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VALOR AGREGADO
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo discutir os conceitos da análise de valor agregado,
como ferramenta de controle e suporte ao gerenciamento de projetos. Inicialmente, uma
breve revisão das questões associadas à análise de valor agregado é apresentada. Isto posto,
o artigo irá explorar esse conceito aplicando-o na fase de projeto conceitual naval,
seguindo a metodologia proposta por Gale (2003). Esse exemplo hipotético considera um
cenário e discute os resultados de desempenho.
ABSTRACT
The paper objective is to discuss earned value concepts as a management project control
and support tool. Firstly this article will present an earned value subjects review. Then it
will be possible to explore this concept applying it in the conceptual ship design, according
to Gale (2003) methodology. This hypothetical example will consider one scenario and
discuss his performance results.
1. INTRODUÇÃO
O controle de projetos conta com poucas ferramentas e uma delas é a Análise de Valor
Agregado1 (AVA). Esta tem seu foco na relação entre os custos reais incorridos e o
produto físico obtido no projeto, com base em um cronograma físico e na linha de base dos
custos. Contudo, ela é muito pouco utilizada no Brasil. Diferente do seu país de origem,
EUA, aonde vem sendo bastante utilizada desde 1967, data de seu desenvolvimento,
segundo Vargas (2003).
A AVA tem suas bases firmadas na relação entre custos reais incorridos e o trabalho
realizado dentro de um intervalo de tempo predeterminado, segundo Cleland et al (2002).
Para tal, as medidas de despesas-desempenho devem ser estabelecidas dentro de um
cronograma físico do projeto, o que confere maior precisão ao controle. Segundo Vargas
(2003) o valor agregado pode ser definido como a avaliação entre o que foi obtido em
relação ao que foi realmente gasto e ao que se planejava gastar, onde o valor a ser agregado
inicialmente por uma atividade é o valor orçado para ela.
Com a AVA, é necessário incluir outra variável, os ganhos físicos reais, o que se chama de
valor agregado. Considerando o mesmo exemplo, com um valor agregado de R$ 1.500,00.
Isso significa que, até a data de verificação, as atividades planejadas que foram
completadas e suas entregas materializadas somam um total de R$ 1.500,00. Essa variável
permite agora concluir que o projeto está com trabalhos atrasadas, pois foram agregados
1
Análise de Valor Agregado – do inglês Earned Value Analysis, no Brasil ainda não foi definido uma tradução adequada
para este conceito, assim, neste artigo será utilizado o termo Análise de Valor Agregado e seu acrônimo AVA.
apenas R$ 1.500,00 dos R$ 2.500,00 previstos. Isso representa que o projeto está R$
1.000,00 abaixo do planejado. De fato, o projeto gastou R$ 2.000,00 para agregar somente
R$ 1.500,00 (entregas materializadas), o que indica um atraso nos prazos e um aumento
dos custos de R$ 500,00 no mês, como ilustra a Figura 2.
Despesas (R$)
Baseado na norma americana ANSI/EIA 748 (apud Vargas, 2003), para cada um dos
parâmetros mencionados anteriormente, utiliza-se na AVA a seguinte terminologia
específica:
• BCWS (Budget Cost of Work Scheduled) - valor que indica a parcela do orçamento
que deveria ser gasta, considerando o custo da linha de base da atividades, atribuição e
recursos do cronograma físico. O BCWS é o somatório dos custos da linha de base até a
data da verificação. Em português o BCWS é traduzido como Custo Orçado do Trabalho
Agendado (COTA).
Figura 3. Exemplo gráfico dos índices que compõem o conceito da AVA (COTA, CTR
e CRTR).
• IDC (Índice de desempenho do custo) é dado pela razão entre o Valor Agregado
(COTR) e o custo real (CRTR), como mostra a Equação (4). O IDC mostra quanto do valor
real consumido está definitivamente agregando valor ao projeto e quanto são as perdas no
mesmo período.
Por exemplo, supondo uma fase de um projeto. Após um determinado tempo de execução
o projeto apresenta um IDCr = 0,81. Este valor indica que 81% do tempo previsto no
orçamento foram convertidos em trabalho que gerou entregas (o que se chama de agregar
valor) no projeto. Por conseqüência, o projeto apresenta uma perda de tempo de 13%, uma
vez que esse tempo não foi utilizado para agregar valor ao projeto. Este mesmo projeto
pode apresentar um IDC = 0,9, indicando que para cada unidade monetário planejada para
o projeto, 10% foram perdas e que 90% foram convertidas em entregas físicas.
