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CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Os abalos sofridos pelo povo brasileiro em torno dos acontecimentos de 1930, a crise econômica provocada pela quebra da bolsa de
valores de Nova Iorque, a crise cafeeira, a Revolução de 1930, o acelerado declínio do nordeste condicionaram um novo estilo
ficcional, notadamente mais adulto, mais amadurecido, mais moderno que se marcaria pela rudeza, por uma linguagem mais
brasileira, por um enfoque direto dos fatos, por uma retomada do naturalismo, principalmente no plano da narrativa documental,
temos também o romance nordestino, liberdade temática e rigor estilístico.

Os romancistas de 30 caracterizavam-se por adotarem visão crítica das relações sociais, regionalismo ressaltando o homem
hostilizado pelo ambiente, pela terra, cidade, o homem devorado pelos problemas que o meio lhe impõe.

Graciliano Ramos (1892-1953) nasceu em Quebrângulo, Alagoas. Estudou em Maceió, mas não cursou nenhuma faculdade. Após
breve estada no Rio de Janeiro como revisor dos jornais "Correio da Manhã e A Tarde", passou a fazer jornalismo e política
elegendo-se prefeito em 1927.

Foi preso em 1936 sob acusação de comunista e nesta fase escreveu "Memórias do Cárcere", um sério depoimento sobre a realidade
brasileira. Depois do cárcere morou no Rio de Janeiro. Em 1945, integrou-se no Partido Comunista Brasileiro.

Graciliano estreou em 1933 com "Caetés", mas é São Berdado, verdadeira obra prima da literatura brasileira. Depois vieram
"Angustia" (1936) e Vidas Secas (1938) inspirando-se em Machado de Assis.

Podemos justificar isto com passagens do texto:


"Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos."
"A caatinga estendia-se de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas"
"Resolvera de supetão aproveitá-lo (papagaio) como alimento..."
"Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se, somaram as suas desgraças e os seus pavores".

ESTUDO DOS PERSONAGENS

Baleia - cadela da família, tratado como gente, muito querido pelas crianças.
Sinhá Vitória - mulher de Fabiano, sofrida, mãe de 2 filhos, lutadora e inconformada com a miséria em que vivem, trabalha muito
na vida.
Fabiano - nordestino pobre, ignorante que desesperadamente procura trabalho, bebe muito e perde dinheiro no jogo.
Filhos - crianças pobres sofridas e que não tem noção da própria miséria que vivem.
Patrão - contratou Fabiano para trabalhar em sua fazenda, era desonesto e explorava os empregados.
Outros personagens: o soldado, seu Inácio (dono do bar).

ESTUDO DA LINGUAGEM

Tipo de discurso: indireto livre


Foco narrativo: terceira pessoa

Adjetivos, figuras de linguagem:


Metáfora: " - você é um bicho, Fabiano".
Prosopopéia: compara Baleia como gente

ANÁLISE DAS IDÉIAS

Comentário Crítico:

Esse livro retrata fielmente a realidade brasileira não só da época em que o livro foi escrito, mas como nos dias de hoje tais como
injustiça social, miséria, fome, desigualdade, seca, o que nos remete a idéia de que o homem se animalizou sob condições sub-
humanas de sobrevivência.

Vidas Secas
Graciliano Ramos
Do Etapa Vestibular
Vidas Secas é o último romance de Graciliano Ramos e a única experiência do autor com foco narrativo na terceira pessoa. A obra é
constituída em forma de espiral, cujo início fechado ("Mudança", cap 1) abre-se no final, com o último capítulo ("Fuga")
conduzindo os personagens para um destino inusitado, mas que mantém o elo da desdita, da miséria, da fome e da pobreza.

Entre os dois capítulos-limites são constituídos 11 quadros que, aparentemente, nada têm em comum a não ser os personagens e a
paisagem.

Um tênue fio narrativo faz o leitor conhecer a história de uma família de retirantes nordestinos que foge da seca, encontra período de
passageira estabilidade e parte novamente em retirada quando as chuvas deixam de cair, prenunciando um novo período de seca. A
economia (de estilo, de linguagem, de vida e de cenário) pode ser destacada como a característica básica do volume.

DESCRIÇÃO

O livro Vidas Secas é uma das grandes obras do escritor Graciliano Ramos. O livro retrata fielmente a realidade brasileira
não só da época em que foi escrito, mas também dos dias de hoje. Aborda temas como a injustiça social, miséria, fome,
desigualdade e seca, o que se arremete a idéia de que o homem se animalizou sob condições sub-humanas de sobrevivência.

