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Juliano Marmitt
Porto Alegre
2008
Juliano Marmitt
Porto Alegre
2008
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Crescimento real (estimado) dos BRICs até 2050 (Var. % média)............................ 13
Gráfico 2 – Proporção dos BRICs e do G7 na população e PIB bruto mundial, 2007.................. 15
Gráfico 3 – PIB (estimado) dos BRICs, N-11 e G7 (US$ bilhões) em 2050 ................................ 22
Gráfico 4 – Variação na estimativa do PIB entre 2003 e 2006, para o ano de 2050..................... 23
Gráfico 5 – Variação na estimativa da renda per capita entre 2003 e 2006, para o ano de 2050 . 24
Gráfico 6 – Investimento dos BRICs em 2007 (% do PIB) .......................................................... 27
Gráfico 7 – Crescimento real do PIB, 2000-2007 (Var. % a.a.).................................................... 28
Gráfico 8 – Exportações, 2000-2007 (Var. % a.a.) ....................................................................... 29
Gráfico 9 – Transações correntes, 2000-2007 (% do PIB)............................................................ 30
Gráfico 10 – Flutuação das taxas nominais de câmbio, 2000-2007 .............................................. 31
Gráfico 11 – Inflação ao consumidor, 2000-2007 (Var. % em 12 meses) .................................... 32
Gráfico 12 – Investimento direto externo líquido, 2000-2007 (US$ bilhões)............................... 33
Gráfico 13 – Reservas internacionais, 2000-2007 (US$ bilhões, fim do período)........................ 34
Gráfico 14 – Dívida externa bruta, 2000-2007 (% do PIB)........................................................... 35
LISTA DE TABELAS
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 6
1. OS BRICS E O SONHO ........................................................................................................... 9
1.1. O INÍCIO DA JORNADA ATÉ 2050...................................................................................... 9
1.2. O MODELO ........................................................................................................................... 11
1.3. O NEXT ELEVEN................................................................................................................... 16
1.4. DESAFIOS AO CRESCIMENTO ......................................................................................... 17
1.5. NOVAS ESTIMATIVAS....................................................................................................... 22
2. CONVENCENDO O MUNDO............................................................................................... 27
2.1. EVOLUÇÃO DOS BRICS..................................................................................................... 27
2.2. RÚSSIA, ÍNDIA E CHINA ................................................................................................... 35
2.2.1. Rússia.................................................................................................................................. 35
2.2.2. Índia .................................................................................................................................... 37
2.2.3. China................................................................................................................................... 38
3. BRASIL .................................................................................................................................... 40
3.1. UMA BREVE INTRODUÇÃO ............................................................................................. 40
3.2. O POTENCIAL DE CRESCIMENTO BRASILEIRO .......................................................... 41
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................. 55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 58
“Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo.”
Liev Tolstói
6
INTRODUÇÃO
O mundo e sua economia mudaram drasticamente nos últimos anos. Atualmente, o mundo
está cada vez mais globalizado, e as economias cada vez mais interligadas. O tamanho da
economia mundial vem crescendo, e há perspectivas de que cresça ainda mais nos próximos 10
anos, ficando em torno de 80% maior do que era no ano 2000 (National Intelligence Council,
2004). Nesse contexto, países emergentes que vêm apresentando taxas de crescimento elevadas
passariam a representar importante papel no cenário econômico e político mundial. Este é o caso
dos países que compõe o grupo de emergentes criado pelo banco de investimentos Goldman
Sachs denominado como BRIC, abreviação para Brasil, Rússia, Índia e China.
Atualmente, Brasil, Rússia, Índia e China vêm por enquanto apresentando dados que dão
sustentação aos estudos feitos em 2003, com altas taxas de crescimento econômico. O Brasil é o
país que apresenta a menor taxa de crescimento dentre eles, e vem inclusive apresentando
crescimento inferior a outros países emergentes. Mesmo com melhorias desde que o estudo foi
feito e o recente aumento do prestígio internacional em relação ao país na questão do bom
andamento de suas políticas macroeconômicas, é necessário averiguar se o Brasil realmente tem
condições de, além de manter o crescimento sustentável ao longo dos anos, aumentar esse índice
e, por conseqüência, fazer jus à sua inclusão nesse grupo de grande importância.
sólida, tais como metas de inflação, que vem se mantendo de acordo com as metas estipuladas,
câmbio flutuante, que vem se apreciando, e superávit fiscal, que vem apresentando recordes de
arrecadação.
