Arede 004

Apresenta
A Rede
Novela de:
Evana Ribeiro
CAPÍTULO 04
TV DESTINO . A REDE . CAPITULO 04 2
CENA 01 – ESTRADA – EXT – DIA

Movimento fraco de carros saindo de Nova York. Mostra o carro de
Aliena e, mais atrás, o carro de Ed.
CORTA PARA
CENA 02 – CARRO DE BRADLEY – INT – DIA

Ed vai dirigindo, muito contente.
ED – Pena que não dá pra passar muito tempo em Vermont. Mas vai ser
divertido tirar onda com o meu... Xará.
Ed dá uma risada sarcástica e aumenta o volume do som do carro.
CORTA PARA
CENA 03 – CARRO DE ALIENA – INT – DIA

Teresa vai cantando uma música qualquer enquanto dirige. Aliena,
por sua vez, está muito quieta, com a cabeça encostada ao vidro da
janela.
TERESA (a cutuca de leve) – Ei, moça... Tá dormindo?
ALIENA – Não. Só estava pensando.
TERESA – Posso saber no quê?

ALIENA – Um monte de bobagens. Sabe quando a gente fica pensando

em um monte de coisa e nada ao mesmo tempo?
TERESA (desvia um pouco a atenção da estrada, com ar um pouco

desconfiado) – Sei. Mas não fica com essa cara não...
Aliena olha para Teresa e se esforça para sorrir. Teresa volta a se

concentrar na estrada e Aliena volta a encostar sua cabeça no vidro.
CORTA PARA
CENA 04
Tomada aérea de Recife.
CORTA PARA
CENA 05 – CASA DE EMÍLIO/SALA – INT – DIA

Amélia está ainda sentada no sofá. Depois de uma noite inteira
sem dormir, apresenta olheiras não muito profundas. Emílio e Michelle
entram juntos, vindos da rua, muito abatidos.
AMÉLIA – E aí?
MICHELLE – Ele se mandou, mãe. Pegou um avião clandestino e sumiu

no mundo.
EMÍLIO – Aquele... Aquele filho da mãe conseguiu estragar tudo! Como

eu fui idiota de ter concordado com sociedade? Eu não devia, não
devia... (começa a chorar)
MICHELLE (tentando consolá-lo) – Não fica assim, pai... Pode ser que
ainda dê tempo de...
EMÍLIO – Não, não dá, minha filha. Ele roubou a papelaria que meus
avós começaram, e meus pais mantiveram com tanto esforço, aí vai o
idiota do Emílio e entrega pro primeiro que aparece! Burro, burro, é isso
que eu sou!
AMÉLIA – Não se martirize mais, Emílio... Isso só vai piorar as coisas. A

gente tem é que pensar no que vai fazer daqui pra frente.
EMÍLIO – Eu sei que você não vai gostar nada disso, Amélia, mas...
AMÉLIA – Já sei. É sobre aquela lan...
EMÍLIO – Que você odeia.
AMÉLIA – Tudo bem, eu entendo que por enquanto vamos ter que nos
virar com ela... Mesmo eu não gostando daquilo lá. (segura as mãos
dele) Prometo que não vou mais te encher com essa história.
MICHELLE – Agora eu vou subindo. Acho bom todo mundo ir dormir

agora, né.
EMÍLIO – Tem razão, filha. Espero que eu consiga fechar os olhos!
AMÉLIA (carinhosa) – Vai conseguir sim...
Amélia e Emílio sobem, para o quarto. Michelle fica ao pé da

escada, pensativa.
MICHELLE – Bom... Só pra garantir é melhor fazer um chá de camomila.
Michelle vai para a cozinha.
CORTA PARA
CENA 06 – PE 60 – EXT – DIA

Tomada semi-aérea da rodovia, mostrando o movimento intenso
rumo ao litoral sul. Câmera vai acompanhando uma van azul.
CORTA PARA
CENA 07 – VAN – INT – DIA

