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Artigo Ibracon
Artigo Ibracon
Resumo
Apesar do avanço tecnológico no campo das técnicas e dos materiais de
construção, tem-se observado um grande número de edificações relativamente
jovens apresentando patologias de toda sorte. O uso inadequado de materiais,
aliado à falta de cuidados na execução e mesmo adaptações quando do seu
uso, tudo isto somado à falta de manutenção, tem criado despesas extras aos
condomínios de edifícios que até com menos de cinco anos de idade têm que
consumir recursos financeiros em reparações que poderiam inteiramente ser
evitadas.
Neste trabalho, faz-se uma análise das patologias ocorridas em edifícios
residenciais da cidade de João Pessoa. Com base em relatórios técnicos de
vistorias realizadas pelo Laboratório de Ensaios de Materiais da Universidade
Federal da Paraíba, foram identificadas as principais patologias ocorridas em
prédios da cidade, localizados em bairros litorâneos. Procurou-se verificar suas
causas e estabelecer se elas tiveram origem na fase de projeto, de execução
ou de utilização. Foi feita a devida classificação e os resultados são
apresentados em forma de gráficos. Entre as causas identificadas, a má
impermebialização, o concreto permeável, a rigidez inadequada de elementos
estruturais apresentaram elevada incidência. Associadas a falhas de execução
elas explicam os problemas precoces de infiltrações, fissuras e corrosão da
armadura, patologias mais freqüentemente relacionadas.
1 Introdução
Para RIPPER et al. (1998), a patologia na construção civil pode ser
entendida como o baixo, ou fim, do desempenho da estrutura em si, no que diz
respeito à estabilidade, estética, servicibilidade e, principalmente, durabilidade
da mesma com relação às condições a que está submetida. Segundo HELENE
(2002), os fenômenos patológicos geralmente apresentam manifestação
externa característica, a partir da qual se pode deduzir a natureza, a origem e
os mecanismos dos fenômenos envolvidos. Certas manifestações têm maior
incidência, devido a necessidade de cuidados que freqüentemente são
ignorados, seja no projeto, na execução ou até mesmo na utilização. Pode-se
dizer que os problemas patológicos de maior gravidade nas estruturas em
concreto armado, notadamente pelo seu evidente risco à integridade da
estrutura, são a corrosão da armadura do concreto, as flechas excessivas das
peças estruturais e as fissuras patológicas nestas.
HELENE (2002) define a corrosão das armaduras de concreto como um
fenômeno de natureza eletroquímica que pode ser acelerado pela presença de
agentes químicos externos ou internos ao concreto. No concreto armado, o aço
encontra-se no interior de um meio altamente alcalino no qual estaria protegido
do processo de corrosão devido à presença de uma película protetora de
caráter passivo, explica CASCUDO (1997). A alcalinidade no interior do
concreto provém da fase líquida existente nos seus poros que contém
hidroxilas oriundas da ionização dos hidróxidos de cálcio, sódio e potássio.
Mesmo em idades avançadas o concreto continua propiciando um meio básico
que protege a armadura do fenômeno da corrosão.
Segundo CASCUDO (1997), a presença de uma quantidade suficiente
de íons cloreto, que pode estar presente na atmosfera em ambientes marinhos
e industriais, ou nos componentes do próprio concreto, e a diminuição da
alcalinidade do concreto, devido às reações de carbonatação ou mesmo devido
à penetração de substâncias ácidas, podem gerar a perda da película passiva
que envolve a armadura. Os íons cloreto estão presentes no ar de uma cidade
litorânea como João Pessoa.
A carbonatação do concreto geralmente é uma condição determinante
para o início da corrosão das armaduras. Tão logo a frente de carbonatação
2 Patologias observadas
A Tabela 1 sintetiza os casos estudados, a localização das patologias e
as suas possíveis causas.
Edifício 12 Não identificado juntas de dilatação (C) pilares do pilotis (A) pilares do pilotis (D e F) -
Edifício 13 Não identificado em tetos de banheiros (C) em parede da cozinha (G) em vigas e pilares (D, E e F) -
3 Sistematização de dados
Para uma melhor visualização dos dados foram feitos gráficos de
freqüência. As patologias de maior incidência estão representadas no gráfico
da Figura 7.