Para desenvolver os argumentos inicia-se com uma breve revisão teórica no capítulo 1,
explicando o que é o acrônimo BRIC e o porquê de serem estes países os que são considerados os
maiores dentre os emergentes. Explicita-se a metodologia utilizada pelo Goldman Sachs,
tomando como base de referência os modelos convencionais do tipo Solow. Em seguida, são
discutidos outros determinantes do crescimento, que são confrontados com outras referências.
No capítulo 3, dados relevantes sobre o Brasil são revisitados, assim como trabalhos
específicos sobre a economia brasileira são vistos. Segue, depois de um breve histórico, uma
análise da atual situação econômica vivida pelo Brasil, mostrando problemas enfrentados e
sugerindo soluções.
1. OS BRICS E O SONHO
O interesse nos países emergentes cresceu muito, dado que o crescimento que eles vêm
apresentando é bastante considerável. Particularmente, quatro países chamam mais a atenção:
Brasil, Rússia, Índia e China, os chamados BRICs. O acrônimo BRIC foi criado pelo banco
Goldman Sachs para distinguir Brasil, Rússia, Índia e China como os principais emergentes que,
no futuro, poderão desempenhar um papel importante na economia mundial. Ainda que o grupo
possa deixar de fora outros países emergentes igualmente relevantes, os BRICs estão entre os
países que possuem as maiores economias e populações mundiais, tendo um massivo mercado
consumidor a ser explorado.
Como se tratam de países com enorme capacidade futura, foi feito um estudo inicial pelo
Goldman Sachs, em 2003, utilizando projeções demográficas e dois modelos similares de
crescimento econômico, o GSDEER (Goldman Sachs Dynamic Equilibrium Exchange Rate) e o
GSDEEMER (Goldman Sachs Dynamic Equilibrium Emerging Market Exchange Rates). Esse
estudo dá mais destaque a Brasil, Rússia, Índia e China por se tratarem de emergentes que
possuem enorme capacidade de crescimento. Os modelos utilizados são relativamente simples,
incluindo perspectivas de acumulação de capital, produtividade e emprego. Com os resultados,
10
foram feitas previsões sobre crescimento do PIB, renda per capita e variação nas taxas de câmbio
dos países do BRIC até 2050. Se até lá as medidas corretas forem mantidas e novas medidas no
sentido de manter o crescimento forem adotadas, Brasil, Rússia, Índia e China estarão entre as
maiores economias do mundo, superando, somadas, a economia dos EUA, Japão, Alemanha,
França, Itália, Reino Unido e Canadá (G7), sendo que já em 2025 o BRIC poderá representar
mais da metade da economia gerada pelo G7, e em 2040 poderá ultrapassar o G7 (Purushothaman
e Wilson, 2003).
Isto leva a crer que os BRICs serão um grupo da maior importância no cenário
econômico, político e militar mundial nos próximos anos, responsável por uma enorme fatia da
demanda e consumo mundiais, além de receber grande quantidade de recursos dos investidores
do mundo todo, que poderão encontrar uma ótima oportunidade de lucros no longo prazo. Os
países podem se tornar líderes regionais, desenvolvendo os países vizinhos, criando novos blocos
de comércio, possibilitando oportunidades de crescimento decorrentes da maior atividade
econômica gerada. Mais empresas sediadas nos BRICs podem aparecer entre as maiores do
mundo, e os produtos gerados e a demanda nesses países poderão modificar ou até mesmo ditar
os padrões de consumo ao redor do mundo.
