY + zZ, onde A, B, Y e Z
reação se processa) e ter-se-á atingido o equilíbrio químico, confor- representam as espécies químicas envolvidas e a, b, y e z os seus
me ilustrado nas figuras abaixo: respectivos coeficientes estequiométricos. A fórmula que descreve
a proporção no equilíbrio entre as espécies envolvidas é:

Os colchetes representam o valor da concentração (normalmen-


te em mol/L) da espécie que está simbolizada dentro dele ([A]
= concentração da espécie A, e assim por diante). é uma
6Fonte: www.alunosonline.uol.com.br/www.brasilescola.uol.com.br
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52
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CONHECIMENTOS

grandeza chamada de constante de equilíbrio da reação. Cada ʃdG = ʃVdP = G - Gº = ʃ(nRT/P)dP , onde n é o nº de mols, R a
reação de equilíbrio possui a sua constante, a qual sempre possui constante universal dos gases.
o mesmo valor para uma mesma temperatura. De um modo geral,
a constante de equilíbrio de uma reação qualquer é calculada G - Gº = RTln(P/Pº)
dividindo-se a multiplicação das concentrações dos produtos (cada Onde Pº = 1atm, note que daqui fica extremamente claro que
uma elevada ao seu respectivo coeficiente estequiométrico) pela o K é adimensional, pois P/Pº é adimensional. Chegamos: G = Gº +
multiplicação das concentrações dos reagentes (cada uma elevada RTlnP (VI) , onde lnP e o logaritmo de base e de P
ao seu relativo coeficiente estequiométrico). Agora tendo uma reação:
Um exemplo disso é a formação do trióxido de enxofre (SO3) a
partir do gás oxigênio (O2) e do dióxido de enxofre (SO2(g)) — uma aA + bB → cC + dD ( Reação direta )
etapa do processo de fabricação do ácido sulfúrico: cC + dD → aA + bB ( Reação inversa )
2 SO2(g) + O2(g) 2 SO3(g)
ΔG = Gp - Gr, onde Gp = Energia dos produtos e Gr dos rea-
A constante de equilíbrio desta reação é dada por: gentes.

Colocando (VI) nessa equação, conclui - se: ΔG = ΔGº + RTl-


n[X/Y]

Onde X = A multiplicação das pressões parciais dos produtos


elevado a seus respectivos coeficientes estequiométricos e Y idem
para os reagentes.
É possível determinar experimentalmente o valor da constante
X/Y = Q, onde Q é o quociente da reação.
de equilíbrio para uma dada temperatura. Por exemplo, a constan-
te dessa reação na temperatura de 1000 K é 0,0413. A partir dela,
Para o equilíbrio temos que K = Q e ΔG = 0
dada uma certa quantidade conhecida de produtos adicionados
ΔG = 0 pois a reação direta e inversa não são espontâneas, por-
inicialmente em um sistema nessa temperatura, é possível calcu-
tanto é possível afirmar que o equilíbrio foi atingido! Temos por
lar por meio da fórmula da constante qual será a concentração de
fim:
todas as substâncias quando o equilíbrio for atingido. É importante
0 = ΔGº + RTlnK , concluindo:
notar que, Kc para uma equação química SÓ depende da tempera-
tura, não é alterado por catalisador e mede a espontaneidade da
K = e( -ΔGº/RT)
reação direta, a partir da condição padrão ( 1 mol/l ou 1 atm )
Utilizando a relação: ΔG = ΔH - TΔS, onde ΔG é a energia livre
Note que aqui fica mais claro ainda que o K é adimensional e
de Gibbs, T a temperatura absoluta e ΔS e a variação da entropia.
que o K de uma reação elementar é o mesmo, caso a reação não
Podemos colocá-la da seguinte forma:
seja elementar, por causa da função de estado, onde ΔGf = ΔGi, logo
K não depende do caminho percorrido, só dependendo a tempera-
(I) G = H - TS (É possível por ser função de estado)
tura. Note também que K mede a espontaneidade a partir da con-
dição padrão. É possível demonstrar a lei de Guldberg-Waage e a
E sabendo que:
Lei de Avogrado.
(II) H = U + PV, onde U e a energia interna, P é a pressão e V o
K = K1/K2 = [Produtos]/[Reagentes] → K1[Reagentes] = K2[PRO-
volume.
DUTOS]
Derivando (I) temos:
Logo V1 = V2, onde V1 = Velocidade da reação direta e V2 da
inversa (Lei de Guldberg - Waage). E para Lei de Avogrado temos:
dG = dU - d(TS) → dG = d( U + PV ) - TdS – SdT
→ dG = dU + PdV + VdP - TdS - SdT (III),
K = K1/K2 → [e(-Gp/RT)]/[e(-Gr/RT)] → {e[(-Hp/RT)+(TS/RT)]}/{e[(-Hr/RT)+(TS/RT)]}
Sabendo que: dS = dQrev/T → dQrev = TdS ( IV )
Onde: e(TS/RT) = A1,2 e Hp,r é a entalpia dos produtos que é a Ea,
Tendo que: dU = dQ - PdV ( V )
energia de ativação, logo temos que:
Inserindo (IV) e (V) em (III)
K = A.e(-Ea/RT) - Lei de Avogrado.
dG = dU + PdV + VdP - TdS, onde TdS = 0 pois,
PRINCÍPIO DE LE CHATELIER
Para P e T constantes temos: dG = dQ - PdV + VdP - dQ , onde
Ao se alterar a quantidade de uma substância, também se está
PdV = 0
mexendo na velocidade em que a reação se processa (pois se estará
mudando as chances de as substâncias reagirem entre si). Dessa
forma, a velocidade das reações direta e inversa deixa de ser igual:
Integrando a equação de Gº ( G padrão ) a G e de Pº ( “P zero”
se uma substância foi retirada de uma das reações, essa passará a
= P padrão ) temos:
ser mais lenta; e, analogamente, ela passará a ser mais rápida se
uma substância for adicionada a ela. Assim ocorre que se algo for
Editora
53
a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

acrescentado, o equilíbrio tende a reduzir a quantidade dessa subs- Na tabela seguinte, temos valores de Ka de alguns ácidos:
tância e vice-versa. Tal resposta do equilíbrio pode ser sumarizada
pelo assim chamado Princípio de Le Chatelier:
Quando um stress é aplicado a um sistema em equilíbrio di-
nâmico, o equilíbrio tende a se ajustar para diminuir o efeito do
stress. À medida que as reações se processam, as suas velocidades
vão se aproximando até que se igualem e assim é atingido nova-
mente o equilíbrio. A constante do equilíbrio será a mesma da de
antes de se adicionar ou remover substâncias.

CONSTANTE DE IONIZAÇÃO
Esta constante de equilíbrio, Kc, recebe agora o nome particu- Sinônimos do Ki
lar de constante de ionização ou constante de dissociação iônica e é a) Constante de equilíbrio para ácidos (Ka) ou constante de ion-
representada por Ki, Ka (no caso de ácidos) ou Kb (no caso de bases). ização para ácidos (Ka).
b) Constante de equilíbrio iônico para base (Kb) ou constante
de dissociação para base (Kb).
c) Constante de equilíbrio iônico para água ou produto iônico
da água (Kw).
d) Constante de hidrólise (Kh).

Observação – Não se define equilíbrio iônico para compostos


tipicamente iônicos, ou seja, bases fortes e sais solúveis provenien-
tes de reações de ácido forte com base forte, pois sua dissociação é
considerada 100% e, portanto, o sistema é simples e não reversível,
sendo assim, jamais entrará em equilíbrio.

Lei da Diluição de Ostwald


Chamamos α o grau de ionização de um eletrólito, que pode
Observações ser definido como a fração do mol que está ionizada na solução.
a) Ki varia com a temperatura. Portanto, para cada mol que foi inicialmente dissolvido, a represen-
b) Quando a ionização de um eletrólito apresentar várias eta- ta a parte que se ionizou. De forma geral, temos:
pas, temos para cada etapa uma constante de ionização:

Considere o equilíbrio: AB A+ + B–A partir da concentração


molar ( ) e do grau de ionização (α), podemos relacionar Ki e α:

Observe que a primeira constante de ionização de ácido fosfó-


rico é maior que a segunda, que, por sua vez, é maior que a terceira,
indicando que a primeira ionização de um eletrólito ocorre mais
intensamente que as outras subsequentes.

c) Valores altos de Ki indicam eletrólitos fortes que são, portan-


to, muito dissociados ou ionizados; enquanto valores baixos indic-
am que o eletrólito é fraco.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Esta fórmula é a Lei da Diluição de Ostwald e permite concluir Exemplos: HClO4 , HMnO4...
que, quanto menor a concentração de um eletrólito, maior será seu m=2 ácido forte
grau de ionização, o que significa dizer que o grau de ionização au- Exemplos: HNO3 , H2SO4...
menta à medida que se dilui a solução. m=1 ácido moderado
Para eletrólitos fracos, nos quais os valores de α são muito pe- Exemplos: H3PO4 , H2SO3 , H3PO3 (2 H+), H3PO2 (1 H+)
quenos, podemos considerar 1 – α como sendo praticamente 1, o m=0 ácido fraco
que simplifica a equação de Ostwald para: Exemplos: HClO, H3BO3

Observação:
1º) O ácido carbônico (H2CO3) é uma exceção, pois é um ácido
fraco (α=0,18%), embora o valor de m = 1
Grau de equilibrio 2º) Todos os ácidos carboxílicos são fracos.
No equilíbrio químico de uma reação reversível, tanto os rea-
gentes quanto os produtos são gerados em igual velocidade, assim, Fórmula Estrutural
as concentrações deles não se alteram. Podemos então determi-
nar um grau de equilíbrio em relação a um certo reagente, ou seja, I. Hidrácidos ( HxE)
quanto do reagente realmente reagiu em relação à quantidade ini- Cada hidrogênio está ligado ao elemento por um traço (–) que
cial. Para isso, basta fazer a razão basta fazer a razão do primeiro representa a ligação covalente simples.
pelo segundo, e teremos o grau de equilíbrio (α).
Exemplos
nº de mols que reagiu
α=
nº de mols inicial

Os fatores que podem influenciar no grau de equilíbrio são:


• Pressão total sobre o sistema
• Temperatura e concentrações
• Pressão parcial dos gases envolvidos

Grau de ionização (força de um ácido)

OBS.: tal cálculo não exige que você conheça a fórmula do áci-
do e nem a sua estrutura química.

Ácidos fortes: possuem α > 50%


Ácidos moderados: 5% α 50%
Ácidos fracos: α < 5%
Como se calcula o valor de α (alfa)?

quantidade de moléculas que ionizaram


∝= X 100
quantidade de moléculas dissolvidas

Regra Prática para Determinação da Força de um Ácido (co-


nhecendo-se a fórmula molecular do ácido e, se necessário, sua
estrutura molecular):

- Hidrácidos:
Ácidos fortes: HI > HBr > HCl.
Ácido moderado: HF.
Ácidos fracos: demais.

- Oxiácidos
Sendo HxEzOy a fórmula de um ácido de um elemento E qual-
quer, temos
M=y-x
em que:
y = número de átomos de oxigênio Oxiácidos (HxEzOy)
x = número de átomos de hidrogênios Para escrever a fórmula estrutural dos oxiácidos, devemos pro-
se: ceder da seguinte maneira:
m=3 ácido muito forte 1) escrever o símbolo do elemento central;
Editora
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

2) distribuir ao redor deste elemento todos os oxigênios da fór-


mula mencionada.
3) distribuir ao redor dos oxigênios os átomos de hidrogênio
que sejam ionizáveis. Se tiver H não ionizável (o que ocorre com
ácidos do elemento fósforo), os hidrogênios não ionizáveis devem
ser colocados ao lado do elemento central.
4) Ligar os hidrogênios ionizáveis aos átomos de oxigênio viz-
inhos, formando grupinhos H-O) e ligar o elemento central a tantos
grupos – OH quantos forem os hidrogênios ionizáveis. Caso haja H
sem ligar, fazer uma ligação simples deste(s) H com o átomo cen-
tral.
5) (passo circunstancial, pois, depende de ter ou não oxigênio
sem ligar): ligar o elemento central ao(s) oxigênio(s) restante(s)
através de ligação dativa (geralmente) ou de uma dupla ligação Cuidado com os ácidos oxigenados do elemento fósforo (P).
(ocorre tal dupla com os elementos carbono e nitrogênio). Vejam os H não ionizáveis:

SABER fazer a fórmula estrutural é um conhecimento de gran-


de valia. Através dela você poderá entender melhor quais são os
hidrogênios que se ionizam (somente os ligados DIRETAMENTE ao
átomo de oxigênio) e também, perceber a estrutura de um ânion
com ionização parcial ou total.
Portanto, veja que são passos bem simples e de fácil com-
preensão.

Capriche e faça alguns ácidos que você conheça as fórmulas,


para treinar.

Exemplos

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Observação A água é um eletrólito extremamente fraco, que se ioniza se-


Duas exceções importantes, por apresentarem hidrogênios gundo a equação:
não ionizáveis, são:
H2O + H2O H3O+ + OH–

Ou simplesmente:
H2O H+ + OH–

Como toda ionização, a da água também atinge um equilíbrio,


chamado equilíbrio iônico da água. Um litro de água a 25 ºC tem
massa igual a 1.000 g. Portanto, em 1 litro, temos aproximadamen-
te 55,5 mols de água:

𝑚 1000
Efeito do íon comum 𝑛= ≫𝑛= ≫ 𝑛 = 55,5 𝑚𝑜𝑙𝑠
Quando adicionado a um ácido (HA), um sal com o mesmo
𝑀 18
ânion (A-) produz:
Diminuição do grau de ionização de HA ou enfraquecimento Destes 55,5 mols, constata-se experimentalmente que apenas
de HA; 10–7 mols sofrem ionização.
diminuição da [H+], portanto aumento do pH da solução. O íon Como a água pura é neutra (já que para cada íon H+, forma-se
comum não altera a constante de ionização do ácido. também um íon OH-), temos que [H+] = [OH-], a 25 °C, quando [H+].
Quando adicionado a uma base (BOH), um sal com o mesmo [OH-] = 1,0.10-14, temos que [H+] = [OH-] = 10-7 mol/L.
cátion (B+) produz: Como a concentração molar da água é praticamente constan-
- Diminuição do grau de ionização de BOH ou enfraquecimento te, retomando a constante de equilíbrio, podemos escrever:
de BOH;
- Diminuição da [OH-], portanto diminuição do pH da solução. O K.[H2O] = [H+].[OH-]
íon comum não altera a constante de ionização da base. do que resulta uma única constante (o produto de duas cons-
tantes), ou seja:
PH e PHO
Kw = [H+].[OH-]

que é o chamado produto iônico da água, onde o w se deve à


palavra inglesa water.

Resumindo:

pH e pOH de Soluções Aquosas


É muito comum ouvirmos alguém dizer que o pH da água de
uma piscina precisa ser controlado, assim como o pH da água de
um aquário ou de um solo, para favorecer um determinado plan-
tio. Até mesmo nosso sangue deve manter um pH sempre entre os
valores de 7,35 e 7,45. Uma variação de 0,4 pode ser fatal! O que
exatamente é o pH e o que significam seus valores?

Equilíbrio Iônico da Água (Kw)


Considere um copo com água. Será que essa água é compos- O produto iônico da água, Kw, tem valor igual a 10–14 a 25 ºC.
ta apenas por moléculas de H2O? Não, pois como essas molécu- Kw é uma constante de equilíbrio e como tal não é afetada pela
las estão em constante movimento, elas se chocam o tempo todo. variação na concentração de H+ ou OH–, mas varia com a tempera-
Resultado: uma molécula de água pode colidir e reagir com outra tura.
molécula de água! O equilíbrio gerado é conhecido como auto io-
nização da água:

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Caráter das Soluções Aquosas


A 25 °C podemos afirmar que:

Solução ácida:
[H+] > 10-7 mol/L e [OH-] < 10-7 mol/L

Solução básica:
[H+] < 10-7 mol/L e [OH-] > 10-7 mol/L

Solução neutra:

[H+] = 10-7 mol/L e [OH-] = 10-7 mol/L

Ou seja: - Para Soluções Básicas


– Para soluções ácidas: [H+] > [OH-] Por analogia, define-se pOH como sendo o logaritmo (decimal)
– Para soluções básicas: [H+] < [OH-] do inverso da concentração hidroxiliônica:
– Para soluções neutras (ou água pura): [H+] = [OH-] pOH = log 1/[OH-]
Ou ainda, como sendo o cologaritmo da concentração de OH-:
pH e pOH pOH = colog [OH-]
Para não se trabalhar com potências negativas, Peter L. Sören- Assim:
sen propôs uma nova escala para as medidas de acidez e basicidade pOH = log 1/[OH-] → pOH = log 1 – log [OH-]
das soluções, utilizando logaritmo segundo as definições: Como log 1 = 0:
pOH = -log[OH-] ou pOH = colog [OH-]

Neste caso:

A letra p, minúscula, significa potencial; portanto:


– pH é o potencial hidrogeniônico da solução;
– pOH é o potencial hidroxiliônico da solução.

-Para soluções ácidas


Sörensen definiu pH como sendo o logaritmo(decimal) do in-
verso da concentração hidrogeniônica:
pH = log 1/[H+] Exemplo
Ou ainda, como o cologarítmo da concentração hidrogeniôni-
ca:
pH = colog [H+]
Ou seja:
pH = log 1/[H+] → pH = log 1 – log [H+]
Como log 1 = 0:
pH = -log[H+] ou pH = colog [H+] que é igual ao inverso do log.

Neste caso:

Portanto, a 25°C:
Exemplo Lembre-se sempre que as soluções podem ser:
Qual o pH de uma solução de concentração hidrogeniônica
igual a 10–5 ?

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Exemplos de cálculo de pH:

Observação:
Os conceitos de pH e pOH indicam que em qualquer solução coexistem H+ e OH-. Por mais ácida que seja a solução, sempre existirão,
embora em pequeno número, íons OH-. Nas soluções básicas também estarão presentes os íons H+. As concentrações desses íons jamais
se anulam.

Relação entre pH e pOH

Portanto:

Escala de pH e pOH:

A escala acima apresenta as relações entre os valores de pH e pOH e suas respectivas concentrações dos íons.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

O pH e o grau de ionização
Considere um ácido fraco genérico HkA. Ao dissolver M mols
desse ácido em água, de maneira que forme 1 litro de solução, a
concentração em mol/L e a normalidade serão:

Pode se perceber que caso uma reação apareça duas ou mais


vezes na soma, ela aparece esse mesmo número de vezes na mul-
tiplicação.

(praticamente não se usa mais a normalidade, mas pode ocor- Relação entre a velocidade da reação e a constante de equi-
rer de aparecer) líbrio
O grau de ionização do ácido é:
Conforme já mencionado, no equilíbrio a velocidade tanto da rea-
ção inversa quanto a da direta são iguais. Por sua vez, a velocidade
de uma reação depende de uma outra constante chamada de
constante de velocidade (simbolizada aqui por ); e é possível en-
Logo, a quantidade em mols que ioniza = α . M. contrar uma relação entre as constantes de velocidade das reações
Considere o equilíbrio da ionização: direta e indireta, e a constante de equilíbrio.
Para demonstrar isso, considere-se o seguinte equilíbrio gené-
Constante para a soma de reações rico (supondo que as suas reações ocorram cada qual em uma única
Se uma reação química pode ser expressa pela soma de duas etapa):
ou mais reações (ou etapas individuais), então a constante de equi-
líbrio da reação global será a multiplicação das constantes de cada
uma das reações individuais. 2A X+Y

2P(g) + 3Cl2(g) Agora vejamos as duas reações que ocorrem nele, juntamente
2PCl3(g) com a expressão de suas respectivas velocidades ( ):

2A → X + Y
PCl3(g) + Cl2(g) PCl5(g)
X + Y → 2A

2P(g) + 5Cl2(g) É importante frisar que o expoente que eleva as concentrações


2PCl5(g) das espécies na fórmula da velocidade não necessariamente é igual
ao respectivo coeficiente estequiométrico da espécie na reação,
contudo o expoente certamente será assim se a reação se proces-
Neste caso, a terceira reação é igual à soma da primeira mais
sar em uma única etapa (conforme se está considerando nessa si-
duas vezes a segunda:
tuação). Uma vez que as velocidades de ambas as reações são idên-
ticas no equilíbrio, pode-se igualá-las:
2P(g) + 3Cl2(g)
2PCl3(g)

+ PCl3(g) + Cl2(g)
PCl5(g) Rearranjando a equação, tem-se:
PCl3(g) + Cl2(g)
PCl5(g)
2P(g) + 5Cl2(g)
2PCl5(g)
Observemos que a expressão do membro esquerdo é idêntica
E a sua constante de equilíbrio pode ser expressa por: à fórmula do equilíbrio dessa reação. Então podemos escrever:

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Esta relação é válida para qualquer equilíbrio cujas reações Como apresentam a mesma proporção em íons (1 : 1), o CaCO3
ocorram em uma única etapa, o que pode ser facilmente constata- é mais solúvel que o BaCO3, porque possui maior valor de Kps.
do por essa mesma dedução para outros equilíbrios. No caso de as Quando as substâncias comparadas possuem proporção em
reações se processarem em mais de uma etapa, basta lembrar que íons diferentes, a mais solúvel é aquela que apresenta maior so-
a reação global nada mais é que a soma das reações de cada etapa. lubilidade.
Para cada uma das etapas pode-se fazer essa mesma dedução, e
então somar cada reação (o que significa multiplicar as suas cons- Exemplo
tantes). Dessa forma teremos para uma reação de múltiplas etapas:

Kps = [Ag+]2 [CrO42-]


410 –12 = (2x)2 x
Sendo , , , e assim por diante as constantes de veloci- 410 –12 = 4x3
dades de cada etapa. X = 1,0.10-4 mol/L

Produto de solubridade Avaliando a solubilidade do Ag2CrO4, portanto, em 1 L de solu-


O produto de solubilidade (Kps ou PS) é o produto das con- ção é possível dissolver até 10–4 mol de Ag2CrO4.
centrações molares dos íons existentes em uma solução saturada, BaSO4(s) Ba2+(aq) + SO42-(aq) KPS=1,0 . 10-10
onde cada concentração é elevada a um expoente igual ao respec- Y mol/L Y mol/L Y mol/L
tivo coeficiente do íon na correspondente equação de dissociação. KPS=[Ba2+].[SO42-]
10-10=(Y).(Y)
Exemplos: Y=1,0.10-5 mol/L

A solubilidade do BaSO4 portanto, em 1 L de solução: é possível


dissolver até 10–5 mol de BaSO4.
Com isso concluímos que Ag2CrO4 é mais solúvel que o BaSO4.
Abaixo veremos uma tabela dos valores do Kps de algumas
substâncias (não tem que decorar, pelo amor de seu Deus):

Substância Fórmula Kps


hidróxido de alumínio Al(OH)3 2 x10-32
carbonato de bário BaCO3 8,1 x10-9
cromato de bário BaCrO4 2,4 x10-10
fluoreto de bário BaF2 1,7 x10-6
iodato de bário Ba(IO3)2 1,5 x10-9
permanganato de bário BaMnO4 2,5 x10-10
A expressão do Kps é utilizada somente para soluções saturadas oxalato de bário BaC2O4 2,3 x10-8
de eletrólitos considerados insolúveis, porque a concentração de
íons em solução é pequena, resultando soluções diluídas. cromato de prata Ag2CrO4 1,1 x10-12
O Kps é uma grandeza que só depende da temperatura. cianeto de prata Ag[Ag(CN)2] 5,0 x10-12
Quanto mais solúvel o eletrólito, maior a concentração de íons
em solução, maior o valor de Kps; quanto menos solúvel o eletrólito, iodato de prata AgIO3 3,1 x10-8
menor a concentração de íons em solução, menor o valor de Kps, iodeto de prata AgI 1,0 x10-16
desde que as substâncias comparadas apresentem a mesma pro-
fosfato de prata Ag3PO4 1,3 x10-20
porção entre os íons.
sulfeto de prata Ag2S 2,0 x10-49
Exemplo tiocianeto de prata AgSCN 1,0 x10-12
oxalato de estrôncio SrC2O4 1,6 x10-7
sulfato de estrôncio SrSO4 3,8 x10-7
cloreto de talio I TlCl 2 x10-4
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61
a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

sulfeto de talio I Tl2S 5 x10-22 A lei de Dalton diz o seguinte sobre a pressão dos gases nas
misturas:
ferrocianeto de zinco Zn2Fe(CN)6 4,1 x10-16 “A pressão total exercida por uma mistura gasosa é igual à
oxalato de zinco ZnC2O4 2,8 x10-8 soma das pressões parciais dos gases que compõem a mistura.”
sulfeto de zinco ZnS 1,0 x10-21 Ptotal = P1 + P2 + P3 + P4… ou P = Σp
É importante lembrar que: Isso significa que, por exemplo, se a pressão do ar for de 1,0
- Os valores do Kps permanecem constantes somente em atm, a pressão parcial do N2 será de 0,78 (78% da pressão total),
soluções saturadas de eletrólitos pouco solúveis. a pressão parcial de O2 será igual a 0,21 (21% da pressão total da
mistura) e a pressão parcial do argônio será de 0,01% (1% da pres-
- Se a dissociação iônica for endotérmica, e se aumentarmos são total da mistura).
a temperatura, este aumento acarretará em um aumento de sol- Essa Lei de Dalton é mostrada também pela fração em quanti-
ubilidade, portanto, o valor do Kps aumentará. Se a dissolução for dade de matéria (X) que relaciona a quantidade de matéria em mol
exotérmica acontecerá o contrario do citado anteriormente. Pode- de cada gás com a quantidade de matéria total da mistura:
mos então concluir que a temperatura altera o valor do Kps. XY = _nY__
nTOTAL
Reações envolvendo gases, líquidos e gases.
Praticamente todos os “gases” com os quais temos contato no A fração em quantidade de matéria também é proporcional à
cotidiano não são exatamente gases isolados, mas sim misturas de relação entre a pressão parcial do gás e a pressão total da mistura
gases. Não conseguimos diferenciar muito bem porque toda mis- gasosa, como mostrado mais acima:
tura gasosa é homogênea, ou seja, apresenta uma única fase, um
único aspecto em toda a sua extensão. O melhor exemplo é o ar XY = PY
que respiramos, que é composto basicamente por 78% do volume PTOTAL
em massa de gás nitrogênio (N2), 21% de gás oxigênio (O2) e 1%
de outros gases, principalmente o gás nobre argônio (Ar), que está Com base na Equação de Clapeyron e na Lei de Dalton acima, o
presente em uma porcentagem de quase 1% . físico francês Émile Hilaire Amagat (1841-1915) criou a lei de Ama-
Outros exemplos de misturas gasosas que encontramos no dia gat, que diz o seguinte sobre o volume dos gases nas misturas:
a dia são o gás de cozinha, que se trata, na verdade, de uma mistura “O volume total de uma mistura gasosa é igual à soma dos vo-
dos gases propano (C3H8) e butano (C4H10); e os cilindros usados lumes parciais dos gases que compõem a mistura.”
para respiração por alpinistas e mergulhadores, que são misturas Vtotal = V1 + V2 + V3 + ... ou Vtotal = Σv
gasosas de nitrogênio e oxigênio, como o ar, mas enriquecidos com
oxigênio (a quantidade de oxigênio armazenada nos cilindros deve
ser de 42% em volume). DOS EFEITOS DE INTERVENÇÕES NOS CICLOS BIOGEO-
Visto que estão tão presentes em nosso cotidiano, torna-se im- QUÍMICOS E ECOSSISTEMAS, COM BASE NA TOXICI-
portante estudar o comportamento das misturas de gases. Dois as- DADE DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS, TEMPO DE PER-
pectos são os mais importantes: a pressão e o volume que esses ga- MANÊNCIA DOS POLUENTES, REAÇÕES QUÍMICAS,
ses exercem nas misturas das quais participam. Essas grandezas são TRANSFERÊNCIAS DE ENERGIA, AVALIANDO SEUS IM-
chamadas de pressão e volume parciais dos gases e correspondem PACTOS AMBIENTAIS, NOS SERES VIVOS, NO CORPO
à pressão ou ao volume que o gás exerce ou ocupa de forma indi- HUMANO E NOS MECANISMOS DE MANUTENÇÃO
vidual dentro da mistura nas mesmas condições de temperatura e DA VIDA
pressão que a mistura se encontra, e não corresponde à pressão ou
ao volume que ele possuía antes de entrar para a mistura gasosa.
Além disso, o estudo dessas grandezas nas misturas gasosas O ciclo biogeoquímico é o processo pelo qual os compostos
apresenta somente o aspecto quantitativo, e não o qualitativo, ou ou elementos químicos essenciais à vida, como a água, carbono,
seja, independe da natureza ou do tipo do gás, mas depende so- nitrogênio, oxigênio, e outros, são movimentados entre os com-
mente da quantidade de matéria (número de mols) dos gases. Isso ponentes bióticos (seres vivos) e abióticos (atmosfera, litosfera,
significa que as relações que serão estudadas adiante e que serão hidrosfera) de um ecossistema. Esses ciclos envolvem uma série
mencionadas para um gás dentro da mistura são válidas também de etapas, onde os elementos são absorvidos pelos organismos vi-
para todos os outros gases que participam da mesma mistura ga- vos, transferidos através das cadeias alimentares, liberados nova-
sosa. É óbvio que, para tal, considera-se que os gases não reagem mente no ambiente por meio de processos como decomposição
entre si. e respiração, e posteriormente reciclados para serem utilizados
Como depende da quantidade de matéria, podemos concluir o novamente pelos seres vivos.
seguinte: Visto que a equação de estado dos gases ou equação de Este ciclo desempenha um papel fundamental na manuten-
Clapeyron faz as seguintes relações entre as grandezas dos gases: P ção da vida e no equilíbrio dos ecossistemas. Mas, intervenções
. V = n . R . T, para as misturas gasosas, teremos: humanas, como a liberação de substâncias químicas tóxicas, têm
causado sérios impactos nesses ciclos e no ecossistema como um
P . V = (n1 + n2 + n3 + ...) . R . T todo. Essas intervenções podem afetar a qualidade do solo, da
ou água e do ar, e têm consequências diretas nos seres vivos.
P . V = Σn . R . T
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62
a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

As substâncias químicas tóxicas liberadas no meio ambiente diversas variáveis que influenciam a rapidez das transformações
tem efeitos negativos nos ciclos biogeoquímicos, como, por exem- químicas, tornando um desafio para serem completamente com-
plo, os poluentes liberados na atmosfera, como dióxido de car- preendidas e previstas.
bono proveniente da queima de combustíveis fósseis, causando A química é uma disciplina que estuda as propriedades e
a acidificação do solo quando são depositados pela chuva ácida. comportamentos da matéria e as mudanças que ocorrem nela.
Isso interfere na disponibilidade de nutrientes para as plantas e As transformações químicas são processos nos quais ocorrem al-
pode comprometer a produtividade agrícola. A toxicidade das terações na composição e nas propriedades das substâncias. Ao
substâncias químicas também pode afetar diretamente os seres realizar atividades experimentais, é possível observar essas trans-
vivos. Como, por exemplo, os pesticidas utilizados na agricultura formações e compreender os fatores que afetam sua rapidez.
podem ser absorvidos pelas plantas e, quando estas são consumi- Os fenômenos naturais são complexos e influenciados por
das as substâncias tóxicas podem causar danos ao sistema nervo- uma variedade de fatores. Por exemplo, a rapidez das transfor-
so, ao sistema endócrino e a outros órgãos. mações químicas pode ser afetada pela temperatura, pressão,
O tempo de permanência dos poluentes no ambiente tam- concentração de substâncias, presença de catalisadores e outras
bém tem efeito nos ciclos biogeoquímicos. Algumas substâncias condições.
químicas podem persistir no ambiente por décadas, como é o Os processos tecnológicos muitas vezes envolvem manipula-
caso dos poluentes orgânicos persistentes (POPs). Essas substân- ções químicas em larga escala, visando a produção de materiais
cias podem ser transportadas por correntes de ar, água ou serem e produtos. Embora as ciências possam oferecer uma compreen-
absorvidas pelos solos, persistindo por longos períodos de tempo são básica dos princípios por trás desses processos, a aplicação
e causando efeitos nocivos contínuos nos ecossistemas e nos se- prática nem sempre é linear ou previsível. Os avanços tecnológi-
res vivos. cos exigem testes, ajustes e refinamentos contínuos, levando em
As reações químicas que ocorrem nos ciclos biogeoquímicos consideração não apenas as variáveis químicas, mas também as
também são afetadas pelas intervenções humanas. Por exemplo, econômicas, sociais e ambientais.
a liberação de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera devido à
queima de combustíveis fósseis está contribuindo para o aumento
do efeito estufa e o aquecimento global. Esse aumento na concen- DA IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO
tração de CO2 está alterando a química dos oceanos, tornando-os DA BIODIVERSIDADE, CONSIDERANDO CONCEITOS DA
mais ácidos e afetando os organismos marinhos, como os corais, QUÍMICA AMBIENTAL COMO PARÂMETROS QUALITA-
que dependem de condições específicas de pH para a sua sobre- TIVOS E QUANTITATIVOS (DOS GASES POLUENTES NA
vivência. ATMOSFERA
As intervenções humanas também podem afetar as transfe-
rências de energia nos ecossistemas. Por exemplo, a destruição de
habitats naturais para a expansão urbana ou a agricultura inten- A preservação e conservação da biodiversidade são questões
siva pode levar à perda de biodiversidade e ao desequilíbrio nas de extrema importância para a manutenção do equilíbrio ambien-
cadeias alimentares. A extinção de espécies afeta a disponibilida- tal e a garantia de um futuro sustentável para o nosso planeta. A
de de presas para predadores, causando perturbações em cascata biodiversidade refere-se à variedade de formas de vida presen-
nos ecossistemas e prejudicando a estabilidade dos ciclos biogeo- tes em um determinado ecossistema, incluindo plantas, animais,
químicos. Diante desses impactos ambientais, é de extrema im- microrganismos e seus respectivos habitats. Ela desempenha um
portância que medidas sejam tomadas para minimizar os efeitos papel fundamental na manutenção dos serviços ecossistêmicos,
das intervenções humanas nos ciclos biogeoquímicos. Isso inclui como a regulação do clima, a polinização das plantas, a purifica-
a adoção de práticas agrícolas sustentáveis, o uso responsável de ção da água, entre outros.
substâncias químicas, a promoção da conservação da biodiversi- A química ambiental, por sua vez, estuda os processos quími-
dade e a utilização fontes de energia limpa e renovável. cos que ocorrem no ambiente e a interação entre os componentes
químicos presentes, incluindo os gases poluentes na atmosfera.
Esses gases são provenientes de atividades humanas, como a
DAS ATIVIDADES EXPERIMENTAIS, FENÔMENOS NATU- queima de combustíveis fósseis, a emissão de gases industriais e
RAIS E PROCESSOS TECNOLÓGICOS, RECONHECENDO o desmatamento, e têm um impacto significativo na qualidade do
OS LIMITES EXPLICATIVOS DAS CIÊNCIAS, CONSIDE- ar e na biodiversidade.
RANDO AS VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM NA RAPIDEZ A presença de gases poluentes na atmosfera pode ter efeitos
DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS adversos na biodiversidade. Por exemplo, o dióxido de carbono
(CO2) é um dos principais gases do efeito estufa, responsável pelo
aquecimento global. O aumento da concentração de CO2 na at-
As atividades experimentais proporcionam uma oportunida- mosfera pode levar a mudanças climáticas significativas, afetando
de de observar e analisar os fenômenos naturais e os processos os padrões de temperatura e precipitação em diferentes regiões
tecnológicos em um ambiente controlado. Por meio da manipula- do mundo. Isso pode levar à perda de habitats, redução da dis-
ção de variáveis e da realização de experimentos, é possível obter ponibilidade de recursos alimentares e desequilíbrios nos ecos-
dados e evidências que contribuem para a construção de conheci- sistemas, afetando negativamente as espécies e sua capacidade
mento científico. No entanto, mesmo com a aplicação do método de adaptação. Outro exemplo é o dióxido de enxofre (SO2), que
científico, nem sempre é possível explicar completamente todos é liberado durante a queima de carvão e óleo combustível. Esse
os aspectos, é importante reconhecer que as ciências têm limites gás pode reagir com a umidade do ar e formar chuvas ácidas, que
explicativos diante da complexidade desses fenômenos. Existem têm efeitos devastadores sobre a vegetação, matando plantas e
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CONHECIMENTOS

árvores. A perda de vegetação afeta diretamente os animais que


dependem dessas plantas como alimento ou abrigo, reduzindo a DOS CONTAMINANTES DO SOLO E DOS ATERROS SANI-
biodiversidade em ecossistemas afetados. TÁRIOS), PARA AVALIAR OS EFEITOS DA AÇÃO HUMANA
Considerando os parâmetros qualitativos e quantitativos da E DAS POLÍTICAS AMBIENTAIS PARA A GARANTIA DA
química ambiental, é fundamental monitorar e controlar a emis- SUSTENTABILIDADE DO PLANETA
são de gases poluentes na atmosfera. A quantificação das concen-
trações de gases poluentes permite avaliar os impactos potenciais
na biodiversidade e tomar medidas adequadas para reduzir essas O solo é um recurso natural fundamental para a manutenção
emissões. Além disso, é importante desenvolver métodos de con- da vida no planeta, mas ação humana descontrolada tem levado à
trole de poluição eficientes e promover a transição para fontes de sua contaminação, comprometendo a qualidade e colocando em
energia limpa e renovável. risco a saúde humana e ambiental.
Os contaminantes do solo podem ser de origem industrial,
agrícola ou doméstica. Eles incluem substâncias químicas tóxicas,
DOS RESÍDUOS E SUBSTÂNCIAS ENCONTRADAS NAS como metais pesados, pesticidas, solventes e produtos químicos
ÁGUAS utilizados em processos industriais. Esses contaminantes podem
infiltrar-se no solo por meio de vazamentos, derramamentos ou
disposição inadequada de resíduos. Os aterros sanitários são
A preservação dos recursos hídricos é de extrema importân- projetados para a disposição final de resíduos sólidos urbanos,
cia para a sustentabilidade ambiental e para a saúde humana. porém, se não forem adequadamente planejados, construídos e
Mas a contaminação das águas por resíduos e substâncias tem gerenciados, podem se tornar fontes significativas de poluição
se tornado um problema crescente em todo o mundo. Essas im- do solo e das águas subterrâneas. Os resíduos depositados nos
purezas podem ter origem doméstica, industrial, agrícola ou até aterros podem conter substâncias químicas perigosas que, ao se
mesmo decorrente da poluição atmosférica. degradarem, liberam contaminantes que se infiltram no solo e po-
Os resíduos sólidos são um dos principais poluentes quando dem chegar aos lençóis freáticos.
se trata da poluição da água. Muitas vezes, o lixo é descartado Para enfrentar esses desafios, são necessárias ações humanas
de forma inadequada, seja diretamente nos rios e mares ou em e políticas ambientais efetivas. É de extrema importância imple-
aterros sanitários mal administrados, e acabam contaminando as mentar práticas de gestão de resíduos adequadas, incluindo a se-
águas superficiais e subterrâneas. Plásticos, vidros, metais e ou- paração, reciclagem e tratamento adequado dos resíduos sólidos.
tros materiais descartados incorretamente chegam ao ecossiste- Também é importante desenvolver métodos de remediação do
ma aquático, prejudicando a vida marinha e a qualidade da água solo contaminado.
que consumimos. As políticas ambientais desempenham um papel fundamental
Além dos resíduos sólidos, substâncias químicas também são na garantia da sustentabilidade do planeta. É necessário que os
encontradas nas águas em quantidades alarmantes. Agrotóxicos governos implementem regulamentações rigorosas para contro-
e fertilizantes utilizados na agricultura podem se infiltrar no solo lar a disposição inadequada de resíduos, incentivar a adoção de
e atingir as águas subterrâneas, contaminando os aquíferos e po- práticas sustentáveis, e monitorar se essas regulamentações estão
ços de abastecimento. Indústrias que não tratam adequadamen- sendo seguidas corretamente. Além disso, é necessário promover
te seus efluentes liberam produtos químicos tóxicos nos corpos a conscientização da população sobre os impactos da contamina-
d’água, comprometendo a qualidade e a segurança dos recursos ção do solo e dos aterros sanitários, incentivando a participação
hídricos. ativa da sociedade na busca por soluções sustentáveis.
Outra fonte comum de contaminação são os esgotos domés-
ticos. Quando não tratados corretamente, os dejetos humanos
carregam bactérias, vírus e parasitas que podem causar doenças DAS VULNERABILIDADES VINCULADAS ÀS VIVÊNCIAS
e afetar a fauna e a flora aquática. A falta de saneamento básico E AOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS AOS QUAIS AS
adequado é um problema grave em muitas regiões do mundo, o JUVENTUDES ESTÃO EXPOSTAS, CONSIDERANDO OS
que contribui para a disseminação de doenças e para a degrada- ASPECTOS FÍSICO, PSICOEMOCIONAL E SOCIAL, A FIM
ção dos ecossistemas aquáticos. DE DESENVOLVER E DIVULGAR AÇÕES DE PREVENÇÃO E
Portanto é necessário adotar medidas eficazes para comba- DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E DO BEM-ESTAR POR MEIO
ter a contaminação das águas por resíduos e substâncias nocivas. DO ESTUDO DOS COMPOSTOS ORGÂNICOS (FUNÇÕES
Isso inclui investir em sistemas de tratamento de água e esgoto, ORGÂNICAS: ESTRUTURA, PROPRIEDADES E CA-
promover a conscientização da população sobre a importância da RACTERÍSTICAS PARA A SAÚDE HUMANA)
preservação dos recursos hídricos e incentivar práticas sustentá-
veis de produção e consumo. A reciclagem, a redução do uso de
plásticos descartáveis e o controle rigoroso do descarte de resí- É a parte da Química que estuda os compostos que contém car-
duos são ações fundamentais para minimizar a poluição da água e bono. Porém nem toda substância que contém carbono é parte da
garantir um futuro saudável para o planeta. Química Orgânica. Há algumas exceções, porque apesar de conter
carbono, tem comportamento de uma substância inorgânica. São
eles: C(grafite), C(diamante), CO, CO2, HCN, H2CO3, Na2CO3.

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CONHECIMENTOS

Os compostos orgânicos são, na sua maioria, formados por C, Exemplo:


H, O e N. Entretanto em 1828, Wohler obteve o primeiro composto
orgânico em laboratório. Este composto recebeu o nome de ureia,
e a partir deste, surgiram outras sínteses de compostos orgânicos
realizados em laboratório.
Em 1858, KeKulé e Couper enunciaram a teoria estrutural da
Química orgânica através de três postulados:
1) O Carbono é tetravalente
2) As quatro valências são equivalentes
3) O carbono forma cadeias carbônicas Classificação das Cadeias carbônicas

Os átomos de carbono agrupam-se entre si, formando estru- As cadeias carbônicas podem ser classificadas de três tipos de
turas de carbono, ou cadeias carbônicas. acordo com a disposição dos átomos de carbono:

1) Cadeia aberta, Acíclica ou Alifática


A cadeia aberta é aquela que possui pelo menos duas extre-
midades ou pontas, não há nenhum encadeamento, fechamento,
ciclo ou anel nela.
Exemplos:

Átomo de Carbono

O átomo de carbono possui massa atômica (A) igual a 12,01u


e número atômico (Z) igual a 6.
Veja a sua configuração eletrônica: 2) Cadeia fechada ou cíclica:
Esse tipo de cadeia não possui nenhuma extremidade ou
ponta, seus átomos são unidos, fechando a cadeia e formando um
encadeamento, ciclo, núcleo ou anel.

Exemplos:

A propriedade mais importante do elemento carbono é a ca-


pacidade de unir seus átomos, formando cadeias carbônicas. Veja
a seguir um exemplo de cadeia carbônica:

Tipos de Carbono
Os átomo de carbono que fazem parte de uma cadeia car-
bônica podem ser classificados devido ao número de átomos de
carbono ligados diretamente ao átomo de carbono que se deseja 3) Cadeia Mista
classificar. Diante disso, podemos ter em uma cadeia os seguintes Possui pelo menos um ciclo (anel) e uma extremidade.
tipos de átomos de carbono:
-Carbono primário: Liga-se diretamente, no máximo, a outro Exemplos:
átomo de carbono.
-Carbono secundário: Liga-se diretamente, diretamente a dois
átomos de carbono.
-Carbono secundário: Liga-se diretamente, diretamente a três
átomos de carbono.
-Carbono quaternário: Liga-se diretamente, diretamente a
quatro átomos de carbono.

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CONHECIMENTOS

Cadeias Abertas, Acíclicas ou Alifáticas Natureza dos Átomos das Cadeias Carbônicas

Quanto à disposição dos átomos de carbono, as cabeias aber- Quanto à natureza dos átomos que as constituem, as cadeias
tas podem ser classificadas como retas ou normais e ramificadas. carbônicas dividem-se em homogêneas e heterogêneas.

A) Retas ou Normais A) Cadeia Homogênea


Esse tipo de cadeia ocorre quando só existem carbonos pri- Esse tipo de cadeia não possui nenhum heteroátomo entre
mários e secundários na cadeia. Estando em uma única sequência, os carbonos, ou seja, essas cadeias são constituídas somente por
geram apenas duas extremidades ou pontas. carbonos.
Exemplos: Exemplos:

B) Ramificadas
São aquelas cadeias que possuem três ou mais extremidades, B) Cadeia Heterogênea
com carbonos terciários ou quaternários. Nesse tipo de cadeia existe pelo menos um heteroátomo
Exemplo: entre os átomos de carbono, sendo que os heteroátomos mais
comuns são O, N, S e P.
Exemplos:

Tipo de Ligação Entre os Átomos de Carbono


Cadeias Fechadas ou Cíclicas
Quanto ao tipo de ligação entre os átomos de carbono, as
cadeias são classificadas em saturadas e insaturadas. As cadeias cíclicas subdividem-se em aromáticas e alicíclicas
ou não aromáticas.
A) Cadeia Saturada
Essa classificação é utilizada para as cadeias que possuem A) Aromáticas
somente ligações simples entre os carbonos. São consideradas cadeias aromáticas aquelas que possuem
Exemplos: em sua estrutura pelo menos um núcleo benzênico, também de-
nominado anel aromático (C6H6).

B) Cadeia Insaturada
Nesse tipo de cadeia existe pelo menos uma instauração (du-
pla ou tripla ligação) entre os átomos de carbono. Exemplos:
Exemplos:

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CONHECIMENTOS

B) Alicíclica, Não-Aromáticas ou Ciclo-Alifáticas


Esse tipo de cadeia são fechadas porem não apresentam o núcleo aromático (anel benzênico).
Exemplo:

Quantidade de Ciclos

Um outro critério que pode ser utilizado para classificar as cadeias cíclicas está relacionado com a quantidade de ciclos (anéis ou
núcleo). Assim temos:

Cadeia Monocíclica ou Mononuclear


Apresenta um único ciclo em toda sua estrutura
Exemplos:

Cadeia Policíclica ou Polinuclear


Apresenta no mínimo dois ciclos em sua estrutura

Resumo

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CONHECIMENTOS

Hibridização

Hibridação de orbitais é uma interpenetração (mistura) que dá origem a novos orbitais, em igual número, denominados orbitais
híbridos.
Veja o tipo de hibridização para diferentes tipos de ligações entre carbonos:
- sp3

Nesta molécula, o metano, todas as ligações são sp3.

Toda molécula que possuir ligações simples, a sua hibridização será sp3.

- sp2

Nesta molécula, eteno, temos uma ligação dupla, então a hibridização nesta ligação será sp2 (ligação sigma) e p (ligação pi). As de-
mais ligações são todas sp2.

- sp

H–C ≡ C–H
Neste caso, o etino possui uma ligação tripla, sendo uma hibridização sp (ligação sigma) e duas p (ligação pi). A ligação entre carbo-
nos e hidrogênios é sp.
Todas as ligações π são p puro.
Veja esta molécula:
=C=
Nesta molécula, há um ângulo de 180° entre as ligações duplas. A hibridização será sp e p para cada ligação dupla.
Uma ligação entre H – C será s – sp.
Exemplo:
Seja a seguinte molécula de etano, analise as suas ligações σ e π e o tipo de hibridização de cada ligação:

Carbono 1:
H – C [σ: s – sp3]
C – C [σ: sp3 – sp3]

Carbono 2:
C – C [σ: sp3 – sp3]
H – C [σ: s – sp3]

Química Orgânica no Cotidiano

A química orgânica exerce grande participação no nosso cotidiano. Grande parte dos compostos produzidos em nosso corpo são
orgânicos por exemplo a ureia e a glicose. Não apenas em nós, como também em todos os seres vivos, sejam eles vegetais ou animais.

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CONHECIMENTOS

Também a encontramos como combustível, na produção de tinta e sabões, até mesmo na criação de um novo composto que pode
ser usado para salvar vidas.
Produtos essenciais para a vida são orgânicos, por isso existem tantos diferentes compostos além do ar que respiramos (O2) e da água
que constitui 80% do nosso corpo, há um átomo que é fundamental: o Carbono.

FUNÇÕES ORGÂNICAS

As funções orgânicas são grupos em que os compostos orgânicos são divididos de acordo com o seu comportamento químico e pre-
sença de certos agrupamentos de átomos em suas estruturas.

Nomenclatura dos Compostos Orgânicos

Os compostos orgânicos recebem nomes oficiais que levam em consideração o número de carbonos, os tipos de ligações entre eles e
a função que as substâncias pertencem.
O esquema apresentado no quadro abaixo mostra, as partes básicas da nomenclatura de um composto orgânico.

A seguir serão estudadas as principais funções orgânicas:

Hidrocarbonetos

São compostos formados apenas por carbono (C) e hidrogênio (H). Os hidrocarbonetos podem ser subdivididos em várias classes em
função do tipo de ligação que apresenta entre os carbonos. Sua fórmula geral é dada por CXHY.
Os hidrocarbonetos se dividem de acordo com a sua estrutura e tipo de ligações entre carbonos. São tipos de hidrocarbonetos:
-alcanos
-alcenos
-alcinos
-alcadienos
-cicloalcanos
-cicloalcenos
-aromáticos

Alcanos
Definição: são hidrocarbonetos de cadeia aberta saturados, ou seja, possuem somente ligações simples entre os carbonos.
Fórmula Geral: CnH2n + 2(em que n = qualquer número inteiro).
Exemplos:
CH4:metano

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CONHECIMENTOS

H3C — CH3: etano

Alcenos
Definição: são hidrocarbonetos de cadeia aberta que possuem
somente uma ligação dupla entre carbonos.
Fórmula Geral: CnH2n
Exemplos:

Nomenclatura Para Hidrocarbonetos Ramificados

Para realizar a nomenclatura de um hidrocarboneto ramificado,


Alcinos é necessário identificar a cadeia principal, que, geralmente, apre-
Definição: são hidrocarbonetos de cadeia aberta que possuem senta o maior número de carbonos. Para isso, temos que levar em
tripla ligação entre carbonos. consideração a classe dos hidrocarbonetos com a qual estamos tra-
O infixo “in” identifica a ligação tripla dos alcinos. balhando, como relatado em cada caso:
Fórmula Geral: CnH2n-2 (em que n = qualquer número inteiro). a) Nomenclatura de alcanos ramificados
Exemplos: Passo 1: Determinar a cadeia principal e seu nome
(A cadeia principal de um alcano é sempre aquela que apresen-
tar o maior número de carbonos e o maior número de ramificações)
Passo 2: Reconhecer os radicais e dar nome aos mesmos.
Passo 3: Numerar a cadeia principal de moto a obter os meno-
res números possíveis para indicar as posições dos radicais.
Alcadienos ou dienos: Passo 4: Quando houver mais de um radical do mesmo tipo,
Definição: são hidrocarbonetos de cadeia aberta que possuem seus nomes devem ser precedidos de prefixos que indiquem a
duas duplas ligações entre carbonos. quantidade: di, tri, treta, penta e etc.
O infixo “dien” identifica as duas duplas ligações dos alcadie- Passa 5: Quando houver dois ou mais radicais de tipos diferen-
nos. tes, seus nomes podem ser escritos de duas maneiras:
Fórmula Geral: CnH2n-2 (em que n = qualquer número inteiro). a) Pela ordem de complexidade crescente dos radicais
Exemplos: b) Pela ordem alfabética (Notação recomentada pela IUPAC).

Exemplo:

Hidrocarbonetos cíclicos:

Definição: são hidrocarbonetos de cadeia fechada. Podem ser


cicloalcanos (só possuem ligações simples), cicloalcenos (possuem
dupla ligação entre carbonos) e cicloalcinos (com tripla ligação en-
tre carbonos). Álcoois

Fórmula Geral: Álcool é toda substância orgânica que contém um ou mais gru-
- Cicloalcanos: CnH2n pos oxidrila ou hidroxila (OH) ligado diretamente à átomos de car-
- Cicloalcenos: CnH2n-2 bono saturados.

Grupo funcional:

Classificação
Os álcoois podem ser classificados de duas maneiras:
- de acordo com a posição da hidroxila
Hidrocarbonetos aromáticos:
- de acordo com o número de hidroxila
Definição: são hidrocarbonetos que possuem um ou mais anéis
benzênicos (núcleos aromáticos), que são representados conforme
Posição da Hidroxila
a figura abaixo:
Álcool Primário – tem a hidroxila ligada a carbono primário.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Nomenclatura oficial dos álcoois


A nomenclatura oficial dos álcoois segue as mesmas regras es-
tabelecidas pela IUPAC para os hidrocarbonetos, com apenas uma
Álcool Secundário – tem a hidroxila ligada a carbono secundá- diferença: como o grupo funcional é diferente, o sufixo é “OH” no
rio. lugar de “o”, que é o usado para os hidrocarbonetos.
Prefixo Intermediário Sufixo
N° de Carbono Tipo de Ligação OL

Exemplos:
-H3C — OH: met + an + ol = metanol
-H3C — CH2 — OH: et + an + ol = etanol
Álcool Terciário – tem a hidroxila ligada a carbono terciário.
Quando um álcool alifático apresentar mais de dois átomos de
carbono, devemos indicar a posição do OH numerando a cadeia a
partir da extremidade mais próxima do carbono que contém a hi-
droxila.
Exemplos:

1-butanol
Número de Hidroxila
- Monoálcool – álcool que contém uma hidroxila.

2-butanol
- Diálcool ou Diol – álcool que contém duas hidroxilas.
Aldeídos
Os aldeídos contêm o grupo carbonila em carbono primário
(extremidade da cadeia).

Grupo funcional:

- Triálcool ou Trióis – álcool que contém três hidroxilas.

Exemplos:

Fenol

Fenol é todo composto orgânico que contém uma ou mais hi-


droxilas (OH) ligadas diretamente a um anel aromático. Nomenclatura IUPAC
Exemplos: - A terminação do nome oficial é AL.
- A cadeia principal deve ser a mais longa possível que apresen-
tar o grupo funcional.
- Para cadeias ramificadas ou insaturadas, devemos numerar
pela extremidade que contenha o grupo funcional. Este será sem-
pre posição 1. E não precisa ser mencionado no nome.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Exemplos:

Nomenclatura usual
Os quatro primeiros aldeídos têm nomes usuais, tais como:

Cetonas

As cetonas também apresentam o grupo carbonila, sendo que o carbono do grupo deve ser secundário.
Grupo funcional:

Exemplos:

Nomenclatura IUPAC
De acordo com a nomenclatura da IUPAC a terminação das cetonas é ONA.
A cadeia principal é a mais longa que possui a carbonila e a numeração é feita a partir da extremidade mais próxima da carbonila.
Exemplos:

Quando a numeração for necessária, ela deve ser iniciada da extremidade mais próxima da carbonila.

Ácido Carboxílico

Os ácidos carboxílicos apresentam pelo menos uma função carboxila.


-Grupo funcional:

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Exemplos:

Nomenclatura IUPAC
Inicia-se com a palavra ácido e a terminação utilizada é óico. A cadeia principal é a mais longa e que possua a carboxila. Para cadeias
ramificadas, devemos numerar a partir do carbono da carboxila (e não precisa mencionar a posição 1).
Exemplos:

O nome usual para os ácidos é associado à sua origem ou a suas propriedades. Os nomes comuns de muitos ácidos carboxílicos são
baseados em suas origens históricas ou ao seu odor exalado por quem os produz.

Veja o motivo dos nomes usuais não seguirem regras:

Nome oficial Nome comercial Origem do nome


Ácido metanóico Ácido fórmico Existe nas formigas
Ácido etanóico Ácido acético Formado no azedamento do vinho
Ácido propa-
Ácido própiônico gordura
nóico
Ácido butanóico Ácido butírico Encontrado na manteiga
Ácido penta-
Ácido valérico Encontrado na planta valeriana
nóico
Ácido hexanóico Ácido capróico Produzidos por cabras e bodes
Ácido octanóico Ácido caprílico Produzidos por cabras e bodes
Ácido decanóico Ácido cáprico Produzidos por cabras e bodes
Ésteres
Ésteres são compostos orgânicos produzidos através da reação química denominada de esterificação: ácido carboxílico e álcool rea-
gem entre si e os produtos da reação são éster e água. Os ésteres são encontrados em muitos alimentos, perfumes, objetos e fármacos
que temos em casa.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Grupo funcional:

Os ésteres possuem aroma bastante agradável. São usados como essência de frutas e aromatizantes nas indústrias alimentícia, farma-
cêutica e cosmética. Constituem também óleos vegetais e animais, ceras e gordura.

Nomenclatura IUPAC
Colocando-se o grupo funcional como referencial, podemos dividir o nome em duas partes:

Prefixo + Saturação + oato de + Nome do radical

Exemplos:

Éteres

Éter é todo composto orgânico onde a cadeia carbônica apresenta – O – entre dois carbonos. O oxigênio deve estar ligado diretamente
a dois radicais orgânicos (alquila ou arila). A fórmula genérica do éter é R – O – R, onde “R” é o radical e “O” é o oxigênio.

Grupo funcional:

Nomenclatura oficial
A nomenclatura oficial pode ser obtida da seguinte maneira:

Prefixo R (menor n° de carbonos) + Infixo (tipo de ligações) + oato de + nome do radical R’ + a

Ou

Radical R + Radical R’ + éter

Exemplos:

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Aminas

As aminas são consideradas as bases orgânicas e são obtidas a partir da substituição de um ou mais hidrogênios da amônia (NH3) por
radicais.

Nomenclatura da IUPAC
Na sua nomenclatura, basta indicar (o)s radical (is) ligados ao nitrogênio acrescido da palavra amina.

As aminas aromáticas nas quais o nitrogênio se liga diretamente ao anel benzênico Ar–NH2 são, geralmente, nomeadas como se fos-
sem derivadas da amina aromática mais simples: a fenilamina (Anilina)

Para aminas mais complexas, consideramos o grupo NH2 como sendo uma ramificação, chamada de amino.

Amidas

As amidas são caracterizadas pelo grupo funcional:

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Nomenclatura da IUPAC
O nome das amidas, de acordo com a IUPAC é dado da seguinte maneira:

Prefixo + Saturação + Amida

Exemplo:

Haletos Orgânicos

Os haletos orgânicos são compostos resultantes da substituição de um ou mais hidrogênios em moléculas de hidrocarbonetos, por
átomos de halogênios, que podem ser o flúor, o cloro, o bromo ou o iodo.
Os Haletos orgânicos são representados por R – X onde X = Cl, Br, F, I.

Repare que o Cl está ligado a uma cadeia de hidrocarbonetos.

REAÇÕES ORGÂNICAS

O conhecimento das reações orgânicas e das características das diferentes funções orgânicas é de fundamental importância para en-
tendermos não só os processos orgânicos, mas também a bioquímica, ou seja, os processos metabólicos que ocorrem nos seres vivos. Em
todo o mundo, muitos químicos estão envolvidos na obtenção de compostos orgânicos em laboratórios de escolas, institutos de pesquisa
e indústrias.
As reações orgânicas podem ser classificadas de várias maneiras. Alguns dos tipos mais comuns são: substituição, adição e eliminação.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Substituição

Nesse tipo de reação, ocorre a substituição de pelo menos um átomo de hidrogênio da molécula de um hidrocarboneto por outro
átomo ou grupo de átomos. Essas reações podem ser representadas genericamente da seguinte maneira:

A notação R-H representa um hidrocarboneto que pode pertencer a uma das seguintes classes: alcanos, aromáticos e ciclanos com 5
ou mais carbonos. As principais reações de substituição são: halogenação, nitração, sulfonação, alquilação e acilação.

Halogenação: Nessas reações ocorre a substituição de átomo(s) de hidrogênio por átomo(s) de halogênio. Essa reação ocorre com as
substâncias simples dos halogênios: F2, Cl2, Br2 e I2; as mais comuns são a cloração (Cl2) e a bromação (Br2), pois as reações com F2, devido
à sua grande reatividade, são explosivas, enquanto as reações com I2 são extremamente lentas.

a) Monocloração do metano

A substituição de um átomo de hidrogênio pode ocorrer em diferentes carbonos; assim, nessas reações obtém-se uma mistura de
diferentes produtos orgânicos. Veja um exemplo dessa situação na monobromação do metilbutano:

b) Monobromação do metilbutano

Vários fatores influam na porcentagem dos produtos obtidos nesse tipo de reação, mas pode-se fazer uma previsão de qual produto
será formado em maior quantidade, por meio de uma regra de uso comum, que indica a ordem de facilidade com que um hidrogênio “sai”
do hidrocarboneto:

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

No equacionamento de reações semelhantes a essa, é costume representar somente o produto obtido em maior quantidade. Assim,
a reação de monobromação do metilbutano é normalmente representada da seguinte maneira:

Nitração: Essa reação ocorre com o ácido nítrico .

Sulfonação: Essa reação ocorre com o ácido sulfúrico (H2SO4 ou HO–SO3H) .

Reações Características de Aromáticos


Alquilação: É a substituição de um ou mais hidrogênios do anel aromático por um ou mais radicais derivados de alcanos.

Acilação: É a substituição de um ou mais hidrogênios de um anel aromático por um ou mais radicais derivados de ácidos carboxílicos .

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CONHECIMENTOS

Essas duas reações são denominadas reações de Friedel-Crafts.

Dirigência em Aromáticos

O primeiro substituinte (átomo ou grupo de átomos) de um hidrogênio do anel benzênico orientará a posição na qual irá ocorrer a
segunda substituição. Esse primeiro substituinte será denominado grupo dirigente e poderá ser de dois tipos:

Os principais orto-para-dirigentes são:

Os orto-para-dirigentes geralmente apresentam um átomo ou grupo de átomos unidos somente por ligações simples.

Monobromação do fenol

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CONHECIMENTOS

Os principais meta-dirigentes são:

Os meta-dirigentes são grupos de átomos em cuja estrutura existe pelo menos uma ligação dupla, tripla ou dativa.

Monocloração do ácido benzóico

Os grupos orto-para dirigentes permitem no máximo três substituições no núcleo benzênico: duas em orto e uma em para.
O trinitritolueno (TNT) é uma substância que pode ser obtida pela nitração total do tolueno.
O TNT é um dos mais importantes explosivos de uso militar, sendo ativado pela explosão de uma espoleta.

Reações de Adição

Essas reações são características de hidrocarbonetos insaturados: alquenos, alquinos e dienos, e ocorrem com a quebra da ligação pi
(π).

Observação: Os ciclanos de três ou quatro carbonos, como apresentam anéis instáveis, também sofrem esse tipo de reação devido à
quebra de uma ligação sigma (σ) entre carbonos do anel, originando compostos de cadeia aberta.

Hidrogenação catalítica
Essas reações ocorrem com o gás hidrogênio (H2) e são catalisadas por metais, como: Ni, Pt, Pd.

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CONHECIMENTOS

Observação: As reações de hidrogenação são denominadas reações de redução, pois o Nox do carbono envolvido na reação diminui:

Halogenação
Essa reação envolve os halogênios, sendo o cloro (Cl2) e o bromo (Br2) os mais utilizados.

Observação: O teste mais comum para verificar se uma cadeia alifática é insaturada, à temperatura ambiente, consiste na reação
com água de bromo [Br2(aq)] ou uma solução de bromo em tetracloreto de carbono (Br2/CCl4). Esses sistemas apresentam uma coloração
castanha. Se a cadeia for insaturada, a coloração castanha desaparecerá.

Essa reação, nessas condições, não irá ocorrer com cadeias saturadas.

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CONHECIMENTOS

Adição de HX
Nesse tipo de reação, os reagentes mais comuns são o cloreto e o brometo de hidrogênio (HCl e HBr). A adição do hidrogênio (H) e
do halogênio (X) aos carbonos da insaturação obedece a uma regra experimental descoberta em 1868 pelo químico russo Markovnikov.

Regra de Markovnikov: o hidrogênio do HX adiciona-se ao


carbono de dupla ou tripla ligação mais hidrogenado

Reações de Hidratação de Alquenos e Alquinos

Essas reações consistem na adição de água (H2O ou HOH), na presença de catalisadores e em meio ácido, aos hidrocarbonetos alque-
nos e alquinos, e também obedecem à regra de Markovnikov, ou seja, o H se liga ao carbono mais hidrogenado da insaturação.

Se o grupo OH presente no enol estiver situado em carbono secundário, haverá a formação de uma cetona; entretanto, se o grupo OH
estiver situado em carbono primário, irá formar-se um aldeído.

Adição em aromáticos
Os aromáticos, devido à ressonância, normalmente sofrem reações de substituição; porém, em condições enérgicas ou em condições
especiais, podem sofrer reações de adição. Veja os exemplos:

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CONHECIMENTOS

a) Hidrogenação total do benzeno

b) Cloração total do benzeno

Reações de Oxidação de Alquenos Oxidação Branda

A oxidação branda ocorre com hidrocarbonetos insaturados; o elemento oxigênio geralmente é obtido a partir do permanganato de
potássio (KMnO4) em meio neutro ou ligeiramente básico, diluído e a frio. Nessas condições, o KMnO4 é o agente oxidante, denominado
reativo de Baeyer, o qual apresenta coloração violeta.
A principal aplicação dessa reação consiste na diferenciação de alquenos e cicloalcanos, que são isômeros de cadeia, pois apenas os
alquenos sofrerão esse tipo de reação, por apresentarem ligação π em sua estrutura.

A reação entre o alqueno e o reativo de Baeyer pode ser representada por:

Ou, simplesmente:

Ozonólise
A ozonólise utiliza ozônio (O3) na presença de água (H2O) e zinco (Zn). Os átomos de oxigênio do ozônio ligam-se aos carbonos da dupla
ligação do alqueno, originando um composto intermediário instável, denominado ozoneto ou ozonida, o qual, por sua vez, se hidrolisa,
originando aldeídos e/ou cetonas. Como exemplo, tome-se um alqueno genérico:
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CONHECIMENTOS

Essa equação poderia ser escrita de maneira simplificada, omitindo-se o ozoneto.

Observação: A finalidade da utilização do zinco é evitar que o oxigênio, que pode ser produzido pela decomposição da água oxigenada,
oxide o aldeído a ácido carboxílico.

Oxidação enérgica
Os dois agentes oxidantes mais utilizados na reação de oxidação enérgica de alquenos são o permanganato de potássio (KMnO4) e o
dicromato de potássio (K2Cr2O7) concentrados, em meio ácido, a quente. Neste tipo de oxidação, ocorre a quebra da dupla ligação e a for-
mação de ácidos carboxílicos e/ou cetonas. Os átomos de hidrogênio (H) ligados ao carbono da dupla ligação se transformam em hidroxila
(OH). Genericamente, essa reação pode ser representada por:

Se, no carbono da dupla ligação, existirem dois átomos de hidrogênio (=CH2), ambos serão transformados em hidroxilas (=C(OH)2),
originando o ácido carbônico (H2CO3), que se decompõe, produzindo CO2(g) e H2O(l). Veja um exemplo:

Observação: As reações de combustão também são reações de óxido-redução.

Reações com Álcoois

Combustão
A mais completa das oxidações é a combustão. A equação que representa a combustão completa de um álcool alifático saturado pode
ser dada por:

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CONHECIMENTOS

Os dois álcoois comumente utilizados como combustíveis são o metanol e o etanol. O metanol é considerado um bom substituto da
gasolina, particularmente em áreas urbanas em que os níveis de poluição produzidos por veículos automotivos são muito altos. Isso se
deve ao fato de sua queima ser mais completa do que a da gasolina, o que diminui a poluição atmosférica, além de não produzir óxidos de
enxofre. É utilizado diretamente ou misturado à gasolina nos Estados Unidos desde 1980.
No Brasil, o álcool utilizado como combustível é o etanol hidratado, nos carros movidos a álcool, ou o anidro, misturado à gasolina, nos
carros movidos a gasolina. Sua combustão completa pode ser assim representada:

Outras oxidações
Em laboratório, os agentes oxidantes mais utilizados são o KMnO4 ou o K2Cr2O7 (concentrados, em meio ácido, a quente), que produ-
zem oxigênio nascente [O]. Esses oxigênios atacam os hidrogênios (H) pertencentes ao carbono do grupo OH.

Oxidação de álcool primário

Oxidação do etanol: um bafômetro muito simples


O teste do bafômetro, usado para identificar motoristas que dirigem depois de ingerir bebidas alcoólicas, é baseado na mudança de
cor que ocorre na reação de oxidação do etanol com o dicromato de potássio em meio ácido. Se o ar expirado pela pessoa mudar a cor
alaranjada inicial do dicromato de potássio para verde, isso indica que a quantidade de álcool no seu sangue está acima do limite legal.
A reação eu ocorre pode ser representada por:

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CONHECIMENTOS

Oxidação de álcool secundário:

Oxidação de álcool terciário:

Desidratação

a) Desidratação intramolecular — nessa reação ocorre a eliminação de uma molécula de água do interior de cada molécula de álcool:

b) Desidratação intermolecular — nessa reação ocorre a eliminação de uma molécula de água a partir de duas moléculas de álcool,
pela interação dos grupos OH, através das pontes de hidrogênio:

Observação: Como, nessas reações, o produto orgânico obtido é proveniente de uma simples retirada de átomos do reagente, elas
podem ser classificadas como reações de eliminação.

Esterificação

Essa reação ocorre quando um ácido reage com um álcool, produzindo éster e água; a reação inversa é denominada reação de hidró-
lise.

Experimentalmente, verifica-se que, quando essas reações ocorrem entre um ácido carboxílico e um álcool primário, a água é formada
pelo grupo OH do ácido e pelo hidrogênio do grupo OH do álcool.

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CONHECIMENTOS

Observação: Caso se utilizem ácidos inorgânicos ou álcoois secundários ou terciários, a água será formada pelo OH do álcool e pelo
hidrogênio do grupo OH do ácido. Um exemplo desse fato pode ser verificado na reação a seguir:

A nitroglicerina é um poderoso explosivo e muito sensível a choques. Em 1866, Alfred Nobel descobriu que ela poderia se tornar mais
estável e de mais fácil manuseio quando absorvida por um material inerte e poroso, como a serragem ou a terra infusória (esqueletos
calcários de diatomáceas). Esse produto é comercializado com o nome de dinamite.

Alguns Métodos de Obtenção de Álcoois

Hidratação de alquenos

Esse método é utilizado nos Estados Unidos para produzir etanol.

Redução
A redução é a reação inversa à oxidação e é realizada com o gás hidrogênio (H2). Dessa maneira, os produtos obtidos na oxidação dos
álcoois podem ser usados, numa reação de redução, para regenerar o álcool.

-Redução de ácidos carboxílicos e aldeídos

-Redução de uma cetona

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CONHECIMENTOS

Genericamente, a partir de todas essas informações, temos:

Haletos orgânicos
Outra maneira de obter álcoois em laboratório consiste em fazer a reação entre um haleto orgânico (R — X) e o hidróxido de potássio
em solução aquosa [KOH(aq)].

Aldeídos e Cetonas

Os aldeídos e as cetonas são os principais compostos carbonílicos (grupo carbonila C O), e as principais reações que ocorrem nesse
grupo envolvem a quebra da ligação π.

Reações de aldeídos e cetonas


Reações com compostos de Grignard

Os aldeídos e as cetonas reagem com os compostos de Grignard (R—MgX), originando um composto intermediário que se hidrolisa e
dá origem a diferentes álcoois, segundo o esquema:

Genericamente, temos:

Reação de redução
Nesse tipo de reação, utiliza-se gás hidrogênio (H2) ou hidrogênio nascente [H], que pode ser obtido a partir da reação entre zinco e
ácido clorídrico.

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CONHECIMENTOS

Genericamente, temos:

Reação de oxidação
As reações de oxidação podem ser feitas utilizando-se agentes oxidantes, tais como KMnO4, K2Cr2O7 etc.
Genericamente, temos:

Em laboratório, para diferenciar aldeídos de cetonas através de reações de oxidação, são usadas algumas misturas oxidantes:
-reativo de Tollens — solução aquosa amoniacal de nitrato de prata.
-reativo de Fehling — solução aquosa de sulfato de cobre em meio básico e tartarato duplo de sódio e potássio.
-reativo de Benedict — solução aquosa de sulfato de cobre em meio básico e citrato de sódio.

Métodos de obtenção de aldeídos e cetonas


Os principais métodos de obtenção de aldeídos e cetonas, já vistos anteriormente, são os seguintes:
-hidratação de alquinos
-ozonólise de alquenos
-oxidação de álcoois
Além desses, podemos citar o método específico de obtenção de cetonas Piria- Limpricht, o qual consiste no aquecimento de um sal
de cálcio de ácido carboxílico, que se decompõe, originando uma cetona e carbonato de cálcio.

Ácidos carboxílicos

Apesar de os ácidos carboxílicos mais conhecidos serem o ácido fórmico e o ácido acético, outros ácidos carboxílicos também fazem
parte do nosso cotidiano.

Ácido butanoico

Também conhecido por ácido butírico (do latim butyrum = manteiga), é o responsável pelo odor característico de manteiga rançosa.

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CONHECIMENTOS

Ácido hexanóico

Seu nome usual é ácido capróico (do latim caper = cabra), e é um dos responsáveis pelo cheiro desagradável exalado pelas cabras.

Ácido etanodióico

Seu nome usual é ácido oxálico, sendo encontrado no tomate, nas folhas de ruibarbo e de espinafre. É um dos ácidos presentes em
maior quantidade na natureza. Um sal desse ácido, o oxalato de cálcio, é um dos principais componentes dos cálculos renais.
Existe, também, uma categoria especial de ácidos, denominados ácidos graxos, que são constituintes de óleos e gorduras.

Ácidos graxos: são ácidos carboxílicos com 12 ou mais átomos de carbono, geralmente em número par, e de cadeia alifática normal;
podem ser saturados ou insaturados

Vejamos alguns exemplos de ácidos graxos:

Propriedades Químicas dos Ácidos Carboxílicos

Caráter ácido
Os ácidos carboxílicos, quando em solução aquosa, se ionizam, originando íons H+ ou H3O+; portanto, são considerados ácidos de
acordo com a definição de Arrhenius. Genericamente e de maneira simplificada, temos:

Embora todos os ácidos carboxílicos sofram ionização, ela não ocorre na mesma intensidade em todos os compostos. Essa ionização
está relacionada aos grupos ligados à carboxila.

Esses grupos podem ser de dois tipos:


a) aqueles que aumentam a acidez. Exemplos: halogênios (F, Cl, Br, I); NO2; OH etc.
b) aqueles que diminuem a acidez. Exemplos: H3C-; C2H5- etc.
Isso pode ser verificado a partir da análise de quatro ácidos e suas respectivas constantes de ionização, os quais são dados a seguir:

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CONHECIMENTOS

Como já sabemos, quanto maior a constante de ionização (Ki), mais ionizado estará o ácido. Assim, entre os ácidos apresentados,
temos:

Acidez na Química Orgânica

Além dos ácidos carboxílicos, na Química Orgânica existem outros compostos que se ionizam, liberando H+:

A análise das constantes de ionização permite estabelecer uma comparação entre o caráter ácido das funções e a água:

Com base nos valores das constantes de ionização, consegue-se entender melhor por que somente os fenóis e os ácidos carboxílicos
reagem com uma base inorgânica:

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CONHECIMENTOS

Reações dos Ácidos Carboxílicos

Esterificação
Os ácidos carboxílicos reagem com os álcoois, produzindo éster e água. Veja:

Desidratação intermolecular
Nesse tipo de reação ocorre a eliminação de uma molécula de água a partir de duas moléculas de ácido carboxílico, originando um
anidrido:

Métodos de obtenção de ácidos carboxílicos


Durante o nosso estudo, já foram abordados alguns métodos de obtenção dos ácidos carboxílicos:
-oxidação enérgica de alquenos • oxidação de aldeído
-oxidação de álcool primário • hidrólise de éster

Os ácidos carboxílicos também podem ser obtidos pela hidrólise de haleto ácido.
Observe:

Acidez e Basicidade de Compostos Orgânicos

Ácidos Carboxílicos são os ácidos orgânicos mais conhecidos; e esta classe de compostos possui o grupo funcional –COOH.

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CONHECIMENTOS

As estruturas de ressonância acima explicam a maior acidez de um carboxilato comparado com uma hidroxila: Apesar de que é pos-
sível escrever duas estruturas de ressonância para o ácido não dissociado, a segunda estrutura tem menos importância (“contribui muito
menos” para a estrutura “verdadeira”) do que a primeira, devido à separação de cargas nesta estrutura. Com isso, a estabilização por res-
sonância no caso do ácido é muito baixa. Já no carboxilato (base conjugada), as duas estruturas de ressonância são idênticas; com isso, a
estabilização por ressonância é máxima. O exposto acima significa que, por causa da estabilização por ressonância do carboxilato, a energia
da base conjugada (carboxilato) é mais baixa do que a do ácido. Isto resulta no aumento da constante de equilíbrio.

Álcoois (pKa ~ 16) são muito menos ácidos do que ácidos carboxílicos (pKa ~ 4), um fato que pode ser explicado facilmente pela au-
sência de uma estabilização por ressonância da base conjugada de álcoois (íon alcoxi). Tente escrever estruturas de ressonância de um íon
alcoxi.

Fenóis (pKa ~ 10) são mais ácidos de que álcoois devido às estruturas de ressonância mostradas a seguir:

Bases Orgânicas
As bases são compostos que possuem o radical OH- em suas composições e são classificadas levando em consideração suas estruturas.

O pKb e pKa das Bases é análogo ao pKa de ácidos pode-se definir a constante de associação de uma base com um próton, o pKb.
Porém a maioria dos livros apresenta os valores de dissociação dos ácidos correspondentes das bases, pKa (pKa de uma base significa pKa
do ácido correspondente da base, ou seja, pKBH+), ao invés dos valores de pKb.

A basicidade das aminas, heterocíclicas, aromáticas com anéis de 6 e 5 membros, piridina e o pirrol, é indicada abaixo em comparação
com a trietilamina, a pirrolidina e a dietilamina:

Ambos os compostos heterocíclicos são menos básicos do que as aminas alifáticas; sendo que o pirrol pode ser considerado não bá-
sico. Explicação:

(i) pirrol: A baixa basicidade não pode ser causada pelo anel de 5, porque o composto análogo não aromático, a pirrolidina, possui
um pKa parecido com o da dietilamina. Porém, o par de elétrons do nitrogênio no pirrol é deslocalizado no anel aromático fazendo parte
do sistema aromático (aromático: 6 elétrons; 4 elétrons das duas C=C + 2 elétrons do par de elétrons do nitrogênio). Com isso, o par de
elétrons não é disponível.

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CONHECIMENTOS

(ii) piridina: O par de elétrons não participa do sistema aromático (6 elétrons das três C=C). A basicidade reduzida da piridina é devido
à hibridização sp2 do nitrogênio:
Hibridização do nitrogênio:

Exemplos: alquilamina (pKa = 10); piridina (pKa = 5.21); acetonitrila; (pKa = - 4.3) A basicidade diminui com o aumento do caráter, já
que o par de elétrons em sp está mais atraído pelo núcleo e, portanto, está menos disponível.

Ácidos e bases de Brönsted-Lowry


Ácido⇒ substância que pode doar um próton (H+ ).

Base ⇒ substância que pode receber um próton (H+)


Quanto mais forte o ácido, mais fraca é a base conjugada.
Quanto mais forte a base, mais fraco é o ácido conjugado.
Um fator que aumenta a força ácida de um composto é a deslocalização da carga negativa da base conjugada.

Ka 10-18 10-16 10-10 10-5


composto álcool água fenol Ácido carboxílico

Quanto maior o Ka mais forte é o ácido e menor é o pKa.

Deslocalização da carga negativa no ânion carboxilato:

No ânion alcóxido de um álcool não existe deslocalização da carga negativa da base conjugada:

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CONHECIMENTOS

Obs: Ácidos carboxílicos podem ser neutralizados por bases As aminas secundárias possuem dois grupos alquilas doadores
fortes, moderadas, fracas e sais de caráter básico como o NaHCO3. de elétrons (efeito indutivo positivo), sendo, portanto, mais básicas
Fenóis são neutralizados somente por bases fortes. que as aminas primárias. Considerando-se apenas o efeito indutivo
dos grupos alquilas, era de se esperar que as aminas terciárias fos-
Relação entre efeitos eletrônicos e acidez e basicidade sem mais básicas.
1) Fenóis Entretanto a presença de três grupos alquilas em torno do ni-
A presença de grupos no anel aromático do fenol pode aumen- trogênio dificulta a aproximação do cátion H + (impedimento espa-
tar ou diminuir a acidez do fenol. cial ou estérico).
Já as aminas aromáticas são menos básicas que amônia por
que o par de elétrons não ligante do nitrogênio pode deslocalizar-se
sobre o anel aromático, tornando-se dessa forma menos disponível
para se ligar ao H +.

X⇒ Efeito eletrônico positivo ⇒diminui a acidez⇒principal-


mente em orto e para.
X⇒ Efeito eletrônico negativo ⇒aumenta a acidez⇒principal-
mente em orto e para

DOS PRINCÍPIOS DA EVOLUÇÃO BIOLÓGICA PARA ANA-


LISAR A HISTÓRIA HUMANA, POR MEIO DAS INTERA-
ÇÕES INTERMOLECULARES E ESTRUTURA DOS AMI-
NOÁCIDOS, PROTEÍNAS, DNA E RNA, VALORIZANDO E
RESPEITANDO A DIVERSIDADE ÉTNICA E CULTURAL
HUMANA

EVOLUÇÃO
Uma ideia bastante antiga, do tempo de Aristóteles, é a de que
os seres vivos podem surgir por geração espontânea (abiogêne-
se). Apesar de conhecer a importância da reprodução, admitia-se
que certos organismos vivos pudesse surgir espontaneamente da
matéria bruta. Observações do cotidiano mostravam, por exemplo,
2) Ácidos carboxílicos que larvas de moscas apareciam no meio do lixo e poças de lama
podiam exibir pequenos animais. A conclusão a que se chegava era
a de que o lixo e a lama haviam gerado diretamente os organismos.
Entretanto, reconhecia-se que nem toda matéria bruta podia
gerar vida. Assim, de um pedaço de ferro ou pedra não surgia vida;
mais de um pedaço de carne, uma porção de lama ou uma poça
d´agua eram capazes de gerar vida. Explicava-se esta capacidade de
gerar ou não vida entre os distintos materiais brutos alegando-se a
Quanto maior a cadeia de carbonos (R), menor é a acidez. necessidade de um “princípio ativo” que não esteja presente em
qualquer matéria bruta. O princípio ativo não era considerado algo
concreto, mas uma capacidade ou potencialidade de gerar vida.
Aos ideias a respeito da geração espontânea perduraram por
muito tempo, apesar da sua forma original ter evoluído aos poucos;
ainda nos meados do século passado, havia numerosos partidários
dessa teoria, definitivamente destruída pelos trabalhos de Pasteur.
Vamos descrever a partir de agora, alguns marcos na evolução
das ideias sobre geração espontânea.
3) Aminas Ordem decrescente de basicidade:
Aminas secundárias >Aminas primárias >Aminas terciárias Redi, Needhan e Spallanzani
>NH3>Aminas aromáticas.
Quanto maior o Kb mais forte é a base e menor é o pKb. Dime- Em meados do século XVII, Francesco Redi realizou uma ex-
tilamina Kb = 5,2.10- 4 Metilamina Kb = 4,4.10- 4 Trimetilamina Kb = periência que representou a primeira tentativa experimental com
0,62.10- 4 Amônia Kb = 1,8.10- 5 Fenilamina Kb = 3,8.10- 10 finalidade de derrubar geração espontânea. Redi coloca pedaços de
carne em dois grupos de frascos; um dos grupos permanece aberto,
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CONHECIMENTOS

enquanto o outro é recoberto por um pedaço de gaze. Sobre a car- Cerca de 25 anos depois, o italiano Lazaro Spallanzani repetiu
ne dos frascos abertos, após alguns dias, surgem larvas de moscas; as experiências de Needham. A diferença no seu procedimento foi a
nos frascos cobertos não aparecem larvas. Redi concluiu que a car- de ferver os líquidos durante uma hora, não se limitando a aquecê-
ne não gera as larvas; moscas adultas devem ter sido atraídas pelo -los; em seguida os tubos foram fechados hermeticamente. Líquidos
cheiro de material em decomposição e desovaram sobre a carne. assim tratados mantiveram-se estéreis, isto é, sem vida, indefini-
As larvas nasceram, portanto, dos ovos postos pelas moscas. Essa damente. Desta forma, Spallanzani demonstrava que os resultados
ideia é ainda reforçada pela observação dos frascos cobertos: sobre de Needham não comprovavam a geração espontânea: pelo fato
a gaze, do lado externo do frasco, algumas larvas apareceram. À de aquecer por pouco tempo, Needham não havia destruído todos
ideia de que os seres vivos se originam sempre de seres vivos cha- os micróbios existentes, dando-lhes a oportunidade de proliferar
mamos biogênese. novamente.

