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ILUSTRADA ( Folha de São Paulo) 6/02/2011

Psicólogos defendem sua participação em programas de TV aberta


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ROBERTO KAZ
DE SÃO PAULO
Na última quinta-feira, Sônia Abrão, apresentadora do programa "A Tarde é Sua", da
Rede TV!, brindou seu público com novidades sobre a acusação de assassinato que
envolve o ex-goleiro Bruno.
Como de praxe, ela estava acompanhada do psicólogo Haroldo Lopes, que, após seis
meses de comentários semanais sobre o assunto, preferiu se abster: "Estou tão confuso
quanto vocês. Não sei mais nada a respeito do caso Eliza Samudio [ex-namorada do
jogador, supostamente assassinada por ele]."
Para saber quem são as pessoas que exercem o saber psicológico na TV, a Folha
entrevistou alguns profissionais do ramo. Ouviu de todos um mantra comum (e nem
sempre verdadeiro): "Não comento casos específicos. Falo de situações genéricas."
Formado em psicologia pela Universidade de Santo Amaro, Haroldo Lopes conheceu
Sônia Abrão há 15 anos, no júri do programa Flávio Cavalcanti. Não se largaram mais.
"Acompanhei-a em programas de rádio, até chegarmos à TV", conta.
SESSÃO A R$ 200
Quando não está em estúdio ("Fico à disposição de segunda a sexta, das 14h às 17h"),
atende no bairro de Moema. Cobra, em média, R$ 200 a sessão. "Sempre atendo um
paciente de graça. É missão minha com Deus."
Conta que a exposição na TV foi benéfica ao consultório: "Passei a ter mais clientes, não
vou negar. Um paciente veio do Ceará para passar 15 dias sendo atendido por mim". Diz
que, no ar, a abordagem "deve ser a mais superficial possível". "Sempre digo 'partindo do
princípio de que é um homicida', e aí faço minha abordagem".
Alexandre Rivero, que já participou do "Hoje em Dia" e do "Superpop", atende em uma
casa no Ipiranga, por R$ 250. Seu consultório tem reproduções de quadros do
renascentista Rafael (1483-1520) e uma Bíblia aberta, rente à sua poltrona. Em um
episódio recente do programa "Domingo Espetacular", da Record, ele aparecia lendo um
livro sobre hipnose, para depois opinar sobre um caso de homicídio: "Não me parece um
perfil psicopata. O psicopata não tem afetividade, não tem valores".
Egresso da Universidade de São Marcos, Rivero acredita que as aparições "dão
credibilidade ao trabalho", embora sejam mal vistas: "A academia tem o receio de que os
programas populares manchem uma pureza doutrinária. Mas grande parte do sustento
científico vem do povo, através dos impostos. Esse conhecimento tem que retornar a
eles."
A opinião é compartilhada por Jacob Goldberg, que, além de ter colaborado com os
telejornais da Globo, já apareceu nos programas de Ana Maria Braga, Márcia Goldschmidt
e Clodovil Hernandes (1937-2009).
"Muitos intelectuais se encastelam na universidade, considerando as aparições na TV
narcísicas. Mas sempre ocupei todos os espaços possíveis para contestação e crítica", diz,
em seu consultório adornado com reportagens publicadas a seu respeito.
Goldberg atende em Higienópolis, bairro de endinheirados; cobra R$ 200 pela consulta.
Acredita que, no seu caso, a exposição é prejudicial: "Se participo de um programa trash,
ouço reclamações dos meus clientes durante um mês. Mas o trash também é uma
realidade social. Não tenho o menor constrangimento de aparecer na Márcia
Goldschmidt".
Ildo Rosa da Fonseca, cativo do "Casos de Família", do SBT, estreou na televisão cinco
anos atrás, em um programa sobre o Dia da Sogra. Ganha R$ 500 por episódio gravado.
Entre os psicólogos entrevistados, ele é o único a ter cachê fixo. Formado no Instituto
Metodista, Fonseca também apresenta uma atração de rádio, o "Café com Cristo", na Boa
Nova AM.
Seu consultório, na Vila Mariana, tem uma coleção de DVDs do seriado "Sex and the
City". Explica: "Trabalho com terapia de casal. Quando o tema não vem, coloco o DVD e
faço aparecer".
O artifício não é necessário quando está gravando. Em um episódio recente do "Casos de
Família", Fonseca opinou sobre um conflito amoroso: "Moacir, você é uma pessoa
extremamente sedutora, como qualquer criança. Mas não é sedutor como homem. Por
isso está sozinho".
Em dezembro, Fonseca e Anahy d'Amico (também psicóloga do "Casos de Família") foram
convocados a se apresentar ao Conselho Regional de Psicologia. "Tomamos café, foi
gratificante. Para eles, é bom que divulguemos a psicologia", disse ele.
Já Graça de Carvalho Câmara, conselheira da entidade, disse que o encontro teve caráter
preventivo. "É antiético fazer um diagnóstico no ar. Você precisa de algumas sessões
para isso. Recebi-os para dizer que a postura deles era inadequada e que, se não fosse
alterada, poderia resultar em processo ético."
Atualmente, o Conselho move 18 processos ligados à aparição de psicólogos em
programas de TV. Eles correm em sigilo. Nenhuma licença foi cassada.
Ouça comentário sobre os psicólogos da TV

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