As previsões são bastante realistas, pois elas assumem que os países do BRIC continuarão
com suas taxas de crescimento em níveis consideráveis ao longo do período analisado. Em 50
anos, a economia pode mudar drasticamente, e projeções para períodos longos como esse são
uma incógnita, e o tempo acabou mostrando que várias previsões no passado acabaram não se
concretizando no presente. Mesmo assim, esse tipo de prognóstico é importante, ainda que não se
concretize no longo prazo, pois pode ajudar a direcionar os recursos a serem aplicados nos países
em questão de melhor forma, indo de acordo com as sugestões apresentadas. É então apontado
como fundamental, para sustentar o crescimento, que os BRICs adotem medidas através da
implantação e manutenção de políticas que dêem suporte ao crescimento (Purushothaman e
Wilson, 2003).
11
1.2. O MODELO
Y = AK α L1−α
Onde:
• ‘A’ é a produtividade total dos fatores, visto como um processo de catch-up1 entre os
países do BRIC e os Estados Unidos. À medida que o tempo passa, as diferenças
tecnológicas em relação aos países mais ricos irão diminuir, e a velocidade desse
processo é tão mais lento quanto mais a renda per capita dos países do BRIC se
aproximar dos países desenvolvidos. As diferenças são medidas através da seguinte
I
• ‘K’ é a acumulação de capital, medida pela formula: Kt +1 = Kt (1− δ ) + t Yt ,
Yt
onde ‘δ’ é a depreciação do capital, assumida como 4% (estimativa do World Bank) e
‘I’ é a taxa de investimento. As taxas utilizadas, baseadas num histórico recente, são de
19% para o Brasil, 25% para a Rússia, 22% para a Índia e 36% para a China até 2010,
depois declinando para 30% até 2050.
1
Catch-up é um termo inglês que significa se aproximar, alcançar ou até mesmo ultrapassar algo. Nesse caso, o
catch-up produtivo é o processo que reduz o hiato da produtividade entre os países desenvolvidos e os emergentes.
12
• ‘α’ é a participação do capital na renda dos fatores, com valor assumido de 1/3, uma
suposição padrão em cálculos de crescimento econômico.
Esse é um modelo de Solow com progresso tecnológico. Segundo Jones (2000), de acordo
com esse modelo, os países ficam mais ricos ao longo do tempo por investir mais e ter menores
taxas de crescimento populacional, permitindo maior acumulação de capital por pessoa
economicamente ativa, aumentando assim a produtividade da mão-de-obra. Além do mais, o
crescimento sustentado que se verifica nos países que atendem a esses requisitos se dá pelo
aumento na produtividade total dos fatores, ou, de outra forma, progresso tecnológico. Como há
retornos decrescentes do capital, com ausência de progresso tecnológico o crescimento per capita
cessa ao longo do tempo. O papel da tecnologia é, então, acabar com essa tendência declinante do
capital, e fazer com que os países continuem crescendo no ritmo do crescimento tecnológico.
O rápido crescimento verificado nos BRICs seria decorrência então do maior retorno do
capital, devido ao aumento de produtividade, e da possibilidade do uso de tecnologias já
empregadas nos países desenvolvidos, o que permite que os países em desenvolvimento reduzam
o hiato tecnológico através do processo de catch-up produtivo. Assim, aumenta a produtividade
nestes países, com Rússia e China liderando o crescimento da produtividade total dos fatores num
primeiro momento, mas Brasil e Índia tendem a convergir para o mesmo nível. As projeções de
produtividade são também um meio de analisar as futuras taxas de câmbio dos países do BRIC,
sendo que aqueles que obtiverem maior produtividade do que os Estados Unidos terão sua moeda
apreciada. Como conseqüência do aumento de produtividade, há uma dramática apreciação
cambial das moedas nacionais. Com o desenvolvimento ocorrendo ao longo do tempo, há
aumento do PIB per capita e da renda, e o crescimento econômico nos BRICs tende a ficar mais
lento depois de 2050. O gráfico 1 mostra certa convergência entre as médias das taxas estimadas
de crescimento dos BRICs.
