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Conceito de Sintagma

Sintagma
Gramática
 1. A classe dos sintagmas
  2. O Sintagma verbal - conceito
  2.1 Constituintes do sintagma verbal
  2.2 Processos de ampliação do sintagma verbal
  3. A questão da transitividade
A fonologia, a morfologia, a sintaxe e a semântica constituem o estudo da estrutura
interna de uma língua - aquilo que a distingue das outras línguas do mundo - e que
não é resultado directamente de condições da vida social ou do conhecimento do
mundo. Já o léxico se distingue da gramática propriamente dita: nele estão
colocadas as informações que não se reduzem a regras gerais. Temos que pensar
também no aspecto pragmático da linguagem, que, diferentemente do aspecto
sintáctico (propriedades formais das construções linguísticas) e do aspecto
semântico (relação entre as unidades linguísticas e o mundo), se relaciona à
situação concreta de uso e à influência do contexto na interacção falante/ouvinte
(motivações psicológicas do falante, reacções dos ouvintes ou leitores).
Para um ensino produtivo da língua e da literatura, nas actividades de leitura,
compreensão e produção de textos, consideramos essencial que o estudante
perceba que:
 Existe uma hierarquia na estrutura da oração, isto é, a oração apresenta
constituintes e estes contêm outros constituintes;
 Cada constituinte oracional apresenta uma estrutura interna própria;
 Os constituintes da oração têm comportamento sintáctico variado,
apresentando relações de ordem, de concordância e de regência;
 A partir de estruturas sintácticas simples (núcleo + elementos adjacentes), é
possível produzir estruturas mais complexas, com base em processos de
ampliação.
A Classe dos Sintagmas
 Sintagma é uma unidade formada por uma ou várias palavras
que, juntas, desempenham uma função na frase.
A combinação das palavras para formarem as frases não é aleatória; precisamos
obedecer a determinados princípios da língua. As palavras combinam-se em
conjuntos, em torno de um núcleo. E é esse conjunto (o sintagma) que vai
desempenhar uma função no conjunto maior, que é a frase. Exemplos:

O turista
viajou.
O jovem turista
viajou.
estrangeiro
viajou.
Aquele jovem turista
viajou de carro.
Nenhum turista
viajou de carro para Chaves.
O turista estrangeiro 
viajou de carro para Chaves ontem.
O turista estrangeiro
viajaram.
O turista e sua família
Por unidade sintagmática deve ser entendido um agrupamento intermediário entre
o nível do vocábulo e o da oração. Desta maneira, um ou mais vocábulos unem-se
( em sintagmas ) para formar uma unidade maior, que é a oração.
Os vocábulos que compõem a unidade sintagmática organizam-se em torno de um
núcleo; dependendo do núcleo, podemos falar em sintagma nominal e sintagma
verbal.
 Chama-se sintagma a uma sequência de palavras que constituem
uma unidade ( sintagma vem de uma palavra grega que comporta
o prefixo sin, que significa com, que encontramos, por exemplo,
em simpatia e sincronia). Um sintagma é uma associação de
elementos compostos num conjunto, organizados num todo,
funcionando conjuntamente. (...) sintagma significa, por
definição, organização e relações de dependência e de ordem à
volta de um elemento essencial. (Dubois-Charlier. Bases de
Análise linguística)
Diferentes vocábulos que pertencem a um mesmo sintagma desempenham, dentro
dele, funções distintas: no sintagma nominal, por exemplo, o nome substantivo que
funciona como núcleo pode ser determinado por artigos, pronomes e numerais e
modificado por adjectivos, locuções adjectivas e/ou orações subordinadas
adjectivas. Desta maneira, é evidente que existe, dentro do sintagma, uma
organização em que os vocábulos, dependendo da sua posição e da relação que
estabelecem entre si, desempenham diferentes funções.
Os princípios sintácticos da língua (sistema de unidades hierarquizadas)
apresentam-se sob a forma de palavras, sintagmas, orações e são relacionadas por
um conjunto de mecanismos formais. Conforme Azeredo (1990), "A estrutura
gramatical do português comporta vários níveis. O morfema é a menor unidade
dessa estrutura; e o período , a maior. Acima do nível dos morfemas encontra-se o
dos vocábulos; acima deste, o dos sintagmas, a que se sobrepõe o das orações.
Esquematicamente, temos:
 