O arquivo para download é um resumo totalmente fiel ao livro, bem útil para quem necessita ler para provas de vestibular e
até mesmo para adoradores da literatura brasileira e das obras do autor, aproveite!

10/07/2006
por josé neto

VIDAS SECAS – ANÁSILE LITERÁRIA

Por José Teixeira Neto

RESUMO

O romance “Vidas Secas” narra o episódio de uma família de retirantes em busca de um lugar que lhes ofereça meios de
melhorar suas condições de vida. Essa família é composta por Fabiano, homem humilde e trabalhador; Sinha Vitória, esposa
resignada e fiel; o Menino mais novo e o Menino mais velho, crianças inocentes, representantes do anonimato social; além da
cachorra Baleia, animal que se humaniza em relação à dura realidade por que passa Fabiano e sua família. Durante um longo
percurso por um caminho que parece interminável, os personagens enfrentam atrocidades várias, entre as quais, a fome, a sede e a
falta de um lugar onde pudessem se estabelecer. Depois de andarem muito, os retirantes encontram uma casa que parecia
abandonada. Eles se aproximam e entram nela, mas logo chega o dono, para quem Fabiano, depois de oferecer seus préstimos ,
começa a trabalhar, sendo vítima da seca, sua maior antagonista, e da exploração por parte do proprietário das terras. Na fazenda, a
família permanece por algum tempo, cuidando do rebanho do proprietário até que, desiludidos com o aparecimento das arribações
que, para eles “eram coisas da seca”, deixam a fazenda numa manhã bem cedo e continuam sua busca estrada a fora, na tentativa de
um dia encontrarem um alento para suas vidas.

NARRADOR

A história é contada por um narrador heterodiegético, que parece estar em todos os lugares ao mesmo tempo, inclusive no
interior de algumas das personagens, externando a angústia e os anseios de cada um deles, o que caracteriza uma onisciência
seletiva: “O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua
desgraça.” Nesse caso, observa-se ainda um narrador que mantém uma relação transcendente aos limites entre narrador/personagem.
Em Vidas Secas, esse narrador vivencia cada momento da vida dos retirantes e parece sofrer com eles: “Por que tinham feito
aquilo? Era o que não podia saber. Pessoa de bons costumes, sim senhor, nunca fora preso(...)Assim um homem não podia resistir.”
É , portanto, um narrador que, mesmo de fora na construção da história, está muito próximo de cada um dos personagens , ou seja,
há uma relação narrador/personagens indissolúvel e amistosa entre um e outro.

LINGUAGEM

O romance possui uma linguagem compatível com todo o processo de construção do texto: desde sua adequação às
situações expressas no contexto, até o nível de fala dos seus personagens. As frases curtas traduzem a objetividade do autor em
expressar a seca em vive o sertão nordestino. “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes
tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.” Nota-se ainda uma consonância entre linguagem e nível sócio-
cultural, que se evidencia na forma como é reproduzida a fala de Fabiano, sem nenhuma instrução, não se comunica através de
frases desenvolvidas, mas de expressões monossilábicas: “Fabiano, que não esperava semelhante desatino, apenas grunhia: - Hum!
Hum!” Como uma forma de trazer à tona os sentimentos e anseios de seus personagens, o autor faz uso do discurso indireto livre,
recurso que possibilita as falas em forma de “flash” no meio da narrativa: “Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato.” O
pequeno número de adjetivos empregados na caracterização do ambiente e dos personagens, não só mostram imagens vivas de cada
situação, como também exteriorizam o estado de espírito dos protagonistas: “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas
manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.” Nesse sentido, linguagem e contexto
estão intimamente ligados, buscando expressar clara e objetivamente a realidade de muitos que vivem como Fabiano e sua família.

O ESPAÇO
A maior parte da história se passa na caatinga, que funciona cimo um dos agentes causadores das más condições de vida
por que passa Fabiano e sua família. Trata-se de um lugar árido e inóspito, que, aliado à seca, não oferecia meios de sobrevivência,
o que fazia com que os retirantes continuassem numa mudança constante, caracterizando assim, um aspecto circular na obra, já que
a história começa com a MUDANÇA da família e termina com a FUGA: a família deixa o lugar onde está, na tentativa de se
estabelecer na vida.