Um grupo de professores vai viajando na van, ao som de uma
rádio qualquer. Entre eles, estão Amanda e Gabrielle, sentadas juntas e
conversando.
GABRIELLE – Acho que assim que a gente chegar nessa praia, vou
dormir o dia inteiro!
AMANDA – Tu tá mesmo com cara de quem não dormiu nada... Algum

problema?
GABRIELLE – Não, é que passei a noite toda trabalhando...
AMANDA – Pelo amor de Deus, Gabi. Fim de ano e tu ainda aí,

trabalhando que nem uma doida?
GABRIELLE – Era só um negócio que eu queria terminar. Agora já

acabei, tá tudo certo.
AMANDA – Ah, bom. (t) Mudando de assunto... Acho que o Jorge tá

animado demais com essa história de casamento.
GABRIELLE – E você não tá?
AMANDA – Não foi isso que eu quis dizer... É claro que eu tô animada,
adoro o Jorge e tal... Mas sei lá, tô achando ele apressadinho demais. A
gente namora há tão pouco tempo... Ele quis noivar, beleza, noivei.
Agora ele quer marcar data do casamento, mandar imprimir convite e
tudo mais. Tá muito cedo!
GABRIELLE – Sabe... Eu até entendo um pouco o lado dele.
AMANDA – Mesmo?
GABRIELLE – É, vê só. O cara tava quase casando, quando pega a noiva

com outra mulher. Ele se traumatizou e tal... Pensou que nunca mais ia
encontrar uma mulher bacana, aparece você. É meio óbvio que ele
esteja com medo de perder de novo, certo?
AMANDA – Bobagem! É claro que ele não vai me perder. Muito menos
do jeito que perdeu a outra lá!
GABRIELLE – Eu sei. O problema é convencer ele disso...
As duas seguem conversando, em off.

CORTA PARA
CENA 08
Tomada aérea de Vermont, dando um plano geral do lugar.
CORTA PARA
CENA 09 – VERMONT/RUA – EXT – DIA

Mostra a fachada de um pequeno hotel, aparentemente muito
modesto. O carro de Aliena estaciona na frente deste prédio. Corta para
o interior do carro.
ALIENA – A gente vai ficar aqui mesmo?
TERESA – É. Você vai com as meninas enquanto procuro um lugar pra

estacionar, tá bom?
ALIENA – Tá.
Olga pega Irina e desce do carro. Maria e Aliena fazem o mesmo.

Aliena olha em volta. O carro sai cantando pneu.
OLGA – Tá procurando alguma coisa, mãe?
ALIENA – Não, filha.
OLGA – Ah, tá.

Elas entram no hotel. Logo depois, o carro de Ed também

estaciona e ele desce. Olha o endereço que está escrito em um pedaço
de papel amarelo e depois, olha uma placa na esquina. Acena
negativamente com a cabeça e entra de novo no carro, arrancando logo
depois. Teresa volta a pé, brincando com a chave do carro, e entra no
hotel.
CORTA PARA
CENA 10 – NY/AP. DE FELÍCIA/SALA – INT – DIA

Felícia ainda está vestindo camisola, ouvindo música em volume
alto enquanto escova os dentes. A campainha toca. Ela corre para
dentro do banheiro e volta para abrir a porta. Encontra sua mãe, Julia,
do outro lado.
FELÍCIA – Mãe?
JULIA – Surpresa! Posso entrar?
FELÍCIA – Ai, mãe, que pergunta! É claro que pode! (t) Só não esperava
você aqui tão cedo.
JULIA – Eu também não, mas enfim...
FELÍCIA – Vamos pra cozinha, lá a gente toma um café e conversa.
As duas vão para a cozinha.
CORTA PARA
CENA 11 – AP. DE FELÍCIA/COZINHA – INT – DIA

Felícia e Julia tomam café e conversam.
FELÍCIA – Ainda não me falou o motivo da visita surpresa.
JULIA – Foi besteira, preocupação de mãe, sabe? (t) É que andei tendo
uns sonhos esquisitos e resolvi vir aqui pra ver se tava tudo bem.
FELÍCIA – Ai, mãe... Bastava ligar!
JULIA – Não, não. Vim e vou ficar uns dias com você. Só assim pra eu
ficar mais tranqüila.
FELÍCIA – Meu Deus, tô com medo desse sonho aí. O que era?
JULIA – Sonhei que você era seqüestrada por um homem... Um homem

muito bonito, sabe? Aí você tentava fugir e levava dois tiros. Aí eu
comecei a gritar, desesperada, e acordei.
Felícia não responde e fica olhando para Júlia.
CORTA PARA
CENA 12 – VERMONT/HOTEL/SUÍTE DAS MENINAS – INT – DIA

Olga e Maria brincam com Irina. Aliena anda de um lado para o
outro, muito inquieta. Teresa entra.
TERESA – O que vocês acham de a gente dar uma voltinha pra conhecer
a área?
ALIENA (animada) – Vamos!
TERESA – Nossa, tô gostando de ver a animação! Fico esperando vocês

lá fora, tá?
ALIENA – Vou só lavar aqui o rosto rapidinho e já desço.
Aliena entra rapidamente no banheiro.
CORTA PARA
CENA 13 – VERMONT/HOTEL/SUÍTE DAS MENINAS/BANHEIRO –

