Você está na página 1de 13

Instituto Brasileiro do Concreto

ANÁLISE DE PATOLOGIAS EM ESTRUTURAS DE


EDIFICAÇÕES DA CIDADE DE JOÃO PESSOA
Felipe Tavares da Silva (1);Roberto Leal Pimentel (2);
Normando Perazzo Barbosa (3)

(1) Departamento da Tecnologia da Construção Civil, Universidade Federal da Paraíba


email: lipejp@terra.com.br

(2) Professor Adjunto, Departamento da Tecnologia da Construção Civil


Universidade Federal da Paraíba
email: r.pimentel@uol.com.br

(3) Professor Titular, Departamento de Tecnologia da Construção Civil


Universidade Federal da Paraíba
Campus Universitário, SN, 58059-900 João Pessoa – PB
email: nperazzo@lsr.ct.ufpb.br

Palavras Chaves: patologia, estruturas, edificações, corrosão, concreto.

Resumo
Apesar do avanço tecnológico no campo das técnicas e dos materiais de
construção, tem-se observado um grande número de edificações relativamente
jovens apresentando patologias de toda sorte. O uso inadequado de materiais,
aliado à falta de cuidados na execução e mesmo adaptações quando do seu
uso, tudo isto somado à falta de manutenção, tem criado despesas extras aos
condomínios de edifícios que até com menos de cinco anos de idade têm que
consumir recursos financeiros em reparações que poderiam inteiramente ser
evitadas.
Neste trabalho, faz-se uma análise das patologias ocorridas em edifícios
residenciais da cidade de João Pessoa. Com base em relatórios técnicos de
vistorias realizadas pelo Laboratório de Ensaios de Materiais da Universidade
Federal da Paraíba, foram identificadas as principais patologias ocorridas em
prédios da cidade, localizados em bairros litorâneos. Procurou-se verificar suas
causas e estabelecer se elas tiveram origem na fase de projeto, de execução
ou de utilização. Foi feita a devida classificação e os resultados são
apresentados em forma de gráficos. Entre as causas identificadas, a má
impermebialização, o concreto permeável, a rigidez inadequada de elementos
estruturais apresentaram elevada incidência. Associadas a falhas de execução
elas explicam os problemas precoces de infiltrações, fissuras e corrosão da
armadura, patologias mais freqüentemente relacionadas.

45º Congresso Brasileiro do Concreto


______________________________________________________________________
Instituto Brasileiro do Concreto

1 Introdução
Para RIPPER et al. (1998), a patologia na construção civil pode ser
entendida como o baixo, ou fim, do desempenho da estrutura em si, no que diz
respeito à estabilidade, estética, servicibilidade e, principalmente, durabilidade
da mesma com relação às condições a que está submetida. Segundo HELENE
(2002), os fenômenos patológicos geralmente apresentam manifestação
externa característica, a partir da qual se pode deduzir a natureza, a origem e
os mecanismos dos fenômenos envolvidos. Certas manifestações têm maior
incidência, devido a necessidade de cuidados que freqüentemente são
ignorados, seja no projeto, na execução ou até mesmo na utilização. Pode-se
dizer que os problemas patológicos de maior gravidade nas estruturas em
concreto armado, notadamente pelo seu evidente risco à integridade da
estrutura, são a corrosão da armadura do concreto, as flechas excessivas das
peças estruturais e as fissuras patológicas nestas.
HELENE (2002) define a corrosão das armaduras de concreto como um
fenômeno de natureza eletroquímica que pode ser acelerado pela presença de
agentes químicos externos ou internos ao concreto. No concreto armado, o aço
encontra-se no interior de um meio altamente alcalino no qual estaria protegido
do processo de corrosão devido à presença de uma película protetora de
caráter passivo, explica CASCUDO (1997). A alcalinidade no interior do
concreto provém da fase líquida existente nos seus poros que contém
hidroxilas oriundas da ionização dos hidróxidos de cálcio, sódio e potássio.
Mesmo em idades avançadas o concreto continua propiciando um meio básico
que protege a armadura do fenômeno da corrosão.
Segundo CASCUDO (1997), a presença de uma quantidade suficiente
de íons cloreto, que pode estar presente na atmosfera em ambientes marinhos
e industriais, ou nos componentes do próprio concreto, e a diminuição da
alcalinidade do concreto, devido às reações de carbonatação ou mesmo devido
à penetração de substâncias ácidas, podem gerar a perda da película passiva
que envolve a armadura. Os íons cloreto estão presentes no ar de uma cidade
litorânea como João Pessoa.
A carbonatação do concreto geralmente é uma condição determinante
para o início da corrosão das armaduras. Tão logo a frente de carbonatação

45º Congresso Brasileiro do Concreto


______________________________________________________________________
Instituto Brasileiro do Concreto

atinge a espessura correspondente ao cobrimento do aço, começa a


despassivação e tem início a oxidadação. O processo de carbonatação é
dependente de como o concreto foi lançado, adensado e curado, bem como o
tipo de cimento, condições ambientais e umidade do ambiente, sendo maior a
carbonatação quanto maior for o fator água/cimento, explica CASCUDO (1997).
Os produtos da corrosão, que são vários óxidos de ferro, apresentam
volumes bem maiores que o ferro original. Há pois uma expansão que gera
tensões que causam fissuras como a que se vê na Figura 1.

