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Apresenta

A Rede

Novela de:

Evana Ribeiro

CAPÍTULO 11
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CENA 01 – NY/CHELSEA HOSPITAL/QUARTO DE FELÍCIA – INT


– NOITE
Continuação da cena final do capítulo anterior. Julia arrasta
uma cadeira para perto da cama de Felícia, senta e fica olhando a
filha, em silêncio. Ficam assim por alguns instantes.

JULIA – Minha filha, você quer me matar do coração? Se for isso, me


avise logo pra ir comprando o caixão.

FELÍCIA – Desculpa, mãe... Eu não imaginava que isso fosse


acontecer. Tava tudo tão certinho!

JULIA – Devia ter me ouvido quando disse pra tomar cuidado.

FELÍCIA – Eu sei, desculpa.

JULIA – O que eu não entendo é como uma menina como você, uma
menina bem criada, ajuizada, esclarecida, foi cair num golpe desses?

FELÍCIA – Ah, mãe... Eu não sei! Ele parecia ser um cara inteligente,
tinha um papo legal, falava umas coisas tão bacanas... Acabei me
apaixonando e foi isso aí.

JULIA – Você podia ter morrido.

FELÍCIA – Mas graças a Deus, não aconteceu nada. Eu tava com mais
medo do que ele pudesse fazer com o bebê... Enfim, acabou e todo
mundo sobreviveu.

JULIA – Graças a Deus... Amanhã venho te buscar pra gente ir pra


casa. Vou ficar com a senhorita até quando eu julgar conveniente e
nem pense em dizer que não precisa, que se cuida sozinha.
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FELÍCIA – Tudo bem.

Julia dá um beijo na testa de Felícia e a abraça. Sonoplastia: A


name – Laura Peek and the winning hearts.

CORTA PARA

CENA 02 – NY/PRESÍDIO/CELA – INT – NOITE


Ed está sentado encostado às grades, muito quieto. Bradley
está do lado oposto.

BRADLEY – Belo fim de carreira.

ED – Não, fim de carreira coisa nenhuma! Ainda vou dar um jeito de


me vingar daquelas duas, principalmente da Teresa. (t) De algum
jeito eu vou.

BRADLEY – É? Como, se daqui a alguns dias provavelmente nós dois


vamos ser deportados para nossos países de origem e elas vão ficar
aqui?

ED – Como é?

BRADLEY – Vamos ser deportados e julgados de acordo com as leis


do país de origem.

ED – Eu voltando pro Brasil... Nem a pau.

BRADLEY – Mas pensa direitinho: não é melhor pra você ser julgado
lá?
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ED – E eu tenho dupla nacionalidade. Não sei como essas coisas


funcionam, mas provavelmente vão querer me julgar aqui.

BRADLEY – Eu ainda acho que não. E se você for deportado, melhor


pra você.

ED – Não, não... Se eu for embora, não posso mais voltar. Eu tenho é


que... Ficar.

Os dois ficam em silêncio por alguns instantes. Clima tenso.

ED – Bradley, você tem idéia de quando essa deportação aí pode


acontecer?

BRADLEY – Não sei exatamente, mas provavelmente vão querer se


livrar da gente o mais rápido possível.

ED – É que isso acabou de me dar uma idéia de fuga... Pelo menos


pra mim vai servir. (t) Vou ficar aqui meditando, não me interrompa
por nada.

Ed se vira de costas para Bradley e fica em posição meditativa.


Bradley tenta dormir. Sonoplastia: Pnevmatika.

CORTA PARA

CENA 03
Tomada de Recife.

CORTA PARA
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CENA 04 – RECIFE/AP. DE WALTER/SALA DE ESTUDOS – INT –


NOITE
Walter ainda está sentado diante do computador. Bebe um
pouco de café. A porta está entreaberta e Jéssica passa a cabeça
através dela.

JÉSSICA – Posso entrar um pouquinho?

WALTER – Claro, filha, vem cá.

JÉSSICA (entrando) – Cê não tá cansado, não?

WALTER – Um pouco, mas eu tava aqui procurando notícias sobre o


que aconteceu com a sua tia Teresa.

JÉSSICA – Ela não tá legal?

WALTER – Me deu um susto enorme. Se enrolou com um bandido e


quase...Bem, quase morreu, minha filha. (t) Mas já saíram notícias
mais detalhadas e ela não se feriu. A outra doida que tava com ela
sim.

