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a solução para o seu concurso!

SEE-SP
SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO
DE SÃO PAULO

Professor de Ensino Fundamental


e Médio - FILOSOFIA

EDITAL DE ABERTURA DE INSCRIÇÕES Nº 01/2023

CÓD: SL-122MA-23
7908433236689
INTRODUÇÃO

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação. É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como
estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.

Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou esta introdução com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!


• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho;

• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área;

• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total;

• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo;

• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.

• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame;

• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.

A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Vamos juntos!

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INTRODUÇÃO

O concurso SEE-SP é uma oportunidade única para quem deseja ingressar no serviço público como servidor da
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Por isso, é importante se preparar adequadamente para enfrentar
essa prova desafiadora. A Editora Solução se orgulha de apresentar uma apostila exclusiva para Conhecimentos
Específicos - Especialidade, a fim de auxiliar os estudantes a alcançar seus objetivos.
Nosso material foi organizado de forma a introduzir o aluno no que é cobrado pelo edital e nas principais
bibliografias indicadas para o concurso. Ressaltamos que a apostila é uma ferramenta introdutória e complementar
aos estudos. Para obter um conhecimento completo, é fundamental que o estudante vá atrás de cada bibliografia e
documento oficial indicado no edital.
Nossa apostila visa auxiliar na compreensão dos principais pontos cobrados no edital, assim como fornecer uma
base teórica sólida para a resolução de questões. Acreditamos que, com dedicação e empenho, nossos alunos terão
sucesso nesse desafio.
É importante lembrar que, além do conteúdo abordado na apostila, o edital do concurso SEE-SP também
exige conhecimentos específicos em outras áreas. Por isso, é fundamental que o estudante busque informações
complementares em outras fontes.
Por fim, ressaltamos a importância do estudo sério e constante, bem como a dedicação ao aprendizado.
Desejamos a todos um excelente preparo e sucesso no concurso SEE-SP. A Editora Solução está à disposição para
auxiliar no que for preciso.

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ÍNDICE

Conhecimentos
1. Da atividade filosófica, suas características e desafios no mundo contemporâneo; da atividade filosófica frente as transfor-
mações do mundo...................................................................................................................................................................... 7
2. das relações entre o pensamento filosófico e realidade em diferentes contextos..................................................................... 9
3. Das diferentes concepções de política e poder.......................................................................................................................... 15
4. do pensamento político e da cidadania na história da Filosofia................................................................................................. 30
5. Dos desafios da ética/bioética frente ao desenvolvimento tecnológico e a globalização......................................................... 31
6. da ética da responsabilidade e os desafios ambientais contemporâneos................................................................................. 31
7. Das reflexões filosóficas sobre o trabalho e as transformações tecnológicas no mundo moderno e contemporâneo.............. 33
8. Dos conceitos de alteridade e empatia....................................................................................................................................... 36
9. das contribuições da filosofia iluminista e contemporânea para o estabelecimento dos ideais de liberdade e Direitos Huma-
nos.............................................................................................................................................................................................. 36
10. Das contribuições da filosofia contemporânea para a reflexão sobre o ser humano a partir da fenomenologia e do existen-
cialismo....................................................................................................................................................................................... 41

Bibliografia Livros e Artigos


1. ALBORNOZ, Suzana. Do que se tem pensado sobre o trabalho. In: O que é trabalho. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 2014. p.
43-77........................................................................................................................................................................................... 49
2. CAMARGO, Diógenes Rafael de; SILVESTRI, Kátia Vanessa Tarantini. As diferentes concepções de natureza na sociedade
ocidental: da physis ao desenvolvimento sustentável. Filosofia e História da Biologia, São Paulo, v. 16, n. 1, p. 59-85, 2021.. 49
3. CHAUÍ. Marilena. Boas-vindas à filosofia. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010..................................................................... 50
4. CULLETON, Alfredo Santiago; BRAGATO, Fernanda Frizzo. A justiça e o direito. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2015.......... 50
5. GIACOIA JUNIOR, Oswaldo. Hans Jonas: Porque a técnica moderna é um objeto para a ética. Natureza Humana, São Paulo,
v. 1, n. 2, p. 407-420, dez. 1999.................................................................................................................................................. 50
6. MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein.. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010.
Partes III e IV............................................................................................................................................................................... 51
7. OLIVEIRA, Paulo Henrique de; ANJOS FILHO, Roberio Nunes dos. Bioética e pesquisas em seres humanos. Revista da Facul-
dade de Direito, São Paulo, v. 101, p. 1187-1227, jan./ dez. 2006.............................................................................................. 51
8. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. 4. ed. São Paulo: Vozes, 2014........................................................... 51
9. SAVIAN FILHO, Juvenal. Argumentação: a ferramenta do filosofar. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.............................. 52
10. SILVA, Franklin Leopoldo e. O outro. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012............................................................................. 52

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CONHECIMENTOS

Escola de Frankfurt
DA ATIVIDADE FILOSÓFICA, SUAS CARACTERÍSTICAS E
DESAFIOS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO; DA ATIVI- Surgida no século XX, mais precisamente em 1920, a Escola de
DADE FILOSÓFICA FRENTE AS TRANSFORMAÇÕES DO Frankfurt foi formada por pensadores do “Instituto para Pesquisa
MUNDO Social da Universidade de Frankfurt”.
Pautada nas ideias marxistas e freudianas, essa corrente de
pensamento formulou uma teoria crítica social interdisciplinar. Ela
A  Filosofia Contemporânea  é aquela desenvolvida a partir do aprofundou em temas diversos da vida social nas áreas da antropo-
final do século XVIII, que tem como marco a Revolução Francesa, logia, psicologia, história, economia, política, etc.
em 1789. Engloba, portanto, os séculos XVIII, XIX e XX1. De seus pensadores merecem destaque os filósofos: Theodor
Note que a chamada “filosofia pós-moderna”, ainda que para Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin e Jurgen Habermas.
alguns pensadores seja autônoma, ela foi incorporada a filosofia
contemporânea, reunindo os pensadores das últimas décadas. Indústria Cultural

Contexto Histórico A Indústria Cultural foi um termo criado pelos filósofos da Es-


cola de Frankfurt Theodor Adorno e Max Horkheimer. O intuito era
Esse período é marcado pela consolidação do capitalismo gera- analisar a indústria de massa veiculada e reforçada pelos meios de
do pela Revolução Industrial Inglesa, que tem início em meados do comunicação.
século XVIII. Segundo eles, essa “indústria do divertimento” massificaria a
Com isso, torna-se visível a exploração do trabalho humano, ao sociedade, ao mesmo tempo que homogeneizaria os comporta-
mesmo tempo que se vislumbra o avanço tecnológico e científico. mentos humanos.
Nesse momento são realizadas diversas descobertas. Desta-
cam-se a eletricidade, o uso de petróleo e do carvão, a invenção da Principais Filósofos Contemporâneos
locomotiva, do automóvel, do avião, do telefone, do telégrafo, da
fotografia, do cinema, do rádio, etc. Friedrich Hegel (1770-1831)
As máquinas substituem a força humana e a ideia de progresso Filósofo alemão, Hegel foi um dos maiores expoentes do idealis-
é disseminada em todas as sociedades do mundo. mo cultural alemão, e sua teoria ficou conhecida como “hegeliana”.
Por conseguinte, o século XIX reflete a consolidação desses pro- Baseou seus estudos na dialética, no saber, na consciência, no
cessos e as convicções ancoradas no progresso tecnocientífico. espírito, na filosofia e na história. Esses temas estão reunidos em
Já no século XX, o panorama começa a mudar, refletido numa suas principais obras: Fenomenologia do Espírito, Lições sobre His-
era de incertezas, contradições e dúvidas geradas pelos resultados tória da Filosofia e Princípios da Filosofia do Direito.
inesperados. Dividiu o espírito (ideia, razão) em três instâncias: espírito sub-
Acontecimentos desse século foram essenciais para formular jetivo, objetivo e absoluto.
essa nova visão do ser humano. Merecem destaque as guerras Já a dialética, segundo ele, seria o movimento real da realidade
mundiais, o nazismo, a bomba atômica, a guerra fria, a corrida ar- que teria de ser aplicada no pensamento.
mamentista, o aumento das desigualdades sociais e a degradação
do meio ambiente. Ludwig Feuerbach (1804-1872)
Assim, a filosofia contemporânea reflete sobre muitas questões Filósofo materialista alemão, Feuerbach foi discípulo de Hegel,
sendo que a mais relevante é a “crise do homem contemporâneo”. embora mais tarde, tenha adotado uma postura contrária de seu
Ela está baseada em diversos acontecimentos. Destacam-se a mestre.
revolução copernicana, a revolução darwiniana (origem das espé- Além de criticar a teoria de Hegel em sua obra “Crítica da Filo-
cies), a evolução freudiana (fundação da psicanálise) e ainda, a teo- sofia Hegeliana” (1839), o filósofo criticou a religião e o conceito de
ria da relatividade proposta por Einstein. Deus. Segundo ele, o conceito de Deus é expresso pela alienação
Nesse caso, as incertezas e as contradições tornam-se os motes religiosa.
dessa nova era: a era contemporânea. Seu ateísmo filosófico influenciou diversos pensadores dentre
eles Karl Marx.

1 Juliana Bezerra. Filosofia Contemporânea. http://abre.ai/QPs.


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CONHECIMENTOS

Arthur Schopenhauer (1788-1860) O mais importante conceito apresentado por Nietzsche foi o de


Filósofo alemão e crítico do pensamento hegeliano, Schope- “vontade de potência”, impulso transcendental que levaria a pleni-
nhauer apresenta sua teoria filosófica baseada na teoria de Kant. tude existencial.
Nela, a essência do mundo seria resultado da vontade de viver de Além disso, analisou os conceitos de “apolíneo e dionisíaco”
cada um. baseado nos deuses gregos da ordem (Apolo) e da desordem (Dio-
Para ele, o mundo estaria repleto de representações criadas pe- nísio).
los sujeitos. A partir disso, as essências das coisas seriam encontra-
das por meio do que ele chamou de “insightintuitivo” (iluminação). Edmund Husserl (1859-1938)
Sua teoria foi marcada também pelos temas do sofrimento e Filósofo alemão que propôs a corrente filosófica da fenomeno-
do tédio. logia (ou ciência dos fenômenos) no início do século XX. Essa teoria
está baseada na observação e descrição minuciosa dos fenômenos.
Soren Kierkegaard (1813-1855) Segundo ele, para que a realidade fosse vislumbrada a relação
Filósofo dinamarquês, Kierkegaard foi um dos precursores da entre sujeito e objeto deveria ser purificada. Assim, a consciência
corrente filosófica do existencialismo. é manifestada na intencionalidade, ou seja, é a intenção do sujeito
Dessa maneira, sua teoria esteve pautada nas questões da exis- que desvendaria tudo.
tência humana, destacando a relação dos homens com o mundo e
ainda, com Deus. Martin Heidegger (1889-1976)
Nessa relação, a vida humana, segundo o filósofo, estaria mar- Heidegger foi filósofo alemão e discípulo de Husserl. Suas con-
cada pela angústia de viver, por diversas inquietações e desesperos. tribuições filosóficas estiveram apoiadas nas ideias da corrente exis-
Isso somente poderia ser superado com a presença de Deus. tencialista. Nela, a existência humana e a ontologia são suas princi-
No entanto, está assinalada por um paradoxo entre a fé e a razão e, pais fontes de estudo, desde a aventura e o drama de existir.
portanto, não pode ser explicada. Para ele, a grande questão filosófica estaria voltada para a exis-
tência dos seres e das coisas, definindo assim, os conceitos de ente
Auguste Comte (1798-1857) (existência) e ser (essência).
Na “Lei dos Três Estados” o filósofo francês aponta para a evolu-
ção histórica e cultural da humanidade. Jean Paul Sartre (1905-1980)
Ela está dividida em três estados históricos diferentes: estado Filósofo e escritor francês existencialista e marxista, Sartre fo-
teológico e fictício, estado metafísico ou abstrato e estado científico cou nos problemas relacionados com o “existir”.
ou positivo. Sua obra mais emblemática é o “Ser e o Nada”, publicada em
O positivismo, baseado no empirismo, foi uma doutrina filosó- 1943. Nela, o “nada”,uma característica humana, seria um espaço
fica inspirada na confiança do progresso científico e seu lema era aberto, no entanto, baseada na ideia da negação do ser (não-ser).
“ver para prever”. O “nada” proposto por Sartre faz referência a uma caraterística
Essa teoria se opôs aos preceitos da metafísica citada na obra humana associada ao movimento e as mudanças do ser. Em resu-
“Discurso sobre o Espírito Positivo”. mo, o “vazio do ser” revela a liberdade e a consciência da condição
humana.
Karl Marx (1818-1883)
Filósofo alemão e crítico do idealismo hegeliano, Marx é um dos Bertrand Russel (1872-1970)
principais pensadores da filosofia contemporânea. Bertrand Russel foi filósofo e matemático britânico. Diante da
Sua teoria é denominada de “Marxista”. Ela abrange diversos análise lógica da linguagem, buscou nos estudos da linguística a
conceitos como o materialismo histórico e dialético, a luta de clas- precisão dos discursos, do sentido das palavras e das expressões.
ses, os modos de produção, o capital, o trabalho e a alienação. Essa vertente ficou conhecida como “Filosofia Analítica” desen-
Ao lado do teórico revolucionário, Friedrich Engels, publicaram volvida pelo positivismo lógico e a filosofia da linguagem.
o “Manifesto Comunista”, em 1948. Segundo Marx, o modo de pro- Para Russel, os problemas filosóficos eram considerados “pseu-
dução material da vida condiciona a vida social, política e espiritual doproblemas”, analisados à luz da filosofia analítica. Isso porque
dos homens, analisada em sua obra mais emblemática “O Capital”. não passariam de equívocos, imprecisões e mal-entendidos desen-
volvidos pela ambiguidade da linguagem.
Georg Lukács (1885-1971)
Filósofo húngaro, Lukács baseou seus estudos no tema das ideo- Ludwig Wittgenstein (1889-1951)
logias. Segundo ele, elas têm a finalidade operacional de orientar a Filósofo austríaco, Wittgenstein colaborou com o desenvolvi-
vida prática dos homens, que por sua vez, possuem grande impor- mento da filosofia de Russel, de forma que aprofundou seus estu-
tância na resolução dos problemas desenvolvidos pelas sociedades. dos na lógica, na matemática e na linguística.
Suas ideias foram influenciadas pela corrente marxista e ainda, De sua teoria filosófica analítica, sem dúvida, os “jogos de lin-
pelo pensamento kantiano e hegeliano. guagem” merecem destaque, donde a linguagem seria o “jogo”
aprofundado no uso social.
Friedrich Nietzsche (1844-1900) Em resumo, a concepção da realidade é determinada pelo uso
Filósofo alemão, o niilismo de Nietzsche está expresso em suas da língua cujos jogos da linguagem são produzidos socialmente.
obras em forma de aforismos (sentenças curtas que expressam um
conceito).
Seu pensamento passou por diversos temas desde religião, ar-
tes, ciências e moral, criticando fortemente a civilização ocidental.
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CONHECIMENTOS

Theodor Adorno (1903-1969) Nesse método, o processo de pesquisa considera o princípio da


Filósofo alemão e um dos principais pensadores da Escola de Falseabilidade a essência da natureza científica. A Sociedade Aberta
Frankfurt. Ao lado de Max Horkheimer (1895-1973) criaram o con- e Seus Inimigos e A Lógica da Pesquisa Científica são as suas obras
ceito de Indústria Cultural, que está refletido na massificação da mais conhecidas.
sociedade e em sua homogeneização.
Na “Crítica da Razão”, os filósofos apontam que o progresso so-
cial, reforçado pelos ideais iluministas, resultou na dominação do DAS RELAÇÕES ENTRE O PENSAMENTO FILOSÓFICO E REA-
ser humano. LIDADE EM DIFERENTES CONTEXTOS
Juntos, publicaram a obra “Dialética do Esclarecimento”, em
1947. Nela, eles denunciaram a morte da razão crítica que levou
a deturpação das consciências pautadas num sistema social domi- É na Grécia que encontramos os deuses que marcaram a história
nante da produção capitalista. da civilização ocidental. Esses deuses, que eram responsáveis pelo
destino, fortuna e desventura dos homens, existiam na crença que
Walter Benjamin (1892-1940) possuíamos neles e se fortaleciam entre nós por meio do mito.
Filósofo alemão, Benjamin demostra uma postura positiva em A palavra mito se traduz para o português como narrar, contar,
relação aos temas desenvolvidos por Adorno e Horkheimer, sobre- anunciar e, portanto, os deuses, de alguma forma, se materializam
tudo da Indústria Cultural. através das narrativas feitas acerca deles e de suas determinações,
Sua obra mais emblemática é “A obra de arte na era da sua re- as quais forneciam as respostas e as explicações que buscávamos
produtibilidade técnica”. Nela, o filósofo aponta que a  cultura de sobre, por exemplo, como o universo passou a existir, sobre o que
massa, disseminada pela Indústria Cultural, poderia trazer benefí- é a justiça ou sobre o que é o amor (CHAUÍ, 1998).
cios e servir como um instrumento de politização. Isso porque ela A crença neles era transmitida de geração a geração por meio
permitiria o acesso da arte à todos os cidadãos. da narrativa que chegava até os homens trazida pelo poeta rapso-
do. Esse poeta era alguém que narrava algo que testemunhou ou
Jurgen Habermas (1929-) lhe foi revelado pelos deuses ao permitirem que ele visse a origem
Filósofo e sociólogo alemão, Habermas propôs uma teoria ba- de todas as coisas e de todos os seres para que pudesse transmitir
seada na razão dialógica e na ação comunicativa. Segundo ele, seria a verdade aos ouvintes. Sua palavra era dotada de autoridade, pois
uma maneira de emancipação da sociedade contemporânea. o poeta rapsodo era um eleito dos deuses (Ibid.).
Essa razão dialógica surgiria dos diálogos e dos processos argu- No entanto, algumas descobertas e invenções realizadas pelos
mentativos em determinadas situações. homens fizeram com que percebessem que verdades antes revela-
Nesse sentido, o conceito de verdade apresentado pelo filósofo das pelos deuses se tornavam questionáveis. Por exemplo, com as
é fruto das relações dialógicas e, portanto, é denominado de verda- descobertas marítimas, foi possível constatar que onde os deuses
de intersubjetiva (entre sujeitos). diziam haver monstros e seres fabulosos moravam seres humanos
como quaisquer outros. Assim, a verdade revelada começa a ser
Michel Foucault (1926-1984) substituída pelas explicações fornecidas ao homem pelo próprio
Filósofo francês, Foucault buscou analisar as instituições sociais, homem. Por outro lado, a invenção da política propôs que todos
a cultura, a sexualidade e o poder. eram capazes de discutir ideias e soluções para a vida social. Mas,
Segundo ele, as sociedades modernas e contemporâneas são para propor e discutir, era preciso exercitar a atividade de pensar,
disciplinares. Assim, elas apresentam uma nova organização do po- era preciso produzir respostas por meio do pensamento, ou seja, as
der, que, por sua vez, foi fragmentado em “micropoderes”, estrutu- respostas e explicações para as indagações humanas passaram a ser
ras veladas do poder. produzidas pelos próprios homens (Ibid.).
Para o filósofo, o poder na atualidade engloba os diversos âm- A política valorizou a discussão, a persuasão e a decisão racio-
bitos da vida social e não somente o poder concentrado no Estado. nal, criando condições para o surgimento da filosofia. Ou seja, a
Essa teoria foi esclarecida em sua obra “Microfísica do Poder”. capacidade de explicar o mundo e as coisas que existem no mundo
Jacques Derrida (1930-2004) passou a ser feita com o uso da razão e não mais por meio dos deu-
Filósofo francês nascido na Argélia, Derrida foi um crítico do ses. Dessa forma, surge a filosofia na Grécia entre os séculos VII e
racionalismo, propondo a desconstrução do conceito de “logos” VI a. C. (Ibid.).
(razão). Podemos afirmar que o nascimento da filosofia marca uma
Assim, ele cunhou o conceito de “logocentrismo” baseado na ruptura com a mitologia e que, nessa ruptura, homens e deuses se
ideia de centro e que inclui diversas noções filosóficas como o ho- abandonaram. Mas como podemos definir e entender o que seja
mem, a verdade e Deus. filosofia?
A partir dessa lógica de oposições, Derrida apresenta sua teoria
filosófica destruindo o “logos”, que, por sua vez, auxiliou na cons- Philo sophia: o Significado da Reflexão Filosófica
truções de “verdades” indiscutíveis.
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que foram os gregos,
Karl Popper (1902-1994) entre os séculos VII e VI a. C., que formaram a palavra filosofia e,
Filósofo austríaco, naturalizado britânico, dedicou seu pensa- portanto, amor deve ser compreendido no sentido grego e não no
mento ao racionalismo crítico. Crítico do princípio indutivo do mé- sentido cristão, como conhecemos atualmente em nossa cultura.
todo científico, Propper formulou o Método Hipotético Dedutivo. O amor, como Eros, significa, antes de tudo, uma falta, refere-se
a uma ausência, é o desejo daquilo que não se tem e que não está
presente. Os filósofos amam e desejam a sabedoria e começam a
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CONHECIMENTOS

filosofar exatamente porque não são sábios. Portanto, filosofar é Está claro para todos nós que o saber da ciência deve ser seguro
uma forma de tornar presente aquilo que está faltando, está ausen- e exato. Afinal, esperamos do médico exatidão em um diagnóstico
te. Para tornar presente aquilo que o filósofo reconhece que não de doença e, mais ainda, esperamos que a medicina nos ofereça o
possui (a sabedoria a respeito de algo) ele começa a falar e a pensar melhor tratamento e a cura da enfermidade. Sabemos também que
sobre o que lhe falta. Comparativamente, sabemos que esse tam- as ciências médicas são objetivas e querem chegar a um resultado
bém é o recurso daquele que ama alguém: quanto mais o amante em suas pesquisas: o médico pesquisador entra no laboratório para
fala sobre seu amado mais este aparenta se tornar presente. descobrir a cura da AIDS, a vacina contra determinada doença etc.
É importante considerarmos que o amor do filósofo está Ainda no que diz respeito ao saber da ciência, podemos dizer
sempre ligado à ausência da coisa amada. É exatamente porque, que ele é demonstrável e um bom exemplo disso pode ser dado
não sendo sábio, ele deseja o saber; porque não sendo belo, deseja pelo engenheiro, que, ao ser convocado para construir uma passa-
a sabedoria acerca da beleza; porque não sendo corajoso, deseja a rela, demonstra em seus cálculos quanto de material de construção
sabedoria acerca da coragem, enfim, trata-se de um amor desejan- será utilizado, em quais etapas o serviço será feito e quando ficará
te e poderemos compreender melhor isso se formos à origem da pronto. Neste sentido, o saber da ciência é também calculativo, ou
palavra desejo. seja, é capaz de avaliar como será e quando será o resultado final.
Podemos pensar a origem da palavra desejo não na Era Clássica Nosso saber cotidiano também é muito semelhante ao da ciên-
(período histórico em que surge a filosofia), mas já em sua raiz lati- cia. Por exemplo, calculamos os ingredientes de um bolo e como
na e, ainda assim, aproximarmo-nos daquilo que nos interessa, ou melhor misturá-los; dizemos tal coisa com o objetivo de agradar um
seja, do amor desejante da filosofia. amigo; tentamos agir com precisão quando dirigimos nosso carro;
Desejo em língua portuguesa origina-se da palavra latina desi- temos interesse na nova tática adotada pelo técnico do nosso time,
derare. Por sua vez, desiderare origina-se de sideris que quer dizer pois, se a conhecemos, podemos emitir uma opinião a respeito; e
astro ou estrela. Bem, e qual relação está mantida entre desejo (de- há mesmo quem diga que ir ao Maracanã ver seu time jogar é uma
siderare) e estrela (sideris)? atitude lógica e objetiva, pois serve para “sentir emoção”.
Na Roma Antiga, os adivinhos analisavam as estrelas para des- É muito fácil citar características do saber típico da ciência e do
cobrir o que aconteceria no futuro. Por exemplo, um guerreiro pró- saber cotidiano, pois com estes estamos plenamente familiarizados.
ximo a uma batalha recorria a um advinho para saber qual seria a Mas tudo se torna muito diferente quando se trata do saber da
sua sorte, se ele seria vencedor ou perdedor. Assim, o advinho, com filosofia, daquela nossa sophia, como dissemos anteriormente.
sua capacidade toda especial, analisava as estrelas e fazia a previ- Como já anunciado, vamos nos aproximar do saber filosófico por
são do futuro daquele guerreiro. A esse ato de analisar as estrelas diferença em relação ao saber da ciência e ao saber cotidiano. Mas
os romanos chamavam considerare, que em português originou o antes precisamos de uma advertência, pois essa tarefa que agora
verbo considerar, avaliar, analisar. espera por nós é árdua e se escreve em linhas pouco habituais.
Mas onde se encontra a origem da palavra desejo que tanto nos Não deixemos que a estranheza inicial provocada pelas conside-
interessa? Para os romanos, quando alguém estava absolutamente rações que serão feitas se transforme em hostilidade ao que é novo
sem esperanças quanto a uma situação futura e não tinha ânimo se- e em consequente rejeição.
quer para consultar os adivinhos, dizia-se desiderare. Ou seja, para Deixemos cair por terra nossas armas sempre apontadas para
a certeza de que algo não era possível, que não adiantava qualquer tudo que está a nossa volta; deixemos de lado, como diz o Cazuza,
esperança de obtê-lo, dizia-se desiderare. E somente dizia essa pa- a velha “metralhadora cheia de mágoas”. É preciso ainda esclarecer
lavra aquele que tinha a certeza da impossibilidade, a certeza da que aquele saber da ciência e do cotidiano possui uma natureza
ausência. diferente do saber da filosofia, mas para os três saberes vigora o
Portanto, para nós latinos, a palavra desejo, que origina-se de pensamento. A ciência e o cotidiano (que será chamado daqui para
desiderare, significa também certeza da ausência. Não é verdade frente de senso comum) possuem o pensamento dotado daquelas
que desejamos exatamente aquilo que sabemos que está ausente? características que mencionamos anteriormente e podemos dizer
Ainda que tenhamos feito referência à etimologia da palavra que ambos se ocupam em conhecer para mais tarde empregar esse
desejo em latim, seu significado serve muito bem para compreen- conhecimento.
dermos o amor desejante do filósofo, daquele que ama o saber. Ele Com a filosofia, já dissemos, é diferente. O pensamento na filo-
ama aquilo que tem certeza que está ausente e, embutido dessa sofia se preocupa com o significado que as coisas têm e não como
certeza de ausência, fala e pensa acerca do seu objeto de amor em elas podem ser utilizadas. O saber filosófico é de outra natureza
uma tentativa de torná-lo próximo e presente, embora saiba que e, portanto, possui outras características. Para a filosofia, o pensa-
nunca o possuirá plenamente. mento assume outra feição. Na filosofia, não é mais para fazer diag-
Neste sentido, a filosofi a é uma busca constante do ausente. nósticos que pensamos; não é para construir passarelas e nem opi-
Bem, se compreendemos que philos-sophia é o amor ao saber nar sobre uma nova tática que exercemos a atividade de pensar. Na
e que a natureza desse amor desejante inspira o filósofo, devemos filosofia, tanto o saber quanto o pensamento que busca esse saber
agora compreender que natureza possui esse saber. Qual a nature- se apresentam em uma forma diferente daquela em que se apre-
za dessa sophia? sentam o saber e o pensamento da ciência e do senso comum. Para
Para responder a essa nova questão, faremos um caminho des- que possamos nos aproximar da natureza desse saber que vigora
construtivo e conheceremos o significado da nossa sophia pela di- na filosofia, elegemos três instâncias, as quais foram denominadas:
ferença em relação ao saber que temos familiaridade, ou seja, o origem, caminho e lugar.
saber da ciência e o nosso saber ordinário que nos orienta na vida
cotidiana.

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CONHECIMENTOS

A Origem necer entregue ao exercício de pensar. Para compreender melhor,


A origem da filosofia, e portanto do pensamento filosófico, é podemos fazer a seguinte comparação: existem pessoas que fazem
sempre dada por uma interrogação. Essa mesma interrogação nas- caminhadas diárias e dizem que isso ajuda a manter a saúde e em-
ce do espanto que os gregos denominavam thauma. Trata-se de um belezar o corpo, mas, além disso, dizem sentir muito prazer quando
espanto diferente daquele que sentimos quando assistimos a um caminham.
filme de terror. É um espanto admirativo em que permanecemos Bem, o filósofo não pensa com nenhum objetivo. Ele não o faz
perplexos e sem saber o que dizer acerca daquilo que nos espantou. para se sentir bem de saúde e nem mais prestigiado e bonito. Pensa
Exatamente porque não sabemos o que dizer é que começamos a pelo prazer de pensar, como se houvesse um caminhante que cami-
interrogar e é neste sentido que o início do pensamento é dado nhasse apenas pelo prazer de caminhar sem se preocupar com as
por uma interrogação. Notem que não estamos falando em origem consequências disso.
como datado que possua dia, mês e ano. Por não possuir ordem prática, o pensamento filosófico é livre e
O pensamento é atemporal e inaugura-se no mundo, potencial- não produz provas – como faz a ciência, que prova que determinada
mente, com o nascimento de todo e qualquer homem. Podemos vacina é eficiente contra tal doença. Neste caso, em comparação à
ainda dizer que a interrogação favorece o pensamento, pois é ela ciência, podemos dizer que o saber filosófico é um saber inútil, pois
que o desencadeia. não é aplicável na vida prática. Ora, se a filosofia é inútil, por que
Uma vez que a interrogação surja, o que fazemos com ela? Bem, estudá-la? Por que a universidade se ocupa com ela?
poderemos lhe dar um tratamento filosófico e assim mantê-la em Bem, antes que seja tomada a decisão apressada de abandonar
seu vigor interrogativo, dando continuidade ao pensamento. Mas a filosofia porque ela não é útil, podemos fazer algumas novas con-
podemos também sufocá-la, conferindo-lhe uma resposta imediata siderações acerca do assunto.
e, assim, matar o pensamento. Podemos dar um exemplo simples, O que é a utilidade? Podemos responder: “utilidade é aquilo
porém significativo: quando perguntamos a alguém “que horas que é útil, que traz benefícios e progressos, que melhora a saúde,
são?” e este alguém responde, não temos mais o que interrogar que promove o bem-estar, que faz ganhar dinheiro etc.” Se essa
e neste sentido dizemos que a própria interrogação está morta, ou pode ser a resposta, então, de fato, a filosofia é inútil, pois com ela
seja, que perdeu o seu apelo interrogativo, pois foi sufocada pela não alcançamos nada do que foi mencionado acima. Bem, se nossa
resposta e não há mais nada que se pensar a respeito. Por outro decisão for a de abandonar a filosofia porque ela não é útil, deve-
lado, se nos surpreendemos com a pergunta “o que é o tempo?” e mos saber que se isso for feito estaremos tomando uma atitude
não encontramos para ela nenhuma resposta conceitual e definiti- logo após o momento em que fizemos uma investigação filosófica.
va, mas, ainda assim, mantemos viva a interrogação e continuamos Como assim? Ora, fomos tomados por uma interrogação: o que é a
buscando o significado “do tempo”, então podemos dizer que co- utilidade? Demos à ela uma resposta apressada e logo decidimos
meçamos a filosofar, ou que começamos a pensar. pelo abandono da filosofia ao reconhecer que ela é inútil. Ok, mas
Se já sabemos que o pensamento nasce de uma interrogação, quem garante que a própria interrogação sobre a utilidade irá nos
podemos dizer também que o pensamento é pathos, é afetação, abandonar? Quem garante que daqui a pouco a mesma pergun-
é algo sofrido por nós e nunca provocado. O pensamento é aquilo ta não virá até nós e de forma inquietante ficará “martelando” em
que nasce espontaneamente e que nos acomete nos apanhando de nossa cabeça? E ainda mais: o que e quem podem nos garantir que
surpresa, sem que pudéssemos prever sua chegada. nossa decisão de abandonar a filosofia foi correta?
Tentativa de resposta: quanto a nossa suposta decisão de aban-
O Caminho donar a filosofia, não existe nada no mundo que possa nos garantir
Sendo o pensamento algo sofrido por nós e não provocado, sa- que ela foi acertada ou errada.
bemos que seu caminho é circular. Mas por quê? Para responder, Alguém pode comprovar, com o passar do tempo, que agiu cor-
pensemos sobre a natureza do círculo. retamente ao abandonar um amigo ingrato ou um vício perverso,
Em um círculo, início e fim estão unidos; as voltas dadas sobre mas o mesmo não se aplica à filosofia. Podemos dizer algo mais
ele passam sempre nos mesmos pontos; um círculo se encerra em além da mera decisão sobre abandonar a filosofia: embora ela seja
si mesmo e gira em torno de seu foco. Da mesma forma se dá o inútil e não possua nenhuma aplicação prática no mundo, não te-
pensamento filosófico, que está sempre empenhado em pensar, mos como abandoná-la pois a philo sophia (o nosso amor ao sa-
em várias voltas, o mesmo assunto. Como o círculo, o pensamento ber) não é nada como um amigo que encontramos ou um vício que
filosófico se encerra em si mesmo sem nenhuma saída possível e adquirimos. O amor ao saber, a filosofia, nasce com a gente, se
gira em torno do seu foco, que é dado por aquela interrogação que inaugura no mundo em todo recém-nascido e somente poderemos
o desencadeia. abandoná-la quando deixarmos de ser homem, ou seja, na condi-
Por se encerrar em si mesmo, podemos dizer que o pensamento ção extrema de nossa morte. Portanto, é desprovida de sentido a
filosófico é aporético, ou seja, não possui poros. E isso significa di- decisão de abandonarmos a filosofia, pois, mesmo que o desejásse-
zer que o pensamento não vaza, não sai de si, está empenhado em mos, não teríamos como fazê-lo. Não temos como impedir que as
ocupar-se consigo mesmo o tempo todo. O contrário ocorre com a interrogações venham sobre nós, como não podemos impedir que
ciência, pois ela se utiliza de seu pensamento calculativo para mais nos venham a chuva e o calor do sol.
tarde empregar seus resultados na vida prática. Ou seja, esse tipo O que podemos fazer é procurar um abrigo que nos proteja de-
de pensamento vaza para o exterior, se materializa no mundo em les. Porém, devemos estar conscientes de que o abrigo somente
forma de descobertas científicas, medicamentos, pontes, viadutos passou a existir porque antes existiram a chuva, o sol e o pensamen-
construídos etc. to em forma de interrogação que se despejaram sobre nós.
Neste sentido, podemos concluir que o pensamento filosófico
não possui ordem prática, ou seja, o filósofo não se dedica a pensar
para descobrir algo novo nas ciências. O que ele deseja é perma-
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CONHECIMENTOS