Figura 1 – Fissura causada pelos produtos de corrosão da armadura

ALMUSALLAM (2001), em estudos relacionados à segurança estrutural


com barras de aço em estado avançado de corrosão mostra que elas perdem
grande parte de sua ductilidade, como também provocam ruínas repentinas em
lajes quando o grau de corrosão de suas armaduras é superior a 13%.
Neste trabalho, os edifícios analisados apresentam, em sua maioria,
problemas de corrosão da armadura do concreto armado, perda ou
insuficiência da rigidez de elementos estruturais, infiltrações em paredes e em
lajes de teto, e descolamento de pastilhas de revestimento da fachada. Este
estudo vem contribuir com dados que localizam a gênese das patologias em
questão, como alerta aos projetistas e construtores.
As patologias podem ter sua origem por falha humana na fase de
projeto, na fase de execução ou na fase de utilização.

45º Congresso Brasileiro do Concreto


______________________________________________________________________
Instituto Brasileiro do Concreto

A freqüência das patologias e suas causas são a seguir discutidas.


Apresenta-se um quadro que síntese que localiza os problemas e faz-se
também uma análise qualitativa da sua gênese.

2 Patologias observadas
A Tabela 1 sintetiza os casos estudados, a localização das patologias e
as suas possíveis causas.

45º Congresso Brasileiro do Concreto


______________________________________________________________________
Instituto Brasileiro do Concreto

Tabela 1 – Identificação de patologias.


Patologia Idade das Descolamento do
Infiltrações Fissuras Corrosão da armadura
Edifício edificações revestimento externo
no teto sob cobertura, em paredes voltadas em algumas lajes, em paredes internas
Edifício 1 6 anos em pilares (F) -
para a chuva, (C) externas (B)
no teto do ap. sob a cobertura, calhas e
Edifício 2 Não identificado - - -
algeróis e em paredes internas (C)
nas muretas das varandas
Edifício 3 5 anos - - em vigas das varandas (F)
(E)
no teto da garagem (C); nas paredes da lajes, vigas e colunas da garegem (F e
Edifício 4 Não identificado em alguns consolos (A) -
garagem (C) D)
em paredes e lajes do mezanino e em lajes
Edifício 5 3 anos nas escadas da garagem (C) - -
dos outros pavimentos (B)
em paredes do subsolo (B e G); em vigas e
Edifício 6 6 anos jardineiras das varandas e do térreo (C) em pilares (F) -
pilares(A)

em vigas externas e em pilares da fachada em algumas lajes da coberta, vigas


Edifício 7 12 anos em laje que cobre parte do prédio (C) em pontos da fachada (E)
(A, D e C); paredes de alguns aptos. (B) externas e pilares da fachada (F)

lajes de coberta e em paredes de alguns


Edifício 8 10 anos no teto do ap. sob a coberta (C) corrosão de algumas lajes (F) -
apartamentos (B)

Edifício 9 Não identificado - em algumas paredes e em trilhos da laje (B) - -

paredes externas, teto da garagem e alguns pilares e em lajes externas (C,


Edifício 10 Não identificado vigas do teto da garagem (B) -
mezanino (C) D e F)
em paredes com incidencia direta de
Edifício 11 12 anos chuva, em paredes e lajes de áreas pilares (A) pilares (E e F) -
molhadas, e fachadas (C)

Edifício 12 Não identificado juntas de dilatação (C) pilares do pilotis (A) pilares do pilotis (D e F) -

Edifício 13 Não identificado em tetos de banheiros (C) em parede da cozinha (G) em vigas e pilares (D, E e F) -

em paredes internas, em local próximo à ar-


Edifício 14 Não identificado na fachada (B) em vigas (D e F) na fachada(C e E)
condicionado (C)

45º Congresso Brasileiro do Concreto


__________________________________________________________________________________________________________________
Instituto Brasileiro do Concreto

As causas, identificadas nas inspeções técnicas realizadas, representadas na


Tabela 1 por letras maiúsculas entre parênteses são abaixo relacionadas:
A – Corrosão das armaduras (Figura 2);
B – Rigidez inadequada de elementos estruturais (Figura 3);
C – Má impermeabilização (Figura 4);
D – Pouco cobrimento da armadura (Figura 5);
E – Uso de material inadequado;
F – Concreto permeável;
G – Recalques da fundação (Figura 6).