INT – DIA
Aliena começa a buscar o número de Ed na agenda. Parece estar
um pouco desesperada. Aguarda a chamada ser completada.
CORTA PARA
CENA 14 – VERMONT/HOTEL/SUÍTE DE ED – INT – DIA

Ao contrário do hotel mostrado na cena anterior, este conta com
uma estrutura mais luxuosa, a julgar pelo quarto onde Ed está
hospedado, que possui uma decoração neoclássica. O celular dele
começa a tocar. Ed vê o nome de Aliena no visor e estranha.
ED – A... Alô.
A partir daqui, mostra-se o rosto do personagem quando ele

estiver falando.
ALIENA – Ed, sou eu.

ED – Eu sei. Aconteceu alguma coisa?
ALIENA – Eu é que devia perguntar! Nunca mais nos falamos... Soube

por acaso que você viria a Vermont. Podemos nos falar?
ED – Falar? Como? (t) Você está aqui em Vermont?
ALIENA – Estou. Vim com minhas filhas e uma amiga. Podemos nos
encontrar? É só você dizer o lugar. Levo nossa Irina junto, pra você
conhecer.
ED (baixinho) – Agora ferrou... (para Aliena, no telefone) Ali, acho que

você também soube que eu estaria muito ocupado, não é? Me desculpe,
mas não posso marcar nenhum encontro.
ALIENA (quase chorando) – Ed, eu só vim por sua causa! Que espécie
de namorado é você?
ED – Aliena, pelo amor de Deus. Pára de fazer escândalo! Eu não posso

ver você por causa da porcaria do congresso!
ALIENA – E por que não falou que vinha?
ED – Sei lá! Devo ter esquecido, ou coisa parecida. E também não nos
falamos mais.
ALIENA – Agora eu quero falar. Só quero que você veja sua filha e
depois nunca mais vou correr atrás de você. (t) Como eu pude acreditar
que um homem que eu conheci numa maldita sala de bate-papo

quisesse algo sério? Santa inocência!
Aliena desliga o telefone e começa a chorar compulsivamente.

Instantes depois, o celular dela toca de novo. Aliena atende sem ver
quem está chamando.
ALIENA (soluçando) – Alô...
ED (off) – Vamos nos encontrar no Nantucket Pub, está certo?
ALIENA – Ok. Nos vemos em meia hora.
Sonoplastia: Lubit, ne lubit – Natalia Bannova.

Aliena desliga o telefone e enxuga as lágrimas. Olha-se no
espelho, seus olhos estão vermelhos e o rosto levemente inchado. Abre
a torneira e molha rapidamente o rosto.
CORTA PARA
CENA 15
Tomada de Recife.
CORTA PARA
CENA 16 – CASA DE EMÍLIO/QUARTO DE MINERVA – INT – DIA

Minerva está deitada em sua cama, olhando uma foto de sua
turma de faculdade, muito triste. Michelle entreabre a porta e dá três
batidas de leve.
MICHELLE – Posso entrar?
MINERVA (sem tirar os olhos do retrato) – Pode entrar.
Michelle senta-se na beirada da cama.
MICHELLE – Acho que fui muito rude contigo ontem, aquela coisa de
você contar tudo pros seus amigos... Seus amigos invisíveis.
MINERVA – Não gosto do jeito como você fala deles. A gente não vê,
não toca, mas eles existem, pôxa.
MICHELLE – Desculpa. É que eu tava, ainda tô muito nervosa, muito

chateada com isso tudo.
MINERVA – Eu também.
MICHELLE – E essa foto aí? Pessoal da facul, é?
MINERVA – É.
MICHELLE – Amanhã tem festa deles, né?
MINERVA – É. Tava pensando nisso agorinha. Acho que não vou mais.
MICHELLE – Faz isso não...
MINERVA – Não tem mais clima pra nada aqui, pôxa. Tá todo mundo
arrasado, inclusive eu. Como é que a gente vai comemorar alguma
coisa?
MICHELLE – O pai não ia gostar de te ver falando assim.
MINERVA – Não acho justo fazer festa depois que o mundo acaba de
cair na nossa cabeça.
MICHELLE – Ô, cabecinha dura! Minerva, olha pra mim. (segura

delicadamente o queixo de Minerva e a faz olhar) Sacanearam com a
gente, a gente pode até passar um aperto de grana porque a papelaria
dava mais lucro que a lan house e o que eu ganho na polícia; e era
negócio da família, mas a gente não pode ficar assim pra sempre.
Ninguém disse que ela ia continuar pro resto da nossa vida, e pros filhos
e netos, disse?
MINERVA – Não, mas...
MICHELLE – Mas nada. Pode esquecer essa história de não comparecer