13
Cabe ressaltar que os valores assumidos no modelo são estimativas feitas em 2003 e
podem ser modificados, mudando as previsões futuras. Além disso, os ciclos econômicos típicos
do sistema capitalista são desconsiderados, e há ainda algumas variações propositalmente feitas,
como menor velocidade de convergência da produtividade total dos fatores no Brasil e na Índia
até 2020, dados os baixos investimentos em infra-estrutura e baixos níveis de escolaridade em
comparação com China e Rússia. Após esse período, a velocidade de convergência passa a ser
similar entre os quatro países (Purushothaman e Wilson, 2003).
Gráfico 1 – Crescimento real (estimado) dos BRICs até 2050 (Var. % média)
0
2006-2015
2015-2020
2020-2025
2025-2030
2030-2035
2035-2040
2040-2045
2045-2050
Conclusões similares são apontadas por Jensen e Larsen (2004), que fizeram algumas
considerações sobre os BRICs depois do trabalho do Goldman Sachs em 2003. Para que haja
diminuição no hiato entre os países do BRIC e os países desenvolvidos, é necessário crescimento
sustentável ao longo do tempo. Num cenário otimista de crescimento, com as taxas atuais altas,
entre 4% e 6% em relação aos Estados Unidos, os países vão conseguir melhorar bastante seus
índices de PIB per capita ajustado pela paridade do poder de compra em um período de tempo
muito curto, variando em cada país. O ponto essencial desse aspecto, então, é como os países do
BRIC vão sustentar rendas maiores, dado o crescimento econômico ao longo do tempo. Isso
14
Outro fator determinante usado no modelo, o emprego, tem papel mais importante no
desenvolvimento. O crescimento populacional estimado em 2007 pelo World Bank para o Brasil
é de 1.2%, mesmo valor estimado para a Índia. Na China o crescimento populacional está
estimado em 0.6%, e na Rússia o crescimento populacional é negativo, -0.6%. Nesse ponto,
Brasil e Índia são os mais beneficiados. Há, porém, um incômodo que ocorre devido ao maior
crescimento populacional: a renda per capita cresce mais vagarosamente do que nos países que
tem crescimento populacional controlado e declinante, caso da China e Rússia, respectivamente.
Como o bloco é composto por países de grandes populações, que tendem a aumentar (com
exceção da Rússia) é presumível que o bloco se torne um grande consumidor, sendo responsável
por grande parte da demanda mundial. De fato, o trabalho de Purushothaman e Wilson (2003)
aponta que a parcela de demanda dos BRICs irá ultrapassar a demanda do G7 nos próximos 10
anos, o que mostra o poderio desses países emergentes. O gráfico 2 mostra qual a proporção das
populações e dos PIBs dos BRICs e do G7 em relação à população mundial. Os BRICs
correspondem a cerca de 42% da população mundial, o que mostra o seu potencial mercado
consumidor. Por outro lado, a participação no PIB mundial é muito menor que a do G7, que com
apenas 11% da população mundial, corresponde por mais da metade do PIB mundial.
15
Fonte: Elaboração do autor com dados do World Bank World Development Indicators.
Para testar a validade do modelo, o Goldman Sachs aplicou-o também para economias
desenvolvidas e economias em desenvolvimento. Os dados usados foram de 1960, e a projeção
foi para 40 anos depois. Os resultados obtidos mostraram que os níveis previstos para os países
desenvolvidos ficaram muito próximos dos verdadeiros, só variando em relação aos países em
desenvolvimento, que ficaram abaixo do esperado, e isso pode ser explicado, pois alguns países
emergentes acabaram adotando políticas econômicas pouco satisfatórias, falhando em atingir seus
objetivos pretendidos durante esse período de análise.
