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UNIDADE III

Controle do Concreto de Cimento Portland

3. Controle Estatístico – Baseado na NBR 12655:1996

3.1 Definições

Classe: designação da resistência característica do concreto (fck), múltiplo de 5 MPa.


Exemplo: fck 25,0 MPa = concreto classe C25.

Lote: volume de concreto a ser tratado e analisado estatisticamente, de forma individual,


dentro da obra. Seu valor limite é fixado em função do tipo de solicitação atuante na peça,
número de betonadas que o compõe, número de andares envolvidos e/ou tempo de execução
da concretagem.

Grupo: para a avaliação da resistência, o concreto é dividido em grupos, em função de sua


classe. No grupo I estão os concretos das classes C10 a C50; no grupo II, da classe C55 a
C80. (NBR 8953:1992)

Exemplar: um par de corpos-de-prova, da mesma betonada, coletados conforme a NBR


5728:2003, para cada idade de rompimento, moldados no mesmo ato. Toma-se como
resistência do exemplar o maior dos dois valores obtidos em cada ensaio.

3.2 Procedimento e Plano de amostragem

Para se controlar a qualidade do concreto que está sendo utilizado em uma determinada obra
deve-se atuar em diferentes fases do processo de produção.

Inicialmente, deve ser verificado se os materiais que se encontram no canteiro correspondem


àqueles que foram utilizados na etapa de dosagem. O cimento deve ter a mesma especificação
e marca comercial; o agregado miúdo deve apresentar a mesma granulometria; o agregado
graúdo, a mesma dimensão máxima característica, mesma origem mineralógica e forma do
grão. Esta verificação deve ser realizada visualmente e, em caso de dúvida, deverão ser
procedidos ensaios específicos de laboratório.
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A seguir deve ser verificado se a quantidade relativa entre os diversos constituintes do
concreto (traço) está de acordo com o que foi estabelecido na etapa de dosagem. No caso de
concreto dosado em obra, pelo menos uma vez por dia deve ser procedida esta verificação
quando da colocação dos materiais na betoneira. Em caso de dúvida, ou se o concreto for
dosado em central, podem ser utilizados processos de coleta de amostras e reconstituição de
traço do concreto recém misturado.Para cada tipo e classe de concreto a ser colocado em uma
estrutura, devem ser realizados controles de consistência e resistência à compressão.

3.2.1. Consistência do concreto

Medida pelo abatimento do tronco de cone (Slump Test) – NM 67:1996 ou Espalhamento pelo
tronco de cone (Mesa de espalhamento) – NM 68:1996, deve seguir as recomendações
abaixo:

- Para concreto preparado em betoneira estacionária

na primeira betonada;

ao reiniciar a elaboração após uma interrupção da jornada de concretagem


durante pelo menos, 2 horas;

na troca de operadores; e

cada vez que forem moldados corpos-de-prova.

Para concreto fornecido por betoneira móvel:

a cada nova betonada.

3.2.2. Resistência à compressão

A cada lote de concreto deve corresponder uma amostra formada por, no mínimo, seis
exemplares para os concretos do Grupo I (NBR 8953:1992) - fck = 10 a 50MPa - e doze
exemplares para os concretos do Grupo II - fck = 55 a 80 MPa - coletados aleatoriamente
durante a operação de concretagem, conforme a NBR 14931:2003 para concretos produzidos
em betoneiras estacionárias ou conforme a NBR 7212:1984 para os concretos fornecidos por
central dosadora de concreto. Os lotes devem ser formados segundo o critério da Tabela 3.1,
adotando-se aquele que resultar no maior número de exemplares possível.
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Tabela 3.1: Valores referentes à formação de lotes de concreto (NBR 12655:1996)

Solicitação principal dos elementos estruturais


Limites Superiores Elementos em compressão
Elementos em flexão
simples e em flexão e
simples
compressão
Volume concreto 50 m3 100 m3
No de andares 1 1
Tempo de
3 dias consecutivos
concretagem
Nota: 1. Este período deve estar compreendido no prazo máximo de sete dias, que inclui eventuais interrupções
para tratamento de juntas.

3.3 Controle da resistência do concreto

Tendo em vista a diversidade de condições construtivas e a importância relativa das diferentes


estruturas de concreto, consideram-se dois tipos de controle da resistência do concreto à
compressão: o controle estatístico por amostragem parcial e o controle estatístico por
amostragem total (100%). Os corpos-de-prova devem ser ensaiados à compressão conforme a
NBR 5739:1994.

3.3.1 Controle estatístico por amostragem parcial

a) Para concretos com números de exemplares (n) compreendidos no intervalo de 6 a 20, o


valor estimado da resistência característica à compressão (fckest), na idade especificada, é
dado por:

⎛ f 1 + f 2 + ... + fm − 1 ⎞
f ckest = 2 ∗ ⎜ ⎟ − fm (3.1)
⎝ m −1 ⎠

Onde:

m = metade do número de n exemplares. Para a determinação de m, despreza-se o valor mais


alto de n, se este número for ímpar; e

f1≤f2≤...fm≤...fn são as resistências dos exemplares em ordem crescente.