à própria festa de fim de período, que você vai nem que eu tenha que
expedir um mandado pra isso. E nem ouse pensar em desobedecer a
sua irmã delegada, tá ouvindo?
MINERVA – Sim, senhora.
Elas riem. Michelle dá um beijo na testa de Minerva e sai. Esta

volta a olhar a foto, mas agora sorri.
CORTA PARA
CENA 17 – CASA DE EMÍLIO/QUARTO DE MICK – INT – DIA

A porta do quarto está aberta. Mick, na frente do computador,

parece um pouco desanimado. Miranda entra sem que ele veja e se
aproxima, ficando bem ao lado dele.
MIRANDA - Bom dia pra você...
MICK – Oi.
MIRANDA – Ainda mal por causa do furo do Gilson?
MICK – Não, não é isso não.
MIRANDA (olha para o monitor) – Hmm... Já sei. Tetê não deu o ar da

graça ainda.
MICK – É. Logo agora que eu queria tanto falar com ela, falar dessas
coisas que aconteceram ontem.
MIRANDA – Ué, se ela não tá, arruma uma ouvinte alternativa. (t) Faz
de conta que eu sou ela.
MICK (olha para a irmã) – Deus me livre!
MIRANDA (aborrecida) – A gente tenta ajudar e recebe isso em troca.
MICK – Desculpa, Mi. É que...
MIRANDA – Entendi, entendi...
MICK – Acho que é a primeira vez que eu preciso da Teresa e ela não tá.
MIRANDA – Ai, Mick... Ela pode te adorar e tal, mas também precisa
viver, né?
MICK – É, você tá certa. Mas é estranho... Será que aconteceu algo

esses dias?
MIRANDA – Vai ver ela arrumou um boyzinho lá perto da casa dela. E tu

devia fazer o mesmo. Podia te apresentar todas as minhas amigas, as
gatas mais cheirosas do Recife e adjacências, mas não! Tu fica aí,
agarrado com o computador, babando por uma menina que nunca vai
ver pessoalmente! Isso é vida?
MICK – O que eu sinto pela Tetê eu nunca senti por nenhuma outra
mulher e não tô nem aí pro fato de ela morar na civilização e eu aqui na
puta que pariu. Eu acredito que ela é a mulher da minha vida. Posso
acreditar nisso? Posso ter um pingo de esperança?
MIRANDA – Tá bom, tenha as esperanças que quiser. Vou ver o que tem
de bom pra comer lá embaixo.
Miranda sai. Mick fica jogando um jogo qualquer. Logo depois,

desliga o computador de qualquer jeito e se joga na cama, totalmente
entediado.
CORTA PARA
CENA 18 – VERMONT/RUAS – EXT – DIA

As garotas vão caminhando devagar, conhecendo o lugar. Aliena é

a única que vai na frente, apressada, empurrando o carrinho de bebê de
Irina.
TERESA – Ali, tá andando rápido demais, não?
ALIENA – Não, ando como ando sempre.
Teresa olha para Maria e Olga, que tentam acompanhar os passos

de Aliena.
CORTA PARA
CENA 19 – VERMONT/ THE NANTUCKET PUB – INT - DIA

Ed está esperando, muito impaciente. Olha no relógio de pulso o
tempo todo.
ED – Tava tudo perfeito demais, certinho demais pra ser verdade! (t)
Mas eu mereço, porque sou um idiota. Não era mais fácil dar uma
rasteira naquela idiota? Agora tô amarrado pra sempre por causa de um
bebê idiota! Era tão mais fácil tirar ela de circulação e pronto...
Aliena vai entrando, com o carrinho de bebê. Ele a olha, muito

sério. Aliena, por sua vez, sorri.
ALIENA – Oi...
ED – Oi.
ALIENA – Desculpa a demora, mas...

ED – Não precisa me dar explicações, eu entendo tudo.
Aliena tira Irina do carrinho e mostra a Ed.
ALIENA – Está é nossa filha, Irina.
ED – A famosa Irina...
ALIENA – Pois é.
Aliena dá o bebê para que Ed segure. Ele recebe a menina em

seus braços, muito desajeitado.
CORTA PARA
CENA 20 – VERMONT/RUAS – EXT – DIA

Teresa e as meninas estão sentadas na calçada, na frente do hotel
em Essex, onde Ed está hospedado.
MARIA – A gente tem mesmo que ficar aqui?
TERESA – Só um pouquinho.
OLGA – Eu tô com fome...
TERESA – Tem chips na bolsa. A gente vai comendo isso até a mãe de
vocês resolver sair. (t) E sair com esse tal de Ed, o Namorado Sem
Rosto.
Olga abre um pacote de salgadinhos e elas começam a comer.