Bem, já sabemos que a filosofia é inútil, ou seja, que o saber De acordo com Platão, sabemos que o pensamento acontece
filosófico é inútil em comparação ao saber da ciência e do senso por meio do “diálogo sem som de mim comigo mesmo”. Aqui, é
comum. Sabemos também que, embora seja inútil, não tem como importante atentar que o pensamento não é um monólogo; ao con-
ser completamente neutralizado, no máximo pode ser evitado, sem trário, ele supõe “dois” para que haja um diálogo, pois Platão nos
que por isso deixe de existir. diz que é um “diálogo de mim comigo mesmo”. Mas o que significa
Mesmo sendo inútil, o pensamento filosófico não é igual a nada. isso? Trata-se de um desdobramento que fazemos sempre que pen-
A poesia de Fernando Pessoa, a música de Bethoven e as telas de Pi- samos: eu, que sou “um” em minhas atividades cotidianas, desdo-
casso são tão inúteis quanto as obras filosóficas e, no entanto, tam- bro-me em “dois” quando começo a pensar e esses “dois” entram
bém não são iguais a nada. Possuem significado, embora não sejam em diálogo – que é a forma de acontecimento do pensamento.
úteis ao ponto de curar doenças ou construir viadutos e passarelas. Mas, sempre que as atividades cotidianas me requisitam, o des-
Não é mesmo fácil conviver com todo esse embaraço que o dobramento desencadeado pelo pensamento é interrompido e eu
pensamento provoca, ainda mais quando temos que enfrentar si- que, quando estava pensando, era “dois”, unifico-me novamente
tuações pouco habituais e desconcertantes. É por isso que o pensa- voltando a ser “um”.
mento é, em geral, risível. Todavia, não podemos confundir aquilo Para Sócrates, o pensamento pode ser comparado ao vento. Os
que é risível com o que é irônico e debochado. ventos são invisíveis, mas, quando se aproximam de nós, percebe-
O pensamento somente é risível porque é capaz de nos retirar mos; e chegam para colocar tudo em desordem, para tirar as coisas
daquele ambiente familiar e plausível que é o ambiente cotidiano e do lugar. Da mesma forma é o pensamento; é invisível, mas perce-
nos colocar em uma posição bem distinta daquela em que normal- bemos sua chegada. Como o vento, o pensamento põe tudo em de-
mente nos encontramos quando estamos ocupados demais com as sordem, demove nossas antigas opiniões, altera o que já havíamos
coisas mundanas e não estamos pensando. estabelecido como verdade; corrói nossos critérios a respeito de
O filósofo (todo o amante do saber) é aquela figura risível exa- costumes e regras de conduta e obriga-nos a uma nova arrumação.
tamente porque está sempre ocupado com questões embaraçosas, A esse propósito podemos lembrar a letra de uma música grava-
como: “o que é o tempo?”, “o que é a beleza?”, “o que é o amor?”, da pelo grupo de música popular Barão Vermelho:
“como é possível conhecer?” etc. “E quem tem coragem de ouvir
Amanheceu o pensamento
O Lugar Que vai mudar o mundo
Com seus moinhos de vento”
Qual o lugar do pensamento? Sabemos que o pensamento en- Ao final do nosso texto, a quais conclusões podemos chegar?
contra-se nas obras filosóficas tanto quanto na poesia, nas belas Bem, é difícil estabelecer conclusões quando se estuda filosofia. Po-
artes, na música etc. Mas sabemos também que ele não tem forma demos mesmo dizer que o conceito e a definição são os aprisiona-
e nem é tangível. Sabemos mais: o pensamento é invisível em um dores da filosofia e que não nos deixam livres para pensar a respeito
mundo de aparências, não se manifesta quando, de fato, está em do que seja esse “amor ao saber”. Contudo, é possível conhecer um
plena realidade. Neste sentido, podemos dizer que seu lugar é o pouco a respeito de filosofia e foi isso que tentamos fazer até aqui.
lugar nenhum. Fizemos essa tentativa de conhecê-la quando nos aproximamos das
No entanto, quando estamos pensando, demostramos essa características do pensamento e podemos mesmo igualar a filoso-
atividade que é o pensamento – atividade que exercemos quando fia ao pensamento, desde que fique claro que o pensamento que
estamos quietos, solitários e completamente desocupados das atri- se pratica na filosofia possui uma natureza completamente distinta
buições cotidianas. do pensamento, que está presente na ciência e no senso comum.
Como exemplo, relembremos o caso de Tales de Mileto, um fi- Esse pensamento corresponde a sophia da nossa philo sophia, cor-
lósofo pré-socrático. responde a um tipo de saber especial que, embora esteja cada vez
Tales caminhava durante a noite olhando as estrelas enquanto mais afastado, somos capazes de exercer.
pensava acerca da beleza e da harmonia dos astros. Completamen-
te distraído, não percebeu que havia um poço em seu caminho e Physis e Nomos: Leis Naturais e Leis Humanas
caiu dentro dele.
Uma camponesa, que assistiu a toda a cena, riu muito e disse: A forma como elaboravam essas perguntas e as respostas que
“ora, tão ocupado com as coisas do céu e não vê o que está abaixo esperavam para elas é o que delineia o traço filosófico dessas inves-
do seu nariz e dos seus pés”. tigações. Pois os pré-socráticos buscavam entender o princípio que
Bem, esse exemplo nos remete a algumas características do causa e ordena tudo que existe na natureza. Uma vez que as coisas
pensamento. Vamos a elas: nosso filósofo, enquanto pensa, “desli- existem e mudam, o que as faz existirem e mudarem?
ga-se” das atribuições mundanas e tem seu pensamento interrom- O que organiza e ordena a saída do inverno e a chegada do ou-
pido ao se ver ocupado com algo prático como ter que sair do poço tono? O que é essa força “natural, perene e imortal subjacente às
em que caiu. Sua situação tornou-se risível aos olhos da camponesa mudanças?” (CHAUÍ, 1998: 209). Assim, esses filósofos buscavam a
que não estava, como ele, envolvida com o pensamento. E, por fim, estrutura causal que rege os fenômenos naturais.
sabemos que Tales não caiu no poço porque era cego ou porque Aristóteles nomeará os primeiros filósofos de physilogos, ou
possuía alguma deficiência. Ao contrário, sabemos que ele caiu por- seja, estudiosos da natureza, o que em grego se diz physis (MAR-
que estava distraído pelo pensamento e pensar implica se tornar CONDES, 1998). Devemos entender physis (natureza) como os gre-
alheio às coisas da vida cotidiana. gos: physis designa tudo que nasce, brota, emerge, surge, cresce e
Então, está aí mais uma característica do pensamento: embora vem a ser por si mesmo. Como a natureza vem a ser por ela mesma,
seja invisível e seu lugar seja o lugar nenhum, mostra-se a nós no ela também produz e obedece as suas próprias leis. Essas leis são
alheamento ao qual nos entregamos toda vez que pensamos. imutáveis, voltemos ao exemplo anterior: nascer, crescer e morrer
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CONHECIMENTOS

é um princípio (uma lei) imutável, pois submete a todos os seres Períodos da Filosofia: Cronologia e Representação
vivos (IGLÉSIAS, 1997). Um outro exemplo: podemos desejar que
uma determinada noite nunca acabe, mas independente da nossa Filosofia Antiga (do Século VI a.C. ao Século VI d.C.)
vontade, existe uma lei que fará o dia se sobrepor a essa noite que A filosofia antiga pode ser dividida em quatro períodos históri-
gostaríamos de perpetuar. cos, os quais serão descritos a seguir.
O termo cosmo (em grego, Kosmos) se refere ao universo em
sua ordem, harmonia e beleza. 1. Período pré-socrático ou cosmológico (final do século VII ao
O cosmo (mundo organizado e ordenado) tanto é o mundo final do século V a. C.)
natural quanto é o espaço celeste e também a realidade que se As preocupações fundamentais eram quanto à origem do mun-
ordena segundo os princípios naturais. Nessa ordenação, há uma do e as causas das transformações na natureza.
hierarquia em que os princípios mais básicos ocasionam os mais Principais representantes: Tales de Mileto; Anaxímenes de Mile-
complexos. Portanto, a causalidade é a lei principal. Como o ho- to; Anaximandro de Mileto; Heráclito de Éfeso; Pitágoras de Samos;
mem é dotado de razão, torna-se possível para ele compreender Parmênides de Eléia; Zenão de Eléia; Empédocles de Agrigento e
essa racionalidade natural (MARCONDES, 1998). Vamos insistir: Demócrito de Abdera.
essa racionalidade natural independe dos deuses, essa racionalida-
de é posta na natureza pela própria natureza. 2. Período socrático ou antropológico (final do século V e todo
A partir do século V a. C., um novo objeto de interesse tomou o século VI a. C.)
conta da filosofia. Em oposição aos assuntos naturais, os sofistas As investigações filosóficas se relacionavam com as questões
descobriram os assuntos humanos. Por que podemos falar em des- humanas, isto é, com a ética, a política e as técnicas.
coberta dos assuntos humanos em oposição aos assuntos naturais, Principais representantes: Sócrates; Platão e os filósofos sofistas
a physis? Protágoras de Abdera; Górgias de Leontini e Isócrates de Atenas.
A grande oposição se encontra na ideia de ordenação. Os filó-
sofos pré-socráticos descobriram uma natureza ordenada por leis 3. Período sistemático (final do século IV ao final do século III
imutáveis. Por sua vez, os sofistas perceberam que os assuntos a.C.)
humanos não são ordenados por leis imutáveis. Eles perceberam Período de reunião e sistematização dos escritos filosóficos so-
que a lei que rege os assuntos humanos pode ser fundada sobre o bre a cosmologia e a antropologia.
próprio arbítrio humano. E, como sabemos, esse arbítrio é mutável. O grande interesse era o de ressaltar que tudo pode ser objeto
Portanto, os assuntos humanos não estão submetidos nem às leis para a investigação filosófica.
rígidas da natureza e nem às leis inquestionáveis dos deuses mito- Principal representante: Aristóteles.
lógicos.
Ou seja, os assuntos humanos resultam da convenção humana 4. Período helenístico ou greco-romano (final do século III a.C.
(IGLÉSIAS, 1997). até o século VI d.C.)
Considerando que os sofistas são os primeiros filósofos que Esse período já abarca os pensadores de Roma e os primeiros
descobriram as características dos assuntos humanos, tornaram-se padres da Igreja Católica. Seus grandes temas de discussão são a
os professores da técnica de construir os discursos que deveriam ética, o conhecimento humano, as relações entre o homem e a na-
expor as ideias pensadas. Assim, tornaram-se professores de retó- tureza e a relação destes com Deus.
rica para os cidadãos que faziam política. Devemos considerar que Inscrevem-se aqui quatro grandes sistemas filosóficos: o estoi-
a política grega, em especial a de Atenas, era feita em Assembleias cismo, o epicurismo, o ceticismo e o neoplatonismo.
constituídas por homens livres e que todos tinham o direito à pa- Principais representantes: Cícero; Pirro de Elis;
lavra. Aquele que melhor defendesse as suas ideias, que soubesse Sexto Empírico; Sêneca e Epicuro (CHAUÍ, 1998).
melhor conduzir o seu discurso, ganharia a adesão dos demais, con-
sequentemente, o poder político e, especialmente, ganharia admi- Filosofia Patrística (do Século I ao Século VII)
ração (Ibid.).
Assim, dava-se o ensinamento sofístico: aulas que pretendiam Inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São
preparar os jovens para a composição de discursos. No entanto, Pla- João. A filosofia patrística se esforçou em conciliar os princípios da
tão irá tecer críticas contundentes aos sofistas. Irá afirmar que eles filosofia antiga com os dogmas do cristianismo e o objetivo disso
não estão preocupados em fazer com que os jovens desenvolvam o foi converter os pagãos à doutrina católica. Assim, a filosofia pa-
exercício de pensar. Dirá que os sofistas transmitem um saber pron- trística irá discutir a possibilidade de conciliar razão e fé na busca
to e sem compromisso com a verdade, pois o grande objetivo é, da verdade. Isso irá dividir as opiniões, gerando três correntes de
apenas, o de vencer a disputa verbal (Ibid.). pensamento diferentes. São elas:
Em oposição aos sofistas, Platão faz referências a Sócrates (469-
399 a. C.). Para ele, seu mestre é o filósofo por excelência, o grande 1. Os que acreditavam que a razão e a fé não se conciliavam e
interrogador. Onde havia uma certeza, Sócrates trazia uma interro- que a fé é superior a razão. O lema dessa corrente de pensamento
gação e fazia o seu interlocutor desencadear a atividade de pensar. é: “creio porque absurdo”;
Valia-se desse expediente para também pensar mais uma vez sobre 2. Os que acreditavam que a razão e a fé são conciliáveis, mas
a mesma questão. As características da reflexão filosófica. que a razão é inferior a fé. O lema dessa corrente de pensamento é:
“creio para compreender”;
3. Os que acreditavam que a razão e a fé são inconciliáveis e que
possuem campos de conhecimento diferentes.

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CONHECIMENTOS

Assim, a razão deve se ocupar com tudo que se refere à vida Filosofia Contemporânea
temporal dos homens e a fé com tudo que se refere à alma e à A filosofia contemporânea se estende de meados do século XIX
eternidade (Ibid.). até os dias de hoje. As diferenças e as características das corren-
tes filosóficas desse momento histórico ainda estão se desenhando
Filosofia Medieval (do Século VIII ao Século XIV) para nós, daí a dificuldade em defini-las (Ibid.).
Os temas de discussão da filosofia medieval versavam sobre
Deus e o infinito; corpo e alma; a hierarquização do Universo em O Advento da Filosofia Moderna
que os superiores governam os inferiores, condensando o mundo
celeste e o terreno através da hierarquia dada entre Deus, arcanjos, A Separação entre Filosofia e Ciência
anjos, alma, corpo, animais, vegetais e minerais. Além disso, tal qual Descartes é o fundador da filosofia moderna e Galileu, o funda-
a filosofia patrística, discutia a possibilidade de conciliar a razão e a dor da ciência moderna. A invenção do telescópio por Galileu trou-
fé. A partir do século XVII, a filosofia medieval é denominada de Es- xe ao conhecimento humano a certeza de que não era o Sol que
colática por ser ensinada nas escolas. Seus maiores infl uenciadores girava em torno da Terra; ao contrário, era a Terra que girava em
foram Platão e Aristóteles (Ibid.). torno do Sol. A certeza de que se mudava de um sistema geocên-
trico para um sistema heliocêntrico não era conferida ao homem
Filosofia da Renascença (do século XIV ao século XVI) nem pela razão, nem pela especulação e nem pela contemplação.
Esse é o período que tenta fazer renascer o vigor dos pensa- A certeza de um sistema geocêntrico foi dada por um instrumento
mentos de Platão e Aristóteles, que foram sufocados pelos dogmas feito pela mão do homem, instrumento que deixou para o passa-
da Igreja católica em toda a Idade Média. Algumas obras de Platão do a confiança de que o aparato sensorial, a razão e a fé eram sufi
que eram desconhecidas na Idade Média passam a ser lidas, assim cientes para que o homem vivesse no mundo e pudesse inferir a
como são recuperadas as obras de grandes autores e artistas gregos realidade que o cercava.
e romanos. Mais do que uma mudança nas leis da astrofísica, a invenção
Os nomes mais importantes desse período são: Dante, Marcílio do telescópio trouxe consigo a compreensão de que a verdade e a
Ficino, Giordano Bruno, Campannella, Maquiavel, Montaigne, Eras- realidade não são dadas, e que nem uma nem outra se apresenta
mo, Tomás Morus, Jean Bodin, Kepler e Nicolau de Cusa (Ibid.). como de fato é.
Portanto, somente na eliminação das aparências pode haver es-
Filosofia Moderna (do Século XVII a Meados do Século XVIII) perança de atingir-se o verdadeiro conhecimento.
Esse período é marcado pelo uso e primazia da razão e a figura Foi um instrumento construído pela mão do homem que trou-
do sujeito do conhecimento ganha a cena, respondendo pela per- xe a certeza que nem o aparato sensorial e nem as aparências são
gunta sobre a verdade em oposição à forma de conhecer presente confiáveis. Mais do que isso, as aparências podem dar a entender o
na Idade Média, que era baseada na verdade revelada e presente contrário daquilo que realmente são. Sejam quais forem as conclu-
nas obras de Deus. Esse período da história da filosofia também é sões retiradas das aparências, estas só podem ser ilusórias.
conhecido como o Grande Racionalismo Clássico. O surgimento do A trajetória que o Sol descreve diariamente ficou para sempre
sujeito do conhecimento e a concepção de que esse sujeito deve como um engano perceptivo após o telescópio ter flagrado o mo-
construir os seus objetos de conhecimento a partir de suas próprias vimento da Terra. E mais significativo do que isso foi a nova certeza
representações mentais caracterizam esse fase do pensamento fi- do pensamento moderno: as aparências são ativamente enganosas,
losófico (Ibid.). o aparato sensorial, a razão e a fé são inadequados para receber a
realidade, e que é preciso averiguar as aparências com um instru-
Os principais pensadores desse período foram: mento construído por processos de sua mente.
Francis Bacon, Descartes, Galileu, Pascal, Hobbes, Descartes, com seu pensamento apaixonado, destrói a confian-
Espinosa, Leibniz, Malebranche, Locke, Berkeley, ça que se possuía no senso comum ao reconhecer que os sentidos,
Newton, Gassendi (Ibid.). por serem enganosos, não poderiam conferir realidade alguma ao
homem. Se era o sexto sentido – ao unir os cinco sentidos com o
Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (Meados do Século XVIII parecer de outras pessoas que compartilhavam o mesmo contexto
ao Começo do Século XIX) onde as coisas apareciam – que garantia a realidade de algo, Des-
Esse período também é marcado pelo uso e pela primazia da cartes, ao se recusar a esses cinco sentidos internos, recusa-se à
razão. A ideia de ilustração e de iluminismo advém das luzes que realidade que é conferida por eles. O mundo introjetado em sua
devem se opor ao obscurantismo que caracterizou toda a Idade Mé- mente transforma-se em realidade, pois tornou-se um objeto da
dia. Acreditava-se que por meio da razão o homem seria capaz de introspecção - porque o filósofo pensa, o mundo existe. A mundani-
conquistar a liberdade e a felicidade social e política, o que influen- dade do sexto sentido, – do senso comum –, que era garantida pela
ciou diretamente a concepção da Revolução Francesa em 1789. As realidade, é abandonada e, na modernidade, a realidade, que era o
artes serão eleitas como o lugar onde serão expressos o grau de sentimento compartilhado por muitos, passa a ser garantida pelos
progresso da civilização e a ideia de evolução será uma tônica desse processos solitários do pensamento duvidante.
período, tornando-se presente na biologia e na filosofia da vida. O que era comum a todos – o comumente compartilhado – per-
Os principais pensadores do período foram: Hume, Voltaire, tencia a um mundo externo ao homem.
D’Alembert, Diderot, Rousseau, Kant, Fichte e Schelling (Ibid.). Suas sensações internas, seus cinco sentidos, o adequavam a
viver com outros homens e a compartilhar em comum no mundo,
o que lhes era, aparentemente, o mais interno e pessoal – os cin-
co sentidos – que, a rigor, jamais podem ser os mesmos, mas que
tornavam-se comuns (em comum-idade), orientando-os no mundo.
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CONHECIMENTOS

Descartes, na solidão do pensamento, procura trazer à reali- particulares. Assim, em regimes democráticos, a aceitação em lar-
dade que se manifesta no mundo externo a natureza particular da ga escala das normas que regulam as relações entre poder legis-
atividade de pensar, e o faz a partir do pensamento duvidante que lativo e executivo entra no primeiro tipo de Consenso, enquanto
descrê da realidade conferida pelos cinco sentidos. O pensamento o acordo sobre algumas orientações da política interna e externa
moderno passa a ter esta característica: se relaciona com o mundo entra no segundo. No regime republicano do pós-guerra, por exem-
a partir de uma estrutura de raciocínio comum – o pensamento du- plo, os partidos políticos italianos aceitaram — pelo menos como
vidante – em que a realidade passa a ser dada pelos processos da enunciado e, em alguns casos, talvez sem renunciar a propor sua
mente. Estes passam a ser o que os homens têm em comum e isso modificação futura — algumas regras fundamentais expressas na
os faz estar em comum com o mundo quanto à realidade, a qual Constituição republicana, tais como a legitimidade dos corpos legis-
passa a ser comum porque deriva do mesmo processo de raciocí- lativos manifestos por meio dos mecanismos eleitorais, a tutela da
nio. Os homens modernos passam a ter em comum o processo de existência organizada de forças políticas de oposição, a garantia das
produção da realidade, dado por meio do pensamento duvidante. liberdades individuais de expressão e associação, etc. Ao mesmo
Assim, concluímos que, para compreender o que uma coisa é, tempo, os acontecimentos da época nos oferecem amplo testemu-
devemos construir esse objeto de conhecimento no interior de nos- nho das profundas dissensões que dividiram as forças políticas, por
sa própria mente. Assim, toda a realidade pode ser um objeto da exemplo, em numerosas questões de política econômica. É claro
construção humana. Portanto, não importa qual seja o objeto a ser que, para a sobrevivência e funcionamento do sistema político, o
construído, pois a mente é capaz de realizar qualquer construção. primeiro tipo de Consenso é muito mais importante que o segundo.
Assim, podemos fabricar a sociedade, os processos educacionais e, Com efeito, o Consenso sobre as regras fundamentais que regem o
inclusive, o que sempre nos foi percebido como dado e gratuito: a desenvolvimento da vida política é elemento quase que indispensá-
natureza. Afinal, não é isso a que temos assistido a partir das tec- vel para o andamento mais ou menos ordenado do debate, quando
nologias sofisticadas que ingressam no curso natural da vida, por falta, como ocorre com frequência, o Consenso do segundo tipo.
exemplo, a produção dos transgênicos e dos clones? Como é natural, a distinção acima apresentada não é sempre cla-
Da mesma forma, podemos concluir que ciência e filosofia se ra. Pode haver questões de orientação política tão controvertidas e
separaram na Era Moderna porque a filosofi a não é capaz de cum- de implicações tão gerais, que acabem por comprometer as regras
prir uma exigência especial da ciência moderna, pois é incapaz de fundamentais do funcionamento do sistema e por transformar um
produzir provas, de demonstrar seguramente as suas verdades pro- conflito político numa verdadeira e autêntica crise do regime.
duzidas. Modernamente, compreendemos que conhecimento con- Nas sociedades democráticas, que permitem, de maneira mais
fiável é aquele que produz provas e produz resultados. Estudamos ou menos ampla, a expressão de opiniões e pontos de vista, o Con-
na Unidade I do nosso curso que o fôlego do pensamento filosófico senso aflora bem menos que os elementos de discrepância. Isto de-
está, justamente, nessa capacidade de refazer o que ele mesmo fez pende em parte das características dos meios de comunicação de
sem se preocupar com a comprovação do seu resultado no mundo. massa — porque, em breves palavras, a dissensão é sempre maior
Mas isso se indispõe frontalmente com o que deseja a ciência mo- notícia que o Consenso — e, em parte, do fato de que os princípios
derna. Por isso a separação que anunciamos inicialmente. realmente fundamentais têm raízes tão profundas que, muitas ve-
zes, nem se lhes presta atenção. Assim, o respeito devido aos mor-
tos, o direito do acusado à defesa, a condenação do homicídio são,
DAS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE POLÍTICA E PODER sem dúvida, “universais” que se encontram nas sociedades mais
diversas, se bem que não em todas; mas a sua própria universalida-
de e o seu caráter incontroverso lhes minimizam a relevância. Daí
Consenso que a análise superficial e relativa aos problemas mais controversos
O termo Consenso denota a existência de um acordo entre os tenda a subestimar o grau de Consenso existente. Corre-se o perigo
membros de uma determinada unidade social em relação a princí- oposto, quando se trata de regimes autoritários ou totalitários. Nes-
pios, valores, normas, bem como quanto aos objetivos almejados tes regimes, seja porque é vedada a expressão de opiniões contrá-
pela comunidade e aos meios para os alcançar. O Consenso se ex- rias aos princípios fundamentais do regime, seja porque é negada
pressa, portanto, na existência de crenças que são mais ou menos a legitimidade às forças da oposição que estimulam e solidificam
partilhadas pelos membros de uma sociedade. Se se considera a posições discordantes, seja, enfim, porque os diversos sub-sistemas
extensão virtual do Consenso, isto é, a variedade dos fenômenos possuem escassa autonomia e o regime invade, por assim dizer,
em relação aos quais pode ou não haver acordo, e, por outro lado, toda a sociedade, as divergências de opinião sobrevivem apenas
a intensidade da adesão às diversas crenças, torna-se evidente que clandestinamente, aparecem pouco externamente, levando o ob-
um Consenso total é um tanto improvável mesmo em pequenas servador a superestimar o êxito do sistema em conseguir a adesão
unidades sociais, sendo totalmente impensável em sociedades de amplos estratos sociais.
complexas. Portanto, o termo Consenso tem um sentido relativo: Ao considerarmos o grau de Consenso existente numa dada so-
mais que de existência ou falta de Consenso, dever-se-ia falar de ciedade, é também importante distinguir o Consenso a nível dos
graus de Consenso existentes em uma determinada sociedade ou enunciados gerais, das posições assumidas sobre questões especí-
subunidades. É evidente, além disso, que se deveria atender princi- ficas. Em geral, o Consenso em relação aos primeiros é muito mais
palmente às questões relativamente mais importantes e não a as- amplo. Pesquisas feitas nos Estados Unidos demonstraram, por
pectos de pormenor. exemplo, que, enquanto a aceitação do princípio da liberdade de
Do ponto de vista político, podemos em seguida distinguir o expressão é quase universal, se genericamente afirmado, sua apli-
Consenso referente às normas fundamentais que regem o funcio- cação a casos específicos — como, por exemplo, a aceitabilidade
namento do sistema, denominadas pelos anglo-saxões rules of the e conveniência de conferências proferidas por oradores que assu-
game do Consenso, que têm por objeto certos fins ou instrumentos mem uma atitude demasiado crítica quanto às instituições políti-
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CONHECIMENTOS

cas do país — não encontra grande Consenso entre o público. É te, principalmente por razões táticas — coabitar com outros esque-
provável que as diferenças de Consenso a nível da enunciação dos mas muitas vezes também exclusivistas e intolerantes. Flexibilidade
princípios e da sua aplicação a situações particulares sejam devidas e pragmatismo são, do ponto de vista de tais posições, fraqueza;
ao fato de que os princípios são expressos de forma bastante ge- quando essas ideologias se tornam dominantes, as forças delas
nérica e abstrata, prestando-se a interpretações diversas, ao passo derivadas tentam forjar o Consenso sobre as regras do jogo, mais
que, em sua aplicação, eles são inseridos, por assim dizer, nas si- com a imposição e doutrinamento que com o acordo. Mais: as mu-
tuações e experiências particulares dos protagonistas, aí incluídas danças econômico-sociais de relevo, as transformações estruturais
as divergências táticas derivadas da oposição das forças políticas. em larga escala e as inovações tecnológicas não são certamente de
Já que o grau de Consenso varia de uma sociedade para outra transcurar; elas criam condições novas, submetem amplos estratos
e de época para época, um dos quesitos mais importantes refere- da população a experiências novas, criam novas necessidades, e
-se aos fatores que provavelmente nele influem. No breve esboço acentuam os limites das instituições e usos em vigor. Todavia, ao
que segue, identificam-se sumariamente os elementos mais gerais, considerar o papel destes fatores, consideram-se ao menos como
atentando-se principalmente para a formação e manutenção do tão importantes os padrões de interpretação, os esquemas mentais
Consenso nas sociedades pluralistas. com que tais experiências são vividas, dando-se lhes um significa-
O primeiro elemento de realce é o grau de homogeneidade da do. E é sob este aspecto que se torna crucial o papel dos grupos,
sociedade sob o aspecto sociocultural. Neste sentido, a presença geralmente restritos, de intelectuais, divulgadores e profetas, nor-
de grupos étnicos, linguísticos e religiosos escassamente integrados malmente os primeiros a notar e a evidenciar a maturação de exi-
no sistema nacional, possuidores de uma cultura política própria e gências novas. É precisamente nestes grupos que se inicia muitas
mantendo uma adesão essencialmente formal aos princípios e nor- vezes a crítica às instituições e às ideias dominantes. É por isso que
mas do regime, constitui um claro fator de oposição à formação de a sua função como fatores de ruptura do Consenso não pode ser
um amplo Consenso. Naturalmente isto vale na medida em que é subestimada.
necessário haver-se com “ilhas culturais” verdadeiras e autênticas, Não se esqueça, por último, a importância da interação entre as
que se diferenciam notavelmente sob o ponto de vista político ou diversas forças políticas, mormente onde seu sucesso depende, em
em aspectos indiretamente ligados à política. A presença de grande grande parte, da habilidade em obter a adesão e apoio de grandes
variedade de grupos étnicos, com culturas grandemente heterogê- massas. É claro, por exemplo, que os partidos políticos não se limi-
neas, não impediu nos Estados Unidos a formação de amplíssimas tam simplesmente a refletir em suas posições as divisões existentes
faixas de Consenso em assunto de princípios políticos; mas, tenha- na sociedade, mas se apresentam, outrossim, como fatores ativos
-se presente que a aculturação das diversas levas de imigrantes se de Consenso ou dissensão, na medida em que operam, por meio
efetuou dentro dos termos da cultura política dominante de origem das suas estruturas organizacionais diretas ou indiretas, como me-
anglo-saxônica, levando a uma larga aceitação das suas normas. canismos independentes ou semi-independentes de canalização,
Um segundo fator que talvez tenha ainda maior importância é a isto é, como veículos de formação e de transformação das opiniões.
sucessão, em um dado país, de regimes políticos fundamentalmen- Afastado do âmago da luta política por sua pouca importância ou
te diversos no que toca às regras essenciais do funcionamento do por falta de popularidade, um partido político pode, conscien-
sistema, como ocorre quando se passa de um sistema autoritário temente ou não, orientar diretamente sua ação à polarização do
para outro de tipo pluralista. sistema, isto é, cavar um sulco entre as diversas formações, onde
Então, os indivíduos não só são sujeitos a experiências diver- as circunstâncias favoreçam tal estratégia. O caso mais claro é o das
sas, como veem também, em curto lapso de tempo, aplicados e formas de “transposição”, para a direita ou para a esquerda, do eixo
abandonados princípios diferentes e até mesmo opostos. Além dis- político, geradas muitas vezes pelas reações em cadeia.
so, a instauração de um novo regime leva amiúde à tentativa de Que significado tem para uma sociedade a existência de um ele-
criar novo Consenso; e, quando o regime muda, com a difusão e vado ou baixo grau de Consenso?
interiorização dos novos princípios se mantêm muitas vezes vivos Podemos imaginar rapidamente as consequências de um baixo
os resíduos do sistema anterior. Isto chama a atenção, em terceiro grau de Consenso, pensando nos resultados de uma situação em
lugar, para mecanismos de socialização, isto é, para veículos que que as motivações do comportamento de cada um se baseassem
conduzem à formação e persistência de orientações e à adesão a exclusivamente no temor da coerção ou na busca dos interesses
certos valores entre os membros da população. Pelo que se sabe, particulares. A existência de valores largamente compartilhados se
estes instrumentos ou agentes funcionam tanto melhor como me- apresenta, portanto, como um elemento fundamental de solidarie-
canismos de transmissão do Consenso às novas gerações, quanto dade, constituindo, por assim dizer, um aspecto importante do teci-
mais congruentemente operarem, isto é, sem discrepâncias; mas do conectivo de uma sociedade. Uma outra função do Consenso é
a presença de subculturas heterogêneas entre si e a existência de a de conter ou reduzir o uso da violência como meio de solução das
experiências políticas contrárias fazem com que os mecanismos de controvérsias. Finalmente, o Consenso pode ser considerado como
socialização estejam frequentemente caracterizados pela desconti- fator de cooperação e como elemento fortalecedor do sistema po-
nuidade e incongruência. Do ponto de vista da formação e manu- lítico; ajudará uma sociedade a superar momentos de dificuldade
tenção do Consenso, a socialização política, é bom lembrar, é uma como, por exemplo, casos de guerra ou de crise econômica.
espada de dois gumes: transmite a bagagem cultural das gerações
precedentes; porém, se o grau de Consenso for baixo e a cultura Conflito
política fragmentária, transmitir-se-ão e perpetuar-se-ão, também, I. PARA UMA DEFINIÇÃO DO CONCEITO E DE SEUS COMPONEN-
e principalmente, elementos de discrepância: TES. — Existe um acordo sobre o fato de que o Conflito é uma forma
Outro fator negativo é a existência de ideologias rigorosamente de interação entre indivíduos, grupos, organizações e coletividades
contrapostas umas às outras e de visões sistemáticas e exclusivistas que implica choques para o acesso e a distribuição de recursos es-
do mundo, que não toleram — ou toleram só de forma contingen- cassos. Esta proposição, porém, suscita imediatamente diferencia-
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CONHECIMENTOS

ções e divergências atinentes à maior parte dos problemas ligados violência pode ser considerada um instrumento utilizável num Con-
ao conceito de Conflito e à sua utilização. Neste estudo, antes de flito social ou político, mas não o único e nem necessariamente o
tudo, não se falará de Conflitos entre indivíduos em sentido psico- mais eficaz.
lógico, mas se focalizará o Conflito social e o Conflito político (de Distinguir os Conflitos com base nos objetivos não é fácil, se
que o Conflito internacional pode ser considerado uma importante não se faz referência a uma verdadeira teoria que atualmente não
categoria (v. GUERRA). existe. É possível compreender e analisar os objetivos dos Conflitos
Obviamente o Conflito, é apenas uma das possíveis formas de somente na base de um conhecimento mais profundo da socieda-
interação entre indivíduos, grupos, organizações e coletividades. de concreta em que os vários Conflitos emergem e se manifestam.
Uma outra possível forma de interação é a cooperação. Qualquer Portanto, a distinção habitual entre Conflitos que têm objetivos de
grupo social, qualquer sociedade histórica pode ser definida em mudanças no sistema e os que se propõem mudanças do sistema
qualquer momento de acordo com as formas de Conflito e de coo- é substancialmente insuficiente. Nada impede, de fato, que uma
peração entre os diversos atores que nela surgem. Mas só uma série de mudanças no sistema provoque uma transformação do
perspectiva deste tipo introduz já diferenciações relevantes entre sistema; nem que tentativas de mudanças do sistema acabem por
os autores que se ocuparam da análise do Conflito, como veremos. cooperar para reforçar e melhorar o sistema que se visava destruir,
Antes de abordar essa problemática, é oportuno analisar os derrubar ou transformar estruturalmente. Analisemos, portanto, as
componentes do Conflito. Dissemos que seu objetivo é o contro- necessárias teorias do Conflito e da mudança social.
le sobre os recursos escassos. Prevalentemente estes recursos são
identificados no poder, na riqueza e no prestígio. É claro que, de II. INTERPRETAÇÕES DOS CONFLITOS SOCIAIS E POLÍTICOS. —
acordo com os tipos e os âmbitos do Conflito, poderão ser iden- Sociólogos e politólogos se questionaram seriamente sobre o Con-
tificados outros recursos novos ou mais específicos. Por exemplo, flito social e, de acordo com suas teorias implícitas ou explícitas,
nos casos de Conflitos internacionais, um importante recurso será forneceram interpretações diferentes. O continuum parte daqueles
o território; nos casos de Conflitos políticos, o recurso mais am- que veem qualquer grupo social, qualquer sociedade e qualquer
bicionado será o controle dos cargos em competição; no caso de organização como algo de harmônico e de equilibrado; harmonia
Conflitos industriais, como salienta Dah-rendorf, objeto do Confli- e equilíbrio constituiriam o estado normal (Comte, Spencer, Pare-
to e, portanto, recurso em jogo serão as relações de autoridade e to, Durkheim, e entre os contemporâneos, Talcott Parsons). Todo o
de comando. A estas anotações se acresce que, enquanto alguns Conflito, então, é considerado uma perturbação; mas não é somen-
recursos podem ser procurados como fins em si mesmos, outros te isso; já que o equilíbrio e uma relação harmônica entre os vários
recursos podem servir para melhorar as posições em vista de novos componentes da sociedade constituem o estado normal, as causas
prováveis Conflitos. do Conflito são meta-sociais, isto é, devem ser encontradas fora da
Os Conflitos — como se disse — podem acontecer entre indiví- própria sociedade, e o Conflito é um mal que deve ser reprimido e
duos, grupos, organizações e coletividades. Naturalmente existem eliminado. O Conflito é uma patologia social.
também Conflitos que contrapõem indivíduos a organizações (um Na posição oposta ao “continuum” estão Marx, Sorel, John
Conflito pela democracia interna no partido entre um discordante e Stuart Mill, Simmel e entre os contemporâneos Dahrendorf e Tou-
os dirigentes), grupos a coletividades (um Conflito entre uma mino- raine, que consideram qualquer grupo ou sistema social como cons-
ria étnica e o Estado), entre organizações e coletividades (Conflitos tantemente marcados por Conflitos porque em nenhuma sociedade
entre a burocracia e o Governo como representante da coletivida- a harmonia ou o equilíbrio foram normais. Antes, são exatamente a
de). Existem então, diversos níveis nos quais podem ser situados desarmonia e o desequilíbrio que constituem a norma e isto é um
os Conflitos e seus diversos tipos, de modo que seria possível cen- bem para a sociedade. Através dos Conflitos surgem as mudanças e
trar somente a atenção sobre os Conflitos de classe (esquecendo os se realizam os melhoramentos. Conflito é vitalidade. Naturalmente,
conflitos étnicos) de um lado ou sobre os conflitos internacionais uma clara dicotomia não pode fazer esquecer que alguns autores
(esquecendo os Conflitos políticos internos dos Estados, como os não podem ser simplesmente classificados entre uns ou outros,
contrastes entre maioria e oposição ou as guerras civis) do outro como Kant, Hegel ou Max Weber, que analisaram e identificaram
lado. quer as condições da ordem ou do movimento, quer os fatores que
Os vários tipos de Conflitos podem ser distintos entre eles com levam à harmonia como os que produzem os Conflitos.
base em algumas características objetivas: dimensões, intensidade, Na posição intermediária se encontram também aqueles es-
objetivos. Quanto à dimensão, o indicador utilizado será constituí- tudiosos — e são muitos — que aderem, numa forma ou noutra,
do pelo número dos participantes, quer absoluto, quer relativo à à metodologia funcionalista. É indicativa a maneira como eles se
representação dos participantes potenciais (por exemplo, uma gre- interessaram pela problemática dos Conflitos e como chegaram a
ve na qual participam todos os trabalhadores das empresas envol- considerá-los como o produto sistemático das estruturas sociais.
vidas). A intensidade poderá ser avaliada com base no grau de en- Apesar disso, a metodologia destes autores os conduziu, na melhor
volvimento dos participantes, na sua disponibilidade a resistir até o das hipóteses, a considerar os Conflitos como algo que traz mal-es-
fim (perseguindo os chamados fins não negociáveis) ou a entrar em tar para o funcionamento de um sistema, isto é em síntese, uma
tratativas apenas negociáveis. A violência não é um componente da disfunção. Para os estudiosos funcionalistas mais atentos, como Ro-
intensidade; ela, de fato, não mede o grau de envolvimento; mas bert Merton, o Conflito é disfuncional em dois sentidos: é produto
assinala a inexistência, a inadequação, a ruptura de normas aceitas do não ou do mau funcionamento de um sistema social e produz
por ambas as partes e de regras do jogo (obviamente, no caso de por sua vez obstáculos e problemas, strains and síresses no funcio-
conflitos internacionais o assunto é diferente, mesmo quando nos namento do sistema.
encontramos perante a violência “controlada”, como na tentativa
de codificar até as várias possibilidades de uma guerra atômica). A