JÉSSICA – Menos mal... Mamãe mandou perguntar se você ia dormir


agora.

WALTER – Diga a ela que não. Agora a senhorita é que devia estar na
cama, não?

JÉSSICA – Não tô com sono.

WALTER – Vá pra cama que o sono sabe o caminho.


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JÉSSICA – Tá, boa noite.

Jéssica dá um beijo no pai e sai. Walter pega o celular e liga


para Danilo.

CORTA PARA

CENA 05 – BAR BURBURINHO – INT – NOITE


Danilo está andando pelo bar, quando sente seu celular
tocando. Vê o nome de Walter no visor e se afasta para atender.

DANILO – Oi, cara. O que foi? (t) Ah... Tá vendo como não tinha
motivo pra se preocupar? (t) Tá, tá... Agora eu vou comemorar.
Valeu. Tchau.

Danilo desliga o celular e vai para o balcão. Senta ao lado de


Jacqueline, que logo percebe sua chegada e o olha com interesse. Ele
retribui o olhar.

DANILO (para o barman) – Um uísque duplo.

O barman serve a bebida de Danilo e vai atender outro cliente.

JACQUELINE – Dor de corno, é?

DANILO – Nada... Essa aqui é em homenagem a Teresa Scheid, a


galega mais sortuda que nasceu nessa cidade. À sua saúde!

Danilo ergue seu copo e Jacqueline o acompanha. Os dois


bebem seus drinks de uma vez só. Jacqueline continua o olhando
fixamente.
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JACQUELINE – Já te disseram que tu tem cara de executivo?

DANILO – Cara de quê?

JACQUELINE – De executivo.

DANILO – Ah, não. Já me disseram que eu tenho cara de vagabundo,


mas de executivo nunca.

JACQUELINE – Só tá faltando o terno e a gravata.

DANILO – Ou seja, tá faltando tudo. (ri)

JACQUELINE – Que nada... Roupa é só um detalhe.

Jacqueline sorri maliciosamente enquanto vai passando a mão


pelo corpo de Danilo. Ele segura a mão dela, fazendo-a parar.

DANILO – Ei, peraí, só um minuto. Meu código de ética exige que eu


lhe faça duas perguntinhas básicas. (t) Primeiro, seu nome.

JACQUELINE – Jacqueline.

DANILO – O meu é Danilo. E a segunda pergunta é: tem certeza que


você é maior de idade?

JACQUELINE – Tenho 19 anos, quase 20.

DANILO – Agora sim, podemos continuar.


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Danilo solta a mão de Jacqueline, que continua o acariciando.


Eles se beijam ardentemente. Corta para a mesa de Anuska e
Rodrigo, que assistem a cena.

ANUSKA – Viu só?

Rodrigo não responde e bebe um copo de refrigerante.


Sonoplastia: Sujeito de sorte – Belchior.

CORTA PARA

CENA 06
Tomada aérea de Recife. Efeito de transição noite-dia.

CORTA PARA

CENA 07 – CASA DE Mª EDUARDA/COZINHA – INT – DIA


Maria Eduarda está na cozinha, preparando o almoço.
Jacqueline entra, usando camisola.

JACQUELINE – Bom dia, mãe.

Mª EDUARDA – Já tava na hora, hein?

JACQUELINE (se servindo) – Sabe quem eu vi ontem no bar, mãe? (t)


O Rodrigo.

Mª EDUARDA – Namorado da Elô?

JACQUELINE – Ele mesmo. Tava sozinho com a prima...

Mª EDUARDA – Falou com você?


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Corta para a entrada da cozinha. Eloíse está lá, ouvindo tudo


sem ser notada.

JACQUELINE (em off) – Nadinha. Ou não me viu, ou fingiu que não


viu...

Mª EDUARDA – Sim, mas por que tá me falando isso?

JACQUELINE – Eu só achei estranho... Ele vive tão grudado com a


Eloíse, aí aparece assim sem ela.

Mª EDUARDA – Mas se ele tava com a prima...

JACQUELINE – Sei lá... Eu não botaria a mão no fogo.

Mª EDUARDA – Tá, mas pode esquecer esse assunto. E não vai


contar nada pra sua irmã, viu? Não quero ver Eloíse alarmada.

JACQUELINE – Tá bom.