Sonoplastia: Face – Aerosmith.
CORTA PARA
CENA 21 - VERMONT/ THE NANTUCKET PUB – INT - DIA

Continuação da cena 19. Ed devolve Irina para Aliena, muito
nervoso. Ela coloca a menina de volta no carrinho
ED – Toma, toma. Não tenho o menor jeito com crianças.
ALIENA – Acho que nenhum homem tem. Meu primeiro marido também
não tinha.
Eles ficam em silêncio por alguns instantes.
ED – E o que mais?
ALIENA – O que mais o quê?
ED – O que mais você queria falar? Não tenho mais tanto tempo...
ALIENA – Precisamos resolver a nossa situação. Nós temos uma filha e

essa história de você não conviver com minhas outras filhas está
ridícula!
ED – Você ainda não entendeu...

ALIENA (grita) – Entendi sim! Eu entendi tudo!
ED – Dá pra você falar mais baixo?
ALIENA – Não, eu não vou falar mais baixo coisa nenhuma! Eu odeio
você, odeio você, odeio...
A fala de Aliena é bruscamente interrompida por Ed, que lhe dá

dois fortes tapas no rosto. Ela o olha fixamente, com ódio. Lágrimas
rolam por seu rosto.
ALIENA – Como foi que eu te amei?
Aliena sai, empurrando o carro de bebê com uma das mãos e

enxugando as lágrimas com a outra.
ED – Eu é que não entendo como me deixei amarrar assim. (t) Mas vou
dar um fim nisso.
Ed bebe uma dose de uísque de uma vez só.
CORTA PARA
CENA 22 – VERMONT/RUA – EXT – TARDE

As garotas continuam esperando. Aliena sai, tentando disfarçar o
choro, sem sucesso. Teresa se levanta e vai até ela, muito preocupada.
TERESA – Minha amiga! O que houve?
ALIENA (chorando) – Não foi nada... Nada.

TERESA – Conta pra mim, vai... Sou sua amiga ou não sou?
ALIENA – Eu só quero ir embora, Teresa.
TERESA (abraça Aliena) – Tá bom, a gente volta pra casa, como você
quiser. Garanto que as meninas não vão se importar.
ALIENA – Não. Eu quero voltar sozinha. Fica com Oliúshka e Maria, fica
com o carro, eu volto só com Irina. (t) Vou ficar bem, juro.
TERESA (quase chorando) – Nós é que não vamos ficar bem se você for
embora.
ALIENA (segura as mãos de Teresa) – Elas nunca saem... Merecem ficar

um tempo longe da mãe chata e complicada aqui.
TERESA (levanta a voz) – Não, não merecem não! Você não é chata,
não é complicada, você só tá com um problema. E não é fugindo de
volta pra Nova York que vai resolver tudo!
ALIENA – Não vou conseguir ficar.
TERESA – Vai, nem que eu tenha que te amarrar. (t) Olha, vamos
almoçar e você pensa melhor nisso, tá?
ALIENA – Tudo bem.
Elas saem andando, em silêncio.

CORTA PARA
CENA 23 – NY/CASA DE FELÍCIA/QUARTO DE FELÍCIA – INT –

TARDE
Julia está sozinha no quarto, olhando o mural de Felícia. Lê o
lembrete do encontro com Ed depois do Natal e fica olhando fixamente
para o papel. Felícia entra.
FELÍCIA – Mãe?
JULIA – Ah, oi!
FELÍCIA – Vim te chamar pra almoçar. (t) Tava tão concentrada...
JULIA – Me desculpa a intromissão, tá? Acabei aqui, lendo suas coisas e

nem pedi...
FELÍCIA – Não tem problema.
JULIA – E... Quem é Ed? Namorado?
FELÍCIA – Não. Quer dizer, não ainda. A gente tá se conhecendo...
JULIA – Então me fala mais dele.
FELÍCIA – Ed é um amor de pessoa! A gente ainda não se viu

pessoalmente, mas só pelo tempo que a gente se fala...
JULIA – Espera, explica de novo que eu não entendi. Vocês ainda não se
viram pessoalmente?
FELÍCIA – Não. A gente se conheceu numa sala do mIRC, ficou amigo, aí