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CONHECIMENTOS

Não é preciso acrescentar muita coisa a quanto foi escrito de autoridades de associações coordenadas por normas imperati-
pelos estudiosos da harmonia e do equilíbrio social. Dahrendorf vas e relativo a elas” (1963:413). Ele, portanto, coloca no centro do
(1971:256-57) resumiu lucidamente as posições destes em quatro Conflito de classes o problema das relações de autoridade, de su-
hipóteses: bordinação e de superorde-nação. Dessa forma tenta oferecer uma
1) toda a sociedade é uma estrutura (“relativamente”) estável e explicação para a persistência do Conflito de classes também nas
duradoura de elementos (hipótese da estabilidade); sociedades pós-industriais (ou caracterizadas como tais), nas quais
2) toda a sociedade é uma estrutura bem equilibrada de ele- os Conflitos sobre a distribuição dos recursos parecem (pareciam)
mentos (hipótese do equilíbrio); se ter atenuado. Esta observação conduz à análise de causas e con-
3) todo o elemento de uma sociedade tem uma função, isto é, seqüências do Conflito social.
contribui para o funcionamento dela (hipótese da funcionalidade);
4) toda a sociedade se conserva graças ao consenso de todos III. CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS DO CONFLITO. — Para efeito de
seus membros em determinados valores comuns (hipótese do con- clareza é oportuno fazer novamente referência a Dahrendorf a fim
senso), de definir as causas dos Conflitos: “todas as sociedades produzem
constantemente em si antagonismos que não nascem casualmente
Os expoentes de uma visão conflitual da vida social se baseiam nem podem ser arbitrariamente eliminados” (1976:239). Embora
habitualmente em duas correntes de pensamento: de um lado, a dentro de um quadro teórico diferente, à mesma conclusão chega
corrente marxista, do outro, a corrente liberal descendente de John Touraine (1975) que sublinha a importância das tensões, dos de-
Stuart Mill. No centro da reflexão marxista está um tipo particular sequilíbrios, dos contrastes entre os diversos níveis da realidade
e notório de Conflito: a luta de classes (“A história de toda a so- social. Ambos os autores acentuam a necessidade de analisar, para
ciedade que existiu até o presente é história de luta de classes», compreendê-los, os conflitos no âmbito de sociedades históricas.
do Manifesto do partido comunista, 1948). Mas, paradoxalmente, O aspecto importante é que é rejeitada qualquer causa exóge-
a concepção marxista é menos “conflitual” do que se pensa. Se, de na, meta-social do Conflito. O mesmo desenvolvimento técnico, às
fato, é verdade que a luta de classes é a principal força motriz da vezes considerado motor relevante do Conflito social, é considera-
história e que a luta ( = Conflito) entre burguesia e proletariado é do causa marginal. Somente se explorado pelas forças em campo,
a grande alavanca da mudança social, Marx concebe este Conflito pelos autores sociais e se inserido no contexto social, o desenvol-
como o Conflito para acabar com todos os Conflitos. Abolida a divi- vimento técnico pode ser causa de Conflitos. Para compreender,
são entre as classes, o Conflito, consequentemente, acabará. porém, o Conflito que daí decorre, será, contudo, indispensável
Embora nem todos aqueles que se consideram “liberais” e focalizar a configuração da sociedade.
descendentes de John Stuart Mill consigam manter-se fiéis a uma Num sentido bem definido, portanto, não existem causas espe-
concepção conflitual da sociedade, é fora de dúvida que é entre cíficas do Conflito, nem do Conflito de classes. De fato, todo Conflito
os sociólogos e politólogos fautores de uma concepção semelhante é ínsito na mesma configuração da sociedade, do sistema político,
(às vezes acompanhada por uma revisão das teorias marxistas) que das relações internacionais. Ele resulta em elemento ineliminável
se encontram as contribuições mais importantes para a análise dos que conduz à mudança social, política, internacional. Ineliminável
Conflitos sociais e políticos (e também internacionais) que não pri- a longo prazo, porque a curto e a médio prazo, o Conflito pode ser
vilegiam acriticamente as bases econômicas dos Conflitos e que não sufocado ou desviado. É nesta fase que intervém os instrumentos
levam ou não têm uma visão teleológica (os conflitos como força políticos através dos quais os sistemas contemporâneos procuram
para realizar um sistema social definido antecipadamente). abrandar o impacto dos Conflitos sobre suas estruturas.
É ainda Dahrendorf que formula as hipóteses com base na teo- Partindo de uma determinada configuração social, em presença
ria alternativa acima mencionada, isto é, a teoria da coerção da in- de determinados Conflitos, condicionados em larga medida pelos
tegração social (1917:257): próprios sistemas sociais, se produz uma situação na qual os atores
1) toda a sociedade e cada um de seus elementos estão sujei- têm uma certa discricionariedade em seus comportamentos quer
tos, em qualquer período, a um processo de mudança (hipótese da no modo de ampliar o número daqueles que estão envolvidos ou
historicidade); de reduzi-lo quer no modo de aumentar a intensidade do conflito
2) toda a sociedade é uma estrutura em si contraditória e explo- ou de moderá-lo quer no modo de institucionalizar o Conflito ou de
siva de elementos (hipótese da explosividade); mantê-lo fora e além das regras precisas e aceitas por todos.
3) todo o elemento de uma sociedade contribui para a mudança Um conflito social e político pode ser suprimido, isto é, bloquea-
da mesma (hipótese da disfuncionalidade ou produtividade); do em sua expressão pela força, coercitivamente, como é o caso de
4) toda a sociedade se conserva mediante a coerção exercida muitos sistemas autoritários e totalitários, exceto o caso em que
por alguns de seus membros sobre outros membros (hipótese da se reapresente com redobrada intensidade num segundo tempo.
constrição). A supressão dos conflitos é, contudo, relativamente rara. Assim
como relativamente rara é a plena resolução dos Conflitos, isto é, a
Em aberta polêmica com as interpretações funcionais e com eliminação das causas, das tensões, dos contrastes que originaram
Parsons e seus discípulos, Dahrendorf daí conclui que “uma teo- os Conflitos (quase por definição um Conflito social não pode ser
ria aceitável do Conflito social pode ser criada somente se assu- “resolvido”).
mimos como plataforma a teoria da coerção da integração social” O processo ou a tentativa mais frequente é o de proceder à re-
(1971:258). Em polêmicas igualmente explícitas com a maior parte gulamentação dos Conflitos, isto é, à formulação de regras aceitas
das interpretações de origem marxista e com algumas formulações pelos participantes que estabelecem determinados limites aos Con-
do próprio Marx, que deixam entender um conflito com raízes de flitos. A tentativa consiste não em pôr fim aos Conflitos mas em
natureza econômica, Dahrendorf afirma drasticamente que “Confli- regulamentar suas formas de modo que suas manifestações sejam
to de classe indica qualquer conflito de grupo derivado da estrutura menos destrutíveis para todos os atores envolvidos. Ao mesmo
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CONHECIMENTOS

tempo a regulamentação dos Conflitos deve garantir o respeito das público, e até mesmo sociável e social, o termo Política se expandiu
conquistas alcançadas por alguns atores e a possibilidade para os graças à influência da grande obra de Aristóteles, intitulada Política,
outros atores de entrar novamente em Conflito. O ponto crucial é que deve ser considerada como o primeiro tratado sobre a natureza,
que as regras devem ser aceitas por todos os participantes e, se funções e divisão do Estado, e sobre as várias formas de Governo,
mudadas, devem ser mudadas por recíproco acordo. Quando um com a significação mais comum de arte ou ciência do Governo, isto
Conflito se desenvolve segundo regras aceitas, sancionadas e ob- é, de reflexão, não importa se com intenções meramente descriti-
servadas, há sua institucionalização. vas ou também normativas, dois aspectos dificilmente discriminá-
A real ou presumida atenuação do Conflito de classes deve-se, veis, sobre as coisas da cidade. Ocorreu assim desde a origem uma
em parte, à recíproca aceitação dos atores em campo e, em parte, transposição de significado, do conjunto das coisas qualificadas de
à consciência de que, não podendo proceder à eliminação da par- um certo modo pelo adjetivo “político”, para a forma de saber mais
te contrária, o procedimento melhor consiste na estipulação e na ou menos organizado sobre esse mesmo conjunto de coisas: uma
observância de regras explícitas e precisas. O mesmo discurso vale transposição não diversa daquela que deu origem a termos como
para o Conflito político: uma vez esclarecido que os custos da des- física, estética, ética e, por último, •cibernética. O termo Política foi
truição das minorias e das oposições por parte da:, maiorias e dos usado durante séculos para designar principalmente obras dedica-
Governos são demasiado altos, as vantagens extraídas de regras das ao estudo daquela esfera de atividades humanas que se refere
explícitas para a gestão do poder, para a expressão das divergên- de algum modo às coisas do Estado: Política methodice digesta, só
cias, para a rotatividade e a troca nos cargos são o passo sucessivo para apresentar um exemplo célebre, é o título da obra com que
que institucionaliza a democracia política. No decorrer do processo Johannes Althusius (1603) expôs uma das teorias da consociatio
se apresenta também a possibilidade de expressar os Conflitos po- publica (o Estado no sentido moderno da palavra), abrangente em
líticos de maneira produtiva, canalizando-os dentro de estruturas seu seio várias formas de consociationes menores. Na época mo-
apropriadas e sem deixá-los explodir improvisadamente e sem saí- derna, o termo perdeu seu significado original, substituído pouco
das previsíveis. a pouco por outras expressões como “ciência do Estado”, “doutrina
do Estado”, “ciência política”, “filosofia política”, etc, passando a ser
IV. O FUTURO DO CONFLITO. — As sociedades organizadas pro- comumente usado para indicar a atividade ou conjunto de ativida-
curam diluir o Conflito, canalizá-lo dentro de formas previsíveis, des que, de alguma maneira, têm como termo de referência a pólis,
submetê-lo a regras precisas e explícitas, contê-lo e, às vezes, orien- ou seja, o Estado.
tar para o sentido preestabelecido o potencial de mudança. Talvez Dessa atividade a pólis é, por vezes, o sujeito, quando referidos
os dois fenômenos mais relevantes das sociedades, que somente à esfera da Política atos como o ordenar ou proibir alguma coisa
por brevidade e comodidade podem ser definidos de pós-indus- com efeitos vinculadores para todos os membros de um determi-
triais, são, de um lado, o declínio da intensidade e, em geral, uma nado grupo social, o exercício de um domínio exclusivo sobre um
melhor regulamentação do Conflito de classes (que, prescindindo determinado território, o legislar através de normas válidas erga
das razões de Dahrendorf, se apresenta com conotações bem dife- omnes, o tirar e transferir recursos de um setor da sociedade para
rentes daquelas que foram focalizadas por Marx) e, de outro lado, outros, etc; outras vezes ela é objeto, quando são referidas à esfera
o aparecimento de novos Conflitos cujos veículos nas sociedades da Política ações como a conquista, a manutenção, a defesa, a am-
pós-industriais têm sido os movimentos coletivos e sociais (v. MO- pliação, o robustecimento, a derrubada, a destruição do poder esta-
VIMENTOS SOCIAIS). tal, etc Prova disso é que obras que continuam a tradição do tratado
A ligação entre Conflitos e mudanças, quer na esfera social aristotélico se intitulam no século XIX Filosofia do direito (Hegel,
quer na esfera política e internacional, é clara e indiscutível. Natu- 1821), Sistema da ciência do listado (Lorenz von Stein, 1852-1856),
ralmente, daí não se segue absolutamente que todas as mudanças Elementos de ciência política (Mosca, 1896), Doutrina geral do Es-
decorrentes dos Conflitos tenham sinal positivo, indiquem melho- tado (Georg Jellinek, 1900). Conserva parcialmente a significação
ramentos e produzam maior adesão aos valores da liberdade, da tradicional a pequena obra de Croce, Elementos de política (1925),
justiça e da igualdade. Todavia, onde os Conflitos são suprimidos onde Política mantém o significado de reflexão sobre a atividade
ou desviados ou não chegam a se realizar, a sociedade estagna e política, equivalendo, por isso, a “elementos de filosofia política”.
enfraquece e sua decadência se torna inevitável. Sem precisar con- Uma prova mais recente é a que se pode deduzir do uso enraizado
cordar plenamente com a conclusão de Dahrendorf, baseada no ilu- nas línguas mais difundidas de chamar história das doutrinas ou das
minismo, segundo a qual “no Conflito se esconde o germe criativo ideias políticas ou, mais genericamente, história do pensamento
de toda a sociedade e a possibilidade da liberdade, mas ao mesmo político à história que, se houvesse permanecido invariável o sig-
tempo a exigência de um domínio e controle racional das coisas hu- nificado transmitido pelos clássicos, teria de se chamar história da
manas” (1971: 280), fica claro que as sociedades conflituais sabem Política, por analogia com outras expressões, como história da físi-
acionar mecanismos de adaptação, da autorregularem e de mudan- ca, ou da estética, ou da ética: uso também aceito por Croce que, na
ça de que as sociedades consideradas consensuais (com consenso pequena obra citada, intitula Para a história da filosofia da política
conformista ou coacto) são carentes, carência que é gravemente o capítulo dedicado a um breve excursus histórico pelas políticas
prejudicial para elas. modernas.

[GIANFRANCO PASQUINO] II. A TIPOLOGIA CLÁSSICA DAS FORMAS DE PODER. — O con-


ceito de Política, entendida como forma de atividade ou de práxis
Política humana, está estreitamente ligado ao de poder. Este tem sido tra-
I.. O SIGNIFICADO CLÁSSICO E MODERNO DE POLÍTICA. — Deri- dicionalmente definido como “consistente nos meios adequados
vado do adjetivo originado de pólis (politikós), que significa tudo o à obtenção de qualquer vantagem” (Hobbes) ou, analogamente,
que se refere à cidade e, consequentemente, o que é urbano, civil, como “conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos dese-
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CONHECIMENTOS

jados” (Russell). Sendo um destes meios, além do domínio da na- se vale da posse de certos bens, necessários ou considerados como
tureza, o domínio sobre os outros homens, o poder é definido por tais, numa situação de escassez, para induzir aqueles que não os
vezes como uma relação entre dois sujeitos, dos quais um impõe ao possuem a manter um certo comportamento, consistente sobretu-
outro a própria vontade e lhe determina, malgrado seu, o compor- do na realização de um certo tipo de trabalho. Na posse dos meios
tamento. Mas, como o domínio sobre os homens não é geralmente de produção reside uma enorme fonte de poder para aqueles que
fim em si mesmo, mas um meio para obter “qualquer vantagem” os têm em relação àqueles que os não têm: o poder do chefe de
ou, mais exatamente, “os efeitos desejados”, como acontece com uma empresa deriva da possibilidade que a posse ou disponibilida-
o domínio da natureza, a definição do poder como tipo de relação de dos meios de produção lhe oferece de poder vender a força de
entre sujeitos tem de ser completada com a definição do poder trabalho a troco de um salário. Em geral, todo aquele que possui
como posse dos meios (entre os quais se contam como principais o abundância de bens é capaz de determinar o comportamento de
domínio sobre os outros e sobre a natureza) que permitem alcançar quem se encontra em condições de penúria, mediante a promessa
justamente uma “vantagem qualquer” ou os “efeitos desejados”. e concessão de vantagens. O poder ideológico se baseia na influên-
O poder político pertence à categoria do poder do homem sobre cia que as ideias formuladas de um certo modo, expressas em cer-
outro homem, não à do poder do homem sobre a natureza. Esta tas circunstâncias, por uma pessoa investida de certa autoridade
relação de poder é expressa de mil maneiras, onde se reconhecem e difundidas mediante certos processos, exercem sobre a conduta
fórmulas típicas da linguagem política: como relação entre gover- dos consociados: deste tipo de condicionamento nasce a importân-
nantes e governados, entre soberano e súditos, entre Estado e cida- cia social que atinge, nos grupos organizados, aqueles que sabem,
dãos, entre autoridade e obediência, etc. os sábios, sejam eles os sacerdotes das sociedades arcaicas, sejam
Há várias formas de poder do homem sobre o homem; o poder os intelectuais ou cientistas das sociedades evoluídas, pois é por
político é apenas uma delas. Na tradição clássica que remonta espe- eles, pelos valores que difundem ou pelos conhecimentos que co-
cificamente a Aristóteles, eram consideradas três formas principais municam, que se consuma o processo de socialização necessário à
de poder: o poder paterno, o poder despótico e o poder político. coesão e integração do grupo. Finalmente, o poder político se ba-
Os critérios de distinção têm sido vários com o variar dos tempos. seia na posse dos instrumentos mediante os quais se exerce a força
Em Aristóteles se entrevê a distinção baseada no interesse daquele física (as armas de toda a espécie e potência): é o poder coator no
em benefício de quem se exerce o poder: o paterno se exerce pelo sentido mais estrito da palavra. Todas estas três formas de poder
interesse dos filhos; o despótico, pelo interesse do senhor; o políti- fundamentam e mantêm uma sociedade de desiguais, isto é, dividi-
co, pelo interesse de quem governa e de quem é governado, o que da em ricos e pobres com base no primeiro, em sábios e ignorantes
ocorre apenas nas formas corretas de Governo, pois, nas viciadas, com base no segundo, em fortes e fracos, com base no terceiro:
o característico é que o poder seja exercido em benefício dos go- genericamente, em superiores e inferiores.
vernantes. Mas o critério que acabou por prevalecer nos tratados Como poder cujo meio específico é a força, de longe o meio
jusnaturalistas foi o do fundamento ou do princípio de legitimação, mais eficaz para condicionar os comportamentos, o poder político
que encontramos claramente formulado no cap. XV do Segundo é, em toda a sociedade de desiguais, o poder supremo, ou seja, o
tratado sobre o governo de Locke: o fundamento do poder paterno poder ao qual todos os demais estão de algum modo subordinados:
é a natureza, do poder despótico o castigo por um delito cometi- o poder coativo é, de fato, aquele a que recorrem todos os grupos
do (a única hipótese neste caso é a do prisioneiro de guerra que sociais (a classe dominante), em última instância, ou como extrema
perdeu uma guerra injusta), do poder civil o consenso. A estes três ratio, para se defenderem dos ataques externos, ou para impedi-
motivos de justificação do poder correspondem as três fórmulas rem, com a desagregação do grupo, de ser eliminados. Nas relações
clássicas do fundamento da obrigação: ex natura, ex delicio, ex con- entre os membros de um mesmo grupo social, não obstante o es-
tractu. Nenhum dos dois critérios permite, não obstante, distinguir tado de subordinação que a expropriação dos meios de produção
o caráter específico do poder político. Na verdade, o fato de o poder cria nos expropriados para com os expropriadores, não obstante a
político se diferenciar do poder paterno e do poder despótico por adesão passiva aos valores do grupo por parte da maioria dos desti-
estar voltado para o interesse dos governantes ou por se basear natários das mensagens ideológicas emitidas pela classe dominan-
no consenso, não constitui caráter distintivo de qualquer Governo, te, só o uso da força física serve, pelo menos em casos extremos,
mas só do bom Governo: não é uma conotação da relação política para impedir a insubordinação ou a desobediência dos subordina-
como tal, mas da relação política referente ao Governo tal qual de- dos, como o demonstra à saciedade a experiência histórica. Nas
veria ser. Na realidade, os escritores políticos não cessaram nunca relações entre grupos sociais diversos, malgrado a importância que
de identificar seja Governos paternalistas, seja Governos despóti- possam ter a ameaça ou a execução de sanções econômicas para
cos, ou então Governos em que a relação entre Governo e súditos levar o grupo hostil a desistir de um determinado comportamento
se assemelhava ora à relação entre pai e filhos, ora à entre senhor (nas relações entre grupos é de somenos importância o condiciona-
e escravos, os quais nem por isso deixavam de ser Governos tanto mento de natureza ideológica), o instrumento decisivo para impor
quanto os que agiam pelo bem público e se fundavam no consenso. a própria vontade é o uso da força, a guerra.
Esta distinção entre três tipos principais de poder social se
III. A TIPOLOGIA MODERNA DAS FORMAS DE PODER. — Para encontra, se bem que expressa de diferentes maneiras, na maior
acharmos o elemento específico do poder político, parece mais parte das teorias sociais contemporâneas, onde o sistema social
apropriado o critério de classificação das várias formas de poder global aparece direta ou indiretamente articulado em três subsis-
que se baseia nos meios de que se serve o sujeito ativo da relação temas fundamentais, que são a organização das forças produtivas,
para determinar o comportamento do sujeito passivo. Com base a organização do consenso e a organização da coação. A teoria
neste critério, podemos distinguir três grandes classes no âmbito de marxista também pode ser interpretada do mesmo modo: a base
um conceito amplíssimo do poder. Estas classes são: o poder eco- real, ou estrutura, compreende o sistema econômico; a supra es-
nômico, o. poder ideológico e o poder político. O primeiro é o que trutura, cindindo-se em dois momentos distintos, compreende o
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CONHECIMENTOS

sistema ideológico e aquele que é mais propriamente jurídico-polí- dade e importância, assim como sua coerência como sistema. As
tico. Gramsci distingue claramente na esfera supra estrutural o mo- autoridades políticas, e somente elas, possuem o direito, tido como
mento do consenso (que chama sociedade civil) e o momento do predominante, de usar a coerção e de impor a obediência apoiados
domínio (que chama sociedade política ou Estado). Os escritores nela... Quando falamos de sistema político, referimo-nos também
políticos distinguiram durante séculos o poder espiritual (que hoje a todas as interações respeitantes ao uso ou à ameaça de uso de
chamaríamos ideológico) do poder temporal, havendo sempre in- coerção física legítima” (p. 55). A supremacia da força física como
terpretado este como união do dominium (que hoje chamaríamos instrumento de poder em relação a todas as outras formas (das
poder econômico) e do imperium (que hoje designaríamos mais quais as mais importantes, afora a força física, são o domínio dos
propriamente como poder político). Tanto na dicotomia tradicional bens, que dá lugar ao poder econômico, e o domínio das ideias, que
(poder espiritual e poder temporal) quanto na marxista (estrutura dá lugar ao poder ideológico) fica demonstrada ao considerarmos
e supra estrutura), se encontram as três formas de poder, desde que, embora na maior parte dos Estados históricos o monopólio
que se entenda corretamente o segundo termo em um e outro caso do poder coativo tenha buscado e encontrado seu apoio na impo-
como composto de dois momentos. A diferença está no fato de que, sição das ideias (“as ideias dominantes”, segundo a bem conheci-
na teoria tradicional, o momento principal é o ideológico, já que da afirmação de Marx, “são as ideias da classe dominante”), dos
o econômico-política é concebido como direta ou indiretamente deuses pátrios à religião civil, do Estado confessional à religião de
dependente do espiritual, enquanto que, na teoria marxista, o mo- Estado, e na concentração e na direção das atividades econômicas
mento principal é o econômico, pois o poder ideológico e o político principais, há todavia grupos políticos organizados que consentiram
refletem, mais ou menos imediatamente, a estrutura das relações a desmonopolização do poder ideológico e do poder econômico;
de produção. um exemplo disso está no Estado liberal-democrático, caracterizado
pela liberdade de opinião, se bem que dentro de certos limites, e
IV. O PODER POLÍTICO. — Embora a possibilidade de recorrer à pela pluralidade dos centros de poder econômico. Não há grupo so-
força seja o elemento que distingue o poder político das outras for- cial organizado que tenha podido até hoje consentir a desmonopo-
mas de poder, isso não significa que ele se resolva no uso da força; lização do poder coativo, o que significaria nada mais nada menos
tal uso é uma condição necessária, mas não suficiente para a exis- que o fim do Estado e que, como tal, constituiria um verdadeiro e
tência do poder político. Não é qualquer grupo social, em condições autêntico salto qualitativo, à margem da história, para o reino sem
de usar a força, mesmo com certa continuidade (uma associação de tempo da utopia.
delinquência, uma chusma de piratas, um grupo subversivo, etc), Consequência direta da monopolização da força no âmbito de
que exerce um poder político. O que caracteriza o poder político é um determinado território e relativas a um determinado grupo so-
a exclusividade do uso da força em relação à totalidade dos grupos cial, assim hão de ser consideradas algumas características comu-
que atuam num determinado contexto social, exclusividade que e o mente atribuídas ao poder político e que o diferenciam de toda e
resultado de um processo que se desenvolve em toda a sociedade qualquer outra forma de poder: a exclusividade, a universalidade e
organizada, no sentido da monopolização da posse e uso dos meios a inclusividade. Por exclusividade se entende a tendência revelada
com que se pode exercer a coação física. Este processo de monopo- pelos detentores do poder político ao não permitirem, no âmbito
lização acompanha pari passu o processo de incriminação e punição de seu domínio, a formação de grupos armados independentes e
de todos os atos de violência que não sejam executados por pes- ao debelarem ou dispersarem os que porventura se vierem for-
soas autorizadas pelos detentores e beneficiários de tal monopólio. mando, assim como ao iludirem as infiltrações, as ingerências ou
Na hipótese hobbesiana que serve de fundamento à teoria mo- as agressões de grupos políticos do exterior. Esta característica dis-
derna do Estado, a passagem do Estado de natureza ao Estado ci- tingue um grupo político organizado da “societas” de “latrones” (o
vil, ou da anarchía à archia, do Estado apolítico ao Estado político, “latrocinium” de que falava Agostinho). Por universalidade se en-
ocorre quando os indivíduos renunciam ao direito de usar cada um tende a capacidade que têm os detentores do poder político, e eles
a própria força, que os tornava iguais no estado de natureza, para sós, de tomar decisões legítimas e verdadeiramente eficazes para
o confiar a uma única pessoa, ou a um único corpo, que doravante toda a coletividade, no concernente à distribuição e destinação dos
será o único autorizado a usar a força contra eles. Esta hipótese abs- recursos (não apenas econômicos). Por inclusividade se entende a
trata adquire profundidade histórica na teoria do Estado de Marx e possibilidade de intervir, de modo imperativo, em todas as esferas
de Engels, segundo a qual, numa sociedade dividida em classes an- possíveis da atividade dos membros do grupo e de encaminhar tal
tagônicas, as instituições políticas têm a função primordial de per- atividade ao fim desejado ou de a desviar de um fim não desejado,
mitir à classe dominante manter seu domínio, alvo que não pode por meio de instrumentos de ordenamento jurídico, isto é, de um
ser alcançado, por via do antagonismo de classes, senão mediante conjunto de normas primárias destinadas aos membros do grupo
a organização sistemática e eficaz do monopólio da força; é por isso e de normas secundárias destinadas a funcionários especializados,
que cada Estado é, e não pode deixar de ser, uma ditadura. Neste com autoridade para intervir em caso de violação daquelas. Isto
sentido tornou-se já clássica a definição de Max Weber: “Por Esta- não quer dizer que o poder político não se imponha limites. Mas
do se há de entender uma empresa institucional de caráter político são limites que variam de uma formação política para outra: um Es-
onde o aparelho administrativo leva avante, em certa medida e com tado autocrático estende o seu poder até à própria esfera religiosa,
êxito, a pretensão do monopólio da legítima coerção física, com vis- enquanto que o Estado laico para diante dela; um Estado coletivista
tas ao cumprimento das leis” (I, 53). Esta definição tornou-se quase estenderá o próprio poder à esfera econômica, enquanto que o Es-
um lugar-comum da ciência política contemporânea. tado liberal clássico dela se retrairá. O Estado todo-abrangente, ou
Escreveram G. A. Almond e G. B. Powell num dos manuais de seja, o Estado a que nenhuma esfera da atividade humana escapa,
ciência política mais acreditados: “Estamos de acordo com Max We- é o Estado totalitário, que constitui, na sua natureza de caso-limite,
ber em que e a força física legítima que constitui o fio condutor da a sublimação da Política, a politização integral das relações sociais.
ação do sistema político, ou seja, lhe confere sua particular quali-
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CONHECIMENTOS

V. O FIM DA POLÍTICA. — Uma vez identificado o elemento es- Política não é viver, mas viver bem {Política, 1278b). Mas em que
pecífico da Política no meio de que se serve, caem as definições te- consiste uma vida boa? Como é que ela se distingue de uma vida
leológicas tradicionais que tentam definir a Política pelo fim ou fins má? E, se uma classe política oprime os seus súditos, condenando-
que ela persegue. A respeito do fim da Política, a única coisa que se -os a uma vida sofrida e infeliz, será que não faz Política, será que o
pode dizer é que, se o poder político, justamente em virtude do mo- poder que ela exerce não é um poder político? O próprio Aristóteles
nopólio da força, constitui o poder supremo num determinado gru- distingue as formas puras de Governo das formas deturpadas, coisa
po social, os fins que se pretende alcançar pela ação dos políticos que já antes dele fizera Platão e haviam de fazer, durante vinte sé-
são aqueles que, em cada situação, são considerados prioritários culos, muitos outros escritores políticos: conquanto o que distingue
para o grupo (ou para a classe nele dominante): em épocas de lutas as formas deturpadas das formas puras, seja que nestas a vida não
sociais e civis, por exemplo, será a unidade do Estado, a concórdia, a é boa, nem Aristóteles, nem todos os escritores que lhe sucede-
paz, a ordem pública, etc; em tempos de paz interna e externa, será ram, lhes negaram nunca o caráter de constituições políticas. Não
o bem-estar, a prosperidade ou a potência; em tempos de opressão nos iludam outras teorias tradicionais que atribuem à Política fins
por parte de um Governo despótico, será a conquista dos direitos diversos do da ordem, como o bem comum (o mesmo Aristóteles
civis e políticos; em tempos de dependência de uma potência es- e, depois dele, o aristotelismo medieval) ou a justiça (Platão): um
trangeira, a independência nacional. Isto quer dizer que a Política conceito como o de bem comum, quando o quisermos desemba-
não tem fins perpetuamente estabelecidos, e muito menos um fim raçar da sua extrema generalidade, pela qual pode significar tudo
que os compreenda a todos e que possa ser considerado como o ou nada, e lhe quisermos atribuir um significado plausível, ele nada
seu verdadeiro fim: os fins da Política são tantos quantas são as me- mais poderá designar senão aquele bem que todos os membros de
tas que um grupo organizado se propõe, de acordo com os tempos um grupo partilham e que não é mais que a convivência ordena-
e circunstâncias. Esta insistência sobre o meio, e não sobre o fim, da, numa palavra, a ordem; pelo que toca à justiça platônica, se
corresponde, aliás, à communis opinio dos teóricos do Estado, que a entendermos, desvanecidos todos os fumos retóricos, como o
excluem o fim dos chamados elementos constitutivos do mesmo. princípio segundo o qual é bom que cada um faça o que lhe incum-
Fale mais uma vez por todos Max Weber: “Não é possível definir be dentro da sociedade como um todo (República, 433a), justiça e
um grupo político, nem tampouco o Estado, indicando o alvo da sua ordem são a mesma coisa. Outras noções de fim, como felicidade,
ação de grupo. Não há nenhum escopo que os grupos políticos não liberdade, igualdade, são demasiado controversas e interpretáveis
se hajam alguma vez proposto. . . Só se pode, portanto, definir o dos modos mais díspares, para delas se poderem tirar indicações
caráter político de um grupo social pelo meio... que não lhe é certa- úteis para a identificação do fim específico da política.
mente exclusivo, mas é, em todo o caso, específico e indispensável Outro modo de fugir às dificuldades de uma definição teleoló-
à sua essência: o uso da força” (I, 54). gica de Política é o de a definir como uma forma de poder que não
Esta rejeição do critério teleológico não impede, contudo, que tem outro fim senão o próprio poder (onde o poder é, ao mesmo
se possa falar corretamente, quando menos, de um fim mínimo na tempo, meio e fim, ou, como se diz, fim em si mesmo). “O caráter
Política: a ordem pública nas relações internas e a defesa da inte- político da ação humana, escreve Mário Albertini, torna-se patente,
gridade nacional nas relações de um Estado com os outros Estados. quando o poder se converte em fim, é buscado, em certo sentido,
Este fim é o mínimo, porque é a conditio sitie qua non para a con- por si mesmo, e constitui o objeto de uma atividade específica” (p.
secução de todos os demais fins, conciliável, portanto, com eles. 9), diversamente do que acontece com o médico, que exerce o pró-
Até mesmo o partido que quer a desordem, a deseja, não como prio poder sobre o doente para o curar, ou com o rapaz que impõe
objetivo final, mas como fator necessário para a mudança da ordem seu jogo preferido aos companheiros, não pelo prazer de exercer
existente e criação de uma nova ordem. Além disso, é lícito falar da o poder, mas de jogar. A este modo de definir a Política se poderá
ordem como fim mínimo da Política, porque ela é, ou deveria ser, objetar que ele não define tanto uma forma específica de poder
o resultado imediato da organização do poder coativo, porque, por quanto uma maneira específica de o exercer, ajustando-se, por isso,
outras palavras, esse fim, a ordem, está totalmente unido ao meio, igualmente bem a qualquer forma de poder, seja o poder econômi-
o monopólio da força: numa sociedade complexa, fundamentada co, seja o poder ideológico, seja qualquer outro poder. O poder pelo
na divisão do trabalho, na estratificação de categorias e classes, poder é um modo deturpado do exercício de qualquer forma de
e em alguns casos também na justaposição de gentes e raças di- poder, que pode ter como sujeito tanto quem exerce o grande po-
versas, só o recurso à força impede, em última instância, a desa- der, qual o político, quanto quem exerce o pequeno, como o do pai
gregação do grupo, o regresso, como diriam os antigos, ao Estado de família ou o do chefe de seção que supervisiona uma dezena de
de natureza. Tanto é assim que, no dia em que fosse possível uma operários. A razão pela qual pode parecer que o poder como fim em
ordem espontânea, como a imaginaram várias escolas econômicas si mesmo seja característico da Política (mas seria mais exato dizer
e políticas, dos fisiocratas aos anarquistas, ou os próprios Marx e de um certo homem político, do homem maquiavélico), reside no
Engels na fase do comunismo plenamente realizado, não haveria fato de que não existe um fim tão específico na Política como o que
mais política propriamente falando. existe no poder que o médico exerce sobre o doente ou no do rapaz
Quem examinar as definições teleológicas tradicionais de Polí- que impõe o jogo aos seus companheiros. Se o fim da Política, e não
tica, não tardará a observar que algumas delas não são definições do homem político maquiavélico, fosse realmente o poder pelo po-
descritivas, mas prescritivas, pois não definem o que é concreta e der, a Política não serviria para nada. É provável que a definição da
normalmente a Política, mas indicam como é que ela deveria ser Política como poder pelo poder derive da confusão entre o conceito
para ser uma boa Política; outras diferem apenas nas palavras (as de poder e o de potência: não há dúvida de que entre os fins da
palavras da linguagem filosófica são não raro intencionadamente Política está também o da potência do Estado, quando se considera
obscuras) da definição aqui apresentada. Toda história da filosofia a relação do próprio Estado com os outros Estados. Mas uma coisa
política está repleta de definições normativas, a começar pela aris-
totélica: como é bem conhecido, Aristóteles afirma que o fim da
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CONHECIMENTOS

