OESTADO DE S. PAULO
DOMINGO, 27 DE FEVEREIRO DE 2011
Apenhora da sede do Bancoop —
undada na década
de 1990 por um nti-
cleo do Partido
dos Trabalhado-
res, com a promes-
sa de entregar imé-
veis 40% mais baratos do que
os de mercado, a Cooperativa
Habitacional dos Bancdrios
(Bancoop) acaba de ter sua se-
de penhorada por decisio da
7.4 Camara de Direito Privado
do Tribunal de Justica de Sio
Paulo (TJSP). No més passado,
a Justiga estadual jé havia deter-
minado a apreensio de dois
computadores da cooperativa,
para pagamento de honorsiios
do advogado de um cooperado.
‘A Bancoop lesou mais de 3
mil pessoas e é ré em acées ju-
diciais movidas por cerca de
400 familias que compraram
seus apartamentos na planta e
nao os receberam. Uma pesqui-
sa feita pelo site Conjur, no
ano passado, identificou a exis-
ténicia de mais de 570 proces-
sos contra a Bancoop - dos
quais 368 em primeira instan-
cia, 161 em segunda insténcia e
os demais no Superior Tribu-
nal de Justiga. Alguns diretores
da Bancoop eram ptoprietarios
da Germany Comercial e Em-
preiteira de Obras Ltda. e da
Mizy/Mirante - empresas priva-
das que faziam “consultoria
contébil” ¢ se encarregavam
das construgdes, emitindo no-
tas superfaturadas em 20%.
‘A Bancoop também vem sen-
do processada pela promotoria
criminal do Ministério Publico
de Sao Paulo. Depois de trés
anos de investigacdes, que re-
sultaram num inguérito de
mais de 8 mil paginas, 0 érgio
ofereceu dentincias contra dire-
tores da cooperativa por cri-
mes de fraudes financeiras, es-
telionato, lavagem de dinheiro,
falsidade ideolégica e forma-
gao de bando e quadrilha. A
cooperativa é acusada ainda de
ter desviado dos cooperados va-
lores. estimados entre R$ 165
milhées e R$ 170 milhées, se-
gundo célculos do promotor Jo-
sé Carlos Blat.
Segundo 0 Ministério Publi-
co, uma parte desse dinheiro te-
ria sido utilizada para abaste-
cer 0 caixa 2 do PT e financiar
candidatos do partido - inclusi-
ve a campanha presidencial de
2002. Sacada na boca do caixa,
a outra parte teria atendido a
Desvio de dinheiro e
nao cumprimento de
contratos marcam a vida
da cooperativa
interesses particulares de petis-
tas ou, entdo, sido embolsada
por diretores da Bancoop.
Um dos principais dirigentes
da Bancoop - Joao Vaccari Ne-
to, que jd teve seu sigilo fiscal e
bancario quebrado por determi-
nagio judicial - foi presidente
do Sindicato dos Bancarios de
Sao Paulo, atuou como tesou-
reiro do PT e, até a eclosio do
escdndalo, integrou 0 grupo de
coordenac&o da campanha da
candidata Dilma Rousseff, ten-
do de ser substituido as pres-
sas. Outro petista que frequen-
temente recebia cheques da
Bancoop é Fred Godoy, que
atuou como seguranga nas cam-
panhas de Lula e foi um dos pi-
‘vos do escindalo do falso dos-
sié contra candidatos do PSDB
na campanha de 2006.
Além das dentincias crimi-
nais do Ministério Publico, a
Bancoop foi investigada no ano
passado por uma CPI na As-
sembleia Legislativa de Sao
Paulo, Alguns deputados afir-
mam que os diretores da Ban-
coop ocultaram sistematica-
mente movimentagdes bancé-
rias com o objetivo de dificul-
tar a identificagdo das transa-
Ges financeiras e achacaram al-
guns mutudrios, pedindo mais
dinheiro do que o combinado
em troca da entrega das chaves
dos apartamentos comprados.
Por decisa6 da Justi¢a, desde o
ano passado a Bancoop est im-
pedida de inserir nos cadastros
derestrigao aocréditoosnomes
dos associados que nao paga-
ram os valores extras cobrados
pela cooperativa.
Em sua defesa, dirigentes da
Bancoop alegaram que 0 Minis-
tério Publico ea CPI teriam fei-
totodas esas dentincias apenas
parabeneficiar politicos ligados
aoéx-governadordeSioPauloe
candidato derrotadoa Presidén-
cia da Republica pelo PSDB, Jo-
sé Serra. A direc&o dacooperati-
va também afirma que teria fir-
mado com os promotores um
acordo, jhomologado pela Jus-
tiga estadual, comprometendo-
seamanter contas bancarias es-
pecificas e individualizadas de
cadaum deseusempreendimen-
tos, ealega que a penhora de sua
sede, por determinacio do
TISP, vai acarretar mais prejui-
z0s para os cooperados.
Esse é o preco que eles terio
de pagar por terem acreditado
nas promessas de uma coopera-
tiva que, segundo o Ministério
Publicoestadual,setornouuma
“organizacio criminosa”.