foi indo, indo... Me apaixonei por ele.
JULIA – Minha filha...
FELÍCIA – Mãe! Você nunca teve frescura com meus relacionamentos,

vai começar a ter agora?
JULIA – Não é frescura, Felícia. É só preocupação!
FELÍCIA – Não se preocupa. Eu tô feliz.
JULIA – Meu anjo... Depois daquele pesadelo horrível, tudo o que diz
respeito a você me preocupa. Principalmente encontrar alguém que você
nunca viu.
FELÍCIA (sorri) – Mas eu já sou uma mocinha grande, já sei me virar

sozinha. Pode ficar tranqüila que eu vou e volto inteira. E
provavelmente, namorando.
JULIA – Queria tanto ter a tua calma...
CORTA PARA
CENA 24 – VERMONT/RESTAURANTE – INT – TARDE

As meninas terminam de almoçar.
TERESA – E aí? Mudou de idéia?

ALIENA – Não.
TERESA – Ali!
ALIENA – Já me sinto melhor, mas quero mesmo voltar pra casa com
Irina.
OLGA (triste) – Ah, mãe...
ALIENA – Meu amor, eu não quero estragar o passeio de vocês. Se eu

ficar aqui, vai ser tão chato...
TERESA – Tá bom, a gente não vai te obrigar. Mas... Caramba, a gente

queria mesmo é que você ficasse!
ALIENA – Não dá mesmo. Mas eu juro, juro pra vocês que a gente vai
fazer outra viagem, e vamos todas nos divertir muito!
Maria, Olga e Teresa ficam olhando para Aliena, que sorri tentando
passar um pouco de ânimo.
CORTA PARA
CENA 25
Tomada da Vila do Ipsep-Recife.
CORTA PARA
CENA 26 – CASA DE Mª EDUARDA/QUARTO DAS MENINAS – INT

– TARDE
Eloíse conversa com Rodrigo no MSN. Jacqueline entra

furtivamente e senta-se na cama, bem atrás de Eloíse. Ela lê todo o
conteúdo da conversa do casal.
JACQUELINE – Oi!
ELOISE (olha para trás, um pouco assustada) – Jackie!
JACQUELINE – Desculpa, não queria te assustar.
ELOÍSE – Tudo bem...
JACQUELINE (vê a foto de Rodrigo) – Esse aí é o namorado...
ELOÍSE (sorrindo) – É. Lindo, né?
JACQUELINE – É bonito sim.
ELOÍSE – Graças a Deus ele já tá voltando, pra ficar por muito tempo!
JACQUELINE – Massa! Eu ouvi mainha falando de festa...
ELOÍSE – É, a festa é pra ele e pra Anuska, prima dele. Idéia minha.
JACQUELINE – Imaginei... Você nem tomou sorvete depois do almoço.

Quer agora? Se quiser vou pegar pra você.
ELOÍSE – Precisa não, vou lá, tomo o sorvete rapidinho e volto pra
continuar falando com o Rô.
Sonoplastia: Jacqueline – Kostars.

Eloíse digita rapidamente a mensagem “vou ali tomar sorvete e
volto num minuto. Beijos” e sai. Sozinha, Jacqueline vai até a porta,
olha cuidadosamente para se certificar de que ninguém está vindo e vai
para o computador. Lá, digita para Rodrigo: “desisti do sorvete só pra
ficar aqui contigo.”
CORTA PARA
CENA 27
Tomada aérea do Recife e região metropolitana. Efeito de
transição tarde/noite.
CORTA PARA
CENA 28 – RECIFE/IPSEP/RUA – EXT – NOITE

A van estaciona e dela descem Amanda e Gabrielle. Jorge recebe
Amanda com um beijo.
AMANDA – Bela recepção!
JORGE – Como foi lá na praia?
AMANDA – Ótimo! Gabi dormiu o dia inteiro...
GABRIELLE – Foi o dia perfeito!
Eles riem e vão andando. Maria Eduarda se aproxima deles.
Mª EDUARDA – Oi, pessoal!