Como foi apresentado no item anterior, o que diferencia a AVA das análises tradicionais
financeiras é a possibilidade de incluir aspectos relacionados ao escopo do projeto e do
produto como entregas físicas do projeto. Contudo, a correta definição dessas entregas é
ainda algo subjetivo e dependente do projeto em execução. Sendo este um dos maiores
motivos para a não utilização dos conceitos da AVA.
Para que um projeto possa ser controlado com o apoio da AVA é necessário um
planejamento segundo os conceitos desta ferramenta de controle. Sendo que esta está
alinhada aos princípios básicos do gerenciamento de projeto. Assim, todo projeto deve
conter um escopo definido com precisão. Trabalho este realizado pela EDT (Estrutura de
Desdobramento do Trabalho), que define o trabalho a ser realizado. Com base na EDT do
projeto, elabora-se o cronograma, onde todas as atividades serão distribuídas no tempo.
Para cada atividade serão alocados recursos, e, com base na duração e carga de trabalho, é
definido o orçamento do projeto. Por fim, as linhas de base dos custos e prazos são
estabelecidas para o projeto, que constituirão o conjunto de valores orçados para o projeto.
Essa seqüência de raciocínio está ilustrada na Figura 5, e será detalhada nos próximos
subtópicos.
Custo
Orçamento Final
CRTR
VC
COTA VCr
Atividade
Atividade
Atividade
Atividade
Atividade
Atividade
Atividade
Atividade
Atividade
COTR
VT
A base para a AVA é a EDT do trabalho que deve ser realizado pelo projeto. Assim, o
trabalho deve ser desdobrado até o nível onde seja possível definir um responsável, o prazo
e o custo. A EDT do produto é utilizada para identificar as partes que o compõem, suas
funções e critérios de qualidades. Estes devem ser utilizados em parceria com o escopo do
trabalho para verificar se o projeto está atendendo ou não seu objetivo.
Para utilizar a AVA é necessário criar um cronograma geral do projeto que definirá seus
parâmetros iniciais. Esses podem ser definidos pela equipe de projeto ou pelo cliente
(projeto encomendando). Deve-se assegurar que todos os trabalhos individuais e marcos
estejam consistentes com o cronograma.
Para adotar a AVA é imprescindível definir Células de Controle (CC) compatíveis com o
escopo do trabalho. Cada célula contém um grupo de pacotes de trabalho. O controle
realizado pacote a pacote pode se tornar burocrático, portanto, é necessário que se crie um
conjunto de pacotes que possam ser avaliados em conjunto, simplificando o processo.
Dentro de cada célula os pacotes são realizados de forma alinhada com o orçamento. Cada
CC deve conter as seguintes informações: (i) Escopo do trabalho a ser realizado, definidos
por atividades do pacote de trabalho; (ii) Prazo para a realização do pacote e suas
interdependências que determinam o cronograma do projeto; (iii) Recursos autorizados e
seu orçamento; e, (iv) Responsável individual por gerenciar o esforço, que se reportará ao
gerente do projeto.
O número de CC a ser utilizado pelo projeto segue uma relação de compromisso que deve
ser definida pelo gerente do projeto. Quanto maior o número de pacotes de trabalho em
uma CC, menor o esforço gerencial, entretanto isto pode comprometer um grande volume
de trabalho feito. Por outro lado, uma CC com poucos pacotes de trabalho irá fornecer
mais detalhes para o controle, porém com uma carga de trabalho gerencial muito grande,
devido ao número de CC.
A base do cálculo do orçamento final do projeto utiliza a EDT como referência, o que
reforça sua importância. O custo de uma determinada fase do projeto é a soma dos custos
das CC nela contida. O orçamento é definido a partir da soma das CC do projeto, segundo
a EDT. Essa técnica é conhecida com estimativa de baixo para cima ou Bottom-Up
Estimating, segundo o PMI (2004).
4. CONTROLE DE PROJETOS
Existem várias formas de calcular o valor agregado (COTR) de um projeto. Tais formas
têm relação direta com o planejamento adotado no projeto. A negligência com relação ao
planejamento adequado inviabiliza a aplicação da medição de desempenho como
ferramenta de controle do projeto.
Vargas (2003) apresenta, em sua revisão da literatura sobre o assunto, sete métodos
passiveis de serem utilizados para calcular o valor agregado de um projeto. Dentre eles, o
mais apropriado para projetos de desenvolvimento de produtos é o métodos misto de
percentual completo com marcos de controle. É senso comum que nas organizações a
escolha do método utilizado deve considerar o âmbito do projeto no qual será aplicado
controle via AVA.
