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gabrielabiologa@hotmail.com, marcio_lago2@hotmail.com
Sim, nós temos bullying, sim senhor! Este fenômeno de nome estrangeiro
também está presente no Nordeste. Sempre esteve! Todo ambiente escolar pode
apresentar esse problema. Ignorar sua existência é o primeiro passo para sua atuação.
Caracterizado pela agressão (física, moral ou material) intencional e repetitiva
sem uma motivação específica, o bullying é encarado como um fenômeno natural. E
brincadeiras de mau gosto e apelidos pejorativos são disseminadas facilmente sem levar
em consideração quem é alvo das “brincadeiras”. Consideração? Está é uma coisa que o
praticante do bullying não conhece e se conhece ignora completamente.
Para aumentar seu poder de ação o bullying ampliou suas fronteiras. Não basta
apenas humilhar no meio de conhecidos, amigos, vizinhos, nem em um espaço
geograficamente limitado, agora quem sofre o bullying geralmente é globalmente
ridicularizado. A idéia é não dá chance de se esconder, de recomeçar. Está nova forma
de agir é conhecida por cyberbullying, quando essa situação de violência entre os pares
ocorrem no espaço virtual.
Na adolescência é a fase em que o indivíduo ainda está consolidando sua
personalidade, seu caráter. Ainda não se viveu experiências suficientes para que possam
projetar seu futuro e ver a situação de uma forma mais global. Inúmeras pesquisas
indicam que adolescentes não sabem lidar com a dor, são emocionalmente instáveis,
imediatistas. Para eles as únicas saídas são o suicídio ou reproduzir o mesmo com
alguém mais fraco.
É comum nessa situação querer identificar os atores envolvidos (vítima, agressor
e espectadores) geralmente atribuindo a culpa ao agressor. No entanto, não se trata de
identificar vítimas e culpados, pois nesse caso todos são vítimas e necessitam de igual
cuidado, tanto quem sofre quanto quem pratica. De acordo com Cléo Fante, especialista
em violência escolar, muitos efeitos são semelhantes para quem ataca e é atacado:
déficit de atenção, falta de concentração e desmotivação para os estudos, entre outro.
Essa afirmação pode ser constatada observando os dados da pesquisa da ONG Plan
Brasil que revela que tanto quem pratica quanto que sofre o bullying estão sujeitos às
mesmas conseqüências.
Os sujeitos são vítimas da diversidade mal compreendida, do preconceito e da
ignorância que mata aos poucos. Falta respeito e compreensão pelo próximo, respeito e
aceitação pelo diferente, mas, sobretudo falta educação, informação. E isto traz à tona
outro aspecto desta realidade, o ambiente em que este fenômeno acontece – a escola. É
na escola que o bullying se manifesta de forma mais contundente e onde ele geralmente
se origina. O irônico é que justamente nesse ambiente que esse tipo de atitude não
deveria ocorrer, mas ocorre.
Mas é também nesse ambiente onde se tem a oportunidade e autoridade para
consertar esse desvio de conduta. O primeiro passo é admitir que esse ambiente é
terreno fértil para o surgimento dessa situação. E dessa forma estabelecer um ambiente
de intolerância ao bullying. Esclarecendo para todos o que é o fenômeno, como
identificar e evitar. Ensinar a olhar o outro de forma mais compreensiva, sem
preconceitos, respeitavelmente. Alertar a todos dos riscos em se expor
desnecessariamente, apelando para o bom senso. O bom exemplo ainda é a forma mais
eficaz de combater uma conduta indesejada. Se o professor apresenta uma postura
coerente e justa, o adolescente percebe que existem outras formas de agir, mesmo que
em seu ambiente familiar a realidade seja outra. Geralmente reproduzem o bom
exemplo na idade adulta como forma de repúdio à maneira como eram tratados.
Para resolver esse problema as escolas costumam convocar todos - pais, alunos,
coordenação, professores – a se envolverem e criarem um ambiente mais sadio e
agradável de conviver. Mas infelizmente essas iniciativas ainda são isoladas e escassas.
No intuito de convidar as escolas municipais a tomarem uma iniciativa nesse sentido, o
governo municipal da cidade de Maceió, no estado de Alagoas, publicou no primeiro
dia útil do ano de 2010, a lei municipal nº 5.872 / 09, que autoriza a instituição do
Programa de Combate ao Bullying, de ação / interdisciplinar e de participação
comunitária, nas escolas públicas do Município de Maceió.
Segundo o IBGE 27, 4% dos alunos das redes públicas e particulares de Maceió
já foram vítimas de bullying, contra 35,6% dos estudantes de Brasília, capital que
apresentou o maior índice. No ranking brasileiro, a capital alagoana é uma das que
apresenta uma das menores incidências de casos. Na avaliação da subsecretária de
Educação Integral, Cidadania e Direitos Humanos do Distrito Federal esta pesquisa
pode ter duas leitura. Uma delas é que os casos são mais comuns na capital. A outra é
que os estudantes de Brasília estão mais preparados para reconhecer e identificar o
problema. Partindo deste último pressuposto, a falta de conhecimento é bastante
preocupante, pois ela impede a identificação deste comportamento e sua denúncia,
reforçando a idéia de brincadeira que não é o caso, vistos os problemas de ordem
sociais e emocionais que são acarretado por este desvio de comportamento.
Dessa forma a iniciativa do governo municipal é louvável, uma vez que o
Programa de Combate ao Bullying preconiza o esclarecimento e capacitação dos
docentes e equipes pedagógica para a implantação das ações de discussão, prevenção,
orientação e solução do problema. O Programa também convoca a comunidade a
participar ativamente em todos os processos. Todos devem se envolver no problema e,
em conjunto, buscarem soluções preventivas e resolutivas para o combate do fenômeno.
A busca por solução ou pela prevenção inclui reuni todos, tomar consciência de
que existe um problema e não se pode ficar omisso!
Referências
ARATANGY, Lídia. Pelo bem das próximas gerações. Rev. Nova Escola, ed. 001, abril,
2009.
BARROS, Andréia. Bullying: é preciso levar a sério ao primeiro sinal. Rev. Nova
Escola, abril, 2008.
CAVALCANTE, Meire. Como lidar com as brincadeiras que machucam a alma. Rev.
Nova Escola, dez, 2004.
POLATO, Amanda. Educar sem rótulos. Rev. Nova Escola, ed. 220, mar, 2009.