AMANDA – Oi!
Mª EDUARDA – Tava procurando vocês hoje de manhã, meninas. Pensei

que a terra tivesse engolido vocês.
GABRIELLE – Nada... No máximo a gente engoliu muita areia. (ri)

Passamos o dia na praia.
Mª EDUARDA – Ah... É que a Eloíse inventou agora de fazer festa de

boas vindas pro namorado e pra prima dele. Pediu pra eu convidar
vocês. Ah, Jorge, você também está convidado, tá?
Jorge responde apenas com um aceno de cabeça.
Mª EDUARDA – A festa vai ser no próximo sábado, lá em casa. Espero

os três lá!
GABRIELLE – Tá. E mande um beijo pras meninas!
O grupo segue adiante, Maria Eduarda pro lado oposto.
AMANDA – A prima do Rodrigo é a...
GABRIELLE – Anuska.
Jorge não disfarça o incômodo ao ouvir o nome de Anuska.
GABRIELLE – Uma dançarina super competente, que nem o Rodrigo,

namorado da Eloíse. Pensei que eles nunca fossem voltar da turnê...
JORGE – É. Eu também pensei isso.
Gabrielle olha para Jorge, como que censurando a reação dele.

Depois olha para Amanda.
GABRIELLE – Vou indo pra casa. Vai comigo?
AMANDA – Não, vou ficar um pouco com o Jorge. Chego depois.
GABRIELLE – Tá bom. Tchau, Jorge.
JORGE – Tchau.
Gabrielle vai andando sozinha por um caminho e o casal segue

junto.
AMANDA – Você vai?
JORGE – Pra onde?
AMANDA – Pra festa.
JORGE – Claro que não. E você também não devia ir.
AMANDA – Assim... Jorge, eu só perguntei se você tava a fim de ir. Não

pedi sua opinião sobre o que eu deveria fazer.
JORGE – Mas eu tô dizendo mesmo assim. Me incomoda saber que

Anuska tá voltando.
AMANDA – Pensei que essa história de vocês já tinha se resolvido.
JORGE – E se resolveu! Ela pro lado dela e eu pro meu.
AMANDA – Isso pra mim não é resolver bem resolvido.
JORGE – Mas pra mim é. E é melhor a gente parar por aqui com essa
história. Não quero me irritar com você.
AMANDA – Tá bom. (t) Mas já vou avisando que com ou sem você, eu
vou com minha irmã.
Jorge fica olhando para Amanda, que o encara, decidida.

Sonoplastia: Pedra – Djavan.
CORTA PARA
CENA 29
Tomada aérea da estrada que liga Vermont a Nova York.
CORTA PARA
CENA 30 – ÔNIBUS – INT – NOITE

Sonoplastia: Lubit, ne lubit – Natalia Bannova.
Aliena, com Irina no colo, chora em silêncio.
ALIENA – Ed... Eu não queria que as coisas terminassem desse jeito...

Eu te amo tanto!
Ela olha o bebê, que dorme profundamente, e enxuga as lágrimas.
ALIENA – Mas agora chega. Essa foi a última vez que me humilhei por
sua causa, Ed. Acabou tudo, pra sempre.
CORTA PARA
CENA 31 – VERMONT/HOTEL/SUÍTE DAS MENINAS – INT –

NOITE
As garotas assistem a um desenho animado qualquer na TV.
TERESA – Gostou do show, Olga?
OLGA – Gostei sim. Ia gostar mais se mamãe estivesse aqui.
TERESA – É, tudo ia ser bem melhor se Alieshka estivesse aqui. Mas ela
é grande demais pra gente segurar ela em qualquer canto. Se fosse
assim, do tamanho da Maria, ainda dava...
Olga e Teresa riem. Maria continua séria.
TERESA – Maria... Era pra rir!
MARIA – Rir? Do que?
TERESA – Deixa pra lá.
MARIA – O que a gente vai fazer amanhã?

TERESA – Isso aí é a sua irmã quem vai resolver. O que a gente faz,
Olga?
OLGA – Sei lá, amanhã a gente vê. Tem mais pipoca aí?
Teresa coloca o balde de pipoca no meio da cama e as três

continuam comendo e assistindo.
CORTA PARA
CENA 32
Tomada de Vermont. Efeito de transição noite/dia.
CORTA PARA
CENA 33 – VERMONT/RUA – EXT – DIA

Teresa, Olga e Maria saem do hotel.
MARIA – Ainda não me disseram pra onde a gente vai!
OLGA – Ah, qualquer lugar serve. A gente não conhece nada aqui
mesmo!
TERESA – E tem coisa melhor, gatinhas? Estamos sozinhas, num estado

desconhecido, com um monte de novidade pra ver... Vamos bater perna
por aí!
As três saem andando de mãos dadas, conversando em off.
CORTA PARA
CENA 34 – NY/CASA DE ALIENA/SALA – INT – DIA

Aliena ainda com roupas de dormir, alimenta Irina.
ALIENA – Espero que as garotas estejam se divertindo agora. Enquanto

isso, vamos ter um bom tempo juntas, não é, meu anjo?
A campainha toca insistentemente, com um pouco de violência.
ALIENA – Hold a second, please! [Espere um segundo, por favor!]
Aliena levanta, leva Irina até seu berço e volta para abrir a porta.
Surpresa, encontra Ed do outro lado.
ALIENA – O que você está fazendo aqui?
ED – Resolvi voltar mais cedo... Pra gente conversar direito. Pode ser?
Aliena fica encarando Ed, muito séria.
FIM DO CAPÍTULO 04

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CENA 01 – ESTRADA – EXT – DIA

CENA 02 – CARRO DE BRADLEY – INT – DIA

Ed dá uma risada sarcástica e aumenta o volume do som do carro.