16
Há hoje na economia vários países emergentes. A questão relevante que deve ser feita a
respeito deles é: quais irão concretizar as expectativas futuras? Quais são os que possuem maior
potencial de crescimento? O potencial dos BRICs já foi exposto. Mas além dos BRICs há um
outro grupo de emergentes que também possui grandes taxas de crescimento econômico e um
bom potencial para despontar no futuro como potência econômica no mundo: trata-se do Next
Eleven, ou N-11. O grupo é formado por onze países: Bangladesh, Egito, Coréia, Vietnã,
Filipinas, Irã, México, Nigéria, Turquia, Indonésia e Paquistão. É um grupo bastante
diversificado culturalmente, e foi agrupado dessa forma por causa das grandes massas
populacionais dos seus integrantes. O Goldman Sachs, atento ao potencial desses novos
emergentes, fez estimativas utilizando o mesmo modelo de crescimento usado para estimar o
crescimento dos BRICs. As estimativas sobre crescimento mostram que o N-11 aumentou sua
participação na produção global, e pode crescer até 4% nos próximos 20 anos, com a condição de
que um ambiente favorável a isso seja estabelecido.
Importante é destacar que o mundo cresceu muito nas últimas décadas, muito devido à
maior globalização, e isso trouxe benefícios para os países que souberam colher os frutos do
desenvolvimento. Os BRICs, além dos desafios acima, que decorrem do rápido crescimento,
deverão antes se preocupar em manter esse crescimento no decorrer dos anos. As previsões feitas
em 2003 são bastante realistas, e se assemelham aos verdadeiros índices de crescimento atingidos
pelos países do BRIC, o que dá um bom grau de confiança ao modelo. De acordo com as
variáveis relevantes deste, e não levando em consideração outros fatores importantes na
determinação do crescimento econômico, trabalho, capital e produtividade por si só seriam um
grande determinante para corroborar com as previsões futuras. Mas há, além destes, outros
fatores que ajudam a explicar o crescimento econômico, e a ausência de políticas corretas para
remediar tais problemas provavelmente levará os países do BRIC a falharem em suas metas de
crescimento sustentável.
O trabalho de Barro (1989) utiliza outras variáveis para explicar o crescimento econômico
dos países. O autor faz uma análise do tipo cross-country entre 98 países diferentes e chega a
conclusões de que o capital humano, a fertilidade, gastos do governo e estabilidade política são
variáveis relevantes na explicação do crescimento. Assim, no modelo de Solow exposto
anteriormente, de rendimentos crescentes de capital, o crescimento per capita dos países é
inversamente proporcional ao nível inicial de renda per capita, sendo que a evidência empírica
mostra que essa correlação é próxima de zero.
Utilizando dados sobre capital humano (medidos pelos níveis de escolaridade), Barro
verifica que passa a ocorrer correlação positiva entre a renda per capita e os níveis de capital
humano. Desse modo, países pobres com altos índices de capital humano tendem a se igualar aos
países ricos, mostrando que a educação é importante para o crescimento. Outro fator sobre a
educação é que países com altos índices de capital humano têm taxas de fertilidade menores,
19
contribuindo para uma maior renda per capita. Com relação aos gastos do governo, Barro conclui
que são negativamente relacionados com o crescimento da renda per capita e investimento
privado. A explicação dada é a de que o governo introduziria distorções na economia (tais como
subsídios e tarifas), prejudicando o crescimento. Por fim, mostra que a falta de estabilidade
política nos países, assim como má administração econômica, é inversamente relacionada com
crescimento econômico e investimento. Isso pode ser explicado pelo fato de que não se
respeitando as instituições e a propriedade privada, os investidores tendem a não aplicar seus
recursos no país, com medo de não ter retornos.
Então se torna evidente que é necessário adotar medidas que mantenham o crescimento de
forma sustentável. Políticas macroeconômicas são essenciais, pois lidam com fatores importantes
como inflação, taxa de câmbio, política monetária e fiscal. É sabido que os países do BRIC não
tiveram um passado comprometido com esses aspectos, mas agora é o momento ideal para que os
governantes possam soltar as amarras que ainda prendem suas economias. O poder das
instituições também se faz necessário, mas nessa área os BRICs ainda devem se desenvolver. A
educação é outra grande preocupação, já que foi provado que o capital humano desempenha
papel importante no crescimento, dado que empregados mais instruídos tendem a ser mais
produtivos. Nesse ponto, os países do BRIC também devem apresentar melhores resultados.