Eloíse sai de sua posição, com ar preocupado.

CORTA PARA

CENA 08 – CASA DE EMÍLIO/QUARTO DE MINERVA – INT –


DIA
Minerva está deitada na cama, com a perna engessada.
Miranda entra com uma bandeja de café da manhã.

MIRANDA – E como é que tá aí, gata?


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MINERVA – Entediada.

MIRANDA – Trouxe isso aqui pra você.

Miranda coloca a bandeja no colo de Minerva e esta começa a


comer.

MIRANDA – Foi bem legal o Miguel ter te levado pro hospital, né?

MINERVA – Foi.

MIRANDA – E ele é bem gatinho. Você podia ficar com ele, né?

MINERVA – Por que essa conversa agora?

MIRANDA – Porque acho que vocês combinam. Mainha ia odiar se


vocês ficassem, já que ela odeia a vizinhança aqui. Mas...

MINERVA – Esquece isso.

MIRANDA – Não me diz que tu também tá na frescura dela!

MINERVA – Não, mas eu só não tô a fim de pensar nessas coisas


agora! Tem outras coisas mais importantes.

MIRANDA – O que, por exemplo?

MINERVA – O que eu vou fazer nesse tempo que vou ficar afastada
do trabalho.

MIRANDA – Não sei como vocês conseguem viver assim. Deixem de


ser zerogâmicos! (t) Falando em zerogâmico, Mick passou por aqui?
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MINERVA – Não, mas já deve ter acordado, por quê?

MIRANDA – Nada, eu só quero matar o infeliz.

MINERVA – Ainda naquela história da Elissa?

MIRANDA – É! Ele não devia ter maltratado a minha amiga assim.


Agora ele vai me ouvir!

Miranda levanta para sair.

MINERVA – Miranda, me passa o laptop aí, por favor? Vou ver se faço
algo que preste enquanto estou aqui com esse gesso chato.

MIRANDA (pega a bandeja de volta) – Vou levar isso pra cozinha e


depois vou lá atrás do Mick.

Miranda joga um beijo para Minerva e sai. Minerva começa a


trabalhar.

CORTA PARA

CENA 09 – CASA DE EMÍLIO/QUARTO DE MICK – INT – DIA


Mick está deitado na cama, mas acordado. Emílio entra.

EMÍLIO – Tá dormindo ainda, filho?

MICK – Não, acordei faz um tempinho.

EMÍLIO – Sua mãe tá toda preocupada lá embaixo, porque você não


foi tomar café... Antes que ela subisse, vim aqui falar contigo.
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MICK – Mas eu só perdi a hora...

EMÍLIO – Você sabe como é a sua mãe, por qualquer coisa tá


estressando. Mas conta aí, como foi a noite?

MICK – Nada demais. A Miranda é que deve tá chateadona comigo


porque dei outro fora na Elissa.

EMÍLIO – Ela tava esbravejando lá na cozinha. (t) Mick, você não


parou pra pensar nem um pouquinho em dar uma chance pra Elissa?

MICK – A gente não combina.

EMÍLIO – Mas nem um pouquinho?

MICK – De jeito nenhum... Não ia dar certo.

EMÍLIO – Mas vocês nem se conhecem direito. E pelo jeito, ela deve
gostar muito de você. Talvez fosse o caso de se dar uma chance de
ao menos conhecer a menina... Só conhecer mesmo. Talvez ela seja
uma pessoa legal, não?

MICK – É, pode ser...

EMÍLIO – Bem, se você resolver tentar, já sabe... É só ir atrás da sua


irmã.

MICK – Valeu, pai.

Emílio sai. Mick se levanta e começa a arrumar a cama.


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CORTA PARA

CENA 10
Tomada de Nova York pela manhã.

CORTA PARA

CENA 11 – NY/CHELSEA HOSPITAL/QUARTO DE FELÍCIA – INT


– DIA
Felícia está em pé, se arrumando para sair. Teresa entra com
Olga, Maria e Irina.

TERESA – Bom dia!

FELÍCIA – Bom dia!

TERESA – Já tá de pé?

FELÍCIA – Já, minha mãe vem me buscar daqui a pouco.

TERESA – Ah... Já soube que ele tá preso?

FELÍCIA – Mesmo?

TERESA – Graças a Deus tá fora de circulação. Agora podemos beber


e rir de tudo o que aconteceu, né?