Figura 2 – Exemplos típicos de corrosão de armaduras

Figura 3 - Rigidez inadequada de elementos estruturais

45º Congresso Brasileiro do Concreto


______________________________________________________________________
Instituto Brasileiro do Concreto

Figura 4 – Casos típicos de impermeabilização mal feita

Figura 5 – Cobrimento da armadura inadequado gerando corrosão

Figura 6 – Recalque de apoio da estrutura da direita

45º Congresso Brasileiro do Concreto


______________________________________________________________________
Instituto Brasileiro do Concreto

3 Sistematização de dados
Para uma melhor visualização dos dados foram feitos gráficos de
freqüência. As patologias de maior incidência estão representadas no gráfico
da Figura 7.

Freqüência das Patologias

Infiltrações
100,00
Freqüência na amostra (%)

80,00
Fissuras
60,00

40,00 Corrosão da armadura

20,00
Destacamento do
0,00 revestimento

Patologias

Figura 7 – Incidência de patologias mais freqüentes.

A incidência das causas das patologias em questão é exibida no gráfico


da Figura 8.
Em relação a peças estruturais, tem-se na Figura 9 um gráfico com as
freqüências relacionadas com as patologias apresentadas em lajes, vigas e
pilares.

Freqüência das Causas

100,00
90,00 Corrosão das armaduras
Freqüência na amostra (%)

80,00
70,00 Rigidez inadequada
60,00
50,00 Má impermeabilização
40,00
Pouco cobrimento da armadura
30,00
20,00
Uso de material inadequado
10,00
0,00
Concreto Permeável
Causas das Patologias
Recalques da fundação

Figura 8 – Incidência de causas.

45º Congresso Brasileiro do Concreto


______________________________________________________________________
Instituto Brasileiro do Concreto

Patologias em peças estruturais

100,00
90,00
Freqüência na amostra (%)

80,00
70,00
60,00 Corosão
50,00 Fissuras
40,00 Infiltração
30,00
20,00
10,00
0,00
Laje Viga Pilar
Patologias

Figura 9 – Incidência de patologias em elementos estruturais.

Por fim, na Tabela 2, apresenta-se a ocorrência da gênese das


patologias, identificando se foram originadas na fase de projeto, na fase de
execução, ou na fase de utilização, bem como também se a estrutura sofreu
ações mecânicas ou químicas. Estes resultados são visualizados na Figura 10.
As ações mecânicas podem ser entendidas como as ações de recalques
na fundação e ações imprevistas. Para as ações químicas, entendem-se como
as reações internas ao concreto, presença de cloretos, presença de água,
entre outros fatores. A fase de utilização diz respeito a alterações estruturais
sem o conhecimento técnico, sobrecargas exageradas ou alteração das
condições do terreno de fundação, após o fim da construção da edificação. A
falha na fase de projeto é caracterizada por erros no dimensionamento ou a
especificação de materiais equivocada. A falha na fase de execução é
caracterizada pelo não cumprimento do projeto no momento da execução, com
a utilização de modificações improvisadas.

Tabela 2 – Gênese das patologias.

45º Congresso Brasileiro do Concreto


______________________________________________________________________
Instituto Brasileiro do Concreto

Gênese Falha humana na Falha humana na Falha humana na Ações Ações


Edifício fase de projeto fase de execução fase de utilização Mecânicas Químicas
Edifício 1 sim sim não não não
Edifício 2 não sim não não não
Edifício 3 não sim não não não
Edifício 4 não sim não não sim
Edifício 5 sim sim não não não
Edifício 6 sim sim sim sim sim
Edifício 7 sim sim não não sim
Edifício 8 sim sim não não não
Edifício 9 sim sim sim não não
Edifício 10 sim sim não não não
Edifício 11 não sim sim não não
Edifício 12 não sim não não sim
Edifício 13 não sim não sim sim
Edifício 14 sim sim sim não não
Freqüência (%) 57,14 100,00 28,57 14,29 35,71

Gênese das Patologias

100,00
90,00
Freqüência na amostra (%)

80,00
70,00
Falha humana na fase de projeto
60,00 Falha humana na fase de execução
50,00 Falha humana na fase de utilização
40,00 Ações Mecânicas
Ações Químicas
30,00
20,00
10,00
0,00

Figura 10 – Incidência de gênese das patologias.

4 Discussão
As visitas técnicas constataram que os concretos usados na época em
que os edifícios foram construídos eram de baixa resistência (às vezes até
menores que 15MPa), favorecendo o aparecimento precoce das patologias. Foi
constatado também o uso inconveniente de saibro (barro) na argamassa de
revestimento (Figura 11). Como a argila aumenta de volume em presença de
água, pode facilmente provocar tensões indesejáveis fazendo cair o
revestimento.