Quanto à abertura econômica, os BRICs que abriram mais a sua economia conseguiram maior
prosperidade através de maiores níveis de exportação. Países em desenvolvimento têm capital e
tecnologia em escassez, e uma maior abertura econômica garante acesso ao capital e tecnologia
de países desenvolvidos, propiciando maior crescimento. Além disso, os mercados se expandem e
a competitividade aumenta, gerando maiores ganhos à população.
A análise de Jensen e Larsen (2004) aborda também outros fatores de crescimento dos
BRICs além dos abordados no modelo. Sobre o aspecto das instituições, citam o trabalho de
Rodrik (2004) sobre o crescimento econômico, que fala da necessidade de desenvolvimento e
manutenção de um bom ambiente institucional para que haja sucesso na sustentabilidade do
crescimento econômico no longo prazo. Segundo os autores, é importante então que os BRICs
aperfeiçoem as instituições, reformando o sistema judiciário, criando programas de educação e
saúde, desenvolvendo o sistema financeiro e a administração pública. Além disso, sugerem que o
20
Ainda sobre outros aspectos não levados em conta no modelo, Amadeo (2008) faz uma
análise de quatro pontos relevantes que devem ser considerados quando desejamos medir de
algum modo essas diferenças entre os países do BRIC, quais sejam: direitos, regulação, reformas
e prioridades. O autor diz que os BRICs são economias que possuem pontos em comum em
alguns aspectos, como o tamanho da economia, que é grande, além de estarem passando por um
processo de relativa liberalização política e econômica, transitando de regimes autoritários para
democráticos e reduzindo de certa forma a intervenção do Estado, voltando-se mais para o
mercado. Contudo, há também grandes diferenças entre os países, que são discutidas abaixo.
A começar pelos direitos, podem ser divididos em dois grupos: direitos de propriedade e
direitos civis. Os direitos de propriedade fazem menção ao cumprimento correto das regras e
garantia da propriedade privada, enquanto que os direitos civis se referem ao respeito às
liberdades de expressão e organização política. O Brasil é, juntamente com a Índia, o que mais
respeita os direitos civis, mas não respeita tanto os direitos de propriedade como na China e na
Índia. A China, ao lado da Índia igualmente, é o que mais respeita os direitos de propriedade, mas
com relação aos direitos civis, se sai pior que Brasil e Índia. No extremo negativo está a Rússia,
que pouco respeita ambos os direitos. Sobre os resultados, o autor faz referência ao passado
democrático da Índia para explicar o bom desempenho quanto aos direitos. Já no caso da Rússia,
houve um passado de governos extremamente intervencionistas e autoritários, fazendo com que o
país tenha os dois tipos de direitos fracamente desenvolvidos.
voltada ao mercado, com menos burocracia, mas as regras são menos estáveis. Novamente no
extremo negativo, a Rússia tem um governo altamente intervencionista, que interfere na
estabilidade das regras e na liberalização econômica.
Por último, Amadeo (2008) faz uma análise das prioridades de cada país. Segundo ele,
todos desejam crescer redistribuindo renda, mas dada a limitação de recursos, os governos têm
que escolher entre priorizar gastos com infra-estrutura ou com programas sociais. Nesse aspecto,
o Brasil preteriu investimentos em infra-estrutura, optando pelo social. A China fez o contrário,
optando mais por investimentos em infra-estrutura. Nos extremos encontram-se a Rússia do lado
positivo, com o melhor resultado entre os quatro países, e a Índia do lado negativo, com o pior
desempenho em relação a ambos os critérios.
Como foi visto pelos autores, os BRICs possuem características específicas e diferentes
experiências históricas. O consenso é de que ainda há muitos aspectos a melhorar para que os
BRICs atinjam a meta do crescimento sustentável e não apresentem um mero período de “milagre
econômico”. Os principais pontos problemáticos foram abordados de maneira bastante
convincente, e as soluções parecem bastante razoáveis. Medidas mal sucedidas podem levar os
BRICs a um rumo completamente distinto do previsto, mostrando a necessidade dos países em
levar essas análises em consideração antes da criação de novas políticas públicas e
22
macroeconômicas. Desvios de rota não são desejáveis, dada a enorme capacidade dos BRICs em
crescer e contribuir para a economia mundial.
