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SEE-SP
SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE
SÃO PAULO
CÓD: SL-120MA-23
7908433236627
INTRODUÇÃO
Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou esta introdução com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área;
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total;
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo;
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame;
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Vamos juntos!
Editora
O concurso SEE-SP é uma oportunidade única para quem deseja ingressar no serviço público como servidor da
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Por isso, é importante se preparar adequadamente para enfrentar
essa prova desafiadora. A Editora Solução se orgulha de apresentar uma apostila exclusiva para Conhecimentos
Específicos - Especialidade, a fim de auxiliar os estudantes a alcançar seus objetivos.
Nosso material foi organizado de forma a introduzir o aluno no que é cobrado pelo edital e nas principais
bibliografias indicadas para o concurso. Ressaltamos que a apostila é uma ferramenta introdutória e complementar
aos estudos. Para obter um conhecimento completo, é fundamental que o estudante vá atrás de cada bibliografia e
documento oficial indicado no edital.
Nossa apostila visa auxiliar na compreensão dos principais pontos cobrados no edital, assim como fornecer uma
base teórica sólida para a resolução de questões. Acreditamos que, com dedicação e empenho, nossos alunos terão
sucesso nesse desafio.
É importante lembrar que, além do conteúdo abordado na apostila, o edital do concurso SEE-SP também
exige conhecimentos específicos em outras áreas. Por isso, é fundamental que o estudante busque informações
complementares em outras fontes.
Por fim, ressaltamos a importância do estudo sério e constante, bem como a dedicação ao aprendizado.
Desejamos a todos um excelente preparo e sucesso no concurso SEE-SP. A Editora Solução está à disposição para
auxiliar no que for preciso.
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Conhecimentos
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25. Das experimentações, desfrute, apreciação e criações de diferentes brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e
práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo................................................................... 86
Publicações Institucionais
1. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC/CONSED/UNDIME, 2017. p. 61 - 62,
211 - 237..................................................................................................................................................................................... 99
2. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares nacionais: educação física. Brasília: MEC/SEF,1998.. 101
3. SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Currículo paulista. São Paulo: SEDUC, 2019. p. 249-280................................... 103
4. SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Currículo paulista - etapa ensino médio - área de linguagens e suas tecnolo-
gias.............................................................................................................................................................................................. 104
Editora
Particularmente sobre a presença da Educação Física na educa- não quis diminuir a importância dos conteúdos. No entanto, foi a
ção infantil, algumas tendências têm sido criticadas e questionadas interpretação que muitos professores fizeram da proposta. Quem
por desconsiderarem, no âmbito da especificidade de sua prática se preocupava com os conteúdos era pejorativamente chamado
pedagógica, a criança como sujeito sócio-histórico (Grupo de Estu- de “conteudista”. A percepção dos pesquisadores é a de que existe
dos Ampliados de Educação Física,1996). uma crença internalizada segundo a qual a opção pelos conteúdos
A psicomotricidade vem sendo censurada por apresentar ca- seria uma traição à proposta plural, o que configura-se como um
racterísticas que pressupõem uma homogeneização dos indivíduos, entendimento equivocado da proposta de trabalho por projetos.
com padrões de movimentos genéricos e universais, desprezando Essa constatação parece ter sido feita apenas com professores do
as experiências sociais. O movimento é muitas vezes um recurso ensino fundamental. E na educação infantil, como os professores
terapêutico ou instrumento para resolver os problemas afetivos/ entendem a Pedagogia de Projetos? Eles trabalham por projetos?
cognitivos. O desenvolvimento e a aprendizagem motora também A autora afirma que nas séries iniciais do ensino fundamental é
partem de um padrão ideal de criança para estabelecer fases do de- mais fácil de se concretizar a concepção globalizante proposta por
senvolvimento motor e consideram o ser humano como um grande Hernández (1998), já que o aprofundamento disciplinar não se faz
processador de respostas. A recreação é uma outra tendência criti- necessário e a própria formação dos professores é polivalente, per-
cada por apresentar-se como uma ocupação do tempo e do espaço mitindo a compreensão de um trabalho mais global. Se partirmos
na escola. Não há o comprometimento com a sistematização e am- dessa compreensão podemos supor, então, que na educação infan-
pliação do conhecimento; assim, o tempo escolar da Educação Físi- til a proposta do trabalho por projetos seria mais facilmente concre-
ca é considerado como compensatório (Grupo de Estudos..., 1996). tizada. Será esta uma realidade?
Sendo a Educação Física uma área de conhecimento escolar,
ela possui saberes que vêm sendo construídos historicamente e Também nessa avaliação dos projetos de trabalho na Escola
que conferem significado ao movimento. Consideramos que as prá- Plural, observou-se uma distância entre o discurso e a prática efeti-
ticas da cultura corporal de movimento são, também na educação va da Pedagogia de Projetos, já que alguns professores entrevista-
infantil, a especificidade pedagógica e a contribuição da Educação dos afirmavam trabalhar com projetos, ao passo que nos registros
Física como área do conhecimento escolar. A dança, os jogos e as oficiais das escolas e nos diários só eram encontrados temas e as-
brincadeiras, os esportes, a ginástica, as lutas e a capoeira, como suntos em evidência: dengue, vacinação, violência, copa do mundo
fenômenos da cultura corporal de movimento, são um conjunto de etc. Percebe-se um distanciamento da Pedagogia de Projetos e tam-
saberes da humanidade ao longo da história. A intencionalidade bém um entendimento superficial do que seja ela.
daqueles que os realizam é que atribui significado ao movimento. Hernández (1998, p. 28) já destacava o perigo de se transfor-
A Educação Física na educação infantil possibilita à criança a des- mar o trabalho por projetos num “modismo”. Segundo ele isso
coberta, o conhecimento e a vivência desta forma de expressão ocorre quando os projetos de trabalho ficam reduzidos a uma fór-
e linguagem: o movimentar-se. Portanto, a disciplina contribui na mula didática baseada em uma série de passos: levantamento do
formação humana integral e plena da criança por meio de seus con- tema, perguntar o que os alunos sabem e o que querem saber, fazer
teúdos específicos. Vale lembrar que pensar a infância como tempo o índice, trazer diferentes fontes de informação e copiar o referido
de direitos significa reconhecer que a criança tem o direito às vivên- aos pontos do índice.
cias, às experiências e ao conhecimento em suas muitas dimensões.
Como, então, ensinar esses conteúdos específicos da Educa- Estrutura Curricular Construída
ção Física levando em consideração uma concepção de educação
infantil que valoriza a totalidade, a formação plena das crianças? A estrutura curricular construída apresenta as concepções so-
Falar em totalidade e ao mesmo tempo colocar a especificidade da bre cada bloco de atividades, seus objetivos e as competências que
contribuição dessa disciplina pode parecer um pouco contraditório. os alunos podem/precisam desenvolver por meio da realização des-
Não estaríamos tentando delimitar nossas responsabilidades nesse tas atividades.2
processo de formação e, consequentemente, “lavando as mãos” Salienta-se que, para o desenvolvimento dessas competências
se por eventualidade os outros saberes, conteúdos, conhecimen- é necessário partir da compreensão de que os objetivos da propos-
tos não fossem especialmente experimentados e assimilados pelas ta somente serão alcançados se a metodologia que fundamenta o
crianças no processo? O que seria, então, construir uma concepção trabalho pedagógico partir de “[...] uma relação direta com a expe-
globalizante em que fosse possível experimentar e chegar ao co- riência do aluno, confrontada com o saber e relacionada a prática
nhecimento de forma ampla, valorizando suas muitas dimensões? vivida pelos alunos com os conteúdos propostos pelo professor,
A Pedagogia de Projetos tem sido uma proposta muito discu- momento em que se dará a “ruptura” em relação à experiência
tida justamente por tentar responder a essas perguntas em busca pouco elaborada”3.
de uma concepção e uma prática que considerem o processo de A partir disso, objetiva-se possibilitar o aluno a desenvolver al-
ensino–aprendizagem como único, não fragmentado. Mas, qual é gumas capacidades durante o processo de ensino e aprendizagem,
a avaliação que temos disso? Como os professores da educação in- conforme aponta Kunz (1994, p.31):
fantil entendem a Pedagogia de Projetos? Como eles trabalham por
projetos? A Educação Física é trabalhada também na perspectiva da
Pedagogia de Projetos? Como isso acontece?
Ao avaliar como a Escola Plural vem lidando com os projetos
de trabalho, Amaral (2000) constatou que estes não foram bem en- 2 http://www.efdeportes.com/efd158/conteudos-da-educacao-fisica-para-infantil.
tendidos e deram origem a alguns preconceitos quanto à proposta htm
que se colocava. Esta, ao enfatizar a necessidade do trabalho cole- 3 LIBÂNEO, J. C. Democratização da escola pública – a pedagogia critico social
tivo, interdisciplinar e a captação da realidade em sua totalidade, dos conteúdos, 1994.
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CONHECIMENTOS
O aluno enquanto sujeito do processo de ensino deve ser ca- mo se torne um processo similar ao industrial e administrativo. Bo-
pacitado para sua participação na vida social, cultural e esportiva, o bbitt (1918) e Tyler (1978) são os principais autores dessa vertente
que significa não somente a aquisição de uma capacidade de ação que compreende o currículo como o conjunto de matérias escolares
funcional, mas a capacidade de conhecer, reconhecer e problema- exteriores aos alunos e professores (currículo como fato - currículo
tizar sentidos e significados nesta vida, através da reflexão crítica. pré-ativo - currículo escrito).
Sendo assim, torna-se tarefa dos professores considerar e com- A segunda metade do século XX constitui-se num período em
preender as particularidades da proposta curricular, buscando vin- que se iniciou uma série de análises acerca do currículo e de suas
cular estas, as características socioculturais do contexto no qual a propostas curriculares. Neste momento, vários autores realizam
instituição educacional está inserida, bem como, as necessidades, uma série de denúncias em relação ao papel da escola e do currí-
possibilidades e expectativas dos alunos de cada contexto. Para culo na reprodução da estrutura social, além de demonstrar o in-
isso, coloca-se com necessidade imprescindível, um processo de re- teresse destes em construir uma escola e um currículo interligados
flexão sobre as condições de atuação. Esse processo reflexivo, deve aos interesses dos grupos oprimidos. Para tal, buscaram apoio em
se dar mediante, teorias sociais, desenvolvidas em especial na Europa para embasar
suas reflexões e propostas.
[...] a imersão consciente do homem no mundo de sua expe- Assim, novos referenciais passaram a servir a diversos teóricos
riência, um mundo carregado de conotações, valores, trocas simbó- preocupados com questões curriculares, tais como: a teoria crítica
licas, correspondências afetivas, interesses sociais e cenários políti- da Escola de Frankfurt, o neomarxismo, as teorias da reprodução, a
cos. A reflexão, diferentemente de outras formas de conhecimento, fenomenologia, a nova Sociologia da Educação Inglesa, a psicanáli-
supõe uma análise e uma proposta totalizadora, que captura e se, entre outras.
orienta a ação (PÉREZ GÓMEZ, 1997, p. 37). Inicia-se com estas teorias um período de reconceitualização
do campo. Novas tendências foram surgindo a partir dos anos se-
Dentro dessas perspectivas, movimento para a criança pe- tenta contrapondo-se ao que vinha sendo desenvolvido nos estu-
quena, enfatiza Mattos e Neira (2004) vai significar muito mais do dos curriculares até então, colaborando para a análise e compreen-
que mexer partes do corpo ou deslocar-se no espaço. A criança se são de outras questões. O currículo passa a ser entendido como
expressa e se comunica através dos gestos e das mímicas faciais e o estudo do conhecimento escolar; uma área e/ou um campo de
interage utilizando fortemente o apoio do corpo. A dimensão cor- estudo; uma construção social.
poral integra-se fortemente ao conjunto da atividade da criança. Estes novos referencias curriculares se referem às teorias críti-
Portanto, o ato motor faz-se presente em suas funções expressivas, cas e pós-críticas, que apesar de suas diferenças, tem em comum a
instrumental ou de sustentação às posturas e aos gestos negação da perspectiva curricular até então dominante, seu caráter
Ampliando ainda mais a tradicional divisão dos conteúdos em técnico, apolítico e pouco teórico.
blocos, como: esportes, jogos, ginástica, lutas e dança, apresenta-se Neste sentido, a partir das teorias críticas, o currículo como um
a seguir uma proposta de seleção e reorganização dos conteúdos, espaço de poder tem um papel decisivo na reprodução da estrutura
agrupando-os num primeiro momento em blocos de atividades de classes da sociedade capitalista. Constituiu-se, portanto, como
como: Atividades corporais de movimento coletivas, Atividades um aparelho ideológico do Estado capitalista, transmitindo a ideo-
corporais de movimento individuais, Atividades corporais de mo- logia dominante, em síntese o currículo passa a ser considerado um
vimento rítmicas, Atividades corporais de movimento folclóricas e território político.
Atividades corporais de movimento junto a natureza. Assim, Silva (2006) concebe a elaboração do currículo, como
reflexo de uma ação política permeada por oposições e resistên-
As Diferentes Teorias Curriculares cias. Ao se considerar que a articulação entre o sujeito visado, os
conhecimentos eleitos para concretização do projeto educativo e
O tema currículo apresenta múltiplas definições, porque ele as atividades de ensino compõem a essência do currículo, questões
pode ser entendido com base em perspectivas ou teorias diferen- como: “quem queremos formar?”, “como ensinamos?” e “o que
ciadas. Existem vários conceitos de currículo, que foram surgindo ensinamos? ”constituem-se como eixos norteadores da proposta
ao longo do tempo, mas nenhum, necessariamente, invalidou os curricular.
anteriores. Eles convivem harmonicamente ou não no campo.4 Portanto, o currículo é um conjunto de conteúdos cognitivos e
Silva (1999) apresenta uma análise bastante clara que contribui simbólicos (saberes, competências, representações, tendências, va-
para o entendimento do tema em questão, ao apresentar as dife- lores) a serem transmitidos (de forma explícita ou implícita) através
rentes teorias curriculares. Segundo o autor, pode dizer que exis- das práticas educativas. Ele constitui-se como um processo histori-
tem duas grandes vertentes de teorias curriculares: as teorias tradi- camente condicionado com a capacidade de incidir sobre a socieda-
cionais de currículo e as teorias críticas e pós-críticas de currículo. de, configurando-se em um campo que interagem práticas e ideias
As primeiras concebem o currículo como algo neutro, estritamente reciprocamente.
científico e objetivo. Já o segundo grupo percebe que nenhuma Currículos, como construções sociais que são, sofrem as in-
teoria é neutra, científica ou desinteressada. Ou seja, elas implicam fluências dos conhecimentos que ensinam e das culturas da socie-
relações de poder e demonstram a preocupação com as conexões dade na qual estão inseridos. Em seus estudos, Silva (2006), rela-
entre saber, identidade e poder. ta que a cultura e currículo são antes de tudo relações sociais e o
As teorias tradicionais de currículo enfatizavam seu papel no currículo como relação social pode ser percebido por intermédio
processo de racionalização de resultados educacionais, cuidadosa e de suas marcas, advindas de disputas por predomínio cultural, das
rigorosamente especificados e medidos. A fábrica serve de modelo lutas entre, de um lado, saberes oficiais, dominantes e, de outro,
institucional dessa concepção de currículo, fazendo com que o mes- saberes subordinados, desprezados.
4 https://refisica.uea.emnuvens.com.br/refisica/article/view/17/pdf
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CONHECIMENTOS
Com isso, o currículo se constitui por meio de relações sociais, Simultaneamente ao objetivo higienista, a Educação Física cria
que necessariamente são relações de poder e denominam quais significado eugênico. Através de hábitos saudáveis e aprimoramen-
são os conhecimentos considerados socialmente válidos. Por meio to das características físicas, objetivava a regeneração do povo e o
das relações sociais do currículo é que as diferentes classes sociais desenvolvimento de sua raça, a brasileira (CORRÊA; MORO, 2004,
aprendem quais são seus respectivos papéis nas relações sociais p.96). Ainda segundo os autores, a influência dessa concepção foi
mais amplas. hegemônica até os anos 50, quando a Educação Física Escolar co-
Nessa perspectiva, o currículo transmite visões sociais particu- meçou a sofrer influência do esporte.
lares e interessadas, produzindo identidades individuais e sociais Nas primeiras décadas do século XX, a ascensão de novas teo-
particulares. Portanto, ao se analisar os elementos constituintes do rias, teve repercussão também no discurso da Educação Física, que
currículo deve-se levar em conta não apenas as condições de aces- passou a ser vista e defendida como um meio de educação, seus
so à educação, mas também as condições do acesso diferencial a métodos de ensino deveriam romper com a dualidade corpo/men-
diferentes tipos de conhecimento (SILVA, 1996). te promovendo a propagada educação integral.
Por isso, como afirma Silva (2006), o currículo é um dos pon- Uma nova prática visualizada por uma pedagogia ativa assumiu
tos centrais dos atuais projetos de reforma social e educacional, ele o espaço predominante no currículo, ou seja, o jogo, que entrou
ocupa um espaço estratégico nessas reformas, pois é um dos espa- em cena redefinindo princípios, objetivos, livrando-se dos limites
ços em que ocorrem lutas decisivas por hegemonia, por predomí- impostos pelo cientificismo biológico (NEIRA; NUNES, 2009).
nio, e pelo domínio do processo de significação. Assim, é por meio Sob forte influência do discurso educacional cognitivista, o
do currículo, concebido como elemento discursivo da política edu- método de educação psicomotora ou psicomotricidade foi larga-
cacional, que os diferentes grupos sociais, em especial, os dominan- mente apropriado pela Educação Física. E, o currículo mostrou-se
tes expressam sua visão de mundo, seu projeto social, sua verdade. mais preocupado com o desenvolvimento da criança, com o ato de
A atual ordem curricular tem em um de seus pontos centrais a aprender, com o desenvolvimento dos comportamentos cognitivos,
disciplinaridade, pois, apesar de todas as transformações ocorridas afetivos e psicomotores, buscando novamente garantir a formação
na natureza e extensão da produção do conhecimento, o currículo integral aos alunos.
continua fundamentalmente centrado em disciplinas tradicionais. Já, a partir dos anos 80 inicia-se uma série de críticas em rela-
Neste sentido, a disciplinaridade não só é a tradução lógica e racio- ção aos currículos de até então na Educação Física, seja nos currí-
nal de campos de conhecimento, mas também, a inscrição e recon- culos esportivos, globalizantes ou desenvolvimentistas, sugerindo
textualização desses campos num contexto em que processos de novos conteúdos e orientações didáticas para a disciplina. Por meio
regulação moral e controle tornam-se centrais. de uma atitude dialógica, este novo currículo proporcionaria aos
Sendo assim, para Neira e Nunes (2009) ao se elaborar uma alunos situações pedagógicas que lhes permitiriam analisar criti-
proposta curricular, torna-se necessário selecionar uma parcela do camente os parâmetros sociais que configuravam e delineavam a
capital cultural disponível na sociedade para ser partilhado e socia- existência sócio-histórica da brincadeira, esporte, dança, ginástica,
lizado com o público escolar. Os critérios de seleção dos conteúdos luta e demais manifestações da cultura corporal.
culturais que comporão o currículo são justapostos da maneira com Novas teorias surgem, com o intuito de reorientar a prática da
que os grupos em vantagem nas relações sociais entendem como Educação Física Escolar e conferir um novo caráter curricular a mes-
a mais apropriada, por fim o formato do currículo é resultante da ma. Tais teorias podem ser classificadas em propositivas e não-pro-
tecnificação pedagógica de que tem sido objeto. positivas.
As considerações traçadas até o momento demonstram a com- Conforme Corrêa e Moro (2004), as teorias pedagógicas não-
plexidade das questões referentes ao currículo e a estrutura curri- -propositivas trabalham a questão da Educação Física Escolar sem,
cular marcada pelos vários aspectos que o compõem, sejam eles, contudo, estabelecem princípios, parâmetros e/ou procedimentos
econômicos, sociais, políticos ou culturais. Sem a pretensão de fi- metodológicos para o seu ensino. Tais pedagogias são caracteriza-
nalizar esta discussão, buscamos agora realizar uma análise mais das pelas abordagens fenomenológica, sociológica e cultural.
específica da disciplina de Educação Física enquanto componente Dentre as teorias pedagógicas não-propositivas destaca-se a
curricular. abordagem cultural proposta por Daólio (1991), que se fundamenta
na antropologia e evidencia a importância de se considerar a Edu-
Estabelecendo Articulações entre o Currículo e a Educação cação Física como um componente cultural. O enfoque biológico
Física não é desconsiderado e pode ser utilizado nas aulas de Educação
Física na medida em que seja vinculado ao surgimento da cultura,
Somente na segunda metade do século XIX a Educação Física permeando a discussão em torno da evolução do homem (DARIDO,
foi incluída no sistema educacional brasileiro. Sua constituição foi 2003).
fortemente influenciada pela instituição militar e, em seguida pela No quadro das pedagogias propositivas evidencia-se sua divi-
medicina. são em sistematizadas e não-sistematizadas. As propositivas não-
De acordo com Neira e Nunes (2009), desde o início, os con- -sistematizadas propõem metodologias, observando princípios que
teúdos de ensino selecionados com base em justificativas científi- buscam superar as práticas existentes na Educação Física, contudo,
cas, marcavam a distinção social. A concepção curricular dominante não sistematizam uma proposta curricular para os níveis escolares.
nesses primórdios baseava-se na perspectiva higienista. Essas pedagogias são caracterizadas pelas abordagens: desenvolvi-
Na Educação Física higienista, segundo Corrêa e Moro (2004), mentista, construtivista-interacionista, concepção de aulas abertas
a concepção de homem é de um ser biológico e a fundamentação a experiências, abordagem a partir da referência do lazer, crítico-e-
da prática da Educação Física está embasada nos conhecimentos mancipatória e abordagem plural. Apresenta-se a seguir as abor-
anátomo-fisiológicos do corpo, os quais vão influenciar a sua prática dagens mais recorrentes nos estudos da área da Educação Física
pedagógica mediante os métodos ginásticos. Escolar e suas principais características.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS
A abordagem desenvolvimentista tem como principais expoen- forma crítico-superadora, evidenciando-se o sentido e o significado
tes no Brasil, os trabalhos de Tani et al (1988), a obra mais represen- dos valores que inculca e as normas que regulamentam dentro de
tativa deste modelo é a “Educação Física Escolar: fundamentos de nosso contexto sócio-histórico.
uma abordagem desenvolvimentista (TANI ET AL., 1988). A aborda- As várias teorias, já citadas, almejam novas formas de ensino
gem Desenvolvimentista tem o intuito de estabelecer uma funda- da Educação Física Escolar e por isso contribuem significativamente
mentação teórica para a Educação Física Escolar dirigida ás crianças, para o desenvolvimento da Pedagogia da Educação Física, além de
em sua maioria dos quatro aos quatorze anos de idade. proporem novas concepções de currículo.
Segundo Tani et al. (1988) o seu principal objetivo é buscar nos Nesta direção, ressalta-se que na escola, a disciplina de Educa-
processos de crescimento, de desenvolvimento e de aprendizagem ção Física sempre obteve um tratamento diferenciado das demais
motora do ser humano esta fundamentação. É, portanto, uma ten- disciplinas do componente curricular, tal fenômeno pode ser obser-
tativa de caracterizar a progressão normal no crescimento físico, vado através do Decreto Federal n. 69.450/71, título IV, cap. I:
do desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e afetivo-social na
aprendizagem motora, e em função dessas características, sugerir Art. 5 - Os padrões de referência para orientação das normas
aspectos relevantes para as aulas de Educação Física. regimentais da adequação curricular dos estabelecimentos, bem
A proposta construtivista-interacionista tem como principal como para o alcance efetivo dos objetivos da Educação Física, des-
referência o professor João Batista Freire, com a obra “Educação portiva e recreativa são situados em:
de corpo inteiro”, publicado em 1989. A abordagem construtivista- I - Quanto à sequência e distribuição semanal, três sessões no
-interacionista é uma opção metodológica em oposição à proposta ensino, primário e no médio e duas sessões no ensino superior, evi-
mecanicista, e segue orientações teóricas de Piaget e Vygotsky, os tando-se concentração de atividades em um só dia ou em dias con-
quais segundo Freire (1989) consideram a atividade motora como secutivos.
um meio de adaptação, de transformação, de relacionamento com II - Quanto ao tempo disponível para cada sessão, 50 min. não
o mundo. incluindo o período destinado à preparação dos alunos para as ati-
A concepção aberta de ensino da Educação Física, tem nos tra- vidades.
balhos de Hildebrandt e Langing (1986) seu principal aporte teórico, III - Quanto à composição das turmas, 50 alunos do mesmo
essa proposta entende que o ensino está orientado para idéias de sexo, preferencialmente selecionados por nível de aptidão física.
objetivos prioritários, que também são caracterizados como obje-
tivos de educação e de formação. Conforme o autor “o ensino da A partir do Decreto é possível tecer algumas considerações, tais
Educação Física deve capacitar os alunos a tratar de tal modo os como: a separação das turmas por sexo e a não concentração de ati-
conteúdos esportivos nas mais diversas condições dentro e fora da vidades em um dia ou dias consecutivos deve-se à relevância a as-
escola que estejam em condições de criar, no presente ou no futu- pectos de ordem fisiológica, a impossibilidade de se incluir as aulas
ro, sozinhos ou em conjunto, situações esportivas de modo crítico, de educação física nos horários normais dos turnos, sendo então,
determinadas autonomamente ou em conjunto”. oferecida em outro turno, causando ônus aos alunos das camadas
A abordagem crítico-emancipatória tem como principal autor populares que frequentam a escola pública em relação aos custos
o professor Kunz (2001), segundo o autor, „‟a concepção crítico dos transportes, na medida em que têm que frequentar a escola em
emancipatória, busca alcançar, como objetivos primordiais do ensi- dois turnos nem sempre consecutivos.
no e através das atividades com o movimento humano, o desenvol-
vimento de competências como a autonomia, a competência social A Lei n. 10.793/2003 vem mais uma vez conferir um caráter
e a competência objetiva‟‟. menor à disciplina de Educação Física. Assim, a Lei rege que a Edu-
A abordagem plural é reconhecida nos trabalhos de Daolio cação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é compo-
(1996) o autor propõem uma Educação Física Plural, cuja condi- nente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática
ção mínima e primeira é que as aulas atinjam todos os alunos, sem facultativa ao aluno:
discriminação, ou seja, A Educação Física Plural deve abarcar todas I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis
as formas da chamada cultura corporal - jogos, esportes, danças, horas;
ginásticas e lutas - e, ao mesmo tempo, deve abranger todos os alu- II – maior de trinta anos de idade;
nos. III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em
Já as teorias propositivas sistematizadas caracterizam-se pelas situação similar, estiver obrigado à prática da educação física;
abordagens: aptidão física/saúde e crítico-superadora, as quais des- IV – amparado pelo Decreto-Lei n. 1.044, de 21 de outubro
crevem propostas de programação curricular para os Ensinos Fun- de 1969;
damental e Médio. V – (VETADO)
A abordagem aptidão física/saúde incorpora e renova para as VI – que tenha prole (BRASIL, 2003).
aulas de Educação Física o enfoque no aspecto físico, no entanto,
utilizado de uma forma mais consciente, em que o professor ensina Sendo assim, a concepção que se tem é de que os alunos traba-
ao aluno o porquê deste ou daquele exercício, qual sua importância lhadores não precisam do conhecimento da Educação Física, leitura
para o seu desenvolvimento físico e para sua saúde (DARIDO, 2003). que, contraditoriamente, pode, ser interpretada como punição, na
A abordagem crítico-superadora ficou conhecida principalmen- medida em que impede a ele o acesso a essa prática pedagógica ou
te através da obra Coletivo de Autores (1992), a proposta tem como área do conhecimento. Ressalta-se, por fim, a constatação do Cole-
ponto de partida a vivência histórica dos alunos expressada nos tivo de Autores (1992), de que a Educação Física pode ser conside-
conteúdos da sua cultura. Nessa perspectiva o Esporte, enquanto rada uma das áreas de conhecimento escolar com mais normativas
tema da cultura corporal, é tratado pedagogicamente na Escola de curriculares.
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mento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas caracte- dinâmica cultural particular, e só faz sentido num grupo específi-
rísticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e co. O homem só chegou ao seu estágio aluai de desenvolvimento
dos educandos. devido a um processo cultural de apropriação de comportamentos
[ ] e atitudes que, inclusive, foram transformando o seu componente
3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da esco- biológico. Não é possível desvincular o homem da cultura. O que o
la, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo diferencia de outros animais, principalmente, é a sua capacidade de
sua prática facultativa ao aluno produzir cultura. Cultura essa que não é um ornamento, um algo a
I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis ho- mais que se sobrepôs à natureza animal.
ras;
II – maior de trinta anos de idade; A cultura foi a própria condição de sobrevivência da espécie.
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em si- Portanto, pode-se dizer que a natureza do homem é ser um ser cul-
tuação similar, estiver obrigado à prática da educação física; tural. Infelizmente, no meio acadêmico e profissional da educação
IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de física, essa problemática ainda não é compreendida no âmbito de
1969; um conhecimento antropológico. A ênfase na formação profissional
V – (VETADO) em educação física ainda se refere ao homem e ao seu corpo como
VI – que tenha prole. entidades primordialmente biológicas. Temos ouvido comentários
sobre o corpo que embutem uma noção que separa a natureza da
Aqui, deve-se atentar ao seguinte, a Educação Física consta cultura. Quando se defende a procura por um corpo natural, está se
como matéria em currículo, porém sua prática não é obrigatória se falando que é possível encontrar um corpo pré-cultural, ou que seja
a pessoa estiver em um dos casos trazidos pelos incisos. imune à cultura. Quando se fala do corpo livre, parece que se busca
um corpo que não seja escravizado ou moldado pelas regras sociais.
Ouvimos até certos excessos como “liberar o lado animal do corpo.
DA CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO COMO OBJETO Como se o corpo e o homem não fossem eminentemente cultu-
DE ESTUDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ENQUANTO PROCES- rais. Como se se quisesse achar um corpo ainda não atingido pela
SOS DE LEGITIMAÇÃO DAS FORMAS DE EXPRESSÃO E DE cultura ou anterior a ela. O corpo é uma síntese da cultura, porque
PRODUÇÕES HISTÓRICAS, SOCIAIS E POLÍTICAS DE UM expressa elementos específicos da sociedade da qual faz parte. O
DETERMINADO CONTEXTO. homem, através do seu corpo, vai assimilando e se apropriando dos
valores, normas e costumes sociais, num processo de incorporação
(a palavra é significativa). Mais do que um aprendizado intelectual,
Os significados do corpo na cultura e as implicações para a o indivíduo adquire um conteúdo cultural, que se instala no seu cor-
Educação Física po, no conjunto de suas expressões. Cada gesto que fazemos, a for-
Na área da educação física fala-se muito, atualmente, sobre ma como nos sentamos, a maneira como caminhamos, os costumes
o corpo. Juntamente com esse substantivo, imprime-se uma série com o corpo da gestante (a mensagem hoje é que ela se movimen-
de adjetivos. Podemos aqui citar alguns: esbelto, saudável, bonito, te, ao contrário de poucos anos atrás), os cuidados com o bebé...
sensual, livre, flácido, feio, reprimido, firme, mole, natural, holís- tudo é específico de uma determinada cultura, que não é melhor
tico, moderno, consciente, inteiro, repugnante, prazeroso, gordo, nem pior que qualquer outra. A forma de chutar, os cuidados higiê-
magro, etc. Os profissionais da educação física trabalham com o ser nicos com o corpo, os esportes que se praticam numa determinada
humano sobre e através do seu corpo e lidam, por extensão, com época, num determinado local, são influenciados pela cultura.
os adjetivos impressos no corpo. Por isso, torna-se importante a
reflexão sobre o tema. As brincadeiras, os tipos de ginástica, os cuidados estéticos
Gostaríamos, inicialmente, de colocar algumas questões: Como com o corpo... enfim, tudo é influenciado pela cultura. Numa multi-
definir um corpo esbelto? Como definir um corpo bonito, ou um dão, pode-se notar certos comportamentos corporais comuns, que
corpo atraente, ou um corpo consciente? Como saber se o corpo caracterizam e padronizam um determinado povo. Aliás, como re-
já chegou ao estágio de liberdade tão sonhado? O que dizer, então, lata Rodrigues, pode-se reconhecer um brasileiro num outro país
de um corpo feminino flácido, gordo, considerado deselegante nos pela sua forma de andar e gesticular, sua postura, seus movimentos
dias de hoje, mas que era, há não muito tempo, considerado sen- corporais. Duas seleções de voleibol, jogando com as mesmas re-
sual e inspirava pintores renomados? O que dizer do conceito de gras e técnicas, e com sistemas táticos similares, possuem estilos
saúde, associado antigamente a um corpo robusto, até mesmo gor- diferentes, um jeito característico de praticar o voleibol ou o fute-
do, c atualmente relacionado a um corpo magro? (Como se magro bol, que reflete tradições culturais distintas. Ao se pensar o corpo,
fosse sempre sinônimo de saudável!) E o corpo já não tão jovem, pode-se incorrer no erro de encará-lo como puramente biológico,
sobre o qual são impostos uma série de “consertos” e “reparos” um patrimônio universal, já que homens de nacionalidades diferen-
para parecer (não para ser) novo, tais como plásticas, cremes antir- tes apresentam semelhanças físicas. Entretanto, para além das se-
rugas, dietas rejuvenescedoras, ginásticas, esportes? Quem define melhanças ou diferenças físicas, existe um conjunto de significados
esses atributos a respeito do corpo? Quem determina os critérios que cada sociedade escreve nos corpos dos seus membros ao longo
para se classificar o corpo num ou noutro grupo? Para discutir com do tempo, significados estes que definem o que é corpo de manei-
mais profundidade estas questões, estamos utilizando um referen- ras variadas. Estamos falando das técnicas corporais, que Marcel
cial cultural. Mauss, um antropólogo francês, definiu, já na década de 30, como
Não podemos imaginar um ser humano que não seja fruto da as maneiras de se comportar de cada sociedade. Mauss conside-
cultura e também não podemos imaginar um corpo natural. Por- rou os gestos e os movimentos corporais como técnicas próprias
tanto, qualquer adjetivo que se associe ao corpo é fruto de uma da cultura, passíveis de transmissão através das gerações e imbuí-
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das de significados específicos. Técnicas corporais culturais, porque po. Em uma dada época, num determinado contexto, um discurso
toda técnica é um hábito tradicional, que passa de pai para filho, de prevalece sobre o outro. Em outros termos, não há corpo livre, mas
geração para geração. Segundo ele, só é possível falar em técnica, discursos sobre corpo livre; não há corpo consciente, mas discur-
por ser cultural. Kofes, reforçando esse ponto de vista, afirma que o sos sobre corpo consciente. Kofes discutiu de forma pertinente esta
corpo é expressão da cultura, portanto cada cultura vai se expressar questão do discurso do corpo X discurso sobre o corpo, afirmando
através de diferentes corpos, porque se expressa diferentemente que é necessário manter as seguintes indagações quando se abor-
enquanto cultura. É nesse contexto que Damatta pôde afirmar que da esse tema: “(...) o que a sociedade está afirmando dos corpos?
existem tantos corpos quanto há sociedades. que corpos? que individualidades? que sociedades?”. Na Educação
Física brasileira, atualmente, começa a ser utilizado o termo Cultu-
O corpo humano não é um dado puramente biológico sobre o ra Corporal em sentidos próximos daquele por nós defendido. No
qual a cultura impinge especificidades. O corpo é fruto da interação livro Metodologia do Ensino de Educação Física encontramos a se-
natureza/cultura. Conceber o corpo como meramente biológico é guinte referência: “(...) a materialidade corpórea foi historicamente
pensá-lo - explícita ou implicitamente - como natural e, consequen- construída e, portanto, existe uma cultura corporal, resultado de
temente, entender a natureza do homem como anterior ou pré- conhecimentos socialmente produzidos e historicamente acumula-
-requisito da cultura. Santos critica os que propõem a volta a um dos pela humanidade (...)”. Pereira fala de uma cultura física como
suposto corpo natural não atingido pela cultura. Segundo ele, não “(...) toda a parcela da cultura universal que envolve o exercício fí-
se pode esquecer da natureza necessariamente social de uso do sico, como a educação física, a ginástica, o treinamento desportivo,
corpo, sendo possível somente pensar em novos usos do corpo, já a recreação físico-ativa, a dança etc.”. Betti lembra que Feio já se
que a cultura é passível de reinvenções e recriações. Rodrigues afir- referiu a uma cultura física como parte de uma cultura geral, que
ma que “(...) nenhuma prática se realiza sobre o corpo sem que te- contempla as conquistas materiais e espirituais relacionadas com
nha, a suportá-la, um sentido genérico ou específico”. É justamente os interesses físico-culturais da sociedade.
esse sentido específico que incide sobre toda e qualquer atividade
corporal o que impede de pensar o corpo como um dado biológico. A pesquisa antropológica, embora incipiente na área, pode ser
O que define corpo é o seu significado, o fato dele ser produto da útil na medida em que se preocupar com os discursos sobre o corpo,
cultura, ser construído diferentemente por cada sociedade, e não ou, melhor dizendo, com as representações sociais que suportam
as suas semelhanças biológicas universais. Fica evidente, portanto, as várias concepções de corpo, concepções essas que justificam e
que o conjunto de posturas e movimentos corporais representam orientam determinadas práticas profissionais num grupo específico
valores e princípios culturais. e numa dada época. Qual é a representação de corpo que os profes-
Consequentemente, atuar no corpo implica em atuar sobre a sores de Educação Física possuem? Que conjunto de significados a
sociedade na qual este corpo está inserido. Todas as práticas insti- respeito do corpo possuem os frequentadores de academias de gi-
tucionais que envolvem o corpo humano - e a Educação Física faz nástica? Qual é o universo simbólico a respeito do corpo que técni-
parte delas - sejam elas educativas, recreativas, reabilitadoras ou cos esportivos possuem? Essas perguntas somente agora começam
expressivas, devem ser pensadas neste contexto, a fim de que não a ser formuladas, ainda não sendo possível respondê-las de forma
se conceba sua realização de forma reducionista, mas se considere mais profunda. A intenção destas reflexões foi somente a de aler-
o homem como sujeito da vida social. tar que os profissionais de educação física, por trabalharem com
Entretanto, os profissionais de educação física, cotidianamen- o homem através do seu corpo, estão trabalhando com a cultura
te, utilizam o termo técnica não no sentido que o fez Mareei Mauss, impressa nesse corpo e expressa por ele. Portanto, mexer no corpo
de um ato cultural, mas como um conjunto de movimentos con- é mexer na sociedade da qual esse corpo faz parte. O profissional
siderados sempre correios, precisos, melhores do que outros. Nas pode fazer isso de forma explícita, atento para as consequências do
aulas, o aluno melhor é aquele que chega mais próximo da técni- seu trabalho, ou de forma implícita e inconsequente. Parece-nos
ca considerada certa pelo professor. Falamos de um andar corre- evidente tentarmos estar atentos e conscientes em relação ao pa-
to, de um correr adequado, de uma postura melhor, de um corpo pel do corpo na cultura.
perfeito, desconsiderando, muitas vezes, que os movimentos são Fonte
também culturais. A especificidade de raça humana é se apresentar DAÓLIO. J. Os significados do corpo na cultura e as implicações para a
e se dispor através de grandes diferenças. Embora se apresentando Educação Física. Movimento - Ano 2 - N. 2.
diferentemente, os homens não perdem a condição de membros
da espécie humana. Acreditamos já ser possível pensar no duplo
sentido do termo Cultura Corporal. No primeiro, que rebatemos, DOS FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DO CUR-
se pressupõe uma única técnica sobre o corpo; a palavra cultura RÍCULO DE EDUCAÇÃO FÍSICA, SOBRETUDO OS CONCEI-
acaba sendo usada como sinônimo de treinamento, adestramento TOS DE CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO, A FIM DE
do corpo. É neste sentido que termos como culturismo e fisiocultu- SUBSIDIAR A REFLEXÃO CONSTANTE SOBRE A PRÓPRIA
rismo são utilizados, constituindo-se em mais um discurso sobre o PRÁTICA PEDAGÓGICA
corpo, apenas uma das técnicas sobre ele colocadas. Não a única,
nem a melhor.
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em
O sentido de Cultura Corporal que utilizamos parte da defini- tópicos anteriores.
ção ampla de Cultura e diz respeito ao conjunto de movimentos e
hábitos corporais de um grupo específico. E nessa concepção que
se pode afirmar que não existe um discurso puro do corpo. O corpo
não fala sobre o corpo, será apenas mais um discurso sobre o cor-
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ocorra, devemos analisar a origem do conteúdo e conhecer o que Na organização do conhecimento, deve-se levar em conside-
determinou a necessidade de seu ensino. Outro aspecto a conside- ração que as formas de expressão corporal dos alunos refletem os
rar na seleção de conteúdos é a realidade material da escola, uma condicionantes impostos pelas relações de poder com as classes
vez que a apropriação do conhecimento da Educação Física supõe a dominantes no âmbito de sua vida particular, de seu trabalho e de
adequação de instrumentos teóricos e práticos, sendo que algumas seu lazer.
habilidades corporais exigem, ainda, materiais específicos. Agora será exemplificada uma das formas possíveis de dis-
tribuição do conteúdo nos diversos ciclos do processo de ensino-
Os conteúdos são conhecimentos necessários à apreensão do -aprendizagem, com o tema jogos, esporte, ginástica e dança. Os
desenvolvimento sócio-histórico das próprias atividades corporais exemplos aqui utilizados têm como referência o livro Contribuição
e à explicitação das suas significações objetivas. ao debate do currículo em Educação Física: uma proposta para a
Sendo usual, para o professor, o uso do termo “conteúdo”, nes- Escola Pública, da Secretaria de Educação, Cultura e Esportes do Es-
te livro também será adotado, fazendo-se a ressalva que sempre tado de Pernambuco.
significará “conhecimento”.
Para efeito de um tratamento mais didático, serão analisados 2.1 Jogo
no tópico seguinte alguns conteúdos possíveis, já que ficará mais O jogo (brincar e jogar são sinônimos em diversas línguas) é
compreensível fazê-lo paralelamente aos critérios de organização uma invenção do homem, um ato em que sua intencionalidade e
deles no tempo escolar. Esses conteúdos surgem de grandes temas curiosidade resultam num processo criativo para modificar, imagi-
da cultura corporal e podem ser vistos quase como uma grande e nariamente, a realidade e o presente.
abrangente classificação, suscetível de ser sistematizada em nível O jogo satisfaz necessidades das crianças, especialmente ne-
escolar, em todos os graus do ensino fundamental e médio. cessidade de “ação”. Para entender o avanço da criança no seu
São eles, numa ordem arbitrária: Jogo; Esporte; Capoeira: Gi- desenvolvimento, o professor deve conhecer quais as motivações,
nástica e Dança. Cada um deles deve ser estudado profundamente tendências e incentivos que a colocam em ação. Não sendo o jogo
pelo(s) professores), desde a sua origem histórica ao seu valor edu- aspecto dominante da consciência, ele deve ser entendido como
cativo para os propósitos e fins do currículo. “fator de desenvolvimento” por estimular a criança no exercício do
Dizer ordem arbitrária significa que não há uma ordem rígida pensamento, que pode desvincular-se das situações reais e levá-la
para organizar o programa, colocando primeiro o jogo, segundo a a agir independentemente do que ela vê.
dança etc. O professor pode dar a ordem necessária aos interesses Quando a criança joga, ela opera com o significado das suas
da turma ou também tratar deles simultaneamente. ações, o que a faz desenvolver sua vontade e ao mesmo tempo
tornar-se consciente das suas escolhas e decisões. Por isso, o jogo
2. O Tempo Pedagogicamente Necessário para o Processo de apresenta-se como elemento básico para a mudança das necessida-
Assimilação do Conhecimento des e da consciência.
Uma nova compreensão da Educação Física implica considerar A ênfase no propósito/objetivo do jogo acentua-se com o de-
certos critérios pelos quais os conteúdos serão organizados, siste- senvolvimento da criança. Sempre esse propósito objetivo é o que
matizados e distribuídos dentro de tempo pedagogicamente neces- decide o jogo, justifica a atividade e determina a atitude afetiva da
sário para a sua assimilação. A título de exemplo, vejamos como criança. Assim, por exemplo, a preocupação e tensão durante uma
um mesmo conteúdo pode ser tratado em todos os níveis escolares corrida, tanto por querer ganhar ou por se ver ultrapassada, pode
numa evolução espiralada. É necessário lembrar que a explicação levá-la à perda de grande parte do prazer do jogo.
sobre os ciclos foi dada no primeiro capítulo. Observa-se o desenvolvimento da criança no caráter dos seus
Saltar representa a atividade historicamente formada e cultu- jogos, que evoluem desde aqueles onde as regras encontram-se
ralmente desenvolvida de ultrapassar obstáculos, seja em altura ocultas numa situação imaginária (como, por exemplo, quando
ou extensão/distância. No primeiro ciclo do ensino fundamental crianças jogam de papai e mamãe, elas agem de acordo com as re-
(organização da identificação dos dados da realidade), o aluno já gras de comportamento de um pai e de uma mãe), até os jogos
a conhece e a executa a partir de uma imagem da ação tomada onde as regras são cada vez mais claras e precisas, e a situação ima-
do seu cotidiano. Ele a executa com movimentos espontâneos que ginária é oculta.
lhe são particulares. A ênfase pedagógica deve incidir na solução Um jogo de duas equipes, por exemplo “queimada”, envolve
do problema: como desprender-se da ação da gravidade e cair sem a situação imaginária de uma guerra onde uma equipe “extermi-
machucar-se? Das respostas encontradas pelos alunos, surgirão as na” a outra com “tiros” de bola. O imaginário da “guerra” vai sen-
primeiras referências comuns à atividade “saltar”. No decorrer dos do escondido pelas regras, cada vez mais complexas, às quais os
ciclos seguintes, o aluno ampliará seu domínio sobre formas de sal- jogadores devem prestar o máximo de atenção. Por esse motivo é
tar. É interessante destacar que uma habilidade corporal envolve, conveniente promover junto aos alunos discussões sobre as situa-
simultaneamente, domínio de conhecimento, de hábitos mentais e ções de violência que o jogo cria e as consequentes regras para seu
habilidades técnicas. controle. Dessa forma, os alunos poderão perceber, por exemplo,
No quarto ciclo, o aluno sistematiza o conhecimento sobre os que um jogo como a “queimada” é discriminatório, uma vez que
saltos e os conceitos que explicam o conteúdo e a estrutura de to- os mais fracos são eliminados (queimados) mais rapidamente, per-
talidade do objeto “’salto”, desde as leis físicas e características da dendo a chance de jogar. Isso não significa não jogar “queimada”,
ação no nível cinésio/físiológico, até às explicações político-filosófi- senão mudar suas regras para impedir a sobrepujança da competi-
cas da existência de modelos de salto. Pode ainda explicar o signifi- ção sobre o lúdico.
cado deles para si próprio, como sujeito do processo de aprendiza-
gem e para a população em geral.
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Quanto mais rígidas são as regras dos jogos, maior é a exigên- acredita-se que, para dizer que o aluno possui “conhecimento” de
cia de atenção da criança e de regulação da sua própria atividade, determinados jogos que foram esportivizados, não é suficiente que
tomando o jogo tenso. Todavia, é fundamental o desenvolvimento ele domine os seus, gestos técnicos. A seguir são oferecidas suges-
das regras na escola, porque isso permite à criança a percepção da tões para o tratamento “esportivo” de alguns temas da cultura cor-
passagem do jogo para o trabalho. poral.
Cada fundamento se materializa em “provas” específicas que para a iniciação técnico-tática dos alunos, a qual foi explicada no
exprimem o propósito que lhe é atribuído. programa de jogos e pode vir a acontecer no Ciclo de Iniciação ao
Corridas: Conhecimento Sistematizado, 4ª a 6ª série.
- De resistência. Cumpre ressaltar que jogos ou atividades que apresentam es-
- De velocidade — com e sem obstáculos. truturas de situações semelhantes são aconselháveis para desen-
- De campo — cross-country. volver habilidades comuns aos jogos esportivos. Isso não significa
- De aclives-declives (de rua ou pedestrianismo). defender transferência de gestos, nem classificações de jogos “pré-
- De revezamento. -desportivos”. Entendemos que içada jogo representa um momento
Saltos: lúdico particular e independente.
- No sentido horizontal: extensão e triplo. 2.2.4. BASQUETEBOL
- No sentido vertical: altura e com vara. Jogo no qual disputa-se uma bola, para atingir um alvo, que
é defendido pelo adversário, utilizando-se somente as mãos para
Arremessos: manejá-la. Significado dos seus fundamentos:
- Implemento: peso.
Atacar:
Lançamentos: - Passar = jogar a bola para o companheiro.
- Implementos: dardo, disco, martelo. - Driblar = progredir com a bola quicando-a.
- Arremessar = jogar a bola em direção à cesta.
A título de exemplo, vejamos como trabalhar em aulas os lan-
çamentos. Defender:
No programa de jogos para I Ciclo (1ª a 3ª séries) “Jogos que - Dificultar os passes, os dribles e os arremessos do adversário.
promovam o reconhecimento de si e das próprias possibilidades de O basquetebol, como outros jogos de bola, apresenta fun-
ação”. Isso significa que nesse ciclo pode-se praticar jogos distante damentos que podem ser motivo de vários jogos. A habilidade de
de si mesmo algum objeto como; bola, pedra, bastão de madeira “passar” a bola constitui um interessante tema lúdico desde as pri-
etc. O significado do ”arremessar” pode ser abordado, ludicamente, meiras séries do ensino fundamental.
na forma de dramatização de uma atividade dos índios primitivos “Passar” uma bola implica várias dimensões do sentido que
que lançam dardos para caçar animais”. A “caça” pode estar repre- essa atividade pode vir a ter para o aluno. Por exemplo, passar a
sentada por um grande círculo onde devem chegar os “dardos” (ca- bola para o companheiro estabelece uma relação na qual mate-
bos de vassoura). O alvo deve ser amplo para não exigir portaria e rializam-se variados sentimentos, como: vontade de dar ao outro
sim a força para cobrir a distância-desafio. uma coisa; dispor-se a receber de outro uma coisa; negar-se a dar;
Numa 4ª serie, pode-se jogar o mesmo jogo, dessa vez em negar-se a receber; avaliar que é mais fácil passar para o outro do
equipes, onde a distância do lançamento de cada membro é soma- que receber do outro etc. É necessário que o professor promova a
da num só total. compreensão do que é “equipe”, bem como do papel “solidário”
Somar as distâncias para saber qual equipe jogou mais longe que cada um dos seus membros deve ter, estimulando-os para o co-
privilegia o significado do coletivo. O passo seguinte pode ser a bus- letivo desde as primeiras séries. O significado do “passar” uma boa
ca da forma “técnica” que venha garantir a eficácia do lançamento, para outro pode ser motivo de jogos a partir da 1ª serie evoluindo
e, mais tarde, a prática da prova: “lançamento de dardo”, com o para o momento em que o aluno se tome consciente da necessida-
propósito claro da busca do rendimento esportivo. de da técnica e da tática para “passar” e “receber” uma bola com
eficiência dentre de um jogo esportivo, como no basquetebol.