Infiltrações
100,00
Freqüência na amostra (%)
80,00
Fissuras
60,00
20,00
Destacamento do
0,00 revestimento
Patologias
100,00
90,00 Corrosão das armaduras
Freqüência na amostra (%)
80,00
70,00 Rigidez inadequada
60,00
50,00 Má impermeabilização
40,00
Pouco cobrimento da armadura
30,00
20,00
Uso de material inadequado
10,00
0,00
Concreto Permeável
Causas das Patologias
Recalques da fundação
100,00
90,00
Freqüência na amostra (%)
80,00
70,00
60,00 Corosão
50,00 Fissuras
40,00 Infiltração
30,00
20,00
10,00
0,00
Laje Viga Pilar
Patologias
100,00
90,00
Freqüência na amostra (%)
80,00
70,00
Falha humana na fase de projeto
60,00 Falha humana na fase de execução
50,00 Falha humana na fase de utilização
40,00 Ações Mecânicas
Ações Químicas
30,00
20,00
10,00
0,00
4 Discussão
As visitas técnicas constataram que os concretos usados na época em
que os edifícios foram construídos eram de baixa resistência (às vezes até
menores que 15MPa), favorecendo o aparecimento precoce das patologias. Foi
constatado também o uso inconveniente de saibro (barro) na argamassa de
revestimento (Figura 11). Como a argila aumenta de volume em presença de
água, pode facilmente provocar tensões indesejáveis fazendo cair o
revestimento.
Fazendo uma análise dos gráficos obtidos, pode-se concluir que há uma
grande incidência de infiltrações na estrutura (85,71%), evidenciando pouca ou
nenhuma preocupação dos construtores em relação à impermeabilização,
ocorrendo principalmente em lajes de teto de garagens e lajes que estão sob
os reservatórios de água.
Percebe-se também um alto índice de fissuras, seja em paredes que
não conseguem acompanhar as deformações excessivas da estrutura, ou
fissuras longitudinais, principalmente em pilares, ocasionadas por corrosão da
armadura.
A corrosão da armadura do concreto armado, ocorrendo como patologia,
e conseqüentemente se configurando como a degradação de um constituinte
dos elementos estruturais, teve também uma incidência alta, relacionado ao
uso de concretos permeáveis e/ou associada à deficiência de cobrimento,
permitindo a entrada de agentes agressivos no interior do concreto. Em alguns
casos, foi observada a presença de umidade constante ao redor do concreto,
nos pontos onde se manifestou a corrosão.
Em relação aos casos de destacamento dos revestimentos, foi possível
observar que houve uso de material inadequado para o assentamento destes
e, em um caso, o uso de camada excessiva de revestimento para compensar a
falta de prumo (Figura 12).
5 Considerações finais
Segundo o item 6.2.2 da mais atual versão da norma brasileira sobre
estruturas em concreto, a NB -1 (2001), uma construção do tipo das aqui
analisadas deve ter uma vida útil de projeto de no mínimo cinqüenta anos. Os
edifícios analisados, todos apresentando patologias, tinham uma idade média
de 7,1 anos.
Nenhum dos condomínios dos edifícios analisados dispunham de
certificado de recebimento do concreto. Em muitos casos, sequer dispunham
dos projetos originais. Constatou-se que os concretos eram de baixa
resistência e alta permeabilidade conduzindo a um ambiente propício à
corrosão das armaduras do concreto armado.
Nos prédios em questão notou-se a falta de preocupação com a
impermeabilização das edificações que é um ponto de partida para a
ocorrência de várias das patologias aqui mostradas.
É necessário uma conscientização geral dos construtores no sentido de
melhorar a qualidade e o desempenho das edificações. Também é fundamental
que os calculistas passem a utilizar nos projetos os novos critérios introduzidos
pela NB1 no que diz respeito à durabilidade.
6 Referências
ALMUSALLAM, A. A.. Effect of degree of corrosion on the properties of
reinforcing steel bars. Construction and Building Materials. 2001;15; 361-
368.