Needham, porém, responde às críticas de Spallanzani com ar-


gumentos aparentemente muito fortes:
“…Spallanzani… selou hermeticamente dezenove frascos que
continham diversas substâncias vegetais e ferveu-os, fechados, por
uma hora. Mas, pelo método de tratamento pelo qual ele torturou
suas dezenove infusões vegetais, fica claro que enfraqueceu muito
ou até destruiu a força vegetativa das substâncias em infusão…”
O aquecimento excessivo, segundo Needham, havia destruído
Apesar da repercussão das experiências de Redi, a ideia de ge- o princípio ativo; sem princípio ativo, nada de geração espontânea!
ração espontânea ainda não havia sido derrubada. Ironicamente, É interessante notar que o próprio Spallanzani não soube refutar
foram o uso crescente do microscópio e a descoberta dos micro- esses argumentos, ficando as ideias da abiogênese consolidadas.
-organismos os fatores que reforçaram a teoria da abiogênese: tais
seres pequeninos, argumentava-se, eram tão simples, que não era As experiências de Pasteur
concebível terem a capacidade de reprodução; como conclusão ób-
via, só podiam ser formados por geração espontânea. Por volta de 1860, O cientista francês Louis Pasteur conseguiu
Em 1745, um estudioso chamado John Needham realizou ex- derrubar definitivamente as ideias sobre geração espontânea da
perimento cujos resultados pareciam comprovar as ideias da abio- vida. Seus experimentos foram bem semelhantes aos de Spallan-
gênese. Nestes, vários caldos nutritivos, como sucos de frutas e zani, porém com alguns aperfeiçoamentos. Vejamos como Pasteur
extrato de galinha, foram colocados em tubos de ensaio, aquecidos descreve suas experiências.
durante um certo tempo e em seguida lacrados. A intenção de Nee-
dham, ao aquecer o caldo foi a de provocar a morte de organismos “Coloquei em frascos de vidro os seguintes líquidos, todos fa-
possivelmente existentes nestes; o fechamento dos frascos desti- cilmente alteráveis, em contato com o ar comum: suspensão de lê-
nava-se a impedir a contaminação por micróbios externos. Apesar vedo de cerveja em água, suspensão de lêvedo de cerveja em água
disso, os tubos de ensaio, passados alguns dias, estavam turvos e e açúcar, urina, suco de beterraba, água de pimenta. Aqueci e puxei
cheios de micro-organismos, o que parecia demonstrar a verdade o gargalo do frasco de maneira a dar-lhe curvatura; deixei o líquido
da geração espontânea. ferver durante vários minutos até que os vapores saíssem livremen-
te pela estreita abertura superior do gargalo, sem tomar nenhuma
outra precaução. Em seguida, deixei o frasco esfriar. É uma coisa
notável, capaz de assombrar qualquer pessoa acostumada com a
delicadeza das experiências relacionadas à assim chamada geração
espontânea, o fato de o líquido em tal frasco permanecer imutável
indefinidamente… Parecia que o ar comum, entrando com força du-
rante os primeiros momentos (do resfriamento), deveria penetrar
no frasco num estado de completa impureza. Isto é verdade, mas
ele encontra um líquido numa temperatura ainda próxima do ponto
de ebulição.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

A entrada do ar ocorre, então, mais vagarosamente e, quando De qualquer forma, essas ideias não são seriamente considera-
o líquido se resfriou suficientemente, a ponto de não mais ser capaz das pela maioria dos cientistas; para começo de conversa, o aqueci-
de tirar a vitalidade dos germes, a entrada do ar será suficientemen- mento de qualquer corpo que entrasse na atmosfera terrestre seria
te lenta, de maneira a deixar nas curvas úmidas do pescoço toda a de tal ordem, que destruiria qualquer forma de vida semelhante às
poeira (e germes) capaz de agir nas infusões… que conhecemos hoje. Por outro lado, aceitar que a vida apareceu
Depois de um ou vários meses no incubador, o pescoço do fras- “fora” da Terra somente “empurraria” o problema para diante, já
co foi removido por golpe dado de tal modo que nada, a não ser as que não esclareceria como a vida teria surgido fora daqui.
ferramentas, o tocasse, e depois de 24, 36 ou 48 horas, bolores se A terceira posição, a mais em voga hoje, aceita que a vida pode
tornavam visíveis, exatamente como no frasco aberto ou como se o ter surgido espontaneamente sobre o planeta Terra, através da
frasco tivesse sido inoculado com poeira do ar.” evolução química de substâncias não vivas. Não é fácil ou seguro
Com esta experiência engenhosa, Pasteur também demonstra- verificar eventos que ocorreram há bilhões de anos, quando nos-
va que o líquido não havia perdido pela fervura suas propriedades so planeta era muito diferente do que é hoje; no entanto, os cien-
de abrigar vida, como argumentaram alguns de seus opositores. tistas conseguiram reproduzir algumas das condições originais em
Além disso, não se podia alegar a ausência do ar, uma vez que este laboratório e descobriram muitas evidências geológicas, químicas
entrava e saía livremente (apenas e e biológicas que reforçam essa hipótese. Essa terceira posição foi
defendida pela primeira vez pelo cientista russo Oparin, em 1936,
stava sendo filtrado). como veremos nos itens a seguir.

Algumas pistas sobre o problema


Nos últimos 120 anos, várias ideias sobre a origem da Terra,
sua idade, as condições primitivas da atmosfera foram surgindo. Em
particular, verificou-se que os mesmos elementos que predominam
nos organismos vivos (carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio)
também existem fora deles; nos organismos vivos estes elementos
estão combinados de maneira a formar moléculas complexas, como
proteínas, polissacarídeos, lipídios e ácidos nucleicos. A diferença
básica, então, entre matéria viva e matéria bruta estaria sobretudo
ao nível da organização desses elementos. O químico Wöhler, em
1828, já havia fornecido a seguinte pista: substâncias “orgânicas”
ou complexas, como a ureia, podem ser formadas em condições
de laboratório a partir de substâncias simples, “inorgânicas”. Se as
condições adequadas surgiram da Terra, no passado, então a vida
A Evolução das Substâncias Químicas
poderia ter aparecido do inorgânico.
Uma simples análise das características que os seres vivos exi-
Três teorias sobre a origem da vida
bem hoje mostra, independentemente de sua forma ou tamanho,
Há três posições “filosóficas” em relação à origem da vida. A
a presença dos mesmos “tijolos” básicos em todos eles: açúcares
primeira relaciona-se aos mitos da “criação”, ideia criacionista, que
simples, os 20 tipos de aminoácidos, os 4 nucleotídeos de DNA e
afirmam que a vida foi criada por uma força suprema ou ser su-
os 4 de RNA, e os lipídios. Ora, depois da pista dada por Wöhler, a
perior; essa hipótese, evidentemente, foge ao campo de ação do
que nos referimos, os químicos descobriram que esses compostos
raciocínio científico, não podendo ser testada e nem refutada pelos
podem ser feitos em laboratório, se houver uma fonte de carbono,
métodos usados pela ciência.
de nitrogênio, e uma certa quantidade de energia disponível. Assim
Uma segunda posição, a panspermia, se refere à possibilidade
sendo, se as condições adequadas tivessem estado presentes, no
de a vida ter se originado fora do planeta Terra e ter sido “semeada”
passado da Terra, essas substâncias poderiam ter se formado sem
por pedaços de rochas, como meteoritos, que teriam trazido “espo-
grandes dificuldades.
ros” ou outras formas de vida alienígena. Esses teriam evoluído nas
Várias dessas ideias foram organizadas e apresentadas de for-
condições favoráveis da Terra, até originar a diversidade de seres
ma clara e coerente pelo bioquímico russo Aleksandr I. Oparin, em
vivos que conhecemos.
1936, no seu livro “A origem da vida.
Um dado interessante: chegam todos os anos, à superfície da
Terra, ao redor de mil toneladas de meteoritos. Em algumas dessas
As ideias de Oparin
rochas, foram encontradas substâncias orgânicas, como aminoáci-
Aleksandr Oparin (1894-1980) foi um bioquímico russo que re-
dos e bases nitrogenadas. Ficou bastante claro, a partir da década
tomou e aprofundou os estudos sobre a origem da vida, por volta
de 70, que a matéria orgânica é muito mais frequente no universo
de 1920, segundo a Teoria da evolução química, juntamente com o
do que se acreditava antigamente. Um eminente astrônomo inglês,
biólogo inglês John Burdon S. Haldane (1892-1964). Essa teoria foi
sir Fred Hoyle, defende a ideia de que material biológico, como ví-
proposta inicialmente por Thomas Huxley (1825-1895).
rus, poderia ter chegado do espaço; Hoyle chega a aceitar que isso
Nessa teoria, a vida teve origem a partir da evolução de com-
aconteceria ainda hoje e que de alguma forma esse material “ge-
postos químicos inorgânicos, que se combinaram formando diver-
nético” novo poderia ser incorporado aos organismos existentes,
sos tipos de moléculas orgânicas simples, como aminoácidos, car-
modificando assim sua evolução!
boidratos, bases nitrogenadas, etc., que por sua vez se combinaram

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

formando moléculas mais complexas como lipídios, ácidos nucléi-


cos, proteínas, que se agruparam formando estruturas complexas,
dando origem aos seres vivos.
Segundo Oparin, a Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos e no
início sua temperatura era muito elevada. O resfriamento e a solidi-
ficação da crosta ocorreram mais tarde, por volta de 2,5 bilhões de
anos. As temperaturas do planeta iam diminuindo gradativamente,
e com isso, a água que evaporava se condensava na atmosfera e
caía novamente, sob a forma de chuva, que evaporavam novamen-
te, pois as temperaturas ainda eram muito elevadas. Nessa época
aconteceram tempestades torrenciais todos os dias, durante mi-
lhões de anos.
Alguns cientistas acreditam que cerca de 1018 toneladas de
matéria foram agregadas ao planeta Terra através de colisões com
asteroides. Essas colisões provocavam um aumento na temperatu-
ra.
A atmosfera primitiva era composta por átomos de carbono,
hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, que se ligaram formando os com- Num certo lugar do aparelho, a mistura era submetida a des-
postos amônia (NH3), metano (CH4), hidrogênio (H2) e vapor de água cargas elétricas constantes, simulando os “raios” das tempestades
(H2O). Nessa época ainda não havia gás oxigênio (O2), nem nitrogê- que se acredita terem existido na época. Um pouco adiante, a mis-
nio (N2). tura era esfriada e, ocorrendo condensação, tornava-se novamente
Com o ciclo de chuvas e tempestades havia muitas descargas líquida. Ao fim da semana, a água do reservatório, analisada pelo
elétricas. Essas descargas atuavam sobre as moléculas, promoven- método da cromatografia, mostrou a presença de muitas moléculas
do ligações químicas e formando moléculas mais complexas, como orgânicas, entre as quais alguns aminoácidos.
os aminoácidos. Miller, com esta experiência, não provava que aminoácidos
Com o resfriamento da Terra, começou a formação de áreas realmente se formaram na atmosfera primitiva; apenas demonstra-
alagadas e exposição das rochas. Essas imensas áreas alagadas de- va que, caso as condições de Oparin tivessem se verificado, a sínte-
ram origem aos oceanos. A água da chuva arrastava os compostos se de aminoácidos teria sido perfeitamente possível.
para as rochas. O calor das rochas promoveu ligações químicas Fox, em 1957, realiza a seguinte experiência: aquece uma mis-
entre as moléculas presentes, originando proteinoides, cadeias de tura seca de aminoácidos e verifica que entre muitos deles acon-
aminoácidos, etc. tecem ligações peptídicas, formando-se moléculas semelhantes a
Essa moléculas, conforme a temperatura da terra ia diminuin- proteínas (lembre-se de que na ligação peptídica ocorre perda de
do, iam se tornando mais complexas e fazendo cada vez mais liga- água ou desidratação). Os resultados de Fox reforçam a seguinte
ções, transformando a água dos oceanos em grandes sopas orgâ- ideia: se, de fato, aminoácidos caíram sobre as rochas quentes, tra-
nicas. As proteínas formadas foram se aglomerando, até formar os zidos pela água da chuva, eles poderiam ter sofrido combinações
coacervados. formando moléculas maiores, os proteinoides, que acabariam sen-
Em algum momento dessa evolução, os coacervados evoluíram do carregadas aos mares em formação. Percebe-se que Fox tenta
e adquiriram a capacidade de se alimentar e reproduzir, dando ori- testar parte das ideias de Oparin, e seu ponto de partida foi, sem
gem a um ser vivo primitivo muito simples. dúvida, a experiência de Miller.
A química dos coloides explica e prevê a reunião de grandes
A comprovação experimental moléculas em certas condições, formando os agregados que cha-
O bioquímico Miller tentou reproduzir em laboratório algumas mamos coacervados.
das condições previstas por Oparin. Construiu um aparelho, que era É evidente, porém, que a última etapa da hipótese de Oparin
um sistema fechado, no qual fez circular durante 7 dias uma mistu- nunca poderá ser testada em laboratório; em outros termos,
ra de gases: metano, hidrogênio, amônia e vapor de água estavam para conseguirmos que um entre trilhões de coacervados se
presentes. Um reservatório de água aquecido à temperatura de transformasse, por acaso, em um ser vivo muito simples, teríamos
ebulição permitia a formação de mais vapor de água, que circulava de dispor de um laboratório tão grande quanto os mares primitivos,
arrastando os outros gases. que contivesse, portanto, um número infinitamente grande
de coacervados; além disso, teríamos de dispor de um tempo
infinitamente grande, que possibilitasse inúmeras colisões e
reações químicas que foram necessárias para se obter pelo menos
um sucesso.
Será que, devido à impossibilidade de teste experimental, de-
vemos repelir “a priori” esta fase? Podemos pelo menos pensar
nela em termos estatísticos. Vamos dar a palavra a um célebre bió-
logo, George Wald, que examinou minuciosamente o assunto.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Ideias recentes sobre a origem da vida mas. Isso permite explicar o eventual surgimento e duplicação dos
Acredita-se hoje que, provavelmente, a composição da atmos- ácidos nucleicos, mesmo na ausência das sofisticadas polimerases
fera primitiva foi diferente do que acreditava Oparin; ela teria con- que atuam hoje.
tido CO, CO2, H2, N2 e vapor de água (não haveria, portanto, metano O DNA deve ter sido um estágio mais avançado na confecção
nem amônia; as fontes de carbono seriam o CO e o CO2, enquanto a de um material genético estável; evidentemente, os primeiros DNA
de nitrogênio seria o N2). Vapor de água e de gás carbônico teriam teriam sido feitos a partir de um molde de RNA original. Isso lem-
sido produzidos pela intensa atividade vulcânica. Mesmo assim, bra bastante, você vai concordar, o modo de atuação do retrovírus,
isso não invalida experimentos do tipo “Miller”. Na realidade, foram como o da AIDS!
feitas desde então muitas variantes dessa experiência, modifican- De qualquer forma, esses “genes nus”, isto é, envolvidos por
do-se os gases utilizados e colocando-se algumas substâncias mine- nada, mas livres na argila ou na água, podem ter num período pos-
rais; os cientistas chegaram a obter mais de 100 tipos de “tijolos” terior “fixado residência” numa estrutura maior, como um coacer-
orgânicos simples, incluindo nucleotídeos e ATP. vado ou uma microesfera…
Um dos problemas ainda mais perturbadores nessa história
O poder da argila toda, relaciona-se ao surgimento do CÓDIGO GENÉTICO. Em outras
Algumas teorias recentes dão conta de que os longos políme- palavras, o aparecimento de proteínas ou de moléculas de ácidos
ros, como proteinoides e fitas de ácidos nucleicos, podem ter se for- nucleicos com a capacidade de duplicação, nas condições postu-
mado, como alternativa às rochas quentes da crosta, em “moldes” ladas, pode ser imaginado sem muita dificuldade, mas permane-
de argila. De fato, para ocorrer polimerização, deve haver uma alta ce extremamente misterioso o método pelo qual as moléculas de
concentração das unidades constituintes; na argila, essa concentra- ácidos nucleicos teriam tomado conta do controle da produção de
ção pode ter sido alta. Além disso, a argila pode ter agido como “ca- proteínas específicas, que tivessem um valor biológico e de sobre-
talisadora” e promovido o aparecimento de ligações simples, como vivência. Quem sabe o tempo se encarregará de nos fornece novas
as peptídicas, com perda de água. Alguns biólogos acreditam ainda evidências…
que a argila foi o meio em que se formaram moléculas RNA, a partir
de nucleotídeos simples. A energia para essa polimerização poderia Os primeiros organismos: autótrofos ou heterótrofos?
ter sido proveniente do calor da crosta; ou do calor do sol, ou ainda Para entender claramente esta discussão, é útil recordar as
da radiação ultravioleta. equações de três processos biológicos básicos, fermentação, respi-
ração e fotossíntese, que reproduzimos a seguir.
Coacervados ou microesferas? Existem duas hipóteses sobre a origem da vida: a hipótese au-
Há mais de um modelo, além da ideia de coacervados, para totrófica, que propõe que o primeiro ser vivo foi capaz de sintetizar
explicar como moléculas grandes, tipo proteinoides, teriam se agre- seu próprio alimento orgânico, possivelmente por fotossíntese, e
gado na água, formando estruturas maiores. O pesquisador Fox, co- a hipótese heterotrófica, que prevê que os primeiros organismos
locando proteinoides em água, obteve a formação de pequeninas se nutriam de material orgânico já pronto, que retiravam de seu
esferas. meio. A maioria dos biólogos atuais acha a hipótese autotrófica
Bilhões de microesferas podem ser obtidas a partir da mistura pouco aceitável devido a um fato simples: para a realização da fo-
de um grama de aminoácidos aquecidos, algumas delas formando tossíntese, uma célula deve dispor de um equipamento bioquímico
cadeias, de forma muito semelhante a algumas bactérias atuais. mais sofisticado do que o equipamento de um heterótrofo. Como
Cada microesfera tem uma camada externa de moléculas de água admitir que o primeiro ser vivo, produzido através de reações quí-
e proteínas e um meio interno aquoso, que mostra algum movi- micas casuais, já possuísse esse grau de sofisticação? É claro que
mento, semelhante à ciclose. Essas microesferas podem absorver o primeiro ser vivo poderia ter surgido complexo; porém é muito
e concentrar outras moléculas existentes na solução ao seu redor. menos provável que isso tenha acontecido.
Podem também se fundir entre si, formando estruturas maiores; Por outro lado, se o primeiro organismo era heterótrofo, o que
em algumas condições, aparecem na superfície “brotos” minúscu- ele comeria? Hoje os heterótrofos dependem, para sua nutrição,
los que podem se destacar e crescer. direta ou indiretamente, dos autótrofos autossintetizantes. No en-
tanto não se esqueça de que, de acordo com a hipótese de Oparin,
Como apareceu o gene? o primeiro organismo surgiu num mar repleto de coacervados orgâ-
Uma coisa que é importante entender: na hipótese original de nicos, que não haviam chegado ao nível de complexidade adequa-
Oparin, não há referência aos ácidos nucleicos; não se sabia na épo- da. Esses coacervados representam então uma fonte abundante de
ca que eles constituem os genes. Muita gente então acreditava que alimento para nosso primeiro organismo, que passaria a comer seus
os genes fossem de natureza proteica; afinal, havia sido demons- “irmãos” menos bem sucedidos.
trada a enorme importância das proteínas como enzimas, material Admitamos um primeiro organismo heterótrofo, para o qual
construtor e anticorpos. Dá para entender, por isso, a ênfase que alimento não era problema. Pode-se obter energia do alimento
Oparin dá ao aparecimento da proteína. No entanto a hipótese ori- através de dois processos: a respiração que depende de O2 molecu-
ginal foi readaptada quando ficou patente a identidade entre genes lar, inexistente na época, e a fermentação, processo mais simples,
e ácidos nucleicos. cuja realização dispensa a presença de oxigênio.
Acredita-se hoje que a primeira molécula informacional tenha Estabeleçamos, a título de hipótese mais provável, que o pri-
sido o RNA, e não o DNA. Foi feita a interessantíssima descoberta meiro organismo deva ter sido um heterótrofo fermentador. A
de que certos “pedaços” de RNA têm uma atividade catalítica: eles abundância inicial de alimento permite que os primeiros organis-
permitem a produção, a partir de um molde de RNA e de nucleotí- mos se reproduzam com rapidez; não se esqueça também de que
deos, de outras fitas de RNA idênticas ao molde! A esses pedaços
de RNA com atividade “enzimática”, os biólogos chamam de ribozi-
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

todos os mecanismos da evolução biológica, como a mutação e se- Assim, a membrana ideal deveria ser resistente, com um certo
leção natural, estão atuando, adaptando os organismos e permitin- grau de elasticidade, sem deixar de ser suficientemente permeável.
do o aparecimento de características divergentes. Num certo estágio da evolução dos seres vivos, apareceu a mem-
brana lipoproteica, que reúne todos esses atributos e certamente
Surge a fotossíntese foi um sucesso total, já que todos os seres vivos atuais de estrutura
A velocidade de consumo do alimento, no entanto, cresce con- celular a possuem.
tinuamente, já que o número de organismos aumenta; a reposição Nesse estágio, pode-se falar em organismos procariontes, mui-
desse alimento orgânico através das reações químicas que descre- to semelhantes às mais simples bactérias atuais.
vemos é obviamente muito mais lenta que o seu consumo. Perceba
que, se não surgissem por evolução os autótrofos, a vida poderia Procariontes originam eucariontes
ter chegado num beco sem saída por falta de alimento. Uma membrana traz, entretanto, alguns problemas adicionais:
Em algum momento anterior ao esgotamento total do alimento ela se constitui, de certa forma, num obstáculo para o crescimen-
nos mares, devem ter aparecido os primeiros organismos capazes to da estrutura viva. Vamos explicar: à medida que a célula cresce,
de realizar fotossíntese; possivelmente usaram como matéria prima seu volume aumenta, assim como a superfície de sua membrana;
o CO2 residual dos processos de fermentação. Sua capacidade de porém a superfície cresce MENOS proporcionalmente, do que o vo-
produzir alimento fechava o ciclo produtor/consumidor e permitia lume. Desse modo, a célula MAIOR se alimenta PIOR. A única forma
o prosseguimento da vida. de restabelecer a relação favorável entre superfície e volume é a
divisão da célula, que, assim, nunca pode passar de um certo ta-
Surge a respiração manho.
Um resíduo do processo fotossintético é o oxigênio molecular; Portanto o volume dos primeiros organismos é limitado, já que
por evolução devem ter surgido mais tarde os organismos capazes a partir de um certo tamanho tem de acontecer divisão celular. Ro-
de respirar aerobiamente, que utilizaram o O2 acumulado durante bertson propõe que, por evolução biológica, alguns organismos de-
milhões de anos pelos primeiros autótrofos. vem ter adquirido a capacidade genética de dobrar sua membrana
para fora (evaginação). Dessa forma, sem mudanças apreciáveis de
Fermentação (alcoólica): glicose → álcool etílico + CO2 + energia
volume, aumentaria a superfície em contado como meio. Perceba
Respiração: glicose + O2 → CO2 + H2O + energia que na proposta de Robertson fica implícita a ideia de que todos os
Fotossíntese: CO2 + H2O + luz → (clorofila) → glicose + O2 orgânulos celulares membranosos tiveram a mesma origem; mem-
branas nucleares, do retículo, do Golgi e plasmática nada mais se-
riam do que dobramentos de uma primitiva membrana.
Na célula atual, de fato, verificam-se dois fatos que apoiam for-
temente as ideias de Robertson:
Há comunicação entre todas as membranas celulares, que se
A respiração, não se esqueça, permite extrair do alimento apresentam formando um sistema membranoso único.
maior quantidade de energia do que a fermentação. Seguramente Todas as membranas celulares têm a mesma composição e são
o modo de vida “respirador” representa, na maioria dos casos, uma lipoproteicas.
grande vantagem sobre o método “fermentador”; não devemos es- Assim teriam aparecido, muito provavelmente, as primeiras cé-
tranhar que a maioria dos organismos atuais respire, apesar de ter lulas eucarióticas, que, em alguns casos, levaram vantagem quando
conservado a capacidade de fermentar. competiam com os procariontes. Apesar disso, os procariontes con-
Lembre-se, ainda, de que a presença de oxigênio molecular tinuaram existindo: são, como sabemos, as inúmeras espécies de
na atmosfera acaba permitindo o aparecimento na atmosfera da bactérias e as cianofíceas atuais.
camada de ozônio, que permite a filtração de grande parte da ra-
diação ultravioleta emitida pelo sol. Essa radiação é fortemente
mutagênica; porém os organismos aquáticos estariam parcialmente
protegidos, já que a água funciona como um filtro para ela. De qual-
quer maneira, o aparecimento do ozônio prepara o terreno para
uma futura conquista do ambiente seco, caso alguns organismo um
dia se aventurem a fazer experiência.

Aparece a membrana celular


É muito provável que os primeiros organismos tenham sido
mais complexos do que os vírus atuais, porém mais simples do que
as células mais simples que se conhecem.
Um citologista chamado Robertson acredita que, por evolução,
os organismos iniciais devam ter “experimentado” vários tipos de
membranas. A vantagem de uma membrana envolvente é clara:
ela fornece proteção contra choques mecânicos e, portanto, maior
estabilidade à estrutura; porém ela representa uma barreira entre
o organismo e o alimento a seu redor, o que é uma desvantagem.

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CONHECIMENTOS

A origem de algumas organelas celulares


Uma teoria muito em voga atualmente a respeito da origem
das organelas celulares é a endossimbiose. Trata-se da seguinte
ideia: alguns organismos procariontes teriam sido “engolidos” por
células maiores de eucariontes, ficando no interior da célula, mas
com capacidade de reprodução independente e realizando deter-
minadas funções. Acredita-se que mitocôndrias e cloroplastos pos-
sam ter se originado dessa forma. As mitocôndrias podem ter sido
um dia bactérias independentes; os cloroplastos, talvez cianofíceas
ou baterias fotossintetizantes.

Visão aristotélica de que as espécies eram fixas e imutáveis

Entretanto, partir do século XIX, uma série de pensadores pas-


sou a admitir a ideia da substituição gradual de espécies por ou-
Os argumentos a favor dessa ideia são muito fortes: cloroplas- tras através de adaptações a ambientes em contínuo processo de
tos e mitocôndrias possuem material genético próprio, semelhan- mudança. Essa corrente de pensamento, transformista, explicava a
te ao DNA de bactéria. Esse DNA tem capacidade de duplicação, adaptação como um processo dinâmico, ao contrário do que propu-
de transcrição; ribossomos existentes no interior desses orgânulos nham os fixistas. Para o transformismo, a adaptação das espécies é
produzem também proteínas próprias. Por fim, ambos os orgânulos alcançada a medida que muda o meio. Nessa concepção, os serres
têm a capacidade de se reproduzir no interior da célula “hospedei- mais adaptados ao ambiente em mudança sobrevivem, já os menos
ra”. adaptados são eliminados. Essa ideia deu origem ao evolucionismo.
Uma “troca de favores” poderia ter se estabelecido entre a cé-
lula maior e a menor. No caso da mitocôndria, que teria obtido pro-
teção e alimento, sua presença teria permitido que a célula maior
aprendesse a RESPIRAR oxigênio, com todas as vantagens ineren-
tes. A simbiose com um procarionte fotossintetizante faria que os
eucariontes hospedeiros tivessem síntese de alimento “em domicí-
lio”, obviamente um processo muito vantajoso.

A Evolução Biológica

Atualmente os seres vivos estão adaptados ao meio em que


vivem, isto é, entre os seres vivos e o ambiente há um ajuste com
papel fundamental para a sua sobrevivência. O flamingo rosa se
alimenta de cabeça para baixo, adaptando-se à procura de alimen-
to no lodo em que vive; os cactos suportam o meio desértico seco
graças às adaptações nele existentes; os beija-flores, com seus
longos bicos, estão adaptados à coleta do néctar contido nas flo-
res tubulosas que visitam. Esses e numerosos outros exemplos são
reveladores da perfeita sintonia que existe entre os seres e os seus
ambientes de vida.
Antigamente, a ideia de que as espécies seriam fixas e imutá-
veis foi defendida pelos filósofos gregos chamados de fixistas. Estes
Evolução biológica é a adaptação das espécies a meios con-
propunham que as espécies vivas já existiam desde a origem do
tinuamente em mudança. Entretanto, essa mudança das espécies
planeta e a extinção de muitas delas deveu-se a eventos especiais
nem sempre implica aperfeiçoamento ou melhora, podendo acar-
como, por exemplo, catástrofes, que teriam exterminado grupos in-
retar, em alguns casos a uma simplificação. É o caso das tênias, ver-
teiros de seres vivos. O filósofo grego Aristóteles, grande estudioso
mes achatados parasitas: embora nelas não exista tubo digestivo,
da natureza, não admitia a ocorrência de transformação das espé-
estão perfeitamente adaptadas ao parasitismo no tubo digestivo do
cies, pois acreditava que os organismos eram distribuídos segundo
homem e de muitos outros vertebrados.
uma escala de complexidade, em que cada ser vivo tinha seu lugar
definido.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Adaptação: a espécie em mudança Lamarck x Darwin


Dentre os exemplos que ilustram a adaptação das espécies às
mudanças do meio, três se destacam por seu caráter clássico: A partir do século XIX, surgiram algumas tentativas de expli-
a) a resistência de bactérias aos antibióticos; cação para a Evolução biológica. Jean Baptiste Lamarck, francês, e
b) a coloração protetora das mariposas da espécie Biston be- Charles Darwin, inglês, foram os que mais coerentemente elabora-
tularia. ram teorias sobre o mecanismo evolutivo. Foi Darwin, no entanto,
o autor do monumental trabalho científico que revolucionou a Bio-
a) A resistência de bactérias aos antibióticos logia e que até hoje persiste como a Teoria da Seleção Natural das
O problema da resistência bacteriana a antibióticos caracteriza espécies.
um caso de adaptação de um grupo de organismos frente a mudan-
ças ambientais. À medida que antibióticos são inadequadamente
utilizados no combate a infecções causadas por bactérias, o que na
realidade se está fazendo é uma seleção de indivíduos resistentes
a determinado antibiótico. Sendo favorecidos, os indivíduos resis-
tentes, pouco abundantes de início, proliferam, aumentando nova-
mente a população de micro-organismos.

b) A coloração protetora das mariposas


Em meados do século passado, a população de certo tipo de
mariposa nos arredores de Londres era constituída predominante-
mente por indivíduos de asas claras, embora entre elas se encon-
trassem algumas de asas escuras. A explicação para esse fato fica
lógica se lembrarmos que nessa época os troncos das árvores eram A Teoria De Darwin
recobertos por certo tipo de vegetais, os líquenes, que conferiam- A partir da ideia de adaptação de populações a seus ambientes,
-lhes uma cor acinzentada. Na medida em que a industrialização fica fácil entender as propostas de Charles Darwin (1809-1882), in-
provocou aumento de resíduos poluentes gasosos, os troncos das glês, autor da teoria da Seleção Natural. Imaginando-se dois ratos,
árvores passaram a ficar escurecidos, como consequência da morte um cinzento e outro albino, é provável que em muitos tipos de am-
dos líquenes e do excesso de fuligem. Nessa região, passou a haver bientes o cinzento leve vantagem sobre o albino. Se isto realmente
predominância de mariposas de asas escuras, o que denota outro acontecer, é sinal de que o ambiente em questão favorece a sobre-
caso de adaptação de um grupo de indivíduos frente a uma mudan- vivência de indivíduos cinzentos ao permitir que, por exemplo, eles
ça ambiental. Procure entender a semelhança existente entre esses fiquem camuflados entre as folhagens de uma mata. Os albinos,
dois exemplos de adaptação e o exemplo da resistência de insetos sendo mais visíveis, são mais atacados por predadores. Com o tem-
a inseticidas. po, a população de ratos cinzentos, menos visada pelos atacantes,
começa a aumentar, o que denota seu sucesso. É como se o am-
biente tivesse escolhido, dentre os ratos, aqueles que dispunham
de mais recursos para enfrentar os problemas oferecidos pelo meio.
A esse processo de escolha, Darwin chamou Seleção Natural. Note
que a escolha pressupõe a existência de uma variabilidade entre
organismos da mesma espécie. Darwin reconhecia a existência des-
sa variabilidade. Sabia também que na natureza, a quantidade de
indivíduos de certa espécie que nascem é maior que aquela que o
ambiente pode suportar. Além disso, era conhecido o fato de que o
As evidências da evolução número de indivíduos da população fica sempre em torno de uma
Durante a fase polêmica da discussão evolucionista, muitos ar- certa quantidade ótima, estável, devido, principalmente, a altas ta-
gumentos foram utilizados. Uma das evidências mais importantes xas de mortalidade.
da ocorrência de Evolução biológica é dada pelos fósseis, que po- É óbvio que a mortalidade seria maior entre indivíduos menos
dem ser conceituados como “restos ou vestígios de seres vivos de adaptados a seu meio, pelo processo de escolha ou “seleção
épocas remotas”. Por meio deles, verifica-se que havia organismos natural”. Perceba, então, que a ideia de Darwin parte do princípio
completamente diferentes dos atuais, argumento poderoso para os importante de que existe variabilidade entre os indivíduos de
defensores do transformismo. Outras evidências evolutivas podem uma mesma espécie e que essa variabilidade pode permitir que
ser citadas: a semelhança embriológica e anatômica existente entre indivíduos se adaptem ao ambiente.
os componentes de alguns grupos animais, notadamente os verte- Assim, para Darwin, a adaptação é resultado de um processo
brados; a existência de estruturas vestigiais, como, por exemplo, o de escolha dos que já possuem a adaptação. Essa escolha, efetuada
apêndice vermiforme humano, desprovido de função quando com- pelo meio, é a Seleção Natural e pressupõe a existência prévia de
parado aos apêndices funcionais de outros vertebrados. Moderna- uma diversidade específica. Então, muda o meio. Havendo o que
mente, dá-se muito valor à semelhança bioquímica existente entre escolher (variabilidade), a seleção natural entra em ação e promove
diferentes animais. É o caso de certas proteínas componentes do a adaptação da espécie ao meio. Quem não se adapta, desaparece.
sangue do homem e dos macacos.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

O Darwinismo, a conhecida teoria da “Evolução Biológica por na deve ser formada por dois tipos de indivíduos: os sensíveis e os
adaptação das espécies aos meios em mudança através da Seleção resistentes. O uso inadequado de um antibiótico deve eliminar as
Natural”, pode ser assim esquematizado: bactérias sensíveis, favorecendo as resistentes, que são seleciona-
das. As bactérias resistentes proliferam e promovem a adaptação
da espécie ao ambiente modificado. Qualquer outro problema de
adaptação das espécies a ambientes em modificação pode ser ex-
plicado utilizando-se o raciocínio neodarwinista.

A Ideia De Lamarck
Um dos primeiros adeptos do transformismo foi o biólogo fran-
cês Lamarck, que, como você verá, elaborou uma teoria da Evolu-
ção, embora totalmente desprovida de fundamento científico.
No mesmo ano em que nascia Darwin, Jean Baptiste Lamarck
(1744-1829) propunha uma ideia elaborada e lógica. Segundo ele,
uma grande mudança no ambiente provocaria numa espécie a ne-
cessidade de se modificar, o que a levaria a mudanças de hábitos.
Se o vento e as águas podem esculpir uma rocha, modificando
consideravelmente sua forma, será que os seres vivos não pode-
riam ser também moldados pelo ambiente? Teria o ambiente o po-
É claro que, em ambientes diferentes, variações distintas der de provocar modificações adaptativas nos seres vivos?
serão valorizadas. Isso explica por que duas populações da mesma Lamarck acreditava que sim. Considerava, por exemplo, que
espécie podem se adaptar de maneiras bastante diversificadas em mudanças das circunstâncias do ambiente de um animal provoca-
ambientes diferentes. riam modificações suas necessidades, fazendo que ele passasse a
adotar novos hábitos de vida para satisfazê-las. Com isso o animal
passaria a utilizar mais frequentemente certas partes do corpo, que
cresceriam e se desenvolveriam, enquanto outras partes não se-
riam solicitadas, ficando mais reduzidas, até se atrofiarem. Assim,
o ambiente seria o responsável direto pelas modificações nos seres
vivos, que transmitiriam essas mudanças aos seus descendentes,
produzindo um aperfeiçoamento da espécie ao longo das gerações.
Com base nessa premissa, postulou duas leis. A primeira, cha-
mada Lei do Uso e Desuso, afirmava que, se para viver em determi-
nado ambiente fosse necessário certo órgão, os seres vivos dessa
espécie tenderiam a valorizá-lo cada vez mais, utilizando-o com
maior frequência, o que o levaria a hipertrofiar. Ao contrário, o não
uso de determinado órgão levaria à sua atrofia e desaparecimento
completo ao longo de algum tempo.
A segunda lei, Lamarck chamou de Lei da Herança dos Caracte-
res Adquiridos. Através dela postulou que qualquer aquisição bené-
fica durante a vida dos seres vivos seria transmitida aos descenden-
tes, que passariam a tê-la, transmitindo-a, por sua vez, às gerações
seguintes, até que ocorresse sua estabilização.
A partir dessas suas leis, Lamarck formulou sua teoria da evo-
Neodarwinismo
lução, apoiado apenas em alguns exemplos que observara na natu-
O trabalho de Darwin despertou muita atenção, mas também
reza. Por exemplo, as membranas existentes entre os dedos dos pés
suscitou críticas. A principal era relativa à origem da variabilidade
das aves nadadoras, ele as explicava como decorrentes da neces-
existente entre os organismos de uma espécie. Darwin não teve re-
sidade que elas tinham de nadar. Cornos e chifres teriam surgindo
cursos para entender por que os seres vivos apresentam diferenças
como consequência das cabeçadas que os animais davam em suas
individuais. Não chegou sequer a ter conhecimento dos trabalhos
brigas. A forma do corpo de uma planta de deserto seria explicada
que um monge chamado Mendel realizava, cruzando plantas de er-
pela necessidade de economizar água.
vilha. O problema só foi resolvido a partir do início do século XX,
com o advento da ideia de gene. E só então ficou fácil entender que
Por que não podemos aceitar as teses de Lamarck?
mutações e recombinação gênica são as duas importantes fontes
Na verdade não podemos simplesmente achar erradas as
de variabilidade entre as espécies. Assim, o darwinismo foi com-
ideias de Lamarck sem dizer exatamente o porquê do erro. É
plementado, surgindo o que os evolucionistas modernos conhe-
preciso saber criticá-las com argumentos que evidenciam o erro
cem como Neodarwinismo ou Teoria Sintética da Evolução e que se
nelas contido. Assim, pode-se dizer que a lei do uso e desuso só
apoia nas ideias básicas de Darwin.
será válida se a alteração que ela propõe estiver relacionada a
Fica fácil entender, agora, o mecanismo da resistência bacteria-
alterações em órgãos de natureza muscular e, ainda, alterações
na aos antibióticos usados para o seu combate. Partindo do princí-
que não envolvam mudanças no material genético do indivíduo. A
pio da existência prévia de variabilidade, uma população bacteria-
cauda de um macaco sul-americano não cresceu porque o animal
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103
a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

manifestou o desejo de se prender aos galhos de uma árvore. Podemos dividir a especiação em três tipos, que serão explica-
Tal mudança deveria envolver antes uma alteração nos genes dos a seguir:
encarregados da confecção da cauda. 1. Especiação alopátrica;
Com relação à lei da transmissão das características adquiridas, 2. Especiação simpátrica;
é preciso deixar bem claro que eventos que ocorrem durante a vida 3. Especiação parapátrica.
de um organismo, alterando alguma sua característica, não podem
ser transmissíveis à geração seguinte. O que uma geração transmi- 1. Especiação alopátrica
te à outra são genes. E os genes transmissíveis já existem em um A especiação alopátrica ocorre quando duas espécies são se-
indivíduo desde o momento em que ele foi um zigoto. E, fatos que paradas por um isolamento geográfico. O isolamento pode ocorrer
ocorram durante sua vida não influenciarão exatamente aqueles devido à grande distância ou uma barreira física, como um deser-
genes que ele deseja que sejam alterados. to, rio ou montanha. A especiação bem-sucedida é vista na figura
Lamarck e Darwin frente a frente: o tamanho do pescoço das abaixo. Os tentilhões observados por Darwin é um exemplo dessa
girafas: especiação na qual ele observou que, nas ilhas Galápagos, eles se
diferenciavam pelo tipo de bico. Além disso, seria uma forma de
adaptação à dieta alimentar de cada uma das 14 espécies.

Exemplo de especiação alopátrica (Foto: USP)

2. Especiação simpátrica
A especiação simpátrica diferencia-se da alopátrica pela ausên-
cia da separação geográfica. Nessa especiação, duas populações de
uma mesma espécie vivem na mesma área, mas não há cruzamento
A Especiação entre as mesmas, resultando em diferenças que levarão à especia-
ção, ou seja, a uma nova espécie. Isso pode ocorrer pelo fato dos
Especiação é o nome dado ao processo de surgimento de novas indivíduos explorarem outros nichos, como insetos herbívoros que
espécies a partir de uma espécie ancestral. De modo geral, para que experimentam uma nova planta hospedeira.
isso ocorra é imprescindível que grupos da espécie original se sepa-
rem e deixem de se cruzar. Essa separação constitui o isolamento
geográfico e pode ocorrer por migração de grupos de organismos
para locais diferentes e distantes, ou pelo surgimento súbito de bar-
reiras naturais intransponíveis, como rios, vales, montanhas, etc.,
que impeçam o encontro dos componentes da espécie original. O
isolamento geográfico, então, é a separação física de organismos
da mesma espécie por barreiras geográficas intransponíveis e que
impedem o seu encontro e cruzamento.
A mudança de ambiente favorece a ação da seleção natural,
o que pode levar a uma mudança inicial de composição dos gru-
pos. A ocorrência de mutações casuais do material genético ao
longo do tempo leva a um aumento da variabilidade e permite a
continuidade da atuação da seleção natural. Se após certo tempo Moscas que vivem no mesmo local, mas se alimentam de
de isolamento geográfico os descendentes dos grupos originais frutos diferentes. (Foto: USP)
voltarem a se encontrar, pode não haver mais a possibilidade de
reprodução entre eles. Nesse caso, eles constituem novas espécies. 3. Especiação parapátrica
Isso pode ser evidenciado através da observação de diferenças no A especiação parapátrica ocorre em duas populações da mes-
comportamento reprodutor, da incompatibilidade na estrutura e ma espécie que também não possuem nenhuma barreira física, mas
tamanho dos órgãos reprodutores, da inexistência de descendentes sim uma barreira ao fluxo gênico (migração de genes) entre as es-
ou, ainda, da esterilidade dos descendentes, no caso de eles existi- pécies. É uma população contínua, mas que não se cruza aleatoria-
rem. Acontecendo alguma dessas possibilidades, as novas espécies mente, caso tenha o intercruzamento, o resultado são descenden-
assim formadas estarão em isolamento reprodutivo, confirmando, tes híbridos. Um exemplo dessa especiação é o caso das gramíneas
desse modo, o sucesso do processo de especiação. Anthoxanthum, que se diferenciou por certas espécies estarem fixa-
das em um substrato contaminado com metais pesados.
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CONHECIMENTOS

Dessa forma, houve a seleção natural para esses indivíduos, Convergência adaptativa
que foram se adaptando para genótipos tolerantes a esses metais Processo que é resultante da adaptação de grupos de orga-
pesados. Ao longo prazo, essas espécies foram adquirindo caracte- nismos de espécies diferentes a um mesmo hábitat. Por estarem
rísticas diferentes, como a mudança de floração impossibilitando o adaptados ao mesmo hábitat, possuem semelhanças em relação
cruzamento, acabando com o fluxo gênico entre esses grupos. à organização de corpo sem necessariamente possuírem grau de
parentesco.
Estes organismos, por viverem num mesmo tipo de ambiente
e estarem adaptados ao mesmo, possuem estruturas que apresen-
tam a mesma função que são chamadas órgãos análogos, como,
por exemplo as asas de um morcego e as patas de um leão.

Espécie de gramínea à esquerda em um solo não contaminado


e à direita, contaminada por metais pesados (Foto: USP)

Irradiação Adaptativa

Há muitos indícios de que a evolução dos grandes grupos de


seres vivos foi possível a partir de um grupo ancestral cujos com-
ponentes, através do processo de especiação, possibilitaram o sur-
gimento de espécies relacionadas. Assim, a partir de uma espécie
inicial, pequenos grupos iniciaram a conquista de novos ambien-
tes, sofrendo uma adaptação que lhes possibilitou a sobrevivência São semelhantes pela função e não por terem uma mesma ori-
nesses meios. Desse modo teriam surgido novas espécies que em gem embrionária ou pelos organismos possuírem ancestral comum.
muitas características apresentavam semelhanças com espécies
relacionadas e com a ancestral. Esse fenômeno evolutivo é conhe- Homologia e analogia
cido como Irradiação Adaptativa, e um dos melhores exemplos Agora que sabemos o que é irradiação adaptativa e convergên-
corresponde aos pássaros fringilídeos de Galápagos estudados por cia adaptativa, fica fácil entender o significado dos termos homolo-
Darwin. Originários do continente sul-americano, irradiaram-se gia e analogia. Ambos utilizados para comparar órgãos ou estruturas
para diversas ilhas do arquipélago, cada grupo adaptando-se às existentes nos seres vivos. Por homologia entende-se semelhança
condições peculiares de cada ilha e, consequentemente, originando entre estruturas de diferentes organismos, unicamente a uma mes-
as diferentes espécies hoje lá existentes. ma origem embriológica. As estruturas homológicas podem exercer
Para que a irradiação possa ocorrer, é necessário em primeiro ou não a mesma função.
lugar que os organismos já possuam em seu equipamento genético O braço do homem, a pata do cavalo, a asa do morcego e a
as condições necessárias para a ocupação do novo meio. Este, por nadadeira da baleia são estruturas homológicas entre si, pois todas
sua vez, constitui-se num segundo fator importante, já que a sele- têm a mesma origem embriológica. Nesses casos, não há similari-
ção natural adaptará a composição do grupo ao meio de vida. dade funcional.
Ao analisar, entretanto, a asa do morcego e a asa da ave, veri-
fica-se que ambas têm a mesma origem embriológica e estão ainda
associadas a mesma função.
A analogia refere-se à semelhança morfológica entre estrutu-
ras, em função de adaptação à execução da mesma função.
As asas dos insetos e das aves são estruturas diferentes quanto
à origem embriológica, mas ambas estão adaptadas à execução de
uma mesma função: o voo. São estruturas análoga

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CONHECIMENTOS

endocranial do cérebro do indivíduo. Apesar do cérebro ser peque-


no (410 cm3), seu formato era redondo, diferentemente daqueles
dos chimpanzés e gorilas, sendo mais semelhante ao cérebro do
homem moderno. Além disso, o espécime exibia dentes caninos
pequenos e a posição do foramen magnum foi uma evidência da
locomoção bípede. Todos esses traços convenceram Dart de que o
“bebê de Taung” era um ancestral humano bípede, uma forma tran-
sitória entre “macacos” e humanos. Mais 20 anos passariam até
que as reinvindicações de Dart fossem levadas em consideração,
seguindo a descoberta de mais fósseis que lembravam o achado de
Dart. A visão prevalente naquele tempo era a de que um cérebro
grande se desenvolveu antes da locomoção bípede.
Pensava-se que a inteligência presente nos humanos modernos
fosse um pré-requisito para o bipedalismo.
Os Australopithcineos são agora vistos como os ancestrais
7
EVOLUÇÃO HUMANA imediatos do gênero Homo, o grupo ao qual os homens modernos
A Evolução Humana é o processo de mudança e desenvolvimento, pertencem. Tanto os Australopithecines quanto o Homo pertencem
ou evolução, pelo qual os seres humanos emergiram como uma à família Hominidae, mas dados recentes têm levado a questionar
espécie distinta. É tema de um amplo questionamento científico que a posição do A. africanus como um ancestral direto dos humanos
busca entender e descrever como a mudança e o desenvolvimento modernos; ele pode muito bem ter sido um primo mais distante.
acontecem. O estudo da evolução humana engloba muitas áreas Os Australopithecines foram originalmente classificados em
da ciência, como a Psicologia Evolucionista, a Biologia Evolutiva, a dois tipos: gráceis e robustos. A variedade robusta de Australopi-
Genética e a Antropologia Física. O termo “humano”, no contexto thecus tem, desde então, sido reclassificada como Paranthropus.
da evolução humana, refere-se ao gênero Homo. Mas, os estu- Na década de 1930, quando os espécimes robustos foram descritos
dos da evolução humana usualmente incluem outros hominídeos, pela primeira vez, o gênero Paranthropus foi utilizado.
como os Australopithecus. Durante a década de 1960, a variedade robusta foi transforma-
da em Australopithecus. A tendência recente tem-se voltado à clas-
Histórico da paleoantropologia sificação original como um gênero separado.
A moderna área da paleoantropologia começou com o desco- A Teoria da Savana
8
brimento do Neandertal e evidências de outros “homens das ca-
vernas” no século 19. A ideia de que os humanos eram similares Um dos aspectos mais fascinantes da pesquisa paleoantropoló-
a certos macacos era óbvia para alguns há algum tempo. Mas, a gica se refere à influência da Teoria da Savana neste campo cientí-
ideia de evolução biológica das espécies em geral não foi legitimi- fico. A Teoria da Savana é normalmente ligada ao trabalho de Ray-
zada até à publicação de A Origem das Espécies por Charles Darwin mond Dart.
em 1859. Apesar do primeiro livro de Darwin sobre evolução não Em seu artigo em Nature no ano 1925 Dart sugeriu um cenário
abordar a questão da evolução humana, era claro para leitores con- evolutivo para a origem do Australopithecus africanus: por conse-
temporâneos o que estava em jogo. Debates entre Thomas Huxley quência de mudanças climáticas e uma subsequente redução das
e Richard Owen focaram na ideia de evolução humana, e quando matas, o A. africanus abandonou a vida arborícola e passou a se
Darwin publicou seu próprio livro sobre o assunto (A descendência adaptar a uma vida nas savanas.
do Homem e Seleção em relação ao Sexo), essa já era uma conhe- Este modelo teórico foi aceito pelas gerações seguintes de pa-
cida interpretação da sua teoria—e seu bastante controverso as- leoantropólogos e se tornou a explicação mais comum nos livros
pecto. Até muitos dos apoiadores originais de Darwin (como Alfred sobre evolução humana, popularizado também em inúmeros livros
Russel Wallace e Charles Lyell) rejeitaram a ideia de que os seres de ciência popular. A Teoria da Savana foi vista como um fato indis-
humanos poderiam ter evoluído sua capacidade mental e senso putável, desde que os fósseis de hominídeos encontrados na África
moral pela seleção natural. pareciam confirmar este modelo teórico.
Desde o tempo de Lineu, alguns grandes macacos foram classi- Em 1993, Renato Bender, um cientista brasileiro de residência
ficados como sendo os animais mais próximos dos seres humanos, na Suíça iniciou uma análise histórica da Teoria da Savana. Os resul-
baseado na similaridade morfológica. No século XIX, especulava-se tados desta pesquisa foram apresentados 1999 em uma dissertação
que nossos parentes mais próximos eram os chimpanzés e gorilas. no Instituto de Esportes e Ciências Esportivas da Universidade de
E, baseado na distribuição natural dessas espécies, supunha-se que Berna. Neste trabalho foi demonstrado que a Teoria da Savana não
os fósseis dos ancestrais dos humanos seriam encontrados na Áfri- tem sua origem no trabalho de Raymond Dart. Bender provou que
ca e que os humanos compartilhavam um ancestral comum com os a ideia de uma adaptação à vida nos “campos abertos” é muito an-
outros antropoides africanos. tiga, tendo sido já mencionada em 1809 pelo famoso cientista fran-
Foi apenas na década de 1920 que fósseis além dos de Neander- cês Jean-Baptiste de Lamarck. Este fato é de enorme importância
tais foram encontrados. Em 1925, Raymond Dart descreveu o Aus- na avaliação científica da Teoria da Savana, tendo em vista que os
tralopithecus africanus. O espécime foi Bebé de Taung, um infante descobrimentos dos fósseis não tiveram influência alguma na for-
de Australopithecus descoberto em Taung, África do Sul. Os restos mulação destas especulações.
constituíam-se de um crânio muito bem preservado e de um molde
7 http://www.portalsaofrancisco.com.br/biologia/evolucao-humana 8 www.geocities.com
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

A partir desta análise, Bender sugeriu que a Teoria da Savana Ainda não há nenhum consenso a respeito de quais desses gru-
se denominasse “Freilandhypothesen”, uma palavra alemã que pos deveriam ser considerados como espécies em separado e sobre
pode ser traduzida pela expressão “Hipótese dos Campos Abertos” quais deveriam ser subespécies de outras espécies. Em alguns ca-
(HCA). Bender insistiu no uso desta expressão no plural, afim de sos, isso é devido à escassez de fósseis, em outros, devido a dife-
abranger as diferentes versões deste grupo de especulações que renças mínimas usadas para distinguir espécies no gênero Homo.
foram publicadas nos últimos 200 anos da história da HCA. A palavra homo vem do Latim e significa “pessoa”, escolhido
Totalmente independente de Bender, e a partir de outras con- originalmente por Carolus Linnaeus em seu sistema de classifica-
siderações, sugeriu também o Professor Phillip Tobias, um pa- ção. É geralmente traduzido como “homem”, apesar disso causar
leoantropólogo de renome internacional da África do Sul, um dis- confusão, dado que a palavra “homem” pode ser genérica como
tanciamento das HCA. Nos últimos anos vários paleoantropólogos homo, mas pode também referir-se especificamente aos indivíduos
também passaram a se distanciar destas especulações, reconhecen- do sexo masculino. A palavra latina para “homem” no sentido espe-
do que estas não tenham a base científica antigamente tida como cífico ao gênero é vir, cognato com “virile” e “werewolf”. A palavra
certa. Um dos exemplos mais impressionantes deste distanciamen- “humano” vem de humanus, a forma adjetiva de homo.
to podemos ver na obra Biology, um livro clássico de Campbell e
Reece (2006, 848-849) e muito influente no campo biológico. Homo habilis
Através desta gradual perda de suporte na HCA, os cientistas Viveu entre cerca de 2,4 a 1,5 milhões de anos atrás (MAA). H.
passaram a se interessar por explicações alternativas dentro do habilis, a primeira espécie do gênero Homo, evoluiu no sul e no
mundo científico. Uma das alternativas é a Teoria Aquática, tam- leste da África no final do Plioceno ou início do Pleistoceno, 2,5-2
bém conhecida por Aquatic Ape Theory ou Aquatic Ape Hypothesis. MAA, quando divergiu do Australopithecines. H. habilis tinha mo-
O interessante nesta teoria é o fato que ela foi divulgada e desen- lares menores e cérebro maior que os Australopithecines, e faziam
volvida durante muito tempo em obras populares, não tendo apoio ferramentas de pedra e talvez de ossos de animais.
de cientistas.
Bem ao contrário: até poucos anos atrás esta teoria era normal- Homo erectus
mente mencionada como um exemplo clássico de uma especulação Viveu entre cerca de 1,8 (incluindo o ergaster) ou de 1,25 (ex-
infundada. A situação está mudando rapidamente. Por exemplo a cluindo o ergaster) a 0,70 MAA. No Pleistoceno Inferior, 1,5-1 MAA,
médica suíça Nicole Bender-Oser escreveu uma dissertação histó- na África, Ásia, e Europa, provavelmente Homo habilis possuía um
rica sobre a origem da Teoria Aquática (teoria esta formulada pela cérebro maior e fabricou ferramentas de pedra mais elaboradas;
primeira vez pelo médico alemão Max Westenhöfer em 1923). Este essas e outras diferenças são suficientes para que os antropólogos
trabalho foi honorado no ano 2004 pela Universidade de Berna. possam classificá-los como uma nova espécie, Homo erectus. Um
Além disso, na obra acima citada de Campbell e Reece, a Teoria exemplo famoso de Homo erectus é o Homem de Pequim; outros
Aquática é apresentada como a alternativa mais convincente entre foram encontrados na Ásia (notadamente na Indonésia), África, e
as atuais opções da literatura especializada. Europa. Muitos paleoantropólogos estão atualmente utilizando o
termo Homo ergaster para as formas não asiáticas desse grupo, e
Antes do Homo reservando a denominação Homo erectus apenas para os fósseis
encontrados na região da Ásia e que possuam certas exigências es-
Os primeiros hominídeos queléticas e dentárias que diferem levemente das do ergaster.
Sahelanthropus tchadensis
Orrorin tugenensis Homo ergaster
Ardipithecus kadabba Viveu entre cerca de 1,8 a 1,25 Milhões de anos. Também co-
Ardipithecus ramidus nhecido como Homo erectus ergaster

Gênero Australopithecus Homo heidelbergensis


Australopithecus anamensis O Homem de Heidelberg viveu entre cerca de 800 a 300 mil
Australopithecus afarensis anos atrás. Também conhecido como Homo sapiens heidelbergen-
Australopithecus africanus sis e Homo sapiens paleohungaricus.
Australopithecus garhi
Homo sapiens idaltu
Gênero Paranthropus Viveu há cerca de 160 mil anos (subespécie). É o humano mo-
Paranthropus aethiopicus derno anatomicamente mais antigo conhecido. Eles não enterra-
Paranthropus boisei vam os corpos das pessoas mortas, acreditando que elas pudessem
Paranthropus robustus retornar à vida

Gênero Homo Homo floresiensis


Na taxonomia moderna, o Homo sapiens é a única espécie exis- Viveu há cerca de 12 mil anos (anunciado em 28 de Outubro de
tente desse gênero, Homo. Do mesmo modo, o estudo recente das 2004 no periódico científico Nature). Apelidado de hobbit por causa
origens do Homo sapiens geralmente demonstra que existiram ou- de seu pequeno tamanho.
tras espécies de Homo, todas as quais estão agora extintas. Enquan-
to algumas dessas outras espécies poderiam ter sido ancestrais do
H. sapiens, muitas foram provavelmente nossos “primos”, tendo
especificado a partir de nossa linhagem ancestral.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Homo neanderthalensis Essas modificações transformaram não só a paisagem como


Viveu entre 250 e 30 mil anos atrás. Também conhecido como também o clima: as grandes elevações formaram uma barreira
Homo sapiens neanderthalensis. Há um debate recente sobre se o contra a passagem da umidade tão necessária à manutenção das
“Homem de Neanderthal” foi uma espécie separada, Homo nean- florestas; consequentemente, as árvores escassearam, diminuindo
derthalensis, ou uma subespécie de H. sapiens. Enquanto o debate as áreas de florestas, em parte substituídas por matas, savanas e
continua, a maioria das evidências, adquiridas através da análise do desertos.
DNA mitocondrial e do Y-cromosomal DNA, atualmente indica que Há milhões de anos, a formação de montanhas muito altas im-
não houve nenhum fluxo genético entre o H. neanderthalensis e o pediu a passagem de correntes aéreas, ricas em umidade, da região
H. sapiens, e, consequentemente, eram duas espécies diferentes. litorânea para o interior. O litoral, mais úmido, manteve as florestas
Em 1997 o Dr. Mark Stoneking, então um professor associado lá existentes, enquanto no interior a vegetação tornou-se escassa.
de antropologia da Universidade de Penn State, disse: “Esses re- Posteriormente, outras modificações da crosta terrestre origi-
sultados [baseados no DNA mitocondrial extraído dos ossos do naram um grande vale que, estendendo-se de norte a sul, funcio-
Neanderthal] indicam que os Neanderthais não contribuíram com nou como um obstáculo natural às populações animais que viviam
o DNA mitocondrial com os humanos modernos... os Neanderthais no leste e no oeste.
não são nossos ancestrais.” Investigações subsequentes de uma Separados por essa barreira natural, grupos de macacos passa-
segunda fonte de DNA de Neanderthal confirmaram esses achados ram a viver em lugares com condições ambientais diferentes, fato
que propiciou o ambiente ideal à formação de uma nova espécie.
Homo sapiens A formação de um longo e sinuoso vale (Vale da Grande Fenda,
Surgiu há cerca de 200 mil anos. Entre 400 mil anos atrás e o Tanzânia), há cerca de 12 milhões de anos, funcionou como uma
segundo período interglacial no Pleistoceno Médio, há cerca de 250 grande barreira, impedindo a comunicação entre os animais de re-
mil anos, a tendência de expansão craniana e a tecnologia na elabo- giões diferentes.
ração de ferramentas de pedra desenvolveu-se, fornecendo evidên- Assim, o destino dos seres vivos que ficaram nessas novas re-
cias da transição do Homo erectus ao Homo sapiens. giões dependia da adaptação às novas condições do meio; se se
A evidência direta sugere que houve uma migração do Homo adaptassem sobreviveriam; se não, pereceriam.
erectus para fora da África, então uma subsequente especiação Separados por essa barreira natural, os indivíduos foram so-
para o H. sapiens na África. (Há poucas evidências de que essa espe- frendo pequenas modificações que, ao longo de muitas gerações,
ciação ocorreu em algum lugar). Então, uma subsequente migração resultaram populações com características físicas e comportamen-
dentro e fora da África eventualmente substituiu o anteriormente tais diferentes em cada uma das regiões. Assim, alguns desses ma-
disperso Homo erectus. Entretanto, a evidência atual não impossi- cacos do passado continuaram habitando as árvores das florestas
bilita a especiação multiregional. Essa é uma área calorosamente remanescentes e originaram o orangotango, o gorila e o chimpanzé;
debatida da paleoantropologia. “Sapiens” significa “sábio” ou “in- outros, que ocupavam a região que se modificou, para poder sobre-
teligente.” viver, abandonaram as árvores, aventuraram-se pelo chão e deram
origem aos humanos.
Notas Adicionais Isso não se deu num passe de mágica, mas foram necessários
As origens da humanidade têm sido frequentemente um assun- milhões de anos em que, gradativamente, foram se acumulando
to de grande controvérsia científica e religiosa. Veja os artigos sobre modificações até se formar uma nova espécie: a humana.
a controvérsia entre os evolucionistas e os criacionistas. A floresta primitiva apresentava grande variedade de folhas e
A classificação dos humanos e seus parentes tem mudado con- frutos comestíveis, alimento farto e variado aos nossos antepassa-
sideravelmente ao longo do tempo. dos que não precisavam deslocar-se a grandes distâncias para ob-
A especulação a respeito da evolução futura dos humanos é tê-lo nem de horário certo para se alimentar. Viviam em bandos e
geralmente explorada na ficção científica como continuação da saciavam a fome nos lugares por onde passavam.
especiação dos humanos à medida que pertencem a vários nichos Com as mudanças das condições ambientais escassearam as flo-
ecológicos; ver radiação adaptativa. restas e apareceram as savanas, e já não havia mais a mesma fartu-
ra de alimento. As espécies, então, iniciaram uma grande competi-
Origem e Evolução do Ser Humano ção pelo alimento. Provavelmente alguns macacos se aventuraram
fora do ambiente em que sempre tinham vivido, para procurar ou-
África, O Berço Da Humanidade tras fontes de subsistência. Para sobreviver, modificaram os hábitos
É comum indagarmos sobre a nossa origem. Viemos mesmo alimentares, pois a vegetação escassa forçava-os a procurar outros
dos macacos? Antigamente a pergunta era ouvida com desprezo e alimentos, levando-os provavelmente a especializar-se mais na caça
incredulidade, mas hoje é recebida com naturalidade. de pequenos animais para complementar a sua alimentação.
A origem do ser humano - esse mamífero tão especial - deve ser Todas as modificações que ocorreram em seu organismo que
analisada, pois o comportamento humano tem raízes num passado os capacitaram a caçar com mais facilidade provavelmente foram
remoto, quando um ser meio macaco, meio humano ocupava as mantidas, pois, caçando mais, teriam alimentação de melhor quali-
florestas e depois as savanas da África, onde devem ter surgido os dade, e esse fator aumentaria as chances de sobreviver, ter filhos e
primeiros ancestrais dos seres humanos. transmitir as novas características às gerações futuras.
Há milhões de anos, a África era coberta por densas florestas e Seres da mesma espécie, quando se acasalam, dão origem a
macacos movimentavam-se em bandos. Terremotos, porém, modi- descendentes férteis. O mesmo não acontece quando o cruzamen-
ficaram a paisagem, fazendo surgir montanhas de até 3 mil metros to se dá entre animais de espécies diferentes.
de altitude ao longo do continente.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Fisicamente, porém, havia um grande empecilho: não possuíam mando e dando-Ihes características diferentes. Se um desses gru-
características de caçador. Não tinham presas desenvolvidas nem pos tivesse permanecido isolado por longo período de tempo, tan-
garras nem esqueletos que lhes permitissem locomover-se em pé, tas poderiam ter sido as modificações causadas pelas mutações que
olhando por sobre o capim, com as mãos livres para empunhar talvez até impossibilitassem o cruzamento ou a formação de um
paus, pedras e carregar o que coletavam. A caça de animais maiores descendente caso esses grupos se encontrassem. Neste caso ter-se-
tornava-se difícil… Algo deveria mudar... Teriam chances de sobre- -ia se formado uma nova espécie. No entanto, isso não aconteceu.
viver? O isolamento geográfico durante um certo período de tempo
deu a cada grupo étnico características genéticas próprias. Mas o
A Evolução Do Ser Humano ser humano é, também, resultado do ambiente cultural e social em
O antropólogo Richard Leakey, em seu livro A origem da espé- que vive.
cie humana, afirma que a primeira espécie de macaco bípede - o Assim, ocorre naturalmente uma seleção imposta pelo ambien-
fundador da família humana - era fisicamente diferente dos maca- te, sobrevivendo aquele que estiver mais adaptado a ele. A esse
cos atuais e devia alimentar-se de talos, sementes, raízes, brotos e processo - o principal mecanismo da Teoria da Evolução enunciada
insetos, da mesma forma que fazem hoje os babuínos das regiões por Charles Darwin (1809-1882) - damos o nome de seleção natu-
montanhosas da Etiópia. Talvez comesse animais que já encontrava ral.
mortos e, como os chimpanzés, usasse gravetos para desenterrar A hipótese mais aceita sobre a origem da espécie humana afir-
raízes ou espantar adversários. ma que, por um mecanismo semelhante, um grupo primitivo de
Acredita-se que a partir desse animal, que viveu entre 5 e 7 mi- macacos se diversificou, originando o ser humano, o chimpanzé, o
lhões de anos atrás, surgiu a família humana. gorila e o orangotango.
Mas somente há 3 milhões de anos aproximadamente os ho- Recentemente, estudos bioquímicos revelaram que há 99,4%
minídeos (espécies humanas ancestrais) proliferaram e deram ori- de semelhança entre o DNA humano e o do chimpanzé. Também
gem a novos tipos: um deles a linhagem do Homo, que originou o nos mostraram que o chimpanzé é muito mais parecido com os hu-
homem moderno. manos do que com o gorila. Após esses estudos, o chimpanzé e o
Entre esse ancestral e o ser humano atual - conhecido nos gorila passaram a fazer parte da família humana.
meios científicos como Homo sapiens sapiens - houve uma série de
outros tipos. O que nos diferencia dos outros primatas
Por meio dos fósseis sabemos que progressivas modificações O homem, o gorila, o chimpanzé, o orangotango, os macacos do
determinaram um aumento da estatura e também do volume do Novo e do Velho Mundo, o társio e o lêmure formam o grupo dos
cérebro. Este quase triplicou, passando de 500 para 1.400 centíme- mamíferos conhecido como primatas.
tros cúbicos no homem atual. Como tudo isso aconteceu? Diferem bastante entre si, mas, de todos, o homem é um pri-
O ser humano originou-se pela seleção natural, o mesmo pro- mata muito especial: herdou de seus ancestrais macacos a visão
cesso evolutivo que deu origem a todos os seres vivos. binocular (que permite a visão tridimensional e a percepção da pro-
Nas células de todos os seres vivos há os cromossomos e, nes- fundidade) e a capacidade de agarrar e manipular objetos com as
tes, os genes. Os genes são estruturas responsáveis por todas as mãos, com destreza e perfeição.
características que identificam um ser. Definem-lhe desde a forma Todos são parentes: o orangotango, o gorila, o chimpanzé e o
até as substâncias que compõem suas células, assim como o seu ser humano. Porém, somente o ser humano é capaz de impor sua
funcionamento. vontade ao meio ambiente e entender a diferença entre o bem e
Os genes são formados por uma substância conhecida como o mal.
DNA, que contém as informações genéticas necessárias à vida em Além de o corpo ter-se tornado ereto, houve ainda o aumento
um sistema chamado código genético. Ocasionalmente, este códi- relativo do volume do cérebro e da espessura do córtex, onde se si-
go se modifica e, consequentemente, as substâncias que vão ser tuam as circunvoluções, que no ser humano são mais desenvolvidas
formadas nesse ser, o que alterará as características determinadas do que nos demais primatas. Como consequência dessas modifica-
pelo gene. Essas modificações geralmente casuais são as mutações, ções cerebrais sua capacidade mental tornou-se maior.
que constituem a base ou a matéria-prima da evolução. Se esta mo- Além dessas diferenças, uma das principais características hu-
dificação for favorável ao ser, aumentando-lhe a probabilidade de manas é a criação do mundo espiritual. Os chimpanzés não enter-
sobrevivência no meio, a mutação será mantida. Essas mudanças ram seus mortos nem têm simbologia para o além; não represen-
ocorrem continuamente e, por serem graduais, são assimiladas na- tam graficamente as emoções, embora elas estejam presentes no
turalmente pelas populações, passando despercebidas aos nossos semblante e nos gestos; não apresentam criatividade para a elabo-
olhos. ração de símbolos que levem a imagens gráficas ou musicais.
Desse modo, somos, entre outras coisas, o resultado da heran- O ser humano é o único animal capaz de impor sua vontade ao
ça genética codificada em nosso DNA, originada não só do nosso meio ambiente. Só ele tem realmente a capacidade de entender a
grupo familiar e racial, mas também dos nossos antepassados que diferença entre o bem e o mal.
viveram há milhões de anos. Entretanto, não podemos chegar ao Somente o homem ama de forma a englobar todas as criaturas.
extremo de acreditar que o DNA seja o único responsável por tudo
o que somos. Agindo sobre o nosso material genético comum, a O despertar da consciência
cultura cria inúmeras e variadas tradições. Será que os outros animais também têm consciência? Até bem
A própria formação dos grupos étnicos é resultado das muta- pouco tempo essa indagação não teria sentido, e a resposta seria
ções. Grupos humanos dispersaram-se por várias regiões da Terra e um sonoro “Não!”. Atualmente, como se descobriu que o chimpan-
ficaram muito tempo isolados geograficamente. Durante o período zé reconhece sua imagem no espelho, já não podemos mais respon-
de isolamento, sofreram pequenas modificações que se foram so- der negativamente a essa pergunta.
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CONHECIMENTOS

A bióloga Jane Goodall passou várias décadas observando e es-


tudando os chimpanzés livres no Parque Nacional de Gombe, na
Tanzânia. Suas observações serviram para chamar a atenção do
mundo científico e leigo para o fato de os animais também terem
história: estrutura familiar, dinastia, líderes etc.
Os chimpanzés utilizam pedaços de pau para retirar formigas
ou cupins de dentro do formigueiro ou cupinzeiro. Esses paus agem
como ferramentas para realizarem o seu trabalho.
Pesquisadores colocaram uma mancha vermelha na testa de um
chimpanzé e fizeram-no olhar-se no espelho; imediatamente, ele
colocou a mão na testa: sabia que era a sua imagem. Outros tipos
de macacos, porém, não possuem a mesma capacidade, portanto
devem existir vários níveis de consciência, entre os quais a humana
seria a mais diferenciada e, como diz o antropólogo Richard Leakey,
“o produto de uma criação muito especial”.
A partir de 1960, vários trabalhos têm demonstrado que de-
terminados comportamentos considerados essencialmente huma-
nos - reconhecer-se diante do espelho, usar símbolos, fabricar ar-
tefatos e ferramentas - não são exclusividade da espécie humana.
Experiências realizadas com chimpanzés já demonstraram que
eles relacionam com facilidade símbolos com objetos. Outros GENÉTICA
animais também são capazes de fazer essa associação. Os cães, A Genética nasceu das pesquisas de Gregor Johann Mendel.
por exemplo, ficam felizes ao ver seus donos pegar a coleira, pois Monge agostiniano, professor de Física e História Natural desen-
associam a coleira ao passeio na rua, assim como associam uma volveu seu trabalho durante os anos de 1845 a 1865 com alunos
vasilha com o alimento. secundaristas em Brunn, hoje Brno, maior cidade da República
Havia, porém, uma curiosidade entre os pesquisadores: que- Tcheca, cultivando ervilhas de jardim (Lathyrus odoratus) tentando
riam saber se os chimpanzés usariam os símbolos para pensar abs- esclarecer o comportamento de algumas das características.
tratamente. Para isso, em um teste, ensinaram-lhes o que era comi- Mendel não foi o primeiro a se dedicar ao estudo da heredi-
da e o que era ferramenta. tariedade, mas foi o que obteve resultados positivos, devido sua
Posteriormente, mostraram outras comidas e outras ferramen- capacidade de interpretar corretamente os resultados dos cruza-
tas: os chimpanzés separaram com facilidade as comidas das fer- mentos feitos. Seu trabalho assíduo e paciencioso foi o de cultivar
ramentas, mostrando que seu intelecto estava generalizando abs- e analisar cerca de 10.000 plantas de ervilhas, para elaborar suas
trações. duas leis que formaram as bases da Genética, até então.
As Leis de Mendel publicadas em 8 de fevereiro de 1865 no
Anexo - Evolução Humana Proceedings of Natural History Society of Brunn podem ser assim re-
sumidas: 1º - Os caracteres herdados são produzidos por “fatores”
Os hominídeos não evoluíram de maneira retilínea de seus an- independentes que se transmitem inalterados, de geração a geração;
cestrais comuns (mamíferos primitivos), mas sim com um formato e 2º - Estes fatores se apresentam aos pares nos indivíduos, cada
digno de um cladograma, em formato de galhos, como a imagem um deles originário de cada um dos pais; geralmente um domina o
abaixo: outro, e é chamado dominante, ao passo que o outro, mais fraco,
cujos efeitos desaparecem numa geração é chamado recessivo. Na
formação de gametas, os dois fatores de cada par em cada um dos
pais, se separam ou segregam, e apenas um de cada par vai para o
descendente. Qualquer gene de um determinado par que vai para
um dado gameta, independe de qualquer outro par que vai para o
mesmo gameta.
Os trabalhos de Mendel ficaram obscurecidos por cerca de 35
anos sendo então descobertos por três pesquisadores independen-
tes, em 1900. Foram eles Correns, na Alemanha; Tchesmak, na Áus-
tria e De Vries, na Holanda.
Mendel, de posse dos trabalhos anteriores a ele que não tive-
ram sucesso, abordou a questão da hereditariedade com visão mo-
derna para a época. Escolheu sete características facilmente identi-
ficáveis e que não se modificavam com o ambiente, autocruzou as
Já abaixo, segue a imagem correta da evolução da espécie hu- plantas e obteve estabilidade das características a serem analisa-
mana, que não é de forma contínua e progressiva, mas sim com das. Eram elas: forma da semente, cor dos cotilédones, cor da casca
interações e alterações. da semente, forma da vagem, cor da vagem imatura, posição das
flores e comprimento do caule.

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CONHECIMENTOS

Os resultados de Mendel foram tão bem sucedidos que até


hoje se estuda características governadas por um ou dois genes em
todas as plantas, principalmente as cultivadas.
As Leis de Mendel são um conjunto de fundamentos que expli-
cam o mecanismo da transmissão hereditária durante as gerações.
Os estudos do monge Gregor Mendel foram à base para expli-
car os mecanismos de hereditariedade. Ainda hoje, são reconheci-
dos como uma das maiores descobertas da Biologia. Isso fez com
que Mendel fosse considerado o “Pai da Genética”.
Em seus experimentos, Mendel teve o cuidado de utilizar ape-
nas plantas de linhagens puras, por exemplo, plantas de sementes
verdes que só originassem sementes verdes e plantas de sementes
amarelas que só originassem sementes amarelas. Você deve estar
se perguntando, como Mendel sabia que as plantas eram puras? ▪ Geração F1:
Pois bem, para que ele tivesse certeza de qual planta era pura, ele Todas as sementes obtidas em F1, foram amarelas, portanto
as observava durante seis gerações, período de aproximadamente iguais a um dos pais. Uma vez que todas as sementes eram iguais,
dois anos. Se durante essas gerações as plantas originassem indiví- Mendel plantou-as e deixou que as plantas quando florescessem, au-
duos diferentes da planta inicial, elas não eram consideradas puras, tofecundassem-se, produzindo assim a geração F2.
mas se ocorresse o contrário e elas só originassem descendentes
com as mesmas características da planta inicial, eram consideradas ▪ Geração F2:
puras. As sementes obtidas na geração F2 foram amarelas e verdes,
Primeira Lei de Mendel ou Princípio da Segregação ou Lei da sempre na proporção de 3 para 1.
pureza dos gametas:
Mendel concluiu que os padrões hereditários são determina- Interpretação dos resultados:
dos por fatores (genes) que ocorrem em pares em um indivíduo, Para explicar a ocorrência de somente sementes amarelas em
mas que segregam um do outro na formação das células sexuais F1 os dois tipos em F2, Mendel admitiu a existência de fatores que
(gametas) de modo que qualquer gameta recebe apenas um ou ou- passassem dos pais para os filhos por meio dos gametas, que são
tro alelo pareado. O número duplo de genes é então estabelecido haplóides em relação ao conjunto cromossômico. Cada fator seria
na prole. responsável pelo aparecimento de um caráter. Assim, existiria um
Mendel observou que as diferentes linhagens de um ances- fator que condiciona o caráter amarelo e que podemos representar
tral comum para os diferentes caracteres escolhidos, eram sempre por A, e um fator que condiciona o caráter verde e que podemos
puras, isto é, não apresentavam variações ao longo das gerações. representar por v. Quando a ervilha amarela pura é cruzada com
Por exemplo, a linhagem que apresentava sementes da cor ama- uma ervilha verde pura, o híbrido F1, recebe o fator A e o fator v,
rela produziam descendentes que apresentavam exclusivamente a sendo portanto, portador de ambos os fatores. As ervilhas obtidas
semente amarela. O mesmo caso ocorre com as ervilhas com se- em F1 eram todas amarelas, isso quer dizer que, embora tendo o
mentes verdes. Essas duas linhagens eram, assim, linhagens puras. fator v para verde, esse não se manifestou. Mendel chamou de do-
Mendel resolveu então estudar esse caso em especifico. minante o fator que se manifesta em F1, e de recessivo o que não
A flor de ervilha é uma flor típica da família das Leguminosae. aparece. Já os indivíduos em F2 ocorrem sempre na proporção de 3
Apresenta cinco pétalas, duas das quais estão opostas formando a dominantes para 1 recessivo.
carena, em cujo interior ficam os órgãos reprodutores masculinos Mendel chegou à conclusão de que o fator para verde só se
e femininos. Por isso, nessa família, há autofecundação, ou seja, o manifesta em indivíduos puros, ou seja com ambos os fatores iguais
grão de pólen da antera de uma flor cair no pistilo da própria flor, a v. Em F1 as plantas possuiam tanto os fatores A quanto o fator
não ocorrendo fecundação cruzada. Logo, para cruzar uma linha- v sendo, assim, necessariamente amarelas. Podemos representar
gem com a outra era necessário evitar a autofecundação. os indivíduos da geração F1 como Av. Logo, para poder formar in-
Mendel escolheu alguns pés de ervilha de semente amarela e divíduos vv na geração F2 os gametas formados na fecundação só
outros de semente verde, emasculou as flores ainda jovens, ain- poderiam ser vv.
da não-maduras. Para isso, retirou das flores as anteras imaturas, O fenômeno só seria possível se ao ocorrer a fecundação hou-
tornando-as, desse modo, completamente femininas. Depois de vesse uma segregação dos fatores A e v presentes na geração F1,
algum tempo, quando as flores se desenvolveram e estavam ma- esse fatores seriam misturados entre os fatores A e v provenientes
duras, polinizou as flores de ervilha amarela com o pólen das flores do pai e os fatores A e v provenientes da mãe, tendo como possíveis
verdes, e vice-versa. Essas plantas constituem portanto as linhagens resultados AA, Av, Av e vv.
parentais. Os descendentes desses cruzamentos constituem a pri- Esse fato foi posteriormente explicado pela meiose, que ocorre
meira geração em estudo designada por geração F1, assim como as durante a formação dos gametas. Mendel havia criado então sua
seguintes são designadas por F2. teoria sobre a hereditariedade e da segregação dos fatores.
A Primeira Lei de Mendel também recebe o nome de Lei da Se-
gregação dos Fatores ou Moibridismo. Ela possui o seguinte enun- → Cruzamento monoíbrido: Aquele no qual apenas um cará-
ciado: ter está sendo considerado.
“Cada caráter é determinado por um par de fatores que se se- I) Dominância completa: Situação na qual um dos alelos de um
param na formação dos gametas, indo um fator do par para cada gene se expressa totalmente em relação ao outro alelo também
gameta, que é, portanto, puro”. presente. Ao realizar o cruzamento monoíbrido entre dois indiví-
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CONHECIMENTOS

duos homozigotos, um verde e outro amarelo, todos os filhos nas- geração P. Como resultado desse cruzamento, Mendel obteve todas
cem amarelos, como um dos genitores. O caráter expresso é deno- as sementes de cor amarela e a essa geração denominou de gera-
minado dominante e outro, recessivo. ção F1. Os indivíduos obtidos nesse cruzamento foram chamados
II) Dominância incompleta: Situação na qual um dos alelos de um por Mendel de híbridos, pois eles descendiam de pais com caracte-
gene se expressa parcialmente em relação ao outro alelo também rísticas diferentes.
presente. Ocorre em indivíduos heterozigóticos que apresentam fe- Em seguida, Mendel realizou uma autofecundação entre os in-
nótipos intermédios entre os seus progenitores de linhagens puras, divíduos da geração F1, chamando essa segunda geração de gera-
isto acontece porque uma única copia do gene funcional não ser su- ção F2. Como resultado dessa autofecundação, Mendel obteve três
ficiente para assegurar o fenótipo, em outras palavras, a expressão sementes amarelas e uma semente verde (3:1). A partir dos resul-
gênica de um único gene não é suficiente para produzir uma quanti- tados obtidos, Mendel concluiu que como a cor verde não apareceu
dade mínima de enzima, por exemplo. na geração F1, mas reapareceu na geração F2, as sementes verdes
tinham um fator que era recessivo, enquanto as sementes amarelas
Cor das pétalas da flor “maravilha”: tinham um fator dominante. Por esse motivo, Mendel chamou as
A cor das pétalas pode ser, quando em homozigose, vermelha ou sementes verdes de recessivas e as sementes amarelas de domi-
branca. O cruzamento de linhagens puras dos dois tipos origina uma nantes.
flor rosa, ou seja, com características intermédias às dos progenito- Em diversos outros experimentos, Mendel observou caracterís-
res. Isto acontece porque a expressão gênica de um único alelo para ticas diferentes na planta, como altura da planta, cor da flor, cor da
pétalas vermelhas, não é capaz de produzir uma dada quantidade casca da semente, e notou que em todas elas algumas característi-
de enzima e, conseqüentemente, pigmento vermelho suficiente para cas sempre se sobressaíam às outras.
dar à pétala a cor vermelha. Assim, a pouca quantidade de pigmento
vermelho origina a cor rosa. Diante desses resultados, Mendel pôde concluir que:
-Proporção fenotípica: 1:2:1 - Cada ser vivo é único e possui um par de genes para cada
-Proporção genotípica: 1:2:1 característica;
- As características hereditárias são herdadas metade do pai e
III) Codominância: Condição de heterozigotos na qual os dois metade da mãe;
membros de um par de alelos contribuem para o fenótipo, o qual - Os genes são transmitidos através dos genes;
é então uma mistura das características fenotípicas produzidas por
ambas as condições homozigotas. Em outras palavras, o indivíduo - Os descendentes herdarão apenas um gene de cada caracte-
heterozigoto que apresenta dois genes funcionais, produz os dois rística de seus pais, ou seja, para uma determinada característica,
fenótipos, isto é, ambos os alelos do gene em um indivíduo diplóide haverá apenas um gene do par, tanto da mãe quanto do pai.
se expressam, produzindo proteínas distintas, que são detectadas Dessa forma, podemos enunciar a primeira lei de Mendel, tam-
isoladamente. Nessa interação entre alelos de um gene não há re- bém chamada de lei da segregação dos fatores da seguinte forma:
lação de dominância. Todas as características de um indivíduo são determinadas por ge-
nes que se segregam, separam-se, durante a formação dos game-
Cor da pelagem de bovinos da raça Shorthorn: tas, sendo que, assim, pai e mãe transmitem apenas um gene para
A raça possui genes para as pelagens vermelha e branca. O seus descendentes. Texto adaptado de BURNS. G. W; BOTTINO. P. J.
cruzamento entre indivíduos homozigotos para as características
vermelha (R1R1) e branca (R2R2) produz uma prole (R1R2) cuja Probabilidade genética
pelagem a distância parece cinzaavermelhada ou cor ruão. Superfi- Acredita-se que um dos motivos para as idéias de Mendel
cialmente, esse caso parece ser de dominância incompleta, porém permanecerem incompreendidas durante mais de 3 décadas foi o
o exame minucioso revela que os ruões apresentam uma mistura raciocínio matemático que continham. Mendel partiu do princípio
de pêlos vermelhos e brancos, em vez de pêlos de tonalidade in- que a formação dos gametas seguia as leis da probabilidade, no to-
termediária. cante a distribuição dos fatores.
-Proporção fenotípica: 1:2:1
-Proporção genotípica: 1:2:1 Para que Mendel pudesse chegar aos seus resultados, ele utili-
zou muitos métodos estatísticos para sua interpretação, calculando
Tipos sangüíneos: as probabilidades de ocorrer os eventos. A probabilidade serve para
O tipo sanguíneo humano, apresenta 3 alelos IA, IB e i. Portan- estimar matematicamente a possibilidade de ocorrer eventos que
to, existem 6 genótipos diferentes que originam 4 fenótipos dife- acontecem ao acaso, ou seja, por questão de sorte. Pode ser defini-
rentes: A, B, AB e O. da pela seguinte fórmula:
IA IA / IA i → Tipo A
IB IB / IB i → Tipo B
IA IB → Tipo AB, no qual são expressos os dois antígenos de
membrana.
i i → Tipo O
Onde P é a probabilidade de um evento ocorrer, A é o número
Uma vez constatado que as plantas eram puras, Mendel esco- de eventos desejados e S é o número total de eventos possíveis.
lheu uma característica, por exemplo, plantas puras de sementes Exemplo: Quando jogamos uma moeda para cima, temos duas
amarelas com plantas puras de sementes verdes, e realizou o cruza- possibilidades de resultado: ela cair com a face “cara” voltada para
mento. Essa primeira geração foi chamada de geração parental ou cima, ou com a face “coroa” voltada para cima. Portanto temos
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CONHECIMENTOS

duas possibilidades. A possibilidade de sair cara é de 1/2 ou 50%, Um casal quer ter dois filhos e deseja saber a probabilidade de
pois temos uma chance (sair cara) em duas possibilidades (cara ou que ambos sejam do sexo masculino. Admitindo que a probabili-
coroa). dade de ser homem ou mulher é igual a 1/2, a probabilidade de o
casal ter dois meninos é 1/2 X 1/2, ou seja, 1/4.