2.2.3 VOLEIBOL Os exemplos ilustram formas possíveis de abordar o esporte
Pode-se dizer que o propósito desse jogo é evitar que a bola numa perspectiva pedagógica; não se trata, porém, em momento
caia no próprio campo de jogo, fazendo-a cair no campo do adver- algum, de levar a uma especialização precoce de posição ou função
sário por cima de uma rede. dentro de um jogo, ou o uso de sistemas táticos complexos que não
Significado dos seus fundamentos: se ajustem ao estágio de desenvolvimento dos alunos.
a) Saque = a forma de iniciar a jogada ou “rally”.
b) Recepção = ação de receber o saque do adversário. 2.3. Capoeira
c) Levantamento = preparação para o ataque. A capoeira encerra em seus movimentos a luta de emancipa-
d) Ataque = passar a bola para o campo contrário dificultando ção do negro no Brasil escravocrata. Em seu conjunto de gestos, a
a defesa. capoeira expressa, de forma explícita, a “voz” do oprimido na sua
e) Moqueio = interceptação do ataque do adversário. relação com o opressor.
f) Defesa = evitar que a bola caia no próprio campo. Seus gestos, hoje esportivizados e codificados em muitas “es-
colas” de capoeira, no passado significaram saudade da terra e da
Cada um desses fundamentos pode dar significado a jogos que liberdade perdida: desejo velado de reconquista da liberdade que
podem ser jogados em qualquer série, respeitando o estágio de de- tinha como arma apenas o próprio corpo.
senvolvimento do aluno, pois é esse estágio que indica o tipo de Isso leva a entender a riqueza de movimento e de ritmou que a
organização e regras que podem ser colocadas. sustentam, e a necessidade de não separá-la de sua história, trans-
Existe um interessante acervo de jogos que contém elementos formando-a simplesmente em mais uma “modalidade esportiva”.
técnicos e táticos mais simplificados do que os dos jogos esportivos A Educação Física brasileira precisa, assim, resgatar a capoeira
formais, por exemplo, o “minivoleibol”. Ele representa uma opção enquanto manifestação cultural, ou seja, trabalhar com a sua histo-
ricidade, não desencarná-la do movimento cultural e político que a
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gerou. Esse alerta vale nos meios da Educação Física, inclusive para Podemos explicar esses fundamentos numa forma simplificada
o judô que foi, entre nós, totalmente despojado de seus significa- que exprime o seu significado:
dos culturais, recebendo um tratamento exclusivamente técnico. 7 - Saltar: Desprender-se da ação da gravidade, manter-se no ar
e causem machucar-se.
2.4 Ginástica - Equilibrar: Permanecer ou deslocar-se numa superfície limita-
A ginástica, desde suas origens como a “arte de exercitar o cor- da, vencendo a ação da gravidade.
po nu”, englobando atividades como corridas, saltos, lançamentos - Rolar/girar: Dar voltas sobre os eixos do próprio corpo.
e lutas, tem evoluído para formas esportivas claramente influencia- - Trepar: Subir em suspensão pelos braços, com ou sem ajuda
das pelas diferentes culturas. das pernas, em superfícies verticais ou inclinadas.
No currículo escolar tradicional brasileiro, são encontradas - Balançar/embalar: Impulsionar-se e dar ao corpo um movi-
manifestações da ginástica de várias linhas europeias, nas quais se mento de “vaivém”.
incluem formas básicas do atletismo (caminhar, correr, saltar e ar- A elaboração de um programa de ginástica para as diferentes
remessar), e formas básicas da ginástica (pular, empurrar, levantar, séries exige pensar na evolução que deve ter em sua abordagem,
carregar, esticar). Incluem, também, exercícios em aparelhos (ba- desde as formas espontâneas de solução dos problemas com técni-
lançar na barra fixa, equilibrar na trave olímpica), exercícios com cas rústicas nas primeiras séries, até a execução técnica aprimorada
aparelhos manuais (salto com aros, cordas) e formas de luta. Dessa nas últimas séries do ensino fundamental, bem como do ensino mé-
concepção de ginástica, os jogos têm sido parte importante. En- dio, onde se atinge a forma esportiva, com e sem aparelhos formais.
quanto aos exercícios anteriormente citados têm-se atribuído ob- Tradicionalmente, “saltar” é abordado na ginástica escolar
jetivos de desenvolvimento de algumas capacidades como força, como a sequência de um movimento classificável em três fases:
agilidade, destreza, aos jogos tem cabido a representação das ex- “impulsão-vôo-queda”, correspondendo a uma aprendizagem de
periências lúdicas da própria comunidade. Até hoje, nos programas formas fixas de movimento, que contempla até a parte do pé que
brasileiros, se evidencia a influência da calistenia e do esportivismo, deve apoiar-se primeiro na queda. A consequência para o aluno é
ginástica artística ou olímpica, o que pode explicar o fato de a ginás- ser submetido a exercitações de pequenos movimentos isolados
tica ser cada vez menos praticada nas escolas. de alguns segmentos do corpo. Por esse motivo, desenvolver um
A falta de instalações e aparelhos no estilo “olímpico” desesti- programa de ginástica que provoque no aluno atitudes de “curio-
mula o professor a ensinar ginástica. Quando existem esses meios, sidade”, “interesse”, “criatividade” e “criticidade” exige necessaria-
sobressai a tendência à “esportivização” que fixa normas de mo- mente uma nova abordagem, na qual “saltar” seja um desafio para
vimento e determina o “sexismo”8 das provas, por outro lado, a “descobrir” uma solução ao problema de desprenda-nos mantém
capacidade artística individual tida como “inata” acaba gerando a presos ao chão. A abordagem problematizadora, anteriormente
“elitização” da ginástica. exemplificada, assegura a globalidade das ações das crianças e a
O que legitimaria, então, a presença da ginástica nos progra- compreensão do sentido/significado da própria prática.
mas de Educação Física?
Pode-se entender a ginástica como uma forma particular de 2.5 Dança
exercitação onde, com ou sem uso de aparelhos, abre-se a possibi- Considera-se a dança uma expressão representativa de diver-
lidade de atividades que provocam valiosas experiências corporais, sos aspectos da vida do homem. Pode ser considerada como lin-
enriquecedoras da cultura corporal das crianças, em particular, e do guagem social que permite a transmissão de sentimentos, emoções
homem, em geral. da afetividade vivida nas esferas da religiosidade, do trabalho, dos
costumes, hábitos, da saúde, da guerra etc.
Sua prática é necessária na medida em que a tradição histórica As primeiras danças do homem foram as imitativas, onde os
do mundo ginástico é uma oferta de ações com significado cultu- dançarinos simulavam os acontecimentos que desejavam que se
ral para os praticantes, onde as novas formas de exercitação em tomassem realidade, pois acreditavam que forças desconhecidas
confronto com as tradicionais possibilitam uma prática corporal que estariam impedindo sua realização.
permite aos alunos darem sentido próprio às suas exercitações gi- Para o ensino da dança, há que se considerar que o seu aspecto
násticas. expressivo se confronta, necessariamente, com a formalidade da
Assim, a presença da ginástica no programa se faz legítima na técnica para sua execução, o que pode vir a esvaziar o aspecto ver-
medida em que permite ao aluno a interpretação subjetiva das ati- dadeiramente expressivo. Nesse sentido, deve-se entender que a
vidades ginásticas, através de um espaço amplo de liberdade para dança como arte não é uma transposição da vida, senão sua repre-
vivenciar as próprias ações corporais. No sentido da compreensão sentação estilizada e simbólica. Mas, como arte, deve encontrar os
das relações sociais, a ginástica promove a prática das ações em seus fundamentos na própria vida, concretizando-se numa expres-
grupo onde, nas exercitações como “balançar juntos” ou “saltar são dela e não numa produção acrobática.
com os companheiros”, concretiza-se a “co-educação”, entendida Na dança determinantes as possibilidades expressivas de cada
como forma particular de elaborar/praticar formas de ação comuns aluno, o que exige habilidades corporais que, necessariamente, se
para os dois sexos, criando um espaço aberto à colaboração entre obtêm com o treinamento/Em certo sentido, esse é o aspecto mais
eles para a crítica ao “sexismo” socialmente imposto. complexo do ensino da dança na escola: a decisão de ensinar gestos
Constituem-se fundamentos da ginástica: “saltar”, “equilibrar”, e movimentos técnicos, prejudicando a expressão espontânea, ou
“rolar/girar”, “trepar” e “’balançar/embalar”. Por serem ativi- de imprimir no aluno um determinado pensamento/sentido/intuiti-
dades que traduzem significados de ações historicamente desen- vo da dança para favorecer o surgimento da expressão espontânea,
volvidas e culturalmente elaboradas, devem estar presentes em abandonando a formação técnica necessária à expressão certa.
todos os ciclos em níveis crescentes de complexidade.
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sões esportivas, os fatores de risco e as estratégias de prevenção é mos as bases neurocomportamentais desses benefícios permitirá
fundamental para garantir a segurança e a integridade dos pratican- promover a atividade física como um meio de melhorar a saúde
tes de atividade física. mental e a qualidade de vida.
Em suma, o conhecimento em Educação Física no aspecto Resumindo, o conhecimento em Educação Física nos aspectos
biológico será essencial para compreensão das bases anatômicas neurocomportamentais abrange então, a compreensão das bases
e fisiológicas do movimento humano, bem como os efeitos do exer- neurocientíficas do movimento e do comportamento humano, bem
cício no organismo. Esse conhecimento embasará a prescrição de como a influência dos fatores psicológicos na prática esportiva e no
programas de treinamento eficazes, a compreensão dos mecanis- exercício físico. Dentro dessa perspectiva nos permitimos o desen-
mos de adaptação do corpo ao exercício. volvimento de estratégias de treinamento.
A Educação Física dentro dos aspectos neurocomportamentais Esse conhecimento dentro da Educação Física é de suma im-
é indispensável para entendermos as relações entre o sistema ner- portância para a compreensão de como a prática de atividades físi-
voso, o comportamento humano e a prática de atividades físicas. cas se relacionará com a sociedade, a cultura e as relações interpes-
Nessa área de estudo, buscamos a compreensão de como o cérebro soais. Essa perspectiva amplia o escopo da disciplina, caminhando
e o sistema nervoso estão envolvidos no controle do movimento, além dos aspectos biomecânicos e fisiológicos, e considerando os
nas emoções, na motivação e na aprendizagem relacionada à práti- aspectos sociais, culturais e históricos que permeiam a prática de
ca esportiva e ao exercício físico. atividades físicas.
Nesse conhecimento, uma das áreas centrais é a neurociência, No aspecto social, é essencial a compreensão de como as ati-
que investiga como o sistema nervoso funciona, também como os vidades físicas estão inseridas no contexto social e como elas re-
neurônios se comunicam e como as estruturas cerebrais desempe- fletem e influenciam as relações entre os indivíduos. Isso inclui
nham um papel na regulação do movimento e do comportamento também, o estudo das interações sociais, do trabalho em equipe,
humano. A compreensão dos mecanismos neurais relacionados à da cooperação e da competição. O conhecimento sobre dinâmicas
coordenação motora, ao equilíbrio, à percepção sensorial e ao con- grupais e a importância do esporte como ferramenta de inclusão
trole motor é essencial para a Educação Física. social são fundamentais para o desenvolvimento de situações didá-
ticas que promovam a participação ativa e a construção de vínculos
Nesse estudo dos aspectos neurocomportamentais também se sociais positivos.
engloba a psicologia do esporte e do exercício. É essa disciplina que
explora como fatores psicológicos, como motivação, atenção, emo- Esse conhecimento dos aspectos sociais envolverá também a
ções e cognição, influenciam o desempenho esportivo e a adesão análise das desigualdades e das questões de gênero, raça, classe
ao exercício físico. Compreender os processos mentais e emocio- social e inclusão nas práticas esportivas. É necessário compreender
nais dos praticantes de atividade física é essencial para desenvolver as barreiras sociais e culturais que podem limitar o acesso e a parti-
estratégias de treinamento, estabelecer metas apropriadas e pro- cipação de certos grupos e buscar formas de superá-las, promoven-
mover a participação ativa e prazerosa na prática esportiva. do a equidade e a igualdade de oportunidades. Que implicará na
criação de situações didáticas que valorizem a diversidade, promo-
Além do mais, o conhecimento neurocomportamental também vam o respeito e estimulem a participação de todos os indivíduos,
é relevante para a compreensão do estresse e da resposta ao es- independentemente de suas características e condições sociais.
tresse relacionados à prática das atividades físicas. O estresse pode
ter impacto no desempenho atlético e na saúde em geral. Portanto, No aspecto cultural, busca compreender como as práticas cor-
conhecer os mecanismos neurais e comportamentais envolvidos na porais são construídas e significadas em diferentes culturas. Cada
resposta ao estresse permitirá o desenvolvimento de estratégias sociedade possui suas manifestações corporais específicas, como
eficazes para lidar com ele e minimizar seus efeitos negativos. danças, jogos, lutas, esportes tradicionais, entre outras formas de
expressão física. Ao conhecermos e valorizarmos essas práticas,
Um outro aspecto importante, dentro deste tema é o estudo da será possível criar situações didáticas que estimulem o respeito à
aprendizagem motora. Esse campo de estudo busca compreender diversidade cultural e promovam a interculturalidade.
como os indivíduos adquirem e aprimoram habilidades motoras ao
longo do tempo. O conhecimento neurocomportamental nos aju- Em suma, é importante considerar a história das práticas cor-
dará a entender como o cérebro processa e armazena informações porais e esportivas. Compreendermos como essas práticas se de-
relacionadas ao movimento, como a prática e a experiência podem senvolveram ao longo do tempo e como foram influenciadas por
influenciar a aprendizagem e como otimizar o processo de aquisi- fatores sociais, políticos e culturais será fundamental para contex-
ção de habilidades motoras. tualizar as aulas de Educação Física. Isso permitirá que os estudan-
tes compreendam a origem e a evolução das atividades físicas, bem
Assim, é relevante considerar a relação entre atividade física e como suas influências nas identidades individuais e coletivas.
saúde mental. Estudos mostram que a prática regular de exercícios
físicos está associada a melhorias no bem-estar psicológico, redu- Assim, dentro das situações didáticas, é fundamental propor-
ção do estresse e prevenção de distúrbios mentais. Compreender- cionar experiências que permitam aos alunos refletirem critica-
mente sobre os aspectos sociais e culturais das práticas corporais.
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Podendo ser realizado através de discussões, análises de casos, -Ciências Sociais: Que irá analisar as relações sociais, questões
pesquisa e vivências práticas. Assim, as situações didáticas devem de gênero, inclusão e desigualdades, compreendendo o papel do
estimular a participação ativa dos estudantes, a troca de experiên- esporte e das atividades físicas na sociedade.
cias, a valorização das diferenças e a construção coletiva do conhe-
cimento. -História: Que irá estudar a evolução histórica das práticas cor-
porais, esportes e jogos ao longo do tempo, compreendendo sua
Em resumo, devemos considerar esses aspectos nas situações influência cultural e social.
didáticas permite promover a inclusão, a equidade e o respeito à di-
versidade, estimulando o desenvolvimento integral dos estudantes -Matemática: Que utilizará dados numéricos em análises esta-
e contribuindo para a formação de cidadãos conscientes e críticos. tísticas de resultados esportivos, cálculos de medidas corporais e
avaliações físicas.
DOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA E -Artes: Que irá explorar as expressões corporais artísticas, como
SUAS INTERFACES COM OS DEMAIS COMPONENTES CUR- a dança e a ginástica, além da apreciação estética dos movimentos
RICULARES e da expressão corporal em diferentes manifestações artísticas.
-Promoção da saúde: Que irá estimular a adoção de um estilo A atividade física é entendida como todo e qualquer movimen-
de vida ativo e saudável, contribuindo para o desenvolvimento físi- to corporal que resulta num gasto energético acima dos níveis de
co, mental e social dos estudantes. Isso inclui a compreensão dos repouso. Desta forma, a atividade física seja no trabalho, no lazer e
benefícios do exercício físico, a promoção de hábitos alimentares nas demais atividades diárias é apontada como importante aliada
saudáveis e a prevenção de doenças. quando se refere à manutenção corporal e prevenção de doenças
crônicas degenerativas (GLANER, 2002).
-Educação para a cidadania: Que fomentará valores como res- A BNCC5 divide as práticas corporais na Educação Física Escolar
peito, cooperação, responsabilidade, ética e inclusão social, por por “Unidades Temáticas” da seguinte forma:
meio da prática esportiva e do convívio em grupo. A Educação Física - Brincadeiras e jogos;
pode ser um espaço para o desenvolvimento de habilidades sociais, - Esportes;
capacidades de liderança e resolução de conflitos. - Ginásticas;
- Danças;
-Conscientização corporal: Que irá promover a consciência e o - Lutas;
conhecimento do próprio corpo, estimulando a percepção das sen- - Práticas Corporais de Aventura.
sações corporais, a compreensão da importância do corpo como
meio de expressão e comunicação, e o desenvolvimento da autoes- Prática Corporais de Brincadeiras - Amarelinha, pular corda,
tima e autoconfiança. elástico, bambolê, bolinha de gude, pião, pipas, lenço atrás, cor-
re cutia, esconde-esconde, pega-pega, coelho sai da toca, duro ou
-Formação cultural e estética: Que proporcionará o contato mole, agacha-agacha, mãe da rua, carrinhos de rolimã, cabo de
com diferentes manifestações culturais, históricas e artísticas re- guerra, etc.
lacionadas às práticas corporais, como danças folclóricas, esportes
tradicionais, lutas e jogos populares. Isso contribui para a com- Práticas Corporais de Esportes - possuem a seguinte classifica-
preensão da diversidade cultural e a valorização das expressões ção segundo a BNCC da Educação Física.
corporais como patrimônio cultural. - Esportes de Marca: Conjunto de modalidades que se caracte-
rizam por comparar os resultados registrados em segundos, metros
Quanto às interfaces com os demais componentes curriculares, ou quilos.
a Educação Física poderá estabelecer conexões mais significativas - Esportes de Precisão: Conjunto de modalidades que se carac-
com diferentes disciplinas, tais como: terizam por arremessar/lançar um objeto, procurando acertar um
alvo específico, estático ou em movimento, comparando-se o nú-
-Ciências Biológicas: Que irá explorar os sistemas do corpo hu- mero de tentativas empreendidas.
mano, funcionamento dos músculos e ossos, fisiologia do exercício
e princípios de treinamento físico.
5 Disponível em https://www.dicaseducacaofisica.info/praticas-corpo-
rais/ Acesso 12.07.2022
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Ginásticas de Conscientização Corporal - Reúnem práticas que Ao incorporarmos essa visão diferenciada do patrimônio cultu-
empregam movimentos suaves e lentos, tal como a recorrência a ral da comunidade no planejamento do ensino, será possível pro-
posturas ou à conscientização de exercícios respiratórios, voltados mover uma série de benefícios, como:
para a obtenção de uma melhor percepção sobre o próprio corpo.
-A valorização da identidade: Onde os estudantes poderão re-
Práticas Corporais de Danças conhecer e valorizar sua própria identidade cultural, fortalecendo
- Danças brasileiras: samba, baião, valsa, quadrilha, afoxé, cati- sua autoestima e senso de pertencimento.
ra, bumba meu boi, maracatu, xaxado, etc.
- Danças urbanas: rap, funk, break, pagode, danças de salão; - A conexão com a realidade: Onde os conteúdos curriculares
- Danças eruditas: clássicas, modernas, contemporâneas, jazz; são relacionados com a realidade dos estudantes, tornando-se mais
- Danças e coreografias associadas a manifestações musicais: relevantes e facilitando a compreensão e aplicação dos conceitos
blocos de afoxé, olodum, timbalada, trios elétricos, escolas de sam- aprendidos.
ba;
- Lengalengas, Brincadeiras de roda, cirandas, Escravos de jó; - O respeito à diversidade: Onde a valorização do patrimônio
- Danças indígenas. cultural estimula o respeito e a valorização da diversidade presente
na comunidade, promovendo uma cultura de tolerância e inclusão.
Práticas Corporais de Lutas - Judô, Capoeira, Caratê, Jiu-jitsu,
Boxe, Muay thai, MMA, Esgrima, Luta Olímpica, Sambo, Taekwon- - A preservação cultural: Que ao conhecerem e se envolverem
do, Luta de Braço, Luta Marajoara, Lutas Indígenas, etc. com seu patrimônio cultural, os estudantes serão incentivados a
preservar e transmitir esses conhecimentos e tradições às futuras
Práticas Corporais de Aventura - Mountain-bike, Escalada, Par- gerações.
kour, Skate, Rapel, Tirolesa, Slackline, corrida de Orientação, etc.
- A integração entre escola e comunidade: Onde a valorização
do patrimônio cultural permite estabelecer parcerias e promover a
integração entre a escola e a comunidade, envolvendo familiares,
artistas locais, historiadores e demais atores sociais.
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6 Disponível: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebus-
ca/producoes_pde/2014/2014_uel_edfis_pdp_maria_do_carmo_tanajura_da_silva.
pdf
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Diferentes enfoques sobre o Jogo - Jogos dirigidos – apresentam características educativas e são
As atividades lúdicas podem contribuir significativamente para orientados pelo professor. São submetidos a regras e cumprimen-
o desenvolvimento intelectual, motor e afetivo-social da criança, tos, havendo mais respeito aos direitos do companheiro, obedecen-
fazendo-a ter vontade de aprender mais, pois além do jogo ser do a uma sequência normal do seu processo do desenvolvimento e
educativo, este proporciona momentos de alegria, prazer, fantasia crescimento;
e descontração - Jogo livre – são jogos escolhidos livremente pelo interesse do
Friedman (1996) nos faz está análise da seguinte forma: grupo;
- Sociológico: a influência do contexto social no qual os diferen- - Jogos individuais – os jogadores agem sem companheiros. Esta
tes grupos de crianças brincam; forma de jogo é própria das crianças pequenas entre dois a seis
- Educacional: contribuição do jogo para o desenvolvimento e anos de idade;
aprendizagem das crianças; - Jogos coletivos – são aqueles em que a presença do compa-
- Psicológico: o jogo como meio para compreender melhor o nheiro é de fundamental importância.
funcionamento da psique, das emoções e da personalidade dos in-
divíduos; Claparede e Groas (apud RIZZI; HAYDT, 1986) adotam como cri-
- Antropológico: a maneira como o jogo se reflete, em cada so- tério classificatório a função, e dividem os jogos em duas grandes
ciedade, os costumes e a história das diferentes culturas; categorias, que comportam várias subdivisões:
- Folclórico: analisando o jogo como expressão da cultura infan-
til através das diversas gerações e de como é transmitido através - Jogos de experimentação ou jogos de funções gerais.
dos tempos. - Jogos sensoriais (assobio, gritos, etc.);
O jogo é fundamental na formação do ser humano e possui uma - Jogos motores (bolas, corridas, outros);
grande importância como elemento educacional, pois segundo - Jogos afetivos (amor e sexo);
Friedman (1996), o jogo desenvolve algumas dimensões tais como: - Jogos intelectuais (imaginação e curiosidade);
- O desenvolvimento da linguagem: a linguagem é uma forma - Exercício de vontade (sustentar uma posição difícil o máximo
de se comunicar e se expressar, um meio, portanto de interagir so- de tempo possível).
cialmente; - Jogos de funções especiais
- O desenvolvimento cognitivo: o jogo dá acesso a um maior - Jogos de luta, perseguição, cortesia, imitação, jogos sociais e
número de informações; familiares;
- O desenvolvimento afetivo: o jogo dá oportunidade da criança
expressar seus afetos e emoções; Jean Piaget (apud RIZZI; HAYDAT, 1986, p. 11), também se de-
- O desenvolvimento fisco-motor: a interação da criança com dicou à elaboração de uma classificação de jogos, tendo utilizado
ações motoras, visuais, táteis e auditivas sobre os objetos do seu anteriormente, os seguintes procedimentos:
meio é essencial para o desenvolvimento integral; - Observação e registro dos jogos praticados pelas crianças em
- O desenvolvimento moral: a construção das regras cria uma casa, na escola e na rua, tentado relacionar o maior número dos
relação de respeito com o adulto e com outras crianças. jogos infantis;
- A análise das classificações já existentes e aplicações dessas
Classificação dos Jogos classificações conhecidas à relação de jogos coletados;
- Tendo adotando como critério classificatório o grau de com-
Os jogos podem ser classificados em diferentes formas. No en- plexidade mental, Piaget verificou que existem basicamente três
tanto, para o presente estudo, adotaremos somente as que enten- tipos de estruturas que caracterizam os jogos: o exercício, simbólico
demos se coadunarem com os objetivos do mesmo. e de regras.
Teixeira (1997), classifica os jogos de três formas, de acordo com A partir dessas premissas, ele distribuiu os jogos em três gran-
suas finalidades e maneiras de jogar: des categorias, cada uma delas correspondendo a um tipo estrutura
- Sensoriais – são aquelas que ajudam a desenvolver os sentidos. mental.
Ex: cabra-cega, pois neste jogo o sentido da audição é essencial; 1- Jogo de exercício sensório motor;
- Raciocínio – desenvolve o raciocínio, ex: xadrez, palavras cru- 2- Jogos simbólicos (de ficção ou imaginação e de imitação);
zadas entre outros; 3- Jogos de regras.
- Motoras - é aquelas que exigem a participação de todo o cor-
po, mais dependem principalmente dos músculos, ex: pega-pega; As três classes de jogos (exercício, simbólico e regras)
correspondem às três fases do desenvolvimento mental ou cogni-
Para Machado (1986, p. 85), os classificam-se das seguintes for- tivo.
mas: Chateau (1987), afirma que há uma ordem de aparecimento dos
- Grande jogo ou desporto - realizado com as equipes e com jogos, como fez Piaget. Esses estágios incluem: jogos funcionais da
regras internacionais e longa duração; primeira infância; jogos simbólicos que aparecem pouco antes dos
- Pequeno jogo de curta duração e de poucas regras - as regras três anos; jogo de proezas que cobrem principalmente os primeiros
dos jogos variam de um lugar para outro, segundo os costumes do anos da escola primaria; jogos sociais que se organizam mais no fim
local. da infância.
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Será que podemos mudar as regras de outras coisas da nossa Na tentativa de entender o papel do jogo e suas transforma-
vida, como as nossas relações no trabalho, na política, na saúde, na ções, deve-se considerar as modalidades de jogos apresentadas
cultura de forma geral? para poder conhecer suas regras e o que elas trabalham no cons-
A Educação Física, como fenômeno social, faz parte da totalida- ciente coletivo enquanto são praticadas.
de da sociedade, através da qual a história do homem se concretiza É certo que os jogos foram se modificando, tanto quanto é certo
(MELLO, 2009). que isso aconteceu devido ao que acontecia em cada momento
É nesta sociedade e nestas aulas que acontecem os jogos de histórico e que fazia com que a classe dominante exigisse tais
competição, dentre os outros. Estes jogos são excelentes modelos alterações, especialmente das regras.
da inserção das crianças ao mundo capitalista, onde os valores como Os jogos também podem refletir a vida diária e vão se construin-
a competitividade, e outros que servem à categoria dominante, são do imitando ou projetando comportamentos do mundo real, eles
reproduzidos como se fossem os ideais. tendem a se modificar paralelamente.
Os métodos de educação, fundamentam a classificação pedagó- Um jogo de faz de contas de caça já existe há muito tempo, as
gica dos jogos, bem como, suas funções, para depois condicionarem crianças sempre brincaram de imitar o que o homem adulto faz,
sua utilização, com a proposta de servirem para o desenvolvimento neste exemplo eles imitavam os caçadores e suas lanças, seus arcos
corporal, intelectual, afetivo e social (ARAÚJO, 2006). e flechas, embora que nos faz de conta dos dias atuais as crianças
A Educação Física Escolar tem encaminhado suas atividades poderiam imitar a caça utilizando-se de uma espingarda, haja vista
considerando a Cultura Corporal e, por meio de seus conteúdos, que os modos de caçar modificaram.
tem proposto as atividades com jogos, na tentativa de que seus alu- A dimensão lúdica dos jogos foi sendo apropriada pelo homem
nos sejam capazes de reconhecer seu próprio corpo e a expressão para o trabalho, explorando a ludicidade para impor-lhe valores,
dele, consciente e criticamente. como por exemplo, para produção de brinquedos que personificam
No entanto, a sociedade atual reproduz as ações do sistema ca- uma profissão, ou o trabalho de um homem adulto. Desde criança
pitalista, e neste sistema o corpo é visto como meio de produção, segue-se brincando de imitar os adultos.
ou seja, serve ao trabalho sendo que, portanto, a prática corporal
deve ser analisada além da técnica, ou seja, disciplinado para ser Esportes, Jogos, Lutas e Ginásticas7
passivo e submisso, encorajado para ações corporais que sejam
manifestadas pelo movimento. É neste contexto, que o jogo consti- Tentar definir critérios para delimitar cada uma destas práticas
tui-se numa forma de Educação para o corpo pra a expressão dele. corporais é tarefa arriscada, pois as sutis interseções, semelhanças
Diante de todas as possiblidades que os jogos apresentam no e diferenças entre uma e outra estão vinculadas ao contexto em
momento de sua realização nas aulas de Educação Física, eles pre- que são exercidas. Existem inúmeras tentativas de circunscrever
cisam ser pensados para além de sua forma lúdica, para que sua conceitualmente cada uma delas, a partir de diferentes pressupos-
prática sirva enquanto perspectiva de transformação do espaço so- tos teóricos, mas até hoje não existe consenso.
cial, deixando de ser um treinamento vazio ou automatizado pelas As delimitações utilizadas no presente documento têm o intuito
regras. Nenhum deles deve servir apenas a sua prática utilitarista, de tornar viável ao professor e à escola operacionalizar e sistemati-
mas, antes, é preciso que eles possam construir a Cultura Corporal. zar os conteúdos de forma mais abrangente, diversificada e articu-
Cada aluno deve refletir a respeito de seu papel social e como o lada possível.
jogo que vivencia mostra aspectos da sociedade, de forma que seus Assim, consideram-se esporte as práticas em que são adotadas
códigos, táticas e regras sejam associados à vida cotidiana, onde regras de caráter oficial e competitivo, organizadas em federações
acontecem as leis que regulam e as estratégias que nem sempre regionais, nacionais e internacionais que regulamentam a atuação
são justas para todo cidadão inserido naquele meio. amadora e a profissional. Envolvem condições espaciais e de equi-
Quando uma pessoa joga ela está diretamente implicada no pamentos sofisticados como campos, piscinas, bicicletas, pistas,
julgamento de valores que deverá ser pensado no contexto social, ringues, ginásios, etc. A divulgação pela mídia favorece a sua apre-
observando a regra como exigência imposta pela obrigatoriedade ciação por um diverso contingente de grupos sociais e culturais. Por
das relações sociais, onde se reproduz o que a ideologia dominante exemplo, os Jogos Olímpicos, a Copa do Mundo de Futebol ou de-
deseja. terminadas lutas de boxe profissional são vistos e discutidos por um
A pessoa aprende a viver em sociedade e respeitar suas regras grande número de apreciadores e torcedores.
quando aprende a jogar. O jogo, principalmente o jogo esportivo, Os jogos podem ter uma flexibilidade maior nas regulamenta-
tem limitação de tempo, espaço e formas de agir. Quando se joga ções, que são adaptadas em função das condições de espaço e ma-
aprende que um ganha e o restante perde. Jogos onde acontece a terial disponíveis, do número de participantes, entre outros.
eliminação de uma equipe ou de um jogador, ensinam a ver que São exercidos com um caráter competitivo, cooperativo ou re-
pessoas serão eliminadas – do mercado, da competição por empre- creativo em situações festivas, comemorativas, de confraternização
go, do nível de escolaridade – ao logo do tempo e que isso é normal. ou ainda no cotidiano, como simples passatempo e diversão.
A criança que pratica esportes, respeita as regras sociais en- Assim, incluem-se entre os jogos as brincadeiras regionais, os
quanto respeita as regras do jogo, ou seja, ela interpreta o mundo jogos de salão, de mesa, de tabuleiro, de rua e as brincadeiras in-
da forma como a sociedade capitalista se estrutura. Muito embora fantis de modo geral.
a Educação Física seja contribuindo para o processo de socialização As lutas são disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser
dos cidadãos, embora forje um sujeito conformado e feliz. subjugado(s), mediante técnicas e estratégias de desequilíbrio,
contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na
7 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro07.pdf
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combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma • esportes coletivos: futebol de campo, futsal, basquete, vôlei,
regulamentação específica, a fim de punir atitudes de violência e vôlei de praia, handebol, futevôlei, etc.;
de deslealdade. Podem ser citados como exemplo de lutas desde • esportes com bastões e raquetes: beisebol, tênis de mesa, tê-
as brincadeiras de cabo-de-guerra e braço-de-ferro até as práticas nis de campo, pingue-pongue;
mais complexas da capoeira, do judô e do caratê. • esportes sobre rodas: hóquei, hóquei in-line, ciclismo;
As ginásticas são técnicas de trabalho corporal que, de modo • lutas: judô, capoeira, caratê;
geral, assumem um caráter individualizado com finalidades diver- • ginásticas: de manutenção de saúde (aeróbica e musculação);
sas. Por exemplo, pode ser feita como preparação para outras mo- de preparação e aperfeiçoamento para a dança; de preparação e
dalidades, como relaxamento, para manutenção ou recuperação aperfeiçoamento para os esportes, jogos e lutas; olímpica e rítmica
da saúde ou ainda de forma recreativa, competitiva e de convívio desportiva.
social. Envolvem ou não a utilização de materiais e aparelhos, po-
dendo ocorrer em espaços fechados, ao ar livre e na água. Cabe Jogos Cooperativos8
ressaltar que são um conteúdo que tem uma relação privilegiada
com “Conhecimentos sobre o corpo”, pois, nas atividades ginásti- De acordo com Castellani (2009), o jogo (brincar e jogar são si-
cas, esses conhecimentos se explicitam com bastante clareza. Atual- nônimos em diversas línguas) é uma invenção do homem, um ato
mente, existem várias técnicas de ginástica que trabalham o corpo em que sua intencionalidade e curiosidade resultam num processo
de modo diferente das ginásticas tradicionais (de exercícios rígidos, criativo para modificar, imaginariamente, a realidade e o presente.
mecânicos e repetitivos), visando a percepção do próprio corpo: ter (Grifo do autor.)
consciência da respiração, perceber relaxamento e tensão dos mús- ORLICK (1989 apud BROTTO, 2001, p.85) categorizou os jogos
culos, sentir as articulações da coluna vertebral. cooperativos da seguinte forma:
Uma prática pode ser vivida ou classificada em função do
contexto em que ocorre e das intenções de seus praticantes. Por Jogos cooperativos sem perdedores- são jogos que podem ser
exemplo, o futebol pode ser praticado como um esporte, de for- considerados plenamente cooperativos, porque todos jogam juntos
ma competitiva, considerando as regras oficiais que são estabele- e todos ganham juntos. O jogo só é “vencido” se todos os partici-
cidas internacionalmente (que incluem as dimensões do campo, o pantes vencerem.
número de participantes, o diâmetro e peso da bola, entre outros Jogos cooperativos de resultado coletivo- são jogos em que exis-
aspectos), com plateia, técnicos e árbitros. Pode ser considerado te a divisão em duas ou mais equipes, onde uma joga contra a outra
um jogo, quando ocorre na praia, ao final da tarde, com times com- e dependem do esforço de participação coletiva de cada equipe, e
postos na hora, sem árbitro, nem torcida, com fins puramente re- o objetivo é alcançado com todos jogando juntos.
creativos. Pode ser vivido também como uma luta, quando os times Jogos cooperativos de inversão- são jogos que também envol-
são compostos por meninos de ruas vizinhas e rivais, ou numa final vem equipes, onde brincam com o nosso conceito tradicional de
de campeonato, por exemplo, entre times cuja rivalidade é históri- vencer e perder, porque fica difícil, após o término, reconhecer os
ca. Em muitos casos, esses aspectos podem estar presentes simul- vencedores e perdedores devido ao troca-troca de resultados ou
taneamente. de jogadores ou ambos que podem ocorrer das seguintes formas:
Os esportes são sempre notícia nos meios de comunicação e a) rodízio de jogadores: os jogadores mudam de time após a
dentro da escola; portanto, podem fazer parte do conteúdo, prin- execução de um lance ou jogada predeterminada; pode ser após
cipalmente nos dois primeiros ciclos, se for abordado sob o enfo- um saque, um lateral, um tiro de meta ou outras opções;
que da apreciação e da discussão de aspectos técnicos, táticos e b) inversão de goleador: quando um jogador marcar um ponto
estéticos. Nos ciclos posteriores, existem contextos mais específicos ou gol, ele passará a jogar no time que sofreu o gol ou ponto;
(como torneios e campeonatos) que possibilitam que os alunos vi- c) inversão de placar: quando um jogador marcar um ponto ou
venciem uma situação mais caracterizada como esporte. gol, este será doado para o time “adversário”;
Incluem-se neste bloco as informações históricas das origens e d) inversão total: é a combinação da inversão do goleador com
características dos esportes, jogos, lutas e ginásticas, valorização e a do placar. Isto é, quando um gol ou ponto for marcado, o jogador
apreciação dessas práticas. que marcou passa para o outro time, levando o ponto marcado.
A gama de esportes, jogos, lutas e ginásticas existentes no Brasil Porém, as inversões devem ser implantadas de forma gradativa,
é imensa. Cada região, cada cidade, cada escola tem uma realidade baseadas no que as crianças já conhecem e acrescentadas aos pou-
e uma conjuntura que possibilitam a prática de uma parcela dessa cos novas regras.
gama. A lista a seguir contempla uma parcela de possibilidades e Jogos semico-operativos ou mistos- visam evitar que algum
pode ser ampliada ou reduzida: integrante da equipe fique sem jogar, incentivando os mais habili-
• jogos pré-desportivos: queimada, pique-bandeira, guerra das dosos a colaborar com os demais companheiros. Todos jogam, e o
bolas, jogos pré-desportivos do futebol (gol-a-gol, controle, chute- tempo de jogo deve ser dividido igualmente para que todos partici-
-em-gol-rebatidadrible, bobinho, dois toques); pem. (CORREIA, 2006, p.38).
• jogos populares: bocha, malha, taco, boliche; Os jogos cooperativos representam uma prática da vida em co-
• brincadeiras: amarelinha, pular corda, elástico, bambolê, bo- munidade.
linha de gude, pião, pipas, lenço-atrás, corre-cutia, esconde-escon- Por isso sua história teve início há milhares de anos, quando
de, pega-pega, coelhosai-da-toca, duro-ou-mole, agacha-agacha, membros das comunidades tribais se uniram para celebrar a vida
mãe-da-rua, carrinhos de rolimã, cabo-de-guerra, etc.; (ORLINK, 1982).
• atletismo: corridas de velocidade, de resistência, com obstá-
culos, de revezamento; saltos em distância, em altura, triplo, com
vara; arremessos de peso, de martelo, de dardo e de disco; 8 http://bdm.unb.br/bitstream/10483/4249/1/2012_MarciaGoncalvesVieira.pdf
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Assim, observa-se que os jogos cooperativos têm sua existên- sentimentos que o outro e entende-los. Afirma que a reforma de
cia relacionada a evolução humana, pois os povos, tem o hábito de pensamento é de natureza paradigmática, pois se relaciona à apti-
se manifestar-se através de ritos cooperativos. Porém, atualmen- dão para organizar o pensamento, permitindo o pleno uso da inte-
te, surgiram da reflexão sobre o quanto a cultura ocidental valoriza ligência, emergindo novas humanidades, que permitirão a regene-
excessivamente o individualismo e a competição exacerbada e en- ração do humanismo e suscitarão a ética da união e solidariedade
tende-se que a educação tem o poder de transformar a sociedade, entre humanos, tendo consequências existenciais, éticas e cívicas.
tornando-a mais solidária, justa e ativa de forma que saiba escolher
o que é melhor para o presente e o futuro dos cidadãos. Jogos Simbólicos
Portanto de acordo com (KEMMER, 2000, p. 13) “A competição
é realmente inerente ao homem, isto posto não queremos rene- O jogo simbólico aparece predominantemente entre os 2 e 6
gá-la e/ou retirá-la do convívio de nossos alunos, temos sim que anos. A função desse tipo de atividade lúdica, de acordo com Pia-
repensar os conteúdos e estratégias nas aulas de Educação Física”. get, “consiste em satisfazer o eu por meio de uma transformação do
Piaget (1982, p. 173) evidenciou o papel do jogo no desenvol- real em função dos desejos”, ou seja, tem como função assimilar a
vimento da inteligência da criança, onde este tem uma evolução realidade. (Piaget apud [RIZ 97])
que perpassa pela exercitação, no período sensório-motor; jogos A criança tende a reproduzir nesses jogos as relações predomi-
simbólicos, com predominância na fase escolar e com forte caracte- nantes no seu meio ambiente e assimilar dessa maneira a realida-
rização da imitação, jogos com regras, pressupondo a existência de de e uma maneira de se auto expressar. Esses jogo-de-faz-de-conta
parceiros e um conjunto de obrigações, conferindo-lhe um caráter possibilita à criança a realização de sonhos e fantasias, revela confli-
social favorecendo avanços do pensamento e a preparação, a análi- tos, medos e angústias, aliviando tensões e frustrações.
se e o estabelecimento de relações. Entre os 7 e 11-12 anos, o simbolismo decai e começam a apare-
Segundo Orlick (1989, p. 14), devemos trabalhar para mudar o cer com mais frequência desenhos, trabalhos manuais, construções
sistema de valores, de modo que as pessoas controlem seus pró- com materiais didáticos, representações teatrais, etc. Nesse campo
prios comportamentos e comecem a se considerar membros coo- o computador pode se tornar uma ferramenta muito útil, quando
perativos da família humana. Talvez, se alguns dos adultos mais bem utilizada. Piaget não considera este tipo de jogo como sendo
destruidores de hoje, tivessem sido, quando crianças, expostos ao um segundo estágio e sim como estando entre os jogos simbólicos
afeto, à aceitação e aos valores humanos, o que tento promover e de regras. O próprio Piaget afirma: “… é evidente que os jogos de
com os jogos e esportes cooperativos, teriam crescido em uma ou- construção não definem uma fase entre outras, mas ocupam, no
tra direção. segundo e sobretudo no terceiro nível, uma posição situada a meio
de caminho entre o jogo e o trabalho inteligente…”. (Piaget, apud
Jogos Cooperativos nas Aulas de Educação Física9 [RIZ 97])
campo o computador pode se tornar uma ferramenta muito útil, tes da práxis, para estabelecer mudanças em suas práticas profis-
quando bem utilizada. Piaget não considera este tipo de jogo como sionais, para fins coletivamente desejados e para reestruturação de
sendo um segundo estágio e sim como estando entre os jogos sim- processos formativos (Idem, p. 490); epistemologicamente – enca-
bólicos e de regras. O próprio Piaget afirma: “… é evidente que os minhando a pesquisa a uma perspectiva dialética, considerando-se
jogos de construção não definem uma fase entre outras, mas ocu- como pontos fundamentais: priorização da dialética da realidade
pam, no segundo e sobretudo no terceiro nível, uma posição situa- social, a práxis concebida como mediação na construção de conhe-
da a meio de caminho entre o jogo e o trabalho inteligente…”. cimento, a não restrição do conhecimento à descrição, a não sepa-
ração do sujeito que conhece do objeto a ser conhecido, interpreta-
Jogos de Construção ção dos dados se realizando somente em contextos e com um saber
produzido transformador dos sujeitos e das circunstâncias (Ibidem);
Os jogos de construção legitimam a Educação Física escolar metodologicamente – tendo a práxis social como ponto de partida
como sendo de importância capital nos processos de aquisição e chegada na construção/ressignificação do conhecimento, sendo
de competências leitora e escritora dentro das classes de alfabe- realizada no ambiente natural da realidade pesquisada, permitindo
tização, utilizando-se, para tanto, os Jogos de Construção como o a flexibilidade de procedimentos, caminhando com a provisorieda-
principal instrumento metodológico de ensino; estruturando tal de estabelecida ao desenrolar da pesquisa e contemplando a prá-
iniciativa por meio das importantes contribuições da epistemologia tica permanente de espirais cíclicas: planejamento; ação; reflexão;
genética de Piaget, considerando todo o seu legado teórico como pesquisa; ressignificação; replanejamento; ação e etc.
um dos principais norteadores das práticas exercidas dentro dessa Trabalhou-se com a análise da produção escrita e entrevistas na
experiência no que tange à Cultura Corporal de Movimentos. coleta de dados.
Utilizar alternativas pedagógicas, onde a prática cognitiva, de No que tange a coleta de dados, o tipo de entrevista utilizado foi
forma concreta, não seja desvinculada da prática psicomotora, de- a “Semiestruturada”. Segundo Deval (2002), esse tipo de entrevista
preendendo, por meio das ações bem sucedidas aplicadas durante constitui-se de:
a pesquisa, que esse tipo de intervenção metodológica, levando em Perguntas básicas comuns para todos os sujeitos, que vão sendo
conta todas as peculiaridades contextuais dos atores envolvidos, ampliadas e complementadas de acordo com as respostas dos su-
pode ser um dos caminhos para as possíveis situações de fracasso jeitos para poder interpretar o melhor possível o que vão dizendo.
escolar vividas por escolas do Ciclo I do Ensino Fundamental. As respostas orientam o curso do interrogatório, mas se retorna aos
temas essenciais estabelecidos inicialmente... (p.147).
Metodologia
Desenvolvimento da Pesquisa-ação crítico-colaborativa
Ao avaliar-se o momento de desestabilização das práticas exer- Citam-se em seguida os vários procedimentos utilizados duran-
cidas na escola pública pesquisada, onde uma sequência contínua te a realização da pesquisa, suas características e efeitos provoca-
de fatos levou os sujeitos da comunidade escolar à busca de mu- dos dentro do processo de geração de competências leitora e escri-
danças fomentadas por uma criticidade coletiva crescente, de uma tora. Vale atentar-se para o importante detalhe de que todos esses
maneira espontânea o professor pesquisador foi solicitado como procedimentos foram aplicados ao longo da pesquisa sob a forma
auxiliador. Tal fato, dentro da uma proposta de investigação qua- de jogos de construção. São eles:
litativa, fez com que fossem identificados dois tipos de pesquisa-a-
ção como eixos norteadores: a colaborativa e a crítica. Em virtude História-roteiro
desse evento, denominou-se para a presente pesquisa a notação Esse instrumento criado em conjunto pelo professor pesquisa-
de pesquisa-ação crítico-colaborativa. Em Franco encontrou-se a dor, professora regente e alunos, além de dar uma maior signifi-
fundamentação para a constatação supracitada: cância ao que se propunha enquanto texto escrito trouxe em seu
Quando a busca de transformação é solicitada pelo grupo de conteúdo a descrição da trajetória que cotidianamente todas as
referência à equipe de pesquisadores, a pesquisa tem sido concei- crianças da classe pesquisada percorriam. Afixada na sala de aula
tuada como pesquisa-ação colaborativa, em que a função do pes- após sua confecção, passou a servir de guia para as explorações fei-
quisador será a de fazer parte e cientificizar um processo de mu- tas pelos alunos a cada palavra, sílaba ou letra gerada pelas ações
dança anteriormente desencadeado pelos sujeitos do grupo (2005, de intervenção pedagógica. Na leitura e releitura constante dos alu-
p. 485). nos, ganhou novas interpretações partidas dos mesmos, inclusive
possibilitando uma reescrita feita em conjunto por grupos de qua-
[...] se essa transformação é percebida como necessária a par- tro ou cinco alunos.
tir dos trabalhos iniciais do pesquisador com o grupo, decorrente
de um processo que valoriza a construção cognitiva da experiência, Roda Cantada
sustentada por reflexão crítica coletiva, com vistas à emancipação Avalia-se que a oportunidade de construção conjunta desse
dos sujeitos e das condições que o coletivo considera opressivas, instrumento metodológico abriu um caminho para que os alunos
essa pesquisa vai assumindo o caráter de criticidade e, então, tem pudessem, pela primeira vez segundo o próprio depoimento deles
se utilizado a conceituação de pesquisa-ação crítica (Ibidem). e da professora regente substituta, experimentar a fusão de uma
situação de aprendizagem de modo não formal, ou seja, por meio
A autora também nos fala na pesquisa-ação como norteada por de um tipo de brincadeira muito usual nas comunidades as quais
três dimensões: ontológica, epistemológica e metodológica (2005, pertencem. Mesmo que a parte musicada tenha sido montada pelo
p. 489). Observa-se na pesquisa aqui descrita a presença dessas professor pesquisador, os alunos intervieram diretamente na elabo-
mesmas dimensões quando se pensa, ontologicamente – produzir ração da coreografia da música e em parceria, à medida que, ao dis-
conhecimentos: para uma melhor compreensão dos condicionan- cutirem a palavra geradora – padaria – identificando os elementos
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Os combates de gladiadores (munera, deveres), demasiada- era permitida a presença de mulheres. Esses homens se dividiam
mente reais, só serão comparados ao jogo mais tarde, no século em grupos, um representando o princípio yang – sol, calor e verão
III da nossa era, por derivação tardia talvez, por esquecimento da –, e o outro representando yin – lua, frio e inverno que competiam.
distinção entre o combate real e a encenação (BROUGÈRE, 1998, Na civilização chinesa primitiva, quase todas as atividades se
p. 37). configuravam como uma competição ritual, tais como: atravessar
As corridas de bigas eram populares nos jogos romanos, utiliza- um rio, escalar uma montanha, cortar árvores ou colher flores. As
das como recurso de combate pelos gladiadores e desapareceram lendas chinesas se baseavam no herói derrotando seus adversários
da guerra há muito tempo. O público ocupava posição central neste por intermédio de proezas espantosas e miraculosas demonstra-
jogo, pois: ções de força, provando a sua superioridade. Regra geral, o torneio
Mais do que salvar a sua pele, o gladiador deve agradar o públi- acabava com a morte dos vencidos. “O mais importante aqui é que
co que solicita a morte do vencido, a menos que este tenha seduzi- todas estas competições, mesmo quando são fantasiosamente des-
do apesar de sua derrota. A morte não é inelutável. A decisão pela critas como combates titânicos e mortais, pertencem em todos os
morte resulta de uma escolha do público e não da finalização do seus aspectos ao domínio do jogo” (HUIZINGA, 2000, p. 43).
combate. Mais do que o realismo, a encenação exótica e a teatrali- Dentro da cultura chinesa, a competição pela honra assume
zação acompanham o duelo (BROUGÈRE, 1998, p. 37). uma forma invertida, se transformando numa competição de boas
Corridas de bigas e combates entre gladiadores, além de ser maneiras, assim derrotar o adversário podia ser visto como uma
um espetáculo, possuíam uma dimensão religiosa sendo oferecido exibição de delicadeza para com os outros, mas com um profundo
aos deuses como um presente. Portanto, aqueles que financiam os interesse pela própria honra. Neste sentido, (HUIZINGA, 2000, p.
jogos, ofereciam e proporcionavam alegria e relaxamento aos ho- 51) afirma que a palavra, jang, significa “ceder o lugar a outrem” e,
mens e às divindades. possivelmente, na China a competição de cortesia era mais formali-
Os jogos romanos eram um fenômeno periódico, possuindo zada, mas podia ser encontrada em toda a parte do mundo.
uma grande diversidade, como por exemplo, os jogos seculares que Segundo Huizinga (2000), a virtude de um homem é qualidade
aconteciam a cada 110 anos; os jogos anuais (jogos de Apolo); jo- que o torna capaz de lutar e comandar e, nas civilizações primiti-
gos a cada cinco anos, variados e numerosos; jogos circunstanciais vas, o ideal viril deveria ser reconhecido, quando não, conquistado
(jogos fúnebres e triunfais). Esses jogos, frequentemente, eram uti- pela força. A virtude, a honra, a nobreza se encontram no campo da
lizados com propósitos políticos e encenavam poder (BROUGÈRE, competição, isto é, do jogo.
