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CABEÇA E
PESCOÇO
Autoria e colaboração
Você, para nosso time, é uma grande inspiração. Afinal, são profissionais como você
que cuidarão de nossas famílias e também de nossa saúde. Por isso, já somos gratos
às escolhas que o fizeram chegar até aqui. Agora é hora de se preparar, aperfeiçoar
seus conhecimentos, fazer questões de provas de anos anteriores e ter foco para
atingir suas metas.
Esta coleção de livros que você tem em mãos foi preparada por uma equipe de
mais de 100 profissionais, entre médicos, educadores, pedagogos e revisores. Todos
nós sentimos orgulho de oferecer o melhor material do mercado para que você se
prepare para as provas que vêm pela frente e, acima de tudo, esteja um passo além
para a realização dos seus sonhos.
Bons estudos!
Um grande abraço,
Time Medcel
Sumário
1
Esvaziamentos
cervicais
Neste capítulo, abordaremos o esvaziamento cer- As linfonodomegalias apresentam história aguda, com
vical, um procedimento cirúrgico em que é retirado rápido crescimento, são dolorosas e tendem a regredir
todo o tecido fibroconectivo da região de determi- espontaneamente. A conduta inicial é a observação dos
nada cadeia linfonodal, com finalidade terapêutica. linfonodos, com pesquisa do foco infeccioso/inflamatório
Historicamente, utiliza-se a classificação feita pelo inicial. Quando persistente, deve-se fazer uma investigação
Memorial Hospital, de Nova Iorque (1930) – níveis de I mais minuciosa, para pesquisar doenças linfonodais especí-
a V (submandibular, jugulocarotídeo alto, jugulocaro- ficas infecciosas (como tuberculose) ou neoplasias primárias
tídeo médio, jugulocarotídeo baixo, trígono posterior), de linfonodos (linfomas). A avaliação complementar pode
sendo utilizados 2 critérios: quanto à extensão – radi- ser feita com ultrassonografia cervical, tomografia e biópsia
cais (clássico, modificado e ampliado, ou estendido) e em casos suspeitos com punção aspirativa por agulha fina
seletivos (supraomo-hióideo, jugulocarotídeo, postero- ou incisional e PET-CT scan. Sempre que possível, o trata-
lateral, compartimento central) – e quanto à indicação mento deve ser realizado com a ressecção em monobloco,
– terapêutico, profilático, de oportunidade e resgate. ou seja, do tumor primário e do produto do esvaziamento
Posteriormente, foram incluídos 2 níveis: recorrencial, cervical juntos. Neste, deve-se sempre planejar a incisão,
devido à presença do nervo laríngeo recorrente, pos- podendo ser “em colar”, ou seja, da mastoide ipsilateral até
terior à glândula tireoide, e mediastinal superior. Há a a linha média (ou com extensão contralateral em casos de
modalidade com a preservação de estruturas linfáti- esvaziamento bilateral), e com uma trifurcação (uma incisão
cas, ou seja, a retirada apenas dos níveis linfonodais, longitudinal superior em que, em seu ponto médio, se traça
que são, em geral, os 3 primeiros níveis de drenagem, uma linha perpendicular até o nível da clavícula). Lembre-se
a depender da localização do tumor primário (chama- de que há o primário oculto, sendo a metástase evidenciada
dos esvaziamentos cervicais seletivos, ou parciais). antes do tumor inicial, e os locais mais comuns são rinofa-
Esvaziamentos superseletivos ainda não são consenso, ringe, loja tonsilar, supraglote e seio piriforme. A presença
e a técnica de linfonodo-sentinela vem ganhando de metástases linfonodais é o fator isolado de pior prog-
espaço. De todas as formas, é um procedimento que nóstico na sobrevida dos pacientes com carcinoma de via
exige grande conhecimento anatômico do pescoço. O aerodigestiva e sempre implicará a indicação de tratamento
estadiamento de metástases linfonodais tem 2 clas- radioterápico complementar. A combinação de quimiote-
sificações, uma para neoplasia de vias aerodigestivas rapia com radioterapia é eficaz no tratamento do tumor
altas e outra para as neoplasias de glândula tireoide. primário, mas nem tanto no pescoço.