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Não se deve tomar para fckest valor menor que :

fckest = Ψ6*f1 (3.2)

Adotando-se Ψ6, em função da condição de execução e do número de exemplares, conforme


os valores da Tabela 3.2, admitindo-se a interpolação linear.

Tabela 3.2 : Valores de Ψ6 em função do número de exemplares e da condição de preparo


(NBR 12655:1996)

Condição Número de exemplares (n)


de preparo 2 3 4 5 6 7 8 10 12 14 ≥16
A 0,82 0,86 0,89 0,91 0,92 0,94 0,95 0,97 0,99 1,00 1,02
BeC 0,75 0,80 0,84 0,87 0,89 0,91 0,93 0,96 0,98 1,00 1,02

Sendo:

- Condição A: materiais proporcionados em massa.

- Condição B: cimento em massa e agregados em volume, umidade determinada e corrigidos


o volume de agregado miúdo em função do inchamento e a quantidade de água adicionada.

- Condição C: cimento em massa e agregados em volume. Água de amassamento corrigida em


função de estimativa da umidade e da consistência do concreto.

b) Para amostragem parcial de concreto com n ≥ 20, o valor estimado da resistência à


compressão, na idade especificada, é dado por:

fckest = fcm - 1,65 Sn (3.3)

Onde:

fckest = Valor estimado da resistência característica à compressão do concreto

fcm = Resistência média do concreto a compressão para a idade do ensaio

Sn = Desvio-padrão dos resultados para n-1

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3.3.2 Controle do concreto por amostragem total (100%)

Aplica-se a casos especiais, a critério dos profissionais responsáveis pelo projeto estrutural e
pela execução. O controle se realiza determinando a resistência do concreto a partir dos
resultados de exemplares de cada amassada.

O valor estimado da resistência característica é dado por:

a - fckest = f1 para n < 20

b - fckest = fi para n ≥ 20, onde “i” = 0,05n adotando-se a parte inteira.

3.3.3 Casos excepcionais

Para lotes com volumes inferiores a 10 m3, em que o número de exemplares estiver
compreendido entre 2 e 5, e não estiver sendo realizado o controle total, permite-se adotar :

fckest = Ψ6*f1

3.4 Aceitação da estrutura

Em termos de resistência à compressão, a estrutura será automaticamente aceita se:

fckest ≥ fck

No caso de não haver aceitação automática, a decisão será baseada em uma ou mais das
seguintes verificações: revisão do projeto, ensaios especiais do concreto e ensaios da
estrutura.

3.4.1 Revisão do projeto

O projeto da estrutura será revisto, adotando-se para o lote de concreto em exame a seguinte
igualdade:

fck = fckest

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3.4.2 Ensaios especiais do concreto

A investigação direta da resistência do concreto será feita por meio de ensaios de pelo menos
6 corpos-de-prova extraídos da estrutura, os quais deverão ter diâmetro de 15 cm, corrigindo-
se os resultados em virtude dos efeitos de broqueamento e também, se for o caso, se a razão
entre a altura e o diâmetro do corpo-de-prova for diferente de 2. Os corpos-de-prova deverão
ser extraídos de lotes distribuídos de forma a constituírem uma amostra representativa de todo
o lote em exame. No caso de estrutura que deverá ficar imersa, os corpos-de-prova deverão
permanecer imersos nas 48 horas que antecedem o ensaio.

O correspondente valor estimado da resistência característica será calculado utilizando as


mesmas expressões citadas anteriormente, aumentando-se 10% (ou 15%), em virtude de se
tratar da resistência do concreto na própria estrutura, e não se tomando valores inferiores a 1,1
Ψ6*f1 (ou 1,15 Ψ6*f1). O valor de Ψ6 será tomado da tabela específica, referente às
condições B e C. Os valores entre parênteses aplicam-se quando o número de corpos-de-prova
é pelo menos 18. Na interpretação dos resultados, deverão ser levados em conta a idade do
concreto na ocasião e o efeito sobre resistência das ações de longa duração que tenham atuado
até então.

Com as devidas precauções quanto à interpretação dos resultados e como medida auxiliar de
verificação da homogeneidade do concreto da estrutura poderão ainda ser efetuados ensaios
não destrutivos de dureza superficial ou de velocidade de propagação do ultra-som, de acordo
com métodos estudados e aprovados por laboratório nacional idôneo.

3.4.3 Ensaio de estrutura

Quando houver dúvidas de qualquer natureza sobre uma ou mais partes da estrutura, as quais
não possam ser dirimidas por investigação analítica, a decisão a ser tomada poderá ser
baseada nos resultados obtidos em ensaios da estrutura (provas de carga) realizados de acordo
com método pré-estabelecido. Durante a realização do ensaio deverão ser medidas grandezas
que revelem o comportamento da estrutura. O ensaio cessará se houver indício de ruína.

Se das mencionadas verificações concluir-se que as condições de segurança da NBR


12655:1996 são satisfeitas, a estrutura será aceita.

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Em caso contrário, tomar-se-á uma das seguintes decisões:

- A parte condenada da estrutura será demolida;

- A estrutura será reforçada; ou

- A estrutura será aproveitada com restrições quanto ao seu carregamento ou seu uso.

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