OS PERSONAGENS

Os personagens da história são portadores de total relevância no processo de construção da narrativa. Cada um deles, com
suas particularidades, são apresentados em capítulos diferentes, sem com isso, quebrar a linearidade da trama. Eles representam
pessoas sofridas que, na sua simplicidade, retratam o descaso social evidente na sociedade brasileira. Fabiano é o homem de aspecto
animalizado “lançou de novo aquele som gutural”, tanto pela sua condição de analfabeto, quanto pela sua afinidade com o elemento
da natureza “Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele.” Fabiano, por ser um homem sem instrução, é vítima de todo
tipo de exploração, a começar pelo patrão, que lhe toma quase todo o dinheiro na hora em que está negociando a compra do gado;
depois, vem o episódio do soldado amarelo que, num abuso de autoridade o prende sem nenhum critério.
A situação difícil de Fabiano o conduzia a uma espécie de degradação humana, o que o tornava num ser objeto, sem
nenhuma importância “Fabiano, uma coisa da fazenda, um traste, seria despedido quando menos esperasse.” Além disso, ele não se
aproximava dos homens, pois tinha dificuldades de se expressar, fato que o fazia sentir-se inferior aos outros. Por outro lado, mesmo
negando a sua condição humana “você é um bicho, Fabiano.”, possui um desejo forte e poderoso, que é o de viver, na sua inocência.
Sinha Vitória é um exemplo de resignação e esperança. Vive perdida em pensamentos que se confundem com o real e o
imaginário, aceitando com paciência a realidade que lhe é imposta pela vida. Enquanto aguarda uma oportunidade de melhorar sua
condição social, procura orientar seu marido, Fabiano, a fim de que ele não seja explorado, principalmente pelo proprietário da
fazenda, sendo por isso, sua fonte de apoio, porém sem muito efeito, pois a necessidade fazia de Fabiano um homem subordinado e
impotente diante da situação em que se encontra. O que a motivava era a fé em Deus e a vontade de conseguir a tão sonhada cama
de lastro de couro, que representava para ela a possibilidade de ser gente “Não podiam dormir como gente”.
Enquanto Fabiano oscila entre sua condição de homem e de animal, Sinha Vitória assume a liderança em relação ao
rumo que a família deve tomar e decide a hora de partirem do local onde se encontram por não achar ali meios de sobrevivência. Daí
ela ser vista por seu esposo como o “único ser que o compreendia”. Sinha Vitória é, portanto, a mulher que sofre, que reza, que em
determinados momentos fraqueja, mas que não deixa a ternura de mãe e de esposa sair do coração.
Os filhos do casal simbolizam a inocência e a solidão. O menino mais novo admira o pai e procura imitá-lo. Essa
fantasia torna os pensamentos confusos, revelando a busca de uma identificação com o pai, Fabiano. Por outro lado, falta de
interlocutores para que ele pudesse falar das suas aventuras o deixava chateado e triste, o que confirmava a solidão que sentia: “Não
descobrindo neles nenhum sinal de solidariedade (...) Achou-se abandonado e mesquinho, exposto a quedas e marradas.” Nesse
sentido, a incomunicabilidade passa a ser uma marca da família retirante, tanto pela inocência dos meninos que tudo desconheciam,
quanto pela ausência de um vocabulário mínimo que lhes desse condição de diálogo: “Provavelmente aquelas coisas tinham nomes.
O menino mais novo interrogou-o com os olhos(...) Como podiam os homens guardar tantas palavras?”
O menino mais velho, no entanto, já demonstrava uma certa curiosidade, tentando, talvez, compreender e contextualizar
algumas expressões desconhecidas, como no momento em que tenta entender o significado da palavra inferno. Para isso, recorre ao
pai, que lhe ignora a pergunta. Sem êxito, dirige-se à mãe, de quem recebe informações insuficientes sobre o que saber. Sinha
Vitória talvez não soubesse de fato o que era realmente “inferno”. Com a insistência do menino, ela irrita-se e o agride, cerceando
assim o direito ao conhecimento. Isso caracteriza a condição de seres passivos dentro do contexto social e a aproximação com o
mundo anima representado na figura de Baleia.