A regra do “ou”
Outro princípio de probabilidade diz que a ocorrência de dois
eventos que se excluem mutuamente é igual à soma das probabili-
dades com que cada evento ocorre. Esse princípio é conhecido po-
pularmente como regra do “ou”, pois corresponde à pergunta: qual
é a probabilidade de ocorrer um evento OU outro?
Por exemplo, a probabilidade de obter cara ou coroa, ao lan-
çarmos uma moeda, é igual a 1, porque representa a probabilidade
de ocorrer cara somada à probabilidade de ocorrer coroa (1/2 +
A probabilidade é um evento esperado, uma possibilidade, por- 1/2 =1). Para calcular a probabilidade de obter face 1 ou face 6 no
tanto, não é certeza que vá ocorrer. Quanto mais repetições ocorre- lançamento de um dado, basta somar as probabilidades de cada
rem, mais chances a previsões terão de dar certo. evento: 1/6 + 1/6 = 2/6.
Quando utiliza-se cálculos de probabilidades em genética, não Em certos casos precisamos aplicar tanto a regra do “e” como
pode-se dizer que os indivíduos que irão nascer terão obrigatoria- a regra do “ou” em nossos cálculos de probabilidade. Por exemplo,
mente os genótipos calculados, pois é questão de sorte. Quanto no lançamento de duas moedas, qual a probabilidade de se obter
mais indivíduos nascerem, mais chances dos resultados práticos se cara em uma delas e coroa na outra? Para ocorrer cara na primeira
aproximarem dos cálculos. moeda E coroa na segunda, OU coroa na primeira e cara na segun-
da. Assim nesse caso se aplica a regra do “e” combinada a regra do
Eventos independentes “ou”. A probabilidade de ocorrer cara E coroa (1/2 X 1/2 = 1/4) OU
Quando a ocorrência de um evento não afeta a probabilidade coroa e cara (1/2 X 1/2 = 1/4) é igual a 1/2 (1/4 + 1/4).
de ocorrência de um outro, fala-se em eventos independentes. Por O mesmo raciocínio se aplica aos problemas da genética. Por
exemplo, ao lançar várias moedas ao mesmo tempo, ou uma mes- exemplo, qual a probabilidade de uma casal ter dois filhos, um do
ma moeda várias vezes consecutivas, um resultado não interfere sexo masculino e outro do sexo feminino? Como já vimos, a pro-
nos outros. Por isso, cada resultado é um evento independente do babilidade de uma criança ser do sexo masculino é ½ e de ser do
outro. sexo feminino também é de ½. Há duas maneiras de um casal ter
Da mesma maneira, o nascimento de uma criança com um um menino e uma menina: o primeiro filho ser menino E o segundo
determinado fenótipo é um evento independente em relação ao filho ser menina (1/2 X 1/2 = 1/4) OU o primeiro ser menina e o
nascimento de outros filhos do mesmo casal. Por exemplo, imagine segundo ser menino (1/2 X 1/2 = 1/4). A probabilidade final é 1/4 +
uma casal que já teve dois filhos homens; qual a probabilidade que 1/4 = 2/4, ou 1/2.
uma terceira criança seja do sexo feminino? Uma vez que a forma-
ção de cada filho é um evento independente, a chance de nascer A regra do produto
uma menina, supondo que homens e mulheres nasçam com a mes- Uma regra de probabilidade que é muito útil na genética é a
ma frequência, é 1/2 ou 50%, como em qualquer nascimento. regra do produto, a qual afirma que a probabilidade de dois (ou
mais) eventos independentes ocorrerem juntos pode ser calcula-
A regra do “e” da multiplicando-se as probabilidades individuais dos eventos. Por
A teoria das probabilidades diz que a probabilidade de dois exemplo, se você rolar um dado de seis lados de uma vez, você tem
ou mais eventos independentes ocorrerem conjuntamente é igual uma chance de 1/6 de conseguir um seis. Se você rolar dois dados
ao produto das probabilidades de ocorrerem separadamente. Esse ao mesmo tempo, sua chance de conseguir duas vezes o seis é: (a
princípio é conhecido popularmente como regra do “e”, pois cor- probabilidade de um seis no dado 1) x (a probabilidade de um seis
responde a pergunta: qual a probabilidade de ocorrer um evento E no dado 2) = (1/6). (1/6) = 1/36.
outro, simultaneamente? Em geral, você pode pensar na regra do produto como a regra
Suponha que você jogue uma moeda duas vezes. Qual a proba- do “e”: se ambos evento X e evento Y devem acontecer para que
bilidade de obter duas caras, ou seja, cara no primeiro lançamento ocorra um determinado resultado, e se X e Y são independentes um
e cara no segundo? A chance de ocorrer cara na primeira jogada do outro (um não afeta a probabilidade do outro), então você pode
é, como já vimos, igual a 1/2; a chance de ocorrer cara na segun- usar a regra do produto para calcular a probabilidade do resultado
da jogada também é igual a1/2. Assim a probabilidade desses dois multiplicando as probabilidades de X e Y.
eventos ocorrer conjuntamente é 1/2 X 1/2 = 1/4. Podemos usar a regra do produto para prever a frequência de
No lançamento simultâneo de três dados, qual a probabilidade eventos de fertilização. Por exemplo, considere o cruzamento entre
de sortear face 6 em todos? A chance de ocorrer face 6 em cada dois indivíduos heterozigotos (Aa). Quais são as chances de se ter
dado é igual a 1/6. Portanto a probabilidade de ocorrer face 6 nos um indivíduo aa na próxima geração? A única forma de se ter um
três dados é 1/6 X 1/6 X 1/6 = 1/216. Isso quer dizer que a obtenção indivíduo aa é se a mãe contribui com um gameta a e o pai contribui
de três faces 6 simultâneas se repetirá, em média, 1 a cada 216 com um gameta a. Cada progenitor tem 1/2 das chances de fazer
jogadas. um gameta a. Logo, a chance de uma prole aa é: (probabilidade da
mãe contribuir a) x (probabilidade do pai contribuir a) = (1/2). (1/2)
= 1/4.
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CONHECIMENTOS

A regra da adição de probabilidades


Em alguns problemas genéticos, você pode precisar calcular a probabilidade de que qualquer um de vários eventos ocorra. Nesse
caso, você precisará usar outra regra de probabilidade: a regra da soma. Segundo a regra da soma, a probabilidade de que qualquer um de
vários eventos mutuamente excludentes ocorra é igual a soma das probabilidades individuais dos eventos.
Por exemplo, se você jogar um dado de seis lados, você terá 1/6 de chance de tirar qualquer um dos números, mas você pode tirar
apenas um número em cada jogada. Você nunca pode tirar 1 e 6 ao mesmo tempo; os resultados são mutuamente excludentes. Assim, a
probabilidade de tirar ou 1 or 6 é: (probabilidade de tirar 1) + (probabilidade de tirar 6) = (1/6) +(1/6) = 1/3.
Você pode pensar na regra da soma como a regra do “ou”: se um resultado requer que ou o evento X ou o evento Y ocorra, e se X
e Y são mutuamente excludentes (se apenas um dos dois eventos podem ocorrem em uma dada situação), então a probabilidade do
resultado pode ser calculada somando-se as probabilidades de X e Y.
Como exemplo, vamos usar a regra da soma para prever a fração da prole de um cruzamento Aa x Aa que terá o fenótipo dominante
(genótipo AA ou Aa). Nesse cruzamento, há três eventos que podem gerar um fenótipo dominante:
Dois gametas A se encontram (formando um genótipo AA), ou o gameta;
A da mãe encontra o gameta a do pai (formando um genótipo Aa), ou;
O gameta a da mãe encontra o gameta A do pai (formando um genótipo Aa).
Em cada evento de fertilização, apenas uma dessas três possibilidades pode acontecer (eles são mutuamente excludentes).

Como essa é uma situação “ou” em que os eventos são mutuamente excludentes, podemos aplicar a regra da soma. Usando a regra
do produto, como fizemos acima, podemos determinar que cada evento individual tem a probabilidade de 1/4. Então, a probabilidade de
uma prole com fenótipo dominante é: (probabilidade de A da Mãe e A do Pai) + (probabilidade de Ada Mãe e a do Pai) + (probabilidade
de a da Mãe e A do Pai) = (1/4) + (1/4) + (1/4)= 3/4. Texto adaptado de MENDONÇA. A.

Árvore genealógica
Temos mais em comum do que aparentamos. A matemática assim como muitas religiões afirma, com grande propriedade, que somos
todos irmãos. Se não fôssemos todos parentes, cada habitante da Terra hoje teria um número astronômico de antepassados contabilizados
até o ano 1 do calendário cristão.
Ao refletir sobre a árvore genealógica de cada indivíduo, podemos notar facilmente que qualquer pessoa foi gerada por outras duas: o
pai e a mãe. Para gerar esse pai e essa mãe, foram necessárias mais quatro pessoas (quatro avós). Considerando uma duração aproximada
de 25 anos para cada geração já que, segundo o físico australiano John Pattison, a idade média em que as mulheres têm engravidado nos
últimos séculos em várias civilizações é de 26 ± 2 anos, verificamos que, do ano 1 d.C até agora, já se passaram 80 gerações. Em contagem
retroativa, cada indivíduo deveria ter, em um século, dois pais, quatro avós, oito bisavós e 16 trisavós. No século anterior, seriam 32 te-
travós, 64 pentavós, 128 hexavós e 256 heptavós; um verdadeiro crescimento exponencial. Isso nos leva à conclusão, improvável, de que
a existência de uma única pessoa no início do século 21 exigiu o incrível número de 279 (ou 604 sextilhões) de pessoas no ano 1. Apenas
para comparação, os astrônomos Pieter von Dokkum (holandês) e Charlie Conroy (norte-americano) estimam existirem por volta de 300
sextilhões de estrelas no universo. Embora o raciocínio matemático da árvore genealógica esteja correto, é evidente que tal resultado é
impossível.
Trata-se de um aparente paradoxo ou colapso genealógico, já que o número de ancestrais em qualquer geração não pode ser superior
à população da referida época.
Se as contas estão coerentes, o que estaria errado? Uma das razões para essa contradição seria a existência de casamentos entre
parentes próximos, consanguíneos.
Embora seja uma situação difícil de admitir nos dias atuais por questões culturais com algumas exceções, é bastante plausível que
casamentos entre parentes tenham acontecido em um passado não tão remoto assim.
Provavelmente a prática tenha sido mais comum do que imaginamos, sobretudo se considerarmos cidades com pequenas popula-
ções, vilarejos e povoados há mais de 100 anos, com pessoas se deslocando por enormes distâncias e sem facilidade de comunicação. E
o que poderíamos esperar de pequenas vilas e aldeias, com apenas dezenas ou centenas de moradores há cinco séculos, no início da co-
lonização brasileira? Nesse contexto, os parentes mais próximos deviam ser considerados na formação de uma família, pois fortaleceriam
laços, seriam de classes sociais semelhantes, teriam a mesma religião, cultura e tradições, pertenceriam ao mesmo grupo étnico e falariam
a mesma língua, além de fazerem parte do mesmo círculo social.

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CONHECIMENTOS

Esquema da árvore genealógica de qualquer pessoa, evidenciando o rápido crescimento de antepassados em aproximadamente 175
anos, considerando que toda nova geração surja a cada 25 anos. Caso não houvesse casamentos consanguíneos, um número muito grande
de ancestrais seria necessário para a existência de cada um de nós no presente.

Portanto, provavelmente temos em cada árvore genealógica alguns ramos ausentes por estarem sendo preenchidos pelas mesmas
pessoas. Exemplo disso foi observado em algumas tribos da Amazônia, em que os índios se casavam com suas primas tradição que foi
cunhada como ‘teoria da aliança’ por grandes pesquisadores como o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009).
Em geral, nossos ancestrais casavam-se com pessoas próximas da família, frequentemente sem conhecimento, mas em outras si-
tuações de forma intencional. Basta lembrar que casamentos reais entre parentes foram uma prática costumeira entre nobres famílias
européias, em particular a Dinastia dos Habsburgo. Casos clássicos também foram os casamentos do naturalista inglês Charles Darwin
(1809-1882), que era neto de dois primos e casou-se com sua prima em primeiro grau, Emma. O mesmo fez o físico de origem alemã Al-
bert Einstein (1879-1955) em seu segundo casamento, com sua prima Elsa, ou ainda o poeta e dramaturgo norte-americano Edgar Allan
Poe (1809-1849), com sua prima Virginia. Por sinal, um dos primeiros a tratar da questão do paradoxo genealógico foi o próprio filho de
Darwin, o astrônomo e matemático inglês George Howard (1845-1912), em 1875. Ao chamar a atenção para o assunto, os geneticistas de
populações passaram a perceber e estudar esse problema.
As migrações, que têm modificado o povoamento de alguns países de tempos em tempos, como o Brasil, poderiam ser apontadas
como um fator relevante para essa questão e que aparentemente evitaria a consanguinidade, mantendo intactos grandes ramos da árvore
genealógica e diversificando a carga genética nas famílias. No entanto, observando a história mundial, o número de imigrantes e emigran-
tes representa apenas uma pequena parcela da população de um país (caso da Grã-Bretanha, por exemplo) e, mesmo nos locais onde as le-
vas migratórias não são desprezíveis, nada impede que a consanguinidade tenha se estabelecido em gerações anteriores às que migraram.
É um grande alento, portanto, perceber que os pouco mais de 7,3 bilhões de seres humanos que vivem hoje na Terra têm muito mais
em comum do que se pensa. Mensagens como as de paz e igualdade entre os homens poderiam também ser apresentadas em termos
matemáticos, seguindo esse raciocínio sobre a árvore genealógica de cada um. Esse argumento poderia ser aprendido desde a mais tenra
idade nas escolas, associando, quem diria, matemática e fraternidade.

Somos de fato mais aparentados uns com os outros do que pensamos, apesar das visíveis diferenças de crença, ideologia, cor da pele,
traços culturais, língua e perfil econômico. Nesse contexto, parece ingênuo o homem que procura se convencer de que, não sendo galho
da mesma árvore, não é, também, árvore da mesma floresta. Somos realmente frutos de uma mesma árvore, a da vida.

Normalmente coloca-se o nome do ancestral mais antigo de que se conseguiu dados e, a partir desse, seus descendentes até chegar
ao membro mais novo da família ou então até na pessoa que se tem interesse.
Para montar a árvore genealógica é preciso primeiramente descobrir de onde vieram os ancestrais de uma família, o que pode ser
feito buscando a origem dos sobrenomes do pai e da mãe de um indivíduo. Posteriormente devem ser anotados os seguintes dados:
Nome completo de todas as pessoas pesquisadas;
Data e local do nascimento das mesmas;
Certidão de casamento, constando data e local;
Certidão de óbito, constando data e local;
Informações gerais sobre cada indivíduo, como profissão, escolaridade, títulos especiais, história da família no Brasil, origem do nome,
do sobrenome e mais.

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CONHECIMENTOS

Normalmente quando se estrutura a árvore genealógica de Podemos citar ainda casos de genes letais que ocorrem em ou-
uma família com poucas informações ela é representada por uma tros organismos, como é o caso de plantas. No milho, por exemplo,
pequena árvore, quando os elementos são de maior proporção a podem nascer plantas homozigóticas recessivas completamente
sua feição torna-se mais complexa, pois os dados passam a ficar desprovidas de clorofila. Sem esse pigmento, as plantas não reali-
mais desarranjados; quando isso acontece a visualização melhora zam fotossíntese e, consequentemente, morrem.
através de uma representação gráfica. Em camundongos um gene dominante A determina pigmenta-
ção amarela dos pêlos, e seu alelo recessivo a determina um pa-
Uma árvore genealógica é de extrema importância para as fa- drão de pigmentação acinzentada denominada aguti. Observou-se
mílias, pois por meio delas é possível ter conhecimento da ascen- que o cruzamento de ratos amarelos entre si sempre resulta em
dência familiar, da existência de títulos até então desconhecidos, uma prole na qual há 2 indivíduos amarelos para cada um aguti
sem dizer que futuramente, ela pode ser útil nos tratamentos de (2:1).
diversas anomalias e doenças genéticas. Texto adaptado de NASCI-
MENTO. M. L. F. A presença dos descendentes aguti indica que os pais amarelos
são heterozigotos. E neste caso, a proporção fenotípica esperada
Genes letais entre descendentes dominantes (amarelos) e recessivos (agutis)
Alguns alelos, formas alternativas de um mesmo gene, causam seria de 3:1. A explicação para o aparecimento da inesperada pro-
a morte de seus portadores e, por isso, são chamados de letais. Os porção 2:1 é o fato de que indivíduos homozigotos dominantes (A
alelos letais podem ser completos, quando matam seus portadores A) morrem ainda no estágio embrionário.
antes da idade reprodutiva, ou semiletais, quando os portadores
sobrevivem além da idade reprodutiva.

Como os alelos letais foram descobertos?


Os alelos letais, como muitas informações importantes das
ciências, foram descobertos ao acaso. Um geneticista, Lucien Cue-
not, estudava a cor da pelagem em camundongos em 1905 quando
percebeu que era impossível conseguir linhagem pura desses ani-
mais com fenótipo amarelo.
Diante desses resultados, o geneticista resolveu realizar alguns
cruzamentos-teste. Nesses cruzamentos, ele utilizou dois indivíduos
amarelos, e o resultado sempre era 2/3 de camundongos amarelos
e 1/3 de camundongos cinza.
Ao observar a proporção de 2:1, Cuenot percebeu que indiví-
duos homozigóticos para a pelagem amarela não se desenvolviam
e que o alelo condicionante provavelmente era letal. Sendo assim,
todo camundongo amarelo deveria ser obrigatoriamente heterozi- Posteriormente descubriu-se que camundongos homozigotos
goto. não chegavam a nascer, morrendo no útero materno na fase em-
Para ter certeza de sua descoberta, o geneticista resolveu testar brionária. Concluiu-se então que os genes para pelagem amarela
sua hipótese. Para isso, cruzou um camundongo amarelo com um em dose dupla são letais ao indivíduo, já que provocam sua morte.
camundongo cinza e obteve metade dos descendentes amarelos e Textos adaptado de SANTOS. V. D.
a outra metade cinza. Esse resultado confirmou, então, sua teoria.
Herança sem dominância
Exemplos de alelos letais O gene dominante bloqueia totalmente a atividade do seu ale-
Existem diversos casos de alelos que, em homozigose, causam lo recessivo, de maneira que apenas o caráter condicionado pelo
a morte do indivíduo, inclusive na espécie humana. Um desses ale- gene dominante se manifesta.Nesses casos, portanto, um indivíduo
los é responsável pela Tay-Sachs, isto é, uma doença neurodegene- heterozigoto(Aa) exibirá o mesmo fenótipo do homozigoto(AA). Tal
rativa que provoca degeneração física e mental intensa e normal- fenômeno é chamado de dominância completa.
mente ocasiona a morte do indivíduo antes dos cinco anos de vida. Mas existem casos em que o gene interage com seu alelo, de
Além da doença de Tay-Sachs, a acondroplasia também é um maneira que o híbrido ou o heterozigoto apresenta um fenótipo di-
exemplo de problema desencadeado por um alelo letal. Se os alelos ferente e intermediário em relação aos pais homozigotos ou então
para acondroplasia, que são dominantes, aparecerem em homozi- expressa simultaneamente os dois fenótipos paternos.Fala-se, en-
gose, o embrião morrerá antes mesmo do nascimento. Se o alelo tão, de ausência de dominância.
aparecer em dose simples, ocorrerá o nanismo. Podemos identificar dois tipos básicos de ausência de domi-
Podemos citar ainda a fibrose cística, que é causada por um nância, cujos os estudos foram desenvolvidos em épocas posterio-
gene autossômico recessivo. O gene causador dessa doença afeta res á de Mendel:a herança intermediária e co-dominância.
as glândulas exócrinas, o que desencadeia problemas na produção
de secreções, que se tornam espessas e apresentam-se em maior Herança intermediária
quantidade, afetando o desenvolvimento de alguns órgãos, como A herança intermediária é o tipo de dominância em que o indí-
os pulmões. viduo heterozigoto exibe um fenótipo diferente e intermediário em
relação aos genitores homozigotos.Vejamos os seguintes exemplos:

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CONHECIMENTOS

Exemplo 1.   A planta Maravilha (Mirabilis jalapa) apresenta Agora, analisando os resultados genotípicos da geração F1e F2,
duas variedades básicas para a coloração das flores: a variedade al- teríamos:
ba(com flores brancas) e a variedade rubra (com flores vermelhas).
chamando o gene que condiciona flores brancas de B e o gene para
flores vermelhas de V, o genótipo de uma planta com flores brancas
é BB, e o genótipo de uma planta com flores rubras é VV. Cruzan-
do-se esses dois tipos de plantas (VV X BB), os descendentes serão
todos VB; as flores dessas plantas (VB) serão rosas, isto é, exibirão
um fenótipo intermediário em relação aos fenótipos paternais(flo-
res vermelhas e brancas).

Plantas que produzem flores cor-de-rosa são heterozigotas, en-


quanto os outros dois fenótipos são devidos à condição homozigo-
ta. Supondo que o gene V determine a cor vermelha e o gene B, cor
branca, teríamos:

VV = flor vermelha
BB = flor branca
VB = flor cor-de-rosa

Apesar de anteriormente usarmos letras maiúsculas para indi-


car, respectivamente, os genes dominantes e recessivos, quando se Cruzando, agora, duas plantas heterozigotas (flores cor-de-ro-
trata de dominância incompleta muitos autores preferem utilizar sa), teríamos:
apenas diferentes letras maiúsculas.
Fazendo o cruzamento de uma planta de maravilha que produz
flores vermelhas com outra que produz flores brancas e analisando
os resultados fenotípicos da geração F1eF2, teríamos:

Exemplo 2. Nas galinhas de raça andaluza, o cruzamento de


um galo de plumagem preta(PP) com uma galinha de plumagem
branca(BB) produz descendentes com plumagem azulada (PB).
Percebe-se então que a interação do gene para a plumagem pre-
ta(P) com o gene para plumagem branca(B) determina o surgimen-
to de um fenótipo intermediário(plumagem azulada).

Co-dominância
A co-dominância é o tipo de ausência de dominância em que o
indivíduo heterozigoto expressa simultaneamente os dois fenótipos
paternos.Como exemplo podemos considerar da cor da pelagem
em bovinos da raça Shorthon: os indivíduos homozigotos AA tem
pelagem vermelha; os homozigotos BB tem pelagem branca;e os
heterozigotos AB têm pêlos brancos e pêlos vermelhos alternada-
mente distribuídos. Texto adaptado de SANTOS. V. D.

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CONHECIMENTOS

Segunda lei de Mendel


A segunda lei de Mendel ou também enunciada por diibridismo, refere-se à segregação independente dos fatores, isto é, a separação
de dois ou mais pares de genes alelos localizados em diferentes pares de cromossomos homólogos, para formação dos gametas.
O princípio para essa segregação tem suporte na anáfase I da divisão meiótica, instante em que ocorre o afastamento dos cromosso-
mos homólogos (duplicados), paralelamente dispostos ao longo do fuso meiótico celular.
Mendel, ao obter o mesmo resultado para todas as características estudadas em separado, decidiu verificar qual era o comporta-
mento se seu estudo fosse dirigido para duas características juntas. O cruzamento realizado foi entre plantas que produziam sementes
amarelas com tegumento liso cruzadas com sementes verdes com tegumento rugoso.
Dessa forma, a proposição da segunda lei de Mendel, tem como fundamento a análise dos resultados decorrentes às possibilidades
que envolvem não mais o estudo de uma característica isolada (Primeira Lei de Mendel), mas o comportamento fenotípico envolvendo
duas ou mais características, em consequência da probabilidade (combinação) de agrupamentos distintos quanto à separação dos fatores
(genes alelos / genótipo) na formação dos gametas.
Após o estudo detalhado de cada um dos sete pares de caracteres em ervilhas, Gregor Mendel passou a estudar dois pares de ca-
racteres de cada vez. Para realizar estas experiências, Mendel usou ervilhas de linhagens puras com sementes amarelas e lisas e ervilhas
também puras com sementes verdes e rugosas. Portanto, os cruzamentos que realizou envolveram os caracteres cor (amarela e verde) e
forma (lisas e rugosas) das sementes, que já haviam sido estudados, individualmente, concluindo que o amarelo e o liso eram caracteres
dominantes. Mendel então cruzou a geração parental (P) de sementes amarelas e lisas com as ervilhas de sementes verdes (vv) e rugosas
(rr), obtendo, em F1, todos os indivíduos com sementes amarelas e lisas, como os pais dominantes. O resultado de F1 já era esperado por
Mendel, uma vez que os caracteres amarelo e liso (LL ou Lr) eram dominantes. Posteriormente, realizou a autofecundação dos indivíduos
F1, obtendo na geração F2 indivíduos com quatro fenótipos diferentes, incluindo duas combinações inéditas.
Os números obtidos aproximam-se da proporção 9:3:3:1 Observando-se as duas características, simultaneamente, verifica-se que
obedecem à Primeira Lei de Mendel. Em F2, se considerarmos cor e forma, de modo isolado, a proporção de três dominantes para um
recessivo permanece. Analisando os resultados da geração F2, percebe-se que a característica cor da semente segrega-se de modo inde-
pendente da característica forma da semente e vice-versa. Essa geração dos genes, independente e ao acaso, constituiu-se no fundamento
básico da Segunda lei de Mendel ou Lei da segregação independente.

→ Cruzamento diíbrido:
Aquele entre indivíduos que diferem em dois pares de genes.
P: LL AA x rr vv → F1: Lr Av
F1 x F1: Lr Av x Lr Av → F2:

Mendel concluiu que as características analisadas não dependiam uma das outras, portanto, são consideradas características inde-
pendentes. Texto adaptado de MORAES. P. L.

Alelos múltiplos: grupos sanguíneos dos sistemas ABO, Rh e MN


Polialelia, ou alelos múltiplos, é o nome dado ao fenômeno em que os genes possuem mais de duas formas alélicas, ou seja, uma
mesma característica pode ser determinada por três ou mais alelos (formas alternativas de um gene).
A explicação para a coexistência polialélica, deriva dos processos mutagênicos produzindo séries alélicas selecionadas e adaptadas ao
ambiente.
Um alelo é cada uma das várias formas alternativas do mesmo gene, ocupando um dado locus num cromossomo. Consiste em uma
sequência de núcleotídeos de um gene específico.
Um alelo pode ser mutante, resultando em um fenótipo alterado, ou selvagem, caracterizado por um produto gênico ativo e um fe-
nótipo “normal”.

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CONHECIMENTOS

Indivíduos diplóides → cromossomos homólogos → 2 alelos do O alelo i é recessivo.


mesmo gene Os alelos IA e IB são co-dominantes, ou seja, indivíduos hete-
rozigotos IAIB têm tanto antígeno A como B nas hemáceas, sendo
essas proteínas detectadas isoladamente na corrente sanguínea.
Porém, indivíduos AB não apresentam anticorpos anti-A e anti-B.
Assim:

Alelos múltiplos ou polialelia:


Quando existe mais de dois alelos para um dado gene em uma
espécie. Assim, um locus específico pode ser ocupado por uma sé-
rie de alelos múltiplos, de forma que um indivíduo diplóide possa
apresentar quaisquer dois alelos de um gene. Eles produzem varia-
bilidade genética na população.

Exemplos de polialelia:
- Alelos sanguíneos ABO em seres humanos:

Em coelhos
Um exemplo disso ocorre em coelhos, onde podem ser distin-
guidos quatro fenótipos distintos para a cor da pelagem: selvagem
(cinza-escuro, quase negro), chinchila (cinza-claro homogêneo), hi-
malaia (branco, com focinho, orelhas e extremidades das patas e da
cauda negras) e albino (inteiramente branco).
O locus ABO tem 3 alelos comuns: IA, IB e i. O locus controla Esses quatro fenótipos originam-se a existência de quatro alelos
o tipo de glicosídeo encontrado na superfície do eritrócito. Um distintos de um mesmo lócus. O gene C determina a manifestação
determinado glicolipídeo fornece determinantes antigênicos que selvagem e é dominante sobre todos os outros alelos. O gene cch-
reagem com anticorpos específicos presentes no soro sanguíneo. condiciona o fenótipo chinchila e é recessivo para selvagem, mesmo
Os tipos sanguíneos são determinados por três alelos diferen- sendo dominante para os outros. O gene ch é determinante da ma-
tes para um único gene: IA, IB e i. O alelo IA é responsável pela pre- nifestação da pelagem Himalaia, sendo dominante apenas sobre o
sença do antígeno A na hemácia; o alelo IB é responsável pela pre- albino. O gene c produz o fenótipo albino e é recessivo para todos
sença do antígeno B, e o alelo i é responsável pela ausência desse os demais alelos.
antígeno. Os alelos IA e IB exercem dominância sobre o alelo i, mas
entre IA e IB existe um caso de codominância.

Os três alelos existentes nos grupos sanguíneos permitem a


existência de seis diferentes genótipos para os quatro fenótipos en-
contrados na população. Veja abaixo os genótipos e fenótipos dos
grupos sanguíneos:
IAIA, IAi – Sangue A
IBIB, IBi – Sangue B
IAIB – Sangue AB
ii – Sangue O

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CONHECIMENTOS

xO interessante de observar nos coelhos, é que esses quatro fenótipos diferentes, estão na dependência de 10 genótipos distintos,
conforme o quadro a seguir:

A diferença na cor da pelagem do coelho em relação à cor da semente das ervilhas é que agora temos mais genes diferentes atuando
(4), em relação aos dois genes clássicos. No entanto, é fundamental saber a 1ª lei de Mendel continua sendo obedecida, isto é, para a de-
terminação da cor da pelagem, o coelho terá dois dos quatro genes. A novidade é que o número de genótipos e fenótipos é maior quando
comparado, por exemplo, com a cor da semente de ervilha.
O surgimento dos alelos múltiplos (polialelia) deve-se a uma das propriedades do material genético, que é a de sofrer mutações.
Assim, acredita-se que a partir do gene C (aguti), por um erro acidental na duplicação do DNA, originou-se o gene Cch (chinchila). A exis-
tência de alelos múltiplos é interessante para a espécie, pois haverá maior variabilidade genética, possibilitando mais oportunidade para
adaptação ao ambiente (seleção natural).
A herança dos tipos sanguíneos do sistema ABO constitui um exemplo clássico de alelos múltiplos e também de codominância na
espécie humana.
Por volta de 1900, o médico austríaco Karl Landsteiner (1868 – 1943) verificou que, quando amostras de sangue de determinadas
pessoas eram misturadas, as hemácias se juntavam, formando aglomerados semelhantes a coágulos.
Landsteiner concluiu que determinadas pessoas têm sangues incompatíveis.
E, de fato, pesquisas posteriores revelaram a existência de diversos tipos sanguíneos nos diferentes indivíduos da população.

Aglutinogênios e aglutininas

No sistema ABO existem quatro tipos de sangue: A, B, AB e O.


Esses tipos são caracterizados pela presença ou não de certas substâncias na membrana das hemácias: os aglutinogênios.
E pela presença ou ausência de outras substâncias – as aglutininas – no plasma sanguíneo.
Existem dois tipos de aglutinogênio ou antígeno – A e B – e dois tipos de aglutinina ou anticorpo – anti-A e anti-B.
Pessoas do grupo A possuem aglutinogênio A nas hemácias e aglutinina anti-B no plasma.
As do grupo B têm aglutinogênio B nas hemácias e aglutinina anti-A no plasma.
Pessoas do grupo AB têm aglutinogênios A e B nas hemácias e nenhuma aglutinina no plasma.
E pessoas do grupo O não têm aglutinogênios nas hemácias, mas possuem os dois anticorpos anti-A e anti-B no plasma.

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CONHECIMENTOS

O que acontece quando você recebe um sangue diferente do Herança dos Grupos Sanguíneos no Sistema ABO
seu
Quando, em uma transfusão, uma pessoa recebe um tipo de
sangue incompatível com o seu, as hemácias transferidas vão se
aglutinando assim que penetram na circulação.
Ocorre então a formação de aglomerados compactos que po-
dem obstruir os capilares prejudicando a circulação do sangue.
Essas aglutinações, que caracterizam as incompatibilidades
sanguíneas do sistema, acontecem quando uma pessoa possuidora
de determinada aglutinina (anticorpo) recebe sangue com o agluti-
nogênio correspondente (antígeno).

A produção de aglutinogênios A e B é determinada, respectiva-


mente, pelos alelos IA e IB.
Um terceiro alelo, chamado i, condiciona a não produção de
Indivíduos do grupo A não podem doar sangue para indivíduos
aglutinogênios.
do grupo B.
Trata-se, portanto, de um caso de alelos múltiplos.
Isso porque as hemácias A, ao entrarem na corrente sanguí-
Entre os alelos IA e IB há codominância (IA = IB), uma vez que o
nea do receptor B, são imediatamente aglutinadas pelo anti-A nele
heterozigoto AB produz os dois tipos de proteínas (aglutinogênio).
presente.
Entretanto, cada um deles é dominante em relação ao alelo i
(IA > i e IB> i).
A recíproca é verdadeira.
Indivíduos do grupo B não podem doar sangue para indivíduos O Fator Rh do sangue
do grupo A.
Tampouco indivíduos A, B ou AB podem doar sangue para in-
divíduos O.
Uma vez que estes têm aglutininas anti-A e anti-B, que agluti-
nam as hemácias portadoras de aglutinogênios A e B ou de ambos.
Assim, o aspecto realmente importante da transfusão é o tipo
de aglutinogênio (antígeno) da hemácia do doador e o tipo de aglu-
tinina (anticorpo) do plasma do receptor.
Indivíduos do tipo O podem doar sangue para qualquer pessoa.
Isso porque não possuem aglutinogênios A e B em suas hemá-
cias.
Esses indivíduos são chamados doadores universais.

Já os indivíduos AB, por outro lado, podem receber qualquer


tipo de sangue, porque não possuem aglutininas no plasma.
Por isso, pessoas do grupo AB são chamadas receptores uni-
versais.
Devemos ressaltar que indivíduos com o tipo sanguíneo O po-
dem doar seu sangue para qualquer indivíduo.
Entretanto, só podem receber sangue de pessoas do mesmo
grupo sanguíneo O.

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CONHECIMENTOS

O fator Rh é um dos dois grupos de antígenos eritrocitários (encontrados nas hemácias) de maior importância clínica, estando envol-
vido nas reações de transfusão de sangue, juntamente com os antígenos pertencentes ao sistema ABO.
O fator Rh foi descoberto em 1940 por Landesteiner e Wiene em experimentos realizados com coelhos e macacos.
Nesses experimentos, foi injetado sangue de um macaco do gênero Rhesus em cobaias, onde se obteve como resposta a formação de
anticorpos capazes de aglutinar as hemácias provenientes do macaco.
O anticorpo produzido no sangue da cobaia foi denominado anti-Rh e usado para testar sangue humano.
Os indivíduos cujo sangue aglutinava com o anticorpo produzido pela cobaia apresentavam o fator Rh e passaram a ser designados
Rh+, o que geneticamente se acreditava corresponder aos genótipos RR ou Rr.
Os indivíduos que não apresentavam o fator Rh foram designados Rh- e apresentavam o genótipo rr, sendo considerados genetica-
mente recessivos.

Herança do fator Rh na população humana


Os anticorpos extraídos das cobaias foram testados na população humana.
Nesses testes, verificou-se que parte da população humana apresentava reação de aglutinação enquanto outra se mostrava insensível.
Os indivíduos que apresentavam reação de aglutinação com anticorpos foram considerados pertencentes ao grupo Rh+.
Os demais, que não apresentavam aglutinação, pertenciam ao grupo Rh-.
Em estudos genéticos, ficou comprovado que a herança do fator Rh é monogênica com apenas 2 alelos.
Sendo que a presença do antígeno Rh é condicionada pela presença de um alelo dominante (R) e a ausência do antígeno Rh, pelo alelo
recessivo (r).
Doença Hemolítica do Recém-nascido (Dhr) – Eritroblastose Fetal: um problema genético

Mulheres Rh- (rr) que se casam com homens Rh+ (RR ou Rr) podem dar origem a crianças Rh+.
Como existe a possibilidade de o sangue materno ser transferido para o feto, em razão de um defeito na placenta ou hemorragias
durante a gestação e o parto, é possível que se formem, no organismo materno, anticorpos anti-Rh na primeira gestação.
Com isso, as crianças de partos subsequentes, que forem do grupo Rh+ podem apresentar sérios problemas.
Os anticorpos produzidos pela mãe na gestação anterior poderão atingir o sangue do feto e provocar a destruição de suas hemácias.
Isso resulta em problemas para o bebê. Tais como: morte intrauterina; morte logo após o parto; anemia grave; crianças surdas ou
deficientes mentais; icterícia (coloração amarela anormal devido ao derrame da bile no corpo e no sangue, devido às bilirrubinas) e insu-
ficiência hepática.
Essa doença que resulta da incompatibilidade sanguínea entre mãe e feto é chamada Eritroblastose Fetal.

O que se faz nesses casos


Nos dias atuais, já existem algumas alternativas para contornar ou amenizar o problema decorrente do risco da Eritroblastose fetal.
Como, por exemplo, utilizar anticorpos incompletos após a primeira gestação de uma criança Rh+ por uma mãe Rh-.
Isso é feito injetando-se na mãe uma quantidade de anticorpos anti-Rh, que é uma imunoglobulina, cuja função é destruir rapidamen-
te as hemácias fetais Rh+ que penetram na circulação da mãe durante o parto, antes que elas sensibilizem a mulher, para que não haja
problemas nas seguintes gestações.

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CONHECIMENTOS

A vacina injetada é chamada Rhogan. Como é possível galinhas de crista ervilha cruzarem com gali-
Este tipo de anticorpo não aglutina os glóbulos vermelhos do nhas de crista rosa e gerarem descendentes de crista noz? E ainda,
sangue Rh+. como é possível esses descendentes de crista noz cruzarem entre si
Em vez disso, os anticorpos anexam-se aos antígenos recepto- e gerarem quatro fenótipos distintos?
res, nas suas superfícies, e os revestem. Isso acontece porque a forma da crista é definida por dois pa-
Esses anticorpos incompletos podem ser injetados na mãe res de genes, (E) e (e) no caso da crista ervilha e (R) e (r) no caso da
Rh- imediatamente após o parto e são destruídos dentro de pou- crista rosa. Esses pares de genes possuem segregação independen-
cos meses, não apresentando qualquer perigo para a mãe ou suas te, porém não se manifestam de forma independente.
gerações posteriores. Esse é o procedimento padrão atualmente.
Nos casos em que a mãe é do grupo Rh+ e o filho é Rh-, não há Epistasia
problemas para a mãe, pois a produção de anticorpos pela criança A epistasia é uma modalidade da interação gênica na qual, ge-
só se inicia cerca de seis meses após o seu nascimento. nes de um lócus inibem a manifestação de genes de outro lócus. O
Em um processo de doação de sangue, devemos considerar o efeito epistático manifesta-se entre genes não alelos. Genes epistá-
sistema ABO juntamente com o fator Rh para prever a compatibili- ticos são os que impedem a atuação de outros, e hipostáticos são
dade sanguínea entre o doador e o receptor. os genes inibidos.
Portanto consideraremos dois pares de genes:
Interação Gênica O gene (A) é dominante sobre o alelo recessivo (a), assim como
A interação gênica ocorre quando dois ou mais pares de genes, o gene (B) é dominante sobre o alelo recessivo (b). Porém, o gene
com distribuição independente, determinam conjuntamente um (A) não é dominante sobre o par Bb, pois são genes diferentes em
único caráter. Esses pares de genes interagem entre si. lócus diferentes. Nesse caso, o gene (A) é epistático sobre o par Bb,
É possível explicar a interação gênica através de um exemplo já que inibe seu efeito. E os genes (B) e (b) são hipostáticos, pois são
clássico na genética: a forma da crista nas galinhas. Existem quatro inibidos pelo gene (A).
tipos distintos de cristas na galinha; a crista simples, a crista rosa, A epistasia pode ser dominante ou recessiva. Será dominan-
a crista ervilha e a crista noz. Cada forma distinta de crista é condi- te quando uma característica determinada por um par de genes
cionada pela interação de dois pares de genes, resultando nos se- depende, em parte, da ação de outro par de genes. Galinhas da
guintes genótipos: raça Leghorn apresentam plumagem colorida condicionada pelo
- Crista simples: eerr gene dominante (C), assim galinhas coloridas terão os genótipos:
- Crista rosa: eeR_ (eeRr/eeRR) CC ou Cc. O gene recessivo (c) condiciona plumagem branca, assim
- Crista ervilha: E_rr (EErr/Eerr) galinhas brancas terão o genótipo cc. E o gene (I) é epistático em
- Crista noz: E_R_ (EeRr/EERR) relação a (C), inibindo a manifestação de cor. Seu alelo recessivo (i)
permite que a cor se manifeste. Assim, sempre que os genótipos
No caso dos genótipos acima apresentados, note que nas cris- forem CCii ou Ccii as galinhas terão plumagem colorida, e quando
tas em forma de ervilha, noz e rosa os genes vêm acompanhados os genótipos forem CCII, CcII, CcIi, ccII, ccIi e ccii as galinhas terão
de um traço. Esse traço significa um gene desconhecido. Portanto, plumagem branca.
tomando como exemplo a crista rosa, é possível afirmar que essa A epistasia recessiva ocorre quando o alelo recessivo em ho-
crista irá se manifestar toda vez que aparecerem, ao mesmo tempo, mozigose funciona como epistático de um gene em outro lócus. É
os genes (e) em dose dupla e o (R) em dose simples, ou seja, os ge- possível exemplificar através da cor da pelagem de certos ratos. A
nótipos eeRr e eeRR manifestam a forma da crista rosa. cor da pelagem depende dos dois pares de genes: Aa e Cc. Sendo
Da mesma maneira, a crista em forma de ervilha irá se mani- que, (A) determina a pelagem amarela, (C) determina a pelagem
festar sempre que aparecerem, ao mesmo tempo, os genes (E) em preta, (a) não produz pigmento, e (c) em homozigose condiciona
dose simples e o (r) em dose dupla. A crista em forma de noz surgirá a ausência total de pigmento, ou seja, o albinismo. Sempre que
com os genes (E) e (R) em dose simples e juntos. Já a crista simples o gene (a) aparecer a coloração dos pelos será determinada pelo
sempre será determinada pela dose dupla dos genes (e) e (r), mani- gene dominante (A ou C). Quando os genes A e C aparecem juntos
festando sempre com o mesmo genótipo: eerr. a coloração produzida é pardo-acinzentada. E quando o gene (c)
Portanto, ao cruzar galinhas de crista ervilha, puras, com ga- surge em homozigose junto ao gene (A) os ratos serão albinos, já
linhas de crista simples obtêm-se uma F1 com 100% de seus des- que o par cc é epistático sobre o locus (A).
cendentes de crista ervilha. Cruzando as galinhas de F1 entre si,
obtêm-se uma F2 com galinhas de crista ervilha e de crista simples, Herança Quantitativa
na proporção de 3:1. A herança quantitativa ou herança poligênica também é uma
Proporção: 3:1 (três galinhas de crista ervilha e uma galinha de modalidade da interação gênica, na qual se avalia variações de ca-
crista simples) racteres, ao contrário dos caracteres que apresentam fenótipo sim
Quando galinhas de crista em forma de ervilha são cruzadas ou não, como no caso do daltonismo, onde o indivíduo é daltônico
com galinhas com crista rosa obtêm-se uma F1 com 100% de seus ou apresenta visão normal.
descendentes de crista em forma de noz. Ao cruzar as galinhas de Caracteres com variações apresentam gradação contínua do
F1 entre si, obtêm-se uma F2 com galinhas de crista noz, crista ervi- fenótipo entre os extremos. Como por exemplo, o tom de pele.
lha, crista rosa e crista simples, na proporção de 9:3:3:1. Não existe apenas pele branca ou escura. Existem peles alvas, bran-
Proporção: 9:3:3:1 (nove galinhas de crista noz, três galinhas cas, morenas, amarelas, pardas, mulatas, negras. Assim, a herança
de crista ervilha, três galinhas de crista rosa e uma galinha de crista quantitativa irá estudar todos esses fenótipos intermediários entre
simples). os extremos.

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CONHECIMENTOS

Essas variações contínuas ocorrem de maneira suave, como no Na espécie humana um exemplo típico de pleiotropia bem ob-
caso da estatura. Existem indivíduos com altura de 1,50m, 1,51m, servado é a fenilcetonúria. Condicionada por uma falha cromossô-
1,52m, 1,53m, e assim por diante. mica responsável pela tradução de uma enzima que metaboliza o
A herança quantitativa não apresenta dominância. Um gene aminoácido fenilalanina presente no fígado, provoca diversos danos
não apresenta dominância sobre o outro. Nessa herança, conside- ao organismo: diminuição da quantidade de pêlos, efeito sobre a
ra-se o número de genes aditivos. Voltando ao exemplo da tona- pigmentação da pele e redução da capacidade intelectual.
lidade de pele, consideram-se os genes (A) e (B) como genes que Outro aspecto está relacionado à dominância gênica em algu-
acrescentam melanina ao fenótipo básico, já os genes (a) e (b) não mas síndromes (síndrome de Marfan), causando deformidades ós-
acrescentam melanina. Os genes (A) e (B) são chamado de genes seas, deformidades nos olhos e afecções pulmonares e cardíacas.
acrescentadores ou aditivos. Texto adaptado de MELDAU. D. C.
Portanto, a tonalidade da pele será determinada pela quanti-
dade de genes aditivos no fenótipo. No caso da pele negra os dois Determinação do sexo
genes aditivos são encontrados (AABB), na pele mulata escura são O sexo genético é estabelecido na fertilização, mas a genitália
encontrados 3 genes aditivos (AaBB ; AABb), na pele mulata mé- externa não adquire características masculinas ou femininas distin-
dia dois genes aditivos (aaBB; AaBb ; AAbb), na pele mulata clara tas até a décima segunda semana. Os órgãos reprodutores se de-
apenas um gene(aaBb ; Aabb) e na branca, nenhum gene aditivo é senvolvem a partir de primórdios, que são idênticos em ambos os
encontrado (aabb). Esse exemplo foi dado de maneira simplificada, sexos. Durante o estágio indiferenciado, um embrião tem potencial
apenas para facilitar o entendimento, já que existe uma variação para se desenvolver tanto como no macho quanto como na fêmea.
muito maior na tonalidade da pele e portanto, mais genes aditivos. O desenvolvimento do sistema genital é conseguido através
da produção de gametas e de hormônios. A produção de gametas
Logo, a herança quantitativa é determinada por dois ou mais (espermatozóides e óvulos) se dá através das células da linhagem
pares de genes que apresentam seus efeitos somados, em relação germinativa, as quais são mantidas por células de natureza epitelial
a um mesmo caráter, de maneira a ocasionar a manifestação de um (células de Sertoli e células Foliculares). Já a produção de hormô-
fenótipo em diferentes intensidades. nios depende de uma outra população celular, as células intersti-
Na herança quantitativa o número de fenótipos é determinado ciais e as células da teca interna.
por:
Apesar do sexo cromossômico e genético de um embrião ser
Número de genes +1 determinado na fertilização pelo tipo de espermatozóide que ferti-
Diante disso, se considerarmos os fenótipos da cor da pele do liza o óvulo, as características masculinas e femininas só começam a
exemplo citado acima, quatro genes são atuantes. Assim, 4 genes +1 se desenvolver na sétima semana.
= 5 fenótipos. Os cinco fenótipos são representados por peles branca, O sistema genital se desenvolve em íntima associação com o
mulata clara, mulata média, mulata escura e negra. sistema urinário ou excretor.
Outro exemplo é o da flor maravilha que apresenta como genes A linhagem germinativa provêm de células chamadas gonóci-
atuantes o (V) e o (B), mas apresenta três fenótipos, já que 2 genes tos, as quais têm origem extragonadal, pois formam-se no endo-
+1 = 3 fenótipos. Sendo assim, os três fenótipos das cores das flores derma do saco vitelino. Os gonócitos, idênticos em ambos os se-
são cor-de-rosa, vermelha e branca. xos, são células grandes que migram para o local onde as gônadas
se formam. Eles misturam-se com células epiteliais proliferantes e
Pleiotropia juntos se dispõem formando cordões, chamados cordões sexuais
A Pleiotropia é a denominação utilizada para definir o estado primitivos.
de um gene, quando esse possui mais de uma atuação sobre o fe- Os cordões sexuais primitivos formam-se na parede do saco
nótipo, ou seja, é um mecanismo genético controlador de várias vitelino, durante a quarta semana e migram para as gônadas em
características a partir da expressão de um único gene. desenvolvimento, onde se diferenciam em células germinativas,
Os processos pleiotrópicos ocorrem com frequência nas espé- ovogônias/espermatogônias.
cies. Contudo para facilitar a compreensão, não é mencionado dida-
ticamente, sendo cada genótipo estudado de forma isolada. Desenvolvimento do Órgão Reprodutivo Masculino
Na 6ª semana, a região cortical das gônadas começa a se dege-
Um bom exemplo da influência gênica envolvendo esse fenô- nerar e a região medular origina-se em formação tubular (túbulos
meno é a manifestação condicionante de um gene em ervilhas, as seminíferos) contendo as células germinativas migratórias e as célu-
mesmas estudadas por Mendel. Tanto a cor do tegumento da se- las mesenquiais derivadas do epitélio superficial que darão origem
mente (a casca), a coloração das flores e a presença de manchas na às células de sustentação, as células de Sertoli.
base das folhas, são codificadas por um único gene.
Em organismos homozigóticos dominantes e heterozigóticos, As funções desempenhadas pelas células de Sertoli são diver-
são produzidas ervilhas com tegumento acinzentado da semen- sas. Dentre elas, auxiliam na troca de nutrientes e metabólitos dos
te, as flores são púrpuras e as folhas são caracterizadas por uma espermatócitos, espermátides e espermatozóides. A barreira for-
mancha roxa nas proximidades da inserção ao ramo. O contrário é mada pelas células de Sertoli também protege os espermatozóides
observado nas espécimes homozigóticas recessivas: a cor das flo- em desenvolvimento de ataque imunológico. Outra função desem-
res é branca, a casca da semente também é branca e as folhas não penhada pelas células em questão é a fagocitose de excessos de
possuem manchas. fragmentos de citoplasma liberados durante a espermiogênese.

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CONHECIMENTOS

Também secretam continuamente nos túbulos seminíferos um e as saliências genitais até a fase gonadal indiferenciada, na qual
fluído que é transportado na direção dos ductos genitais e é usado os cordões sexuais primitivos ocupam as regiões cortical e medu-
para transporte de espermatozóides. A secreção de uma proteína- lar das estruturas gonadais em desenvolvimento. Deste modo, não
ligante de andrógeno pelas células de Sertoli é controlada por hor- temos como distingui-los dos testículos, antes do primeiro mês de
mônio folículo-estimulante e testosterona e serve para concentrar vida fetal. A presença de dois cromossomos X nas células do em-
testosterona nos túbulos seminíferos, onde ela é necessária para a brião é de suma importância na caracterização fenotípica feminina
espermatogênese. Células de Sertoli podem converter testosterona e no desenvolvimento de partes gonadais e ductais do sistema ge-
em estradiol e também secretam um peptídeo denominado inibina, nital. Todavia, parece que o desenvolvimento ovariano não se limita
que suprime a síntese e a liberação de FSH pela hipófise. à dependência da carga genética do cromossomo X, admitindo-se
A partir da sétima semana, se o embrião é geneticamente do o envolvimento de um gene autossômico neste processo. Nestas
sexo masculino, observa-se que os cordões sexuais desenvolvem-se gônadas, os cordões sexuais primitivos que brotam do seu epitélio
e invadem a medula da gônada. superficial e mergulham no mesênquima formam na região medu-
O mesênquima intertubular, origina-se e dá origem a um me- lar em desenvolvimento a rete ovarii que degenera posteriormente.
sênquima intertubular diferenciado, com células potencializadas Com a degeneração da porção cordonal medular, o córtex se
para formação de um grupo de células endócrinas (as células inters- estrutura através de novos cordões mergulhados no mesênquima
ticiais de Leydig, que na 8ª semana começam a secretar testostero- subjacente, agora denominados cordões corticais, aos quais se in-
na) e as células conjuntivas. As células germinativas primordiais ori- corporam as células germinativas primordiais no 3º mês de vida
ginam espermatogônias no interior dos túbulos seminíferos e são pré-natal. Mais tarde, com a desagregação das células cordonais,
de grande importância para o desenvolvimento gonadal, uma vez grupos isolados destas células se dispõem ao redor de células ger-
que o desenvolvimento das gônadas depende da chegada destas minativas primordiais, que dão origem a ovogônias, estas apresen-
células às saliências. tam grande atividade mitótica, e muitas delas degeneram durante
Os cordões testiculares separam-se da superfície que lhes deu a vida fetal, as restantes aumentam ligeiramente de volume, trans-
origem e abaixo desta aparece uma cápsula de tecido conjuntivo formando-se em ovócitos.
denso, a albugínea. No 7º mês de vida intra-uterina, estes ovócitos, que já entraram
O desenvolvimento de uma túnica albugínea densa é a indi- na primeira divisão meiótica e permanecem na fase de diplóteno
cação característica do desenvolvimento testicular no feto. Gra- até a puberdade, circundados por células planas oriundas da desa-
dualmente, o testículo em crescimento se separa do mesonefro em gregação cordonal, formando nesta região os folículos primordiais.
degeneração e torna-se suspenso pelo seu próprio mesentério, o Os ovócitos encontrados nestes folículos são ditos ovócitos primá-
mesorquidio. rios. Alguns destes folículos degeneram antes da puberdade, outros
Os cordões testiculares permanecem sólidos até o sexto mês podem entrar em degeneração nesta época, enquanto alguns ex-
quando também formam os túbulos seminíferos, túbulos retos e perimentam crescimento e maturação sob a influência hormonal.
rede testicular. O gubernáculo prende-se ao útero, próximo ao local de ligação
Os túbulos seminíferos sofrem canalização e adquirem luz, ao da tuba uterina. A parte cranial do gubernáculo torna-se o ligamen-
mesmo tempo em que às células germinativas primordiais dão ori- to ovariano, e a parte caudal forma o ligamento redondo do útero.
gem a duas categorias de espermatogônias (a tipo A e a tipo B). As
espermatogônias do tipo A originam as células troncas, e as do tipo Há evidências de que as células planas (células foliculares) que
B formam os espermatócitos primários. envolvem os ovócitos secretam uma substância inibidora da meio-
Os cordões sexuais primitivos dão origem aos tubos retos e à se, e, por isso, os ovócitos primários não completam sua divisão
rede testicular, além dos túbulos seminíferos. A diferenciação des- antes da puberdade.
tes cordões está na presença do cromossomo Y, que possui um fator As tubas uterinas têm origem nos ductos paramesonéfricos
determinante capaz de induzir a região medular das gônadas indife- (ductos de Müller) respondendo pela formação das camadas de tecido
renciadas, recebendo o nome de fator Testículo Determinante. Na conjuntivo e muscular. Logo, das porções cefálicas destes ductos é que
8ª semana, os túbulos mesonéfricos iniciam um processo de desen- deriva o epitélio tubário. As porções caudais dos ductos de Müller fun-
volvimento no qual sua parte proximal estrutura-se em ductos efe- dem-se, originando o epitélio uterino e o epitélio da parte superior da
rentes e porção epididimárias, enquanto a distal constitui os canais vagina. O mesênquima circundante se encarrega de originar o restante
deferentes e a porção corresponde ao ducto ejaculador, além das da parede destes órgãos (útero e vagina). Desta fusão também resulta
vesículas seminais. a aproximação das duas pregas peritoneais, formando os ligamentos
Evaginações múltiplas de porção prostática da uretra em for- largos direito e esquerdo e as bolsas retouterinas e vesicouterinas.
mação crescem e constituem a porção epitelial glandular da prós- Já que a parte superior da vagina originou-se da fusão dos duc-
tata. Já na porção membranosa da uretra, desenvolvem-se evagi- tos paramesonéfricos, o restante da vagina no que diz respeito ao
nações que levam a formação das glândulas de Cowper. O pênis se seu epitélio, deriva-se do endoderma do seio urogenital. Quando
forma com o desenvolvimento do seio urogenital. O mesenquima os ductos de Muller se fundirem e formarem o conduto uterova-
forma as saliências genitais, que se diferenciarão em saliências es- ginal, que fica em contato com o seio urogenital, originase o tubérculo
crotais para formar o escroto, que ficam separados um do outro do seio. Tal contato induz à formação dos bulbossinovaginais que, ao se
pelo septo escrotal. fundirem originam a placa vaginal, cujas células centrais se desintegram
para o surgimento da luz vaginal e as periféricas parecem contribuir para
Ovários, tubas uterinas, útero, vagina, vulva e mama a formação do epitélio dos dois terços inferiores da vagina, embora haja
Os ovários, situados um em cada lado da linha média do cor- quem admita que todo o epitélio vaginal venha destas células
po, têm origem semelhante à dos testículos, considerando-se que
de sua formação tomam parte as células germinativas primordiais
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CONHECIMENTOS

As pregas urogenitais não se fundem, exceto na parte posterior, Embora não sejam totalmente homólogos, os cromossomos X
onde elas se unem para formar o frênulo dos pequenos lábios. As e Y possuem pequenas regiões homólogas nas pontas, o que garan-
partes não fusionadas das pregas urogenitais formam os pequenos te, num indivíduo do sexo masculino, o emparelhamento dos dois
lábios. A maior parte da pregas labioescrotais permanece não fu- cromossomos e sua distribuição normal para as células filhas na pri-
sionada e forma duas grandes pregas de pele, os grandes lábios. meira divisão da meiose.
Enquanto isso o clitóris surge com discreto alongamento do tubér- O cromossomo Y é mais curto e possui menos genes que o cro-
culo genital. Com a abertura do sulco urogenital, surge o vestíbulo. mossomo X, além de conter uma porção encurtada, em que exis-
O hímen é formado devido a uma invaginação da parede posterior do tem genes exclusivos do sexo masculino. Observe na figura 1 abaixo
seio urogenital, o que resulta na expansão da porção caudal da vagina. O que uma parte do cromossomo X não possui alelos em Y, isto é,
hímen geralmente se rompe durante o período perinatal e permanece como entre os dois cromossomos há uma região não-homóloga.
uma delgada prega de membrana mucosa dentro do orifício vaginal.
Os restos do ducto mesonéfrico formam o sexo feminino e as
mamas surgem durante o período de organogênese, que se desen-
volvem em direção ao mesênquima subjacente. O mesênquima
aprofunda-se ao longo de faixas ectodérmicas desde as regiões axi-
lares às inguinais, estas faixas são as cristas mamárias. De um broto
mamário inicial surgem vários brotos secundários de onde resultam
os ductos lactíferos, sob a influência de hormônios que atravessam
a placenta e chegam ao feto.

Determinação do sexo
O sexo cromossômico e genético é estabelecido na fertilização e de-
pende da fertilização de um óvulo que contenha um cromossoma X e por
um espermatozóide que contenha um X ou um Y. O tipo de gônada que se
desenvolve depende do complexo cromossômico sexual do embrião (XX
ou XY). Antes da sétima semana, as gônadas dos dois sexos são idênticas Entretanto, o fato de apresentarem regiões sem homologia
em aparência e são chamadas de gônadas indiferenciadas. O desenvolvi- tem implicações na herança de algumas características. Os genes
mento do fenótipo masculino requer um cromossoma Y. Dois cromosso- localizados na região do cromossomo X, que não possui homologia
mas X são necessários para o desenvolvimento do fenótipo feminino. em Y, seguem um padrão de herança denominada herança ligada
A ausência de um cromossoma Y resulta na formação de um ao cromossomo X ou herança ligada ao sexo. Herança ligada ao
ovário. Consequentemente, o tipo de complexo cromossômico se- cromossomo Y ou herança restrita ao sexo é a que se refere aos
xual estabelecido na fertilização, determina o tipo de gônada que genes localizados somente no cromossomo Y, chamados de genes
se diferenciará a partir da gônada indiferenciada. O tipo de gôna- holândricos.
da presente, então, determina o tipo de diferenciação sexual que
ocorre nos ductos genitais e na genitália externa. A testosterona, HERANÇA DE CARACTERÍSTICAS RELACIONADAS AO SEXO
produzida pelo testículo fetal, determina masculinidade. A diferen- A diferença cromossômica entre machos e fêmeas promove
ciação sexual feminina ocorre se os ovários estiverem ausentes e, também a ocorrência de um mecanismo de herança característico
aparentemente, não está sob influência hormonal. para os genes localizados nestes cromossomos. Havendo uma dife-
Texto adaptado de FERREIRA, R. B. R. T; MARTINS, M. M. G; SILVA, rença morfológica entre os cromossomos sexuais, regiões homólo-
I. gas e não homólogas serão encontradas nos mesmos. As regiões
não homólogas são chamadas de regiões diferenciais, pois apresen-
Herança dos cromossomos sexuais tarão genes presentes apenas naquele tipo de cromossomo, assim,
Na natureza, a maioria dos animais e muitas plantas, apresen- esses genes não terão homólogos no outro cromossomo sexual.
tam diferença sexual, onde encontramos organismos masculinos
e femininos. Geralmente, essa diferenciação é determinada por
cromossomos especiais, denominados cromossomos sexuais. As
características determinadas pelos genes presentes nesses cromos-
somos também terão padrão de herança diferente dos genes locali-
zados nos demais cromossomos (autossomos).

Todos os gametas (óvulos) formados por meiose em uma mu-


lher possuem o cromossomo X, enquanto os homens podem for-
mar gametas (espermatozóides) que apresentam o cromossomo X
e outros, que apresentam o cromossomo Y. Por isso dizemos que as
mulheres são o sexo homogamético e os homens são o sexo hete-
rogamético.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Figura 2. Representação dos cromossomos X e Y humanos, desta-


cando as regiões de homologia e região não homóloga.

A região homóloga entre X e Y são importantes por promover


um pareamento parcial entre esses cromossomos durante a divisão
meiótica, o que garante sua segregação na formação dos gametas.
Nas regiões não homólogas do cromossomo X, encontram-se genes
de importância estrutural, inclusive genes para algumas doenças
que serão estudadas a seguir. No cromossomo Y, em sua porção não
homóloga, encontramos genes masculinizantes e de características
exclusivas para o sexo masculino. Esses genes são denominados
holândricos. Figura 3. Exemplo de teste para daltonismo. Indivíduos daltônicos
não conseguem visualizar o número na figura.
HERANÇA LIGADA AO CROMOSSOMO X
Também conhecida como “herança ligada ao sexo”, engloba o Veja o cruzamento (Figura 4) apresentando um casal forma-
estudo de genes presentes no cromossomo X. Estes genes apresen- do por uma mulher portadora (XDXd) e um homem normal (XDY).
tam padrão de herança diferente do convencional, descrito pelas A possibilidade de descendentes é de 25% para mulher normal
leis mendelianas, pois, nos machos, se encontram em hemizigose. (XDXD), 25% para mulher portadora (XDXd), 25% para homem nor-
Como no cromossomo Y não existe a região de homologia para es- mal (XDY) e 25% para homem daltônico (XdY). Neste cruzamento é
ses genes, os machos apresentam apenas um alelo e vão expressar possível visualizar que, para características ligadas ao cromossomo
a característica determinada por ele. Características de expressão X, é a mãe portadora quem transmite o alelo defeituoso ao filho.
recessiva, basta um alelo presente no X para que a mesma se ex-
presse em indivíduos do sexo masculino. Nesses casos dizemos que
a característica foi transmitida pela mãe, pois, o alelo responsável
está presente no cromossomo X herdado dela. Vejamos alguns
exemplos:

DALTONISMO
A percepção de cores pelo olho humano ocorre em células dos
cones que revestem a retina. Estas células detectam três tipos de
cores específi cas: azul, verde e vermelho (as demais cores são re- Figura 4. Cruzamento entre um homem normal XDY e uma mulher
sultado da combinação realizada em nosso cérebro). O tipo mais portadora do alelo para o daltonismo XDXd. Os descendentes.
comum de daltonismo em humanos é o que não distingue as cores
vermelho e verde. Os genes que determinam a capacidade para a Nos heredogramas para características ligadas ao sexo usa-se re-
percepção destas cores estão localizados no cromossomo X. presentar o indivíduo portador com um sinal diferente ao do indivíduo
normal. Veja a representação deste padrão de herança na Figura 5.
Os possíveis genótipos e fenótipos correspondentes são: Observe também que homens que apresentam a característica não a
transmitem para seus filhos do sexo masculino, mas, suas filhas serão
todas portadoras do alelo para a característica

Figura 5. Heredograma para representação de característica ligada


ao sexo
Os homens daltônicos e hemofílicos transmitem os alelos d e h
somente para as filhas. HEMOFILIA
Um exemplo de teste para daltonismo está na Figura 3. Obser- A hemofilia é uma doença caracterizada pela deficiência na
vação: O gene para detecção da cor azul está localizado no cromos- produção de fatores de coagulação do sangue. Esta característica é
somo 7, portanto, tem padrão de herança autossômica. determinada por um gene presente no cromossomo X. Indivíduos
portadores do alelo XH são capazes de produzir a proteína respon-
sável pela coagulação do sangue, enquanto o alelo Hh não produz
essa proteína.

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CONHECIMENTOS

Os possíveis genótipos e fenótipos correspondentes são:

DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE


Doença caracterizada pelo enfraquecimento e atrofia progressiva dos músculos, manifesta-se por volta dos quatro anos de idade,
quando os meninos começam a apresentar dificuldades em movimentos comuns do cotidiano como se levantar de uma cadeira ou subir
uma escada. A doença progride lentamente até comprometer funções vitais, causando insuficiência cardíaca e respiratória. Geralmente
os indivíduos com esta característica sobrevivem até por volta dos vinte anos de idade. Como estes pacientes ao atingirem a idade fértil
já se encontram muito comprometidos pela doença, não chegam a se reproduzir e por esse motivo, não são encontradas mulheres com
distrofia muscular, pois, para estas apresentarem a doença, seria necessário herdar um par de alelos defeituosos (Xd) do pai e da mãe.

HERANÇA LIGADA AO CROMOSSOMO Y


Na porção diferencial do cromossomo Y não vamos encontrar genes estruturais como encontramos no cromossomo X. Nesse cromos-
somo encontramos apenas genes ligados a características exclusivas ao sexo masculino, como o gene SRY que produz o fator de diferen-
ciação testicular (TDF), responsável pela diferenciação embrionária do testículo. Outra característica também ligada ao cromossomo Y é a
ocorrência de pêlos nas bordas das orelhas (Figura 6), característica não muito comum, mas, exclusiva a indivíduos do sexo masculino. Um
homem que apresente essa característica vai transmiti-la a todos os seus descendentes do sexo masculino.

Figura 6. Indivíduo normal e indivíduo com pêlos nas bordas das orelhas

HERANÇA INFLUENCIADA PELO SEXO


Alguns genes localizados em autossomos tem comportamento diferente dependendo do sexo do individuo, comportando a caracterís-
tica, hora como dominante, hora como recessiva, se o individuo for do sexo masculino ou feminino. Um exemplo para esse tipo de herança
é a calvície, que no homem é uma característica dominante, enquanto na mulher, é recessiva. Portanto, enquanto as mulheres precisam
apresentar dois genes para serem calvas, basta um gene C para a calvície se manifestar nos homens. (Figura 7).

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CONHECIMENTOS

Figura 7. Calvície – característica dominante no sexo masculi- Distúrbios Autossômicos Dominantes


no e recessiva no sexo feminino Distúrbios autossômicos dominantes são aqueles em que a
presença de uma única cópia de um gene mutante (alelo) resulta
MECANISMO DE COMPENSAÇÃO DE DOSES em doença. Desse modo, tanto indivíduos homozigotos quanto
No início do período embrionário das fêmeas de mamíferos heterozigotos expressam o fenótipo da doença, homens e mulhe-
ocorre a inativação aleatória de um dos cromossomos X em cada res são igualmente afetados, e qualquer indivíduo afetado pode
célula. Essa inativação ocorre por meio da compactação do material transmitir a condição para seus descendentes. Na maioria dos ca-
genético que fica visível como uma pequena região de coloração sos, os indivíduos afetados por um desses distúrbios apresentam
mais densa no núcleo. pelo menos um dos pais que também é afetado. O padrão autos-
Essa inativação persiste por todas as mitoses, sendo transmiti- sômico dominante de herança é caracterizado pela transmissão
da às células filhas seguintes e, dessa forma, uma célula que anulou vertical da doença de uma geração para outra, expressão igual
um cromossomo X herdado do pai, vai gerar toda uma linhagem entre homens e mulheres, ausência de filhos afetados a partir de
de células com este mesmo cromossomo compactado. Por esse pais não afetados, chance de 50% de filhos afetados a partir de
motivo de apresentarem linhagens uma de células com inativação pais afetados, e a maioria dos indivíduos afetados apresenta um
do cromossomo X paterno, e outra do X materno, as fêmeas são dos pais afetado. Indivíduos com distúrbio autossômico dominan-
consideradas mosaicos de células. Na visualização microscópica, te, mas sem um dos pais afetado, em geral apresentam uma mu-
esse ponto do material genético correspondente ao cromossomo X tação fundadora no gene da doença. Mutações fundadoras não
anulado por compactação é denominado cromatina sexual ou cor- são encontradas nas linhagens germinativas dos pais, mas ocor-
púsculo de Barr (Figura 8) e fica localizado próximo à membrana do rem no espermatozóides ou no óvulo antes da fertilização. Desse
núcleo. A cromatina sexual está presente apenas em células femi- modo, o filho afetado carrega o gene mutante em sua linhagem
ninas, pois, os machos apresentam apenas um cromossomo X não germinativa e pode passar a mutação para sua prole. Os irmãos
sofrem inativação desse cromossomo. de indivíduos com mutações fundadoras não são afetados e não
apresentam um risco maior de desenvolvimento da doença.

Figura 8. Cromatina sexual presente em células femininas

Texto adaptado de OLIVEIRA. G. V. D.

Doenças genéticas
As doenças genéticas podem ser classificadas em três grupos
principais:
(1) distúrbios cromossômicos,
(2) distúrbios monogênicos e
(3) distúrbios poligênicos.

Os distúrbios cromossômicos são o resultado da perda, do ga-


nho ou do rearranjo anormal de um ou mais cromossomos, resul- Padrões de herança associados a distúrbios monogênicos au-
tando em deficiências do material genético ou em material genético tossômicos dominantes e autossômicos recessivos. (A) Heredogra-
excessivo. Os distúrbios monogênicos são o resultado de um único ma representando o padrão de herança autossômico dominante de
gene mutante e apresentam padrões típicos de herança mendelia- uma doença genética. Este é o padrão associado a doenças como
na (autossômico dominante, autossômico recessivo e ligado ao X). doença de Huntington, neurofibromatose, distrofia miotônica, hi-
Os distúrbios poligênicos ou multifatoriais resultam de múltiplos fa- percolesterolemia familiar e várias outras. Círculo, mulher; quadra-
tores genéticos e/ou epigenéticos que não se encaixam nos padrões do, homem; aberto, não afetado; sólido, afetado. (B) Heredograma
típicos de herança mendeliana. apresentando o padrão de herança autossômico recessivo de uma
doença genética. Este é o padrão associado a doenças como fibrose
Distúrbios de um Único Gene cística, doença de Tay-Sachs, anemia falciforme e vários distúrbios
Distúrbios de único gene envolvem a mutação de um gene que metabólicos. Círculo, mulher; quadrado, homem; aberto, não afeta-
é responsável pelo fenótipo observado no indivíduo afetado. Esses do; sólido, afetado; parcialmente preenchido, portador.
distúrbios em geral acompanham um dos três padrões de herança: A expressão da doença refletida nas características clínicas en-
(1) autossômico dominante, (2) autossômico recessivo ou (3) ligado tre indivíduos afetados por distúrbios autossômicos dominantes
ao X. A frequência de distúrbios monogênicos entre a população pode variar em função da penetrância reduzida e da expressividade
geral é de cerca de 10 em 1.000 nascidos vivos. variável. Do mesmo modo, a idade do início da doença pode va-
riar, indo da primeira infância à fase adulta tardia. Alguns indivíduos
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CONHECIMENTOS

que herdam um gene mutante serão fenotipicamente normais (sem lheres dois. Desse modo, as mulheres podem ser heterozigóticas ou
evidência da doença). Isso reflete uma penetrância incompleta da homozigóticas para um gene mutante ligado ao X, e a característica
doença associada à mutação. A penetrância é uma medida de quão associada pode se expressar de modo dominante ou recessivo. Em
frequentemente os pacientes com um alelo mutante expressam contrapartida, os homens expressam o gene mutante ligado ao X
a doença associada à mutação. Dessa forma, uma mutação que sempre que ele for herdado. Não há transmissão de homem para
apresente 100% de penetrância irá produzir doença em todo indi- homem de distúrbios ligados ao X, e todas as filhas de homens afe-
víduo portador da mutação. Em contrapartida, uma mutação que tados herdam o gene mutante da doença. Distúrbios recessivos li-
apresente 50% de penetrância irá produzir doença em apenas 50% gados ao X afetam principalmente homens. No caso de distúrbios
dos portadores da mutação. A expressividade variável refere-se à dominantes ligados ao X, todas as filhas de homens afetados tam-
observação de que, em um grupo de indivíduos com uma doença bém são afetadas. A inativação do X resulta na expressão de genes
associada à mutação, a manifestação da doença pode ser diferente ligados ao X de apenas um cromossomo X. Assim, a expressão de
(diferenças na gravidade, no fenótipo da doença). Os mecanismos um distúrbio ligado ao X em uma mulher dependerá da presença do
responsáveis pela penetrância reduzida e pela expressividade variá- gene mutante, bem como de sua localização em um cromossomo
vel não são bem conhecidos. Entretanto, acredita-se que os efeitos X ativo.
de outros genes ou fatores ambientais possam influenciar a expres- A herança recessiva ligada ao X é responsável por um pequeno
são das mutações causadoras de doenças. Diferenças na idade de número de condições clínicas bem definidas. Alguns desses distúrbios
início da doença refletem a observação de que algumas doenças ligados ao X afetam sistemas de órgãos específicos, incluindo o sistema
associadas a mutações se desenvolvem no início da vida e outras musculoesquelético (distrofia muscular de Duchenne), o sangue (he-
se desenvolvem em adultos ou mais tarde na vida. Esse fenômeno mofilia A, hemofilia B, doença granulomatosa crônica, deficiência de
provavelmente está relacionado ao contexto fisiológico e de desen- glicose-6-fosfato-desidrogenase), o sistema imune (agamaglobuline-
volvimento em que os genes causadores de doença se expressam. mia) ou o sistema nervoso (síndrome do X frágil). Além disso, alguns
Distúrbios autossômicos dominantes afetam vários sistemas, distúrbios metabólicos são doenças ligadas ao X, incluindo a síndrome
incluindo o sistema nervoso (doença de Huntington, neurofibro- de Lesch-Nyhan e o diabetes insípido. Essa lista de exemplos procura
matose, distrofia miotônica, esclerose tuberosa), o sistema urinário ser representativa, mas não completa.
(doença do rim policístico), o sistema gastrintestinal (polipose colôni-
ca familiar), o sistema hematopoiético (doença de von Willebrand) e Distúrbios Mitocondriais
o sistema esquelético (síndrome de Marfan, osteogênese imperfeita, A mitocôndria humana (e de outros mamíferos) contém sua
acondroplasia e outras). Além disso, alguns distúrbios autossômicos própria molécula de DNA de cerca de 17 kb, que apresenta vários
dominantes representam doenças metabólicas (tais como hiperco- genes que codificam proteínas associadas à função mitocondrial e
lesterolemia familiar). Essa lista de exemplos procura ser representa- especificamente ao metabolismo energético (codificando algumas
tiva, mas não completa. das proteínas dos complexos enzimáticos da cadeia transportadora
de elétrons e a enzima ATP-sintase mitocondrial). Cada mitocôndria
Distúrbios Autossômicos Recessivos pode conter várias cópias do cromossomo mitocondrial, e cada cé-
Distúrbios autossômicos recessivos são aqueles em que duas lula contém um grande número (talvez centenas) de mitocôndrias.
cópias do gene mutante são necessárias para a expressão do fenó- Mutações em genes codificados pelo DNA mitocondrial estão as-
tipo da doença. Desse modo, indivíduos heterozigotos são indistin- sociadas a várias doenças. Entretanto, a expressão de um estado
guíveis de indivíduos portadores de duas cópias normais do gene doente necessita do acúmulo de números suficientes de cópias
associado à doença. Entretanto, deve ser observado que, em alguns do DNA mitocondrial mutante (por deriva aleatória e segregação
indivíduos heterozigotos, há alterações sutis em vários parâmetros citoplasmática) para resultar em disfunção mitocondrial no nível
bioquímicos, que não são facilmente detectáveis, pois não provo- celular. A herança de distúrbios associados à mitocôndria é estrita-
cam sintomas discerníveis. Esses indivíduos heterozigotos (que car- mente materna. Portanto, mulheres transmitem características de-
regam um gene normal e um gene mutante) são denominados por- terminadas pelas mitocôndrias a todos os seus filhos. Em casos ra-
tadores. A prole de dois portadores do mesmo gene mutante terá ros, mães afetadas terão uma criança não afetada. Esse fenômeno
uma chance de 25% de desenvolver a doença (devido à herança provavelmente reflete segregação citoplasmática de mitocôndrias
homozigótica do gene mutante) e uma chance de 50% de se tor- mutantes no tecido formador de gametas.
nar portadora (devido à herança heterozigótica do gene mutante). Distúrbios mitocondriais incluem epilepsia mioclônica e doen-
Em contraste com os distúrbios autossômicos dominantes, os dis- ça de fibras vermelhas rotas, neuropatia óptica hereditária de Leber,
túrbios autossômicos recessivos apresentam uma expressão mais fraqueza muscular neurogênica/ataxia/retinite pigmentosa, síndro-
uniforme do defeito, a penetrância completa é comum, e o iní- cio me de Kearns-Sayre, síndrome hereditária materna de Leigh, oftal-
da doença em geral ocorre precocemente na vida. Dessa maneira, o moplegia progressiva e várias outras doenças. Essa lista de exem-
padrão de herança autossômico recessivo é caracterizado por pene- plos procura ser representativa, mas não completa. É notável que
trância horizontal, indivíduos homozigóticos afetados apresentan- muitas dessas doenças mitocondriais se manifestem como defeitos
do pais heterozigóticos não afetados, e pais heterozigóticos (mãe e musculares, refletindo o grande consumo energético dos tecidos
pai) com uma chance de 25% de ter um filho afetado. musculares e o fato de que a maioria dessas doenças mitocondriais
se caracteriza por comprometimento do metabolismo energético.
Distúrbios Ligados ao X Doenças Poligênicas
Genes responsáveis por distúrbios ligados ao X são transporta- Doenças poligênicas ou multifatoriais resultam de múltiplos
dos pelo cromossomo X. O risco de desenvolvimento desses distúr- fatores genéticos e/ou epigenéticos (mutações ou eventos de si-
bios e sua gravidade variam entre homens e mulheres em função lenciamento gênico) e não se encaixam nos padrões mendelianos
do fato de os homens apresentarem um cromossomo X e as mu- tradicionais de herança. Desse modo, elas representam patologias
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CONHECIMENTOS

em que um único gene ou evento mutacional não irá diagnosticar A divisão de doenças neoplásicas em benignas e malignas é
definitivamente ou ser capaz de prever o risco. Distúrbios poligêni- extremamente importante, tanto para a compreensão da biologia
cos incluem doenças crônicas da fase adulta, malformações congê- dessas neoplasias quanto para o reconhecimento das alterações
nitas e síndromes dismórficas. Em alguns casos, amplas classes de clínicas potenciais para tratamento. No nível mais básico, as neo-
doenças refletem patogênese molecular poligênica; por exemplo, plasias são classificadas como benignas ou malignas. As neoplasias
câncer (em quase todos os casos) é um distúrbio de genes múlti- benignas não apresentam características invasivas e são considera-
plos. Outros exemplos de doenças poligênicas incluem hipertensão, das como tumores que apresentam baixa probabilidade de invasão
doença cardíaca isquêmica, doença de Alzheimer e diabetes melito. e dispersão. Em contraste, as neoplasias malignas apresentam com-
Em todos esses casos, a manifestação da doença está associada a portamentos invasivos e/ou alto risco de dispersão metastática.
interações de vários genes alterados e fatores ambientais. Dada a Uma subclassificação adicional das neoplasias malignas traça uma
complexidade dessas doenças (e famílias de doenças), não há uma distinção entre (1) cânceres da infância versus cânceres que afetam
compreensão das complexidades genéticas da maioria das doenças principalmente adultos, (2) tumores sólidos versus neoplasias he-
poligênicas, e a elucidação da patogênese molecular de distúrbios matopoiéticas e (3) cânceres hereditários versus neoplasias espo-
multifatoriais permanece pouco conhecida. rádicas. Tanto neoplasias benignas quanto malignas são compostas
por células neoplásicas que formam o parênquima e por estroma
Distúrbios Citogenéticos não neoplásico que é composto de tecido conectivo, vasos sanguí-
Distúrbios citogenéticos são doenças que estão associadas a neos e outras células que dão suporte ao parênquima do tumor. O
alterações cromossômicas. Em alguns casos, essas doenças são ca- estroma do tumor apresenta uma função crítica no apoio do cresci-
racterizadas por anomalias do cariótipo envolvendo números anor- mento das neoplasias fornecendo irrigação sanguínea para nutrien-
mais de cromossomos (perdas ou ganhos), enquanto, em outros, tes e oxigênio. Em quase todos os casos, as células do parênqui-
elas estão associadas ao rearranjo anormal de um ou mais cromos- ma determinam o comportamento biológico (e o curso clínico) da
somos. Independente da manifestação molecular da anomalia cro- neoplasia. Além disso, o tipo de célula do parênquima da neoplasia
mossômica, todos esses distúrbios resultam em deficiências de ma- determina como a lesão é nomeada.
terial genético ou em material genético excessivo. O complemento
cromossômico normal de uma mulher é 46XX (referindo-se a 22 pa- Predisposição Genética de Doença Neoplásica
res de autossomos e os cromossomos sexuais XX), e o complemen- O câncer não é uma doença, mas uma miríade de doenças com
to cromossômico normal de um homem é 46XY (referindo-se a 22 tantas manifestações diferentes quanto tecidos ou tipos celulares
pares de autossomos e os cromossomos sexuais XY). A monossomia no corpo humano. Todos esses estados de enfermidade têm em
envolvendo um autossomo normalmente é fatal na fase embrioná- comum certas propriedades biológicas das células que compõem
ria, refletindo a perda de muitas informações genéticas para a via- os tumores, incluindo crescimento celular descontrolado (clonal),
bilidade do feto em desenvolvimento. Entretanto, algumas anoma- dificuldade de diferenciação celular, invasividade e potencial me-
lias numéricas, envolvendo a trissomia de autossomos, permitem tastático. Atualmente, sabe-se que o câncer, na sua forma mais
um nascimento vivo. No entanto, com raras exceções (síndrome de simples, é uma doença genética. Mais precisamente, ele é uma
Down), essas trissomias autossômicas levam a recém-nascidos gra- doença de expressão gênica anormal. Os mecanismos moleculares
vemente incapacitados, que morrem em uma idade precoce. Em que governam a proliferação celular descontrolada na doença neo-
contraste, vários distúrbios cromossômicos afetando o nú- mero de plásica envolvem perda, mutação ou desregulação de genes que
cromossomos sexuais foram caracterizados. positivamente ou negativamente controlam a proliferação, a migra-
ção e a diferenciação celulares. A carcinogênese é um processo em
DOENÇAS NEOPLÁSICAS múltiplas etapas pelas quais o câncer se desenvolve em resposta
a alterações na expressão gênica conduzidas por alterações cro-
Classificação de Doenças Neoplásicas mossômicas, mutações gênicas e alterações epigenéticas do DNA.
A palavra neoplasia é derivada do grego, significando condi- A ideia de que a carcinogênese é um processo em etapas múltiplas
ção de novo crescimento. O termo tumor com frequência é utili- é apoiada por observações morfológicas das transições entre cres-
zado para se referir a uma neoplasia. Tumor significa literalmente cimento celular pré-maligno (benigno) e tumores malignos. No cân-
um inchaço. No início dos anos de 1950, R.A. Willis forneceu uma cer colorretal (e em alguns outros tipos de câncer), a transição de
descrição de neoplasia que ainda utilizamos nos dias de hoje: Uma uma lesão benigna para uma neoplasia maligna pode ser facilmente
neoplasia é uma massa de tecido anormal cujo crescimento é ex- documentada e ocorre em etapas discerníveis, incluindo adenoma
cessivo e descontrolado em relação àquele dos tecidos normais e benigno, carcinoma in situ, carcinoma invasivo e finalmente metás-
persiste da mesma maneira após a interrupção dos estímulos que tase local e distante. Além disso, demonstrou-se que alterações ge-
provocaram a alteração. Mais recentemente, outros pesquisadores néticas específicas se correlacionam com cada uma dessas etapas
descreveram os tumores como resultado de um processo patoló- histopatológicas bem definidas do desenvolvimento e da progres-
gico em que uma única célula adquire a capacidade de proliferar são do tumor. Entretanto, é importante reconhecer que é o acúmu-
de modo anormal (crescimento clonal), resultando em acúmulo de lo de alterações genéticas múltiplas em células afetadas (e padrões
células da progênie, e definem o câncer como tumores que adquiri- de expressão gênica anormais associados), e não necessariamente
ram a capacidade de invadir os tecidos normais circundantes. Essa a ordem em que essas alterações se acumulam, que determina a
definição ressalta um dos fatores de distinção mais importantes na formação e a progressão do câncer.
classificação geral de neoplasias a distinção entre tumores benignos
e malignos.

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CONHECIMENTOS

Interação entre Genética e Epigenética no Câncer A evolução estelar está relacionada a possibilidade de um pla-
O sequenciamento completo do genoma revelou uma alta fre- neta ser habitável ou não. Elementos como carbono, oxigênio e
quência de mutações específicas do câncer em genes conhecidos nitrogênio, que são essenciais para a vida como a conhecemos,
por direcionar e participar de processos epigenéticos que ocorrem são produzidos em estrelas e liberados no espaço, esses elemen-
em múltiplos tipos de câncer. Esses genes incluem enzimas que são tos são incorporados nos planetas durante sua formação; ela tam-
necessárias para a metilação do DNA (DNMTs), a metilação de lisina bém pode influenciar na estabilidade orbital. Estrelas com longa
de histona (EZH2, MLL) e a remodelagem da cromatina (SMARCB1). vida útil e baixa atividade magnética podem proporcionar con-
Portanto, eventos epigenéticos aberrantes podem ser a base das dições mais estáveis para a existência de vida em seus sistemas
anomalias genéticas. As consequências fenotípicas das mutações planetários. Portanto, compreender a evolução estelar nos ajuda
não são bem conhecidas. Além disso, a herança de algumas alte- a entender as condições necessárias para a existência de sistemas
rações ou mutações genéticas pode aumentar a probabilidade de planetários habitáveis.
a metilação do DNA ter como alvo genes-chave tais como MLH1 e
possivelmente contribuir aos cânceres familiares e ao início precoce
da doença. Texto adaptado de ASHLEY G. RIVERBARK E WILLIAM B. DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA (DEFINIÇÃO DA SITUA-
COLEMAN. ÇÃO PROBLEMA, OBJETO DE PESQUISA, JUSTIFICATIVA,
ELABORAÇÃO DA HIPÓTESE, REVISÃO DA LITERATURA,
EXPERIMENTAÇÃO E SIMULAÇÃO, COLETA E ANÁLISE
DA EVOLUÇÃO ESTELAR ASSOCIANDO-A AOS MODELOS DE DADOS, PRECISÃO DAS MEDIDAS, ELABORAÇÃO DE
DE ORIGEM E DISTRIBUIÇÃO DOS ELEMENTOS QUÍMI- GRÁFICOS E TABELAS, DISCUSSÃO ARGUMENTATIVA,
COS NO UNIVERSO, COMPREENDENDO SUAS RELAÇÕES CONSTRUÇÃO E APRESENTAÇÃO DE CONCLUSÕES)
COM AS CONDIÇÕES NECESSÁRIAS AO SURGIMENTO
DE SISTEMAS SOLARES E PLANETÁRIOS, SUAS ESTRU-
TURAS E COMPOSIÇÕES E AS POSSIBILIDADES DE
A investigação científica é um método sistemático e experi-
EXISTÊNCIA DE VIDA
mental que busca responder a uma pergunta/hipótese ou solu-
cionar um problema específico por meio da coleta e análise de
dados. Esse processo envolve várias etapas, descritas a seguir:
A evolução estelar refere-se ao conjunto de transformações •Definição da situação problema: nessa etapa, o pesquisador
que uma estrela experimenta ao longo de sua vida, desde sua identifica e cria uma questão que será investigada, delimitando o
formação até seu eventual fim. Durante esse processo, as estre- alvo do estudo.
las passam por diferentes estágios, nos quais suas características •Objeto de pesquisa: é o tema ou fenômeno que será inves-
físicas, como temperatura, brilho e composição química, sofrem tigado.
alterações. •Justificativa: nessa fase, o pesquisador apresenta os motivos
As estrelas são formadas a partir de nuvens de gás e poeira in- que justificam a realização da pesquisa, como a relevância para a
terestelar. A força gravitacional faz com que essas nuvens se con- sociedade ou contribuição para determinada área.
traiam, aumentando a temperatura e a pressão interna. Quando a •Elaboração da hipótese: com base na análise da situação
temperatura no núcleo da nuvem atinge certa temperatura, ocor- problema, o pesquisador cria uma hipótese/pergunta que deverá
re a fusão nuclear do hidrogênio, dando origem a uma estrela. ser respondida ou comprovada durante a investigação.
Durante a vida de uma estrela, ela passa por diferentes es- •Revisão da literatura: é uma etapa onde se realiza uma bus-
tágios de evolução, dependendo de sua massa inicial. Estrelas de ca por estudos, pesquisas e teorias já existentes sobre o tema em
baixa massa, como o nosso Sol, passam pela fusão nuclear do hi- questão, essa revisão ajuda a fundamentar a pesquisa, identificar
drogênio em hélio, sendo este o principal processo energético. À e estabelecer conexões com o conhecimento já produzido.
medida que o hidrogênio é consumido, a estrela entra em está- •Experimentação e simulação: dependendo da natureza da
gios posteriores, onde ocorre a fusão de hélio e outros elemen- pesquisa, podem ser conduzidos experimentos em laboratório,
tos mais pesados. Já estrelas massivas, com mais de oito vezes simulações computacionais ou outras abordagens metodológicas
a massa do Sol, têm uma evolução mais rápida e explosiva. Elas para coletar os dados necessários.
consomem seu combustível nuclear mais rapidamente e podem •Coleta e análise de dados: o pesquisador coleta os dados de
passar por várias etapas, incluindo a explosão em supernovas, acordo com o plano de pesquisa estabelecido, utilizando técnicas
que é responsável pela liberação de elementos químicos mais pe- e instrumentos adequados, após a coleta, os dados são interpre-
sados no espaço. tados e/ou analisados estatisticamente, dependendo do método
Esses elementos químicos liberados pelas estrelas ao longo utilizado.
de sua evolução levaram a formação de sistemas solares. Quando •Precisão das medidas, elaboração de gráficos e tabelas: du-
uma estrela explode em uma supernova, ela espalha elementos rante a análise dos dados, é fundamental garantir a precisão das
como carbono, oxigênio, ferro e muitos outros pelo espaço. Esses medidas obtidas e apresentar os resultados de forma clara e obje-
elementos, juntamente com o hidrogênio e o hélio, formam as tiva por meio de gráficos, tabelas ou outros recursos visuais.
nuvens moleculares que dão origem a novas estrelas e sistemas •Discussão argumentativa: nessa etapa, os resultados são in-
planetários. Dentro dessas nuvens moleculares, grãos de poeira terpretados e discutidos a partir da hipótese inicial, da revisão da
se aglutinam e se fundem para formar planetesimais, que são os literatura e dos resultados da pesquisa. Argumentos e evidências
blocos de construção dos planetas. A composição desses planetas são apresentados para sustentar as conclusões.
é influenciada pela abundância dos elementos químicos presen-
tes nas nuvens moleculares e nas estrelas que as originaram.
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CONHECIMENTOS

•Construção e apresentação de conclusões: Com base nos Os seminários e debates científicos são eventos nos quais
resultados e discussões, o pesquisador elabora as conclusões da pesquisadores e especialistas se reúnem para discutir e apresen-
pesquisa, respondendo à questão investigada. As conclusões de- tar estudos e resultados. Esses eventos estimulam a troca de co-
vem ser fundamentadas nos dados coletados e nas análises rea- nhecimento e a construção de argumentos fundamentados em
lizadas. evidências científicas, promovendo a comunicação e o avanço do
conhecimento em determinada área.