10 cirurgia de cabeça e pescoço
Nível I Submandibular
A - Definição Nível II Jugulocarotídeo alto
Denomina-se esvaziamento cervical o procedi- Nível III Jugulocarotídeo médio
mento cirúrgico por meio do qual é retirado todo
Nível IV Jugulocarotídeo baixo
o tecido fibroconectivo da região que compreende
uma determinada cadeia linfonodal. Passou a ter Nível V Espinal posterior
importância com o conhecimento da história na-
Nível VI Recorrenciais ou compartimento central
tural dos tumores do segmento cervicofacial, uma
vez que se observavam metástases linfonodais Nível VII Mediastino superior
para localizações específicas apresentadas por
determinados tumores, e que um tratamento ci-
rúrgico completo se dá pela retirada do tumor e
seus possíveis sítios de metástases.
B - História
Curiosamente, o 1º autor a descrever os vasos lin-
fáticos foi Aselli, em 1622, ao dissecar cães após
refeições e observar vasos linfáticos mesentéri-
cos. Porém, o 1º tratado moderno sobre o sistema
linfático humano foi feito somente em 1932, por
Rouvière, que classificou os linfonodos de acordo
com a sua topografia.
Até meados do século XIV, a presença de me-
tástase cervical constituía sinônimo de incu-
rabilidade, e algumas tentativas de ressecção
cirúrgica foram feitas sem sucesso. Em 1888,
houve a 1ª publicação de um esvaziamento cer-
vical, na Polônia. No entanto, o verdadeiro difu-
sor do procedimento cirúrgico foi G. W. Crille, em
1905, que utilizou os conceitos de ressecção “em
bloco”, propostos por Halsted para cirurgias de
mama, e realizou uma grande série de esvazia-
mentos cervicais. A cirurgia consistia na remoção Figura 1 - Níveis linfonodais cervicais
de toda a cadeira linfonodal vertical, em conjunto
com o músculo esternocleidomastóideo (MECM),
o nervo espinal acessório (NC XI) e a Veia Jugu-
lar Interna (VJI), em um procedimento até hoje
denominado “esvaziamento cervical radical à
Tratamento
Crille”. Esses conceitos foram amplamente sedi- Ressalte-se que o procedimento dito esva-
mentados por Hayes Martin, em 1951, com a pu- ziamento cervical radical clássico, tal como o
blicação de 1.450 casos operados, consolidando proposto inicialmente por Crille, consiste na
as indicações e a técnica. ressecção em bloco dos 5 primeiros níveis linfo-
Na década de 1930, um importante estudo foi re- nodais, em conjunto com o MECM, o NC XI e a VJI.