OLGA – Só não vai dizer que tá pronta pra outra, hein?

TERESA – Não, pra outra dessas não fico pronta nunca mais. E
prometo pra vocês que a partir de hoje só vou usar a Internet pra
fins profissionais. Nunca mais procurar homem em sala de bate papo,
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nunca mais arrumar namorados virtuais e o mais importante: nunca


mais me enrolar com ninguém sem saber da ficha criminal do sujeito.

MARIA – Vai cumprir isso mesmo?

TERESA – Vou, tô falando sério!

OLGA – Quero ver isso...

FELÍCIA – Ah, já que falou em comemorar, a gente pode mesmo


marcar alguma coisa. Que tal se fosse lá em casa? Minha mãe vai
gostar de conhecer vocês.

TERESA – Então vamos ver aí...

Elas continuam conversando, enquanto Felícia termina de se


arrumar. Sonoplastia: Eu queria morar em Bervely Hills – Paulo
Francis Vai Pro Céu.

CORTA PARA

CENA 12 – RECIFE/AP. DE WALTER/SALA DE ESTUDOS – INT –


DIA
Walter digita algumas coisas no computador. Instantes depois,
dá um soco na mesa, irritado. Beth entra.

BETH – Você não sai mais daí, né?

WALTER – Tenho meus motivos.

BETH – Já sei, a Teresa.


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WALTER – É. Tô tentando pela milésima vez entrar em contato com


aquela criatura, mas até agora nenhum retorno.

BETH – E você acha que ela ainda vai responder? Walter, ela só
queria ficar longe de você pra aprontar à vontade, reconheça isso.

WALTER – Posso me preocupar com a minha irmã em paz?

BETH – Meia irmã.

WALTER – Pra mim dá no mesmo. Talvez ela tenha trocado de


endereço, por isso tá tudo voltando. Vou dar uma passada lá no
Danilo, talvez ele tenha um outro endereço, sei lá.

BETH – Volta pro almoço, pelo menos?

WALTER – Acho que sim.

Walter levanta, passa direto por Beth e sai. Ela fica parada,
com cara de boba.

CORTA PARA

CENA 13 – NY/CASA DE ALIENA/QUARTO DE ALIENA – INT –


DIA
Teresa mexe em várias caixas, espalhando o conteúdo pelo
chão.

TERESA – Agora paga o preço por ser tão bagunceira, Tetê. Paga!
Quando tá realmente precisando falar com os parentes, não encontra
o e-mail. (t) Olga!
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OLGA (chegando) – Oi?

TERESA – Achou alguma coisa no site do departamento de letras?

OLGA – Aquele mesmo e-mail que você tem do provedor que não
existe mais.

TERESA – Ê, lasqueira... Me ajuda aqui a procurar, acho que tô


bagunçando mais as coisas.

Olga começa a ajudar Teresa. Esta pega um monte de papéis e


dele cai um envelope amarelo. Tomada pela curiosidade, Teresa abre
o envelope e retira dele um documento, que lê em silêncio. Depois de
ler, seu rosto toma uma expressão de surpresa.

OLGA – Tetê, aconteceu alguma coisa? Tá passando mal?

Teresa não responde.

CORTA PARA

CENA 14 – NY/ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA/SALA DO DR.


PERRY – INT – TARDE
Teresa conversa com Dr. Perry, que lê o documento que Teresa
encontrou.

DR. PERRY – Este documento é perfeitamente autêntico, senhorita


Scheid. Com ele, a senhorita passa a ter plenos poderes para gerir
tudo o que foi deixado pela senhora Svidrigailova, incluindo cuidar de
suas filhas.

TERESA – É tipo um testamento?


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DR. PERRY – É, quase isso.

TERESA – Mas é estranho ela não ter me dito nada sobre isso antes.

DR. PERRY – Ela deve ter tido lá os seus motivos. Mas pode ficar
tranqüila; com esse documento aqui em mãos, ninguém poderá
contestar seus direitos sobre a custódia das meninas.

TERESA – Mas a Irina tem pai vivo... Edward Stevens é pai dela. Será
que ele, se sair da cadeia, não pode exigir os direitos paternos?

DR. PERRY – Bom, até onde eu soube pela finada senhora


Svidrigailova, ele nunca se importou em saber nada sobre Irina. E
mesmo que agora quisesse, quem iria dar a guarda da criança para
um sujeito como ele?