DA DIVULGAÇÃO E COMUNICAÇÃO DE RESULTADOS,


CONCLUSÕES E PROPOSTAS PAUTADOS EM DISCUS- DA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEMAS VOLTADOS
SÕES, ARGUMENTOS, EVIDÊNCIAS E LINGUAGEM CIEN- À QUÍMICA, UTILIZANDO FONTES CONFIÁVEIS (DADOS
TÍFICA (FEIRA DE CIÊNCIAS, OLIMPÍADAS, CANAIS DI- ESTATÍSTICOS; GRÁFICOS E TABELAS; INFOGRÁFICOS;
GITAIS, JORNAL, RÁDIO, PAINÉIS INFORMATIVOS, TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA; MÍDIAS; SITES;
SEMINÁRIOS E DEBATES) ARTIGOS CIENTÍFICOS)

A divulgação e comunicação de resultados, conclusões e pro- A leitura e interpretação de temas voltados à química são fun-
postas pautados em discussões, argumentos, evidências e lingua- damentais para compreender os processos e fenômenos químicos
gem científica são essenciais para o desenvolvimento científico. que ocorrem ao nosso redor. Portanto é necessário utilizar fontes
Esses processos têm como objetivo compartilhar os avanços, confiáveis que forneçam informações precisas cientificamente.
descobertas e ideias geradas por pesquisas e estudos, permitindo Diversos tipos de fontes podem ser utilizados nesse processo, tais
que o conhecimento científico seja compartilhado e utilizado de como dados estatísticos, gráficos e tabelas, infográficos, textos de
forma ampla e acessível. Diversos meios são utilizados para essa divulgação científica, mídias, sites e artigos científicos.
finalidade, como feiras de ciências, olimpíadas, canais digitais, jor- Os dados estatísticos descrevem informações quantitativas
nais, rádio, painéis informativos, seminários e debates. sobre uma determinada situação ou fenômeno relacionado à quí-
A feira de ciências é um evento tradicionalmente realizado mica. Eles podem ser apresentados em forma de números, por-
em instituições de ensino, no qual os estudantes têm a oportuni- centagens ou proporções, permitindo uma compreensão mais ob-
dade de apresentar seus projetos e experimentos científicos. É um jetiva dos resultados e conclusões obtidos em estudos científicos.
espaço onde os jovens cientistas podem compartilhar seus resul- Os gráficos e tabelas são recursos visuais frequentemente uti-
tados, conclusões e propostas com a comunidade escolar e visi- lizados para representar os dados e resultados dos estudos. Por
tantes interessados, utilizando uma linguagem acessível e criativa. meio de representações gráficas, como gráficos de barras, gráficos
As olimpíadas são competições acadêmicas que desafiam de pizza ou gráficos de linhas, é possível identificar tendências,
estudantes a resolver problemas e questões de forma científica. comparações e padrões, facilitando a interpretação dos dados.
Além de incentivar o estudo e a pesquisa, essas competições pro- Os infográficos são recursos visuais que combinam elementos
movem a comunicação dos resultados e conclusões alcançadas gráficos, texto e imagens para transmitir informações de forma
pelos participantes, estimulando o debate e o intercâmbio de clara e simplificada. Eles são frequentemente utilizados em tex-
ideias entre os jovens cientistas. tos de divulgação científica para apresentar conceitos de maneira
Os canais digitais, como blogs, sites e redes sociais, têm de- atrativa e acessível, auxiliando na compreensão dos temas abor-
sempenhado um papel fundamental na divulgação científica. Por dados.
meio dessas plataformas, cientistas e pesquisadores podem com- Os textos de divulgação científica são materiais escritos que
partilhar seus estudos, resultados e conclusões de maneira rápi- têm como objetivo transmitir conhecimentos científicos para um
da e acessível a um público amplo. A linguagem utilizada nesses público amplo. Eles explicam de forma clara e didática conceitos
meios deve ser clara e objetiva, permitindo que as informações químicos, processos e aplicações, utilizando uma linguagem sim-
sejam compreendidas por pessoas com diferentes níveis de co- ples e exemplos práticos.
nhecimento. As mídias, como vídeos e animações, têm se tornado cada
Os jornais e revistas científicas são veículos tradicionais de vez mais populares como recursos de comunicação científica. Elas
divulgação, nos quais os resultados de pesquisas são publicados possibilitam a visualização de experimentos, reações químicas e
em formato de artigos científicos. Essas publicações seguem uma fenômenos complexos, facilitando a compreensão dos temas re-
linguagem técnica e específica da área, compartilhando o conhe- lacionados à química.
cimento entre a comunidade científica. Os sites especializados em química e ciência são fontes con-
A rádio também desempenha um papel importante na divul- fiáveis para obter informações atualizadas sobre pesquisas, avan-
gação científica, com programas dedicados à discussão de temas ços científicos e descobertas. Esses sites geralmente são mantidos
científicos e à apresentação de pesquisas e descobertas. A lingua- por instituições de ensino, órgãos governamentais ou organiza-
gem utilizada nesses programas deve ser clara e acessível, para ções científicas renomadas.
que o público em geral possa compreender e se interessar pelas Os artigos científicos são publicações acadêmicas que des-
informações científicas apresentadas. crevem estudos científicos detalhados. Eles são escritos por pes-
Os painéis informativos são estruturas físicas ou digitais que quisadores e revisados por especialistas, garantindo a qualidade
apresentam informações e resultados científicos de forma visual- e confiabilidade das informações apresentadas. Os artigos cientí-
mente atrativa. Esses painéis são utilizados em feiras, congressos ficos fornecem dados experimentais, metodologias, resultados e
e eventos científicos, permitindo que os participantes tenham discussões aprofundadas sobre os temas abordados.
acesso rápido e direto a resumos e conclusões de pesquisas.
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CONHECIMENTOS

DAS SITUAÇÕES CONTROVERSAS SOBRE A APLICAÇÃO DO USO INDEVIDO DA QUÍMICA NA JUSTIFICATIVA DE


DE CONHECIMENTOS DE QUÍMICA, TAIS COMO AGRO- PROCESSOS EM DIFERENTES CONTEXTOS SOCIAIS E
TÓXICOS, CONTROLE DE PRAGAS E PRODUÇÃO DE HISTÓRICOS, CONSIDERANDO A ÉTICA CIENTÍFICA E A
ALIMENTOS, PLÁSTICOS (POLÍMEROS), COM BASE EM UTILIZAÇÃO INDEVIDA DE REAÇÕES QUÍMICAS E NU-
ARGUMENTOS CONSISTENTES, LEGAIS, ÉTICOS E RES- CLEARES QUE PROVOCARAM IMPACTO NA HISTÓRIA
PONSÁVEIS, DISTINGUINDO DIFERENTES PONTOS E NO PLANETA
DE VISTA

A química é uma ciência poderosa, capaz de trazer grandes


A aplicação dos conhecimentos de química em áreas como avanços para a sociedade quando utilizada de forma ética e res-
agrotóxicos, controle de pragas, produção de alimentos e plásticos ponsável. No entanto, ao longo da história, houve casos em que
(polímeros) é frequentemente objeto de debates e controvérsias. a química foi indevidamente utilizada em processos que tiveram
Essas situações envolvem questões complexas, exigindo uma aná- impactos negativos tanto na história como no planeta. Esses even-
lise cuidadosa, com base em argumentos consistentes, legais, éti- tos destacam a importância de considerar a ética científica e os
cos e responsáveis. É essencial analisar diferentes pontos de vista possíveis efeitos das reações químicas e nucleares em diferentes
e considerar as diversas perspectivas envolvidas nessas questões. contextos sociais e históricos.
No caso dos agrotóxicos e do controle de pragas, por exem- Um exemplo marcante foi a utilização indevida da química
plo, há debates sobre os impactos na saúde humana e no meio na produção de armas químicas durante as guerras do século XX.
ambiente. Enquanto alguns argumentam que o uso desses produ- Substâncias químicas, como gases tóxicos, foram desenvolvidas
tos é necessário para garantir a produção de alimentos em larga e utilizadas como armas, causando danos devastadores à saúde
escala e proteger as plantações contra pragas e doenças, outros humana e ao meio ambiente. Esses eventos trágicos evidenciam a
questionam os efeitos nocivos dos agrotóxicos na saúde dos agri- necessidade de estabelecer regulamentações e tratados interna-
cultores, na qualidade dos alimentos e na biodiversidade. Argu- cionais para proibir o uso de armas químicas, preservando a ética
mentos consistentes devem ser fundamentados em pesquisas científica e a segurança global.
científicas e em regulamentações que regem o uso desses produ- Outro exemplo foi o uso indevido da química na produção de
tos, levando em consideração tanto os benefícios quanto os riscos armas nucleares. Durante a Segunda Guerra Mundial, a descober-
envolvidos. ta e a aplicação da fissão nuclear levaram ao desenvolvimento da
Na produção de alimentos, a aplicação de conhecimentos de bomba atômica. O impacto catastrófico das explosões nucleares
química é amplamente utilizada para melhorar a produtividade, o em Hiroshima e Nagasaki, bem como os efeitos a longo prazo da
sabor, a textura e a durabilidade dos alimentos. No entanto, sur- radiação, demonstram as consequências devastadoras do uso in-
gem questões sobre a segurança dos aditivos químicos, como con- devido da química e da física nuclear. Essa experiência histórica
servantes e corantes, e a utilização de organismos geneticamente levou à necessidade de controlar a proliferação nuclear e utilizar a
modificados. Argumentos éticos e responsáveis devem ser con- energia nuclear apenas para fins pacíficos.
siderados, garantindo a transparência e a informação adequada Além dos contextos de guerra, a química também tem im-
aos consumidores, além de respeitar a legislação e os padrões de pacto em termos de poluição ambiental. A utilização indevida
qualidade dos alimentos. de substâncias químicas, como os clorofluorcarbonetos (CFCs),
No caso dos plásticos (polímeros), as preocupações estão re- contribuiu para a destruição da camada de ozônio, resultando em
lacionadas com a poluição ambiental e os impactos na vida mari- problemas como o aumento da radiação ultravioleta e o aqueci-
nha. Embora os plásticos tenham contribuído para avanços tec- mento global. Esse exemplo ressalta a importância da ética cien-
nológicos e benefícios em diversos setores, como embalagens e tífica e da responsabilidade na escolha de substâncias químicas e
dispositivos médicos, a gestão inadequada dos resíduos plásticos na busca de alternativas mais sustentáveis.
tem gerado problemas ambientais significativos. Argumentos con- Considerar a ética científica é fundamental para evitar o uso
sistentes devem abordar alternativas sustentáveis aos plásticos indevido da química em processos que possam causar danos a
convencionais, promover a reciclagem e a redução do consumo, e população e ao meio ambiente. A responsabilidade dos cientistas
incentivar a pesquisa de materiais biodegradáveis. e pesquisadores é buscar aplicações benéficas da química, levan-
Considerar diferentes pontos de vista é fundamental para do em consideração os valores éticos, a preservação ambiental e
um debate construtivo. Devem ser analisados as perspectivas dos o bem-estar da sociedade. A regulamentação e monitoramento
cientistas, que baseiam suas argumentações em pesquisas e es- adequados, juntamente com uma maior conscientização sobre os
tudos acadêmicos, bem como dos setores da indústria, governa- riscos envolvidos, são necessários para evitar a repetição de erros
mentais, ambientalistas, consumidores e comunidades afetadas. do passado.
A compreensão e o respeito mútuo são essenciais para buscar
soluções justas, que considerem os benefícios, riscos e impactos
sociais e ambientais das aplicações do conhecimento de química.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

DOS RISCOS ENVOLVIDOS EM ATIVIDADES COTIDIA- DAS PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS, ESTRUTURAS,


NAS, APLICANDO CONHECIMENTOS DA QUÍMICA, PARA COMPOSIÇÕES, CARACTERÍSTICAS, TOXICIDADE DOS
JUSTIFICAR O USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO MATERIAIS PARA AVALIAR A ADEQUAÇÃO DE SEU USO
INDIVIDUAL (EPI) E COLETIVA (EPC), AÇÕES DE SEGU- EM DIFERENTES PRODUTOS COMO FERRO-GUSA, CO-
RANÇA E DESCARTE ADEQUADO DE MATERIAIS, RESÍ- BRE, CAL, ALUMÍNIO, AÇO, SODA CÁUSTICA, HIPOCLO-
DUOS, SUBSTÂNCIAS NOCIVAS E TÓXICAS PRODUZIDAS RITO DE SÓDIO, POLÍMEROS, AMÔNIA E DIFERENTES
EM AMBIENTES DE TRABALHO E/OU LABORATÓRIOS APLICAÇÕES COMO INDUSTRIAIS, COTIDIANAS, AR-
QUÍMICOS, VISANDO À INTEGRIDADE FÍSICA, IN- QUITETÔNICAS OU TECNOLÓGICAS, PARA PROPOR
DIVIDUAL E COLETIVA, E SOCIOAMBIENTAL SOLUÇÕES SEGURAS E SUSTENTÁVEIS CONSIDE-
RANDO SEU CONTEXTO LOCAL E COTIDIANO

A segurança é fundamental em todas as atividades cotidia-


nas, sejam elas relacionadas ao trabalho, à realização de tarefas As propriedades físico-químicas, estruturas, composições,
domésticas ou ao uso de produtos químicos. Nesses contextos, a características e toxicidade dos materiais são importantes na ava-
química desempenha um papel importante na identificação dos liação do seu uso em diferentes produtos e aplicações. Diversos
riscos envolvidos e na implementação de medidas de proteção materiais, como ferro-gusa, cobre, cal, alumínio, aço, soda cáusti-
adequadas. ca, hipoclorito de sódio, polímeros, amônia, entre outros, são uti-
Muitas atividades cotidianas em ambientes de trabalho e/ou lizados em diversos setores, como indústria, produtos utilizados
laboratórios químicos envolvem o manuseio de substâncias quí- no cotidiano, arquitetura e tecnologia. Sendo assim, é necessá-
micas nocivas ou tóxicas, que podem representar riscos significa- rio considerar cuidadosamente as propriedades desses materiais
tivos à saúde e ao meio ambiente. A exposição a essas substâncias para garantir soluções seguras e sustentáveis, levando em conta o
pode causar desde irritações na pele e nos olhos até danos mais contexto local e cotidiano.
graves, como intoxicações e doenças crônicas. O ferro-gusa é utilizado na indústria siderúrgica devido à sua
Para garantir a integridade física e a saúde dos indivíduos alta resistência e capacidade de conduzir calor e eletricidade. Mas
envolvidos nessas atividades, é imprescindível o uso de Equipa- é importante considerar os impactos ambientais associados à sua
mentos de Proteção Individual (EPI) e Coletiva (EPC). Os EPIs são produção, como a emissão de gases poluentes.
dispositivos como luvas, máscaras, óculos de proteção, aventais, O cobre é um material amplamente utilizado em aplicações
calçados especiais, entre outros, que visam proteger o trabalha- elétricas e eletrônicas devido à sua alta condutividade elétrica.
dor de possíveis exposições a substâncias perigosas. Os EPCs são Da mesma forma é necessário analisar a toxicidade do cobre em
medidas coletivas adotadas para minimizar os riscos ou equipa- determinadas condições e garantir o seu descarte adequado para
mentos para serem utilizar durante emergências, como a instala- evitar a contaminação ambiental.
ção de sistemas de ventilação adequados, extintores de incêndio, A cal é um material utilizado na construção civil devido às
chuveiro de emergência, lava-olhos entre outros. suas propriedades aglomerantes. É importante avaliar a sua com-
Além disso, é necessário implementar ações de segurança, posição e características para garantir a durabilidade e a seguran-
como treinamentos, para orientar os trabalhadores sobre os ris- ça das estruturas construídas.
cos envolvidos e as medidas de prevenção a serem adotadas. Isso O alumínio é um metal muito utilizado em aplicações indus-
inclui o correto manuseio de produtos químicos, o armazenamen- triais, arquitetônicas e tecnológicas devido à sua leveza e resis-
to seguro, a utilização adequada dos equipamentos de proteção e tência à corrosão. No entanto, é necessário analisar a energia ne-
a identificação de situações de emergência. cessária para a sua produção e a necessidade de reciclagem para
O descarte adequado de materiais, resíduos e substâncias no- promover a sustentabilidade do seu uso.
civas e tóxicas também desempenha um papel fundamental na A soda cáustica e o hipoclorito de sódio são substâncias quí-
segurança e na preservação do meio ambiente. O descarte inade- micas utilizadas em produtos de limpeza e tratamento de água.
quado dessas substâncias pode contaminar o solo, a água e o ar, Possuem propriedades corrosivas e tóxicas que devem ser consi-
causando danos aos ecossistemas e à saúde humana. deradas para garantir a segurança durante o manuseio e a utiliza-
Portanto, o conhecimento em química permite compreender ção desses produtos.
os riscos envolvidos em determinadas atividades, e levar medidas Os polímeros são amplamente utilizados na indústria de plás-
adequadas para proteger a integridade física, individual e coleti- ticos e em diversos produtos do cotidiano. É necessário avaliar
va, e socioambiental. O uso de EPIs e EPCs, a implementação de suas propriedades físicas e químicas, bem como o seu impacto
ações de segurança e o descarte adequado de materiais tóxicos ambiental, para promover o uso sustentável e a redução dos resí-
são atitudes essenciais para minimizar os riscos e promover um duos plásticos.
ambiente de trabalho seguro. A amônia é uma substância química utilizada na indústria de
fertilizantes, produtos de limpeza e refrigeração. A sua toxicidade
e potencial de liberação de gases tóxicos devem ser considerados
para garantir a segurança dos trabalhadores e a proteção do meio
ambiente.
Ao utilizar todos esses materiais e suas aplicações, é neces-
sário avaliar todas as suas propriedades e avaliar os benefícios e
os riscos que elas podem causar. Isso envolve o desenvolvimento

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CONHECIMENTOS

de processos de produção mais eficientes, o uso responsável e o


descarte adequado dos materiais, além da busca por alternativas DA ENTALPIA DE COMBUSTÃO (EFICIÊNCIA ENERGÉTI-
mais seguras e de menor impacto ambiental. CA), QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS, POLÍTICAS E ECO-
NÔMICAS RELATIVAS À DEPENDÊNCIA DO MUNDO
ATUAL EM RELAÇÃO AOS RECURSOS NÃO RENOVÁVEIS
DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS QUE ENVOLVEM (GASOLINA, DIESEL) PARA DISCUTIR A NECESSIDADE DE
CORRENTE ELÉTRICA: PROCESSOS DA ELETRÓLISE (GAL- INTRODUÇÃO DE ALTERNATIVAS (BIODIESEL, BIOGÁS,
VANOPLASTIA), PILHAS E BATERIAS, PARA COMPREEN- ETANOL), NOVAS TECNOLOGIAS ENERGÉTICAS E
DER AS TECNOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS E AVALIAR PROCESSOS DE PRODUÇÃO DE NOVOS MATERIAIS
SEUS IMPACTOS SOCIAIS, CULTURAIS E AMBIENTAIS
(DESCARTE CONSCIENTE E LIXO ELETRÔNICO)

A entalpia de combustão é uma grandeza termodinâmica que


As transformações químicas que envolvem corrente elétrica representa a quantidade de energia liberada na forma de calor
são de grande importância para compreender as tecnologias con- durante a combustão completa de uma substância. É um parâme-
temporâneas, alguns processos químicos que se beneficiam da tro importante para avaliar a eficiência energética de diferentes
corrente elétrica incluem a eletrólise, a galvanoplastia, as pilhas combustíveis e entender seu potencial calorífico. A entalpia de
e as baterias. combustão está diretamente relacionada à quantidade de energia
A eletrólise é um processo no qual a corrente elétrica é utili- disponível para realizar trabalho e pode ser utilizada para compa-
zada para promover reações químicas. É amplamente empregada rar a eficiência de diferentes materiais combustíveis. A entalpia
na indústria de galvanoplastia, na qual metais são depositados so- de combustão é um tema relevante para discutir as questões so-
bre superfícies metálicas, conferindo-lhes proteção contra corro- cioambientais, políticas e econômicas que envolvem a dependên-
são, melhorando sua aparência ou alterando suas propriedades. cia do mundo atual em relação aos recursos não renováveis, como
As pilhas e baterias são dispositivos que transformam energia gasolina e diesel. A utilização intensiva desses combustíveis fós-
química em energia elétrica, por meio de reações eletroquímicas. seis tem impactos significativos no meio ambiente, contribuindo
Elas são muito utilizadas em dispositivos eletrônicos, veículos elé- para o aquecimento global, poluição atmosférica e esgotamento
tricos e sistemas de armazenamento de energia renovável. Mas é dos recursos naturais.
importante levar em conta seus impactos sociais, culturais e am- Diante desse cenário, surge a necessidade de planejar de al-
bientais, especialmente no que diz respeito ao crescente proble- ternativas mais sustentáveis, como o biodiesel, biogás e etanol. O
ma no descarte incorreto de lixo eletrônico. biodiesel é um combustível renovável produzido a partir de fon-
O descarte adequado de pilhas, baterias e outros dispositivos tes vegetais, apresentando menor emissão de gases poluentes. O
eletrônicos é fundamental para evitar a contaminação do solo, biogás, por sua vez, é produzido a partir da decomposição de re-
da água e do ar com substâncias químicas tóxicas. Muitos desses síduos orgânicos, contribuindo para a redução de gases de efeito
dispositivos contêm metais pesados, como chumbo, mercúrio e estufa e oferecendo uma fonte de energia limpa. Já o etanol é ob-
cádmio, que podem representar riscos à saúde humana e ao meio tido a partir da fermentação de açúcares presentes em materiais
ambiente se não forem descartados corretamente. vegetais, sendo uma alternativa aos combustíveis fósseis.
O lixo eletrônico, também conhecido como e-lixo, é um pro- A implementação dessas alternativas requer o desenvolvi-
blema crescente em todo o mundo. O descarte inadequado des- mento de novas tecnologias energéticas e processos de produção,
ses resíduos pode levar à liberação de substâncias tóxicas no meio para isso é necessário investir em pesquisa e inovação para tornar
ambiente, além de representar um desperdício de recursos va- essas tecnologias mais eficientes, acessíveis e economicamente
liosos presentes nos dispositivos eletrônicos e que poderiam ser viáveis. Além disso, políticas públicas que incentivem a utilização
reutilizados. de fontes renováveis e a redução da dependência de combustíveis
Sendo assim, o descarte consciente de pilhas, baterias e lixo fósseis são fundamentais para promover a transição energética.
eletrônico é essencial para minimizar os impactos ambientais e Adotando essas alternativas, é possível reduzir a emissão de gases
promover a sustentabilidade em um mundo cada vez mais depen- de efeito estufa e diminuir os impactos ambientais. Além disso, a
dente dessas tecnologias. utilização de fontes renováveis também pode gerar benefícios so-
cioeconômicos, como a criação de empregos e o desenvolvimento
de setores industriais voltados para as energias limpas.

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CONHECIMENTOS

2.Quais são as fontes de energia renovável mencionadas no


DOS EFEITOS DE PROGRAMAS DE INFRAESTRUTU- texto?
RA E DEMAIS SERVIÇOS BÁSICOS COMO TRATAMEN- (A) Gás natural e carvão mineral.
TO DE ÁGUA, ESGOTO E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS, (B) Petróleo e energia nuclear.
IDENTIFICANDO A ESTRUTURA E PROPRIEDADES DOS (C) Energia solar, eólica e hidrelétrica.
COMPOSTOS ORGÂNICOS (PROTEÍNAS, CARBOIDRA- (D) Biogás e energia geotérmica.
TOS, LIPÍDIOS, VITAMINAS), PROPONDO AÇÕES QUE
CONTRIBUAM PARA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL, 3.O que são biocombustíveis?
NUTRITIVA, MELHORIA NA QUALIDADE DE VIDA E (A) Combustíveis renováveis obtidos de matéria orgânica.
NAS CONDIÇÕES DE SAÚDE DA POPULAÇÃO (B) Combustíveis fósseis derivados de organismos vivos.
(C) Combustíveis produzidos a partir de recursos minerais.
(D) Combustíveis nucleares extraídos de usinas termonuclea-
Os programas de infraestrutura e serviços básicos, como tra- res.
tamento de água, esgoto e produção de alimentos, são necessá-
rios e fundamentais para que haja uma boa qualidade de vida e 4.Qual é o objetivo do uso consciente de recursos naturais?
condições de saúde para a população. Sendo assim, a implemen- (A) Explorar e extrair o máximo de recursos disponíveis.
tação de políticas públicas que garantam o acesso à água potável, (B) Minimizar os impactos ambientais causados pela produção.
saneamento básico adequado e ações de controle de qualidade (C) Aumentar a dependência de combustíveis fósseis.
dos alimentos são essenciais. (D) Reduzir a biodiversidade e a preservação da vida.
Ao compreender a estrutura e propriedades dos compostos
orgânicos presentes nos alimentos, como proteínas, carboidratos, 5. Qual a principal característica dos radioisótopos?
lipídios e vitaminas, é possível propor ações que contribuam para (A) Capacidade de emitir radiação ionizante.
uma alimentação saudável e nutritiva. As proteínas são macro- (B) Propriedade de gerar energia elétrica.
moléculas compostas por aminoácidos e desempenham funções (C) Habilidade de produzir calor.
vitais no organismo, como a formação de tecidos, produção de (D) Potencial para absorver nutrientes pelas plantas.
enzimas e transporte de nutrientes. Os carboidratos são fontes
importantes de energia, fornecendo combustível para o funcio- 6. Onde os radioisótopos são amplamente utilizados na área
namento do corpo. Os lipídios, por sua vez, são responsáveis pelo da saúde?
armazenamento de energia, além de atuarem na proteção de (A) Exames de imagem e radioterapia.
órgãos e no isolamento térmico. Já as vitaminas desempenham (B) Inspeção de soldas e análise de materiais.
papéis essenciais no metabolismo, auxiliando na absorção de nu- (C) Controle de pragas e melhoramento genético de plantas.
trientes e no funcionamento adequado do sistema imunológico. (D) Datação de rochas e fósseis.
Para promover uma alimentação saudável e nutritiva, é ne-
cessário incentivar o acesso a alimentos variados e de qualidade, 7.Qual é a aplicação dos radioisótopos na geração de energia
com atenção especial à segurança alimentar, investir em progra- elétrica?
mas de educação nutricional, apresentando informações sobre a (A) No estudo de fenômenos naturais.
importância de uma dieta equilibrada e o consumo de alimentos (B) Na inspeção de soldas e análise de materiais.
frescos e minimamente processados. (C) No controle de pragas e melhoramento genético de plantas.
A melhoria na infraestrutura e nos serviços básicos, como (D) Em reatores nucleares.
tratamento de água e esgoto, contribui diretamente para a pre-
venção de doenças relacionadas à água contaminada. Além dis- 8.Por que os radioisótopos são considerados potencialmente
so, a produção de alimentos em condições sanitárias adequadas, perigosos?
com boas práticas agrícolas e de manipulação, evita a ocorrência (A) Porque geram grandes quantidades de calor.
de surtos alimentares e garante a segurança dos consumidores. (B) Porque podem causar falhas estruturais.
A promoção de práticas sustentáveis na agricultura, como o uso (C) Porque emitem radiação ionizante que podem causar danos
de técnicas de cultivo orgânico, também é benéfica tanto para a à saúde.
saúde da população quanto para o meio ambiente. (D) Porque podem absorver nutrientes pelas plantas.

9.Quais são alguns benefícios das substâncias químicas quan-


QUESTÕES do utilizadas corretamente?
(A) Melhoram a qualidade de vida e combatem doenças.
(B) Causam efeitos adversos à saúde humana.
1.Quais são os principais impactos ambientais relacionados (C) Aumentam a poluição ambiental.
ao uso de combustíveis fósseis? (D) Não possuem benefícios significativos.
(A) Degradação dos ecossistemas e aumento da biodiversida-
de. 10.O que é toxicidade em relação às substâncias químicas?
(B) Poluição do solo e preservação da fauna e flora. (A) A capacidade de uma substância química de ser reativa no
(C) Liberação de gases de efeito estufa e mudanças climáticas. ambiente.
(D) Diminuição da poluição atmosférica e conservação dos re- (B) A quantidade de uma substância química necessária para
cursos hídricos causar efeitos adversos à saúde.
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CONHECIMENTOS

(C) A composição química de uma substância tóxica. (D) Aumentando a fertilidade do solo.
(D) A habilidade de uma substância química de melhorar a qua-
lidade de vida. 19.Como podemos minimizar os efeitos das intervenções hu-
manas nos ciclos biogeoquímicos?
11.Como a exposição a substâncias químicas tóxicas pode (A) Uso irresponsável de substâncias químicas.
ocorrer? (B) Consumo excessivo de energia não renovável.
(A) Apenas por meio do uso direto de produtos contendo subs- (C) Promovendo a conservação da biodiversidade.
tâncias químicas. (D) Aumento das emissões de poluentes atmosféricos.
(B) Apenas por meio da poluição ambiental.
(C) Tanto pelo uso direto de produtos quanto pela poluição am- 20.Qual é o papel dos ciclos biogeoquímicos na manutenção
biental. da vida?
(D) Apenas por meio da ingestão de alimentos contaminados. (A) Não têm impacto na vida dos seres vivos.
(B) São responsáveis pela regulação do clima global.
12.Quais são os possíveis efeitos adversos da exposição a (C) Não estão relacionados aos mecanismos de manutenção da
substâncias químicas tóxicas? vida.
(A) Melhoria da qualidade de vida e combate a doenças. (D) Contribuem para a disponibilidade de nutrientes e equilí-
(B) Irritação na pele e nos olhos. brio nos ecossistemas.
(C) Redução da poluição ambiental.
(D) Aumento da expectativa de vida. 21.Por que é importante reconhecer os limites explicativos
das ciências?
13.Qual é uma das principais preocupações relacionadas às (A) Para evitar a realização de atividades experimentais.
usinas hidrelétricas? (B) Para compreender completamente todos os aspectos dos
(A) Emissões de gases de efeito estufa. fenômenos naturais.
(B) Alto custo de construção. (C) Para desenvolver tecnologias avançadas.
(C) Deslocamento de comunidades. (D) Para ter uma visão realista do conhecimento científico.
(D) Risco de acidentes nucleares.
22.Por que os fenômenos naturais são considerados comple-
14.Qual é uma tecnologia utilizada para reduzir as emissões xos?
de CO2 em usinas termelétricas? (A) Porque podem ser completamente explicados pelas ciên-
(A) Turbinas de baixa pressão. cias.
(B) Captura e armazenamento de carbono. (B) Porque não estão relacionados aos processos tecnológicos.
(C) Sistemas de cogeração. (C) Porque são influenciados por diversas variáveis.
(D) Reatores de fissão avançados. (D) Porque não podem ser estudados por meio de atividades
experimentais.
15.Qual é a principal vantagem das usinas termonucleares em
relação às emissões de gases de efeito estufa? 23.Quais são os fatores que podem influenciar na rapidez das
(A) Baixa emissões de gases. transformações químicas?
(B) Uso de biocombustíveis. (A) Apenas a temperatura.
(C) Energia renovável. (B) Apenas a pressão.
(D) Emissões nulas. (C) Apenas a concentração de substâncias.
(D) Temperatura, pressão, concentração de substâncias e ou-
16.Qual é uma das formas de promover a eficiência energéti- tros.
ca no consumo de energia elétrica?
(A) Uso de sistemas inteligentes de distribuição. 24.Qual é a definição de biodiversidade?
(B) Utilização de eletrodomésticos de baixo consumo. (A) A variedade de formas de vida presentes em um determi-
(C) Construção de usinas hidrelétricas. nado ecossistema.
(D) Implementação de reatores de fissão avançados. (B) A poluição causada pelos gases na atmosfera.
(C) A quantidade de água disponível em um ecossistema.
17.Qual é um exemplo de intervenção humana que afeta os
ciclos biogeoquímicos? 25.Como a presença de gases poluentes na atmosfera pode
(A) Consumo de energia renovável. afetar a biodiversidade?
(B) Desenvolvimento de práticas agrícolas sustentáveis. (A) Pode aumentar a disponibilidade de recursos alimentares
(C) Emissão de poluentes atmosféricos provenientes da quei- para os animais.
ma de combustíveis fósseis. (B) Pode reduzir o impacto das mudanças climáticas.
(D) Preservação de habitats naturais. (C) Pode causar chuvas ácidas que matam plantas e árvores.

18.Como os poluentes podem afetar os seres vivos? 26.Por que é importante monitorar as emissões de gases po-
(A) Acumulando-se nos tecidos e afetando sua saúde. luentes?
(B) Estimulando o crescimento das plantas. (A) Para avaliar os impactos potenciais na biodiversidade.
(C) Promovendo a biodiversidade. (B) Para aumentar a emissão desses gases.
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CONHECIMENTOS

(C) Para reduzir a diversidade de espécies. 35.Qual é o papel das políticas ambientais na garantia da sus-
tentabilidade?
27.Qual é o principal objetivo da preservação e conservação (A) Incentivar a disposição inadequada de resíduos
da biodiversidade? (B) Reduzir a conscientização sobre os impactos ambientais
(A) Aumentar a poluição do ar e da água. (C) Implementar regulamentações rigorosas e promover práti-
(B) Manter o equilíbrio ambiental e garantir um futuro susten- cas sustentáveis
tável. (D) Ignorar a importância da participação da sociedade
(C) Explorar os recursos naturais de forma indiscriminada.
36.Qual processo energético ocorre durante a sequência prin-
28.Quais são as principais fontes de contaminação das águas cipal de uma estrela?
por resíduos e substâncias? (A) Fusão nuclear do hidrogênio em hélio.
(A) Poluição atmosférica e resíduos domésticos. (B) Fusão nuclear do hélio em hidrogênio.
(B) Agrotóxicos e fertilizantes. (C) Fusão nuclear do carbono em oxigênio.
(C) Esgotos domésticos e resíduos sólidos. (D) Fusão nuclear do oxigênio em carbono.
(D) Todas as opções estão corretas.
37.O que ocorre quando uma estrela explode em uma super-
29.Onde os resíduos sólidos são frequentemente descartados nova?
de forma inadequada? (A) Surgimento de sistemas solares.
(A) Aterros sanitários bem administrados. (B) Fusão nuclear do hidrogênio em hélio.
(B) Rios e mares. (C) Formação de nuvens moleculares.
(C) Incineradoras controladas. (D) Liberação de elementos químicos mais pesados no espaço.
(D) Todas as opções estão incorretas.
38.Quais elementos químicos são essenciais para a vida como
30.Quais substâncias podem contaminar as águas devido à a conhecemos?
agricultura? (A) Ferro, silício e cálcio.
(A) Plásticos e vidros. (B) Hidrogênio, hélio e carbono.
(B) Metais pesados. (C) Carbono, oxigênio e nitrogênio.
(C) Agrotóxicos e fertilizantes. (D) Nitrogênio, fósforo e enxofre.
(D) Gases atmosféricos.
39.Por que a evolução estelar é importante para a existência
31.Quais medidas podem ser adotadas para combater a con- de vida?
taminação das águas? (A) Porque as estrelas fornecem os elementos químicos neces-
(A) Investimento em tratamento de água e esgoto. sários para a possibilidade de vida.
(B) Conscientização da população sobre a preservação dos re- (B) Porque as estrelas têm a capacidade de criar sistemas pla-
cursos hídricos. netários habitáveis.
(C) Reciclagem. (C) Porque as estrelas liberam energia suficiente para sustentar
(D) Todas as opções estão corretas. a vida em seus sistemas planetários.
(D) Porque as estrelas estão envolvidas na formação de super-
32.Como os contaminantes podem chegar ao solo? novas, que são cruciais para a vida.
(A) Através de plantas e animais
(B) Através de vazamentos, derramamentos ou disposição ina- 40.Qual o objetivo principal da investigação científica?
dequada de resíduos (A) Comprovar teorias pré-existentes.
(C) Por meio de processos naturais (B) Validar crenças pessoais.
(D) Através da evaporação da água (C) Contribuir para o avanço do conhecimento.
(D) Obter resultados imediatos e práticos.
33.Quais são os impactos negativos dos aterros sanitários?
(A) Poluição do solo e das águas subterrâneas 41.Qual a primeira etapa da investigação científica?
(B) Aumento da qualidade do ar (A) Coleta e análise de dados.
(C) Aumento da biodiversidade (B) Elaboração de hipótese.
(D) Redução do consumo de recursos naturais (C) Revisão da literatura.
(D) Definição da situação problema.
34.Como podemos garantir a sustentabilidade do planeta em
relação à contaminação do solo? 42.O objeto de pesquisa na investigação científica refere-se a:
(A) Aumentando a produção de resíduos sólidos (A) O fenômeno estudado.
(B) Implementando práticas de gestão de resíduos adequadas (B) A revisão da literatura.
(C) Ignorando a contaminação do solo (C) A coleta de dados.
(D) Utilizando tecnologias poluentes (D) A justificativa da pesquisa.

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CONHECIMENTOS

43.Durante a investigação científica, os dados são analisados (D) Priorizar os benefícios econômicos e comerciais das aplica-
com o auxílio de: ções de química.
(A) Experimentação e simulação.
(B) Revisão da literatura. 51.O que aconteceu durante as guerras do século XX em rela-
(C) Coleta de dados. ção ao uso da química?
(D) Estatística e/ou interpretação. (A) Desenvolvimento de tratados internacionais para promover
o uso responsável da química.
44.Qual é o objetivo da divulgação e comunicação de resulta- (B) Utilização indevida de substâncias químicas como armas,
dos científicos? causando danos à saúde humana e ao meio ambiente.
(A) Promover competições acadêmicas. (C) Avanços científicos e tecnológicos que beneficiaram a so-
(B) Incentivar o estudo e a pesquisa. ciedade.
(C) Estimular o debate e o intercâmbio de ideias. (D) Ações éticas e responsáveis por parte dos cientistas e pes-
(D) Compartilhar o conhecimento científico. quisadores.

45.Qual é o objetivo dos seminários e debates científicos? 52.Por que é importante considerar a ética científica na utili-
(A) Apresentar estudos e resultados científicos. zação da química?
(B) Estimular o estudo e a pesquisa científica. (A) Para promover a competição científica e tecnológica.
(C) Difundir o conhecimento científico para o público em geral. (B) Para evitar riscos e impactos negativos na sociedade e no
(D) Criar competições acadêmicas entre pesquisadores. meio ambiente.
(C) Para garantir a comercialização de produtos químicos.
46.Qual é a importância da leitura e interpretação de temas (D) Para estabelecer regulamentações restritivas à pesquisa
voltados à química? científica.
(A) Compreender e analisar os avanços e descobertas científi-
cas. 53.Qual é o papel dos cientistas e pesquisadores em relação
(B) Estabelecer novos métodos de coleta de dados. ao uso indevido da química?
(C) Desenvolver materiais de divulgação científica. (A) Promover o desenvolvimento de armas químicas e nucle-
(D) Criar gráficos e tabelas para representação visual. ares.
(B) Priorizar os interesses econômicos em detrimento da ética
47.O que são dados estatísticos? científica.
(A) Informações quantitativas coletadas em pesquisas e expe- (C) Ignorar as consequências negativas da química.
rimentos. (D) Buscar aplicações benéficas da química e considerar os va-
(B) Representações visuais de dados. lores éticos.
(C) Elementos gráficos combinados com textos.
(D) Materiais produzidos para explicar temas científicos ao pú- 54.Em relação à poluição ambiental, como a química pode ter
blico em geral. impacto negativo?
(A) Contribuição para a destruição da camada de ozônio.
48.Como argumentos consistentes sobre as aplicações de quí- (B) Desenvolvimento de tecnologias mais sustentáveis.
mica devem ser fundamentos? (C) Aumento da conscientização sobre a preservação ambien-
(A) Em pesquisas científicas e regulamentações legais. tal.
(B) Em opiniões pessoais e preferências individuais. (D) Redução das emissões de gases de efeito estufa.
(C) Em interesses econômicos e comerciais.
(D) Em tendências de consumo e demandas do mercado. 55.Qual é a importância do descarte adequado de materiais
tóxicos?
49.Quais são os critérios éticos e responsáveis que devem ser (A) Para prevenir escorregões e quedas.
considerados na produção de alimentos? (B) Para proteger o trabalhador de possíveis exposições a subs-
(A) Uso indiscriminado de aditivos químicos e organismos ge- tâncias perigosas.
neticamente modificados. (C) Para minimizar os riscos de incêndio.
(B) Benefícios econômicos e comerciais para as empresas. (D) Para evitar a contaminação do solo, da água e do ar.
(C) Transparência e informação adequada aos consumidores.
(D) Promoção de práticas sustentáveis e redução do impacto 56.Qual é o objetivo principal do uso de Equipamentos de
ambiental. Proteção Individual (EPI) e coletiva (EPC)?
(A) Proteger a integridade física, individual e coletiva, e socio-
50.Qual é o objetivo principal ao analisar situações controver- ambiental.
sas sobre a aplicação de conhecimentos de química? (B) Facilitar o manuseio de substâncias químicas.
(A) Defender uma única perspectiva e restringir o debate. (C) Evitar acidentes relacionados à altura.
(B) Encontrar soluções equilibradas e considerar os impactos (D) Promover a saúde mental e emocional dos trabalhadores.
sociais e ambientais.
(C) Impor restrições e proibições à aplicação de química em di-
ferentes setores.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

57.Qual é a preocupação ambiental associada à produção de 65.Práticas sustentáveis na agricultura, como o uso de técni-
ferro-gusa? cas de cultivo orgânico, são benéficas para:
(A) Consumo excessivo de água. (A) Promover a saúde da população e o cuidado com o meio
(B) Descarte inadequado de resíduos plásticos. ambiente.
(C) Toxicidade dos materiais. (B) Diminuir a qualidade dos alimentos.
(D) Emissão de gases poluentes. (C) Prevenir doenças relacionadas à água contaminada.
(D) Aumentar a ocorrência de surtos alimentares.
58.O que é a eletrólise?
(A) Um processo químico que ocorre espontaneamente sem a
presença de corrente elétrica. GABARITO
(B) Um processo em que a corrente elétrica é utilizada para
promover reações químicas.
(C) Um método de reciclagem de metais pesados.
1 C
(D) Um processo de produção de energia elétrica a partir de
reações químicas. 2 C
3 A
59.Qual é uma das funções da galvanoplastia?
(A) Proteger superfícies metálicas contra corrosão. 4 B
(B) Produzir eletricidade por meio de reações químicas. 5 A
(C) Reciclar dispositivos eletrônicos.
(D) Produzir plásticos a partir de resíduos. 6 A
7 D
60.O que é lixo eletrônico?
8 C
(A) Resíduos orgânicos provenientes da indústria alimentícia.
(B) Resíduos plásticos provenientes da indústria automotiva. 9 A
(C) Resíduos eletrônicos provenientes de dispositivos descar- 10 B
tados.
(D) Resíduos metálicos provenientes da indústria siderúrgica. 11 C
12 B
61.Por que o descarte consciente de pilhas, baterias e dispo-
sitivos eletrônicos é importante? 13 C
(A) Para evitar a contaminação do solo, da água e do ar com 14 B
substâncias tóxicas.
15 A
(B) Para aumentar a produção de dispositivos eletrônicos.
(C) Para reduzir os custos de produção de energia elétrica. 16 B
(D) Para promover o consumo excessivo de recursos naturais. 17 C
62.O que está relacionado à entalpia de combustão? 18 A
(A) Eficiência energética. 19 C
(B) Emissão de gases de efeito estufa.
20 D
(C) Disponibilidade de recursos não renováveis.
(D) Poluição atmosférica. 21 D
22 C
63.Qual é uma das consequências da dependência de com-
bustíveis fósseis? 23 D
(A) Aquecimento global. 24 A
(B) Crescimento econômico sustentável.
(C) Diversificação da matriz energética. 25 C
(D) Aumento da eficiência energética. 26 A
27 B
64.A melhoria na infraestrutura e nos serviços básicos, como
tratamento de água e esgoto, contribui para: 28 D
(A) Aumentar a ocorrência de surtos alimentares. 29 B
(B) Prevenir doenças relacionadas à água contaminada.
(C) Diminuir a qualidade dos alimentos. 30 C
(D) Aumentar a segurança alimentar. 31 D
32 C
33 A

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CONHECIMENTOS

34 B ______________________________________________________

35 C ______________________________________________________
36 A ______________________________________________________
37 D
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38 C
39 A ______________________________________________________
40 C ______________________________________________________
41 D
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42 A
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43 D
44 D ______________________________________________________
45 A ______________________________________________________
46 A
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47 A
48 A ______________________________________________________
49 C ______________________________________________________
50 B
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51 B
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52 B
53 D ______________________________________________________
54 A ______________________________________________________
55 D
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58 B ______________________________________________________
59 B
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60 C
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61 A
62 A ______________________________________________________
63 A ______________________________________________________
64 B
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65 A
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ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS

ATKINS, PETER; JONES, LORETTA. PRINCÍPIOS DE QUÍMI- BAIRD, COLIN; CANN, MICHAEL. QUÍMICA AMBIENTAL. 4.
CA: QUESTIONANDO A VIDA MODERNA E O MEIO AM- ED. ED. BOOKMAN, 2011
BIENTE. 7. ED. PORTO ALEGRE: BOOKMAN, 2018.
"Química Ambiental" é um livro escrito por Colin Baird e Mi-
chael Cann, sendo a 4ª edição publicada em 2011 pela editora
"Princípios de Química: Questionando a Vida Moderna e o Bookman. Essa obra é uma referência importante no estudo da quí-
Meio Ambiente" é um livro escrito por Peter Atkins e Loretta Jones. mica aplicada ao meio ambiente, abordando os conceitos funda-
Publicada em 2018, essa obra é uma referência importante no estu- mentais e a importância da química na compreensão e solução dos
do da química, abordando os princípios fundamentais dessa ciência problemas ambientais.
e sua relação com a vida moderna e o meio ambiente. O livro explora uma variedade de temas relevantes relaciona-
O livro explora diversos temas relevantes no contexto atu- dos à química ambiental, oferecendo aos estudantes uma com-
al, oferecendo aos estudantes uma compreensão abrangente dos preensão abrangente das interações entre a química e o meio am-
princípios químicos e sua aplicação prática. Além disso, destaca a biente. Além disso, enfatiza a importância da química como uma
importância de questionar a forma como a química afeta a vida ferramenta para identificar, avaliar e mitigar os impactos ambien-
cotidiana e o meio ambiente, estimulando uma consciência crítica tais causados por atividades humanas.
sobre os impactos dessa ciência em nossa sociedade. Entre os principais temas abordados em "Química Ambiental"
Entre os principais temas abordados estão: estão:
• Fundamentos da química: O livro explora os conceitos básicos • Poluição ambiental: O livro discute os diferentes tipos de po-
da química, como a estrutura atômica, a tabela periódica, ligações luentes, como poluentes atmosféricos, poluentes hídricos e resídu-
químicas, estequiometria e reações químicas. Esses conceitos são os sólidos, bem como suas fontes e os impactos na qualidade do ar,
essenciais para o entendimento de todos os aspectos da química. da água e do solo. Explora também as consequências da poluição
para a saúde humana e os ecossistemas.
• Química e a vida moderna: A obra destaca a presença da quí-
mica em nosso cotidiano, desde a composição dos alimentos que • Química dos recursos naturais: A obra aborda a importância
consumimos até a produção de materiais e medicamentos. Explo- da química na compreensão e na conservação dos recursos natu-
ra-se como a química está presente em diversas áreas, como na in- rais, como água, solo, minerais e energia. Explora-se a extração, o
dústria, na medicina e na agricultura. uso e o gerenciamento desses recursos, bem como os desafios en-
frentados para garantir a sustentabilidade.
• Química e o meio ambiente: O livro ressalta a importância
de compreender os impactos da química no meio ambiente e a • Tecnologias ambientais: O livro apresenta diversas tecnolo-
necessidade de práticas sustentáveis. São abordados temas como gias e abordagens químicas utilizadas para tratar e remediar proble-
poluição atmosférica, tratamento de resíduos, energia renovável e mas ambientais, como tratamento de água, reciclagem de resíduos,
desenvolvimento de materiais ecologicamente corretos. remediação de solos contaminados e energia renovável. Destaca-se
a importância da inovação tecnológica para enfrentar os desafios
É fundamental que os estudantes busquem a obra completa ambientais atuais.
para um estudo mais aprofundado, uma vez que ela oferece uma
base sólida para a compreensão dos princípios químicos e sua apli- É fundamental que os estudantes busquem a obra comple-
cação no contexto atual. Ao explorar os temas abordados nessa ta para um estudo mais aprofundado, pois "Química Ambiental"
obra, os estudantes poderão ampliar seus conhecimentos sobre oferece uma base sólida para a compreensão dos conceitos e das
química, bem como desenvolver uma consciência crítica em relação aplicações da química no contexto ambiental. Ao explorar os temas
aos desafios enfrentados pela sociedade moderna e ao impacto da abordados nessa obra, os estudantes poderão adquirir conheci-
química no meio ambiente. mentos essenciais para compreender, analisar e buscar soluções
para os problemas ambientais que enfrentamos atualmente.

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a solução para o seu concurso!
BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS

O uso de questões sociocientíficas para a emergência da ar-


BATINGA, V. T. S.; BARBOSA, T. V. DA S. QUESTÃO SOCIO- gumentação
CIENTÍFICA E EMERGÊNCIA DA ARGUMENTAÇÃO NO EN-
SINO DE QUÍMICA. QUÍMICA NOVA NA ESCOLA, V. 43, N. A QSC é um recorte de temas sociais que têm natureza contro-
1, 2021. versa e se relacionam com conhecimentos científicos atuais, que es-
tão sendo divulgados nos meios de comunicação de massa (jornais,
TV, Internet), e são próximos da na existência do diálogo e oposição
Este trabalho objetiva identificar e analisar a emergência de entre pontos de vistas relativos a certa questão ou temática (Leitão,
processos de argumentação, na perspectiva dialógica, e sua natu- 2011). Essa vertente da teoria da argumentação centra-se na nego-
reza a partir de interações discursivas entre os estudantes, na reso- ciação, uma vez que no diálogo consideram-se diferentes pontos de
lução de uma Questão Sociocientífica (QSC) sobre Suplementação vistas, que ocorrem em um processo dinâmico e contínuo de ne-
Alimentar. Para isso foi desenvolvida uma sequência didática para gociação durante a exposição de argumentos e contra-argumentos
alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma Escola Pública de Per- sobre determinada temática ou questão (Plantin, 2008).
nambuco. Os procedimentos meto- dológicos adotados foram: Ela- Sá (2010) e colaboradores (Sá e Queiroz, 2007) investigaram
boração, Desenvolvimento e Análise de Dados da referida Sequên- o método de estudo de caso na promoção da argumentação em
cia. As interações discursivas ocorridas na resolução da QSC foram aulas de Química no Ensino Superior. Partindo desses estudos, Sá
analisadas com base nas categorias: argumento, contra-argumento (2010) mapeia categorias em um Modelo de Análise de Argumen-
e resposta; e natureza da argumentação: ambiental, científica, eco- tação Aplicável a Processos de Resolução de Questões Sóciocientí-
nômica, ética e social. Os resultados apontam que a resolução da ficas, elencadas da seguinte forma: natureza, fonte de evidências
QSC e as atividades da sequência estabelecem um contexto favo- e estratégias de aprendizagem. Este trabalho, foca especificamen-
rável à emergência da argumentação, contemplando as dimensões te, na categoria natureza da argumentação, que permite avaliar os
social, ética, econômica e científica, e mostram indícios de constru- critérios usados pelos estudantes em seu discurso na resolu- ção
ção do conhecimento sobre o tema Suplementação Alimentar. de uma QSC, e classifica-se como de natureza ambiental, científica,
O campo de pesquisa em Ensino das Ciências tem apresenta- ética, econômica e social. A argumentação de natureza ambiental
do diferentes estratégias didáticas que possibilitam uma formação estabelece relação entre o problema e seus impactos ambientais
mais crítica e reflexiva dos estudantes no processo de ensino e ou suas soluções. A de natureza científica refere-se a termos rela-
aprendizagem (Bedin e Del Pino, 2018; Leitão, 2012; De Chiaro e tivos aos conteúdos/temas/ conceitos/definições de áreas da ciên-
Aquino, 2017; Sá e Queiroz, 2018). Tal contexto reflete uma socie- cia. A de natureza realidade cotidiana. Jimenéz-Aleixandre, (2010)
dade que exige uma formação de cidadãos com diferentes habili- define QSC econômica traz dados sobre as consequências econô-
dades e competências, que se desenvol- vidas no percurso escolar micas como dilemas ou temas que envolvem controvérsias sociais
podem influenciar ações e mudanças no cenário social. Essas habili- que têm uma base científica, mas que não são resolvidas apenas
dades e competências são apontadas nos documentos da Educação com considerações de caráter científico, e sim, com a inclusão de
Brasileira que orientam o ensino de ciências na Educação Básica, e aspectos político, econômico, ambiental, ético, que influenciam na
sinalizam a importância do conhecimento científico como base para resolução da questão.
uma reflexão crítica de problemáticas sociais, científicas e tecnoló- A abordagem de QSC no ensino de ciências almeja diferen-
gicas (Bedin e Del Pino, 2018). Dentre os documentos destaca-se a tes objetivos, entre eles está o desenvolvimento da comunicação
Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que indica a aborda- gem e argumentação do aluno (Ratcliffe, 1998, apud Santos; Mortimer,
do conhecimento científico escolar contextualizado, o incentivo do 2009), que ocorrem por meio do desenvolvimento de habilidades
estudante a emitir julgamentos críticos e éticos, o desenvolvimen- cognitivas e discursivas, as quais são indispensáveis à construção
to da argumentação e a tomada de 2017). Nessa perspectiva, este do conhecimento científico (Lourenço e Queiroz, 2020). Quando o
trabalho centra-se na aborda- gem de QSC, visando o desenvolvi- espaço escolar é aberto às discussões argumentativas no contexto
mento da argumentação em aulas de Química, uma vez que tais de uma QSC, possibilita o desenvolvimento do pensamento e lin-
questões podem suscitar a controvérsia e a contradição, condição guagem científica, e com isso, um maior domínio dentro da área do
essencial, segundo Platin (2008), para que o processo argumentati- conhecimento científico. Nesse sentido, existe uma relação entre as
vo dialógico aconteça. QSC e a argumentação.
Esse trabalho apresenta um recorte de uma pesquisa mais am- Vários estudos têm apontado a relação entre QSC e o desenvol-
pla, que investiga o desenvolvimento da argumentação partindo da vi- mento da argumentação (Mendes e Santos, 2013; Chiaro e Aqui-
abordagem de uma QSC, buscando responder à pergunta: De que no, 2017; Sá, 2010) indicando a natureza controversa e pluridisci-
modo a abordagem de uma questão socio- científica sobre “Suple- plinar das QSC como característica favorável à argumentação, bem
mentação Alimentar” pode fomentar processos argumentativos? como à contemplação das dimensões sociais e subjetivas, como as
Qual a natureza da argumentação nas interações discursivas relati- de valores éticos e morais, aspectos políticos, econômicos, culturais
vas à resolução da QSC? O objetivo da pesquisa é identificar e ana- e ambientais. Nesse trabalho, a argumentação se situa na vertente
lisar o processo e natureza da argumentação a partir dos discursos dialógica, que se fundamenta devido a problemas ou a viabilidade
dos alunos sobre a temática da QSC. econômica das soluções. A de natureza ética aborda questões éticas
referentes ao problema ou a sua resolução, e a de natureza social
menciona a qualidade de vida de um indivíduo ou sociedade, ou se
refere à geração de empregos (Sá, 2010).
A natureza da argumentação pode relacionar-se com o plano
epistêmico das ações discursivas (Leitão, 2012). Nesse plano, bus-
cam-se captar as ações verbais dos estudantes na discussão, as
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a solução para o seu concurso!
BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS

quais se referem a conceitos, definições, valores, aspectos/fatores Metodologia


relativos à área do conhecimento em questão. E também como eles
mobilizam raciocínios, desenvolvem procedimentos específicos do Este trabalho tem como objetivo identificar e analisar a emer-
conhecimento abordado (Leitão, 2012), neste trabalho, a resolução gência de processos de argumentação e sua natureza a partir de
de uma QSC sobre Suplementação Alimentar. interações discursivas entre os estudantes, na reso- lução de uma
Jiménez-Aleixandre (2010) afirma que “argumentar é o pro- QSC sobre Suplementação Alimentar, que foi escolhida por se tra-
cesso de avaliar as declarações com base em evidências”. Em outras tar de um tema sociocientífico, conforme Paoli (2015). Os procedi-
palavras, é um processo co- municativo no qual as declarações e as mentos metodológicos envolvem a Elaboração, Desenvolvimento e
conclusões obtidas devem estar respaldadas nas evidências. Quan- Análise de Dados da Sequência Didática (SD). A sequência foi desen-
to à argumentação científica, passamos a compreendê-la melhor volvida em cinco aulas de química, sendo qua- tro (1ª, 2ª, 3ª e 5ª)
quando entendemos a natureza da ciência, e não somente sua acei- de 50 minutos cada e uma (4ª aula) de 100 minu- tos. Catorze estu-
tação como algo inquestionável ou desenvolvida de forma isolada. dantes do 3º ano do Ensino Médio de uma Escola Pública Estadual
Isso favorece o processo de reflexão, um possível avanço conceitual de Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, parti- ciparam da SD,
e pode desencadear a tomada de decisão pelos estudantes, devi- que contemplou as atividades: aplicação de ques- tionário, leitura
do ao caráter dialógico da argumentação, entendido no sentido de e debate de texto, abordagem dialogada de conceitos relativos às
envolver o diálogo entre proponente e oponente e intercâmbio de Biomoléculas, debate e resolução da QSC. Cada aula buscou forne-
turnos verbais (Johnson, 2020). cer subsídios aos estudantes para resolução da QSC.
A argumentação é uma ferramenta que pode despertar nos estu- Na 1ª aula aplicou-se um questionário para levantamento das
dantes habilidades inerentes ao processo de construçãodo conheci- concepções prévias dos estudantes. Foi feita uma análise compara-
mento científico, por exemplo, o reconhecimento de afirmações con- tiva de tabelas nutricionais de um alimento e de um suplemento,
traditórias, a identificação de evidências e o confronto destas com para discussão do conceito de suplemento alimentar e reconheci-
teorias (Capecchi e Carvalho, 2000). Segundo De Chiaro e Leitão mento dos grupos bioquímicos (carboidratos, lipídios e proteínas)
(2005), a argumentação é uma atividade social, discursiva edialógica estudados nas aulas seguintes.
definida pela presença de pontos de vista conflitantes, que devem Na 2ª aula houve uma discussão acerca da necessidade da
ser justificados e questionados, para que assim, haja uma revisão de ingestão de suplementos alimentares e seus contextos de uso, le-
ponto de vista e, potencialmente, uma mudança de concepção. Na vantando questões a respeito dos grupos sociais que tomam suple-
sala de aula, a argumentação visa analisar e avaliar fenômenos ou si- mentos. Foi feita a leitura de um texto que aborda a suplementação
tuações,e se desenvolve por meio do diálogo e interação discursiva como tratamento auxiliar de doenças em crianças e adolescentes e
entre estudantes-estudantes e professor-estudantes. da importância de um acompanhamento médico e/ou nutricional
Consideramos que a discussão de QSC, em sala de aula, pode para a sua pres- crição. Por fim, houve uma discussão sobre a clas-
promover a interlocução entre os estudantes e professor, e um am- sificação do suplemento como um alimento ou um medicamento.
biente favorável à instauração de situa- ções argumentativas devido Na 3ª houve uma exposição dialogada do conceito de Biomo-
ao surgimento de conflitos de opiniões, visto que diferentes pon- léculas (carboidratos e proteínas) e sua ação no orga- nismo, re-
tos de vista são inseridos no discurso, sendo essa a condição básica lacionando-as com os suplementos e evidenciando os perigos da
para a promoção da argumentação (Mendes e Santos, 2013; Plan- suplementação sem orientação adequada. A QSC foi apresentada
tin, 2008). aos alunos, e suas questões foram discutidas na atividade de deba-
Leitão (2011) aponta que o estudante, ao se engajar numa argu- te da SD. A QSC intitulada “Vantagem para quem?” discorre sobre o
mentação, realiza movimentos cognitivo-discursivos que vão desde consumo, compra e venda de suplementos alimentares (Figura 1).
expor um ponto de vista e justificá-lo, até a considerar e responder às Esta foi elaborada segundo critério de Ramsey (1993, apud Santos;
dúvidas e objeções contrárias a suaideia. A autora afirma que é nesse Schnetzler, 2010, p. 81): A QSC contempla um problema de nature-
processo de negociaçãode significados e reflexão sobre o próprio ponto za controversa, sobre o qual existem opiniões di- ferentes e apre-
de vista que são gerados mecanismos de aprendizagem e construção de senta significado social. Na 4ª aula houve a discussão da QSC e de
conhecimento. suas 4 questões.
Leitão (2000) propõe um procedimento analítico para identi- Na 5ª aula houve uma sistematização da sequência, partindo
ficar os movimentos argumentativos, que são capturados por meio do da reflexão sobre como os conhecimentos quími- cos estudados e
processo de revisão de posicionamento ao longo da argumentação. discutidos contribuíram para resolver as perguntas da QSC.
A unidade analítica proposta pela autoraapresenta três elementos:
argumento, contra-argumento e resposta. O argumento se refere ao Referencial de Análise de Dados
conjunto de pontos de vista e suas razões/justificativas, sendo esta a Este trabalho centra-se na análise dos dados obtidos nas inte-
categoria de análiseadotada para identificar a posição defendida pelo rações discursivas ocorridas na 4ª aula, que foi gravada em áudio,
sujeito e asideias com que ele a justifica. Os contra-argumentos são transcrita e feitos recortes construídos no formato de episódios re-
ospontos de vista alternativos ou qualquer ideia que desafia certoponto lacionados com a questão e objetivo de pesquisa. Tais interações
de vista. A categoria resposta é a resposta dada, peloproponente, às se relacionam com o processo de busca e tentativa de resolução
objeções levantadas pela contra-argumentação (Leitão, 2007). Nessa da QSC durante a SD. Episódio é “um segmento do discurso da sala
tríade, cabe destaque a resposta, pois a necessidade de responder de aula que tem fronteiras claras em termos de conteúdo temático
uma oposição pode desencadear o mecanismo de revisão de pers- ou de tarefas que aí são desenvolvidas, podendo ser nitidamente
pectiva. Então, no elemento resposta é onde se pode perceber o distinto dos demais que lhe antecedem e sucedem” (Silva e Morti-
processo de apropriaçãoda temática discutida pelos sujeitos (Leitão, mer, 2005, p. 9). Para identificação, nos episódios, dos momen- tos
2011). em que houve o desenvolvimento da argumentação foi adotada
como categoria de análise o procedimento analítico segundo Lei-
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tão (2011), que busca identificar os movimentos argumentativos e processo da mudança de perspectiva ou não por meio da presença
dos elementos: argumento, con- tra-argumento e resposta (ciclo argumentativo). A presença desses elementos nos episódios analisados
aponta para o desenvolvimento da argumentação, que se manifesta/eviden- cia neste trabalho, por meio do que se denomina de situação
argumentativa (SA) (Mendes e Santos, 2013). Depois de identificada a SA foi feita uma análise conjunta dos ele- mentos presentes na ar-
gumentação (Leitão, 2011), buscando identificar a sua natureza. Para isso, tomou-se a categoria Natureza da Argumentação, oriunda do
Modelo de Análise de Argumentação Aplicável a Processos de Resolução de Questões Sociocientíficas (Sá, 2010).
Na transcrição das discussões dos episódios foi utilizado o padrão: P: Pesquisadora/Professora; An: Aluno, onde n é ordem cuja fala
apareceu na gravação; A*: aluno não identi- ficado; AS: falas de alunos simultâneos; [...]: não transcrito; [ ]: palavra subentendida; (****):
inaudível.

Figura 1: QSC sobre Suplementação Alimentar.

Resultados e Discussão

Neste trabalho são apresentados os resultados de análise do episódio 3 (4ª aula) durante a discussão e resolução dasquestões da QSC,
especificamente, a Q1.
Análise do Episódio 3: “Discutindo sobre orientação nutricional”

O episódio 3 retrata as interações discursivas promovidas pela Q1 da QSC: “Quais podem ser os motivos que levamas pessoas a não
buscar orientação médica?” Inicialmente,os alunos expressaram suas ideias, destacando a influênciasofrida pelo consumidor de suplemen-
tos, como: a facilidadede compra e orientação de uso feita por amigos, profissionaisde academia, vendedores e fornecedores de suplementos
na internet.
Inicialmente, no turno 69, o aluno A8: “Na real, eu nem vejo necessidade de ter acompanhamento para isso. Se fosse tipo bomba, era
outra coisa, mas suplemento [...]” questiona a necessidade de orientação médica para o consumo de suplementos, justificando que eles não
tão perigosos, por isso, não podem prejudicar tanto como os esteroides anabolizantes (“bomba”). No turno 70, a professora faz uma pergunta
paraA8 que favorece a manutenção da argumentação. P: “Tu podes explicar melhor? Como assim? Se fosse outra coisa?Estás se referindo

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BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS

ao fato de não causar problema com frequência?”. Já o aluno A5 (turno 71) contra-argumenta oposicionamento de A8, afirmando que o uso
de suplementos pode sim causar problemas, como também é informado no enunciado da QSC. Nesse momento emergem dois argu- mentos
que representam posicionamentos distintos, então, a contradição é estabelecida.
No turno 72, A7 questiona a fala de A5 sobre a ideia deque esteroides anabolizantes e suplementos causar problemas“do mesmo jeito”,
justificando, implicitamente, entender queo consumo inadequado de suplemento também pode ser pre-judicial, mas não da forma como os
esteroides anabolizantesprovenientes de hormônios, que representa uma justificativapara o ponto de vista de A7, que é contrário ao de A5.
O proponente A8, no turno 75, mantem seu posicio- namento, que foi posto em dúvida e responde a pedido da professora P: “[...] Ele
quer falar ó, vamos ouvir? Fala [...](Apontando para A8) (turno 74), apresentando outra justifi-cativa, que parece apontar para questão de
natureza econô-mica (Sá, 2010), como visto em: “[...] e nem todo mundo, é... tem condições de ficar indo no médico”.
No turno 76, A5 refuta o colega (A8) quanto à questão de “tomar como todo mundo” demonstrando conhecer as diferenças do efeito
do suplemento em cada pessoa. Seu argumento parece se apoiar nas discussões realizadas em sala de aula sobre a ação dos suplementos
no metabolismohumano, que pode variar de pessoa para pessoa. Isto pode caracterizar indícios de apropriação do conhecimento cientí-
fico escolar pelo aluno A5, de acordo com Leitão (2011). Este aluno reafirma seu posicionamento (“cada um tem as suas necessidades”)
e sugere outra solução para a questão econômica trazida pelo A8 (turno 75): A5: “Ou não tomar, e comer melhor. Não gasta dinheiro e
nem tem problema” Essa solução indica a consideração da justificativa apresentada pelo oponente (A8) como válida. Nesse sentindo, esse
processo de retomada do argumento após a contra-argumentação remete ao elemento “resposta”, con- forme De Chiaro e Leitão (2005),
indicando uma aceitaçãoparcial do argumento de A8. O Quadro 1 apresenta uma síntese da 1ª situação argumentativa (SA) estabelecida
no episódio em análise.
O Quadro 2 apresenta a identificação das dimensões relativas à natureza da argumentação nos discursos dos estu-dantes, segundo Sá
(2010), na 1ª SA, a partir da emergênciados elementos da argumentação (Quadro 1).
No turno 77, surgem novas interações dando sequência à segunda parte do episódio 3. Neste turno, a ação verbal dis- cursiva da
professora ao fazer a pergunta: “[...] O que vocês acham?” promoveu a exposição de outros pontos de vista. Tal ação corrobora com De
Chiaro e Leitão (2005), quando afirmam sobre a importância das ações discursivas do professor ser fundamental para a manutenção do
desenvolvimento da argumentação.
Considerando o aspecto econômico envolvido no pro- cesso de resolução da Q1 da QSC surge a alternativa de a orientação ser feita
pelo profissional de educação física (A7, turno 78). A13 (turno 79) discorda do argumento de A7, enfatizando que o personal trainer não
tem conhecimento que é exigido para prescrever suplementos. A7 continua a discussão como proponente, sugerindo buscar orientação
com profissionais mais próximos e “acessíveis” como os instrutores de academias ou personal trainers (turno 80). Ainda nesse turno, A7
responde o contra-argumento de A13, justificando que o conhecimento da experiência do profissional de educação física assegura que ele
possa orientar pessoas quanto ao tempo deingestão de suplementos. Ficaevidente não haver mudança noposicionamento de A7 (Qua-
dro 3).O aluno A2 (turno 81) apresenta um argumento contrário aoposicionamento de A7, destacan-do que cada pessoa pode ter um tipo
de necessidade a ser suplementada. A2 também refuta oargumento de A7 - que afirma que os malefícios são causados quando consumidos por
longo tempo - ressaltando que os problemas podem variar de acordo com a substância químicacontida no suplemento e com o metabolismo
do consumi- dor (turno 81). Acredita-se que tal contra-argumento tem base nas discussões acerca das indicações de doses diárias e do
tempo de uso de alguns suplementos, por exemplo, o BCAA (auxilia na síntese proteica e tem dosagem diária de no máximo 20g) e ter-
mogênicos (aceleram o metabolis- mo e queimam gordura, não devem ser tomados por mais de três meses), abordadas nas atividades da
sequência. O contra-argumento de A2 (turno 81) aponta indícios de que ele construiu significados sobre: metabolismo, variáveis químicas
consideradas na suplementação e as consequências de uma ingestão inadequada.
No turno 82, A* amplia o contra-argumento de A2 parajustificar que cada suplemento tem uma quantidade específica de substância
que deve atender à necessidade de cada pessoa. Para isso, A* usa a palavra “concentrado” termo científico que foi discutido nas aulas 1ª
a 3ª da SD. E ilustrou sua afirmativa com uma comparação feita entre o consumode suplementos pelos atletas profissionais e demais consu-
midores, enfatizando que os primeiros precisam de quantidades mais elevadas de nutrientes para suprir os gastos energéticos, enquanto os
segundos não necessitam (Quadro 3).
A7 (turno 83) responde às contra-argumentações, con- cordando que não é atribuição do profissional de educação física orientar
suplementação.
Percebe-se nesse processo que, segundo Leitão (2012), houve revisão de perspectiva de A7, a qual contribuiu para a constru- ção de
conhecimento relativo à QSC. Entretanto, A7 questiona A* indicando uma relação de prós e contras: “Mas tu prefere que a pessoa tome
sem orientação ou com a orientação do cara da loja?”, sugerindo alternativa ao consumidor que não procura orientação médica (“possivel
mente por questões econômicas”)conseguir alguma orientação dos vendedores de suplementos. A7 traz na questão, o fato de que, se o
individuo quiser consumir ele o fará de qualquer forma – com ou sem orientação – já que a venda é livre. Nessa direção, entende-se que
esse questionamento como uma pergunta inicializadora, de acordo com Paoli, (2015), pois solicita do opositor um argumento (Quadro 3).
Diante do questionamento de A7 (turno 84), o aluno A2 argumenta que “Eles não devem orientar também” e sugere outra solução
que contemple a orientação médica e seu as- pecto econômico: “[...] E você pode ir ao posto e você marca um nutricionista”, indicando que
há também uma dimensão de natureza ética na resolução da QSC (Sá, 2010). A8 refuta o ponto de vista de A2 (turno 85), e traz a dimensão
social atrelada à resolução da Q1 relativa ao longo tempo de espera para consulta no Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com Sá
(2010), tal contra-argumento é de natureza social, pois relaciona aspecto da qualidade de vida do indivíduo ou sociedade. No turno 86, a
resposta de A13 indica que não houve mudança de seu posicionamento (turno 79), mas que ele foi impelido a revê-lo, à luz das perspecti-
vas presentes na discussão, processo que é inerente à construção de co- nhecimento, conforme Leitão, (2012) e De Chiaro e Leitão (2005).
A síntese da 2ª SA é apresentada no Quadro 3.
Na 2ª SA foram identificadas as dimensões relativas à natureza da argumentação (Sá, 2010), dispostas no Quadro 4.
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Quadro 1: Síntese dos elementos da 1ª SA no episódio 3 de acordo com De Chiaro e Leitão, 2005.

1ª SA
Turnos de fala da 1ª SA Elementos da Argumentação Comentários
Turno 69: O aluno A8 expõe seu posicionamen- Temos a proposição do 1° argumento da SA3,
to onde ele acredita não ter “[...] necessidade caracterizado pelo ponto de vista e justificativa
de ter acompanhamento pra isso.” e completa Argumento implícita na comparação do perigo dos suple-
“se fosse tipo bomba, era outra coisa, mas mentos alimentares com os perigos envolvidosno
suplemento...” uso de esteroides anabolizantes.
A ação do ponto de vista que havia sido apre-
Turno 71: A5 discorda da opinião anterior sentado caracteriza a oposição, tendo comojus-
“Nada a ver, dependendo pode fazer mal do Contra-argumento tificativa o fato de que os suplementos também
mesmo jeito pra pessoa.” podem causar problemas, mesmo não sendo
esteroides anabolizantes como comparado pelo
proponente A8.
Turno 72: A7 entra na discussão questionando Surge mais um contra-argumento, dessa vez
a opinião do colega: “Onde que “do mesmo refutando o posicionamento do oponente e
jeito”? Muito raro ver caso de problema de Contra-argumento enfatizando a diferença de riscos entre suple-
saúde com suplemento e só se tomar por mentos e esteroides anabolizantes.
muito tempo.”
Turno 75: O aluno A8 retorna com uma nova A8 apresenta outra resposta e uma nova jus-tifi-
justificativa para seu posicionamento “[...] É Resposta Contra-argumento cativa com apelo econômico para reforçaro seu
muito mais prático comprar logo e toma como posicionamento. Essa resposta assumetambém
todo mundo... e nem todo mundo, é... tem o papel de contra-argumento frenteà oposição.
condições de ficar indo no médico.
Turno 76: A5 responde: “Mas não tem isso A5 traz uma resposta como reação ao contra-ar-
de tomar como todo mundo, porque não tem gumento. E revê seu posicionamento re- futan-
como saber como cada pessoa vai reagir... Resposta do as justificativas do colega sobre a raridade
cada um é cada um. Cada um tem as suas dos problemas causados pelo uso desuplementos
necessidades. É melhor ir ao médico... Ou não sem orientação, mostrando outrasolução para a
tomar e comer melhor. Não gasta dinheiroe nem questão econômica.
tem problema... (não) corre o risco”.
Fonte: Autoras, 2018.

Quadro 2: Identificação da natureza da argumentação (Sá, 2010) na 1ª SA.

Elementos da argumentação Natureza da argumentação/comentários


(A5): “Nada a ver, dependendo pode fazer mal do mesmo jeito Social. Evidencia as consequências na qualidade de vida (saúde)
pra pessoa.” do indivíduo com relação ao consumo de suplemento.
(A8) “Porque ninguém vai ficar direto indo no médico pra pedir Ética e Econômica. O argumento faz referência à postura dos
orientação pra essas coisas. É muito mais prático comprar logo indivíduos acerca do consumo de suplemento sem orientação
e tomar como todo mundo toma... e nem todo mundo, é... têm nutricional/médica e cita a dificuldade econômica para cumprira
condições de ficar indo no médico”. indicação médica.
(A5): “Mas não tem isso de tomar como todo mundo, porque Científica e Econômica. O argumento faz referência ao conheci-
não tem como saber como cada pessoa vai reagir... cada um é mento científico sobre a especificidade do metabolismo de cada
cada um. Cada um tem as suas necessidades. É melhor ir ao indivíduo, e também trata da viabilidade econômica da solução
médico... Ou não tomar e comer melhor. Não gasta dinheiro e apresentada.
nem tem problema... (não) corre o risco”.
Fonte: Autoras, 2018.

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Quadro 3: Síntese dos elementos da 2ª SA no episódio 3 (segundo trecho) (De Chiaro e Leitão, 2005).

2ª SA
Turnos de fala da 2ª SA Elementos argumentativos Comentários
Turno 78: A7 propõe: (****) “Fala na academia, Argumento A7 propõe orientação por outros profissionais mais
com a pessoa formada em Educação Física “acessíveis”.
que tem conhecimento dessas coisas, sem
exagerar.”
Turno 79: A13 enfatiza com relação à sugestão Contra-argumento A13 apresenta oposição a A7 com uma justifi-cativa
do colega de classe “Não tem. O personal não e conhecimento consistente.
pode passar nada”.
Turno 80: A7 contrapõe: “Então, mas eles têm Resposta A7 responde o contra-argumento do seu opo-nente
contato com isso direto. Eles conhecem mais, (A13) mantendo seu ponto de vista. Nãohá indica-
então sabem de que forma não vai fazer mal, ção de mudança de posicionamento.
pode dizer um período pra tomar e depois
parar, essas coisas”.
Turno 81: A2 entra na discussão para refutar Contra-argumento A2 refuta as justificativas de “como todo mun-do
o colega: Não tem garantia de que não vai [consome]” e os problemas a serem cau-sados
fazer mal. O que funciona pra mim pode não “só se tomar por muito tempo” usadaspelo propo-
funcionar para ti. E... (pausa por causa das nente.
falas simultâneas) e se eu preciso tipo de, de
uma quantidade de proteína e tomar mais? O
personal vai saber só de olhar na minha cara?
E se for outro [suplemento] que dê problema
mais rápido? E também isso, pode ser mais
rápido para um que para outro”.
Turno 82: A* apoia o argumento anterior: Contra-argumento O aluno cede justificativas informações cien-tífi-
“Porque as quantidades das substâncias lá no cas para apoiar o contra-argumento da oposição.
suplemento são maiores, fica mais con- cen-
trado. Então vai ter que ser de acordo com o
que cada um precisa. Se for um atletaé mais
fácil, precisa repor porque tem um tipode treino
[...]”.
Turno 83: A7 retoma a fala: “Pronto! Eles não Resposta A7 indica apresentar uma mudança de pers-
podem orientar. Mas tu preferes que a pessoa pectiva, aceita o posicionamento contrário ao dele
tome sem orientação ou com a orientação do inicialmente (“indicando revisão de conhe-cimento”),
cara da loja? Porque vão continuar vendendo mas solicita um novo argumento aoseu opositor.
pra pessoa”.
Turno 84: O aluno A2 se posiciona: “Eles não Argumento A2 se posiciona sobre o questionamento do
devem orientar também. [...] pode ir ao postoe colega (A7) e justifica indicando uma soluçãopara
marcar um nutricionista. Opção tem. [...]”. “questão econômica” trazida anterior- mente.

Turno 85: (falas simultâneas) (****) A8 retor- Contra-argumento Refutando a fala do colega, A8 traz um proble-ma
na para a discussão “No posto? Do SUS? social relacionado ao atendimento no SUS.
Quantas vezes tu marcasse aí? Você esperar
meses pra uma consulta pra poder tomar um
suplemento. Quem vai? Ninguém vai não”.
Turno 86: A13 responde: “Aí vai da consciência Resposta Essa fala mostra que, não houve mudança de
de cada um. É melhor não tomar e fazer uma posicionamento, mas houve uma revisãode seu
dieta direitinho de proteínas, vitaminas e tal. argumento inicial à luz dos pontos devista apre-
Dá pra fazer. Tem aplicativo que ajuda [...]”. sentados.
Fonte: Autoras, 2018.

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Quadro 4: Identificação da natureza da argumentação (Sá, 2010) na 2ª SA.

Elementos da argumentação Natureza da argumentação/ comentários


(A13): Não tem. O personal não pode passar nada. Ética. O argumento informa que não é atribuição do profissional
(personal) orientar/prescrever suplementos.
(A2): “[...] O que funciona pra mim pode não funcionar pra ti. E Científica e Ética. O argumento traz o termo “proteína” per-
se eu preciso tipo de, de uma quantidade de proteína e tomar tencente ao domínio científico, e faz referência aos conceitos
mais? O personal vai saber só de olhar na minha cara? E se for científicos sobre metabolismo. Além de questionar a postura ética
outro que dê problema mais rápido? E também isso pode ser dos personal trainers.
mais rápido pra um que pra outro”.
(A*) “Porque as quantidades das substâncias lá no suplemento Científica. Demonstra ter conhecimento científico escolar sobre
são maiores, fica mais concentrado. Então vai ter que ser de composição química dos suplementos usando o termo subs-
acordo com o que cada um precisa [...]”. tância.
(A2): “[...] E você pode ir ao posto e você marca um nutricionista. Ética. Questiona a postura das pessoas que não procuram
Opção tem [...]”. orientação nutricional.
(A8): “No posto? Do SUS? Quantas vezes tu marcasse aí? Voc vai Social. O argumento faz referência ao problema social da falta de
esperar meses pra uma consulta pra poder tomar um suplemento, qualidade dos serviços da saúde pública e como afeta a qualidade
quem vai? Ninguém vai não”. de vida da sociedade.
(A13): “Aí vai da consciência de cada um. É melhor não tomar Científica e Ética. O argumento traz os termos “proteínas” e “vi-
e fazer uma dieta direitinho de proteína, vitaminas e tal. Dá pra taminas” pertencentes ao domínio científico e resume a questão da
fazer. Tem aplicativo que ajuda [...]”. busca por orientação a um aspecto ético de cada individuo.
Fonte: Autoras, 2018.

Conclusões

A análise do episódio 3, que trata das interações discursivas ocorridas na resolução da Q1 da QSC, que aborda os motivos que le-
vam as pessoas a não buscar orientação médica para o consumo de suplementos alimentares, nos permite chegar a cinco conside- ra-
ções: houve desenvolvimento da argumentação, evidenciado na identificação de duas situações argumentativas; a natureza con-
troversa do enunciado da QSC favorece à argumentação, a emergência das dimensões sociais e subjetivas influencia na resolução da
QSC, as ações verbais da professora contribuem para o desenvolvimento da argumentação, e as discussões argumentativas propiciadas
pela QSC possibilitam o desenvolvimento do pensamento elinguagem científica sobre Suplementação Alimentar.
Com relação à natureza da argumentação, emergiram nas ações discursivas verbais dos estudantes para responder a Q1 da QSC,
aspectos de natureza ética, social, econômica e científica, que se referem ao plano epistêmico e remetem a indícios de construção de co-
nhecimento sobre o tema Suplementação Alimentar, com predomínio das dimensões científica e ética, que se relacionam com a estrutura
da QSC proposta. Esse estudo apresenta contribuições para pesquisas futuras sobre o desenvolvimento da argumentação, na ver- tente
dialógica, no Ensino de Química a partir da abordagem de QSC em sala de aula.

CHIARO, S.; AQUINO, K. A. S. ARGUMENTAÇÃO NA SALA DE AULA E SEU POTENCIAL METACOGNITIVO COMO CAMINHO
PARA UM ENFOQUE CTS NO ENSINO DE QUÍMICA: UMA PROPOSTA ANALÍTICA. EDUCAÇÃO E PESQUISA, V. 43, N. 2, P. 411-
426, 2017.

Introdução

Pesquisadores e educadores dos mais diversos domínios da ciência educacional têm demonstrado crescente interesse em estudar
maneiras de promover a construção do conhecimento e o desenvolvimento das habilidades de raciocínio de seus alunos. Estudos relacio-
nados à utilização da argumentação em sala de aula (CANDELA, 1998; BAKER, 2009; SCHWARZ, 2009; LEITÃO, 2007, 2009; 2011; JIMENE-
Z-ALEIXANDRE; ERDURAN, 2008; DE CHIARO, 2001; DE CHIARO; LEITÃO, 2005) vêm mostrando o enorme potencial desse tipo de discurso
para os fins acima explicitados. Isso porque a sua própria organização discursiva possibilita aos indivíduos envolvidos reflexões num nível
não apenas cognitivo, mas também metacognitivo, já que leva os envolvidos a movimentos de revisão e de construção de conhecimentos
a partir da reflexão sobre seus próprios pensamentos. A argumentação no ensino das ciências também tem sido amplamente estudada
nos últimos anos a partir de diferentes perspectivas (JIMENEZ-ALEIXANDRE, 2006; NASCIMENTO; VIEIRA, 2008; MENDONÇA; JUSTI, 2013;
MENDES; SANTOS, 2013; SASSERON; CARVALHO, 2013; JIMENEZ-ALEIXANDRE; BROCOS, 2015), como por exemplo abordagens: (1) mais
focadas em compreender a estrutura dos argumentos construídos; (2) direcionadas ao desenvolvimento de habilidades argumentativas;
(3) interessadas em entender o papel da argumentação na construção de um ambiente de reflexividade em sala de aula, entre outras. Ten-
do como base pesquisas recentes (DE CHIARO, 2006; DE CHIARO; AQUINO, 2013) a respeito do desenvolvimento metacognitivo de alunos

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envolvidos em situações de argumentação, o presente estudo se insere no esforço de ampliação dessas reflexões no domínio das ciências,
buscando contribuir para essa terceira linha de estudos citada, ao propor uma ferramenta analítica que ajude a compreender melhor o
potencial metacognitivo da argumentação como caminho para um enfoque CTS – Ciência, Tecnologia e Sociedade no ensino de química.
A área das ciências e também a da tecnologia têm sido responsáveis nas últimas décadas por grandes transformações na ciência de
forma geral e, consequentemente, na sociedade. Para além do pensamento simplista de que essas transformações só podem trazer o bem
para o homem e o desenvolvimento para a sociedade, é de suma importância que o aluno reflita criticamente sobre os interesses que
estão na base dessas transformações, desde os de caráter social, político, econômico e até os militares, bem como suas consequências.
Essas reflexões acontecem no âmbito do que chamamos de discussões sociocientíficas, que vêm mostrando a relevância da utilização de
um enfoque CTS no ensino.
Mais especificamente direcionado ao ensino de química, estudos recentes vêm apontando interessantes reflexões sobre a relação
entre questões sociocientíficas nesse domínio de conhecimento e a argumentação. Fatareli, Ferreira e Queiroz (2014), por exemplo, mos-
tram que a análise pelos alunos de textos de divulgação científica (TDC) – no referido estudo, um texto relacionado à questão do urânio
empobrecido – se constitui em uma interessante estratégia didática, que pode promover não apenas a apropriação do conteúdo e forma
textual, mas ainda, a identificação dos elementos controversos e contraditórios presentes propiciando, a partir de debates, o desenvolvi-
mento do espírito crítico e reflexivo, fundamentais a uma abordagem CTS. Seguindo o mesmo raciocínio, Fatareli; Massi; Ferreira e Queiroz
(2015) discutem elementos para o mapeamento de TDCs potencialmente desencadeadores de debate, defendendo a importância de um
bom planejamento em relação aos materiais de apoio utilizados pelo professor de forma que esses possam se constituir em fontes de
motivação da argumentação e reflexão em sala de aula de química.
Quando se ressalta, pois, a importância dos questionamentos críticos e reflexivos a respeito do contexto científico, tecnológico e
social, encontramos um lugar especial para a argumentação em sala de aula. Este foi o ponto crucial deste estudo: colaborar com a inves-
tigação sobre a utilização da argumentação no contexto de sala de aula como uma alternativa possível no que diz respeito à emergência
e à manutenção de um funcionamento metacognitivo, necessário ao exercício da reflexividade e criticidade desejada na construção dos
conhecimentos científicos dos alunos em aulas de química. Nesse sentido, quanto ao conteúdo “Radioatividade”, alunos do terceiro ano
do ensino médio foram convidados a debater e posteriormente escrever sobre a questão “Radioatividade, vida ou morte?”, em quatro
momentos no decorrer de um mês de aulas sobre a temática em questão. Os relatos escritos dos alunos, posteriores às situações de ar-
gumentação geradas pela questão, foram analisados com o objetivo de se perceber indícios de movimentos metacognitivos dos alunos na
construção de conhecimentos sobre a questão sociocientífica levantada.