CENA 03 – CARRO DE ALIENA – INT – DIA

TERESA (a cutuca de leve) – Ei, moça... Tá dormindo?

ALIENA – Não. Só estava pensando.

TERESA – Posso saber no quê?

ALIENA – Um monte de bobagens. Sabe quando a gente fica pensando

TERESA (desvia um pouco a atenção da estrada, com ar um pouco

Aliena olha para Teresa e se esforça para sorrir. Teresa volta a se

CENA 05 – CASA DE EMÍLIO/SALA – INT – DIA

MICHELLE – Ele se mandou, mãe. Pegou um avião clandestino e sumiu

EMÍLIO – Aquele... Aquele filho da mãe conseguiu estragar tudo! Como

AMÉLIA – Não se martirize mais, Emílio... Isso só vai piorar as coisas. A

AMÉLIA – Já sei. É sobre aquela lan...

EMÍLIO – Que você odeia.

MICHELLE – Agora eu vou subindo. Acho bom todo mundo ir dormir

EMÍLIO – Tem razão, filha. Espero que eu consiga fechar os olhos!

AMÉLIA (carinhosa) – Vai conseguir sim...

Amélia e Emílio sobem, para o quarto. Michelle fica ao pé da

MICHELLE – Bom... Só pra garantir é melhor fazer um chá de camomila.

Michelle vai para a cozinha.

CENA 06 – PE 60 – EXT – DIA

CENA 07 – VAN – INT – DIA

AMANDA – Tu tá mesmo com cara de quem não dormiu nada... Algum

GABRIELLE – Não, é que passei a noite toda trabalhando...

AMANDA – Pelo amor de Deus, Gabi. Fim de ano e tu ainda aí,

GABRIELLE – Era só um negócio que eu queria terminar. Agora já

AMANDA – Ah, bom. (t) Mudando de assunto... Acho que o Jorge tá

GABRIELLE – E você não tá?

GABRIELLE – Sabe... Eu até entendo um pouco o lado dele.

GABRIELLE – É, vê só. O cara tava quase casando, quando pega a noiva

GABRIELLE – Eu sei. O problema é convencer ele disso...

As duas seguem conversando, em off.

CENA 09 – VERMONT/RUA – EXT – DIA

ALIENA – A gente vai ficar aqui mesmo?

TERESA – É. Você vai com as meninas enquanto procuro um lugar pra

Olga pega Irina e desce do carro. Maria e Aliena fazem o mesmo.

OLGA – Tá procurando alguma coisa, mãe?

ALIENA – Não, filha.

OLGA – Ah, tá.

Elas entram no hotel. Logo depois, o carro de Ed também

CENA 10 – NY/AP. DE FELÍCIA/SALA – INT – DIA

JULIA – Surpresa! Posso entrar?

JULIA – Eu também não, mas enfim...

FELÍCIA – Vamos pra cozinha, lá a gente toma um café e conversa.

As duas vão para a cozinha.

CENA 11 – AP. DE FELÍCIA/COZINHA – INT – DIA

FELÍCIA – Ainda não me falou o motivo da visita surpresa.

FELÍCIA – Ai, mãe... Bastava ligar!

JULIA – Sonhei que você era seqüestrada por um homem... Um homem

Felícia não responde e fica olhando para Júlia.

CENA 12 – VERMONT/HOTEL/SUÍTE DAS MENINAS – INT – DIA

ALIENA (animada) – Vamos!

TERESA – Nossa, tô gostando de ver a animação! Fico esperando vocês

ALIENA – Vou só lavar aqui o rosto rapidinho e já desço.

Aliena entra rapidamente no banheiro.

CENA 13 – VERMONT/HOTEL/SUÍTE DAS MENINAS/BANHEIRO –

CENA 14 – VERMONT/HOTEL/SUÍTE DE ED – INT – DIA

A partir daqui, mostra-se o rosto do personagem quando ele

ALIENA – Ed, sou eu.

ED – Eu sei. Aconteceu alguma coisa?