BALEIA

Se por um lado vê-se uma família que se degrada chegando à condição de animal, por outro, nota-se um animal que
parece humanizar-se. Baleia, muitas vezes, solidariza-se com os retirantes, como no momento em que matou o preá e não comeu
sozinha, entregou-o a Fabiano.
Baleia, em Vidas Secas, parece possuir “alma” que partindo deste mundo “Acordaria feliz, num mundo cheio de preás.
E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme (...)O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes”. Por isso pode ser
considerada uma personagem que transcende os limites de um simples cão. Ela assume a função de um ser que pensa e que possui a
esperteza de homem “O objeto desconhecido continuava a ameaçá-la. Conteve a respiração, cobriu os dentes, espiou o inimigo por
baixo das pestanas caídas. Ficou assim algum tempo, depois sossegou.” A relevância atribuída à cachorra Baleia simboliza o
reconhecimento de um ser que, ora animal, ora criança, tematiza o lirismo presente no romance.

SOLDADO AMARELO / SEU TOMÁS DA BOLANDEIRA

O Soldado amarelo e seu Tomás da Bolandeira são dois personagens que estão nos extremos da escala cultural. O
primeiro simboliza a arbitrariedade restrita ao uso de uma farda, que lhe dá a condição de representante da Justiça, porém sem
nenhum mérito para faze-lo. O Soldado, no uso de suas “atribuições” conferidas pelo governo, tripudia sobre as pessoas indefesas,
entre as quais Fabiano, que depois de insultado por ele, foi preso inocentemente. O outro, seu Tomás da Bolandeira, representa um
referencial para o marido de Sinha Vitória não só na perspectiva de um homem poderoso e humilde, como também cultural, já que
tratava de uma pessoa esclarecida, “porque lia demais”. Nesse sentido, ele passava a ser, para Fabiano, uma espécie de modelo que
o oprime, mas o encanta, por ser um homem bom e lido. “Em horas de maluqueira, Fabiano desejava imitá-lo: dizia palavras
difíceis, truncando tudo...” Tomás da Bolandeira é, pois, uma pessoa que, sem querer, inferioriza Fabiano, não enquanto ser
humano, mas do ponto de vista cultural.

O TEMPO
O tempo no romance se conflui numa perspectiva de presente e futuro condicional, quando tudo para a família é baseado
em hipóteses. Os protagonistas vivem um presente de dificuldades e sonham com um futuro que não oferece nenhuma garantia de
melhores condições de vida. É um tempo que não se percebe passar, que parece tornar perene o estado de calamidade vivida pelos
retirantes. Em determinado momento na história, o autor faz uso da prolepse, procurando antecipar o destino dos filhos de Fabiano e
Sinha Vitória, se bem que não seja um futuro promissor, mas uma repetição daquilo que os pais são no momento presente “Quando
crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados, por um soldado amarelo.” Trata-
se, portanto, de um tempo psicológico, que não tem presa de passar.

INTERPRETAÇÃO

O Romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, é uma obra através da qual é retratada a realidade de inúmeras pessoas, vítimas do
descaso social e da exploração humana. A obra procura denunciar a injustiça praticada pelos que assumem o poder. O fiscal
simboliza a extorção acometida aos pequenos comerciantes; o Soldado amarelo representa a corrupção policia, evidenciada na
prisão arbitrária de Fabiano; O dono da fazenda abandonada é o símbolo do patrão injusto, desumano e medíocre, que suga os
funcionários a todo momento, sem nenhum senso de solidariedade e respeito para com o ser humano. Fabiano e sua família são
retrato de muitos retirantes que vivem sem nenhuma proteção e sem o reconhecimento de que também são seres humanos. Por isso.
Pode-se dizer que Vidas Secas é uma obra que tenta sensibilizar o leitor para as causas sociais, utilizando como instrumento a
palavra escrita. Ler Vidas Secas é conhecer um pouco do sertão nordestino e conviver com Fabiano e sua família, questionando o
porquê de tanta injustiça social, pois na mesma situação, encontram-se muitos Fabianos e Sinhas Vitórias em busca do mínimo que
um ser humano pode querer: que é viver.