TERESA – É verdade...

Teresa suspira aliviada e sorri.

CORTA PARA

CENA 15
Tomada de Recife à tarde.

CORTA PARA

CENA 16 – CASA DE IAN/JARDIM – EXT – TARDE


Elissa e Joséphine tomam sol na piscina.
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JOSÉPHINE – Olha, minha filha, depois dessa, se eu fosse você,


desistia desse rapaz.

ELISSA – Mas afortunadamente, não sou você! Eu não desisto do


Mick justamente porque ele é um cara difícil, um joguinho bem
divertido de jogar. Se fosse fácil não ia ter graça.

JOSÉPHINE – Aí enquanto você se distrai com esse joguinho nível 4,


a vida vai passando e você vai perdendo chances de encontrar
alguém que valha mais a pena investir. Elissinha, a gente só é jovem
e bonita uma vez! Ou faz um investimento seguro pra toda a vida ou
já era.

ELISSA – Exemplo: a senhora e papai. Excelente investimento!

O celular de Elissa toca. Ela olha o visor, que mostra um


número desconhecido.

ELISSA – Alô?

Elissa sorri.

JOSÉPHINE – Quem é?

ELISSA (cobre o microfone do celular) – Meu joguinho favorito na


linha. (no celular) Tudo bem, Mick?

Elissa continua falando, em off. Sonoplastia: Red, red, red –


Fiona Apple.

CORTA PARA
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CENA 17 – ED. CHATEÂU D’ARGENT/3ª ANDAR/CORREDOR –


INT – TARDE
Geysa sai do elevador. Atende o celular.

GEYSA – Oi. (t) Eu já tô indo, já tô indo! Que impaciência...

Geysa desliga o celular, o guarda no bolso e toca a campainha.


Beth abre a porta.

GEYSA – Oi... É... O professor Walter está?

BETH – Não, ele saiu há algumas horas e ainda não voltou.

GEYSA – Ah... Eu sou aluna dele, meu nome é Geysa. Será que ele
demora muito?

BETH – Acho que não, entra pra esperar um pouco.

Geysa entra, um pouco tímida. Observa todo o local com


atenção. Beth e Geysa sentam no sofá.

BETH – Talvez eu possa ajudar você em algo.

GEYSA – Bom, acho que pode. É que eu faço parte de um grupo de


estudos lingüísticos e queria pegar um livro com o professor Walter,
por isso vim aqui.

BETH – Bom, se você me der o nome do livro eu posso ver lá na sala


dele.

Geysa entrega um papel com o nome do livro para Beth, que


entra. Logo depois ela volta, sem o livro.
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GEYSA – Não tem?

BETH – Não sei. Eu esqueci que o Walter sempre deixa a porta


daquela sala trancada quando sai. Não sei por que, mas deixa.

GEYSA – Que estranho, né?

BETH – Sabe que teve um tempo que eu até pensei que ele andava
escondendo uma amante, ou algo assim? Tudo besteira de mulher
ciumenta.

GEYSA – Ah, mas ter ciúme não é besteira não... Pelo menos eu não
acho. Ainda mais do professor, que é um dos mais... Paquerados lá
na Universidade. (vê um porta-retrato com uma foto da família) Seus
filhos?

BETH – É, nós temos dois. Essa foto tá meio antiguinha... A menina,


Jéssica, já tá naquela idade de dar trabalho, treze anos. O menino é
Júnior e tem nove. E esses dois aí atrás são meus cunhados, Maria
Teresa e Danilo. Ela já se mandou, agora o Danilo...

GEYSA – Assim, pela foto, ele parece ser legal.

BETH – E é! A quilômetros de distância. Vou te confessar uma coisa:


se Danilo não estivesse por perto, meu casamento ia ser bem melhor.

Geysa faz cara de espanto.

BETH – Ai, meu Deus. Tô aqui te enchendo com as minhas


besteiras...
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GEYSA – Não, que é isso, é bom desabafar às vezes. (olha no relógio)


Mas acho que é melhor eu ir embora agora.

BETH – Não quer esperar mais?

GEYSA – Não, depois eu falo com o professor.

BETH – Não quer fazer um lanchinho antes de ir? Tem torta de limão,
quer?

GEYSA – Muito obrigada, mas fica pra uma próxima.