O enfoque CTS, as discussões sociocientíficas e a argumentação

O movimento CTS tem crescido enormemente na área educacional nos últimos anos, especialmente após a inserção desse debate
nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Nesse documento curricular, ao se estabelecer um ensino voltado para o contexto social,
incentiva-se que as escolas promovam a interação do aluno com questões científicas e tecnológicas em suas dimensões sociais. Dessa
forma, espera-se que o aluno consiga, cada vez mais, relacionar o conhecimento científico e tecnológico com as situações do seu dia a dia
na sociedade, estabelecendo vínculos com sua própria vida e a de sua comunidade e, consequentemente, construindo maior sentido aos
conteúdos estudados. Vários são os estudos que apontam nessa direção (PINHEIRO; SILVEIRA; BAZZO, 2007; MUNDIM; SANTOS, 2012; AU-
LER; DELIZOICOV, 2006) a fim de ampliar essa discussão, de possibilitar a recuperação ou mesmo a construção de espaços críticos na escola
e além de seus muros e de, portanto, possibilitar aos nossos jovens o desenvolvimento de uma postura questionadora e crítica diante do
desenvolvimento científico e tecnológico.
Do ponto de vista da prática pedagógica, a proposta desse enfoque implica profundas mudanças em relação a concepções tradicionais
de ensino que ainda predominam em muitas escolas, já que se buscam novas formas de entender e construir o saber científico. Há nessa
nova postura uma tentativa de superação de uma neutralidade científica irreal a fim de se romper com um ensino de repetição e de esti-
mular a reflexão, o questionamento e o desenvolvimento da criatividade e da imaginação. O saber deixa de ser sagrado e impalpável e pas-
sa a ser descoberto e pesquisado pelo professor e pelos alunos, juntos. Um ensino baseado nessa proposta busca, além da compreensão
de conhecimentos de forma contextualizada e crítica, o desenvolvimento de habilidades e competências para que o aluno possa ser capaz
de estabelecer relações intersubjetivas com a construção do conhecimento que o permitam opinar sobre o saber, reagir, reelaborá-lo,
ampliá-lo. É nesse sentido que propomos que a inserção de situações de argumentação em sala de aula pode ser interessante.
Estudos recentes já vêm apontando a relação entre argumentação e discussões sociocientíficas, como em Mendes e Santos (2013).
Nesse estudo, os autores mostram que os professores pesquisados estabelecem um contexto propício à argumentação ao promoverem
discussões sociocientíficas. Sob uma ótica semelhante, o presente estudo busca ampliar essa reflexão, no entanto, partindo do sentido
inverso, isto é, procurou-se aqui investigar se a utilização da argumentação como recurso didático no estudo do tema “Radioatividade”
propiciaria aos alunos envolvidos a reflexão sobre seus próprios pensamentos, sua ampliação ou reconstrução; ou seja, se essa estratégia
favorece um funcionamento no nível metacognitivo necessário a um enfoque CTS em sala de aula. Aqui se propõe, portanto, que a argu-
mentação se constitui em interessante recurso quando a intenção da escola é promover um ensino contextualizado, reflexivo e voltado ao
desenvolvimento de indivíduos comprometidos com a realidade social.

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Argumentação e metacognição

O estudo sobre a metacognição tem sido encontrado com focos diversos na literatura acadêmica que discute aprendizagem e desen-
volvimento cognitivo. Normalmente, o uso desse termo reflete o envolvimento do pesquisador em uma linha de investigação específica.
Originalmente utilizado por Flavell (1979), o termo metacognição é compreendido enquanto processo no qual os indivíduos monitoram
e controlam seu próprio funcionamento cognitivo. O foco de estudo desse autor é cognitivista e, portanto, está na esfera das operações
mentais. No presente estudo, o foco recai no papel da linguagem e da comunicação em geral no desenvolvimento cognitivo, uma vez que
aqui se assume uma relação constitutiva entre linguagem e cognição humana, proposta pelas teorias sócio-históricas, em especial Vygot-
sky (1993).
Em concordância com Mercer (2013) e Whitebread (2013), neste estudo não apenas compreendemos que a metacognição se refere
à habilidade do indivíduo de pensar sobre seus próprios pensamentos, como ainda que diferentes formas de uso da linguagem podem ter
diferentes influências no desenvolvimento cognitivo e metacognitivo desse indivíduo. É nesse sentido que surge o interesse em entender
as relações entre uma forma específica de organização linguística, a argumentação, e o desenvolvimento metacognitivo.
A compreensão da argumentação em sala de aula como uma maneira de ampliar a complexidade do conhecimento, as possibilidades
de revisão crítica deste e, assim, a qualidade do raciocínio envolvido pode ser encontrada na literatura de autores como Rapanta, Garcia-
-Mila e Gilabert (2013) e Kuhn (1991, 2005). Esses autores defendem que tais possibilidades de pensamento de alta ordem – basicamente
definido como controle metacognitivo e propiciado pela argumentação – resultam em ganhos educacionais. Para eles, a argumentação
parece propiciar oportunidades aos estudantes de refinarem suas compreensões sobre determinado assunto, possibilitando-os separar
aquilo que é relevante do que é irrelevante, fazer conexões entre contextos e ampliar o poder explicativo de seus conhecimentos.
Mais especificamente, no presente estudo, defendemos que é a própria organização discursiva da argumentação que lhe confere um
caráter inerentemente metacognitivo (DE CHIARO, 2006; LEITÃO, 2007, 2008). Composta de argumento (ponto de vista + justificativa),
contra-argumento e resposta, a argumentação se caracteriza pela construção, justificação, negociação e, ainda, pela possível modificação
de pontos de vista. A partir desses movimentos, os envolvidos na situação de argumentação são levados a um deslocamento de foco de
atenção do assunto em questão para as bases e os limites daquilo que se pensa sobre o tema. Esse deslocamento, em termos de funcio-
namento psicológico, corresponde ao deslocamento de um funcionamento cognitivo para um funcionamento metacognitivo. Defende-se
ainda que esse deslocamento do pensamento a um metapensamento pode acontecer a partir de três diferentes movimentos metacog-
nitivos: mantenedor, elaborador ou reconstrutor do pensamento (DE CHIARO, 2006). Mantenedor, quando o aluno reflete sobre suas
próprias posições, e decide mantê-las como estão; elaborador, quando o movimento de pensar sobre seus próprios pensamentos leva ao
estabelecimento de novas relações e conexões com a posição inicial, ampliando-a, e reconstrutor, na medida em que essa autorreflexão
se caracteriza pela dúvida sobre os próprios posicionamentos e busca de novas possibilidades.
Na interseção das duas temáticas em foco, argumentação e metacognição, propõe-se, portanto, que, diante de um pedido de justifi-
cativas de um posicionamento ou na eminência de uma resposta a um contra-argumento – movimentos característicos da ocorrência de
dilemas e de oposições numa situação de argumentação em sala de aula –, o aluno é levado a um funcionamento metacognitivo que pode
se caracterizar: (1) pela manutenção de sua posição inicial; (٢) pelo estabelecimento de novas conexões, de novas ideias e de relações
com sua posição inicial, ao elaborá-la; ou ainda (3) pelo redirecionamento para novas alternativas, ao reconstruí-la quando sua posição
inicial se torna incerta. A partir de uma prática pedagógica previamente estruturada que envolveu argumentação em sala de aula, essas
diferentes possibilidades de pensamento foram investigadas como indícios da ocorrência de um funcionamento ao nível metacognitivo
nos alunos investigados.

Procedimentos metodológicos
Realizada em uma sala de aula de química do terceiro ano do ensino médio do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Per-
nambuco (CAp/UFPE)1, esta pesquisa aconteceu durante a unidade relativa ao tema “Radioatividade”. Essa temática foi escolhida não so-
mente levando-se em consideração o calendário da pesquisa, mas especialmente por ser uma questão bastante controversa e considerada
pela professora de química como um tema que favorece ricos debates se trabalhado no âmbito de discussões sociocientíficas.
A atividade, planejada antecipadamente, alternava uma produção escrita individual de tema “Radioatividade: vida ou morte?” e de-
bates em grupo sobre essa questão. A primeira resposta a essa pergunta inaugurou as aulas sobre a temática, sendo, portanto, realizada
antes de qualquer conteúdo sobre esse tema ter sido trabalhado em sala de aula. Ao todo foram quatro escritas intercaladas com três
debates. Cada um dos debates aconteceu em um momento diferente do trabalho sobre a temática, tendo o primeiro ocorrido logo após
a primeira escrita. Em seguida, realizou-se a primeira discussão em grupo sobre a temática, à qual se seguiu uma nova resposta escrita.
O segundo debate foi realizado na aula posterior, depois de os alunos serem instruídos a lerem o livro-texto e a buscarem outras fontes
sobre o tema “Radioatividade” em casa. Também a esse debate seguiu-se nova resposta escrita. O terceiro debate aconteceu depois de
um mês de aula e teve uma estrutura prévia combinada com os alunos: a composição de três grupos, sendo um proponente de um projeto
envolvendo radioatividade; outro composto por um “júri popular”; e o outro composto pelo “governo”. Esses dois últimos tinham a função
de avaliar e julgar a pertinência da proposta do primeiro. A última resposta escrita foi realizada após essa atividade.

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Um resumo desse procedimento metodológico pode ser visto no quadro abaixo:

Fonte: protocolo da pesquisa.

Por meio dessa atividade, tencionou-se tanto fazer emergir a argumentação entre os alunos como ter um registro escrito sobre o
processo de pensamento dos mesmos no decorrer dos debates e em função deles. Para agregar mais informações no sentido de poder
relacionar, de fato, os movimentos de construção dos alunos com as situações de argumentação vivenciadas pelos mesmos, ao responder
às três últimas versões da pergunta, isto é, aquelas escritas pós-debate, os alunos também eram convidados a escrever, no verso da folha,
como acreditavam ter chegado àquela opinião naquele momento.
Três alunos escolhidos aleatoriamente tiveram seu material analisado. Formas de regulações discursivas apontadas na literatura (CA-
RON, 1983; CHABROL, 1994; CHABROL; OLRY-LOUIS, 2007; CHABROL; RADU, 2008) que são mobilizadas a partir de modalizações e de
interrupções no discurso serviram de apoio para esta análise, uma vez que a mesma se realiza em um estudo que assume essa perspectiva
de constitutividade entre linguagem e cognição (VYGOTSKY, 1993). Isto é, se a linguagem constitui a cognição, é preciso atentar, então, para
os recursos linguísticos que sinalizam como o enunciador comenta o próprio discurso – modalizações – e como aparentemente o controla
a partir das diferentes formas com que o interrompe. Este nos parece constituir um caminho promissor para se compreender essa relação
entre linguagem e cognição.
As diferentes formas de interrupção discursiva pontuadas na literatura acima foram relacionadas com os movimentos metacognitivos
em estudos anteriores (DE CHIARO, 2006; DE CHIARO; AQUINO, 2013), a saber: (1) interrupções do tipo simples – que acontecem a partir
de pausas, hesitações e/ou silêncios que são seguidos da repetição do mesmo conteúdo textual – foram relacionadas com o movimento
metacognitivo mantenedor; (2) interrupções com adições, mas sem ruptura, – cuja mudança discursiva envolve um aprofundamento do
conteúdo que está sendo construído pela inclusão de novas proposições ao mesmo – mostraram semelhanças com o movimento elabora-
dor; e (3) interrupções com ruptura e autocorreção – que caracterizam mudança no curso discursivo – pareceram implicar um movimento
do tipo reconstrutor.
Assim, partindo dos estudos supracitados – e ainda nos apoiando nos operadores argumentativos presentes (KOCH, 2000; KOCH;
MORATO; BENTES, 2005) – empreendemos a análise dos textos selecionados. Ao se refletir sobre a possibilidade de desenvolvimento
metacognitivo a partir das situações de argumentação pesquisadas, resultados muito interessantes ao objetivo deste estudo foram en-
contrados nos escritos dos três alunos analisados. Para ilustrar as conclusões a que essas discussões apontam, recortes da análise dos três
alunos serão mostrados a seguir.

Análise e discussão
De forma geral, a análise dos três alunos aponta para um intenso movimento metacognitivo na construção de seus posicionamentos
ao longo de toda a atividade. Movimentos dos três tipos – mantenedor, elaborador e reconstrutor – foram encontrados em seus textos es-
critos analisados, assim como nos depoimentos sobre como estavam chegando aos seus posicionamentos naquele momento. A referência
aos debates como importante impulsionador de suas reflexões foi uma constante.

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Cientes do prejuízo, em termos da riqueza da análise realizada, em relação à impossibilidade de retratar neste texto todas as três
análises dos quatro registros escritos de cada aluno na íntegra, optou-se por selecionar um recorte de cada aluno para se elucidar a pre-
sença dos três movimentos na construção discursiva destes. Assim, em cada um dos movimentos que se quer demonstrar, está abaixo
identificado não só o aluno (por um nome fictício), mas ainda em que ponto da análise do curso de suas construções foi feito o recorte
que caracteriza a presença do movimento em foco. Após a identificação do ponto do recorte, segue-se uma transcrição literal dos textos
selecionados2 e a análise propriamente dita.

Monitoramento mantenedor – Aluna Suzana


Recorte: análise dos Registros 3 e 4

Quadro 2
– Reprodução do Registro 3, correspondente à resposta de Suzana para a questão “Radioatividade: vida ou morte? Qual sua opinião
sobre o tema neste momento e como chegou a ela?”

Fonte: protocolo da pesquisa.

Quadro 3
– Reprodução do Registro 4, correspondente à resposta de Suzana para a questão “Radioatividade: vida ou morte? Qual sua opinião
sobre o tema neste momento e como chegou a ela?”

Fonte: protocolo da pesquisa.

A escolha desses dois recortes da aluna Suzana para elucidar a presença de um movimento do tipo mantenedor se deveu não apenas
ao fato de encontramos nesses dois registros o mesmo ponto de vista, mas principalmente pelas circunstâncias em que essa manutenção
acontece. É que esse ponto de vista se manteve mesmo levando-se em consideração que, entre os registros três e quatro, transcorreu-se,
além de um mês de aula e reflexões sobre a temática, a construção de um trabalho sobre radioatividade que exigia não simplesmente
uma reprodução dos conteúdos sobre o tema, mas – independentemente do grupo em que os alunos estivessem inseridos – a construção
de posicionamentos críticos. O desenvolvimento dessa competência, desse modo, propiciou, no dia da apresentação do trabalho, uma
discussão sociocientífica entre esses grupos sobre a implantação de um projeto que envolvesse a utilização da radioatividade. A título de
curiosidade, a proposta em questão foi a Implantação de Irradiador de Alimentos no Vale do São Francisco Pernambucano, projeto fictício
construído pelos alunos que traz subjacente uma questão sociocientífica de extrema importância e atualidade.
O que se quer dizer com as observações acima é que essas circunstâncias explicitadas nos ajudam a defender que a permanência do
mesmo discurso não parece ter acontecido por falta de elementos, por desinteresse ou por descompromisso pelo assunto. Ao contrário,
essas circunstâncias nos dão indícios de que essa manutenção reflete um permanecer resultante de uma reflexão sobre outras possibilida-
des levantadas tanto nas aulas como na construção dos argumentos para o trabalho. Essas outras possibilidades puderam ser constatadas
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tanto nos debates como na escrita dos demais alunos e nas defesas dos grupos na atividade final descrita. Além disso, as duas respostas
da própria aluna ao modo como ela chegou a essa opinião corroboram essa observação, já que, em ambas, ela mesma confirma que seu
ponto de vista advém não só das aulas, mas dos debates, das discussões e da elaboração do projeto.
As marcas discursivas também nos ajudam a defender essa constatação. No Registro 3, Suzana traz seu ponto de vista ao enunciar
que “a radioatividade enquanto elemento da natureza pode ser considerada vida”. Apesar de não utilizar nenhum marcador explícito de
tomada de posição do tipo “eu acho que”, é possível, mediante a forma afirmativa que constrói esse enunciado, perceber que o mesmo
sustenta uma posição de forma clara. Interessante, no entanto, comentar que sua tomada de posição sobre um dos lados da questão,
“vida”, traz uma condição explícita: “enquanto elemento da natureza”. O marcador discursivo “enquanto” aparece aqui como um tipo de
operador argumentativo descrito por Koch (2000) como um conector circunstancial, posicionado anteposto a um enunciado que explicita
uma condição; significa dizer, então: radioatividade é vida desde que considerada como elemento da natureza. O outro posicionamento
que dá continuidade a este primeiro é construído da mesma forma, considerando-se agora a outra circunstância refletida pela aluna:
radioatividade manipulada pelo homem. Nesse caso, o “quando” utilizado pela aluna também denota essa mesma função circunstancial:
“quando manipulada pelo ser humano pode acarretar graves consequências”. Aqui, entre um posicionamento e outro, podemos conside-
rar de forma implícita a presença de um operador argumentativo que tem a função de contrapor argumentos orientados para conclusões
contrárias, como o “mas”; vejamos: “enquanto elemento da natureza a radioatividade pode ser considerada vida, mas quando manipulada
pelo homem pode acarretar graves consequências”. Para concluir seu argumento, Suzana, utilizando novamente um conector que traz a
ideia de circunstancialidade/pressuposição, o “se”, justifica seu ponto de vista: “se não forem tomados os devidos cuidados”.
No Registro 4, a aluna mais uma vez traz essas duas condições de conceber a radioatividade como elemento natural e manipulado
pelo homem e, da mesma forma, atrela a cada uma, respectivamente, a ideia de vida e de possível morte. Inclusive a justificativa para essa
última aparece da mesma forma: sob a condição da forma como a radioatividade é utilizada (ela usa “sem os devidos cuidados” no terceiro
texto e “uso indiscriminado” no quarto). Do ponto de vista do conteúdo, portanto, podemos dizer que seu posicionamento se mantém
entre os dois registros, mas, mais do que isso, o que se quer mostrar aqui é que essa manutenção acontece de forma reflexiva, ou seja, a
partir de um movimento metacognitivo mantenedor.
Para justificarmos essa constatação, recorremos a alguns elementos discursivos que nos chamam atenção. Com o intuito de retomar
seu posicionamento, Suzana desta vez se utiliza de uma marca linguística, o “sem dúvida”, que, segundo Chabrol (1994), reflete a expressão
da opinião do enunciador em relação a algo que já foi dito antes; nesse caso, seu próprio posicionamento no Registro 3. Comentar o pró-
prio discurso é uma marca de modalização característica de movimentos autorreflexivos. Outras operações discursivas reflexivas presentes
nesse Registro 4 nos dão indícios desse movimento metacognitivo, como os seguintes recursos metadiscursivos: retomadas e repetições
(mesmo ponto de vista), além de exemplificações (“já que convivemos com ela no nosso dia a dia sem nenhum problema”).
Ainda, a marca discursiva “sem dúvida” também nos ajuda a perceber que tipo de movimento está em curso. A interrupção provisória
entre os dois registros seguida de uma retomada que imprime, a partir dessa marca, um grau de confiabilidade/validade maior ao que já
foi dito anteriormente sugere não somente uma tentativa do enunciador de confirmar o que disse e um controle enunciativo subjacente
ao seu discurso, mas denota ainda a presença de movimentos típicos de uma interrupção simples, os quais, por sua vez, se caracterizam
como um movimento do tipo mantenedor.

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Monitoramento elaborador – Aluno Edson


Recorte: análise do Registro 3

Quadro 4
– Reprodução do Registro 3, correspondente à resposta de Edson para a questão “Radioatividade: vida ou morte? Qual sua opinião
sobre o tema neste momento e como chegou a ela?”

Fonte: protocolo da pesquisa.

Movimentos autorreflexivos que caracterizam um acompanhamento sobre a própria atividade discursiva e um desenvolvimento do
próprio pensamento – relacionados a um tema em questão – podem ser observados em um mesmo discurso de um único interlocutor
presente, como podemos notar nesse recorte de Edson. Isso porque, com base na concepção de linguagem e de argumentação adotadas
neste estudo, não é necessária a presença de mais de uma pessoa para que um debate aconteça. Debates entre diferentes lados de uma
mesma situação, diferentes posturas, concepções, opiniões, são constantemente travados por nós, sempre que precisamos tomar uma
decisão ou compreender algo mais precisamente. Isto dá o caráter dialógico à argumentação.
Edson, nesse registro, confirma um posicionamento já assumido desde o Registro 1, embora naquele momento ainda pouco funda-
mentado. Assim, mais do que mostrar que ele permanece com a mesma posição, nesse Registro 3 fica clara a tentativa de Edson de fun-
damentar seu posicionamento. Na verdade, ele mesmo explicita isso quando diz “Tenho uma opinião muito parecida com a de antes do
estudo e do debate, só que mais fundamentada”. Apesar de ele nos presentear com essa fala, é também nas marcas discursivas mais sutis
que apoiamos nossa análise e defendemos que, nesse recorte, podemos encontrar um metapensamento do tipo elaborador em curso.
Esse pode ser observado nas modalizações que aparecem em seu discurso, por meio das expressões “em sua maioria”, “incessante-
mente” (quantificador de intensidade, CHABROL, 1994), “deve conhecer” (dever + verbo no infinitivo como indicador modal, KOCH, 2000)
e “com certeza” (indicador modal, KOCH, 2000). Essas marcas já indicam, portanto, a presença de um funcionamento metacognitivo, uma
vez que mostram que o enunciador pensa não só no que dizer, mas em como dizer. Contudo, apontamos antes que, além das modaliza-
ções, o que caracteriza discursivamente um movimento metacognitivo do tipo elaborador é a presença de interrupções com adições, mas
sem ruptura de construção. Essas se caracterizam por dois caminhos possíveis: (1) a inclusão/inserção de uma ou mais proposições dentro
daquela que está sendo construída, sem ruptura da mesma, geralmente adicionando-se justificativas; e (2) antecipação de contra-argu-
mentos, o que permite que o enunciador se defenda do avanço de objeções e críticas que podem ser direcionadas a ele. Nesse último caso,
tudo se passa como se dois enunciadores diferentes colaborassem: o primeiro produzindo um discurso, e o segundo julgando os riscos
presentes nesse discurso e intervindo a partir de um metadiscurso de defesa para proteger o primeiro.
Além da ocorrência do primeiro caminho – observado no discurso de Edson em vários momentos quando, por exemplo, aponta sua
maior fundamentação (já citada acima), quando diz “hoje sei que as aplicações da radioatividade para nosso cotidiano são muitas” e quan-
do insere a justificativa “Raios X, por exemplo” –, chamamos atenção para a ocorrência do segundo caminho, justamente pelo fato de o
mesmo não acontecer de forma tão explícita.
Pode ser observado, justamente depois de Edson afirmar que sua opinião está mais fundamentada, que ele interrompe seu fio dis-
cursivo em defesa da vida ou da prevalência do bem, conforme diz no primeiro parágrafo, para retificar a opinião subjacente ao seu dis-
curso. Entretanto, é importante notar que Edson não faz essa interrupção no sentido de mudar de direção, mas sim de corrigi-la por uma
formulação mais adequada que inclua já a resposta a possíveis objeções vindas de um posicionamento contrário. Assim, antes que um
interlocutor o interpele defendendo o lado “morte” da radioatividade, a partir do discurso produzido na mídia, Edson já inclui essa possí-
vel contra-argumentação no seu texto, adicionando um discurso em defesa da “vida”. Esse movimento é chamado por Chabrol (1994) de
regulação egocêntrica antecipada e é definido como um mecanismo regulatório sócio-cognitivo-linguístico que permite ao sujeito enun-

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ciador antecipar a evolução do sujeito interpretador entrando na posição deste e tentando inferir como ele reagirá à sua proposta, com
certa plausibilidade. O movimento realizado discursivamente por Edson, a partir de interrupções com adição e sem ruptura, nos ajuda a
perceber um movimento metacognitivo elaborador em curso.
Na construção organizada por Edson no segundo parágrafo, pode-se observar a concepção intuitiva que ele tinha antes de estudar
o assunto e que foi confirmada pelo debate (“o debate veio a confirmar minha tese”). Ou seja, o debate lhe deu subsídios para ele argu-
mentar o quanto no discurso da mídia prevalecem os possíveis aspectos maléficos da radioatividade, sendo concedido pouco espaço aos
benefícios – que, para ele, são muitos e dos quais acabamos não nos dando conta (“a maioria da população deve conhecer uma ou duas
aplicações para o bem, como o Raio X, por exemplo, e com certeza sabe do que aconteceu em Fukushima e Hiroshima”). Vemos, ainda,
na sua resposta ao “como”, que o debate confirmou sua tese, o que nos indica a relação dos movimentos de reflexividade do pensamento
com a situação de argumentação oportunizada pela atividade.

Monitoramento reconstrutor – Aluna Ana


Recorte: análise do Registro 1 para o 2

Quadro 5
– Reprodução do Registro 1, correspondente à primeira resposta de Ana para a questão “Radioatividade: vida ou morte?”

Fonte: protocolo da pesquisa.

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Quadro 6
– Reprodução do Registro 2, correspondente à resposta de Ana para a questão “Radioatividade: vida ou morte? Qual sua opinião sobre
o tema neste momento e como chegou a ela?”

Fonte: protocolo da pesquisa.

Inicialmente, no Registro 1, podemos perceber que, na própria construção do posicionamento inicial, existe um diálogo argumenta-
tivo acontecendo. Não são duas pessoas dialogando, mas sim duas posições dialogando. Isso porque Ana opta por iniciar a construção de
seu argumento pela separação dos dois posicionamentos possíveis a partir da pergunta-título, como ela mesma define: “precisamos por
em pauta os benefícios e os malefícios”. Iniciando pelos benefícios, ela elenca três deles e, depois, utilizando um operador que contrapõe
argumentos orientados para conclusões contrárias, o “porém” (KOCH, 2000), ela elenca dois malefícios do uso da radioatividade.
Ao final, no último parágrafo do primeiro registro, Ana estabiliza sua construção, marcando a formação de um argumento, ao iniciá-lo
a partir do marcador argumentativo de tomada de posição “acho que”. Posicionar-se depois de elencar os benefícios e malefícios denota
que, nos parágrafos anteriores, a aluna não apenas os cita de forma descomprometida, mas o faz de forma avaliativa. O que ela chamou
inicialmente de “por em pauta” se constituiu em um movimento de reflexão sobre o tema, propiciando um posicionamento inicial. O uso,
no último parágrafo, do “mais... do que” e do “maior do que” – operadores argumentativos que estabelecem relações de comparação com
vistas a uma dada conclusão (KOCH, 2000) – pode ajudar a justificar essa tomada de posição. A presença do operador argumentativo “pois”
nos mostra que existe aí, nesse momento de estabilidade final, não simplesmente um ponto de vista, mas já um argumento, uma vez que
o enunciado se apresenta composto de ponto de vista (“radioatividade é mais morte do que vida”, “o prejuízo é maior que o benefício”) e
de justificativa (“pois os perigos causados por ela não podem ser evitados facilmente”).
Nesse movimento reflexivo, o lado negativo (ou, como ela diz em sua construção, “a outra face da situação”) parece ter transpassado
o lado positivo, não apenas rompendo com a construção do discurso de benefícios, mas tornando-o insustentável. Ao confrontar os dois
lados, o positivo pareceu não poder ser equilibrado com o negativo, já que esse último se apresenta mais forte que o primeiro, desestabi-
lizando-o. Uma das possibilidades de compreensão para o fato de esse lado negativo ter pesado mais ao final pode se referir à presença
dos casos reais de Hiroshima e Nagasaki. O fato de esses dados de evidencialidade terem sido incorporados pode ter tornado esse lado
da questão mais válido.
No entanto, esse momento de estabilidade parece não se manter no segundo registro de Ana, já que ela inicia o mesmo deixando cla-
ro seu momento de dúvida em relação ao seu posicionamento: se diz confusa e também pontua que seu estado é proveniente do debate
realizado antes de sua escrita. Tanto no texto como no relato posterior sobre como chegou à sua opinião naquele momento, Ana declara a
presença das outras vozes sendo levadas em consideração na construção da sua posição quando diz: “ouvi muitas coisas diferentes, muitas
observações válidas” (no texto em que responde à pergunta proposta) ou “ouvi várias opiniões e as confrontei entre si e também com a
minha opinião anterior” (na resposta ao como ela chegou à opinião descrita). É muito relevante comentar a clareza com que ela nos per-
mite perceber o movimento reflexivo que realiza mentalmente, simulando, como ela mesmo diz, estar, a cada momento, em um lado, em
uma posição diferente, e assumindo diferentes papéis/posicionamentos de forma a permitir que o diálogo interno aconteça (“[...] às vezes
inverto um argumento, olhando-o sobre outro ponto de vista”). Assim, Ana constrói mentalmente o ambiente necessário à emergência
de uma situação de argumentação dialógica. Além disso, do ponto de vista da análise do seu funcionamento metacognitivo, percebemos
o forte valor modal desses seus enunciados, sobretudo quando Ana aponta para sua própria atividade de fala (“inverti o argumento ago-
ra”). Nessa forma de construção, o falante pensa não só o que dizer, mas como dizer, isto é, o enunciador comenta sua própria atividade
discursiva, o que constitui uma atividade essencialmente reflexiva.
É válido lembrar que, antes do debate, Ana havia estabilizado sua posição (“Acho que radioatividade é mais morte do que vida, pois os
perigos causados por ela não podem ser evitados facilmente, de forma que o prejuízo é maior do que o benefício”). Assim, é interessante
perceber que a sua presença nas discussões em sala de aula fez Ana desestabilizar seu posicionamento. Um detalhe bastante importante
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de seu segundo texto se refere ao fato de ela ter dito que ouviu Considerações finais
muitas observações diferentes e válidas que a deixaram confusa. A possibilidade de participar da formação de alunos que, para
No entanto, quando se espera que ela traga posições contrárias à além de depositários de um conhecimento formal e etéreo, consti-
sua posição anterior que justifiquem a confusão que agora a invade, tuam-se indivíduos em eterna construção a partir de uma postura
ela traz mais justificativas voltadas à sua primeira posição, isto é, aberta, crítica, reflexiva, comprometida e ética em relação ao co-
voltadas para os malefícios da radioatividade: “o problema da ra- nhecimento tem sido o desejo de muitos educadores da atualidade.
dioatividade é muito grave e, ao mesmo tempo, necessário”; “não Alunos que compreendam a intrínseca relação entre a constituição
sabemos exatamente os resultados das aplicações que a radioati- do conhecimento e da sociedade, bem como sua própria constitui-
vidade tem em nossas vidas”; “os problemas causados pela radio- ção enquanto indivíduos. Entendemos que, mais do que desejar
atividade no campo físico-químico interferem bastante no âmbito fazer parte, os educadores também se encontram implicados na
político e social, pois a possibilidade de haver (supostamente) uma construção de uma educação dessa natureza.
guerra nuclear causa, paradoxalmente, outras guerras”. O movimento CTS, propondo um ensino que promova a inte-
A aluna constrói ainda um argumento a partir de um ponto de ração do aluno com o conhecimento científico articulado às suas
vista que se inicia por um indicador modal (“precisamos”), o que dimensões sociais, tem trazido interessantes contribuições no que
sinaliza a importância daquilo que será dito (KOCH, 2000): “precisa- se refere à importância de os educadores pensarem em práticas
mos encontrar meios de conter os danos causados por tal fenôme- pedagógicas que oportunizem o desenvolvimento da reflexão e da
no antes de fazer uso tão intenso dele”. Após esse ponto de vista, criticidade. Trabalhar um tema como Radioatividade de forma des-
Ana traz o operador argumentativo “afinal” – que, segundo Koch contextualizada, focando-se na memorização de conceitos, seria
(2000), funciona como introdutor de uma justificativa relativa a um considerar o conhecimento a partir de uma neutralidade científica
enunciado anterior – para apresentar sua fundamentação: “afinal, absoluta, e o homem de forma completamente dissociada de seu
não sabemos exatamente os resultados das aplicações que a radio- ambiente, de seu contexto social e histórico.
atividade tem em nossas vidas”. Como apontamos acima, toda essa Foi partindo de questões como essas que este estudo se
construção não a ajuda a justificar sua confusão atual, uma vez que propôs a analisar a argumentação em sala de aula como possível
claramente a mesma está, até aqui, a serviço de seu argumento ini- prática pedagógica que seja capaz de possibilitar a construção de
cial. conhecimentos de forma contextualizada e o desenvolvimento me-
Acompanhando a construção do seu discurso, no entanto, en- tacognitivo dos alunos.
contramos uma conclusão paradoxal. Isso porque, quando o leitor Em confluência com trabalhos anteriores (DE CHIARO, 2006;
imagina que ela concluirá mantendo sua posição – agora com um LEITÃO, 2007, 2008; DE CHIARO; AQUINO, 2013), o presente es-
suporte maior dado pelos argumentos incorporados –, Ana inter- tudo corrobora a tese de que esse tipo específico de discurso, a
rompe o fluxo de suas reflexões como se as mesmas tivessem sido argumentação, por sua organização discursiva peculiar, pode, de
transpassadas em sua rota por uma nova possibilidade de constru- fato, se constituir em uma interessante alternativa para fazer emer-
ção (CHABROL, 1994). Dessa forma, ela enuncia: “Enfim, minha opi- gir formas de pensamento sofisticadas, como as que definem um
nião é que a radioatividade pode significar mais vida do que mor- pensamento crítico e reflexivo. Ao serem interpelados a tomarem
te”. Aqui percebemos um movimento do tipo reconstrutor, já que uma posição frente à questão sociocientífica levantada, os alunos
há uma interrupção com ruptura de construção e de autocorreção pesquisados mostraram um funcionamento autorreflexivo que ca-
(CHABROL, 1994), que fez parecer o antecedente inadequado ou racteriza um nível metacognitivo de pensamento. Além de a análise
insatisfatório, exigindo, no enunciado consequente, uma mudança. dos dados ter demonstrado a presença de movimentos autorrefle-
Poder-se-ia pensar que toda construção desse registro seria sem xivos nos alunos, permitiu-nos também observá-los acontecendo
sentido, caso o enunciado de Ana parasse por aí; no entanto, quan- em suas três formas: mantenedora, elaboradora e reconstrutora.
do continuamos a leitura, encontramos um operador argumentati- Defende-se, pois, que, se um funcionamento metacognitivo opor-
vo, o “porém”, que vem para contrapor o argumento que está sen- tunizado pela utilização da argumentação na sala de aula se cons-
do orientado para a conclusão contrária, no intuito de flexibilizá-lo tituiu em um caminho fértil para a construção de conhecimentos e
(KOCH, 2000). Isto é, quando Ana complementa seu enunciado com de indivíduos críticos, reflexivos e implicados com a construção do
“porém, apenas se for utilizada e estudada com bom senso”, ela real, então atividades de caráter argumentativo, enquanto prática
dá sentido para toda sua construção de apoio ao lado maléfico da pedagógica, podem e devem fazer parte do planejamento de aulas
radioatividade. dos professores. Entendemos, por fim, que uma conclusão como
Assim, embora em seu discurso não esteja explícito o que de- essa deve ser levada em consideração quando se pensa sobre for-
sestabilizou sua posição inicial, nos interessa observar que, no de- mação de professores.
correr da situação de argumentação real e/ou de suas simulações
mentais de discussões a respeito do tema, a posição contrária (ra-
dioatividade como vida) passou a ser considerada a ponto de retifi-
car o curso do seu posicionamento. Observamos nesse ponto uma
regulação retroativa de sua construção discursiva, ou, como chama
Chabrol (1994), uma regulação egocêntrica retroativa, proveniente
da reflexão interna e da demanda de reconstrução.

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lhos publicados em revistas nacionais e internacionais, que revelam


DAS C. DE A. RIBEIRO, D. ET AL. SUSTENTABILIDADE E EDU- evidências científicas e correlação direta entre uso de agrotóxicos
CAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE QUÍMICA: CONTRIBUI- e problemas ambientais e, consequentemente, os problemas de
ÇÕES PARA A TOMADA DE CONSCIÊNCIA SOBRE AGRICUL- saúde. Quando nos referimos ao ambiente, abarcamos, ao mesmo
TURA SUSTENTÁVEL. QUÍMICA NOVA NA ESCOLA, V. 44, tempo, o ser humano como parte integrante do meio ambiente,
N. 2, 2022. uma vez que compreendemos que os danos à saúde humana, cau-
sados pelos agrotóxicos, são também problemas socioambientais
(Boff, 2012; Fernandes e Stuani, 2015).
Este artigo visa analisar o processo de tomada de consciência Desmitificando a ideia de que o uso dos agrotóxicos é um mal
dos estudantes a respeito dos problemas socioambientais relacio- indispensável para a humanidade, Carneiro et al. (2015) afirmam
nados aos agrotóxicos e das possibilidades da agricultura sustentá- que, para assegurar o abastecimento de toda a população mundial,
vel, a partir da vivência da metodologia da Resolução de Problemas. não é necessária a produção de alimentos com agrotóxicos. Estudos
A pesquisa foi desenvolvida com 109 estudantes de diferentes ní- realizados por pesquisadores da Universidade de Michigan (EUA)
veis de ensino da Educação Básica, de três escolas públicas esta- demonstraram que os sistemas orgânicos de produção sistematica-
duais de Porto Alegre/RS. Os dados foram produzidos através de mente alcançam rendimentos físicos iguais ou superiores aos dos
registros no Diário de Campo, questionários e de produções escritas sistemas que utilizam agrotóxicos no setor agrícola (Carneiro et al.,
dos educandos, para posterior análise qualitativa e interpretativa. 2015).
Com o conjunto de dados analisados identificamos que no Ensino Os efeitos de agrotóxicos sobre organismos não alvos em ecos-
Fundamental os estudantes passaram a ter maior clareza sobre o sistemas terrestres é um problema ambiental que agrava ainda
conceito de agrotóxicos e possibilidades de plantios alternativos. mais o crescente uso indiscriminado dessas substâncias químicas
Aspectos como a classificação dos tipos de agrotóxicos, policultu- (Zowada et al., 2020). Os agrotóxicos, além de matarem as pragas
ra e agricultura orgânica foram destaque nas resoluções do Ensino nas lavouras, também têm potencial de influenciar a interação pre-
Médio. No Técnico em Química verificamos o aprofundamento con- dador-presa (Hanlon e Relyea, 2013), causando desequilíbrio am-
ceitual e criticidade quanto às relações dos fatores econômicos e biental. O fato é que muitas pulverizações, por vezes com dosagens
políticos imbricados nas questões ambientais. acima das recomendadas, ou desnecessárias, são realizadas em
Pautado na perspectiva da Educação Ambiental (EA) Crítica muitas das práticas agrícolas, e o efeito do uso dos agrotóxicos no
(Tozoni-Reis, 2007, 2008; Costa et al., 2017) e nos princípios do de- ecossistema se torna maior, influenciando diretamente na deses-
senvolvimento da democracia social e participativa (Boff, 2012; Leff, truturação da biodiversidade (Ribeiro et al., 2018).
2015), o presente artigo tem como tema a tomada de consciência Logo, não teremos sustentabilidade sem a eliminação ou redu-
dos estudantes sobre os problemas socioambientais relaciona- ção dessas substâncias químicas. A agricultura sustentável, cada vez
dos aos agrotóxicos e as possibilidades da agricultura sustentável. mais, ganha espaço na atualidade devido às graves consequências
Acreditamos que essa temática é de fundamental importância no dos agrotóxicos ao meio ambiente e à saúde humana.
contexto escolar, para ser trabalhada ao longo da Educação Básica Segundo Ghini e Bettiol (2000), o conceito de agricultura sus-
(EB) de forma contextualizada e articulada aos conhecimentos cien- tentável envolve “o manejo adequado dos recursos naturais, evitan-
tíficos da Química. Uma alternativa para tal propósito pode ser a do a degradação do ambiente de forma a permitir a satisfação das
metodologia da Resolução de Problemas (RP) (Martínez e Martínez necessidades humanas das gerações atuais e futuras (p.62)”. Para
Aznar, 2014; Pozo, 2016). A ampliação do agronegócio tem su- os autores, esse aspecto modifica as características dos sistemas
perado recordes de produtividade a cada safra de grãos, frutas e convencionais de agricultura no que diz respeito à utilização de fon-
hortaliças em todo o território nacional, principalmente nos esta- tes não renováveis, principalmente de energia, e altera a visão acer-
dos onde o setor agrícola pode crescer ainda mais em reservas de ca dos níveis adequados do balanço entre a produção de alimentos
terras ainda não exploradas, como no caso da Bahia, Piauí, Tocan- e os impactos no ambiente. As mudanças envolvem a diminuição da
tins e Maranhão (Belchior et al., 2014). dependência de produtos químicos e outros insumos energéticos e
O fato é que o crescimento da agricultura no formato de mono- a maior utilização de processos biológicos nos sistemas agrícolas.
culturas tem prejudicado a biodiversidade do planeta, a exemplo da Nesse contexto, existem vários métodos alternativos para que
redução na disponibilidade e qualidade da água, do comprometi- tenhamos uma produção agrícola sustentável e, consequentemen-
mento da qualidade do ar e dos alimentos e dos crescentes proble- te, evitemos a degradação do ambiente devido à utilização e/ou ao
mas fitossanitários resultantes do desequilíbrio ecológico causado uso inadequado dos agrotóxicos (Ribeiro et al., 2018). Dessa ma-
pelo uso de agrotóxicos (Belchior et al., 2014; Boff, 2012; Pignati et neira, o objetivo deste artigo foi analisar o processo de tomada de
al., 2017; Santos e Glass, 2018). Esses problemas socioambientais consciência a respeito dos problemas socioambientais relacionados
poderão se agravar ainda mais se considerarmos alguns números aos agrotóxicos e das possibilidades da agricultura sustentável, por
alarmantes sobre agrotóxicos no Brasil, como os que seguem: em estudantes de diferentes etapas e modalidades da Educação Básica
torno de 58% dos alimentos estão contaminados por agrotóxicos; (EB), a partir da vivência da metodologia da RP no Ensino de Quí-
34.147 foi o número de notificações registrado de intoxicação hu- mica. Neste sentido, buscamos responder a seguinte questão de
mana por agrotóxicos entre os anos de 2007 a 2014; o aumento pesquisa: Quais as formas de contribuição da metodologia de RP
do uso de agrotóxicos entre 2000 e 2012 foi de 288%; o fatura- para construção de um saber ambiental no contexto escolar da EB?
mento da indústria de agrotóxicos no Brasil em 2014 foi em torno
de 12 bilhões de dólares. Esses dados foram publicados no dossiê Referencial Teórico
Associação Brasileira de Saúde Coletiva- ABRASCO (Carneiro et al., Resultante de um modo de produção majoritariamente capi-
2015). Essa obra reúne informações de centenas de livros e traba- talista em que o mundo se encontra, a degradação ambiental se
intensifica continuamente em nossa sociedade (Boff, 2012; Mar-
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ques, 2018). Dessa maneira, surge a necessidade de uma EA críti- Segundo Pozo (1998), os alunos assumem o papel de protago-
ca, garantindo propostas e projetos que assegurem rigor teórico e nistas nas atividades propostas quando utilizada a metodologia da
aprofundamento reflexivo sobre seus fundamentos e que realmen- RP, necessitando ter uma atitude ativa e um esforço para buscar
te possa tornar as pesquisas em EA relevantes para a comunidade suas próprias respostas, resolvendo problemas com situações aber-
(Costa et al., 2017). Essa necessidade de estudos ambientais, que tas e sugestivas. Assim sendo, eles poderão construir seus próprios
realmente propiciem um pensamento crítico e reflexivo nas pesso- conhecimentos. “O ensino baseado na solução de problemas pres-
as, torna-se ainda mais urgente no espaço escolar. supõe promover nos alunos o domínio de procedimentos, assim
A preocupação com questões ambientais e de sustentabilidade como a utilização dos conhecimentos disponíveis, para dar resposta
perpassa pela construção de um saber ambiental que, segundo Leff a situações variáveis e diferentes” (Pozo, 1998, p. 9).
(2015), está associada à constituição de um novo saber e à incorpo- Pesquisadores das didáticas das Ciências acreditam que a me-
ração interdisciplinar do conhecimento, com o intuito de explanar todologia da RP pode ser uma estratégia eficaz para ser trabalhada
o comportamento de sistemas socioambientais complexos. O saber no sistema educacional da EB (Martínez e Martínez Aznar, 2014;
ambiental problematiza o conhecimento fragmentado em discipli- Pozo, 2016). Alguns autores consideram que a metodologia da RP
nas, assim como a administração setorial do desenvolvimento, com possui um caráter importante na atividade científica e pode ser con-
o objetivo de compor uma área de conhecimentos teóricos e prá- siderada fundamental no ato de aprender a pensar (Vasconcelos et
ticos dirigida para a rearticulação das relações sociedade-natureza al, 2007, Fernandes e Campos, 2017). Nesse tipo de metodologia de
(Leff, 2015). ensino e aprendizagem, o professor age como mediador e orienta-
A EA crítica, transformadora e emancipatória, que defendemos dor do processo, necessitando planejar situações para que os alu-
nesta pesquisa, é a EA sendo considerada como um processo polí- nos consigam buscar estratégias adequadas para a sua resolução,
tico de apropriação crítica e reflexiva de conhecimentos, compor- bem como uma sequência didática e de trabalho planejada e orien-
tamentos, atitudes e valores, que tem como objetivo a construção tada para lograr êxito em todo o processo.
de uma sociedade sustentável do ponto de vista social e ambiental
(Tozoni-Reis, 2007, 2008). Uma EA crítica e reflexiva que possa favo- Percurso Metodológico
recer que os alunos desenvolvam uma visão holística da realidade Neste artigo será utilizada a abordagem qualitativa. Na inves-
e que possa torná-los atuantes e conscientes perante a sociedade e tigação qualitativa, “o objetivo principal do investigador é o de
os problemas ambientais. construir conhecimentos e não dar opinião sobre determinado
Assim sendo, acreditamos que a EA crítica nas escolas pode contexto” (Bogdan e Biklen, 1994, p. 67). Nesse sentido, uma das
contribuir para a difusão de ideias e informações acerca da prote- finalidades desta pesquisa é a capacidade de gerar teoria, descrição
ção do meio ambiente, conservação, assim como para a sustenta- ou compreensão, buscando-se compreender o processo mediante
bilidade Boff (2012, p. 107) conceitua sustentabilidade como sendo o qual os agentes envolvidos constroem significados sobre o tema
toda “ação destinada a manter as condições energéticas, físico-quí- a ser investigado (Bogdan e Biklen, 1994). O estudo descrito neste
micas que sustentam todos os seres, especialmente a Terra viva, a trabalho foi desenvolvido com 109 estudantes de diferentes níveis
comunidade de vida e a vida humana”, tendo em vista “sua con- e modalidades da EB, de três escolas públicas estaduais da cidade
tinuidade e ainda atender às necessidades da geração presente e de Porto Alegre/RS.
das futuras, de tal forma que o capital natural seja mantido e enri- Todos os participantes assinaram Termo de Consentimento Li-
quecido em sua capacidade de regeneração, reprodução e coevo- vre e Esclarecido. Os dados foram produzidos através de registros
lução”. Além disso, o autor explica que o termo sustentabilidade é no Diário de Campo (Porlán e Martín, 1998) dos pesquisadores,
um conceito complexo, holístico e integrativo de várias dimensões, questionários e das produções escritas dos educandos, para pos-
como a ambiental, social, econômica, espiritual, cultural entre ou- terior análise qualitativa e interpretativa (Bogdan e Biklen, 1994),
tras, que mesmo distintas possuem relações de interdependência. fundamentada nos princípios da Educação Ambiental Crítica.
Convergente com apontamentos de Boff (2012), Leff (2015) expli- Nesta investigação, tendo estudantes da EB como sujeitos da
ca que o termo sustentabilidade está relacionado diretamente ao pesquisa, analisamos quatro experiências da utilização da metodo-
pensamento de utilizar algo, sem que com isso seja esgotada sua logia da RP, contextualizando a temática agrotóxicos, seu conceito,
capacidade de ser consumido por outros seres humanos. O con- finalidade, consequências, características químicas e alternativas
ceito de sustentabilidade ambiental determina a maneira pela qual de substituição. Assim sendo, produzimos nove problemas, relacio-
nós, seres humanos, fazemos uso dos bens e recursos naturais, com nados com essa temática, para serem trabalhados com os alunos
o intuito de prover nossas necessidades, sem que com isso exista o do 9° Ano do Ensino Fundamental (EF), 3° Ano do Ensino Médio
esgotamento e haja abastecimento para as futuras gerações. Nesse (EM), totalidade 9 do Ensino Médio/EJA (EM/ EJA) e das 3 etapas
cenário, a sociedade precisa caminhar em direção à sustentabili- de um Curso Técnico em Química (TQ) ii. Todos os problemas, antes
dade de forma harmônica com as dimensões sociais e ambientais, de serem utilizados em aula, foram avaliados aos pares por pesqui-
trabalhando a prevenção e a preservação dos recursos naturais com sadores da área e analisados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
atitudes individuais e coletivas visando participação democrática e Universidade Federal do Rio Grande do Suliii. Além disso, cabe des-
respeito às autonomias culturais (Leff, 2015; Marques, 2018). Dian- tacar que todas as atividades foram realizadas de forma presencial.
te dos graves problemas socioambientais que a utilização dos agro- Todos os problemas foram construídos de acordo com a etapa
tóxicos pode ocasionar ao meio ambiente e, consequentemente, à em que estavam os participantes, utilizando linguagem adequada
saúde humana, e da complexidade dessa problemática ambiental ao nível dos educandos e contemplando as características de um
perante a sociedade, entendemos que essa temática necessita de problema eficaz (Ribeiro et al., 2020). No Quadro 1, são apresenta-
uma metodologia diferenciada para a sua contextualização dentro dos os tópicos abordados em cada problema e o público-alvo cor-
do espaço escolar, como por exemplo, a metodologia da RP (Goi e respondente. Os enunciados dos problemas são apresentados na
Santos, 2009; Ruppenthal e Schetinger, 2017). íntegra no Material Suplementar.
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Após a produção dos problemas sobre a temática ambiental agrotóxicos, houve o planejamento das intervenções pedagógicas, as
quais foram organizadas em seis momentos (Aznar et al., 2009) e distribuídas na seguinte sequência pedagógica:
I) Introdução dos alunos ao tema, por intermédio de trechos de vídeo(s) de motivação e da explanação feita pelos pesquisadores
sobre os impactos ambientais que os agrotóxicos podem causar, propiciando a discussão com os estudantes sobre os conteúdos e con-
textos presentes nos problemas a serem resolvidos; II) Organização das equipes de trabalho em grupos, seguida da leitura e análise dos
problemas; III) Discussão dentro dos grupos para elaboração das hipóteses de trabalho e leitura dos materiais disponíveis para consulta;
IV) Elaboração das apresentações com as resoluções; V) Plenária de apresentação das resoluções; VI) Debate coletivo. Ao total, realizamos
quatro intervenções pedagógicas com alunos de diferentes níveis e modalidades da EB: EF, EM, EM/EJA e TQ. Assim, os estudantes foram
identificados pelo código: Est + modalidade de ensino + número do aluno na sequência dos 109 participantes. Exemplo, o estudante 22 do
Ensino Médio será identificado como: EstE M22.
Para evitar a entrada e a saída de participantes durante as intervenções, decidimos que cada uma das intervenções aconteceria em
único encontro, sendo a do EF em 5 períodos contínuo siv de 50 minutos cada (totalizando 235 minutos), a do EM em 6 períodos de 50
minutos (285 minutos) e as do EM/EJA e do TQ em 5 períodos contínuos de 45 minutos cada (totalizando 210 minutos).
No Momento I, utilizamos trechos pré-selecionados pelos pesquisadores do vídeo “O Veneno está na mesa 1v ”, para todas as inter-
venções pedagógicas e, para a intervenção no curso Técnico em Química, também utilizamos trechos do vídeo “O Veneno está na mesa
2vi”.
No Momento II, houve a formação de grupos de 4 a 7 componentes, dependendo do número de participantes de cada intervenção
(Quadro 2). Após a organização dos grupos de trabalho, aconteceu a leitura e análise dos problemas com os alunos, ajudando-os a sanar
as possíveis dúvidas de linguagem e interpretação.
A leitura dos materiais disponíveis para consulta (Momento III) no EF ocorreu por intermédio dos Livros Didáticos (LDs) das Ciências
da Natureza do EF (Gewandsznajder, 2015a, 2015b) e o livro do 1° ano do EM de Química (Santos e Mól, 2013). Nas intervenções do EM e
EM/EJA, os materiais utilizados para consulta foram o LD das Ciências da Natureza do EM/EJA (Scrivano, et al., 2013) e os três volumes do
LD do EM de Química (Santos e Mól, 2013). Na investigação feita com os alunos das três etapas do TQ, além dos livros utilizados no EM e
EM/EJA, foi utilizado também o volume número 2 de outra obra didática de Química do EM (Fonseca, 2013). Cabe frisar que todas essas
obras foram indicadas pelo PNLD/2015 e foram
fornecidas pelos pesquisadores no momento das intervenções pedagógicas. Conforme apontamentos de Ribeiro et al. (2021), os
livros do PNLD/2015 abordam conceitos e oferecem atividades de leitura e pesquisa sobre a temática agrotóxicos, que podem favorecer a
tomada de consciência dos estudantes quanto aos riscos desses compostos para a saúde humana e para o ambiente.
No Momento IV, esquematizamos as resoluções dos problemas da seguinte maneira: Todos os sujeitos da pesquisa apresentaram a
resolução oralmente para seus respectivos colegas e entregaram um relatório escrito com as respostas.
Além disso, os alunos do EF e EM produziram cartazes para auxiliá-los nas apresentações das resoluções. A plenária de apresentação
das resoluções dos problemas (Momento V) foi planejada de forma que todos os alunos pudessem participar, de alguma maneira, na apre-
sentação dos resultados para o grande grupo. Assim sendo, todos foram orientados por esse requisito de participação em conjunto para
exporem suas ideias sobre as respostas da situação-problema que foi proposta para cada grupo de alunos.
Momento VI: socialização dos resultados com os alunos, na qual os professores pesquisadores realizaram um levantamento sobre as
principais modelações de resolução e ressaltaram os conceitos fundamentais discutidos.
Planejamos, também, no final das atividades investigativas, a aplicação de questionário. Esse questionário utiliza uma escala (1=DT
Discordo Totalmente, 2=DP Discordo Parcialmente, 3 =I Indeciso, 4=C Concordo Parcialmente e 5=C Concordo), indicando o grau de con-
cordância do informante a respeito das perguntas (Likert, 1976).
O gráfico apresenta os escores das respostas obtidas. O valor do escore da escala Likert é calculado fazendo-se a soma de cada um
dos números de informantes, multiplicando pelo valor do escore (5 para C, 4 para CP, 3 para I, 2 para DP, 1 para DT) e dividindo pelo total
de informantes.

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Resultados e Discussão

Conforme registros do Diário de Campo, no trabalho com os alunos do EF percebemos que suas ideias iniciais sobre os agrotóxicos se
pautavam em informações mais pontuais divulgadas na grande mídia e a partir de um vocabulário informal, esperado para a faixa etária.
Entretanto, o que se pôde observar pelas colocações realizadas pelos educandos é que a maioria tinha uma noção acerca do que são
agrotóxicos, e que essas substâncias não fazem bem aos seres vivos e ao meio ambiente, assim como entendiam que os alimentos sem
essas substâncias químicas são mais saudáveis para o consumo humano. Exemplo disso são algumas afirmações feitas pelos estudantes:
“Os agrotóxicos são produtos utilizados na lavoura para os alimentos evoluírem mais rapidamente” (EstEF1). “São venenos e podem
prejudicar as plantas, os frutos, o solo e os seres humanos” (EstEF8).
Em um questionamento à turma, a respeito de se os agrotóxicos são bons ou ruins para os seres humanos e para o meio ambiente, os
aprendizes descreveram que não são bons nem para as pessoas nem para o meio ambiente, entretanto não conheciam nenhuma alterna-
tiva de plantio sem o uso destes. Como podemos perceber em algumas respostas dos alunos:
“Os agrotóxicos causam prejuízos ao solo” (EstEF11).
“Os agrotóxicos trazem danos às águas” (EstEF14).
“Os agrotóxicos trazem diversos prejuízos aos seres vivos” (EstEF15). Na resolução de problemas, os aprendizes tiveram de investigar
na literatura, utilizar os seus conhecimentos prévios, as informações do vídeo (O Veneno está na mesa 1) e das discussões realizadas para
chegarem a soluções adequadas aos questionamentos propostos. Dessa forma, surgiram questões relacionadas ao uso de agrotóxicos e à
sustentabilidade, quando lhes foi solicitada uma investigação, com o objetivo de explicarem por que a policultura utiliza menos agrotóxicos
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do que a monocultura e quais os problemas socioambientais que os bidos, causando má-formação de bebês e alterações hormonais e
agrotóxicos podem causar. Além disso, tiveram de descrever, tam- também não são bons para o meio ambiente, já que poluem o solo
bém, outra maneira de como o uso de agrotóxicos pode ser reduzi- e as nascentes de rios” (EstEM34).
do na agricultura. Em outro problema apresentado, os aprendizes Tendo em vista as arguições sobre o uso demasiado de produ-
tiveram de escrever algumas formas de selecionar alimentos com tos químicos nas plantações, uma estudante deu sua contribuição à
menos resíduos de agrotóxicos e explicar como o controle biológico discussão, afirmando que:
pode diminuir o uso desses produtos químicos. Santos et al. (2014, “Minha sogra possui uma horta em seu quintal e não utiliza
p. 110) explicam que, na “tomada de consciência, o sujeito precisa nenhum tipo de agrotóxico, o máximo que ela usa é sal e algumas
realizar uma ação – seja ela material, ou não –, e ter capacidade misturas naturais para afugentar algumas pragas” (EstEM42). Assim
de explicá-la, porque quando sabe explicar ou justificar sua ação, sendo, essa aluna preconizou uma agricultura sustentável.
demonstra que houve uma construção conceitual”. Em um dos problemas propostos, os grupos 3 e 4 foram con-
Além disso, os mesmos autores esclarecem que essa conceitu- vidados a pesquisar acerca das alternativas para o cultivo agrícola
ação não equivale a uma simples leitura, e sim a uma “reconstru- sem a utilização de agrotóxicos ou, pelo menos, para redução de
ção que insere características novas e estabelece conexão entre a seu uso. Da mesma forma, tiveram de discutir sobre quais as van-
compreensão e as extensões” (Santos et al., 2014, p. 110) Com a tagens e desvantagens de cada uma dessas alternativas e decidir
análise das produções escritas e apresentações, evidenciamos que quais delas consideravam mais eficientes para diminuir o uso de
o grupo de estudantes avançou na compreensão sobre as possibi- agrotóxicos. Em outro problema, a questão estava relacionada a
lidades e potencialidades da agricultura sustentável, sobre hábitos uma pesquisa que deveriam realizar relacionada à agricultura orgâ-
de consumo e falta de políticas públicas de incentivo ao não uso nica, seus princípios, suas práticas de cultivo, vantagens e desvanta-
dos agrotóxicos. gens. Além disso, deveriam citar um exemplo de controle natural de
Nesse âmbito, acreditamos que a escola possui uma função pri- pragas com aplicação de conhecimentos químicos e como alterna-
mordial na tomada de consciência, por parte dos educandos, acerca tiva para os agrotóxicos. Dessa forma, munidos de conhecimentos
da importância da sustentabilidade ambiental e socioambiental, ar- adquiridos ao longo de suas vidas e das discussões realizadas em
ticulada ao estudo dos conteúdos escolares, carecendo de recursos sala de aula, assim como por intermédio do vídeo assistido e da
didáticos e orientação contínua para desenvolver ações com esses consulta nos livros didáticos indicados, os aprendizes resolveram os
objetivos. Dessa maneira, a EA crítica se manifesta como um con- problemas propostos, tendo em vista uma agricultura sustentável,
junto de práticas educacionais com a meta de constituir uma nova sem agrotóxicos ou com menor quantidade desses produtos quí-
consciência ecológica em todas as disciplinas do currículo escolar micos.
(Costa et al., 2017). Em vista disso, as práticas de EA não devem Nesse contexto, percebemos a importância dos alunos da EB
apenas transmitir conhecimentos a respeito do meio ambiente, compreenderem o significado social da utilização de práticas de
mas também propiciar a mudança de atitude, a determinação para conservação e preservação ambiental, com o intuito de preservar a
a ação e a procura de soluções para o problema. fertilidade do solo, assim como as condições climáticas favoráveis.
Nessa linha de pensamento, Boff (2012) assevera que, para Temos conhecimento de que para que os alimentos sejam produzi-
compreendermos a sustentabilidade como qualidade do desenvol- dos, os agrossistemas, tais como lavouras, pastagens e outras, exi-
vimento social, devemos mudar nossa relação com a natureza, a gem a alteração do sistema natural. Dessa forma, essa ação implica
vida e a Terra. Além do mais, o autor explica que o termo susten- a modificação dos ecossistemas, ocasionando a remoção da cober-
tabilidade é um conceito difícil e integrativo de várias dimensões, tura vegetal, revolvimento do solo (aração, gradeação, semeadura,
como a ambiental, social, econômica, cultural entre outras, que plantio, cultivo), uso de fertilizantes e de agrotóxicos com o intuito
mesmo diferentes possuem relações de interdependência. de combater doenças e pragas. Todas essas ações trazem como con-
No que tange ao trabalho com o EM, o que observamos foi que sequência a contaminação do solo, do ar e das águas, erosão, com-
os estudantes possuíam uma compreensão geral a respeito do que pactação e diminuição da permeabilidade do solo, entre outros. Por
são agrotóxicos, uma vez que houve afirmações nas quais alguns esses motivos, temos de viabilizar uma agricultura sustentável, em
deles comunicaram o conceito de agrotóxicos de forma relacionada direção a uma sociedade mais justa do ponto de vista ambiental e
aos diferentes tipos de pragas que combatem, mas sem consegui- econômico. Dessa maneira, “a sociedade precisa caminhar em dire-
rem esclarecer detalhes: ção à sustentabilidade de forma harmônica com desenvolvimento
“Os agrotóxicos são uma espécie de inseticida usado na agricul- socioeconômico e ambiental, trabalhando sempre a prevenção e a
tura para livrar as plantações de pragas que possam vir a prejudicar preservação com atitudes individuais e coletivas” (De David, 2018,
essas plantações” (EstEM22). p. 122).
“Os agrotóxicos são produtos que usamos para combater inse- Na proposta lançada aos estudantes do EM/EJA, verificamos
tos, doenças ou plantas daninhas que causam danos às plantações” que, em sua maioria, esses alunos possuíam a noção do que é um
(EstEM26). agrotóxico e o que esse produto acarreta aos seres humanos e ao
Da mesma maneira, outros alunos complementaram as decla- meio ambiente. Isso ficou sinalizado nas falas dos aprendizes:
rações dos colegas, dizendo que: “Os agrotóxicos não são bons para “O agrotóxico deixa a fruta mais bonita, entretanto faz mal para
os seres humanos, pois podem causar danos à saúde e nem para o os consumidores dessa fruta” (EstEM/EJA60). “Os agrotóxicos con-
meio ambiente, uma vez que podem causar a poluição do solo e das taminam o solo, os lençóis freáticos e prejudicam a saúde dos con-
águas” (EstEM30). “Os agrotóxicos podem causar tumores e, sumidores” (EstEM/EJA69).
consequentemente, o surgimento de câncer quando utilizados aci-
ma dos limites permitidos ou quando se utilizam agrotóxicos proi-

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Após assistirem ao vídeo relacionado às consequências do uso indiscriminado de agrotóxicos, e a alternativa para uma agricultura
sem eles, os estudantes realizaram uma profícua discussão sobre agricultura orgânica e políticas públicas do setor do agronegócio. Um
estudante afirmou que:
“Uma agricultura orgânica é possível, entretanto torna-se mais cara e o governo está interessado em ganhar dinheiro com os agrotó-
xicos” (EstEM/EJA71).
Uma aluna comentou que:
“Há uma horta orgânica perto da minha casa. Nessa horta, provei morangos sem agrotóxicos e o sabor é muito melhor do que a fruta
comprada nos supermercados com agrotóxicos” (EstEM/EJA73).
Os problemas a serem solucionados pelos alunos EM/ EJA eram os mesmos dos estudantes do EM. Na resolução de um dos grupos de
EM/EJA, os componentes discorreram a respeito das consequências do uso de agrotóxicos e chegaram ao consenso de que a policultura
seria a melhor solução para o não uso dessas substâncias. Na solução de outro problema apresentado, os participantes ponderaram acerca
das vantagens e desvantagens da agricultura orgânica. Em seguida, mais dois componentes defenderam esse tipo de agricultura, justifican-
do-se. Dessa maneira, os educandos refletiram acerca de outras formas de agricultura, que não prejudicam demasiadamente o ambiente
como a prática tradicional que utiliza agrotóxicos o faz, utilizando quantidades menores de agrotóxicos ou até mesmo não fazendo uso
dessas substâncias químicas.
Posto isso, a agricultura sustentável é uma opção, pois está associada ao uso de um método de cultivo o qual se preocupa com o meio
ambiente e colabora para a sua preservação, não deixando de ser uma atividade economicamente viável e lucrativa. Consequentemente,
trata-se de um processo que propicia a qualidade de vida e a capacidade de prover as necessidades das gerações futuras, considerando o
cuidado da terra, da água e do ar (Ghini e Bettiol, 2000; De David, 2018).
Durante a realização da intervenção no TQ, observamos uma discussão mais calcada em conhecimentos um pouco mais aprofunda-
dos das questões levantadas, tendo em vista o curso dos sujeitos da pesquisa. Dessa forma, nas discussões realizadas obtivemos algumas
afirmações:
“Os agrotóxicos são produtos adicionados às plantações para acelerar ou aumentar a produção e deixar o produto mais “bonito” ao
consumidor” (EstTQ84).
“Os agrotóxicos são substâncias que protegem plantações de pragas e pestes” (EstTQ85).
“Agrotóxicos são substâncias químicas que são utilizadas para o extermínio de pragas” (EstTQ90).
Nessa linha de pensamento, os estudantes mostraram já ter algum conhecimento acerca dos malefícios dessas substâncias químicas.
Assim, uma aluna comentou que:
“Os agrotóxicos não são bons nem para os seres humanos nem para o meio ambiente, pois trata-se de um veneno nocivo à saúde
mesmo em concentrações baixas, já que o uso contínuo é grande e os agrotóxicos são utilizados em todos os alimentos produzidos em
lavouras e estufas para se obter uma melhor qualidade no alimento, mas, em contrapartida, há uma piora na saúde humana” (EstTQ92).
A próxima contribuição veio de um educando que disse que:
“Os agrotóxicos não são bons, uma vez que contaminam o alimento, o solo, o trabalhador, a flora e, consequentemente, a fauna, a
hidrografia etc” (EstTQ95).
Conforme a experiência de um aluno para a utilização de menos produtos químicos, ele relatou ao grande grupo que:
“Os funcionários da fazenda de meu tio já haviam utilizado diversos tipos de defensivos, mas nada resolvia o problema de carrapatos
no gado. Fiz uma pesquisa sobre o assunto, continuamos a passar os defensivos nos animais, mas fiz manejo de pastagem, descobrimos o
ciclo do carrapato e começamos a realizar várias ações para o combate dos carrapatos. Descobrimos que não era feita a limpeza de todo o
rebanho e, por isso, uns contaminavam os outros. Devido a essas ações, começamos a utilizar menos veneno do que usávamos antes e, a
partir disso, começamos a entregar boi para frigorífico com sanidade 100%” (EstTQ96).
Dessa maneira e com a resolução dos problemas propostos, vieram à tona discussões acerca de uma agricultura sustentável, como
uma forma de enfrentamento dos problemas socioambientais dos agrotóxicos e para o desenvolvimento de novas relações entre os seres
humanos e entre os seres humanos e a natureza, tanto em sua dimensão natural, quanto social, cultural e econômica. Um dos questiona-
mentos da situação-problema era que os grupos 3 e 4 pesquisassem sobre alternativas para o cultivo agrícola sem a utilização de agrotó-
xicos ou, pelo menos, para redução de seu uso.
Assim sendo, os grupos buscaram informações a esse respeito e discutiram essa solução. Outro problema que também causou tomada
de consciência e boas arguições foi a proposta que solicitava que os aprendizes pesquisassem a respeito da agricultura orgânica, seus prin-
cípios, suas práticas de cultivo, vantagens, desvantagens etc. Além disso, questionava se o cultivo sem o uso de agrotóxicos seria o único
critério utilizado para definir se um alimento
Pelas discussões realizadas e pelas resoluções dos problemas entregues nos relatórios, percebemos que os educandos entenderam
que a agricultura orgânica é um processo produtivo que está comprometido com a organicidade e a sanidade da produção de alimentos
vivos, com o objetivo de preservar a saúde dos seres humanos. Com esse intuito, utiliza tecnologias que são pertinentes à realidade do
local de produção.
Esse é um tipo de agricultura que não usa agrotóxicos e viabiliza a restauração e manutenção da biodiversidade. Da mesma forma,
utiliza fertilizantes naturais, rotatividade de culturas, uso racional da água, além de técnicas que possam ser adaptadas à realidade do local
de cultivo (Carneiro et al., 2015; Santos e Mól, 2013).
Pelas apresentações e debate final acerca do trabalho proposto, verificamos a tomada de consciência dos alunos sobre os malefícios
que os agrotóxicos podem causar, assim como uma possibilidade para uma agricultura sustentável.

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Nessa linha de pensamento, entendemos que esse processo de tomada de consciência, que foi analisado na presente pesquisa, não
é, de fato, conscientização. Segundo Freire (1980), “esta tomada de consciência não é ainda conscientização, porque esta consiste no
desenvolvimento crítico da tomada de consciência” (p. 26). Para Leff (2015), tendo em vista a gravidade da crise ambiental, o processo
educacional deve favorecer a conscientização com o objetivo de estabelecer condutas sociais as quais impeçam consequências negativas
sobre o ambiente e criar habilidades técnicas com o intuito de solucionar problemas socioambientais. A educação relacionada ao ambien-
te compreende-se como um treinamento em proteção ambiental ou como uma instrução que permita aos estudantes resolver problemas
socioambientais e lhes dê uma visão e convicções como base para um comportamento responsável com a natureza. Os programas de for-
mação ambiental são iniciais e dirigidos para a criação de uma racionalidade alternativa, a qual esteja apta a entender, promover, mobilizar
e articular os processos naturais, tecnológicos e sociais que expandam as opções para outro desenvolvimento (Leff, 2015).
Uma das questões do questionário aplicado, após o término das sequências didáticas, estava relacionada com a autoavaliação quanto
ao método proposto, a RP. Todos os 109 participantes da pesquisa responderam ao questionário.
Analisando o Gráfico 1, observamos que a maioria dos alunos concordou que o trabalho, através da metodologia de RP, favoreceu o
trabalho em equipe, contribuiu para a aprendizagem dos mesmos sobre a temática agrotóxicos e que estes colaboraram com os demais
colegas de grupo, ajudando de forma ativa na resolução do problema proposto.

Gráfico 1: Quanto ao trabalho através da metodologia de RP e autoavaliação

Os diagnósticos do gráfico permitem afirmar que, nos itens apresentados, praticamente todos os alunos registraram respostas
favoráveis à contribuição da RP para o seu aprimoramento sobre a temática agrotóxicos e perceberam as contribuições da metodolo-
gia para o desenvolvimento do senso de participação e trabalho em equipe.
Por todos os dados e resultados da presente pesquisa e os referenciais que nos apropriamos na mesma, compreendemos que no
nosso estudo temos indicativos capazes de analisar o processo de tomada de consciência dos estudantes a respeito dos problemas so-
cioambientais relacionados aos agrotóxicos e das possibilidades da agricultura sustentável, a partir da vivência da metodologia da RP. O
caráter investigativo da metodologia de RP, coloca o aprendiz no centro do processo de aprendizagem. Assim sendo, por intermédio da
busca de conhecimento, formulação de hipóteses e trocas de experiências, assegura-se a fixação e retenção dos conteúdos e competên-
cias por parte dos estudantes. Além do mais, a RP também traz benefícios, tais como: maior participação, já que os assuntos abordados
partem da realidade do aluno; estímulo da criatividade, pois os aprendizes precisam ativar seu senso criativo na busca de soluções para
um determinado problema; incentivo à pesquisa em materiais didáticos, bibliotecas, ambientes virtuais; responsabilidade, trabalho em
equipe e organização com o intuito de chegarem às suas próprias conclusões. Ademais, pudemos observar a autonomia dos estudantes do
TQ na capacidade de tomada de decisões, criticidade na condução das discussões e pesquisas necessárias para a resolução dos problemas.
Além do mais, notou-se que os grupos, de uma maneira geral, perceberam que a busca por uma vida mais saudável implica, entre ou-
tros fatores, o consumo de produtos de boa qualidade e esses produtos são oriundos de uma agricultura sustentável. Assim, os alimentos
que chegam à mesa do consumidor não possuem agrotóxicos, não prejudicando a saúde humana ou o meio ambiente. Da mesma maneira,
entenderam que a agricultura sustentável é justa do ponto de vista social, é economicamente exequível e deve garantir, às futuras gera-
ções, a capacidade de prover as necessidades de produção e vida no planeta.
Concordamos com Boff (2012) quando o autor detalha que o capitalismo criou uma cultura do eu sem o nós e o socialismo do nós
sem o eu. Enquanto o que precisamos é de uma relação do eu com o nós, por meio de uma democracia social e participativa que priorize
a diversidade de espécies e culturas. Nesse sentido, ao longo das atividades de RP procuramos enfatizar os riscos de algumas ações go-
vernamentais, como o Projeto de Lei (PL) nº 6.299/2002, conhecido como Pacote do Veneno, que visa alterar o Decreto 4.074/2002 que,
por sua vez, regulamenta a Lei de Agrotóxicos nº 7.802/1989, em tópicos bastante relevantes, no sentido de flexibilizar o uso e de liberar
a comercialização de novos agrotóxicos. Os enunciados dos problemas questionavam sobre o conceito de agrotóxicos, o que possibilitou a

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investigação e discussão sobre a troca do nome “Agrotóxicos” para “defensivos fitossanitários”, como era previsto no referido PL. Acredita-
mos que a expressão “defensivo” induz à falsa sensação de segurança, o que poderia levar os consumidores a pensarem na disponibilidade
de alimentos mais seguros para serem consumidos, fato que pode ser um dos exemplos de influência dos poderes político e econômico
nos problemas socioambientais. Pelo contrário, essa vasta utilização deixa que esses produtos tenham mais possibilidades de ocasionar
danos aos diferentes biomas brasileiros e a uma grande parte da população brasileira, exposta a essas substâncias tóxicas presentes na
água, solo e alimentos, como vegetais, carne, leite e derivados (Ribeiro et al., 2018). Outrossim, o vídeo utilizado para introduzir a atividade
(O veneno está na mesa
1) contempla ampla base de dados que possibilita a compreensão de que o cenário que temos hoje é consequência de ações e atua-
ções políticas, entre outras, que visam atender interesses de grupos restritos, em detrimento do interesse coletivo da sociedade.
Enfatizamos que na atualidade estamos vivenciando ações governamentais contundentes, como a aprovação do Decreto nº
10.833/2021 que prevê regras muito mais flexíveis para o registro e comercialização dos agrotóxicos. No caso de uma nova utilização dos
enunciados dos problemas apresentados neste artigo, sugerimos que este documento seja incorporado como exemplar de influências
das ações políticas e governamentais que afetam a problemática socioambiental que está em discussão e que poderá tornar o Brasil um
terreno “fértil” para ações pouco sustentáveis.

Conclusão
A crise ambiental pela qual passam o Brasil e o mundo nos faz refletir acerca da função da escola na formação de cidadãos que sejam
aptos a serem críticos sobre suas consequências e combatê-la. Acreditamos que o ambiente escolar é um local favorável para o desenvol-
vimento de uma prática educativa voltada para o fomento de valores relacionados à Educação Ambiental Crítica, que objetiva a compre-
ensão dos conceitos relacionados com o meio ambiente, sustentabilidade, preservação e conservação, tendo em vista uma metodologia
diferenciada como a Resolução de Problemas.
À vista disso, o objetivo deste artigo foi analisar o processo de tomada de consciência a respeito dos problemas socioambientais cau-
sados por agrotóxicos e da importância do desenvolvimento da agricultura sustentável, por estudantes de diferentes etapas e modalidades
da Educação Básica, a partir da vivência da metodologia da Resolução de Problemas no Ensino de Química.
O que percebemos com a utilização da metodologia de Resolução de Problemas foi que os educandos puderam, por intermédio da
proposta e do tema apresentados, tomar consciência da importância de uma agricultura sustentável para uma vida com mais qualidade e
da viabilidade desse tipo de plantio. Essa metodologia desenvolveu nos estudantes o senso de participação e trabalho em equipe, através
de uma temática na qual estavam inseridos, possuíam conhecimentos prévios e puderam ampliá-los durante o trabalho realizado.
Destacamos que no EF os estudantes passaram a ter maior clareza sobre o conceito de agrotóxicos e possibilidades de plantio al-
ternativos. No EM e EM/EJA aspectos como a classificação dos tipos de agrotóxicos e toxicidade foram destaque, assim como o estudo
sobre policultura e agricultura orgânica. No TQ verificamos o aprofundamento conceitual dos aspectos já citados e o desenvolvimento
de autonomia dos participantes nas discussões, na resolução dos problemas e apresentações orais, sua criticidade frente aos problemas
propostos. Ademais, procuramos enfatizar a forte intervenção antrópica que vem reduzindo a capacidade de resiliência do meio ambiente,
além da relação dos fatores econômicos e políticos imbricados nas relações sociais constituídas pelo sistema capitalista.
Faz-se necessária, na escola, a problematização da Educação Ambiental, tendo em vista suas múltiplas possibilidades e com o intuito
de os educandos poderem repensar práticas sociais nocivas ao homem e ao meio ambiente. Outrossim, precisamos repensar o papel do
professor, que não deve ser o de transmitir conhecimentos já prontos, mas ser o mediador da aprendizagem, contribuindo para a constru-
ção de um conhecimento necessário para que os estudantes possam ser críticos e reflexivos, tendo a responsabilidade para construir uma
sociedade planetária mais equitativa e ambientalmente sustentável.
Esperamos que os resultados deste trabalho possam contribuir para fomentar conhecimentos e reflexões para novos estudos na área
da Educação e Ensino de Química no contexto escolar quanto ao saber ambiental.

FRANÇA, D. ET AL. AS FACES DO PLÁSTICO: UMA PROPOSTA DE AULA SOBRE SUSTENTABILIDADE. QUÍMICA NOVA NA ES-
COLA, V. 44, N. 3, 2022.

Decorrente das constantes mudanças na sociedade mundial e as peculiaridades da sociedade brasileira, o presente artigo busca
levantar questões sobre o ensino dos conceitos de sustentabilidade através da discussão sobre o consumo de “plásticos” apontando o
pragmático viés das suas vantagens e desvantagens.
Sugerimos aqui uma atividade de ensino que poderá ser trabalhada no novo cenário da educação brasileira, principalmente no que
diz respeito à estruturação do novo ensino médio: O Júri do Plástico.
Mais de vinte e cinco anos após a publicação de “Estudando os plásticos – Tratamento de problemas autênticos no ensino de quími-
ca” (Lima e Silva, 1997), este tema continua sendo atual e ainda mais marcante, considerando o nosso cotidiano com as notícias sobre o
Aquecimento Global e, recentemente, sobre a Pandemia do Covid-19, que foi marcada pelo consumo de materiais plásticos de uso único
como, máscaras, luvas, seringas usadas na vacinação, embalagens e utensílios de delivery. Mas afinal, o plástico seria o vilão ou o herói
dessa história? Julgar o plástico como vilão negligencia todo benefício trazido para a sociedade em questões de higiene, aumento de tem-
po de prateleira de produtos alimentícios, diminuição do consumo de combustível durante o transporte de produtos, entre outros. Porém,
colocá-lo como herói sem levantar a problemática do seu acúmulo e descarte indevido é, também, fugir de uma discussão pragmática.

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Diante dos contextos socioambientais, notícias sobre “plástico” quase sempre estão associadas aos problemas ambientais e como
os adolescentes, estudantes do ensino médio, têm se posicionado? A mediação do professor é fundamental para auxiliar o desenvolvi-
mento de habilidades cognitivas e socioemocionais do estudante, de modo que compreenda o mundo que o cerca e qual seu papel nesse
contexto. Com esse intuito, o presente artigo propõe uma atividade em sala de aula para estudantes do ensino médio com a temática
sustentabilidade. O objetivo é que os estudantes saibam reconhecer os diferentes tipos de polímeros, focando no consumo sustentável de
materiais plásticos, de modo que eles possam agir ativamente no local onde estão inseridos, contribuindo com a sociedade. Além disso,
levantamos a problemática de como coordenar tal atividade no novo cenário da educação no Brasil, em vista da reformulação do ensino
médio e inserção dos itinerários formativos (IF).

A Sociedade Global e os Polímeros

“A sociedade global conseguiria viver sem plástico?”


“Mas o que são e como são os plásticos?” São questões que podem introduzir discussões em sala de aula e instigar a curiosidade dos
estudantes para a busca por conhecimento.
Nesta sessão apresentaremos os principais conceitos, terminologias e questionamentos que o professor precisa para mediar a ativida-
de de ensino proposta neste artigo, de forma que, ao final da atividade, os estudantes os tenham assimilado e saibam argumentar sobre
os plásticos.
De forma geral, relacionamos a terminologia plástico a uma propriedade do material, que corresponde à possibilidade de moldar “a
quente”. Podemos dizer que o plástico é um tipo de polímero, denominado “termoplástico”. Dessa forma, todo plástico é um polímero,
mas nem todo polímero é um plástico.
A palavra polímero deriva do latim, onde poli = muitos e mero = unidade, ou seja, muitas unidades. Estas unidades são moléculas que
constituem o polímero e que se repetem formando o que chamamos de cadeia. Na Figura 1 representamos cada monômero (um mero)
como um clip e, após processos e reações, os clipes (meros) são unidos por meio de ligações químicas formando polímeros (muitos meros).
Assim, um polímero é constituído por várias unidades chamadas de meros que se repetem. Podemos ter diferentes classes de polímeros,
de acordo com suas propriedades mecânicas como, por exemplo, termoplásticos, termorrígidos, elastômeros e fibras.
Desta forma, os termoplásticos ou simplesmente “plásticos” pertencem a uma categoria de polímeros. Uma outra forma de classificar
os polímeros está relacionada à sua origem e suas propriedades no contexto de serem ou não biodegradáveis. Portanto, um polímero
pode ser classificado quanto à sua origem (fonte renovável e não-renovável), seu processo de obtenção e seu potencial de biodegradação.
Polímeros provenientes de fontes não- -renováveis são aqueles que derivam de recursos que não se formam ou se renovam em um curto
período. Por exemplo, a utilização da matéria-prima de origem fóssil usada para produzir muitos polímeros comerciais como Poliestireno
(PS), Polietileno (PE), Polipropileno (PP), etc. Polímeros provenientes de fontes renováveis são aqueles derivados de recursos que não
podem ser esgotados e são capazes de fornecer matéria-prima contínua. Para a obtenção dessa classe de polímeros, destaca-se o uso de
fontes de biomassa, as quais podemos extrair a celulose e o amido, enquanto as fontes animais, tais como exoesqueletos de insetos e
crustáceos, extraímos a quitina. Quando analisamos a forma na qual o polímero é obtido podemos classificá-lo como sintético ou natural.
Os polímeros sintéticos são obtidos pela síntese de substâncias naturais renováveis ou de matéria-prima não- -renovável como o petróleo,
gás ou carvão (Farshad, 2006).
Já os polímeros naturais são encontrados na natureza e, quando extraídos, não sofrem alterações em sua estrutura original (Pawelec
et al., 2019). Os polímeros podem, também, ser classificados de acordo com suas propriedades de decomposição, ou seja, capacidade de
serem ou não biodegradáveis. A biodegradação pode ser definida como a propriedade do material em ser degradado por agentes biológi-
cos (Pischedda, Tosin e Degli-Innocenti, 2019). Muitas vezes associamos um polímero obtido de fonte renovável como, automaticamente,
biodegradável, mas isso nem sempre é verdadeiro. De acordo com a Figura 2, observa-se a existência de polímeros oriundos de fontes
renováveis e não-renováveis classificados quanto à sua biodegradabilidade. Para avaliar se o polímero é ou não biodegradável a estrutura
química da cadeia polimérica deve ser avaliada, pois esse processo acontece em várias etapas, sendo que os microrganismos presentes
em um ambiente utilizam partes orgânicas do polímero para obter energia e formar uma nova biomassa celular (Zumstein et al., 2019).

Figura 1: Representação esquemática de monômeros e polímeros

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Figura 2: Tipos de polímeros e seu potencial de biodegradação.

Na Figura 3 observamos um exemplo de como classificar os polímeros de acordo com a fonte de matéria-prima, a forma de obtenção
e a biodegradação. No caso do polímero PE observa-se que, curiosamente, ele pode ser proveniente de fonte não-renovável (petróleo) ou
fonte renovável (cana-de-açúcar), neste caso chamado de PE verde. Entretanto, a fonte de matéria-prima não interfere nas propriedades
como a biodegradação, pois tanto o PE convencional quanto o PE verde são sintéticos e não-biodegradáveis. Destacamos que o PE verde
pode substituir o PE convencional na fabricação de diversos produtos, como embalagens, óculos, brinquedos e utensílios domésticos. É
importante ressaltar a substituição da matéria-prima nesse polímero, pois atribui a ele características que vão ao encontro do 12° Objeti-
vo de Desenvolvimento Sustentável estipulado pela ONU (ODS), que almeja o consumo e produção responsáveis (United Nations, 2015).
Adicionalmente, podemos exemplificar o amido que, assim como PE verde, também é proveniente de fonte renovável, sendo classificado
como um polímero natural e biodegradável, devido ao tipo de estrutura química de sua cadeia polimérica (Figura 3).
O amido é um dos polímeros naturais mais presentes em nosso cotidiano e está diretamente ligado à nossa alimentação. Ele pode ser
encontrado em diversos alimentos como pães, bolos, macarrão e, também, em produtos industrializados como gomas de mascar e ket-
chup, além de estar presente na composição de copos e talheres descartáveis. Dessa forma, conseguimos associar os polímeros a diversas
aplicações em nosso cotidiano, desde as sacolas de supermercados, as cartelas de remédios, eletrodomésticos, embalagens de produtos,
componentes de computadores e até roupas. O desenvolvimento dos polímeros tornou nossa vida cotidiana mais confortável e prática,
mas ao mesmo tempo não dimensionamos as implicações do seu uso excessivo, bem como seu impacto no ambiente ao ser descartado.
Desde a sua popularização, produtos inicialmente produzidos a partir de outros materiais foram sendo substituídos por polímeros, como
representado na Figura 4. Alguns exemplos dessa substituição incluem: canos de ferro por poli(cloreto de vinila) (PVC), fraldas de tecido
de algodão por plásticas (compostas por uma combinação de polímeros diferentes), roupas de algodão por poliéster, garrafas de vidro por
poli(tereftalato de etileno) (PET), etc.
Assim, vários produtos foram criados como consequência do exponencial desenvolvimento e interesse econômico. Neste cenário,
a Figura 4 mostra como a produção mundial de polímeros (gráfico inferior em bolas) aumentou a cada década conforme o consumo e a
população cresceram. Ao analisar tais mudanças, seria possível manter nosso padrão de vida e conforto, bem como atender a um grande
contingente populacional sem os polímeros?
Entretanto, como tudo possui seus ônus e bônus, este consumo expressivo e desenfreado, principalmente de produtos de uso único,
geraram uma série de problemas ambientais sem precedentes. De todo polímero produzido (entre 1950- 2015), apenas 9% foram recicla-
dos e utilizados na fabricação de um novo material (Helinski et al., 2021)

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Figura 3: Classificação do polietileno (PE convencional e PE verde) e do amido quanto à origem, obtenção e potencial de biodegrada-
ção.

