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Faculdade de Engenharia - Licenciatura em Engenharia Civil

AULA 26
Materiais de Construção I

Capítulo Aula 26
VII – Controle de Qualidade  Introdução;
do Betão  Fases de controle de qualidade:
— Controle do betão antes do fabrico;
— Controle do betão fresco;
— Controle do betão endurecido.
a) Conceitos fundamentais;
b) Definição da qualidade do betão;
c) Parâmetros definidores da qualidade do betão.

Controle de Qualidade do Betão

O betão urge no presente como um material aparentemente simples de confeccionar e


fácil de colocar, que a generalidade de intervenientes na obra conhece e que muitos
julgam dominar tecnicamente o que é ilusório e necessita de urgente correcção.

De acordo com o escalonamento do próprio processo construtivo e do ciclo de vida do


betão, desde que é dimensionado e produzido, até à sua colocação e conservação em
obra, podem-se distinguir várias fases de controle de qualidade.

A meta será obviamente a obtenção de um produto final conforme as especificações e as


características exigidas, segundo um compromisso técnico/económico que possibilite a
melhor relação custos de produção/rendimento de execução/adequação e satisfação das
necessidades do utilizador.

— Fases de controle de qualidade

Para concretização prática do controle de qualidade do betão poderemos considerar de


forma escalonada, as seguintes três (3) fases principais:

1ª) Controle do Betão Antes do Fabrico

Estudo dos materiais constituintes do betão e sua composição, com a definição e


realização de ensaios prévios inerentes à caracterização das suas propriedades, tendo em
conta a escolha criteriosa de tais constituintes.

Faz a análise e identificação atempada do projecto, da tipologia e localização da obra,


condições ambientais características, classes e tipos de betões previstos ou especificados,
e outras prescrições técnicas do caderno de encargos.

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2ª) Controle do Betão Fresco

A partir do momento em que se inicia o fabrico do betão, surge a necessidade de


controlar algumas das propriedades do material enquanto fresco, isto é, desde que sai da
misturadora, betoneira ou central de produção, passando do transporte, até a sua chegada
ao local de colocação.

Um primeiro exame de controle deverá ser visual e ter em conta: o aspecto; a cor; a
uniformidade da mistura; a granulometria; a dosagem de água.

Deverá seguidamente, avaliar-se a consistência a partir do ensaio de trabalhabilidade,


com uso do cone de Abrams, devendo seguir o especificado no caderno de encargos.

Outros ensaios com interesse para o controle das propriedades do betão fresco são ainda,
embora desprezados correntemente:

 Determinação do teor em ar introduzido (processo pneumático);


 Determinação da massa volúmica;
 Determinação da composição;
 Determinação do tempo de presa;
 Determinação da quantidade de água da amassadura.

É, contudo, fundamental proceder a:

 Recolha de amostras de betão fresco em moldes normalizados para posterior


caracterização da sua resistência mecânica à compressão nas idades
regulamentares (e/ou flexão);
 Controlar a trabalhabilidade ao longo do fabrico;
 Verificar e vistoriar a qualidade do cimento e inertes através de ensaios
específicos ao longo da fase de produção, ajustando a composição sempre que se
surgirem novos inertes;
 Determinação da dispersão de fabrico na central de betão, obtendo-se indicações-
chave sobre a necessidade ou não de ajustamento nas composições previamente
estudadas em laboratório;
 Aferição periódica dos aparelhos de medição e pesagem nas centrais ou estaleiros
de fabrico do betão.

Para além destes aspectos há que mencionar o interesse de se inspeccionarem, antes da


betonagem, os aspectos de:

 Cofragem e armaduras;
 Eficácia dos meios de transporte, compactação e cura, compatíveis com a
consistência especificada para o betão;
 Disponibilidade de pessoal competente.

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3ª) Controle do Betão Endurecido

Tem-se verificado que é geralmente assumido que o controle do betão endurecido,


suficiente para alívio de consciência dos intervenientes, é a determinação da resistência
mecânica aos 28 dias de idade (ou outras idades prévias e regulamentares), por ensaios de
rotura à compressão.

Importará referir que o controle de resistência mecânica dos betões deve obedecer alguns
princípios regulamentares dos quais, os portugueses: RBLH e a NP ENV 206.

De acordo com o Regulamento de Betões de Ligantes Hidráulicos (RBLH), os betões


estruturais são classificados em função do seu tipo, classe e qualidade.

a) Os tipos de betão considerados são:


1.Tipo B – betão caracterizado por determinada resistência mecânica;
2.Tipo BD – betão que é caracterizado pela durabilidade em determinados ambientes
agressivos (para além da resistência mecânica).

b) A classe de um betão do tipo B é definida pelo valor característico da sua tensão


de rotura por compressão (ou flexão) aos 28 dias, entendendo-se por valor
característico aquele valor que é atingido com a probabilidade de 95%.

c) A classe do betão é definida pelo número que exprime o valor característico da


sua tensão de rotura em MPa (megapascais). No caso de ser por flexão opõe-se a
letra F àquele número. Ex.: B25; B30; B40 ou B2,0F; B4,5F.

d) Os betões do tipo B devem ser das qualidades mínimas indicadas no quadro


seguinte, em função da classe em que pertencem.