GRACILIANO RAMOS

Graciliano Ramos

Nome: Graciliano Ramos


Nascimento: 27/10/1892
Natural: Quebrangulo - AL
Morte: 20/03/1953

"Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas


com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos
estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei,
ainda nos podemos mexer"

Graciliano Ramos nasceu no dia 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrangulo, sertão de Alagoas, filho primogênito dos
dezesseis que teriam seus pais, Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos. Viveu sua infância nas cidades de
Viçosa, Palmeira dos Índios (AL) e Buíque (PE), sob o regime das secas e das suas que lhe eram aplicadas por seu pai, o que o fez
alimentar, desde cedo, a idéia de que todas as relações humanas são regidas pela violência. Em seu livro autobiográfico "Infância",
assim se referia a seus pais: "Um homem sério, de testa larga (...), dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora enfezada,
agressiva, ranzinza (...), olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura".
Em 1894, a família muda-se para Buíque (PE), onde o escritor tem contacto com as primeiras letras.

Em 1904, retornam ao Estado de Alagoas, indo morara em Viçosa. Lá, Graciliano cria um jornalzinho dedicado às crianças, o
"Dilúculo". Posteriormente, redige o jornal "Echo Viçosense", que tinha entre seus redatores seu mentor intelectual, Mário
Venâncio.

Em 1905 vai para Maceió, onde freqüenta, por pouco tempo, o Colégio Quinze de Março, dirigido pelo professor Agnelo Marques
Barbosa.

Com o suicídio de Mário Venâncio, em fevereiro de 1906, o "Echo" deixa de circular. Graciliano publica na revista carioca "O
Malho" sonetos sob o pseudônimo de Feliciano de Olivença.

Em 1909, passa a colaborar com o "Jornal de Alagoas", de Maceió, publicando o soneto "Céptico" sob o pseudônimo de Almeida
Cunha. Até 1913, nesse jornal, usa outros pseudônimos: S. de Almeida Cunha, Soares de Almeida Cunha e Lambda, este usado em
trabalhos de prosa. Até 1915 colabora com "O Malho", usando alguns dos pseudônimos citados e o de Soeiro Lobato.

Em 1910, responde a inquérito literário movido pelo Jornal de Alagoas, de Maceió. Em outubro, muda-se para Palmeira dos Índios,
onde passa a residir.

Passa a colaborar com o "Correio de Maceió", em 1911, sob o pseudônimo de Soares Lobato.

Em 1914, embarca para o Rio de Janeiro (RJ) no vapor Itassuoê. Nesse ano e parte do ano seguinte, trabalha como revisor de provas
tipográficas nos jornais cariocas "Correio da Manhã", "A Tarde" e "O Século". Colaborando com o "Jornal de Alagoas" e com o
fluminense "Paraíba do Sul", sob as iniciais R.O. (Ramos de Oliveira). Volta a Palmeira dos Índios, em meados de 1915, onde
trabalha como jornalista e comerciante. Casa-se com Maria Augusta Ramos.

Sua esposa falece em 1920, deixando quatro filhos menores.

Em 1927, é eleito prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, cargo no qual é empossado em 1928. Ao escrever o seu primeiro
relatório ao governador Álvaro Paes, &8220;um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em
1928&8221;, publicado pela Imprensa Oficial de Alagoas em 1929, a verve do escritor se revela ao abordar assuntos rotineiros de
uma administração municipal. No ano seguinte, 1930, volta o então prefeito Graciliano Ramos com um novo relatório ao
governador que, ainda em nossos dias, não se pode ler sem um sorriso nos lábios, tal a forma sui generis em que é apresentado. Dois
anos depois, renuncia ao cargo de prefeito e se muda para a cidade de Maceió, onde é nomeado diretor da Imprensa Oficial. Casa-se
com Heloisa Medeiros. Colabora com jornais usando o pseudônimo de Lúcio Guedes.

Demite-se do cargo de diretor da Imprensa Oficial e volta a Palmeira dos Índios, onde funda urna escola no interior da sacristia da
igreja Matriz e inicia os primeiros capítulos do romance São Bernardo.

O ano de 1933 marca o lançamento de seu primeiro livro, "Caetés", que já trazia consigo o pessimismo que marcou sua obra. Esse
romance Graciliano vinha escrevendo desde 1925.

No ano seguinte, publica "São Bernardo". Falece seu pai, em Palmeira dos Índios.

Em março de 1936, acusado &8212; sem que a acusação fosse formalizada &8212; de ter conspirado no malsucedido levante
comunista de novembro de 1935, é demitido, preso em Maceió e enviado a Recife, onde é embarcado com destino ao Rio de Janeiro
no navio "Manaus". com outros 115 presos. O país estava sob a ditadura de Vargas e do poderoso coronel Filinto Müller. No
período em que esteve preso no Rio, até janeiro de 1937, passou pelo Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção, pela Colônia
Correcional de Dois Rios (na Ilha Grande), voltou à Casa de Detenção e, por fim, pela Sala da Capela de Correção. Seu livro
"Angústia" é lançado no mês de agosto daquele ano. Esse romance é agraciado, nesse mesmo ano, com o prêmio "Lima Barreto",
concedido pela "Revista Acadêmica".