45º Congresso Brasileiro do Concreto


______________________________________________________________________
Instituto Brasileiro do Concreto

Figura 11 - Torrões de saibro na argamassa

Fazendo uma análise dos gráficos obtidos, pode-se concluir que há uma
grande incidência de infiltrações na estrutura (85,71%), evidenciando pouca ou
nenhuma preocupação dos construtores em relação à impermeabilização,
ocorrendo principalmente em lajes de teto de garagens e lajes que estão sob
os reservatórios de água.
Percebe-se também um alto índice de fissuras, seja em paredes que
não conseguem acompanhar as deformações excessivas da estrutura, ou
fissuras longitudinais, principalmente em pilares, ocasionadas por corrosão da
armadura.
A corrosão da armadura do concreto armado, ocorrendo como patologia,
e conseqüentemente se configurando como a degradação de um constituinte
dos elementos estruturais, teve também uma incidência alta, relacionado ao
uso de concretos permeáveis e/ou associada à deficiência de cobrimento,
permitindo a entrada de agentes agressivos no interior do concreto. Em alguns
casos, foi observada a presença de umidade constante ao redor do concreto,
nos pontos onde se manifestou a corrosão.
Em relação aos casos de destacamento dos revestimentos, foi possível
observar que houve uso de material inadequado para o assentamento destes
e, em um caso, o uso de camada excessiva de revestimento para compensar a
falta de prumo (Figura 12).

45º Congresso Brasileiro do Concreto


______________________________________________________________________
Instituto Brasileiro do Concreto

Figura 12 – Espessura excessiva de revestimento

As patologias incidentes nas peças estruturais tiveram direta relação


com as dimensões e disposições das mesmas. As lajes tiveram uma incidência
de infiltração de 64,30%, evidenciando o acúmulo de água sem vias de
escoamento, com a contribuição da má impermeabilização. Nas vigas, foram
observadas ocorrências de grandes deformações por perda ou insuficiência de
rigidez e corrosão da armadura. Os pilares, quando afetados, apresentaram
freqüentemente fissuras na base o que é justificado pela aeração diferencial
que ocorre entre a parte enterrada e a exposta. .
Percebeu-se alguns casos em que houve uma má avaliação das ações
com conseqüentes problemas de rigidez na estrutura, com o surgimento
fissuras em paredes, onde estas não conseguiram acompanhar as
deformações dos elementos estruturais.
Analisando-se o gráfico da gênese das patologias constante na Figura
10, observa-se que a freqüência das patologias originadas por falhas humanas
na fase de execução chegam a 100%.

5 Considerações finais
Segundo o item 6.2.2 da mais atual versão da norma brasileira sobre
estruturas em concreto, a NB -1 (2001), uma construção do tipo das aqui
analisadas deve ter uma vida útil de projeto de no mínimo cinqüenta anos. Os
edifícios analisados, todos apresentando patologias, tinham uma idade média

45º Congresso Brasileiro do Concreto


______________________________________________________________________
Instituto Brasileiro do Concreto

de 7,1 anos.
Nenhum dos condomínios dos edifícios analisados dispunham de
certificado de recebimento do concreto. Em muitos casos, sequer dispunham
dos projetos originais. Constatou-se que os concretos eram de baixa
resistência e alta permeabilidade conduzindo a um ambiente propício à
corrosão das armaduras do concreto armado.
Nos prédios em questão notou-se a falta de preocupação com a
impermeabilização das edificações que é um ponto de partida para a
ocorrência de várias das patologias aqui mostradas.
É necessário uma conscientização geral dos construtores no sentido de
melhorar a qualidade e o desempenho das edificações. Também é fundamental
que os calculistas passem a utilizar nos projetos os novos critérios introduzidos
pela NB1 no que diz respeito à durabilidade.

6 Referências
ALMUSALLAM, A. A.. Effect of degree of corrosion on the properties of
reinforcing steel bars. Construction and Building Materials. 2001;15; 361-
368.

CASCUDO, O. O controle da corrosão de armaduras de concreto:


inspeção e técnicas eletroquímicas. São Paulo, Pini, 1997.

HELENE, P. R. L. Manual para reparo, reforço e proteção de estruturas de


concreto. São Paulo, Pini, 1992.

NBR-6118/NB1-2001 – Projeto de estruturas de concreto. ABNT –


Associação Brasileira de Normas Técnicas.

RIPPER, T; MOREIRA DE SOUZA, V. C. Patologia, recuperação e reforço


de estruturas de concreto. São Paulo, Pini, 1998.

45º Congresso Brasileiro do Concreto


______________________________________________________________________

Você também pode gostar