BETH – Tudo bem. Foi um prazer conhecê-la, Geysa. Ah, meu nome é
Elisabeth, mas pode chamar de Beth.

GEYSA – Ok, foi um prazer, Beth! Até breve.

Geysa sai. Beth vai para a cozinha.

CORTA PARA

CENA 18
Tomada aérea de Recife. Sonoplastia: Bob – Otto.

CORTA PARA

CENA 19 – CASA DE HELENA/SALA – INT – TARDE


Geysa e Helena conversam enquanto tomam café.

HELENA – Vai, me conta o que você descobriu lá.


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GEYSA – Só besteira. Ele tem um casal de filhos, a mulher é


ciumenta pra caramba... E ele tranca a sala dele antes de sair de
casa. Mas o mais interessante mesmo foi o que a Beth disse sobre o
cunhado, Danilo.

HELENA – O que é?

GEYSA – Que se ele não estivesse tão perto, o casamento dela seria
muito melhor.

Helena não responde na hora. Bebe um pouco de café e fica


olhando para o nada.

HELENA – Sabe o que isso significa?

GEYSA – Não.

HELENA – Quer dizer que o Danilo tem um poder destrutivo forte,


que pode me ser bem útil. (t) E eu tenho que descobrir esse poder.

GEYSA – Ah, legal. Agora o que eu ganho com isso?

HELENA – Calma, bonitinha. Sua hora vai chegar.

GEYSA – Tá. Tô esperando...

Helena serve mais café para Geysa. Sonoplastia Encontro –


Chico Pinheiro.

CORTA PARA
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CENA 20
Tomada de Nova York.

CORTA PARA

CENA 21 – NY/PRESÍDIO/CELA – INT – TARDE


Ed continua quieto. Bradley se aproxima dele, cauteloso.

BRADLEY – Tá vivo, cara?

ED (irritado) – Eu disse pra você não me interromper.

BRADLEY – Mas eu tava preocupado, pô. Faz horas que você não
come, nem bebe, nada.

ED – Tava aqui pensando em como eu posso usar essa história de


deportação pra dar o fora daqui. Acho que arrumei uma boa saída.

BRADLEY – Posso saber como é essa saída?

ED – Ainda não. Na hora você vai ver.

Ed pega um copo de água que está perto dele e bebe de uma


vez só. Sonoplastia: Pnevmatika.

CORTA PARA

CENA 22
Imagens de Nova York. Letreiro: “Alguns dias depois...”

CORTA PARA
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CENA 23 – AP. DE FELÍCIA/SALA – INT – NOITE


Noite de véspera de Natal. Teresa, Felícia, Julia, Olga e Maria
comem hambúrgueres e conversam animadamente. Irina dorme em
um carrinho de bebê.

JULIA – Nunca pensei que um dia ia ter uma ceia baseada em


hambúrguer, sorvete, batata frita e Coca-Cola!

TERESA – É que junkie food é o futuro, dona Julia.

JULIA – Mas corta esse ‘dona’ que eu não sou tão velha assim.

FELÍCIA – Sim, é a nova...

Todas riem.

TERESA – Eu proponho um brinde agora. (t) Um brinde a Aliena


Pietrovna, que onde quer que esteja, deve estar bem feliz agora.

As meninas erguem seus copos e brindam.

TERESA – E outro a Edward Stevens, que nunca mais vai encher o


nosso saco!

Elas fazem outro brinde.

CORTA PARA

CENA 24 – NY/AEROPORTO/HALL DE EMBARQUE-


DESEMBARQUE – INT – NOITE
Ed e Bradley andam pelo hall, cercados por uma escolta
formada por agentes do FBI/INTERPOL.
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BRADLEY – Aha… Ich glaube das ist am Ende. [É, acho que acabou.]

ED – E por que diabos você resolveu falar alemão agora?

BRADLEY – É pra ir me acostumando de novo, já que é só isso que


vou ter que falar quando chegar à Áustria.

O grupo pára de andar e fica esperando a chamada do vôo.

BRADLEY – Tá chegando a hora.

ED – Eu sei. Tá chegando a minha hora também.

BRADLEY – O que você vai fazer?

ED – Já disse, espere e verá.

Ed sorri maliciosamente para Bradley, que permanece sério.

********** FIM DO CAPÍTULO 11 **********

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