é uma Política de potência e outra o poder pelo poder. Além disso, É preciso também notar que a expressão acima empregada,
a potência não é senão um dos fins possíveis da Política, um fim que “Poder do homem sobre o homem”, se entende mais exatamente
só alguns Estados podem razoavelmente perseguir. como “Poder de um homem sobre um outro homem”. Com tal es-
pecificação se exclui do nosso campo de pesquisa o Poder que um
Poder homem possa exercer sobre si mesmo. Sempre que, por exemplo,
1. DEFINIÇÃO. — Em seu significado mais geral, a palavra Poder uma senhora se imponha uma certa dieta de emagrecimento e, não
designa a capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir efeitos. obstante os desejos, mantenha seu propósito, podemos dizer que
Tanto pode ser referida a indivíduos e a grupos humanos como a ela exerce um Poder sobre si mesma. Neste caso, como em casos
objetos ou a fenômenos naturais (como na expressão Poder calorí- análogos, pelo menos se se considerarem em si mesmos, não se
fico, Poder de absorção). trata de uma relação de Poder entre pessoas, mas de um exercício
Se o entendermos em sentido especificamente social, ou seja, de Poder que começa e termina no âmbito, digamos, de uma só
na sua relação com a vida do homem em sociedade, o Poder tor- pessoa; mas o Poder que nos interessa analisar em relação ao es-
na-se mais preciso, e seu espaço conceptual pode ir desde a capa- tudo da política é o que uma pessoa ou grupo tem ou exerce sobre
cidade geral de agir, até à capacidade do homem em determinar o outra pessoa ou grupo.
comportamento do homem: Poder do homem sobre o homem. O Como fenômeno social, o Poder é portanto uma relação entre
homem é não só o sujeito mas também o objeto do Poder social. E os homens, devendo acrescentar-se que se trata de uma relação
Poder social a capacidade que um pai tem para dar ordens a seus triádica. Para definir um certo Poder, não basta especificar a pes-
filhos ou a capacidade de um Governo de dar ordens aos cidadãos. soa ou o grupo que o detém e a pessoa ou o grupo que a ele está
Por outro lado, não é Poder social a capacidade de controle que sujeito: ocorre determinar também a esfera de atividade à qual o
o homem tem sobre a natureza nem a utilização que faz dos re- Poder se refere ou a esfera do Poder. A mesma pessoa ou o mes-
cursos naturais. Naturalmente existem relações significativas entre mo grupo pode ser submetido a vários tipos de Poder relacionados
o Poder sobre o homem e o Poder sobre a natureza ou sobre as com diversos campos. O Poder do médico diz respeito à saúde; o
coisas inanimadas. Muitas vezes, o primeiro é condição do segundo do professor, à aprendizagem do saber; o empregador influencia
e vice-versa. Vamos dar um exemplo: uma determinada empresa o comportamento dos empregados sobretudo na esfera econômi-
extrai petróleo de um pedaço do solo terrestre porque tem o Poder ca e na atividade profissional; e um superior militar, em tempo de
de impedir que outros se apropriem ou usem aquele mesmo solo. guerra, dá ordens que comportam o uso da violência e a probabili-
Da mesma forma, um Governo pode obter concessões de outro Go- dade de matar ou morrer. No âmbito de uma comunidade política,
verno, porque tem em seu Poder certos recursos materiais que se o Poder de A (que pode ser, por exemplo, um órgão público ou um
tornam instrumentos de pressão econômica ou militar. Todavia, em determinado grupo de pressão) pode dizer respeito à política urba-
linha de princípio, o Poder sobre o homem é sempre distinto do nística; o poder de B, à política exterior em relação a uma certa área
Poder sobre as coisas. E este último é relevante no estudo do Poder geográfica; o poder de C dirá respeito, enfim, à política educacional,
social, na medida em que pode se converter num recurso para exer- e assim por diante. A esfera do Poder pode ser mais ou menos am-
cer o Poder sobre o homem. pla e delimitada mais ou menos claramente. O Poder que se funda
Por isso não se podem aceitar as definições que, inserindo-se sobre uma competência especial fica confinado ao âmbito dessa
numa tradição que remonta a Hobbes, ignoram este caráter rela- competência. Mas o Poder político e o Poder paterno abrangem,
cionai e identificam o Poder social com a posse de instrumentos normalmente, uma esfera muito ampla. Por sua vez, a esfera de Po-
aptos à consecução de fins almejados. A definição de Hobbes, tal der de uma pessoa que ocupa um cargo numa organização formal
como se lê no princípio do capítulo décimo do Leviatã, é a seguinte: (como é o caso do presidente ou do tesoureiro de uma associação)
“O Poder de um homem... consiste nos meios de alcançar alguma é definido de modo preciso e taxativo, enquanto que a esfera de
aparente vantagem futura”. Não é diferente, por exemplo, o que Poder de um chefe carismático não é precisada por antecipação e
Gumplowicz afirmou: que a essência do Poder “consiste na posse tende a ser ilimitada.
dos meios de satisfazer as necessidades humanas e na possibilidade
de dispor livremente de tais meios”. Em definições como estas, o Autoridade
Poder é entendido como algo que se possui: como um objeto ou I. A AUTORIDADE COMO PODER ESTABILIZADO.
uma substância — observou alguém — que se guarda num recipien- — Na tradição cultural do Ocidente, desde que os romanos
te. Contudo, não existe Poder, se não existe, ao lado do indivíduo ou cunharam a palavra auctoritas, a noção de Autoridade constitui um
grupo que o exerce, outro indivíduo ou grupo que é induzido a com- dos termos cruciais da teoria política, por ter sido usada em estreita
portar-se tal como aquele deseja. Sem dúvida, como acabamos de conexão com a noção de poder.
mostrar, o Poder pode ser exercido por meio de instrumentos ou de A situação atual dos usos deste termo é muito complexa e in-
coisas. Se tenho dinheiro, posso induzir alguém a adotar um certo trincada. Enquanto, de um modo geral. Sua estreita ligação com o
comportamento que eu desejo, a troco de recompensa monetária. conceito de poder permaneceu, a palavra Autoridade passou a ser
Mas, se me encontro só ou se o outro não está disposto a compor- reinterpretada de vários modos e empregada com significados no-
tar-se dessa maneira por nenhuma soma de dinheiro, o meu Poder tavelmente diversos. Por vezes se negou, explícita ou implicitamen-
se desvanece. Isto demonstra que o meu Poder não reside numa te, que exista o problema de identificar o que seja Autoridade e o de
coisa (no dinheiro, no caso), mas no fato de que existe um outro descrever as relações entre Autoridade e poder: em particular por
e de que este é levado por mim a comportar-se de acordo com os parte daqueles que usaram poder e Autoridade como sinônimos.
meus desejos. O Poder social não é uma coisa ou a sua posse: é uma Mas existe a tendência, de há muito tempo generalizada, de distin-
relação entre pessoas. guir entre poder e Autoridade, considerando esta última como uma
espécie do gênero “poder” ou até, mas mais raramente, como uma
simples fonte de poder.
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CONHECIMENTOS

Um primeiro modo de entender a Autoridade como uma es- dos pelo detentor da Autoridade; baseado em tais distinções, pro-
pécie de poder seria o de defini-la como uma relação de poder pôs algumas hipóteses interessantes sobre a estática e a dinâmica
estabilizado e institucionalizado em que os súditos prestam uma das relações de Autoridade.
obediência incondicional. Esta concepção se manifesta sobretudo A Autoridade, tal como a temos entendido até aqui, como po-
no âmbito da ciência da administração. Dentro dessa concepção, der estável, continuativo no tempo, a que os subordinados prestam,
temos Autoridade quando o sujeito passivo da relação do poder pelo menos dentro de certos limites, uma obediência incondicional,
adota como critério de comportamento as ordens ou diretrizes do constitui um dos fenômenos sociais mais difusos e relevantes que
sujeito ativo sem avaliar propriamente o conteúdo das mesmas. pode encontrar o cientista social. Praticamente todas as relações de
A obediência baseia-se unicamente no critério fundamental da poder mais duráveis e importantes são, em maior ou menor grau,
recepção de uma ordem ou sinal emitido por alguém. A esta ati- relações de Autoridade: o poder dos pais sobre os filhos na família,
tude do sujeito passivo pode corresponder uma atitude particular o do mestre sobre os alunos na escola, o poder do chefe de uma
até em quem exerce Autoridade. Este transmite a mensagem sem igreja sobre os fiéis, o poder de um empresário sobre os trabalha-
dar as razões e espera que seja aceito incondicionalmente. Assim dores, o de um chefe militar sobre os soldados, o poder do Governo
entendida, a Autoridade se opõe à relação de poder baseado na sobre os cidadãos de um Estado. A estrutura de base de qualquer
persuasão. Nesta última relação, C utiliza argumentos em favor do tipo de organização, desde a de um campo de concentração à or-
dever ou da oportunidade de um certo comportamento na relação ganização de uma associação cultural, é formada, em grande par-
de autoridade; ao contrário, C transmite uma mensagem que con- te, à semelhança da estrutura fundamental de um sistema político
tém a indicação de um certo comportamento, sem, entretanto, usar tomado como um todo, por relações de Autoridade. Não há, pois,
de nenhum argumento de justificação. Na relação de persuasão, R por que admirar-se se o conceito de Autoridade ocupa um lugar de
adota o comportamento sugerido por C porque aceita os argumen- primeiro plano na teoria da organização; nem é de admirar que tão
tos apresentados por C, em seu favor; na relação de autoridade, ao frequentemente se faça uso do conceito de Autoridade para definir
contrário, R adota o comportamento indicado por C independente- o Estado ou a sociedade política. Ainda recentemente o politólogo
mente de qualquer razão que possa eventualmente aconselhá-lo ou H. Eckstein propôs que se identificasse a política pelas “estruturas
desaconselhá-lo. de Autoridade”; e definiu a estrutura de Autoridade como “um
Atendo-nos a esta primeira definição de Autoridade, o que con- conjunto de relações assimétricas, entre membros de uma unidade
ta é que R obedeça de modo incondicional às diretrizes de C; para social ordenados de um modo hierárquico, que têm por objeto a
uma identificação da Autoridade não importa saber qual o funda- condução da própria unidade social”. Na realidade, a estratificação
mento em que se baseia R para aceitar incondicionalmente a indi- da Autoridade política na sociedade é um fenômeno tão persistente
cação de C e este para exigir obediência incondicional. Esse funda- que se afigura a vários autores como parte da hereditariedade bio-
mento tanto pode consistir na legitimidade do poder de C como lógica da espécie (veja-se a resenha de estudos de Fred H. Willhoite
num condicionamento fundado na violência. David Easton estabe- Ir. Primates and political authority: A biobehavioral perspective, em
leceu precisamente uma distinção entre “Autoridade legítima” e “American political science re-view”, vol. LXX-1976, pp. 1110-26).
“Autoridade coercitiva”. Foi dentro de uma perspectiva análoga que Até agora ressaltamos, de forma acentuada, por um lado, o
Amitai Etzioni apresentou uma articulada classificação das formas caráter hierárquico, por outro, a estabilidade da Autoridade. Mas
de Autoridade e organização, embora ele não use a palavra “Auto- observe-se, no tocante ao primeiro ponto, que a Autoridade, tal
ridade” como termo-chave. Distingue três tipos de poder: “coerci- como a definimos até aqui, se é particularmente característica das
tivo”, baseado na aplicação ou ameaça de sanções físicas; “rerhu- estruturas hierárquicas, não pressupõe, contudo, necessariamen-
nerativo”, baseado no controle dos recursos e das retribuições te a existência de tal estrutura, nem mesmo de uma organização
materiais; “normativo”, baseado na alocação dos prêmios e das pri- formal. Pode verificar-se também em relações de poder informal.
vações simbólicas. São três os tipos de orientação dos subalternos Por exemplo, C pode estar disposto a aceitar incondicionalmente
em face do poder: “alienado”, intensamente negativo; “calculador”, as opiniões de R (um escritor ou jornalista) no âmbito de uma certa
negativo ou positivo de intensidade moderada; “moral”, intensa- matéria. Quanto ao segundo ponto, não se há de esquecer o fato
mente positivo. Combinando juntamente os três tipos de poder e de que toda a Autoridade “estabelecida” se formou num determi-
os três tipos de orientação dos subalternos, Etzioni descobre três nado lapso de tempo, surgindo inicialmente como uma Autoridade
casos “congruentes” de Autoridade e organização e diversos outros “emergente” e acumulando pouco a pouco crédito ou uma aquies-
casos “incongruentes” ou mistos. Os congruentes são: a Autoridade cência cada vez mais sólida e mais vasta no ambiente social circuns-
e as correspondentes organizações “coercitivas” (poder coercitivo tante, até se transformar exatamente em Autoridade estabelecida,
e orientação alienada); a Autoridade e as organizações “utilitárias” ou seja, em poder continuativo e cristalizado. De fato, entre Au-
(poder remunerativo e orientação calculadora); a Autoridade e as toridade estabelecida e Autoridade emergente, se manifestam fre-
organizações “normativas” (poder normativo e orientação moral). A quentemente duros conflitos que constituem uma dimensão muito
estes diversos tipos de Autoridade e de organização são depois liga- importante da dinâmica de um sistema político (veja-se a propósito
dos numerosos aspectos da estrutura e do funcionamento das or- B. de Jouvenel, De la poliüque purê, Paris 1963).
ganizações.) ames S. Coleman, por sua vez, fez recentemente uma
distinção entre sistemas de Autoridade “disjuntos”, em que os su- Dominação
balternos aceitam a Autoridade para obter vantagens extrínsecas, I. DA ANARQUIA MILITAR A DIOCLECIANO. — Por Dominato ou
por exemplo, um salário, e sistemas de Autoridade “conjuntos”, em monarquia absoluta entende-se o período do advento ao poder de
que os subalternos esperam benefícios (intrínsecos) do seu exercí- Diocleciano (ano 284 d.C.) ou, conforme alguns estudiosos, a épo-
cio; e entre sistemas de Autoridade “simples”, onde a Autoridade é ca que vai desde Constantino (que coincide com a vitória de Ponte
exercida pelo seu detentor, e sistemas de Autoridade “complexos”, Mílvio, em 312 d.C.) até a queda do Império Romano do Ocidente
onde a Autoridade é exercida por lugar-tenentes ou agentes delega- (476 d.C). Desejando, porém, obedecer à problemática jurídica (es-
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CONHECIMENTOS

pecialmente a privativa, mas também a publicista), devemos então Legitimidade


lembrar o período que chega até a morte do imperador do Oriente I. DEFINIÇÃO GERAL. — Na linguagem comum, o termo Legitimi-
Justiniano (565 d.C). dade possui dois significados, um genérico e um específico. No seu
Recapitulemos brevemente os fatos que ocorreram desde a significado genérico, Legitimidade tem, aproximadamente, o senti-
queda da dinastia dos Severos até Diocleciano e, depois, até Cons- do de justiça ou de racionalidade (fala-se na Legitimidade de uma
tantino, a fim de poder ilustrar a instauração do novo regime jurí- decisão, de uma atitude, etc). É na linguagem política que aparece o
dico e político. significado específico. Neste contexto, o Estado é o ente a que mais
A morte de Alexandre Severo (235 d.C.) abre no Estado romano se refere o conceito de Legitimidade. O que nos interessa, aqui, é a
um turbulento tempo de anarquia militar. No breve período da su- preocupação com o significado específico.
bida ao poder de Massimino, o Trácio (ainda 235 d.C.) a Numeriano Num primeiro enfoque aproximado, podemos definir Legitimi-
(284 d.C), contam-se de fato vinte e quatro imperadores. A estes de- dade como sendo um atributo do Estado, que consiste na presença,
vemos acrescentar os chamados trinta tiranos (isto é, pretendentes em uma parcela significativa da população, de um grau de consen-
ao poder imperial). As causas desta crise foram individualizadas de so capaz de assegurar a obediência sem a necessidade de recorrer
diversas formas pelos historiadores. Uma das teses mais importan- ao uso da força, a não ser em casos esporádicos. É por esta razão
tes é a de Rostovzev, que focaliza a existência de uma luta de classes que todo poder busca alcançar consenso, de maneira que seja re-
entre os camponeses e os privilegiados habitantes das cidades. conhecido como legítimo, transformando a obediência em adesão.
Hoje, porém, considera-se que na base da crise existiam muitas A crença na Legitimidade é, pois, o elemento integrador na relação
causas (políticas, sociais, econômicas, militares, etc). Estas causas, de poder que se verifica no âmbito do Estado.
interagindo, teriam provocado uma verdadeira “desintegração” da
ordem constituída. Nessa crise, a partir do longo reinado de Galieno II. OS NÍVEIS DO PROCESSO DE LEGITIMAÇÃO. — Encarando o
(de 253 a 260 d.C. reinou juntamente com o pai, e de 260 a 268 so- Estado sob o enfoque sociológico e não jurídico, constatamos que o
zinho), inserem-se elementos inovadores para uma recomposição processo de legitimação não tem como ponto de referência o Esta-
constitucional (que se traduziu, na ocasião, na exclusão dos sena- do no seu conjunto, e sim nos seus diversos aspectos: a comunida-
dores do comando militar). Uma certa estabilização política começa de política, o regime, o Governo e, não sendo o Estado independen-
a surgir a partir do final da anarquia militar propriamente dita, ou te, o Estado hegemônico a quem o mesmo se acha subordinado.
seja, no início do reinado de Aureliano (um dos restitutores ilíricos, Consequentemente, a legitimação do Estado é o resultado de um
que reinou de 270 a 275 d.C). O poder de Aureliano é decisivamente conjunto de variáveis que se situam em níveis crescentes, cada uma
militar; é muito significativo o apelido de domnus et deus que ele delas cooperando, de maneira relativamente independente, para
recebeu (embora não seja uma novidade absoluta). Após uma últi- sua determinação. É, pois, necessário examinar separadamente as
ma tentativa de restaurar o pleno poder dos senadores, com Tácito características destas variáveis que constituem o ponto de referên-
e Probo, abrese, praticamente, a era diocleciânica. cia da crença na Legitimidade.
Diocleciano, também de origem ilírica, conquistou sozinho o
poder em 285 d.C, criando assim as premissas para uma série de a) A comunidade política é o grupo social, com base territorial,
importantes inovações. Lembramos aqui as relativas à organização que congrega os indivíduos unidos pela divisão do trabalho polí-
territorial (as províncias fracionadas foram reconstituídas em dio- tico. Este aspecto do Estado é objeto da crença na Legitimidade,
ceses bem mais amplas), ao exército (com a distinção entre tropas quando encontramos na população sentimentos difusos de identi-
estáveis, distribuídas ao longo das fronteiras, e exército móvel, que ficação com a comunidade política. No Estado nacional, a crença na
acompanhava sempre o imperador e por isso dependia de seu co- Legitimidade é caracterizada, com maior evidência, por atitudes de
mando direto), e às inovações relativas à economia em geral (com fidelidade à comunidade política e de lealdade nacional.
reformas monetárias, fiscais e com a promulgação de um edictum
rerum venalium, isto é, de um tabelamento dos preços). b) O regime é o conjunto de instituições que regulam a luta pelo
A respeito do fundamento constitucional e político do poder poder e o exercício do poder e o conjunto dos valores que animam
imperial, podemos falar de uma monarquia do tipo militar, porque a vida destas instituições. Os princípios monárquico, democrático,
o imperador é aclamado pelo exército. É duvidoso que ao exército socialista, fascista, etc, caracterizam alguns tipos de instituições, e
tenha se juntado o Senado. Ao fazermos uma comparação com as dos valores correspondentes, que se caracterizam como alicerces
monarquias do tipo oriental, devemos admitir que mesmo estando da Legitimidade do regime. A característica fundamental da ade-
presentes na monarquia de Diocleciano muitos elementos religio- são a um regime, principalmente quando tem seu fundamento
sos, não se pode ainda falar de uma verdadeira concepção teocrá- na crença da legalidade, está no fato de que os governantes e sua
tica do poder. política são aceitos, na medida em que os aspectos fundamentais
Este fato impede alguns historiadores de reconhecerem em do regime são legitimados, abstraindo das pessoas e das decisões
Diocleciano o autêntico fundador do Dominato e os leva a identi- políticas específicas. A consequência é que quem legitima o regi-
ficarem Constantino como o verdadeiro autor do novo curso insti- me tem que aceitar também o Governo que veio a se concretizar e
tucional. Aceitando-se esta interpretação, deve-se sublinhar mais que busca atuar de acordo com as normas e os valores do regime,
uma vez a complexidade das passagens, que levam até a afirma- mesmo não o aprovando ou até chegando a lhe fazer oposição bem
ção total e exclusiva de elementos já presentes in nuce no primeiro como à sua política. Isto depende do fato de que existe um interes-
principado, juntamente com a resistência das formas e dos órgãos se concreto que une as forças que aceitam o regime: a sustentação
da Constituição republicana. das instituições que regulam a luta pelo poder. O fundamento desta
convergência de interesses está em que o regime é assumido como
plataforma comum de luta entre os grupos políticos, visto estes o

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CONHECIMENTOS

considerarem como uma situação que apresenta condições favorá- formação da força em poder legítimo, do poder de fato em poder
veis para a manutenção de seu poder, para a conquista do Governo de direito. Obviamente, são diferentes as formas de caracterização
e para a concretização parcial ou total de seus objetivos políticos. da Soberania, de acordo com as diferentes formas de organização
do poder que ocorreram na história humana: em todas elas é pos-
c) O Governo é o conjunto dos papéis em que se concretiza o sível sempre identificar uma autoridade suprema, mesmo que, na
exercício do poder político. Vimos que normalmente, isto é, quan- prática, esta autoridade se explicite ou venha a ser exercida de mo-
do a força do Governo repousa na definição institucional do poder, dos bastante diferentes.
para ele ser qualificado como legítimo é suficiente que tenha se
estruturado de conformidade com as normas do regime e que exer- II. SOBERANIA E ESTADO MODERNO. — Em sentido restrito, na
ça o poder de acordo com os mesmos, de tal forma que se achem sua significação moderna, o termo Soberania aparece, no final do
respeitados determinados valores fundamentais da vida política. século XVI, juntamente com o de Estado, para indicar, em toda sua
Todavia pode acontecer que a pessoa que chefia o Governo seja ela plenitude, o poder estatal, sujeito único e exclusivo da política. Tra-
mesma objeto da crença na Legitimidade. No Estado moderno, isto ta-se do conceito político-jurídico que possibilita ao Estado moder-
acontece quando as instituições políticas se encontram em crise e no, mediante sua lógica absolutista interna, impor-se à organização
os únicos fundamentos da Legitimidade do poder são a superiori- medieval do poder, baseada, por um lado, nas categorias e nos Es-
dade, o prestígio e as qualidades pessoais de quem se encontra no tados, e, por outro, nas duas grandes coordenadas universalistas
vértice da hierarquia do Estado. Encontra-se, em todos os regimes, representadas pelo papado e pelo império: isto ocorre em decor-
embora em diferentes medidas, uma certa dose de personalização rência de uma notável necessidade de unificação e concentração
do poder; como consequência deste fato, os homens nunca permi- de poder, cuja finalidade seria reunir numa única instância o mo-
tem que o papel desenvolvido pelos seus chefes os faça esquecer nopólio da força num determinado território e sobre uma determi-
suas qualidades pessoais. O que é essencial, porém, para distinguir nada população, e, com isso, realizar no Estado a máxima unidade
o poder legal e o tradicional do poder pessoal ou carismático (esta e coesão política. O termo Soberania se torna, assim, o ponto de
célebre tripartição é de Max Weber) é isto: a Legitimidade do pri- referência necessário para teorias políticas e jurídicas muitas vezes
meiro tipo de poder tem seu fundamento na crença de que são bastante diferentes, de acordo com as diferentes situações históri-
legais as normas do regime, estabelecidas propositalmente e de cas, bem como a base de estruturações estatais muitas vezes bas-
maneira racional, e que legal também é o direito de comando dos tante diversas, segundo a maior ou menor resistência da herança
que detêm o poder com base nas mesmas normas; a Legitimida- medieval; mas é constante o esforço por conciliar o poder supremo
de do segundo tipo assenta no respeito às instituições consagradas de fato com o de direito.
pela tradição e à pessoa ou às pessoas que detêm o poder, cujo A Soberania, enquanto poder de mando de última instância,
direito de comando é conferido pela tradição; a Legitimidade do acha-se intimamente relacionada com a realidade primordial e es-
terceiro tipo tem seus alicerces substancialmente nas qualidades sencial da política: a paz e a guerra. Na Idade Moderna, com a for-
pessoais do chefe e, somente de forma secundária, nas instituições. mação dos grandes Estados territoriais, fundamentados na unifica-
Este tipo de Legitimidade, pela sua ligação com a pessoa do chefe, ção e na concentração do poder, cabe exclusivamente ao soberano,
tem existência efêmera, por não resolver o problema fundamental único centro de poder, a tarefa de garantir a paz entre os súditos de
para a continuidade das instituições políticas, isto é, o problema da seu reino e a de uni-los para a defesa e o ataque contra o inimigo
transmissão do poder. estrangeiro. O soberano pretende ser exclusivo, onicompetente e
onicompreensivo, no sentido de que somente ele pode intervir em
d) Só nos resta examinar o caso do Estado, que, por não ser todas as questões e não permitir que outros decidam: por isso, no
independente, não está em condição de cumprir sua missão pri- novo Estado territorial, são permitidas unicamente forças armadas
mordial de garantir a segurança dos cidadãos (e até o próprio de- que dependam diretamente do soberano.
senvolvimento econômico). Não temos, neste caso, um Estado no Evidencia-se, assim, a dupla face da Soberania: a interna e a
sentido pleno da palavra, e sim um país conquistado, uma colônia, externa. Internamente o soberano moderno procede à eliminação
um protetorado ou um satélite de uma potência imperial ou hege- dos poderes feudais, dos privilégios dos Estados e das categorias,
mônica. Uma comunidade política que se acha nesta situação en- das autonomias locais, enfim dos organismos intermediários, com
contra grandes dificuldades para despertar a lealdade dos cidadãos sua função de mediador político entre os indivíduos e o Estado: isto
por não ser um centro de decisões autônomas. Consequentemente, é, ele procura a eliminação dos conflitos internos, mediante a neu-
sua Legitimidade encontrará suas bases de apoio, inteira ou parcial- tralização e a despolitização da sociedade, a ser governada de fora,
mente, na Legitimidade do sistema hegemônico ou imperial em que mediante processos administrativos, antítese de processos políti-
se acha inserida. O ponto de referência da crença na Legitimidade cos, O necives ad arma veniant é o fim último da ação do Governo,
será, neste caso, inteira ou parcialmente, a potência hegemônica que tem por obrigação eliminar toda a guerra privada, dos duelos
ou imperial. às lutas civis, a fim de manter a paz, essencial para enfrentar a luta
com outros Estados na arena internacional. Externamente cabe ao
Soberania soberano decidir acerca da guerra e da paz: isto implica um sistema
I. DEFINIÇÃO. — Em sentido lato, o conceito político-jurídico de de Estados que não têm juiz algum acima de si próprios (o Papa
Soberania indica o poder de mando de última instância, numa so- ou o imperador), que equilibram suas relações mediante a guerra,
ciedade política e, consequentemente, a diferença entre esta e as mesmo sendo esta cada vez mais disciplinada e racionalizada pela
demais associações humanas em cuja organização não se encontra elaboração, através de tratados, do direito internacional ou, mais
este poder supremo, exclusivo e não derivado. Este conceito está, corretamente, do direito público europeu. A nível externo o sobe-
pois, intimamente ligado ao de poder político: de fato a Soberania rano encontra nos outros soberanos seus iguais, achando-se conse-
pretende ser a racionalização jurídica do poder, no sentido da trans-
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CONHECIMENTOS

quentemente numa posição de igualdade, enquanto, a nível inter- sidade: a Ideologia se dissolveu no conceito geral da sociologia do
no, o soberano se encontra numa posição de absoluta supremacia, conhecimento. De outra parte, manteve-se, generalizou-se e rein-
uma vez que tem abaixo de si os súditos, obrigados à obediência. terpretou-se o requisito da falsidade, com o resultado de perder
de vista a determinação social da Ideologia: o ponto de chegada é,
Ideologia neste caso, a crítica neopositivista da Ideologia.
I. PRELIMINAR. — Tanto na linguagem política prática, como na Na primeira direção, a virada fundamental foi feita por Karl
linguagem filosófica, sociológica e políticocientífica, não existe tal- Mannheim, onde a crítica do uso polêmico, que Marx fez da palavra
vez nenhuma outra palavra que possa ser comparada à Ideologia Ideologia, traz consigo, quase que inadvertidamente, o abandono
pela freqüência com a qual é empregada e, sobretudo, pela gama da interpretação marxista da gênese social da Ideologia (as relações
de significados diferentes que lhe são atribuídos. No intrincado e de dominação); e onde, sobretudo, com a passagem da noção de
múltiplo uso do termo, pode-se delinear, entretanto, duas tendên- “especial” para a de “geral” de Ideologia, a atenção se desloca para
cias gerais ou dois tipos gerais de significado que Norberto Bobbio o fenômeno muito generalizado da determinação social do pensa-
se propôs a chamar de “significado fraco” e de “significado forte” da mento de todos os grupos sociais enquanto tais. Segundo Merton,
Ideologia. No seu significado fraco, Ideologia designa o genus, ou a esta generalização, que envolve “não apenas o erro ou a ilusão ou
species diversamente definida, dos sistemas de crenças políticas: a crença não autêntica, mas também a descoberta da verdade”, é
um conjunto de ideias e de valores respeitantes à ordem pública e a “revolução copemicana” no campo da sociologia do conhecimen-
tendo como função orientar os comportamentos políticos coletivos. to. Do ponto de vista da criação da disciplina geral da sociologia
O significado forte tem origem no conceito de Ideologia de Marx, do conhecimento, a observação de Merton é verdadeira. Mas, ao
entendido como falsa consciência das relações de domínio entre mesmo tempo, não devemos omitir ou desmerecer o fato de que
as classes, e se diferencia claramente do primeiro porque mantém, a generalização da determinação social do pensamento foi toma-
no próprio centro, diversamente modificada, corrigida ou alterada da ao pé da letra e muito banalmente, produzindo uma concepção
pelos vários autores, a noção da falsidade: a Ideologia é uma cren- que coloca no mesmo plano todas as crenças, limitando-se a julgar
ça falsa. No significado fraco, Ideologia é um conceito neutro, que igualmente verdadeiras todas as visões do mundo das diversas so-
prescinde do caráter eventual e mistificante das crenças políticas. ciedades, classes, igrejas, seitas, etc, e colocando definitivamente
No significado forte, Ideologia é um conceito negativo que deno- de lado o conceito de Ideologia no seu significado originário (por
ta precisamente o caráter mistificante de falsa consciência de uma ex., W. Stark, Sociology of knowledge, London, 1958, trad. ital., Mi-
crença política. lano 1963).
Na ciência e na sociologia política contemporânea, predomina Na segunda direção, a virada fundamental encontrasse no pen-
nitidamente o significado fraco de Ideologia, tanto na acepção ge- samento de Vilfredo Pareto, onde a crítica das Ideologias é, em
ral quanto na particular. A primeira acepção se acha nas tentativas grande parte, uma crítica minuciosa e incansável da falsidade e dos
mais acreditadas de teoria geral, tradicionais e inovadoras. Acha-se tipos particulares de falsidade, das teorias sociais e políticas. Aí,
também na interpretação dos vários sistemas políticos e na análise também, em relação à gênese da Ideologia, o domínio social passa
comparada dos diversos sistemas. Encontra-se ainda na investiga- para segunda ordem e deixa lugar para os instintos fundamentais
ção empírica dirigida à averiguação dos sistemas de crenças po- da natureza humana. Segue-se daí que “aquilo que para Marx é um
líticas como se apresentam nos estratos politizados ou na massa produto de uma determinada forma de sociedade, para Pareto tor-
dos cidadãos. Na acepção particular, aquilo que é «ideológico» é na-se um produto da consciência individual”, objeto de uma análise
normalmente contraposto, de modo explícito ou implícito, ao que psicológica (Bobbio, 1969, p. 117). Pareto abre, assim, o caminho
é “pragmático”. E o caráter da Ideologia é atribuído a uma crença, para a interpretação neopositivista, segundo a qual Ideologia de-
a uma ação ou a um estilo político pela presença, neles, de certos signa as deformações que os sentimentos e as orientações práticas
elementos típicos, como o doutrinarismo, o dogmatismo, um for- de uma pessoa operam nas suas crenças, travestindo os juízos de
te componente passional, etc, que foram diversamente definidos valor sob a forma simbólica das asserções de fato. Deste modo, é
e organizados por vários autores. A este uso particular ou, melhor, mantido o requisito da falsidade da Ideologia, mesmo se interpre-
a este grupo de usos particulares do significado fraco de Ideologia tado de modo muito particular; mas perdeu-se completamente a
se liga o tema do “fim” ou do “declínio das ideologias” nas socieda- sua gênese social.
des industriais do Ocidente, originado entre os anos 50 e 60 pelas Sendo as coisas deste modo, não é de surpreender que a ciência
interpretações de sociólogos como Raymond Aron, Daniel Bell e política contemporânea tenda a pôr de lado o significado forte de
Seymour Martin Lipset, terminando, depois, num complexo e longo Ideologia, relegando-o para o domínio da crítica ou da sociologia do
debate que, em certos aspectos, dura ainda hoje. conhecimento e considerando-o explícita ou implicitamente pou-
O significado forte de Ideologia sofreu, por sua vez, singular co útil para o estudo empírico dos fenômenos políticos. Giovanni
evolução. Em Marx, Ideologia denotava ideias e teorias que são Sartori exprimiu com clareza este ponto de vista. “As discussões so-
socialmente determinadas pelas relações de dominação entre bre a Ideologia”, escreve ele, “caem geralmente em dois grandes
as classes e que determinam tais relações, dando-lhes uma falsa setores: A Ideologia no conhecimento e/ou a Ideologia na política.
consciência. Na evolução sucessiva do significado da palavra, per- No que se refere à primeira área de indagação, o problema é se o
deu-se geralmente, salvo na linguagem polêmica da política práti- conhecimento do homem é condicionado ou distorcido ideologica-
ca, a conexão entre Ideologia e poder. Quanto ao mais, o destino mente e em que grau o pode ser. Quanto à segunda área de indaga-
deste significado de Ideologia foi centrado nas relações entre dois ção, o problema é se a Ideologia é um aspecto essencial da política
dos elementos constitutivos da formulação originária: o caráter da e, uma vez concluído que o seja, o que é que ela é e como pode ser
falsidade da Ideologia e a sua determinação social. De uma parte, explicada. No primeiro caso, a Ideologia ê contraposta à verdade,
manteve-se e se generalizou o princípio da determinação social do
pensamento, com o resultado de perder de vista o requisito da fal-
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CONHECIMENTOS