PERÍODO ORAÇÃO SINTAGMA VOCÁBULO MORFEMA

Vamos ler o poema de Cecília Meireles e observar os níveis de estruturação do


enunciado:

Texto

 Colar de Carolina
Com seu colar de coral,
Carolina corre por entre as colunas
da colina.
O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina. E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral
nas colunas da colina. 

(Cecília Meireles)
Comentário do texto
Neste poema, a autora faz um jogo de palavras, tirando proveito principalmente do
aspecto sonoro. Os diversos níveis a que nos referimos acima podem ser apontados
no texto:
nível do período:
O colar de Carolina
colore o colo de cal,
 
torna corada a menina.
 
nível da oração:
O colar de Carolina
colore o colo de cal /
 
torna corada a menina.
 
nível dos sintagmas:
O colar de Carolina/
  SN colore o colo de cal,
  SV torna corada a menina.
 
  SV
 
nível dos vocábulos: Com/ seu/ colar/ de/ coral / Carolina / corre /

  por/ entre/ as/ colunas / de/ a /colina.


nível dos morfemas:
O / colar / de / Carolina /
color/e / o / col/o /de/ cal/,
 
torn/a / corad/a /a/ menin/a.
 
As gramáticas descrevem os níveis da oração e do período dentro da sintaxe e os
níveis do morfema e do vocábulo, dentro da morfologia. No entanto, geralmente
não tomam conhecimento do nível do sintagma - intermediário entre vocábulos e
oração. E...
 "... os vocábulos não se unem para formar a oração do mesmo
modo que os gomos se unem para formar uma laranja. Os
vocábulos não formam a oração senão indiretamente. Eles
associam-se em grupos, os sintagmas, que são os verdadeiros
constituintes da oração."
Com o poema "Colar de Carolina" , podemos exemplificar as palavras citadas
acima; temos diversos vocábulos que se organizam em blocos, os sintagmas, para
então formarem orações.
O que nos interessa mais de perto é exactamente esse nível intermediário, o
sintagma, essa espécie de ponte entre os vocábulos e a oração. Surgem então
algumas perguntas:
Como podemos reconhecer um sintagma? Basta haver mais de um vocábulo para
existir sintagma? Como são formados os sintagmas? Há mais de um tipo de
sintagma ou apenas um? Todas as classes podem formar sintagmas?
Outras perguntas podem aparecer, mas, por enquanto, vamos tentar responder a
essas que nos parecem mais prováveis de ocorrer. Vejamos.
Em primeiro lugar, encontramos também no livro Iniciação à sintaxe (Azeredo:
1990), uma boa resposta para a primeira questão: Como podemos reconhecer um
sintagma? Segundo o autor, três são as maneiras de isolar as unidades que
constituem a oração, ou seja, os sintagmas: o deslocamento, a substituição e a
coordenação.

Lemos logo no início do livro A hora dos ruminantes, de José J. Veiga:

 "A noite chegava cedo em Manarairema. Mal o sol se afundava


atrás da serra - quase que de repente, como caindo - já era hora de
acender candeeiros, de recolher bezerros, de se enrolar em xales.
A friagem até então contida nos remansos do rio, em fundos de
grotas, em porões escuros, ia se espalhando, entrando nas casas,
cachorro de nariz suado farejando."
A primeira frase serve-nos para explicar com clareza a questão levantada.
A noite chegava cedo em Manarairema.
Qualquer um de nós rejeitaria ou perceberia como estranhas as sequências
formadas pelos mesmos vocábulos, porém agrupados assim:
*Noite a chegava cedo em Manarairema.
*Em chegava noite a cedo Manarairema.
No entanto, podemos trocar a posição de alguns grupos de vocábulos da frase
inicial, sem prejuízo da compreensão:
Chegava cedo em Manarairema a noite.
Em Manarairema a noite chegava cedo.
Essa inversão da ordem é possível porque nós mantivemos os grupos (A noite, em
Manarairema), apenas mudámos sua posição. Essa possibilidade de deslocamento
prova que cada grupo é um sintagma. Além disso, podemos fazer substituição de
sequência por unidade simples:
A noite chegava cedo em Manarairema. Ela chegava cedo em Manarairema.
A noite chegava cedo em Manarairema. A noite chegava cedo lá.
Aqui também estamos diante de sintagmas: a possibilidade de substituição por
unidades simples.
Finalmente, podemos usar um elo coordenativo e que vai mostrar a união de duas
unidades do mesmo nível. (Como professor e aluno, serra e mar...) Teremos
então:
A noite e a escuridão chegavam cedo em Manarairema.
em que "a escuridão" é equivalente a "a noite" e por isso pode substituí-la:
A escuridão chegava cedo em Manarairema.
Assim, reconhecemos um sintagma através do deslocamento ou mobilidade, da
substituição por unidades simples e da coordenação. Por outro lado, apesar de nos
referirmos a "grupo de vocábulos", o sintagma pode também ser formado de um só
vocábulo, como em:
Manarairema vai sofrer a noite. Manarairema esperou impaciente.
Portanto não basta haver um vocábulo para existir sintagma, nem é necessário mais
de um vocábulo para haver sintagma.
Como são formados os sintagmas? Há mais de um tipo de sintagma ou apenas um?
Todas as classes podem formar sintagmas?
As três perguntas acima estão intimamente relacionadas, por exemplo, se alguém
pergunta: "Como são formados os sintagmas?" - a resposta provavelmente será: -
Depende do tipo de sintagma. Daí concluímos que há mais de um tipo. Ou então,
se a pergunta é: "Todas as classes podem formar sintagmas?" - responderíamos
que as classes de vocábulos entram na formação dos sintagmas, mas a participação
não é igual; há classes que são núcleo, outras determinantes, outras modificadores,
depende do tipo... e assim por diante.
Por tudo o que foi dito até agora, é possível afirmar que: · podemos reconhecer a
classe dos sintagmas; · há procedimentos para provar a sua existência; · há mais de
um tipo de sintagma; · os vocábulos unem-se  para formar sintagmas; · os
sintagmas formam a oração.
Convém lembrar que a natureza do sintagma depende do seu núcleo. Assim,
temos, em português, duas classes de sintagmas: o sintagma nominal (SN) - que
tem o nome como núcleo - e o sintagma verbal (SV) - que tem o verbo como
núcleo. Funcionando como modificador de um ou de outro, temos o sintagma
preposicionado.

2. O SINTAGMA VERBAL

 Sintagma verbal (SV) é o conjunto de elementos que se


organizam em torno de um verbo.

O SN e o SV são os elementos básicos, obrigatórios de uma oração. Enquanto o


SN, como vimos, pode desempenhar funções diferentes (sujeito, complemento
directo, complemento indirecto, por exemplo) o SV desempenha sempre a função
de predicado.
 
Texto
 Meninos carvoeiros  Os meninos carvoeiros Passam a caminho da cidade.
- Eh, carvoero! E vão tocando os animais com um relho enorme. Os
burros são magrinhos e velhos. Cada um leva seis sacos de carvão de
lenha. A aniagem é toda remendada. Os carvões caem. (Pela boca da noite
vem uma velhina que os recolhe, dobrando-se com um gemido.) - Eh,
carvoero! Só mesmo estas crianças raquíticas Vão bem com estes
burrinhos descadeirados. A madrugada ingênua parece feita para eles ...
Pequenina, ingênua miséria! Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como
se brincásseis! - Eh, carvoero! Quando voltam , vêm mordendo num pão
encarvoado, Encarapitados nas alimárias, Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados!
(Manuel Bandeira)
Comentário do texto
Este poema, que faz parte do livro "Ritmo dissoluto", escrito em 1924, caracteriza-
se pelo emprego de versos livres, isto é, versos em que o autor não se prende a um
número pré-estabelecido de sílabas, a um esquema conhecido.