1998). Já o jogo na civilização Asteca era muito diferente dos gregos
Podemos observar que tanto na civilização grega e romana en- ou romanos, pois eram considerados como uma atividade séria, em
contramos similaridades, mas também distanciamentos se conside- sua essência estava relacionada à renovação cósmica. Para Brou-
rarmos as características dos jogos competitivos. gère (1998), o termo jogo, na civilização asteca, origina-se do vocá-
Isso também se dá com os jogos na China Antiga, pois nesse gru- bulo tlachia que expressa o ver, o olhar.
po se destaca a influência de competições festivas, nas quais os clãs O Tlachtli, também conhecido como jogo de bola, é traduzido
rurais celebravam as festas das estações, desenvolvidas por meio como jogo de pelota e é jogado como uma bola de borracha. De
de competições destinadas a favorecer a fertilidade e o amadureci- acordo com Brougère (1998), o jogo Tlachtli ocorre em um terreno
mento das colheitas. Deste modo, as competições estavam relacio- em forma de T duplo, no qual dois campos se confrontam por am-
nadas ao ritual, sendo indispensáveis para a harmoniosa sucessão bos os lados da linha mediana, onde dois anéis de pedras servem
de estações, o amadurecimento da colheita e a prosperidade para de goleira, para que os jogadores joguem a bola por esses orifícios.
o próximo ano. A sociedade Asteca rejeita a ideia de jogo como gasto inútil
de energia, assim, existem leis contra a embriaguez e os jogos de
De acordo com Huizinga (2000, p. 43): azar. Portanto, o jogo tem como objetivo a regeneração da socie-
Com o surgimento dos chefes e de reinos regionais, no interior dade e envolve rituais religiosos. Nesse jogo dar, receber e retribuir
do imenso território da China, foi-se desenvolvendo, acima e para são fatores formadores de uma tríplice obrigação social. Essas três
além dos simples dualismos originais, cada um dos quais corres- normas permitem, em todas as sociedades, o estabelecimento e a
pondia a um único clã ou tribo, um sistema de numerosos grupos manutenção de relações sociais.
opostos, abrangendo uma série de clãs ou tribos reunidas, e conti- Huizinga (2000) relata, também, a cerimônia potlatch, que é
nuando a ter nas competições festivas e rituais a principal expres- realizada pelos indígenas da América do Norte. É uma grande festa,
são de sua vida cultural. na qual uma tribo faz pomposas doações às outras, tendo a outra
O autor destaca o surgimento da hierarquia social a partir de a obrigação de promover uma nova festa ainda mais bonita, pois
competições primitivas. Em estudos antropológicos se observou quem oferece a potlatch demonstra sua superioridade e, portanto,
que, em algumas comunidades, havia a separação em dois grupos está relacionada à necessidade humana de lutar pela honra e pela
que se utilizavam de totens como simbolismos, sendo que o rela- glória.
cionamento entre as duas metades das tribos era de rivalidade e Outro jogo é o kula, praticado por grupos de ilhas a leste de
competição. Inicia-se aí o dualismo sexual, explicado pela divisão Nova Guiné como um ritual que tem finalidade de trocas, entre as
das tribos em masculino e feminino, o que impunha a homens e tribos, de objetos destituídos de valor econômico, como colares de
mulheres se encontrarem, apenas, em rituais. Esta dualidade é en- conchas vermelhas e braceletes de conchas brancas. É considerado
contrada nos relatos da China antiga. um exemplo de jogo nobre e puro, que traduz a imperecível ne-
Huizinga (2000), cita estudos de Marcel Granet, que explorou cessidade humana de viver em beleza. Existiam, também, entre os
esses ritos, como a celebração dos clãs rurais, para fortalecer a fer- indígenas os torneios de jactância (vaidade, orgulho, arrogância),
tilidade ou a festa de inverno na casa dos homens, nas quais não nos quais se competiam para expressar a riqueza, que gerava um
grande desperdício de alimentos.
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Na Idade Média, o jogo ainda mantinha contato com as ativi- pansão dos jogos, pois eram considerados delituosos, assemelhan-
dades religiosas, porém, de modo diferente da Antiguidade. De do-se a prostituição e embriaguez. No entanto, durante o Renas-
acordo com Brougère (1998), nesse período era possível encontrar cimento, no qual a ideia de corpo não exigia a mortificação, mas
a atividade lúdica vinculada à religião, por meio de ritos de carna- sim o seu desenvolvimento, o jogo passa deixar de ser objeto de
vais. As comemorações de carnaval, associavam-se ao fingimento, à reprovação e é inserido no cotidiano dos jovens.
simulação. Ainda, se mantinham jogos competitivos e de destreza. Nessa época se reabilitam os exercícios físicos banidos pela Ida-
No entanto, a partir da separação das diferentes atividades sociais de Média. Exercícios de barra, corridas, jogos de bola semelhante
o jogo foi isolado, o que fez dele uma atividade fútil. Neste contex- ao futebol e o golfe são práticas que se generalizam. Aos jogos do
to, o jogo vem se opor à seriedade, como atividade de relaxamen- corpo são acrescidos os do espírito (KISHIMOTO, 1994).
to, praticados no tempo disponível. De acordo com Dumazedier Para Brougére (1998), ao caminharmos um pouco mais no tem-
(1976), o lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo po, no século XIX, o jogo se reveste da mais extrema seriedade.
pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para di- Com efeito, um dos sentidos usuais de ludere (verbo relativo a
vertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para obter informação nosso vocabulário) é “se exercer”. O adjetivo ludius designa o que é
ou desenvolver a formação desinteressada, sua participação social “exercício”, “treinamento”, em oposição ao que é luta em aplicação
voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desem- real, o que é retomando a expressão das crianças, “parar rir” em
baraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (DUMA- oposição a “de verdade” (BROUGÈRE, 1998, p. 36).
ZEDIER, 1976, p. 34). De Rose Jr (2009) afirma que mesmo com registros de existência
Para Marcellino (1987), o lazer não é mera atividade, mas a de atividades esportivas e jogos ao longo dos séculos, o esporte
cultura vivenciada no tempo disponível de obrigações. Assim, nos como é conhecido na atualidade é fruto das mudanças que acon-
apoiando nas ideias do autor, podemos dizer que a concepção de teceram na Europa com a Revolução Industrial dos séculos XVIII e
jogo foi mudando através dos tempos, gradativamente, ocupando XIX, especialmente na Inglaterra. Em consequência disso, a nobre-
o lugar de atividade não produtiva. “O renascimento e os períodos za inglesa alternava as atividades esportivas entre campo e cidade,
posteriores veem o jogo passar do sério ao frívolo, do público ao assim, alguns esportes como o críquete e o boxe foram regulamen-
privado” (BROUGÈRE 1998, p. 45). tados.
A história dos jogos é, portanto, aquela de sua transferência do A existência de mais tempo para o prazer, proporcionada por
sério ao frívolo, não sendo o sério somente o lugar do trabalho, mas essa revolução, fez com que aumentasse a prática de atividades fí-
também o da sociabilidade considerada ainda mais importante que sicas e proliferaram as entidades esportivas. Como consequência,
o trabalho. [...] (idem – grifo do autor). surgiram novas modalidades e outras foram aperfeiçoadas, como
Segundo Brougère (1998), por volta do século XVII, o jogo é rúgbi, remo, futebol, hóquei e tênis (DE ROSE JR, 2009, p. 104).
marcado pelo duplo signo da frivolidade e da aposta, portanto, o Com a Revolução Industrial as modalidades esportivas passam,
jogo de azar assume o primeiro plano, o que acaba por modificar também, a serem praticadas por trabalhadores em seu tempo dis-
a representação de jogos. Deste modo, este tipo de jogo tornou-se ponível e livre de obrigações. O tempo disponível para a prática de
um vício temível, pois arruinava famílias. jogos competitivos, foram sem dúvida, impulsionadores para a re-
O verbete JOGAR da Encyclopédie de Diderot e d´Alembert nos gulamentação de determinados esportes (MARCELLINO, 2007).
faz entrar imediatamente no clima desse século no que concerne o O esporte se enquadra na categoria Agôn, por se tratar de um
jogo: JOGAR, (Gram.). Diz-se de todas as ocupações frívolas, com as jogo competitivo, que apresenta como característica a necessidade
quais nos divertimos, relaxamos, embora algumas vezes acarretam de superação do outro por meio das melhores habilidades do prati-
a perda da fortuna e da honra (BROUGÈRE, 1998, p. 45 – grifos do cante (CAILLOIS, 1990).
autor). Em concordância com essa ideia, Pereira (1988) afirma que o
O jogo era explorado como uma atividade social do universo esporte é uma atividade específica de competição, na qual se va-
próprio do adulto. Brougère (1998), cita trechos do verbete jogo da loriza intensamente a prática de exercícios físicos com vistas à ob-
Encyclopédie de Diderot e d´Alembert no qual, diz que a concepção tenção do resultado, para a superação de si ou dos adversários e,
de jogo admite a necessidade de desafio e delimita dois tipos de para tal, requer o aperfeiçoamento das capacidades e habilidades
jogos: os de destreza e os de azar. do sujeito (PEREIRA,1988 p. 212).
Os dois verbetes da Encyclopédie começam por uma definição Para Silva (1973, p. 14 apud SOARES, 2013, p. 17), “o esporte é
do jogo interessante porque delimitam estreitamente a concep- determinado quando ocorrem três fatores: o jogo, o movimento e a
ção de jogo em questão, trata-se de uma atividade que supõe um agonística”. Já para Azevedo e Gomes Filho
desafio. Não há jogo a não ser que um desafio seja proposto aos (2011), “os jogos podem ou não ser competitivos; mas espor-
participantes, o que supõe um vencedor. Os jogos são divididos em tes são sempre jogos competitivos organizados”. Com relação ao
jogos de azar e jogos de destreza, com uma categoria intermediária esporte, Huizinga (2000) destaca que: “a transição do divertimento
ou mista (jogos de azar mesclados de destreza). Por jogo de des- ocasional para a existência dos clubes e da competição organizada,
treza deve-se entender tanto jogo intelectual... quanto jogo físico. só aconteceram quando haviam grupos que jogavam uns contra os
Esses jogos, assim como os de azar, são suscetíveis de um desafio... outros”.
(BROUGÈRE, 1998, p. 47). O principal jogo relatado por Huizinga (2000) é o de bola, no
Aponta ainda o autor que, muitas vezes, os jogadores colocam qual a seriedade começa a tomar corpo, a partir da existência de
uma parcela significativa de seus bens à mercê das cartas e dos da- profissionais e amadores, este tipo de esporte entra em uma situa-
dos, sem ignorar as consequências nocivas. ção que nem é jogo e nem é seriedade propriamente dita.
Para Kishimoto (1994), o interesse pelos jogos diminui com a Grande marco das transformações dos jogos, ocorreram na In-
chegada do Cristianismo. Assim, essa sociedade cristã, que impõe glaterra, visto que essas mudanças se deram de forma instituciona-
uma educação disciplinadora, não estabelece condições para a ex- lizada. Segundo Azevedo e Gomes Filho (2011), esportes são jogos
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institucionalizados. Portanto, praticar um esporte é praticar um Conforme aponta Orlick (1978), o problema de a violência ser
jogo que requer de alto rendimento, segundo regras institucional- evidenciada nos meios de comunicação e nos esportes é que esses
mente definidas e estrutura com normativas de organização. Para modelos oferecidos serão imitados. O mesmo é discutido por Cai-
ambos os autores, a organização rígida é uma das características llois (1990), quando afirma que o público vive a vida de seus ídolos,
que fazem a passagem dos jogos para os esportes. limitando-se a copiá-los em tudo que fazem como roupas, gestos,
De acordo com De Rose Jr (2009), foi no século XIX que o es- gostos e muitas vezes até mesmo a morte.
porte passou a ser praticado nas escolas públicas e nas universi- Consideramos que os valores sociais e morais como ética, honra
dades inglesas, substituindo os jogos antigos, pela intervenção do e respeito aos adversários, vão se distanciando das características
pedagogo Thomas Arnold. Assim, o esporte sobre a ótica educativa dos esportes/jogos, por meio da violência e pela busca da vitória a
tornou-se parte do currículo das instituições de ensino. qualquer preço.
Correia (2006), aponta que Pierre Coubertin realizou os primei-
ros Jogos Olímpicos da Era Moderna em 1896, com intuito de unir Os jogos competitivos e suas características
países, promover a paz, universalizar o espírito formativo nas esco- Até o presente momento, conduzimos o jogo sob uma esfera
las inglesas e conservar o amadorismo. Porém, esses ideais foram histórica ligada ao combate e a guerra, das civilizações mais antigas.
corrompidos com a evolução e o sucesso dos jogos olímpicos, que No entanto, convém lembrar que grande parte das civilizações fo-
se tornou o maior evento mundial, despertando interesse diversos: ram sendo transformadas e organizadas em formas mais evoluídas
políticos, econômicos, de veículos de comunicação, dentre outros. com isso o jogo também vai ganhando outros contornos.
Novas modalidades esportivas são criadas (basquetebol, volei- Conforme vimos, os jogos gregos e romanos faziam parte de sua
bol e handebol) e com o “ressurgimento dos jogos olímpicos em cultura competir até a morte, se preciso fosse. Dentro da cultura
1896, o mundo passou a ter contato com grandes atletas e com desses povos, principalmente dos gregos, o impulso da competição
as diferentes modalidades esportivas, evidenciando a competição constituía-se em formas de lutas, cujo o jogo de agôn, ou conheci-
entre os indivíduos e as nações participantes” (DE ROSE JR, 2009, do também como agonístico era praticado até a agonia. Diante da
p. 104-105). civilização moderna e frente a novas teorias, a competição exacer-
A partir da metade do século XX, o esporte começou a ter uma bada passou a ser objeto de estudos para pesquisadores. Portanto,
maior cobertura dos meios de comunicação mais especificamen- a competição tem sido caracterizada por alguns estudiosos como
te rádios e jornais. Com o desenvolvimento de novas tecnologias um valor que gera atitudes individualistas, disseminador de contra
(principalmente a televisão), os eventos esportivos passaram a ter valores, capaz de eliminar o prazer, alegria e divertimento.
visibilidade, e os grandes atletas tiveram a oportunidade de tornar Acreditamos que a competição em si, não deve ser colocada
suas qualidades e seus defeitos visíveis para um público cada vez como negativa ou positiva, isto é, a competição não é boa ou má,
maior (DE ROSE JR, 2009, p. 105). ela é o que fazemos dela. É claro que o pensamento sobre a vitória
Com o foco voltado ao corpo, a competição se transforma na está ligado ao jogo e para vencer é indispensável que haja um par-
busca do “corpo perfeito e ideal”, tornando-se condição de “bem- ceiro ou um oponente. No entanto, pensamos a competição como
-estar ou mal-estar” de uma pessoa. Em vista disso, Farias (2005), forma de mostrar habilidades específicas. A competição é um valor
aponta que, através de uma lógica de mercado, as práticas esporti- atribuído ao jogo que pode ter maior ou menor importância para o
vas foram transformadas em verdadeiros espetáculos. jogador dependendo de seus interesses e personalidade (ANDRÉ;
Para Camargo (2016) o esporte é uma prática social formada RUBIO, 2009, p. 294).
pelos jogos, pelo processo histórico dos jogos, pela história da hu- A competição é tão antiga quanto a história da humanidade, po-
manidade e pela cultura. Porém, o sentido do esporte, e aqui nós dendo ser um fator motivante para obter conquistas pessoais e so-
incluímos o jogo, se modifica cada vez que a mídia traz a visão de ciais, podendo estar presente tanto nos jogos quanto nos esportes.
esporte espetáculo para determinada prática esportiva. O esporte Recorrendo a história conceitual do esporte, é possível desco-
espetáculo impulsionou o mais alto nível de profissionalização, de brir que a exacerbação do agôn, ou detrimento ou atrofia do ludes,
especialização de treinamento, de equipamentos, de seleção de ou lúdico, enquanto perdurou a perspectiva única do rendimento,
competição e também de corrupção (CORREIA, 2006). tornou-se mais competição do que jogo, perdendo parte do seu sig-
Segundo Betti (1997, p. 39), a transmissão televisiva propõe nificado sociocultural inicial (TUBINO, 1992, p. 27).
uma nova visão do evento esportivo: a repetição obsessiva dos lan- Já para Orlick (1978), o objetivo da competição está ligado à ri-
ces mais violentos ou espetaculares, o fanatismo da torcida, a eu- validade, pois se busca impedir que o oponente seja recompensa-
foria da vitória, dentre outros. Isso facilita muito a comercialização do, garantindo que ele não alcance seu objetivo.
do esporte, pois permite a ênfase em tudo o que mais interessa aos Isso pode ser observado quando uma pessoa está disposta a
investidores, e produz uma visão artificial do esporte, em combi- deixar que seu próprio desempenho seja prejudicado com o intuito
nação com uma linguagem “guerreira”, amplificando o falso drama de diminuir as recompensas de seu semelhante. Ela não se importa
que se vive no campo e nas quadras. Nesse sentido, cremos que a com a qualidade de seu desempenho desde que possa assegurar
violência se tornou um produto a ser vendido pela televisão por que seu companheiro não seja bom (ORLICK, 1978, p. 81).
prender a atenção do telespectador. Por isso, na visão de alguns educadores, a competição é o as-
Estudos de laboratório mostraram repetida e consistentemente pecto mais perverso do jogo por promover valores exacerbados
que a violência na televisão pode tornar as crianças mais dispostas de concorrência e individualismo em prejuízo de valores de igual-
a ferir outras pessoas, mais agressivas em suas brincadeiras e mais dade e solidariedade. Huizinga (2000) e Caillois (1990), concebem
propensas a escolherem a agressão como uma reação a situações a essência da competição com valores sociais e morais, como por
de conflito (ORLICK, 1978, p. 62-63). exemplo, a ética, a honra, o cavalheirismo e o respeito às regras e
aos adversários.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS
Caillois (1990), classifica os jogos utilizando-se das denomina- minam quem ganha e quem perde. Nesse tipo de jogo podemos
ções competição, sorte e interpretação, distinguindo assim, os jo- encontrar esforços, trabalho e seriedade o que leva o indivíduo a
gos em categorias: agôn, alea, mimicry e ilinx, conforme menciona- um comprometimento pessoal e coletivo. Acreditamos que os jo-
do no capítulo anterior. gos competitivos precisam ser disseminados em espaços escolares
A categoria agôn reúne todos os jogos de competição, podendo e não escolares, pois através dele, poderá ser refletido suas regras,
estar presentes desde jogos atléticos a intelectuais. Tem como pres- prazer, desprazer, possíveis conflitos, superação, respeito, perseve-
suposto que seja assegurada a igualdade de oportunidades entre os rança, aprendizagem, etc., podendo atribuir novos significados e
competidores, garantindo os mesmos direitos, deveres e recursos conceitos para seus participantes, pois
para o confronto (CAILLOIS, 1990). A competição é base e pressuposto para a cooperação. Quem
O agôn configura-se como uma categoria importante dos jogos. não sabe competir não sabe cooperar. Seja entre pessoas, seja en-
Pois, trata-se de uma rivalidade baseada em qualidades como rapi- tre instituições, cidades e países. Do que estamos carecidos é de
dez, resistência, vigor, memória, habilidade, engenho, etc., de tal uma sólida aprendizagem da competição susceptível de enraizar
forma que o vencedor apareça sendo o melhor em uma determina- profundamente uma ética do jogo, do jogador e do competidor.
da categoria de proezas (CAILLOIS, 1990). Os jogos competitivos são alvo de críticas por vários autores,
Assim, o interesse do jogador, é ser reconhecido em sua supe- sendo os mais relevantes dessa pesquisa Orlick (1978) e Brotto
rioridade em um determinado domínio. A prática do agôn, exige (1999). As críticas aos jogos competitivos acentuam-se na ideia de
treinamento adequado, esforços, concentração e vontade de triun- uma competição exacerbada, com valores de exclusão, egoísmo e
far, portanto, a essência da competição requer do jogador não só comportamentos agressivos. Assim, esses autores, inclinam-se po-
capacidades físicas e intelectuais para ser um vencedor, mas princi- sitivamente aos jogos cooperativos por acreditar que suas práticas
palmente valores sociais e morais. são capazes de desenvolver habilidades humanas e transformar
Huizinga (2000) menciona, que dentre a fronteira do jogo e do comportamentos competitivos em comportamentos cooperativos.
combate, o agôn obedece ao código do duelo, do torneio e alguns Sendo assim, na sequência passaremos a explanar alguns aspectos
aspectos notáveis em guerra. No entanto, o objetivo não se fixa na relevantes sobre os jogos cooperativos.
destruição do adversário, mas sim o de demonstrar a sua superio-
ridade. Pois, quando um duelo ultrapassa os limites das regras e Jogos de Tabuleiro
códigos de honra, deixa de ser um jogo e torna-se barbárie. Nessa
mesma perspectiva, o mesmo intercorre no jogo competitivo quan- Ao propor a utilização de um jogo de tabuleiro no processo de
do não há regras, igualdade, controle e respeito aos adversários. ensino-aprendizagem de Física, o objetivo não é substituir as aulas
De certo modo, tais ideias estão presentes na classificação de convencionais, mas, propor uma metodologia alternativa dentro do
De Rose Jr (2009, p. 106) que identifica quatro fatores que eviden- leque no qual os professores têm à disposição.11
ciam o nível de competição: É importante salientar que a simples utilização do jogo não
- Confronto: realizado entre dois ou mais indivíduos ou equipes, garante a aprendizagem dos conteúdos se não houver uma análi-
direta ou indiretamente, dependendo da modalidade esportiva. se antecipada do professor, para que ele possa melhor utilizar essa
Algumas vezes, o confronto é pessoal, isto é, quando o indivíduo prática. Esse tipo de preparação evita que os alunos entendam a
tenta superar suas próprias marcas ou aquelas estabelecidas por atividade como um mero passatempo para “matar aula” ou como
outros atletas. uma obrigação insípida
- Demonstração: oportunidade de demonstrar as capacidades Existem muitos tipos de jogos, dentre os mais conhecidos, estão
e as habilidades desenvolvidas e apreendidas nos treinamentos e os que se encaixam na categoria de tabuleiros, tais como: Dama,
ao longo da vida esportiva, por meio das experiências competitivas. Trilha, Gamão, Xadrez, Banco Imobiliário, Jogo da Vida, Detetive,
- Avaliação: pode ser quantitativa (quando se leva em conside- Scotland Yard e War.
ração o produto do desempenho a partir das normas de referência Frequentemente pode-se imaginar que o desenvolvimento de
numérica com base e critérios previamente definidos; [...] ou qua- jogos de tabuleiro é tarefa para pessoas especialmente qualificadas
litativa (quando se avalia o processo ou qualidade do movimento para tal fim, quando, na realidade não o é. Um professor apresenta
realizado, levando-se em consideração as situações inerentes a plenas condições de desenvolver um jogo para aplicar em sala de
uma competição [...] aula, especificamente para um conteúdo abordado e para as suas
- Comparação: acontece em função de um padrão próprio ou a necessidades. Assim, dominar os referenciais teóricos do conteúdo
partir de modelos externos. implícito no jogo, ser capaz de relacioná-los a situações concretas
e atuais, pesquisar e avaliar recursos didáticos favoráveis às situa-
Esses quatro fatores podem alterar o padrão de comportamen- ções de ensino-aprendizagem são requisitos básicos para o desen-
to do jogador, dependendo dos aspectos relacionados às suas ca- volvimento de um bom jogo educativo. Conhecer outros jogos de
racterísticas pessoais como, por exemplo, o estágio de desenvolvi- tabuleiro fornece condições e ideias ulteriores para desenvolver
mento, o estado físico, o nível técnico, as experiências acumuladas, seus próprios jogos. Nessa prática, ser criativo para criar ou adaptar
a necessidade de autoafirmação, as expectativas e aos objetivos regras e tabuleiros de jogos ou de situações diversas, pode impul-
pessoais. Podendo também sofrer influências externas como a ex- sionar o desenvolvimento do mesmo.
pectativa de outras pessoas em relação ao seu desempenho, nível Num contexto de jogo, a participação ativa do sujeito sobre
da competição, nível dos adversários, pressões variadas, dentre ou- o seu saber é valorizado por pelo menos dois motivos. Um deles
tras. deve-se ao fato de oferecer uma oportunidade para os estudantes
Concorrer, competir, disputar, etc., sempre esteve presente na estabelecerem uma relação positiva com a aquisição de conheci-
humanidade, nos jogos de competição, o prazer está situado no mento, pois conhecer passa a ser percebido como real possibilida-
vencer, as habilidades individuais ou coletivas, portanto, deter- 11 http://posgrad.fae.ufmg.br/posgrad/viienpec/pdfs/1033.pdf
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS
de. Alunos com dificuldades de aprendizagem vão gradativamente O crescimento e o desenvolvimento da criança pequena ocorrem
modificando a imagem negativa do ato de conhecer, tendo uma tanto no plano físico quanto no psicológico, pois um depende do
experiência em que aprender é uma atividade interessante e desa- outro.
fiadora. Por meio de atividades com jogos, os alunos vão adquirindo Embora dependente do adulto para sobreviver, a criança é
autoconfiança, são incentivados a questionar e corrigir suas ações, um ser capaz de interagir num meio natural, social e cultural des-
analisar e comparar pontos de vista, organizar e cuidar dos mate- de bebê. A partir de seu nascimento, o bebê reage ao entorno, ao
riais utilizados. Outro motivo que justifica valorizar a participação mesmo tempo em que provoca reações naqueles que se encontram
do sujeito na construção do seu próprio saber é a possibilidade de por perto, marcando a história daquela família. Os elementos de
desenvolver seu raciocínio. Os jogos são instrumentos para exer- seu entorno que compõem o meio natural (o clima, por exemplo),
citar e estimular um agir e pensar com lógica e critério, condições social (os pais, por exemplo) e cultural (os valores, por exemplo)
para jogar bem e ter um bom desempenho escolar. irão configurar formas de conduta e modificações recíprocas dos
envolvidos.
No que diz respeito às interações sociais, ressalta-se que a di-
DOS MÉTODOS E PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS QUE PER- versidade de parceiros e experiências potencializa o desenvolvi-
MITAM ADEQUAR AS ATIVIDADES DE ENSINO (PERCUR- mento infantil.
SOS, SITUAÇÕES E ETAPAS DE APRENDIZAGEM) ÀS CARAC- Crianças expostas a uma gama ampliada de possibilidades in-
TERÍSTICAS E NECESSIDADES DOS ESTUDANTES terativas têm seu universo pessoal de significados ampliado, desde
que se encontrem em contextos coletivos de qualidade. Essa afir-
mativa é considerada válida para todas as crianças, independente-
Concepção de criança e de pedagogia da Educação Infantil mente de sua origem social, pertinência étnico-racial, credo político
ou religioso, desde que nascem.
De acordo com os Parâmetros Curriculares12, a criança é um su- Por sua vez, a visão da criança como ser que é também parte da
jeito social e histórico que está inserido em uma sociedade na qual natureza e do cosmo merece igualmente destaque, especialmente
partilha de uma determinada cultura. É profundamente marcada se considerarmos as ameaças de esgotamento de recursos em nos-
pelo meio social em que se desenvolve, mas também contribui com so planeta e as alterações climáticas evidentes nos últimos anos.
ele. A criança, assim, não é uma abstração, mas um ser produtor e Conforme alerta Tiriba (2005), os seres humanos partilham a vida
produto da história e da cultura. na Terra com inúmeras espécies animais, vegetais e minerais, sem
Olhar a criança como ser que já nasce pronto, ou que nasce va- as quais a vida no planeta não pode existir. Essas espécies, por sua
zio e carente dos elementos entendidos como necessários à vida vez, interagem permanentemente, estabelecendo-se um equilíbrio
adulta ou, ainda, a criança como sujeito conhecedor, cujo desen- frágil e instável entre todos os seres que habitam o ar, a água dos
volvimento se dá por sua própria iniciativa e capacidade de ação, rios, dos lagos e dos mares, os campos, as florestas e as cidades, em
foram, durante muito tempo, concepções amplamente aceitas na nosso sistema solar e em todo o universo.
Educação Infantil até o surgimento das bases epistemológicas que A intenção de aliar uma concepção de criança à qualidade dos
fundamentam, atualmente, uma pedagogia para a infância. Os no- serviços educacionais a ela oferecidos implica atribuir um papel es-
vos paradigmas englobam e transcendem a história, a antropologia, pecífico à pedagogia desenvolvida nas instituições pelos profissio-
a sociologia e a própria psicologia resultando em uma perspectiva nais de Educação Infantil. Captar necessidades que bebês eviden-
que define a criança como ser competente para interagir e produzir ciam antes que consigam falar, observar suas reações e iniciativas,
cultura no meio em que se encontra. interpretar desejos e motivações são habilidades que profissionais
Essa perspectiva é hoje um consenso entre estudiosos da Edu- de Educação Infantil precisam desenvolver, ao lado do estudo das
cação Infantil. A interação a que se referem os autores citados não diferentes áreas de conhecimento que incidem sobre essa faixa etá-
é uma interação genérica. Trata-se de interação social, um processo ria, a fim de subsidiar de modo consistente as decisões sobre as
que se dá a partir e por meio de indivíduos com modos histórico e atividades desenvolvidas, o formato de organização do espaço, do
culturalmente determinados de agir, pensar e sentir, sendo inviável tempo, dos materiais e dos agrupamentos de crianças.
dissociar as dimensões cognitivas e afetivas dessas interações e os Pesquisas realizadas desde a década de 1970 enfatizam que to-
planos psíquico e fisiológico do desenvolvimento decorrente. Nessa das as crianças podem aprender, mas não sob qualquer condição.
perspectiva, a interação social torna-se o espaço de constituição e Antes mesmo de se expressarem por meio da linguagem verbal, be-
desenvolvimento da consciência do ser humano desde que nasce. bês e crianças são capazes de interagir a partir de outras linguagens
Muitas vezes vista apenas como um ser que ainda não é adulto, (corporal, gestual, musical, plástica, faz-de-conta, entre outras)
ou é um adulto em miniatura, a criança é um ser humano único, desde que acompanhadas por parceiros mais experientes. Apoiar
completo e, ao mesmo tempo, em crescimento e em desenvolvi- a organização em pequenos grupos, estimulando as trocas entre os
mento. É um ser humano completo porque tem características ne- parceiros; incentivar a brincadeira; dar- lhes tempo para desenvol-
cessárias para ser considerado como tal: constituição física, formas ver temas de trabalho a partir de propostas prévias; oferecer dife-
de agir, pensar e sentir. É um ser em crescimento porque seu corpo rentes tipos de materiais em função dos objetivos que se tem em
está continuamente aumentando em peso e altura. É um ser em de- mente; organizar o tempo e o espaço de modo flexível são algumas
senvolvimento porque essas características estão em permanente formas de intervenção que contribuem para o desenvolvimento e a
transformação. As mudanças que vão acontecendo são qualitativas aprendizagem das crianças. As iniciativas dos adultos favorecem a
e quantitativas— o recém-nascido é diferente do bebê que engati- intenção comunicativa das crianças pequenas e o interesse de umas
nha, que é diferente daquele que já anda, já fala, já tirou as fraldas. pelas outras, o que faz com que aprendam a perceber-se e a levar
em conta os pontos de vista dos outros, permitindo a circulação das
12 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/eduinfparqualvol1.pdf ideias, a complementação ou a resistência às iniciativas dos parcei-
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS
ros. A oposição entre parceiros, por exemplo, incita a própria ar- Em síntese, para propor parâmetros de qualidade para a Educa-
gumentação, a objetivação do pensamento e o recuo reflexivo das ção Infantil, é imprescindível levar em conta que as crianças desde
crianças. que nascem são:
Ao se levar em conta esses aspectos, não se pode perder de vis- - Cidadãos de direitos;
ta a especificidade da pedagogia da Educação Infantil, como afirma - Indivíduos únicos, singulares;
Rocha: - Seres sociais e históricos;
Enquanto a escola tem como sujeito o aluno, e como objeto fun- - Seres competentes, produtores de cultura;
damental o ensino nas diferentes áreas através da aula; a creche e - Indivíduos humanos, parte da natureza animal, vegetal e mi-
a pré-escola têm como objeto as relações educativas travadas num neral.
espaço de convívio coletivo que tem como sujeito a criança de 0 até
6 anos de idade. Por sua vez, as crianças encontram-se em uma fase de vida em
É importante destacar que essas relações educativas, às que dependem intensamente do adulto para sua sobrevivência.
quais a autora se refere, na instituição de Educação Infantil são Precisam, portanto, ser cuidadas e educadas, o que implica,
perpassadas pela função indissociável do cuidar/educar, tendo em - Ser auxiliadas nas atividades que não puderem realizar sozi-
vista os direitos e as necessidades próprios das crianças no que se nhas;
refere à alimentação, à saúde, à higiene, à proteção e ao acesso - Ser atendidas em suas necessidades básicas físicas e psicoló-
ao conhecimento sistematizado. Este último aspecto torna-se gicas;
especialmente relevante no caso das creches no Brasil, onde em - Ter atenção especial por parte do adulto em momentos pecu-
muitas delas ainda predomina um modelo de atendimento voltado liares de sua vida.
principalmente à alimentação, à higiene e ao controle das crianças,
como demonstra a maioria dos diagnósticos e dos estudos de caso Além disso, para que sua sobrevivência esteja garantida e seu
realizados em creches brasileiras. crescimento e desenvolvimento sejam favorecidos, para que o cui-
Essa afirmação evidencia a não-superação do caráter compen- dar/educar sejam efetivados, é necessário que sejam oferecidas às
satório da Educação Infantil denunciado por Kramer que ainda se crianças dessa faixa etária condições de usufruírem plenamente
manifesta nos dias atuais, como também a polarização assistência suas possibilidades de apropriação e de produção de significados
versus educação, apontada insistentemente por Kuhlmann Jr. Sa- no mundo da natureza e da cultura. As crianças precisam ser apoia-
bemos que não basta apenas transferir as creches para os sistemas das em suas iniciativas espontâneas e incentivadas a:
de ensino, pois “na sua história, as instituições pré-escolares desti- - Brincar;
naram uma educação de baixa qualidade para as crianças pobres, e - Movimentar-se em espaços amplos e ao ar livre;
isso é que precisa ser superado”. - Expressar sentimentos e pensamentos;
Assim, a ênfase na apropriação de significados pelas crianças, - Desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capacidade de
na ampliação progressiva de conhecimentos de modo contextuali- expressão;
zado, com estratégias apropriadas às diferentes fases do desenvol- - Ampliar permanentemente conhecimentos a respeito do mun-
vimento infantil, parece bastante justificada. do da natureza e da cultura apoiadas por estratégias pedagógicas
Da mesma forma que defendemos uma perspectiva educacio- apropriadas;
nal que respeite a diversidade cultural e promova o enriquecimen- - Diversificar atividades, escolhas e companheiros de interação
to permanente do universo de conhecimentos, atentamos para a em creches, pré-escolas e centros de Educação Infantil.
necessidade de adoção de estratégias educacionais que permitam
às crianças, desde bebês, usufruírem da natureza, observarem e A criança, parte de uma sociedade, vivendo em nosso país, tem
sentirem o vento, brincarem com água e areia, atividades que se direito:
tornam especialmente relevantes se considerarmos que as crianças - À dignidade e ao respeito;
ficam em espaços internos às construções na maior parte do tempo - Autonomia e participação;
em que se encontram nas instituições de Educação Infantil. Criando - À felicidade, ao prazer e à alegria;
condições para que as crianças desfrutem da vida ao ar livre, apren- - À individualidade, ao tempo livre e ao convívio social;
dam a conhecer o mundo da natureza em que vivemos, compreen- - À diferença e à semelhança;
dam as repercussões das ações humanas nesse mundo e sejam in- - À igualdade de oportunidades;
centivadas em atitudes de preservação e respeito à biodiversidade, - Ao conhecimento e à educação;
estaremos difundindo uma concepção de educação em que o ser - A profissionais com formação específica;
humano é parte da natureza e não seu dono e senhor absoluto. - A espaços, tempos e materiais específicos
Os aspectos anteriormente abordados devem ser considerados
no processo de discussão e elaboração de diretrizes pedagógicas Desenvolvimento da Criança e do Adolescente
dos sistemas de ensino e das propostas pedagógicas das institui-
ções de Educação Infantil. Vale ressaltar a relevância da participa- Quanto às crianças e os adolescentes verifica-se uma mudança
ção dos professores, dos demais profissionais da instituição e da de concepção e tratamento dispensados aos mesmos, tanto no as-
comunidade nesse processo, não só para que os aspectos citados pecto relacionado às relações de conduta (legal) como no aspecto
sejam efetiva- mente considerados no desenvolvimento da propos- sóciopsicológico (familiar e social).
ta como também para cumprir a legislação. Em relação às regras de condutas, a trajetória histórica das
Constituições Federais bem como da legislação na área menorista,
demonstram esta evolução, cujo ápice, em nível nacional, pode ser
traduzido pela Constituição Federal de 1988 e o pelo Estatuto da
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS
Criança e do Adolescente. O ECA dentro desta perspectiva repre- Diante deste movimento global, exige-se uma nova maneira de
senta o instrumento legal para o desenvolvimento da criança e do pensar a respeito do papel da escola e do professor. Em outros ter-
adolescente. Trata-se de uma verdadeira constituição infanto-juve- mos: o que se espera da escola e do professor no mundo atual. Que
nil, pois regulamenta os direitos fundamentais das crianças e dos iniciativas poderão tomar nesta perspectiva de desenvolvimento da
adolescentes, como direito à vida, à saúde, à educação, à convivên- criança e do adolescente para o futuro.
cia familiar e comunitária, ao lazer e profissionalização. Quanto à escola, diante desta evolução e do mundo globalizado,
Comparando a atual legislação com as passadas que disciplina- DI GIORGIO esclarece qual seria a orientação a ser seguida: “A esco-
vam a matéria, verifica-se que se rompeu com um passado marcado la deve avançar no sentido de ser legitimamente, institucionalmen-
pela discriminação e violência, colocando a criança e o adolescente te e no imaginário social, uma entidade que cumpra socialmente
no lugar que merecem, ou seja, como prioridade absoluta, para o uma função de dinamizadora cultural e social do seu entorno e é
governo, para a família e para a sociedade em geral. a partir do cumprimento dessa função mais ampla que ela pode-
Assim, o desenvolvimento da criança e do adolescente, dentro rá efetivamente atuar eficazmente no sentido de não mais instruir,
de uma perspectiva legal, implica em ações que venham contem- mas educar crianças, jovens, adolescentes e também adultos”.
plar o que estabelece a lei, em especial, no que diz respeito à famí- Também aponta para esse sentido o Parecer nº CNE/CP 009,
lia, educação, esporte e ao lazer. aprovado em 08 de maio de 2001, do Conselho Nacional de Educa-
No aspecto sóciopsicológico, a concepção de criança e de ado- ção, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação
lescente também sofreu evolução. Na antiguidade, a criança era ca- de Professores de educação básica, em nível superior, que enseja
racterizada por uma ideia de ser inacabado e que os primeiros anos este novo contexto:
de existência fazia parte de um período insignificante de sua vida. Reforça a concepção de escola voltada para a construção de
Até o século XVIII, a criança foi tida como estranha e era des- uma cidadania consciente e ativa que ofereça aos alunos as bases
prezada por seus próprios pais naturais que as tinham como estor- culturais que lhes permitam identificar-se e posicionar-se frente às
vo. A ordem era se livrar das crianças sem qualquer sentimento de transformações em curso e incorporar-se na vida produtiva e sócio-
culpa. Esta situação somente foi desaparecendo com o surgimento -política. Novas tarefas passam a se colocar à escola, não porque
da família burguesa, quando então as crianças são incorporadas no seja a única instância responsável pela educação, mas, por ser a ins-
grupo e se desenvolve o amor materno. No entanto, o aparecimen- tituição que desenvolve uma prática educativa planejada e sistemá-
to da família burguesa mudou em parte este cenário, pois se antes tica durante um período continuo e extenso de tempo na vida das
dela todas as crianças, ricas ou pobres estavam sujeitas ao aban- pessoas. E, também, porque é reconhecida pela sociedade como a
dono, com o seu surgimento, passam a ser exposto o diferente, o instituição de aprendizagem e de contato com o que a humanidade
pobre e o marginalizado. pôde produzir como conhecimento, tecnologia e cultura.
A mudança em relação à concepção de criança foi gradativa e O ECA também vai nessa direção quando traça os objetivos da
lenta. Somente nas “últimas duas décadas do século passado é que educação previstos no artigo 53, que são:
a infância passou a ser reconhecida como a fase do desenvolvimen- a) pleno desenvolvimento da criança e do adolescente;
to pessoal onde se encontram as melhores qualidades humanas”, b) preparo para o exercício da cidadania;
chegando a contemplar as crianças e os adolescentes como sujeitos c) qualificação para o trabalho.
de direitos. Esta evolução ocorreu diante das transformações veri-
ficadas na organização familiar, que culminou com a família moder- Mas para atingir tal desiderato, revela DI GIORGIO a necessi-
na, é na evolução da própria sociedade. dade da ocorrência de diversos fatores, como: a escola deverá ser
Hoje, diante do mundo globalizado e da atual concepção de antes de tudo formativa; que o processo educativo deverá dar conta
criança e adolescente, torna a mesma o centro das atenções para de problemas reais; a necessidade de uma maior proximidade das
ações que venham a proporcionar-lhes um “desenvolvimento físi- escolas com a Universidade; a escola terá que receber mais verbas
co, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e utilizar, de forma mais efetiva, as novas tecnologias; desenvolver a
e dignidade” (ECA. art. 3º). Revela-se importante para cumprir tal capacidade dos alunos de ensinar; as escolas deverão aumentar os
desiderato à família e a educação. espaços de comunicação (intercâmbios) e menor número de alunos
por professor.
Educação Também deverá ter relevância a formação do professor que
deve considerá-lo como um profissional reflexivo, que é chamado a
A evolução e mudança, típica da globalização, fez ampliar o re- desempenhar o papel de verdadeira liderança intelectual no senti-
conhecimento da educação como forma de promoção do desen- do mais amplo da expressão. É necessário que o professor deixe de
volvimento sustentável para a superação das desigualdades sociais. se ver como professor de uma determinada disciplina, para se ver
Por conseguinte, a escola passou a desempenhar um novo pa- como um educador.
pel, diferente daquele que realizava, não mais se limitando a ensi- Neste particular, constata-se que a globalização, atinge o pro-
nar a ler, a escrever e a fazer cálculos aritméticos, reconhecendo, fessor, já que a tecnicidade (assim entendida como “atividade
ainda, sua importância na construção da cidadania infanto-juvenil. profissional, sobretudo, instrumental, dirigida para a solução de
O professor também teve o seu papel redesenhado para atender a problemas mediante a aplicação rigorosa de teorias e técnicas cien-
estas novas exigências, com novas atribuições, compatíveis (e em tificas”), própria da formação do professor na década de 70, não
certas situações até incompatível) com este processo evolutivo. mais atende às exigências atuais de um mundo conectado.
Isto porque esta globalização, que envolve mudanças de caráter
social, política, econômica e legal, cria situações incertas e variáveis
que não encontram respaldo no modelo tecnicista empregado. Em
outros termos, o professor, como trabalhador inserido neste novo
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS
contexto, está suportando os reflexos das mudanças paradigmáti- convivência familiar não é uma obrigação imposta somente à mu-
cas que estão refletindo em sua atuação profissional, com uma con- lher e passa a ser compartilhada com o homem, quando da vida
cepção diferenciada do modelo até então concebido. comum. Nesse sentido arremata BADINTER: “... de agora em diante,
Ademais, com a democratização da educação, típica do mode- as mulheres obrigarão os homens a serem bons pais, a dividirem
lo socioeconômico atual, com um sistema de ensino de massas, o equitativamente não só os prazeres como também os encargos, as
significado atual das instituições escolares, exige um novo posicio- angustias e os sacrifícios da maternidade”.
namento do professor. Pois, o ensino em massa, para “escolarizar Ocorre que nem sempre a família acaba por desempenhar este
cem por cento das crianças de um país implica pôr na escola cem papel, transferindo o encargo aos outros responsáveis, sociedade
por cento das crianças com dificuldades, cem por cento das crianças ou o Poder Público. Especificamente em relação à questão educa-
agressivas, cem por cento das crianças conflituosas, em suma, cem cional, este problema é visível.
por cento de todos os problemas sociais pendentes que se conver- As mudanças ocorridas na sociedade obrigaram a mãe, que
tem assim em problemas escolares”. geralmente desempenhava este papel educativo, a assumir outras
O mundo globalizado apresenta, ao professor, uma nova reali- atribuições como mão de obra indispensável para a garantia do sus-
dade decorrente de seus avanços, como a informação compartilha- tento familiar. E como decorrência desta nova ordem “são cometi-
da e a cidadania global. O professor deve lidar com a informação, das à escola maiores responsabilidades educativas, nomeadamente
como parte de seu conhecimento, que não deve se limitar a ela e no que diz respeito a um conjunto de valores básicos que, tradicio-
trabalhar em prol da construção de uma nova ordem cidadã. nalmente, eram transmitidos na esfera familiar” .
Estas mudanças sociais, políticas, econômicas e legais transfor- Assim, se antes se ouvia dizer que a escola era nosso segun-
maram, profundamente, as relações estabelecidas com a escola, o do lar, hoje, muitas vezes ela representa o primeiro lar, onde são
professor, os alunos, os pais e a sociedade em geral. Interferiram transmitidos conceitos básicos de educação, valores e princípios,
no trabalho, na imagem social e no valor que a sociedade atribui a anteriormente transmitidos pelos pais. O professor torna-se, mui-
educação (escola) e ao professor. tas vezes, o referencial familiar de muitas crianças. Não porque ele
Diante desta nova ordem, da terceira revolução industrial, desta queira, mas porque as famílias não estão mais desempenhando
sociedade pós-moderna, ou em rede, à educação, muitas vezes é seus papéis.
concebida como uma panaceia, onde está sendo creditada a reden- Pensar no futuro das crianças e dos adolescentes é pensar no
ção do mundo, a harmonia dos povos, a solução da pobreza, a eli- papel da família na atualidade. Toda e qualquer iniciativa que venha
minação dos males que afligem a humanidade, transferindo-se, ao a contemplá-la, dando-lhe assistência, apoio e orientação, traduz
professor, este viés redentor, posto que um dos responsáveis pelo numa forma de se buscar o desenvolvimento adequado das crian-
desenvolvimento do sistema educativo. ças e dos adolescentes.
Nesse sentido, “há uma retórica cada vez mais abundante sobre
o papel fundamental que os professores são chamados a desem- Lazer
penhar na construção da sociedade do futuro”. A importância da
educação e dos professores nesses desafios é sempre lembrada, O esporte e o lazer enquadram-se dentro desta perspectiva de
“ou porque lhes cabe formar os recursos humanos necessários ao um futuro melhor para criança e adolescente. A Constituição Fe-
desenvolvimento econômico, ou porque lhes compete formar as deral (art. 227) reconheceu expressamente esta situação, apontan-
gerações do século XXI, ou porque devem preparar os jovens para a do como um direito fundamental da criança e do adolescente. E
sociedade da informação e da globalização, ou por qualquer outra políticas públicas nesse sentido devem ser desenvolvidas para que
razão, os professores voltam a estar no centro das preocupações se possa oferecer à população infanto-juvenil oportunidades de se
políticas e sociais”. desenvolverem neste aspecto.
Nesse sentido, vale lembrar que o professor não deve estar so- O mundo do futuro, leva muitos incautos a se preocuparem
zinho. A família e a própria sociedade são corresponsáveis deste com a formação intelectual e moral das crianças e dos adolescen-
processo educativo para o completo desenvolvimento da criança e tes, contemplando-os com uma gama infindável de atividades para
do adolescente, numa perspectiva de futuro melhor. o seu “completo desenvolvimento”. Cada vez mais são atribuídas
à população infanto-juvenil atividades que a levariam a um lugar
Família de destaque diante da competitividade. Se antes era necessário
apreender uma língua estrangeira, hoje, são necessários duas. Hoje
A família, como corresponsável pela educação e pela efetivação é indispensável os conhecimentos de informática, cursos comple-
dos direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes, também mentares, pós-graduação, etc.
é chamada para assumir o seu relevante papel, numa perspectiva O mundo está nos levando a uma preocupação incessante com
de um futuro melhor para os filhos. Mas a família também sofreu o futuro, que acabamos por ignorar o presente. E o presente deve
evolução decorrente desta nova ordem socioeconômica. contemplar, não somente as atividades intelectuais, mas também
Da família nuclear burguesa, calcada na monogamia e no traba- àquelas que levam ao desenvolvimento sadio e harmonioso da
lho doméstico da mulher, seguiu-se para a família patriarcal, carac- criança e do adolescente. Nesse sentido é que a legislação não ig-
terizada por uma hierarquia vertical, centrada no matrimônio. norou a questão do esporte e do lazer. Elas fazem parte do desen-
Hoje, experimenta-se um novo modelo familiar, ou seja, a fa- volvimento infanto-juvenil e se apresentam como um antídoto das
mília nuclear moderna, caracterizada pelo ingresso da mulher no questões oriundas da globalização.
mercado de trabalho; a igualdade de direitos entre os cônjuges com O desenvolvimento de uma criança ou adolescente encontra na
divisão de tarefas na vida comum; o casamento não se apresenta família e na educação (incluindo esporte e lazer) o seu elemento
como fonte primária de procriação com liberdade na questão da básico e fundante. Garantir as famílias apoio, orientação, forma-
filiação e as relações se firmam numa linearidade. A garantia da ção, promoção e sustentação, através de políticas sociais públicas e
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CONHECIMENTOS
programas, apresenta-se indispensável, constituindo fator decisivo pais até os 18 anos, todo adolescente é “aborrescente” e tantas ou-
para a garantia dos direitos fundamentais da criança e do adoles- tras formas que acabam caracterizando, ou melhor, rotulando esse
cente. Quanto à educação, uma mudança de concepção quanto período da vida.
ao papel da escola e uma adequada formação do professor vem Esta discussão, sobre a construção histórica do conceito de
contemplar este processo de desenvolvimento das crianças e dos adolescência, é importante porque possibilita a mudança de olhar
adolescentes. para a própria adolescência e para o/a adolescente É importan-
Pois, não obstante a transformações ocorridas na sociedade, te desconstruir a visão de adolescência como uma fase de crise e
no campo social, econômico, cultural, ético e político, permane- olhar criticamente para o perfil rotulado do adolescente visto como
ce o consenso em torno da família e da educação como espaços “aborrecente”, intolerante, irresponsável, rebelde etc.
privilegiados para o desenvolvimento da criança e do adolescente.
Trata-se da base necessária e insubstituível capaz de transformar Características Psicológicas da Adolescência
crianças em cidadãos do mundo.
1.14. Valoriza mais os motivos pessoais dos outros, sejam co- 3.6. É muito inseguro, procura a orientação e o conselho de pes-
legas ou adultos, e pensa mais neles, pois apercebe-se de que o soas alheias à sua vida familiar; assim, os educadores encontram
segredo da sua própria felicidade se encontra relacionada com a um campo propício para uma ação de formação mais profunda.
vida dos outros.
3.7. Precisam de uma mão compreensiva para os ajudar no es-
1.15. Sente-se mais livre e independente do que aos 15 anos, forço de esclarecer e definir os seus pensamentos e estados aními-
por isso já não o preocupa tanto esta exigência. cos, coisa que é difícil para ele e o faz cair em estados depressivos.
2.2. Revoltam-se às vezes contra a autoridade, em geral, não 3.10. Temos de passar a ser “observadores participantes” na
individualmente mas em grupo. vida dos adolescentes.