Foi libertado e passou a trabalhar como copidesque em jornais do Rio de Janeiro, em 1937. Em maio, a "Revista Acadêmica"
dedica-lhe uma edição especial, de número 27 - ano III, com treze artigos sobre o autor. Recebe o prêmio "Literatura Infantil", do
Ministério da Educação", com "A terra dos meninos pelados."

Em 1938, publica seu famoso romance "Vidas secas". No ano seguinte é nomeado Inspetor Federal do Ensino Secundário no Rio de
Janeiro.

Em 1940, freqüenta assiduamente a sede da revista "Diretrizes", junto de Álvaro Moreira, Joel Silveira, José Lins do Rego e outros
"conhecidos comunistas e elementos de esquerda", como consta de sua ficha na polícia política. Traduz "Memórias de um negro",
do americano Booker T. Washington, publicado pela Editora Nacional, S. Paulo.

Publica uma série de crônicas sob o título "Quadros e Costumes do Nordeste" na revista "Política", do Rio de Janeiro.
Em 1942, recebe o prêmio "Felipe de Oliveira" pelo conjunto de sua obra, por ocasião do jantar comemorativo a seus 50 anos. O
romance "Brandão entre o mar e o amor", escrito em parceria com Jorge Amado, José Lins do Rego, Aníbal Machado e Rachel de
Queiroz é publicado pela Livraria Martins, S. Paulo.

Em 1943, falece sua mãe em Palmeira dos Índios.

Lança, em 1944, o livro de literatura infantil "Histórias de Alexandre". Seu livro "Angústia" é publicado no Uruguai.

Filia-se ao Partido Comunista, em 1945, ano em que são lançados "Dois dedos" e o livro de memórias "Infância".

O escritor Antônio Cândido publica, nessa época, uma série de cinco artigos sobre a obra de Graciliano no jornal "Diário de São
Paulo", que o autor responde por carta. Esse material transformou-se no livro "Ficção e Confissão".

Em 1946, publica "Histórias incompletas", que reúne os contos de "Dois dedos", o conto inédito "Luciana", três capítulos de "Vidas
secas" e quatro capítulos de "Infância".

Os contos de "Insônia" são publicados em 1947.

O livro "Infância" é publicado no Uruguai, em 1948.

Traduz, em 1950, o famoso romance "A Peste", de Albert Camus, cujo lançamento se dá nesse mesmo ano pela José Olympio.

Em 1951, elege-se presidente da Associação Brasileira de Escritores, tendo sido reeleito em 1962. O livro "Sete histórias
verdadeiras", extraídas do livro "Histórias de Alexandre", é publicado.

Em abril de 1952, viaja em companhia de sua segunda esposa, Heloísa Medeiros Ramos, à Tcheco-Eslováquia e Rússia, onde teve
alguns de seus romances traduzidos. Visita, também, a França e Portugal. Ao retornar, em 16 de junho, já enfermo, decide ir a
Buenos Aires, Argentina, onde se submete a tratamento de pulmão, em setembro daquele ano. É operado, mas os médicos não lhe
dão muito tempo de vida. A passagem de seus sessenta anos é lembrada em sessão solene no salão nobre da Câmara Municipal do
Rio de Janeiro, em sessão presidida por Peregrino Júnior, da Academia Brasileira de Letras. Sobre sua obra e sua personalidade
falaram Jorge Amado, Peregrino Júnior, Miécio Tati, Heraldo Bruno, José Lins do Rego e outros. Em seu nome, falou sua filha
Clara Ramos.

No janeiro ano seguinte, 1953, é internado na Casa de Saúde e Maternidade S. Vitor, onde vem a falecer, vitimado pelo câncer, no
dia 20 de março, às 5:35 horas de uma sexta-feira. É publicado o livro "Memórias do cárcere", que Graciliano não chegou a
concluir, tendo ficado sem o capítulo final.

Postumamente, são publicados os seguintes livros: "Viagem", 1954, "Linhas tortas", "Viventes das Alagoas" e "Alexandre e outros
heróis", em 1962, e "Cartas", 1980, uma reunião de sua correspondência.