à ciência e ao conhecimento válido, em geral. No segundo caso, o Alguns autores como Triepel sublinham seu caráter de “influên-
que importa não é o valor da verdade, mas, por assim dizer, o valor cia particularmente forte”, exercida sem o recurso direto às armas
funcional da Ideologia”. e à força e, por isso, não privada de um certo fundamento de le-
A objeção que se pode apresentar contra esta posição é que, gitimidade. Neste sentido, Hegemonia é uma subespécie de um
na interpretação originária do conceito, ou seja, na interpretação conceito mais geral, o de direção, libertando-se quase totalmente
de Marx, a falsidade e a função social da Ideologia não são reci- do seu significado original de supremacia político-militar. É análogo
procamente independentes e sim estreitamente ligadas entre si. De o sentido em que Gioberti usa este conceito em Primado moral e
uma parte, a falsa consciência, velando ou mascarando os aspectos civil dos italianos, o de uma “preeminência (...) não legal, nem jurí-
mais duros e antagônicos do domínio, tende a facilitar a aceitação dica, propriamente falando, mas de eficácia moral”, como primado
da situação de poder e a integração política e social. De outra par- ético e cultural, baseado não na força armada, mas na tradição e
te, porque falsa consciência, a crença ideológica não é uma base na história. Assim, para Gioberti, a Itália anterior ao Ressurgimen-
independente do poder e a sua eficácia e sua estabilidade depen- to pode contrapor a sua Hegemonia ao domínio do estrangeiro, e
dem, em última análise, das bases efetivas da situação de domínio Roma, sede histórica do papado, goza da Hegemonia moral numa
(para Marx, as relações de produção). Ora, se a estas proposições Itália que tem no Piemonte saboiano o seu braço armado.
se pode conferir um significado descritivo e empírico, mais do que Contudo, outros autores preferem defender para o conceito de
polêmico-descritivo e meta-empírico, o conceito forte de Ideologia Hegemonia um significado mais estreitamente ligado à sua etimo-
torna-se, por isso mesmo, um conceito importante para o estudo logia, o de domínio fundado na força das armas. É esse o caso dos
científico do poder e portanto para o estudo científico da política. A historiadores alemães da tradição baseada na doutrina da razão
averiguação do caráter ideológico de uma crença política permitiria, de Estado, sobretudo Ranke e Dehio, que elevaram a categoria da
na verdade, tirar conclusões significativas sobre a relação de poder Hegemonia a cânone interpretativo fundamental, pondo-a como
a que a crença se refere: por exemplo, sobre sua potencial confli- centro da sua reflexão sobre a história da Europa e do mundo, em
tualidade e sobre sua estabilidade. antítese com o conceito de equilíbrio. Sendo vocação intrínseca
Por conseguinte, um discurso sobre o estado dos empregos e ao comportamento de qualquer Estado e da máxima expansão da
da utilidade do conceito de Ideologia na análise política não pode própria potência, a história das relações internacionais não é se-
deixar de ocupar-se do significado forte da palavra, ao mesmo não um perpétuo alternar-se de equilíbrios instáveis e de tentativas
tempo que de seu significado fraco. É isto que faremos na parte hegemônicas por parte de Estados, que se situam dentro ou fora
restante deste ensaio, que, por isso mesmo, será dividido em duas de sistemas internacionais pouco a pouco consolidados: desde as
seções distintas. Na primeira, passaremos em resenha alguns dos cidades-Estados gregas à Itália dos principados e à Europa das gran-
usos principais do significado fraco da Ideologia, tanto na acepção des monarquias. Neste processo, tiveram uma importância decisi-
geral como na acepção particular; e lembraremos os aspectos mais va as potências periféricas ou até os espaços coloniais externos: as
importantes do debate que se acendeu em torno da tese “declínio contínuas tentativas hegemônicas que se sucederam no continente
das Ideologias”. Na segunda parte, examinaremos as perspectivas europeu desde Carlos V a Hitler deram-se graças principalmente à
atuais de uma reformulação do significado forte de Ideologia, de contribuição das grandes potências externas, que ocupavam uma
modo a convertê-lo num instrumento legítimo e promissor para a posição insular ou periférica (Inglaterra, Rússia, Estados Unidos).
ciência política; e mostraremos, em particular, os problemas que Elas foram capazes de favorecer vastas coalizões contra o Estado
daí emergem, tomando esta direção de indagação em relação com que ameaçava impor a sua supremacia, ocasionando assim o triun-
a estrutura da Ideologia, isto é, em primeiro lugar, em relação ao fo do princípio do equilíbrio sobre o da Hegemonia e ampliando
seu caráter de “falsidade”. progressivamente as dimensões do sistema internacional.
É também dentro dos limites da acepção político-militar do
Hegemonia termo que se situa a categoria de hegemonismo de origem chinesa.
I. O USO DO TERMO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. — Parte O hegemonismo consiste num conjunto de comportamentos, diplo-
da literatura política designa com o termo Hegemonia — decalque máticos e militares, imputados ao social-imperialismo da URSS e
latino da palavra grega egemonia, que significa “direção suprema”, dos seus satélites (Cuba, Vietnã), tendentes a modificar o equilíbrio
usada para indicar o poder absoluto conferido aos chefes dos exér- mundial e a impor progressivamente a liderança soviética. Derivan-
citos, chamados precisamente egemónes, isto é, condutores, guias do da degeneração imperialista da URSS, o hegemonismo tenta su-
— a supremacia de um Estado-nação ou de uma comunidade políti- prir, pela força das armas, o declínio do seu prestígio de país-guia
co-territorial dentro de um sistema. A potência hegemônica exerce no campo socialista e opor à perda de Hegemonia uma política de
sobre as demais uma preeminência não só militar, como também potência agressiva e sem princípios, cujo desfecho inevitável, mas
frequentemente econômica e cultural, inspirando-lhes e condicio- diferível, será a guerra.
nando-lhes as opções, tanto por força do seu prestígio como em
virtude do seu elevado potencial de intimidação e coerção; chega Legalidade
mesmo a ponto de constituir um modelo para as comunidades sob Na linguagem política, entende-se por Legalidade um atributo
a sua Hegemonia. e um requisito do poder, daí dizer-se que um poder é legal ou age
O conceito de Hegemonia não é, portanto, um conceito jurí- legalmente ou tem o timbre da Legalidade quando é exercido no
dico, de direito público ou de direito internacional; implica antes âmbito ou de conformidade com leis estabelecidas ou pelo menos
uma relação interestatal de potência, que prescinde de uma clara aceitas. Embora nem sempre se faça distinção, no uso comum e
regulamentação jurídica. Segundo este critério, poder-se-ia definir muitas vezes até no uso técnico, entre Legalidade e legitimidade,
a Hegemonia como uma forma de poder de fato que, no continuum costuma-se falar em Legalidade quando se trata do exercício do
influência domínio, ocupa uma posição intermédia, oscilando ora poder e em legitimidade quando se trata de sua qualidade legal:
para um ora para outro pólo. o poder legítimo é um poder cuja titulação se encontra alicerçada
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

juridicamente; o poder legal é um poder que está sendo exercido corre à contraposição entre poder definido por leis e poder pessoal:
de conformidade com as leis. O contrário de um poder legítimo é enquanto na situação de poder tradicional é a pessoa do senhor
um poder de fato; o contrário de um poder legal é um poder arbi- que tem direito à obediência e na situação de poder carismático
trário. Quem detém o poder não o detém nem o exerce sempre a pessoa do chefe, em se tratando de poder legal o cidadão deve
de forma arbitrária, assim como nem sempre quem exerce o poder obediência “ao ordenamento impessoal definido legalmente e aos
arbitrariamente é detentor unicamente de um poder de fato. Com indivíduos que têm funções de chefia neste ordenamento, em virtu-
base nesta acepção do termo Legalidade, entende-se por princípio de da Legalidade formal das prescrições e no âmbito das mesmas”
de Legalidade aquele pelo qual todos os organismos do Estado, isto (Economia e società, trad. it. Milano 1961, I, p. 210).
é, todos os organismos que exercem poder público, devem atuar Como todas as ideias fundamentais da teoria política, tam-
no âmbito das leis, a não ser em casos excepcionais expressamen- bém o princípio de Legalidade não é uma ideia simples. Podemos
te preestabelecidos, e pelo fato de já estarem preestabelecidos, distinguir, pelo menos, entre três significações, de acordo com os
também perfeitamente legais. O princípio de Legalidade tolera o diferentes níveis em que é considerada a relação entre a lei, vista
exercício discricionário do poder, mas exclui o exercício arbitrário, como norma geral e abstrata, e o poder. O primeiro nível é caracte-
entendendo-se por exercício arbitrário todo ato emitido com base rizado pela relação entre a lei e a pessoa do príncipe: neste nível,
numa análise e num juízo estritamente pessoal da situação. Governo da lei significa, conforme a fórmula de Bracton acima cita-
Muito embora o princípio de Legalidade seja considerado como da, que o príncipe não é mais legibus solutus, consequentemente
um dos pilares do moderno Estado constitucional, o chamado Esta- tem que governar não conforme seu próprio beneplácito, mas de
do de direito, trata-se de algo antigo tanto quanto a especulação so- conformidade com leis a ele superiores, mesmo não se tratando
bre os princípios da política e sobre as diferentes formas de Gover- de leis positivas e sim consideradas de origem divina ou natural, ou
no. Liga-se ao ideal grego da isonomia, isto é, da igualdade de todos se tratando das leis fundamentais do país, cuja validade depende
perante as leis, considerada como a essência do bom Governo, cujo da tradição ou do pacto constitutivo do Estado. O segundo nível
elogio é proclamado por Eurípides nas Suplicantes: “Nada é mais é o da relação entre o príncipe e seus súditos: neste nível, a ideia
inimigo da cidade do que um tirano, quando, em lugar de existirem do Governo das leis tem que ser interpretada no sentido de que os
leis gerais, um só homem tem o poder, sendo ele mesmo e para si governantes devem exercer o próprio poder unicamente pela pro-
próprio o autor das leis e não existindo, assim, nenhuma igualdade” mulgação de leis, e só excepcionalmente através de ordenações e
(vv.403-05). No De legibus Cícero escreve: «Vós, pois, compreen- decretos, isto é, mediante normas que tenham validade para todos,
deis que o papel do magistrado é governar e prescrever o que é e não para grupos particulares ou, o que seria ainda pior, para indi-
justo, útil e de conformidade com as leis [coniuncta cum legibus}. víduos; normas, enfim, que, justamente pela sua abrangência geral,
Os magistrados estão acima do povo da mesma forma que as leis tenham como objetivo o bem comum e não o interesse particular
estão acima dos magistrados; podemos, com razão e propriedade, desta ou daquela categoria de indivíduos. O terceiro nível é o que
afirmar pois que os magistrados são a lei falante e as leis os magis- diz respeito à aplicação das leis em casos particulares: neste nível
trados mudos” (III, 1,2). Um dos princípios fundamentais e constan- o princípio de Legalidade consiste em exigir dos juízes que definam
tes da doutrina medieval sobre o Estado é o da superioridade da as controvérsias, a eles submetidas para apreciação, não com base
lei mesmo com relação à vontade do príncipe. A mais célebre for- em juízos casuísticos diferenciados, isto é, conforme os casos espe-
mulação deste princípio foi feita por Bracton no De legibus et con- cíficos, mas com base em prescrições definidas na forma de normas
suetudinibus Angliae: “Rex non debet esse sub homine, sed sub Deo legislativas. A expressão tradicional deste aspecto do princípio de
et sub lege, quia lex facit regem”. Desde a antiguidade até nossos Legalidade é a máxima: “Nullum crimen, nulla poena, sine lege”.
dias, um dos temas que mais aparecem no pensamento político é a Por outro lado, tomando como ponto de partida a distinção funda-
contraposição entre Governo das leis e Governo dos homens: con- mental existente entre o momento da produção e o momento da
traposição acompanhada sempre por um juízo de valor constante, aplicação do direito, podemos afirmar que em relação ao primeiro
que considera o primeiro um Governo bom, o segundo um Governo momento o princípio de Legalidade exprime a ideia da produção do
mau. Onde governam as leis, temos o reino da justiça; onde gover- direito através de leis, e que em relação ao segundo momento ex-
nam os homens, existe o reino do arbítrio. Uma das características prime a ideia da aplicação de acordo com leis. Quer consideremos
com que mais constantemente é estigmatizado o Governo tirânico os três níveis quer consideremos os dois momentos, a importância
é a de ser Governo de um homem acima das leis, não das leis acima do princípio de Legalidade consiste em garantir os dois valores fun-
dos homens. A “isonomia” dos gregos, a “supremacia da lei” (rule of damentais cuja concretização forma a essência do papel do direito,
law) da tradição inglesa, o “Estado de direito” (Rechtsstaat) da dou- o valor da certeza e o valor da igualdade (formal). A produção do
trina alemã do direito público no século passado refletem, mesmo direito através de leis, isto é, através de normas gerais e abstratas,
em situações históricas muito diferentes, a permanência do princí- possibilita prever as consequências das próprias ações, liberta, pois,
pio da Legalidade como ideia que define o bom Governo, mesmo se, da insegurança proveniente de uma ordem arbitrária: a aplicação
de acordo com Max Weber, somente no Estado moderno podemos do direito de acordo com leis é a garantia de um tratamento igual
encontrar a concretização plena deste princípio. O Estado moderno, para todos os que pertencem à categoria definida na lei, liberta,
de fato, está se organizando como uma grande empresa, assumindo pois do perigo de existir um tratamento preferencial ou prejudicial
os meios de serviço que nos Estados anteriores pertenciam, como para este ou aquele indivíduo, este ou aquele grupo, o que aconte-
propriedade particular, aos que estavam investidos de funções pú- ceria num julgamento casuístico.
blicas. Temos aqui, pois, uma forma de poder que M. Weber chama
“legal e racional” e que, contrariamente à forma do poder tradicio- Representação Política
nal e do poder carismático, tem sua própria legitimidade no fato de O conceito de Representação política, tanto em suas implica-
ser definido por leis e exercido de conformidade com as leis que a ções teóricas como em suas traduções práticas, é sem dúvida um
definem. Para caracterizar o poder legal, também Max Weber re- dos elementos-chaves da história política moderna. Todavia se —
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CONHECIMENTOS

ao menos nas democracias ocidentais — a opinião corrente é ge- partir deste núcleo para esclarecer os vários aspectos do fenômeno.
ralmente concorde em identificar, nas assembleias parlamentares Em que relação estão as seguintes expressões: representação, regi-
periodicamente eleitas, a expressão concreta da Representação me representativo? E quando é que a estas expressões correspon-
política, o conteúdo exato desse conceito permanece bastante mais dem não apenas inconsistentes aparências mas fenômenos reais da
controverso. Deste fato se pode dar uma dupla explicação. Antes de vida política?
tudo, convém ter presente o fato histórico da representação. Fren- TRÊS MODELOS DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA. — No que tange
te às significativas mudanças ocorridas por toda a parte nas outras ao conteúdo da função representativa e ao papel dos representan-
instituições políticas, particularmente nas executivas e em todo o tes na bibliografia política foram longamente discutidos três mode-
sistema político, ela apresenta, por seu lado, juntamente com ino- los interpretativos alternativos. Vejamo-los:
vações relevantes (o fim da representação por camadas sociais, o 1) a representação como relação de delegação;
sufrágio universal, a presença dos partidos de massa), importantes 2) a representação como relação de confiança;
elementos de continuidade que, em casos como o inglês, remon- 3) a representação como “espelho” ou representatividade so-
tam à Idade Média. Isto comporta, necessariamente, uma mutação ciológica.
no tempo da “posição relativa” da representação. Portanto, se nos No primeiro modelo, o representante é concebido como um
fixarmos em tais funções e no aspecto exterior, os representantes executor privado de iniciativa e de autonomia, das instituições que
de hoje recordam muito os de ontem e de anteontem. Se porém os representandos-lhe distribuem; seu papel aproxima-se muito ao
aprofundarmos o papel que eles têm no sistema político, emergem de um embaixador. Este modelo é de origem medieval e as moder-
profundas mudanças. nas constituições estatais rejeitam-no fazendo proibição explícita
A segunda explicação é de ordem semântica. Em todas as lín- do “mandato imperativo”. Encontramo-lo comumente, entretanto,
guas europeias, o verbo “representar” e o substantivo “representa- nas organizações e comunidades internacionais ou em entidades
ção” se aplicam a um universo muito vasto e variado de experiên- políticas pouco integradas.
cias empíricas. É compreensível, portanto, dada a polivalência da O segundo modelo atribui ao representante uma posição de au-
palavra, que, tratando-se daquela representação específica que é a tonomia e supõe que a única orientação para sua ação seja o inte-
Representação política, se evoque automaticamente uma multipli- resse dos representados como foi por ele percebido. A esta concep-
cidade de significados. É portanto oportuno examinar sucintamente ção de representação se referia Edmund Burke quando em sua obra
quais são as indicações de significado que podem deduzir-se das Speech to the electors of Bristol descrevia o papel do representante
várias acepções da palavra que se encontram tanto na esfera do como um “trabalho de razão e de juízo” a serviço do “bem comum”
direito como na da política (os diplomatas são “representantes”, o e não do simples “querer” e dos “preconceitos locais”.
chefe de Estado “representa” a unidade nacional, etc), e também O terceiro modelo — o da representação como espelho — di-
em experiências bem mais distantes, como a experiência artística ferentemente dos dois primeiros é centrado mais sobre o efeito de
figurativa ou a dramática. Substituir, agir no lugar de ou em nome conjunto do que sobre o papel de cada representante. Ele concebe
de alguém ou de alguma coisa; evocar simbolicamente alguém ou o organismo representativo como um microcosmos que fielmente
alguma coisa; personificar: estes são os principais significados. Na reproduz as características do corpo político. Segundo uma outra
prática, podem dividir-se em: a) significados que se referem a uma imagem corrente poderia ser comparado a uma carta geográfica.
dimensão da ação, — o representar é uma ação segundo determi-
nados cânones de comportamento; b) significados que levam a uma
dimensão de reprodução de prioridades ou peculiaridades existen- DO PENSAMENTO POLÍTICO E DA CIDADANIA NA HISTÓ-
ciais; representar é possuir certas características que espelham ou RIA DA FILOSOFIA
evocam as dos sujeitos ou objetos representados. Esta distinção é
importante enquanto põe à luz as duas polaridades entre as quais
se pode mover a própria Representação política segundo as situa- Homem Como Um Ser Da Natureza
ções e sua colocação no sistema político.
Estas indicações contudo não são de grande utilidade se antes Segundo Rousseau2 (Discurso sobre a origem da desigualdade
não se individuar o que diferencia a Representação política das entre os homens), antes de existir no estado social, isto é, de viver
outras experiências, isto é, se não se identificar o que ela tem de em sociedade, o homem existia no estado de natureza.
proprium. O significado deste fenômeno se manifesta melhor se Do ponto de vista físico, esse homem primitivo, embora fosse
observarmos como o regime político representativo se coloca em menos forte e ágil em certos aspectos do que muitos animais, no
oposição, por um lado, com os regimes absolutistas e autocráticos, conjunto levava vantagem sobre todos eles; a terra, naturalmente
desvinculados do controle político dos súditos e, por outro, com a fértil e coberta de florestas imensas “que o machado jamais mu-
democracia direta, ou seja, com o regime no qual, em teoria, de- tilou”, lhe permitia satisfazer todas as suas necessidades naturais
veria desaparecer a distinção entre governantes e governados. O (alimentação, reprodução, abrigo etc.) sem grandes dificuldades;
sentido da Representação política está, portanto, na possibilidade acostumado desde a infância às intempéries da natureza, à inten-
de controlar o poder político, atribuída a quem não pode exercer sidade das estações, à fadiga, a defender de mãos vazias e nu a si
pessoalmente o poder. Assim, pode ser satisfeita a exigência fun- mesmo e à sua prole de animais ferozes ou deles escapar correndo,
damental que desde as primeiras e incertas origens fez surgir a ins- valendo-se para isso apenas de seu próprio corpo, mostrava-se fisi-
tituição da representação, exigência expressa na Idade Média no camente robusto e ágil, muito mais do que qualquer homem pode-
axioma quod omnes tangit ab omnibus probari debet. Com base em ria ser nos tempos atuais; graças à sua robustez, praticamente não
suas finalidades, poderíamos portanto definir a representação com conhecia doenças, exceto os ferimentos naturalmente decorrentes
um “mecanismo político particular para a realização de uma relação 2 Texto adaptado de ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a origem da desigualdade
de controle (regular) entre governados e governantes. Devemos entre os homens. http://www.humanidades.esy.es/desigualdade_rousseau.htm
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CONHECIMENTOS

da velhice; visto que a conservação de sua vida era praticamente A piedade é, pois, para Rousseau, um sentimento natural pre-
sua única preocupação, era natural que os sentidos mais desenvol- sente em todos os homens. Daí sua posição, de que o homem nasce
vidos fossem aqueles mais diretamente voltados para esse objetivo bom e a sociedade o corrompe, ser contrária a de outros pensado-
(subjugar a presa ou escapar de tornar-se uma), como a vista, a au- res, como Hobbes, por exemplo.
dição e o olfato, ao passo que o tato e o paladar podiam permane- “É ela que nos leva sem reflexão em socorro daqueles que ve-
cer rudes. Em suma, a exemplo do que ocorre com os animais que, mos sofrer; é ela que, no estado de natureza, faz às vezes de lei, de
uma vez domesticados, perdem força, vigor e coragem, também o costume e de virtude, com a vantagem de que ninguém é tentado
homem, no estado de natureza, é muito melhor fisicamente do que a desobedecer à sua doce voz; é ela que impede todo selvagem ro-
no estado social. busto de arrebatar a uma criança fraca ou a um velho enfermo sua
Do ponto de vista moral, ao contrário dos animais que se limi- subsistência adquirida com sacrifício, se ele mesmo espera poder
tam a seguir as regras prescritas pela natureza, o homem se cons- encontrar a sua alhures; é ela que, em vez desta máxima sublime de
titui como agente livre, podendo escolher ou rejeitar essas regras. justiça raciocinada, Faze a outrem o que queres que te façam, inspi-
Assim, enquanto “um pombo morre de fome perto de uma ra a todos os homens esta outra máxima de bondade natural, bem
vasilha cheia das melhores carnes, e um gato sobre uma porção menos perfeita, porém mais útil, talvez, do que a precedente: Faze
de frutas ou de grãos, embora ambos pudessem nutrir-se com os o teu bem com o menor mal possível a outrem”. Esta era, em linhas
alimentos que desdenham, se procurassem experimentá-los”, o ho- gerais, segundo Rousseau, a situação em que vivia o homem no es-
mem, dotado de vontade, é capaz não apenas de diversificar seus tado de natureza, no qual a desigualdade praticamente não existia.
alimentos, como também de continuar a comer quando sua neces-
sidade natural já foi satisfeita, ainda que isso lhe cause prejuízo à
saúde. DOS DESAFIOS DA ÉTICA/BIOÉTICA FRENTE AO DESEN-
É justamente essa sua condição de agente livre, e a consciência VOLVIMENTO TECNOLÓGICO E A GLOBALIZAÇÃO
que possui dessa liberdade, uma das diferenças entre o homem e
os animais, segundo Rousseau.
“A natureza manda em todo animal. O homem experimenta a O que é Ética na Filosofia3
mesma impressão, mas se reconhece livre de aquiescer ou de resis-
tir; e é sobretudo na consciência dessa liberdade que se mostra a Ética na filosofia é o estudo dos assuntos morais, do modo de
espiritualidade de sua alma”. ser e agir dos seres humanos, além dos seus comportamentos e
Outra característica distintiva do ser humano é a sua perfectibi- caráter. A ética na filosofia procura descobrir o que motiva cada
lidade, isto é, sua “faculdade de se aperfeiçoar”. indivíduo de agir de um determinado jeito, diferencia também o
Ao contrário do animal, que “é, no fim de alguns meses, o que significa o bom e o mau, e o mal e o bem.
que será toda a vida, e sua espécie, ao cabo de mil anos, o que A ética na filosofia estuda os valores que regem os relaciona-
era no primeiro desses mil anos”, o homem pode, com o auxílio mentos interpessoais, como as pessoas se posicionam na vida, e de
das circunstâncias, desenvolver suas potencialidades, as quais se que maneira elas convivem em harmonia com as demais. O termo
encontram tanto no indivíduo quanto na espécie. Infelizmente, diz ética é oriundo do grego, e significa “aquilo que pertence ao cará-
Rousseau, é justamente essa capacidade distintiva e quase ilimitada ter”. A ética diferencia-se de moral, uma vez que, a moral é rela-
do homem para aperfeiçoar-se a fonte de todos os seus males, uma cionada a regras e normas, costumes de cada cultura, e a ética é o
vez que é ela a responsável por tirá-lo do estado de natureza no modo de agir das pessoas.
qual ele “passaria dias tranquilos e inocentes”. Para a filosofia clássica, a ética estudava a maneira de buscar a
Quanto aos valores morais, Rousseau considera que, no estado harmonia entre todos os indivíduos, uma forma de conviver e viver
de natureza, os homens não eram nem bons, nem maus, nem pos- com outras pessoas, de modo que cada um buscasse seus interes-
suíam vícios ou virtudes, uma vez que não havia entre eles nenhum ses e todos ficassem satisfeitos. A ética na filosofia clássica abrangia
tipo de relação moral ou de deveres recíprocos. Na realidade, a diversas outras áreas de conhecimento, como a estética, a psicolo-
única virtude natural que possuíam era a piedade, entendida como gia, a sociologia, a economia, pedagogia, política, e etc.
uma “repugnância inata de ver sofrer seu semelhante”. Com o crescimento mundial e o início da Revolução Industrial,
Decorre daí a ideia do bom selvagem, frequentemente asso- surgiu a ética na filosofia contemporânea. Diversos filósofos como
ciada à teoria de Rousseau. Dessa virtude natural é que resultam as Sócrates, Aristóteles, Epicuro e outros, procuraram estudar a ética
virtudes sociais como a generosidade, a clemência, a humanidade, como uma área da filosofia que estudava as normas da sociedade, a
a benquerença e a comiseração. conduta dos indivíduos e o que os faz escolher entre o bem e o mal.
Essa piedade natural do homem opõe-se ao seu amor-próprio,
nele gerado pela razão e pela reflexão, típicas do estado de socie-
dade. É por causa da reflexão que o homem é capaz de pensar pri- DA ÉTICA DA RESPONSABILIDADE E OS DESAFIOS AMBIEN-
meiro em si e, vendo sofrer um seu semelhante, dizer: “Morre, se TAIS CONTEMPORÂNEOS
queres; estou em segurança”. E complementa Rousseau: “Pode-se
impunemente degolar o semelhante debaixo da janela; é só tapar  
os ouvidos e argumentar um pouco, para impedir que a natureza, A ética contemporânea teve seu início em meados do século
revoltando-se nele, o identifique com aquele que se assassina. O XIX, devido às mudanças que a evolução da ciência provocou na
homem selvagem não tem esse admirável talento, e, por falta de humanidade, descobrindo até mesmo formas eficientes de acabar
sabedoria e de razão, vemo-lo sempre entregar-se, aturdido, ao pri- com a vida humana.
meiro sentimento de humanidade”.
3 Disponível em: https://www.significados.com.br/etica-na-filosofia/.
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CONHECIMENTOS

Dessa forma, o novo pensamento ético que nasceu começou a Vale frisar que não devemos considerar ética determinada atitu-
contestar o racionalismo absoluto, e assumir a existência de uma de que antes era vista como antiética apenas pelo fato de ser fruto
parte inconsciente em todos os homens. do inconsciente humano. Entretanto esse ponto deve ser seriamen-
As principais correntes dessa Ética Contemporânea são: O Exis- te analisado antes de se obter o resultado de um julgamento.
tencialismo, o Pragmatismo, a Psicanálise, o Marxismo, o Neoposi- O Marxismo vê o homem como ser produtor, criador, inventivo,
tivismo e a Filosofia Analítica. transformador, social e histórico. Dá especial atenção ao proletaria-
A ética na idade contemporânea se defronta com uma enorme do, que segundo os marxistas dá origem a uma sociedade verdadei-
variedade de tendências morais derivadas do pluralismo cultural ramente humana.
existente. Dentro de uma mesma sociedade encontramos corren- Essas vertentes éticas distinguem-se das duas citadas anterior-
tes morais diferentes, que se formam a partir dos juízos de valores mente pelo fato de considerarem o outro em suas premissas. Não
recebidos por cada sujeito em seu ciclo de convivência. A imparcia- se baseiam em um individualismo egoísta nem fazem generaliza-
lidade exigida da ética faz com que nenhuma dessas “vertentes” ções sobre os fatos acontecidos.
morais seja aceita como a melhor tendência. É bom lembrarmos também que todas as correntes da ética
Às correntes da ética contemporânea cabe criticar e analisar os contemporânea são contra o universalismo e o racionalismo
diferentes hábitos e costumes existentes nos dias atuais para que absoluto, e a favor do reconhecimento do irracional e da descoberta
cheguemos a um ponto comum a ser aceito. da ética dentro do próprio homem. Entretanto consideramos
Há também um novo desafio imposto aos estudiosos que se de- o Pragmatismo e o Existencialismo correntes demasiadamente
dicam à ética: o fato de que o comportamento dos homens nem individualistas e pouco aplicáveis em nosso dia - a – dia, visto que
sempre são guiados pelos seus juízos sobre o valor dos atos. Além somos animais sociais e não conseguimos viver fora desse ciclo
da parte irracional já aceita e levada em consideração por essas social.
correntes, o conceito deturpado de felicidade pode fazer com que Nepositivismo e filosofia analítica
as pessoas se distanciem das virtudes éticas, da justa medida cita-
da por Aristóteles em seus estudos.   Consideramos o Neopositivismo e a Filosofia Analítica como
A nova filosofia de vida e a ética de manipulação favorecem ao sendo as duas correntes da mais completas da Ética Contempo-
imediatismo, à criação de cidadãos altamente manipuláveis e à su- rânea. Sua atenção é voltada ao que hoje definimos como ética:
peração do individual sobre o coletivo. Tudo é feito em nome de A análise da linguagem moral, tratando o homem como algo que
uma falsa liberdade, que está se confundindo com o conceito de pode sim ser definido, defendendo também os conceitos de obri-
libertinagem. gação, dever, justeza.
A partir dessas correntes, que aceitam o homem como ser so-
Existencialismo e o Pragmatismo cial, e que assume a liberdade como algo que deve ser aproveita-
  do juntamente com o outro, e que defende os direitos essenciais
O Existencialismo é uma corrente de estudos da ética contem- à todos os seres humanos, como o direito à vida e à educação, é
porânea que tem dentre seus preceitos análise do homem concre- que tomamos a liberdade de criticar alguns hábitos e costumes que
to, do indivíduo como ele realmente é. O único contraponto visível não consideramos fundamentos cabíveis a construção de uma ética
entre seus dois principais autores reside no fato de que para Satre racional global.
Deus não existe, tornando o homem totalmente livre e sem ne- O famoso “jeitinho brasileiro”, e inúmeros outros costumes
nhum vínculo com um possível criador. mundiais devem sim ser repensados para que possamos chegar a
O Pragmatismo é uma corrente muito interessante a nós já que um mundo onde o fim último de todas nossas ações possa ser al-
nasce nos Estados Unidos, ligado ao avanço científico e tecnológico cançado: A felicidade. Assim como vários hábitos devem ser arrai-
e do espírito de empresa. Para o Pragmatismo, a verdade seria iden- gados em diferentes tipos de moral, já que são considerados como
tificada como algo útil, que é essencial para vivermos e conviver- virtudes éticas por todos aqueles que os presenciam.
mos. Ou seja, algo só é considerado bom quando nos leva ao êxito. O que não podemos é nos acomodar nessa zona de conforto,
Isso torna a corrente basicamente egoísta. pretendendo manter esse status quo que por tanto tempo tomou
A partir dessas breves definições podemos estabelecer uma conta de nossa sociedade e de nossas vidas. O importante é que
ponte entre as duas correntes contemporâneas: Ambas analisam haja um movimento a favor da mudança, um esforço para melhorar,
uma ética totalmente individual, que leva em conta apenas o mo- fazendo da filosofia e da ética nossas armas de combate, para que
mento atual, sem se preocupar com o futuro e com as tão comenta- assim cheguemos o mais próximo da tão esperada justa-medida,
das virtudes éticas citadas por Aristóteles. novamente citando Aristóteles.
Essa visão do espírito de empresa, originária do Pragmatismo
deu origem aos Trustes e Cartéis, à exploração dos homens e paí-
ses mais pobres. Nossa consciência não pode ser objeto facilitador
dessas injustiças, e sim um caminho racional para chegarmos à ver-
dadeira liberdade e felicidade.    
 
Psicanálise e o Marxismo
 
A Psicanálise contribuiu com a ética ao confirmar a existência
de uma parte inconsciente nos homens. Isso faz com que alguns
atos sejam atribuídos a essa parte inconsciente, cabendo assim um
julgamento ético diferenciado.
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CONHECIMENTOS

Trabalho Escravo
DAS REFLEXÕES FILOSÓFICAS SOBRE O TRABALHO E AS Trabalho escravo é quando o empregador explora seu empre-
TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS NO MUNDO MODER- gado. O trabalho escravo surgiu na época da escravidão, onde os
NO E CONTEMPORÂNEO empregados tinham que fazer tudo que seu patrão mandasse, sem
receber absolutamente nada por isso, e geralmente sob tortura e
maus tratos.
Trabalho é um conjunto de atividades realizadas, é o esforço fei- O trabalho escravo também é quando ocorre contratações rea-
to por indivíduos, com o objetivo de atingir uma meta. O trabalho lizadas de forma ilegal e que acabam explorando o trabalhador. Em
também pode ser abordado de diversas maneiras e com enfoque tese, a escravidão foi extinta em todos os países, porém alguns,
em várias áreas, como na economia, na física, na filosofia, a evolu- principalmente no continente Africano, mantêm crianças e mulhe-
ção do trabalho na história, etc4. res para serem escravas, ou até mesmo na prostituição.
É o trabalho que faz com que o indivíduo demonstre ações, Há diversos acordos internacionais que proíbem os países de
iniciativas, desenvolva habilidades. É com o trabalho que ele manterem qualquer pessoa sob regime de trabalho escravo, porém
também poderá aperfeiçoá-las. O trabalho faz com que o homem isso não é cumprido, em especial em áreas pobres, como Filipinas
aprenda a conviver com outras pessoas, com as diferenças, a não e Tailândia.
ser egoísta e pensar na empresa, não apenas em si.
O trabalho faz com que o indivíduo aprenda a fazer algo com Trabalho Voluntário
um objetivo definido, desde a época do trabalho escolar no colégio, Há também o trabalho voluntário, que é aquele onde o indi-
e com isso, o ser humano começa a conquistar seu próprio espaço, víduo se disponibiliza a exercer uma atividade, sem receber qual-
respeito e consideração dos demais. Quando a pessoa realiza um quer remuneração para isso. Trabalho voluntário é bastante comum
trabalho bem feito, também contribui para a sua autoestima, satis- para estudantes universitários, que estão em fase de aprendizado,
fação pessoal e realização profissional. e ainda não buscam receber remuneração por isso. Além disso, o
Muitas pessoas se questionam a respeito da diferença entre trabalho voluntário está muitas vezes associado a diferentes causas
o trabalho e emprego, sendo que algumas pessoas confundem os sociais. Algumas ONGs e instituições sem fins lucrativos dependem
dois conceitos. O trabalho é uma tarefa que não necessariamente de pessoas que estão dispostas a trabalhar voluntariamente.
confere ao trabalhador uma recompensa financeira. O emprego é
um cargo de um indivíduo em uma empresa ou instituição, onde o Trabalho na Física
seu trabalho (físico o mental) é devidamente remunerado. O con- Em Física, trabalho, que é representado pela letra W, serve para
ceito de emprego é bem mais recente do que o de trabalho, e surgiu medir a energia necessária para a aplicação de uma força, durante
por volta da Revolução Industrial e se propagou com a evolução do um determinado tempo de deslocamento. O trabalho é calculado
capitalismo. através de uma fórmula, que é a multiplicação da força, pelo des-
locamento.
Trabalho Infantil O trabalho pode ser um número positivo ou negativo, uma vez
Trabalho infantil é o trabalho exercido por crianças e adoles- que, para o trabalho ser positivo a força tem que atuar no sentido
centes, que estejam abaixo da idade mínima legal permitida para o do deslocamento, e para ser negativo, a força tem que ser exercida
trabalho, e isso pode variar de cada país. No Brasil, qualquer criança no sentido oposto.
ou adolescente, que trabalhe com menos de 16 anos, é considerado O trabalho em física pode ser dividido em nulo, que é quando o
trabalho infantil, que é proibido por lei. trabalho é igual a zero, em trabalho motor, que é quando o deslo-
Além do trabalho infantil ser proibido, qualquer forma de traba- camento e a força estão no mesmo sentido, e o trabalho resistente,
lho que seja cruel ou nociva, como tortura e maus tratos, também que é o oposto do motor.
constituem crime.
Trabalhos Acadêmicos
Trabalho em Equipe Trabalhos acadêmicos são tarefas exigidas a alunos que fre-
Trabalho em equipe é quando um grupo realiza um esforço cole- quentam instituições de ensino universitário e que pretendem
tivo para atingir um objetivo ou solucionar um problema. Trabalho desenvolver o espírito crítico e capacidade intelectual dos alunos.
em equipe é um tema muito debatido em organizações, pois acredi- Estes trabalhos podem ser exclusivamente escritos e submetidos à
ta-se que todos os funcionários devem saber trabalhar em equipe, avaliação do professor. No entanto, muitos trabalhos acadêmicos
para atingir metas mais rápidas. requerem apresentação oral perante um público.
Saber trabalhar em equipe é uma característica muito impor- Alguns trabalhos acadêmicos podem ser longos, como a tese
tante nos dias atuais, uma vez que facilita a convivência, faz com (para doutorado), dissertação (para mestrado), monografia (para
que as tarefas sejam realizadas de forma mais eficiente e com muito graduação) e trabalho de conclusão de curso (para tecnólogos e téc-
mais agilidade. nicos). Outros podem ser mais curtos, não representando a mesma
Trabalho em equipe é também muito importante nos esportes. importância que os trabalhos finais mais longos mencionados ante-
Esportes como o futebol, basquete, vôlei, e muitos outros, precisam riormente. Como exemplo de trabalhos mais curtos temos: artigos,
do trabalho em equipe de todos, para atingir o objetivo que é a relatórios, fichamentos, resenhas, comunicações, etc.
vitória nas partidas.