2.3. Entre os 15 e os 16 anos, começam-se a interessar nova- 3.11. Devemos ajudá-los a encontrar a forma de se expressarem
mente pelo estudo sempre que for interessante e vital para a sua nas diversas atividades, e procurar que o ensino seja estimulante e
experiência o conteúdo instrutivo, como por exemplo a Religião, as interessante, senão podem cair no desleixo e na apatia perante o
Ciências Sociais, etc. estudo.
2.4. Integram-se na comunidade escolar, participando nas ativi- 3.12. Recordando as tensões e inquietações da nossa própria
dades que a escola oferece. adolescência, estaremos em condições de ajudar os jovens e de ser-
mos mais compreensivos para com eles.
2.5. Às vezes a vida escolar converte-se em válvula de escape,
em meio para afrouxar as ataduras familiares. 3.13. Devemos inculcar-lhes o respeito pelos pontos de vista
alheios e o sentido da realidade.
2.6. No âmbito escolar, põem-se de manifesto certas diferenças
individuais, académicas e sociais, relacionadas com a capacidade de
liderança, o talento e as atitudes intelectuais. Estágio Operacional Formal Piagetiano14
3. Atitudes das pessoas implicadas na sua educação Piaget afirmava que as mudanças na maneira como os adoles-
centes pensam sobre si mesmos, sobre seus relacionamentos pes-
3.1. É necessária uma atitude de abertura e de conhecimento soais e sobre a natureza da sua sociedade têm como fonte comum
das fases desta idade, para evitar atitudes inadequadas para com os o desenvolvimento de uma nova estrutura lógica que ele chamava
filhos, o endurecimento da autoridade e o não reconhecer ao ado- de operações formais.
lescente qualquer tipo do direito. Isto, unido à conduta do próprio O pensamento operatório formal é o tipo de pensamento ne-
adolescente, provoca choques violentos. cessário para qualquer pessoa que tenha de resolver problemas
sistematicamente.
3.2. Deve-se aceitar a emancipação progressiva dos filhos, e in- O adolescente constrói teorias e reflete sobre seu pensamento,
cluso favorecê-la, para os ajudar a serem livres e a manifestarem-se o pensamento formal, que constitui uma reflexão da inteligência
como tais. sobre si mesma, um sistema operatório de segunda potência, que
opera com proposições.
3.3. A existência da crise tem a sua origem num problema afeti- Segundo Piaget uma das consequências de se adquirir pensa-
vo, por isso temos de favorecer no adolescente a criação de víncu- mento operatório formal é a capacidade de construir provas lógicas
los familiares, ambientais, … (amor a Deus, à Pátria …). em que a conclusão segue a necessidade lógica. Essa habilidade
constitui o raciocínio dedutivo.
3.4. Devem sentir-se realizados numa atividade ou numa coisa, O pensamento do adolescente se difere do pensamento da
aspirando sempre a algo, isto é, devem ter um ideal, fé. Também é criança, ou seja, a criança consegue chegar a utilizar as operações
importante o relacionarem-se com a família, o grupo, etc.… concretas de classes, relações e números, mas não as utiliza num
sistema fundido único e total que é caracterizado pela lógica do
3.5. Convém saber que estas crises passam com o tempo e que adolescente. O pensamento liberta-se da experiência direta e as es-
tudo volta a normalizar-se, o que não significa que se deixe de atuar truturas cognitivas da criança adquirem maturidade. Isso significa
e não se procure orientar positivamente o desenvolvimento dessas que a qualidade potencial do seu pensamento ou raciocínio atinge
crises de modo a que não deixem conflitos na personalidade do jo- o máximo quando as operações formais encontram-se plenamente
vem. desenvolvidas.
14 https://psicologado.com.br/psicologia-geral/desenvolvimento-humano/concep-
coes-de-adolescencia-em-jean-piaget
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CONHECIMENTOS
A criança não ultrapassa a lógica elementar de agrupamentos de proposições e continua a operar com eles, ou seja, estabelece
ou grupos numéricos aditivos ou multiplicativos, apresentando des- vários tipos de conexão lógica entre eles. Portanto, as operações
te modo, uma forma elementar de reversibilidade. O adolescente formais, na realidade, são operações realizadas com os resultados
apresenta a lógica das proposições relacionando-a a estrutura de de operações anteriores.
classes e das relações. O pensamento formal encontrado nos ado- A partir destas considerações pode-se estabelecer um paradig-
lescentes é explicado pelo fato de se poderem estabelecer as coor- ma inicial de como os adolescentes pensam. Inicialmente organi-
denações entre os objetos que também se originam de determina- zam os vários elementos dos dados brutos com as técnicas ope-
das etapas da maturação deste sujeito. racionais concretas dos anos intermediários da infância. A seguir
No entanto, esta constituição da estrutura, não apenas tem li- estes elementos organizados são transformados em afirmações ou
gação com o aparato maturacional do sujeito, mas também com o proposições que podem ser combinadas de várias maneiras. Atra-
meio social no qual este está inserido. Para que o meio social atue vés do método de análise combinatória, eles examinam isolada-
sobre os indivíduos é necessário que estes estejam em condições mente todas as combinações diferentes destas proposições.
de assimilar as contribuições desse meio, havendo a necessidade Para Piaget o pensamento formal é uma orientação generaliza-
de uma maturação suficiente da capacidade cerebral deste indiví- da, explicita ou implícita, para solução de problemas: uma orienta-
duo. Estes fatores estão relacionados dinamicamente. ção no sentido de organizar os dados, isolar e controlar variáveis,
Se o adolescente constrói teorias é porque de um lado, tornou- formular hipóteses e justificar e provar logicamente os fatos.
-se capaz de reflexão e, de outro, porque sua reflexão lhe permite As operações formais podem ser caracterizadas não só em ter-
fugir do concreto atual na direção do possível e do abstrato. A lógica mos descritivo-verbais gerais, como também em termos das es-
não é algo “estranho” a vida do sujeito, é justamente a expressão truturas lógico-matemáticas que são seus modelos abstratos. As
das coordenações operatórias necessárias para atingir determinada operações interposicionais não são ações isoladas sem relações
ação. mútuas. Tal como os agrupamentos das operações intraposicionais
O pensamento do adolescente tem a necessidade de construir dos anos intermediários da infância, elas formam um sistema in-
novas teorias sobre as concepções já dadas, no meio social, tentan- tegrado, e o problema consiste em determinar a estrutura formal
do chegar a uma concepção das coisas que lhe seja própria e que deste sistema.
lhe traga mais sucesso que seus antecessores. O conjunto de instrumentos conceituais que Piaget chama de
São característicos do processo de pensamento, os patamares esquemas operacionais formais encontra-se num nível intermediá-
de desenvolvimento, que leva o nível mais elementar de egocentris- rio de generalidade.
mo à descentração, subordinando o conhecimento sempre a uma Grande parte da diferença existente entre o comportamento
constante revisão das perspectivas. diário da criança e do adolescente pode ser expressa da seguinte
O adolescente exercita ideias no campo do possível e formula maneira: o adolescente, como a criança vive no presente, mas ao
hipóteses, tem o poder de construir à sua vontade reflexões e teo- contrário da criança também vive muito na dimensão ausente, isto
rias. Com estas capacidades, o adolescente começa a definir concei- é no futuro e o no reino do hipotético. Seu mundo conceitual está
tos e valores. Neste sentido, caracteriza-se a adolescência por um povoado de teorias informais sobre si mesmo e sobre a vida, cheio
egocentrismo cognitivo, pois o adolescente acredita que é capaz de de planos para o seu futuro e o da sociedade, em resumo, cheio
resolver todos os problemas que aparecem, considerando as suas de ideias que transcendem a situação imediata, além das relações
próprias concepções como as mais corretas (crença na onipotência interpessoais atuais.
da reflexão).
A propriedade geral mais importante do pensamento operacio- O Pensamento e suas Operações
nal formal, a partir da qual Piaget deriva todas as demais, refere-se
à distinção entre o real e o possível. Ao contrário da criança que O que surpreende no adolescente é o seu interesse por proble-
se encontra num período operacional concreto, o adolescente, ao mas inabituais, sem relação com as realidades vividas no dia a dia,
começar a examinar um problema com que se defronta, tenta ima- ou por aqueles que antecipam, com uma ingenuidade desconcer-
ginar todas as relações possíveis que seriam válidas no caso dos tante, as situações futuras do mundo, muitas vezes utópicas, com
dados em questão; a seguir, através de uma combinação de proce- uma facilidade de elaborar teorias abstratas. Existem alguns que
dimentos de experimentação e de análise lógica, tentando verificar escrevem, que criam uma filosofia, uma política, uma estética ou
quais destas relações possíveis são realmente verdadeiras. outra coisa. Outros não escrevem, mas falam.
Uma estratégia cognitiva que tenta determinar a realidade no Por volta de onze a doze anos efetua-se uma transformação
contexto das possibilidades tem um caráter fundamentalmente hi- fundamental no pensamento da criança, que marca o término das
potético-dedutivo. O adolescente ingressa corajosamente no reino operações construídas durante a segunda infância; é a passagem do
hipotético. pensamento concreto para o “formal” (hipotético-dedutivo).
O pensamento formal é um pensamento proposicional. As mais Quais são na realidade, as condições de construção do pen-
importantes entidades que o adolescente manipula, ao raciocinar samento formal? Para criança, trata-se não somente de aplicar as
deixaram de ser os dados rudimentares da realidade e passaram operações aos objetos, ou melhor, de executar, em pensamento,
a ser afirmações que contem estes dados. O que é realmente al- ações possíveis sobre estes objetos, mas de refletir estas operações
cançado entre os 7 e 11 anos de idade, é a cognição organizada de independentemente dos objetos e de substituí-las por simples pro-
objetos e acontecimentos concretos per se. posições.
O adolescente realiza estas operações, mas realiza também algo O pensamento concreto é a representação de uma ação possí-
que as transcende, algo necessário que é precisamente o que faz vel, e o formal é a representação de uma representação de ações
com que seu pensamento seja formal e não mais concreto. Ele toma possíveis.
os resultados destas operações concretas, formula-os sob a forma
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CONHECIMENTOS
As operações formais fornecem ao pensamento um novo poder, o crescimento biológico como o emocional; e também é o ponto
que consiste em destacá-lo e libertá-lo do real, permitindo-lhe, as- final das transformações físicas, sexuais, intelectuais, emocionais e
sim, construir a seu modo as reflexões e teorias. sociais que preparam os adolescentes para a vida adulta16.
Esse período é marcado com muita ansiedade, apreensão,
Processo Adaptativo do Indivíduo agressividade e muitas dúvidas, sendo estes reflexos da incom-
preensão sobre si próprio, seu corpo, do que dizem sobre ele e do
As reflexões precedentes poderiam levar a crer que o desen- que ele próprio sente17.
volvimento mental termina por volta de onze anos ou doze anos, Tal fase turbulenta por vezes é caracterizada por crises religio-
e que a adolescência é simplesmente uma crise passageira, devida sas, conflitos familiares, principalmente no que refere-se às ques-
à puberdade, que separa a infância da idade adulta. A maturação tões relacionadas à imposição de limites, agressividade, introspec-
do instinto sexual é marcada por desequilíbrios momentâneos, que ção e dificuldades sexuais18.
dão um colorido afetivo muito característico a todo este último pe- Gata19 afirma que a modernidade trouxe muitos benefícios e
ríodo da evolução psíquica. avanços para a sociedade, mas junto com eles, vieram uma série
Embora o conteúdo exato das ideias do adolescente varie, tanto de pressões, vida acelerada, tensão constante, desafios, competi-
numa mesma cultura como em culturas diferentes, este fato não ções e a violência. Não é de hoje que a adolescência é reconhecida
deveria obscurecer aquilo que, segundo Piaget, é o denominador por ser caótica, rebelde e inovadora, porém é necessário considerar
comum importante: a criança se ocupa, sobretudo com o presen- que ao fazer parte de uma sociedade que estar em constante trans-
te, com o aqui e a agora, o adolescente amplia seu âmbito concei- formação, todos os seus integrantes, inclusive os adolescentes, so-
tual e inclui o hipotético, o futuro e o espacialmente remoto. Esta frem com as consequências desse estado.
diferença tem um significado adaptativo. O adolescente começa a É sabido que as mudanças drásticas que vêm ocorrendo
assumir papéis adultos; para ele o mundo de possibilidades futuras em diversos setores, valores éticos, econômicos e políticos, e o
pessoalmente relevantes - escolha profissional, escolha do cônjuge, crescente fenômeno da globalização, que alastra-se através do
etc. - passa a ser o objeto de reflexão mais importante. De modo mundo todo, tem um papel determinante na evolução entre todos
semelhante, o adulto que ele será em breve deverá relacionar-se in- os indivíduos, inclusive nos adolescentes. Visto que nesta fase exis-
telectualmente com coletividades sociais muito menos concretas e te uma predisposição ao desenvolvimento de quadros patológicos,
imediatas do que a família e o círculo de amigos: a cidade, o estado, os fatores ambientais desfavoráveis podem ser responsáveis por
os pais, o sindicato, a igreja, etc. desencadear alguns desses processos, manifestados por estados
Em geral, o adolescente pretende inserir-se na sociedade dos depressivos, fobias, comportamentos obsessivos - compulsivos,
adultos por meio de projetos, de programas de vida, de sistemas consumo de bebidas alcoólicas, violência, miséria e uso de drogas20.
muitas vezes teóricos, de planos de reformas políticas ou sociais.
A verdadeira adaptação à sociedade vai-se fazer automati- Histórico e Definições
camente quando o adolescente, reformador, transformar-se em A primeira vez que o termo Qualidade de Vida (QV) foi utilizado
realizador. A experiência reconcilia o pensamento formal com a ocorreu em 1964, quando o presidente dos Estados Unidos, Lyndon
realidade das coisas, o trabalho efetivo e constante, desde que Johnson, afirmou “os objetivos não podem ser medidos através do
empreendido em situação concreta e bem definida, cura todos os balanço dos bancos, eles só podem ser medidos através da QV que
devaneios. proporcionam às pessoas”21. Entretanto, somente na década de 90
Assim é o desenvolvimento mental, constata-se que a unidade que se observou um grande avanço nas investigações científicas vi-
profunda dos processos que da construção do universo prático, de- sando um maior entendimento sobre a QV e sua relação com ques-
vido à inteligência senso-motora do lactente, chega à reconstrução tões biológicas, sociais e culturais22.
do mundo pelo pensamento hipotético-dedutivo do adolescente, A Organização Mundial de Saúde (OMS) define QV como “a per-
passando pelo conhecimento do universo concreto devido ao siste- cepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura
ma de operações da segunda infância. e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objeti-
Estas construções sucessivas consistem em descentralização do vos, expectativas, padrões e preocupações”23. Na área da saúde são
ponto de vista, imediato e egocêntrico, para situá-lo em coordena- 16 NÓBREGA, F. G. Distúrbios da Nutrição. 1 ed. Rio de Janeiro: Revinter, 1998.
ção mais ampla de relações e noções, de maneira que cada novo 17 KALINA, E; GRYNBERG, H. Aos Pais de Adolescência. Rio de Janeiro: Fran-
agrupamento terminal integre a atividade própria, adaptando-a a cisco Alves. 1985.
uma realidade mais global. A afetividade liberta-se pouco a pouco 18 CIULLA, L. Saúde Mental: Nas Etapas da Vida. Porto Alegre-RS: DPA & A. 4
do eu para se submeter, graças à reciprocidade e a coordenação ed. 1976.
dos valores, às leis da cooperação; a afetividade que atribui valor às 19 GATA, A. O. O Estress no Brasil: Pesquisas Avançadas. 1ª Ed.Campinas- SP:
atividades e lhes regula a energia, mas ela atua em conjunto com a Papirus. 2004.
inteligência, que lhe fornece meios e esclarece fins. 20 ZAGURY, T. Limites sem trauma. Rio de Janeiro, Ed: Record, 2000.
21 FLECK, M. P. DE A. et al. Desenvolvimento da versão em português do
Qualidade de Vida na Adolescência instrumento de avaliação de qualidade de vida da OMS (WHOQOL-100). Revista
Brasileira de Psiquiatria, v. 21, n. 1, p. 19–28, 1999.
15
A adolescência é uma etapa do desenvolvimento humano ca- 22 GORDIA, A. P. et al. Qualidade de vida: contexto histórico, definição, avaliação
racterizado por alterações físicas, psíquicas e sociais. Sendo uma e fatores associados. Revista Brasileira de Qualidade de Vida, v. 3, n. 1, p. 40–52,
das mais ricas e plenas das variantes e condicionantes etapas da 2011.
vida pelas quais passa o ser humano antes de atingir a fase adulta. 23 THE WHOQOL GROUP. The World Health Organization Quality of Life as-
Durante essa fase ocorrem alterações dinâmicas, envolvendo tanto sessment (WHOQOL): position paper from the World Health Organization. Soc Sci
15 ARAÚJO, T. R. O. Fatores que afetam a qualidade de vida na adolescência. Med, v. 41, n. 10, p. 1403–9., 199
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identificadas duas terminologias utilizadas frequentemente na lite- -Danças urbanas: Que são um conjunto de estilos de dança
ratura: qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS), que se refere originados nas comunidades urbanas, como o hip-hop, breaking,
aos aspectos da QV influenciados por doenças ou por intervenções locking, popping e muitos outros. Essas manifestações são caracte-
de saúde e QV, como um conceito mais amplo24. rizadas por movimentos e ritmos marcantes, que refletem a cultura
O primeiro termo (QVRS) relaciona-se ao impacto da condição e a identidade das comunidades urbanas. Os modos de organização
de saúde do indivíduo sobre a sua capacidade de viver plenamen- das danças urbanas podem incluir improvisação, batalhas de dança,
te25. Para Bolton26, QVRS é uma medida multidimensional baseada coreografias coletivas e competições.
na satisfação em vários aspectos da vida que afetam a saúde ou
são afetados por ela. Já o termo QV inclui uma variedade maior de -Danças folclóricas: Que são expressões rítmicas tradicionais
condições que podem afetar a percepção, sentimentos e compor- de um determinado povo ou região. Elas são transmitidas ao longo
tamentos do indivíduo, incluindo, porém não se limitando às condi- das gerações, preservando as tradições culturais e os costumes. Os
ções e intervenções de saúde 27 modos de organização das danças folclóricas podem envolver mo-
vimentos específicos, passos coreografados, uso de figurinos tradi-
Fatores que Influenciam a Qualidade de Vida (QV) cionais e a participação de grupos organizados, como associações
folclóricas ou comunidades locais.
A QV não se restringe à satisfação com necessidades materiais,
mas também está relacionada com inserção social, liberdade e -Expressões corporais contemporâneas: Que surgiram nas úl-
bem-estar. Mudanças no estilo de vida, como a prática de exercícios timas décadas, como a dança contemporânea, dança-teatro, dan-
físicos e dieta balanceada, além de serem fundamentais para a pro- ça de rua contemporânea e outras formas de criação artística que
moção da saúde, visam melhorar a QV dos indivíduos. A literatura exploram o movimento e a expressão corporal. Nesse contexto, os
demonstra que outros fatores também podem influenciar a QV dos modos de organização podem envolver técnicas específicas, impro-
adolescentes, como: a idade, o sexo, o estado nutricional, a satisfa- visação, experimentação e a interação entre diferentes linguagens
ção corporal, a presença de doenças e a renda. artísticas.
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CONHECIMENTOS
As pesquisas servem para entendermos o desenvolvimento mento – as mudanças positivas geralmente associadas ao bebê, à
motor, como o próprio título deste livro já diz, e expandirmos a nos- criança e ao adolescente, assim como as mudanças que acontecem
sa base de conhecimentos, levando-nos a compreender no futuro durante o processo regressivo de envelhecimento.
o que ainda não sabemos hoje. Como autores deste livro, o nosso O desenvolvimento motor é altamente específico. A noção
objetivo é ajudá-lo a aplicar na prática as informações aqui conti- antes aceita de uma capacidade motora geral foi refutada, para a
das, para que você seja mais efetivo como pai, professor, treinador alegria da maioria dos acadêmicos da área. Ter capacidade superior
ou fisioterapeuta. em uma área não garante capacidade similar em outras. O conceito
antiquado de que a pessoa tem ou não tem capacidade em situa-
ções de movimento foi substituído pelo conceito de que cada um
tem potencialidades específicas dentro de cada uma das muitas
áreas do desempenho. Vários fatores que envolvem capacidades de
movimento e performance física interagem de modo complexo com
o desenvolvimento cognitivo e afetivo.
Cada um desses fatores, por sua vez, é afetado por uma am-
pla variedade de demandas relacionadas à biologia, ao ambiente
e à tarefa específica. O processo de desenvolvimento, e, de modo
mais específico, o processo de desenvolvimento motor, deve nos
fazer lembrar constantemente da individualidade do aprendiz. Cada
indivíduo tem um cronograma singular para a aquisição das capaci-
dades de movimento (i.e., ações do bebê baseadas na maturação)
e das habilidades de movimento (i.e., ações da infância em diante
baseadas na experiência).
Embora o “relógio biológico” do indivíduo seja bem específi-
co, quando se trata da sequência de aquisição das habilidades de
movimento (maturação), a taxa e a extensão do desenvolvimento
são determinadas individualmente (experiência) e sofrem drástica
influência das demandas de performance das tarefas. Faixas etárias
de desenvolvimento típicas são apenas isso: típicas, e nada mais. As
faixas etárias representam apenas períodos de tempo aproximados,
durante os quais são observados determinados comportamentos.
O excesso de confiança nesses períodos nega os conceitos de con-
tinuidade, especificidade e individualidade do processo do desen-
volvimento.
ESTUDO DO PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO AO LONGO CONCEITO 1.4
DA VIDA O desenvolvimento está relacionado à idade, mas não depende
O desenvolvimento é um processo contínuo que começa na dela. O estudo do desenvolvimento motor remonta apenas à parte
concepção e cessa com a morte. Ele envolve todos os aspectos do inicial do século XX. As seções a seguir revisam brevemente a histó-
comportamento humano e, em consequência, só pode ser separa- ria e os métodos de estudo do desenvolvimento motor.
do em “domínios”, “estágios” ou “faixas etárias” de forma artificial.
É importante ter em mente a noção do conceito de desenvolvimen- História do desenvolvimento motor
to “ao longo da vida”. Assim como é importante o estudo do atleta As primeiras tentativas sérias de estudar o desenvolvimen-
talentoso durante a adolescência e a idade adulta, também é im- to motor, a mais jovem das ciências do movimento, foram feitas
portante o estudo do movimento do bebê, da criança e do idoso. a partir da ideia da maturação por Arnold Gesell (1928) e Myrtle
Muito podemos ganhar ao estudarmos o desenvolvimento motor McGraw (1935). Os maturacionistas defendiam que o desenvolvi-
em todas as idades, considerando-o como um processo que ocorre mento é função de processos biológicos inatos, que resultam em
ao longo da vida. uma sequência universal de aquisição das habilidades de movimen-
to pelo bebê.
CONCEITO 1.3 Os teóricos também afirmavam que, embora o ambiente pu-
O desenvolvimento é um processo que começa na concepção e desse influenciar a taxa de desenvolvimento, os efeitos eram ape-
cessa apenas com a morte. nas temporários, devido à potente influência da herança genética
A perspectiva que vê o desenvolvimento motor como um pro- de cada um. Desde a época desses esforços pioneiros, os nomes de
cesso ao longo da vida não o considera dividido em domínios, es- Gesell e McGraw tornaram-se uma lenda na pesquisa do desenvol-
tágios ou faixas etárias. Ao contrário disso, essa perspectiva sugere vimento motor. Muito do que sabemos sobre a sequência da aqui-
que alguns aspectos do desenvolvimento de uma pessoa podem ser sição de habilidades de movimento pelo bebê baseia-se no trabalho
conceituados de acordo com domínios, estágios ou faixas etárias, descritivo de Gesell e McGraw, assim como também de Mary Shir-
enquanto outros não podem. Além disso, o conceito de desenvol- ley (1931) e Nancy Bayley (1935).
vimento ao longo da vida abrange toda a mudança do desenvolvi- A onda de pesquisas que esses acadêmicos desencadearam foi
motivada, em grande parte, por seu interesse pela relação entre os
processos de maturação e aprendizado e o desenvolvimento cogni-
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tivo. Em seus estudos independentes, mas notavelmente similares, Durante as décadas de 1980 e 1990, a ênfase do estudo do de-
esses primeiros pesquisadores registraram as conhecidas sequên- senvolvimento motor de novo mudou de forma drástica. Em vez de
cias do desenvolvimento motor do bebê. As observações naturalis- focar o produto do desenvolvimento, como nas abordagens norma-
tas das crianças feitas por eles forneceram grande quantidade de tivas/descritivas das três décadas precedentes, os pesquisadores
informações sobre a progressão sequencial do desenvolvimento passaram a enfatizar outra vez a compreensão dos processos sub-
normal, a partir da aquisição de movimentos iniciais rudimentares jacentes envolvidos no desenvolvimento motor. Embora a impor-
até os padrões maduros de comportamento. tância fundamental da hereditariedade tivesse sido reconhecida,
Os estudos de Gesell e Thompson (1929, 1934) e de McGraw agora era dada uma importância complementar às condições do
(1935, 1940) são clássicos do método de controle de gêmeos para ambiente do aprendizado e às exigências específicas da tarefa ou
o estudo do desenvolvimento. As suas hipóteses eram as seguintes: ação motora. Os pesquisadores, guiados pelo trabalho seminal de
se para dois bebês com conjuntos de genes idênticos fossem dadas Kugler, Kelso e Turvey (1980), formularam novas estruturas teóricas
experiências diferentes, seria possível demonstrar a influência rela- para controle e desenvolvimento do comportamento motor.
tiva tanto da hereditariedade como do ambiente sobre o aprendi- A partir daí, os trabalhos de Esther Thelen e colaboradores
zado de habilidades específicas, incorporadas no design do estudo. (1986a, 1986b, 1987a, 1987b, 1991, 1994), Jane Clark e colabo-
Os resultados de seus estudos mostraram que, embora a taxa de radores (1988, 1989) e outros levaram à formulação da teoria dos
aquisição das habilidades de movimento selecionadas pelo gêmeo sistemas do desenvolvimento motor que orienta a maioria das pes-
treinado tenha sido mais rápida do que a do não treinado, a se- quisas conduzidas atualmente. Três princípios fundamentais nor-
quência não variou e a vantagem de um sobre o outro durou pouco. teiam o que ficou conhecido como teoria dos sistemas dinâmicos.
Essa pesquisa permitiu uma melhor compreensão das diferen- Em primeiro lugar, o corpo é visto como composto de vários siste-
ças entre a taxa e a sequência do desenvolvimento. Em essência, a mas (muscular, esquelético, neural, perceptivo, biomecânico) auto-
taxa do desenvolvimento motor pode ser influenciada por condi- -organizados e capazes de formar padrões de comportamento que
ções ambientais persistentes, mas a sequência de desenvolvimento surgem da interação entre as partes componentes.
em termos de aquisição das capacidades do movimento rudimentar Em segundo lugar, esses sistemas e os seus vários subsistemas
pelo bebê é altamente resistente a mudanças. O estudo de Monica se auto- -organizam de modo complexo e cooperativo, com base
Wild sobre o comportamento de arremessar (1938) foi a primeira nas exigências específicas da tarefa motora e em resposta a várias
investigação do desenvolvimento dos padrões de movimentos em affordances e restrições. E, em terceiro, o desenvolvimento é visto
crianças em idade escolar. Infelizmente, após esse estudo, excelen- como um processo descontínuo, em que novos padrões de movi-
te em sua profundidade e completude, houve pouco interesse na mento substituem os anteriores (Thelen e Ulrich, 1991).
exploração dos vários aspectos do desenvolvimento motor até o
final da Segunda Guerra Mundial. Depois da Segunda Guerra, sur- CONCEITO 1.5
giu uma nova geração de pesquisadores do desenvolvimento mo- Historicamente, o estudo do desenvolvimento motor passou
tor, liderados por Anna Espenschade, Ruth Glassow e G. Lawrence por períodos que enfatizaram diferentes explicações para o proces-
Rarick (como citado em Rarick, 1981), que focaram a descrição das so do desenvolvimento. Em resumo, o período que vai desde a dé-
potencialidades da performance motora em crianças. Os três eram cada de 1930 até a Segunda Guerra Mundial pode ser caracterizado
formados em educação física e, assim, estavam interessados na como “maturacional”, enquanto os anos de 1946 até a década de
compreensão dos resultados do desenvolvimento motor para a sua 1970 seriam o “período normativo/descritivo” no estudo do desen-
própria atividade. Além disso, o seu trabalho focava mais a aquisi- volvimento motor.
ção de habilidades motoras por jovens em idade escolar do que a A partir da década de 1980 até os dias de hoje, temos o “pe-
performance motora em bebês. ríodo orientado para o processo” (Clark e Whitall, 1989). O estudo
Embora a extensão das pesquisas durante esse período fosse do desenvolvimento motor começou orientado para os processos
limitada e seguisse a passos lentos, o trabalho desses três pioneiros (i.e., o estudo dos processos biológicos subjacentes à maturação),
fez muito para manter o desenvolvimento motor vivo como campo depois passou a ser orientado para os produtos (i.e., a descrição
legítimo de investigação acadêmica. Clark e Whitall (1989) atribuí- dos mecanismos dos vários estágios da aquisição das habilidades
ram a Espenschade, Glassow e Rarick o surgimento do desenvolvi- de movimento e o desenvolvimento de critérios normativos para
mento motor como um campo de estudo específico na área da edu- uma série de medidas da performance motora) e, em seguida, vol-
cação física. A partir de 1960, a base de conhecimentos do estudo tou a ser orientado para os processos (i.e., a explicação dos proces-
do desenvolvimento motor tem crescido com regularidade. sos que causam mudanças no comportamento motor ao longo do
O trabalho de Lolas Halverson (1966) e de vários de seus es- tempo). Pesquisas importantes têm sido realizadas agora em quase
tudantes de graduação na University of Wisconsin (Halverson e todo o mundo sobre o tópico criticamente essencial do desenvolvi-
Roberton, 1966; Halverson, Roberton e Harper, 1973; Halverson e mento motor desde a fase do bebê até a idade adulta. Métodos de
Williams, 1985) sobre a aquisição de padrões de movimento fun- estudo do desenvolvimento O desenvolvimento motor é estudado
damental maduros fez muito para reavivar o interesse pela inves- de três formas, pelos métodos longitudinal, transversal e longitudi-
tigação de crianças, por causa de sua ênfase mais na identificação nal misto. Uma vez que a investigação do desenvolvimento motor
dos mecanismos subjacentes à aquisição da habilidade do que na envolve o estudo das mudanças que ocorrem no comportamento
habilidade final. Os padrões motores fundamentais (1983), de Ral- motor ao longo do tempo, o método longitudinal é ideal, consistin-
ph Wickstrom, e a pesquisa conduzida por Vern Seefeldt (1972) e do no único verdadeiro meio de estudar o desenvolvimento.
seus associados (Branta, Haubenstricker e Seefeldt, 1984; Seefeldt O método longitudinal de coleta de dados tenta explicar as
e Haubenstricker, 1982) na Michigan State University, sobre a aqui- mudanças de comportamento ao longo do tempo (i.e., o tempo
sição de habilidades motoras fundamentais, lançaram as bases para do desenvolvimento) e envolve a demonstração gráfica dos vários
a empolgante pesquisa da década de 1980 em diante. aspectos do comportamento motor de um indivíduo ao longo de
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CONHECIMENTOS
vários anos. A abordagem longitudinal permite a observação das Esse método sequencial para estudo do desenvolvimento, ou
mudanças em variáveis específicas ao longo dos anos; embora en- método longitudinal misto, combina os melhores aspectos dos es-
volva o gasto de muito tempo, trata o estudo do desenvolvimento tudos transversal e longitudinal. Ele engloba todos os possíveis pon-
motor como uma função mais do tempo de desenvolvimento do tos de dados necessários à descrição e/ou explicação tanto das di-
que da idade (i.e., do tempo real) do indivíduo. ferenças quanto da mudança ao longo do tempo, como as funções
O método longitudinal envolve o estudo de um único grupo do desenvolvimento assim como as da idade. Os participantes da
de indivíduos, todos da mesma idade, no decorrer de vários anos. pesquisa são selecionados e estudados por corte transversal, mas
O principal propósito desse estudo é medir as mudanças de com- também são acompanhados longitudinalmente por vários anos.
portamento relacionadas com a idade. Em resumo, o método lon- Isso permite comparar os resultados dos dados transversais com os
gitudinal permite o estudo de mudanças em um único indivíduo ao longitudinais e funciona como meio de validação ou refutação das
longo do tempo. O Medford Boys Growth Study, conduzido por H. mudanças relacionadas à idade em relação às verdadeiras mudan-
Harrison Clarke (1971) de 1956 a 1968, é um dos mais completos ças do desenvolvimento.
estudos longitudinais do crescimento já realizado. O estudo do de- Também proporciona ao pesquisador a oportunidade de ana-
senvolvimento motor, que teve início em 1966, com Vern Seefeldt lisar e fazer relatos com base em dados preliminares, logo no início
na Michigan State University, e continuou ao longo de 30 anos, co- da pesquisa, em vez de esperar por cinco anos ou mais.
letou dados antropométricos extensivos, assim como milhares de
rolos de filmes, em que crianças executavam habilidades motoras CONCEITO 1.6
fundamentais selecionadas. A pesquisa de caminhada na esteira de Enquanto mudanças no comportamento motor relacionadas à
Beverly e Dale Ulrich, na Indiana University (1995), reuniu dados idade podem ser estudadas por meio de designs de pesquisa trans-
extensivos sobre o início da caminhada de qualidade em bebês com versais, a verdadeira mudança do desenvolvimento só pode ser es-
síndrome de Down. tudada por meio dos designs longitudinal e longitudinal misto.
Todos são excelentes exemplos de estudos longitudinais sobre Os métodos de estudo longitudinal, transversal e longitudinal
o crescimento e o desenvolvimento motor. O método longitudinal misto podem ser aplicados a uma variedade de formatos de pesqui-
de coleta de dados consome bastante tempo. Além disso, a taxa de sa. A investigação pode tomar a forma de um estudo experimental,
desistência em geral é grande, pois os participantes mudam, adoe- que é o método mais potente, devido aos rígidos controles neces-
cem ou ficam incapacitados. Portanto, é preciso testar um grande sários, ou ser transversal, envolvendo a observação naturalista,
número de participantes para manter uma amostra representativa pesquisas, entrevistas, relatos de história de casos ou, ainda, uma
no final dos estudos com duração de 5 a 10 anos. Além disso, no combinação dessas técnicas.
estudo longitudinal, gradualmente podem surgir problemas na me- A Tabela 1.1 fornece uma breve visão geral desses formatos de
todologia e no design. Variações no nível de confiabilidade e objeti- estudo do desenvolvimento. Como já observado, houve mudança
vidade dos testadores ao longo do período do estudo podem causar no rumo do estudo do desenvolvimento motor, cujo foco passou
problemas de interpretação dos dados. Potenciais efeitos advindos do processo ao produto e agora voltou ao processo. Os primeiros
do aprendizado, em função das repetidas performances nos itens cientistas enfatizaram a importância da pesquisa orientada para os
medidos, também têm se mostrado problemáticos. processos, ou seja, para a forma e a função. H. M. Halverson (1931,
Essas dificuldades induziram muitos pesquisadores a optar 1937), Shirley (1931) e Wild (1938) focaram a aquisição sequencial
pela abordagem transversal. O método transversal de estudo per- dos padrões motores. As suas sugestões para o estudo dos proces-
mite ao pesquisador coletar dados de diferentes grupos de pessoas sos do desenvolvimento das habilidades motoras não receberam
e faixas etárias, em um mesmo momento no tempo. O principal muita atenção até a década de 1980, quando o interesse por esse
propósito do estudo transversal é medir diferenças de comporta- tipo de estudo renasceu; desde então, esse tem sido o foco da pes-
mento relacionadas à idade. Esse método não permite medições de quisa no campo do desenvolvimento motor.
mudanças relacionadas à idade, por isso tem gerado controvérsias. O uso de técnicas da cinematografia, eletrogoniometria e ele-
O método transversal gera apenas diferenças médias em grupos em tromiografia, junto com a análise computadorizada, tem ampliado
tempo real e não mudanças individuais ao longo do tempo de de- os nossos conhecimentos a respeito do processo de movimento,
senvolvimento. A hipótese básica subjacente ao estudo transversal seus mecanismos motores subjacentes e a influência resultante so-
consiste em que a seleção aleatória dos participantes da pesquisa bre o produto do movimento. A pesquisa orientada para o produto,
fornece uma amostra representativa da população de cada grupo ou sobre as potencialidades de performance dos indivíduos, tem
etário testado. No entanto, é questionável se, na maioria dos ca- sido realizada há vários anos. Esse tipo de pesquisa preocupa-se
sos, essa hipótese pode ser confirmada. Na realidade, os estudos com o resultado da performance do indivíduo. A distância percor-
transversais, apesar de simples e diretos, são capazes de descrever rida pela bola, a velocidade possível após o chute ou a extensão de
apenas comportamentos típicos, nas idades específicas estudadas. um salto são exemplos de dados da performance motora. Força,
Consequentemente, eles não são considerados pela maioria resistência, potência, equilíbrio e flexibilidade, medidos em bate-
das autoridades no assunto como verdadeiros estudos do desenvol- rias de testes específicas, são exemplos de dados da aptidão física.
vimento. O problema é que, historicamente, a maioria das pesqui-
sas sobre desenvolvimento motor tem usado a abordagem trans-
versal. Para superar o possível ponto fraco da técnica transversal,
os psicólogos do desenvolvimento e os pesquisadores do desenvol-
vimento motor com frequência combinam os designs de pesquisa
transversal e longitudinal em suas investigações individuais.
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CONHECIMENTOS
CONCEITO 1.7
O desenvolvimento motor pode ser estudado com orientação para o processo ou para o produto. Tabela 1.1 Principais métodos de
estudo do desenvolvimento motor Estudo longitudinal: os mesmos indivíduos são estudados ao longo de um período de 5 a 10 anos Es-
tudo transversal: indivíduos diferentes, representando uma série de faixas etárias, são estudados em um mesmo momento temporal Estudo
longitudinal misto: método sequencial de estudo do desenvolvimento que combina os elementos essenciais dos métodos longitudinal e
transversal Método experimental: seleção e/ou atribuição aleatória de participantes a condições de tratamento Controle rígido das variáveis
atuantes Cultural cruzado: pode ou não usar um design experimental. Comparação de vários fatores em culturas diferentes Observação na-
turalista: observação não intrusiva do comportamento no ambiente natural Pesquisa por entrevista (survey): entrevistas individuais ou em
grupo sobre uma série de tópicos selecionados para revelar atitudes, opiniões Relato de caso: relato sobre participantes específicos, forne-
cendo uma série de informações detalhadas sobre a sua história DILEMA DO DESENVOLVIMENTO Velho frágil: brincadeira! Em outra edição
deste livro, usamos o termo “velho frágil” para pessoas com 80 anos ou mais. Meu Deus! Que comoção isso causou até no escritório onde o
autor-sênior trabalhava. Pois até uma de nossas secretárias, Lucille, uma mulher bem ativa nos seus 82 anos, estava revisando uma cópia do
texto que acabara de ser publicado e exclamou, indignada: “Velho frágil com 80 anos ou mais, que história é essa? Só pode ser brincadeira.
Não me chame de velha frágil! Eu trabalho oito horas por dia e ainda tenho bastante energia para cuidar das minhas coisas em casa e apro-
veitar o meu tempo livre. Além disso, a maioria dos meus amigos e conhecidos da mesma idade ou mais velhos é mais ou menos como eu, e com
certeza NENHUM deles é um velho frágil!” Embora outros livros e artigos publicados usassem esse termo com frequência naquela época para
descrever pessoas com mais de 80 anos, para minha vergonha, eu não fui capaz de defender o termo “frágil” na conversa com Lucille.
Eu tinha violado aquele conceito-chave, segundo o qual o desenvolvimento está relacionado com a idade, mas não depende dela, e
acabei por ofender Lucille. Nós enfrentamentos um dilema, pois o uso da idade cronológica é o meio de classificação mais conveniente e
universal. Entretanto, é também o menos válido para indicar em que estágio do desenvolvimento a pessoa está. Por causa disso, atualiza-
mos a nossa terminologia referente a esse grupo de pessoas. Agora usamos o termo “velho mais velho” (oldest old). Um tanto insípido,
talvez, mas certamente não é ofensivo. Obrigado, Lucille.
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CONHECIMENTOS
A idade morfológica é a comparação do tamanho da pessoa fora dos ambientes laboratorial e clínico, devido a custo, inconve-
(altura e peso) com padrões normativos. niência e efeitos cumulativos da radiação. A idade dentária é outro
meio preciso, porém usado com pouca frequência, de determina-
ção da idade biológica. A sequência do desenvolvimento dos dentes
desde o surgimento da primeira cúspide até o fechamento da raiz
fornece uma medição da idade de calcificação. A idade de erupção
também pode ser determinada pela elaboração de gráficos da pro-
gressiva emersão dos dentes. A idade sexual é o quarto método de
determinação da idade biológica.
A maturação sexual é determinada pela aquisição variável das
características sexuais primárias e secundárias. A escala de maturi-
dade de Tanner (Tanner, 1962) é um meio preciso de avaliação da
maturidade sexual. Ela está descrita no Capítulo 15. Esse método é
usado com pouca frequência, em função de constrangimentos so-
ciais e culturais. Existem vários outros métodos de classificação da
idade de um indivíduo. Eles incluem medições das idades:
(1) emocional,
(2) mental,
(3) autoconceitual e
(4) perceptiva.
CONCEITO 1.8
Embora a idade cronológica seja o meio de classificação de ida-
de mais utilizado, em geral é o menos válido. Todas as medições da
idade são variáveis. Elas estão relacionadas com a idade cronoló-
gica, mas não dependem dela. Portanto, todos os que trabalham
com bebês, crianças, adolescentes ou adultos não devem confiar
demais na classificação cronológica da idade simplesmente por sua
facilidade e conveniência.
O tamanho normativo foi determinado pela primeira vez por
Wetzel (1948) e outros, por meio da elaboração exaustiva de gráfi- TERMINOLOGIA USADA NO DESENVOLVIMENTO MOTOR
cos de alturas e pesos de milhares de indivíduos. A grade de Wet- É sempre importante adquirir certo conhecimento profissional
zel foi usada durante muitos anos pela maioria dos pediatras como dos termos usados na área de estudo escolhida. Seja a sua área a
principal recurso para determinação da idade morfológica de seus medicina ou o direito, a educação especial ou a economia, há um
pacientes. Embora não seja usada atualmente devido a mudanças jargão típico de cada campo, e o desenvolvimento motor não é ex-
seculares (i.e., mudanças entre as gerações) de peso e altura, a gra- ceção. Uma série de termos que se tornaram usuais é apresentada
de de Wetzel foi, em determinado momento, o método mais popu- nesta seção. Assim como acontece com os jargões na maioria das
lar para indicar a idade morfológica. Hoje em dia, os pediatras usam áreas de estudo, o consenso a respeito do significado de cada termo
gráficos de crescimento físico desenvolvidos pelo National Center não é universal. Temos de nos esforçar em busca de maior consis-
for Health Statistics (2000). tência. Com esse conceito em mente, apresentamos as definições
Cópias desses gráficos são fornecidas no Capítulo 6 (do nasci- a seguir.
mento aos 24 meses) e no Capítulo 10 (dos 2 aos 20 anos) e podem
ser encontradas também on-line no cdc.gov/nchs/. A idade esque- CONCEITO 1.9
lética fornece um registro da idade biológica de desenvolvimento Os termos transmitem conceitos críticos essenciais para a com-
do esqueleto. Ela pode ser determinada com precisão por um raio X preensão do desenvolvimento motor.
dos ossos carpais das mãos e do punho.
A idade esquelética é usada como ferramenta de pesquisa la-
boratorial e em casos de crescimento extremamente atrasado ou
acelerado. Poucas vezes é usada como medida da idade biológica
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CONHECIMENTOS
Crescimento e desenvolvimento debate sobre a importância relativa de cada um deles arrastou-se por
Os termos crescimento e desenvolvimento são usados com fre- bem mais de um século. Em resultado disso, o termo adaptação entrou
quência como sinônimos, mas há uma diferença de ênfase. No seu na moda e com frequência é usado para se referir à complexa interação
sentido mais puro, o crescimento físico refere-se ao aumento do ta- entre as forças existentes no indivíduo e no ambiente.
manho do corpo do indivíduo ou de suas partes durante a matura- Domínios do comportamento A classificação das respostas hu-
ção. Em outras palavras, crescimento físico é o aumento na estrutu- manas nos domínios do comportamento foi popularizada primei-
ra do corpo provocado pela multiplicação ou aumento das células. ro por Bloom e colaboradores (1956) e Krathwohl, Bloom e Masia
No entanto, o termo crescimento muitas vezes é usado para se (1964) em suas tentativas pioneiras de estabelecer uma taxonomia
referir à totalidade das mudanças físicas, e, assim, torna- -se mais (i.e., um esquema de classificação) dos objetivos educacionais. Infeliz-
inclusivo, assumindo o mesmo sentido de desenvolvimento. Nas re- mente, o modo como separaram o comportamento nos domínios psi-
ferências ao crescimento neste livro, adotaremos aquele primeiro comotor (comportamento motor), cognitivo (comportamento intelec-
significado. O desenvolvimento, em seu sentido mais puro, refe- tual) e afetivo (comportamento socioemocional) fez com que muitos
re-se a mudanças no nível de funcionamento do indivíduo ao lon- tratassem cada domínio como entidades independentes do desenvol-
go do tempo. Keogh e Sugden (1985) definiram desenvolvimento vimento humano. Devemos ter sempre em vista a natureza inter-rela-
como “uma mudança adaptativa em busca da competência” (p. 6). cionada do desenvolvimento e dos três domínios do comportamento
Essa definição implica que, ao longo da vida, há necessidade humano, embora tenhamos a tendência de separá-los por conveniên-
de ajustes, compensações ou mudanças para se adquirir ou manter cia em nossa discussão e estudo do desenvolvimento humano.
a competência. Por exemplo, o bebê que está aprendendo a andar O domínio psicomotor inclui os processos de mudança, estabi-
precisa compensar as mudanças ocorridas na sua base de apoio lização e regressão na estrutura física e no funcionamento neuro-
e no seu centro de gravidade. Do mesmo modo, o adulto precisa muscular. No domínio psicomotor, o movimento é resultado de pro-
compensar a diminuição e a regressão na competência de andar cessos mediados cognitivamente em centros superiores do cérebro
causadas por artrite e redução da flexibilidade articular. Será adota- (córtex cerebral), de atividades reflexas nos centros inferiores do
da a definição de Keogh e Sugden ao longo deste texto, pois afirma, cérebro ou de respostas automáticas no sistema nervoso central.
de modo claro e sucinto, que o desenvolvimento é um processo O domínio psicomotor envolve todas as mudanças físicas e fi-
de mudança que dura a vida toda. Embora o desenvolvimento seja siológicas ocorridas ao longo da vida e é o tópico da próxima seção.
visto mais como o surgimento e a ampliação da capacidade de fun- O domínio cognitivo, aplicado ao estudo do comportamento motor,
cionar em um nível elevado, temos de reconhecer que o conceito envolve a relação funcional entre a mente e o corpo. A interação re-
de desenvolvimento é muito mais amplo e que ele é um processo cíproca entre a mente e o corpo tem sido explorada por observado-
cuja duração se estende pela vida inteira. res desde Sócrates e Platão até os teóricos do desenvolvimento do
O estudo do desenvolvimento trata do que acontece no orga- século XX. Jean Piaget, famoso por sua teoria do desenvolvimento
nismo humano durante sua jornada, desde a concepção, passando cognitivo, é um exemplo de teórico que reconheceu o importante
pela maturidade, até a morte, e também o modo como isso aconte- papel do movimento, em especial durantes os primeiros anos de
ce. O desenvolvimento é um processo contínuo, que abrange todas vida. O trabalho de Piaget fez muito para disseminar as noções de
as dimensões inter-relacionadas de nossa existência, e é preciso que o desenvolvimento perceptivo- -motor e a prontidão conceitual
tomar cuidado para não considerarmos essas dimensões como au- acadêmica podem ser incrementados por meio do movimento.
tônomas ou como limitadas aos anos de crescimento da infância. O domínio afetivo, relacionado ao estudo do movimento hu-
Os adultos estão tão envolvidos no processo de desenvolvi- mano, envolve sentimentos e emoções aplicadas ao próprio indiví-
mento quanto as criancinhas mais novas. Os elementos da matu- duo e aos outros por meio do movimento. A segurança nos movi-
ração e da experiência entrelaçados desempenham papéis-chave mentos, a competência percebida, o autoconceito e a socialização
no processo de desenvolvimento. Maturação refere-se a mudanças cultural são áreas de interesse dos estudantes do desenvolvimento
qualitativas, que permitem a progressão até níveis mais elevados motor. A segurança nos movimentos é a confiança do indivíduo na
de funcionamento. Quando vista a partir de uma perspectiva bioló- própria capacidade de satisfazer as demandas de várias tarefas de
gica, a maturação é primordialmente inata; ou seja, é determinada movimentos. A competência percebida é a percepção do potencial
geneticamente e resistente a influências externas ou ambientais. para o sucesso em todas as áreas, incluindo o movimento. O auto-
A maturação é caracterizada por uma ordem de progressão conceito é a avaliação que a pessoa faz do seu próprio valor.
fixa, em que o ritmo pode variar, mas a sequência de surgimento Ele é influenciado por uma série de fatores, sendo o movimen-
das características, em geral, não varia. Por exemplo, a progressão e to um deles. A socialização cultural é o nível de interação social evi-
a idade aproximada em que um bebê começa a sentar, a ficar de pé denciado pelo indivíduo. O comportamento de jogo tem uma base
e a caminhar são muito influenciadas pela maturação. A sequência de desenvolvimento que se manifesta na mudança das relações
de surgimento dessas capacidades de movimento geralmente é fixa entre os pares e níveis mais sofisticados de funcionamento. A capa-
e resistente a mudanças, sendo que apenas o ritmo do surgimento cidade de brincar também é vista pelos biólogos como uma ativida-
se altera em função de influências ambientais, como o aprendizado de vital para o desenvolvimento do cérebro (Fagen, 1992; Bergen e
e a experiência. Coscia, 2000; Bergen, 2004).
Experiência refere-se a fatores no ambiente que podem alterar
o aparecimento de várias características do desenvolvimento ao lon- CONCEITO 1.10
go do processo de aprendizado. As experiências da criança podem O comportamento humano pode ser classificado em três domí-
afetar o ritmo de surgimento de determinados padrões de compor- nios: psicomotor, cognitivo e afetivo. Essas definições dos domínios
tamento. Os aspectos do desenvolvimento, tanto da maturação como psicomotor, cognitivo e afetivo, em relação ao modo como eles in-
da experiência, estão entrelaçados. Determinar a contribuição isolada fluenciam os processos do desenvolvimento e são influenciados por
de cada um desses processos é impossível. Na literatura, um caloroso eles, permitem- -nos esclarecer uma série de termos do domínio
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CONHECIMENTOS
psicomotor que contém as palavras motor ou movimento (ver Tab. 1.3). O que se segue não é apenas um exercício de semântica. As pala-
vras refletem conceitos e transmitem ideias. É importante analisar aquelas que possuem significados similares, pois diferenças, inclusive
sutis, nas definições podem gerar confusão e falta de clareza.
O domínio psicomotor
No estudo do movimento humano, o termo motor, quando usado sozinho, refere-se a fatores biológicos e mecânicos subjacentes que
influenciam o movimento. Entretanto, raramente esse termo é usado de modo isolado, geralmente ele é incluído como sufixo ou prefixo
em palavras como psicomotor, perceptivo-motor, sensório-motor, aprendizado motor, controle motor, desenvolvimento motor, perfor-
mance motora e capacidades motoras.