Seus livros "São Bernardo" e "Insônia" são publicados em Portugal, em 1957 e 1962, respectivamente. O livro "Vidas secas" recebe
o prêmio "Fundação William Faulkner", na Virginia, USA.

Em 1963, o 10º aniversário da morte de Mestre Graça, como era chamado pelos amigos, é lembrado com as exposições
"Retrospectiva das Obras de Graciliano Ramos", em Curitiba (PR), e "Exposição Graciliano Ramos", realizada pela Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro.

Em 1965, seu romance "Caetés" é publicado em Portugal.

Seus livros "Vidas secas" e "Memórias do cárcere" são adaptados para o cinema por Nelson Pereira dos Santos, em 1963 e 1983,
respectivamente. O filme "Vidas secas" obtem os prêmios "Catholique International du Cinema" e "Ciudad de Valladolid"
(Espanha). Leon Hirszman dirige "São Bernardo", em 1980.

Em 1970, "Memórias do cárcere" é publicado em Portugal.

Bibliografia

- Caetés - romance

- São Bernardo - romance

- Angústia - romance

- Vidas secas - romance


- Infância - memórias

- Dois dedos - contos

- Insônia - contos

- Memórias do cárcere - memórias

- Viagem - impressões sobre a Tcheco-Eslováquia e a URSS.

- Linhas tortas - crônicas

- Viventes das Alagoas - crônicas

- Alexandre e outros irmãos (Histórias de Alexandre, A terra dos meninos pelados e Pequena história da República).

- Cartas - correspondência pessoal.

Dados extraídos de livros do autor, internet e caderno "Mais!", da Folha de São Paulo, edição de 09/03/2003.

Fonte: www.releituras.com

Nascido em 27 de outubro de 1892, em Quebrangulo, sertão de Alagoas, era o primeiro dos dezesseis filhos de Sebastião Ramos de
Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos. Cresceu nas cidades de Viçosa, Palmeira dos Índios (AL) e Buíque (PE) enfrentando não só
a seca, mas também as surras aplicadas pelo pai, fato que o fez acreditar desde cedo que todas as relações humanas se movem pela
violência.

Graciliano Ramos atuou como revisor e escritor em diversos jornais e revistas pelos lugares em que passou. Em 1904, criou o
jornal o Dilúculo, dedicado às crianças; participou do Echo Viçonsense, no qual, trabalhava como redator Mário Venâncio seu
mentor intelectual, e cujo suicídio em fevereiro de 1906, pôs fim ao respectivo jornal. Em 1905 freqüentou por pouco tempo o
Colégio Quinze de Março, em Maceió. Em todos os jornais em que colaborou, Graciliano adotou diversos pseudônimos, tais como:
Feliciano de Olivença (com o qual começou a publicar sonetos na revista O Malho), Almeida Cunha, S. de Almeida, Soares Lobato,
Soares de Almeida Cunha e Lambda. Em 1910 o Jornal de Alagoas, do qual também era colaborador, move um inquérito literário
contra o escritor; em outubro do mesmo ano Graciliano muda-se para Palmeira dos Índios, aonde, após diversas idas e vindas, casa-
se com Maria Augusta Ramos em 1915. Após cinco anos, em 1920, falece sua esposa deixando-o com quatro filhos pequenos.

Graciliano é eleito prefeito da cidade de Palmeira dos Índios em 1927 e empossado no ano de 1928. Em 1932, renuncia ao cargo de
prefeito e muda-se para Maceió onde é nomeado diretor da Imprensa Oficial; casa-se com Heloisa Medeiros, e colabora com jornais
sob o pseudônimo Lúcio Guedes. Após um curto período, pede demissão do cargo e retorna para Palmeira dos Índios, funda uma
escola no interior da sacristia da igreja Matriz e escreve os primeiros capítulos de São Bernardo. Em 1933 lança seu primeiro livro,
Caetés, que vinha escrevendo desde 1925. Em 1934, falece seu pai em Palmeira dos Índios.