4 https://bit.ly/2j76Od5
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CONHECIMENTOS

Trabalho na Filosofia personalidade e necessidade. Diferentes públicos como jovens, mu-


Vários filósofos e pensadores debateram sobre o conceito de lheres, idosos, deficientes, gays, esportistas, empresários, etc. exi-
trabalho. Para Aristóteles, por exemplo, as lutas e conquistas de- gem produtos com detalhes e adereços próprios para o seu grupo,
veriam vir apenas com o trabalho, não era justo que fosse de outra que como dito, correspondam a sua personalidade e necessidade.
maneira. Para ele, o trabalho fazia com que os homens se tornas- Baseado nisso, o sistema possui características como:
sem independentes. - Produção flexível: Produção de um reduzido número de mer-
Na filosofia, o trabalho tem concepções simples, como o próprio cadorias, voltadas a um público específico. Ex.: mulheres, jovens,
conceito de trabalho e suas diversas definições. Existem também as velhos, deficientes, homossexuais, ecologistas, aventureiros, etc.
concepções mais complexas do trabalho, como as atividades exer- Diferentemente do fordismo que está destinado para fabrica-
cidas por pensadores e seus interesses, como a virtude, a riqueza, ção de produtos padronizados e homogêneos em grande quanti-
a beleza, e etc. dade e para mercados de massa em que os consumidores não se
Os filósofos, pesquisadores e pensadores estudam como, para distinguem. A produção flexível oferece produtos específicos para
quê e para quem os homens trabalham, se eles são obrigados a tra- públicos distintos. Os produtos podem ser carros adaptados ou
balharem ou não, se eles trabalham em troca de algo, e etc. personalizados, softwares para empresas segundo sua necessida-
de, calçados, móveis, objetos, acessórios personalizados de acordo
Trabalho na Economia com a vontade do consumidor.
No âmbito da Economia, o trabalho consiste no esforço humano Isso é possível, principalmente, devido, as tecnologias basea-
que tem como objetivo satisfazer as necessidades de uma pessoa das na computação. Desse modo, o domínio da informática ganha
ou de um grupo. cada vez mais importância no mundo do trabalho.
Para a economia, o trabalho faz parte de um dos três fatores da - Produção em grupo: Ao contrário do fordismo, em que as em-
produção, juntamente com a terra e o capital. O trabalho significa presas tinham uma gerência que funcionava como uma espécie de
que um indivíduo realiza um conjunto de atividades, e recebe um “cérebro da empresa”, que pensava todas as etapas da produção,
salário por isso, ou seja, o trabalho tem um preço, que é verificado na acumulação flexível, a tendência é que os grupos de trabalha-
na forma de salário. dores colaborem no desenvolvimento de todo o processo de pro-
Existem outras formas de trabalho, como o trabalho autônomo, dução. A atividade do trabalhador não se resume mais à execução
quando o indivíduo exerce sua atividade como profissional liberal, de uma tarefa repetitiva e exaustiva: deve também ajudar a propor
ou seja, não está vinculado a nenhuma empresa, e normalmente soluções para a empresa.
trabalha no comércio ou em atividades comerciais. - Trabalho em equipe: Ao invés de ter um cargo definido, com
um conjunto fixo de tarefas a serem realizadas, o trabalhador deve
Transformações no Mundo do Trabalho enfrentar situações distintas em grupos colaborativos.
Forma-se um grupo para realizar um projeto e, logo depois,
Na década de 1970, com a recessão econômica causada pela dissolve-se esta equipe, deslocando seus membros para novos pro-
crise do petróleo, os capitalistas desenvolveram novas formas de jetos. Ex: agências de publicidade, projetos de engenharia, grupos
trabalho, visando diminuir os custos de produção e aumentar seus de pesquisa, etc.
ganhos. Começaram, então, a surgir formas de flexibilização do tra- - Habilidades múltiplas: Como dito anteriormente, a participa-
balho e do mercado que tem a ver com a busca desenfreada por ção do empregado não é mais exigida somente em uma única tarefa
mais lucro. repetida à exaustão, mas em uma variedade de tarefas. Por isso, o
O fordismo começou a apresentar problemas, por que não es- mercado exige um empregado capaz de resolver problemas e pro-
tava mais conseguindo acompanhar o mercado, ou seja, as pessoas por ideias criativas.
queriam produtos diversificados, personalizados e inovadores. O As decisões em relação à contratação de um funcionário não
fordismo era lento para inovar, cada vez que se modificava um pro- são mais baseadas exclusivamente na sua escolarização e qualifi-
duto tinha que modificar muitas máquinas, supunha um estoque cações, mas na capacidade desse funcionário de se adaptar e ad-
grande de mercadorias, etc. tudo isso elevou os custos de produção. quirir novas habilidades com rapidez. (Isso não quer dizer que não
Flexibilização ou acumulação flexível, se refere aos processos devemos nos qualificar, ao contrário, quer dizer que devemos estar
que o mundo do trabalho vem sofrendo no âmbito da produção, constantemente nos atualizando, dominando novos recursos).
dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo.
Todos estes baseados na inovação e na contraposição aos padrões Emprego e Desemprego na Atualidade
fordistas de acumulação.
Ter um emprego não só constitui o principal recurso com que
Nova Tendência: Acumulação Flexível conta a maioria das pessoas para suprir suas necessidades mate-
riais como também lhes permite plena integração social. Por isso,
Sistema no qual a rigidez fordista é substituída pela produção a maior parte dos países reconhece o direito ao trabalho como um
flexível. dos direitos fundamentais dos cidadãos.
Nesse sistema, inverte-se a lógica fordista em que a indústria Emprego é a função e a condição das pessoas que trabalham,
determinava o que seria consumido. Hoje os consumidores deter- em caráter temporário ou permanente, em qualquer tipo de ativi-
minam o que as empresas irão produzir e oferecer. dade econômica, remunerada ou não. Por desemprego se entende
A acumulação flexível assim está formatada ou pensada, para a condição ou situação das pessoas incluídas na faixa das “idades
atender as novas tendências do mercado. Os consumidores que ativas” (em geral entre 14 e 65 anos), que estejam, por determi-
não querem mais produtos padronizados na sua generalidade, mas nado prazo, sem realizar trabalhos em qualquer tipo de atividade
requerem produtos com características que correspondam a sua econômica, remunerada ou não.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

As possibilidades de emprego que os sistemas econômicos po- - Superpopulação estagnada, constituída pelos grupos numero-
dem oferecer em certo período relacionam-se com a capacidade de sos de pessoas que perderam definitivamente seu emprego e cujas
produção da economia, com as políticas de utilização dessa capaci- ocupações irregulares são pagas muito abaixo do nível habitual de
dade e com a tecnologia empregada na produção. salário. Encontram-se entre esses os trabalhadores domésticos e os
Os economistas clássicos entendiam que o estado de pleno em- que vivem de trabalho ocasional.
prego dos fatores de produção (entre eles o trabalho) era normal,
estando a economia sempre em equilíbrio. John Stuart Mill dizia: Classificação
“Se pudermos duplicar as forças produtoras de um país, duplicare- Costuma-se classificar o desemprego segundo sua origem:
mos a oferta de bens em todos os mercados, mas ao mesmo tempo - Desemprego estrutural, característico dos países subdesen-
duplicaremos o poder aquisitivo para esses bens.” Dentro dessa li- volvidos, ligado às particularidades intrínsecas de sua economia. Ex-
nha de ideias, o aparecimento de desempregados em certas épocas plica-se pelo excesso de mão-de-obra empregado na agricultura e
era explicado como a resultante de um desajustamento temporá- atividades correlatas e pela insuficiência dos equipamentos de base
rio. O ajustamento (ocupação da força de trabalho desempregada) que levariam à criação cumulativa de emprego.
ocorreria quando os trabalhadores decidissem aceitar voluntaria- - Desemprego tecnológico, que atinge sobretudo os países
mente os salários mais baixos oferecidos pelos empresários. mais adiantados. Resulta da substituição do homem pela máquina
e é representado pela maior procura de técnicos e especialistas e
Teorias pela queda, em maior proporção, da procura dos trabalhos mera-
mente braçais.
John Maynard Keynes contestou essas afirmações, negando - Desemprego conjuntural, também chamado desemprego cí-
que haja um ajustamento automático para o pleno emprego no re- clico, característico da depressão, quando os bancos retraem os cré-
gime da propriedade privada dos meios de produção. Afirmam os ditos, desestimulando os investimentos, e o poder de compra dos
keynesianos que a lei do mercado dos clássicos, segundo a qual “a assalariados cai em consequência da elevação de preços.
oferta cria a sua própria procura”, é ilusória e que o pleno emprego - Desemprego friccional, motivado pela mudança de emprego
é uma situação excepcional, de pouca duração e raramente atingi- ou atividade dos indivíduos. É o tipo de desemprego de menor sig-
da. Para Keynes, é a procura efetiva que determina a maior produ- nificação econômica.
ção e em consequência o mais alto nível de emprego, enquanto a - Desemprego temporário, forma de subemprego comum nas
produção global nem sempre encontra procura efetiva. “Quando a regiões agrícolas, motivado pelo caráter sazonal do trabalho em
procura efetiva é insuficiente, o sistema econômico se vê forçado a certos setores agrícolas.
contrair a produção”, o que resulta no desemprego. “Não há meio
de assegurar maior nível de ocupação, a não ser pelo aumento do Exército de Reserva
consumo.” A procura efetiva estaria na dependência da renda real, Thomas Robert Malthus, economista inglês do século XVIII,
ou seja, do efetivo poder de compra da comunidade, e o subconsu- atribuiu o desemprego a leis eternas da natureza. De acordo com
mo, causador do desemprego, seria consequência do fato de que a sua “lei da população”, desde a origem da sociedade humana a
“uma parte excessivamente grande do poder de compra fica com população aumenta em progressão geométrica (1, 2, 4, 8, 16, 32...)
os beneficiários de rendas importantes”, como disse Bertrand de e os meios de subsistência, dado o caráter limitado das riquezas
Jouvenel. naturais, aumentam em progressão aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6...).
Marx também formulou uma lei da população para explicar Esta, segundo Malthus, é a causa original dos excedentes de popu-
o desemprego. Chamou-a de “lei capitalista do desemprego”, e a lação, de fome e de miséria. Segundo Malthus, para se libertar da
considerou uma consequência da propriedade privada dos meios miséria e da fome o proletariado deveria reduzir artificialmente os
de produção. Segundo ele, na sociedade burguesa a acumulação nascimentos.
do capital faz com que uma parte da população operária se torne A desocupação de uma percentagem de três por cento da for-
inevitavelmente supérflua. É eliminada da produção e condenada à ça de trabalho é considerada nos países capitalistas como desem-
fome. Essa “superpopulação relativa” toma diferentes nomes, se- prego mínimo ou normal e só acima desse índice é que se fala em
gundo os aspectos que apresenta: desemprego. Há quem considere essa quota como necessária ao
- Superpopulação flutuante, constituída pelos operários que desenvolvimento da indústria. Os defensores dessa tese afirmam
perdem seu trabalho por certo tempo, em consequência da queda que uma certa porcentagem de desemprego é salutar à economia,
da produção, do emprego de novas máquinas, do fechamento de por constituir uma reserva de mão-de-obra para a expansão indus-
empresas. Com o incremento da produção, uma parte desses de- trial. E alegam que nos períodos de recuperação e avanço industrial,
sempregados volta a se empregar; e também consegue emprego quando o crescimento rápido da produção se impõe, uma quantida-
uma parcela dos novos trabalhadores que alcançaram a idade pro- de suficiente de empregados estará à disposição dos empresários.
dutiva. O número total dos operários empregados aumenta, mas
numa proporção decrescente em relação ao aumento da produção. Desemprego na América Latina
- Superpopulação latente, constituída pelos pequenos produto-
res arruinados e principalmente pelos camponeses pobres e pelos O potencial de mão-de-obra latino-americano está longe de
operários agrícolas que estão ocupados na agricultura somente du- seu pleno aproveitamento. Há na economia agropecuária um de-
rante parte do ano. Ao contrário do que ocorre no setor industrial, o semprego latente, disfarçado e, embora generalizado, dificilmente
progresso técnico na agricultura provoca uma diminuição absoluta mensurável em termos estatísticos. O mesmo ocorre nas camadas
da demanda de mão-de-obra. economicamente marginais da população urbana. É também cada
vez maior o desemprego nos subgrupos secundário e terciário das
atividades econômicas no setor citadino. Observam-se na América
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

Latina os diversos tipos de desemprego comuns à economia capi-


talista. Como nessa região do mundo coexistem formas de explo-
ração da terra em regime semifeudal pré-capitalista até atividades
em centros altamente industrializados, aí estão também desde o
subemprego rural, decorrente da concentração da propriedade da
terra, até o desemprego tecnológico, consequência da maior procu-
ra de mão-de-obra especializada em lugar de simples trabalhadores
braçais.
Estanislau Fischlowitz chama a atenção para o denominado “fa-
tor de patologia social do mercado do trabalho”, ou seja, o desem- Para o sociólogo francês Claude Dubar, a identidade de alguém
prego de preponderante origem populacional, que se delineia cla- é aquilo que ele tem de mais particular. O indivíduo a constrói pelos
ramente na América Latina. A população cresce num ritmo tal que processos de socialização (primária e secundária), inicialmente pela
os contingentes de pessoas a alcançar a idade de trabalho é maior família e, posteriormente, por grupos sociais (na escola, nos clubes,
do que a capacidade de absorção de mão-de-obra. Dada a alta fre- no trabalho etc.). De maneira que, as identidades podem ser obser-
quência de adolescentes e a melhora nos índices de sobrevivência, vadas em duas temporalidades, a identidade para si e a identidade
esse sociólogo calcula em vários milhões o número de jovens que, para os outros.
a cada ano, entram no mercado de trabalho, em busca do primeiro
emprego remunerado. Em vários países sul-americanos, a situação
seria menos sombria se não fosse a altíssima taxa de aumento de-
mográfico, calculada em 2,7% ao ano. A situação é particularmente
grave em El Salvador, o país latino-americano de maior densidade
populacional.
No Brasil, um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
tatística, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Processos de socialização e construção de identidade
(PNAD, concluiu que o Brasil tinha 62 milhões de pessoas com al-
gum tipo de ocupação, dos quais 40 milhões empregadas; a pro- A alteridade expressa e determina a qualidade, estado ou ca-
porção de desempregados (2,4%) era relativamente baixa). Esses racterísticas do outro, ou seja, aquilo que é diferente daquilo que
números escondiam acentuadas disparidades regionais, como a vivemos. A relação entre o eu e o outro é definida então pelo con-
proporção de crianças de 10 a 13 anos que trabalhavam: 7,3% em ceito de alteridade. No conceito antropológico o eu só pode ser en-
São Paulo, 28,4% no Piauí. tendido a partir da interação com o outro (socialização). Por isso,
Calcula-se que nos países menos desenvolvidos de 25 a 30% do o processo de diferenciação estabelecido entre o eu e o outro é
potencial de trabalho seja perdido por meio do desemprego e do importante para a definição do entendimento do que eu sou, do
subemprego. No entanto, a taxa de crescimento demográfico extre- que o outro é e portanto, do que não sou. Com isso, a partir do
mamente alta não é a principal causa de subutilização da força de entendimento dessas noções é que se firmam as diferenças entre
trabalho. O problema se deve basicamente a graves desequilíbrios o eu e o outro.
e inadequações nos sistemas econômicos e sociais desses países. Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, o mundo está
Entre esses fatores, aponta-se a má distribuição de renda. cada vez mais fragmentado. A tendência atual é a do individualismo,
um estilo de vida que leva ao egoísmo. Nesse sentido, a alteridade
encaixa-se em momentos de coletividade, dando lugar à tolerância.
DOS CONCEITOS DE ALTERIDADE E EMPATIA
Como exercer a alteridade?
Imagine que imigrantes e refugiados comecem a entrar em seu
Um dos princípios fundamentais da alteridade é que o homem país, passando a habitar a sua cidade. Exercer a alteridade, nesse
na sua vertente social tem uma relação de interação e dependência caso, é reconhecer que aquelas pessoas sofreram e que elas saíram
com o outro. Por esse motivo, o “eu” na sua forma individual só de suas terras natais porque foram obrigadas ou porque queriam
pode existir através de um contato com o “outro”. levar uma vida digna. Exercer a alteridade, nesse caso, é acolher e
oferecer o apoio possível a elas.
Quando é possível verificar a alteridade, uma cultura não tem
como objetivo a extinção de uma outra. Isto porque a alteridade
implica que um indivíduo seja capaz de se colocar no lugar do outro, DAS CONTRIBUIÇÕES DA FILOSOFIA ILUMINISTA E CON-
em uma relação baseada no diálogo e valorização das diferenças TEMPORÂNEA PARA O ESTABELECIMENTO DOS IDEAIS DE
existentes. Por essa definição alteridade teria o mesmo significado LIBERDADE E DIREITOS HUMANOS
de empatia?

À primeira vista, o título deste texto5 levanta uma questão:


existe realmente uma filosofia dos Direitos Humanos? A filosofia
sempre se apresentou como a ciência dos princípios últimos, o que
lhe reserva um lugar privilegiado diante das outras disciplinas.
5 Texto adaptado de VIANA, W. C.
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CONHECIMENTOS

Pode-se fazer filosofia de tudo: filosofia da ciência, do direito, a fenômenos físico-químicos ou possuem um estatuto ontológico
da política, inclusive, filosofia dos direitos humanos. O que se pre- próprio? Não vamos entrar aqui na atual discussão sobre a possibi-
tende com a epígrafe filosofia dos Direitos Humanos não passa de lidade de uma redução da inteligência e liberdade a estados neuro-
uma tentativa de buscar as razões últimas daqueles chamados Di- nais; discussão bastante pontual, que, porém extrapola os objetivos
reitos Fundamentais da pessoa humana, aos quais se referem tan- deste artigo.
tas declarações, como a nossa Constituição de 1988. O início do Art. Nossa visão pressupõe que estados mentais (inteligência e
5 de nossa Carta Magna declara: “Todos são iguais perante a lei, vontade livre) não se reduzem a estados neuronais. Tal pressuposto
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros desvela o vasto campo do espírito humano, que fundamenta todo e
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à qualquer discurso sobre os chamados Direitos Humanos. O adjetivo
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. humano revela que esses direitos são radicados numa natureza co-
[...]”. A pergunta que todo “espírito filosófico” faz é: Por que mum da qual participam seres concretos e históricos. A expressão
todos são iguais perante a lei? O que fundamenta essa igualdade natureza humana talvez esteja em desuso. Podem-se até utilizar
de direitos à vida, à liberdade, à segurança etc.? É a lei que me faz outros termos como razão, condição humana etc. Nesse sentido,
igual a todos ou a lei apenas reconhece essa igualdade? Que direito não se pode negar que homens e mulheres concretos são caracte-
tem o Estado de punir o indivíduo que desrespeita esses direitos? rizados pelos traços essenciais da inteligência e vontade livre, ainda
Todas essas perguntas são refletidas no âmbito da filosofia e, sem que esses se apresentem de formas variadas.
esta, o debate sobre os Direitos Humanos perderia aquela profundi- Se a elaboração de uma ideia comum sobre o homem cons-
dade especulativa que nenhuma outra ciência pode oferecer. Neste titui tarefa primordial da filosofia, especialmente da Antropologia
artigo, apresento um tipo de filosofia que afirma ser possível uma filosófica, tanto mais o será o problema da validade universal de
fundamentação última dos Direitos Humanos e, a partir dela, traço tal ideia. Como pode uma ciência arrogar o direito de validade uni-
as relações destes com os direitos civis e o poder estatal. versal de sua visão de homem? Esse é um dos grandes desafios de
nosso tempo e exige muito diálogo, abertura e esforço intelectual.
Direitos humanos e fundamentação filosófica A contribuição da filosofia neste aspecto sobrepõe-se, uma vez que
ela sempre foi a ciência dos princípios. Embora essa visão de filoso-
A reflexão sobre os Direitos Humanos está estreitamente re- fia tenha seus críticos, vale ressaltar que nenhuma ciência empírica
lacionada à ideia do ser humano que uma sociedade fomenta. Di- pode fornecer uma fundamentação última de princípios. Se justifi-
ferentes culturas apresentam uma pluralidade de visões a respeito car princípios é possível, então somente à filosofia competirá essa
dos direitos da pessoa, o que nos leva a questionar se seria possível função.
a pretensão de universalidade elaborada pelos países ocidentais. A No debate sobre os Direitos Humanos, a ela pertence a especí-
pergunta crucial de nosso tempo traduz-se em: é possível, na diver- fica tarefa de fundamentar de forma universalmente válida aquele
sidade cultural na qual nos inserimos chegar a um consenso sobre princípio básico de onde emergirá o direito essencial do homem, a
quem seja o ser humano e, desta forma, garantir direitos funda- saber: a dignidade humana.
mentais válidos para todas as culturas e povos? Podemos chegar a O que é o ser humano segundo a filosofia aqui defendida?
um consenso sobre o que é o homem para além de suas vicissitudes Resposta: um ser que pensa! Ser capaz de pensamento constitui a
históricas? raiz daquela dignidade que nenhum outro ser possui. Afirmar que
A pergunta sobre aquilo que é comum a todos os homens e o homem é um ser pensante por natureza parece não constituir
que, ao mesmo tempo, nos diferencia dos outros seres não encon- nenhuma novidade. Torna-se vazia a palavra pensamento se não a
tra resposta apenas nas ciências naturais. A Física e a Química sozi- contextualizamos ou precisamos seu sentido. Pensar significa refle-
nhas não são suficientes para apontar as diferenças essenciais exis- tir, ou seja, dobrar-se sobre si mesmo ou sobre o mundo. De fato,
tentes entre o ser humano e, por exemplo, uma pedra. Ambos têm somente o homem tem consciência de si e do mundo que o cerca.
elementos físico-químicos iguais e, mesmo que existam elementos No dizer de Pascal, o homem supera todo o universo pelo pensa-
diferenciais dessa natureza, esses não constituem aquilo que essen- mento:
cialmente nos distingue enquanto seres humanos. Nem a biologia O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza,
tem mais sorte. Aquilo que nos distingue biologicamente dos gran- mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro
des primatas, como orangotangos, chimpanzés e gorilas não é mais se arme para esmagá-lo. Um vapor, uma gota d’água, é o bastante
que 1,4%, ou seja, 98, 6% de nosso DNA são semelhantes ao desses para matá-lo. Mas, quando o universo o esmagasse, o homem seria
macacos. ainda mais nobre do que o que o mata, porque sabe que morre; e a
A diferença é 10 vezes menor do que aquela entre um camun- vantagem que o universo tem sobre ele, o universo a ignora. Toda a
dongo e um rato. Não estamos aqui negando a contribuição dessas nossa dignidade consiste, pois, no pensamento.
ciências, apenas relativizando-a na elaboração de uma ideia comum Descartes também afirmava: “Sou uma coisa que pensa, isto é,
sobre quem é o homem. Aquilo que determina o homem enquanto que duvida que afirma que nega que conhece poucas coisas, que
homem não se constitui objeto direto das ciências naturais, mas das ignora muitas, que ama que odeia que deseja que não deseja que
ciências do espírito, entre as quais, a Filosofia. imagina também e que sente”.
As características fundamentais que distinguem o homem dos O pensamento constitui, portanto, o diferencial do homem que
outros seres e os unem entre si podem ser resumidas em duas: o distingue dos outros seres e, para além de qualquer arrogância
inteligência e vontade livre. Ambas são pressupostas por todas as antropocentrista, garante seu lugar privilegiado na natureza.
ciências, mas tematizadas especialmente pela Filosofia. Nenhuma A reflexão ou a capacidade de reflexão pode ser aplicada ao
outra ciência senão a filosofia procura as razões últimas de ques- homem de forma universal. Essa premissa tem seus opositores. Se
tões do tipo: o que é o pensamento humano? Somos realmente o pensar é o fundamento da dignidade da pessoa humana, o que
seres livres? Inteligência e liberdade são características reduzíveis dizer de seres humanos com deficiências mentais, seres humanos
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CONHECIMENTOS

em coma profundo ou mesmo de crianças? Possuem estes uma dig- Segundo o ponto de vista aqui defendido, direitos e deveres
nidade humana, uma vez que não exercem ou não podem exercer humanos pertencem ao mundo moral e não somente ao mundo
a reflexão? Eles detêm direitos humanos? O problema em saber jurídico. Direitos Humanos constituem aqueles bens inegáveis, ir-
quem são os legítimos portadores da dignidade e, consequente- renunciáveis e intransmissíveis de qualquer indivíduo. Em âmbito
mente, dos direitos humanos traz bastante discussão e implica con- privado, o desrespeito dos próprios direitos humanos, ou seja, a
sequências político-ético-sociais importantes. agressão do indivíduo contra si mesmo constituiria um mal, pois
Afirmo aqui que os portadores legítimos da dignidade humana negaria aquela dignidade fundante de qualquer outro ato. Em âm-
são todos os seres que pertencem geneticamente à espécie huma- bito coletivo, ferir os direitos humanos de outrem significa rene-
na. A diferença entre pessoa humana e ser humano não constitui gar aquela dignidade que o próprio agressor possui, significa bater
nenhuma ruptura. Uma é consequência da outra. Somente seres no próprio rosto, pisotear no outro aquilo que existe dentro de si.
humanos podem desenvolver-se como pessoa humana, ou seja, Quando o agressor reconhece que ofende a si mesmo no momento
somente estes podem desenvolver uma inteligência e vontade li- em que desrespeita qualquer direito humano, resta-lhe tão somen-
vre. No entanto, nem todo ser humano desenvolve as capacidades te o “peso da consciência” moral.
de pensamento e liberdade. Pensemos em crianças especiais. Esse O desrespeito de tais direitos constitui, para além da dimen-
fato empírico não significa que existem seres humanos que não são são moral, sobretudo um crime em um Estado de Direito. Na esfera
pessoas, pelo menos em potência. Todo ser humano é uma pessoa, estatal, essa ofensa merece punição, mesmo que o agressor não
seja em ato ou em potência. reconheça a falta moral. Melhor ainda, ao Estado de Direito não in-
Isto quer dizer que há pessoas humanas que não puderam, não teressa a falta moral ou a “consciência pesada” do agressor, mas tão
podem e nem poderão desenvolver as faculdades da inteligência somente seu crime. É a Filosofia Moral e a Filosofia do Direito que
e vontade livre devido a algum motivo contingente, físico ou bio- esclarecem essa dupla dimensão dos Direitos Humanos. Aqui nos
lógico. interessa, sobretudo, a pertença dos Direitos Humanos ao mundo
A questão fundamental reside em saber se o valor ou a digni- jurídico e estatal.
dade do ser capaz de pensamento pode ser defendido de forma
universalmente válida. O método filosófico para dirimir essa ques- Direitos humanos e “direito”
tão pode ser o da retorção, que constitui o método de validação de
argumentos baseado na autocontradição. Isto é, será válido todo e Direitos Humanos valem universalmente desde a concepção,
qualquer princípio ou axioma que não possa ser afirmado ou refuta- ou seja, eles são inerentes ao ser pensante e livre ou capaz de pen-
do sem ser pressuposto. Um exemplo é o princípio de não-contradi- samento e liberdade. Essa concepção não é aceita pelos positivistas
ção. Esse é válido pelo simples fato de que ninguém pode aceitá-lo que reduzem os Direitos Humanos a Direitos Civis. Para muitos ju-
ou negá-lo sem que ele mesmo seja pressuposto. Quem quisesse ristas e filósofos, Direitos Humanos não podem ser defendidos no
negar esse princípio teria que afirmá-lo para negá-lo, caindo assim plano metafísico ou filosófico, mas apenas no plano legal. Eles são
em uma autocontradição. O mesmo método pode ser aplicado ao Direitos simplesmente pelo fato de serem reconhecidos legalmente
valor da ideia de homem como ser pensante. Para se negar o valor por uma sociedade concreta. Faz-se mister abordar aqui o proble-
deste ser pensante, será preciso pensar e refletir bastante para re- ma, mesmo que de forma superficial.
futá-lo, o que implicaria uma contradição, pois se negaria o valor de Alguns filósofos, como J. Habermas reduzem Direitos Huma-
algo que já se reconheceu no ato da negação. O valor da reflexão nos a Civis, ou seja, somente dentro de uma sociedade civil seriam
tem então validade universal e não pode ser negado sem uma con- reconhecidos direitos e deveres fundamentais a um indivíduo. Di-
tradição interna. reitos Humanos não seriam, dessa forma, inerentes ou inatos, mas
O mesmo argumento vale mutatis mutandis para seres pensan- valeriam porque o indivíduo participa de uma comunidade. O que
tes somente em potência. Quem quisesse negar o valor de um ser diferencia a visão habermasiana de algumas concepções comunita-
pensante apenas em potência estaria utilizando em ato aquilo que ristas de direitos é que, para ele, a sociedade não concede direitos,
nega do ser em potência. como se o indivíduo não participasse dessa concessão. A concessão
A contradição aparece quando o cético reconhece o valor do de direitos é um ato coletivo e democrático, ou seja, consensual.
pensamento para si (pois para negar o pensamento ele precisa Isto significa que o indivíduo participa da elaboração das leis que
pensar) e ao mesmo tempo não reconhece tal valor para outro que asseguram seus direitos básicos e, dessa forma, reconhece para ou-
também pensa ou pode pensar. tros aquilo que gostaria de garantir para si mesmo.
Desta forma, pode-se defender o valor universal da ideia de ho- O problema da concepção habermasiana se encontra no fato
mem como ser pensante, uma vez que não se pode negá-lo sem cair de que Direitos Humanos somente valeriam a partir desse consenso
numa contradição interna. Isto constitui a base da chamada Digni- e não antes. Isto é, somente depois que tais direitos foram reconhe-
dade Humana, fonte daqueles direitos inatos, inerentes ao homem cidos em âmbito estatal, adquirem validade. Mas validade apenas
desde a concepção. relativa àquele estado e não validade universal! Direitos Humanos
A Dignidade Humana fundamentada na inteligência e vontade seriam reduzidos então a Direitos Civis. A pergunta crítica que se faz
livre vale universalmente porque não pode ser negada por ninguém a Habermas é: quem não participa de um Estado democrático de
que não a reconheça no próprio ato da negação. Tal dignidade exige Direito possui Direitos Humanos (pelo menos como os entendemos
uma relação moral e jurídica de direitos e deveres entre os indi- aqui)?
víduos. Essa afirmação é bastante discutida. A dignidade humana Não são esses direitos inerentes ao indivíduo enquanto ser
obriga moralmente? Pode-se falar de uma falta moral ou somente pensante? Poderia um Estado democrático reivindicar de um Esta-
de crime quanto ao desrespeito dessa dignidade? do não democrático, por exemplo, a liberdade de imprensa para
indivíduos? Caso sim, baseado em quê? Se, por outro lado, a res-
posta à última pergunta fosse: pode-se exigir que Estados não de-
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

mocráticos implantem a democracia e, somente depois, exigir deles A ruptura entre ética e direito acontece de forma patente so-
que respeitem direitos fundamentais. Essa resposta cai num ciclo mente com Thomas Hobbes, para quem a Lei não deve conhecer
vicioso patente, pois, exigindo a democracia a tais Estados, já se outro fim senão a utilidade. Para esse filósofo, os homens são racio-
estaria pressupondo a validade de alguns direitos humanos como nalmente egoístas e querem sobremaneira salvaguardar suas vidas
o direito à liberdade de escolha política. Enfim, exigir a democracia em confronto com os outros. Da necessidade de sobreviver surge a
seria já requerer o respeito aos Direitos humanos. figura do Leviatã (o Estado).
Se não pudéssemos reivindicar de qualquer Estado que seja Os cidadãos saem daquela situação primitiva de conflito através
o respeito aos Direitos Humanos, reinaria um comportamento es- de um Pacto Social que dá todos os poderes e direitos individuais ao
tranho entre Estados com diferentes tipos de organização política, Estado, único capaz de salvaguardar o interesse de todos através da
a saber: Estados democráticos, onde valem os Direitos Humanos, Lei. Toda lei, segundo Hobbes, deve ajudar ao Estado a garantir seu
teriam que ignorar o desrespeito a certos direitos fundamentais de poder e assegurar a justiça entre os indivíduos. Ético será aquilo que
indivíduos membros de governos totalitários, onde “não valem” servir às necessidades práticas do governo. Isto significa: quem faz
tais direitos. Isto significaria que Estados de Direito reconheceriam a lei não é a verdade ou o bem, mas a autoridade. Dela emana toda
a validade universal dos Direitos Humanos ao mesmo tempo em e qualquer lei válida, não importando alguma relação com a ética
que negariam tal validade a indivíduos membros de Estados não em sentido clássico. Com a Ética, desaparece aquela instância nor-
democráticos. Certamente, o caso não é simples de resolver, pois mativa fundante e reguladora das leis que existia no pensamento
nenhum Estado pode hoje ferir o princípio de soberania de um povo clássico até Kant. O Leviatã se reveste assim de traços divinos que,
com o pretexto de defender direitos individuais. Essa parece ser a por meio de sua vontade, estabelece o que é bem e o que é mal.
realidade na qual nos encontramos na atual política internacional: Hobbes não consegue explicar, porém, por que o Estado tem o
Estados de Direito veem agressões dos Direitos Humanos em outras direito de colocar a vida dos cidadãos em perigo (no caso de guer-
formas de organização política e nada podem fazer porque esbar- ra), se sua obrigação é a de preservar a vida deles! A crítica de John
ram no princípio de soberania nacional. Percebe-se que uma reno- Locke torna-se aceitável, pois, conforme ele, não se pode entender
vação do conceito mesmo de soberania estatal deveria ser ampla- por que alguém que teme perder a vida diante de lobos vai se atirar
mente discutida em âmbito internacional, se os Estados de Direito nos braços de um leão!
quiserem ser coerentes com sua visão universal de Direitos Huma- Locke e os movimentos democráticos, entre eles a Revolução
nos, cuja validade é fundada na dignidade humana e não somente Francesa de 1789, cujo fruto foi a Déclaration des droits de l´hom-
nas leis de um Estado concreto. me et du citoyen (Declaração dos direitos do homem e do cidadão),
O papel da Lei ou de um Estado de Direito não seria o de criar ajudaram a superar o absolutismo de Hobbes, mas seu positivismo
os direitos fundamentais, mas somente o de reconhecer publica- puro parece ainda perdurar. Deve uma lei estar submetida a con-
mente sua validade. Entendido dessa forma, podemos afirmar que cepções morais? Pode-se ainda abordar um Direito Natural capaz
Direitos Humanos não podem ser reduzidos a Direitos Civis. de orientar o Direito Positivo? Os positivistas negam que exista uma
Aqueles têm uma validade universal enquanto estes valem so- instância ética supralegal reguladora do direito positivo. Outros
mente no limite de um Estado concreto. Direitos Humanos devem filósofos e juristas procuram ressuscitar aquele chamado Direito
se transformar em Direitos Civis, ou seja, devem alcançar um re- Natural (ética) como fundamento do Direito Positivo e sustentam
conhecimento estatal e, dessa forma, serem defendidos pela força que alguns Direitos do homem não valem somente no âmbito legal,
da Lei. O ideal seria que tivéssemos um “Estado de Direito univer- mas também moral. Para estes, Direitos Humanos fazem parte do
sal” onde Direitos Humanos seriam plenamente reconhecidos e, mundo ético e devem ser assegurados pela lei positiva. Qualquer
somente assim, poder-se-ia falar de uma identificação dos Direitos lei positiva que fira esses direitos éticos fundamentais deveria ser
Humanos com Direitos Civis. Mas, mesmo nesse “Estado ideal”, não considerada ilegítima, mesmo se outorgada por uma autoridade
poderíamos dizer que os Direitos Humanos são válidos porque são competente. Dessa forma, não seria a autoridade aquela instância
reconhecidos legalmente. Direitos Humanos valem não porque haja última que legitimaria as leis fundamentais (isto é, leis que assegu-
um consenso sobre eles, mas por serem baseados na dignidade hu- ram os direitos básicos da pessoa), mas a dignidade humana ine-
mana. Porque são direitos humanos é que devem se tornar lei e não rente a cada cidadão. A ética tornar-se-ia, nessa visão, a instância
o contrário. reguladora do Direito positivo. Legisladores poderiam certamente
A Lei que assegura o respeito aos Direitos Humanos não tem, elaborar leis amorais que regulamentem situações concretas; não
portanto, sua legitimação última no puro consenso dos legislado- teriam, todavia, o poder de elaborar leis imorais que contradigam
res. O consenso integra o rol daquelas características que compõem normas éticas básicas.
uma lei justa, mas não pode ser o critério decisivo. As leis, pelo me-
nos aquelas que asseguram o respeito aos Direitos Humanos, de- Direitos humanos e política
vem ter seu fundamento na Ética.
A relação entre Ética e Direito é bastante discutida desde a Até o presente procurei esclarecer a relação entre Direitos
Metafísica dos Costumes de I. Kant. Para o referido filósofo, a mo- Humanos, Filosofia e Direito. Importa ainda refletir sobre a função
ral diz respeito à consciência do indivíduo e a lei deve assegurar o do Estado no que diz respeito aos direitos fundamentais da pessoa
bem moral na esfera pública através da força estatal. O Direito seria, humana, ou seja, faz-se mister tematizar a relação entre Direitos
portanto, complementar à Moral ao mesmo tempo em que deveria Humanos e Política. Do ponto de vista puramente histórico, deve-se
submeter-se a ela. Não é o caso para Kant que todo o sistema ju- reconhecer que os Direitos Humanos desenvolveram-se em oposi-
rídico deva ser moralizado. Existem leis que não têm ligação direta ção ao Estado absolutista. Proteger o indivíduo contra os abusos do
com moral, a exemplo da regulamentação das leis de trânsito. Ou Império fora uma das maiores conquistas jurídicas no início da épo-
seja, há leis que podem ser obviamente amorais, porém não podem ca moderna. Tendo início na Inglaterra do século 17, o movimento
existir leis que sejam imorais. em favor dos direitos individuais foi avançando até culminar nos
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CONHECIMENTOS

documentos declarativos dos direitos básicos como foram a Magna A realidade nos assegura a verdade desse fato. O Brasil é, por
Charta de 1679, a Bill of rights de 1689, a Virginia bill of rights de exemplo, uma das democracias mais fortes da América Latina, com
1776 e a Déclaration des droits de l´homme et du citoyen de 1789. uma Constituição que defende explicitamente os direitos funda-
Todos esses documentos se dirigiam ao Estado como tentativa de mentais, como também apoia com força de lei as principais declara-
proteger o indivíduo diante dos abusos do poder político. O Estado ções internacionais sobre os Direitos do Homem. Nem por isso dei-
sempre foi o outro lado da “relatio ad alterum” dos Direitos Huma- xa-se de ver uma agressão contínua e institucionalizada dos Direitos
nos. básicos da pessoa. Constata-se assim que a democracia sozinha não
Como exemplo do afirmado acima, pode-se citar uma das pri- garante a promoção dos direitos fundamentais. Primeiro porque,
meiras conquistas legais do “direito de ir e vir” que nasceu contra os na realidade, não existe uma democracia no sentido estrito da pa-
abusos do Império inglês, que prendia cidadãos de forma arbitrária. lavra. Democracia significaria ipsis litteris um “governo do povo”,
Desse fato nasceu o ato jurídico da Magna Charta de 1679, expres- mas isto parece não ser possível. O povo não pode ser governado
so no art. 5, inciso LXVIII, chamado de habeas corpus. A ordem de e governar ao mesmo tempo! Aquilo que chamamos democracia
prisão era dada com a seguinte frase: “Habeas corpus ad subicien- não passa do governo de alguns em nome e em favor dos interesses
dum” e significava que o império teria o poder sobre o corpo do in- do povo. Se pudéssemos falar numa democracia ideal, onde todo o
divíduo para submetê-lo à justiça. O ato jurídico contra uma ordem povo governasse e fosse governado, constituiria uma contradição
de prisão arbitrária, chamado depois de habeas corpus, declarava: interna qualquer agressão aos direitos humanos, uma vez que o
“conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se povo não poderia fazer leis ou ações contra si mesmo. Numa demo-
achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de cracia ideal, Direitos Humanos seriam o mesmo que Direitos Civis.
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”. O império, a partir O problema é que uma democracia dessa forma não pode ser
de então, já não podia dispor da liberdade de “ir e vir” do cidadão pensada. O governo do povo se dá através de legisladores e go-
sem estar fundamentado em razões pertinentes. vernantes legítimos. No entanto, mesmo se uma democracia ideal
Por causa disso, a “Magna Charta” é considerada um dos pri- fosse possível, apareceria novamente aquela questão mais sutil, a
meiros passos em direção à declaração universal dos Direitos Hu- saber: constituiria o consenso democrático a última instância de le-
manos afirmado por países pertencentes à ONU em 1948, quase gitimação de leis ou dos Direitos Humanos? Isto é, o simples fato de
160 anos depois da Declaração feita após a Revolução Francesa con- entrar em acordo (democrático) em relação ao respeitar certos di-
tra o absolutismo dos reis na França. reitos básicos daria a tais direitos a legitimidade suficiente para de-
Mas o Estado não representa somente aquele “Leviatã” que fendê-los e promovê-los com força estatal? Como mostrado acima,
pode massacrar o indivíduo através da força. Ele é também a instân- o consenso não constitui uma condição suficiente para a validade
cia que protege o indivíduo dos abusos de outros indivíduos. Esta última de certos direitos básicos. É preciso mostrar a inteligibilidade
é a concepção de Hobbes. O problema da visão hobesiana é que o destes, isto é, sua fundamentação racional e o valor intrínseco da
Estado suga dos sujeitos qualquer direito que eles possuam. Este dignidade humana. Admite-se, por exemplo, que pessoas podem
é o preço que o cidadão tem que pagar para ver-se protegido dos entrar em acordo sobre um mal moral.
outros e conseguir sobreviver. O absolutismo de Hobbes protegia O acordo entre um sadista e um masoquista de provocarem e
o indivíduo de outros indivíduos, mas não os protegia do próprio receberem dores corporais não pode ser visto como algo legítimo,
Estado, que dispunha da vida do cidadão de forma arbitrária. A ainda que ambos estejam de acordo sobre isso. Além do consenso,
Magna Charta significou então uma afirmação do sujeito e de seus faz-se mister o respeito à dignidade humana. Esta constitui a instân-
direitos intocáveis, que não podem ser simplesmente transferidos cia objetiva que deve pautar qualquer ato, consenso ou lei.
para o Estado. Esta é a visão de J. Locke, para quem o Estado não O Estado democrático não produz os Direitos Humanos através
é o detentor, mas apenas o representante dos direitos do cidadão. do consenso. Ao invés, ele pressupõe esses direitos, deve reconhe-
Como representante, o Estado constitui a única instância legí- cê-los através da Lei, defendê-los e promovê-los com a força estatal.
tima a quem é permitido utilizar da violência para proteger os cida- Na visão da filosofia aqui defendida, o Estado não pode ser reduzido
dãos. O Direito serve ao Estado como instrumento legítimo para tal. a um Estado positivista que produz a lei como “Deus cria o céu e a
Estar fundado na Lei revela-se a característica principal do Estado terra”. A função do Estado consiste, sobretudo, em reconhecer o va-
moderno, ou seja, ele é um Estado de Direito. Estado sem Direito lor da dignidade humana e produzir todos os meios legítimos para
constituiria uma tirania, da mesma forma que o Direito sem a força assegurar que todo homem e mulher cidadãos sejam respeitados e
coercitiva do Estado mostraria sua inutilidade. É nessa conjuntu- se respeitem mutuamente. As funções do Direito e da Política são
ra política que se pode afirmar que o Estado de Direito é a maior complementares à Ética, onde os Direitos Humanos têm sua mora-
garantia do respeito aos Direitos Humanos. Pressuposto para isso da. Em poucas palavras: porque são direitos humanos é que devem
será, sem dúvida, o reconhecimento social e a investidura legal des- se tornar direitos civis e, consequentemente, devem ser defendidos
tes direitos. Somente a partir daí é que eles podem ser defendidos pelo Estado.
e promovidos através da força estatal. No que concerne à forma
de organização estatal, faz-se ainda mister dar uma palavra sobre a Uma estrada difícil, mas necessária
relação entre Direitos Humanos e Democracia.
Os direitos fundamentais da pessoa foram elaborados contra o A discussão sobre os Direitos Humanos não é fácil, nem den-
absolutismo dos reis. tro de um Estado de Direito, muito menos entre Estados com di-
Dessa situação é que surgiram os movimentos democráticos. ferentes organizações políticas. Perguntas teóricas emergem nesse
Isto nos faz pensar que existe uma relação intrínseca entre Demo- debate: o que são Direitos Humanos? Quem são os portadores de
cracia e Direitos Humanos. Seria possível o desrespeito aos Direitos tais direitos?
Humanos numa democracia? Nada mais fácil de responder! Sim, é
possível!
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CONHECIMENTOS