Os termos psicomotor, perceptivo-motor e sensório- -motor ganharam popularidade no jargão de psicólogos e educadores. Os ci-
nesiólogos, por sua vez, tendem a limitar o uso dos prefixos dessas palavras em discussões que focam aspectos específicos do processo
motor. Em outras palavras, o termo motor é usado como prefixo para descrever áreas de estudo específicas.
A seguir, apresentamos uma breve descrição de vários desses termos, uma vez que são comumente usados. Aprendizado é um pro-
cesso interno que resulta em mudanças consistentes no comportamento, vistas como uma prova da sua ocorrência. Aprender é resultado
de experiência, educação e treinamento, interagindo com os processos biológicos. Delineia-se, em grande parte, pelo estado de desenvol-
vimento do indivíduo e é uma função da prática.
O aprendizado é um fenômeno em que a experiência é pré-requisito, enquanto o desenvolvimento é um processo que pode ocorrer
de modo relativamente independente da experiência. O movimento é considerado essencial ao aprendizado – “o movimento é parte in-
dispensável do aprendizado e do pensamento, assim como parte integrante do processo mental” (Blakemore, 2003, p. 22). Aprendizado
motor, portanto, é o aspecto do aprendizado em que o movimento desempenha a principal parte.
O aprendizado motor é uma mudança relativamente permanente no comportamento motor, resultando da prática ou da experiência
passada. Habilidade motora é uma tarefa ou ação de movimento voluntária, aprendida, orientada para um objetivo, realizada por uma ou
mais partes do corpo. É importante observar que a definição de habilidade, como usada aqui, é de uma ação aprendida, que tem um ob-
jetivo específico e, em resultado disso, é de natureza voluntária e exige a movimentação de alguma parte ou partes da anatomia humana
(i.e., corpo, membros e/ou cabeça).
Os movimentos reflexos não se enquadram nessa definição e não são considerados habilidades motoras. O mesmo vale para os mo-
vimentos de base genética (i.e., de maturação), como rastejar e engatinhar, e aqueles considerados como capacidades do movimento ru-
dimentar do bebê. Comportamento motor é um termo genérico referente a mudanças no controle do aprendizado e do desenvolvimento
motor e que abrange fatores de aprendizado e processos de maturação associados com a performance nos movimentos.
A pesquisa na área do comportamento motor trata do estudo do aprendizado, controle e desenvolvimento motor. Controle motor é o
aspecto do aprendizado e do desenvolvimento motor que lida com o estudo dos mecanismos neurais e físicos subjacentes ao movimento
humano. A pesquisa nessa área observa processos subjacentes, envolvidos na performance de um ato de movimento consistente de um
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CONHECIMENTOS
teste para outro. A maior parte da pesquisa atual sobre desenvolvi- movimento” relativo à habilidade. Além disso, na habilidade de mo-
mento motor, especialmente aquela realizada a partir da perspec- vimento, enfatiza-se a precisão e limitam-se os movimentos irrele-
tiva dos sistemas dinâmicos, aborda o desenvolvimento a partir do vantes; em um padrão de movimento fundamental, enfatiza-se o
ponto de vista dos mecanismos de controle. movimento e limita-se a precisão, que não é vista necessariamente
Desenvolvimento motor é a mudança contínua no comporta- como um objetivo.
mento motor ao longo do ciclo da vida. Ele é estudado como um Habilidade esportiva é o refinamento ou a combinação de
“processo” e não como um “produto”. Como processo, o desen- padrões de movimentos fundamentais ou de habilidades de mo-
volvimento motor envolve o estudo das demandas subjacentes vimento na execução de uma atividade relativa ao esporte. Os pa-
biológicas, ambientais e de tarefa que influenciam mudanças no drões de movimentos fundamentais de girar o corpo e bater podem
comportamento motor desde a infância até a velhice. Na qualidade ser desenvolvidos até um grau elevado de precisão e aplicados de
de produto, o desenvolvimento motor pode ser considerado como forma horizontal para fazer a rebatida no beisebol ou de forma ver-
uma mudança descritiva ou normativa ao longo do tempo sendo tical, para jogar golfe ou executar o serviço do tênis. A performance
visto como mudanças no comportamento e na performance moto- de uma habilidade esportiva exige a realização de alterações cada
ra relacionadas à idade. Performance motora é o ato de colocar em vez mais precisas nos padrões básicos de movimento para alcançar
prática uma habilidade de movimento. níveis de habilidade mais elevados.
Como tal, pode ser observada diretamente, e o seu resultado
pode ser avaliado no aspecto quantitativo por meio de alguma for- CLASSIFICAÇÃO DAS HABILIDADES DE MOVIMENTOS
ma de medição. Por exemplo, a velocidade com que você percorreu Há uma série de esquemas para classificar as habilidades de
50 m e a distância percorrida pela bola que você arremessou são movimentos. Tradicionalmente, a maioria tem sido unidimensional.
medidas da sua performance motora na corrida e no arremesso, Ou seja, eles tratam de apenas um aspecto da habilidade de movi-
respectivamente. mento ao longo de um âmbito amplo. As taxonomias bidimensio-
nais são um modo mais abrangente de classificar as habilidades de
CONCEITO 1.11 movimentos. Ambos os tipos são discutidos nas seções seguintes.
Comportamento motor é um termo genérico que abrange
áreas de estudo complementares, mas essencialmente diferentes, CONCEITO 1.12
envolvendo aprendizado, controle e desenvolvimento motor. For- Embora haja uma série de esquemas uni e bidimensionais úteis
mas de movimento O termo movimento refere-se a mudanças ob- para a classificação dos movimentos, nenhum deles captura com-
serváveis na posição de qualquer parte do corpo. O movimento é o pletamente a amplitude, a profundidade e o escopo do movimento
ato culminante de processos motores subjacentes. A palavra movi- humano. Esquemas unidimensionais Quatro modos de classificação
mento com frequência acompanha outras para ampliar ou esclare- das habilidades de movimento ao longo de uma única dimensão
cer o significado delas, mas, em geral, refere-se ao ato evidente de ganharam popularidade ao longo dos anos:
movimentar-se. (1) muscular,
A seguir, apresentamos uma breve descrição de alguns termos (2) temporal,
do movimento, como são comumente usados. Padrão de movimen- (3) ambiental e
to são séries organizadas de movimentos relacionados. De forma (4) funcional.
mais específica, um padrão de movimento representa a performan-
ce de um movimento isolado que, em ou de si mesmo, é restrito Cada um deles é explicado brevemente nos parágrafos seguin-
demais para ser classificado como um padrão de movimento funda- tes e apresentados em forma de esquema na Tabela 1.4.
mental. Por exemplo, os padrões de mover o braço lateralmente ao
corpo, mover o antebraço ou elevar ao máximo o braço, sozinhos, Aspectos musculares do movimento
não constituem os movimentos fundamentais da batida ou do ar- Não há fronteiras claras entre os termos amplo e fino, mas os
remesso; eles representam somente séries de movimentos organi- movimentos com frequência são classificados com um desses dois
zados. Padrão de movimento fundamental refere-se à performance adjetivos. O movimento motor amplo envolve o movimento de
observável de movimentos básicos de locomoção, de manipulação músculos grandes do corpo. A maioria das habilidades esportivas é
e de estabilização. Os padrões de movimento fundamentais envol- classificada como movimentos motores amplos, com exceção, tal-
vem a combinação de padrões de movimento de dois ou mais seg- vez, do tiro, da esgrima e de algumas outras.
mentos corporais. O movimento motor fino envolve movimentos limitados das
Correr e saltar, bater e arremessar, virar e girar são exemplos, partes do corpo na performance de movimentos precisos. Manipu-
respectivamente, de padrões de movimentos fundamentais de lo- lação do bordado, caligrafia e datilografia em geral são considera-
comoção, de manipulação e de estabilidade. Embora os termos pa- dos movimentos motores finos. Os fisioterapeutas e os professores
drões de movimento e habilidade de movimento com frequência de educação física preocupam- -se, essencialmente, com o aprendi-
sejam usados como sinônimos e habilidade de movimento seja o zado ou o reaprendizado de habilidades motoras amplas, enquanto
mesmo que habilidade motora, há uma diferença sutil de ênfase. o terapeuta ocupacional e os técnicos com frequência ocupam-se
Enquanto a habilidade “motora” enfatiza as contribuições relativas dos aspectos motores finos do movimento hábil.
dos mecanismos subjacentes (neurais, musculares, biomecânicos, Aspectos temporais do movimento
perceptivos), a habilidade “de movimento” enfatiza o que pode ser Com base nos aspectos temporais, o movimento pode ser clas-
visto na observação a olho nu. sificado também como discreto, serial ou contínuo. O movimento
Em outras palavras, o cientista que trabalha no laboratório discreto tem um começo e um fim definidos. Saltar, arremessar,
tende a focar os aspectos “motores” da habilidade, enquanto o chutar e rebater uma bola são exemplos desse tipo de movimentos.
profissional do campo tende a focar os aspectos observáveis “do
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CONHECIMENTOS
Os movimentos seriais envolvem a performance de um único movimento discreto várias vezes em rápida sucessão. Pular corda ritmica-
mente, fazer dribles no basquetebol, voleios no futebol e rebatidas no voleibol são tarefas seriais típicas. Os movimentos contínuos são
aqueles repetidos durante um tempo específico.
Correr, nadar e pedalar são movimentos contínuos comuns.
Ela precisa adaptar-se às demandas da atividade por meio de uma série de movimentos similares, porém diferentes. A performance
de uma tarefa de movimento aberta difere marcadamente da de uma tarefa de movimento fechada. A tarefa fechada é “uma habilidade
motora desempenhada em um ambiente estável e previsível, em que o executante determina quando começar a ação” (Magill, 2010, p.
9). A habilidade de movimento ou o padrão de movimento fundamental fechado demanda rigidez na performance.
Ele depende mais do feedback cinestésico do que do visual e auditivo para a realização da tarefa. Ao plantar bananeira, fazer um ar-
remesso ao alvo ou dar um salto vertical, a criança está realizando uma tarefa de movimento fechada.
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CONHECIMENTOS
Aquelas que envolvem transmitir força a um objeto ou receber força dele são tarefas de manipulação de objetos. Arremessar, apanhar,
chutar uma bola de futebol, rebater no beisebol e driblar no basquetebol são atividades de manipulação comuns. O leitor deve tomar
cuidado para não ser arbitrário na classificação do movimento nos esquemas uni ou bidimensionais. Nem sempre é possível ou desejável
separar e classificar distintamente os movimentos. Nós somos seres humanos moventes e dinâmicos e respondemos constantemente a
muitos fatores ambientais sutis e a demandas das tarefas de movimento. A classificação arbitrária do movimento deve servir apenas para
focar a atenção no aspecto específico do movimento que está sendo considerado.
Modelos bidimensionais
Os modelos bidimensionais de classificação das habilidades de movimento, embora ainda descritivos, são, de certo modo, mais com-
pletos para o reconhecimento da complexidade do movimento humano. Eles oferecem recursos mais sofisticados para visualizar o movi-
mento do modo como ele ocorre e ao longo de um continuum, do simples ao complexo e do geral ao específico. O modelo bidimensional
proposto por Gentile (2000) foca o processo do aprendizado da habilidade motora. O modelo proposto pelo autor-sênior deste livro, em
sua primeira versão, em 1972 (Gallahue, Werner e Luedke, 1972), e expandido ao longo de sua carreira profissional foca os produtos do
desenvolvimento motor. Ambos são discutidos de forma breve nos parágrafos a seguir e estão esquematizados nas Tabelas 1.5 e 1.6, res-
pectivamente.
O modelo bidimensional de Gentile (2000) Gentile (2000) foi além das abordagens unidimensionais de classificação das habilidades de
movimento. O seu esquema bidimensional leva em conta: (1) o contexto ambiental em que a tarefa de movimento é realizada e (2) a fun-
ção pretendida. Embora a intenção original dessa taxonomia fosse ajudar os fisioterapeutas em seus esforços de reabilitação, ela também
fornece uma estrutura de trabalho para determinação de sessões práticas e rotinas de treinamento para todos os interessados em ensinar
habilidades de movimento. A primeira dimensão lida com o contexto ambiental da tarefa de movimento a ser executada.
De acordo com Gentile, o contexto ambiental refere-se à existência de condições reguladoras estacionárias ou móveis e com ou sem
variabilidade entre tentativas. Quando as condições reguladoras durante a performance de uma habilidade são estacionárias, o contexto
ambiental não muda. Nesse caso, pode não haver variabilidade entre as tentativas, como em uma tarefa completamente fechada, ao
sentar-se em uma cadeira ou levantar-se dela; ou, então, pode haver variabilidade entre tentativas, como em uma tarefa de movimento
moderadamente fechada, ao sentar-se em locais com alturas variadas ou levantar-se desses locais.
Entretanto, quando as condições reguladoras do ambiente são móveis, também pode não haver variabilidade entre tentativas, como
em uma habilidade de movimento moderadamente aberta, ao sentar- -se em uma bola de exercício grande; ou então haver variabilidade
entre as tentativas, como em uma tarefa de movimento completamente aberto, ao sentar-se em uma bola de exercício grande e balançar-
-se sem apoiar os pés no chão. A segunda dimensão do esquema bidimensional de Gentile para classificação das habilidades de movimen-
to lida com a função pretendida da tarefa de movimento (ou seja, com a categoria do movimento).
A orientação do corpo do indivíduo pode focar a estabilidade ou a locomoção (Gentile usa o termo “transporte do corpo”), que ocorre
com ou sem a manipulação de objetos. Dedique alguns minutos ao estudo da Tabela 1.5 e dos exemplos fornecidos nela. Observe que
os exemplos de movimento são dados em uma progressão de dificuldade pré-definida, da esquerda para a direita e de cima para baixo.
Por exemplo, o quadrante superior esquerdo, o menos complexo, enfatiza a estabilidade corporal sem manipulação de objetos; nele há
condições ambientais reguladoras estacionárias, sem variabilidade entre tentativas.
Enquadram-se aqui as habilidades de movimento completamente fechado, como sentar-se ou levantar-se. Entretanto, as habilidades
de movimento no quadrante inferior direito, as mais complexas, enfatizam o transporte do corpo (locomoção) com manipulação de algum
objeto, em condições ambientais reguladoras móveis e com variabilidade entre as tentativas. Habilidades de movimento completamente
aberto, como pular para pegar uma bola no beisebol ou no basquetebol ou fazer um passe em movimento no jogo de futebol, são encon-
tradas nessa parte da taxonomia.
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CONHECIMENTOS
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CONHECIMENTOS
O esquema de duas dimensões de Gentile para classificação das habilidades soluciona muitos dos problemas encontrados nos esque-
mas de uma dimensão. Identificando onde a tarefa de movimento desejada se encontra ao longo da linha de 16 categorias, o fisiotera-
peuta ou o professor pode determinar o grau de excelência com que o aprendiz executa a tarefa, alterando o contexto ambiental. Assim,
é possível escolher a progressão de aprendizado mais apropriada, com base no ponto onde o aprendiz realmente se encontra e não onde
deveria se encontrar.
ESQUEMAS MULTIDIMENSIONAIS
Na realidade, quando aplicamos a mudança e o aprendizado desenvolvimentista ao mundo real, não usamos os esquemas unidimen-
sionais nem mesmo os bidimensionais. Instrutores experientes usam, é claro, modos multidimensionais para lidar com o aprendiz. Além
de considerar uma ampla variedade de importantes fatores cognitivos e afetivos, o instrutor (pais, professores, técnicos, fisioterapeutas)
primeiro determina os principais objetivos do aprendizado das habilidades (o objetivo é ensinar habilidades para as tarefas cotidianas,
para participação em atividades de lazer ou para envolvimento em algum esporte?).
Para isso, é preciso determinar o seguinte:
1. Em que fase do desenvolvimento motor (reflexiva, rudimentar, fundamental ou especializada) está o aprendiz?
2. Qual é o nível de aprendizado da habilidade de movimento do aprendiz (inicial, intermediário ou avançado)?
3. Qual é o tipo da tarefa de movimento (habilidade ampla/fina, discreta/serial/contínua, de locomoção/manipulação/estabilidade; e
em que condições, fechadas ou abertas, deve ser realizada)?
4. Quais são as exigências da performance da tarefa (o que é necessário em termos de força e resistência muscular, flexibilidade arti-
cular, resistência aeróbia, velocidade, agilidade, potência e equilíbrio)?
Tendo informações sobre esses quatro itens, o instrutor pode começar a fazer escolhas conscientes, determinando o que, quando,
onde e, mais importante, como ensinar determinada habilidade ou combinação de habilidades de movimento.
A Tabela 1.7 fornece um exemplo esquemático de rubrica de instrução de habilidade multidimensional.
Fonte
GALLAHUE, D. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte Editora, 2004.
Cap. 1 Disponível em:
http://srvd.grupoa.com.br/uploads/imagensExtra//legado/G/GALLAHUE_David_L/Compr_Desenvolv_Motor_7ed/Lib/Cap_01.pdf
Introdução ao Movimento
Movimento é a mudança de um corpo baseado em um ponto referencial. Portanto percebemos que este ponto referencial é impor-
tante. Um corpo pode estar em movimento para um observador, e parado para outro observador.
Por exemplo: Para um passageiro que está sentado dentro de um ônibus. Esse passageiro em relação ao ônibus está parado, já em
relação ao planeta Terra está em movimento.
Dentro da física temos a mecânica que é a área estática que trata os corpos sem movimento, temos a área da cinemática que descreve
os movimentos e área da cinética que trata das suas causas.
Causas do Movimento
Para que um movimento ocorra, deve-se sair do seu estado inicial de Inércia, com a aplicação de uma força. Basta pensarmos eu um
treino, é necessária uma força para que ocorra o movimento necessário.
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CONHECIMENTOS
• Força: é o agente da dinâmica, responsável por alterar o esta- O corpo humano executa movimentos angulares por isso con-
do de repouso do movimento de um corpo. segue executar a maioria dos movimentos pelas suas articulações.
• Inércia: é a tendência de um corpo em se manter em seu Conforme estudado, sabemos que a força é um fator que de-
estado inicial, onde só pode ser alterada por meio da aplicação de termina e modifica o movimento, um movimento pode ser modifi-
uma força. cado também pelo atrito.
Estes fatores são utilizados pelos atletas para aproveitarem
As forças podem ser classificadas como internas ou externas. oportunidades em seu desempenho.
As forças externas causam o deslocamento enquanto as internas
são as musculares que atuam internamente no corpo.
Dentro do contexto da educação física temos a biomecânica,
que é uma disciplina que integra a parte biológica e a mecânica
como o próprio nome diz. A biomecânica é importantíssima para os
esportes de forma geral, tem trazido um grande melhoria na análise
e técnica desportiva, desenvolvimento de equipamentos adequa-
dos e parâmetros para análise e aplicação do movimento.
Tipos de Movimentos
Dentro do nosso estudo vamos resumir apenas em dois movi-
mentos: linear e angular, apesar de existirem outros tipos de movi-
mentos.
O ser-humano pode expressar-se através do movimento. A de-
• O Movimento é Linear quando o corpo pode se mover por
finição de corporeidade está relacionada com a comunicação do
completo de um lugar para o outro. Este movimento pode ser retilí-
mundo exterior com o mundo interior. Desta forma existem vários
neo ou curvilíneo.
movimentos, como por exemplo: correr, andar, pular que fazem
– Movimento Linear Retilíneo: Movimento em Linha Reta.
este papel.
– Movimento Linear Curvilíneo: Movimento em Curva.
As manifestações corporais estão presentes em diversos seg-
mentos, mas dentro do nosso contexto estamos focando no movi-
mento.
Desde a pré-história esta noção de corporeidade é refletida
através da caça e outras pelo instinto de sobrevivência. Na edu-
cação física escolar as manifestações que expressam arte, jogos e
atividades em geral demonstram a comunicação através de gestos,
estímulos visuais, sensoriais etc.
Basta pensarmos em uma partida de futebol, ou até mesmo
em uma manifestação artística qualquer. A comunicação não verbal
ocorre entre os participantes e com o público de forma geral. Den-
tro deste contexto são usados códigos e convenções para expres-
sar-se. Estes códigos e convenções são gestos usuais padronizados
que o ser humano entende, ou até mesmo podem ser combinados
pelos integrantes para a execução de uma tarefa específica.
Ou seja: Códigos e convenções são gestos usuais padronizados
ou combinados que o ser humano entende para executar uma ação.
Linguagem do corpo
Temos também uma linguagem interna para realizar os movi-
mentos, desta forma ocorrem os impulsos nervosos que estabele-
cem a comunicação do corpo.
Dentro do contexto estudado temos a comunicação interna e a
externa. Muitos estudiosos dentro desta linha criaram várias técni-
cas e comprovaram sua eficácia.
• O Movimento é Angular quando o corpo gira em torno de um Vamos citar como exemplo o Método Pilates, criado por Joseph
determinado centro. Pilates para ilustrar:
Pelas imagens acima verificamos que corpo pode executar am-
bos os movimentos simultaneamente. Por exemplo: Temos movi- • Concentração: Durante o exercício é priorizada a concentra-
mento lineares (troca de posição) e temos movimentos angulares ção para conectar o corpo e a mente para estabelecer uma comuni-
internos no corpo do atleta em relação a sua musculatura; temos cação eficaz. Desta forma o movimento efetuado é preciso e atinge
também movimentos angulares ao redor de um determinado eixo o objetivo final. O Método Pilates prioriza a qualidade não a quan-
e temos movimento angulares em torno do próprio centro de gra- tidade, sendo este um de seus princípios.
vidade.
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CONHECIMENTOS
Outros itens que advém da concentração são: respiração, pre- Sistema Nervoso Central e sua relação com os tipos de movi-
cisão, força, coordenação, fluidez do movimento e relaxamento. mento
Dentro deste conceito, Pilates estabeleceu uma série de movi-
mentos que abordam estes itens. Esses princípios são muito impor-
tantes, mesmo para a execução de outros movimentos, pois eles
deverão ser executados de forma precisa para atingir seu objetivo.
AS TRANSFORMAÇÕES DO MOVIMENTO
As transformações do movimento humano estão relacionadas As atividades psicomotoras são aquelas em que existe a in-
ao desenvolvimento psicomotor em harmonia com o aperfeiçoa- teração entre o movimento muscular e o sistema nervoso. Como
mento social e cognitivo. relatado, elas são importantíssimas em qualquer fase da vida. São
exemplos: andar, correr, andar de bicicleta, etc.
Desenvolvimento Humano e período evolutivos
OS BENEFICIOS DO MOVIMENTO
Mesmo antes do nascimento o corpo humano movimenta-se.
É parte integrante do nosso ser, existem inúmeros benefícios que
advém disso. Aqui citaremos alguns:
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CONHECIMENTOS
seus membros uns em relação aos outros, fará uma transposição de Desse modo, realizar um movimento com o lado não dominan-
suas descobertas: progressivamente localizará os objetos, as pes- te, quando não lateralizada, faz com que este hemisfério assuma
soas, os acontecimentos em relação a si, depois entre eles”. (CAU- uma atribuição correspondente à outra parte do cérebro, acarre-
DURO, 2002, p. 84). tando em desordem no sistema nervoso, gastos de neurônios e
É necessária que esta habilidade seja bem desenvolvida por queima de energia.
ter uma relação direta com as demais habilidades motoras, como O problema dessa desorganização talvez seja pouco visível num
a lateralidade. primeiro momento, mas poderá ser flagrante no futuro. Para inte-
lectualizar o movimento que poderia ser espontâneo, gastamos um
Lateralidade extra de energia. Este ato de ambidestria oportuniza a hipermetro-
A lateralidade não é algo que possa ser aprendido, uma vez que pia em grau bem elevado porque, ao se contrariar o caráter domi-
é definida através do sistema nervoso central e sua predominância nante, foram utilizados os neurônios da área cerebral responsável
se estrutura na evolução da criança. pela visão e a sobrecarga de atividades submeteu-os a um stress.
A lateralização, como resultado da integração bilateral postural Da mesma forma, o estrabismo e a gagueira, muitas vezes,
do corpo, é peculiar no ser humano e está implicitamente relacio- explicam-se pela contrariedade de dominância. E no caso de um
nada com a evolução e utilização dos instrumentos (motricidade acidente cerebral (AVC) ou “ataque cardíaco”, o ambidestro corre o
instrumental – psicomotricidade), isto é, com integrações sensoriais risco de não ter energia de reserva para passar pela emergência ou
complexas e com aquisições motoras unilaterais muito especializa- suportar bem uma recuperação. (CAUDURO, 2002, p.67).
das, dinâmicas e de origem social. (CAUDURO, 2002, p. 62). Cabe ao professor, entender esse processo de evolução da
O processo de lateralização compreende a identificação das criança e respeitar seu amadurecimento neurológico.
partes do corpo em si próprio e no outro, inclusive noções de espa-
ço-tempo, e pode ser percebido em atividades que se faz uso fre- Direção
quente de uma das mãos ou um dos pés/pernas, tendo o cuidado A relação direita e esquerda é uma aquisição possível quando
de considerar lateralizadas as crianças que não fazem mais a troca a função de interiorização é trabalhada suficientemente e quando a
de mãos ou pés na execução das atividades, pois como afirma Ec- criança apresenta condições de apoiar-se nas suas próprias sensa-
kert: ções sinestésicas, pois se cogitada precocemente acarretará em in-
Durante a lactância e ainda na infância, há uma considerável segurança na criança que freará seu desenvolvimento, repercutindo
permuta do uso de uma das mãos e de ambas as mãos até a domi- inclusive nos aprendizados escolares. (LE BOULCH, 1982).
nância unilateral ser eventualmente alcançada ou, como em alguns Essa interiorização como mencionada anteriormente é a latera-
casos, a criança desenvolve um alto grau de ambidestreza que é lidade, exercendo grande importância quanto às noções de direção:
usualmente conseguida por crianças que estão classificadas como esquerda e direita, isso porque como colocava Cauduro (2002), se a
dominantes unilateralmente. [...]. (1993, p. 124). criança trabalha naturalmente com tal mão, memorizará facilmente
Mattos e Neira (2008) enfatizavam que a questão genética e se esta é esquerda ou direita, porém se não há uma definição de
as experiências culturais exercem influência sobre a lateralização e predominância, ela confundirá esses termos.
que ao impor certa escolha à criança ter-se-á conseqüências terrí- Gallahue e Ozmun (2005, p. 316) aprofunda bem essa relação
veis para a mesma, como eles mesmos destacam: lateralidade e direção, através da seguinte definição para orienta-
ção direcional: “Direcionalidade é a projeção da lateralidade. Ela dá
Presenciamos, em nossa vivência como alfabetizadores, crian- dimensão a objetos no espaço. A direcionalidade exata depende da
ças que iniciavam suas produções escritas pelo lado direito da folha lateralidade adequadamente estabelecida. [...]”.
e seguiam escrevendo no sentido direita-esquerda até o final, es-
pelhando todas as letras. Estas crianças eram aquelas que faziam Desse modo, faz-se necessário entender que direção é muito
uso da mão direita somente por ocasião da escrita, nas outras ati- além de direita e esquerda, é para onde o corpo se desloca: para
vidades, escolares ou não, utilizavam-se dos segmentos do lado es- um lado, para outro, para frente, para trás, para cima, para baixo,
querdo. Pensamos nas dificuldades enfrentadas por estas crianças, em diagonal. (CAUDURO, 2002). Le Boulch (1982), entretanto, já de-
no sofrimento cotidiano de estarem obrigadas a trabalhar assim. finia, aprofundando mais as relações:
(MATTOS NEIRA, 2008, p. 30). [...] Logo que a criança é capaz de nomear as partes do corpo,
Já dizia Oliveira (1997), a predominância por uma determinada será necessário que estabeleça as relações espaciais entre elas. O
lateralidade decorre do aprendizado, seja por imposição, imitação trabalho de percepção do espaço lhe permitirá estabelecer relações
ou questão afetiva, porém, deve-se relevar que pequenas ações do tipo: ao lado, de cada lado, em cima, embaixo, mais em cima,
como segurar o garfo ou o lápis com determinada mão não signifi- mais embaixo, no meio, dentro, fora, servindo de suporte para si-
cam uma atitude à toa, é preciso respeitar tal escolha, evitando que tuar as diferentes partes do corpo.
a criança seja forçada a realizar ações com o lado que não domina. No que concerne à orientação do corpo, as noções de acima-
Para uma maior compreensão do quanto contrariar a escolha -abaixo e para frente-para trás são adquiridas precocemente, por-
da criança ou lhe provocar a ambidestria acarreta-lhe em danos, que elas correspondem a características referenciadas visualmente.
Cauduro (2002) explica esse fato ao funcionamento do cérebro, (LE BOULCH, 1982, p. 177).
exatamente porque é nele que se encontram diferentes funções Um mau desenvolvimento do conceito de direção na criança
correspondentes às suas partes. Assim, nele, situam-se unilateral- provoca-lhe um fracasso no que diz respeito à leitura e à escrita,
mente os comandos verbais, relacionados com a palavra falada, visto que ela terá dificuldades em discriminar letras do alfabeto e
ouvida e escrita, no hemisfério esquerdo de indivíduos destros e números, prejudicando seu processo de aprendizagem.
no direito de canhotos, respondendo aos estímulos específicos de
sua área.
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CONHECIMENTOS
É normal a criança de 4-5 anos de idade confundir estes con- perceptiva e mental, correspondem aos aspectos fundamentais da
ceitos de direção, mas torna-se preocupante quando aos 6-7 anos função muscular, a qual deve assegurar a relação com o mundo ex-
ainda permanecer essa confusão. Confundem letras como b, d, p e terior graças aos deslocamentos e aos movimentos do corpo (mobi-
q em que se diferenciam pela direção do ‘círculo’ e da ‘haste’; po- lidade) e assegurar a conservação do equilíbrio corporal, a infra-es-
dem inverter palavras inteiras como ‘gato’ lendo ‘toga’ e até mesmo trutura de toda ação diferenciada (tono). (ROSA NETO, 2002, p.20).
escrever e ver palavras de cabeça para baixo. (GALLAHUE; OZMUN, E ainda:
2005). A função tônica se apresenta em um plano fisiológico sob dois
Estimular a direção é preciso para que as crianças possam se aspectos: o tono de repouso, que é o estado de tensão permanente
desenvolver motoramente e intelectualmente, assim como se faz do músculo que se conserva inclusive durante o sono; o tono de ati-
essenciais as outras habilidades. tude, que é ordenado e harmonizado pelo jogo complexo dos refle-
xos da atitude, sendo eles resultado das sensações proprioceptivas
Equilíbrio e da soma dos estímulos provenientes do mundo exterior. (ROSA
Para Gallahue e Ozmun: “Equilíbrio é a habilidade de um in- NETO, 2002, p.20).
divíduo manter a postura de seu corpo inalterada, quando este é Cauduro (2002) classificava a tonicidade em hipotônicos e hi-
colocado em várias posições. [...] é básico para todo movimento e pertônicos. Hipotônicos são as crianças que apresentam excesso
é influenciado por estímulos visuais, táteis, cinestésicos e vestibula- de flacidez, (elas desmoronam sobre as mesas ou cadeiras) e as hi-
res. [...]”. (2005, p. 299). pertônicas são de rigidez extrema, caracterizam-se por rigidez no
Segundo Cauduro (2002) e Gallahue e Ozmun (2005) há duas maxilar e nas articulações do corpo. A postura é excessivamente
maneiras de classificar o equilíbrio, conforme a posição do corpo: o empertigada (duros).
equilíbrio estático e o equilíbrio dinâmico. Um exemplo muito observado em crianças, é este descrito por
Assim Eckert (1993, p. 265) também definia como: Mattos e Neira:
A manutenção de uma posição particular do corpo com um [...] Algumas crianças que contraem exaustivamente os mús-
mínimo de oscilação é referida como equilíbrio estático, enquan- culos dos seus segmentos, quando a atividade, na verdade, solici-
to equilíbrio dinâmico é considerado ser a manutenção de postura ta apenas uma leve contração (correr, escrever, pegar, empurrar),
durante o desempenho de uma habilidade motora que tenda a per- mostram pouco controle sobre suas ações, e o oposto também
turbar a orientação do corpo. ocorre, quando executam movimentos que implicariam grandes
Exemplos comuns de avaliação de equilíbrio, segundo Gallahue contrações (atividades que requerem força ou paralisação), fazem
e Ozmun (2005), para equilíbrio estático é o equilíbrio em um só uso de contrações insuficientes. Em tais casos, estas crianças de-
pé, ficar em pé na trave de equilíbrio e desempenhar o equilíbrio monstram pouco conhecimento (experiência) sobre como relaxar.
com vara, já para o equilíbrio dinâmico verifica-se o caminhar sobre (2008, p. 26).
linhas. Esta situação denota as paratonias, dificuldades em relaxar
A capacidade de o homem manter-se em equilíbrio está ligada voluntariamente os músculos, que diminuem conforme a criança
à sua postura ereta, à marcha bípede, à ação da gravidade e, inclu- avança na idade. Outro problema relacionado à tonicidade e ao ato
sive, ao tono de manutenção, que fornece suporte para a realização motor são as sincinesias, contrações parasitas próprias do membro
das ações motoras. É preciso que esses fatores apresentem-se em que deveria permanecer passivo quando o membro ativo realiza
harmonia para que o corpo não entre em desequilíbrio. uma tarefa. As sincinesias de reprodução, que produzem um mo-
Sob está mesma análise, Negrine (1987) explicava que o centro vimento de imitação, tendem a desaparecer conforme a criança
de gravidade refere-se ao ponto resultante das forças que a gravida- cresce, já as sincinesias tônicas, que permitem o desenvolvimento
de exerce sobre as diferentes partes do corpo, estando pouco acima do tônus em outros músculos que não intervém na atividade, ten-
da metade da altura, em adultos, a partir do solo. Para o autor, esse dem a não evoluir, mas continuam existindo em crianças maiores.
ponto encontra-se mais alto nas crianças, reduzindo em muito sua (ARRIBAS, 2002).
estabilidade quanto menor é a criança. A criança precisa fazer uso adequado de suas tensões muscu-
Em relação aos estímulos, o professor precisa contemplar essa lares, evitando contrações desnecessárias e uso indevido de alguns
habilidade a fim de que a criança se estruture bem e com harmonia músculos, porém o professor deve estar atento e ter conhecimento
corporal. sobre as hipotonias e hipertonias.
Tonicidade Coordenação
Conforme Le Boulch (1982), a contração tônica constituía a Ao se falar de coordenação, muitas pessoas já rotulam as
base das atividades motoras e posturais, de modo que prepara o crianças como coordenadas ou sem coordenação. Mas vale com-
movimento, sustenta o gesto e mantém a estática e o equilíbrio. preender que, conforme afirmava Cauduro (2001), todas as crian-
Assim, para a criança de idade pré-escolar, há a necessidade da pre- ças normais apresentam coordenação, porém podem apresentar
cisão da tonicidade por estar associada às diferentes coordenações. sequelas motoras ou falta de vivências quando queimam etapas
Além disso, a função tônica está relacionada com os aspectos ou não vivenciaram determinadas atividades, pois a coordenação
emocionais e afetivos, devido ao tono muscular servir como base é o equilíbrio entre o ritmo interno e o ritmo externo proposto nas
de sustentação e linguagem corporal. Aprofundando essa relação atividades.
para um melhor entendimento, Rosa Neto afirmava: A coordenação é determinada pelas contrações musculares e
A atividade tônica refere-se às atitudes e às posturas, e a ati- controlada pelo sistema nervoso, fazendo-se importante no movi-
vidade cinética está orientada para o mundo exterior. Essas duas mento do corpo com desenvoltura, habilidade e equilíbrio e no do-
orientações da atividade motriz (tônica e cinética), com a incessan- mínio do gesto e do instrumento. (OLIVEIRA, 1997).
te reciprocidade das atitudes, da sensibilidade e da acomodação
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CONHECIMENTOS
A coordenação exige que seus movimentos sejam organizados Cada ser humano apresenta um ritmo próprio, a partir do do-
e de forma ordenada e está relacionada às outras habilidades mo- mínio do seu corpo e a educação através do ritmo visa possibilitar
toras. a expressão motriz da criança, de modo que ela se liberte corpo-
Além disso, a coordenação apresenta-se como global e fina ralmente. Muitas vezes, o ritmo é entendido como dança, obvia-
conforme se faz uso dos músculos nos movimentos e que toda ação mente faz parte deste contexto, mas pode ser observado também
motora requer o uso da visão, isto é, para um movimento ter pre- em outros aspectos, como bater palmas, quicar a bola ou bater o
cisão é necessário que ele seja visualizado ao passo que se projeta brinquedo contra o chão, pois como afirma Arribas (2002), o ritmo
um objeto ou se faz contato com ele. Muitas vezes, por isso, a coor- faz parte do ser humano como algo natural, estando na base de sua
denação é apresentada sob os termos olho-mão e olho-pé como vida fisiológica, a respiração e o batimento do coração, e psíquica.
forma de expressar essa dependência. Cauduro (2002) divide em ritmo próprio, biológico e ritmo externo
Primeiramente, será abordada a coordenação global: social.
A coordenação global diz respeito à atividade dos grandes O ritmo deve ser valorizado, segundo Arribas (2002) por fa-
músculos. Depende da capacidade de equilíbrio postural do indiví- cilitar a relação entre as ordens do cérebro e sua execução pelos
duo. Este equilíbrio esta subordinado às sensações proprioceptivas membros. Crianças que não puderam exercitar livremente esta
cinestésicas e labirínticas. Através da movimentação e da experi- motricidade espontânea apresentam gestos estreitos, angulosos e
mentação, o individuo procura seu eixo corporal, vai se adaptando arrítmicos. (LE BOULCH, 1982).
e buscando um equilíbrio cada vez melhor. Consequentemente, vai O que se deve evidenciar é que a educação rítmica depende
coordenando seus movimentos, vai se conscientizando de seu cor- da educação do ouvido e da capacidade de assimilação da criança,
po e das posturas. Quanto maior o equilíbrio, mais econômica será para que ela interiorize adequadamente e possa executar com pre-
a atividade do sujeito e mais coordenada serão suas ações. (OLIVEI- cisão aos estímulos diversos.
RA, 1997, p. 41). Mediante o exercício rítmico, os jogos, as canções, será pos-
Na verdade, a criança por sua própria natureza vivencia essa sível conseguir a regularidade da pulsação, caminhando, batendo
coordenação, pois nela compreende-se o andar, o correr, o saltar, o palmas, etc. Existirá também uma coordenação de movimentos
rolar, o pular, o arrastar-se, o sentar entre outros. (voz-mãos, voz-pés, mãos-pés, etc.) com ou sem deslocamento.
Mas, mesmo assim, quando chega à escola, ainda encontram- Os refrões populares, as canções e os exercícios com movimento
-se crianças com dificuldades e cabe ao professor corrigir posturas contribuirão para fazer sentir a unidade e a proporção das frases.
inadequadas, sempre levando em conta as aquisições anteriores, (ARRIBAS, 2002, p. 169).
bem como vale o cuidado que o professor deve ter para com o alu- Em relação às atividades folclóricas e tradicionais que passam
no, como forma de auxiliá-lo e não prejudicá-lo ou deixá-lo retraído, de geração em geração, são importantes por possibilitarem um vas-
tímido. to número de exercícios corporais que despertam a imaginação e a
Quanto à coordenação fina, novamente, utiliza-se as palavras sensibilidade da criança. Porém, depende do professor aproveitar
de Oliveira: todos os aspectos corporais oferecidos por estes jogos populares,
A coordenação fina diz respeito à habilidade e destreza manual devendo partir de movimentos naturais e estimulando-os com sons.
e constitui um aspecto particular da coordenação global. Temos que Além de ter grande valor, o folclore infantil, transmitido de
ter condições de desenvolver formas diversas de pegar os diferen- geração em geração, mantém a tradição pitoresca, a simplicidade,
tes objetos. Uma coordenação elaborada dos dedos da mão facilita a carga afetiva e contribui para a educação rítmica e a formação
a aquisição de novos conhecimentos. É através do ato de preensão musical das crianças pequenas. Em particular, as crianças que tem
que uma criança vai descobrindo pouco a pouco os objetos de seu dificuldades em coordenação global encontrarão um suporte pri-
meio ambiente. [...]. (1997, p. 42). vilegiado para alcançar, com o movimento, uma certa harmonia e
Assim, movimentos manuais requerem muito o controle ocu- um certo bem-estar, fontes de prazer. Com efeito, o caráter coletivo
lar (coordenação óculo-manual ou viso motora), como é o caso da destas danças, a participação da professora, o canto que acompa-
escrita. nha, fazem com que cada criança possa participar ativamente, com
Para um bom entendimento, a coordenação viso motora diz alegria geral, e encontre, nesta atividade, uma segurança e uma
respeito à habilidade de acompanhar um objeto em movimento, situação favorável à expressão motora liberada. [...]. (LE BOULCH,
distinguindo formas e detalhes. 1982, p. 181).
Toda coordenação é necessária para que o movimento tenha Assim, a dança folclórica, principalmente de roda, permite à
sentido e seja organizado. É importante que o professor trabalhe criança desencadear muito mais que laços afetivos faz com que es-
adequadamente atividades e correções nesse sentido, evitando treite sua relação corporal com os demais, como ao se dar as mãos,
que as crianças apresentem sequelas motoras e as chamadas dis- estimulando as crianças mais tímidas e possibilitando uma organi-
praxias (distúrbios do desenvolvimento da coordenação motora). zação temporal.
Ritmo Espaço-tempo
Gallahue e Ozmun (2005) definiam ritmo como a repetição sin- Muitos autores definem essa habilidade como organizações
cronizada de eventos de tal modo vinculados, que formam padrões isoladas, ora é espacial e ora é temporal, mesmo que haja uma
reconhecíveis, sendo importante no desempenho coordenado de interdependência entre si, como explicavam Gallahue e Ozmun
qualquer ato e no desenvolvimento de um mundo temporal está- (2005). Para eles, a estrutura espacial é a base do desenvolvimento
vel. Assim, um movimento rítmico necessita da sucessão sincroni- perceptivo motor e compreende o conhecimento de quanto espa-
zada de eventos no tempo. ço o corpo ocupa e a habilidade de projetar o corpo efetivamente
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS
no espaço externo. E a orientação temporal é a aquisição de uma capacidade de estabelecer limites, início e fim e ao uso da memó-
estrutura temporal adequada em crianças, sendo despertada e refi- ria, comparando experiências anteriores ou avaliação à referências
nada ao mesmo tempo em que se desenvolve seu mundo espacial. externas. A percepção de ordem refere-se à sucessão de aconteci-
Como há a necessidade de uma sobre a outra, Cauduro (2001), mentos, seqüências, antes e depois. (ARRIBAS, 2002).
referia-se a esta habilidade como espaço-tempo, definindo-a a par- Desse modo, para Gallahue e Ozmun (2005), a orientação tem-
tir das noções de espaço relativas à dinâmica, à orientação e à es- poral está intimamente vinculada à interação de vários sistemas
trutura espacial com referência ao situar o presente em relação a musculares a muitas modalidades sensoriais. Quem não estabelece
um antes e um depois, lento e rápido. essa dimensão torna-se desajeitado ou estranho.
Para fins de melhor entendimento, será abordada esta habi- Quando a criança não atinge um ponto máximo de sua estrutu-
lidade a partir de definições isoladas que, de alguma forma, inte- ração ela apresenta dificuldades na leitura e escrita, bem como na
ragirão entre si e trarão melhores esclarecimentos em termos de realização das suas ações.
conceitos e necessidades de estimulá-la nas crianças, pois como Segundo Oliveira (1997), a palavra falada exige que seja emiti-
Oliveira (1997, p. 85) colocava. “[...] Uma pessoa só se movimenta da de forma ordenada, obedecendo a um domínio do ritmo, uma
em um espaço e tempo determinado. Não se pode conceber um sucessão de sons no tempo, uma memorização auditiva, uma dife-
sem falar no outro”. renciação de sons, um reconhecimento das freqüências e das dura-
Uma organização espacial adequada parte da necessidade que ções dos sons das palavras. Quanto às ações, Mattos e Neira (2008)
apresenta sobre o desenvolvimento. Mattos e Neira (2008) destaca- destacavam que terão insucessos, como não perceber o afastamen-
vam que ela possibilita à criança organizar-se diante do mundo que to dos colegas e modificar a trajetória da corrida, não identificar o
a cerca, organizar os objetos entre si, movimentá-los e colocá-los momento adequado de saltar a corda em movimento ou acompa-
em determinado lugar. Contudo, Oliveira (1997, p. 74), ia mais além: nhar a estrutura rítmica.
A estruturação espacial é essencial para que vivamos em socie- Esta habilidade faz-se importante porque todas as ações se dão
dade. É através do espaço e das relações espaciais que nos situamos em determinado tempo e influi diretamente no resultado desta
no meio em que vivemos, em que estabelecemos relações entre as ação.
coisas, em que fazemos observações, comparando-as, combinan- Faz-se necessário que as crianças explorem seu espaço, com-
do-as, vendo as semelhanças e diferenças entre elas. Nesta com- preendam as diferentes distâncias, direções e posicionamentos de
paração entre os objetos constatamos as características comuns a objetos e demais indivíduos no espaço. O recreio escolar é ótimo
eles (e as não comuns também). Através de um verdadeiro trabalho nesse sentido, mas cabe ao professor estimular essa habilidade em
mental, selecionamos, comparamos os diferentes objetos, extraí- referência a outros ambientes como a sala de aula, a quadra, a casa
mos, agrupamos, classificamos seus fatores comuns e chegamos de cada um e outras vivências também.28
aos conceitos destes objetos e às categorizações. [...]. Aos aspectos sobre conhecimentos sobre o corpo estão rela-
Quanto aos objetos, Le Boulch (1982, p. 199), afirmava que “[..] cionados os conhecimentos que subsidiam as práticas corporais
todo o objeto, desde o momento em que é nomeado, faz papel de expressas nos outros dois blocos, esporte, jogos, lutas e ginásticas,
organizador do espaço próximo circundante, permitindo construir o e atividades rítmicas e expressiva, dando recursos para o indiví-
espaço que rodeia. [...]”. É assim que a criança explora seu espaço a duo gerenciar sua atividade corporal de forma autônoma. O corpo
partir dos objetos: elas fixam o olhar para depois agarrá-lo. é compreendido como um organismo integrado, como um corpo
O que se observa é que a estruturação espacial não tem rela- vivo, que interage com o meio físico e cultural, que sente dor, prazer,
ção somente com os objetos e os indivíduos que rodeiam cada ser. alegria, medo. Abordam-se os conhecimentos anatômicos, fisioló-
Uma boa organização espacial atua no controle emocional da gicos, biomecânicos e bioquímicos que capacitam a análise crítica
criança e na sua vida relacional, favorecendo a segurança da criança do exercício físico, bem como a escolha e realização de atividades
e a perda do medo pelo desconhecido. Tem influência nas aprendi- corporais saudáveis. Esses conhecimentos são tratados de maneira
zagens escolares, como a leitura, a escrita, grafismos, noções mate- simplificada, abordando-se apenas os aspectos básicos, havendo
máticas básicas entre outros. (ARRIBAS, 2002). um aprofundamento no ciclo final da escolaridade, sempre contex-
Outros problemas relacionados à falta de organização espacial tualizando os conteúdos nas atividades corporais desenvolvidas.
correspondem à confusão de noção de lugar e orientação, confusão Os conhecimentos de anatomia referem-se principalmente
dos significados dos símbolos representados pelas letras gráficas, à estrutura muscular e óssea. Os conhecimentos de fisiologia são
não percebem posições, inclusive, não discriminam direção das aqueles básicos para compreender as alterações que ocorrem du-
letras, são desajeitadas, ‘bagunceiras’, não prevêem dimensão no rante as atividades físicas, (freqüência cardíaca, queima de calorias,
papel e confundem o que é dezena, centena e milhar. (OLIVEIRA, perda de água e sais minerais) e aquelas que ocorrem em longo
1997). prazo (melhora da condição cardiorrespiratória, aumento da massa
Em relação à organização temporal, Arribas (2002) e mais re- muscular, da força e da flexibilidade e diminuição de tecido adipo-
centemente Mattos e Neira (2008) destacavam que o movimento so). A bioquímica aborda conteúdos que subsidiam a fisiologia: al-
ocorre ao longo do tempo, tem um inicio, meio e fim, um antes, guns processos metabólicos de produção de energia, eliminação e
um durante e um depois. A ação motora deve prever sua duração, reposição de nutrientes básicos. Também fazem parte deste bloco,
o ritmo de execução e a distribuição dos componentes ao longo de a biomecânica, ou seja, conhecimentos sobre os hábitos posturais
um período de tempo. e atitudes corporais, analisando as posturas mais adequadas para
Ações cotidianas como atravessar uma rua ou pular corda des- fazer determinadas tarefas e para diferentes situações.
taca a organização temporal, que tem grande vínculo com o ritmo.
Os componentes do tempo apresentam-se em aspectos qua-
litativos (ordem) e quantitativos (duração) e o ritmo é a base da 28 Fonte: www.efdeportes.com - Vanusa Kerscner/Maria Teresa
experiência temporal. Na percepção de duração, compreende a Cauduro*
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CONHECIMENTOS
O corpo como sede de sensações e emoções deverá ser con- Dispensar esta preocupação é afastar um importante canal de
templado como conteúdo, de modo a permitir a compreensão da reflexão a ser incutida aos alunos, pois a arte de educar busca a in-
dimensão emocional que se expressa nas práticas da cultura corpo- tervenção salutar, de forma que toda oportunidade deve ser apro-
ral e a percepção do corpo sensível e emotivo por meio de vivências veitada ao máximo.29
corporais, como jogos dramáticos, massagem.
O conhecimento sobre o corpo tem seus aspectos históricos. MAGILL, R. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações.
Os autores Sanches Neto e Lorenzetto (2005) afirmam que o corpo São Paulo: Blucher, 2002,
tem um caráter polissêmico, com vários significados. Os conheci-
mentos sobre o corpo passam por atribuições de sentidos ao longo CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ÀS HABILIDADES MOTORAS
do tempo.
Conceito 1.1 – As habilidades motoras podem ser classifica-
Encontramos uma dicotomia marcante na Educação Física, a das em categorias gerais.
separação entre corpo e alma, e entre corpo e mente. Na histó- Aprendemos fazendo. A prática é tão importante no processo
ria encontramos maior valorização da alma, considerada modelo de aprendizagem que é explicitamente citada em sua definição. De
de perfeição, enquanto o corpo era inferior. A separação do corpo acordo com Magill (1989), a aprendizagem refere-se a uma mudan-
e mente fragmentou o ser humano, privilegiando a razão. O teo- ça na capacidade do indivíduo executar uma tarefa, mudança esta
centrismo de caráter religioso significava que Deus era o centro do que surge em função da prática e é inferida de uma melhoria relati-
universo, implicando o predomínio da alma, considerada imortal, vamente permanente no desempenho. Assim, a prática é condição
sobre o corpo. Após confrontos destas idéias, surgiu o antropocen- necessária embora não suficiente para que ocorra a aprendizagem.
trismo, com o ser humano no centro de tudo. Desde essa época Mas o que muda com a prática no comportamento humano?
surgiu um predomínio do pensamento objetivo e da racionalidade Qual é a natureza das mudanças que ocorrem com a aprendizagem
por meio das Ciências Positivas. As estruturas curriculares escolares e como podemos explicá-las. Diferentes níveis de análise podem ser
foram influenciadas pelo positivismo, ocasionando uma fragmenta- utilizados para responder à questão formulada e em cada um deles
ção entre teoria e prática. Assim a Educação Física deveria ocupar- diferentes referenciais teóricos podem ser encontrados. Isto signi-
-se do corpo, recebendo influências da Medicina e do Higienismo. fica que qualquer resposta sobre o que muda com a prática deve
Mais recentemente um tipo de “ecocentrismo”, em que o meio am- ser vista a partir do paradigma utilizado para descrever, explicar e
biente seria o centro de tudo, vem sendo proposto para estabelecer prever o fenômeno da aprendizagem.
uma consciência ambiental. Esta teoria deixa lacunas que seriam É difícil não associar a Educação Física à formação do atleta:
superadas pelo “auto-ecocentrismo”, no qual ocorre a integração certamente será mais fácil dedicar-se a atividades esportivas se a
entre corpo, mente, alma e o meio ambiente (SANCHES NETO e LO- criança adquirir habilidades motoras orientadas desde cedo. Mas
RENZETTO, 2005). isso também facilitará atividades cotidianas como dançar, dirigir,
A biomecânica ainda é encarada por muitos professores atuan- participar de jogos de lazer, trabalhar ou simplesmente fugir da
tes na educação básica e universidade como uma disciplina estuda- chuva numa calçada cheia de buracos. O trabalho orientado em
da por técnicos do desporto de alto rendimento ou por profissio- Educação Física busca a formação da pessoa «coordenada», como
nais que tenham profundo conhecimento de física e matemática se diz popularmente. E o êxito é resultado de um processo contínuo
(CORRÊA e FREIRE 2004). e sistemático de aprendizagem, que deve ser estimulado desde o
Freire citado por Correa e Freire (2004), afirma que a Educa- início da idade escolar.