alizado no Memorial Hospital, em Nova Iorque, a
partir de tumores malignos de boca, em que se
notou que as metástases linfonodais tinham um No entanto, observou-se que os pacientes sub-
caráter “descendente”, e, com isso, criou-se uma metidos a essas cirurgias apresentavam seque-
classificação dos níveis linfonodais cervicais que las, principalmente devido à lesão do NC XI (XI
se tornou o padrão utilizado até hoje. par craniano, responsável por inervar o músculo
Caio Plopper Christiana Maria Ribeiro Salles Vanni
Rodney Smith Alexandre Bezerra dos Santos
12
Neste capítulo, serão revisadas as principais complica-
ções em Cirurgia de Cabeça e Pescoço – principalmente
as complicações pós-tireoidectomia, por serem as mais
comuns, devendo ser bem conhecidas pelos cirurgiões
e candidatos nos concursos médicos. Quando estamos
diante de cirurgias de cabeça e pescoço, essas com-
plicações se tornam mais potenciais e específicas,
Complicações
por considerar porte cirúrgico, estruturas envolvidas,
cirurgias longas e oncológicas e perfil do paciente. As
complicações mais comuns são hematoma cervical, fís-
tulas e deiscência de suturas e hipoparatireoidismo. Os
hematomas cervicais têm riscos específicos (podem
levar a insuficiência respiratória alta de rápida progres-
são e virtual obstrução da luz respiratória) e levam a
em Cirurgia
de Cabeça e
urgências e emergências, necessitando de imediato
reconhecimento e condutas, e o tratamento inicial
envolve a simples abertura da incisão cirúrgica e a
Pescoço
evacuação do hematoma. As fístulas pós-operatórias
são habitualmente autolimitadas, e seu tratamento
com curativos compressivos e cuidados de higiene
local geralmente é suficiente. De maneira geral, as fís-
tulas, na grande maioria, são salivares, comunicando
a saliva com o meio. As demais e menos comuns são sia facial completa (em caso de lesão do tronco do nervo) ou
liquórica e linfática (quilosa). A perda de retalhos utili- parcial. As operações que envolvem a parótida podem levar
zados para a reconstrução de cabeça e pescoço é uma também à síndrome de Frey, ou sudorese gustatória. Outra
complicação importante, que requer intensa atenção. lesão neural comum às parotidectomias é a do nervo auricu-
Nas tireoidectomias, as complicações mais frequen- lar magno, levando a hipoestesia da porção inferior da orelha
tes são hipoparatireoidismo e hipocalcemia transitória ipsilateral. Na maior parte dos casos, são de débito baixo e
ou persistente (tratamento com reposição de cálcio – autolimitadas, evoluindo bem com punções esvaziadoras e
intravenoso, nos casos de sintomas mais significativos, curativos compressivos. Uma complicação dos esvaziamen-
ou oral, nos casos mais leves), paresia/paralisia de ner- tos cervicais que pode ter grande impacto pós-operatório é a
vos laríngeos, em que a simples manipulação do nervo, fístula linfática ou quilosa, em geral resolvidas com a retirada
em qualquer tireoidectomia, em especial nos casos de do vácuo de drenos cervicais, curativos compressivos e o uso
grandes bócios, tumores malignos e esvaziamentos de dietas ricas em Triglicérides de Cadeia Média (TCMs). As
cervicais de nível VI, aumenta o risco de paresia, com estenoses digestivas são uma outra complicação frequente
recuperação da função em até 6 meses da operação. e de difícil tratamento, com sessões de dilatação endoscó-
Uma complicação rara, porém potencialmente fatal, é a pica. As estenoses de via aérea e sua obstrução podem ser
paralisia bilateral de pregas vocais em posição mediana complicações devastadoras e graves, levando a emergên-
(fechada), decorrente da manipulação ou lesão bilateral cias cirúrgicas. Pacientes submetidos a laringectomia total,
de nervos laríngeos inferiores. Nos casos de paralisia com traqueostoma definitivo maturado na pele anterior do
bilateral, a formação de fenda glótica para a respiração pescoço, podem desenvolver estenoses, geralmente asso-
fica comprometida, podendo levar a insuficiência res- ciadas a tratamento radioterápico e de evolução tardia. A
piratória imediata após a extubação. Relativamente ligadura da jugular interna bilateral e simultaneamente pode
a complicações das cirurgias de glândulas salivares, a evoluir com amaurose, hipertensão intracraniana, além de
lesão do nervo hipoglosso pode levar à hipomotilidade edema facial. Outra complicação importante pós-tratamento
de metade da língua, facilmente identificada ao exame oncológico e radioterápico é a osteonecrose (uso de bisfosfo-
físico. Já o nervo lingual é responsável pela função sen- natos) e a osteorradionecrose, uma espécie de osteomielite
sitiva desta, e sua lesão leva a anestesia e deficiência de por diminuição da oxigenação e suporte vascular ósseo com
propriocepção do órgão. Por sua vez, a lesão do nervo consequentes necrose e infecção. As complicações do tra-
mandibular marginal leva a paresia facial, com desvio da tamento complementar ainda incluem mucosite, monilíase,
rima e consequente assimetria. A lesão do nervo facial, dermatite actínica, neutropenia febril, anemia, cinetose com
ou seu sacrifício devido à invasão tumoral, leva a parali- hiperêmese, agranulocitose e desnutrição.