Como fundamentá-los racionalmente? Todas elas exigem diá- Na história da filosofia, a fenomenologia tem três significados
logo e paciência. A finalidade do diálogo é chegar a um reconhe- especiais. Na segunda metade do século XVIII, era sinônimo de
cimento desses direitos e a proteção dos mesmos através da lei e “teoria das aparências”, expressão cunhada pelo filósofo Jean-Hen-
da força do Estado. O papel da reflexão filosófica nesse debate é ri Lambert para distinguir a aparência das coisas do que elas são
fundamental, mesmo se “filosofias” existam em abundância e de em si mesmas. Com Hegel, em Phänomenologie des Geistes (1807;
diferentes matizes. Muitas são as filosofias que, inclusive, negam Fenomenologia do espírito), é uma espécie de lógica do conteúdo e
o que aqui foi elucidado. Para discernir a filosofia mais inteligível e uma introdução à filosofia, história das fases sucessivas, das aproxi-
coerente faz-se necessário testar as bases de seu quadro referencial mações e das oposições pelas quais o espírito se eleva da sensação
teórico. O quadro referencial no qual inserimos aqui a discussão so- individual à razão universal, ou, para usar sua fórmula: “é a ciência
bre a dignidade humana parece ter a vantagem de não poder ser da experiência que faz a consciência”. Foi com Husserl que a palavra
negado pelas outras filosofias sem autocontradição interna. ganhou, nas primeiras décadas do século XX, o significado de que
Além dos entraves puramente teóricos da discussão, reconhe- hoje se reveste, de estudo dos fenômenos em si mesmos, que visa
ce-se a dificuldade em âmbito prático. No Brasil, o debate sobre à evidência primordial, e de denominação de um movimento que
os Direitos Humanos, sobretudo com o atual Programa Nacional influiu de modo significativo no pensamento filosófico dessa época.
de Direitos Humanos (PNDH - 3), vai alcançar níveis cada vez mais
complexos e difíceis, seja porque esta discussão é oferecida a um A fenomenologia husserliana é uma meditação sobre o conheci-
público bem vasto, seja porque muitas vezes é controlada por mino- mento. Considera que aquilo que é dado à consciência é o fenôme-
rias intelectualizadas que procuram inserir seus interesses entre os no (objeto do conhecimento imediato). Esse fenômeno só aparece
direitos humanos. É bom para a democracia que esse debate acon- numa consciência; portanto, é a essa consciência que é preciso in-
teça! É preciso, porém, fazer uma distinção entre o interesse das terrogar, deixando de lado tudo o que lhe é exterior. A consciência,
minorias e o interesse de todos. para Husserl, só pode ser entendida como intencional, isto é, não
Direitos humanos são direitos das pessoas enquanto humanas está fechada em si mesma, mas define-se como uma certa maneira
e, por isso, deveriam ser aplicados a todas as pessoas independen- de perceber o mundo e seus objetos. Mostrar os diversos aspectos
temente de sexo, raça, religião ou nacionalidade. Não poderiam pelos quais a consciência percebe esses objetos e sob os quais eles
ser incluídos na discussão sobre direitos humanos direitos apenas lhe aparecem, o que a sua presença supõe, constitui o estudo e o
privados ou de classes. Direitos humanos são universais e incluem objetivo essencial da fenomenologia.
dentre outros, o direito à vida, à integridade do corpo, à liberdade Para Husserl, portanto, a tarefa da filosofia é a pesquisa, exame
de pensamento-expressão-religião-reunião-ação, direito à privaci- e descrição do fenômeno, como conteúdo da consciência. Trata-se
dade e ao igual tratamento perante o Estado. Esses direitos têm de uma mudança radical de sentido na orientação filosófica, antes
aplicação imediata, como assegura a Constituição brasileira (art. 5º, voltada para as coisas, para o mundo exterior, e que com ele passou
§ 1º), pois são absolutos e ilimitados. Eles não podem ser mitiga- a interessar-se pela consciência, pelo mundo interior. Assim, por
dos, a não ser que haja algum conflito entre eles numa situação exemplo, se alguém vê as folhas de uma palmeira serem agitadas
concreta. pelo vento, essa experiência é, toda ela, um fenômeno interior, que
Nesse caso, serão princípios como os da convivência das liber- se passa essencialmente dentro da consciência. Os objetos exterio-
dades públicas, da razoabilidade e proporcionalidade que poderão res são apenas condições para que se crie a percepção, a vivência
resolver tais conflitos, o que se pode fazer somente em consonância desse fenômeno interior. A fenomenologia se prende, por meio
com a ética e a lei. da atitude reflexiva, nesses fenômenos ou estados da consciência
e prescinde da realidade exterior das coisas, ou como diz Husserl,
coloca-se entre parênteses. É o que ele chama de epokhé, ou seja,
DAS CONTRIBUIÇÕES DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA o ato de liberar a atenção do exterior para que ela se detenha na
PARA A REFLEXÃO SOBRE O SER HUMANO A PARTIR DA análise da vivência ou experiência pura.
FENOMENOLOGIA E DO EXISTENCIALISMO
A fenomenologia é, portanto, uma descrição daquilo que se
mostra por si mesmo, de acordo com o “princípio dos princípios”:
toda intuição primordial é fonte legítima de conhecimento. Situa-
O conhecimento da realidade essencial dos fenômenos e a pos- -se como anterior a toda crença e juízo e despreza todo e qualquer
sibilidade desse conhecimento foi preocupação constante da filo- pressuposto: mundo natural, senso comum, proposição científica
sofia até princípios do século XX, quando a fenomenologia deixou ou experiência psicológica.
de olhar para os elementos exteriores que cercam os fenômenos e
passou a considerá-los em si mesmos, por seu reflexo na consciên- Essa mudança de orientação teve grande importância para a
cia, como única maneira de apreendê-los. filosofia, pois a eximiu de cuidar da explicação do mundo e das coi-
sas. A ciência é que explica o mundo e seus aspectos acessíveis à
Fenomenologia é o estudo dos fenômenos em si mesmos, in- nossa experiência. Ao voltar-se para o conteúdo ou para o fenôme-
dependentemente dos condicionamentos exteriores a eles, cuja no existente na consciência, a fenomenologia encontrou um objeto
finalidade é apreender sua essência, estrutura de sua significação. que a capacita a transformar-se em ciência autêntica, como preten-
É também um método de redução, pelo qual o conhecimento fac- dia seu fundador. Esse conteúdo é antes suscetível de descrição do
tual e as suposições racionais sobre os fenômenos como objeto, e a que de medida. Fazer tal descrição é a tarefa dessa filosofia.
experiência do eu, são postas de lado, para que a intuição pura da
essência do fenômeno possa ser rigorosamente analisada. É o estu-
do dos fenômenos, distinto do estudo do ser, ou ontologia.
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CONHECIMENTOS

Os críticos da obra de Husserl dividem-se em dois grupos prin- dentale Logik (1929) e Erfahrung und Urteil (1939) (Lógica formal e
cipais. De um lado estão os que, como os neokantianos, concordam transcendental e Experiência e Juízo). Globalmente considerados o
em que a fenomenologia se realizou como perspectiva ontológica; caminho seguido pelo pensamento de HUSSERL, pode resumir-se
do outro, os que sustentam que ela significou apenas uma tomada da seguinte maneira: partindo do estudo filosófico da matemática,
de posição epistemológica, como Nicolaio Hartman. Em outras pa- desenvolve primeiramente um método objetivista e intelectual e,
lavras, os que admitem ser ela uma perspectiva do ser, e os que a na aplicação deste método à consciência, desemboca no idealismo.
consideram apenas como uma investigação do conhecer. A influência de HUSSERL opera em várias direções. Em primeiro
lugar, as penetrantes análises de suas Investigações lógicas repre-
Em seus primeiros escritos, Husserl não põe em dúvida a exis- sentam sério golpe no positivismo e no nominalismo, que impera-
tência dos objetos independentemente dos atos mentais. Mais tar- vam no século XIX. Ao mesmo tempo, seu método, que sublinha o
de, introduz a noção problemática de uma redução transcendental conteúdo e a essência do objeto, contribuiu poderosamente para
fenomênica, mediante a qual se descobre o ego (o eu) transcen- a elaboração de um pensamento antikantiano. Sob este aspecto,
dental, diferente do ego fenomênico da consciência ordinária. Em é um dos grandes pioneiros da nova filosofia. Por outro lado, criou
consequência, Husserl passa de um realismo primitivo a uma mo- um método, denominado fenomenológico, aplicado hoje em dia
dalidade de idealismo kantiano. Sua influência foi muito profunda, por grande parte dos filósofos. Além disso, seus trabalhos contém
em especial entre os existencialistas (Martin Heidegger, Jean-Paul tamanha quantidade de análises sutilíssimas e penetrantes que pa-
Sartre, Maurice Merleau-Ponty) que, apesar de se considerarem rece ser mais que duvidoso que esta multidão de conhecimentos
fenomenologistas, preocupavam-se mais com a ação do que com tenha sido aplicada e aproveitada em sua totalidade. Tem-se a im-
o conhecimento. pressão de que a obra de HUSSERL esteja prestes a se converter
Em psicologia, fenomenologia é um método de descrição e aná- numa fonte clássica da filosofia do porvir. HUSSERL foi o fundador
lise desenvolvido a partir da fenomenologia filosófica, aplicado à de uma escola muito numerosa e importante. Mas sua influência
percepção subjetiva dos fenômenos e à consciência, em especial não se confina nesta escola, senão que se estende, como dissemos,
nos campos da psicologia da Gestalt, análise existencial e psiquiá- a toda a filosofia contemporânea.
trica. É claro que não podemos pretender resumir aqui nem sequer
uma só de suas obras riquíssimas de conteúdo. Com maior razão do
Fenomenologia de Edmundo Husserl6 que noutros casos, torna-se mister remeter o leitor para o próprio
texto, especialmente para as Investigações lógicas. Limitamo-nos a
Edmund Husserl (1859-1938) que, juntamente com BERGSON, dar uma vista de conjunto muito sumária do método de HUSSERL,
exerceu e continua ainda exercendo a influência mais profunda e de sua teoria da lógica e do caminho por onde ele chegou ao
duradoura sobre o pensamento contemporâneo, foi discípulo de idealismo.
BRENTANO. Estudou também com o psicólogo CARL STUMPF (1848-
1936). Desenvolveu sua atividade acadêmica nas universidades de Intencionalidade e Idealismo
Halle, Goettingen e Friburgo de Brisgóvia. Trabalhador infatigável, A redução transcendental é a aplicação do método fenomeno-
aliava uma extraordinária capacidade de análise a uma rara pene- lógico ao próprio sujeito e a seus atos. HUSSERL já tinha afirma-
tração de espírito. Sua obra, muito extensa, é de leitura extrema- do anteriormente que o domínio da fenomenologia precisava ser
mente difícil, não por deficiências de linguagem, senão por causa da constituído com diferentes regiões do ser. Uma destas regiões do
aridez do assunto. Como escritor de filosofia, é modelo de precisão ser, região característica, é a consciência pura. Chega-se a esta cons-
e, neste particular, faz recordar Aristóteles. Quanto ao seu sistema, ciência pura mediante o muito importante conceito de intenciona-
depende, em parte, de BRENTANO e de STUMPF e, indiretamente, lidade, que HUSSERL recebeu de BRENTANO e, mediatamente, da
através do primeiro, da escolástica. Nota-se, outrossim, nele, uma escolástica. Entre as vivências sobressaem algumas que possuem a
certa influência neokantiana. propriedade essencial de ser vivências de um objeto. Estas vivências
HUSSERL começou sua carreira com trabalhos matemáti- recebem o nome de “vivências intencionais” (intentionale Erlebnis-
cos. Foi então que publicou o primeiro volume de sua importan- se), e na medida em que são consciência (amor, apreciação, etc.) de
te  Philosophie der Arithmetik, obra que não prefigura por forma alguma coisa, diz-se que tem uma “relação intencional” com esta
nenhuma o caminho por onde sua filosofia iria enveredar. Nos coisa. Aplicando agora a redução fenomenológica a estas vivências
anos 1900-1901 apareceu sua obra principal,  Logische Untersu- intencionais, chegamos, por um lado, a captar a consciência como
chungen  (Investigações lógicas), na qual dirige a atenção para os um puro centro de referência da intencionalidade, ao qual o objeto
fundamentos da lógica. Esta obra monumental divide-se em duas intencional é dado, e, por outro lado, chegamos a um objeto que,
partes: a primeira, os Prolegomena zur reinen Logik (Prolegômenos depois da redução, não tem outra existência senão a de ser dado
à lógica pura), contém uma crítica do psicologismo e do relativismo, intencionalmente a este sujeito. Na própria vivência, considera-se o
de um ponto de vista intelectualista e objetivista, ao passo que a ato puro, que parece ser, simplesmente, a referência intencional da
segunda mostra a aplicação dos princípios enunciados na pri- consciência pura ao objeto intencional.
meira a alguns problemas particulares da filosofia da lógica. Deste modo a fenomenologia se converte na ciência da essência
Em 1913, HUSSERL, publica suas  Ideen zu einer reinen Phäno- das vivências puras. A realidade inteira aparece como corrente das
menologie  (Ideias relativas a uma fenomenologia pura). Aqui a vivências concebidas como atos puros. É mister advertir insistente-
fenomenologia converte-se numa “filosofia primeira” e aplica-se mente que esta corrente nada tem em si de psíquico, que por con-
ao estudo do conhecimento em geral, tornando-se já patentes seguinte se trata unicamente de puras estruturas ideais; portanto, a
as conclusões idealistas. Estas conclusões encontram seu pleno consciência pura (que no estado de atualização se chama “cogito“)
desenvolvimento nos dois livros seguintes: Formale und Transzen- não é um sujeito real, nem seus atos são mais do que relações me-
6 J. M. Bochenski. A Fenomenologia de Edmund Hussearl. http://twixar.me/sKrn ramente intencionais, e o objeto não é mais do que um ser dado a
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CONHECIMENTOS

este sujeito lógico. HUSSERL opera ainda na corrente das vivências Um tema abordado por Sartre é bem interessante, o desam-
uma distinção entre a  hylé  (matéria) e a  morphé  (forma) visada. paro. Somos livres, escolhemos, temos a angústia de escolher e o
Chama “noese” àquilo que configura a matéria em vivencias inten- desespero de perder tudo. Mas, também estamos desamparados,
cionais, e “noema” à multiplicidade dos dados que se podem mos- isto é, não temos muletas, desculpas ou a quem culpar por nossas
trar na intuição pura. No caso de uma árvore, por exemplo, distin- escolhas.
guimos o sentido da percepção da árvore (seu noema) e o sentido Com isto, o existencialismo é o conjunto de ideias que coloca
da percepção como tal (noese); de igual modo, distingue-se no juízo no ser humano a responsabilidade por se construir e por seus atos.
o enunciado do juízo (isto é, a essência dêste enunciado, a noese do Não há desculpas e justificativas para nossas ações. O que somos ou
juízo) e o juízo enunciado (o poema do juízo). Este último poderia o que fazemos não é produto de nossa infância, de nossa criação,
ser denominado “proposição em sentido puramente lógico”, se do destino ou da divindade. Estamos sozinhos, lançados no mundo,
o noema não contivesse, além de sua forma lógica, uma essência para nos inventar, pois não há nada anterior à nossa existência para
material. definir o que somos.

O existencialismo é o nome dado à corrente filosófica iniciada no


séc. XIX pelo filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard (1813-1855). QUESTÕES
Como o próprio nome diz, o conjunto de doutrinas existencialistas
tem foco na existência, isto é, na condição de existência humana.
O termo “existencialismo” foi cunhado somente no século XX 1.(VUNESP - 2018 - Professor de Educação Básica I)
por Gabriel Marcel, filósofo francês, em meados de 1940. O existen- Fundamentos sócio-filosóficos são a base para o entendimento
cialismo francês do pós-guerra ficou popularizado em razão da obra da educação na sociedade, de forma crítica, construída através da
de Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus. reflexão, da pesquisa, da observação [...] Para o professor/educa-
O tema da existência humana foi trabalhado por diversos pen- dor, é fundamental filosofar sobre sua prática, pensar sobre o seu
sadores, mas é Kierkegaard que faz das perguntas existenciais o fazer pedagógico diário, buscar respostas para as dificuldades e
foco de sua pesquisa filosófica. Escreveu sobre a aparente falta de para as conquistas do dia-a-dia. (Queiroz; Moita, 2007)
sentido da vida, da busca de sair desse tédio existencial e sobre a
realização de escolhas livres. Assim, o homem, em sua liberdade,
E o que é filosofar? De acordo com as autoras, filosofar é
escolhe para definir sua natureza.
(A) construir ideias próprias sobre questões ainda não pensa-
Influenciado por Kierkegaard, o filósofo alemão Martin Hei-
das.
degger (1889-1976) desenvolveu sua ideia de Dasein. Para ele,
(B) desenvolver a capacidade de abstrair a realidade que nos
o homem não é um ser abstrato ou uma substância, mas uma
cerca.
existência presente, um Dasein (do alemão: Ser-aí).
(C) assumir uma postura metafísica diante dos problemas co-
O auge do pensamento existencialista ocorre na França, com
tidianos.
Jean-Paul Sartre (1905-1980), filósofo francês, e Albert Camus
(D) conhecer as principais ideias filosóficas da história da hu-
(1913-1960), filósofo argelino, que popularizaram o termo e as
manidade.
ideias escrevendo, além de textos teóricos, romances e peças de
(E) colocar tudo como objeto a ser refletido, perguntar sobre
teatro. Essa força nos anos pós-guerra tem muito a ver com a recu-
tudo.
peração de conceitos como liberdade e individualidade.
O pensamento existencialista defende, em primeiro lugar, que
2.(VUNESP - 2012 - Orientador de Disciplina (FUNDUNESP)
a existência vem antes da essência. Significa que não existe uma
essência humana que determine o homem, mas que ele constitui A Ciência é conceituada pela maioria dos filósofos da ciência
a sua essência na sua existência. Esta construção da essência se dá como um conhecimento aberto. Isto porque
a partir das escolhas feitas, visto que o homem é livre. Nessa con- (A) aceita explicações dos fatos por meio de teorias concorren-
dição na qual o homem existe e sua vida é um projeto, ele terá de tes entre si.
escolher o que quer ser e efetivar sua vontade agindo, isto é, esco- (B) substitui explicações de teorias antigas por explicações de
lhendo. teorias novas.
Se a condição humana é esta, então o homem vive numa angús- (C) atua para reforçar as explicações segundo as teorias vigen-
tia existencial. Ter de escolher a todo instante é angustiante, pois tes.
cada escolha irá refletir diretamente no que se é. A angústia é o re- (D) faz a incorporação das teorias antigas pelas novas.
flexo da liberdade humana, dessa ampla possibilidade de escolher (E) explica os fatos de maneira definitiva.
e ser responsável por cada escolha.
Outra característica da condição humana é o desespero. Aquilo
que nos torna quem somos pode ser perdido e nos deixar em de-
sespero. Um atleta que sofre um acidente e fica incapacitado de
competir certamente entraria em desespero. Porém, toda existên-
cia humana está em desespero, pois o homem precisa de coisas
externas, que ele não controla, para se sentir quem ele é. Assim,
mesmo vivendo sem o desespero, o homem está vivendo num
constante desespero.

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CONHECIMENTOS

3.(VUNESP - 2012 - Orientador de Disciplina (FUNDUNESP) 6.(VUNESP - 2012 - Orientador de Disciplina (FUNDUNESP)
Na ordem do tempo, nenhum conhecimento precede em nós a Cada pessoa possui uma inviolabilidade fundada na justiça que
experiência e é com esta que todo o conhecimento tem o seu início. nem o bem-estar de toda a sociedade pode desconsiderar. Por isso,
Se, porém, todo o conhecimento se inicia com a experiência, isso a justiça nega que a perda da liberdade de alguns se justifique por
não prova que todo ele derive da experiência. um bem maior desfrutado por outros. Não permite que os sacrifí-
(Immanuel Kant, Crítica da razão pura) cios impostos a poucos sejam contrabalançados pelo número maior
de vantagens de que desfrutam muitos.
Nesse texto, Kant assinala a diferença entre o empirismo e o (John Rawls, Uma teoria da justiça)
criticismo. O criticismo kantiano pode ser definido como
A tese exposta no excerto impõe limites à ação política que
(A) uma teoria empirista do conhecimento, segundo a qual possa interferir na vida dos indivíduos. Tal concepção de justiça
todo conhecimento é derivado da experiência. prioriza sobretudo
(B) uma abordagem dialética da realidade em que a história é (A) o direito do governante de agir de acordo com o bem co-
levada em conta no processo de aquisição do conhecimento. mum.
(C) Uma compreensão materialista da história para a qual as (B) a liberdade individual de cada cidadão.
relações de produção determinam o conhecimento. (C) princípios relativos a uma determinada época.
(D) Uma teoria crítica da razão em que se analisam as condi- (D) os valores religiosos das diversas comunidades.
ções que tornam possível o conhecimento. (E) as normas às quais os indivíduos não estão submetidos.
(E) Um idealismo absoluto, de acordo com o qual a razão é ca-
paz de conhecer toda a realidade sem recorrer à experiência 7.(VUNESP - 2012 - Orientador de Disciplina (FUNDUNESP)
sensível. A extrema desigualdade na maneira de viver; o excesso de
ociosidade de uns; o excesso de trabalho de outros; a facilidade de
irritar e de satisfazer nossos apetites e nossa sensualidade; os ali-
4.(VUNESP - 2012 - Orientador de Disciplina (FUNDUNESP) mentos muito rebuscados dos ricos, que os nutrem com sucos abra-
Se houvesse apenas um conjunto de problemas científicos, um sadores e que determinam tantas indigestões; a má alimentação
único mundo no qual ocupar-se deles e um único conjunto de pa- dos pobres, que frequentemente lhes falta e cuja carência faz que
drões científicos para sua solução, a competição entre paradigmas sobrecarreguem, quando possível, avidamente seu estômago; as vi-
poderia ser resolvida de uma forma mais ou menos rotineira, em- gílias, os excessos de toda sorte; os transportes imoderados de to-
pregando-se algum processo como o de contar o número de proble- das as paixões; as fadigas e o esgotamento do espírito, as tristezas e
mas resolvidos por cada um deles. Mas, na realidade, tais condições os trabalhos sem-número pelos quais se passa em todos os estados
nunca são completamente satisfeitas. Aqueles que propõem os pa- e pelos quais as almas são perpetuamente corroídas – são, todos,
radigmas em competição estão sempre em desentendimento, mes- indícios funestos de que a maioria de nossos males é obra nossa e
mo que em pequena escala. (...) A competição entre paradigmas que teríamos evitado quase todos se tivéssemos conservado a ma-
não é o tipo de batalha que possa ser resolvido por meio de provas. neira simples, uniforme e solitária de viver prescrita pela natureza.
(Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas) (Jean Jacques Rousseau, Discurso sobre a origem da desigualdade –
primeira parte)
A partir do texto, assinale a alternativa correta.
(A) Para Thomas Kuhn, as revoluções científicas são simples. Segundo o trecho, o fim da felicidade e da inocência naturais
(B) O autor afirma o caráter irrefutável das verdades científicas. do homem teve origem
(C) Thomas Kuhn explica a incomensurabilidade dos paradig- (A) no abandono da simplicidade natural.
mas científicos. (B) na maldade natural do homem anterior ao pacto social.
(D) Thomas Kuhn defende o falsificacionismo de Popper. (C) na ignorância do homem no estado de natureza.
(E) Para Thomas Kuhn, o anarquismo teórico é o melhor méto- (D) na luta de classes ao longo da história.
do científico.
(E) no livre arbítrio de Adão que ocasionou o pecado original.
5.(VUNESP - 2012 - Orientador de Disciplina (FUNDUNESP)
8.(VUNESP - 2012 - Orientador de Disciplina (FUNDUNESP)
A ideia de que a ciência é um conhecimento eficaz, isto é, per-
Em uma sociedade democrática moderna, pode-se afirmar que
mite ao homem dominar e transformar o mundo,
(A) o contrapoder social é evitado.
(A) encontra-se presente já nos filósofos pré-socráticos, em es-
(B) os interesses individuais são atendidos.
pecial Tales de Mileto, com sua cosmologia.
(C) o poder se identifica com os ocupantes do governo.
(B) contrapõe-se à concepção de Kant, para quem a ciência
(D) a participação dos cidadãos no poder é direta.
seria um conhecimento demonstrativo.
(C) é o cerne da discussão de Theodor Adorno e Karl Popper, na (E) o conflito é considerado legítimo e legal.
obra Dialética do Esclarecimento.
(D) surge entre o final do Renascimento e o início da Filosofia
Moderna, com Francis Bacon, Galileu e Descartes.
(E) inicia-se no século XX, com a concepção construtivista, a
qual busca modelos explicativos para a realidade.

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CONHECIMENTOS

9.(VUNESP - 2022 - Vestibular (UNESP)/”2023”) 12. (VUNESP - 2021 - Vestibular (UNESP)/”2022”)


O lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências dis- As certezas do homem comum, as verdades comuns da experi-
tintas e outras perspectivas. A teoria do ponto de vista feminista e ência cotidiana, os filósofos vivem-nas, por certo, e não as negam,
lugar de fala nos faz refutar uma visão universal de mulher e de negri- enquanto homens. Mas, enquanto filósofos, não as assumem. Nes-
tude, e outras identidades, assim como faz com que homens brancos, se sentido em que as desqualificam, pode-se dizer que as recusam.
que se pensam universais, se racializem, entendam o que significa ser Desqualificação teórica, recusa filosófica, empreendidas em nome
branco como metáfora do poder. da racionalidade que postulam para a filosofia. Assim é que boa
(Djamila Ribeiro. O que é: lugar de fala?, 2017. Adaptado.) parte das filosofias opta por esquecer “metodologicamente” a visão
comum do Mundo, recusando-se a integrá-la ao seu saber racional
O excerto aborda um conceito que propõe uma nova perspec- e teórico. Não podendo furtar-se, enquanto homens, à experiência
tiva de análise filosófica, sobretudo em relação do Mundo, não o reconhecem como filósofos. O Mundo não é, para
(A) ao estabelecimento de uma ética pluralista. eles, o universo reconhecido de seus discursos. Desconsiderando
(B) à recusa de instituições políticas. filosoficamente as verdades cotidianas, o bom senso, o senso co-
(C) ao reconhecimento de um eurocentrismo epistêmico. mum, instauram de fato o dualismo do prático e do teórico, da vida
(D) à negação de hierarquias sociais. e da razão filosófica. Instauram, consciente e propositadamente, o
(E) à reconstrução de discursos representativos. divórcio entre o homem comum que são e o filósofo que querem
ser.
10. (VUNESP - 2022 - Vestibular (UNESP)/”2023”) (Oswaldo Porchat Pereira. Rumo ao ceticismo, 2007. Adaptado.)
O homem que não tem a menor noção da filosofia caminha
pela vida afora preso a preconceitos derivados do senso comum, das O “divórcio” entre o homem comum e o filósofo, segundo o
crenças habituais da sua época e do seu país, e das convicções que autor, ocorre em função da
cresceram na sua mente sem a cooperação ou o consentimento de- (A) negação do homem comum em entender a realidade.
liberado de sua razão. Para tal homem, o mundo tende a tornar-se (B) restrição do saber comum no fazer filosófico.
finito, definido, óbvio. Ao contrário, quando começamos a filosofar, (C) diferença de mundos que buscam compreender.
imediatamente nos damos conta de que mesmo as coisas mais vul- (D) falta de correspondência factual do saber comum.
gares levantam problemas para os quais só podemos dar respostas (E) proposição de respostas necessariamente divergentes.
muito incompletas. A filosofia livra-nos da tirania do hábito.
(Bertrand Russell. Os problemas da filosofia, 1972. Adaptado.) 13. (VUNESP - 2021 - Vestibular (UNESP)/”2022”)
A Ecologia Profunda é um conceito filosófico que considera que
De acordo com o filósofo Bertrand Russell nesse excerto, o en- todos os elementos vivos da natureza devem ser respeitados, assim
frentamento da “tirania do hábito” pela filosofia contribui para como deve ser garantido o equilíbrio da biosfera. O termo surgiu em
(A) o descarte dos fundamentos da cosmogonia. 1972, com o filósofo e ambientalista norueguês Arne Naess (1912-
(B) o estabelecimento do ceticismo absoluto. 2009). Ele distinguiu as correntes ambientais entre movimentos
(C) a rejeição dos saberes tradicionais. rasos e movimentos profundos. Os movimentos rasos limitam-se
(D) a expansão das bases do conhecimento. a tentar minimizar os problemas ambientais e garantir o enriqueci-
(E) a reprodução do discurso científico. mento das sucessivas gerações humanas, enquanto a Ecologia Pro-
funda vai na raiz dos problemas ambientais e defende os direitos de
11. (VUNESP - 2021 - Vestibular (UNESP)/”2021”) toda a comunidade biótica.
A filosofia não é mais um porto seguro, mas não é, tampouco, (José E. D. Alves. “Os oito princípios da ecologia profunda”.
um continente de ideias esquecidas que merece ser visitado apenas www.ecodebate.com.br, 05.06.2017. Adaptado.)
por curiosidade. Muitas pessoas supõem que a ciência e a tecnolo-
gia, especialmente a física e a neurociência, engolirão a filosofia nas A partir do texto, o aspecto filosófico de “Ecologia Profunda”
próximas décadas, sem saberem que, ao defender esse ponto de vis- implica uma mudança de conduta, pois requer a
ta, estão implicitamente apoiando uma posição filosófica discutível. (A) criação de um novo paradigma na relação entre ser humano
Certamente, muitas questões da filosofia contemporânea passaram e natureza.
a ser discutidas pelas ciências. Mas há outras, no campo da ética, da (B) mobilização social em torno de campanhas por economia
política e da religião, cuja discussão ainda engatinha e para as quais a verde.
ciência não tem, até agora, fornecido nenhuma solução. (C) revisão da dependência das tecnologias de produção.
(João de Fernandes Teixeira. Por que estudar filosofia?, 2016.) (D) transformação dos acordos multilaterais entre diferentes
nações.
De acordo com o texto, a filosofia (E) manutenção dos impactos da crise ambiental.
(A) mostra-se incapaz de lidar com os dilemas das ciências.
(B) contribui para os questionamentos e debates científicos.
(C) impede o progresso científico e tecnológico.
(D) evita desenvolver pesquisas e estudos em parceria com
cientistas.
(E) pretende oferecer respostas absolutas aos problemas da
ciência.

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CONHECIMENTOS

14. (VUNESP - 2018 - Aluno-Oficial (PM SP) (D) produz um pensamento para o qual a aparência das coisas
A concepção de direitos humanos tem sido alvo de muitas é igual à sua essência.
controvérsias em nosso país nos últimos anos, embora o Brasil seja (E) a filosofia é um conhecimento abstrato incapaz de induzir
signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essa de- transformações sociais.
claração, aprovada pela ONU em 1948, tem como um de seus ob-
jetivos propiciar “[...] o advento de um mundo em que mulheres e 17. (VUNESP - 2011 - Vestibular (UNESP)
homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de Num mundo onde cresce sem parar a compulsão para obrigar
viverem a salvo dotemor e da necessidade, a mais alta aspiração do as pessoas a levar uma vida “correta” no maior número possível
ser humano comum.” das atividades que formam o seu dia a dia, a mesa tornou-se uma
(Declaração Universal dos Direitos Humanos. das áreas que mais atraem a atenção dos gendarmes empenhados
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10133. em arbitrar o que é realmente bom para você. É uma provação
htm, Adaptada) permanente. Médicos, nutricionistas, personal trainers, editores e
editoras de revistas dedicadas à forma física, ambientalistas, mili-
O compromisso assumido pelo Brasil como signatário da Decla- tantes da produção orgânica, burocratas, chefs de cozinha, críticos
ração Universal dos Direitos Humanos implica que de restaurantes e mais uma multidão de diletantes prontos a dar
(A) as forças nacionais de segurança têm a obrigação legal de testemunho expedem decretos cada vez mais frequentes, e cada
respeitar os direitos humanos. vez mais severos, sobre os deveres do cidadão na hora de comer. O
(B) a declaração não se aplica diretamente no Brasil por se tra- fato é que toda essa gente, quase sempre com as melhores inten-
tar de tratado internacional. ções, acabou construindo um crescente sistema de ansiedade em
(C) a obrigação de respeitar os direitos humanos não se aplica torno do pão nosso de cada dia – e o resultado é que o prazer de
nas ações da Polícia Militar. comer bem vai sendo substituído pela obrigação de comer certo.
(D) as empresas de segurança privada não são obrigadas a res- Modelos, atrizes e outras pessoas que precisam pesar pouco para
peitar os direitos humanos. fazer sucesso chegam aos 30 anos de idade, ou mais, praticamente
(E) as polícias estaduais Militar e Civil devem respeitar apenas a sem ter feito uma única refeição decente na vida. Propõe-se, como
legislação de seu Estado. virtude alimentar, um mundo sombrio de pastas, mingaus, poções,
soros de proteína e sabe-se lá o que ainda vem pela frente. Não está
claro o que se ganha em toda essa história. A perspectiva de morrer,
um dia, no peso ideal?
15. (VUNESP - 2017 - Aluno-Oficial (PM SP) (J. R. Guzzo. Veja, 09.06.2010. Adaptado.)
A que campos da filosofia correspondem, respectivamente, os Sob o ponto de vista filosófico, podemos afirmar que, para o
seguintes objetos: o verdadeiro, o belo e o justo? autor,
(A) Ética, epistemologia e estética.
(B) Política, estética e metafísica. (A) é positiva a adoção de procedimentos científicos no campo
(C) Ética, moral e estética. nutricional.
(D) Política, filosofia da linguagem e estética. (B) o tema da qualidade de vida deve ser enfocado sob crité-
(E) Epistemologia, estética e ética. rios morais.
(C) os padrões hegemônicos vigentes na sociedade atual no
16. (VUNESP - 2016 - Aluno-Oficial (PM SP) campo da nutrição são elogiáveis.
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso co- (D) a felicidade depende do número de calorias ingeridas pelo
mum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias domi- ser humano.
nantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender (E) a autonomia individual deveria ser o critério para definir os
a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer parâmetros de uma vida adequada.
o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política
for útil; se dar a cada um denós e à nossa sociedade os meios para 18. (VUNESP - 2019 - Vestibular (UNESP)/”2020”)
serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja Em 4 de julho de 2012, foi detectada uma nova partícula, que
a liberdadee a felicidade para todos for útil, então podemos dizer pode ser o bóson de Higgs. Trata-se de uma partícula elementar
que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres proposta pelo físico teórico Peter Higgs, e que validaria a teoria do
humanos são capazes. modelo padrão, segundo a qual o bóson de Higgs seria a partícu-
(Marilena Chauí, Convite à Filosofia) la elementar responsável pela origem da massa de todas as outras
partículas elementares.
Sobre o método filosófico, é correto afirmar que (Jean Júnio M. Pimenta et al. “O bóson de Higgs”. In: Revista brasileira
(A) a utilidade da filosofia relaciona-se com horizontes éticos e de ensino de física, vol. 35, no 2, 2013. Adaptado.)
críticos sobre a realidade.
(B) proporciona conhecimentos politicamente neutros e cien- O que se descreve no texto possui relação com o conceito de
tificamente objetivos. arqué, desenvolvido pelos primeiros pensadores pré-socráticos da
(C) a reflexão filosófica tem por objetivo reproduzir os precon- Jônia. A arqué diz respeito
ceitos do senso comum. (A) à retórica utilizada pelos sofistas para convencimento dos
cidadãos na pólis.