ção Física escolar tem priorizado o conhecimento motor, as aulas Desde quando nascemos, somos levados a nos mexer, e isso,
enfocam o saber fazer determinadas habilidades motoras, típicas normalmente não para, vai evoluindo, vai crescendo, melhorando
de modalidades esportivas. Este processo de aprendizado tem sido sua capacidade e progredindo para uma performance, onde os
mecânico, levando o aluno a entender que no movimento o im- movimentos são executados com uma maior precisão e um menor
portante é executar, envolvendo apenas o corpo, estando ausentes gaste de energia.
cognição e afetividade. Segundo FREIRE, J. B., a infância é um período muito intenso de
Freitas e Lobo da Costa (2000) propõe uma prática que leve à atividades: as fantasias e os movimentos corporais ocupam quase
reflexão e ao entendimento acerca de conhecimentos envolvidos todo o tempo da criança, por isso, a primeira infância (Para Piaget,
na realização de movimentos e da interação do corpo humano com o primeiro período de vida da criança, que vai do nascimento até
o ambiente que o cerca. o surgimento da linguagem, é chamado por ele do ponto de vista
Não basta reproduzir o gesto motor, é necessário ensinar em- da inteligência, de SENSÓRIO MOTOR, nele, pode ser distinguidos
butindo conceitos biomecânicos, para que os alunos entendam a três estágios: “o dos reflexos, o da organização das percepções e
execução eficiente da habilidade motora, por exemplo. Com isso, hábitos, e o da inteligência propriamente dita) é um período da vida
a biomecânica ajuda a formar a visão crítica e consciente do mo- onde se pode viver muito intensamente e, como em qualquer outra
vimento. fase da vida, vale a pena viver como se cada dia fosse o último de
Assim os dois conteúdos saúde e biomecânica são de funda- todos.
mental importância para compreender a natureza do conhecimento A criança, em sua primeira infância, é muito centrada nela mes-
sobre o corpo, uma vez que estes possam levar o aluno a ter ações ma. Constrói sua realidade trabalhosamente, adquirindo noções es-
críticas com relação aos movimentos, consequentemente propor- paciais, temporais e do próprio corpo, diferenciando-se, assim, dos
cionando uma vida mais saudável. objetos ao seu redor. É plenamente admissível, portanto, que essa
centralização nela mesma permaneça durante algum tempo. (Essa
29 Fonte: www.eefe.ufscar.br - Por Flaviane da Silva Mendes/Paula
Hentschel Lobo da Costa
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CONHECIMENTOS
centralização, Piaget chama de egocentrismo). O que não se deseja • Desenvolvimento motor: capacidade de exercer controle so-
é que essa auto centralização estenda-se por longo tempo, atraves- bre o movimento.
sando a segunda infância, a adolescência e a adulta. • Aprendizagem: mudança interna do indivíduo, deduzida de
As habilidades motoras precisam sem desenvolvidas, sem uma melhoria relativamente permanente em seu desempenho,
dúvidas, mas deve estar claro quais serão as conseqüências disto como resultado da prática.
do ponto de vista cognitivo, social e afetivo. Alem destes aspectos
levantados rapidamente, é preciso entender que as habilidades Acrescentamos a palavra motora (movimento) à palavra apren-
motoras, desenvolvidas num contexto de jogos, de brinquedos, no dizagem para indicar o tipo específico de aprendizagem que nos
universo da cultura infantil, de acordo com o conhecimento que a interessa.
criança já possui, poderão se desenvolver sem a monotonia dos Assim nos diz o autor: “Definimos habilidades motoras como
exercícios prescritos por alguns autores. Talvez não se tenha atenta- habilidades que exigem movimento voluntário do corpo e/ou
do para o fato de que jogos, como amarelinha, pega - pega, cantigas dos membros para atingir suas metas. Há uma grande variedade
de roda, tem exercido, ao longo da história, importante papel no de habilidades motoras, por exemplo, segurar uma xícara, andar,
desenvolvimento da criança. Lamentável, é saber que não tenham dançar, jogar bola e tocar piano. Freqüentemente nos referimos a
sido incorporados aos conteúdos pedagógicos das aulas de Educa- essas habilidades como ações. Os movimentos são componentes
ção Física, e pior, ministrado muitas vezes por “professores incapa- das habilidades e das ações. Como há habilidades motoras diferen-
citado” para a área, talvez, mesmo tendo diploma. tes, os pesquisadores desenvolveram sistemas de classificação para
Aprender a trabalhar com estes brinquedos poderiam garantir organizá-las. Estes sistemas identificam características comuns das
um desenvolvimento das habilidades motoras sem precisar impor habilidades e separam-nas em categorias diferentes, de acordo com
às crianças uma linguagem corporal que lhes é estranha. Assim, suas características. Os sistemas de classificação são importantes
como a linguagem verbal falada pelo (a) professor (a) em sala de para ajudar os professores e terapeutas a aplicar conceitos e prin-
aula é, por vezes, incompreensível para os alunos, também a lin- cípios da aprendizagem de habilidades motoras em programas de
guagem corporal pode sê-lo, se não referir, de início, a cultura que treinamento e reabilitação.” (MAGILL, R. A. Aprendizagem motora:
é própria do aluno. conceitos e aplicações. São Paulo, Edgard Blucher, 5ª ed., 2000. p.
Não poderia deixar de destacar que, felizmente e infelizmen- 15)
te, nos dias de hoje, as crianças tem se desenvolvido intelectual- “Discutimos três esquemas de classificação que agrupam as
mente muito superior às das crianças de 10 anos a trás, isso, com habilidades motoras em categorias baseadas em uma característica
certeza graças às oportunidades que lhes são oferecidas: compu- comum. Um sistema se baseia nas dimensões da musculatura ne-
tadores (internet), televisão (antena parabólica e muito mais). No cessária para desempenhar a habilidade e classifica as habilidades
entanto, motoramente falando, graças aos grandes centros urbanos em grossas ou finas. O segundo se baseia na distinção entre os pon-
e a violência que corre solta, nossas crianças são “privadas de mo- tos inicial e final de uma habilidade e classifica as habilidades em
vimentar-se”, presas em suas próprias casa, frente a computador, discretas ou contínuas. O terceiro sistema de classificação se baseia
televisão e vídeo game, e isso, contribui maciçamente para o atro- na estabilidade do ambiente onde a habilidade é desempenhada.
fiamento da parte motora, tão importante para o desenvolvimento Se o ambiente for estável, o sistema classifica as habilidades como
da criança. habilidades motoras fechadas. Se o ambiente for variável, o siste-
O movimento é a base do domínio motor. A aprendizagem dos ma de classifica as habilidades como habilidades motoras abertas.”
movimentos e o desenvolvimento das habilidades motoras devem (MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São
ser os principais objetivos de qualquer atividade física, mas espe- Paulo, Edgard Blucher, 5ª ed., 2000. p.15)
cialmente naquelas desenvolvidas pelas escolas. A atividade física “O quarto sistema de classificação se baseia em duas carac-
está diretamente ligada a três fatores: crescimento e desenvolvi- terísticas comuns das habilidades. Gentile desenvolveu uma taxo-
mento, desenvolvimento motor e aprendizagem motora. nomia que apresenta dezesseis categorias de habilidades motoras
Veja o esquema abaixo: criadas a partir das características de habilidades: contexto ambien-
tal e função da ação. A taxonomia nos ajuda a aumentar os conhe-
cimentos sobre as exigências fundamentais das diferentes habilida-
des motoras impostas a uma pessoa no momento em que ela está
desempenhado essas habilidades. A vantagem prática dessa taxo-
nomia é que ela fornece um orientação eficiente para os terapeutas
e professores utilizarem na avaliação da natureza das deficiências
de desempenho de habilidades motoras e, então, selecionar siste-
maticamente as atividades funcionalmente adequadas para ajudar
as pessoas a superar suas deficiências.” (MAGILL, R. A. Aprendiza-
gem motora: conceitos e aplicações. São Paulo, Edgard Blucher, 5ª
Fique ligado! ed., 2000. p.15)
• Crescimento: aumento do total da massa e do tamanho do
corpo. Conceito 1.2 – A medida do desempenho motor é critica para
• Desenvolvimento: maturação e diferenciação dos tecidos e a compreensão da aprendizagem motora
órgãos que são necessários para a formação e complementação do Considerando que a infância e a adolescência se constituem
indivíduo, como por exemplo, o desenvolvimento do sistema neu- nos períodos críticos mais importantes com relação aos aspectos
romuscular. motores, seja quanto a fatores biológicos ou culturais, nos quais
o organismo se encontra especialmente sensível à influência dos
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS
fatores ambientais, tanto de natureza positiva como negativa, o Diferenças entre os sistemas aberto e fechado são duas:
acompanhamento dos índices de desempenho motor, nesses pe- O sistema de controle de circuito fechado envolve feedback (5
ríodos, deverá contribuir de forma decisiva na promoção da saúde sentidos), por exemplo: termostato e controle de velocidade.
dos jovens. No sistema de controle de circuito aberto os comandos contêm
toda a informação necessária para que os efetores realizem o movi-
Além do que, proficiência em termos de desempenho motor mento planejado (semáforo, alarmes e gravadores).
se caracteriza como importante atributo no repertório de conduta
motora do jovem, tornando-se, portanto, essencial para sua efetiva Programa motor
participação em programas de exercícios físicos. Estrutura fundamentada na memória que controla o movimen-
“Um elemento essencial na compreensão da aprendizagem to coordenado.
motora é a medida do desempenho motor. Todos os conceitos apre-
sentados neste texto se baseiam em pesquisas sobre a observação Programa motor generalizado
e medidas do desempenho motor. A medida do desempenho motor Mecanismo que pode explicar as qualidades adaptativas e flexí-
é fundamental na avaliação de deficiências motoras, na avaliação veis do comportamento de movimento humano coordenado.
do desempenho pelos alunos ou pacientes à medida que progridem
nos exercícios práticos e nos programas terapêuticos. Neste Concei- Aspectos invariantes
to, focalizamos diferentes formas de medir o desempenho motor, São diferentes ações que têm características comuns, mas sin-
juntamente com as formas com que essas medidas foram utilizadas gulares (memória).
na investigação da aprendizagem motora e nos procedimentos apli-
cados. Consideramos duas categorias de medidas de desempenho Parâmetros
motor. As medidas dos resultados do desempenho incluem medi- Características específicas do movimento.
das de tempo, erro e intensidade de uma resposta. Discutimos o
tempo de reação, o tempo de movimento e várias medidas de er- Timing relativo
ros mais exaustivamente, por serem tradicionalmente incluídos na São componentes de habilidade, como a força relativa necessá-
pesquisa de aprendizagem motora. A segunda categoria, medidas ria para desempenhar uma habilidade.
de produção do desempenho, inclui medidas cinemáticas, cinéticas,
de EMG e de EEG, que descrevem as características dos membros, Esquema
articulações, músculos e atividade cerebral durante o movimento. É uma regra ou um conjunto de regras que fornece as bases
Finalmente, discutimos a controvérsia referente à avaliação das ca- para uma tomada de decisão (conceitos).
racterísticas da coordenação de movimentos complexos que ainda
persiste.” (MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplica- Teoria de sistemas dinâmicos
ções. São Paulo, Edgard Blucher, 5ª ed., 2000. p. 30) Visão multidisciplinar que envolve física, biologia, química e
matemática (sistema físico ou biológico complexo).
CAPÍTULO 2 – O CONTROLE DO MOVIMENTO COORDENADO
Estabilidade
Conceito 2.1 – As teorias que descrevem o controle do movi- Estado comportamental estacionário de um sistema. Se um
mento coordenado diferem de acordo com os aspectos centrais e sistema ficar perturbado, ele imediatamente voltara a um estado
ambientais de um sistema de controle. estacionário (movimento rítmico dos dedos).
Coordenação Atraidores
É a padronização dos movimentos do corpo e dos membros São estados estacionários surgidos de uma instabilidade que
relativamente à padronização dos eventos e objetos do ambiente tendem a novos comportamentos estáveis (movimento aumentado
(execução de um chute). dos ritmos dos dedos).
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CONHECIMENTOS
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CONHECIMENTOS
Lei de Fitts pelo controle motor voluntário. Isto é, temos aqui explicitamente a
Especifica a relação entre distância (velocidade) e tamanho/ proposição de armazenamento de um programa motor na memória
largura do alvo (precisão), para que o tempo de movimento possa para cada movimento que um indivíduo é capaz de realizar. Para se
ser calculado. produzir uma ação seria necessário acessar esse programa motor
na memória de longa duração e efetua-lo, de forma análoga a re-
Índice de dificuldade (ID) cuperar um arquivo digital do disco rígido (memória permanente)
Envolve a relação intrínseca entre o tamanho (precisão) do alvo de um computador. Foi justamente através dessa analogia que teve
e a distância (velocidade) percorrida. Quanto mais alto do ID, mais origem o termo programa motor para se referir a um movimento
difícil será a tarefa. codificado centralmente. Existem três problemas, entretanto, que
são inerentes a essa concepção: complexidade, capacidade de me-
Equivalência motora mória e variabilidade condicionada ao contexto.
É a adaptação às necessidades específicas impostas pelo con- Problema da complexidade. Quando tratamos do controle de
texto, ajustando tamanho, força, direção e músculos a imposições movimentos complexos, uma questão assume importância central:
de uma tarefa. como um sistema com capacidade de atenção tão limitada é ca-
paz de controlar os muitos graus de liberdade do corpo em ações
Coordenação bimanual envolvendo a coordenação de diferentes segmentos? Certamente
Implica em realizar com as duas mãos dos mesmos movimen- um conjunto de comandos motores especificando para os mús-
tos ao mesmo tempo (tocar piano). culos principais as características desejadas de uma ação simples,
A coordenação unimanual envolve a maioria dos movimentos tal como elevar um dos braços, não representaria uma quantidade
realizados no dia a dia. muito grande de informação para ser processada no nível superior
“Essa discussão destacou-se a controvérsia atual referente a de controle da ação. No entanto, a regulação desse movimento en-
como o sistema nervoso controla as habilidades coordenadas con- volve toda uma sinergia, que evita que o indivíduo se desequilibre
siderando diversos tipos de habilidades. Dentro de cada habilidade, em função do deslocamento do seu centro de gravidade na direção
a discussão focalizou-se em como as abordagens fundamentadas do movimento realizado. Para isso, antes mesmo que o músculo
no programa motor e nos sistemas dinâmicos do controle, expli- motor primário, nesse caso o deltóide anterior, seja ativado, a mus-
cam as características específicas do desempenho. As habilidades culatura ipsilateral posterior das pernas (bíceps femoral) é contraí-
de direcionamento manual, que envolvem um compromisso entre da. Esse comportamento foi observado por Lee (1980), em uma
a velocidade e a precisão, seguem as previsões da Lei de Fitts, para situação em que os sujeitos de pesquisa elevavam rapidamente um
qual foram propostas hipóteses baseadas nas duas abordagens das de seus braços em resposta a um sinal visual. Após a ativação do
teorias de controle. Outras habilidades unimanuais consideraras fo- deltóide anterior o bíceps femoral da perna contralateral também é
ram a preensão e a escrita à mão. Também discutimos habilidades ativado, revelando um complexo padrão de ativação muscular para
bimanuais assimétricas, tarefas de batidas polirritmias, movimen- esse movimento bastante simples. Esse resultado ilustra o proble-
tos de alavancas bimanuais assimétricas, tarefas de batidas polir- ma da complexidade, ao mostrar que a organização da resposta não
ritmicas, como aquelas freqüentemente envolvidas em tocar piano, se restringe a especificar a ação de alguns poucos músculos, mas do
bateria ou em malabarismos. Para cada uma dessas habilidades sistema muscular como um todo.
envolvendo os dois braços, os teóricos propuseram modelos ba-
seados tanto no programa motor quanto nos sistemas dinâmicos, Problema de capacidade de memória. Uma questão associada
para explicar como essas habilidades são controladas. As ações de ao problema da complexidade discutido acima é a seguinte: como
levantar-se da posição sentado pata ficar em pé mostram a existên- tamanho volume de informação, correspondente aos comandos
cia de vínculos funcionais entre os membros e as articulações, que para controlar cada grau de liberdade individualmente, e a coorde-
permitem à pessoa desempenhar uma ação desejada. Finalmente, nação entre os diferentes graus de liberdade, pode ser armazenado
consideramos o modo de andar. Em geral, o passo é controlado por na memória? A memória de longa duração possuí capacidade de ar-
um gerador de padrão central no nível espinal, mas a pessoa pode mazenamento bastante grande, cujos limites ainda não são conhe-
adaptar o passo pata atingir níveis mais altos de controle, quando cidos pela ciência, mas certamente armazenar todos os detalhes
for necessário produzir desvios específicos do ritmo do passo nor- do movimento não seria algo factível em função da quantidade de
mal.” (MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. atos motores e do número de detalhes que cada ato possuí. Quan-
São Paulo, Edgard Blucher, 5ª ed., 2000. p. 88) do se considera, ainda, que os elementos orgânicos que participam
no controle dos movimentos são continuamente mutantes, o arma-
CAPÍTULO 3 – PREPARAÇÃO DO CONTROLE MOTOR E ATEN- zenamento literal de todos os detalhes da ação seria algo de muito
ÇÃO pouca utilidade na geração de ações motoras. Nosso corpo tem seu
peso alterado continuamente através de, por exemplo, ingestão de
Conceito 3.1 – O desempenho do movimento coordenado vo- alimentos e perda de água para o ambiente. Isso faz com que não
luntário exige a preparação do sistema de controle motor haja uma relação única entre um movimento desejado e a força ne-
Até aqui temos trabalhado com a definição de programa motor cessária para gera-lo. Algo semelhante ocorre após um treinamento
como uma série de comandos motores organizados centralmente, de força, ou no sentido contrário, pela perda de massa muscular
que permitem que ações sejam feitas na completa ausência de fee- causada por um período de imobilização, em que um indivíduo
dback sensorial. Uma idéia adicional associada a essa definição é de necessita produzir mais ou menos força em relação a experiências
que as características de cada movimento estão detalhadamente passadas para deslocar um de seus membros para uma dada posi-
codificadas em programas motores específicos, que ficam armaze- ção. Caso os detalhes do movimento fossem armazenados, tería-
nados em algum lugar dos centros superiores do SNC responsáveis mos também que ter um registro para todas as variações de peso e
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CONHECIMENTOS
força que ocorrem ao longo do tempo. Isto é, a memória humana voluntário, o qual foi visto acima que trabalha com uma linguagem
teria que possuir uma capacidade descomunal de armazenar infor- paramétrica. Isto é, suas atividades de processamento relacionadas
mação e que seria, ao mesmo tempo, de pouca utilidade no futuro. ao controle consciente da ação são realizadas em função da espe-
cificação dos parâmetros de movimento. Esse é um nível de orga-
Problema da variabilidade condicionada ao contexto. O mesmo nização da resposta igualmente caracterizado por um tipo de pro-
impulso (neural) não provoca sempre o mesmo movimento, porque cessamento seriado, que é efetuado de forma relativamente lenta,
forças externas fornecem diferentes condições iniciais, através de trabalhando com alguns poucos itens de informação de cada vez.
inércia, gravidade, resistência do ar, e atrito. Dessa forma, o mesmo O nível inferior possui a responsabilidade de transformar os parâ-
impulso neural pode gerar diferentes movimentos, assim como o metros especificados em movimento, através de inúmeros meca-
mesmo movimento pode ser gerado por diferentes impulsos neu- nismos sobre os quais não temos controle consciente direto. Nesse
rais (Turvey, Fitch, & Tuller, 1982). Colocando em outras palavras, nível é que se desenrolam as operações mais complexas de contro-
não há uma relação invariante entre movimentos produzidos e le motor, com uma orquestração precisa das diferentes estruturas
forças musculares geradas para produzir esses movimentos. De- neurais que são agregadas para a geração do movimento desejado.
pendendo da posição do corpo em relação à força da gravidade, Como esse nível de controle independe de regulação consciente ou
pode-se contrair grupos musculares agonistas ao movimento a fim de recursos de atenção, há um grande volume de processamento
de vencer forças de resistência (fase aquática da braçada no nado paralelo. Isso significa que uma quantidade enorme de especifica-
livre, por exemplo), ou simplesmente descontrair progressivamen- ções e ajustes pode ser feita simultaneamente, nos mais variados
te músculos antagonistas deixando que a força de gravidade ou a grupos musculares envolvidos na ação.
própria inércia gerada por um movimento prévio faça o trabalho “Para desempenhar uma habilidade motora, a pessoa precisa
de forma gratuita (imagine o mesmo movimento da braçada sedo preparar seu sistema de controle motor. Essa preparação exige tem-
feito em pé, fora da água). Assim, não seria razoável esperar que po, como pode ser observado em experiências que mostram como o
movimentos fossem gerados a partir de comandos totalmente pré- TR é afetado por vários fatores relacionados às tarefas, às situações
-estabelecidos a priori, vindos de um programa motor localizado e pessoais. Os fatores referentes à tarefa e à situação abrangem
centralmente possuindo todos os detalhes da ação. Os argumentos um certo número de alternativas de respostas que o participante
aqui apresentados evidenciam que ao conceito de programa motor deve escolher: a previsibilidade da escolha da resposta correta, a
precisa ser incorporada a noção de um sistema de controle sensível compatibilidade entre estímulo-resposta, a regularidade do perío-
às forças ambientais agindo sobre o corpo. Como em situações nor- do prévio, a complexidade do movimento, a precisão do movimen-
mais nossos movimentos não são produzidos no vácuo, a progra- to, a repetição da resposta e o tempo entre diferentes respostas.
mação motora central precisa gerar apenas forças complementares Os fatores pessoais que interferem na resposta incluem o grau de
às forças ambientais em determinadas situações, ou antagônicas atenção da pessoa, isto é, se a atenção está concentrada no sinal ou
em outras. Em uma mesma tarefa existe uma combinação complexa no movimento e a prática. Sabemos que as pessoas preparam vá-
dessas duas situações, o que torna as exigências de controle bas- rias características associadas à ação durante o TR. Os cientistas que
tante variáveis de um contexto para outro. se dedicam ao estudo do movimento descobriram até que ponto
essas características são perceptivas, cognitivas u motoras, subdi-
Organização hierárquica do controle motor vidindo os intervalos do TR dos registros de experimentais de que
Como já vimos, um dos principais problemas enfrentados por entre os vários aspectos da ação que as pessoas preparam durante
um sistema tão complexo quanto o sensório-motor é de como con- o TR estão os seguintes: organização da postura, características de
trolar um número tão grande de elementos a partir de uma capaci- desempenho dos membros, características do controle do objetivo,
dade limitada de atenção do processador central. O problema tor- codificação espacial e ritmo.” (MAGILL, R. A. Aprendizagem moto-
na-se mais marcante ainda quando se consideram a demanda de ra: conceitos e aplicações. São Paulo, Edgard Blucher, 5ª ed., 2000.
adaptabilidade de respostas frente a modificações do ambiente, e p. 106)
a diversidade de respostas que podem ser apresentadas para solu-
cionar um determinado problema motor. Conceito 3.2 – A preparação e o desempenho de habilidades
A principal maneira que o sistema sensório-motor parece em- motoras sofrem os efeitos da nossa capacidade limitada de sele-
pregar para solucionar esse problema é através de uma organização cionar e prestar atenção na informação
de forma hierárquica em que, apesar de sua capacidade de proces- Consideramos a atenção como a nossa capacidade de envolvi-
samento superior ser limitada, consegue controlar seus inúmeros mento nas atividades perceptivas, cognitivas e motoras associadas
graus de liberdade ao delegar funções de controle aos níveis infe- ao desempenho de habilidades. Os seres humanos dispõem de uma
riores, responsáveis pela regulação inconsciente da ação. A idéia capacidade limitada de envolvimento nessas atividades. Como con-
principal do conceito de hierarquia no controle motor é a de que seqüência, freqüentemente temos dificuldades em desempenhar
algo abstrato, como uma determinada intenção, é transformado em mais de uma tarefa de uma vez. As teorias mais aceitas sobre os
movimentos observáveis ao longo de um processo vertical atraves- limites da atenção propõe que temos uma capacidade limitada de
sando diferentes níveis. Quanto mais próximo do nível responsável processar informação. Algumas teorias consideram essa limitação
pela intenção subjacente a um movimento, mais alto está localizado como um reservatório central de recursos de atenção. Por exemplo,
o processo na hierarquia. Quanto mais próximo das estruturas res- o modelo de capacidade limitada flexível de Kahneman propõe que
ponsáveis pela estimulação muscular, mais baixo na hierarquia se os recursos de atenção provêm de um único reservatório. A aloca-
encontra o processo de controle. ção sofre a influencia de vários fatores relacionados ao indivíduo e
Em busca de simplicidade, faremos nossa análise consideran- às atividades a serem desempenhadas. As teorias de recursos múl-
do uma hierarquia composta por dois níveis. O nível normalmen- tiplos surgem de uma abordagem alternativa que propõe diversos
te chamado de superior é aquele responsável pelo controle motor
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CONHECIMENTOS
recursos como fontes de atenção. Os procedimentos experimentais rações aritméticas). As habilidades motoras não andam sozinhas,
típicos, utilizados para apoiar a abordagem de capacidade limitada, elas vêm acompanhadas de habilidades perceptivas e de pensa-
são denominados de procedimentos de tarefa dupla. mento, devidamente organizadas e sincronizadas.
Um aspecto importante da atenção e do desempenho da ha- As habilidades de uma pessoa podem estar desestruturadas
bilidade motora é o foco da atenção: para onde e como uma pes- em vários níveis. O primeiro é de fundamentos, que são as ações
soa orienta sua atenção numa situação de desempenho. A atenção básicas. No vôlei, por exemplo, os fundamentos são saque, man-
pode ser focalizada tanto de forma ampla ou estreita e, também, chete, etc. Para dirigir automóveis são arrancar, passar marcha, fa-
externamente, em algum aspecto da situação ambiental, ou inter- zer curva, frear. O segundo nível é o de procedimentos, que são
namente, em algum aspecto de preparação ou do desempenho da combinações de fundamentos, equivalentes a jogadas no esporte.
habilidade. As pessoas podem trocar de foco rapidamente entre es- O nível superior é o da competência: conhecendo os fundamentos e
sas larguras e direções. várias jogadas, você pode combiná-los dinamicamente para atingir
objetivos maiores, como fazer pontos e gols e vencer partidas. Cla-
Finalmente, a atenção não está limitada à percepção conscien- ro, pode ter também a parte de improviso e criação.
te. As pessoas executam muitas atividades que solicitam atenção
sem que conscientemente se apercebam disso. Um exemplo é Quando você quer fazer algo e parece difícil, tipicamente a cau-
a atenção visual que a pessoa dispensa às pistas ambientais que sa é a falta de experiência ou de estrutura. Quando temos isso é
orientam o desempenho. Essas pistas solicitam um foco de atenção; que fica fácil. Uma evidência disso é a facilidade com que todos nós
entretanto, as pessoas nem sempre tem uma percepção consciente caminhamos ou falamos, que são processos extremamente com-
das características das pistas. plexos. Você conhece alguém sem problemas físicos que não conse-
guiu aprender a andar ou a falar?
Conceito 3.3 – A atenção visual seletiva desempenha um pa- Analogamente, quando você está se dedicando a algum apren-
pel importante na preparação de várias habilidades motoras dizado e não está obtendo resultados, os pontos críticos são a me-
“Uma parte importante na preparação do desempenho de uma todologia e as estratégias de ensino. Muitos cursos, por exemplo,
habilidade está na atenção visual às pistas criticas do ambiente. Um enfocam o conhecimento, deixando a responsabilidade de organi-
indivíduo seleciona essas pistas dando uma busca visual no ambien- zar esses conhecimentos para o aprendiz.
te para obter as informações prévias que o habitarão a antecipar a “Discutimos quatro métodos diferentes para a avaliação da
ação exigida por uma situação. Uma busca visual eficiente afeta a aprendizagem. Um deles leva em conta as características de con-
seleção da ação, as restrições da ação selecionada e o timing para sistência e de aperfeiçoamento do desemprego, com o decorrer
o início da ação. Foram discutidos exemplos de busca visual em ha- da prática.Isso é evidenciado quando se faz o gráfico das curvas de
bilidades motoras envolvendo badminton, beisebol, tênis, futebol desempenho dos resultados ou medidas do desempenho cinemáti-
e dirigir carro. As evidencias experimentais mostram que o treina- co durante a prática. O segundo método consiste em aplicar testes
mento pode facilitar o uso de estratégias eficientes de busca visual”. de retenção. Nesse método, o responsável pela aplicação do teste
(MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São avalia a persistência de uma habilidade aprendida solicitando que
Paulo, Edgard Blucher, 5ª ed., 2000. p. 130) a pessoa desempenhe uma habilidade já praticada depois de ter
passado um certo período sem praticá-la. Os testes de transferência
CAPÍTULO 4 – INTRODUÇÃO À APRENDIZAGEM DE HABILIDA- se constituem no terceiro método para avaliar quando uma pessoa
DES MOTORAS aprendeu e se está capacitada para se adaptar às novas condições
de desempenho. O teste de transferência requer que o aprendiz
Conceito 4.1 – Pessoas que avaliam a aprendizagem devem desempenhe a habilidade praticada em uma nova situação ou em
fazer inferências a partir da observação do desempenho durante uma nova variação de habilidade praticada. No quarto método de
práticas e testes avaliação da aprendizagem, os responsáveis pela aplicação do teste
Habilidade é experiência estruturada para obter resultados. observam a consistência e a estabilidade dos padrões de coordena-
Essa definição curta tem muitas implicações importantes. Se ção durante a prática e nos teste. Esse método permite que sejam
você tem experiência mas ela está desestruturada, não obtem re- observadas as transições entre padrões de coordenação adquiridos
sultados. Se você tem muita estrutura mas pouca experiência, idem. recentemente e aqueles aprendidos anteriormente.
Se você tem experiência estruturada mas não quer obter nenhum A avaliação da aprendizagem baseada somente no desempe-
resultado, não usa suas habilidades. nho prático pode, às vezes, levar a conclusões incorretas. Algumas
Note que os conhecimentos estão na dimensão da experiência. variáveis de desempenho podem ampliar ou inibir o desempenho
Quando alguém lhe diz algo novo, isto se torna uma experiência. Se artificialmente, de modo que o teste superestime ou subestime a
você tem algum resultado a obter e estrutura o novo conhecimen- aprendizagem da pessoa. Além disso, pode ocorrer um artefato de
to, você pode usá-lo imediatamente. Já se faz um curso inteiro com desempenho, conhecido como platô de desempenho, que dá a im-
muita informação mas desestruturado ou pouco ligado a resulta- pressão de que a aprendizagem estacionou, quando na verdade,
dos, não vai se beneficiar dele. Quanto mais o curso estiver focado isso não ocorreu. Para evitar uma interpretação duvidosa sobre a
em como estruturar experiências para obter resultados, mais fácil aprendizagem devido a esse comportamento do desempenho, os
e mais produtivo será o aprendizado. responsáveis pela aplicação dos testes podem aplicar testes de re-
Existem habilidades predominantemente motoras (como an- tenção e de transferência bem como fazer observações posteriores
dar), perceptivas (como manter um foco de atenção e olhar ima- do desempenho das habilidades que estão sendo aprendidas.” ”.
gens 3D) e cognitivas ou de pensamento (como deduzir e fazer ope- (MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São
Paulo, Edgard Blucher, 5ª ed., 2000. p. 147)
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CONHECIMENTOS
Conceito 4.2 – Características distintas do desempenho e do Discutimos duas hipóteses que tentam explicar a transferência
executante mudam durante a aprendizagem de habilidades positiva. A primeira afirma que a transferência positiva aumenta em
“A aprendizagem é um processo que envolve tempo e prática. função das semelhanças dos componentes das habilidades moto-
Na medida em que um indivíduo evolui, desde a condição de prin- ras e dos contextos nos quais as habilidades são desempenhadas.
cipiante em uma atividade até ser um praticante altamente capa- A segunda hipótese estabelece que a quantidade de transferência
citado, ele passa por vários estágios diferentes, embora contínuos. positiva está relacionada com as semelhanças nas demandas do
Três modelos diferentes tentam descrever esses estágios. Fitts e processamento das duas situações.
Posner propuseram que a aprendizagem do principiante se dá em Os efeitos da transferência negativa ocorrem, basicamente,
três estágios: cognitivo, associado e autônomo. Gentile propôs dois quando é solicitada uma nova resposta de movimento num contex-
estágios, que ela identificou como metas do aprendiz. A meta do to perceptivo familiar. Os cientistas que se dedicam ao estudo do
aprendiz na primeira etapa é “captar a idéia do movimento”. No movimento atribuem a transferência negativa à dificuldade ineren-
segundo estágio, a meta é a fixação e a diversificação para habi- te à alteração do estado de acoplamento da percepção-ação pre-
lidades fechadas e abertas, respectivamente. O terceiro modelo ferencial, que a pessoa desenvolveu para confusão cognitiva que
proposto por Newell, está intimamente relacionado ao de Gentile, surge quando uma pessoa não sabe o que fazer numa nova situa-
mas se concentra no desenvolvimento da coordenação. De acordo ção de desempenho. As pessoas geralmente superam os efeitos da
com este modelo, o primeiro estágio é o de coordenação, em que é transferência negativa com a prática.
estabelecido o padrão básico da coordenação. O segundo estágio é A transferência bilateral é um fenômeno no qual uma pessoa
o de controle. Durante esse estágio, o praticante aprende a aplicar vivencia uma melhora no desempenho do membro não-treinado,
ao padrão de coordenação, os valores do parâmetro de movimento como resultado da prática com o membro oposto.
necessários para atingir o desempenho ideal da habilidade em vá- Normalmente, a transferência bilateral é assimétrica, embora
rias situações. os pesquisadores discordem sobre se a direção preferencial para
À medida que as pessoas evoluem através dos estágios de não-preferencial resulta em maior transferência ou vice-versa. A
aprendizagem, ocorrem alterações notáveis no desempenho e no explicação de transferência bilateral envolve um fato cognitivo, isto
praticante. Foram discutidas várias alterações: na taxa de aperfei- é, com a prática inicial as pessoas adquirem conhecimento sobre o
çoamento, nas características da coordenação, nos músculos envol- que fazer. Os defensores da explicação baseada no controle motor
vidos no desempenho da habilidade, na eficiência do movimento, garantem que, na transferência bilateral, estão envolvidos fatores
na obtenção das metas cinemáticas da habilidade, na atenção vi- relacionados com as características do programa motor generaliza-
sual, na atenção consciente e na capacidade de o aprendiz detectar do e o fluxo motor de saída dos comandos motores para o membro
e corrigir seus erros. oposto.” ”. (MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e apli-
Finalmente, foi discutida a extremidade do continuum da cações. São Paulo, Edgard Blucher, 5ª ed., 2000. p. 181)
aprendizagem em que o especialista se encontra. Os especialistas
se caracterizam por um desempenho excepcional. Eles dedicam CAPÍTULO 5 – INSTRUÇÃO E FEEDBACK AUMENTADO
pelo menos dez anos à prática deliberada para chegarem à espe-
cialidade. Essas pessoas altamente capacitadas apresentam carac- Conceito 5.1 – O método mais eficiente para fornecer instru-
terísticas comuns de desempenho na utilização da visão e de suas ções que ajudem a pessoa a aprender uma habilidade motora de-
estruturas de conhecimento, que fornecem a base para a sua ex- pende da habilidade e da meta instrucional
cepcional capacidade de desempenho. “”. (MAGILL, R. A. Aprendi- A demonstração proporciona informações sobre como um
zagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo, Edgard Blucher, aprendiz deve desempenham uma habilidade. A vantagem de ob-
5ª ed., 2000. p. 164) servar uma demonstração perfeita de uma habilidade é que ela
mostra ao observador as características invariantes do padrão de
Conceito 4.3 – A transferência da aprendizagem de uma situ- coordenação necessárias para o desempenho da habilidade. Assim,
ação de desempenho para outra é parte integrante da aprendiza- é mais vantajoso para o aprendiz observar habilidades em que as
gem e do desempenho de habilidades pessoas precisam aprender novos parâmetros para os padrões de
“A transferência da aprendizagem se refere à influencia de movimento já estabelecidos. Observar um outro iniciante aprender
experiências anteriores na aprendizagem ou no desempenho de uma habilidade também pode ser benéfico para a aprendizagem de
uma nova habilidade ou no seu desempenho num novo contexto. uma habilidade. Fornecer demonstrações com freqüência crescen-
A experiência prévia pode facilitar, impedir ou não ter efeito na te precisam aprender características de timing de habilidades, uma
aprendizagem de uma nova habilidade. O conceito de transferência técnica eficiente a ser utilizada na comunicação dessas característi-
da aprendizagem integra a grade curricular de ambientes educa- cas é o modelamento auditivo.
cionais, bem como de desenvolvimento de protocolos de treina- Existem duas abordagens teóricas importantes que tentam ex-
mento de programas de reabilitação. O conceito também serve de plicar como o modelamento influi na aprendizagem de habilidades.
base para muitos métodos utilizados por professores, treinadores Uma delas, conhecida como teoria da mediação cognitiva, argu-
e fisioterapeutas para melhorar a aquisição de habilidades. Além menta que a pessoa desenvolve uma representação na memória a
disso, o conceito de transferência de aprendizagem constitui par- partir da observação de um modelo e que a pessoa precisa avaliar
te essencial da compreensão da aprendizagem motora, porque é essa representação antes de desempenhar a habilidade. A outra
fundamental no processo de fazer inferências a respeito das condi- abordagem, conhecida como a abordagem dinâmica, assegura que
ções de prática na aprendizagem de habilidades. Os pesquisadores as pessoas não necessitam de mediação cognitiva, porque o siste-
podem avaliar a quantidade de transferência entre habilidades ou ma visual pode obrigar o sistema motor a agir automaticamente de
situações, tanto para transferência intertarefas quanto para trans- acordo com o que foi observado.
ferências intratarefas.
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CONHECIMENTOS
Quando o instrutor utiliza a instrução verbal para fornecer in- Conceito 5.3 – Os profissionais que se dedicam ao estudo de
formações sobre o desempenho de uma habilidade motora, precisa habilidades motoras podem fornecer feedback aumentado de vá-
chamar a atenção do aprendiz para os aspectos importantes da ha- rias formas
bilidade. As pistas verbais fornecem meios de informar verbalmen- “Pelo fato de o feedback aumentado ser uma parte tão impor-
te os aspectos críticos de uma habilidade para que seu desempe- tante da aprendizagem de habilidades, é bom entender que tipo de
nho seja bem-sucedido. informação o terapeuta ou o instrutor pode fornecer para facilitar
As pessoas que apresentam demonstrações ou fornecem ins- a aprendizagem e com que freqüência ele deve dar essa informa-
truções verbais se preocupam também com uma outra questão ção. O profissional precisa ter em mente três pontos importantes
relacionada às habilidades em que é necessário ensinar seqüên- quando for decidir que informação de feedback aumentado deve
cias de movimentos. Devido ao efeito da posição serial, durante o ser dada. Primeiro, ele deve determinar à precisão da informação.
inicio da prática, os aprendizes lembram melhor os trechos iniciais O feedback aumentado pode ser preciso demais ou genérico de-
ou finais de uma seqüência apresentada, do que os trechos inter- mais para ajudar na aprendizagem. Segundo, ele deve determinar o
mediários. Os segmentos intermediários de uma habilidade social conteúdo do feedback aumentado. Ao fazer isso, o terapeuta ou o
podem exigir maior ênfase tanto na instrução quanto na prática. ”. professor precisa entender que o feedback aumentado serve para
(MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São chamar a atenção para a parte da habilidade mais importante que
Paulo, Edgard Blucher, 5ª ed., 2000. p. 197) deverá ser melhorada na tentativa seguinte. Terceiro, o profissio-
nal deve estabelecer a forma de apresentar o feedback aumenta-
Conceito 5.2 – O feedback aumentado pode melhorar, dificul- do. Embora o feedback aumentado verbal seja o tipo mais comum,
tar ou não afetar a aprendizagem de habilidades outros métodos como repetição de fitas de vídeo, representação
O feedback aumentado é a informação fornecida por uma fon- gráfica da cinemática do movimento e feedback sensorial aumen-
te externa, que acrescenta ou melhora a qualidade do feedback tado também podem ser eficientes”. (MAGILL, R. A. Aprendizagem
diretamente disponível do desempenho de uma habilidade (cha- motora: conceitos e aplicações. São Paulo, Edgard Blucher, 5ª ed.,
mado de feedback intrínseco à tarefa). Distinguimos os dois tipos 2000. p. 224)
de feedback aumentado baseado na parte do desempenho de uma
habilidade à qual a informação se refere. O conhecimento dos re- Conceito 5.4 – A aprendizagem de habilidades pode ser afe-
sultados (CR) se refere ao resultado do desempenho da habilidade, tada por uma grande variedade de características temporais do
enquanto que o conhecimento do desempenho (CD) se refere às feedback aumentado
características do desempenho que levam ao resultado. Um instru- Ao tentarmos entender o efeito do feedback aumentado na
tor pode fornecer o feedback aumentado concomitante, enquanto aprendizagem de habilidades, devem ser consideradas três ques-
o aprendiz está desempenhado a habilidade, ou terminal, depois tões importantes relacionadas com os aspectos de timing do fee-
do desempenho ter sido completado. O feedback aumentado pode dback aumentado. Uma delas diz respeito a se o aprendiz deve re-
servir para informar o aprendiz sobre o sucesso do desempenho da ceber o feedback aumentado durante ou depois de desempenhar
habilidade, ou dos erros cometidos no desempenho; pode servir uma habilidade. As evidencias mostram que o feedback aumentado
também para motivar o aprendiz a continuar insistindo na meta. terminal geralmente é previsível, embora o feedback aumentado
O feedback aumentado pode apresentar quatro efeitos di- concomitante possa ser vantajoso quando for difícil para a pessoa
ferentes na aprendizagem de habilidades. As evidencias experi- determinar o que fazer para realizar uma tarefa baseada no fee-
mentais mostram que o feedback aumentado pode ser indispen- dback intrínseco à tarefa. Uma outra questão relativa ao movimen-
sável, dispensável, pode melhorar a qualidade ou até prejudicar a to propício para o feedback aumentado se refere aos intervalos de
aprendizagem de habilidades. O efeito varia de acordo com certas tempo envolvidos no feedback aumentado terminal. Os dois inter-
características da habilidade e do aprendiz. O que ainda falta ser de- valos, de atraso do CR e de pós-CR são igualmente importantes na
terminado por pesquisas futuras são as características específicas aprendizagem de habilidades. Os dois intervalos têm um compri-
do aprendiz e da habilidade que estão subentendidas em cada um mento mínimo, mas parecem não ter nenhum comprimento máxi-
desses quatro efeitos. Existem algumas hipóteses referentes a essas mo efetivo.
características e condições. Parece que, quando o desempenho de O envolvimento em atividades durante esses intervalos nor-
uma habilidade fornece o feedback intrínseco à tarefa que o parti- malmente não afeta a aprendizagem de habilidades, embora o en-
cipante pode interpretar efetivamente para avaliar seu desempe- volvimento em certos tipos de atividades possa prejudicar ou favo-
nho, o feedback aumentado é desnecessário. Quando a pessoa não recer a aprendizagem.
consegue interpretar o feedback intrínseco à tarefa do ambiente A terceira questão relativa ao timing se refere à freqüência com
ou dos movimentos envolvidos na própria habilidade, ela precisa que o professor ou terapeuta deverá fornecer o feedback aumenta-
de algum tipo de feedback aumentado. O tipo exato de feedback do para facilitar a aprendizagem de habilidades.
que a pessoa precisa e como ou quando ele poderá ser fornecido, Evidencias experimentais mostram que o fornecimento do fee-
depende da habilidade que a pessoa está desempenhando. Existem dback aumentado depois de cada tentativa de prática não é uma
três situações em que o aprendiz torna-se dependente do feedback condição ideal, e que é desejável uma freqüência relativa menor
aumentado e, portanto, a aprendizagem será prejudicada pela dis- que 100%. Os métodos que reduzem a freqüência incluem a téc-
ponibilidade do feedback aumentado durante a prática. ”. (MAGILL, nica de esmaecimento, a técnica da amplitude do erro e o método
R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo, Ed- do resumo. Um motivo para se investigar questões relacionadas
gard Blucher, 5ª ed., 2000. p. 210) com o momento de fornecer o feedback aumentado é que este é
um meio de tratar questões sobre os processos de aprendizagem
envolvidos entre tentativas durante a prática. As evidencias expe-
rimentais mostram que a atenção para o processamento do fee-
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CONHECIMENTOS
dback intrínseco à tarefa é critica para uma aprendizagem eficiente mostrar que as sessões de pratica muito longas e muito pouco fre-
de habilidades. Na verdade, quando as condições de prática criam qüentes não levam a uma aprendizagem ideal. Geralmente, as pes-
uma dependência com o feedback aumentado desviando a aten- soas aprendem melhorar as habilidades em sessões mais numero-
ção do aprendiz do feedback intrínseco à tarefa, a aprendizagem sas e mais curtas que em sessões menos numerosas e mais longas.
é dificultada. ”. (MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e A segunda questão da programação da prática se refere à duração
aplicações. São Paulo, Edgard Blucher, 5ª ed., 2000. p. 241) do intervalo intertentativas, que consiste no período de descanso
entre as tentativas. Os pesquisadores verificam que a duração ideal
CAPÍTULO 6 – CONDIÇÕES DE PRÁTICA para um intervalo intertentativas depende do tipo de habilidade
que está sendo aprendida. Para habilidades discretas, os pesqui-
Conceito 6.1 – Para a aprendizagem de habilidades motoras é sadores verificam exatamente o oposto. Para essas tarefas, são
importante a variabilidade de experiências práticas recomendadas as programações de práticas maciças. ”. (MAGILL, R.
Uma variedade de experiências de movimento e de contexto A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo, Edgard
são ingredientes importantes para as condições de prática. A vanta- Blucher, 5ª ed., 2000. p. 266)
gem dessa característica da prática é que ela aumenta a capacidade
da pessoa desempenhar a habilidade praticada com sucesso e de Conceito 6.3 – A quantidade da prática afeta a quantidade de
se adaptar às condições em que não teve experiência prévia. Para aprendizagem, embora os resultados nem sempre sejam propor-
determinar o tipo adequado e a quantidade de variabilidade da cionais ao tempo investido
prática, o professor ou terapeuta deve primeiro avaliar as caracte- A pesquisa que investiga a estratégia da prática do envolvi-
rísticas do desempenho de situações futuras em que o aprendiz de- mento em práticas adicionais demonstra que a abordagem de que
sempenhará a habilidade. As características específicas do contexto “mais é melhor” sem sempre é verdadeira para a aprendizagem de
do desempenho que os instrutores precisam variar na prática são habilidades motoras, pelo menos em termos dos benefícios produ-
condições reguladoras e não-reguladoras. Os aspectos específicos zidos em relação à quantidade de prática. Parece haver um ponto
dessas condições que serão avaliadas dependem se a habilidade de “retornos decrescentes” para a quantidade de prática. Embora
que o aprendiz está praticando é uma habilidade aberta ou fechada. a quantidade de prática seja um fator importante para o instrutor,
Uma condição de prática relacionada se refere a como o pro- é ainda mais importante considerar como a quantidade de prática
fessor ou o terapeuta deve organizar as várias experiências dentro interage com as outras variáveis que afetam a aprendizagem de ha-
de uma sessão de prática, unidade de ensino ou programa de tra- bilidades motoras. À medida que aumenta o tempo gasto na prática
tamento. Os pesquisadores conseguiram perceber o melhor tipo de de uma habilidade, diminui a importância de certas condições da
organização implementando o efeito da interferência contextual na prática. Entretanto, aumenta a necessidade que a pessoa tem de
programação de práticas. Eles notaram que é preferível aumentar incorporar outras variáveis nas rotinas da prática. ”. (MAGILL, R. A.
a quantidade de interferência criada praticando diversas variações Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo, Edgard
de habilidade, em cada sessão de prática. Por exemplo, seguir uma Blucher, 5ª ed., 2000. p. 273)
programação de prática, em bloco, como praticar somente uma va-
riação de habilidade durante uma sessão de prática , leva a uma Conceito 6.4 – As decisões sobre praticar habilidades no todo
aprendizagem pior que seguir uma programação de prática aleató- ou em parte, se baseiam nas características de complexidade e
ria em cada seção. O efeito da interferência contextual constitui um organização das habilidades
fenômeno de peso na aprendizagem; os pesquisadores descobri- Uma decisão importante a respeito das condições de prática
ram que ele se aplica a principiantes, a praticantes treinados,a ha- é se a pessoa deve praticar uma habilidade como um todo ou em
bilidades motoras cotidianas e a habilidades desenvolvidas em la- partes. O instrutor deve tomar a decisão inicial de acordo com a
boratório. Entretanto ainda não foi possível chegar a uma conclusão complexidade e a organização da habilidade. A prática como um
definitiva sobre o porquê do efeito. Há duas hipóteses principais. A todo é aconselhável, quando a habilidade a ser aprendida é de bai-
primeira assegura que os níveis mais altos da interferência contex- xa complexidade e de alta organização. A prática em partes é reco-
tual aumentam a capacidade de elaboração da representação na mendada, quando a habilidade é mais complexa e envolve menos
memória das habilidades que o aprendiz está capacitado. A segun- organização. Quando um professor ou terapeuta toma a decisão de
da sustenta que o aprendiz precisa reconstruir mais ativamente o seguir um método de prática em partes, é importante que ele faço
plano de ação para uma tentativa precedente de uma habilidade, com que o aprendiz pratique juntas aqueles componentes da habi-
quando intervêm tentativas de habilidades diferentes. ”. (MAGILL, lidade que são espacial e temporalmente interdependentes, como
R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo, Ed- uma “unidade natural”. O aprendiz pode praticar separadamente
gard Blucher, 5ª ed., 2000. p. 256) aquelas partes da habilidade que forem relativamente indepen-
dentes. Pelo menos, três métodos de partes progressivo, permite
Conceito 6.2 – O espaçamento ou a distribuição da prática que o aprendiz pratique as partes, mas que também construa essas
pode afetar tanto o desempenho quanto a aprendizagem de ha- partes, o que contribui para o desempenho da habilidade como um
bilidades motoras todo. O terceiro método envolve a simplificação de toda ou de par-
Uma decisão importante que os professores, treinadores e te- te da habilidade para a prática. Consideramos quatro estratégias
rapeutas devem tomar é como distribuir o tempo previsto para a diferentes de simplificação. Cada uma delas é específica de certos
prática de habilidades específicas. Os pesquisadores que investigam tipos de habilidades ou de características que requerem polirritmos
essa questão compararam as programações de práticas maciças e bimanuais difíceis, fornecimento de acompanhamento acústico
distribuídas. Para essa questão, são relevantes dois tipos de pro- para habilidades caracterizadas por um ritmo específico e redução
gramação de prática. Uma envolve a duração e a freqüência das da velocidade de habilidades complexas que exigem velocidade e
sessões de prática. As evidencias experimentais são consistentes ao precisão. Além disso, ao praticar uma habilidade como um todo, os
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CONHECIMENTOS
aprendizes podem utilizar a estratégia da concentração da atenção a aquisição de habilidades. ”. (MAGILL, R. A. Aprendizagem motora:
para obter um tipo de prática em partes da experiência. ”. (MAGILL, conceitos e aplicações. São Paulo, Edgard Blucher, 5ª ed., 2000. p.