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Figura 4: Produção mundial de polímeros e o aumento populacional. Fontes: Geyer et al. (2017), United Nations (2019) e Plastics
Europe and EPRO (2021).

Neste contexto, o uso e descarte incorreto têm gerado problemas como microplásticos e ilhas de lixo no oceano. Atualmente, é consi-
derado microplástico toda partícula de origem “plástica” com tamanho < 5 mm (Li et al., 2020). Estudos recentes sugerem que o consumo
de microplásticos por humanos ocorre, principalmente, por alimentos de origem animal e água (Cox et al., 2019). Ainda não se sabe ao
certo os impactos que o acúmulo desses materiais pode causar no organismo (Helinski et al., , 2021). Por outro lado, as ilhas de plástico
são aglomerações de materiais depositados no ambiente marítimo. Elas se originam quando os resíduos flutuantes entram nas correntes
marinhas rotativas (giros oceânicos) e perturbam o ecossistema marinho. Porém, as ilhas de plástico também geram microplásticos, que
chegam aos humanos por meio de cadeias alimentares (Choi et al., 2022; Vázquez e Rahman, 2021).
Diante desta perspectiva, a reciclagem se apresenta como uma possível resposta aos problemas ambientais causados pelo descarte
de materiais poliméricos no ambiente. Entretanto, ela somente, não consegue solucionar todos os problemas envolvidos (Ignatyev et al.,
2014). Por volta da década de 1980, o resíduo polimérico deixou de ser 100% descartado, pois parte passou a ser incinerado, e, por volta
da década de 1990, houve um aumento relevante da reciclagem (Geyer et al., 2017). A reciclagem de materiais poliméricos
apresenta dois principais problemas: o retorno parcial dos materiais ao ciclo econômico, e a perda de propriedades (por exemplo,
mecânicas) após o processo. Além disso, os materiais são produzidos com diferentes polímeros, que apresentam propriedades distintas, o
que dificulta o processo de reciclagem. No Brasil, a reciclagem representa uma fonte de renda, e estima-se que existam cerca de 600.000
pessoas trabalhando, em cooperativas ou de forma autônoma, como coletores de lixo reciclável nas ruas no país (Mancini et al., 2021).
Porém, ressaltamos que os plásticos ainda não apresentam porcentagens de reciclagem satisfatórias. Dos 365 milhões de toneladas
de plásticos produzidos anualmente no mundo, somente 19,5 % é reciclado (Ferdous et al., 2021). Quando comparamos com o alumínio,
por exemplo, percebemos uma grande diferença, em que 76% do alumínio é reciclado por ano no mundo (International Aluminium, 2020).
O Brasil se destaca como o país que liderou a reciclagem de alumínio durante 13 anos com 98,4%. Isso pode ser atribuído a alguns fatores,
como a existência de políticas públicas ambientais, pelo maior valor de mercado que o alumínio possui quando comparado a outros mate-
riais reciclados, e a coleta desse metal se torna uma fonte de renda para muitas famílias com baixo poder aquisitivo (Morais et al., 2018).
Então, podemos apostar no Brasil como um país que possui alto potencial de reciclagem, e gerando matéria-prima. Para que isso ocorra
com os plásticos é necessário maior incentivo econômico e político.
Entretanto, reciclar é uma das alternativas dos 5 R’s, ou seja, REPENSAR, REDUZIR, RECUSAR, REUTILIZAR e RECICLAR. Este conceito
surge da necessidade de diminuirmos os resíduos, para todos os tipos de materiais consumíveis. Vejam que RECICLAR é o último R do
ciclo, ou seja, todos os que antecedem devem ser levados em consideração primordialmente. Por exemplo, ao analisarmos o primeiro R
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de REPENSAR, devemos ter em mente que nem sempre é tão fácil repensar sobre o consumo dos polímeros comparado ao repensarmos
no consumo de sacolas plásticas, muitas vezes recorrendo ao uso de sacolas de tecido. Um bom exemplo da complexidade de se repensar
o consumo refere-se à compra de um par de tênis. Calçados esportivos são produtos de consumo feitos de uma combinação de diferentes
polímeros. Schneiderman (2017) mostra um exemplo muito interessante de dois modelos diferentes de tênis, Figura 5-a (adaptado de Sch-
neiderman e Hillmyer, 2017). O tênis à esquerda é composto por tecido (celulose) renovável e borracha renovável (VNR – borracha natural
vulcanizada). O tênis de corrida à direita é composto por náilon, poliuretano (PU), uma sola intermédia de poli (etileno-co-vinil acetato)
(EVA) e uma sola exterior de borracha de estireno-butadieno (SBR).
Enquanto o primeiro se degrada com relativa rapidez (~ 10 anos), o último se degrada muito mais lentamente (50 a 100 anos no mes-
mo ambiente). O náilon e o PU são suscetíveis à hidróliseii e, em alguns casos, à biodegradação (Figura 5-b), o EVA e o SBR se degradam por
meio de mecanismos foto-oxidativosiii (Figura 5-c). Ambos os sapatos contêm poli (tereftalato de etileno) (PET) que apresenta degradação
extremamente lenta devido à sua alta hidrofobicidadeiv, ainda que sejam suscetíveis à hidrólise. Essa taxa de degradação é controlada
tanto pelo tipo de ligação química, quanto pela organização dos átomos do polímero (Schneiderman e Hillmyer, 2017).
Reduzir o consumo de polímeros é outro ponto importante. Em um artigo publicado na Science, Lau et al. (2020) discutem as soluções
possíveis para a poluição causada pelos polímeros e seus impactos. Reduções substanciais na geração de resíduos poliméricos podem
ser feitas nas próximas décadas com ações imediatas, mas mesmo na melhor das hipóteses, grandes quantidades de polímeros ainda se
acumularão no meio ambiente (Lau et al., 2020). Os autores propuseram modelos matemáticos e desenvolveram cinco possíveis futuros
cenários para estimar as reduções na poluição por materiais poliméricos no período de 2016 a 2040. Eles sugeriram intervenções parecidas
com os 5 R´s, sendo que os níveis de intervenções (ações) seriam norteadores para reduzir, substituir, reciclar e descartar os produtos.
Com tais medidas, o descarte de material polimérico reduziria de 225 milhões de toneladas métricas por ano em 2020 para menos de 150
milhões de toneladas métricas por ano em 2040 (Lau et al., 2020).

Figura 5: (a) Exemplos da composição de diferentes sapatos esportivos, (b) representação de reação química mostrando a degradação
foto-oxidativa de cadeias de polímero em SBR. (c) representação de degradação por hidrólise, que pode ou não ser assistida pela ação de
micro-organismos (adaptado de Schneiderman e Hillmyer, 2017).

Ainda que haja uma redução no descarte, atualmente, dentre os polímeros mais utilizados como matéria-prima na fabricação de itens
poliméricos de uso único estão o PET, PE, PVC, PP e PS, utilizados na produção de copos, sacolas, canudos, embalagens e talheres (Lan-
dim et al., 2016). Estima-se que em 2050 cerca de 12 bilhões de toneladas destes resíduos poliméricos irão parar na natureza (Mecking,
2021). Tendo em vista este cenário alarmante, alternativas como o uso de embalagens sustentáveis para substituir aquelas fabricadas com
polímeros não-biodegradáveis têm ganhado cada vez mais espaço. Neste contexto, o emprego de polímeros oriundos de fontes renová-
veis e com alto potencial de biodegradação (Mecking, 2021) se mostra em crescente desenvolvimento para a produção de embalagens

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sustentáveis. Assim, para contribuir com ações ambientalmente amigáveis, a produção destas embalagens requer tanto matérias-primas
renováveis como também processos que demandem reduzir o consumo de energia e água em sua produção e que, após o seu uso, tenham
impactos ambientais reduzidos.
Ademais, recentemente enfrentamos uma das maiores pandemias da história moderna, a COVID-19 causou a morte de milhares de
pessoas ao redor do mundo. Os polímeros foram essenciais na sanitização em diferentes níveis. Por exemplo, uma das medidas obrigató-
rias foi a utilização de máscaras faciais que auxiliam na redução da transmissão do vírus.
Diversos polímeros podem ser usados para a fabricação de máscaras, a celulose está presente nas máscaras de algodão, já máscaras
cirúrgicas e N95 são formadas por camadas de PP e as faceshield são feitas de PET. Em casos em que o quadro da doença é grave e o pa-
ciente precisa ser hospitalizado em UTI (Unidade de Terapia Intensiva), utiliza-se um kit de intubação composto por tubos/canos e válvulas
à base de polímeros. Quando pensamos na etapa de vacinação, novamente os polímeros de PP se fazem presente em seringas que são
utilizadas para medir a dose certa e depois injetar o volume em nossos braços. Sem contar, o uso de luvas de uso único, a volta do uso de
talheres “plásticos” para uso individual, uso de isopor em recipientes para entrega de alimentos, entre outros.
Por mais que a maioria desses utensílios sejam de uso único e individual seria impossível imaginar o enfrentamento dessa doença
sem a utilização dos polímeros. Frente a todos esses vieses que o uso de polímeros apresenta, desenvolver um pensamento crítico com
base na sustentabilidade é importante para as novas gerações. Os materiais poliméricos não precisam ser banidos, pois são essenciais
para nossa sociedade, mas sim ser repensado o seu ciclo de vida, desde a sua produção até o seu destino, e pensar sobre seu descarte e a
possibilidade do resíduo como matéria-prima para gerar energia e novos produtos.

Sustentabilidade na Escola

Em 2022, foi implantado o modelo do novo ensino médio no Brasil e isso estabeleceu discussões sobre como abordar questões prag-
máticas no contexto do ensino. O novo ensino médio tem como documento norteador a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que
apresenta competências gerais da educação nacional, categorizadas em quatro grandes áreas sendo: Linguagem e suas Tecnologias (LGG),
Matemática e suas Tecnologias (MAT), Ciências da Natureza e suas Tecnologias (CNT), e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHS). Visan-
do um aprofundamento direcionado ao protagonismo do estudante em sua própria vida e na sociedade da qual faz parte, o Governo do
Estado de São Paulo implementou o Currículo Paulista. Este definiu a adição de três novas disciplinas ao currículo escolar dos anos finais
do ensino fundamental através do Programa INOVA Educação, criado com o intuito de auxiliar o estudante a compreender mais sobre si
e sobre quais caminhos pensa em seguir no futuro através das disciplinas de Projeto de Vida, Eletivas e Tecnologia. Tais disciplinas são
tidas como essenciais para alinhar a escolha dos estudantes ao novo modelo de ensino médio 2022, visto a implementação de Itinerários
Formativos (IF) ofertados aos estudantes nas redes de ensino. Esse novo tipo de ensino médio composto por IFs caracteriza um direcio-
namento aos estudos dos jovens e adolescentes, pois são e serão estruturados com base nas grandes áreas de forma aprofundada (LGG,
MAT, CNT ou CHS) ou relacionadas entre si como multiáreas, chamados de itinerários integrados, exemplos como LGG/MAT e CNT/ CHS.
A estrutura e disposição curricular das competências e IF pode ser melhor compreendida através dos exemplos citados na Figura 6, onde
se observa os possíveis IFs que envolvem as competências de Ciências da Natureza com as demais. Correlacionando as grandes áreas com
cada IF, unidades curriculares (UC) foram propostas de modo a garantir uma sequência racional no aprendizado do estudante e que seja
relacionada ao seu projeto de vida.
Por exemplo, em um dos itinerários formativos “Meu papel no desenvolvimento sustentável”, temos seis UCs , sendo: 1 - Água e
Energia, 2 – Projeto Casa Sustentável, 3 - Cidades e Comunidades Sustentáveis, 4 – Consumo e Produção Responsáveis, 5 – Climatologia, e
6- Geolocalização e Mobilidade. Cada UC é dividida em componentes a serem desenvolvidos, por exemplo a UC 4 – Consumo e Produção
Responsáveis, subdividida nos seguintes componentes: 1 - Mineração e resíduos eletrônicos, 2 - Movimento mecânico e máquinas simples,
3 - Cálculo na otimização de resultados, 4 - Pegada ecológica. E é dentro desses componentes que os professores irão atuar com os con-
ceitos básicos e específicos de cada área do conhecimento. Vista à grande importância dos polímeros em nossa sociedade, tal temática é
encontrada dentro do componente “Pegada ecológica”, abrindo margem para desenvolvimento dos seguintes conceitos: Responsabilidade
ambiental; pressão do consumo dos seres humanos sobre os recursos naturais; ciclo de vida dos produtos; gestão de resíduos; 5R’s; novas
tecnologias de polímeros; biodegradáveis x plásticos verdes; logística reversa; gestão de produtos químicos e resíduos perigosos; toxicida-
de das substâncias; solubilidade; química verde.

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Figura 6: O novo ensino médio e suas divisões.

Após compreender a importância social, ambiental e econômica dos polímeros, a grande dúvida que pode estar surgindo na sua
mente é: Como apresentar essa temática aos estudantes se a unidade de ensino (UE) na qual trabalho não possui o IF “Meu papel no
desenvolvimento sustentável”?
Como criar estratégias para implementar a temática em um IF que não contemple a área de ciências da natureza? E por último, como
lidar com as mudanças que o novo ensino médio está proporcionando? Neste contexto, propor uma metodologia acarretaria restringir a
gama de possibilidades que os itinerários podem fornecer ao estudante. Portanto, o que também se propõe no presente artigo é auxiliar
a visualização das possibilidades de atuação, mediação e intervenção que os IFs oferecidos em 2022 agregam ao professor, além de dire-
cionar a visão crítica sobre alguma UC que, em uma primeira impressão, pode não fazer referência às ciências da natureza, mas que abre
espaço para discussões relacionadas a temática de polímeros, como apresentado na Figura 7.

Figura 7: Itinerários Formativos do Currículo Paulista de 2022 e sugestões de Unidades Curriculares onde o assunto polímeros e sus-
tentabilidade podem ser trabalhados

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Observa-se que mesmo IFs que aparentemente não neces- base a abordagem pedagógica de Piaget, sendo possível utilizar di-
sitam de conceitos químicos, de fato necessitam. Por exemplo, o ferentes espaços escolares, sendo seu desenvolvimento em 5 aulas
IF “#SeLiganaMídia” tem a unidade curricular “Comprar, ou não (de aprox. 45 min), conforme o roteiro aqui proposto.
comprar, eis a questão”, que objetiva repensar sobre o consumo de
forma que os conceitos sobre degradabilidade dos materiais poli- Estruturação cognitiva - Aula 1: Introdução ao assunto “Plás-
méricos poderiam ser aqui desenvolvidos para o jovem estudante ticos”
basear suas escolhas de compra. Outro exemplo, o IF “Liderança e O professor (neste momento, intermediador) realiza uma pe-
cidadania” tem como objetivo desenvolver lideranças conscientes quena introdução sobre a história dos “plásticos” no mundo; suge-
sobre as ações que contribuem para o exercício da cidadania, e ter rimos que apresente a linha do tempo (Figura 4) e faça breves co-
um pensamento científico e crítico sobre a questão dos polímeros mentários sobre essa temática. É importante que neste momento, o
é essencial para a tomada de decisões dos nossos futuros líderes. professor não exponha todos os conceitos químicos e terminologias
Partindo desses dois momentos, um em que a sociedade mundial sobre polímeros aos estudantes, mas apenas apresente o assunto
toda está inserida sobre a problemática do consumo sustentável de “plástico” e seu contexto social atual, seguindo com o questionário
polímeros, e outro em que a sociedade brasileira está passando por (Quadro 1). Os estudantes devem ser orientados a buscarem por
mudanças no sistema educacional, descrevemos uma proposta de informações (vantagens e desvantagens) que sustentem seus ar-
atividade de ensino para os estudantes do 2° e 3° ano do ensino gumentos e contra-argumentos durante o júri simulado que será
médio. realizado na aula seguinte.

Uma proposta de atividade de ensino Quadro 1: Questionário exploratório dos conhecimentos pré-
vios dos estudantes
Como já mencionado, a mudança no sistema de ensino visa o
protagonismo do estudante em sua própria vida e na sociedade da
qual faz parte. Assim, este novo ensino se baseia nos teóricos so-
ciointeracionistas Piaget, Vygotsky e Wallon, que colocavam o ser
humano como um ser social e as implicações que isso acarreta à sua
aprendizagem (Nunes e Silveira, 2011). Dentre eles, Piaget defende
que o conhecimento é construído através das operações mentais
como: estruturação cognitiva, assimilação, acomodação, equilibra-
ção e desequilibração. Segundo ele, o conhecimento se dá por des-
cobertas que o próprio estudante faz, sendo o papel do educador
estimular a busca por conhecimento (Faria, 1993). Já o teórico Vy-
gotsky defende que a aprendizagem leva ao desenvolvimento do
“ser humano”, um produto da interação dialética entre o homem e Assimilação - Aula 2: Preparação para o Júri Simulado
o meio sociocultural ao qual pertence, ou seja, a integração entre Neste segundo encontro, a turma será dividida em grupos e
aspectos biológicos e sociais do indivíduo (Rego, 1995). organizará os discursos de defesa e acusação. Dentro do grupo do
O educador se encontra no papel de mediador que causa inter- Plástico, serão intimados 4 réus (P1, P2, P3 e P4)- Quadro 2, e cada
venções pontuais e atua na zona de desenvolvimento proximal para um será julgado separadamente. Sendo assim, os estudantes serão
que o estudante saia de sua atual condição de desenvolvimento e divididos em 9 grupos, dos quais:
alcance seu desenvolvimento potencial. Em seu estudo, Jean Pia- 1 grupo será o júri popular; 4 serão grupos de acusação (um
get explica o desenvolvimento intelectual a partir da ideia de que grupo para cada réu); e 4 serão grupos de defesa. Nesta aula o pro-
atos biológicos são resultado de adaptações ao meio físico, sempre fessor será o juiz. Após a divisão, os estudantes se reunirão em seus
procurando manter um equilíbrio (Faria, 1993). Assim, o desenvol- respectivos grupos para discutir as estratégias de acusação/defesa
vimento intelectual acontece de forma semelhante ao desenvolvi- diante do júri.
mento biológico, caracterizado como indissociável no ser humano.
Ainda, segundo Piaget, é possível estimar fases para o de- Quadro 2: Descrição dos quatro grupos de polímeros como os
senvolvimento, estas inerentes a todos os indivíduos, onde são quatros réus a serem julgados pelo júri.
denominadas como esquema (processo de estruturação mental e
cognitiva do conhecimento), assimilação (compreensão do novo
assunto), acomodação (interiorização dos conceitos), equilibração
(associação do biológico com intelectual) e desequilibração (mo-
mento em que novos conceitos são observados e é necessário novo
processo para sua compreensão).
Sendo assim, a proposta de aula para o IF “Meu papel no de-
senvolvimento sustentável” apresenta viés para ser aplicado em
outros itinerários conforme julgamento dos professores. Trata-se
da realização de um júri simulado, em que o Plástico será o réu,
os estudantes serão (i) advogados de defesa, (ii) promotores ou
advogados de acusação, e (iii) o júri popular, além da participação
do professor como juiz. A estruturação/realização do júri tem como

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Acomodação/Equilibração - Aulas 3 e 4 – Júri Notas


O espaço físico onde ocorrerá o Júri fica à critério de cada pro- i Tempo de vida útil de um produto, ou seja, intervalo de tem-
fessor e de acordo com a disponibilidade de cada escola. Sugerimos po que os produtos perecíveis possuem antes do seu consumo ser
que o júri seja realizado em espaço aberto, dentro do anfiteatro, considerado inadequado.
pátio ou na própria sala de aula. ii Reação de decomposição ou alteração de uma substância
O juiz (professor) abre a sessão e chama o primeiro “réu” (que pela água.
pode ser representado por uma imagem ou objeto referente a clas- iii Foto-oxidação é a degradação de uma superfície de polí-
se de polímeros, por exemplo réu P1 representado por um cano de mero, na presença de oxigênio ou ozônio. O efeito é facilitado por
PVC, réu P3 por um material feito de PET verde, e assim por diante, energia radiante tais como raios UV ou luz artificial.
use a Figura 2 para nortear as ideias). O grupo representando os iv Propriedade de um material em repelir a água.
advogados de acusação, acusam o réu (5 min). Em seguida, o grupo
representando os advogados de defesa, defendem o réu em réplica
(5 min). O grupo representando o júri popular toma notas. Ao final LORRAINE, M.; MARCIA BORIN DA, C. PROBLEMATIZAÇÃO:
da apresentação dos argumentos de acusação e defesa de todos POSSIBILIDADES PARA O ENSINO DE QUÍMICA. QUÍMICA
os réus, os jurados decidem a sentença, junto com o juiz (5 min) e, NOVA NA ESCOLA, 2020.
depois, os jurados se reúnem para deliberar sobre a sentença final
(5 min). O veredicto será anunciado na última aula, após todo o
debate ter sido encerrado. Problematizar temas, conceitos e assuntos pode ser uma óti-
ma ferramenta para as aulas de Ciências e de Química no ensino
Desequilibração - Aula 5: Veredicto e Considerações Finais escolar regular. Denomina-se “problematização” a essa prática de
Finalmente, os jurados retornam com o veredicto. Após o utilizar problemas no ensino. Não se trata, porém, de uma ferra-
anúncio, o juiz encerra a sessão. Após o término da sessão, o pro- menta singular, pois a bibliografia da área de Educação/Ensino in-
fessor poderá levantar questionamentos se a sentença foi justa para forma várias possibilidades para conduzir a aplicação didática da
cada um dos réus, de forma a manter a discussão sobre polímeros e problematização. Neste estudo serão elencadas algumas dessas
seu papel no mundo atual, reforçando a ideia de que essa sentença, possibilidades a título de um resgate teórico descritivo. Trata-se de
pode ser enquadrada nos 5R`s (Repensar, Reduzir, Recusar, Reuti- sintetizar propostas metodológicas que indiquem maneiras diferen-
lizar e Reciclar) e não apenas em “abolir” ou “manter uso”. Nes- tes de problematizar temas, conceitos e assuntos. Todas as propos-
te momento, o professor pode utilizar novamente o questionário tas aqui apresentadas podem ser consideradas como possibilidade
(Quadro 1) e acrescentar a seguinte pergunta “6 - Como podemos para atividades didáticas nas aulas de Química.
utilizar os plásticos de forma sustentável?”. O ensino de Ciências mediante a utilização de “problemas” é
uma das formas possíveis para as atividades em sala de aula. Nas
Considerações Finais aulas de Ciências/Química, a prática didática baseada em proble-
Nossa sociedade está em constante transformação e propor- mas pode ser considerada como recurso importante para o desen-
cionar meios para os jovens estudantes serem protagonistas de volvimento de atividades investigativas, como, por exemplo, “En-
sua formação como cidadão tem sido o papel da escola. O ensi- sino por Investigação”, “Situações de Estudo”, “Estudo de Casos”,
no de química nesse contexto é de suma importância para que o “Três Momentos Pedagógicos”, entre outros.
estudante compreenda o mundo que o cerca e saiba tomar deci- Os objetivos para utilizar problemas em sala de aula centram-
sões coerentes em equilíbrio com o meio ambiente e a sociedade. -se na motivação dos estudantes em participar ativamente na cons-
Como exemplificado neste artigo, os conceitos de química (ligações trução dos conhecimentos científicos. De modo simplificado, o ato
químicas, hidrólise, foto-oxidação, responsabilidade ambiental, 5 de utilizar problemas no ensino vem sendo denominado como
R’s) são importantes para compreender os polímeros, bem como “problematização”.
os conceitos de sustentabilidade, promovendo o desenvolvimento Esta se estrutura em dois sentidos: i) o epistemológico, ligado
do pensamento crítico e social. Assim, frente aos desafios do novo à produção do conhecimento científico pelos estudantes e ii) o pe-
modelo do ensino médio, podemos afirmar que a temática susten- dagógico, como ferramenta para o processo de ensino e aprendiza-
tabilidade é imprescindível na formação do jovem estudante e, esta gem. Delizoicov (2005) afirma que problematizar também é a esco-
pode ser desenvolvida em vários IFs, além dos quais tem a química lha e a formulação adequada de problemas para introduzir um novo
diretamente correlacionada. Portanto, mesmo em IFs que não es- conhecimento (para o aluno). Para esse autor: “[...] é preciso que o
tão ligados a Ciências da Natureza e suas Tecnologias é necessá- problema formulado tenha uma significação para o estudante, de
rio o embasamento químico e científico para as discussões sobre modo a conscientizá-lo de que a sua solução exige um conhecimen-
sustentabilidade. De tal forma, a proposta de aula sugerida vem ao to que, para ele, é inédito” (Delizoicov, 2005, p. 30).
encontro com as diretrizes do novo ensino médio em que o estu- Problematizar é estabelecer um “diálogo” entre conhecimen-
dante deve ser o protagonista de seu conhecimento. Esta atividade tos, colocando em discussão a interpretação dos estudantes sobre
possibilita aos estudantes assentir a construção do conhecimento determinada realidade e as teorias científicas, ou seja, problemati-
científico de forma crítica e isto auxilia no seu crescimento enquan- za-se tanto o conhecimento dos estudantes quanto o conhecimento
to cidadão, pois permite um crescimento tanto em suas tomadas científico em discussão. Assim, entendemos como “problematiza-
de decisões em sociedade, em seu entorno ou até mesmo quanto ção” todo o processo de discussão que é gerado quando um pro-
à cobrança de políticas públicas mais eficientes pelos órgãos admi- blema é proposto em atividade pedagógica e que leve o estudante
nistrativos. à construção do conhecimento por meio da reflexão, do diálogo e
da participação ativa. É nessa perspectiva que este artigo tem como
objetivo apresentar algumas propostas que fazem uso da proble-
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matização e que podem ser utilizadas para atividades em sala de Aprendizagem Baseada em Problemas (Problem-Based Lear-
aula. Trazemos então as seguintes propostas: Metodologia da Pro- ning − PBL)
blematização, Aprendizagem Baseada em Problemas, Resolução de A Aprendizagem Baseada em Problemas – PBL (sigla em inglês)
Problemas, Temas Geradores, Três Momentos Pedagógicos, Ensino fundamenta-se em princípios educacionais e em resultados de pes-
por Investigação, Estudo de Casos, Situação de Estudo e Ilhas de quisas em ciência cognitiva. Esses princípios mostram que a apren-
Racionalidade. A pretensão é identificar como a problematização dizagem não é um processo de recepção passiva nem acúmulo de
é apresentada nessas propostas metodológicas. Ao final de cada informações, mas processo de construção de conhecimento (Ribei-
proposta informamos alguns pesquisadores da área de Ensino de ro, 2008). Nesse processo, o pressuposto é a centralidade e a auto-
Química que estudam essas metodologias, a fim de dar subsídios nomia do estudante na aprendizagem, o que envolve, como princi-
aos leitores para leituras mais aprofundadas. pal característica, a relação de conteúdos disciplinares estruturados
sempre no contexto de um problema orientado para discussão em
Metodologia da Problematização − MP grupo. Munhoz (2015) desdobra a PBL em três estágios, os quais
A Metodologia da Problematização − MP tem como fundamen- visam proporcionar a formação de pessoas com habilidades de:
to o Método do Arco de Maguerez. Esse método teve início em i) desenvolver soluções claras baseadas em argumentos e em in-
1970, quando o francês Charles Maguerez aceitou a proposta de formações para a solução do problema, ii) capacitar pessoas para
trabalhar com a integração de adultos imigrantes de países africa- acessar e avaliar dados de diferentes fontes e iii) criar aptidão para
nos que foram morar na França para trabalhar na agricultura e na definir claramente como será realizada a solução de um problema.
indústria. Essa iniciativa tinha o objetivo de fazer com que aqueles Os estágios são: Primeiro estágio: caracteriza-se pela compreensão
estudantes compreendessem os conteúdos específicos do trabalho, e pela definição do problema por parte do estudante. Os estudan-
da língua e da cultura do país. tes deparam-se com um problema da vida real, sendo-lhes então
Esse método foi apresentado no Brasil por Bordenave e Pereira solicitado que respondam a algumas questões, como: “O que eu já
(1982). Os autores apresentaram esse método aliado aos estudos sei sobre o problema ou pergunta colocadas?” e “O que eu preciso
relacionados às ideias da “Educação Problematizadora”, de Paulo saber para resolver efetivamente esse problema?” (Munhoz, 2015,
Freire (Berbel, 2014). A MP aborda questões de maneira proble- p. 127); Segundo estágio: os estudantes coletam, armazenam, ana-
mática, ou seja, carrega consigo a concepção reflexiva de enfrenta- lisam e escolhem informações que, possivelmente, vão utilizar para
mento a problemas que a realidade apresenta, tendo por objetivo solucionar o problema; Terceiro estágio: os estudantes constroem
provocar e criar condições para o desenvolvimento de uma atitude a solução para o problema. É nessa etapa que ocorre a síntese e a
crítica diante de determinadas situações problematizadoras. O en- avaliação do processo.
sino, segundo o Arco de Maguerez, considera a realidade ou um Esta metodologia teve início no Curso de Medicina da Univer-
recorte dela e segue um “caminho didático”. sidade McMaster, no Canadá, e na Universidade Maastricht, na Ho-
Segundo Berbel (2014), as etapas que compõem o caminho di- landa. No Brasil, segundo Soledade (2015), a PBL foi primeiramente
dático são: i) Observação da realidade vivida: o ponto de partida utilizada no Curso de Medicina de Marília (FAMEMA/SP) e no da
é a realidade vivida, aquela parcela de realidade na qual o tema a Universidade Estadual de Londrina (UEL/PR). Ainda que pioneira-
ser trabalhado está inserido na vida real; ii) Pontos-chave: definido mente utilizada em cursos de Medicina, é possível utilizar a PBL em
o problema de estudo, os estudantes fazem um trabalho de refle- outras áreas, pois os seus princípios se mostram suficientemente
xão, identificando os prováveis elementos que estão relacionados “potentes” para o seu desenvolvimento sem que as adaptações pre-
ao problema; iii) Teorização: os estudantes escolhem a forma de judiquem o processo. Nesse sentido, a PBL tem sido discutida por
estudo e as fontes de informação (livros, bibliotecas, revistas, pro- professores de Química como alternativa para superar os modelos
fessores, colegas etc.), ou seja, é na teorização que os estudantes de recepção de informações do método tradicional, que divide os
definem a metodologia para realizar o estudo; iv) Elaboração das conhecimentos científicos em disciplinas isoladas. Autores como
hipóteses de solução: após a etapa de teorização, caminha-se para Santos, Godoy e Correia (2008), Lopes et al. (2011), Piccoli (2016)
a elaboração das hipóteses de solução, isso por meio do estudo têm apresentado propostas para a PBL para o ensino de Química.
teórico; v) Aplicação a realidade: é a etapa prática de ação sobre
a mesma realidade em que foi identificado o problema; extrai-se, Resolução de Problemas − RP
portanto, um problema da realidade, faz-se um estudo sobre esse O método de ensino denominado Resolução de Problemas –
problema, investigam-se, discutem-se os dados obtidos e se volta à RP teve a sua origem na Educação Matemática, desde a tradução,
mesma realidade com ações que sejam capazes de modificá-la de no Brasil, do livro do National Council of Teachers of Mathematics
alguma forma. em 1980. Este livro trouxe artigos de especialistas, em sua maioria
No ensino de Química podemos encontrar trabalhos de Dorea, americanos, sendo um deles o texto de George Pólya, de 1949, que
Chiaratto e Alves-Souza (2010) e de Almeida et al. (2016). Ressalta- motivou maiores discussões sobre a questão da Resolução de Pro-
-se que essa metodologia surgiu para a alfabetização de agriculto- blemas em Matemática. Paulatinamente a Resolução de Problemas
res e, atualmente, existe um maior número de trabalhos na área da começou a ser considerada no ensino de Ciências de uma forma
Saúde, sendo essa metodologia ainda pouco utilizada no ensino de mais ampla e não apenas numérica.
Ciências e de Química. A RP está diretamente relacionada ao currículo escolar, pois
envolve ativamente os estudantes no processo de aprendizagem,
promovendo o desenvolvimento de competências cognitivas rele-
vantes, possibilitando-lhes refletir, raciocinar, argumentar e tomar
decisões diante de cada problema proposto (Leite e Esteves, 2005).

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Desse modo, o processo de aprendizagem por meio da RP rículo e realidade, tendo por objetivo promover uma discussão so-
permite que o estudante desenvolva a capacidade de situar-se no bre esses assuntos na ideia de que “[...] estão ligados à investigação
mundo que o rodeia e de mobilizar o próprio conhecimento cientí- do universo temático da ‘comunidade’ e sua inserção no sistema
fico, aumentando não só os saberes, mas também desenvolvendo sócioeconômico e cultural” (São Paulo, 1990, p. 4).
atitudes e competências cognitivas importantes para a formação De acordo com esses “Cadernos”, o Tema Gerador possui qua-
científica (Lopes, 1994). tro pressupostos: i) Estudo da realidade: consiste em buscar situa-
Gil Pérez et al. (1992) propõem um modelo com algumas ções significativas, do individual, do social e do histórico e uma re-
orientações a serem consideradas para a resolução de problemas: lação que oriente a discussão da interpretação e da representação
Orientação 1: “Considerar qual pode ser o interesse da situação dessa realidade; ii) Visão de totalidade e abrangência dessa realida-
problemática abordada” (p. 14). Para os autores é necessário que de: uma vez conhecendo o limite entre a compreensão que o estu-
os estudantes estejam envolvidos no desenvolvimento da proble- dante tem sobre a realidade, “[...] o tema gerador pressupõe, pois,
matização, desde que possuam uma ideia prévia sobre a temática a superação desse limite” (p. 8); iii) Ruptura do conhecimento no
que os motiva para a RP; Orientação 2: “Começar por um estudo nível do senso comum: entende-se por senso comum a ideia de um
qualitativo da situação, tentando abordar e definir de maneira modelo explicativo que o sujeito tem para explicar um fenômeno,
precisa o problema, explicitando as condições que se consideram que não lhe permite “[...] transpor a visão imediatista e sincrética da
reinantes” (p. 14). Os estudantes têm de ser capazes de imaginar realidade” (p. 8); iv) Metodologia dialógica: fundamenta-se em uma
as situações físicas, tomar decisões para resolver os problemas e metodologia de trabalho que inclua o diálogo em sua centralidade,
explicar o que se querem determinar; Orientação 3: “Emitir hipó- que caminhe na direção da participação do estudante, na discussão
teses fundadas sobre os fatores dos quais pode depender a gran- coletiva, exigindo do professor disponibilidade para o diálogo e uma
deza buscada e sobre a forma dessa dependência, imaginando, “[...] postura crítica, de problematização constante, de distan-
em particular, casos limites de fácil interpretação física” (p. 14): é ciamento de estar na ação e de se observar e se criticar nessa ação”
o momento em que os estudantes criam novas possibilidades para (p. 8).
resolver o problema proposto a eles; Orientação 4: “Elaborar e ex- Além disso, o tema gerador possui dois eixos, um deles voltado
plicar possíveis estratégias de resolução antes de a esta proceder, para o momento em que as áreas do saber se relacionam interdisci-
evitando o puro ensaio e erro” (p. 15): baseia-se em buscar manei- plinarmente, e o outro, que se constitui como referencial, permitin-
ras de resolução para o problema que possibilite a constatação dos do ao estudante fazer uma leitura crítica da sociedade. De maneira
resultados, mostrando coerência no conhecimento já elaborado; geral, a educação libertadora traz a ideia de que a educação é uma
Orientação 5: “Realizar a resolução verbalizando ao máximo, fun- atividade em que os sujeitos, educandos e educadores, mediatiza-
damentando o que se faz e evitando, uma vez mais, operativismos dos pelo mundo, se educam em grupo. Diante disso, há autores que
carentes de significação física” (p. 16): é importante, nesse momen- trabalham com propostas para a inserção dos TGs no ensino de Quí-
to, fazer um planejamento das estratégias de resolução do proble- mica, autores como Miranda, Braibante e Pazinato (2015), Santos,
ma sem que se imponha uma rigidez no processo, pois deve ser Santos Júnior e Santos (2016).
possível, se necessário, voltar atrás e buscar outros caminhos para
a resolução do problema; Orientação 6: “Analisar cuidadosamente Três Momentos Pedagógicos − MPs
os resultados à luz das hipóteses elaboradas e, em particular, dos A prática dos Momentos Pedagógicos − MPs é originária das
casos limites considerados” (p. 16): é um dos pontos principais na ideias e dos pressupostos de Paulo Freire sobre os Temas Gerado-
RP, pois possibilita a verificação de contradições nas hipóteses e na res e a educação problematizadora, apresentada anteriormente.
estrutura do conhecimento; Orientação 7: “Considerar as perspec- Ela apresenta a esfera da problematização implícita em seus mo-
tivas abertas pela investigação realizada” (p. 17): contemplar, por mentos, pois permite ao professor, por meio de aspectos relaciona-
exemplo, o interesse de desenvolver o problema em um nível de dos à realidade dos educandos, discutir, refletir, investigar, dialogar,
maior complexidade, considerando suas suposições teóricas ou problematizar tais situações. É necessário, porém, ter consciência
práticas, concebendo novas situações que possam surgir durante de que os MPs não podem ser reduzidos a uma estratégia didática
a investigação realizada; Orientação 8: Elaborar uma memória que cuja utilização se restrinja apenas à organização das aulas. A dinâ-
explique o processo de resolução e que destaque os aspectos de mica dos MPs abordada por Delizoicov (1991) pode ser caracteriza-
maior interesse no tratamento da situação considerada (p. 17): é o da por: i) Problematização inicial: são apresentadas aos estudantes
momento de sistematizar o estudo envolvido na investigação, pois questões e/ou situações para discussão. A finalidade é criar uma
essa sistematização contribui no processo de construção conheci- motivação para iniciar um conteúdo específico que tenha relação
mento. A RP é uma metodologia de ensino que ajuda a desenvolver com situações que fazem parte da realidade dos educandos, ou
a organização cognitiva do estudante, exercitando sua criatividade, seja, algo que eles conhecem e presenciam, algo de que, provavel-
tornando-o capaz de aprender e de desenvolver esse conhecimento mente, não possuem conhecimentos científicos suficientes para in-
em diferentes contextos que envolvem problemas. Nesse sentido, terpretar; ii) Organização do conhecimento: os conhecimentos para
Marques (2017) menciona alguns autores que discutem o ensino a compreensão do tema e da problematização inicial são estudados
de Química, como: Francisco Jr., Ferreira e Hartwig (2008 b), Costa e sob orientação do professor. O conteúdo é desenvolvido com o ob-
Moreira (2006) e Freire et al. (2011). jetivo de possibilitar ao estudante a compreensão da existência de
outras visões e explicações para certos fenômenos da ciência que
Tema Gerador − TG são problematizados, comparando esses conhecimentos com aque-
Em 1990, tomando como base os pressupostos de Paulo Freire, les que ele já tinha, utilizando-os na interpretação e compreensão
a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo publicou os “Ca- de fenômenos e situações científicas; iii) Aplicação do conhecimen-
dernos de Formação”, com um capítulo voltado ao Tema Gerador e to: o conhecimento é analisado e interpretado à luz das situações
à Construção do Programa, tratado de uma nova relação entre cur-
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iniciais que determinaram seu estudo, relacionando com outras si- atividade experimental ou restrita a ela, pois o EI é bastante amplo
tuações que não estejam diretamente ligadas com a discussão ini- e nele os estudantes têm autonomia para conduzir o processo de
cial, mas que são explicadas pelo mesmo conhecimento. investigação (Oliveira, 2015). Nesse sentido, há autores como Bian-
Autores como Francisco Jr., Ferreira e Hartwig (2008) e Pazinato chini e Zuliani (2009), Cunha (2009), Vieira (2012) e Wartha e Lemos
e Braibante (2014b) apresentam meios para trabalhar com o ensino (2016), que apontam propostas para trabalhar com o EI no contexto
de Química mediante o uso do recurso dos MPs. do ensino de Química. Situações de Estudo − SE O recurso didático
denominado Situações de Estudo − SE está sendo pesquisado pelo
Ensino por Investigação − EI Grupo Interdepartamental de Pesquisa sobre Educação em Ciências
O Ensino por Investigação (inquiry – em inglês) tem a sua ori- − GIPEC, que começou a se constituir em janeiro de 2000, vinculado
gem no contexto norte-americano, cujo objetivo principal era ofe- à Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
recer uma forma de ensino diferente do modelo diretivo. No início Sul − UNIJUÍ. O GIPEC, ao investigar os processos de ensino e apren-
do século XX, Dewey defendia que a ciência é mais do que um corpo dizagem nos currículos escolares da área das Ciências da Natureza
de conhecimento que está posto e que deve ser aprendido. Pelo e suas tecnologias, observou que há poucos avanços na aprendiza-
contrário, propunha que a educação escolar deveria contribuir para gem e no desenvolvimento dos estudantes na educação básica, o
a construção de uma sociedade mais humanizada e democrática. que se reflete em dificuldades posteriores, no ensino superior.
Assim, em meados da década de 1940, ele propôs uma nova inter- O recurso didático SE apresenta boas possibilidades de utili-
pretação para o método científico de modo a atender ao desen- zação no ensino de Ciências na educação básica. Trata-se de uma
volvimento reflexivo dos estudantes. Nesse seu novo modelo, os organização curricular fundamentada na abordagem histórico-cul-
problemas deveriam estar relacionados com experiências dos estu- tural de Vigotski (Maldaner; Zanon, 2001), indicando preocupação
dantes e as atividades deveriam ser ativas para a busca da solução mais cognitiva do que pedagógica. Delizoicov (1991) e Auth (2002)
dos problemas. seguem uma dinâmica sistematizada em três etapas: i) Problema-
A partir das ideias iniciais de Dewey é que se chega ao Ensi- tização: busca explicar o primeiro entendimento que os estudantes
no por Investigação, no qual as atividades são centradas nos estu- têm sobre uma determinada problemática. Sendo esse entendi-
dantes, assim possibilitando o desenvolvimento da autonomia e da mento apenas inicial, ele vai apresentar a necessidade de novos co-
capacidade de tomar decisões e de resolver problemas. Essa abor- nhecimentos. É nesse momento que o estudante é desafiado acerca
dagem envolve aprender a observar, planejar, levantar hipóteses, de seu entendimento sobre aspectos relacionados à sua vivência;
realizar medidas, interpretar dados, refletir e construir explicações ii) Primeira elaboração: refere-se a textos de aprofundamento dos
de caráter teórico. Uma das fases mais importantes é a proposição temas discutidos na problematização e ao emprego de atividades
do problema, pois é partir deste que se desenvolve toda a investi- que resultarão em um trabalho de finalização e de socialização para
gação. SE em questão.
De acordo com Carvalho (2013), para um professor iniciar uma É por meio dessas atividades que o estudante terá o primeiro
aula por meio do EI é preciso promover um ambiente questionador contato com o conhecimento científico; iii) Elaboração e compreen-
e aberto à discussão. Uma das maneiras de desenvolver o EI é pre- são conceitual: é nessa etapa que o estudante retoma as questões
parando uma Sequência de Ensino Investigativa − SEI, que se cons- iniciais apresentadas na etapa da problematização, pois é preciso
titui em quatro etapas: 1º Etapa: Distribuição do material experi- compreender conceitualmente o que lhe foi apresentado. É impor-
mental e proposição do problema: o professor organiza a turma em tante destacar que o estudante, ao formar um pensamento con-
pequenos grupos, distribui o material e propõe o problema. O pro- ceitual, obterá condições para compreender novas situações além
fessor é responsável por verificar se todos entenderam o problema, das apresentadas durante o desenvolvimento da SE (Gehlen et al.,
tomando cuidado para não fornecer a solução; 2º Etapa: Resolução 2012).
do problema pelos alunos: o importante são as ações manipulativas Ao pensarmos no ensino de Ciências, busca-se estudar o re-
que dão condições para os estudantes levantarem hipóteses e as curso das SE como “[...] potencialidades ainda pouco exploradas e
testarem, pois é partir da verificação das hipóteses que os estudan- que extrapolam visões lineares e fragmentadas desse componente
tes serão capazes de construir o conhecimento. Hipóteses não vali- curricular, tão importante na formação de crianças, adolescentes e
dadas também são levadas em consideração nessa construção; 3º jovens” (Maldaner; Zanon, 2004, p.1).
Etapa: Sistematização dos conhecimentos elaborados nos grupos: No contexto do ensino de Química há autores como Broietti, Al-
o professor é responsável por verificar se os grupos terminaram de meida e Silva (2012) e Stazani et al. (2016) que discutem estratégias
resolver o problema, recolhendo o material experimental, condu- de ensino de Química com o recurso das SE. Estudo de Casos − EC
zindo a uma discussão geral – também deve incentivar a participa- De acordo com Queiroz (2012), o recurso didático de Estudo de
ção de cada estudante na discussão e ajudá-los a ter consciência Casos − EC é uma variante da Aprendizagem Baseada em Problemas
das suas atitudes no processo de resolução do problema; 4º Etapa: − PBL e, desde os anos 2000, esse método tem sido trabalhado no
Escrever e desenhar: aqui ocorre a sistematização individual do co- Brasil pelo Grupo de Pesquisas em Ensino de Química do Instituto
nhecimento. Nesse momento o professor solicita que os estudantes de Química de São Carlos − GPEQSC1.
escrevam ou desenhem sobre o que aprenderam durante a aula. Segundo Sá e Queiroz (2009, p. 9), “A metodologia de ensino
Essa é uma atividade complementar, mas igualmente importante Estudo de Casos tem origem no método Aprendizagem Baseada em
para a construção do conhecimento. Problemas (ABP), conhecido também como Problem Based Lear-
A SEI é uma sequência de atividades em aula em que um tema ning (PBL) […]. Sabe-se que, por muitos anos, a metodologia Estudo
é colocado em investigação e pode ser organizada de diferentes de Casos foi empregada apenas no nível superior”.
maneiras, como jogos, textos, pequenos vídeos, figuras recortadas
de revistas, entre outros materiais (Carvalho, 2013). Mesmo assim,
uma abordagem investigativa não precisa necessariamente ser uma
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O método do EC exige do professor uma participação ativa, não se limitando a simples escolha de um caso a ser utilizado em sala de
aula, pois, antes do desenvolvimento do “caso”, há um trabalho cuidadoso de quem o escreveu, podendo ser o professor ou não. Ao pro-
fessor é exigido o domínio do assunto abordado no “caso” para as possíveis problematizações.
Tendo o “caso” sido discutido e investigado, o professor deve dedicar-se à avaliação do processo e à apresentação dos resultados por
grupos de estudantes ou individualmente. O EC divide-se em três etapas: i) Preparação para a aula, que se divide em outras três etapas:
seleção do caso: o professor seleciona o caso a ser apresentado; preparação: tendo o caso selecionado, o professor se prepara para utili-
zá-lo em sala de aula; roteiro: elaboração de um roteiro para utilização do caso); ii) Utilização em sala de aula, que consiste na discussão
em sala de aula do caso pelos estudantes; iii) Tarefa pós-aula, que corresponde à avaliação do processo de resolução do caso (Pazinato;
Braibante, 2014a).
O desenvolvimento do recurso de EC pode ser diversificado e varia conforme a intenção do professor e o que ele espera que os estu-
dantes compreendam no processo de resolução do problema proposto. De acordo com Herreid (1998), há um esquema de classificação
que sugere ao professor explorar os casos da seguinte forma: i) Tarefa individual: o “caso” possui característica de um problema que o
estudante deve solucionar e que resultará na elaboração de uma explicação histórica dos fatos que conduziram à sua resolução; ii) Aula
expositiva: o “caso” tem o caráter de uma história narrada pelo professor aos estudantes, bem elaborada e com objetivos específicos; iii)
Discussão: o professor apresenta o/s “caso/s” como um problema e os estudantes são questionados a respeito de suas ideias e sugestões
em relação à resolução do problema; iv) Atividades em pequenos grupos: o/s “caso/s” é/são estudado/s por grupos de estudantes que
devem trabalhar em conjunto para solucioná-lo/s.
Diante do esquema, é necessário que os estudantes identifiquem o problema, utilizem-se de informações para solucioná-lo e façam
a apresentação da solução. Compete ao professor auxiliar os estudantes na definição do problema, considerando as possíveis soluções e
incentivando reflexões e discussões/problematizações diante das decisões tomadas (Sá e Queiroz, 2009).
Autores como Broietti, Almeida e Silva (2012), Pazinato e Braibante (2014a) e Faria e Freitas-Reis (2016) discutem a perspectiva do EC
no ensino de Química, além dos autores já mencionados anteriormente (Sá; Queiroz, 2009).

Ilhas de Racionalidade −IR


Para Fourez (1997), a chamada alfabetização científica deve estar transposta pela tecnologia, determinada por ele de Alfabetização
Científica e Técnica − ACT, pois esta permite que o sujeito apresente características como autonomia para tomar decisões, domínio diante
de situações concretas e comunicação. Nesse sentido, para que a compreensão de como a ciência deve ser ensinada nas escolas, Fourez
(1997) sugere uma proposta didática denominada de Ilhas Interdisciplinares de Racionalidade − IIR, que, de acordo com as ideias da ACT,
se baseia no recurso didático da resolução de problemas e das situações cotidianas dos estudantes.
Para Fourez (1997), o recurso da IIR pode ser caracterizado por um conhecimento construído por engenheiros, médicos, professores
e leigos, dependendo da situação específica, ou seja, uma seleção de informações ou a estruturação do modelo que a ilha busca construir,
possibilitando uma discussão da situação.
Diante dessa ideia, uma IIR pode ser definida como “[...] a representação que se faz de uma situação precisa, representação que
sempre envolve um contexto e um projeto que lhe dão sentido. Ela tem por objetivo permitir uma comunicação e debates racionais (no-
tadamente sobre as tomadas de decisões)” (Fourez, 1997, p. 5).
Uma IIR se inicia sempre de uma situação-problema que determinará um projeto que envolve aspectos do cotidiano do estudante
para atribuir significado ao ensino escolar. Geralmente uma IIR é apresentada com uma questão (Bettanin, 2001). Fourez (1997) aponta,
para o desenvolvimento das IIRs, oito passos, embora não haja necessidade de serem rigorosamente seguidos. Cabe ao professor adap-
tá-los à realidade dos estudantes e da sala de aula para a sua utilização, sendo: i) Fazer um clichê da situação estudada: é o ponto de
partida da discussão e se caracteriza por um conjunto de perguntas que são direcionadas ao grupo de estudantes – pode-se dizer que esse
momento é uma problematização inicial da situação em estudo; ii) Panorama espontâneo: elaboração de perguntas orientadoras que
buscam aprofundar a discussão da etapa anterior; iii) Consulta aos especialistas e às especialidades: o grupo que desenvolve o projeto
procura e escolhe especialistas para sanar dúvidas que possam surgir durante o desenvolvimento; iv) Ida à prática: momento em que
ocorre a discussão entre a experiência e a situação concreta, quando há um aprofundamento da situação que é definida pelo projeto e
quem o desenvolve; v) Abertura aprofundada de algumas caixas-pretas e descoberta de princípios disciplinares que formam a base de
uma tecnologia: momento em que se pode trabalhar com uma disciplina específica − caracteriza-se pelo estudo mais aprofundado de
alguns pontos do projeto; vi) Esquematização global da tecnologia: elaboração da síntese do objeto em estudo na IIR; vii) Abrir umas
caixas-pretas sem ajuda de especialistas: construção de explicações de temas do cotidiano sem o auxílio de especialistas; viii) Síntese da
IR produzida: apresentação do resultado final da IR construída.
A utilização do recurso das IIRs em sala de aula visa colaborar com a ACT dos estudantes, objetivando a construção de um sujeito autô-
nomo no processo de aprendizagem, de um sujeito que consiga dialogar com pares e tomar decisões quando confrontado por situações do
cotidiano (Bettanin, 2001). Nesse universo didático encontramos autores que discutem as IIR no ensino de Química, como: Milaré (2014),
Richetti e Alves Filho (2014) e Miletto e Hartmann (2017).

Algumas associações entre as propostas


Como forma de síntese e compilação das metodologias anteriormente apresentadas, elaboramos o Quadro 1 com as principais ca-
racterísticas das metodologias e, a partir desse quadro, estabelecemos associações entre as propostas que fizeram parte deste resgate
teórico.

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Quadro 1: Características gerais das propostas metodológicas

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Quadro 1: Características gerais das propostas metodológicas (cont.)

Fonte: os autores

As metodologias apresentadas são desdobradas em momentos que nos conduzem para o seu desenvolvimento em sala de aula. Po-
demos perceber que MP, PBL, RP, TG, MPs, EI, SE e EC possuem maior número de aproximações em suas características do que diferenças,
dificultando a distinção de uma metodologia em relação às outras. O elemento comum e inicial dessas metodologias é que todas princi-
piam selecionando um “problema” como recurso didático. A MP possui elementos semelhantes à PBL, mas, enquanto na PBL o estudante
se depara com um método pragmático, tendo foco na resolução de problemas criados, na MP o estudante desenvolve a capacidade de
identificar e elaborar os problemas que partem de situações reais e para as quais há necessidade de buscar uma solução prática. A ênfase
na MP é dada pela reflexão que está por trás da solução e, posteriormente, a apresentação da solução para o problema. Podemos dizer
que a PBL se diferencia da MP em função de o seu fundamento ocorrer em diferentes linhas teóricas. Na PBL, os problemas de ensino
são elaborados por especialistas para abarcar conhecimentos gerais de uma proposta curricular, enquanto que, na MP, os problemas são
formulados pelos estudantes a partir de observações da realidade para algo que não possui resposta pronta (Silva; Delizoicov, 2008).
Ao analisarmos a RP percebemos que essa metodologia prioriza o problema e sua resolução, sendo a solução menos importante, di-
ferentemente das demais metodologias, que enfatizam o processo de solução dos problemas, assim como a construção deles. Ainda a RP
possui “orientações”, que podem ou não ser seguidas. Por outro lado, as metodologias, como MP, MPs, TG e EI (a partir das SEIs), SE, EC e
IIR possuem “etapas” ou “momentos” que nos indicam os caminhos a serem (ou que podem ser) seguidos.
Em MPs, TG e MP, o problema provém da realidade do estudante, mas cada uma dessas metodologias tem especificidades para a
tilização da realidade, pois o recurso dos MPs problematiza a realidade dos estudantes, o TG trabalha com temas da realidade local e di-
reta dos estudantes, problematizando-os e a MP parte da realidade vivida dos estudantes, para problematizar e desenvolver etapas que
tenham como fim a construção do conhecimento científico. Na SE, o problema ou situação é apresentado/a ao estudante a partir de uma
situação real e pertencente ao seu contexto. É a partir de um tema da vivência do estudante que se propõe uma organização curricular
para o estudo. Por outro lado, ao se trabalhar com a PBL é possível problematizar os conceitos a partir de um problema proposto por es-
pecialistas, como, por exemplo, os problemas encontrados nos livros didáticos.
Diante disso, podemos dizer que a problematização pode ser encontrada em diferentes metodologias, cada uma empregando uma
forma de trabalho com perspectivas que ora se aproximam e ora se distanciam, mas todas têm como fundamento a construção de conhe-
cimentos científicos de forma ativa e, na qual, o estudante tem papel fundamental,
o que o insere em um contexto de entendimento da ciência de forma situada e não apenas conceitual.

Nota
1 No site do grupo de pesquisa é possível acessar vários exemplos de casos investigativos que são disponibilizados gratuitamente para
se trabalhar em sala de aula: <www. gpeqsc.com.br>.

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MARA, T. ET AL. ENSINO DE SOLUÇÕES QUÍMICAS POR MEIO DO ENFOQUE CIÊNCIA-TECNOLOGIA-SOCIEDADE.

Introdução
Por perceber, durante a prática docente, que muitos alunos de Ensino Médio não conseguem estabelecer relações entre os conceitos
químicos apresentados em sala de aula e as modificações que ocorrem no meio em que vivem, pois geralmente, os conceitos relacionados
às Soluções químicassão trabalhados em sala, com ênfase nos cálculos e aplicações de fórmulas, sem relações com as atividades da vida
cotidiana, fato que acaba por valorizar os aspectos quantitativos do conteúdo, deixando para segundo plano os qualitativos, como afirma
Echeverria (1996), moldando um conhecimento abstrato e incompreensível para o aluno.
Nesse estudo, optou-se por explorar os conceitos químicos sobre Soluções por ser este, um conteúdo considerado de difícil com-
preensãopelos alunos da 2ª série do Ensino Médio em geral, principalmente por relacionar fórmulas e cálculos matemáticos ao estudo
da química, o que exige do professor utilizar estratégias diferenciadas de ensino para o aprendizado da ciência possibilitando a ACT. No
entanto, outros conceitos químicos foram abordados durante as atividades oportunizando adequar os conteúdos programados. Além dos
conceitos relacionados às Soluções químicas, os conteúdos programáticos de Química para a 2ª série do EnsinoMédio no estado do Para-
ná, Brasil, envolvem ainda o estudo sobre: Transformações químicas, Termoquímica, Cinética química, Equilíbrioquímico e Eletroquímica.
Para o estudo, inicialmente procurou-se identificar as concepções prévias dos alunos sobre as Soluções químicas e sobre as relações
sociais da ciênciae da tecnologia para, a partir dessas concepções prévias, elaborar e desenvolver com os alunos atividades sob um enfo-
que CTS, de maneira a proporcionar a alfabetização científica e tecnológica.
Assim, neste artigo tem-se por objetivo apresentar resultados da pesquisa “Ensino de Soluções Químicas por meio da abordagem
Ciência- Tecnologia-Sociedade”, realizada no mestrado profissional do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Ponta Grossa (UTFPR-PG).

Fundamentos teóricos
A Importância do ensino de soluções na Química
O estudo sobre Soluções, na estrutura da base nacional comum curricularé comumente trabalhado pela disciplina de Química, tanto
em escolasregulares como técnicas, na 2ª série do Ensino Médio. É indiscutível sua importância no ensino de Química, considerando sua
ampla aplicação, tanto nas atividades diárias e de funcionamento dos organismos vivos, como em processos industriais. Apesar de estar
presente na vida das pessoas, seu estudo remete ao conhecimento prévio de outros conceitos químicos, bem como, à aplicação de fórmu-
las e equações vinculadas à noção microscópica dos processos químicos que acabam valorizando os aspectos quantitativos em detrimento
dos aspectos qualitativos (Echeverria, 1996).
Compreendendo o amplo leque de conceitos ligados à definição de Soluções, admite-se a conceituação de Russel (1994, p. 555) que
descreve: As soluções são definidas como misturas homogêneas e podem ser sólidas, líquidas e gasosas. Quando uma solução é muito rica
em um componente, este componente é geralmente chamada solvente, enquanto os outros são chamados de solutos. A composição de
uma solução pode ser expressa quantitativamente especificando-se as concentrações de um ou mais componentes. Várias unidades de
concentração são importantes, incluindo a fração molar, a percentagem molar, a molaridade, a molalidade e a percentagem em massas.
Dessa forma, para um melhor entendimento dos alunos sobre o conteúdoquímico, torna-se necessário trazer para a sala
de aula, diferentes formas de apresentação dos conceitos sobre Soluções, enfocando a familiaridade dotema com ações da
vida diária, extrapolando a sobrecarga do ensino voltado apenas para seu aspecto quantitativo.
Nessa perspectiva e considerando a dificuldade que muitos alunos apresentam em relação ao aprendizado dos conceitos
sobre Soluções e a necessidade desse conteúdo para a sua formação em Técnicos de nível médio em Agropecuária, parte
da pesquisa relacionou as Soluções químicas ao uso dos agrotóxicos, sendo que a outra englobou discussões sobreassuntos
diversificados, relacionados ao impacto da ciência e da tecnologia na sociedade, entendendo que por meio de temas con-
troversos, torna-se possível aumentar o grau de interesse dos alunos pelo conteúdo, contribuindo para sua alfabetização
científica e tecnológica.

O enfoque CTS no ensino da Química


Entende-se que o ensino de Química com enfoque CTS, implica emrelacionar os conteúdos da ciência no contexto da sua base tecno-
lógica e social. A introdução de CTS nos conteúdos disciplinares de Química tem o intuito de possibilitar aos alunos, estarem mais prepa-
rados para tomar decisões, reconhecendo a importância de atuarem como cidadãos na sociedade, percebendo-se capazes de provocar
mudanças que visem amelhoria da qualidade de vida de toda a sociedade.
O ensino no enfoque CTS adquire um caráter interdisciplinar, sendo que aconstrução cognitiva do novo ocorre por meio de intersec-
ções com diferentes perspectivas de análise sobre as interferências da ciência e da tecnologia na vida em sociedade.
No bojo dessas concepções, este estudo buscou respaldo interdisciplinar no enfoque Ciência-Tecnologia-Sociedade para o desenvol-
vimento do processo de ensino e aprendizagem dos conceitos químicos sobre Soluções. Considerando que, dessa forma, seja possível a
contextualização dos conteúdos na abordagem CTS dos temas, caracterizando a função social da química, demonstrando que suas impli-
cações e aplicações fazem parte da vida diária dos alunos. Isso significa que o aluno seria capaz de compreender os efeitos da ciência na
sociedade bem como a influência da sociedade no desenvolvimento científico, os efeitos da tecnologia na sociedade e a dependência da
tecnologia do contexto sociocultural, a importância da ciência no desenvolvimento tecnológico e a interferência da tecnologia em novas
descobertas científicas, de acordo com Santos e Schnetzler (2003).

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No entanto, para relacionar as questões entre ciência-tecnologia- sociedade no ensino de Química, evidencia-se a necessidade de
uma renovação crítica tanto dos conteúdos, como do processo de ensino eaprendizagem. Isso se torna um desafio que o professor precisa
assumir, pois para estimular a atitude crítica, participativa e reflexiva, dos alunos, não se pode reproduzir em aula a postura tecnocrática
e de autoridade que rege a atual conjuntura social.
Entende-se que relacionar a prática pedagógica à perspectiva CTS no estudo da Química no Ensino Médio, torna-se uma possibilidade
de reverter “a assepsia, o dogmatismo, o abstracionismo, a a-historicidade e a avaliação como instrumento de poder para podermos
construir uma educação que busque cada vez mais a construção de uma cidadania crítica” (Chassot, 2010, p. 102).
Nessa perspectiva, Pinheiro, Silveira e Bazzo (2007, p.82), afirmam que:
Com o enfoque CTS, o trabalho em sala de aula passa a ter outra conotação. A pedagogia não é mais um instrumento de controle do
professor sobre o aluno. Professores e alunos passam a descobrir, a pesquisar juntos, a construir e/ou produzir o conhecimento científico,
que deixa de ser considerado algo sagrado e inviolável. Ao contrário, está sujeito a críticas e a reformulações, como mostra a própria
história de sua produção. Dessa forma, aluno e professor reconstroem a estrutura do conhecimento.
O enfoque CTS no ensino de Química propõe a inovação das atividades em sala para que possibilitem redimensionar os conteúdos,
incluindo questões tecnológicas e sociais, além dos conceitos científicoscaracterísticos da disciplina. Com isso, objetiva-se uma aprendi-
zagem ampla, aliada à construção de uma postura cidadã que possibilite ao aluno compreender a natureza da ciência e do seu papel na
sociedade.

Contexto e metodologia
Para o desenvolvimento deste estudo a metodologia da pesquisa considerou o contexto escolar, em específico a sala de aula, como
seu principal foco de investigação. A natureza da pesquisa foi aplicada sendo a abordagem metodológica qualitativa de natureza inter-
pretativa, com a observação participante que, segundo Moreira e Caleffe (2008), a observação participante é uma técnica que possibilita
ao pesquisador entrar no mundo social dos participantes do estudo. Para a coleta de dadosutilizou-se como técnicas: fotos e vídeos das
atividades, as próprias atividades desenvolvidas pelos alunos, arguições orais, relatórios e anotações de memória de campo.
As atividades foram realizadas entre os meses de março e julho de 2011,respeitando a condição de duas aulas semanais de 50 minutos
num total de 40 aulas em cada turma.
O estudo foi desenvolvido com 55 alunos, de duas turmas (A e B) de 2ª série do Ensino Médio, do curso Técnico em Agropecuária de
uma escola pública da cidade de Rio Negro localizada no sul do estado do Paraná - Brasil. Salienta-se que para garantir o anonimato, os
alunos foram identificados por números em relação à turma que pertence de forma a preservar sua identidade. As atividades
realizadas seguiram o roteiroconforme o fluxograma descrito a seguir:

Figura 1.- Fluxograma do desenvolvimento da proposta de ensino. Fonte: Autores (2012)


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Resultados e discussões Aluno 32 – Turma A declara que, a leitura de textos contextua-


Os resultados obtidos neste processo, suas potencialidades e lizados apresentados pelos livros didáticos auxilia na compreen-
limites são neste artigo, apresentados e discutidos em seis catego- são dos conceitos, como uma possibilidade de tornar a linguagem
rias de análise. química mais compreensível, como defendem Mortimer (2000) e
Conceitos de soluções químicas, suas propriedades e aplica- Roque e Silva (2008).
ções: concepções iniciais dos alunos; Como nenhum aluno mencionou conhecimento sobre Solu-
A utilização das soluções químicas no tratamento da água e na ções, questionou-se, oralmente, os alunos para saber o que eles
agricultura, e sua interferência no modo de vida das pessoas; compreendem como sendo uma Solução, apresentando comentá-
A percepção dos alunos sobre as propriedades das soluções rios como: “é uma coisa líquida”. (Aluno 32 – Turma A), “eu acho
químicas na utilização de produtos agrícolas considerando seus in- que é uma mistura de substâncias”. (Aluno 3 – Turma A). Nesse
teresses e implicações sociais; caso, a palavra mistura segundoo aluno, refere-se à união de mais
A importância da divulgação científica na participação social e de uma substância em um mesmo recipiente: “se a gente diluir
de responsabilidade cidadã e profissional do Técnico em Agropecu- alguma coisa é uma solução”. (Aluno 4 –Turma B).
ária na perspectiva da ACT; Percebe-se que apesar de alguns termos importantes terem
Divulgação do conhecimento construído: apresentação dos tra- sido citados como “mistura” e “diluição”, os alunos não demons-
balhos para a comunidade escolar; traram conhecimento químico sobre o conteúdo Soluções. Se por
Percepções dos alunos sobre a proposta de ensino (Niezer, um lado as Soluções são tão importantes para o homem, estando
2012). presentes em várias de suas atividadesdiárias como relata Echeve-
Conceito de soluções químicas, suas propriedades e aplica- ría (1993; 1996), por outro, torna-se difícil parao aluno estabelecer
ções: concepções iniciais dos alunos seu conceito, principalmente, utilizando-se de termos químicos.
Entende-se que para se obter uma condição favorável ao A realização de tal pré-diagnóstico sobre como os alunos per-
aprendizado, é preciso estabelecer um diálogo real, caracterizando cebem o ensino de Química foi importante para identificar os prin-
os conhecimentos prévios dos alunos e suas ansiedades em relação cipais fatores apontados que influenciam no processo de aprendi-
ao tema a ser estudado. Com isso é possível estipular o ponto de zagem, considerando tanto aspectos didáticos da prática docente,
partida do conhecimento ao qual estão aptos a entender, conside- como curriculares em relação à quantidade de conteúdos e tempo
rando que a educação das ciências, bem como seu processo de en- de aula. Sendo assim, esta atividadeabriu espaço para estabelecer
sino, deve enfocar o desenvolvimento do ser humano por meio da estratégias para trabalhar as propriedades e aplicações das Solu-
aprendizagem dos conhecimentos dos fatos reais, explicados e ana- ções, buscando relacionar os conceitos químicos àsatividades coti-
lisados cientificamente, numa perspectiva histórica e social (Santos; dianas e práticas inerentes da formação técnica em agropecuária,
Schenetzler, 2003). no enfoque CTS, visando a ACT.
Sendo assim, foi solicitado aos alunos que, individualmente, Aproveitando para aprofundar as explicações, surgiu a oportu-
descrevessem em uma folha de registro, suas principais dúvidas, nidade de realizar uma visita de estudos à rede de tratamento de
dificuldades, curiosidades e conhecimentos em relação ao tema águas e esgoto que abastece o município, Companhia de Sanea-
Soluções e ao ensino da Química. A maioria dos alunos (90%) se mento do Paraná – SANEPAR, onde os alunos puderam verificar que
prendeu em descrever as dificuldades que encontram na compre- a água recebida nas residências é uma solução composta por várias
ensão dos conceitos químicos como no relato do Aluno 2 – Turma A: substâncias e, portanto, com íons livres que justificam condução de
“tenho bastante dificuldade em química porque não decoro nomes corrente elétrica. Da visita emergiram os dados expostos a seguir.
e símbolos”. O Aluno 17 – Turma B, declara: “minha dificuldade em A utilização das soluções químicas no tratamento da água e na
química é na hora de resolver os exercícios, porque, às vezes, en- agricultura, e sua interferência no modo de vida das pessoas
volve bastante a matemática”. As dificuldades citadas pelos alunos Com o intuito de reconhecer que a água que se retira da tor-
evidenciam a valorização atribuída à memorização e aos aspectos neira é uma solução e de refletir sobre a importância de se preser-
quantitativos em relação aos qualitativos, nas aulas de química, var este recurso natural, evitando poluições e desperdícios (Silva,
conforme discute Echevería (1993; 1996). 2006), os alunos, acompanhados da professora, visitaram a Compa-
Outro fator citado por 20% dos alunos foi a quantidade de con- nhia de Saneamento do Paraná – SANEPAR.
teúdos em relação ao tempo de aula, como se constata na Como sugere Lufti (2005), para ter um melhor aproveitamento
resposta do Aluno 5 –Turma B: “o tempo da aula é muito curto e da visita, foi orientado aos alunos anotarem os seguintes itens do
os conteúdos mudam muito rápido” e também dos Alunos 04 e 14 – roteiro de visita para posterior análise e discussão do trabalho: O
Turma A, que afirmam “mal conseguem entender um determinado que lhes chamou mais a atenção no tratamento da água? Quais são
conceito e na sequência vem outro conteúdo, sem tempo para fazer os processos de separação utilizados? Por que podemos dizer que
muitos exercícios e revisar as informações”. a água que chega até nossas casas éuma solução e não uma única
Alguns alunos (13%), num total de sete das duas turmas, pro- substância? O que podemos fazer, enquanto cidadãos, para preser-
põem formas alternativas de se ensinar os conceitos da ciência var este recurso? De que forma os agrotóxicos podem prejudicar a
para que possam apresentar maior rendimento escolar. O Aluno qualidade da água que usamos?
14 – Turma A sugere: “seria mais fácil de aprender se fossem feitas Durante a visitação foi possível observar o processo de trata-
experiências para complementar as explicações”. Na visão desses mento da água e análise das etapas de separação dos componen-
alunos, as atividades experimentais podem contribuir na compre- tes. Como procedimento característico da Companhia, os alunos
ensão dos conceitos teóricos trabalhados em sala,sendo uma pos- receberam orientações de funcionários, que explicaram desde o
sibilidade de se verificar na prática o que se estuda nasaulas. processo de obtenção da água dos rios, passando por suas etapas
de tratamento, até chegar ao ponto em que fica própria para con-
sumo humano.
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O responsável técnico da companhia relatou os processos de mico direciona isso porque quem possui mais dinheiro consegueter
coagulação, floculação, decantação, filtração, desinfecção e fluore- acesso a melhores recursos, como é o caso das novas tecnologias
tação, utilizados no tratamento da água retirada do rio. Cada eta- de hoje em dia, então isso não é igual para todos e quem é pobre
pa foi explicada com detalhes, elencando as substâncias dentre as sempre sai perdendo“. Os alunos relacionaram o desenvolvimento
quais: sais, ácidos, hidróxidos, gases e outras soluções, aplicadas científico e tecnológico aos recursos financeiros disponibiliza-
nos processos de separação da mistura e no controle físico, químico dos, portanto restrito auma determinada parcela da população,
e biológico da água a ser consumida. não configurando um direito comum, mas sim, como um fator que
Surgiram muitos questionamentos por parte dos alunos, que gera exclusão social e conflitos entre as pessoas (Pinheiro, Silveira
foram prontamente respondidos pelo técnico e anotados em diá- e Bazzo, 2007).
rio de campo para serem analisados. Dentre os questionamentos Tais reflexões acentuam a afirmação de Chassot (2010) ao rela-
discutidos no decorrer das atividades, estão os seguintes: “Tem tar que nossa responsabilidade maior ao ensinar Ciências é procu-
alguma coisa que não se consegue controlar? Como por exemplo, rar que nossos alunos e alunas se tornem mais críticos, no anseio de
deve-se manter o pH igual a 7” (Aluno 33 – Turma A) “Como é corri- que, com o fazer educação, os estudantes possam tornar-se agen-
gido o pH da água?” (Aluno 30 – Turma B), “Para que serve o deio- tes de transformação, para melhor, do mundo em que vivemos.
nizador?” (Aluno 13 – Turma B) “Você falou em turbidez, como ela A percepção dos alunos sobre as propriedades das soluções
é verificada se a água está boa?” (Aluno 19 – Turma B) químicas na demanda de produtos agrícolas considerando seus in-
Outras perguntas indicavam a reflexão dos alunos sobre as- teresses e implicações sociais
pectos sociaise políticos do tratamento da água, como a do Aluno O tema controverso sobre agrotóxicos foi abordado em sala,
16 – Turma A: “Quaisas cidades que essa rede abastece?”, do Aluno inicialmente,por meio de reportagens retiradas de sites da internet,
32 – Turma B: “E aquela água que a gente toma, de poços, é boa pra Texto: Estudoaponta agrotóxico em leite materno - FOLHA ONLI-
ser consumida? No interior temmuito disso” e do Aluno 30 – Turma NE. Disponível em: http://www.correiodoestado.com.br/noticias/
B: “Então o flúor colocado na água é para ajudar a proteger os den- estudo-aponta-agrotoxico em- leite-materno_104187 e Texto:
tes? E esse tratamento só foi implantado em 1985, por isso que as Agrotóxicos contaminam leite materno em cidade de Mato Grosso.
crianças faziam enxague de flúor na escola antigamente?”. Disponível em: http://www.jornalofarol.com.br/ver-noticia.asp?co-
Os alunos puderam perceber a responsabilidade social do tra- digo=8064), sobre a contaminação do leite materno por produtos
tamento da água, que vai além de receber na torneira de casa um agrícolas no estado do Mato Grosso, fato ocorrido no primeiro se-
produto apresentávelpara ingerir. Na relação política e cultural, os mestre de 2010.
alunos consideraram como umdireito de todos receberem um No período de duas aulas, foram propostas aos alunos as ativi-
produto adequado para o consumo ou, ainda, serem orienta- dades de leitura e discussão, sobre o conteúdo das reportagens e
dos, no caso de possuírem poços artesianos, para se certificarem de análise esíntese, em dupla, sobre o que foi explanado no grande
da qualidade da água que estão consumindo. O que demonstra a grupo, por meio de questionário. As perguntas que compunham a
consciência dos alunos sobre o compromisso da ciência com a cida- atividade relacionavam as interferências da tecnologia e da ciência
dania, como argumentam Santos e Schnetzler (2003). na sociedade, considerando as implicações do uso de agrotóxicos e
A visita à SANEPAR motivou os alunos a aprenderem e a reve- a responsabilidade do Técnico em Agropecuária.
rem diversificados conceitos químicos como pH, reações de neutra- Nas respostas, os alunos reconhecem que o uso incorreto dos
lização, turbidez, processos de separação de misturas, densidade, produtos agrícolas pode agravar os problemas à saúde da popula-
ligaçõesquímicas, compostos inorgânicos, além de soluções. Tam- ção, sendo que os interesses financeiros prevalecem sobre o valor
bém oportunizou abordar de forma contextualizada, por meio dos humano quando o assunto éprodução agrícola. Isso pode ser cons-
questionamentos e visualização das etapas de tratamento da água, tatado por meio da afirmação do Aluno 15 – Turma B: ”O interesse
uma gama de conceitos relacionados às aplicações das Soluções é ter um bom lucro sobre a produção aser comercializada, não ter
Químicas. Com isso, foi possibilitado ao aluno compreender me- perdas na produtividade, assim, utilizam mais agrotóxicos do que é
lhor os conceitos químicos, percebendo que estes são constituídos permitido para que o produto tenha maior resistênciae durabilida-
e criados pelo pensamento humano, numa construção histórica e de no mercado consumidor“.
cultural, configurando assim, um saber possível de ser aprendido Em discussão com o grupo, os alunos mostraram-se surpresos
(Chassot, 2004; 2010), como por exemplo, na verificação da ”neces- e assustados com a informação apresentada pela reportagem de
sidade de se colocar solução de flúor na água para prevenir proble- que namaioria das amostras contaminadas por agrotóxicos, foi en-
mas dentários“ (Aluno 17 – Turma A). contrada a substância Dicloro-Difenil-Etano (DDE), derivada do Di-
Aproveitou-se também para provocar mais algumas reflexões cloro-Difenil- Tricloroetano (DDT), produto proibido desde 1998 por
como: E quem não tem acesso à água tratada? Como ficam essas causar infertilidade e abortos, como divulga a reportagem. A fala
pessoas? Será quetodos na sociedade têm acesso à ciência e à tec- do Aluno 03 – Turma B representa a percepção dos demais alunos
nologia da mesma maneira?Que influências e fatores estão por traz sobre a informação apontada no texto de divulgação científica.
disso? É um absurdo usarem produtos como o DDE e DDT que já fo-
Os alunos, cerca de 80%, em seus relatórios de visita, mostra- ram proibidos por lei porque podem matar as pessoas nas lavouras.
ram-se reflexivos quanto aos questionamentos e responderam que O governo deve fiscalizar melhor o comércio e a utilização dos pro-
nem todos os cidadãos gozam de seus direitos, como relata o Alu- dutos agrícolas para que não aconteça mais esse tipo de intoxicação
no 04 – Turma A: ”Comomoro no interior conheço muita gente que da população.
possui poço artesiano e que podeestar consumindo uma água con- Praia, Gil Pérez e Vilches (2007), ilustram que na batalha contra
taminada porque não chega a rede de tratamento até lá“. A reflexão o uso doDDT, a bióloga Raquel Carsons no livro Primavera Silenciosa
do Aluno 26 – Turma B sintetiza a opinião dosdemais colegas quanto (Silent Spring) alerta para os efeitos nocivos do produto. A obra
ao acesso à ciência e à tecnologia apontando que ”Opoder econô- sofreu fortes repressõesda indústria química, de outros cientistas e
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de representantes políticos. Contudo, após dez anos da publicação defensivos utilizados com frequência nas propriedades da famí-
da obra, o produto foi proibido em vários países, com exceção dos lia. Nesse sentido oaluno 21 – Turma A comenta: “Olhando esses
caracterizados como ”em desenvolvimento“.Os autores relatam que rótulos a gente percebe que os componentes são praticamente os
a batalha de Carsons contou com o apoio dos cidadãos para fazer mesmos só muda o nome do produto”. O aluno 08 – Turma B relata
valer a proibição do uso do DDT. Dessa forma, torna-se inadmissível sua dificuldade em encontrar as informações quanto aos cuidados
que, atualmente, a sociedade ainda sofra os efeitos nocivos do uso necessários no uso do produto pesquisado: “nesse rótulo não está
indiscriminado de produtos como esse. claro os cuidados e precauções que temos que ter com o produto,
Como sugerem Santos e Auler (2011) em relação à reflexão so- aí fica difícil né!”.
bre as implicações e responsabilidades da ciência e da tecnologia Entre os itens a serem preenchidos na ficha técnica, consta-
na sociedade, o tema controverso apresentado pelas reportagens, vam ospossíveis benefícios e malefícios do uso do produto, possibi-
possibilitou ainda, asseguintes análises pelos alunos: litando aosalunos refletirem sobre as consequências da aplicação
A ciência e a tecnologia devem trabalhar juntas para desenvol- incorreta dos defensivos agrícolas na lavoura. As principais descri-
ver produtos e técnicas que não sejam tão prejudiciais para a saú- ções dos alunos em relação aos benefícios do uso dos agrotóxicos
de, desenvolvendo pesquisas e informando a sociedade para que pesquisados foram: “Corta o ciclo da planta daninha” (Alunos
a mesmapossa atuar de acordo com as novas descobertas. (Aluno 4 e 29, Turma B); “Age no controle de pragas como: pulgões,
29 – Turma B) moscas, cigarrinhas, em várias culturas” (Alunos 30e 31, Turma A);
O aluno entende que a ciência e a tecnologia apresentam uma “Previne as doenças da planta como, amarelão ou podridãoda raiz”
estreita relação, possuindo grande responsabilidade não apenas (Alunos 10 e 11, Turma A); “Não há benefícios nem para a planta,
pelo desenvolvimento de produtos agrícolas que, muitas vezes, não pois interrompe a produção de proteína” (Alunos 7 e 33, Tur-
trazembenefícios para a população, mas também na socialização do ma A) e“Paralisa o ciclo de Krebs das células fungicidas e também
conhecimento.Dessa forma, o trabalho com temas controversos no previne contra a oxidação aeróbica pela célula do fungo” (Alunos 2
ensino de Química torna-se uma possibilidade de promover a ACT e 6, Turma B).
como discutem Auler e Delizoicov (2001), e Chassot (2010). Como apontado pelas descrições e relatado pelos alunos du-
O Aluno 19 – Turma B chama a atenção para a escassez dos rante a socialização das fichas técnicas, cada produto age em espe-
recursos naturais e para a questão do lixo tecnológico, vejamos a cífico para um problema encontrado na lavoura, assim, o produto
sua fala: que atua no controle de pragas não pode ser utilizado para prevenir
A ciência elabora teorias, explica e faz as coisas para gerar pro- doenças ou combater plantas daninhas. Dessa forma, muitas vezes
dutividade. Essa produtividade depende da tecnologia a ser adota- a agricultura recebe vários tipos de defensivos agrícolas antes de
da, mas a sociedade vai se acostumando, à medida que aparecem chegar à mesa do consumidor. Por meio das reflexões e diálogos
mais coisas novas com mais informações e qualidade, o outro pro- entre o grupo, os alunos perceberam a necessidade de tomar cer-
duto é esquecido. Há uma grande responsabilidade desses setores tos cuidados com o manejo dos produtos agrícolas, para que seja
onde algo pode ser reaproveitado. Essa demanda de novos produ- ofertado um alimento de qualidade ao consumidor sem trazer pre-
tos causa a escassez de recursos naturais e aumenta a quantidade juízos à sua saúde, como no comentário do Aluno 04 – Turma B,
de lixo tecnológico descartado no meio ambiente. “Nem sempre as verduras são o melhor alimento, porque colocam
O aluno pode perceber que a sociedade e o mundo natural es- na sua cultura um produtopra combater certa praga, outro pra ou-
tão à mercê das descobertas da CT, que nem sempre visam o bem tra. O certo mesmo é fazer controlesalternativos pra não usar tanto
estar social, como discutem Pinheiro, Silveira e Bazzo (2007). veneno”.
Assim com o intuito de aprofundar essas reflexões, solicitou-se O outro item analisado considerou os malefícios decorrentes
aos alunos a análise das informações contidas nos rótulos dos agro- do uso de agrotóxicos, relacionados com aspectos ambientais, re-
tóxicos mais utilizados na região, considerando tanto os produtos presentado na descrição dos Alunos 30 e 31 – Turma A: “Se aplica-
encontrados na fazenda-escola, como na propriedade familiar do de maneira incorreta é prejudicial ao meio ambiente, classe III:
dos alunos. Foi proposto aeles o estudo sobre os principais com- produto perigoso ao meio ambiente”. Sobre a contaminação dos
ponentes químicos presentes na mistura, o cálculo da concentração recursos naturais, os Alunos 1, 2 e 12 – Turma A declaram que:
dos principais compostos, informações sobre preparo, diluição e “Agride o meio ambiente, é tóxico ao ser humano podendo levar
cuidados de aplicação do produto na agricultura e no descarte dos à morte, intoxica o solo e a água”, considera-se que o termo “in-
resíduos. toxica” utilizado pelos alunos tem conotação de contaminação.
Posteriormente, os alunos preencheram uma ficha técnica com Os Alunos 04 e 29 – Turma B acrescentam que pode ocorrer “con-
as principais informações contidas nos rótulos dos produtos, que taminação do solo, intoxicação do aplicador, possível desequilíbrio
deveriam ser diferentes, ou ao menos, de laboratórios e nomes ambiental” pelo uso inadequado dos produtos agrícolas.
distintos. As fichaspreenchidas foram socializadas entre os alunos Apesar dos agrotóxicos serem diferentes em sua composição
da sala, o que gerou muitos comentários após serem analisadas, e atuarem para diferentes problemas encontrados na plantação,
sendo que, ao término desta atividade,as fichas técnicas sobre os todos trazem, dealguma forma consequências negativas, principal-
agrotóxicos foram compiladas em arquivos e disponibilizadas para mente, se forem inadequadamente aplicados. Uma interessante
consulta de outros alunos, na biblioteca da escola como forma de polêmica surgiu nesta etapa da atividade. Em ambas as turmas,
demonstrar a construção do conhecimento (Mortimer, 2000). as reflexões foram parecidas sobre oque realmente estamos co-
Os alunos descobriram que alguns produtos de nomes diferen- mendo. A fala do Aluno 19 – Turma B evidencia essa situação: “Pen-
tes apresentam a mesma composição química, que alguns rótulos sando bem, hoje em dia comemos todo tipo de produto químico,
não descrevem claramente os cuidados necessários ao se manuse- menos o alimento original, a verdura, a fruta... agora entendo quan-
ar oagrotóxico ou de como descartar corretamente seus resíduos, do minha avó fala que a gente morre pela boca...”.
e muitos alunos, declararam desconhecer os malefícios de alguns
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a solução para o seu concurso!
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Aproveitou-se para proporcionar, mais uma vez, reflexões so- Nos demais relatos, todos os alunos demonstraram estar mais
bre as implicações da ciência e da tecnologia na sociedade, reco- conscientes acerca das implicações sociais de sua responsabilida-
nhecendo que nemsempre a ciência e a tecnologia são colocadas deenquanto futuros Técnicos em Agropecuária, principalmente na
para garantir o bem estar daspessoas. Silveira e Bazzo (2009) discu- orientação dos produtores para a aplicação correta do produto,
tem que para que o desenvolvimento científico e tecnológico seja na propriedade.
menos excludente, há a necessidade de se levarem conta os reais Reforçando a afirmação de Pinheiro, Silveira e Bazzo (2007), ao
problemas da população, os riscos técnico-produtivos e a mudança descreverem que o enfoque CTS incorpora ao currículo o desenvol-
social, os autores declaram ainda, que é preciso repensar eredimen- vimento evalores e atitudes, a formação do indivíduo enquanto ci-
sionar o papel da ciência e da tecnologia na sociedade. dadão consciente, ético, com autonomia intelectual e pensamento
A preocupação com a alimentação desencadeou novos comen- crítico.
tários, permitindo aos alunos encontrar na agricultura orgânica a Agrotóxicos, agricultura e sustentabilidade: apesar de não
resposta para evitar contaminações por meio de agrotóxicos, como ocorrer de forma intencional, o tema controverso agrotóxico foi
exposto pelo Aluno 3 –Turma B: “Apesar de a agricultura orgânica amplamente discutido com os alunos, de maneira interdiscipli-
dar mais trabalho e da produção não ser tão viçosa como a trata- nar. A participação dos professoresde Língua Portuguesa, Arte, So-
da com agrotóxicos, no final vale apena se for pensar na saúde das ciologia e Horticultura foi resultado da motivação dos alunos pelos
pessoas que vão se alimentar desse produto”. temas discutidos nas aulas de Química. Em reunião informal, cada
Dessa maneira, por meio da educação científica e tecnológica professor tomou ciência da pesquisa e propôs como iria contribuir
(Auler e Delizoicov, 2001; Chassot, 2010), os alunos enquanto indi- para a aprendizagem interdisciplinar dos alunos. A importância
víduos sociais foram instigados a refletirem também, sobre sua res- da interrelação ocorrida entre as disciplinas foi inquestionável
ponsabilidade enquantofuturos Técnicos em Agropecuária no uso na formação dos Técnicos em Agropecuária, principalmente, por
de defensivos agrícolas, e em seu papel como cidadãos que preci- ter trabalhado de maneira abrangente entre as diferentes áreas do
sam estar preparados para se posicionarem frente às interferências conhecimento.
da ciência e da tecnologia no contexto em que vivem. Na disciplina de Língua Portuguesa, os alunos tiveram a pos-
A importância da divulgação científica na participação social e sibilidade de assistir a filmes relativos ao uso dos agrotóxicos e à
de responsabilidade cidadã e profissional do Técnico em Agropecu- agricultura orgânica, e de realizar pesquisa sobre o tema na inter-
ária na perspectiva da ACT net, proporcionando maior suporte teórico para a construção
Compreende-se que a alfabetização científica e tecnológica de folders informativos sobre o tema.Com isso, os recursos de
(ACT) seapresenta como uma possibilidade do aluno em constituir divulgação científica foram tanto utilizados, como construídos pelos
a apropriação de uma cultura científica e do uso dos seus códigos alunos.
para explicar os fatos e fenômenos que o cercam, relacionando as Por meio de seminário e debates, nas aulas de Sociologia, dis-
manifestações do Universo com oconhecimento adquirido em sala cutiu-se sobre os impactos da ciência e da tecnologia sobre o con-
de aula (Auler e Delizoicov, 2001; Chassot,2010). texto social. Os alunos, divididos em três grupos, receberam uma
As atividades relativas à importância da divulgação científica pergunta, que deveria serapresentada a todos da sala, por meio de
como forma de participação social e de responsabilidade cidadã e respostas, ideias, atitudes e questionamentos. Também confeccio-
profissional do Técnicoem Agropecuária na perspectiva da ACT, fo- naram cartazes com mensagens dealerta para o uso inadequado
ram desenvolvidas, de forma geral, por meio de temas controver- dos defensivos agrícolas que foram fundamentais para alertarem
sos. Entendendo que esses temas contribuem para a inserção de os demais alunos da escola sobre os riscos de comerem alimentos
discussões sócio-científicas, relacionadas à ética e problemas am- do pomar e da horta após a aplicação dos defensivos agrícolas, sem
bientais contemporâneos (Santos e Auler, 2011),como verificado respeitarem o tempo de ação do produto, o que, corriqueiramente,
nas análises a seguir: era feito pelos alunos, trazendo sérios riscos à saúde.
Contaminação do leite materno por agrotóxico: este tema con- Nas aulas de Horticultura e Química, as atividades analisaram
troverso foi discutido em sala, como anteriormente mencionado, os agrotóxicos utilizados na produção agrícola da fazenda-escola e
por meio de reportagens da internet. Um dos questionamentos das propriedades familiares dos alunos. Por meio de verificação das
dessa atividade recaiu sobre como os alunos compreendem a im- informaçõesapresentadas pelos rótulos dos produtos, os alunos pu-
portância do Técnico em Agropecuária em relação ao caso de con- deram perceber as consequências da aplicação ou descarte incorre-
taminação do leite materno por agrotóxicos, e qual a sua respon- to dos agrotóxicos, tanto para o cultivo dos alimentos, quanto para
sabilidade enquanto cidadão e futuro técnico nesse caso, como os recursos naturais e a saúde humana, encontrando na agricultura
apontado pelo Aluno 3 – Turma B: orgânica a resposta para aliar produção, comercialização e saúde.
Alguns técnicos trabalham na venda de defensivos agrícolas. O caso simulado foi outra atividade utilizada em sala, para dis-
Entãoo técnico deve saber muito bem o que está vendendo para cutir os interesses relacionados ao tema controverso (Leal, 2009).
o agricultor, receitando o produto correto para sua lavoura. E caso Nessa atividade, os alunos incorporaram papéis e defenderam
a empresa para a qual trabalha estiver comercializando produtos seus pontos de vista com o intuito de persuadir os demais sobre
proibidos, ilegais, o técnico deve refletir muito antes de vender, pois sua validade. Para isso, realizou-se a leitura e discussão dos textos
a empresa só pensa no dinheiro que irá receber e não pensa na vida “Agrotóxicos: de mocinho a bandido” e“Agricultura e desenvolvi-
do agricultor e das pessoas que poderão ingerir o produto, isso para mento sustentável” (Santos e Mol, 2005, p. 208- 211 e p. 241-243)
eles não importa. e, posteriormente, os alunos foram divididos em cinco grupos de
atores sociais sendo: Grupo 01: adeptos dos agricultores; Grupo 02:
defensores dos comerciantes de agrotóxicos; Grupo 03: interces-
sores dos cidadãos; Grupo 04: representantes da indústria alimentí-
cia; Grupo 05:reivindicantes dos ambientalistas.
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A fala de defesa dos alunos do grupo 01 ficou marcada pelo comentáriodo Aluno 11 – Turma A:
Somos nós, os agricultores que colocamos o alimento na mesa da população. Sem nosso trabalho muitas pessoas não teriam o que
comer. Queremos produzir cada vez mais, assim acabaremos com a fome no país. Se caso usamos agrotóxicos em nossas culturas éporque
precisamos combater as pragas da lavoura para garantir a produção. Então reivindicamos que os fabricantes de produtos agrícolas de-
senvolvam agrotóxicos que prejudiquem menos a saúde dapopulação e que sejam mais eficientes no combate aos problemas da lavoura.
Na fala apresentada pelo grupo 01, percebe-se que a defesa organizada pelos alunos adeptos aos agricultores recaiu sobre a impor-
tância do trabalho dessa classe para manter a produção de alimentos. Justificando o uso de agrotóxicos, os alunos alegaram que para
que seja beneficiada a cultura, é necessário combater as pragas, utilizando tais produtos. Noentanto, reconhecem que isso pode trazer
prejuízos para a população, porém não responsabilizam a classe pelas possíveis consequências do uso dos agrotóxicos em suas lavouras.
O grupo 02 expôs a seguinte defesa:
Vendemos agrotóxicos para auxiliar o produtor em sua lavoura, não queremos contaminar ninguém com produtos agrícolas, mas se
isso acontece a culpa não é nossa, é do agricultor que não leu as informações que estavam nos rótulos sobre a maneira certa de usar o
produto. (Aluno 22 – Turma B)
Em defesa dos comerciantes de agrotóxicos, o grupo de alunos utilizou o argumento de que sua atividade não prejudica diretamente
o consumidor nem o ambiente, pois quem aplica o produto na lavoura é o agricultor. No papel de defesa do comerciante, quem vende
os produtos agrícolas não possui responsabilidade para com seu uso, cabendo ao agricultor se inteirar do processo correto de aplicação.
Contudo, os alunos do grupo 05 questionaram quanto ao comércio de agrotóxicos proibidos por lei. O grupo 02 defendeu que todos os
produtos que comercializam estão dentro da legislação vigente e que desconhecem o fato.
A participação da sociedade no debate foi apresentada pelo grupo 03 queenfatizou sua fala na seguinte argumentação:
Somos os que mais sofrem com a ganância de vocês agricultores, comerciantes e industriais. Vocês só visam o lucro, a produtividade,
nem pensam nos males que causam à população. Os produtos orgânicos são mais saudáveis, mas nem todos têm condições de comprá-los
porque são também mais caros. Queremos a garantia de produtos de qualidade em nossa mesa sem pagar mais por isso,porque muitas
vezes não sabemos o que realmente estamos comendo.(Aluno 2 - Turma B) A reivindicação dos representantes da sociedade demonstrou
como olucro interfere na qualidade do alimento que é consumido, sendo que as pessoas com baixa renda são as mais prejudicadas por
não terem condiçõesde adquirirem os produtos orgânicos que são comercialmente mais carosque os convencionais.
Os representantes da indústria alimentícia, na fala do grupo 04, buscaram defender que: “Nós, da indústria alimentícia, somos fun-
damentaispara estabelecer a ponte entre o produtor e o consumidor. Ofertamos uma grande variedade de produtos e cada um escolhe
o que vai comer”. (Aluno 18 – Turma A)
Assim como os demais grupos, os representantes da indústria alimentíciaprocuram ficar isentos da responsabilidade de fornecer ao
consumidor, um produto que pode trazer malefícios à saúde. Para esta classe, sua função está apenas em garantir que o alimento seja re-
passado do produtor ao consumidor, sem maiores compromissos. Por fim, reivindicando a posição dos ambientalistas, o grupo 05 amparou
sua fala pelo argumento:
Cada um aqui defende apenas a sua posição. Estamos aqui emnome de todos, porque todos irão sofrer com as consequências
do uso exagerado de agrotóxicos e de outros produtos que poluem nossos recursos naturais. Precisamos nos conscientizar de que optando
pela agricultura orgânica estaremos fazendo bem a nossa saúde e ao nosso ambiente, deixando um mundo sustentável para as próximas
gerações. (Aluno 5 – Turma B)
A representação feita pelo grupo 05 propôs reflexões sobre o papel que cada instância social possui para que a população não sofra
com a contaminação de agrotóxicos, por meio dos alimentos consumidos. Incorporando a posição dos ambientalistas, os alunos sugerem
que se opte pela agricultura orgânica, por ser esta uma forma sustentável de produção que evita o desgaste dos recursos naturais.
Após apresentadas as defesas de cada grupo como solicitado pela atividade, os alunos discutiram qual a melhor argumentação de de-
fesa, independente do papel assumido. Em consenso, os alunos concluíram que o argumento dos ambientalistas foi o mais bem elaborado,
por priorizar a preservação do ambiente e o bem-estar da população sobre a lucratividade.
Apesar de incorporarem papéis, os alunos entenderam que esta atividadepossibilitou-lhes compreender sobre o posicionamento de
cada setor relacionado à sociedade agrícola, em relação ao uso dos agrotóxicos. Por meio desta atividade de caso simulado, os alunos pu-
deram perceber as implicações de cada uma dessas representações no modo de produção agrícola, e de como a sociedade e o ambiente
estão suscetíveis aos aspectos econômicos desse mercado, como relatam os Alunos 03 e 10 – Turma A: “não é apenas produzir e consumir
o produto porque existem muitos fatores ligados a isso, que vão desde os impactos ambientais até o preço final que é repassado para a
sociedade do consumo”.
A utilização dos conceitos científicos como forma de manipulação social
Com o intuito de proporcionar aos alunos a reflexão sobre como os conceitos científicos podem sofrer modificações em seus estudos
e podem ser utilizados como forma de controle social, apresentou-se aos alunos o filme Sherlock Holmes.
Na trama da história, vários incidentes ocorrem com o uso de soluções químicas e de conhecimentos científicos que, por serem des-
conhecidos, afligem a população leiga. De forma divertida e ilustrada os alunos tiverama oportunidade de relacionar fatos históricos da
ciência, com cenas fictícias do filme, como sugere Leal (2009). Na análise do filme foi proposto aos alunos que respondessem a seguinte
questão: na prática de seu ofício, Holmes acreditava que “a detecção é, ou deveria ser, uma ciência exata”. Porém, durante seu trabalho
de investigação, constantemente o personagem aperfeiçoava seus métodos, que se baseavam basicamente em três princípios – a obser-
vação, a dedução e o conhecimento. Considerandoo exposto e que os estudos científicos sofrem regularmente modificações, elabore um
texto relacionando cenas do filme em que isso aconteceu e outras atividades da ciência que sofreram modificações.