O método de percentual completo com marcos de controle combina dois métodos. Uma
parte do controle é realizada por meio da inserção de percentuais completados de cada CC
e em determinados momentos da execução do trabalho. A segunda parte é realizada pela
inserção de marcos de controle, de modo a garantir a precisão do percentual completo
inserido, funcionando, segundo Vargas (2003), como um duplo controle.
Segundo Vargas (2003) o método de marcos normalmente é indicado para projetos com
CC em que a duração exceda mais de um período de controle (exemplo: duas semanas para
projetos avaliados semanalmente). Cada CC é convertida em duas ou mais entregas
parciais do projeto (exemplo: necessidades dos clientes, especificações de projeto), e estas
definidas como os marcos do projeto, sendo que para cada entrega é atrelado um custo
específico. A soma dos custos atingidos de cada um dos marcos é o custo da CC.
O cálculo do custo real incorrido é obtido pela avaliação dos custos do projeto ocorridos
até a data de verificação. O custo real inclui: (i) Custos diretos efetivados – são os custos
diretos realmente incorridos e diretamente associados ao trabalho realizado; (ii) Custos
diretos promissórios – são os custos identificados em um período de tempo, ainda não
efetivados, associados ao consumo de trabalho, material e recursos diretos,
independentemente da data de pagamento (ex. o trabalho, material ou outro recurso direto
que foram consumidos pelo projeto; os materiais que foram retirados do estoque e
consumidos; os materiais ou outros recursos diretamente associados com o trabalho, que
foram recebidos, aceitos ou registrados como contas a pagar; pagamentos planejados por
alcance de marcos registrados como custos incorridos; entre outros); (iii) Custos indiretos
– são os custos diretamente associados à infra-estrutura da organização. Estes ocorrem
independentes da existência ou não do projeto e incluem os custos de infra-estrutura (água,
luz, manutenção, etc.), serviços administrativos, entre outros.
Os custos reais são medidos pela equipe de projeto ou pela área financeira da organização
executora. Os custos reais do projeto são calculados até a data de verificação (definida pela
gerência do projeto) e os resultados são reportados ao gerente do projeto.
Para exemplificar a utilização da AVA, será seguida a metodologia proposta por Gale
(2003), focalizando na fase de projeto conceitual. Consoante o mesmo, esta fase trata,
principalmente, do estudo de viabilidade técnica do projeto, onde são definidos os
requisitos do cliente (proprietário do navio).
O plano previa para o quarto mês a conclusão das três primeiras atividades da fase
conceitual a um custo orçado acumulado de $187.000,00 (COTA). Contudo o custo real até
a data de verificação é de $205.000,00 (CRTR), que pode erroneamente induzir à
conclusão que o projeto esteja apenas $18.000,00 acima do orçamento. Ao incluir o custo
orçado do trabalho realizado (COTR) que define o custo planejado do que foi de fato
entregue, obtém-se o valor de $155.000,00, que representa o valor agregado fisicamente ao
projeto, segundo o plano. Com base nestes valores é possível quantificar os seguintes
indicadores de desempenho e concluir:
• IDCr = COTR / COTA = 155.000 / 187.000 = 0,83 – Indica que 17% do tempo
gasto no projeto, até a data da verificação, não agregou valor ao mesmo, ou seja, foi
perdido e que apenas 83 % do tempo realmente agregou valor ao projeto.
• IDC = COTR / CRTR = 155.000 / 205.000 = 0,76 – Indica que o projeto agregou
apenas 76% de todo capital empregado até a data de verificação. Isso representa que para
cada $1,00 aplicado no projeto $0,24 foram perdas.
Além desses indicadores as entregas devem ser avaliadas quanto à qualidade. Isso poderia
implicar, por exemplo, no não aceite da entrega por baixa qualidade, o que inevitavelmente
iria comprometer ainda mais o projeto devido ao retrabalho necessário. Ou seja, a inclusão
de requisitos de qualidade na entregas é fundamental para o processo decisório gerencial,
uma vez que informações de prazo e custo não são suficientes para a tomada de decisão.
6. CONCLUSÕES
7. REFERÊNCIAS
Cleland, D. I.; Ireland, L. R. (2002). Gerência de Projetos. Reichmann & Affonso. Rio de
Janeiro.
Gale, P. A. (2003) The Ship Design Process, in T. Lamb (ed.), Ship Design &
Construction, vol. I.