Estão presentes no poema as cenas do quotidiano, descritas numa linguagem


simples e acessível. Manuel Bandeira, nesses versos livres, está mais próximo do
ritmo da prosa, evidenciando o carácter afectivo da linguagem.

As orações que compõem os versos do poema, sobretudo as da primeira estrofe,


são orações curtas, em que os elementos constituintes, o SN e o SV, podem ser
identificados com facilidade.
Sintagma verbal
Sintagma nominal
passam a caminho da cidade. vão tocando os
Os meninos carvoeiros (Os
animais com um relho enorme. são
meninos carvoeiros) Os
magrinhos e velhos. leva seis sacos de
burros Cada um A aniagem
carvão de lenha. é toda remendada... caem.
Os carvões Uma velhinha
vem pela boca da noite. vão bem com estes
Estas crianças raquíticas A
burrinhos descadeirados. parece feita para
madrugada ingénua
eles.
Como podemos ver, os sintagmas verbais podem apresentar diferentes
constituições.Podem ter somente a forma verbal, como em
Os carvões caem.
ou serem formados de verbos combinados com outros elementos, como em
leva + seis sacos de carvões de lenha vão tocando + os animais com um relho
enorme vem + pela boca da noite passam + a caminho da cidade
A presença ou não de outros termos no SV, termos que completam ou modificam o
sentido do verbo, vai depender do tipo de verbo que ocorrer. A estas diferentes
possibilidades de se constituir o sintagma verbal, em função do verbo, damos o
nome de predicação verbal.
Processos de ampliação do sintagma verbal
2.1 Constituintes do sintagma verbal
Como dissemos, a presença do verbo é o que caracteriza o sintagma verbal. Além
do verbo, outros termos podem fazer parte do SV, dependendo do verbo que
funciona como núcleo. Esses outros elementos são, por sua vez, sintagmas -
nominais ou preposicionados. Esses sintagmas desempenham diferentes funções
no SV: complementos directos, indirectos, adjuntos adverbiais, agentes da passiva.

Texto

 O anjo das pernas tortas  A um passe de Didi, Garrincha avança


Colado o couro aos pés, o olhar atento Dribla um, dribla dois,
depois descansa Como a medir o lance do momento. Vem-lhe o
pressentimento; ele se lança Mais rápido que o próprio
pensamento Dribla mais um, mais dois; a bola trança Feliz, entre
seus pés --- um pé-de-vento! Num só transporte a multidão
contrita Em ato de morte se levanta e grita Seu uníssono canto de
esperança. Garrincha, o anjo, escuta e atende: --- Gooooool! É
pura imagem: um G que chuta um O Dentro da meta, um L. É
pura dança!

(Vinícius de Morais)
Comentário ao texto

Este poema conta um pouco da arte de Garrincha, lendário jogador de futebol


brasileiro. Com as pernas tortas, Garrincha era considerado um génio do futebol,
driblando todos os seus adversários.

O futebol é o desporto mais amado pelos portugueses. Para narrar os seus jogos, os
 

Grupo 2 : verbos que têm o seu sentido complementado por dois tipos de
sintagmas: nominais e preposicionados.

o quê ?
ganhar
de quem?
A garota recebeu um livro do seu padrinho

o quê ?
vendeu
para quem?
O comerciante vendeu muitas bandeiras de Portugal para os apoiantes.

Grupo 3: verbos que têm o seu sentido complementado por preposicionados.

falar => com quem? O homem da rua fala com os seus botões.

ansiar => pelo quê? Estamos todos ansiando por um Mundo mais justo.

Grupo 4 : verbos que não precisam de complemento.

chegar
dormir
 gemer

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