R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo, Ed- 307)
gard Blucher, 5ª ed., 2000. p. 283)
Conceito 7.2 – A identificação dos níveis de capacidades mo-
Conceito 6.5 – A prática mental pode ser eficiente na aprendi- toras pode ajudar o profissional a aprender o potencial da pessoa
zagem de habilidades principalmente quando associada à pratica para a aprendizagem e o desempenho bem-sucedidos de habili-
física dades motoras
A prática mental consiste em visualizar-se mentalmente de- A avaliação de capacidades motoras pode ser muito útil na
sempenhando uma habilidade física sem que haja o desempenho predição do potencial de sucesso das pessoas em habilidades mo-
físico da habilidade. As evidencias experimentais mostram que a toras específicas. A predição do potencial de sucesso depende da
prática mental pode ser eficiente como auxiliar da aprendizagem precisão da identificação das capacidades essenciais relacionadas
de habilidades, assim como na preparação para o desempenho de com o desempenho bem-sucedido das habilidades motoras de in-
habilidades bem aprendidas. A prática mental, aplicada como uma teresse e ao desenvolvimento e aplicação de testes válidos e con-
técnica de prática quando as pessoas estão aprendendo habilida- fiáveis de capacidades motoras. As capacidades relacionadas ao de-
des, produz melhores resultados quando utilizada em combinação sempenho de uma habilidade nas etapas iniciais da aprendizagem
coma prática física. A eficiência da prática mental pode ser expli- freqüentemente são diferentes daquelas que são importantes ao
cada sob o ponto de vista neuromuscular e cognitivo. As explica- desempenho da habilidade posteriormente na aprendizagem. Os
ção neuromuscular tem origem nas evidências experimentais que pesquisadores especificaram os tipos de capacidade relacionadas
mostram registros de EMG de grupos de músculos que estariam ao desempenho, de acordo com a etapa da aprendizagem: capaci-
envolvidos no desempenho físico real das habilidades imaginadas. dades mais gerais explicam o desempenho no inicio da aprendiza-
A explicação cognitiva mostra os benefícios da prática mental como gem, enquanto que capacidades motoras mais específicas à tarefa
subsídios para os aprendizes poderem responder diversas ques- estão relacionadas ao sucesso em etapas posteriores. Para os pro-
tões sobre o que fazer durante a etapa inicial da aprendizagem. Há fissionais predizerem o sucesso futuro, devem procurar identificar
evidências empíricas que destacam os méritos dos dois pontos de que capacidades da tarefa estão relacionadas com o desempenho
vista. Finalmente, a evidencia da prática mental parece estar rela- bem-sucedido da tarefa, e também, que níveis de capacidade no
cionada com a capacidade de a pessoa criar imagens mentais da indivíduo são essenciais ao desempenho bem-sucedido da tarefa.
ação. Entretanto, tanto pessoas com baixa capacidade de imaginar Testes de pré-seleção para fazer esse tipo de predição tem sido usa-
quando aquelas com alta capacidade, podem se beneficiar com a dos como sucesso em situações industriais, militares e esportivas. ”.
prática mental. ”. (MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e (MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São
aplicações. São Paulo, Edgard Blucher, 5ª ed., 2000. p. 295) Paulo, Edgard Blucher, 5ª ed., 2000. p. 318)
CAPÍTULO 7 – CAPACIDADES
DOS INTERESSES MERCADOLÓGICOS E DOS REFLEXOS DO
Conceito 7.1 – Uma diversidade de capacidades está subja- DISCURSO MIDIÁTICO NA CONSTRUÇÃO DE PADRÕES E
cente ao sucesso na aprendizagem e no desempenho motores ESTEREÓTIPOS DE BELEZA CORPORAL E NA ESPETACULA-
A pesquisa das diferenças individuais no comportamento mo- RIZAÇÃO DO ESPORTE
tor está relacionada ao estudo das capacidades motoras. Nesse
contexto, capacidade se refere a um traço geral ou qualidade do in-
dividuo que está relacionado ao desempenho de uma variedade de Os interesses mercadológicos e os reflexos do discurso midiá-
habilidades ou tarefas. Uma diversidade de capacidades motoras tico na construção de padrões e estereótipos de beleza corporal e
está subjacente ao desempenho de habilidades motoras. Diferentes na espetacularização do esporte são fenômenos que ocorrem na
pessoas possuem diferentes níveis dessas capacidades. Uma ques- interface entre o mercado, a mídia e a cultura contemporânea. De
tão importante que os pesquisadores tem debatido durante vários forma técnica, podemos abordar essa temática considerando os se-
anos procura entender como essas capacidades se relacionam en- guintes aspectos:
tre si num mesmo indivíduo. A hipótese da capacidade motora geral - Interesses mercadológicos: No contexto atual, o mercado exer-
alega que as capacidades estão altamente relacionadas, enquanto ce uma influência significativa na definição dos padrões de beleza
que a hipótese da especificidade afirma que as capacidades são re- corporal e na espetacularização do esporte. Empresas, marcas e
lativamente independentes uma das outras. As evidencias experi- indústrias relacionadas à moda, cosméticos, fitness, entre outros
mentais apóiam de forma consistente a hipótese da especificidade. setores, têm interesse em promover e vender produtos associados
Uma abordagem para identificar as capacidades perceptivo- a esses padrões, criando uma demanda e alimentando um ciclo de
-motoras e de proficiência física é a taxonomia de Fleishamn. Essas consumo.
capacidades desempenham um papel fundamental no desempe- - Discurso midiático: A mídia desempenha um papel central na
nho de habilidades motoras. Já que é possível medir essas capa- difusão e reforço dos padrões e estereótipos de beleza corporal,
cidades, um profissional envolvido em habilidades motoras pode assim como na espetacularização do esporte. Através de veículos
fazer uma avaliação do nível de cada capacidade da pessoa. As evi- de comunicação, como revistas, programas de TV, redes sociais e
dencias experimentais mostram que as pessoas diferem na quanti- publicidade, são veiculadas representações idealizadas do corpo e
dade de cada capacidade que possuem. Os níveis de capacidades do desempenho esportivo, influenciando a percepção e o compor-
motoras indicam os limites que afetam o potencial da pessoa para tamento da sociedade.
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CONHECIMENTOS
- Construção de padrões e estereótipos de beleza corporal: O na construção de identidades individuais e coletivas, no desenvolvi-
discurso midiático contribui para a construção de padrões e este- mento de habilidades motoras, no lazer, na expressão artística e na
reótipos de beleza corporal ao valorizar determinados corpos con- promoção da saúde.
siderados esteticamente ideais, muitas vezes inalcançáveis para a - Vínculos com a organização da vida individual: A cultura cor-
maioria das pessoas. Esses padrões podem gerar pressões sociais, poral de movimento também está relacionada à organização da
afetando a autoestima, a saúde mental e o bem-estar das pessoas. vida individual. Ela influencia as escolhas e as vivências corporais de
- Espetacularização do esporte: A mídia também tem um papel cada pessoa, podendo moldar suas preferências, seu estilo de vida,
fundamental na espetacularização do esporte, transformando atle- sua relação com o corpo e sua forma de se movimentar. As práticas
tas e eventos esportivos em espetáculos midiáticos. A busca pelo corporais podem contribuir para o desenvolvimento físico, emocio-
entretenimento e audiência pode levar a uma ênfase excessiva em nal, cognitivo e social dos indivíduos, influenciando seu bem-estar
resultados, rivalidades, dramas pessoais e narrativas emocionais, e qualidade de vida.
muitas vezes distanciando-se dos aspectos esportivos, éticos e edu-
cativos do esporte. Ao abordar essas compreensões no contexto pedagógico, é pos-
- Reflexos na sociedade: Esses interesses mercadológicos e o sível promover uma reflexão sobre a importância da cultura corpo-
discurso midiático influenciam a percepção e o comportamento da ral de movimento na formação integral dos indivíduos. É necessário
sociedade em relação ao corpo e ao esporte. Isso pode resultar em valorizar a diversidade de práticas e saberes, estimular a participa-
uma busca incessante pela aparência física idealizada, em práticas ção ativa dos estudantes, fomentar a consciência corporal e promo-
de saúde questionáveis, em preconceitos e discriminação baseados ver uma educação que favoreça a compreensão crítica e reflexiva
em padrões de beleza e na redução do esporte a um espetáculo sobre a cultura corporal de movimento e seus vínculos com a vida
consumível, desprezando seus valores educativos, inclusivos e de coletiva e individual. Dessa forma, os estudantes poderão explorar
superação. e vivenciar plenamente as riquezas e potencialidades presentes nas
diferentes manifestações do movimento humano.
É importante compreender esses fenômenos e suas repercus-
sões para uma análise crítica e uma atuação consciente no campo
da educação física, da promoção da saúde e da cultura corporal. É DO PLANEJAMENTO E EMPREGO DE ESTRATÉGIAS PARA
necessário promover a valorização da diversidade corporal, a des- RESOLVER DESAFIOS E AUMENTAR AS POSSIBILIDADES DE
construção de estereótipos, a reflexão sobre os impactos do discur- APRENDIZAGEM DAS PRÁTICAS CORPORAIS E DOS PRO-
so midiático e a promoção de práticas esportivas que estimulem CESSOS DE AMPLIAÇÃO DO ACERVO CULTURAL NESSE
valores como inclusão, respeito, saúde e bem-estar, indo além da CAMPO
espetacularização e da busca obsessiva por padrões irreais.
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CONHECIMENTOS
ao trabalho podem levar a problemas de saúde, como lesões mus- Promoção da saúde e prevenção de doenças
culoesqueléticas, distúrbios ergonômicos, doenças ocupacionais e - Reforçar a importância da educação em saúde como um com-
problemas de saúde mental. ponente essencial das práticas corporais, fornecendo informações
Nesse contexto, a adoção de práticas corporais e bem orienta- sobre higiene, alimentação saudável, postura adequada, ergonomia
das pode trazer benefícios. O exercício físico regular, por exemplo, e cuidados preventivos.
fortalece a musculatura, melhora a resistência cardiovascular, esti- - Estimular a reflexão crítica sobre a influência de fatores sociais,
mula a circulação sanguínea e contribui para a manutenção do peso culturais e psicológicos na saúde, buscando ações que promovam a
corporal de forma saudável. Além disso, a prática de atividades fí- equidade e a justiça na promoção da saúde para todos.
sicas promove a liberação de endorfinas, substâncias responsáveis
pela sensação de prazer e bem-estar, o que pode ajudar na redução Ao promover reflexões sobre as relações entre as práticas cor-
do estresse e na melhora da saúde mental. porais e os processos de saúde/doença, estamos capacitando os in-
No que diz respeito à prevenção de lesões e doenças ocupacio- divíduos a adotarem uma abordagem consciente e responsável em
nais, a prática de exercícios que fortalecem os músculos, juntamen- relação à sua saúde. Dessa forma, esperamos para uma sociedade
te com as estruturas articulares e melhoram a flexibilidade pode de- mais saudável e consciente, em que as práticas corporais desem-
sempenhar um papel crucial. A execução correta dos movimentos, penham um papel significativo na promoção do bem-estar físico,
aliada a uma postura adequada, pode ajudar a reduzir o risco de mental e social.
lesões musculares e articulares relacionadas ao trabalho.
Além disso, as práticas corporais podem contribuir para a cons-
cientização corporal, o que é fundamental para que os trabalhado- DA IDENTIFICAÇÃO À MULTIPLICIDADE DE PADRÕES DE
res identifiquem sinais precoces de desconforto ou fadiga, evitando DESEMPENHO, SAÚDE, BELEZA E ESTÉTICA CORPORAL,
que pequenos problemas se tornem emocionais ou mais graves. Ao ANALISANDO, CRITICAMENTE, OS MODELOS DISSEMINA-
estar mais conectado com o próprio corpo, o indivíduo tem a capa- DOS NA MÍDIA E DISCUSSÃO DE POSTURAS CONSUMIS-
cidade de reconhecer limites e acompanhar os sinais de alerta que TAS E PRECONCEITUOSAS
seu corpo envia.
No entanto, é importante ressaltar que as práticas corporais por
si só não são a solução para todos os problemas relacionados à saú- As relações entre a realização das práticas corporais e os proces-
de e ao trabalho. É necessário que existam condições adequadas sos de saúde/doença são temas que despertam reflexões e críticas
no ambiente laboral, como ergonomia adequada, pausas regulares pertinentes, especialmente quando consideramos o contexto das
para descanso, conscientização sobre saúde e segurança no traba- atividades laborais. Nesse cenário, as práticas corporais desempe-
lho, entre outros fatores. nham um papel significativo na promoção da saúde e no enfrenta-
Vejamos uma abordagem pedagógica que fomente a conscien- mento das doenças relacionadas ao trabalho.
tização e o pensamento crítico sobre essas relações, visando à pro- Em primeiro lugar, é importante ressaltar que as práticas cor-
moção de uma vida saudável e à prevenção de doenças. porais abrangem uma ampla variedade de atividades, incluindo
exercícios físicos, esportes, dança, yoga, pilates e outras formas de
Conhecimento sobre os processos de saúde e doença movimento do corpo. Essas práticas têm o potencial de contribuir
- Explorar os conceitos de saúde e doença, enfatizando a com- positivamente para a saúde física e mental dos indivíduos, tanto em
preensão holística do ser humano, que envolve aspectos físicos, um contexto geral quanto específico para o ambiente de trabalho.
emocionais, sociais e ambientais. Quando se trata de atividades laborais, muitos trabalhadores
- Discutir a importância do conhecimento sobre os processos de enfrentam desafios que podem afetar sua saúde e bem-estar. As
saúde e doença para uma abordagem consciente e responsável das exigências físicas excessivas, posturas inadequadas, repetição de
práticas corporais. movimentos, sedentarismo prolongado, estresse e outros fatores
relacionados ao trabalho podem levar a problemas de saúde, como
Impacto das práticas corporais na saúde lesões musculoesqueléticas, distúrbios ergonômicos, doenças ocu-
- Analisar como a prática regular de atividades físicas e espor- pacionais e problemas de saúde mental.
tivas pode contribuir para a prevenção de doenças, fortalecimento Nesse contexto, a adoção de práticas corporais adequadas e
do sistema imunológico, controle do estresse e melhoria da quali- bem orientadas pode trazer benefícios significativos. O exercício
dade de vida. físico regular, por exemplo, fortalece a musculatura, melhora a re-
- Refletir sobre os benefícios físicos, psicológicos e sociais decor- sistência cardiovascular, estimula a circulação sanguínea e contribui
rentes da adoção de práticas corporais no contexto das atividades para a manutenção do peso corporal saudável. Além disso, a prática
laborais. de atividades físicas promove a liberação de endorfinas, substân-
cias responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar, o que pode
Riscos e cuidados nas práticas corporais ajudar na redução do estresse e na melhoria da saúde mental.
- Abordar os riscos e lesões potenciais relacionados à realização No que diz respeito à prevenção de lesões e doenças ocupacio-
ou excessiva de práticas corporais, tanto no contexto do lazer quan- nais, a prática de exercícios que fortalecem os músculos, alongam
to do trabalho. as estruturas articulares e melhoram a flexibilidade pode desempe-
- Promova a conscientização sobre a importância da prática se- nhar um papel crucial. A correta execução de movimentos, aliada
gura, da orientação profissional adequada e da escuta atenta do a uma postura adequada, pode ajudar a reduzir o risco de lesões
corpo para evitar possíveis problemas de saúde. musculares e articulares relacionadas ao trabalho.
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CONHECIMENTOS
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CONHECIMENTOS
Em resumo, a identificação das formas de produção dos precon- A interpretação e recriação dos valores, sentidos e significados
ceitos, compreendendo seus efeitos negativos, é o primeiro passo nas diferentes práticas corporais são fundamentais para compreen-
para combater posicionamentos discriminatórios nas práticas cor- dermos a riqueza e a diversidade presentes nesses contextos. Ao
porais. Através da educação, desconstrução de estereótipos, cria- reconhecer e valorizar a subjetividade e individualidade dos partici-
ção de espaços seguros e acolhedores, e garantia de representati- pantes, estamos permitindo que cada sujeito construa sua própria
vidade, é possível promover uma cultura mais inclusiva e igualitária identidade por meio dessas práticas. Para os profissionais envolvi-
nessas práticas, permitindo que todos possam desfrutar de seus dos nessa área, é essencial incentivar a reflexão crítica, o diálogo
benefícios sem discriminação. intercultural e a valorização das interpretações pessoais, a fim de
promover uma vivência mais enriquecedora e significativa das prá-
ticas corporais.
DA INTERPRETAÇÃO E RECRIAÇÃO DOS VALORES, DOS
SENTIDOS E DOS SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS DIFEREN-
TES PRÁTICAS CORPORAIS, BEM COMO AOS SUJEITOS QUE DO RECONHECIMENTO DAS PRÁTICAS CORPORAIS COMO
DELAS PARTICIPAM ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA IDENTIDADE CULTURAL
DOS POVOS E GRUPOS
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CONHECIMENTOS
3) A relação entre práticas corporais e identidade cultural cer relações existentes. Ainda incentivamos os indivíduos a buscar
- Analisar como as práticas corporais contribuem para a forma- e participar de diferentes grupos, clubes, associações e eventos es-
ção da identidade cultural de um povo ou grupo, ajudando a definir portivos, ampliando suas redes de contatos sociais e enriquecendo
sua singularidade e pertencimento. sua vida social.
- Abordar a transmissão intergeracional dos conhecimentos e A promoção da saúde também é um importante benefício da
habilidades corporais como uma forma de preservar e fortalecer a fruição autônoma das práticas corporais. Ao proporcionar às pes-
identidade cultural ao longo do tempo. soas a autonomia para escolher e participar de atividades físicas e
esportivas que lhes sejam prazerosas e adequadas, estamos con-
4) Impacto social das práticas corporais tribuindo para o desenvolvimento físico, emocional e mental. A
- Discutir como as práticas corporais podem influenciar o desen- prática regular de exercícios físicos, escolhidos de forma autônoma,
volvimento social, promovendo a coesão comunitária, fomentando pode ajudar a prevenir doenças, melhorar a qualidade de vida, pro-
o respeito mútuo e valorizando a diversidade cultural. mover o equilíbrio emocional e fortalecer o sistema imunológico.
- Explorar o potencial das práticas corporais como ferramentas Para promover a fruição das práticas corporais de forma au-
de inclusão social, empoderamento e promoção da igualdade de tônoma, é importante oferecer aos indivíduos um ambiente edu-
gênero, desafiando estereótipos e preconceitos. cativo que valorize suas preferências, estimule a experimentação
de diferentes atividades, ofereça opções diversificadas e respeite
O reconhecimento das práticas corporais como elementos cons- suas individualidades. É necessário criar oportunidades para que
titutivos da identidade cultural dos povos e grupos é fundamental os estudantes possam vivenciar e explorar as práticas corporais de
para preservar e valorizar a diversidade cultural em nossa socieda- maneira livre, autêntica e prazerosa, proporcionando-lhes experi-
de. Ao compreender a importância dessas práticas e promover seu ências positivas e significativas.
reconhecimento, estamos contribuindo para a construção de uma A fruição das práticas corporais de forma autônoma é essencial
sociedade mais inclusiva, respeitosa e consciente da riqueza cultu- para potencializar o envolvimento em contextos de lazer, ampliar
ral presente em nosso mundo. Como profissionais da área, temos as redes de sociabilidade e promover a saúde. Ao proporcionar au-
a responsabilidade de incentivar o diálogo intercultural e valorizar tonomia na escolha das atividades, valorizar o lazer como momen-
as práticas corporais como patrimônios culturais imateriais a serem to de autodescoberta, incentivar a participação em grupo e cons-
preservados e celebrados. cientizar sobre os benefícios para a saúde, estamos contribuindo
para que as pessoas desfrutem plenamente das práticas corporais,
melhorando sua qualidade de vida e fortalecendo seu bem-estar
DA FRUIÇÃO DAS PRÁTICAS CORPORAIS DE FORMA AUTÔ- físico, mental e social. Assim, convidamos a todos a explorar e fruir
NOMA PARA POTENCIALIZAR O ENVOLVIMENTO EM CON- as práticas corporais de forma autônoma, de
TEXTOS DE LAZER, AMPLIAR AS REDES DE SOCIABILIDADE
E A PROMOÇÃO DA SAÚDE
DO RECONHECIMENTO DO ACESSO ÀS PRÁTICAS CORPO-
RAIS COMO DIREITO DO CIDADÃO, PROPONDO E PRODU-
A compreensão da importância da fruição das práticas corporais ZINDO ALTERNATIVAS PARA SUA REALIZAÇÃO NO CON-
de forma autônoma para potencializar o envolvimento em contex- TEXTO COMUNITÁRIO
tos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e promover a saúde.
Nesse sentido, é fundamental abordar esse tema de maneira peda-
gógica, visando desenvolver nos indivíduos habilidades e conheci- Com o estabelecimento da necessidade e do direito ao lazer
mentos que os capacitem a usufruir das práticas corporais de forma que está previsto na Constituição Federal e, também, como direi-
autônoma e consciente. to estabelecido e assegurado na Declaração Universal dos Direitos
A fruição das práticas corporais de forma autônoma significa Humanos, os municípios brasileiros precisaram criar normas legais
que as pessoas se engajam nessas atividades por escolha própria, para a criação e manutenção de espaços de lazer. Trata-se de uma
movidas pelo prazer, interesse e satisfação que encontram nelas. obrigatoriedade prevista no Estatuto da Cidade (Lei 10.257/01), que
Essa autonomia é fundamental para que os indivíduos possam des- tem por objetivo “garantir o direito à cidade como um dos direitos
frutar plenamente das atividades físicas e esportivas, adequando-as fundamentais da pessoa humana, para que todos tenham acesso
às suas preferências pessoais e necessidades individuais. às oportunidades que a vida urbana oferece”. Para tanto, os muni-
Ao promover a fruição das práticas corporais de forma autôno- cípios com população superior a vinte mil habitantes devem criar
ma, buscamos potencializar o envolvimento em contextos de lazer. um Plano Diretor, e inserir questões relativas ao lazer à população.
O lazer é um momento de descontração, prazer e descanso, no qual O Plano Diretor é um instrumento legal, municipal, que contém os
as pessoas têm a oportunidade de escolher e participar de ativida- objetivos, diretrizes e estratégias da política de desenvolvimento e
des que lhes proporcionem satisfação e bem-estar. Ao desenvolver de expansão urbana das cidades. Assim, por ser o lazer um direito
nas pessoas a autonomia para escolher e desfrutar das práticas cor- do cidadão, não há como se pensar em gestão pública sem que se
porais nesses momentos, ampliamos as possibilidades de vivenciar dê importância ao planejamento e a ações públicas para que as ci-
experiências enriquecedoras e gratificantes. dades sejam dotadas de espaços e equipamentos públicos para a
Além disso, a fruição das práticas corporais de forma autônoma prática de lazer da população. 30
contribui para ampliar as redes de sociabilidade. Por meio das ativi-
dades físicas e esportivas, as pessoas têm a oportunidade de intera-
gir, conhecer novas pessoas, estabelecer vínculos sociais e fortale- 30 http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BUOS-
-ARKNBW/tese_vers_o_final_corrigida.pdf?sequence=1
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CONHECIMENTOS
Apesar do amparo legal, nem todos os municípios oferecem in- móveis – em movimento e estacionados. Assim, a rua, este espaço
fraestrutura de lazer para seus cidadãos. Quando o oferecem, nem democrático, que na grande maioria das cidades era uma extensão
sempre todos têm as mesmas oportunidades para usufruir desses das casas e palco do jogo infantil, passa a ser restrita ao uso de veí-
espaços. Existe uma série de restrições para a utilização dos espaços culos. Além desses fatores, a insegurança e a falta de investimento
públicos para o lazer nas nossas cidades. Entre elas, há as distâncias pelo poder público em espaços de lazer, principalmente em cidades
entre a moradia e os espaços que normalmente estão concentra- da América Latina, contribuem para a não permanência das pessoas
dos em áreas centrais, os deficientes serviços de transporte urbano nas ruas de suas cidades. Essa afirmação coincide com os resultados
e as barreiras socioeconômicas. Todas essas restrições contribuem descritos nos estudos, p. ex., de Olivier (2008), Silva e Nunes (2008),
para confinar grande parte da população. Além disso, muitas vezes Sousa Junior et al. (2010) e Silva (2012).
há conflitos que se estabelecem em função da omissão do poder
público que considera o lazer como algo supérfluo e dispensável, Muitas referências a espaços de lazer, na literatura consultada,
deixando suas cidades menos compatíveis em relação à qualidade são para determinados tipos de espaços, como praças, parques,
de vida. Assim, o planejamento e o investimento em espaços de centros comunitários, ginásios de esportes, ruas, associações de
lazer normalmente são vistos, pelo poder público, como algo que bairro, igrejas, escolas como unidades recreativas e espaços pú-
pode esperar. blicos passíveis de abrigar atividades de lazer. Tais espaços são
Para os moradores dos centros urbanos, a prática do lazer con- aproveitados para práticas como basquetebol, handebol, futebol,
tribui para que se refaçam psíquica e somaticamente do desgaste futebol de campo, futebol de várzea, futebol sete, atletismo, futsal,
do atual ritmo de vida, o que demonstra a relação entre lazer, saú- minibasquete, ginástica, capoeira, tênis, jogos adaptados, jogos e
de e qualidade de vida. Estudos apontam, ainda, que há relação ginástica para a terceira idade, musculação, voleibol, caminhadas
entre lazer e educação que não devem ser negligenciados. Mas, e corridas orientadas, recreação, dança, yoga, alongamento, gru-
para que os moradores obtenham esses benefícios, é preciso que po de convivência, step, brinquedoteca, bocha, biodança, ginástica
o poder público invista em espaços e equipamentos para a prática olímpica e expressão corporal.
de atividades de lazer. O lazer evidencia múltiplos entendimentos e Espaços de lazer convencionais, como parques e áreas verdes,
significados, mas, para Gomes e Elizalde (2012), lazer deve ser en- são citados por Figueiredo et al. (2013) em estudo na cidade de
tendido como “uma necessidade humana e uma dimensão da cul- Belém (Pará). Nesses espaços, enquanto os turistas entendem suas
tura caracterizada pela vivência lúdica de manifestações culturais atividades como passeio, os moradores as compreendem ora como
no tempo/espaço social” (p. 90). Para Melo e Alves Junior (2012), passeio, ora como caminhada. Os autores ainda verificaram que
as atividades de lazer são práticas culturais entendidas não apenas esses espaços são de suma importância no sistema urbano, pois,
pelas manifestações artísticas (cinema, literatura, artes plásticas além do seu valor paisagístico, contribuem para a redução de ruí-
etc.), mas também pelo esporte e, englobam, ainda, os diversos in- dos, a despoluição do ar, servem de abrigo à fauna, à melhoria da
teresses humanos, suas diversas linguagens e manifestações bem qualidade de vida da população, proporcionam o reencontro com a
como, um conjunto de valores, normas e princípios que regem a so- natureza e o resgate de vivências modificadas em função da atual
ciedade. De fato, ambas as concepções convergem para elementos complexidade do ambiente urbano.
básicos associados à ideia de lazer, como a necessidade humana, a Ainda sobre o estudo de Figueiredo et al. (2013), as caminha-
cultura, o uso do tempo, a relação com o ambiente físico e a vida das dos moradores e turistas em áreas naturais os sensibilizam a
em sociedade. refletir sobre o cuidado que devem ter com o meio no qual vivem
Os espaços públicos de lazer, entre seus múltiplos benefícios, e para que assumam uma postura de comprometimento e colabo-
possibilitam interações sociais e ponto de encontro de convívio im- ração para a conservação do meio ambiente, exercendo, assim, sua
portante e singular para sua comunidade. Por isso, “pensar ações cidadania. Os autores ainda afirmam que os espaços usufruídos
de lazer na cidade como fator de desenvolvimento social é pensar pela população e por turistas fazem parte do patrimônio ambiental
na auto-organização da sociedade, proporcionando vida comuni- urbano e, também por essa razão, é preciso que os moradores rei-
tária e qualidade de vida, com a presença do poder público mais vindiquem ao Estado sua distribuição igualitária na malha urbana,
próximo da comunidade” (SAWITZKI, 2012, p.12). para além das áreas centrais. São necessários espaços de lazer nos
Considerando-se a relevância social dos espaços e equipamen- bairros mais periféricos.
tos de lazer, cabe buscar conceituar ambas as expressões. São ter-
mos presentes na legislação dedicada à qualidade de vida das pes- Abaixo seguem alguns equipamentos públicos
soas e, portanto, fundamentais para lidar com políticas públicas no
tema. A seguir, discutem-se os conceitos de espaço de lazer e de a. simulador de corrida31
equipamento de lazer conforme tratados na literatura especializa- O que trabalha: o aparelho fortalece os músculos das pernas e
da, e publicada, no campo de estudos do lazer. também o abdômen. Observe a postura no agachamento, deixe sua
Os parques como espaços públicos de lazer, presentes em mui- coluna sempre alinhada, barriga para dentro, peito aberto e ombros
tas cidades do mundo, surgiram sob o pensamento higienista. Essa para trás.
visão orientou as primeiras iniciativas de áreas verdes que surgiram
para responder à necessidade sentida pelos cidadãos de fazer pi- b. puxador
queniques, passear com a família e ter um espaço onde pudessem O que trabalha: o puxador é um aparelho que fortalece a mus-
desfrutar de seu tempo livre, o que fez com que ocupassem essas culatura das costas e no segundo exercício trabalha o abdômen
áreas (COSTA; CAMARGO, 2012). também, deixando a barriga do jeito que a gente gosta.
Com a crescente expansão das cidades e o aumento do tráfego
de veículos a partir da década de 1960, em todo o mundo, os es- 31 Adaptado de: https://vejasp.abril.com.br/blog/academia/aparelhos-pracas-exer-
paços disponíveis nas cidades foram sendo preenchidos com auto- cicio/
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CONHECIMENTOS
valor individual é função do valor que a sociedade, em um dado “entende a praça como o lugar privilegiado e tradicional de trocas,
momento, atribui a cada pedaço de matéria, isto é, cada fração da ponto de convergências de ruas e teatro de todas as forças sociais,
paisagem.” (SANTOS, 1997, p. 83). eixo de cada movimento”.
Silva (1991) faz o seguinte comentário relacionado à questão Por último, os autores Robba e Macedo (2002, apud DE ANGE-
espacial: LIS et al, 2005, p.2) contextualizam: “mesmo havendo divergências
O espaço se define como um conjunto de formas representa- entre os autores, todos concordam em conceituá-la como um espa-
tivas de relações sociais do passado e do presente, e por uma es- ço público e urbano, celebrada como um espaço de convivência e
trutura representada por relações sociais que estão acontecendo lazer dos habitantes urbanos.”
diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos Esses espaços se alteraram no decorrer do tempo histórico,
e funções. O espaço é então um verdadeiro campo de forças cuja conforme o autor De Angelis nos atesta, relativo as praças, pois: “na
aceleração é desigual (SILVA, 1991, p. 13). Antiguidade, sua função era bem mais rica de significado, não se
limitando a lugar de cruzamento das vias públicas, estacionamen-
Definições das Praças e suas Funções ao Longo do Tempo tos para automóveis ou de ponto para comércio de mercadorias as
mais diversas (DE ANGELIS et al, 2005, p.2-3)”.
Para entender os diversos significados das praças, desde sua “Do símbolo de liberdade (a ágora ateniense era o lugar onde,
origem, até os dias de hoje, faz-se necessário entender as praças no não só era possível fazer reuniões, mas também onde cada um po-
contexto de alguns autores. dia dar sua opinião) ao símbolo de poder - o fórum romano era o lo-
De acordo com Rigotti, (1965, apud DE ANGELIS et al, 2005, p. cal de comércio e de política popular (DE ANGELIS et al 2005, p. 3)”.
2) “as praças são locais onde as pessoas se reúnem para fins comer- As praças em sua maioria, no entanto, se reduziram a espaços
ciais, políticos, sociais ou religiosos, ou ainda, onde se desenvolvem verdes, sem representatividade de convívio social para a maioria
atividades entretenimento.” das pessoas que passam por ela, e consequentemente pelo des-
Ardoroso defensor da arte nas praças, Sitte (1992, p.25, apud caso do poder público em reativá-la como sendo espaços de lazer,
DE ANGELIS et al, 2005, p.2) escreve que nelas “[...] Concentrava-se diversão, datas festivas, dentre outras conotações. Tal perca de re-
o movimento, tinham lugar as festas públicas, organizava-se as ce- presentatividade social deu-se especialmente com o advento do
rimônias oficiais, anunciavam-se as leis, e se realizava todo tipo de capitalismo, ou seja, a partir das grandes navegações. De Angelis
eventos semelhantes.” (2005) faz o seguinte comentário:
Todavia “a praça é o lugar intencional do encontro, da perma- A partir do momento em que as estruturas logísticas dos mer-
nência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações cados, a troca de informação e a própria informatização, aliados ao
da vida urbana e comunitária e, consequentemente, de funções es- processo de globalização” [...] “distanciaram-se da dimensão comu-
truturantes e arquiteturas significativas (LAMAS apud DE ANGELIS, nitária da coletividade, e se aproximaram do privado na sua dimen-
2005, p.2)”. são familiar, se não, ao seu isolamento individual (DE ANGELIS et al,
No contexto urbano, as praças compostas em sua maioria por 2005, p.3).
espécies das mais variadas e sendo esses organismos vivos e como No século XVIII com o advento da Revolução Industrial, abre
tal, passível de transformação que, como qualquer organismo com caminho às transformações sociais, políticas e econômicas, muda
o passar dos anos se altera e se não for cuidado se deteriora. usos e costumes, lazer e muda o cotidiano da humanidade. As pes-
Orlandi, (1994, apud DE ANGELIS et al, 2005, p.2) se refere às soas não têm mais o tempo para a contemplação, para o bate-papo.
praças ainda como: O trabalho assalariado exige delas dedicação, horários, e, isso faz
Um nó formal que melhor representa a qualidade do espaço com que novas necessidades surjam em suas vidas, exigindo dos
urbano, a praça constitui, por si só, um sucesso a atestar os valores espaços públicos adequação, novas instalações e infraestruturas.
sociais alcançados pela comunidade, que soube dar o justo valor às No século XX acontece no Brasil à consolidação da atividade paisa-
funções institucionais na organização civil. gística, uma vez que a população urbana cresce assustadoramente
e as transformações sociais e urbanas são inevitáveis, repercutindo
Se para alguns autores, as praças exprimem locais de bate já no século XXI, nos espaços verdes, sobretudo nas praças, de for-
papo, reencontro, para outros podem significar trocas de experiên- ma negativa.
cias, lazer, meditação, ou ainda: “lugar fundamental da vida social, Com o desenvolvimento técnico-industrial, surgem outras for-
espaço de encontro, de trocas de palavras e mercadorias” (DE AN- mas mais sofisticadas de diversão como (aparelhos eletrônicos),
GELIS et al, 2005, p.2). Segundo Casseti e Lietti (apud DE ANGELIS, equipamentos esportivos, playground, consumismo e até mesmo
1995, p.2), é considerada, desde sempre, “como o âmbito da visibi- outras formas de valores ligadas à modernidade. Em detrimento,
lidade, onde aparecer significa existir na qualidade de ator social”. as praças cada vez mais perdem conotação na vida, o significado
As manifestações artísticas e culturais de um povo são expres- social, especialmente, dessa geração e talvez quem sabe, de gera-
sas nas ideias e ideais do projetista que ao projetar uma praça ou ções futuras como nos diz o autor De Angelis: “praça como espaço
até mesmo um jardim, expõe de forma clara e concisa os modismos da memória histórica que forneceu tanto a moldura quanto o fun-
e atualidades de uma época e de um povo. Os valores também são do para discursos políticos e culturais sobre a cidade como local de
expressos nos traços culturais contidos nesses espaços públicos, identidade, de tradição, de saber, de autenticidade, de continuida-
que foram se alterando nos anos e no tempo. Muitos dos valores de e estabilidade (DE ANGELIS, 2005, p. 3)”.
resistiram, outros modificaram e outros até se perderam.
De forma bastante concisa, Spirn (1995, apud DE ANGELIS et
al, 2005, p.2), exprime bem o caráter das praças: “lugares para ver
e ser visto, para comprar e fazer negócios, para passear e fazer po-
lítica”. A autora Zuliane (1995, apud DE ANGELIS et al, 2005, p.2)
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS
deiam. Os ambientes físicos limitados em espaço e elementos, prin- clara e não muito abrangentes, podendo ainda o brainstorming ser
cipalmente os naturais, com poucas possibilidades de manipulação, realizado em pequenos grupos ou individualmente, de forma oral
são fatores determinantes na inibição da criatividade. ou escrita.
Quanto ao meio ambiente sócio-cultural, todas as situações de Método checklist (lista de checagem), esse método procu-
autoritarismo, alta diretividade, excesso de formalismo, críticas se- ra, através de uma categoria de perguntas, delinear uma área de
veras, julgamentos estereotipados, indisciplina, diminuição dos ca- abrangência do problema, visando a idéias mais criativas. Próprio
nais de comunicação são os fatores inibidores da criatividade. para estimular a imaginação e a capacidade redefinição, considera-
O espaço físico e seus elementos naturais ou artificiais, agradá- das necessárias ao pensamento criativo.
veis e manipuláveis, com possibilidade de ser alterados, são fatores A força do aprendizado baseado no problema
facilitadores.
O processo de criatividade dever ser intencional e objetivamen- Atualmente, as abordagens relacionadas à aprendizagem es-
te desenvolvido. tão mudando das velhas tradições que enfatizam a aquisição do
conteúdo para visões mais novas que enfatizam a importância da
Métodos Criativos de Ensino na Educação Física eficiente resolução de problema. Os aprendizes de hoje devem ser
capazes de definir problemas com precisão e separar a informação
O método de ensino diz respeito às técnicas, aos recursos e disponível de que precisam para propor soluções factíveis. Uma
procedimentos utilizados pelo professor, de forma inteligente e ra- abordagem de aprendizagem baseada no problema ensina os in-
cional, para facilitar a aprendizagem dos alunos, ou seja, promover divíduos a como atacar os cenários de problemas da maneira mais
a mudança de comportamentos desejáveis e duradouros. (MEDEI- eficaz possível. Ensina-os que normalmente não existe uma única
ROS, 1977 apud TAFFAREL, 1985). resposta correta para um problema, mas que as melhores soluções
Existem métodos que podem promover a aprendizagem em são aquelas defensáveis e, sempre que possível, com suporte nas
um sentido restrito e imediato, mas que, por outro lado, confor- evidências científicas existentes. (SCHMIDT & WRISBERG, 2001).
me menciona Kuethe (1978), poderão produzir efeitos colaterais,
como, por exemplo, atitudes negativas dos alunos em relação à ma- Combs (1981 apud SCHIMIDT & WRISBERG, 2001), sugere que:
téria, disciplina ou ao conteúdo. “A solução de problema eficaz é aprendida confrontando-se
Na Educação Física, em decorrência da tradição histórica e da in- eventos, definindo-se problemas, quebrando a cabeça com eles,
fluência dos tradicionais métodos de ensino das escolas europeias e experimentando, tentando, pesquisando soluções eficazes. Resol-
americanas, por muito tempo prevaleceram e ainda continuam em ver problema é utilizar o cérebro e todos dos recursos que se pode
uso os tradicionais métodos diretivos que se caracterizam pelo au- comandar para buscar soluções. É um processo criativo não-preso a
toritarismo por parte do professor, que toma todas as decisões em qualquer conteúdo específico. Alguém pode solucionar problemas
relação ao processo ensino-aprendizagem. Por outro lado, existe a eficientemente em qualquer área que desejar”.
possibilidade, segundo Mosston (1978 apud TAFFAREL, 1985), de
buscarmos formas de ensino menos diretivas, que realmente con- Nesse sentido, os alunos devem sempre ser desafiados a reali-
tribuiriam para a autonomia, autodeterminação e criatividade dos zar novas descobertas, e não somente receberem passivamente as
alunos. informações fornecidas pelo professor. É responsabilidade do pro-
Em uma publicação do Batelle-Instituts, Manager-Magazin fessor propiciar um ambiente favorável para que o aluno sinta-se
(1972 apud SIKORA 1976), foram apresentadas seis categorias de estimulado a pensar e realizar novas descobertas.
métodos criativos que perfaziam um total de 43 métodos. Entre
estes métodos, segundo as experiências de Dieckert (1976 apud Cabe ao professor a iniciativa de romper com o tradicionalismo
TAFFAREL, 1985), somente alguns são adaptáveis ao ensino da Edu- operante nas aulas de Educação Física no sentido de inovar ou reno-
cação Física, que são: var o conteúdo de ensino para assim, com seus alunos, desenvolver
Método das perguntas operacionalizadas, onde um dos objeti- comportamentos singulares que contribuirão para a produção cria-
vos é a estimulação da criatividade é promover a incerteza, onde o tiva e encorajamento do processo criativo em sua totalidade.
aluno constata que possui muitas respostas possíveis. Pois aprendizagem no modelo autoritário desestimula a partici-
Método da análise, em relação à Educação Física, o método da pação dos alunos, sendo que estes não podem dar opiniões ou cri-
análise facilitaria a identificação, por parte dos alunos, das caracte- ticar algum ato do professor. O processo de aprendizagem no qual o
rísticas próprias de um determinado material, local, do conteúdo e aluno é atuante como no ato criativo em que lhe é lançado desafios
de sua multifuncionalidade. e os mesmos deverão buscar soluções para o problema lançado, é
Método da análise-síntese, o método pressupõe a combinação, a partir desse momento que o processo de aprendizado acontece
a composição das partes, para formar uma nova estrutura, uma mais eficazmente, pois ele buscará soluções factíveis e se concen-
configuração, uma nova forma, uma nova solução. Outra possibili- trará na busca de tal resultado além da maior interação e coopera-
dade seria a ocorrência simultânea dos processos análise e síntese, ção com o grupo que o cerca.
sem que ocorra, necessariamente, o ato de análise e em seguida a
síntese.
Método brainstorming, o método brainstorming é um dos mé-
todos que suas experiências comprovaram como sendo adaptável
para “a execução de ações, movimentos e jogos esportivos”. Ressal-
ta, no entanto, esse autor, que as tarefas devem ser de estruturas
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS
4. FUNDEPES - 2023
QUESTÕES Equipes de Estratégia em Saúde da Família (ESF) e Saúde Men-
tal identificaram a necessária interlocução com outras redes para a
ampliação das suas ações de promoção da saúde e de desenvolvi-
1. Instituto Consulplan - 2023 mento integral do potencial de autonomia dos usuários do Centro
O esporte tem grande importância para a qualidade de vida das de Atenção Psicossocial (CAPS). As práticas corporais e atividades
pessoas. Assim como o conhecimento faz a diferença no mundo em físicas foram selecionadas como importantes estratégias para o en-
que vivemos, o movimento está em nossas vidas como uma neces- gajamento social de usuários do CAPS nos territórios em que vivem.
sidade vital do ser humano, tanto para as crianças quanto para os Nesse contexto, é correto afirmar que
adolescentes, adultos ou idosos; o esporte proporciona momentos (A) considerando o perfil dos grupos assistidos pelos Centros
ricos em sua aprendizagem. A pratica diária de algum esporte na de Atendimento Psicossocial (CAPS), o profissional de Educa-
adolescência é essencial nessa época em que o turbilhão de emo- ção Física deverá intervir a partir do construto teórico da Edu-
ções é tão comum. Sobre o exposto, analise as afirmativas a seguir. cação Física Adaptada, suportando tendências mais técnico-pe-
I. Possibilita o aumento do estresse e da ansiedade. II. Me- dagógicas dos conteúdos da Educação Física.
lhora a convivência social com outros adolescentes. III. Provoca o (B) o profissional de Educação Física, conjuntamente aos de-
equilíbrio das emoções, sempre muito intensas na adolescência. IV. mais profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família
Aprende a lidar com frustrações e também compreende a necessi- (NASF) e das equipes de Estratégia em Saúde da Família (ESF),
poderá realizar intervenção peculiares condições dos grupos
dade de respeitar regras.
para realizar práticas corporais e atividades físicas.
Está correto o que se afirma apenas em
(C) equipes de Estratégia em Saúde da Família (ESF) e de Saú-
(A) I e II.
de Mental recebem subsídios teórico que tange à intervenção
(B) I e III. com práticas corporais e atividades físicas, exclusivamente, dos
(C) II e IV. profissionais de Educação Física dos NASF, para desenvolver
(D) II, III e IV. ações de inclusão nos diferentes territórios.
(D) equipes de Estratégia em Saúde da Família (ESF) e de Saúde
2. UNDEPES - 2023 Mental elegeram junto aos profissionais do Núcleo de Apoio à
Cada vez mais se estabelecem relações entre a adoção de um Saúde da Família (NASF) as práticas corporais e as atividades
estilo de vida fisicamente ativo e a melhoria da qualidade de vida físicas que atendem às peculiares condições clínicas dos usuá-
das pessoas. Teorias e modelos fornecem estruturas para entender rios do CAPS, assim como estratégias procedimentais adaptati-
a prática de exercício e os fatores que podem facilitar ou impedir vas para intervenção.
que alguém seja fisicamente ativo. O uso de teorias apropriadas (E) o profissional de Educação Física que compõe a equipe de
pode orientar profissionais de Educação Física na determinação Estratégia em Saúde da Família (ESF) é o responsável por ga-
de estratégias adequadas para ajudar os indivíduos a adotarem e a rantir a discussão acerca das práticas corporais e das atividades
manterem a prática de atividade física regular. Um dos modelos am- físicas juntamente à equipe de Saúde Mental e por elaborar
plamente utilizados é o modelo Transteórico. Assinale a alternativa propostas de Educação Física Adaptada que garantam o atendi-
que apresenta as etapas desse modelo. mento às peculiaridades clínicas dos usuários do CAPS.
(A) Pré-contemplação, Contemplação, Ação e Manutenção.
(B) Fatores intrapessoais, Fatores organizacionais, Ambiente 5. Instituto Consulplan - 2023
físico e Políticas. Na educação física se trabalha com o ser humano sobre e atra-
(C) Autonomia, Demonstração de competência, Domínio e Co- vés do seu corpo. Por este motivo, é importante refletir sobre este
nexão e Interações sociais. tema. Sobre os significados de corpo e as implicações para a educa-
(D) Crenças comportamentais, Crenças normativas, Motivação ção física, assinale a afirmativa INCORRETA.
para cumprir e Poder percebido. (A) O corpo é uma síntese da cultura, porque expressa elemen-
(E) Suscetibilidade percebida, Benefícios percebidos, Obstácu- tos específicos da sociedade da qual faz parte.
los percebidos e Autoeficácia. (B) O homem, através do seu corpo, vai assimilando e se apro-
priando dos valores, normas e costumes sociais, em um proces-
3. AMAUC - 2022 so de incorporação.
Acerca dos benefícios em praticar atividade física e sua relação (C) Mais do que um aprendizado intelectual, o indivíduo ad-
com a saúde e qualidade de vida, assinale a alternativa INCORRETA. quire um conteúdo cultural, que se instala no seu corpo, no
(A) A atividade física regular promove a melhora da postura conjunto de suas expressões.
corporal. (D) Cada gesto que fazemos, a forma como nos sentamos; tudo
(B) Pessoas que praticam atividade física tem maior propensão é específico de uma determinada cultura, que não é melhor
às doenças cardíacas. nem pior que qualquer outra.
(C) A atividade física incrementa o tônus muscular, reduz o es- (E) O que o diferencia de outros animais, principalmente, é a
tresse e a indisposição. sua capacidade de produzir cultura, que é um ornamento, um
(D) Promove a melhora na elasticidade e flexibilidade do corpo. algo a mais que se sobrepôs à natureza animal.
(E) Auxilia no combate ao excesso de peso e de acúmulo de
gordura.
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CONHECIMENTOS
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BIBLIOGRAFIA LIVROS
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DAOLIO, JOCIMAR. DA CULTURA DO CORPO. 13. ED. DARIDO, SURAYA CRISTINA. EDUCAÇÃO FÍSICA NA ES-
CAMPINAS: PAPIRUS, 2018 COLA: QUES-TÕES E REFLEXÕES. RIO DE JANEIRO: GUA-
NABARA, 2003
• Dança e expressão corporal: A obra aborda a dança como • Inclusão na educação física: A obra aborda a importância de
uma forma de expressão artística e cultural, explorando a relação promover a inclusão de todos os alunos nas aulas de educação fí-
entre movimento, corpo e emoção. Discute-se a diversidade de es- sica, considerando as diferenças individuais, as necessidades espe-
tilos de dança e sua importância na manifestação da criatividade e ciais e as questões de gênero, buscando garantir a participação e o
na construção de identidades. respeito mútuo.
É fundamental que os leitores busquem a obra completa para É fundamental que os leitores busquem a obra completa para
um estudo mais aprofundado, uma vez que “Da Cultura do Corpo” uma compreensão mais aprofundada, uma vez que “Educação Fí-
oferece uma visão abrangente dos temas relacionados à cultura sica na Escola: Questões e Reflexões” oferece uma ampla gama de
corporal. Ao explorar os conceitos e as reflexões apresentados nes- reflexões sobre a prática da educação física. Ao explorar os concei-
sa obra, os leitores poderão ampliar seu conhecimento sobre a im- tos e as reflexões apresentadas nessa obra, os educadores pode-
portância do corpo humano na sociedade e nas práticas culturais. rão aprimorar sua prática pedagógica na área da educação física,
promovendo experiências educativas mais significativas e inclusivas
para os alunos.
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BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS
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a solução para o seu concurso!
BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS
edição, foi publicado pela Editora Vozes em 2013. • Teoria de Jean Piaget: O livro explora os princípios fundamen-
A obra se propõe a discutir as relações entre corpo, gênero e se- tais da teoria de Jean Piaget, com foco no estágio de desenvolvi-
xualidade sob uma perspectiva contemporânea, trazendo reflexões mento da criança na primeira infância. São discutidos conceitos-
e análises fundamentais para compreendermos as construções so- -chave, como a construção do conhecimento, a interação social e o
ciais e culturais que permeiam esses aspectos da vida humana. Os papel do jogo no desenvolvimento infantil.
temas abordados no livro incluem:
• Importância dos jogos em grupo: A obra destaca a relevância
• Corpo e Identidade: Nessa seção, são exploradas as questões dos jogos em grupo na educação infantil, ressaltando seus benefí-
relacionadas à construção da identidade a partir do corpo, consi- cios para o desenvolvimento das habilidades cognitivas, sociais e
derando a influência das normas sociais e culturais. São discutidos emocionais das crianças. São apresentados exemplos de jogos em
aspectos como a representação de gênero, a construção do corpo grupo que promovem a cooperação, a resolução de problemas e a
feminino e masculino, bem como as implicações dessas representa- criatividade.