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Essa questão objetivou mostrar que os estudos científicos são questionáveis e expostos a mudanças e que, portanto, deve-se questio-
nar constantemente o que é apresentado pela ciência e, em contrapartida, também, pela tecnologia. Como resposta, os alunos utilizam
exemplos do estudo da Química.
Na ciência tudo muda constantemente. Na Química acreditava-se que o átomo era uma partícula maciça e indivisível, porém, apro-
fundando os estudos, constatou-se que ele seria formado poroutras partículas (prótons, elétrons e nêutrons). No filme constatou-se que o
Lorde estava morto, mas Holmes em suas investigações mostroucomo a forca não o matou e que o Lorde utilizou uma solução paralisante,
ficando sem pulso e dando a impressão de estar morto. Outro exemplo é o da tabela periódica, que quando foi organizada, tinha apenas
63 elementos, porém com estudos, chegamos hoje a ter, aproximadamente, 120 elementos. (Alunos 1 e 12 – Turma A)
Assim, entende-se que esta etapa da proposta de ensino possibilitou aos alunos o entendimento de que a ciência está em constante
processo de transformação e de que ela pode influenciar muitos aspectos sociais. Outra possibilidade foi a de demonstrar, como os con-
ceitos químicos podem ser apresentados na sequência de um enredo ou história. Assim, para finalizar as atividades, os alunos deveriam
desenvolver uma história ilustrada, com base em textos encontrados em RDC, utilizando uma linguagem mais acessível, com o propósito
de esclarecer a população na visita do dia de campo, previsto no calendário da escola, sobre as implicações sociais da ciência e da tecnolo-
gia (Zamboni, 2001). Para tanto, eles tiveram a liberdade de escolher o tema para realizar o trabalho, porém este tema deveria apresentar
relação com o conteúdo de Soluções químicas.

Divulgação do conhecimento construído: apresentação dos trabalhos paraa comunidade escolar


Em decorrência das discussões e análises CTS possibilitadas pelas atividades anteriores, nessa etapa os alunos foram instigados a
analisarem artigos ou textos encontrados em revistas de divulgação científica (RDC)que abordassem temas controversos, relaciona-
dos aos conceitos de soluções químicas, para que, posteriormente, reescrevessem seu conteúdo em forma de história, numa linguagem
que facilitasse sua interpretação pelos leitores. As histórias foram organizadas em forma de livros ilustrados, sendo estes expostos para a
comunidade escolar no dia de visitação compreendido no calendário escolar.
Para tanto, as atividades que englobam essa categoria de análise envolveram o trabalho com diferentes temas controversos encon-
trados em artigos de RDC. A variedade de temas apresentados neste tópico deve-seao fato de que os alunos, por meio de pesquisas
em RDC, escolheram um artigo ou texto de seu interesse, porém que abordassem em seu conteúdo, conceitos relacionados com Soluções
químicas. As RDC utilizadas pelosalunos foram Galileu, Globo Rural e Superinteressante.
Para o desenvolvimento das atividades, os alunos selecionaram os seguintes temas: lixo, energia nuclear, transgênicos, desgaste dos
recursos naturais, agropecuária, drogas, camada de ozônio, petróleo, entre outros. Após a leitura e reflexões sobre as relações entre o
conteúdo da RDC e os conceitos químicos, os alunos, em duplas, elaboraram uma história ilustrada, transformando o assunto em uma
linguagem química mais acessível e de fácil compreensão, considerando leitores diversificados. A inserção na didática de trabalho, de
atividades que auxiliem os alunos na compreensão dos conceitos atribuídos à ciência, por meio de leitura, interpretação e reconstrução
de textos científicos, pode possibilitar o processo de aprendizagem da Química de forma dinâmica, interessante e que promova a alfabe-
tização científica e tecnológica, como respaldam Mortimer (2000) e Chassot (2004; 2010).
Inicialmente, alguns alunos apresentaram dificuldade em escrever uma história com personagens que englobasse o assunto do texto
da RDC e os conceitos químicos estudados. No entanto, com auxílio dos professores de Língua Portuguesa e Arte, as histórias foram criadas
e ilustradas pelos alunos.
Durante a criação dos trabalhos, os alunos demonstraram-se entusiasmados em serem autores de um livro. Exemplificando esse
fato, menciona-se a fala do Aluno 24 – Turma A: “eu achei muito legal construir esse livro, no início pensei que iria ser mais difícil, mas na
verdade foi bem divertido”.
Ao final, montaram-se os trabalhos em formato de livros que foram socializados com a comunidade escolar no Dia de Campo, ativida-
de escolar que oportuniza aos visitantes, conhecer os trabalhos da área técnica e da base nacional, desenvolvidos pelos alunos, durante o
ano letivo. Muitos elogios aos trabalhos surgiram por parte dos membros da comunidade escolar.
O fato de terem seus livros expostos no Dia de Campo valorizou o trabalho dos alunos. Percebeu-se que estavam apreensivos com a
percepção e os comentários dos visitantes. O Aluno 12 – Turma B declarou que se soubesse que tantas pessoas iriam olhar seu trabalho,
teria caprichado mais.
Dentre os livros construídos pelos alunos, foram escolhidos para serem reproduzidos e enviados às escolas do município, como forma
de divulgar o conhecimento produzido em sala, valorizando o aprendizado. Acredita-se que esta possibilidade de divulgação dos trabalhos
dos alunos, valoriza o conhecimento por eles construído, indo de encontro aos objetivos da proposta CTS, de atingir o contexto social,
popularizando os conceitoscientíficos e tecnológicos.
Com isso, o ensino estende sua dimensão social promovendo e efetivando a valorização do processo democrático do conhecimento
cientifico, passando a ultrapassar as barreiras da sala de aula, atingindo a comunidade escolar e mostrando suas implicações e relações
aos aspectos cotidianos da vida humana.

Percepções dos alunos sobre a proposta de ensino


Muitas contribuições foram apontadas pelos alunos na avaliação dasatividades realizadas com base na proposta de ensino. O quadro
a seguir apresenta as percepções e interrelações realizadas pelos alunos entre os conceitos químicos trabalhados no enfoque CTS, contex-
tualizando situações reais de modo a proporcionar a ACT.

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Figura 2.- Percepções dos alunos sobre a proposta de ensino. Fonte: Autores (2012)

As análises realizadas pelos alunos em relação à proposta de ensino, em sua maioria, foram positivas, de grande aceitação. Apenas
dois alunos da Turma A sugeriram que, ao final das atividades, fosse realizada uma prova individual para verificar o aprendizado dos
conteúdos. O que denota
resquícios da metodologia tradicional que ainda perdura nas escolas, naqual só por meio de prova escrita se comprova o conhe-
cimento do aluno.
As contribuições dos alunos, durante as atividades realizadas, possibilitaram inserir reflexões sobre os imbricamentos sociais da ciên-
cia e da tecnologia no estudo de soluções químicas, contextualizando o conhecimento, de forma a promover a ACT, como sugerem Auler
e Delizoicov (2001), Chassot (2010) e Santos e Schnetzler (2003).

Conclusões
Por meio do objetivo geral dessa pesquisa, buscou-se desenvolver uma proposta para ensinar o conteúdo químico de soluções com o
propósito de promover a aprendizagem, pelos alunos, contribuindo para a alfabetização científica e tecnológica.
O estudo evidenciou o desenvolvimento da consciência crítica e reflexiva, pelos alunos, sobre as interferências da ciência e da tecno-
logia na sociedadebem como a apropriação dos conceitos químicos relacionados ao conteúdo de Soluções que foram incorporados no vo-
cabulário diário dos alunos,demonstrando a apropriação do conhecimento, com referência aos termos concentração, diluição, densidade,
saturação, solubilidade entre outros relacionados às características das Soluções. Evidencia-se também que por meio do enfoque CTS, o
ensino da Química admite caráter dinâmico possibilitando o aprendizado interligado de outros conceitos químicos além dos relacionados
especificamente com o conteúdo de Soluções, como no caso: pH, reações de neutralização, turbidez, processos de separação de misturas,
densidade, ligações químicas, compostos inorgânicos. Tais apontamentos puderam ser constatados por meio dos relatos, descrições, con-
versas informais e mudança de postura apresentados pelos alunos no decorrer da pesquisa.
Por fim, entende-se que a aplicação da proposta de ensino aos alunos da 2ª série do Ensino Médio Profissionalizante Integrado do
curso Técnico em Agropecuária, resultou em um grande aprendizado, tanto para os alunos, como para a professora, sendo que todas as
atividades tiveram seus objetivos atingidos, consolidando o objetivo geral dessa pesquisa.

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Dessa maneira, avaliando os resultados obtidos, percebeu-se que a proposta de contextualizar as relações entre os conceitos de So-
luçõesquímicas e as transformações naturais e/ou artificiais, o ensino da ciência adquiriu significado, contribuindo para o aprendizado do
aluno, tornando-o capaz de participar dos debates públicos relativos à ciência, à tecnologia eas suas implicações na sociedade em que
vive.
Implicações
Em curto prazo, a demonstração de que a pesquisa atingiu seu propósito e trouxe relevância para a aprendizagem dos alunos e a efeti-
vação dos objetivos deste trabalho, principalmente no que se refere às análises sobre os conteúdos químicos no enfoque CTS promovendo
a ACT, foi que, por iniciativa própria, os alunos organizaram entre as duas turmas de 2ª série, envolvendo ainda, colegas de outras turmas,
um grupo para criar um vídeo de cinco minutos para participar de um concurso regional pela internet.
Como o tema era livre, os alunos optaram por apresentar as vantagens da agricultura orgânica, alertando a população para os riscos
dos alimentos cultivados com agrotóxicos. O vídeo foi assistido por mais de 500 pessoasna internet, o que demonstra que as atividades
desenvolvidas atingiram o propósito da ACT, que é compreender e expressar suas opiniões sobre assuntos de ordem científica e tecnoló-
gica, de forma a pensar no bem estar social.
Em relação às implicações na alfabetização científica e tecnológica dos alunos, evidencia-se a divulgação do conhecimento construído
por meio da socialização dos livros desenvolvidos com base nos textos de RDCs. Os trabalhos atingiram a comunidade escolar, sendo di-
fundidos em outrasescolas o município.
Outra percepção sobre as implicações deste estudo decorreram do aumento do interesse dos alunos que participaram da pesquisa,
na representatividade em instâncias colegiadas como grêmio escolar e conselho escolar, evidenciando a formação do papel cidadão na
tomada de decisões.

S. RIBEIRO, J. ET AL. ABORDAGEM DOS TEMAS INDÚSTRIA 4.0 E SUSTENTABILIDADE: CONTEXTUALIZAÇÃO BASEADA EM
FATOS HISTÓRICOS E NA CADEIA PRODUTIVA DO ALUMÍNIO. QUÍMICA NOVA NA ESCOLA, V. 44, N. 2, 2022.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) contempla termos bastante difundidos na sociedade atual, como digital e tecnologia, que
caracterizam o atual cenário histórico denominado Indústria 4.0, bem como sustentabilidade, que tem influenciado consideravelmente as
decisões estratégicas empresariais. A BNCC menciona que é necessário discutir com os estudantes os impactos da tecnologia no funciona-
mento da sociedade e suas consequências para o desenvolvimento sustentável. Assim, os temas Indústria 4.0 e sustentabilidade podem
ser abordados de forma contextualizada no Ensino Médio e nos cursos de formação continuada de professores. Este artigo tem como ob-
jetivo relatar as experiências vivenciadas com professores cursistas do PROFQUI e com estudantes do Ensino Médio durante a abordagem
dos temas Indústria 4.0 e sustentabilidade, relacionando-os a eventos históricos e à cadeia produtiva do alumínio

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento que estabelece o conjunto de aprendizagens imprescindíveis que todos
os estudantes devem desenvolver ao longo da Educação Básica (Brasil, 2018). Por se tratar de um documento contemporâneo, ele con-
templa termos bastante difundidos na sociedade atual. Assim, as palavras “digital” e “digitais” juntas aparecem 353 vezes e as palavras
“tecnologia” e “tecnologias” totalizam 291 ocorrências no documento que contém 595 páginas. As palavras “sustentabilidade”, “susten-
tável” e “sustentáveis” também aparecem na BNCC, porém em um número inferior, totalizando 50 ocorrências* (Brasil, 2018). “Digital”,
“tecnologia” e seus derivados são termos presentes no atual cenário histórico denominado quarta Revolução Industrial. Uma Revolução
Industrial compreende um período histórico caracterizado por profundas transformações da sociedade, principalmente nos setores eco-
nômico, político e social (Pasquini, 2020). A quarta Revolução Industrial também é conhecida como Indústria 4.0 em alusão ao sistema de
numeração costumeiramente usado pelos profissionais de informática para designar a versão de seus artefatos, geralmente composto de
dois números: um principal e um secundário. Assim, trata-se de uma apropriação de um sistema de marcação da área de informática para
sugerir evolução.
Atualmente, nos deparamos com vários termos que fazem referência à Indústria 4.0, como: empresas 4.0, profissionais 4.0, RH 4.0,
educação 4.0, mineração 4.0 e outros (Barreto, 2020; SAE
Digital, 2021; Bastos, 2020). Ao escutar esses termos, pessoas leigas podem associá-los a conceitos futuristas. Entretanto, para que
uma empresa, um setor ou um profissional sejam classificados como 4.0, devem ser capazes de realizar a captação, o processamento e
a análise de grandes quantidades de dados, contribuindo para a execução eficaz do trabalho e mantendo-se competitivos no mercado
(Barreto, 2020). Nos últimos anos, o termo sustentabilidade também tem sido bastante divulgado na mídia e tem influenciado considera-
velmente as tomadas de decisões estratégicas das empresas.
A sustentabilidade pode ter um papel importante no desenvolvimento e reconhecimento de uma empresa ou marca em seu mercado
de atuação. Logo, para que seja sustentável, uma empresa deve definir ações, políticas e iniciativas que visem a ética e o respeito am-
biental, de forma a promover o desenvolvimento e o fortalecimento da própria empresa e de todos que se relacionam com ela, ou seja,
consumidores, funcionários e comunidade (Santander, 2021).
De acordo com a BNCC, o Ensino Médio deve contribuir para o aprimoramento da autonomia intelectual e do pensamento crítico dos
estudantes, e a escola deve possibilitar que eles construam projetos pessoais e coletivos fundamentados, entre outros fatores, na susten-
tabilidade (Brasil, 2018). Além disso, o documento menciona que é necessário debater com os estudantes os impactos da tecnologia no
funcionamento da sociedade e nas relações humanas locais e globais, além de suas consequências para o desenvolvimento sustentável e
para a proteção da vida no planeta (Brasil, 2018). Assim, considerando a relevância dos temas Indústria 4.0 e sustentabilidade para o atual
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cenário histórico, eles podem ser abordados de forma contextualizada no Ensino Médio. Uma abordagem contextualizada deve considerar
a cultura local e a realidade cotidiana dos estudantes (Santos e Ferreira, 2018). Porém, a contextualização vai além de exemplificar como e
onde determinado conhecimento pode ser aplicado, possibilitando a abordagem de temas ambientais, sociais, políticos e econômicos de
forma a auxiliar a construção do conhecimento científico (Santos e Ferreira, 2018; Quimentão e Milaré, 2015). Os professores devem estar
familiarizados com os processos de construção do conhecimento para possibilitarem aos estudantes uma efetiva elaboração conceitual.
Além disso, devem promover debates em sala de aula que confrontem as ideias de senso comum dos estudantes, contribuindo, assim,
para a reflexão e a reelaboração dessas concepções e para a compreensão dos conteúdos científicos. Isso só será possível se o professor
estiver preparado para refletir e realizar o gerenciamento eficaz dessa construção. Para isso, as formas de ensino adotadas nas escolas de
Educação Básica e nos cursos de formação inicial e continuada de professores devem suprir as necessidades da sociedade atual (Gonzaga
et al., 2020).
Para possibilitar aos docentes em exercício na Educação Básica nacional uma formação continuada que resulte em efetiva qualificação,
foram criados os mestrados profissionais (Gonzaga et al., 2020). Na área de Química, o Programa de Mestrado Profissional em Química
em Rede Nacional (PROFQUI) foi aprovado pela CAPES em 2015. Ele conta com a participação de várias Instituições de Ensino Superior
(IES), coordenadas nacionalmente pelo Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IQ/UFRJ) com a colaboração de
um comitê gestor composto por docentes das IES associadas e por representantes da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) (Viana, 2015).
A matriz curricular do PROFQUI conta com uma série de disciplinas, dentre elas a “Química 3: Química da Vida, Ambiente e Materiais”
que propõe abordar os temas Indústria 4.0 e sustentabilidade (Gonzaga et al., 2020). Assim, para uma abordagem contextualizada desses
temas, procurou-se relacioná-los à mineração, uma atividade econômica e industrial muito presente no estado de Minas Gerais. Nesse
contexto, este artigo tem como objetivo relatar a experiência vivenciada com professores cursistas do PROFQUI durante a abordagem dos
temas Indústria 4.0 e sustentabilidade, relacionando-os a eventos históricos e à cadeia produtiva do alumínio. Também é apresentada uma
proposta de atividade sobre a mineração e a reciclagem do alumínio elaborada no PROFQUI e desenvolvida com estudantes do Ensino
Médio.

Percurso metodológico
A atividade apresentada neste trabalho foi desenvolvida com uma turma do PROFQUI constituída por cinco professores cursistas. Ela
foi realizada remotamente na disciplina “Química 3: Química da Vida, Ambiente e Materiais” e contou com momentos síncronos e assín-
cronos. A atividade foi dividida em três etapas. Na primeira etapa, foi aplicado um questionário diagnóstico constituído por 13 perguntas
abertas que tinham como objetivos: (1) levantar características gerais do público-alvo da pesquisa e de suas concepções sobre sustentabi-
lidade; (2) obter informações sobre a abordagem do tema sustentabilidade nas aulas de Química ministradas pelos professores cursistas e
sobre a adoção de práticas sustentáveis nas escolas em que lecionam. A segunda etapa consistiu na realização de uma aula virtual síncrona
por meio da plataforma Google Meet, com duração aproximada de 3 horas, para discutir os temas Indústria 4.0 e sustentabilidade inseri-
dos no contexto histórico.
Na terceira etapa, foram apresentadas duas atividades que integram um produto educacional elaborado no PROFQUI em que são
propostas uma discussão sobre a mineração e a reciclagem do alumínio. Posteriormente, foi solicitado aos professores cursistas que ela-
borassem um plano de aulas que permitisse discutir a temática sustentabilidade com base no ciclo de vida do alumínio. O plano de aulas
deveria ser proposto com base na BNCC (Brasil, 2018) e no Currículo Referência do Ensino Médio de Minas Gerais (Minas Gerais, 2021).
Cada professor cursista recebeu um feedback sobre o seu plano de aulas e o fechamento dessa etapa foi realizado de forma assíncrona,
por meio de podcast disponibilizado aos professores cursistas pelo WhatsApp.

Resultados e Discussão
Caracterização dos participantes da pesquisa Os cinco professores cursistas que participaram desta pesquisa lecionam em escolas
públicas, sendo que três deles ministram aulas no Ensino Médio regular e EJA, um nos Ensinos Fundamental e Médio regulares e um nos
Ensinos Técnico e Técnico Integrado. Com relação ao tempo de atuação no magistério, um leciona há um ano e seis meses, um há quatro
anos, dois há cinco anos e um há 15 anos. Três dos cinco professores cursistas lecionam no estado de Minas Gerais, um em Goiás e um em
São Paulo. Ao longo deste artigo, os professores cursistas que participaram desta pesquisa serão designados como A, B, C, D e E.
A Tabela 1 apresenta as respostas dos professores cursistas para algumas perguntas do questionário diagnóstico. Com relação à com-
preensão de sustentabilidade (questão 1, Tabela 1), os professores cursistas A e E apresentaram respostas semelhantes ao conceito clássi-
co de desenvolvimento sustentável, ou seja, aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras
gerações em atender suas próprias demandas (Nascimento, 2012). Os demais professores cursistas relacionaram a sustentabilidade ao uso
consciente do meio ambiente e à adoção de práticas como a reciclagem e o reaproveitamento de resíduos.

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Tabela 1: Respostas dos professores cursistas do PROFQUI para algumas questões do questionário diagnóstico.

Os demais professores cursistas relacionaram a sustentabilidade ao uso consciente do meio ambiente e à adoção de práticas como
a reciclagem e o reaproveitamento de resíduos. Em se tratando da realização de atividades relacionadas à sustentabilidade nas aulas de
Química (questão 2, Tabela 1), apenas o professor cursista D mencionou que orientou projetos sobre o reaproveitamento de resíduos de
diferentes naturezas e para diferentes finalidades. O mesmo professor mencionou na questão seguinte (questão 3, Tabela 1) que desenvol-
ve projetos interdisciplinares e que trabalha em uma escola de Ensino Técnico. Isso evidencia que a sustentabilidade não é abordada nas
aulas de Química nos Ensinos Fundamental, Médio e EJA pelos professores cursistas que participaram da pesquisa. Ainda com relação ao
desenvolvimento de atividades interdisciplinares, o professor cursista A mencionou que já trabalhou a sustentabilidade de forma interdis-
ciplinar com a Biologia, por meio da abordagem dos temas defensivos agrícolas e armamento químico nas guerras mundiais. Defensivos
agrícolas é um tema que pode possibilitar uma discussão relevante sobre a agricultura moderna e sua relação com a sustentabilidade e

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a tecnologia (Levin, 2020). Por outro lado, os impactos das guerras sobre o meio ambiente permitem a abordagem da poluição do ar, da
água e do solo, além do desflorestamento e degradação de áreas protegidas (Trabazo, 2018), o que vai no sentido contrário ao do desen-
volvimento sustentável.
As respostas apresentadas pelos professores cursistas quando indagados sobre como relacionariam a sustentabilidade com conteúdos
de Química (questão 4, Tabela 1) mostram que eles não compreenderam a pergunta, uma vez que deveriam ter indicado conteúdos e
não temas. Nesse sentido, petróleo, produção de etanol e defensivos agrícolas são temas que podem ser utilizados para contextualizar o
ensino da Química Orgânica, enquanto o tempo de degradação de materiais é um assunto que poderia ser abordado no ensino de Cinética
Química.
Ao serem questionados sobre quais dificuldades esperariam encontrar ao desenvolver o tema sustentabilidade em suas aulas de
Química (questão 5, Tabela 1), os professores cursistas apontaram: a participação e o interesse dos alunos, a limitação de espaço físico, o
suporte da administração, a adesão de outros professores, a administração do tempo e a falta de recursos. O professor B mencionou em
sua resposta que, na escola em que leciona, ações sustentáveis já haviam sido realizadas, mas não tiveram continuidade devido à limitação
de espaço físico, suporte da administração e interesse dos alunos. Embora a pergunta questionasse sobre a abordagem do tema susten-
tabilidade nas aulas de Química, os professores relacionaram suas respostas a ações mais abrangentes envolvendo toda a escola, o que
foi questionado na pergunta seguinte (questão 6, Tabela 1). Com relação a ações sustentáveis praticadas nas escolas em que trabalham
(questão 6, Tabela 1), três participantes da pesquisa responderam que as escolas não realizam ações sustentáveis e os outros dois indica-
ram, como ações realizadas nas escolas em
que lecionam: o cultivo de frutas, hortaliças e leguminosas, a coleta seletiva e o reaproveitamento de resíduos orgânicos. Após o
questionário diagnóstico, deu-se início à aula virtual síncrona sobre Indústria 4.0 e sustentabilidade. Aula virtual sobre Indústria 4.0 e
sustentabilidade A aula virtual foi iniciada apresentando a definição de Indústria 4.0 e, na sequência, foi realizado um resgate histórico
sobre as revoluções industriais, destacando os principais marcos de cada uma delas até chegar na Indústria 4.0. Em seguida foi abordada a
definição de sustentabilidade e aspectos relacionados ao desenvolvimento sustentável e, por último, a contribuição da Indústria 4.0 para
uma sociedade sustentável.
Os professores cursistas participaram ativamente da aula apresentando suas opiniões, o que resultou em uma rica discussão. Um
dos pontos de maior discussão foi sobre a educação no contexto da Indústria 4.0, chamada de Educação 4.0. Os professores cursistas
colocaram as dificuldades que enfrentam no atual cenário educacional em que seus estudantes têm acesso rápido às informações. Conti-
nuamente esses professores são questionados sobre essas informações mesmo antes de tomarem conhecimento delas e de terem tempo
para se prepararem adequadamente para responder às indagações dos alunos. Outro ponto levantado pelos professores cursistas foi que
a pandemia favoreceu a implantação da Educação 4.0 principalmente nas escolas particulares, contribuindo para aumentar as diferenças
entre as escolas públicas e particulares.
Percebeu-se, ao longo da discussão, que os professores cursistas apresentavam familiaridade com a temática de sustentabilidade, mas
não com a Indústria 4.0. Um dos professores cursistas relatou que havia feito um exame de proficiência em língua inglesa recentemente e
que o assunto da prova havia sido “Internet of Things” (IOT - Internet das Coisas), um dos pilares tecnológicos da Indústria 4.0, o qual ele
desconhecia naquele momento.
A seguir é apresentada uma sugestão para a abordagem dos temas Indústria 4.0 e sustentabilidade de forma integrada, em uma
sequência que permite mostrar os avanços ocorridos em cada Revolução Industrial, bem como a evolução do pensamento industrial em
relação ao ambiente.
Na primeira Revolução Industrial (1780-1830), processos que antes eram realizados manualmente e apenas por trabalhadores alta-
mente especializados (artesãos) deram espaço para as fábricas mecanizadas (Pasquini, 2020; Quintino et al., 2019). Além disso, a aplicação
do carvão como fonte de energia e o desenvolvimento da máquina a vapor e da locomotiva revolucionaram tanto o setor produtivo quanto
o de transporte (Sakurai e Zuchi, 2018).
Na segunda Revolução Industrial (1850-1910), a modernização de máquinas e equipamentos industriais foi impulsionada pelo uso da
energia elétrica que contribuiu para tornar as máquinas mais produtivas e menos poluentes, embora esta última característica não fosse
muito relevante, uma vez que, nessa época, os problemas ambientais eram tratados de maneira superficial (Almeida, 2019; Oliveira et
al., 2019; Pasquini, 2020). Também foi durante a segunda Revolução Industrial que o modelo de produção chamado fordismo surgiu nos
Estados Unidos, tendo como princípios fundamentais: a repetitividade, a padronização do produto e a produção em massa (Quintino et
al., 2019).
Durante décadas, as indústrias se preocuparam apenas com questões econômicas, negligenciando o impacto ambiental de suas ativi-
dades, inclusive sobre a saúde da população. Nesse período, alguns eventos industriais impactantes aconteceram, resultando na poluição
do ar, na contaminação das águas e na perda de diversas vidas (Pott e Estrela, 2017).
Em 1930, ocorreu na Bélgica o primeiro evento agudo de poluição do ar (Tabela 2) que atraiu a atenção da comunidade científica, uma
vez que forneceu evidências de que a poluição atmosférica poderia ocasionar mortes (Nemery et al., 2001). Em 1956, outro evento indus-
trial ocorrido no Japão causou danos ambientais impactantes (Tabela 2). A condição resultante da contaminação da baía de Minamata por
metilmercúrio foi denominada como “Doença de Minamata” pela comunidade médica japonesa e pela mídia, uma vez que, inicialmente,
sua causa era desconhecida (Jenks, 2010).
A terceira Revolução Industrial (1969-2010), conhecida como Revolução Digital e Revolução Técnico-Científica, foi marcada pelo ad-
vento dos semicondutores, em especial do transístor, responsável pela modernização dos computadores e demais equipamentos elétricos,
eletromecânicos e eletrônicos (Almeida, 2019; Quintino et al., 2019). Nesse período, surge no Japão o modelo produtivo denominado
toyotismo, que tinha como principal característica a produção flexível, realizada conforme a demanda de mercado (Quintino et al., 2019).
Também se destacam como características da terceira Revolução Industrial a automação industrial, a nanotecnologia, a biotecnologia, a
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mecatrônica, a microinformática, as telecomunicações, bem como as tecnologias de automação (TA) e de informação (TI) (Quintino et al.,
2019). Durante essa Revolução Industrial, ocorreram avanços significativos na produção de energias renováveis, como a eólica e a solar, o
que possibilitou que as indústrias diversificassem as fontes de energia utilizadas (Roberts, 2015; Sakurai e Zuchi, 2018).
O advento da indústria foi responsável por provocar grandes mudanças no ambiente. A indústria acelerou a extração dos recursos
naturais visando à obtenção do lucro em curto prazo, sem levar em conta suas consequências (Borges et al., 2009). Nesse contexto, para
disciplinar o consumo racional de recursos naturais e contribuir para que o desenvolvimento econômico causasse menos impacto ao am-
biente, uma série de acordos, convenções e leis surgiram, o que culminou no “aumento da consciência ambiental” nesse período (Borges
et al., 2009; Pott e Estrela, 2017; Sakurai e Zuchi, 2018).
Em 1972, foi realizada a Conferência Mundial das Nações Unidas (ONU) em Estocolmo (Suécia), a primeira manifestação dos líderes
mundiais a respeito das consequências do progresso da economia sobre o ambiente (Nascimento, 2012). Essa conferência foi realizada
em meio ao impacto provocado pelo relatório do Clube de Roma, intitulado The limits of growth (Os limites do crescimento), que pro-
punha, entre outras ações, a desaceleração do desenvolvimento industrial nos países desenvolvidos e do crescimento populacional nos
países subdesenvolvidos (Nascimento, 2012; Pott e Estrela, 2017). Dez anos após a conferência de Estocolmo, uma avaliação realizada
pela ONU mostrou que os esforços empreendidos ficaram muito aquém do necessário. Isso resultou na formação da World Commission
on Environment and Development (WCED - Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), que foi coordenada pela então
primeira-ministra norueguesa Gro Harlen Brundtland. O relatório produzido por essa comissão e apresentado em 1987, com o título de
Our common future (Nosso futuro comum) propôs o desenvolvimento sustentável, que foi definido como o desenvolvimento que supre as
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações em satisfazer suas próprias necessidades (WCED, 1987).
Essa definição tornou-se clássica e objeto de discussão, pois deixa em aberto quais seriam as necessidades humanas do momento atual e
as das gerações futuras, além de não fazer menção à finitude dos recursos naturais. O relatório ficou conhecido como relatório Brundtland
e consagrou a dimensão social como parte integrante da questão ambiental, além de mostrar-se contra os efeitos do liberalismo, uma vez
que ele provocava o aumento das desigualdades sociais entre os países (Nascimento, 2012; WCED, 1987).
Em 1984, ocorreu na Índia a maior catástrofe industrial da história, o desastre de Bhopal (Tabela 2) (Wittckind et al., 2017). Em 2011,
um projeto intitulado Plattform Industrie 4.0 (Plataforma Indústria 4.0) foi lançado pelo governo alemão durante a Feira de Hannover (Ale-
manha), a principal feira de tecnologia industrial do mundo. O projeto tinha como objetivo permitir a troca de informações/dados entre
máquinas e seres humanos e a otimização de todo o processo produtivo.

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Tabela 2: Principais eventos industriais que resultaram em catástrofes ambientais

Em 2015, a Plataforma Indústria 4.0 foi relançada como um programa do governo alemão (Sacomano et al., 2018). A Indústria 4.0
se apoia em nove pilares tecnológicos: Big Data, robótica autônoma, manufatura aditiva (ex.: impressão 3D), simulação, integração de
sistemas, computação em nuvem, Internet das Coisas, segurança cibernética e realidade aumentada. A linha de produção de uma planta
industrial 4.0 pode ser acionada e controlada remotamente.

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Nesse contexto, um modelo virtual dessa linha pode ser cria- tos químicos relacionados à fabricação do alumínio, além de aspec-
do para ser otimizado online, garantindo que, quando implantado, tos químicos, ambientais e sociais relacionados à reciclagem deste
cause um número reduzido de problemas. Problemas na linha de metal por meio de uma história em quadrinhos e de recursos audio-
produção podem ser detectados pelo próprio sistema que aciona os visuais. A seguir é apresentado um relato do desenvolvimento das
fornecedores, solicitando sua manutenção. Além disso, os clientes duas últimas atividades, realizadas em 4 aulas, com 14 alunos do 1º
podem ter seus pedidos processados e programados automatica- ano do Ensino Médio do período matutino de um colégio estadual
mente, além de terem acesso virtual às fases de produção, tendo de Goiás, no segundo semestre de 2018, em uma disciplina criada
inclusive a possibilidade de realizarem customizações em seus pro- pela Secretaria de Educação do referido estado com o objetivo de
dutos (Sacomano et al., 2018). possibilitar a melhoria do ensino de Química.
Além de promover automatização nas plantas industriais e O ciclo de vida do alumínio se inicia com a mineração da bauxi-
maior eficácia dos processos, a Indústria 4.0 pode contribuir para ta e termina com a reciclagem do alumínio. Na atividade intitulada
a adequação da produção visando o desenvolvimento sustentável. “De onde vem os metais?”, o professor propôs a leitura, em sala
Em geral, as indústrias consomem muita energia e água. A automa- de aula, da história em quadrinhos “Wandeca e o que sai da mina:
tização dos processos torna possível programar as máquinas para a aventura com o alumínio” (CETEM e MCT, 2006), um material de
que operem com menos recursos em determinados horários e para divulgação científica disponibilizado gratuitamente na internet. O
que sejam desligadas quando não houver demanda, o que contribui material conta a aventura de uma perereca chamada Wandeca que,
para a economia de energia e de água. A manufatura aditiva, na no começo da história, caminha levando uma prancha de surf
qual a matéria-prima é adicionada até a formação completa de um rumo à casa de seu primo Deco, que não aparece na história, uma
produto, contribui para a redução de resíduos. Em se tratando da vez que Wandeca não chega ao seu destino. No caminho, ela per-
fabricação tradicional, os sistemas inteligentes conseguem utilizar cebe que está andando sobre um chão vermelho, quando encon-
os recursos de forma mais precisa, evitando o desperdício (Peder- tra dois robôs: Tecno e Logia. Nesse momento, Wandeca descobre
neiras, 2020). que aquele local era uma área de exploração mineral de alumínio e
Após a aula virtual sobre Indústria 4.0 e sustentabilidade, foi que a terra vermelha onde pisava se tratava de rejeitos de bauxita
apresentado aos professores cursistas o produto educacional de- (minério de alumínio), da qual é extraída a alumina, mineral que
senvolvido no PROFQUI e que propõe duas atividades para a abor- dá origem ao alumínio primário. A partir daí eles percorrem juntos
dagem da mineração e da reciclagem do alumínio. todo o processo envolvido na obtenção do alumínio. No final da
história, Wandeca aparece descartando uma lata de alumínio no
Abordagem do ciclo de vida do alumínio no Ensino Médio e lixo convencional, quando Logia chama sua atenção dizendo que a
no PROFQUI latinha não deveria ser descartada ali porque o alumínio é um metal
reciclável (CETEM e MCT, 2006).
O alumínio é um elemento economicamente importante no Para tornar a leitura do livro mais atrativa e proporcionar um
mundo contemporâneo por possuir inúmeras aplicações em di- ambiente agradável de aprendizagem, o professor designou três
versos setores industriais, estando presente nos meios de trans- estudantes para fazer o papel dos protagonistas da história. No de-
porte (automóveis, aeronaves, trens e navios), na construção civil correr da leitura, o professor fez intervenções para explicar os con-
(portas, janelas e fachadas) e nos eletroeletrônicos (equipamentos ceitos químicos necessários para promover uma compreensão crí-
elétricos, componentes eletrônicos e de transmissão de energia) tica da história, destacando aqueles considerados relevantes para
(Constantino et al., 2002). Além de possuir diversas propriedades o primeiro ano do Ensino Médio e que haviam sido abordados nas
químicas que o tornam um material excepcional, ele é considerado atividades anteriores. Ele explicou que o minério com aspecto de
sustentável por apresentar alto nível de reciclabilidade, ou seja, ele terra vermelha (bauxita) é uma forma impura do mineral alumina
pode ser reciclado diversas vezes sem perder qualidade (Beegreen, (Al2 O3 ), de onde é extraído o metal alumínio por meio do processo
2019). O Brasil tem se destacado como um dos líderes mundiais na Hall-Héroult. Nesse processo, ocorre a eletrólise ígnea da alumina
reciclagem de latas de alumínio, sendo que, de acordo com a Asso- (preliminarmente refinada pelo processo Bayer), que é reduzida a
ciação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas), o alumínio metálico enquanto que o ânodo de carbono é oxidado a
país obteve um índice de reciclagem de 97,4% em 2020, mesmo em CO2 (Toquetto, 2019). Após a finalização da leitura, o vídeo “De
um cenário de pandemia em que houve interrupção de atividades onde vem o alumínio?” (Manual do Mundo, 2018) foi apresentado
de coleta seletiva em diversos municípios e a suspensão do trabalho aos estudantes para complementar as informações retratadas na
de cooperativas de catadores (Agência Brasil; 2021). Essas caracte- história em quadrinhos.
rísticas permitem que o tema sustentabilidade possa ser contextua- Ao final da atividade, foi solicitado aos alunos que respondes-
lizado a partir do ciclo de vida do alumínio. sem a pergunta: “O que é o alumínio e onde ele é utilizado?”. As
Um produto educacional para a abordagem do tema metais respostas “Elemento químico muito abundante na crosta terrestre,
no Ensino Médio foi desenvolvido no PROFQUI. Ele consiste em um utilizado na fabricação de copos, panelas” e “É um metal usado em
material de apoio ao professor constituído por cinco atividades. As panelas, fabricação do papel alumínio” foram consideradas satisfa-
duas primeiras atividades desse material são dinâmicas de grupo, tórias, e a resposta “É um metal usado em vários objetos” foi con-
cujos objetivos são: fazer com que os estudantes identifiquem a siderada parcialmente satisfatória. “Não sei” e “Em muitos lugares”
presença de elementos metálicos em objetos/produtos seleciona- são exemplos de respostas consideradas insatisfatórias.
dos; e promover uma discussão sobre a organização desses elemen- A outra atividade, intitulada “Como são recicladas as latinhas
tos na tabela periódica (Freitas et al., 2019; Freitas et al., 2021). de alumínio?”, teve como objetivo conscientizar os alunos so-
A terceira atividade propõe explorar o conceito de densidade por bre a importância ambiental, econômica e social da separação e do
meio da sua determinação experimental para alguns metais (Freitas destino adequados de materiais recicláveis como o alumínio. Pri-
et al., 2019). As duas últimas atividades objetivam trabalhar concei- meiramente, os estudantes assistiram ao vídeo “Como funciona a
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reciclagem de latinhas de alumínio?” (Manual do Mundo, 2016). te satisfatórios por envolverem a temática sustentabilidade, mas
Após isso, o professor iniciou uma discussão sobre os benefícios não serem direcionados para o contexto do alumínio, conforme
ambientais da reciclagem do alumínio, destacando que ela promove havia sido solicitado.
economia de matéria-prima (bauxita) para a fabricação de alumínio Com relação aos recursos didáticos, a maioria dos professores
e de energia, utilizando apenas 5% da energia elétrica empregada elencaram recursos tradicionais, como quadro branco, pincel, da-
na produção do alumínio primário, além de promover uma dimi- tashow, livros, vídeos e outros. As propostas de dois professores
nuição do volume de lixo gerado que seria destinado aos aterros cursistas chamaram a atenção: o professor D mencionou a utiliza-
sanitários (ABAL, 2018). Além disso, a reciclagem do alumínio pro- ção de reagentes químicos, vidrarias e equipamentos de laborató-
move uma diminuição significativa dos gases de efeito estufa (GEE), rio, e o professor B mencionou uma visita virtual a uma mineradora
como CO2 , CF4 e C2 F6 , em comparação com aqueles emitidos no e o uso de jogos e simuladores do processo de mineração.
processo de produção do alumínio primário (Silva, 2010). A cadeia Na metodologia, chamou a atenção a resposta do professor
de reciclagem do alumínio também tem um papel social importan- cursista D, que possivelmente baseou a sua proposta em sua pes-
te, pois é capaz de gerar um número significativo de empregos, uma quisa de mestrado. A resposta do referido professor foi: “As aulas
vez que envolve cooperativas e catadores autônomos de materiais serão expositivas, explicativas e dialogadas no formato híbrido no
recicláveis, sucateiros de pequeno e grande porte e outros inter- modelo rotacional, adaptando o modelo de sala de aula invertida,
mediários, que recolhem as embalagens em postos de coleta, con- rotação por estações e laboratório rotacional”. No item avaliação,
domínios públicos e privados e pontos comerciais (CEMPRE, 2018). os professores cursistas sugeriram: aplicação de avaliação escrita,
Para finalizar a atividade, os estudantes responderam duas participação dos estudantes nas aulas e seminários, debate de notí-
questões. Quando questionados acerca da importância da recicla- cias sobre desastres ambientais causados pela mineração e análise
gem do alumínio, as duas respostas que mais chamaram a atenção de textos interdisciplinares. Nesse tópico do plano de aulas, o pro-
foram: “Minimizar a emissão de carbono e promover o eficiente uso fessor cursista A também sugeriu a utilização da ferramenta Plickers
de recursos naturais” e “Além de combater a poluição de rios, lagos, (Plickers, 2022) para avaliar os alunos.
das ruas, podemos economizar recursos com a reciclagem do alu- Para finalizar essa etapa, foi produzido um podcast de aproxi-
mínio e ajudar o meio ambiente”. Quando questionados se realiza- madamente 15 minutos, com o objetivo de apontar alguns objetos
vam a coleta seletiva em suas casas, constatou-se que a maioria dos de conhecimento que poderiam ser abordados no Ensino Médio
educandos não faziam a separação dos materiais, justificando tal a partir do tema produção e reciclagem do alumínio e realizar o
ato pelo fato de não ocorrer a coleta seletiva por catadores ou coo- fechamento da atividade. Optou-se pelo podcast uma vez que os
perativas na região onde moram. A atividade despertou a consciên- professores cursistas possuem pouco tempo para se dedicar às ati-
cia ambiental nos estudantes e muitos afirmaram que passariam a vidades do PROFQUI, pois realizam o mestrado concomitantemente
fiscalizar os pais no descarte das latinhas de alumínio. ao trabalho nas escolas.
As duas atividades relatadas anteriormente foram apresenta- Avaliando os objetos de conhecimento da Química referentes
das de maneira sucinta aos professores cursistas do PROFQUI e o à área de ciências da natureza e suas tecnologias no Currículo Refe-
material contendo essas atividades foi disponibilizado a eles. Após rência do Ensino Médio de Minas Gerais (Minas Gerais, 2021), ober-
a apresentação, foi solicitado aos professores cursistas que elabo- va-se que a eletroquímica é um objeto de conhecimento da compe-
rassem um plano de aulas que contemplasse os temas sustentabili- tência 1 e a produção e aplicação do alumínio, da competência 3.
dade, mineração, produção e reciclagem do alumínio. Assim, a produção do alumínio a partir da redução eletroquímica
De maneira geral, a avalição dos planos de aulas mostrou que do óxido de alumínio fundido pelo processo Hall-Héroult (Toquetto,
os professores cursistas têm dificuldade em definir com clareza os 2019) poderia ser abordada para contemplar esses conteúdos.
objetivos de suas propostas. Com relação ao público-alvo das aulas Problemas ambientais mundiais, nacionais e regionais inte-
propostas, dois professores propuseram atividades para o 1º ano gram os objetos de conhecimento da competência 2 (Minas Gerais,
do Ensino Médio, dois para o 2º ano do Ensino Médio e um para o 2021). Um problema recorrente em Minas Gerais e que pode ser
2º módulo do Ensino Técnico em Química. O tempo previsto para o trabalhado com os alunos do Ensino Médio consiste no rompimen-
desenvolvimento dos planos de aulas propostos variou entre 4 e 6 to de barragens, que constituem o principal dispositivo de destina-
aulas. Com relação aos conteúdos químicos a serem abordados nas ção final de rejeitos da mineração no Brasil. Em Minas Gerais, os ca-
aulas propostas, os seguintes conteúdos foram classificados como sos ocorridos nos municípios de Mariana e Brumadinho causaram
satisfatórios: propriedade dos metais, ligação metálica, metalur- desastres ambientais catastróficos, o que possibilitou questionar a
gia e siderurgia, impactos ambientais, separação de sólidos, estu- segurança do método frequentemente empregado na construção
do do elemento alumínio, mineração da bauxita, refino (processo de barragens de rejeitos de mineração, denominado método de al-
Bayer), redução, tratamento dos rejeitos da mineração, fabricação teamento para montante, muito empregado por apresentar baixo
de produtos derivados do alumínio, reciclagem, eletrólise ígnea e custo quando comparado a outros métodos mais seguros (Silva e
processo industrial do alumínio. Observa-se que a maioria desses Ribeiro, 2020).
conteúdos são coerentes com a temática mineração e reciclagem Propriedades coligativas e suas aplicações constituem outro
do alumínio, exceto os conteúdos separação de sólidos e redução, objeto da competência 2 (Minas Gerais, 2021). A produção do alu-
que não estão completamente claros. mínio também pode ser utilizada na contextualização da aborda-
O professor cursista E elencou os seguintes conteúdos: cons- gem desse conteúdo. Como mencionado anteriormente, o proces-
cientização ambiental (Geografia); recicláveis e não recicláveis (Ci- so de produção do alumínio primário consiste na eletrólise do óxido
ências - Química), reutilização e recuperação de objetos (Ciências de alumínio fundido. A temperatura de fusão do óxido de alumínio
- Química); descarte do lixo orgânico (Geografia e Química); e histó- é em torno de 2072 ºC. A mistura de criolita (Na3 AlF6 ) ao óxido de
ria do reaproveitamento e da reciclagem dos materiais ao longo do
tempo (História). Esses conteúdos foram considerados parcialmen-
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alumínio fundido resulta no abaixamento significativo da tempera- to da queima de uma vela. A partir de Ações Favoráveis ao Ensino
tura de fusão para 980 ºC, o que contribui para tornar o processo Envolvendo Argumentação, caracterizamos as ações da professora
menos dispendioso (Kotz et al., 2011). e discutimos suas contribuições para o engajamento dos estudan-
O uso de novas tecnologias com objetivos sustentáveis é um tes na prática de argumentar. Concluímos que as ações da professo-
objeto de conhecimento da competência 3 (Minas Gerais, 2021), ra contribuíram principalmente para que os estudantes: participas-
possibilitando uma abordagem integrada dos temas Indústria 4.0 sem da discussão e refletissem sobre a construção das evidências e
e sustentabilidade com alunos do Ensino Médio. Considerando a sobre a validade das afirmativas científicas.
produção de alumínio, um estudo realizado pelo Serviço Nacional Nas últimas décadas, os documentos oficiais que apontam
de Aprendizagem Industrial (SENAI) em parceria com a Associação orientações para o ensino básico em vários países (por exemplo,
Brasileira do Alumínio (ABAL) mostrou que a maioria das plantas NRC, 2012; DFE, 2014; Brasil, 2018) têm destacado o papel da Edu-
industriais do setor do alumínio possuem soluções de automação e cação Básica como sendo o de ajudar os sujeitos a desenvolver
sensores em pelo menos parte de seu parque fabril. conhecimentos e habilidades para que eles possam desempenhar
Apesar disso, ainda é necessário ampliar a combinação de no- papeis ativos na sociedade em que vivem.
vas tecnologias habilitadoras de Indústria 4.0. Assim, a transforma- Especificamente no contexto da Educação Básica brasileira, na
ção digital deve fortalecer cada vez mais a sustentabilidade, a ino- Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador
vação e a competitividade do setor (Agência CNI de Notícias, 2021). para o Ensino Médio, encontramos a indicação de dez competên-
A química ambiental, descarte consciente, substâncias e ações cias relacionadas à formação cidadã e às transformações sociais que
sustentáveis também integram um objeto de conhecimento da estudantes devem desenvolver ao longo de seu processo formativo.
competência 3. Tal objeto pode ser abordado a partir do descarte Neste conjunto de competências, devido ao foco desse artigo, des-
adequado e da reciclagem do alumínio, como apresentado ante- tacamos a sétima, segundo a qual estudantes devem ser capazes
riormente. de: Argumentar com base em fatos, dados e informações confiá-
veis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e
Considerações finais decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos,
Este trabalho teve como objetivo apresentar relatos de experi- a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito
ências de atividades desenvolvidas no Ensino Médio e no PROFQUI local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao
envolvendo os temas Indústria 4.0 e sustentabilidade. Essas ativida- cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. (Brasil, 2018, p. 9)
des podem contribuir para a contextualização histórica e regional O desenvolvimento desta competência está diretamente asso-
dos temas e para uma aprendizagem mais crítica e efetiva. Foram ciado às oportunidades de estudantes participarem de situações
apresentadas propostas de conteúdos que podem ser abordados argumentativas em aulas de Ciências. Segundo JiménezAleixandre
na Educação Básica a partir da cadeia produtiva do alumínio, aten- e Erduran (2008), isto significa engajá-los em um processo social,
dendo os objetos de conhecimento e as competências do Currículo visando: (i) justificar ou avaliar afirmativas de conhecimento, expli-
Referência do Ensino Médio de Minas Gerais. No caso do PROFQUI, citando as conexões entre afirmativa e evidência(s), e (ii) persua-
a contextualização envolvendo o ciclo de vida do alumínio possibili- dir audiências, visando convencer o outro a partir da validade das
tou a discussão de um tema regional de grande relevância econômi- ideias apresentadas ou de críticas às ideias formuladas.
ca, social e ambiental que poderá inspirar os professores cursistas A criação de ambientes argumentativos em contextos regula-
na abordagem crítica desse e de outros temas com seus alunos do res de ensino ainda não tem feito parte da realidade da maioria das
Ensino Médio. salas de aula de Ciências (Sá e Queiroz, 2011; McNeill et al., 2016),
visto que muitos professores parecem não visualizar possibilidades
Nota de realizá-la frente a um currículo repleto de conceitos científicos
*O número de ocorrências de palavras foi contabilizado empre- e à crença de que é necessário deixar de ensinar conteúdos cien-
gando o Google Chrome. tíficos para se ensinar a argumentar (Kuhn, 2005). Entretanto, vi-
sões contemporâneas têm defendido que o ensino de conteúdos
deveria contemplar o ensino sobre práticas científicas envolvidas na
STEFANNIE S., I.; ROSÁRIA, J. CONTRIBUIÇÕES DE AÇÕES produção daqueles conhecimentos (Osborne, 2016). Nesse sentido,
FAVORÁVEIS AO ENSINO ENVOLVENDO ARGUMENTAÇÃO enfatizamos a criação de ambientes argumentativos no contexto do
PARA A INSERÇÃO DE ESTUDANTES NA PRÁTICA CIENTÍFI- ensino de Ciências e, consequentemente, do ensino de Química,
CA DE ARGUMENTAR. QUÍMICA NOVA NA ESCOLA, V. 43, porque a argumentação é uma prática autêntica da ciência, visto
N. 1, 2021. que cientistas desenvolvem e debatem teorias a partir de evidên-
cias (Osborne e Dillon, 2010). Portanto, envolver estudantes em
situações argumentativas relacionadas à produção de conhecimen-
A Base Nacional Comum Curricular aponta o desenvolvimento tos pode contribuir para que eles desenvolvam: uma visão ampla
da capacidade de argumentar como um dos objetivos para a Edu- do significado de Ciências e a competência argumentativa, visto que
cação Básica. Isso está associado às oportunidades oferecidas pelo aprender a pensar está intrinsecamente relacionado a aprender a
professor para os estudantes participarem de situações argumenta- argumentar (Kuhn, 1993).
tivas em aulas de Ciências. Diante disso, investigamos como ações Nesse contexto de ensino de Ciência/Química envolvendo ar-
docentes podem favorecer o envolvimento de estudantes em pro- gumentação, cabe ao professor favorecer tanto a ocorrência de si-
cessos argumentativos relacionados à produção de conhecimento. tuações argumentativas quanto a participação de estudantes nas
Para tal, observamos e registramos em vídeo uma aula de Química, mesmas. Então, é importante que ele: (i) engaje os estudantes em
na qual a professora e os estudantes discutiram sobre o experimen- situações investigativas que possibilitem o levantamento e análise
de hipóteses, que sejam discutidas analisando a validade e perti-
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nências das conclusões formuladas à luz das evidências e de outros conhecimentos científicos disponíveis aos estudantes (Chiaro e Leitão,
2005; Ferraz e Sasseron, 2017); e (ii) proporcione a ocorrência de, e envolvimento dos estudantes em, reflexões sobre os critérios estabele-
cidos para julgar a argumentação desenvolvida e os produtos dessa argumentação, os argumentos, isto é, situações em que os estudantes
considerem os argumentos formulados por eles como objetos de conhecimento (Leitão, 2011).
Assim, parece claro que o envolvimento de estudantes na prática científica de argumentar se relaciona estreitamente com aspectos
metodológicos da prática docente na condução de situações argumentativas. Por isto, neste trabalho, buscamos investigar: como ações
docentes podem favorecer o envolvimento de estudantes em processos argumentativos relacionados à produção de conhecimento? Es-
peramos que as discussões e conclusões deste trabalho subsidiem reflexões de professores interessados em atuar, ou aperfeiçoar suas
atuações, na perspectiva de inclusão da prática científica de argumentar em suas aulas.

A literatura que fundamenta nossos argumentos


Prática Científica de Argumentar Na Ciência, a argumentação pode ser compreendida como um processo social direcionado à elabo-
ração de argumentos científicos que expressam relações entre evidências e teorias, e são formulados objetivando propor uma explicação,
propor um modelo, ou fazer uma avaliação de um conhecimento (Duschl e Osborne, 2002). Ainda, segundo Norris et al. (2008), a argu-
mentação científica também pode ser pensada como uma forma de validar ou refutar argumentos científicos, considerando um conjunto
de proposições que refletem os valores da comunidade científica, isto é, a partir de critérios epistêmicos.
No processo de construção de argumentos científicos, um elemento central é a evidência, uma vez que é utilizada para dar suporte à
afirmativa/conclusão científica (Longino, 1990). Bravo Torija e Jiménez-Aleixandre (2010) diferenciam dados de evidências, considerando
que evidências são construídas a partir da interpretação de dados empíricos ou teóricos e que se baseia em modelos científicos. Assim,
a atribuição de significados aos dados, o que os transforma em evidências, é guiada pelas crenças e conhecimentos prévios dos sujeitos
envolvidos na construção do argumento (Osborne e Dillon, 2010). Portanto, é plausível afirmar que diferentes sujeitos podem interpretar
determinados dados de forma diferente, ou podem selecionar, a partir de um mesmo conjunto de dados, dados diferentes para serem
usados como suporte para seus enunciados.
A argumentação também se faz presente em momentos nos quais é necessário convencer outros da validade de (um) argumento(s) e
de suas potencialidades em uma dada situação. Assim, o reconhecimento e aceitação de argumentos científicos produzidos se dá a partir
de um processo argumentativo (Williams, 2011), no qual os diferentes métodos usados na investigação, na avaliação e na interpretação
tanto de dados quanto de explicações alternativas geradas sobre o fenômeno, são levados em consideração (Duschl e Osborne, 2002).

Contribuições da Prática de Argumentar para o Ensino de Ciências


Sobre o uso da argumentação no Ensino de Ciências, JiménezAleixandre e Erduran (2008), a partir das ideias de Andrée Tiberghien,
apontam algumas contribuições potenciais da prática de argumentar para a aprendizagem de estudantes.
Uma delas se refere à possibilidade de o professor ter acesso a como um estudante está internalizando os conceitos científicos a partir
de situações nas quais tal estudante explicita seus raciocínios. Dessa forma, o professor pode avaliar a adequação das evidências e justifi-
cativas apresentadas pelo estudante frente aos modelos teóricos disponíveis em determinada situação de ensino.
Outra potencialidade da argumentação está associada ao desenvolvimento de competências comunicativas e relacionadas ao pensa-
mento crítico dos estudantes, ambas diretamente vinculadas à sétima competência destacada na BNCC (Brasil, 2018). O pensamento críti-
co pode ser entendido como a capacidade de um sujeito avaliar ou analisar: a consistência de argumentos a partir do exame de evidências
(Kuhn, 1991), e criticar discursos de autoridade, questionando e podendo transformar a sociedade em que vive. Nesse sentido, o ensino
envolvendo argumentação tende a favorecer o desenvolvimento do pensamento crítico ao proporcionar aos estudantes a possibilidade de
analisar as evidências disponíveis, analisar os argumentos apresentados e discutir questões controversas, as quais podem contribuir para
eventuais posicionamentos críticos.
Além disso, Jiménez-Aleixandre e Erduran (2008) apontam que a prática de argumentar pode contribuir para o desenvolvimento dos
conhecimentos de estudantes sobre a própria Ciência. Isto porque, como defendido por Driver et al. (2000) e Osborne et al. (2004), ao
participar de situações argumentativas, os estudantes (i) têm oportunidades de discutir sobre processos que levam à aceitação de uma
teoria ou ideia a partir de critérios epistêmicos, podendo reconhecer a Ciência como um processo social; e (ii) podem expressar seus ra-
ciocínios ou argumentos referentes ao conhecimento científico em discussão, o que favorece a aprendizagem sobre a comunicação (oral
ou escrita) na Ciência.
Por fim, ao serem envolvidos em um ambiente argumentativo, estudantes podem analisar múltiplas explicações para um mesmo
fenômeno e discutir tais explicações. Isso permite que o professor conduza discussões relacionadas às diferentes linhas de pensamento
utilizadas pelos estudantes para propor explicações e os conduza à análise destas.

Ações Docentes no Contexto de Ensino Envolvendo Argumentação


Considerando a importância do papel do professor na criação e condução de situações argumentativas em sala de aula, pesquisadores
(por exemplo, Chiaro e Leitão, 2005; Simon et al., 2006; Christodoulou e Osborne, 2014; Orofino e Trivelato; 2015; Lourenço et al., 2016;
Ibraim e Justi, 2017; Lourenço e Queiroz, 2020) têm buscado investigar as relações entre as ações docentes e o envolvimento dos estu-
dantes em processos argumentativos.

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No contexto brasileiro, na última década, alguns pesquisadores têm utilizado as ações docentes relacionadas à argumentação pro-
postas por Simon et al. (2006) como quadro analítico para investigar: (i) as contribuições das ações de uma professora ao trabalhar com
atividades de leitura e discussão de texto para estimular os estudantes a argumentar (Orofino e Trivelato; 2015); (ii) como licenciandas em
Química conduzem atividades argumentativas no contexto de sala de aula (Lourenço et al., 2016); e (iii) como as ações manifestadas por
essas licenciandas estão relacionadas às facilidades e dificuldades enfrentadas por elas (Lourenço e Queiroz, 2020).
Assim como os trabalhos citados, Ibraim (2018) assume as ações apresentadas em Simon et al. (2006) como favoráveis ao ensino en-
volvendo argumentação. Entretanto, ao investigar as ações docentes manifestadas por uma professora durante a condução de situações
de ensino envolvendo argumentação, a autora ampliou o quadro analítico apresentando um conjunto de 48 tipos de Ações Favoráveis
ao Ensino Envolvendo Argumentação (AFEEA) a partir da identificação de algumas ações em outros trabalhos da literatura (por exemplo,
Mork, 2005) e da proposição de outras em um estudo empírico. Tais ações foram divididas de acordo com sua natureza em quatro temas,
como apresentado no Quadro 1.
A variedade de AFEEA e seus temas (Quadro 1) possibilita relacioná-los aos diferentes objetivos para o Ensino de Ciências/Química
envolvendo argumentação. Por exemplo, as ações contempladas no tema estrutura1 estão mais alinhadas ao objetivo de ensinar expli-
citamente argumentação do que as ações do tema processo, que visam o envolvimento dos estudantes nos processos argumentativos.
O estabelecimento de relações entre as ações manifestadas pelo professor e os objetivos de ensino pode iluminar discussões sobre as
razões para ações relativas ao ensino sobre argumentação não terem sido observadas nos trabalhos de Lourenço et al. (2016) e Lourenço
e Queiroz, 2020. Isto porque, nos contextos investigados pelas autoras, as licenciandas tinham como objetivo o ensino de conteúdos cien-
tíficos curriculares, por exemplo, ligações metálicas.
Dessa forma, era de se esperar que as ações manifestadas por elas se relacionassem às classificadas como de natureza suporte e pro-
cesso no Quadro 1. Isto porque ações destas naturezas estão relacionadas à criação e condução de situações argumentativas, as quais, nos
estudos supracitados, se relacionavam à construção de conhecimentos científicos curriculares. Portanto, consideramos que a ampliação
do referencial analítico e a organização das AFEEA em temas podem contribuir para que novos entendimentos sobre o ensino de Ciências
envolvendo argumentação sejam alcançados, valorizando as contribuições das ações docentes em diferentes contextos de ensino.
Diante disso, consideramos que o conjunto de AFEEA pode contribuir para a elaboração e avaliação do argumento a ser construído
neste trabalho, no qual analisamos como ações docentes podem contribuir para o envolvimento de estudantes em processos argumenta-
tivos relacionado à produção de conhecimentos.

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Quadro 1. Ações favoráveis ao ensino envolvendo argumentação e seus temas relacionados.

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Quadro 1. Ações favoráveis ao ensino envolvendo argumentação e seus temas relacionados (cont.)

Fonte: Adaptado de Ibraim (2018)

Trabalho com os dados

A coleta de dados ocorreu em uma turma de segundo ano do ensino médio durante o processo de ensino-aprendizagem de aspectos
cinéticos envolvidos em reações químicas. A professora da turma, Ana2 , é mestre e doutora em Educação. Na época da coleta dos dados,
ela tinha 12 anos de experiência no Ensino Básico e várias experiências em trabalhar com práticas científicas investigativas. Os dados
analisados se referem a uma discussão ocorrida em sala de aula sobre a queima de uma vela. Nesse contexto, uma estudante, Vitória,
expressou a seguinte dúvida: “Eu fico pensando qual é o verdadeiro papel da parafina na vela, se é só para deixar o barbante em pé ou
se é para não queimar tudo [retardar a queima da vela]”. Diante deste questionamento e do fato de os demais colegas não conseguirem
formular uma resposta, Ana solicitou que os estudantes realizassem, em casa, um experimento envolvendo a queima de uma vela, ou, se
possível, de duas velas com espessuras diferentes. Os dados aqui abordados se referem às discussões ocorridas em sala sobre as observa-
ções, hipóteses e conclusões formuladas pelos estudantes a partir do experimento realizado em casa.
Essa discussão foi observada e registrada em vídeo pela primeira autora, sendo as falas dos estudantes e da professora transcritas
integralmente de forma situada. Para analisar os dados, produzimos um estudo de caso (Yin, 2001), porque nos dedicamos a investigar e
interpretar uma situação particular. Especificamente, buscamos compreender como as AFEEA manifestadas por Ana podem ter contribuí-
do para o envolvimento de seus estudantes na prática científica de argumentar. Para tal, inicialmente, foram identificados os eventos nos
quais ocorreram situações argumentativas. Os eventos representam unidades de análise que dizem respeito à fala de Ana ou dos estudan-
tes e aos diálogos entre ela e eles (Christodoulou e Osborne, 2014).
Portanto, são situações que podem ajudar a caracterizar a manifestação das ações da professora e o impacto dessas ações na ar-
gumentação dos estudantes. Por limitações de espaço, discutimos cinco dos eventos ocorridos na aula analisada. Eles foram escolhidos
porque apresentam situações típicas de contextos regulares de ensino e possibilitam construir evidências sobre as diferentes contribui-
ções das ações docentes para o envolvimento de estudantes em situações argumentativas neste tipo de contexto. Informações especí-
ficas sobre os contextos de cada um dos eventos são apresentadas junto com sua discussão. De posse dos eventos, nos debruçamos no
processo de análise visando à construção das evidências para nosso estudo. Para isso, caracterizamos as ações da professora segundo as
AFEEA apresentadas no Quadro 1. Na sequência, analisamos o impacto da ação manifestada no envolvimento dos estudantes na prática
de argumentar a partir dos referencias teóricos discutidos neste trabalho (por exemplo, Duschl e Osborne, 2002; Norris et al., 2008; Jimé-
nez-Aleixandre, 2010; Osborne e Dillon, 2010). As análises foram realizadas pelas pesquisadoras de forma independente e, quando houve
divergência, estas foram discutidas, respeitando os procedimentos de triangulação entre árbitros (Cohen et al., 2011).
Por fim, apresentamos e discutimos as evidências construídas a partir de (i) quadros contendo as transcrições dos eventos e a cate-
gorização das AFEEA e (ii) nossa interpretação à luz da literatura que fundamenta nossos argumentos sobre as contribuições das ações
docentes para o engajamento dos estudantes na prática científica de argumentar.
Construção e discussão de evidências sobre as contribuições de AFEEA para o envolvimento de estudantes na prática científica de
argumentar Evento 1: A parafina desaparece?
O evento 1 (Quadro 2) ocorreu no início das discussões sobre o papel da parafina na queima da vela a partir das observações e re-
flexões dos estudantes quando da realização do experimento em casa. Nesse evento, eles discutem com Ana sobre a possibilidade de a
parafina ter “desaparecido”.

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No Quadro 2, observamos que a professora manifestou a ação encorajar a participação na discussão, a manifestação das ideias dos
estudantes como um convite para eles apresentarem suas observações a partir do experimento. Ao relatarem suas observações, alguns
estudantes apontaram a possibilidade de a parafina ter desaparecido. A ideia de desaparecimento da matéria durante as transformações
químicas é uma concepção alternativa resultante da transposição de observações macroscópicas para o nível submicroscópico (Rosa e
Schnetzler, 1998) e, portanto, pode impactar no processo de avaliação e construção das afirmativas científicas.
Diante disso, a ação de encorajar uma tomada de posicionamento foi manifestada pela professora com a intenção de sondar se os
estudantes de fato consideravam o desaparecimento da parafina, ou se utilizaram o termo como um modo geral de se expressar. Essa
intenção ficou mais evidente no segundo questionamento da professora, quando ela encorajou os estudantes a apresentar justificativas,
de forma que ela tivesse acesso à parte de seus conhecimentos científicos sobre transformações químicas. Ao encorajá-los a apresentar
suas justificativas, a professora começou a introduzi-los na discussão sobre o que eles sabem sobre a queima da vela e sobre quais são as
razões para invalidar a hipótese de desaparecimento da parafina. Portanto, a solicitação de apresentação de justificativa trouxe uma mu-
dança para o discurso em sala, que no início era do tipo interativo dialógico, envolvendo diferentes pontos de vistas e sujeitos (Mortimer
e Scott, 2003) e passou a ser do tipo interativo de autoridade, pois houve um direcionamento para que as discussões sobre a hipótese,
“desaparecimento da parafina”, fosse feita à luz dos conhecimentos científicos.
Essa mudança de discurso foi compreendida pelos estudantes, porque eles trouxeram como justificativa para seus posicionamentos
um enunciado científico (da lei de Lavoisier) que, naquele contexto, representava um argumento de autoridade (Jiménez-Aleixandre,
2010), uma vez que as razões para se acreditar que a parafina não desaparece na reação não foram mencionadas. Nesse sentido, Ana
buscou conduzir os estudantes no processo de análise de dados, de forma que eles pudessem construir evidências que dessem suporte
para a conclusão de que a parafina não desaparece no processo. A ação engajar o(s) estudante(s) no processo de análise de dado(s) tendo
em vista a construção de evidência(s) contribuiu para o envolvimento dos mesmos na prática de argumentar, porque ela dirigiu a atenção
deles para as relações entre as observações realizadas, as possibilidades de interpretá-las e as conclusões formuladas. Outra contribuição
da AFEEA relacionada à justificativa manifestada pela professora, diz respeito à retomada da ideia de Daniel (que havia sido apresentada
na aula anterior quando os estudantes levantaram hipóteses sobre a queima da vela) e à solicitação de que ele justificasse sua conclusão.
Embora a conclusão de Daniel estivesse correta, a professora insistiu na necessidade de ela ser justificada, tal como ocorre na Ciência.
Analisando o Quadro 2, percebemos que mesmo frente à solicitação da professora, Daniel não elaborou uma justificativa, o que envolveria
apresentar uma razão baseada em modelos científicos. Ao invés disso, ele apresentou uma hipótese baseada no raciocínio científico do
tipo se/então (Carvalho, 2013): se a parafina não pode desaparecer e as massas são diferentes, então ela participa da reação.
Visando favorecer a discussão das ideias, a professora manifestou a ação encorajar a elaboração de teoria(s) alternativa(s), que tem a
intenção de favorecer que os estudantes apresentem outras possibilidades de explicação para um dado (no caso, a diminuição da massa
de parafina). Kuhn (1993) aponta a habilidade de elaborar teorias alternativas como uma habilidade expressa por um mesmo sujeito, o
que significa uma pessoa elaborar diferentes teorias a partir de um mesmo conjunto de dados. No caso da sala de aula, consideramos
que a elaboração de teorias alternativas pode acontecer no coletivo, pois os estudantes podem se apropriar de dados apresentados pelos
colegas e elaborar outras explicações para eles. Assim, consideramos que solicitar a apresentação de outra interpretação para algum dado
pode contribuir para que os estudantes deem atenção às ideias dos colegas.
A solicitação de elaboração de teorias alternativas não foi compreendida pelos estudantes igualmente. Diferente do que foi feito por
Breno, Emília não apresentou uma teoria alternativa, porque ignorou o dado sobre as massas. Em contrapartida, ela trouxe uma nova
observação para a discussão (ao final da queima ainda há parafina e não há barbante), levantando a hipótese de que toda a parafina seria
queimada se houvesse mais barbante. Diante disso, Ana pareceu reconhecer que houve um desvio na discussão, pois as atenções não
estavam mais centradas apenas no papel da parafina no sistema. Assim, mais uma vez, ela provocou os estudantes a assumir posiciona-
mentos relacionados ao foco da discussão.
Diante dessas discussões, apontamos a importância das ações do tipo suporte no início de uma discussão, de forma a contribuir para
que os estudantes se sintam mais à vontade para participar da construção dos conhecimentos, uma vez que eles falam sobre algo que
sabem, suas observações e experiências com o fenômeno (Kuhn, 2005). Além disso, os movimentos realizados pela professora a partir de
ações de suporte para ações de processo contribuem para que os estudantes regulem seus processos de aprendizagem, uma vez que eles
podem sentir que ainda não possuem clareza sobre as conclusões formuladas (Jiménez-Aleixandre, 2010).
Evento 2: A espera da resposta certa O evento 2 (Quadro 3) diz respeito ao relato dos estudantes sobre o que eles haviam observado
ao realizar o experimento em casa. Tal evento foi motivado pelos questionamentos da professora sobre o papel da parafina e do barbante
no sistema (final do Quadro 2).
A partir do relato de Daniel, os estudantes tinham uma evidência específica de que a parafina era inflamável (Quadro 3). Segundo
Jiménez-Aleixandre (2010), evidências específicas são aquelas que estão diretamente alinhadas às conclusões, possibilitando uma menor
variedade de interpretações. A especificidade da evidência foi ressaltada pela professora quando ela destacou que “não tinha pavio, não
tinha chama na vela”, portanto, apesar da ausência do pavio, a parafina entra em combustão quando em contato com a chama do fogão.
A partir disso, Ana explicitamente engajou os estudantes em um processo reflexivo sobre a construção de evidências a partir da análise
de dados.
A falta de consenso entre os estudantes indica que alguns não consideravam ou não percebiam os dados discutidos como evidências
para a conclusão de que a parafina é inflamável. Assim, eles relataram suas observações e apresentaram hipóteses sem dar atenção ao
conhecimento científico que poderia justificar o que foi observado por eles. Por isso, frente ao relato de Gustavo. Ana solicitou que ele
justificasse o ocorrido por meio de uma ação do tema processo, contribuindo para que os estudantes se engajassem na prática científica
de analisar os dados à luz dos conhecimentos científicos (Jiménez-Aleixandre, 2010). Destacamos que apesar de Ana utilizar o verbo expli-
car, sua ação foi interpretada como encorajar a apresentação de justificativa(s), porque ela buscava a relação dos dados com a conclusão.
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Em resumo, as respostas dos estudantes frente às ações da professora (Quadro 3) demonstram que eles tiveram dificuldades de se
envolver no processo argumentativo. Parte dessa dificuldade pode estar associada à crença, expressa por Vitória, de que cabe ao professor
elaborar as conclusões sobre as questões investigadas, isto é, as afirmativas científicas.
Além disso, essa dificuldade também pode estar associada à falta de experiências em assumir responsabilidades sobre a produção de
conhecimento em sala de aula, pois, em geral, há pouco espaço para que estudantes desempenhem tal papel (Henderson et al., 2018).

Quadro 3. Transcrição da discussão sobre as observações realizadas pelos estudantes.

Fonte: Os autores

Evento 3: Analisando os dados teóricos


No evento 2 (Quadro 3), observamos que os estudantes tinham a expectativa de que a professora elaborasse a resposta para a ques-
tão em discussão. Além disso, apesar de terem trabalhado com os dados e terem se engajado no processo de construção de evidências,
parece que eles ainda não se sentiam capazes de formular um argumento para o problema. Ana pareceu reconhecer que eles precisavam
de mais informações para que fossem capazes de formular seus argumentos sobre o fenômeno investigado. O evento 3 (Quadro 4) apre-
senta a discussão sobre as novas informações apresentadas pela professora.
As informações apresentadas por Ana se relacionavam à constituição da parafina e poderiam ser usadas como evidências sobre sua
queima. Na Ciência, durante a investigação de um fenômeno, os cientistas recorrem à literatura para obter mais informações sobre as
substâncias envolvidas (Williams, 2011). No ensino, uma atitude similar exige conhecimentos sobre como conduzir uma investigação cien-
tífica, o que pode estar além das habilidades dos estudantes. Daí emerge a relevância da ação da professora, uma vez que ela forneceu
informações aos estudantes, mas sem dar a resposta final.
Por isto consideramos que sua ação se aproximou da, ou teve um efeito similar à, consulta a dados da literatura. Para que as informa-
ções apresentadas pudessem ser utilizadas pelos estudantes como evidência, a professora os envolveu no processo de análise de dados
visando à construção das evidências, o que foi feito a partir e questionamentos sobre as características de hidrocarbonetos.
Assim, mais uma vez, a professora não formulou a resposta. Ao invés disto, suas ações conduziram os estudantes no processo de
análise, indicando a eles como um dado pode ser transformado em evidência, isto é, como informações podem ser usadas para sustentar
respostas à questão problema. Desse modo, ela contribuiu para o envolvimento dos estudantes na prática científica de argumentar ao
encorajá-los a validar afirmativas científicas a partir da análise das evidências disponíveis.

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Quadro 4. Transcrição da discussão sobre os dados teóricos apresentados pela professora

Fonte: Os autores
Evento 4 : Analisando os dados empíricos
O evento 4 se refere à retomada da discussão sobre o papel do barbante no sistema, isto é, sobre se ele também é um combustível
na reação. Diferente do que havia sido feito no início da aula (Quadro 2), quando Ana buscou sondar as ideias dos estudantes sobre suas
observações, nesse caso, ela enfatizou a necessidade de buscar um fechamento para a discussão, a construção de um argumento, como
mostrado no Quadro 5.
No início deste evento, a professora enfatizou a importância de evidências na construção de argumentos ao informar aos estudantes
que eles estavam buscando uma conclusão sobre o papel da parafina e do barbante na queima da vela.
Além disto, ela destacou os dados coletados por Emília como específicos para concluir que a parafina é um combustível na reação. Na
sequência, buscando novos dados que pudessem ser usados como evidências, Ana direcionou a discussão para o experimento envolvendo
a queima de velas de espessuras diferentes. A partir disso, ela envolveu os estudantes em um novo processo de análise de dados visando
à construção de evidências ao direcionar a atenção deles para as relações entre espessura das velas e de seus pavios e tempo de queima
de cada uma delas.
Nesse caso, além de engajar os estudantes na prática científica de construir evidências, Ana contribuiu para a ocorrência de reflexões
sobre como construir evidências mais específicas a partir do controle das variáveis. Isto porque ela ressaltou que o fato de o experimento
realizado por João envolver velas e pavios com espessuras diferentes resultou em o dado gerado ser menos confiável do que o encontrado
por Letícia, que trabalhou apenas com a variável quantidade de parafina na vela. Diante disso, apontamos que o envolvimento na prática
de argumentar também contribuiu para que os estudantes se engajassem em reflexões sobre a condução de experimentos científicos.
Nesse caso, também fica evidente que a professora contribuiu para que os estudantes refletissem sobre a transformação dos dados em
evidências.