Em 1936, acusado informalmente de ter conspirado no malsucedido levante comunista de novembro de 1935, é demitido. Preso em
Maceió é levado para Recife de onde embarca para o Rio de janeiro com outros 115 presos. Permaneceu preso no Rio de Janeiro até
1937, passando pelo Pavilhão dos Primários da Casa de detenção, pela Colônia Correcional de Dois Rios, na Ilha Grande, retornou a
Casa de Detenção e finalmente passou pela Sala da Capela de Correção. Em agosto de 1937 é lançado seu livro Angústia que recebe
no mesmo ano o prêmio Lima Barreto pela Revista Acadêmica. Ainda em 1937, é libertado e passa a trabalhar como copidesque em
jornais do Rio de Janeiro.

A Revista Acadêmica lança uma edição especial que traz treze artigos sobre o escritor. Recebe o prêmio Literatura Infantil do
Ministério da Educação por A Terra dos meninos pelados. Vidas Secas, seu mais famoso romance, é publicado em 1938 e no ano
seguinte o escritor é nomeado Inspetor Federal do Ensino Secundário no Rio de Janeiro.

Em 1940, juntamente com Álvaro Moreira, Joel Silveira, José Lins do Rego e outros "conhecidos comunistas e elementos de
esquerda", como consta em sua ficha na polícia, passa a freqüentar a sede da revista Diretrizes. Recebe em 1942 o prêmio Felipe de
Oliveira pelo conjunto de sua obra, por ocasião da comemoração de seus 50 anos. Publica o livro Brandão entre o mar e o amor,
escrito em parceria com Jorge Amado, José Lins do Rego, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz. Sua mãe falece em 1943, também
em Palmeira dos Índios. Em 1944 seu livro Angústia é publicado no Uruguai. Em 1945 filia-se ao Partido Comunista e lança os
livros Dois dedos e Infância, este último um livro de memórias. Nesse período, Antônio Cândido, publica uma série de cinco artigos
sobre a obra de Graciliano Ramos no jornal Diário de São Paulo ao qual Graciliano responde por carta, material este, que é
transformado no livro Ficção e Confissão. Em 1948 o livro Infância também é publicado no Uruguai. Em 1951 é eleito presidente da
Associação Brasileira de Escritores, sendo reeleito em 1952. Em abril deste mesmo ano vai a Tcheco-Eslováquia e a Rússia em
companhia de sua segunda esposa, onde tem alguns de seus romances traduzidos. Passam também pela França e por Portugal.
Retorna em 16 de junho, já doente, e decide seguir para Buenos Aires na Argentina onde passa a tratar dos problemas pulmonares
em setembro do mesmo ano. Passa por uma cirurgia, mas os médicos não lhe garantem muito tempo de vida.

Os 60 anos de Graciliano Ramos são lembrados em sessão solene na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, presidida por Peregrino
Júnior, da Academia Brasileira de Letras, na qual falaram sobre sua obra Jorge Amado, Peregrino Júnior, Miécio Tati, Heraldo
Bruno, José Lins do Rego e outros. Em seu nome, falou sua filha Clara Ramos. É internado em 1953, na Casa de Saúde e
Maternidade São Vitor, onde falece, vítima do câncer no dia 20 de março. É publicado o livro Memórias do Cárcere sem o capítulo
final, o qual Graciliano não chegou a concluir. Seus livros São Bernardo e Insônia são publicados em Portugal em 1957 e 1962,
respectivamente. O livro Vidas Secas recebe o prêmio Fundação William Faulkner na Virginia, USA. Em 1963 é lembrado pela
exposição Retrospectivas das Obras de Graciliano Ramos, na cidade de Curitiba (PA), por ocasião do aniversário de 10 anos de sua
morte, e pela Exposição Graciliano Ramos, realizada pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Em 1965 e 1970, são publicados
em Portugal os romances Caetés e Memórias do Cárcere respectivamente. Nelson Pereira dos Santos adapta para o cinema os livros
Vidas Secas e Memórias do Cárcere, em 1963 e 1983, sendo que o primeiro obtém os prêmios Catholique International du Cinema e
Ciudad de Valladolid (Espanha). São Bernardo é dirigido em 1980 por Leon Hirszman.

Bibliografia:

-Caetés - romance
-São Bernardo - romance
-Angústia – romance

-Vidas secas - romance


-Infância - memórias
-Dois dedos - contos
-Insônia - contos
-Memórias do cárcere - memórias
-Viagem - impressões sobre a Tcheco-Eslováquia e a URSS.
-Linhas tortas - crônicas
-Viventes das Alagoas - crônicas
-Alexandre e outros irmãos (Histórias de Alexandre, A terra dos meninos pelados e Pequena história da República).
-Cartas - correspondência pessoal.

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