ções na vida cotidiana.
• Planejamento e implementação de jogos em grupo: O livro
• Corpo, Educação e Escola: Nesse tópico, são apresentadas re- oferece orientações práticas para o planejamento e a implementa-
flexões sobre a relação entre o corpo e a educação formal, discutin- ção de jogos em grupo na educação infantil. São abordados aspec-
do-se como as instituições de ensino podem lidar com as questões tos como a seleção adequada dos jogos, a organização do espaço, o
de gênero e sexualidade de forma inclusiva e respeitosa. São abor- envolvimento dos alunos e a avaliação do processo educativo.
dados temas como a formação de professores, a educação sexual
nas escolas e os desafios enfrentados no contexto educacional. • Reflexões sobre o papel do educador: A obra convida os edu-
cadores a refletirem sobre seu papel na promoção dos jogos em
• Corpo, Esporte e Lazer: Essa seção trata das relações entre grupo na educação infantil. São apresentadas estratégias para es-
corpo, esporte e lazer, destacando a importância da prática esporti- timular a participação ativa das crianças, respeitando seus interes-
va e das atividades de lazer na construção de uma relação saudável ses, necessidades e estágios de desenvolvimento.
com o próprio corpo e na desconstrução de estereótipos de gênero.
São discutidos temas como a inclusão de mulheres no esporte, o É essencial que os leitores busquem a obra completa para uma
papel do corpo na sociedade contemporânea e as práticas corporais compreensão mais aprofundada sobre o uso de jogos em grupo na
como forma de resistência. educação infantil, considerando as implicações da teoria de Jean
Piaget. Ao explorar os conceitos e reflexões apresentados nessa
• Corpo, Sexualidade e Diversidade: Nessa última parte, são ex- obra, os educadores poderão enriquecer suas práticas pedagógicas,
plorados os desafios e as lutas relacionados à diversidade sexual e proporcionando experiências lúdicas e significativas para as crian-
de gênero. São discutidos temas como homofobia, transfobia, pre- ças na educação infantil.
conceito e discriminação, buscando-se desconstruir estereótipos e
promover a aceitação da diversidade em todas as suas formas.
KISHIMOTO, TIZUKO MORCHIDA. O BRINCAR E SUAS
O livro é uma importante contribuição para a reflexão e o deba- TEORIAS. SÃO PAULO: PIONEIRA, 2011
te sobre os aspectos culturais, sociais e educacionais relacionados
ao corpo, gênero e sexualidade. As diversas perspectivas apresen-
tadas pelos autores convidam o leitor a questionar normas, precon- “O Brincar e suas Teorias”, escrito por Tizuko Morchida Kishi-
ceitos e estereótipos, promovendo uma compreensão mais ampla moto, é uma obra fundamental no campo da educação, que aborda
e inclusiva da diversidade humana. o tema do brincar como uma atividade central na vida da criança.
Publicado pela editora Pioneira em 2011, o livro apresenta uma
análise aprofundada sobre as teorias que fundamentam o brincar
KAMII, CONSTANCE; DEVRIES, RETHA. JOGOS EM GRUPO e sua importância para o desenvolvimento infantil.
NA EDUCAÇÃO INFANTIL: IMPLICAÇÕES DA TEORIA DE Ao longo da obra, Kishimoto explora diferentes perspectivas
JEAN PIAGET. PORTO ALEGRE: ARTMED, 2009 teóricas que embasam o estudo do brincar, destacando a relevân-
cia dessas teorias para compreendermos o papel do brinquedo e
da brincadeira na formação da criança. Alguns dos principais temas
“Jogos em Grupo na Educação Infantil: Implicações da Teoria de abordados no livro são:
Jean Piaget” é um livro escrito por C. Kamii e publicado pela editora
Artmed. Essa obra explora a importância dos jogos em grupo no • O Brincar como Aprendizagem: Nessa seção, são apresenta-
contexto da educação infantil, com base nas contribuições teóricas das teorias que enfatizam o brincar como uma forma de aprendi-
de Jean Piaget, renomado psicólogo do desenvolvimento. zagem significativa para a criança. São discutidos aspectos como a
O livro apresenta uma análise detalhada sobre como os jogos construção do conhecimento, o desenvolvimento cognitivo, a criati-
em grupo podem ser utilizados como uma ferramenta educacional vidade e a imaginação por meio do brincar.
eficaz para promover o desenvolvimento cognitivo, social e emocio-
nal das crianças na faixa etária da educação infantil.
Entre os principais temas abordados em “Jogos em Grupo na
Educação Infantil: Implicações da Teoria de Jean Piaget” estão:
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BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS
• Teorias do Desenvolvimento Infantil: Nesse tópico, são explo- • A brincadeira e a cultura infantil: Essa parte aborda a rela-
radas teorias que buscam compreender o desenvolvimento integral ção entre a brincadeira (brincadeira + cultura) e a construção da
da criança por meio do brincar. São discutidas abordagens como a identidade e da sociabilidade das crianças. São discutidos aspectos
teoria psicanalítica, a teoria sociocultural de Vygotsky e as contri- como as brincadeiras tradicionais, as brincadeiras de faz de conta e
buições de Piaget para a compreensão do desenvolvimento infantil. a influência cultural nas práticas lúdicas.
• Brincar e Cultura: Essa seção trata das relações entre o brin- A formação do professor e o uso do jogo e do brinquedo: Nes-
car e a cultura, destacando a importância das práticas lúdicas como se último tópico, são apresentadas reflexões sobre a formação dos
expressões culturais e formas de socialização. São discutidos temas professores e a importância de incluir o jogo e o brinquedo como
como brincadeiras tradicionais, jogos simbólicos, brinquedos e a in- recursos pedagógicos nas práticas educativas. São discutidos desa-
fluência do contexto cultural nas brincadeiras infantis. fios e possibilidades de implementação dessas estratégias no am-
biente escolar.
• Brincar na Educação: Nessa última parte, são apresentadas
reflexões sobre o papel do brincar no contexto educacional. São “Jogo, Brinquedo, Brin-Cadeira e a Educação” oferece uma vi-
discutidos aspectos como a inclusão do brincar nas propostas pe- são ampla e atualizada sobre o uso do jogo e do brinquedo como
dagógicas, a importância do ambiente lúdico na escola, o papel do recursos pedagógicos, destacando sua importância para o desen-
educador na promoção do brincar e os desafios enfrentados para volvimento integral das crianças. A obra é uma referência importan-
integrar o brincar na prática educativa. te para educadores, pesquisadores e estudiosos interessados em
aprofundar seus conhecimentos sobre o tema e enriquecer suas
O livro de Tizuko Morchida Kishimoto é uma referência impor- práticas educativas com abordagens lúdicas e significativas.
tante para educadores, pesquisadores e estudiosos interessados no
tema do brincar e suas relações com a aprendizagem e o desenvol-
vimento infantil. Por meio da análise das diferentes teorias e pers- SARMENTO, MANUEL; GOUVEA, MARIA CRISTINA SO-
pectivas, a obra nos convida a repensar a importância do brincar na ARES DE (ORG.). ESTUDOS DA INFÂNCIA: EDUCAÇÃO E
vida da criança e a valorizar sua presença nas práticas educativas. PRÁTICAS SOCIAIS. 2. ED. PETRÓPOLIS: VOZES, 2022
KISHIMOTO, TIZUKO MORCHIDA (ORG.). JOGO, BRIN- “Estudos da Infância: Educação e Práticas Sociais”, organizado
QUEDO, BRIN-CADEIRA E A EDUCAÇÃO. 14. ED. SÃO por Manuel Sarmento e Maria Cristina Soares de Gouvea, é uma
PAULO: CORTEZ, 2017 obra que aborda de forma abrangente e crítica a temática da infân-
cia no contexto da educação e das práticas sociais. Publicado pela
editora Vozes em sua segunda edição, no ano de 2022, o livro reúne
“Jogo, Brinquedo, Brin-Cadeira e a Educação”, organizado por contribuições de diversos autores que exploram diferentes perspec-
Tizuko Morchida Kishimoto, é uma obra fundamental no campo tivas e discussões sobre a infância e sua relação com a educação.
da educação que explora a importância do jogo e do brinquedo na Ao longo da obra, os organizadores e demais autores apresen-
prática pedagógica. Publicado pela editora Cortez em 2017, o livro tam uma variedade de temas e abordagens, que podem ser organi-
apresenta uma visão abrangente sobre o papel do jogo e do brin- zados da seguinte forma:
quedo no processo de ensino-aprendizagem.
Ao longo da obra, Kishimoto e outros autores convidados dis- • Conceitos e fundamentos da infância: Nessa parte, são discu-
cutem diversos aspectos relacionados ao jogo, ao brinquedo e à tidos conceitos e abordagens teóricas sobre a infância, consideran-
brin-cadeira, abordando temas como: do diferentes contextos sociais e culturais. São exploradas questões
como a construção social da infância, os direitos das crianças e a
• Conceitos e fundamentos: Nessa parte, são apresentadas de- diversidade nas experiências infantis.
finições e conceitos essenciais relacionados ao jogo e ao brinquedo.
São discutidas as características do jogo, sua importância no desen- • Educação infantil: Nesse tópico, são abordados aspectos re-
volvimento infantil e sua relação com o processo educativo. lacionados à educação na primeira infância. São discutidos temas
como a importância da educação infantil, os diferentes modelos de
• Tipos de jogos e brinquedos: Nesse tópico, são explorados di- atendimento à criança pequena, a formação de professores e as
ferentes tipos de jogos e brinquedos, considerando aspectos como práticas pedagógicas nesse segmento.
idade, interesse e habilidades das crianças. São apresentados exem-
plos de jogos educativos, jogos simbólicos, jogos cooperativos, en- • Políticas públicas e práticas sociais: Nessa seção, são analisa-
tre outros. das as políticas públicas voltadas para a infância, bem como as prá-
ticas sociais que envolvem as crianças. São discutidos temas como a
• O jogo e o brinquedo como recursos pedagógicos: Nessa se- participação infantil, a proteção dos direitos das crianças, a inclusão
ção, são discutidas as possibilidades de utilização do jogo e do brin- social e a relação entre família, escola e comunidade.
quedo no contexto educacional. São apresentadas reflexões sobre
como esses recursos podem favorecer a aprendizagem, estimular a
criatividade, promover a interação social e desenvolver habilidades
cognitivas e emocionais.
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• Cultura, linguagem e expressão: Essa parte explora as dimen- 5.Qual é um dos temas abordados no livro relacionado à edu-
sões culturais da infância, destacando a importância da linguagem, cação física?
da expressão artística e do brincar no desenvolvimento infantil. São (A)Estudo das ciências biológicas.
discutidos temas como a literatura infantil, o papel das mídias na (B)História da matemática.
vida das crianças e as práticas culturais das crianças. (C)Planejamento de aulas e intervenção pedagógica.
(D) Filosofia e ética.
• Infância, gênero e diversidade: Nesse último tópico, são abor-
dadas questões relacionadas à infância, gênero e diversidade. São 6.Qual é a importância da inclusão e diversidade na educação
discutidos temas como a construção de identidades de gênero na física, de acordo com o livro?
infância, a diversidade étnico-racial, a inclusão de crianças com de- (A)Desenvolver habilidades técnicas específicas.
ficiência e as questões relacionadas à sexualidade na infância. (B)Fomentar a competição entre os alunos.
(C)Promover a participação de todos os alunos, respeitando
“Estudos da Infância: Educação e Práticas Sociais” oferece uma suas diferenças e necessidades especiais.
abordagem ampla e multidisciplinar sobre a infância, trazendo re- (D) Estimular o desenvolvimento de habilidades cognitivas.
flexões e contribuições importantes para o campo da educação. A
obra se destina a educadores, pesquisadores, estudantes e profis- 7.Qual é o objetivo principal do livro “Educação Física na Esco-
sionais que desejam aprofundar seus conhecimentos sobre a in- la: Questões e Reflexões”?
fância, suas especificidades e suas relações com a educação e as (A) Apresentar uma análise aprofundada da história da educa-
práticas sociais. ção física.
(B) Discutir os benefícios da prática esportiva para a saúde dos
alunos.
QUESTÕES (C) Proporcionar uma visão crítica e atualizada sobre a prática
da educação física no contexto escolar.
(D) Investigar as diferentes modalidades esportivas praticadas
1.Qual é o objetivo principal do livro “Da Cultura do Corpo”? nas escolas.
(A)Explorar a anatomia e fisiologia humana.
(B)Discutir os benefícios da prática esportiva na saúde. 8.O que o livro aborda em relação ao planejamento de aulas de
(C)Abordar a relação entre corpo, cultura e práticas corporais. educação física?
(D) Investigar a história dos esportes e da dança. (A)A importância de focar exclusivamente em atividades recre-
ativas.
2.O que significa “corporeidade” no contexto abordado no li- (B)A seleção de conteúdos considerando apenas os interesses
vro? dos alunos.
(A)Apenas a forma física e aparência do corpo. (C)A organização do espaço e do tempo e a escolha de estraté-
(B)A relação entre atividade física e saúde. gias pedagógicas adequadas.
(C)A dimensão fundamental da experiência humana relaciona- (D) A valorização da competição e do desempenho individual.
da ao corpo.
(D) A prática de esportes e atividades físicas. 9.Qual é a importância da inclusão na educação física, de acor-
do com o livro?
3.Qual é a importância da dança na cultura corporal, de acordo (A)Promover a competição entre os alunos.
com o livro? (B)Desenvolver habilidades técnicas específicas.
(A)Expressão artística e cultural. (C)Garantir a participação e o respeito mútuo de todos os alu-
(B)Promoção da competição e rivalidade. nos.
(C)Melhora do desempenho atlético. (D) Fomentar a segregação dos alunos por habilidades espor-
(D) Desenvolvimento da força e resistência física. tivas.
4.Qual é o objetivo principal do livro “Para Ensinar Educação 10.Qual é o objetivo principal do livro “Atividades e Jogos Co-
Física: Possibilidades de Intervenção na Escola”? operativos”?
(A)Apresentar os fundamentos teóricos da educação física. (A)Apresentar uma análise histórica dos jogos competitivos.
(B)Discutir a história da educação física e seus principais even- (B)Discutir estratégias para vencer jogos competitivos.
tos. (C)Explorar a importância dos jogos cooperativos na educação
(C)Oferecer orientações e reflexões sobre a prática pedagógica e no desenvolvimento social.
da educação física nas escolas. (D) Investigar os diferentes tipos de jogos praticados em am-
(D) Investigar as diferentes modalidades esportivas praticadas bientes escolares.
nas escolas.
11.O que o livro aborda em relação ao planejamento e organi-
zação de atividades cooperativas?
(A)A importância de privilegiar a competição entre os partici-
pantes.
(B)A escolha de jogos que incentivem a individualidade e a su-
peração pessoal.
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(C)Estratégias para o planejamento e a organização de ativida- (C)Por contribuir para a aprendizagem, o desenvolvimento cog-
des cooperativas. nitivo e social das crianças.
(D) A criação de um ambiente competitivo para estimular o de- (D) Por ser uma atividade que não possui benefícios para o de-
sempenho dos participantes. senvolvimento infantil.
12.Quais valores e habilidades podem ser desenvolvidos por 18.Quais teorias são abordadas no livro em relação ao brincar?
meio dos jogos cooperativos, de acordo com o livro? (A)Teoria do desenvolvimento de Jean Piaget e teoria do beha-
(A)Competitividade e individualismo. viorismo.
(B)Resiliência e superação pessoal. (B)Teoria da relatividade e teoria do caos.
(C)Trabalho em equipe, empatia, comunicação efetiva e reso- (C)Teoria do desenvolvimento de Erik Erikson e teoria do cons-
lução de problemas. trutivismo social de Lev Vygotsky.
(D) Habilidades técnicas específicas em diferentes modalidades (D) Teoria do evolucionismo e teoria do criacionismo.
esportivas.
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As unidades temáticas se baseiam na compreensão de que o caráter lúdico está presente em todas as práticas corporais. Oito dimen-
sões do conhecimento são habilidades privilegiadas: Experimentação, Uso e apropriação, Fruição, Reflexão sobre a ação, Construção de
valores, Análise, Compreensão e o Protagonismo comunitário. Não há hierarquia entre essas dimensões, nem há uma ordem necessária
para o desenvolvimento do trabalho na esfera didática. Eles precisam de abordagens únicas e níveis de complexidade para se tornarem
relevantes e significativos. O componente curricular de Educação Física deve garantir aos alunos o desenvolvimento de competências
específicas que envolvem: compreender, planejar, refletir, identificar, interpretar e recriar, reconhecer, usufruir, experimentar entre outras
competências apontadas pelo documento.
- EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS FINAIS: UNIDADES TEMÁTICAS, OBJETOS DE CONHECIMENTO E HABILIDADES
Os alunos do Ensino Fundamental - Anos Finais são divididos em várias turmas, com diferentes professores, dificultando as interações.
Nesta fase apresentam maior capacidade de abstração e acesso a diversas fontes de informação. Essas características permitem que os
alunos estudem a educação física (práticas corporais) com maior profundidade em sala de aula. Neste cenário, considerando a realidade
local, a BNCC propõe competências e habilidades em educação física de forma a aumentar a flexibilidade na definição de currículos e
propostas curriculares em dois blocos (6º e 7º anos; 8º e 9º anos), cada um dos quais relacionando os objetos de conhecimento em cada
unidade temática .
Práticas Corporais de Aventura Práticas corporais de aventura urbanas Práticas corporais de aventura na
natureza
Ressalte-se que, a partir do 6º ano, prevê-se que os estudantes possam ter acesso a um conhecimento mais aprofundado de algumas
das práticas corporais, como também sua realização em contextos de lazer e saúde, dentro e fora da escola.
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8º e 9º Ano: (EF89EF01) Experimentar diferentes papéis (joga- ção Física teve seu caráter instrumental reforçado: era considerada
dor, árbitro e técnico) e fruir os esportes de rede/parede, campo e uma atividade prática, voltada para o desempenho técnico e físico
taco, invasão e combate, valorizando o trabalho coletivo e o prota- do aluno. Com Lei de Diretrizes e Bases promulgada em 20 de de-
gonismo. (EF89EF02) Praticar um ou mais esportes de rede/parede, zembro de 1996 busca transformar o caráter que a Educação Física
campo e taco, invasão e combate oferecidos pela escola, usando assumiu nos últimos anos ao explicitar no art. 26, § 3o, que “a Edu-
habilidades técnico-táticas básicas. cação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é compo-
nente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias
e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. noturnos”. Sendo assim, deve ser exercida por toda a escolaridade
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: EDUCAÇÃO de primeira a oitava séries.
FÍSICA. BRASÍLIA: MEC/SEF,1998 - Educação Física: concepção e importância social
Como proposta o PCN de Educação Física adota a distinção
entre o organismo - que é um sistema estritamente fisiológico - e
-OBJETIVOS GERAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL o corpo - vinculado a um contexto sociocultural. Aborda o conte-
údo da educação física como expressão da produção cultural, co-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam que no ensino nhecimento historicamente acumulado e socialmente transmitido.
fundamental os alunos sejam capazes de: compreender a cidadania Resignificando a cultura do corpo através de atividade lúdica. O
como participação social e política; se posicione de maneira críti- conceito de cultura é entendido aqui como um produto da socie-
ca, seja responsável e conheça as características fundamentais do dade. Entre os produtos dessa cultura corporal, estão incluídos no
Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais. Tornar-se inte- conteúdo da educação física: esquetes, esportes, dança, ginástica
grante e agente transformador do ambiente. Desenvolver conheci- e luta livre.
mentos de si mesmo, sentimento de confiança relacionado com as Estes têm em comum a representação física, com feições de di-
capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação ferentes culturas humanos. Todos ressignificam a cultura do corpo
pessoal e de inserção social. Deverá conhecer e cuidar do próprio humano e o fazem com uma atitude lúdica. A educação física atual
corpo, utilizar diferentes linguagens verbal, incluindo matemática, possui uma riqueza de conhecimentos produzidos e aplicados pela
gráfica, plástica e de forma a expressar e comunicar suas ideias, as- sociedade sobre o corpo e o movimento. Também é fundamental
sim como interpretar e usufruir das produções culturais, nos con- fazer uma distinção clara entre os objetivos da escola em relação
textos públicos e privados. Utilizar diferentes fontes de informação a educação física e os objetivos do esporte profissional, da dança
e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos; da ginastica e da luta livre. A educação física escolar deve propor-
para que possam questionar a realidade e resolver problemas de cionar oportunidades para que todos os alunos desenvolvam suas
forma crítica e criativa. potencialidades de forma democrática e não discriminatória, com o
O PCN de Educação Física apresenta uma proposta com a inten- objetivo de se desenvolver como pessoas.
ção de democratizar, humanizar e diversificar a prática pedagógica
da área, buscando ampliar, de uma visão apenas biológica, para um -CULTURA CORPORAL E CIDADANIA
trabalho que incorpore as dimensões afetivas, cognitivas e sociocul-
turais dos alunos. A educação física escolar contribui para o pleno exercício da
A Educação Física no século passado foi vinculada às institui- cidadania, enquanto permite a autonomia dos alunos para moni-
ções militares e à classe médica, esses vínculos foram determinan- torar as próprias atividades, regulando o esforço, traçando metas,
tes em relação a concepção da disciplina, suas finalidades e a ma- conhecendo as potencialidades e limitações e distinguindo situa-
neira de ser de ser ensinada. Favoreceria a educação do corpo, de ções de trabalho corporal que podem ser prejudiciais. A formação
modo a desenvolver um físico saudável, equilibrado e menos sus- de hábitos de autocuidado e de construção de relações interpesso-
cetível às doenças. ais colabora para a dimensão da sexualidade ser integrada de forma
Em 1851 foi feita a Reforma Couto Ferraz, tornando a Educação prazerosa e segura. As aulas mistas de Educação Física podem dar
Física obrigatória nas escolas do município da Corte. No ano de oportunidade para meninos e meninas aprender a ser tolerantes,
1882, Rui Barbosa deu seu parecer sobre o Projeto 224 — Reforma não discriminar e a compreender as diferenças, de forma a não re-
Leôncio de Carvalho, Decreto n. 7.247, de 19 de abril de 1879, da produzir estereotipadamente relações sociais autoritárias.
Instrução Pública. No início deste século, a Educação Física, ainda
sob o nome de ginástica, foi incluída nos currículos dos Estados da - APRENDER E ENSINAR EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUN-
Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Pernambuco e São Pau- DAMENTAL
lo.
Na década de 30, no Brasil, no contexto educacional os obje- Não basta a repetição de gestos estereotipados, com vistas a
tivos para a disciplina eram higiênicos e de prevenção de doenças, automatizá-los e reproduzi-los. É necessário que o aluno se apro-
estes sim, passíveis de serem trabalhados dentro de um contexto prie do processo de construção de conhecimentos relativos ao
educacional. A inclusão da Educação Física nos currículos não ga- corpo e ao movimento e construa uma possibilidade autônoma de
rantia a sua implementação prática, principalmente nas escolas utilização de seu potencial gestual. O processo de ensino e apren-
primárias. Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961, após dizagem em Educação Física, portanto, não se restringe ao simples
debates, foi determinada a obrigatoriedade da Educação Física exercício de certas habilidades e destrezas, mas sim de capacitar o
para o ensino primário e médio. Após 1964, sofreu as influências indivíduo a refletir sobre suas possibilidades corporais e, com auto-
da tendência tecnicista. Em 1971, com a LDB no. 5.692, a Educa- nomia, exercê-las de maneira social e culturalmente significativa e
adequada.
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A fim de garantir coerência e de efetivar os objetivos, foram As habilidades e capacidades podem receber um tratamento
eleitos os seguintes critérios para a seleção dos conteúdos propos- mais específico, na medida em que os alunos já reúnem condições
tos: relevância social, importância que os conteúdos da área con- de compreender determinados recortes que podem ser feitos ao
templem as demandas sociais apresentadas pelos Temas Transver- analisar os tipos de movimento envolvidos em cada atividade. É
sais, as características dos alunos e da própria área. possível sugerir brincadeiras e jogos em que algumas habilidades
mais específicas sejam trabalhadas, dentro de contextos significa-
- Blocos de conteúdos tivos. É possível ainda solicitar que as crianças criem brincadeiras
com esse objetivo. Perceber as características de movimento de sua
Estão organizados em três blocos, que deverão ser desenvol- coletividade, por meio da observação e do conhecimento da his-
vidos ao longo de todo o ensino fundamental, não se trata de uma tória local é um trabalho que pode ser desenvolvido junto com os
estrutura estática ou inflexível, mas sim de uma forma de organizar conteúdos de História, Geografia e Pluralidade Cultural.
o conjunto de conhecimentos abordado, segundo os diferentes en-
foques que podem ser dados: Critérios de avaliação de Educação Física para o segundo ciclo
- Esportes, jogos, lutas e ginásticas: Tentar definir critérios para
delimitar cada uma destas práticas corporais é tarefa arriscada, pois Enfrentar desafios colocados em situações de jogos e compe-
as sutis interseções, semelhanças e diferenças entre uma e outra tições, respeitando as regras e adotando uma postura cooperativa:
estão vinculadas ao contexto em que são exercidas. Existem inúme- avaliar se o aluno reconhece que os benefícios para a saúde decor-
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rem da realização de atividades corporais regulares, se tem critérios ficou no ataque deve trocar de posição com o grupo que ficou na
para avaliar seu próprio avanço e se nota que esse avanço decorre defesa, ou simplesmente observando a regra do rodízio do voleibol,
da perseverança. que foi instituída exatamente com esse propósito. Cabe ainda ao
professor localizar quais as competências corporais em que alguns
Valorizar e apreciar diversas manifestações da cultura corporal, alunos apresentem dificuldades e promover atividades em que pos-
identificando suas possibilidades de lazer e aprendizagem: avaliar sam avançar
se o aluno reconhece que as formas de expressão de cada cultura
são fontes de aprendizagem de diferentes tipos de movimento e PROBLEMATIZAÇÃO DAS REGRAS
expressão. Espera-se também que o aluno tenha uma postura re-
ceptiva, não discrimine produções culturais por quaisquer razões Os alunos conhecem as regras do convívio escolar, mas pouco
sociais, étnicas ou de gênero. compreendem a sua natureza, o modo e as razões pelas quais fo-
ram estabelecidas. No caso da Educação Física existe a possibilidade
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS de se abordarem diferentes jogos e atividades e se discutirem as
regras em conjunto com os alunos, tentando encontrar as razões
Se aprender Matemática consistia em repetir fórmulas até de- que as originaram, propondo modificações, testando-as, repensan-
corá-las, aprender Educação Física consistia em repetir exercícios do sobre elas e assim por diante. A compreensão das normas que
mecânicos e padronizados e reproduzir gestos estereotipados. pode advir daí é completamente diferente de quando as regras são
Mesmo em atividades como a dança, a metodologia utilizada dava consideradas absolutas, inquestionáveis e imutáveis. Os jogos, es-
mais ênfase ao aspecto técnico em si do que ao aspecto expressivo. portes e brincadeiras são contextos favoráveis para a intervenção
do professor nesse sentido, por várias razões. A primeira delas diz
ORGANIZAÇÃO SOCIAL DAS ATIVIDADES E ATENÇÃO À DIVER- respeito ao próprio desenvolvimento dos conhecimentos relativos
SIDADE à cultura corporal. Mover-se dentro de limites espaciais, gestuais,
de relação com objetos e com os outros constitui um problema a
Se um dos objetivos da educação é ajudar as crianças a con- ser resolvido, ou seja, não é qualquer tipo de movimento que vale,
viverem em grupo de maneira produtiva, de modo cooperativo, é mas um certo tipo que se ajuste àquelas delimitações que a regra
preciso proporcionar situações em que aprender a dialogar, a ouvir impõe.
o outro, ajudá-lo, pedir ajuda, trocar idéias e experiências, aprovei-
tar críticas e sugestões sejam atitudes possíveis de serem exercidas. USO DO ESPAÇO
Levando em conta o fato de que as experiências e competências Sabe-se que na realidade das escolas brasileiras os espaços
corporais são muito diversificadas, não se pode querer que todo o disponíveis para a prática e a aprendizagem de jogos, lutas, danças
grupo realize a mesma tarefa, ou que uma atividade resulte numa esportes e ginásticas não apresentam a adequação e a qualidade
mesma aprendizagem para todos. necessárias. Alterar esse quadro implica uma conjugação de esfor-
ços de comunidade e poderes públicos.
DIFERENÇAS ENTRE MENINOS E MENINAS
No que diz respeito às diferenças entre as competências de me- SÃO PAULO (ESTADO). SECRETARIA DA EDUCAÇÃO.
ninos e meninas deve-se ter um cuidado especial. Muitas dessas CURRÍCULO PAULISTA. SÃO PAULO: SEDUC, 2019. P. 249-
diferenças são determinadas social e culturalmente e decorrem, 280
para além das vivências anteriores de cada aluno, de preconceitos
e comportamentos estereotipados. As habilidades com a bola, por
exemplo, um dos objetos centrais da cultura lúdica, estabelecem- OBS: Educação Física (p. 179-202)
-se com a possibilidade de prática e experiência com esse material.
Socialmente essa prática é mais proporcionada aos meninos que, O Currículo Paulista dialoga com os fundamentos pedagógicos
portanto, desenvolvem-se mais do que meninas e, assim, brincar definidos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) focado no
com bola se transforma em “brincadeira de menino”. O raciocínio desenvolvimento de competências compromisso com a Educação
inverso também poderia ser feito, pois existem habilidades que as Integral. Numa perspectiva cultural, o ensino de Educação Física,
meninas acabam por aperfeiçoar em função de uma maior experi- visa compreender o sujeito inserido em diferentes realidades cultu-
ência. rais nas quais corpo, movimento e intencionalidade são indissociá-
veis. O currículo deve ser pensado de forma que possa refletir com
COMPETIÇÃO & COMPETÊNCIA o contexto social, ressignificando a visão de cidadão que pretende
se formar, assim como os conhecimentos, métodos e organização
Nas atividades competitivas as competências individuais se evi- escolar que irão contribuir para esta formação.
denciam e cabe ao professor organizá-las de modo a democratizar Admitir que os estudantes são sujeitos históricos, com suas
as oportunidades de aprendizagem. É muito comum acontecer, em identidades validadas, atentar para as relações de poder que inci-
jogos pré-desportivos e nos esportes, que as crianças mais hábeis dem sobre as etnias, gêneros, raças e sobre a corporeidade para
monopolizem as situações de ataque, restando aos menos hábeis problematizá-las e superá-las. A cultura corporal de movimento
os papéis de defesa, de goleiro ou mesmo a exclusão. O professor deve também promover a reflexão sobre o consumo, o individualis-
deve intervir diretamente nessas situações, promovendo formas de mo, os estereótipos, os preconceitos relativos ao gênero, às raças,
rodízio desses papéis, criando regras nesse sentido. Por exemplo, a ao desempenho e à própria forma corporal, presentes nas práticas
cada ponto num jogo de pique-bandeira, o grupo de crianças que corporais. Vincular na prática pedagógica temas que possam cola-
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borar para a idenficação das sensações, sentimentos e significado, 9. Reconhecer o acesso às práticas corporais como direito
vez que se quer formar um ser integrado, democrático, solidário e do cidadão, propondo e produzindo alternativas para sua reali-
atento à sustentabilidade, é necessário assegurar aos estudantes zação no contexto comunitário;
conhecimentos e vivências que lhes dêem autoria e protagonismo.
A organização das aprendizagens na Educação Física, está vin- 10. Experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes
culada a oito dimensões do conhecimento: reflexão sobre a ação, brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práti-
análise, compreensão, experimentação, uso e apropriação, fruição, cas corporais de aventura, va- lorizando o trabalho coletivo e o
construção de valores e protagonismo comunitário. Não devem ser protagonismo.
vistas como eixos temáticos ou categorias, não há hierarquia, mas
devem ser compreendidas como linhas maleáveis que constitue a SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Currículo paulis-
especificidade da construção do conhecimento em Educação Física ta. São Paulo: SEDUC, 2019. p. 184.
escolar. No Currículo Paulista optou-se por agrupar essas dimen-
sões em três categorias: As Unidades Temáticas previstas no Currículo Paulista, em
1º) Aprender sobre :compreende as seguintes dimensões: Re- consonância com a BNCC, são: Brincadeiras e jogos, Danças, Lutas,
flexão sobre a ação, Análise e compreensão. Ginásticas, Esportes, Práticas corporais de aventura e Corpo, Movi-
2º) Aprender fazer: compreende as seguintes dimensões:: Ex- mento e Saúde.
perimentação , Uso e apropriação e fruição. O documento prevê a formação integral e o desenvolvimento
3º ) Aprender a ser e conviver: compreende as seguintes di- pleno do aluno, assim como a equidade e a igualdade para todos.
mensões: Construção de valores, Protagonismo comunitário Segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desen-
A avaliação deve ser coerente com os objetivos formativos. Ser volvimento (PNUD) novos objetos de conhecimento foram agrega-
processual, acompanhar a aprendizagem, servir como referência dos com as Unidades temáticas referente à inclusão nas aulas de
para ajustes no percurso de aprendizagem proposto, quanto para a Educação Física. Foi incorporado com objetivo de contemplar não
autoavaliação. Deve ser pautada em registros das observações re- só a participação de todos os estudantes, como também a discus-
ferente ao desenvolvimento dos estudantes, em seus aspectos cog- são sobre a inclusão no ambiente escolar. São eles: as brincadeiras
nitivos, físicos e socioemocionais, de maneira relacional e coerente e os jogos inclusivos e os esportes paralímpicos, (PNUD, 2017).
com a proposta pedagógica, devendo garantir o desenvolvimento
das seguintes competências específicas da disciplina.
SÃO PAULO (ESTADO). SECRETARIA DA EDUCAÇÃO.
Competências Específicas de Educação Física para o Ensino CURRÍCULO PAULISTA - ETAPA ENSINO MÉDIO - ÁREA
Fundamental p. 184 DE LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
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3)O campo jornalístico-midiático refere-se aos discursos/textos No Ensino Médio o componente Educação Física deve estabe-
da mídia informativa (impressa, televisiva, radiofônica e digital) e ao lecer a relação entre as habilidades e os objetos de conhecimento
discurso publicitário. com as dimensões do conhecimento. Essas dimensões não devem
4)O campo de atuação na vida pública contempla os discursos/ ser tomadas como eixos temáticos ou categorias, mas como linhas
textos normativos, legais e jurídicos que regulam a convivência em maleáveis que se interpenetram, constituindo a especificidade da
sociedade, assim como discursos/textos propositivos e reivindicató- construção do conhecimento em Educação Física escolar, confor-
rios (petições, manifestos etc.). me consta no Currículo Paulista etapa do Ensino Fundamental. No
5)O campo artístico-literário abrange o espaço de circulação Currículo Paulista, essas dimensões estão organizadas em três ca-
das manifestações artísticas em geral, contribuindo para a cons- tegorias:
trução da apreciação estética, significativa para a constituição de 1)Aprender sobre - compreende as dimensões:
identidades, a vivência de processos criativos, o reconhecimento da Reflexão sobre ação: refere-se aos conhecimentos originados
diversidade e da multiculturalidade. na observação e na análise das próprias vivências corporais e da-
Em relação os temas transversais, a área de Linguagens deve quelas realizadas por outros. Vai além da reflexão espontânea, ge-
planejar e desenvolver ações relacionadas à ética, à pluralidade cul- rada em toda experiência corporal. Trata-se de um ato intencional,
tural, ao meio ambiente e à saúde, entre outros. As disciplinas de- orientado a formular e empregar estratégias de observação e análi-
vem dialogar entre si e refletir sobre a conduta humana, respeitan- se para: (a) resolver desafios peculiares à prática realizada; (b) apre-
do os diferentes grupos e culturas, assim como nas relações sociais, ender novas modalidades; e (c) adequar as práticas aos interesses e
econômicas e culturais e os modos de comunicação desenvolvendo às possibilidades próprios e aos das pessoas com quem compartilha
a capacidade de avaliar, discernir e participar. A Educação Física faz a sua realização.
parte da área de Linguagens e suas Tecnologias, tem como objetivo Análise: está associada aos conceitos necessários para enten-
apresentar mudanças de forma intencional nas práticas corporais der as características e o funcionamento das práticas corporais
com o foco na apropriação crítica do movimento humano em seus (saber sobre). Essa dimensão reúne conhecimentos como a clas-
sentidos, significados, símbolos e códigos. Segundo a Base Nacional sificação dos esportes, os sistemas táticos de uma modalidade, o
Comum Curricular (BNCC). efeito de determinado exercício físico no desenvolvimento de uma
A Educação Física é o componente curricular que tematiza as capacidade física, entre outros.
práticas corporais em suas diversas formas de codificação e signi- Compreensão: está também associada ao conhecimento con-
ficação social, entendidas como manifestações das possibilidades ceitual, mas, diferentemente da dimensão anterior, refere-se ao
expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no esclarecimento do processo de inserção das práticas corporais no
decorrer da história. Nessa concepção, o movimento humano está contexto sociocultural, reunindo saberes que possibilitam compre-
sempre inserido no âmbito da cultura e não se limita a um desloca- ender o lugar das práticas corporais no mundo. Em linhas gerais,
mento espaço-temporal de um segmento corporal ou de um corpo esta dimensão está relacionada a temas que permitem ao estudan-
todo. (BRASIL, 2017, p. 213) te interpretar as manifestações da cultura corporal de movimento
No Ensino Fundamental o Currículo Paulista procura garantir ao em relação às dimensões éticas e estéticas, à época e à sociedade
estudante oportunidades de compreensão, apreciação e produção que as gerou e modificou, às razões da sua produção e transforma-
das práticas corporais, organizadas em unidades temáticas: Brinca- ção e à vinculação local, nacional e global.
deiras e Jogos; Danças; Ginásticas; Esportes; Lutas; Práticas Corpo- 2)Aprender a fazer - compreende as dimensões:
rais de Aventura e Corpo; Movimento e Saúde. Já no Ensino Médio, Experimentação: dimensão do conhecimento que se origina da
essas unidades temáticas são aprofundadas, sendo que o estudan- vivência das práticas corporais e do envolvimento corporal em sua
te deve ser desafiado a refletir sobre tais práticas, ampliando seus realização. São conhecimentos que não podem ser acessados sem
conhecimentos sobre as potencialidades e os limites do corpo, a a vivência corporal, isto é, sem que sejam efetivamente experimen-
importância em assumir um estilo de vida ativo e as possibilidades tados. Trata-se da possibilidade única de apreender as manifesta-
do movimento corporal para a manutenção da saúde. Os conceitos ções culturais tematizadas pela Educação Física e de o estudante
devem ser aprofundados de maneira que os conceitos e as inter-re- se perceber como sujeito “de carne e osso”. Faz parte dessa dimen-
lações entre as representações e os saberes vinculados às práticas são, além do imprescindível acesso à experiência, cuidar para que
corporais. É importante considerar que os jovens dispõem de ca- as sensações geradas no momento da realização de determinada
pacidades ampliadas de ler o mundo, de possibilidades de dimen- vivência sejam positivas ou, pelo menos, não sejam desagradáveis
sionar os problemas que afetam os grupos mais próximos e mais a ponto de gerar rejeição à prática em si.
distantes e de habilidade para ajudar a vislumbrar alternativas à Uso e apropriação: refere-se ao conhecimento que possibili-
solução de problemas de diferentes naturezas. O protagonismo dos ta ao estudante realizar de forma autônoma determinada prática
estudantes deve ser colocado em prática por meio da interação- corporal. Trata-se do mesmo tipo de conhecimento gerado pela
-reflexão-ação, utilizando espaços públicos, privados e participação experimentação (saber fazer), mas dela se diferencia por oferecer
da comunidade para que estas práticas corporais sejam frequentes. ao estudante a competência necessária para potencializar o seu
Considerando que para o documento BNCC, envolvimento com práticas corporais no lazer ou para a saúde. Diz
Esse conjunto de experiências, para além de desenvolver o respeito ao rol de conhecimentos que viabiliza a prática efetiva das
autoconhecimento e o autocuidado com o corpo e a saúde, a so- manifestações da cultura corporal de movimento não só durante as
cialização e o entretenimento, favorece o diálogo com as demais aulas, como também para além delas.
áreas do conhecimento, ampliando a compreensão do estudante Fruição: implica a apreciação estética das experiências sensí-
a respeito dos fenômenos da gestualidade e das dinâmicas sociais veis geradas pelas vivências corporais, bem como das diferentes
associadas às práticas corporais (BRASIL, 2018, p. 484). práticas corporais oriundas das mais diversas épocas, lugares e
grupos. Essa dimensão está vinculada com a apropriação de um
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conjunto de conhecimentos que permita ao estudante desfrutar da incluindo os de matrizes indígena e africana e os jogos eletrônicos,
realização de determinada prática corporal e/ou apreciar essa e ou- ou ampliar seus conhecimentos tendo contato com outras possibili-
tras tantas quando realizadas por outros. dades, como jogos cooperativos e RPG (Role Playing Game).
3)Aprender a ser e conviver - compreende as dimensões: Esporte:o estudante irá retomar as classificações esportivas,
Construção de valores: vincula-se aos conhecimentos origina- buscando modalidades alternativas ainda não vivenciadas, como o
dos em discussões e vivências no contexto da tematização das prá- tchoukball, ampliando a discussão de temas como: espaços públi-
ticas corporais, que possibilitam a aprendizagem de valores e nor- cos e privados disponíveis na comunidade para a prática desses es-
mas voltadas ao exercício da cidadania em prol de uma sociedade portes; diferentes leituras sobre a influência da mídia; violência e
democrática. A produção e a partilha de atitudes, normas e valores diferentes tipos de preconceito. Essa ampliação deverá ter como
(positivos e negativos) são inerentes a qualquer processo de socia- foco a discussão sobre a importância dos sistemas de jogo e táticas
lização. No entanto, essa dimensão está diretamente associada ao no desempenho esportivo e na apreciação do esporte como espetá-
ato intencional de ensino e aprendizagem e, portanto, demanda culo, analisando visões de mundo, conflitos de interesse, preconcei-
intervenção pedagógica orientada para tal fim. Por esse motivo, a tos e ideologias presentes nos discursos veiculados nas diferentes
BNCC se concentra mais especificamente na construção de valores mídias, expandindo suas possibilidades de explicação, interpreta-
relativos ao respeito às diferenças e no combate aos preconceitos ção e intervenção crítica da/na realidade.
de qualquer natureza. Ainda assim, não se pretende propor o trata- Dança: reconhecer a dança como um fenômeno sociocultu-
mento apenas desses valores, ou fazê-lo somente em determinadas ral, resgatando as danças com as quais o estudante teve contato
etapas do componente, mas assegurar a superação de estereótipos em momentos anteriores, como as urbanas e de salão, e trazendo
e preconceitos expressos nas práticas corporais. danças que fazem parte da cultura juvenil como parte do contexto
Protagonismo comunitário: refere-se às atitudes/ações e co- do estudante. O objetivo é fruir e apreciar esteticamente diversas
nhecimentos necessários para os estudantes participarem de forma manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, assim
confiante e autoral em decisões e ações orientadas a democratizar como delas participar, aguçando continuamente a sensibilidade, a
o acesso das pessoas às práticas corporais, tomando como referên- imaginação e a criatividade.
cia valores favoráveis à convivência social. Contempla a reflexão Ginástica: abordar a ginástica de condicionamento físico, com
sobre as possibilidades que eles e a comunidade têm (ou não) de foco na manutenção da saúde (treinamento funcional, musculação
acessar determinada prática no lugar em que moram, os recursos etc
disponíveis (públicos e privados) para tal, os agentes envolvidos Luta: lutas do Brasil e do mundo, foco a ampliação e o aprofun-
nessa configuração, entre outros fatores, bem como as iniciativas damento de discussões como: esportivização das lutas; a influência
que se dirigem para ambientes além da sala de aula, orientadas a da mídia; análise dos aspectos táticos, técnicos e filosóficos; formas
interferir no contexto em busca da materialização dos direitos so- de organização das diferentes competições de luta; combater o pre-
ciais vinculados a esse universo, como consta no Currículo Paulista conceito e os estereótipos no contexto das lutas.
etapa do Ensino Fundamental. Práticas Corporais de Aventura: Propor ações na comunidade
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) a avaliação deve para a preservação de patrimônios, dialogando e produzindo en-
ir além dos aspectos biofisiológicos, portanto deve ser coerente tendimento mútuo, com vistas ao interesse comum, pautado em
com as habilidades e objetos de conhecimento propostos, deve princípios e valores de equidade assentados na democracia e nos
ser processual e servir de tomada de decisão para professores e direitos humanos.
estudantes, bem como servir de reajuste no percurso de aprendi- Corpo, Movimento e Saúde, o foco é a relação da prática de
zagem proposto para a autoavaliação, como consta no Currículo exercícios físicos com a qualidade de vida, discutindo temas como:
Paulista etapa do Ensino Fundamental. O professor deve planejar a padrões e estereótipos de beleza corporal, conservação e promo-
avaliação em todos os aspectos do desenvolvimento do estudante ção da saúde nas várias faixas etárias; Debater questões de relevân-
e ser coerente com a proposta pedagógica. As práticas pedagógi- cia social, analisando diferentes argumentos e opiniões.
cas desenvolvidas, no que se refere ao impacto sobre o estudante, Itinerário formativo – área de Linguagens e suas Tecnologias
poderão consolidar não somente a autonomia para a prática, mas O Ensino Médio tem por objetivo atender às necessidades e
também a tomada de posicionamentos críticos diante dos discursos expectativas do estudante, propõe um modelo de aprendizagem
sobre o corpo e a cultura corporal que circulam em diferentes cam- que dialogue com as intensas mudanças pelas quais o mundo, a
pos da atividade humana. partir das novas tecnologias e configurações globais, vem passan-
As unidades temáticas de Educação Física para o Ensino Médio do. Com este objetivo, o Currículo do Estado São Paulo, elaborou
estão em consonância com o Currículo Paulista etapa Ensino Fun- novo modelo de aprendizagem, fundamento em documentos ofi-
damental, são elas: Brincadeiras e Jogos; Esporte; Dança; Ginástica; ciais norteadores da reforma do Ensino Médio, como: a BNCC, as
Lutas; Práticas Corporais de Aventura e Corpo, Movimento e Saúde. Diretrizes Nacionais Curriculares para o Ensino Médio (DCNEM), a
- Unidades Temática Lei no 13.415/2017 e a Portaria no 1.432, de 28 de dezembro de
Brincadeiras e Jogos : tem como objetivo a compreensão da 2018, que estabelece os referenciais para a elaboração dos itine-
brincadeira e do jogo como fenômeno sociocultural e suas relações rários formativos.
com os espaços de lazer disponíveis na comunidade, mapeando Na área de Linguagens, o Currículo Paulista para a etapa do
e criando, por meio de práticas de linguagem, possibilidades de Ensino Médio oportuniza a oferta de itinerários formativos, favo-
atuação social, política, artística e cultural para enfrentar desafios recendo o aprofundamento no estudo de competências e habili-
contemporâneos, discutindo assim, ações que permitam o resgate dades relacionadas à área, as quais subsidiam o projeto de vida do
de brincadeiras e jogos. O estudante poderá retomar suas vivências estudante no desenvolvimento de uma visão ampla e heterogênea
de anos anteriores com brincadeiras e jogos do Brasil e do mundo de mundo, oferecendo-lhes o instrumental necessário para tomar
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(D)O professor precisa incentivar os meninos e as meninas a (D)Implica a apreciação estética das experiências sensíveis
participar de atividades culturalmente determinadas e identi- geradas pelas vivências corporais, bem como das diferentes
ficadas para meninos e meninas de forma separada na aula, práticas corporais oriundas das mais diversas épocas, lugares
como futebol para os meninos e voleibol para as meninas. e grupos.
(E)Refere-se aos conhecimentos originados na observação e na
3- (qconcursos- 2022) A unidade temática da educação física análise das próprias vivências corporais e daquelas realizadas
que explora aquelas atividades voluntárias exercidas dentro de de- por outros.
terminados limites de tempo e espaço, caracterizadas pela criação
e alteração de regras, pela obediência de cada participante ao que 7- (PasseiDireto) Assinale a característica que NÃO se aplica aos
foi combinado coletivamente, bem como pela apreciação do ato de itinerários formativos:
brincar em si denomina-se: (A)São constituídos por conjuntos de unidades curriculares
(A)Esportes. (B)Sua carga horária deve ser entre 1200 e 1800 horas.
(B)Ginásticas. (C)Podem ser detalhados pelos sistemas, redes e escolas.
(C)Brincadeiras e jogos. (D)Devem ser organizar em torno de eixos estruturantes.
(D)Acrobacias. RESPOSTA: B
(E)Ludicidade.
4-(Granquestões-2019) Há três elementos fundamentais co- 8- (qconcursos- 2021) Verifique as assertivas referentes à Edu-
muns às práticas corporais, sendo eles descritos como: cação Física na BNCC e assinale a correta.
I - Movimento corporal como elemento essencial das práticas I. A Educação Física se situa como componente curricular den-
corporais. tro da área de Linguagens. Isso significa que, enquanto com-
II - Organização interna (de maior ou menor grau), pautada por ponente, a Educação Física não se encerra em si, mas sim faz
uma lógica específica. parte de uma grande área de conhecimento.
III - Produto cultural vinculado com o lazer/entretenimento e/ II. As práticas corporais (por meio das unidades temáticas: Brin-
ou o cuidado com o corpo e a saúde. cadeiras e jogos; Danças; Lutas; Esportes; Práticas corporais de
aventura) expressam-se como linguagem corporal.
Está correto o que se afirma em: III. É competência específica da Educação Física: refletir, critica-
(A)I, apenas. mente, sobre as relações entre a realização das práticas corpo-
rais e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das
(B)I e II, apenas.
atividades laborais
(C)I e III, apenas.
IV. É competência específica da Educação Física: identificar as
(D)II e III, apenas.
formas de produção dos preconceitos, compreender seus efei-
(E)I, II e III.
tos e combater posicionamentos discriminatórios em relação
às práticas corporais e aos seus participantes.
5- (Granquestões-2019) A Educação Física é o componente cur- (A)As assertivas I, II, III e IV são corretas.
ricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas (B)Apenas as assertivas I e II são corretas.
de codificação e significação social, entendidas como manifestações (C)Apenas as assertivas III e IV são corretas.
das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diver- (D)Apenas as assertivas I e III são corretas.
sos grupos sociais no decorrer da história” (Base Nacional Comum
Curricular- BNCC, 2017). De acordo com a BNCC, há três elementos
fundamentais comuns às práticas corporais. Identifique-os. GABARITO
(A) Esporte, dança e lutas.
(B)Cultura corporal, participação e socialização.
(C)Movimento corporal, organização interna e produto cultu-
ral. 1 E
(D) Capacidades físicas, emocionais e sociais. 2 B
6- (Granquestões-2019) Sobre as dimensões de conhecimento 3 C
da Educação Física, considere a alternativa que descreve correta- 4 E
mente a Experimentação:
(A)Refere-se ao conhecimento que possibilita ao estudante ter 5 C
condições de realizar de forma autônoma uma determinada 6 C
prática corporal.
(B)Refere-se à dimensão do conhecimento que se origina pela 7 B
vivência das práticas corporais, pelo envolvimento corporal na 8 A
realização das mesmas.
(C)Diz respeito àquele rol de conhecimentos que viabilizam a
prática efetiva das manifestações da cultura corporal de movi-
mento não só durante as aulas, como também para além delas.
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