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CONHECIMENTOS

(B) a uma explicação da origem do cosmos fundamentada em


pressupostos mitológicos. GABARITO
(C) à investigação sobre a constituição do cosmos por meio de
um princípio fundamental da natureza.
(D) ao desenvolvimento da lógica formal como habilidade de
raciocínio. 1 E
(E) à justificação ética das ações na busca pelo entendimento 2 B
sobre o bem.
3 D
19. (VUNESP - 2018 - Vestibular (UNESP) 4 C
O aparecimento da filosofia na Grécia não foi um fato isolado. 5 D
Estava ligado ao nascimento da pólis.
(Marcelo Rede. A Grécia Antiga, 2012.) 6 B
7 A
A relação entre os surgimentos da filosofia e da pólis na Grécia 8 E
Antiga é explicada, entre outros fatores,
(A) pelo interesse dos mercadores em estruturar o mercado fi- 9 E
nanceiro das grandes cidades. 10 D
(B) pelo esforço dos legisladores em justificar e legitimar o po-
der divino dos reis. 11 B
(C) pela rejeição da população urbana à persistência do pensa- 12 B
mento mítico de origem rural.
13 A
(D) pela preocupação dos pensadores em refletir sobre a orga-
nização da vida na cidade. 14 A
(E) pela resistência dos grupos nacionalistas às invasões e ao 15 E
expansionismo estrangeiro.
16 A
17 E
18 C
20. (VUNESP - 2021 - Vestibular (UNESP)/”2021”) 19 D
20 C
A crítica de Sócrates aos sofistas consiste em mostrar que o
ensinamento sofístico limita-se a uma mera técnica ou habilidade
argumentativa que visa a convencer o oponente daquilo que se diz,
mas não leva ao verdadeiro conhecimento. A consequência disso ANOTAÇÕES
era que, devido à influência dos sofistas, as decisões políticas na
Assembleia estavam sendo tomadas não com base em um saber,
ou na posição dos mais sábios, mas na dos mais hábeis em retórica, ______________________________________________________
que poderiam não ser os mais sábios ou virtuosos.
(Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2010.)
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De acordo com o texto, a crítica socrática aos sofistas dizia res-
peito ______________________________________________________
(A) ao entendimento de que o verdadeiro conhecimento base-
ava- se no exercício da retórica. ______________________________________________________
(B) à desvalorização da pluralidade de opiniões e de posiciona-
mentos político-ideológicos. ______________________________________________________
(C) ao prevalecimento das técnicas discursivas nas decisões da
Assembleia acerca dos rumos das cidades-Estado. ______________________________________________________
(D) ao predomínio de líderes pouco sábios e com poucas virtu- ______________________________________________________
des na composição da Assembleia.
(E) à defesa de formas tirânicas de exercício do poder desenvol- ______________________________________________________
vida pela retórica convincente.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS

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BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS

ALBORNOZ, SUZANA. DO QUE SE TEM PENSADO SOBRE CAMARGO, DIÓGENES RAFAEL DE; SILVESTRI, KÁTIA
O TRABALHO. IN: O QUE É TRABALHO. 6. ED. SÃO PAU- VANESSA TARANTINI. AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE
LO: BRASILIENSE, 2014. P. 43-77 NATUREZA NA SOCIEDADE OCIDENTAL: DA PHYSIS AO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. FILOSOFIA E HIS-
TÓRIA DA BIOLOGIA, SÃO PAULO, V. 16, N. 1, P. 59-85,
O livro “O que é trabalho”, organizado por Suzana Albornoz, 2021
apresenta uma coletânea de textos que abordam de forma ampla
e profunda as diferentes perspectivas sobre o trabalho. Publicado
em sua 6ª edição em 2014, o livro tem como objetivo explorar os O artigo “As Diferentes Concepções de Natureza na Sociedade
principais debates e reflexões acerca desse tema central na vida das Ocidental: Da Physis ao Desenvolvimento Sustentável”, escrito por
pessoas e na sociedade. D.R.D. Camargo e K.V.T. Silvestri, foi publicado na revista “Filosofia
Um dos capítulos destacados é intitulado “Do que se tem pen- e História da Biologia” em 2021. O artigo aborda as diversas con-
sado sobre o trabalho”, de autoria da própria Suzana Albornoz. cepções de natureza ao longo da história da sociedade ocidental,
Nesse texto, a autora explora diversas abordagens teóricas e con- desde a concepção grega antiga até a perspectiva contemporânea
ceituais sobre o trabalho, oferecendo uma visão panorâmica das do desenvolvimento sustentável.
principais correntes de pensamento que permeiam esse campo de Um dos principais temas explorados no artigo é a concepção
estudo. de natureza na filosofia grega antiga. Os autores discutem como os
Ao longo do capítulo, Albornoz discute questões como a evolu- filósofos pré-socráticos, como Tales de Mileto e Heráclito, conce-
ção histórica do conceito de trabalho, as transformações no mundo biam a natureza como uma força primordial (physis) em constante
do trabalho ao longo do tempo, as relações entre trabalho e identi- transformação. Eles exploram as diferentes visões desses filósofos
dade, bem como a relação entre trabalho e subjetividade. A autora sobre a origem e a natureza do universo, bem como seu impacto
também aborda diferentes perspectivas teóricas, como o marxis- nas concepções posteriores de natureza.
mo, o funcionalismo, o taylorismo e o fordismo, o pensamento hu- Outro aspecto abordado é a mudança na concepção de nature-
manista e as teorias contemporâneas sobre o trabalho. za na modernidade. Os autores discutem como a ciência moderna,
A importância desse capítulo e do livro como um todo reside na influenciada por pensadores como René Descartes e Francis Bacon,
sua capacidade de fornecer uma visão abrangente e crítica sobre o passou a conceber a natureza como um objeto a ser dominado e
trabalho. Ao explorar diferentes perspectivas e teorias, o texto de explorado pelo ser humano. Eles analisam como essa visão instru-
Albornoz convida os leitores a refletirem sobre as múltiplas dimen- mental da natureza contribuiu para a exploração desenfreada dos
sões do trabalho, suas implicações sociais, econômicas e culturais, recursos naturais e para a crise ambiental que enfrentamos atual-
e os desafios enfrentados pelas pessoas no mundo contemporâneo. mente.
O estudo e a compreensão do trabalho são de fundamental Além disso, o artigo explora a perspectiva contemporânea do
importância, uma vez que ele desempenha um papel central na desenvolvimento sustentável. Os autores discutem como a preocu-
vida das pessoas e na organização da sociedade. Compreender as pação com a preservação e a conservação da natureza tem levado
diversas abordagens teóricas e reflexões sobre o trabalho permite a uma nova concepção de relação entre ser humano e ambiente.
uma análise crítica das relações trabalhistas, das transformações Eles exploram os princípios do desenvolvimento sustentável, que
do mundo do trabalho e das questões relacionadas à justiça social, buscam conciliar as necessidades humanas com a proteção e a con-
equidade e qualidade de vida. servação dos recursos naturais, promovendo a harmonia entre so-
Dessa forma, o capítulo “Do que se tem pensado sobre o tra- ciedade e natureza.
balho”, presente no livro “O que é trabalho”, contribui para ampliar É fundamental destacar a relevância desse artigo para compre-
o conhecimento sobre esse tema complexo e multifacetado. Ao ex- endermos as diferentes concepções de natureza ao longo da histó-
plorar diferentes perspectivas teóricas e oferecer uma visão crítica, ria e refletirmos sobre a nossa relação atual com o ambiente natu-
Suzana Albornoz estimula os leitores a refletirem sobre o significa- ral. O texto oferece uma análise crítica e abrangente das mudanças
do e o impacto do trabalho em suas vidas e na sociedade como um de concepção de natureza na sociedade ocidental e incentiva os
todo. leitores a buscar o artigo completo, “As Diferentes Concepções de
Natureza na Sociedade Ocidental: Da Physis ao Desenvolvimento
Sustentável”, na revista “Filosofia e História da Biologia”, para apro-
fundar seu conhecimento sobre o tema e explorar outras perspecti-
vas apresentadas pelos autores.

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a solução para o seu concurso!
BIBLIOGRAFIA LIVROS E ARTIGOS

Nesse livro, Culleton analisa os diferentes aspectos da justiça,


CHAUÍ. MARILENA. BOAS-VINDAS À FILOSOFIA. SÃO desde sua definição filosófica até sua aplicação prática nas institui-
PAULO: WMF MARTINS FONTES, 2010 ções jurídicas. Ele explora teorias éticas e morais que fundamentam
os princípios de justiça, bem como os desafios e dilemas enfrenta-
dos no sistema judiciário.
“Boas-vindas à Filosofia”, escrito por Marilena Chaui e publica- Entre os principais temas abordados em “A Justiça e o Direito”
do pela editora WMF Martins Fontes em 2010, é uma obra introdu- estão:
tória que apresenta os principais conceitos e temas da filosofia de
forma acessível e didática. O livro tem como objetivo proporcionar • Conceitos de justiça: O autor discute as diferentes perspec-
aos leitores uma introdução ao pensamento filosófico, explorando tivas de justiça, como a justiça distributiva, a justiça retributiva e a
suas questões fundamentais e convidando-os a refletir sobre diver- justiça social, explorando suas implicações éticas e filosóficas.
sos aspectos da existência humana.
Nessa obra, Chaui aborda os conceitos filosóficos de maneira • Teorias da justiça: Culleton apresenta e analisa teorias clás-
clara e objetiva, buscando estabelecer uma conexão entre o pensa- sicas e contemporâneas da justiça, como as teorias de John Rawls,
mento filosófico e a vida cotidiana. A autora explora temas como a Robert Nozick e Amartya Sen, oferecendo uma compreensão mais
natureza do conhecimento, a ética, a política, a estética e a filosofia aprofundada dos debates nessa área.
da ciência, entre outros, oferecendo uma visão panorâmica da his-
tória da filosofia e suas principais correntes de pensamento. • Função e papel do sistema jurídico: O autor explora a relação
Entre os principais temas abordados em “Boas-vindas à Filoso- entre a justiça e o direito, discutindo o papel dos tribunais, a aplica-
fia” estão: ção das leis e os princípios de equidade no sistema jurídico.

• O que é filosofia: A autora apresenta uma reflexão sobre a na- • Desafios e dilemas da justiça: São abordadas questões con-
tureza da filosofia, sua origem, sua importância e sua relação com temporâneas e complexas relacionadas à justiça, como a punição
outras áreas do conhecimento. criminal, a igualdade de acesso à justiça e os conflitos entre direitos
individuais e bem comum.
• Questões epistemológicas: São abordadas as principais teo-
rias do conhecimento, incluindo o racionalismo, o empirismo e o “A Justiça e o Direito” é uma obra essencial para estudantes,
criticismo, bem como a relação entre a filosofia e a ciência. profissionais do direito e qualquer pessoa interessada em compre-
ender os fundamentos e as questões éticas envolvidas na busca
• Ética e moral: São exploradas as principais correntes éticas, pela justiça na sociedade. O livro provoca reflexões críticas e ofe-
como o utilitarismo, o deontologismo e o relativismo moral, além rece insights valiosos sobre o sistema jurídico e sua relação com a
de reflexões sobre a ética na vida cotidiana. noção de justiça.

• Política e sociedade: A autora analisa as diferentes teorias


políticas ao longo da história, discutindo conceitos como poder, jus- GIACOIA JUNIOR, OSWALDO. HANS JONAS: PORQUE A
tiça, democracia e cidadania. TÉCNICA MODERNA É UM OBJETO PARA A ÉTICA. NA-
TUREZA HUMANA, SÃO PAULO, V. 1, N. 2, P. 407-420,
• Estética: São apresentadas reflexões sobre a natureza da arte DEZ. 1999
e do belo, bem como a relação entre estética e filosofia.

“Boas-vindas à Filosofia” é uma obra recomendada tanto para O artigo “Hans Jonas: Porque a Técnica Moderna é um Objeto
iniciantes que desejam adentrar o mundo da filosofia quanto para para a Ética”, escrito por Oswaldo Giacoia Junior, foi publicado na
aqueles que buscam uma revisão dos principais temas e conceitos revista “Natureza Humana” em dezembro de 1999. O artigo aborda
filosóficos. A leitura desse livro proporciona uma base sólida para o a perspectiva ética de Hans Jonas em relação à técnica moderna e
estudo e a reflexão filosófica, convidando os leitores a expandirem seus impactos na humanidade.
seus horizontes intelectuais e a se engajarem em questionamentos Um dos principais temas explorados no artigo é a crítica de
essenciais sobre a existência humana. Hans Jonas à técnica moderna. O autor discute como o avanço tec-
nológico e a busca pelo domínio da natureza através da ciência têm
gerado consequências negativas para a humanidade. Ele analisa os
CULLETON, ALFREDO SANTIAGO; BRAGATO, FERNAN- riscos e dilemas éticos que surgem com a manipulação genética,
DA FRIZZO. A JUSTIÇA E O DIREITO. SÃO PAULO: WMF a exploração desenfreada dos recursos naturais e a destruição do
MARTINS FONTES, 2015 meio ambiente.
Outro aspecto abordado é a necessidade de uma ética que
oriente a ação humana diante dos avanços tecnológicos. Hans Jonas
“A Justiça e o Direito”, escrito por Alfredo Santiago Culleton e defende a importância de uma ética da responsabilidade, que leve
publicado pela editora WMF Martins Fontes em 2015, é uma obra em consideração não apenas as gerações presentes, mas também
que explora a relação entre a justiça e o sistema jurídico. O autor as futuras. Ele propõe que os seres humanos assumam a respon-
aborda conceitos-chave e questões fundamentais relacionadas à sabilidade pela preservação da vida e pelo cuidado com o planeta,
teoria da justiça e à aplicação do direito na sociedade. evitando a degradação ambiental e as consequências irreversíveis
para a humanidade.
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Além disso, o artigo explora a visão de Hans Jonas sobre o prin-


cípio responsabilidade. O autor discute como a ética da responsabi- OLIVEIRA, PAULO HENRIQUE DE; ANJOS FILHO, RO-
lidade implica em antecipar os possíveis efeitos negativos das ações BERIO NUNES DOS. BIOÉTICA E PESQUISAS EM SERES
humanas e agir de forma a minimizar danos e preservar o equilíbrio HUMANOS. REVISTA DA FACULDADE DE DIREITO, SÃO
ecológico. Ele argumenta que é necessário repensar a relação entre PAULO, V. 101, P. 1187-1227, JAN./ DEZ. 2006
a técnica e a ética, considerando os limites e as consequências das
ações humanas no contexto atual.
É importante ressaltar a relevância desse artigo para com- O tema do artigo “Bioética e Pesquisas em Seres Humanos”,
preendermos a perspectiva ética de Hans Jonas diante da técnica escrito por Paulo Henrique de Oliveira e Roberio Nunes dos Anjos
moderna. O texto oferece uma análise crítica e aprofundada dos Filho, aborda a importância da bioética no contexto das pesquisas
desafios éticos impostos pelo avanço tecnológico, incentivando os envolvendo seres humanos. O artigo, publicado na Revista da Facul-
leitores a buscar o artigo completo, “Hans Jonas: Porque a Técnica dade de Direito, São Paulo, em 2006, apresenta uma análise crítica
Moderna é um Objeto para a Ética”, na revista “Natureza Humana”, dos aspectos éticos e legais que envolvem a realização de pesquisas
para uma compreensão mais abrangente do tema e para explorar científicas com seres humanos.
outras perspectivas apresentadas pelo autor. No texto, os autores exploram os princípios fundamentais da
is aprofundada das ideias apresentadas por Pierre Levy. bioética, como o respeito à autonomia, a beneficência, a não ma-
leficência e a justiça. Eles discutem as questões éticas e legais que
surgem durante o processo de pesquisa, destacando a necessidade
MARCONDES, DANILO. INICIAÇÃO À HISTÓRIA DA FI- de obter o consentimento informado dos participantes, garantir a
LOSOFIA: DOS PRÉ-SOCRÁTICOS A WITTGENSTEIN.. RIO confidencialidade dos dados, minimizar os riscos e respeitar a dig-
DE JANEIRO: JORGE ZAHAR, 2010. PARTES III E IV nidade e os direitos dos indivíduos envolvidos.
Além disso, o artigo aborda as diferentes perspectivas e deba-
tes sobre a bioética e as pesquisas em seres humanos, levando em
O livro “Iniciação à História da Filosofia: Dos Pré-Socráticos a consideração as peculiaridades e os desafios desse tipo de pesqui-
Wittgenstein”, escrito por Danilo Marcondes, abrange as partes III sa. Os autores também discutem a importância da regulamentação
e IV da obra, que tratam da filosofia moderna e contemporânea, adequada e do acompanhamento ético das pesquisas, visando pro-
respectivamente. O livro tem como objetivo proporcionar ao leitor teger os participantes e promover a integridade científica.
uma introdução à história da filosofia, abordando desde os primei- Em resumo, o artigo “Bioética e Pesquisas em Seres Humanos”
ros filósofos pré-socráticos até os pensadores contemporâneos. oferece uma reflexão aprofundada sobre a importância da ética e
Na parte III do livro, intitulada “A Filosofia Moderna”, Marcon- dos princípios bioéticos na condução de pesquisas científicas envol-
des apresenta os principais filósofos e movimentos filosóficos que vendo seres humanos. O texto contribui para o debate ético e jurídi-
surgiram durante os séculos XVII e XVIII. Nessa seção, são discutidos co nessa área, destacando a necessidade de garantir a proteção dos
temas como o racionalismo, o empirismo, o iluminismo, o idealismo direitos e o bem-estar dos participantes de pesquisas, promovendo
e o positivismo. O autor explora as ideias de filósofos renomados, assim a ciência de forma responsável e ética.
como Descartes, Locke, Hume, Kant e Hegel, entre outros.
Já na parte IV, intitulada “A Filosofia Contemporânea”, o autor
aborda os principais movimentos e correntes filosóficas dos séculos SARTRE, JEAN-PAUL. O EXISTENCIALISMO É UM HUMA-
XIX e XX. Nessa seção, são discutidos temas como o existencialis- NISMO. 4. ED. SÃO PAULO: VOZES, 2014
mo, o pragmatismo, o positivismo lógico e a filosofia da linguagem.
Marcondes explora as contribuições de filósofos como Nietzsche,
Heidegger, Sartre, Russell e Wittgenstein, entre outros pensadores O livro “O Existencialismo é um Humanismo”, escrito por Je-
importantes desse período. an-Paul Sartre e traduzido por João Batista Kreuch, aborda os prin-
O livro “Iniciação à História da Filosofia” oferece ao estudan- cípios fundamentais do existencialismo como corrente filosófica.
te uma visão panorâmica da evolução da filosofia ao longo dos sé- Publicado em 2014 pela editora Vozes, o livro é considerado uma
culos, apresentando os principais temas, correntes e filósofos que das principais obras de Sartre.
marcaram cada período. Ressalta-se a importância de buscar a obra No livro, Sartre explora temas como a liberdade, a responsa-
na íntegra para um estudo mais aprofundado e detalhado sobre a bilidade individual e a existência humana. Ele argumenta que, no
história da filosofia. existencialismo, a existência precede a essência, o que significa que
cada indivíduo é responsável por criar seu próprio sentido e pro-
pósito na vida. Sartre critica as visões deterministas e defende a
ideia de que o ser humano é livre para fazer escolhas e moldar sua
própria existência.
Sartre discute questões éticas e políticas relacionadas à liberda-
de individual, destacando a importância de agir de forma autêntica
e assumir a responsabilidade por nossas ações. Ele também aborda
o conceito de angústia, que surge da consciência da liberdade e da
responsabilidade.

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A obra “O Existencialismo é um Humanismo” é considerada


uma introdução acessível ao pensamento de Sartre e ao existen- SILVA, FRANKLIN LEOPOLDO E. O OUTRO. SÃO PAULO:
cialismo como um todo. Sartre argumenta que o existencialismo é WMF MARTINS FONTES, 2012
uma filosofia que valoriza a humanidade, pois coloca o ser humano
no centro de suas reflexões e enfatiza sua capacidade de escolha e
criação. O livro “O Outro”, escrito por Franklin Leopoldo e Silva, é uma
Ressalta-se a importância do estudante buscar o livro na ínte- obra publicada em 2012 pela Editora WMF Martins Fontes. O autor
gra para aprofundar seu conhecimento sobre o existencialismo e as aborda o tema do “outro” como uma figura fundamental nas rela-
ideias apresentadas por Sartre. ções humanas e nas reflexões filosóficas.
Na obra, Silva explora a relação entre o eu e o outro, questio-
nando como nos relacionamos com aqueles que são diferentes de
SAVIAN FILHO, JUVENAL. ARGUMENTAÇÃO: A FERRA- nós. Ele investiga a importância de reconhecer a alteridade e com-
MENTA DO FILOSOFAR. SÃO PAULO: WMF MARTINS preender a diversidade humana como um aspecto enriquecedor de
FONTES, 2010 nossa existência.
O autor discute a construção da identidade individual e coleti-
va, refletindo sobre como a noção de “outro” influencia nossa per-
O livro “Argumentação: A Ferramenta do Filosofar”, escrito por cepção de mundo e nossas interações sociais. Ele destaca a impor-
Juvenal Savian Filho e publicado em 2010 pela editora WMF Mar- tância de superar o egocentrismo e cultivar a empatia e o respeito
tins Fontes, aborda o papel fundamental da argumentação no exer- diante das diferenças.
cício da filosofia. Silva também aborda a temática da alteridade nas esferas po-
Um dos temas principais explorados no livro é a importância lítica, ética e estética. Ele examina como as relações de poder, as
da argumentação na construção do pensamento filosófico. O autor questões morais e os valores estéticos são influenciados pela pre-
discute como a argumentação é essencial para o desenvolvimento sença do outro e como essas dimensões podem afetar a construção
do raciocínio crítico e para a análise e avaliação de ideias e argu- de uma sociedade mais justa e inclusiva.
mentos. Ele explora as diferentes técnicas e estratégias argumen- “O Outro” é uma obra que convida o leitor a refletir sobre a
tativas utilizadas pelos filósofos ao longo da história e demonstra importância do diálogo, da compreensão mútua e da valorização
como a argumentação pode ser uma ferramenta poderosa para a da diversidade na construção de uma sociedade mais humana. Res-
busca da verdade e para a solução de problemas filosóficos. salta-se a relevância de buscar o livro completo para explorar em
Outro aspecto abordado é a relação entre a argumentação e a profundidade as ideias apresentadas por Franklin Leopoldo e Silva.
comunicação filosófica. Savian Filho discute como a argumentação
desempenha um papel central na transmissão e na defesa de ideias
filosóficas, tanto em contextos acadêmicos quanto em situações QUESTÕES
cotidianas. Ele explora a importância da clareza, da coerência e da
fundamentação dos argumentos para uma comunicação eficaz e
para o convencimento de interlocutores. 1.Qual é o objetivo principal do livro “Boas-vindas à Filosofia”?
Além disso, o livro também aborda a ética na argumentação (A)Apresentar uma introdução aos principais conceitos e temas
filosófica. O autor discute a importância de uma postura honesta e da filosofia.
respeitosa na apresentação e no debate de argumentos, evitando (B)Explorar exclusivamente as correntes filosóficas contempo-
falácias, manipulações e desonestidades intelectuais. Ele ressalta râneas.
a necessidade de uma argumentação baseada em evidências, em (C)Analisar a relação entre filosofia e ciência de forma deta-
princípios lógicos e em valores éticos, visando a um diálogo cons- lhada.
trutivo e ao avanço do conhecimento filosófico. (D) Discutir apenas a filosofia política ao longo da história.
É importante ressaltar a relevância desse livro como um guia
para a prática da argumentação no âmbito filosófico. Ao abordar 2.Qual é um dos temas abordados no livro em relação à ética?
temas como a importância da argumentação, a relação entre argu- (A)A relação entre filosofia e religião.
mentação e comunicação e a ética na argumentação, Savian Filho (B)A crítica à filosofia moderna.
oferece aos estudantes e pesquisadores uma base sólida para apri- (C)As principais correntes da filosofia política.
morar suas habilidades argumentativas e desenvolver um pensa- (D) As diferentes teorias éticas e sua aplicação na vida cotidia-
mento filosófico crítico. É recomendado buscar a obra completa, na.
“Argumentação: A Ferramenta do Filosofar”, para um estudo mais
aprofundado e uma compreensão ampla das abordagens e exem- 3.Qual é a importância da estética na filosofia, de acordo com
plos apresentados pelo autor. o livro?
(A)A estética é um tema secundário na filosofia, sem relevância
prática.
(B)A estética é um campo independente, não relacionado com
a filosofia.
(C)A estética abrange apenas a análise da beleza na arte.
(D) A estética está relacionada à reflexão filosófica sobre a na-
tureza da arte e do belo.

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4.Qual é o objetivo principal do livro “A Justiça e o Direito”? (C)Fenomenologia, hermenêutica, estruturalismo e descons-
(A)Explorar as teorias filosóficas sobre a justiça. trução.
(B)Apresentar casos jurídicos famosos ao longo da história. (D) Realismo, nominalismo, escolástica e positivismo.
(C)Analisar a relação entre a justiça e a política.
(D) Discutir a aplicação do direito na sociedade e os desafios 12.Quem são alguns dos filósofos mencionados na parte IV do
relacionados à justiça. livro?
(A)Platão, Aristóteles, Descartes e Spinoza.
5.Quais são algumas das teorias da justiça abordadas no livro? (B) Kant, Hegel, Nietzsche e Heidegger.
(A)Teorias de John Locke e Thomas Hobbes. (C) Sócrates, Rousseau, Marx e Freud.
(B)Teorias de Jean-Jacques Rousseau e Karl Marx. (D) Wittgenstein, Russell, Popper e Quine.
(C)Teorias de Sócrates, Platão e Aristóteles.
(D) Teorias de John Rawls, Robert Nozick e Amartya Sen. 13.De acordo com o artigo, quais são alguns dos aspectos éti-
cos abordados nas pesquisas em seres humanos?
6.Qual é um dos temas discutidos em relação aos desafios da (A)Consentimento informado, critérios de seleção e responsa-
justiça no livro? bilidades dos pesquisadores.
(A)A punição criminal como único meio de justiça. (B)Avanços científicos, benefícios para a saúde e critérios de
(B)A inexistência de dilemas na busca pela justiça. segurança.
(C)O conflito entre direitos individuais e bem comum. (C)Impacto social, direitos humanos e regulamentação gover-
(D) A igualdade de acesso à justiça como algo irrelevante. namental.
(D) Autonomia dos participantes, custos financeiros e promo-
7.Qual é o tema central abordado na palestra “As Inteligências ção da justiça social.
Coletivas”?
(A)O impacto das redes sociais na sociedade moderna. 14.Qual é a importância destacada pelos autores no artigo?
(B)A evolução das tecnologias digitais ao longo dos anos. (A)Promover um diálogo interdisciplinar entre profissionais da
(C)O conceito de inteligências coletivas e sua relação com a in- saúde.
ternet. (B)Estabelecer diretrizes rígidas para as pesquisas em seres hu-
(D) A importância da privacidade na era da informação. manos.
(C)Fomentar a competição entre instituições de pesquisa.
8.O que significa o termo “inteligências coletivas” conforme (D) Priorizar os benefícios científicos em detrimento da ética.
abordado na palestra?
(A)A soma das inteligências individuais de um grupo. 15.Qual é a relação entre a argumentação e a comunicação fi-
(B)A inteligência artificial aplicada em comunidades online. losófica, de acordo com o autor?
(C)A capacidade de colaboração e criação de conhecimento (A)A argumentação é irrelevante para a comunicação filosófica.
compartilhado por meio da internet. (B)A argumentação é um obstáculo para a comunicação filo-
(D) O desenvolvimento de uma única inteligência superior por sófica.
meio da cooperação. (C)A argumentação é central na transmissão e na defesa de
ideias filosóficas.
9.Quais são alguns dos desafios mencionados por Pierre Levy (D) A argumentação prejudica o entendimento entre os inter-
em relação às inteligências coletivas? locutores.
(A)A falta de conectividade global.
(B)A manipulação de informações nas redes sociais. 16.O autor destaca a importância de uma postura ética na ar-
(C)O excesso de privacidade no ambiente digital. gumentação filosófica. O que isso significa?
(D) A escassez de plataformas colaborativas. (A)Utilizar falácias e manipulações para fortalecer os argumen-
tos.
10.Qual é o objetivo principal do livro “Iniciação à História da (B)Ser respeitoso e honesto na apresentação e no debate de
Filosofia”? argumentos.
(A)Apresentar um estudo detalhado sobre a filosofia contem- (C)Ignorar princípios lógicos e valores éticos no processo argu-
porânea. mentativo.
(B)Explorar a filosofia pré-socrática e seu impacto na história (D) Desconsiderar a coerência e a fundamentação dos argu-
da filosofia. mentos.
(C)Oferecer uma introdução à história da filosofia desde os pré-
-socráticos até os filósofos contemporâneos. 17.Qual é o tema principal abordado no livro “O Outro”?
(D) Analisar a influência da filosofia moderna nos movimentos (A)A identidade individual e coletiva.
artísticos do século XIX. (B) A importância do diálogo na sociedade.
(C) A alteridade e a relação com o outro.
11.Quais são algumas das correntes filosóficas abordadas na (D) A diversidade cultural e social.
parte III do livro?
(A)Racionalismo, empirismo, idealismo e positivismo.
(B)Existencialismo, pragmatismo, positivismo lógico e filosofia
da linguagem.
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18.O que o autor destaca como essencial na construção de uma (C)A importância da formação dos professores de filosofia.
sociedade mais justa e inclusiva? (D) A reflexão sobre o ensino de filosofia como um problema
(A)O respeito às diferenças e a valorização da diversidade. filosófico em si.
(B)A busca por uma identidade coletiva unificadora.
(C)O estabelecimento de leis e regulamentos rígidos. 26.Segundo o autor, por que o ensino de filosofia é considera-
(D) A defesa dos próprios interesses individuais. do um problema filosófico?
(A)Porque envolve a aplicação de métodos pedagógicos tradi-
19.De acordo com o autor, qual é a importância do diálogo na cionais.
relação com o outro? (B)Porque há uma falta de interesse dos estudantes pela filo-
(A)Permite estabelecer uma identidade coletiva homogênea. sofia.
(B)Promove a compreensão mútua e a superação do egocen- (C)Porque demanda uma abordagem contextualizada e signi-
trismo. ficativa.
(C)Reforça a segregação e a exclusão social. (D) Porque os professores de filosofia têm dificuldades em
(D) Impede a expressão da individualidade. transmitir o conhecimento.

20.Qual é o objetivo principal do livro “Os Clássicos da Política 27.Quais são os objetivos do ensino de filosofia, de acordo com
1”? o autor?
(A)Apresentar uma visão abrangente da história política mun- (A)Transmitir conhecimento filosófico de forma dogmática.
dial. (B)Desenvolver habilidades argumentativas nos estudantes.
(B)Expor as ideias políticas contemporâneas. (C)Estimular a memorização de conceitos filosóficos.
(C)Analisar as políticas governamentais ao longo dos séculos. (D) Fomentar o interesse dos estudantes pela história da filo-
(D) Proporcionar uma compreensão aprofundada dos funda- sofia.
mentos da teoria política.
28.Como o autor aborda as questões políticas e sociais no con-
21.O livro “Os Clássicos da Política 1” reúne textos de quais texto do ensino de filosofia?
pensadores políticos? (A)Defendendo uma abordagem descontextualizada e univer-
(A)Apenas pensadores contemporâneos. salista.
(B)Apenas pensadores brasileiros. (B)Desconsiderando as experiências e desafios dos estudantes.
(C)Apenas pensadores do século XX. (C)Valorizando a formação de cidadãos críticos e engajados.
(D) Pensadores políticos clássicos de diferentes períodos his- (D) Ignorando a relação entre filosofia e sociedade.
tóricos.
29.Segundo o autor, qual é a visão proposta para o ensino de
22.Qual é a importância de buscar o livro completo para o es- filosofia no ensino médio?
tudo da teoria política? (A)Uma abordagem desvinculada da realidade dos estudantes.
(A)Para conhecer a visão política do organizador, Francisco C. (B)Uma ênfase na memorização de conceitos filosóficos.
Weffort. (C)Uma prática de questionamento e reflexão crítica.
(B)Para obter uma visão completa da história política mundial. (D) Um foco exclusivo na história da filosofia.
(C)Para aprofundar o conhecimento sobre as teorias políticas
clássicas. 30.Como o autor propõe a relação entre a filosofia e os proble-
(D) Para discutir as políticas governamentais contemporâneas. mas vivenciados pelos estudantes?
(A)Desvinculando a filosofia das questões da realidade.
23.Quais são os temas abordados no livro “Filosofia e Ensino: (B)Estabelecendo uma conexão entre a filosofia e os interesses
Um Diálogo Transdisciplinar”? dos estudantes.
(A)O ensino de matemática e ciências no contexto escolar. (C)Limitando a filosofia a conceitos teóricos distantes do coti-
(B)A relação entre a filosofia e a política contemporânea. diano.
(C)A interdisciplinaridade entre a filosofia e outras disciplinas. (D) Priorizando a memorização de conteúdos filosóficos.
(D) A história da filosofia desde os pré-socráticos até os dias
atuais. 31.Qual é o papel do professor de filosofia, de acordo com o
autor?
24.Qual é o público-alvo principal do livro “Filosofia e Ensino: (A)Transmitir conhecimentos filosóficos de forma autoritária.
Um Diálogo Transdisciplinar”? (B)Desencorajar a participação ativa dos estudantes.
(A)Professores de filosofia em universidades. (C)Estimular o pensamento crítico e o diálogo.
(B)Estudantes de filosofia interessados na área do ensino. (D) Ignorar a importância do ensino de filosofia no ensino mé-
(C)Educadores e professores de diversas disciplinas. dio.
(D) Filósofos profissionais que atuam na área de educação.

25.Qual é o tema principal abordado no livro “O Ensino de Filo-


sofia como Problema Filosófico”?
(A)A história da filosofia ao longo dos séculos.
(B)A relação entre a filosofia e a literatura.
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ANOTAÇÕES
GABARITO

______________________________________________________
1 A ______________________________________________________
2 D
______________________________________________________
3 D
______________________________________________________
4 D
5 B ______________________________________________________

6 A ______________________________________________________
7 C ______________________________________________________
8 C
______________________________________________________
9 B
______________________________________________________
10 C
11 A ______________________________________________________

12 B ______________________________________________________
13 A ______________________________________________________
14 A ______________________________________________________
15 C
______________________________________________________
16 B
______________________________________________________
17 C
18 A ______________________________________________________
19 B ______________________________________________________
20 D ______________________________________________________
21 D
______________________________________________________
22 C
______________________________________________________
23 C
24 C ______________________________________________________

25 D ______________________________________________________
26 C ______________________________________________________
27 B
______________________________________________________
28 C
______________________________________________________
29 C
30 B ______________________________________________________

31 C ______________________________________________________

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