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Define-se a qualidade do betão em função dos valores do desvio padrão ou do
coeficiente da variação das distribuições estatísticas dos valores das tensões de rotura
por compressão ou flexão aos 28 dias de idade, referidos aos ensaios sobre provetes
cúbicos com 20cm de aresta (ou provetes com 15cm x 15cm x 55cm no caso de
flexão).

Assim, considerando n amostras às quais correspondem n valores de tensão de rotura:

(1) A tensão média será: f cm 


 f ci , onde: fci é a média aritmética dos diversos
n
provetes de uma amostra.

( f ci  f cm ) 2
(2) O desvio padrão ∆ é dado pela expressão:  
n 1

(3) O valor característico da tensão de rotura, fck, é dado por: f ck  f cm  1,64


(4) O coeficiente de variação  é um parâmetro dado por:  
f cm

O RBLH estipula que no cálculo do valor característico à compressão não poderão ser
considerados valores do desvio padrão inferiores a 2,5 MPa, nem valores abaixo de
7% para o coeficiente de variação.

e) Assinala-se também que, para o caso de betões prontos, independentemente da


classe, devem ser da qualidade 1 (nível mais exigente).

f) O número mínimo de amostras a ensaiar, para definir uma distribuição estatística


de que resultem os valores pretendidos, é 20, devendo ser retiradas de tal modo
que a uma dada amassadura ou a um veículo transportador não corresponda mais
do que uma amostra

Em situações excepcionais devidamente reconhecidas, o número de amostras for


inferior a 20, mas não menor que 3, o betão a que se referem tais amostras poderá
ainda ser aceite, em termos da sua recepção, se forem cumpridas simultaneamente as
seguintes condições:

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1ª) f cm  f ck  K1 e 2ª) f cl  f ck  K 2 , em que fcl é o menor valor dos obtidos no
ensaio.

No início da produção do betão K1=5 MPa e K2=1 MPa e quando se estabilizam as


condições de produção, K1=K2=3 MPa.

g) Relativamente aos betões do tipo BD, são enunciadas as seguintes classes:

 Classe 1– betão que é caracterizado pela durabilidade quando em contacto


com águas de elevada agressividade química;
 Classe 2 – betão que é caracterizado pela durabilidade quando em
contacto com águas de moderada agressividade química;
 Classe 3 – betão que é caracterizado pela durabilidade quando exposto em
ambientes em que a temperatura pode atingir, com frequência,
valores inferiores a 5 oC.

h) Face a caracterização anterior dos betões (tipo, classe e qualidade) é usual


designar os betões por siglas formadas pela sucessão dedos indicativos do tipo, da
classe e da qualidade.

Ex.: B30.1 (betão do tipo B, da classe 30 e qualidade 1);


B4,5F.1 (betão do tipo B, da classe 4,5 referido à tensão de rotura por flexão e da
qualidade 1);
BD2.1 (betão tipo BD, da classe 2 e da qualidade 1);
B20.BD3.2 (betão do tipo B, da classe 20, do tipo BD, da classe 3 e da qualidade
2).

— Exemplo de aplicação:

1. Numa obra, cujo o projecto recomendava a utilização dum betão B25 em


elementos estruturais, para cada betonagem feita com betão amassado no estaleiro da
obra eram colhidas amostras em cubos (de 20 cm de aresta) para posterior ensaio de
compressão no LEM. A título de exemplo, no ensaio aos 28 dias, dos cubos duma das
colheitas efectuadas, obtiveram-se os seguintes resultados, em MPa: 21, 25, 27, 24,
30, 28, 24, 26, 29, 28, 20, 23, 27, 26, 24, 29, 22, 25, 23, 30, 27, 24. Será o betão
fabricado no estaleiro satisfazia o prescrito?

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Correcção:

B25 (25Mpa); n=22

fci
fcm 
n
562 ( fci  fcm ) 2
fcm   25.55Mpa 
22 n 1   2.82Mpa  2.5Mpa Ok!


 * 100
fcm
fck  fcm  1.64
2.82
fck  25.55  1.64 * 2.82  * 100
25.55
fck  20.92Mpa   11.03%  7% Ok!

O betão não satisfaz porque fck <Tensão característica do B25 (25 Mpa);

Sendo necessário fazer o caroteamento e posterior ensaio.

Caso as amostras fossem inferiores a 20 e não menos de 3, deveria seguir-se as seguintes


verificações:

fcm  fck  K1 fcl  fck  K 2


25.55  20.92  5 20  20.92  1
25.55  25.92 20  19.92

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