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A SUSTENTABILIDADE EM NOSSAS VIDAS

Existe uma necessidade urgente de aplicarmos a sustentabilidade em nossas vidas, porém antes
de tudo, é preciso entender o que esta palavra significa. Quando falamos em sustentabilidade,
devemos saber que ela não se refere apenas a fatores ambientais, econômicos e sociais. Devemos ter
plena consciência que ela também contempla as questões políticas e culturais.

Demorei um pouco a perceber isto, pois meu universo de amigos, é composto por muitos
permacultores, que discutem muito menos política que os agroecologistas. Foi somente depois de
efetuar o êxodo urbano e passar a morar na área rural do interior do Paraná, que passei a fazer parte
de um grupo de agroecologia, o qual discute muito sobre ações políticas no dia-dia de nossas vidas.

Enquanto não propusermos um novo modelo paradigmático societal, estaremos fadados ao


sistema capitalista, que se nutre de extração, produção e consumo. Como Arquiteto e Urbanista,
aprendi no livro “O Espaço Urbano” do Roberto Lobato Corrêa, que as cidades são verticalizações da
sociedade, e uma é agente modificadora da outra. Ficou então claro para mim que um colapso das
grandes cidades é iminente, uma vez que o planeta Terra desde 2008, segundo a ONU, deixou de ter
uma população rural e passou a ter uma população que mora agora mais nas cidades.

Este é um dado alarmante, pois para alimentar as pessoas está sendo aplicado o monocultivo em
latifúndios, mecanização agrícola, transgenia em sementes, abuso de pesticidas e adubos químicos,
sem contar nos problemas de falta de planejamento das urbes. Nas cidades, existe falta de infra-
estrutura básica, como saneamento, iluminação pública, transporte público, etc.

Esta ausência da presença do Estado, faz com que surjam os poderes paralelos e as mazelas do
sistema capitalista, como favelização, fome, violência, enchentes, inundações, falta de moradia,
apagão, etc. O pior, é que os problemas são vistos na televisão, como foi o recente caso da cidade do
Rio de Janeiro no complexo do Alemão, onde estes problemas apareceram, mas hoje as pessoas já se
esqueceram pois estão sendo manipuladas de tal forma que somos parte integrante de uma verdadeira
nação zumbi.

Somos compelidos a comprar cada vez mais produtos, sem questionar de onde veio a matéria
prima, qual foi a mão de obra empregada, qual a política de conduta social do fabricante, quais
impactos ambientais o produto causou, que cultura está desaparecendo com a chegada daquela
fábrica no local onde se instalou ou existem seus produtores de matéria prima, entre outras questões.

Sim, é exatamente isto que devemos perguntar antes de adquirir algo, sem reclamar que não
temos tempo para isto, pois tempo é tudo que devemos empregar na nova cultura societal que vamos
propor. Estou falando que a sociedade atual, está vivendo uma profunda crise de princípios e de
consciência onde “não é demonstração de saúde ser ajustado a uma sociedade profundamente
doente” (Jiddu Krishnamurti).

Não estou defendendo o socialismo (Leninista ou Marxista) e muito menos o capitalismo. Estou
dizendo que devemos propor um novo modelo e para propor é preciso “ser a diferença que queremos
ver no mundo” (Gandhi). Boaventura de Souza Santos já diz no livro “Crítica da Razão Indolente –
Contra o desperdício da experiência” que um modelo paradigmático societal, leva no mínimo 150 anos
para mudar e só ocorre com lutas sub-paradigmáticas feitas por grupos sociais que querem viver uma
mentalidade considerada utópica.

Vamos entender o que isto significa da seguinte maneira. No passado, mulheres não podiam votar,
negros eram escravos e homossexuais eram fortemente reprimidos. Foi somente com as lutas que
estes grupos sociais conseguiram reverter o processo, porém sem viver para ver isto acontecendo.
Toda luta (sub-paradigmática) contra um modelo imposto, será vivenciada pelas gerações vindouras.

Isto deve nos servir de lembrete para sermos o exemplo do que queremos para nossos filhos e
netos. Precisamos parar e analisar as “cartas que estão postas na mesa”, e basta apenas uma dança
cósmica sincrônica para perceber que estamos sentados em uma bomba relógio.

As maiores e mais populosas cidades do planeta estão ao nível do mar. Como exemplo, temos
Florianópolis, Porto Alegre, Recife, Londres, Rio de Janeiro, Pequim, Cidade do Cabo, Nova Iorque,
etc. Se o mar se elevar um metro apenas, teremos em âmbito planetário uma horda de refugiados
ambientais, e isto já está acontecendo, não é ficção científica. Resta-nos saber se saberemos fazer a
reforma agrária da noite para o dia, se a quebra financeira mundial não acontecerá nesta ocasião pois
a tendência será a retirada de dinheiro nos bancos e viveremos um tempo ilusório, um caos
semelhante ao da cidade de Itajaí quando houveram as enchentes.

Produtos básicos de consumo terão seus valores elevados, saques ocorrerão, pessoas não terão o
que comer, apagões e ausência de infra estrutura será generalizada. Os ensaios já se iniciaram, resta
à população das cidades perceber que estão em um “Ensaio sobre a cegueira”. A população está
aumentando e se aglomerando impiedosamente, numa corrida maluca, que exige cercas elétricas,
seguranças, porteiros, câmeras de filmagem, para passar uma sensação ilusória de segurança.

Também não quero ser pessimista, mas precisamos urgentemente escrever novas páginas neste
livro sem fim. Precisamos dizer como deve ser a produção de alimentos, o resgate das culturas
caiçaras, faxinalenses, indígenas, quilombolas, cipozeiras, ilhéus, pescadores artesanais, farinheiras,
entre outras tantas, que possuem sim diversos ensinamentos sobre economia, meio ambiente,
sociedade, política e cultura.

Um excelente exercício, é desligar a antena de nossos televisores, passar a ler mais, a


desenvolver raciocínio coletivo, de produção de alimentos, de técnicas construtivas, de uso de energias
limpas e esquecer ou tentar ao menos, este modelo ultrapassado que usa energias fósseis como
matriz energética, e já vou adiantando que isto não é algo fácil de ser feito.

Estou vivenciando na pele o que é abdicar de vícios impostos por anos de imersão em uma cultura
que está ruindo, onde ouço a todo momento os ecos desta cultura me chamando para retornar para um
modo de pensar deformado. Porém depois que você “sai da Matrix”, fica difícil retornar e não perceber
o que está acontecendo debaixo de nosso nariz. O importante, é retornar para o sistema imposto e
usar as armas que ele fornece para lutar contra ele mesmo, mostrando que há uma opção, onde
devemos observar os ciclos lunares, as épocas de reprodução das espécies, a matéria prima local
disponível, as estrelas e outros fatores que nos lembrem quem somos e com que espécies estamos
nesta odisséia Terrestre.

João Paulo Santana, Arquiteto, Urbanista e Permacultor.

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