138 cirurgia de cabeça e pescoço
1. Introdução
Qualquer procedimento cirúrgico apresenta ris-
Quadro clínico
cos, independentemente do tipo de cirurgia. A Hematomas cervicais, mesmo que não sejam
maioria está relacionada ao status do paciente e, de grande volume, podem levar a insuficiência
principalmente, às doenças de base. No caso de respiratória alta de rápida progressão e virtual
cabeça e pescoço, essas complicações se torna- obstrução da luz respiratória.
rão mais potenciais e específicas, por considerar
porte cirúrgico, estruturas envolvidas, cirurgias
longas e oncológicas e perfil do paciente. Algu-
mas particularidades anatômicas, funcionais e de Ter em mente que hematomas cervicais podem
tratamento específicas do território de cabeça e levar a insuficiência respiratória alta de rápida
pescoço merecem destaque, sendo elas o assunto progressão é particularmente importante para
cirurgias que abordam a loja visceral do pescoço
deste capítulo.
com pequenas áreas de descolamento, como ti-
reoidectomias e ressecção de cistos tireoglossos
2. Hematoma cervical (cirurgias de Sistrunk). Nesses casos, mesmo san-
gramentos de volume moderado podem levar a
Complicações hemorrágicas são possíveis em elevações grandes de pressão e restrição ao re-
qualquer sítio cirúrgico; entretanto, em particular torno venoso da laringe.
nas cirurgias de cabeça e pescoço, estamos diante
A partir do momento em que a intubação é rea-
de vasos como a artéria carótida e a veia jugular,
lizada, a emergência respiratória cessa. Infeliz-
e ambas em um compartimento pequeno que não mente, em certas situações, o edema da laringe
comporta muito volume. e a dissecção de planos profundos pelo hema-
Além da habitual revisão de hemostasia rigo- toma são tão grandes que a intubação se torna
rosa com manobras de Valsalva associada (re- muito difícil, sendo vitais a traqueostomia ime-
ver sangramentos venosos, por aumento da diata, a abertura dos pontos e o esvaziamento do
pressão intratorácica e compressão da cava, hematoma.
mantendo as veias túrgidas), os pacientes de-
vem evitar esforços abruptos e atividade física
no pós-operatório precoce, a fim de prevenir
complicações hemorrágicas. Isso se deve ao Tratamento
fato de que esforços abruptos podem levar à Quando o cirurgião depara com um paciente no
súbita elevação de pressão venosa torácica, co-
pós-operatório de cirurgia cervical com hema-
locando em risco a área operatória.
toma e repercussões respiratórias significativas,
a simples abertura da incisão cirúrgica e a eva-
cuação do hematoma formam a conduta inicial
Dica recomendada, devendo ser realizadas mesmo à
beira do leito, caso o trânsito ao centro cirúrgico
Os hematomas cervicais apresentam riscos seja lento e difícil.
específicos e levam a urgências e emergências,
necessitando de imediato reconhecimento e
condutas. Em casos extremos, quando há impossibilidade
de intubação em insuficiência respiratória grave,
deve-se realizar traqueostomia de emergência
para o estabelecimento de via aérea adequada e
Devido ao súbito aumento de pressão nos com- segura. Isso é particularmente mais fácil no pós-
partimentos cervicais, em especial na loja vis- -operatório de tireoidectomias, uma vez que a
ceral do pescoço, hematomas podem levar à traqueia se encontra dissecada e de fácil acesso
diminuição do retorno venoso do complexo la- após a abertura da incisão prévia e da linha
ringotraqueal, com edema significativo, especial- média. Na maior parte dos casos, porém, esse
mente na altura da glote, onde o diâmetro da via procedimento pode ser evitado pelo reconheci-
aérea é menor. mento rápido e manejo adequado dessa compli-
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CIRURGIA DE
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