Evento 5: Construindo um argumento científico


O episódio 5 se refere ao encerramento da discussão sobre a queima da vela e ocorreu após a discussão de todas as evidências cons-
truídas a partir de dados teóricos (Quadro 4) e empíricos (Quadro 5), de os estudantes terem concluído que a parafina é inflamável, e que
ela e o barbante são combustíveis da reação.
A professora iniciou o fechamento da discussão retomando todas as hipóteses que foram levantadas e destacando as razões que
fizeram com que elas fossem abandonadas. Ao fazer isso, Ana engajou os estudantes em um processo reflexivo sobre a avaliação de afir-
mativas de conhecimento à luz das evidências disponíveis, isto é, ela enfatizou as evidências utilizadas para invalidar as hipóteses, o que
está alinhado à argumentação desenvolvida na Ciência (Norris et al., 2008).
Ainda neste processo de avaliação das afirmativas, Ana retomou o experimento realizado pelos estudantes envolvendo o palito de
fósforo, destacando que os dados coletados por eles representavam evidências de que a parafina é inflamável e de que ela é o principal
reagente na queima. Na sequência, ela explicitou que todas as evidências sustentavam o argumento de que a parafina é um combustível

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da reação, e não um elemento estruturante da vela, como eles haviam pensado no início. Portanto, a professora enfatizou as razões para
se acreditar na conclusão de que a parafina é inflamável, algo que havia sido mencionado por Daniel no início da discussão (Quadro 2),
porém sem fundamentação.

Quadro 5. Transcrição da discussão sobre os dados empíricos apresentados pelos estudantes.

Fonte: Os autores

Além disso, Ana ainda retomou a questão relacionada ao papel do barbante na vela, afirmando que ele também é um combustível
da reação. Nesse momento, ela buscou engajar os estudantes em um processo reflexivo sobre a construção de argumentos a partir do
questionamento sobre a impossibilidade de se fabricar uma vela apenas com parafina. Apesar do incentivo da professora, Catarina apre-
sentou apenas uma justificativa, não expressando qualquer relação entre evidências e conclusão, o que contribuiria para a construção de
um argumento. Isto pode ter ocorrido por ela ter considerado que todos, inclusive a professora, conheciam as evidências e a conclusão em
discussão, bastando, assim, apresentar a razão para tal impossibilidade.
Encerrando a discussão, Ana reuniu todas as evidências e hipóteses levantadas pelos estudantes e discutidas, acrescentando a infor-
mação de que a parafina entra em combustão no estado vapor, e explicando o que acontece durante o fenômeno de queima da vela. As
últimas respostas dos estudantes aos questionamentos da professora demonstram que eles conseguiram compreender o fenômeno de
queima da vela.

Construção dos nossos argumentos


Finalizando o processo argumentativo desenvolvido ao longo desse trabalho, concluímos, com base na literatura que aponta caracte-
rísticas sobre a prática científica de argumentar (Duschl e Osborne, 2002; Norris et al., 2008; Jiménez-Aleixandre, 2010; Williams, 2011),
que as AFEEA manifestadas pela professora em uma situação regular de ensino contribuíram para o envolvimento de estudantes na prá-
tica científica de argumentar a partir: do trabalho com evidências, tanto na construção das mesmas quanto na avaliação de afirmativas
científicas; da solicitação de apresentação de justificativas para as afirmativas formuladas, demonstrando a necessidade de estas serem
justificadas frente aos conhecimentos teóricos vigentes; e da reflexão sobre a avaliação de afirmativas científicas à luz dos conhecimentos
e evidências disponíveis.

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Quadro 6. Transcrição do fechamento da discussão sobre a queima da vela.

Fonte: Os autores

Tais aspectos estão diretamente relacionadas ao como os estudantes interpretam os comandos da professora, pois observamos que,
em alguns casos, eles respondiam de forma diferente do que havia sido solicitado por Ana. Além disso, a falta de conhecimentos sobre a
questão em discussão pode ter influenciado a participação dos estudantes na prática de argumentar visto que, em alguns momentos, a
argumentação deles foi comprometida pela falta de conhecimentos ou informações que pudessem ser usadas para fundamentar interpre-
tações ou auxiliar na construção de evidências.
Considerando as evidências construídas e discutidas neste trabalho, apontamos que, ao longo do processo de ensino, as AFEEA contri-
buíram de formas diferentes para o engajamento dos estudantes na prática científica de argumentar. No início da discussão, identificamos
a manifestação de ações do tema suporte, o que significa que as contribuições estão relacionadas à criação de oportunidades para os
estudantes se envolverem no processo argumentativo. Assim, as ações de Ana sinalizavam que a discussão estava em aberto e que as con-
clusões seriam construídas a partir do debate. Nesse sentido, destacamos que o tema suporte se diferencia da ideia de plano pragmático
discutida por Chiaro e Leitão (2005), porque o objetivo dessas ações não é fomentar as divergências sobre o tema, mas conhecer as ideias
dos estudantes de forma que elas integrem o processo de ensino, sendo também objeto de estudo durante o processo de avaliação de
afirmativas científicas frente às evidências.
Ações do tema processo foram manifestadas pela professora principalmente durante discussões sobre as conclusões formuladas, en-
volvendo o trabalho com dados visando à construção de evidências; e na mobilização de modelos teóricos para fundamentar as interpreta-
ções dos dados e para expressar suas relações com a conclusão. Assim, concluímos que as contribuições das ações do tema processo estão
alinhadas ao envolvimento dos estudantes com a argumentação desenvolvida durante a etapa de produção de conhecimentos científicos
e, portanto, elas podem favorecer o processo de ensino-aprendizagem na medida em que eles têm oportunidade de aprender tanto sobre
as afirmativas de conhecimento quando sobre as razões para confiar em tais afirmativas (Duschl e Osborne, 2002).

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As ações dos temas estrutura e função foram manifestadas por Ana apenas ao final da discussão da questão problema, quando os
estudantes haviam formulado suas conclusões. A partir desta constatação, sinalizamos que as contribuições de ações desses temas estão
relacionadas à argumentação desenvolvida nas etapas de comunicação e validação do conhecimento, pois elas envolvem reflexões sobre
a consistência da argumentação frente à análise dos elementos da argumentação, assim como sobre as intenções para o processo argu-
mentativo ocorrido.
Diante dessas considerações, destacamos que as AFEEA manifestadas por Ana contribuíram para o envolvimento dos estudantes na
prática científica de argumentar de forma implícita, pois não foram realizadas discussões explícitas sobre a argumentação na Ciência, os
significados dos elementos presentes na argumentação, e/ou os objetivos atrelados ao processo argumentativo. Entretanto, e consideran-
do os resultados deste estudo, ressaltamos que, no contexto de sala de aula, a prática de argumentar tende a ser favorecida a partir da
abordagem de ensino por investigação, na qual os estudantes têm a oportunidade de trabalhar com dados visando à construção de evi-
dências, de elaborar e testar hipóteses, mobilizar justificativas teóricas para dar suporte as evidências e conclusões etc. (Sasseron, 2015).
Por outro lado, discussões sobre a estrutura dos argumentos, bem como sobre a relação destes com os processos argumentativos podem
demandar a criação de situações de ensino específicas sobre argumentação como, por exemplo, engajar os estudantes em discussões e
reflexões sobre a construção de argumentos e critérios para avaliar os processos argumentativos relacionados ao desenvolvimento de um
júri simulado.
Por fim, frente ao processo argumentativo desenvolvido neste trabalho, em especial, a partir da caracterização das AFEEA manifesta-
das pela professora, esperamos contribuir para que professores de Química se sintam aptos e confortáveis em fomentar a prática científica
de argumentar em suas salas de aulas. Isto porque professores podem identificar algumas de suas ações no conjunto de AFEEA apre-
sentado no Quadro 1 e podem tentar torná-las mais efetivas e frequentes em sua prática. Além disso, as discussões dos eventos podem
contribuir para que professores percebam como a prática de argumentar pode contribuir para o processo de ensino-aprendizagem e como
as ações de Ana se aproximam ou se distanciam de suas práticas. Assim, professores podem repensar suas práticas, ou a maneira como
conduzem discussões em sala, tornando suas ações realizadas intuitivamente em ações realizadas conscientemente e intencionalmente
(Orofino e Trivelato, 2015), de forma a favorecer o engajamento dos estudantes na prática científica de argumentar.

Nota
1 Ao longo do texto, utilizamos itálico para destacar o nome das AFEEA e seus temas.
2 Seguindo os princípios éticos de pesquisas com seres humanos, todos os nomes são fictícios.

Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), pelos auxílios financeiros.

ZANOTTO, R. L.; SILVEIRA, R. M. C. F.; SAUER, E. ENSINO DE CONCEITOS QUÍMICOS EM UM ENFOQUE CTS A PARTIR DE SA-
BERES POPULARES. CIÊNCIA & EDUCAÇÃO (BAURU), V. 22, N. 3, P. 727–740, 2016.

Introdução
Enquanto campo de conhecimento, a Química possibilita expandir a concepção da natureza e suas transformações, bem como, com-
preender as relações dos avanços científicos, tecnológicos e suas implicações na sociedade. Sendo assim, entende-se que o conhecimento
químico é necessário para que o cidadão possa agir frente a múltiplos eventos do contexto em que se encontra inserido, podendo modi-
ficar seu entorno.
Em decorrência disso, percebe-se que muitos professores de Química buscam alternativas para relacionar os conceitos dos compo-
nentes curriculares aos saberes informais, viabilizando sua utilização pelos alunos na interpretação de situações reais do cotidiano.
Uma das possibilidades de articulação dos saberes consiste em trabalhar a inclusão de temas sociais na construção de conceitos
científicos, promovendo mudanças conceituais e, contribuindo para a Alfabetização Científica e Tecnológica (ACT). Dessa forma, a aborda-
gem dos saberes populares permite ao professor re(descobrir) e re(construir) conhecimentos necessários a uma alfabetização científica e
tecnológica (CHASSOT, 2006).
Este artigo objetiva apresentar um estudo que utilizou saberes populares como ponto de partida para o ensino de conceitos químicos,
embasado no estudo de Chassot sobre alfabetização científica, em Mortimer na mudança de perfil conceitual e mapas conceituais (MO-
REIRA; MASINI, 2010) como recurso de avaliação diagnóstica do processo de ensino e aprendizagem, numa perspectiva Ciência, Tecnologia
e Sociedade (CTS) no ensino de química.

Ensino de química x CTS x saberes populares


No contexto de sala de aula, observa-se que há uma dissonância entre o currículo de Química e o cotidiano que o educando vivencia
em relação às inovações científicas e tecnológicas. E, de acordo com Pinheiro, Silveira e Bazzo (2007), cabe ao professor oportunizar refle-
xões que propiciem uma alfabetização científica e tecnológica imprescindível para a compreensão da inter-relação entre a CTS, necessária
ao desenvolvimento de competências para o exercício da cidadania.

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A abordagem dos conteúdos num enfoque CTS é comentada nos documentos oficiais, como nas Diretrizes Curriculares Estaduais
(DCE) de Ciências (PARANÁ, 2008) e na Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 2000), referindo-se à dimensão social da ciência e da tecnologia
em relação às suas aplicações e aos seus impactos na sociedade contemporânea, visando formação voltada ao exercício da cidadania
conforme os princípios da ACT.
Diante de tantos avanços científicos e tecnológicos, há necessidade de que professores de Química criem condições para oportunizar
momentos de reflexão e discussão das interações entre CTS, propiciando uma alfabetização científica e tecnológica. Entretanto, o que se
observa é que grande parte dos professores de Química ainda trata o conteúdo de forma fragmentada, distanciado do cotidiano, tornan-
do-o vazio de significado para o aluno (FREIRE, 1980), contribuindo para a desmotivação e para a criação de obstáculos à aprendizagem
do educando.
O ensino de Química pode fomentar o diálogo entre os saberes de modo a desmistificar a Química como área de estudo somente de
cientistas ou de pessoas com inteligência elevada que utilizam temas sociocientíficos controversos. Assim, valorizar os saberes populares é
uma forma de despertar o interesse pela disciplina, a partir de situações significativas do contexto do educando, minimizando dificuldades
decorrentes da ênfase na memorização de fórmulas e classificações. Portanto, com a valorização do saber do aluno, cria-se a possibilidade
de conduzi-lo à percepção de que a Química e seus avanços fazem parte do seu cotidiano, implicando na redefinição no modo de ensinar
(CHASSOT, 2006).
De acordo com Bernardelli (2004, p. 2), muitos alunos têm dificuldades de relacionar os conteúdos de Química às situações do dia a
dia, à tradição cultural e à mídia. Sendo assim, entende-se que a utilização de conhecimentos populares em um enfoque CTS pode contri-
buir para a construção do conhecimento com mudança de perfil conceitual, conforme proposta de Mortimer (1996), fundamentada em
características do construtivismo e da visão filosófica de Bachelard, em que o desenvolvimento gradual de conceitos não ocorre abando-
nando-se os antigos, mas, promove-se um novo nível de racionalização.
Nessa linha de pensamento é importante considerar que o processo de construção do conhecimento é influenciado por uma série de
experiências individuais e sociais, a partir de evidências de que a aprendizagem dos alunos deve-se, em parte, ao conhecimento prévio de
algo (HEWSON, 1989). Entretanto, ao abordar conceitos químicos a partir de saberes populares existe a premissa de que o professor saiba
como conduzir o processo, porém, muitas vezes, essas ideias podem ser equivocadas, obstaculizando a cientificidade, conforme Bachelard
(2008, p. 19): “Hábitos intelectuais que foram úteis e sadios podem, com o tempo, entravar a pesquisa”.
Portanto, compete ao professor utilizar os saberes populares como conhecimentos prévios para o ancoramento dos novos conceitos,
ou, na visão de Mortimer (1996), mudar de perfil conceitual. Dessa forma, existe a possibilidade de construir o conhecimento e a mudança
de perfil conceitual sem haver conflito entre os saberes populares e o conhecimento elaborado (CHASSOT, 2006).

Abordagem metodológica
A abordagem metodológica adotada neste trabalho foi qualitativa, de natureza interpretativa, com observação participante. Partici-
param do estudo 30 alunos da 3ª série do ensino médio, de um colégio da rede estadual de ensino, da região sul do Paraná. A coleta de
dados ocorreu no segundo semestre de 2013, totalizando 40 horas/aula, distribuídas em 6 momentos pedagógicos.
No primeiro momento pedagógico solicitou-se aos alunos que fizessem uma pesquisa junto à comunidade local sobre as principais
crenças (saberes populares) que, na opinião deles, abordassem conceitos químicos.
No segundo momento, os alunos apresentaram para a turma os resultados da pesquisa realizada, constituída por uma lista dos sabe-
res populares: “coca cola pode desentupir pia”; “cebola é utilizada em machucados para não arruinar ferimentos”; “o limão pode afinar
o sangue e, portanto, pode ser usado para desentupir veias”; “em queimaduras deve ser utilizada a pasta de dente”; “o bugreiro3 causa
alergias em algumas pessoas e em outras, não”; “pode se carregar pilha colocando ela na geladeira”; “quando dói machucado antigo é
sinal de chuva”; “celular causa câncer”; “vinagre acaba com o chulé”; “água imantada faz bem para a saúde”; “prego na comida combate
anemia”; “coca cola enfraquece os ossos”; “cebola ajuda na prevenção do câncer de mama”.
No terceiro momento, após discussões, os alunos em consenso escolheram quatro dos saberes populares elencados na pesquisa,
sendo que, neste artigo, são apresentados os resultados obtidos a partir do mito: “cebola é utilizada em machucados para não arruinar
ferimentos”.
No quarto momento realizou-se um levantamento dos conhecimentos prévios por meio de questionário, visando à construção do
saber elaborado e, na análise dos dados, os nomes dos alunos foram codificados por letras seguidas de números (A1, A2, A3...).
No quinto momento foi realizada a etapa em que os alunos, com o auxílio de livros, periódicos, internet e mediação do professor,
buscaram informações para desvendar o “mito da cebola”. Após a discussão partiram para a construção de conceitos com vistas à mudança
de perfil conceitual.
No sexto momento, os alunos distribuídos em equipes sugeriram e, em seguida, elaboraram materiais, na forma de mapas conceituais
e infográficos (historinhas).
A análise dos dados se deu após a avaliação das respostas ao questionário e dos materiais desenvolvidos pelos alunos que, separados
por unidades de significados, donde observadas as concordâncias e discordâncias dos dados, emergiram 3 categorias de análise: (1) o mito
da cebola: concepções iniciais dos alunos; (2) desmistificando quimicamente e; (3) produção realizada pelos alunos: mudança do perfil
conceitual.

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Resultados e Discussão

O mito da cebola: concepções iniciais dos alunos


Nas respostas à questão: “O uso da cebola é indicado como tratamento tópico para não infeccionar ferimentos”. Mito ou verdade?
Por quê?
Verificou-se que 64% consideraram verdade o uso tópico da cebola em ferimentos, e 36% dos estudantes afirmaram ser mito. Assim,
de acordo com as respostas obtidas, foram reunidas as mais significativas em categorias, conforme representação na Tabela 1.

Tabela 1 - Uso tópico da cebola em ferimentos na percepção dos alunos

Fonte: elaborada pelos autores a partir das respostas dos alunos.

Quando os alunos apontaram que a cebola possui “antibióticos naturais”, percebe-se uma linguagem de enculturação vivenciada no
seu contexto, oriunda dos saberes populares relacionados aos aspectos intuitivos e empíricos, os quais podem ser ampliados no sentido
de favorecer o conhecimento científico (CHASSOT, 2006). Considerando o conjunto das respostas elencadas, observou-se haver multiplici-
dade de ideias pré-existentes dos educandos a respeito do uso da cebola, úteis à construção de novos conceitos.
Na resposta à questão: “Você ou alguém do seu convívio já utilizou a cebola em ferimentos? Um total de 56% dos alunos afirmou
já terem feito uso, ou de conhecerem alguém que já fez uso da cebola no tratamento de infecções, conforme observado nas respostas:
“Quando pisei em um prego, um [...] mandou eu colocar a cebola para esquentar e colocar no ferimento para não infeccionar” (A1); e,
ainda, “Certa vez pisei em um prego, minha mãe partiu uma cebola e colocou no ferimento, porque minha avó indicou” (A9).
No entanto, 41% dos estudantes responderam que nunca usaram a cebola com a finalidade de curar ferimentos tópicos, e não conhe-
cerem alguém que a tenha utilizado com essa finalidade. E, uma minoria (3%) não opinou. Por meio das respostas dos alunos, tornaram-se
evidentes os aspectos marcantes da transmissão dos saberes entre os indivíduos de uma comunidade, fruto dos conhecimentos adquiri-
dos por grupos de classes, sobre eventos do cotidiano (LOPES, 1993).
Nas respostas à questão: “Em sua opinião, o que levou as pessoas a utilizarem a cebola nos ferimentos?” A maioria (87,7%) associou
o uso da cebola em ferimentos à indicação de pessoas mais antigas da comunidade; os demais (12,3%) disseram que se deve à falta de
medicamentos para alívio da dor. Foi possível perceber nas respostas dos alunos, que os vínculos culturais são muito fortes nas famílias e
que os saberes transitam entre as gerações.
Diante da questão: “O que você acha que existe na cebola que possa prevenir infecções?” A maior parte (68%) dos estudantes fez
alusão a determinado tipo de ácido que, em contato com o ferimento, promove uma reação química, “puxando a infecção” e aliviando o
desconforto local. Além disso, associou o cheiro da cebola à presença do enxofre em sua composição. Observou-se que 14% dos alunos
acreditavam que a parte líquida da cebola deveria apresentar propriedades bactericidas, enquanto 18% responderam que não acontece
nada, pois a cebola não é medicamento, portanto, não possui nenhuma substância com capacidade de prevenir infecções.
Ao serem questionados: “Se essa crença for verdadeira por que você acha que as indústrias farmacêuticas não investem nisso?” As
respostas dos alunos foram estratificadas conforme mostra a Tabela 2, onde 20% responderam a opção de redução dos lucros da indústria
farmacêutica e 16,7% optaram pela dificuldade de obtenção de uma substância farmacologicamente ativa, indicando uma percepção das
implicações científicas e tecnológicas relacionadas à indústria em questão e suas implicações na sociedade.

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Tabela 2- Percepções dos alunos sobre o investimento das indústrias farmacêuticas na pesquisa dos princípios ativos da cebola

Fonte: elaborada pelos autores a partir das respostas dos alunos.

Entretanto, 53,3% dos participantes da pesquisa sinalizaram que a não constatação científica das propriedades da cebola seria um en-
trave para seu uso industrializado, assim, evidenciou-se o enfoque contextual sugerido, paradoxalmente, entre o conhecimento científico
tido como verdadeiro, desprovido de falhas, absoluto em seu caráter e o conhecimento comum carente de comprovação.
Com certeza não se pode lançar no mercado produtos com finalidades medicinais sem um estudo científico criterioso. Todavia, se
forem considerados apenas aspectos lucrativos, e se os laboratórios seguirem um modelo social centrado em uma cultura de controle da
dominação e dependência, jamais haverá pesquisas visando propósitos mais nobres de humanização.
Conforme as informações levantadas, visualizou-se a possibilidade de transpor as fronteiras do conhecimento informal, ou seja, dos
saberes transitados entre as gerações, alcançados conforme as aptidões cognitivas individuais, desde que sejam enfatizadas suas relações
com os saberes formais, com base em um aprofundamento progressivo da racionalização (AMARAL; MORTIMER, 2011).
Os dados obtidos nesse momento da pesquisa possibilitaram o diagnóstico dos saberes oriundos do senso comum e, a partir deles,
abordar os conceitos sobre as funções orgânicas aminas, fenol, éter, compostos sulfurados, haletos orgânicos, e relações biológicas, físicas
e sociais envolvidas no processo de elaboração e construção do saber. Por meio dessa atividade foi possível valorizar os saberes populares
da comunidade em que a escola está inserida e, segundo Chassot (2006), esse tipo de encaminhamento metodológico constitui-se como
base para a ACT e para demonstrar que a Ciência não está dissociada do cotidiano.
O resgate desse saber popular da comunidade propiciou momentos de discussão e conflitos, os quais foram utilizados para o desen-
volvimento de perfis conceituais como uma condição para a construção de conceitos químicos (MORTIMER; MACHADO, 2011).

Desmistificando quimicamente
Os alunos, a partir de pesquisas, apresentaram e discutiram química e biologicamente as propriedades das substâncias presentes
na cebola, demonstrando que existem substâncias voláteis como óxido de enxofre, responsáveis pelo aroma característico deste vegetal,
oriundo do tiossulfato acumulado nos vacúolos. Na experimentação do corte de uma cebola, observaram que os vacúolos são rompidos
com liberação de enzimas que promovem a formação de compostos sulfurados como o ácido 1-propenilsulfênico (Figura 1), responsável
pelo fator lacrimogêneo (CHEMELLO, 2005).

Figura 1- Fórmula estrutural da molécula do ácido 1-propenilsulfênico

Fonte: elaborada pelos autores

Nesse momento, o docente abordou que os compostos organossulfurados contêm pelo menos uma ligação covalente entre carbono
e enxofre (Figura 1), sendo frequentemente associados a odores, e que são abundantes na natureza dado que o enxofre é essencial à vida.
Continuando a abordagem com cadeias carbônicas, e estudo de diferentes funções orgânicas, os alunos acrescentaram que a cebola tam-
bém contém uma substância chamada alicina (2-propeno-1-ácido sulfinotióico), a qual de acordo com Magalhães (2007) destrói grupos
tiólicos (-SH) essenciais à proliferação bacteriana, apresentando propriedades bacteriostáticas e bactericidas sobre uma diversidade de
microrganismos Gram positivos e negativos.
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Apresentaram que as propriedades fitoterápicas da alicina (2-propeno-1-ácido sulfinotióico) constituem fonte de pesquisa conduzida
com isolamento de moléculas voltadas ao tratamento de determinadas patologias (VENÂNCIO, 2010). É considerado um importante anti-
microbiano (PARRA, 2011), com ação de inibição do desenvolvimento bacteriano observado na sua forma pura ao ligar-se à enzima álcool
desidrogenase presente em microrganismos patogênicos (ALVARENGA et al., 2004).
Evidenciaram que a cebola contém sais minerais, destacando o ferro, cálcio, potássio, selênio e magnésio. Discutiram: que o ferro
presente em vegetais está na forma não heme; suas características físicas e químicas; a presença na crosta terrestre; sua importância
tecnológica, cuja principal aplicação é na fabricação do aço; a classificação e propriedades periódicas; e, a suscetibilidade magnética, que
é constituinte da hemoglobina, pigmento das hemácias que transporta oxigênio na respiração (RUSSEL, 1994).
Apresentaram informações levantadas sobre os minerais Cálcio, Potássio, Selênio e Magnésio, presentes na cebola à semelhança das
levantadas sobre o ferro, evidenciando suas propriedades físicas, químicas e suas aplicações tecnológicas, assim como a importância e suas
correlações nos sistemas biológicos em geral e no corpo humano.
Como exemplos de informações enfatizadas pelos alunos, podem ser citadas: a importância do Cálcio na constituição dos ossos e
dentes, na regulação dos batimentos cardíacos e na coagulação do sangue; a função fundamental do Potássio na fisiologia dos músculos,
e sua utilização em vegetais como fertilizantes; a aplicação do Selênio, em aparelhos células fotoelétricos, câmaras de televisão, em razão
da condutividade elétrica que varia com a luz, além da importância para ossos e dentes, e que sua deficiência no organismo é responsável
por distúrbios musculares, depressão e doenças cardíacas; e, a utilização do Magnésio nos fogos de artifício e em lâmpadas de flash, e que
sua falta no organismo provoca efeitos semelhantes ao do alcoolismo agudo, tendo importante papel na síntese do DNA e RNA (PERUZZO;
CANTO, 2003).
Os alunos levantaram nas pesquisas sobre a cebola, conceitos químicos de várias fases da estrutura curricular atual e anterior, exerci-
tando a consolidação e construção do conhecimento simultaneamente. Entretanto, em nenhum momento citaram os flavonoides. Assim,
ocorreu a interferência docente apresentando a eles que a cebola possui um flavonoide natural conhecido como quercetina (composto
fenólico da classe dos polifenóis) (Figura 2), que possui propriedades farmacológicas anti-inflamatórias e anticarcinogênicas (atuando no
sistema imunológico). Aqui fica evidente que apesar dos conhecimentos prévios dos educandos serem importantes no processo, devem
ser constantemente aprimorados, para que não se constituam num entrave na construção do conhecimento científico (BACHELARD, 2008).

Figura 2- Fórmula estrutural da molécula de Quercetina

Fonte: elaborada pelos autores

Foi esclarecido aos alunos que polifenólicos, como a Quercetina (3,3’,4’,5,7-Pentahydroxyflavon), são substâncias químicas presen-
tes em determinados vegetais, com atividade antimicrobiana, antiviral, antifúngica e anti-inflamatória, além de serem responsáveis pela
adstringência e amargor de alimentos e bebidas. É excelente agente sequestrador de radicais livres e íons metálicos, efeitos da posição e
do número de grupamentos (-OH) presentes na molécula, característica que lhe confere relevante atividade antioxidante (MUNIZ, 2007).
Também foi enfatizado que a cebola contém flavonoides (polifenólicos) e sulfóxidos de cisteína (organossulfurados), com comprovado
benefício à saúde (MUNIZ, 2007). Em geral, que os primeiros apresentam propriedades cardiovasculares, anti-inflamatórias e antibacte-
rianas, enquanto que os compostos organossulfurados têm propriedades anticarcinogênicas, inibidoras de tromboses, ação antiasmática
e efeito antibiótico (CARVALHO; MACHADO, 2004). E que, a substância quercetina tem ação anti-inflamatória, atuando na modulação
de enzimas no metabolismo do ácido araquidônico (ácido graxo essencial), inibindo citocinas (substâncias necessárias para a resposta
inflamatória-base nitrogenada) e do óxido nítrico (NO) por cancelamento da ativação de determinadas proteínas (WILLAIN FILHO, 2005).
Analisando a afirmação central, “cebola é utilizada em machucados para não arruinar”, após as pesquisas de estudos dos seus com-
ponentes e seus efeitos no organismo, constatou-se que determinadas substâncias da cebola têm propriedades antimicrobianas e anti-in-
flamatórias comprovadas, portanto o conhecimento popular é coerente.
Produção realizada pelos alunos: mudança do perfil conceitual

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Ao longo da realização do estudo, os alunos tiveram a oportunidade de rever seus conhecimentos iniciais sobre os temas abordados e,
aos poucos, mudar o perfil conceitual, sem haver imposição da substituição dos saberes populares pelo conhecimento científico (CHASSOT,
2006). Ressalta-se que, em nenhum momento o professor sobrepôs o conhecimento científico ao senso comum, mas, os próprios alunos,
aos poucos, foram construindo os conceitos, conforme se observa nos exemplos de mapas conceituais (Figura 3) e infográficos (Figura 4).

Figura 3 Mapa conceitual sobre a cebola

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Figura 4 Historinha chorando com cebolas No infográfico, na historinha da cebola (Figura 4), observou-se
que no conteúdo abordado pelos alunos houve evolução de con-
ceitos químicos tanto quanto biológicos, em relação às respostas
apresentadas no início do processo, reforçando que a produção de
infográficos (historinhas) pelos alunos, pode contribuir para o de-
senvolvimento do pensamento crítico, organização das informações
e interesse no aprofundamento dos conceitos elaborados, confor-
me Strack et al. (2010).
Foi possível perceber na análise das diferentes atividades que
os alunos tiveram avanços na aprendizagem de conceitos cien-
tíficos, a partir dos saberes populares e, que houve alfabetização
científica e tecnológica, quando os alunos relacionaram a utilização
da cebola com benefícios à saúde, bem como nas analogias entre
os componentes químicos da cebola e sua utilização na indústria
farmacêutica. Essas relações e analogias mostraram a reflexão dos
impactos na saúde e economia da sociedade contemporânea, evi-
denciando as relações sociais da ciência e da tecnologia.
Verificou-se também que, após o processo envolvendo a tríade
professor-alunos- conteúdo (SCHNETZLER, 1992), houve mudança
conceitual em relação aos conceitos anteriores, nos conceitos quí-
micos teóricos e práticos, evidenciando a importância do ensino
com estratégias didáticas que possibilitem aos alunos construírem
ativamente o conhecimento. A construção do conhecimento cientí-
fico a partir da realidade do educando, na contextualização a partir
de temas sociais, propiciou o desenvolvimento da capacidade de
participação, de julgamento e de tomada de decisão na resolução
de problemas, conforme Mortimer (1992), Chassot (2006) e Freire
(1980).
O trabalho desenvolvido valorizou os saberes populares para,
a partir daí, construir o conhecimento científico. O enfoque nas re-
flexões CTS possibilitou a participação ativa dos estudantes na edi-
ficação de atitudes, conforme Silveira e Bazzo (2009) e, sobretudo,
conduziu a percepção de que não existe conhecimento pronto, e
sim, a construção permanente do saber.

Conclusão
Com o objetivo de minimizar a desmotivação e o desinteres-
se pela disciplina de Química distanciada da realidade, levantou-se
na comunidade escolar, saberes populares que envolvem conceitos
químicos, especialmente aqueles relacionados às funções orgâni-
cas, valorizando-os e transpondo-os para o conhecimento científi-
co, por meio do enfoque CTS.
Foi possível abordar o conteúdo de funções orgânicas de forma
contextualizada, pautado em situações reais da vivência dos alunos
com enfoque CTS, evidenciando as relações conceituais entre os
saberes populares vinculados e os saberes escolares. Reforça-se as-
sim, que o compromisso de buscar maneiras de abordar os conhe-
cimentos oriundos da comunidade de sua escola e de conduzi-los
para a sala de aula é de competência do professor.
Foi possível constatar transições de perfil conceitual, por meio
da produção de mapas conceituais, infográficos interativos e histo-
rinhas construídas pelos educandos, enfatizando o crescente nível
de racionalização e a percepção das relações sociais decorrentes
Fonte: elaborada pelos autores a partir do trabalho dos alunos. dos avanços da Ciência e Tecnologia, ausentes nos primeiros mate-
riais produzidos pelos alunos.
No mapa conceitual elaborado pelos alunos (Figura 3) perce- Sendo assim, pode-se afirmar que muitos saberes populares
be-se claramente a mudança de perfil conceitual e a construção de transitados nas comunidades, algumas vezes considerados pelo
novos conceitos químicos, a partir dos conhecimentos prévios do professor como obstáculos à aprendizagem, podem ser utilizados
“mito da cebola”. na abordagem de conceitos químicos, com enfoque CTS, contri-
buindo para uma construção gradativa do conhecimento com vistas
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à mudança de perfil conceitual no ensino de Química, tornando-o cimentos químicos para compreender os problemas do cotidiano
mais atraente e significativo, e, possibilitando ao discente a percep- e assim possam tomar decisões embasadas sobre questões de sua
ção de relações sociais com o tema em estudo. realidade.
Nesse aspecto, Pereira et al. (2021) destacam que a contextua-
lização dos conteúdos escolares se articula com a preocupação em
W. ADAMS, F.; MARIA T. NUNES, S. A CONTEXTUALIZAÇÃO problematizar o conteúdo a ser ensinado, fazendo relações com os
DA TEMÁTICA ENERGIA E A FORMAÇÃO DO PENSAMENTO conhecimentos que os alunos já possuem, como forma de propor-
SUSTENTÁVEL NO ENSINO DE QUÍMICA. QUÍMICA NOVA cionar-lhes a aquisição de um novo conhecimento. Problematizar o
NA ESCOLA, V. 44, N. 2, 2022. conteúdo, quando se trata de contextualização, significa problema-
tizar a realidade. Adams et al. (2020, p. 5) complementam:
Contextualizar não é apenas ligar o cotidiano com os conhe-
Problematizar o ensino de química contribui para que o estu-
cimentos químicos usando a simples exemplificação de situações
dante compreenda a realidade fazendo uso destes conhecimentos
cotidianas dos alunos, pois a exemplificação não faz sentido para
para interpretá-la. Objetiva-se relatar a experiência de pibidianas
os alunos e não os motiva para buscar um aprendizado significa-
na elaboração/ implementação/avaliação de uma sequência didá-
tivo. A contextualização deve ter como ponto de partida as experi-
tica contextualizada com a temática “Energia e Sustentabilidade”
ências dos alunos e o contexto no qual os mesmos estão inseridos.
no processo de ensino e aprendizagem de estudantes do segundo
No entanto, para essa metodologia atingir o objetivo de promover
ano do Ensino Médio de uma escola pública do interior do Estado
a motivação e o protagonismo do aluno, deve estar associada a um
de Goiás. Esta partiu da problemática: O que levar em consideração
tema gerador da realidade social do aluno, de forma a estimular o
na hora de se abastecer um carro flex, o rendimento ou a consequ-
interesse do educando estimulando, motivando-o a refletir e agir
ência ambiental (poluição do ar)? Trata-se de uma pesquisa qualita-
criticamente. Desse modo, a temática deve ser problematizadora,
tiva, tendo questionários prévio e posterior como instrumentos de
ou seja, deve-se apresentar aos alunos uma situação problema em-
coleta de dados, analisados a partir da Análise Textual Discursiva.
basada nos conhecimentos químicos, estimulando os alunos a pen-
Observou-se que os estudantes compreenderam os conceitos de
sarem e buscarem uma solução para o problema proposto.
termoquímica, energia, reação de combustão e fizeram uso destes
Portanto, ao contextualizar o professor tem a responsabilidade
para refletir e mudar de atitude frente à problemática proposta.
de agir e conduzir o aluno a agir como sujeito em meio ao mundo,
Assim, cumpriu-se o objetivo de formar estudantes críticos e com
compreendendo o conhecimento acumulado historicamente, pro-
pensamentos sustentáveis.
piciando o desenvolvimento do protagonismo desses alunos como
A química é uma ciência que contribui com os avanços tecno-
atores sociais (Pereira et al., 2021).
lógicos da sociedade, estudando a composição da matéria, as mo-
Com o intuito de promover um ensino de química diversificado
dificações sofridas por esta e explicando os diversos fenômenos
e contextualizado com a realidade dos estudantes, as bolsistas do
envolvidos nestas transformações, utilizando para isso seus saberes
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência do Curso
e técnicas em benefício do ser humano e do meio ambiente. Sendo
de Licenciatura em Química da Universidade Federal de Catalão
assim, é de fundamental importância que os estudantes da Edu-
(Pibid/Química/UFCat) elaboraram um Projeto Temático para ser
cação Básica se apropriem dos conhecimentos químicos de forma
desenvolvido na escola parceira do programa (Escola Estadual da
a pensar criticamente sobre sua realidade e o mundo em que es-
cidade de Catalão/GO). Este projeto buscou incentivar os estudan-
tão inseridos de modo a se tornarem aptos a promover mudanças
tes a compreenderem as diversas fontes de energia sustentáveis/
benéficas nesta sociedade. Para isso, os conhecimentos químicos
renováveis e também o papel da química dentro dessa temática.
devem ser apresentados aos estudantes em seu autêntico contexto
O projeto foi denominado “Química e Energia em prol de um De-
social e tecnológico. Mas, o que se observa, é ainda uma grande
senvolvimento Sustentável” e foi elaborado com o auxílio de seis
dificuldade dos estudantes frente a essa ciência, seus conteúdos e
pibidianas nas três turmas do Ensino Médio.
aplicações. Rocha e Vasconcelos (2016) corroboram ao afirmar que
Segundo Adams et al. (2020), o Projeto Temático busca a con-
o ensino de química ainda tem gerado entre os estudantes uma
textualização do conhecimento em uma representação do mundo
sensação de desconforto em função das dificuldades de aprendiza-
para que o estudante o compreenda, pois leva em conta suas ex-
gem existentes no processo de aprendizagem.
pectativas, potencialidades e necessidades. Já para Santos et al.
Portanto, se observa a necessidade da modificação no proces-
(2016), os projetos temáticos desenvolvidos em sala de aula devem
so de ensino aprendizagem da química por meio da introdução de
valorizar a realidade na qual os estudantes se encontram inseridos,
recursos didáticos e metodologias de ensino que busquem articular
levando-se em consideração que o mundo está em constante mo-
o conhecimento químico com a realidade do estudante, dando sen-
vimento e estas mudanças devem ser discutidas na sala de aula,
tido ao conhecimento químico e permitindo a utilização destes con-
sendo o professor o mediador de atividades que dialoguem com as
ceitos pelos estudantes em seu cotidiano e comunidade. De acordo
informações da contemporaneidade.
com Santos e Ferreira (2018), a necessidade de promover melhorias
Sendo assim, buscando se fomentar um processo de ensino e
no ensino de química vem sendo discutida ao longo do tempo, prin-
aprendizado contextualizado e ativo, desenvolveu-se uma sequên-
cipalmente no que diz respeito à necessária contextualização dos
cia didática que buscou apresentar aos estudantes de Ensino Médio
conteúdos, como um pressuposto da didática da ciência.
de uma escola pública do interior do Estado de Goiás uma proble-
Sendo assim, percebe-se a importância de um ensino de quími-
mática, momento em que o estudante pôde fazer uso da palavra
ca contextualizado com a realidade dos estudantes, de forma que
e expressar seu posicionamento. Segundo Delizoicov et al. (2011),
estes se interessem pelo aprendizado e busquem utilizar os conhe-
em uma sequência didática o professor organiza o conhecimento
através da discussão dos conceitos científicos envolvidos com a

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problemática, desenvolvendo estratégias que auxiliem os estudantes a se apropriarem do conhecimento científico; e, por fim, tem-se o
momento em que o estudante é estimulado a aplicar o conhecimento compreendido na resolução da problemática inicial, por exemplo.
Neste trabalho, a temática escolhida foi Energia e Combustíveis.
Os combustíveis fósseis estão entre as substâncias que mais contribuíram para o desenvolvimento da sociedade e é um dos campos
de grande abrangência nos estudos da química, desde a composição de sua matéria-prima, o petróleo, até as consequências ambientais
causadas pelo aumento do consumo gradual do mesmo e a busca por combustíveis renováveis e menos poluentes. Assim, a temática
combustível, além de ser atual, pode surgir como opção para contextualização no processo de ensino e aprendizagem de química, pois é
um assunto que possibilita que vários conteúdos do
programa da disciplina de química sejam trabalhados em sala de aula. Com relação à temática combustíveis, Dantas et al. (2016, p. 1)
a utilizaram para o desenvolvimento de uma sequência didática e corroboram com o exposto:
A utilização do petróleo foi de fundamental importância para impulsionar o desenvolvimento industrial e tecnológico, sendo ainda a
principal matéria-prima de produtos essenciais para a sociedade, tais como os combustíveis. Nesse sentindo, o uso de matrizes energéticas
menos poluentes como os biocombustíveis se torna cada vez mais necessárias para minimizar os impactos ambientais e para diminuir a
dependência dos combustíveis derivados do petróleo.
Historicamente podemos observar que o desenvolvimento tecnológico da humanidade se deu a partir da descoberta e domínio do
fogo e, consequentemente, da energia gerada por essa reação de combustão.
Sabendo-se da necessidade da discussão da temática energética em sala de aula, encontraram-se propostas de ensino já desenvol-
vidas nas escolas em relação ao estudo da energia e de seu consumo consciente. Uma delas foi realizada com estudantes do 3º ano do
Ensino Médio do Instituto Ernesto Ferreira Maia, no município de Fontoura Xavier - RS. No desenvolvimento e aplicação de sua prática
pedagógica o pesquisador valorizou os conhecimentos cotidianos, abordou aspectos relativos ao meio ambiente, discutiu o tema energia,
destacando a importância de se evitar desperdícios e as possíveis consequências para o planeta. Segundo o autor, os resultados foram
satisfatórios, pois os estudantes desenvolveram a capacidade de reflexão e de agir de forma consciente, tornando-se cidadãos mais res-
ponsáveis, críticos e preocupados com os problemas que vêm afetando o planeta e mais comprometidos com a preservação ambiental
(Scorsatto, 2010).
Pode-se observar no trabalho citado que houve a preocupação com a preservação ambiental e sua relação com a energia. No Projeto
Temático aqui apresentado, a preocupação foi a mesma, de discutir com os estudantes as fontes de energia, suas origens, consumo e sua
relação com o meio ambiente.
Dessa forma, destinou-se uma parte específica do projeto para discutir a temática das fontes de energias renováveis e não renováveis,
acreditando-se que estes são conceitos básicos para a compreensão crítica do problema central da sequência didática.
Dessa forma, o objetivo deste trabalho é relatar a experiência de pibidianas na elaboração, implementação e avaliação de uma se-
quência didática contextualizada com a temática “Energia e Sustentabilidade” no processo de ensino e aprendizagem de estudantes do
segundo ano do Ensino Médio de uma escola pública do interior do estado de Goiás.

Metodologia
O subprojeto do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) do Curso de Licenciatura em Química da Universidade
Federal de Catalão (PIBID/ Química/UFCat) propôs dentre as ações do subprojeto o desenvolvimento de um Projeto Temático na escola
parceira, envolvendo as três turmas do Ensino Médio. Desta forma, foram elaboradas e implementadas sequências didáticas com aulas
contextualizadas/problematizadoras que abordaram a temática “Energia e Sustentabilidade”. Para isso, as seis (6) pibidianas do subprojeto
foram divididas em duplas, ficando a cargo de cada dupla o desenvolvimento de uma sequência didática em uma das turmas do Ensino
Médio, qual seja, primeiro, segundo ou terceiro ano do Ensino Médio, relacionando a temática com o conteúdo curricular da turma, tendo
como base o currículo de referência do estado de Goiás.
Destaca-se que o presente artigo faz referência a sequência didática desenvolvida para o segundo ano do Ensino Médio. Para o de-
senvolvimento do Projeto Temático, as pibidianas lançaram mão de estratégias diversificadas como aulas expositivas dialogadas, vídeos,
experimentações e um jogo didático. Nas aulas buscou-se sempre trabalhar de forma dialógica, incentivando que os estudantes dessem
suas opiniões através da proposição de perguntas e utilizando recursos e metodologias para os incentivar a participar das atividades e
discussões de forma ativa e sempre embasada cientificamente. Para isso, foram realizados debates no grupo de licenciandas (pibidianas) e
professoras (coordenadora de área e supervisora) para a escolha de um tema/ problema que pudesse despertar a cultura de participação
nos estudantes. O projeto foi desenvolvido em 28 aulas de 50 minutos cada, dentre os meses de agosto a novembro. A seguir, no Quadro
1, são descritas as atividades propostas e as metodologias de ensino/recursos didáticos utilizados em cada aula da sequência didática.
Para avaliação da influência do Projeto Temático no processo de ensino e aprendizagem de química procedeu-se a uma pesquisa de
caráter qualitativo. Segundo Bogdan e Biklen (1994), na pesquisa qualitativa os pesquisadores interessam-se mais pelo processo em si do
que propriamente pelos resultados, interessando-se, acima de tudo, por tentar compreender o significado que os participantes atribuem
as suas experiências. Martins (2004) afirma que a pesquisa qualitativa é importante porque permite coletar evidências a respeito do tema
abordado de maneira criadora e intuitiva, visto que há uma proximidade entre pesquisador e pesquisado, possibilitando a compreensão
de crenças, tradições, em um máximo entrelaçar com o objeto em estudo.
O instrumento de coleta de dados utilizado foi o questionário, aplicado aos estudantes de forma prévia e posterior ao desenvolvimen-
to do projeto temático. Segundo Gil (1999), os questionários possuem uma série de vantagens, sendo: baixo custo, acessibilidade, garantia
do anonimato e presença de questões objetivas e de fácil tratamento. Rudio (2002), ao definir questionários, afirma que estes são cons-

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tituídos por um conjunto de questões, organizadas e sistematizadas, as quais procuram captar as concepções dos pesquisados. Optou-se
pelos questionários, pois estes permitem que os pesquisados respondam aos questionamentos livremente e expressem suas opiniões de
forma clara e segura (Adams e Nunes, 2018).

Quadro 1: Etapas da sequência didática

Fonte: Dados da pesquisa.

O questionário preliminar teve como objetivo investigar o conhecimento prévio dos estudantes para embasamento na elaboração das
aulas, levando-se em conta o que já conheciam e o que ainda precisavam compreender. O questionário posterior, por sua vez, visou avaliar
se as estratégias utilizadas contribuíram para o processo de ensino e aprendizagem dos estudantes, possibilitando avaliar o conhecimento
construído e se o projeto propiciou uma formação crítica/ reflexiva. Assim, as mesmas questões constaram em ambos os questionários.
Os instrumentos possuíam questões abertas, na qual os estudantes tiveram a liberdade de usar suas próprias palavras para expres-
sar a sua opinião e conhecimentos. Vale destacar que os questionários aplicados foram elaborados durante reuniões periódicas com as
professoras supervisora e orientadora do programa Pibid. Nessas reuniões, por meio do diálogo e troca de ideias, foi possível elaborar e
selecionar as perguntas que constariam no questionário e analisar se a partir destas seria possível abstrair as informações necessárias para
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se investigar se o projeto desenvolvido contribuiu para o processo longo do projeto. 8º aula – Combustíveis: aula inicial denominada
de (re)construção do conhecimento químico/social mediado. Para “Termoquímica e os Combustíveis”. Nesta aula foram trabalhados
discussão dos resultados e para resguardar a identidade dos edu- os conceitos científicos iniciais para a compreensão da problemá-
candos estes foram identificados por códigos (A1 à A44). tica, bem como foram apontadas as questões ambientais envolvi-
Para análise dos dados obtidos a partir dos questionários fez-se das, sempre de forma problematizadora e dialógica. 9º, 10º e 11º
uso da metodologia da Analise Textual Discursiva (ATD), pela qual as aula – Combustíveis: a aula foi iniciada com uma revisão do que
respostas dos estudantes foram agrupadas em unidades de signifi- foi discutido na aula anterior, relembrando-se as consequências do
cados. Segundo Moraes e Galiazzi (2007), a Análise Textual Discursi- uso dos combustíveis oriundos do petróleo. Definiu-se o que é um
va é descrita como um processo que se inicia com uma unitarização combustível, comburente e a energia de ativação, sendo esta úl-
em que os textos são separados em unidades de significado; em tima a energia mínima para que a reação química de combustão
seguida, passa-se a fazer a articulação de significados semelhantes aconteça. Em seguida, foram apresentados exemplos de reações de
em um processo denominado de categorização, processo no qual combustão presentes no cotidiano e exemplos de reação de com-
reúnem-se as unidades de significado semelhantes, podendo gerar bustão completa e incompleta. Posteriormente, diferenciou-se ca-
vários níveis de categorias de análise; este processo todo gera me- lor de temperatura. Para finalizar a aula, foram propostos alguns
ta-textos analíticos que irão compor os textos interpretativos, no exercícios sobre o conteúdo estudado, tanto o conteúdo químico,
processo denominado de comunicação. como o social. 12º aula – atividade experimental: a aula foi iniciada
Na etapa de comunicação, são elaborados metatextos explici- com o questionamento: “Toda reação química libera energia?”. A
tando as concepções surgidas a partir das informações em combi- partir das discussões oriundas das respostas dos estudantes, estes
nação com os referenciais teóricos (Nunes et. al., 2016). Destaca-se foram convidados a realizar uma atividade experimental para ana-
que neste trabalho as categorias foram construídas a posteriori, a lisarem suas hipóteses. 13º, 14º e 15º aula – Combustíveis: a aula
partir da análise dos dados, e estas serão discutidas a seguir. foi iniciada relembrando a atividade experimental realizada na aula
anterior com o intuito de responder à questão proposta: “Toda re-
Resultados e Discussão ação química libera energia?”. A partir dos relatos dos estudantes,
foram introduzidos os conceitos de reação exotérmica e reação en-
A sequência didática “Energia e Sustentabilidade”: uma des- dotérmica; exemplos no cotidiano dessas reações também foram
crição A sequência didática elaborada e implementada em sala de apresentados, bem como a representação gráfica das reações. Em
aula dentro do Projeto Temático denominado “Química e Energia seguida, alguns exercícios foram propostos para os estudantes e
em prol de um desenvolvimento sustentável” foi baseada em au- discutidos com estes em sala. Em seguida, foram apresentadas as
las contextualizadas/problematizadoras que abordaram a temática equações termoquímicas, exemplos de equações termoquímicas,
“Energia e Sustentabilidade” e tinham como problemática: “O que de reações endotérmicas e exotérmicas, bem como discutiu-se a
levar em consideração na hora de se abastecer um carro flex, o ren- absorção e liberação de energia nos processos de mudanças de es-
dimento ou a consequência ambiental (poluição do ar)?”. tados físicos. A aula foi finalizada com a resolução e correção de
Para a escolha da temática (Energia), foram realizadas reuni- exercícios sobre o conteúdo discutido.
ões entre as pibidianas, a professora orientadora e a professora 16º, 17º e 18º aula – Combustíveis: definiu-se quimicamen-
supervisora da escola. O objetivo era a escolha de uma temática te o que é um álcool e apresentou-se a sua estrutura química. Em
que contemplasse a realidade dos estudantes da escola, um tema seguida, discutiu-se historicamente o processo de utilização do
social que tivesse a sociedade e a realidade dos estudantes como etanol como um combustível, destacando-se sua matéria-prima,
ponto de partida. De acordo com a professora supervisora, a temá- vantagens e desvantagens, processo de produção, interesse econô-
tica Energia poderia proporcionar uma perspectiva dialógica com mico etc. Discutiu-se também o processo histórico de obtenção da
os estudantes de forma que estes fossem incentivados a participa- gasolina, apresentando-se o carro flex. A reação de combustão do
rem das aulas e discussões. Dessa forma, na turma do segundo ano etanol foi apresentada aos estudantes com seus respectivos valores
do Ensino Médio, a dupla de pibidianas pôde abordar o conteúdo de variação de entalpia (∆H), bem como a maneira de se calcular a
químico de Termoquímica, que faz parte da matriz curricular desta variação de entalpia. Alguns exemplos do cálculo foram resolvidos
série no segundo semestre letivo, contextualizando o mesmo com junto com os estudantes.
a problemática. 19º, 20º, 21º e 22º aula – Combustíveis e os diferentes tipos
As aulas desenvolvidas serão descritas a seguir, demonstran- de entalpias: nessas aulas os diferentes tipos de entalpias foram
do a proposta de uma interligação constante entre conhecimentos apresentados aos estudantes, quais sejam, entalpia de ligação, en-
científicos, sociais, tecnológicos e ambientais. 1º aula – aplicação talpia de formação e entalpia de combustão, por meio de exemplos
do questionário prévio; 2º a 7º aula – Aulas de sensibilização: fo- dos tipos de entalpia no cotidiano e foram demonstrados cálculos
ram aulas introdutórias da temática; serviram de suporte conceitual de entalpias.
para o seu entendimento global. Nestas aulas, foram levantados os 23º aula – Aula experimental: Rendimento x Poluição: essa
questionamentos e a problemática da sequência didática. aula teve o objetivo de propor a análise da poluição gerada pelos
Sendo assim, foram desenvolvidas seis aulas contextualizadas/ diferentes tipos de combustíveis por meio de uma atividade experi-
problematizadas e expositivas/dialogadas, uma aula experimental, mental investigativa. Para a realização do experimento os estudan-
além de quatro aulas destinadas à discussão da atividade chamada tes foram divididos em grupos de três (3) ou quatro (4) membros,
de “Cantinho da Química: Energia e Sustentabilidade”, uma ativida- e em cima de cada bancada foram disponibilizados materiais como
de de caráter lúdico e cultural. Assim, para iniciar a sequência di- diesel; gasolina; álcool; cápsulas de porcelana; papel filtro; palitos
dática as pibidianas apresentaram a situação problema e lançaram de fósforo; colheres de metal. Os estudantes, em grupo, deveriam
perguntas aos estudantes. Os estudantes foram chamados a opinar, definir uma forma para investigar qual dos combustíveis fornecidos
mas sempre sem se apresentar respostas, que foram discutidas ao era o mais poluente.
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24º e 25º aula – Combustíveis: Rendimento x Poluição: a aula dade. Neste movimento, diversos recursos e metodologias foram
foi iniciada por meio da discussão do experimento da aula anterior. propostos para auxiliar na tomada de decisão sobre a problemática
Os estudantes foram convidados a relatar como realizaram o expe- lançada.
rimento e quais resultados obtiveram, de forma que identificaram o Assim, após a proposição e implementação, foi realizada a ava-
diesel como o combustível mais poluente e o etanol como o menos liação das intervenções no contexto escolar a partir das respostas
poluente. Destaca-se que esta conclusão foi obtida por meio da ob- obtidas nos questionários aplicados. A seguir, são apresentadas as
servação da atividade experimental, bem como a partir de dados categorias criadas a partir da metodologia da Análise Textual Dis-
teóricos, uma vez que durante a queima sugeriu-se que os alunos, cursiva dos questionários.
com o auxílio de uma colher, observassem a quantidade de fuligem
liberada na queima de cada um dos combustíveis. Sendo assim, re- A sequência didática e a (re)construção de conhecimentos so-
lataram que a colher que teve contato com o diesel ficou bastante bre energias e combustíveis
escura, enquanto a que teve contato com a fumaça do etanol ficou
praticamente limpa, resultado da maior liberação de gás carbônico Após a aplicação da sequência didática elaborada, os resulta-
pela queima de quantidades (mols) iguais de diesel em relação à dos foram analisados a partir da análise dos questionários prévios
gasolina e ao etanol, e também por meio das equações termoquí- e posteriores. Antes do desenvolvimento da sequência didática os
micas dos combustíveis, quais seja, gasolina (C8 H8(l) + 12,5O2(g) → estudantes foram questionados se sabiam o que eram energias re-
8 CO2 (g) + 9 H2O(g) nováveis. Destes, 48% não souberam responder o que são ou não
∆H = - 5471 KJ), etanol (C2 H6 O(l) 3O2(g) → 2 CO2(g) + 3 H2O(g) responderam à questão, o que ressalta a importância da discussão
∆H = - 1366 KJ), diesel (C15H32(l) + O2(g) → C(s) + CO(g) + da temática, uma vez que o tema é hoje central na discussão da
CO2(g) + H2O(g) ∆H = - KJ). sustentabilidade planetária. Alguns estudantes responderam com
Nesta aula, através de provocações feitas aos estudantes, fo- breves definições, enquanto outros, citaram exemplos, como pode
cou-se nas questões ambientais do uso de combustíveis, tanto os ser observado nos excertos a seguir:
fósseis como os renováveis. Excerto 1 – São energias, hidrelétrica, energia eólica. (A15)
26º aula – Combustíveis: O que eu quero para o meu futuro? Excerto 2 – São as energias que fazem bem ao meio ambiente.
retomou-se com os estudantes a discussão sobre qual seria a me- (A14)
lhor escolha de combustível para ser utilizado em um carro flex, Excerto 3 – São energias que ajudam na preservação do mun-
apresentando aos estudantes conceitos como o de sustentabilidade do. (A19)
e discutindo-se a necessidade/urgência de uma conscientização dos Excerto 4 – Que não prejudicam o meio ambiente, o ajudam.
homens e mulheres em prol da sustentabilidade de planeta. (A33)
27º aula – Jogo Didático “Na Trilha dos Combustíveis”: a ativi- Por meio da análise das respostas dos estudantes, pôde-se ob-
dade em questão buscou complementar as discussões sobre qual o servar que estes apresentaram respostas simplistas, sem base cien-
combustível que favorece a sustentabilidade, a gasolina ou o etanol tífica frente ao que são energias renováveis e a associam com a pre-
(Adams e Nunes, 2018) servação do meio ambiente, como citado por A14, 15 e 19. Assim,
28º aula – aplicação de questionário posterior. Após a im- pode-se ver que os estudantes reconhecem a relação do uso dessas
plementação da sequência didática proposta, percebe-se que es- fontes de energia com o cuidado com o meio ambiente. Acredita-
tas modificações no processo de ensino e aprendizagem estão de -se que isso se deve ao fato de os estudantes já terem ouvido falar
acordo com as mudanças pretendidas atualmente na educação de da temática, ou em outros momentos na escola ou até mesmo por
se intensificar o diálogo com o mundo real e, para isso, se utilizar meio das mídias. Após o desenvolvimento da sequência didática
os conhecimentos para se entender a realidade (Brasil, 2018). Se- contextualizada, os estudantes foram novamente inquiridos sobre
gundo este mesmo documento (Base Nacional Comum Curricular), as energias renováveis e a maioria respondeu que estas eram aque-
os conhecimentos científicos associados às temáticas são as bases las originárias de fontes naturais, mas que também podem ser obti-
que permitem aos estudantes investigar, analisar e discutir solu- das do lixo (biomassa); afirmaram ainda que estas fontes de energia
ções problema que emerjam de diferentes contextos sócio culturais possuem matérias-primas capazes de regeneração (renovação) e
(Brasil, 2018). são um tipo de energia que respeita o meio ambiente e, que, as-
Em todo o processo, buscou-se trabalhar as aulas de forma o sim, são energias que podemos utilizar em prol da sustentabilidade
mais dialógica possível, incentivando-se nos estudantes a formação energética (Adams et al., 2020).
do pensamento crítico entre Ciência, Tecnologia e Sociedade. Além Pôde-se observar que, após as aulas contextualizadas, os estu-
da perspectiva dialógica, foram princípios da sequência didática a dantes se apropriaram do conhecimento, ou seja, a maioria soube
contextualização, a interdisciplinaridade e a problematização do responder a uma questão em que antes apresentavam um conhe-
conhecimento. cimento superficial e após a sequência didática o fizeram de forma
Assim, a partir da problemática proposta, se buscou lançar mais elaborada. A seguir alguns excertos que demonstram indícios
um tema/problema da sociedade de forma que este processo de dessa apropriação do conhecimento:
investigação pudesse levar os estudantes a tomarem decisões em- Excerto 5 – “[...] energia renovável é aquela que utilizamos em
basadas cientificamente sobre este assunto. Portanto, o ponto de prol da sustentabilidade energética [...]”. (A8)
partida não foi o conhecimento químico, mas a realidade dos es- Excerto 6 – “[...] energia renovável é uma alternativa de ener-
tudantes. E, a partir dessa abordagem temática, foram inseridos os gia limpa como do sol e da chuva, que deve ser utilizada para subs-
conhecimentos científicos, tecnológicos e ambientais necessários tituir a energia poluente como o petróleo [...]”. (A23)
para despertar nos estudantes a cultura de participação na socie- Percebeu-se que, além de construir conhecimento, os estudan-
tes foram capazes de elaborar respostas mais bem estruturadas.
Ou seja, as aulas contextualizadas foram capazes de promover uma
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alfabetização científica nos estudantes e ainda desenvolver a habi- Excerto 7 – “[...] Elas são fontes de energia inesgotável, que não
lidade de escrita e de estruturação de textos (respostas). Lorenzetti causam poluição exagerada”. (A44)
(2000) define a alfabetização científica como o processo pelo qual Pôde-se observar que nos questionários posteriores os estu-
a linguagem das ciências naturais adquire significado, constituindo dantes associaram o uso de energias renováveis como uma forma
um meio para o indivíduo ampliar o seu universo de conhecimen- de garantirmos a sustentabilidade do planeta, o que nos mostra que
tos; em síntese, é condição para o exercício da cidadania. Desta a sequência didática pode ter auxiliado no início de uma formação
forma, a partir da alfabetização científica, o estudante desenvolve baseada no exercício da cidadania, pois possibilitou que os estudan-
uma postura crítica e reflexiva para atuar e transformar o mundo tes fossem mais informados e se tornassem mais críticos perante o
em que vive. assunto abordado nas aulas. Acredita-se que com isso deixaram de
A alfabetização científica e tecnológica é hoje uma das metas ser espectadores para vivenciarem a experiência de serem sujeitos
da Educação em Ciências, conforme referendado pela BNCC (Brasil, ativos e críticos na construção de seu conhecimento.
2018), que afirma a necessidade da Educação Básica, em especial Percebem-se assim indícios de uma conscientização crítica e de
do ensino de ciências, de comprometer-se com o letramento cien- um desejo de atuação na sociedade e nas decisões sobre matrizes
tífico da população. energéticas.
Tal documento destaca que aprender ciências da natureza Mas uma vez, os dizeres dos estudantes demonstraram indí-
vai além do aprendizado de seus conteúdos conceituais: envolve cios do desenvolvimento da alfabetização científica por meio da
aprendizagens específicas com vistas a sua aplicação em contextos sequência didática desenvolvida, uma vez que Sasseron e Carva-
diversos. Nesse sentido, para Carvalho (2008), a prática da alfabe- lho (2008) afirmam que por meio da alfabetização cientifica os ci-
tização científica deve ser sistematizada dentro do espaço escolar dadãos podem usar de informações que possuem sobre ciências
com o objetivo de diminuir o distanciamento entre o que se ensi- para tomar decisões. Chassot (2011), ao discutir sobre o ensinar
na e o que se aprende na sala de aula e para que isso aconteça é ciências, apresenta que esse ensino deve procurar que os sujeitos
necessário um entendimento da linguagem científica, para muito se tornem homens e mulheres mais críticos, tornem-se agentes de
além da simples substituição dos conceitos prévios que permeiam transformações do mundo. Sendo assim, esse foi o objetivo do pro-
a ciência do senso comum. É preciso que o estudante seja inserido jeto temático desenvolvido, a conscientização para o uso de uma
no universo das ciências, contemplando as interações entre Ciência, energia sustentável e limpa, de modo que os estudantes fossem
Tecnologia, Sociedade e Meio Ambiente. incentivados a buscar soluções para a problemática da sustentabi-
Acredita-se que a sequência didática “Energia e Sustentabilida- lidade do planeta.
de” permitiu a interação do estudante com a Ciência, Tecnologia, Ainda no questionário prévio, os estudantes foram questiona-
Sociedade e Meio Ambiente e ainda promoveu o senso crítico dos dos sobre quais tipos de energias renováveis utilizavam em seu co-
estudantes e a preocupação com o desenvolvimento sustentável. tidiano e 27% afirmaram que não sabiam quais fontes de energias
Isso pôde ser observado a partir dos comentários dos estudantes, renováveis utilizavam; os outros 63% responderam que utilizavam
quando afirmaram que a temática da aula trouxe um problema real a energia eólica, solar e hídrica, sendo a última a mais citada pelos
e para o qual não davam a devida atenção. Eles relataram que a estudantes; os 10% restantes responderam que a energia nuclear e
partir das discussões levantadas começaram a refletir e tiveram petróleo são fontes de energia renováveis que utilizam no seu co-
a consciência das consequências do uso exacerbado de recursos tidiano. Podese concluir que no questionário prévio uma parte dos
energéticos. As aulas interligaram as informações químicas (como, estudantes não sabia qual a diferença entre energia renovável e não
por exemplo, o conceito de energia e processos de obtenção de renovável e acabaram citando energias que conheciam ou já tinham
energia) e o contexto social (consumismo e desperdício de energia) ouvido falar, mas que não são fontes renováveis de energia.
para que os estudantes desenvolvessem competências como o sen- Já no questionário posterior obteve-se 19% dos estudantes res-
so crítico e assim pudessem participar ativamente da sociedade em pondendo que utilizam petróleo, carvão e energia nuclear no seu
discussões sobre recursos energéticos. Para isso, eles precisaram cotidiano e 81% responderam que utilizam energia hídrica (sendo
compreender a relação entre a química e a sociedade e assim se está a mais citada), energia solar, biomassa (combustíveis) e madei-
tornaram capazes de provocar mudanças na busca de uma melhor ra. Assim, no questionário posterior obteve-se uma porcentagem
qualidade de vida para todos (Adams et al., 2020). No questionário maior de estudantes respondendo que utilizavam petróleo e ener-
prévio, 62% dos estudantes afirmaram que eram a favor das ener- gia hídrica no seu cotidiano. Pôde-se observar, mais uma vez, que
gias renováveis porque estas prejudicavam menos o meio ambien- os estudantes ainda estavam confundindo quais são as fontes de
te. Os outros 38% não responderam à questão ou não eram a favor energia renováveis e as não renováveis, o que levou as pibidianas
das energias renováveis, mas não justificaram a sua resposta. Já no a realizarem uma atividade de revisão com aqueles estudantes que
questionário posterior, 91% dos estudantes responderam que são a ainda apresentavam essas dúvidas. Assim, apesar de se observar o
favor das energias renováveis porque essas fontes de energia pre- aumento da criticidade dos estudantes quanto à questão energética
judicam menos o meio ambiente e podem ser um caminho para e ambiental, ainda foram percebidas confusões em suas definições.
a sustentabilidade do planeta. Pôde-se perceber que a partir das
aulas contextualizadas os estudantes tomaram conhecimento do Combustíveis e implicações ambientais
problema de poluição causada pelo uso excessivo de combustíveis Nesta sequência didática proposta o objetivo foi conscientizar
fósseis e, principalmente, se conscientizaram sobre a forma para os estudantes dos problemas ambientais causados pela queima
evitar/solucionar tal problema, se preocupando assim com a nossa de combustíveis fósseis, tentando proporcionar uma mudança de
sustentabilidade. Ou seja, as aulas permitiram que os estudantes hábitos, uma postura crítica frente aos demais consumidores de
refletissem sobre um assunto atual e de suma importância para o combustíveis fósseis como o setor industrial e para que pudessem
desenvolvimento/sobrevivência da sociedade. Alguns estudantes ainda levar esses conhecimentos para seus pais, familiares e ami-
afirmaram que:
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gos. Portanto, buscou-se uma conscientização para a transformação Kiouranis e Silveira (2017) também desenvolveram uma sequ-
da realidade em relação ao consumo de combustíveis fósseis e as ência didática com a temática combustíveis, discutindo qual seria
alternativas mais sustentáveis para estes. a melhor opção entre a gasolina e o etanol. Em seus resultados, os
Observou-se pelas respostas obtidas no questionário prévio autores apresentam que:
que anteriormente às discussões em sala, nenhum dos estudantes A maioria dos alunos indicou o melhor combustível como aque-
relacionava a queima dos combustíveis com a geração da poluição, le oriundo de fonte renovável e com produção de menor quantida-
o que se pôde observar diferentemente no questionário aplicado de de poluentes. Algumas respostas também levaram em conside-
após o término da sequência didática. ração a quantidade de energia que o combustível produz.
Após as discussões, os estudantes já conseguiram associar a No entanto, os alunos demonstraram incertezas em relação às
queima dos combustíveis com a produção tanto de energia, quanto diferenças energéticas existentes entre o álcool e a gasolina, sur-
de gases poluentes: gindo muitas polêmicas sobre o rendimento dos combustíveis. Para
Excerto 8 – Os combustíveis geram energia através da reação alguns, a gasolina renderia menos que o álcool, enquanto outros
de combustão, e a queima dos combustíveis colabora para a polui- consideravam o contrário, gerando discussões entre os grupos.
ção e destruição do meio ambiente. (A2) Quanto à poluição, alguns argumentaram que a gasolina seria o
Excerto 9 – O combustível é retirado do meio ambiente, e de- maior poluidor, em razão do aumento do efeito estufa e destruição
pois de ser queimado volta para o meio ambiente por meio de gases da camada de ozônio; e assim o álcool seria um combustível menos
ou de fuligens. (A23) ofensivo à natureza. As respostas dos alunos indicaram concepções
Algo interessante e que apareceu em muitas respostas, foi a alternativas sobre o significado de poluição. Ao serem indagados
associação de que os combustíveis são substâncias extraídas da na- sobre o que seria poluição, alguns responderam com argumentos
tureza: inconsistentes (Kiouranis e Silveira, 2017, pg. 71 – 72).
Excerto 10 – O combustível é retirado do meio ambiente, e de- Os dados apresentados pelos autores são um pouco diferentes
pois de ser queimado volta para o meio ambiente por meio de gases dos obtidos a partir da presente sequência didática, na qual 93%
ou de fuligens. (A23) dos estudantes participantes afirmaram que, se possuíssem um car-
Excerto 11 – Porque tem combustível que é feito de madeira. ro flex, fariam a opção pelo etanol como combustível. A justificati-
(A24) va dos estudantes estava relacionada com a poluição, uma vez que
Excerto 12 – A maioria dos combustíveis são tirados da natu- o etanol é um combustível oriundo de fonte renovável e é menos
reza. (A33) poluente que a gasolina, como observado nos excertos 14 a 17. As-
Excerto 13 – O petróleo é retirado do mar. (A41) sim, apesar de confirmarem o maior poder energético da gasolina
Assim, podemos observar após as aulas indícios de que os es- (maior rendimento), ainda assim optaram pelo combustível menos
tudantes ampliaram seus conhecimentos associando que a maté- poluente, confirmando deste modo uma preocupação e criticida-
ria-prima dos combustíveis provém da natureza, mas que o uso e de ambiental (Kiouranis e Silveira, 2017). Sendo assim, percebe-se
consequente queima destes causa poluição. Esta discussão sobre que se atingiu o objetivo inicial da proposta, a conscientização dos
a poluição causada pela queima dos combustíveis foi fundamental estudantes sobre as fontes de energia e, em especial, da preocu-
para que as pibidianas abordassem com os estudantes a importân- pação com a utilização de energias sustentáveis. Os estudantes
cia do uso sustentável dos combustíveis, discutindo aspectos re- foram incentivados a buscar soluções para a problemática da sus- (A)
lacionados ao rendimento energético, mas também em relação à tentabilidade. planetária ao optarem por um combustível menos
geração de poluição a partir da queima da gasolina e do etanol. O poluente, o etanol. Assim, acredita-se no sucesso da proposta, pois
objetivo foi levar os estudantes a refletirem quimicamente sobre mesmo que nem todos os estudantes tenham sido sensibilizados
qual seria a melhor opção de combustível, mas pensando mais criti- para a problemática da sustentabilidade, acredita-se que os que fo-
camente no desenvolvimento sustentável da sociedade. ram impactados pelas discussões possam ser disseminadores dessa (B)
Destaca-se que para a condução dessas discussões as pibidia- preocupação junto a seus familiares e amigos, criando-se uma rede
nas lançaram mão de diversas metodologias, tais como a experi- de preocupação ambiental, como podemos observar nos excertos
mentação, demonstrando a poluição gerada pelos diferentes tipos seguir:
de combustíveis, de forma que os estudantes pudessem observar/ Excerto 18 – Ah, eu falei pro meu pai que ele tem que usar o
analisar que o etanol é um combustível que gera uma quantidade etanol, pois o etanol polui menos. (A1) (C)
menor de poluição do que a gasolina, favorecendo assim a susten- Excerto 19 – Sim, utilizar os biocombustíveis, diminuir o uso de
tabilidade. Neste sentido, fez-se uso de dados numéricos, como os tanta energia, água, e ensinar as outras pessoas o que eu aprendi.
valores de variação de entalpia e gráficos para se demonstrar que (A2) 3.
a gasolina é um combustível que possui maior rendimento energé- Excerto 20 – Sim, falar para as pessoas usar os biocombustíveis.
tico. (A13)
Dessa forma, tais metodologias contribuíram para que a maio- A fala de A1, no excerto 18, demonstra que o mesmo refletiu
ria dos estudantes fizesse, ao final das discussões, a opção pelo durante as aulas sobre o uso dos combustíveis sustentáveis, inter-
etanol como combustível a ser utilizado. Os excertos a seguir cor- nalizou o conhecimento e foi mediador destes ao afirmar para seu
roboram: pai que ele deveria optar pelo etanol, que é um combustível que
Excerto 14 – Sim, pois eles ou ele o etanol é o que menos polui, polui menos. Assim, além do aprendizado do conhecimento cien-
ele é uma boa ajuda ao meio ambiente. (A1) tífico observamos que a sequência didática contribuiu para que o
Excerto 15 – Porque é menos poluente e vem de fontes renová- estudante fosse um disseminador de informações ambientais, pre-
veis. (A23) ocupado com a sustentabilidade.
Excerto 16 – Utilizando mais etanol, que polui menos. (A44)
Excerto 17 – Usando álcool no lugar da gasolina. (A36)
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Tal fato é de suma importância num processo de Educação e aprendizagem fica a pergunta: por que essas modificações não se
Ambiental, pois atingiria não somente o estudante, mas sua famí- materializam na sala de aula? O que se pôde perceber no processo
lia e amigos, e isso pode ser alcançado a partir dos temas gerado- é que a abordagem temática aqui descrita e analisada necessitou da
res, como neste caso dos combustíveis. Conforme Delizoicov et al. participação de muitos autores e demandou e requereu muito tem-
(2011, pg. 165), os temas geradores: po de planejamento, de escolhas de temática, de recursos didáticos
[...] foram idealizados como um objeto de estudo que com- e metodológicos diferenciados. Tempo e apoio que nem sempre os
preende o fazer e o pensar, o agir e o refletir, a teoria e a prática, professores em exercício dispõem em seu trabalho pedagógico co-
pressupondo um estudo da realidade em que emerge uma rede de tidiano.
relações entre situações significativas individual, social e histórica, Por fim, destaca-se que para que essas mudanças no contexto
assim como uma rede de relações que orienta a discussão, interpre- escolar e no processo de ensino e aprendizagem se materializem
tação e representação dessa realidade. na escola, é necessário investir no processo de formação inicial e
Sendo assim, percebe-se a importância e alcance deste tipo de continuada dos professores, atores primordiais para a desejada
discussão em sala de aula, que propiciaria a Educação Ambiental e mudança na educação. Sendo assim, registra-se aqui a importância
a preocupação com a sustentabilidade do planeta. Assim, observa- de projetos como o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
mos que os estudantes compreenderam o conceito de sustentabili- Docência (Pibid), que promovem a maior inserção dos licenciandos
dade, associando o mesmo com o modo de viver, produzir e agir da em sala de aula e o contato destes com inovações no processo de
humanidade, como podemos observar nos excertos: ensino e aprendizagem.
Excerto 21 – Usando combustíveis sustentáveis, vindos de fon-
tes renováveis que são melhores para o planeta, e diminuindo o uso
de combustíveis fósseis. (A23) QUESTÕES
Excerto 22 – Utilizar os que poluem menos, os mais sustentá-
veis, que são melhores para o meio ambiente. (A35)
Excerto 23 – Sim, se não contribuirmos para o planeta será im- 1. Qual é o objetivo central do livro "Princípios de Química:
possível a vida na terra. (A34) Questionando a Vida Moderna e o Meio Ambiente"?
Segundo Ayres e Amaral (2016), a sustentabilidade ambiental (A) Explorar a história da química e seus principais cientistas.
representa, essencialmente, uma mudança de paradigma na re- (B) Abordar a química teórica e seus modelos matemáticos.
lação entre a humanidade e o meio ambiente, bem como o reco- (C) Investigar as aplicações industriais da química em diferen-
nhecimento de que as atuais exigências excessivas e desenfreadas tes setores.
perante os recursos naturais, juntamente com a ampla geração de (D) Discutir a relação entre química, vida moderna e meio am-
poluentes, constituem um insustentável e ameaçador futuro am- biente.
biental.
Assim, acredita-se que a sequência didática contribuiu para 2. Qual dos seguintes tópicos NÃO é abordado no livro?
que os estudantes construíssem pensamentos sustentáveis e fizes- (A) Estrutura atômica e tabela periódica.
sem uso dos conceitos químicos para tanto, se tornando ainda pro- (B) Estequiometria e reações químicas.
pagadores destes conhecimentos ambientais e de sustentabilidade. (C) Química e a vida moderna.
(D) Princípios da biologia molecular.
Considerações Finais
O Projeto Temático “Química e Energia em prol de um desen- 3. Por que é importante compreender os impactos da química
volvimento sustentável”, buscou, a partir dos conceitos químicos de no meio ambiente?
termoquímica, que os estudantes refletissem sobre qual combustí- (A) Para promover a química como uma disciplina acadêmica.
vel utilizar em um carro flex, o de maior rendimento, qual seja, a ga- (B) Para desenvolver novas aplicações industriais da química.
solina, ou o menos poluente, o etanol. Além dos conceitos associa- (C) Para garantir práticas sustentáveis e minimizar os impactos
dos com a energia e a reação de combustão, que foram observados negativos.
por meio da análise dos questionários prévios e posteriores, perce- (D) Para aumentar a produção de substâncias químicas no mer-
be-se que os estudantes desenvolveram preocupações ambientais cado.
a respeito da temática combustíveis, importando-se com o futuro
do planeta e a sustentabilidade. Acredita-se que através da contex- 4. Qual é o foco principal do livro "Química Ambiental"?
tualização o educando é levado a fazer uma ponte entre a teoria e a (A) Explorar a química orgânica e inorgânica.
prática, aproximando a escola do mundo real. Portanto, a atividade (B) Discutir a história da química e seus principais cientistas.
desenvolvida foi capaz de tornar os estudantes sujeitos ativos na (C) Abordar a relação entre química e o meio ambiente.
apropriação do conhecimento, além de sujeitos críticos frente aos (D) Investigar a química industrial e suas aplicações.
problemas que a sociedade enfrenta, fazendo uso do conhecimen-
to químico para refletir e resolver estes problemas em prol de um 5. Qual dos seguintes tópicos NÃO é abordado no livro?
futuro da humanidade. (A) Poluição ambiental e seus impactos.
Também se pôde observar indícios do desenvolvimento da (B) Química dos recursos naturais.
alfabetização científica nos estudantes, o que é imprescindível no (C) Química orgânica e suas reações.
campo educacional, estando a mesma diretamente ligada à Educa- (D) Tecnologias ambientais e soluções para problemas ambien-
ção em Ciências e aos fatores sociais, históricos, políticos, culturais, tais.
tecnológicos e ambientais da sociedade. Mas, após todas as consta-
tações descritas neste trabalho de inovações no processo de ensino
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6. Por que a compreensão da química ambiental é importante? ______________________________________________________


(A) Para desenvolver novas aplicações industriais da química.
(B) Para estudar a história da química e seus avanços. ______________________________________________________
(C) Para entender os impactos da química na saúde humana.
(D) Para identificar e solucionar problemas ambientais causa- ______________________________________________________
dos por atividades humanas.
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GABARITO
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1 D
2 D ______________________________________________________
3 C ______________________________________________________
4 C
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5 C
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6 D
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ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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É fundamental que os estudantes estejam familiarizados com


SÃO PAULO (ESTADO). SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. o documento, pois ele serve como referência para o planejamento
CURRÍCULO PAULISTA. SÃO PAULO: SEDUC, [2019]. P. das aulas e para a avaliação do aprendizado. O Currículo Paulista de
375-394 Química direciona os conteúdos a serem trabalhados, auxiliando os
professores na seleção de estratégias pedagógicas adequadas e na
promoção de um ensino significativo e contextualizado.
O Currículo Paulista de Química, desenvolvido pela Secretaria da Dessa forma, o Currículo Paulista de Química desempenha um
Educação do Estado de São Paulo em 2019, é um documento que papel essencial na garantia de uma educação de qualidade, con-
estabelece as diretrizes e os conteúdos a serem abordados no tribuindo para a formação de estudantes preparados para os de-
ensino de Química nas escolas do estado. Ele tem como objetivo safios da sociedade contemporânea e para o ingresso no ensino
principal fornecer orientações para o planejamento curricular, superior ou no mercado de trabalho relacionado à área química.
visando uma educação de qualidade e formação integral dos
estudantes.
O documento aborda uma série de temas relevantes e atualiza- SÃO PAULO (ESTADO). SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. CUR-
dos, buscando acompanhar os avanços científicos e tecnológicos da RÍCULO PAULISTA: ETAPA ENSINO MÉDIO. SÃO PAULO:
área. Alguns dos principais temas presentes no Currículo Paulista SEDUC, 2020. P. 133-137, 145-166, 218-228, 249-250
de Química são:

• Estrutura da matéria: estudo da estrutura atômica, organi- O Currículo Paulista: Etapa Ensino Médio, elaborado pela Sec-
zação dos elementos químicos na tabela periódica e estrutura mo- retaria da Educação do Estado de São Paulo em 2020, é um docu-
lecular. mento que estabelece as diretrizes e orientações para o ensino de
Física nessa etapa da educação básica. Com o objetivo de promover
• Transformações químicas: compreensão das reações quími- uma formação integral e de qualidade, o currículo busca desenvolv-
cas, equilíbrio químico, cinética das reações e estequiometria. er competências e habilidades nos estudantes, além de proporcio-
nar uma visão ampla e aprofundada dos conteúdos dessa disciplina.
• Propriedades da matéria: análise das propriedades físicas e Dentre os principais temas abordados no Currículo Paulista de
químicas da matéria, como densidade, ponto de fusão, ponto de Física para o Ensino Médio, destacam-se:
ebulição, solubilidade, entre outras.
• Mecânica: Nesse tema, são estudados conceitos como cin-
• Química orgânica: estudo dos compostos orgânicos, suas es- emática, dinâmica, trabalho, energia, e outros tópicos relacionados
truturas, propriedades e reatividade. ao movimento dos corpos e suas interações.

• Química ambiental: análise dos impactos da atividade huma- • Termologia: Trata do estudo das propriedades térmicas da
na no meio ambiente, poluição e sustentabilidade. matéria, como temperatura, calor, dilatação, transferência de calor,
termodinâmica, entre outros.
• Química industrial: compreensão dos processos químicos uti-
lizados na indústria, como produção de materiais, energia e produ- • Óptica: Nesse tema, são abordados os princípios e fenômenos
tos químicos. relacionados à luz, como reflexão, refração, formação de imagens
em espelhos e lentes, óptica da visão, entre outros.
A importância do Currículo Paulista de Química reside no fato
de que ele estabelece um referencial teórico e metodológico para • Eletromagnetismo: Envolve o estudo dos fenômenos elétri-
o ensino da disciplina, garantindo a progressão de conteúdos e a cos e magnéticos, incluindo leis de Gauss, lei de Ampère, circuitos
articulação entre os diferentes níveis de ensino. Além disso, o docu- elétricos, campo magnético, indução eletromagnética, entre outros.
mento promove a formação integral dos estudantes, estimulando a
reflexão crítica, o desenvolvimento de habilidades e competências, • Ondulatória: Trata das ondas em seus diversos aspectos,
e a valorização da ciência e da tecnologia. como ondas mecânicas, ondas sonoras, ondas eletromagnéticas,
Ao seguir as orientações do Currículo Paulista de Química, os interferência, difração, polarização, entre outros.
educadores podem proporcionar uma educação de qualidade, que
estimule o interesse dos estudantes pela disciplina e contribua para
a formação de cidadãos críticos e conscientes do seu papel na so-
ciedade.
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O Currículo Paulista de Física para o Ensino Médio é um in- (C) Ondulatória, Termologia, Gravitação.
strumento importante para orientar o planejamento curricular nas (D) Cinemática, Dinâmica, Geometria Espacial.
escolas de São Paulo. Ele proporciona uma base sólida de conhe-
cimentos científicos, estimula o desenvolvimento do pensamento 6.Além do estudo dos conteúdos específicos da Física, o Currí-
crítico e da capacidade de investigação, e contribui para a formação culo Paulista de Física para o Ensino Médio também destaca a im-
de cidadãos conscientes e aptos a lidar com os desafios do mundo portância de:
contemporâneo. (A) Estudar Matemática em paralelo.
Além disso, o currículo ressalta a importância da interdisci- (B) Realizar experimentos práticos em laboratório.
plinaridade, incentivando a integração da Física com outras áreas (C) Fazer cursos de extensão na área de Física.
do conhecimento, como a Matemática, a Química, a Biologia e a (D) Relacionar os conteúdos com situações reais e cotidianas.
Tecnologia. Também destaca a importância da contextualização dos
conteúdos, relacionando-os com situações reais e problemáticas do 7.Qual é a importância da interdisciplinaridade no ensino de
cotidiano dos estudantes. Física, de acordo com o Currículo Paulista?
Portanto, é fundamental que os estudantes e professores es- (A) Estimular a competição entre as diferentes disciplinas.
tejam familiarizados com o Currículo Paulista de Física para o Ensi- (B) Facilitar a organização do currículo escolar.
no Médio, seguindo suas orientações e diretrizes. Esse documento (C) Integrar a Física com outras áreas do conhecimento.
serve como referência para o planejamento das aulas, a seleção de (D) Reduzir a carga horária da disciplina de Física.
recursos didáticos adequados e a avaliação do aprendizado dos es-
tudantes, contribuindo para a qualidade do ensino de Física e para 8.Por que é importante que estudantes e professores estejam
a formação integral dos jovens paulistas. familiarizados com o Currículo Paulista de Física para o Ensino Mé-
dio?
(A) Para garantir boas notas nas avaliações escolares.
QUESTÕES (B) Para seguir as orientações e diretrizes do documento.
(C) Para competir em olimpíadas científicas.
(D) Para facilitar a aprovação no vestibular.
1.Qual é um dos principais temas abordados no Currículo Pau-
lista de Química?
(A) Geometria analítica. GABARITO
(B) História da Química.
(C) Ecologia.
(D) Propriedades magnéticas dos materiais.
1 B
2.Por que é importante que os estudantes estejam familiariza- 2 C
dos com o Currículo Paulista de Química? 3 D
(A) Para facilitar a seleção dos livros didáticos.
(B) Para evitar a realização de experimentos perigosos. 4 D
(C) Para garantir a progressão dos conteúdos e a articulação 5 A
entre os diferentes níveis de ensino.
6 D
(D) Para promover a competição entre os estudantes.
7 C
3.Qual é a importância do Currículo Paulista de Química para a 8 B
formação dos estudantes?
(A) Estimula o interesse pela disciplina de Química.
(B) Desenvolve habilidades e competências nos estudantes. ANOTAÇÕES
(C) Promove a valorização da ciência e da tecnologia.
(D) Todas as alternativas estão corretas.
______________________________________________________
4.Como o Currículo Paulista de Química contribui para a edu-
cação de qualidade? ______________________________________________________
(A) Garantindo a formação de cidadãos críticos e conscientes.
(B) Estabelecendo um referencial teórico e metodológico para ______________________________________________________
o ensino da disciplina.
______________________________________________________
(C) Auxiliando os professores no planejamento das aulas.
(D) Todas as alternativas estão corretas. ______________________________________________________

5.Quais são os principais temas abordados no Currículo Paulis- ______________________________________________________


ta de Física para o Ensino Médio?
(A) Mecânica, Eletricidade e Magnetismo, Termodinâmica. ______________________________________________________
(B) Cinemática, Óptica, Eletrostática.
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