80000
70000
60000
50000
40000
30000
20000
10000
0
N ha
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ta
Es
Gráfico 4 – Variação na estimativa do PIB entre 2003 e 2006, para o ano de 2050
2003 2006 Variação
80000 90
85
70000
80
60000 75
PIB (US$ bilhões)
70
50000
65 %
40000 60
55
30000
50
20000 45
40
10000
35
0 30
China Índia Brasil Rússia
Quanto à renda per capita, igualmente há uma melhora notável, acima de 50%, com
exceção da Índia que apresentou pouca melhora em comparação com os outros países do BRIC.
A Rússia melhorou sua projeção de renda per capita em quase US$ 30 mil, e o Brasil, que
anteriormente se encontrava abaixo da China, agora a ultrapassa em 2050, com pequena
vantagem. Os melhores desempenhos quanto ao aumento do PIB e da renda per capita foram do
Brasil, que quase dobraram.
Gráfico 5 – Variação na estimativa da renda per capita entre 2003 e 2006, para o ano de 2050
2003 2006 Variação
90000 100
80000 90
70000 80
60000
70
50000
US$
%
60
40000
50
30000
20000 40
10000 30
0 20
Rússia China Brasil Índia
O desafio futuro para os BRICs continua sendo aliar potencial com realidade, e isso só é
possível através de melhorias estruturais. O tamanho populacional é um fator importante, já que
ele é responsável pelos retornos de capital maiores que nos países desenvolvidos, e nisso os
BRICs se saem muito bem, mas não é o ponto essencial. O Goldman Sachs analisou então os
países do BRIC através de uma perspectiva diferente, um emaranhado de condições relevantes
para o crescimento sustentável, o chamado GES (Growth Enviroment Score). Estas variáveis são
consideradas relevantes, como já referido anteriormente, para o processo de crescimento
sustentável. São elas:
a) inflação (alta inflação desencoraja investimentos, dificultando o crescimento);
b) déficit governamental (pode causar inflação e instabilidade econômica);
c) dívida externa (aumenta o risco de crises no país e tende a elevar as taxas de juros reais,
o que trava os investimentos);
d) taxas de investimento (altas taxas de investimento contribuem para a acumulação de
capital, fator importante ao crescimento);
e) abertura econômica (economias mais abertas tendem a ser mais ricas, pois não
dependem só da economia local);
f) penetração de telefones, penetração de computadores, penetração de internet (medidas
de tecnologia que ajudam na automação e intercomunicação);
g) média de anos de educação secundária (como já dito anteriormente, mais educação
contribui para maior produtividade dos trabalhadores);
h) expectativa de vida (variável que se mostra positivamente correlacionada com
crescimento econômico);
i) estabilidade política (cria um clima de credibilidade necessário para que haja
investimentos);
j) direitos de propriedade (direitos de propriedade bem definidos tendem a elevar o
investimento e por conseguinte o crescimento econômico);
k) corrupção (que tem efeitos negativos ao crescimento).
e pouca abertura comercial; a Rússia possui boa educação, penetração tecnológica, superávits
fiscais, abertura comercial e expectativa de vida alta, mas há alta instabilidade política; a Índia,
por sua vez, possui boa regulação e baixa inflação, mas possui pouca penetração tecnológica e
baixos níveis educacionais, além de pouca abertura; por fim, a China possui boa estabilidade
macroeconômica, altos índices de investimento, capital humano e abertura. O problema estaria na
corrupção e na penetração tecnológica, que está um pouco abaixo do esperado.
Como podemos ver pela análise, os países do BRIC tem semelhanças, mas também têm
necessidades distintas. Essas variáveis analisadas, apesar de representarem mais um bom
indicativo de crescimento, não são únicas na explicação do mesmo. Assim, os autores afirmam
que os BRICs estão fazendo o seu papel, mas ainda precisam se desenvolver mais para garantir
um futuro promissor.
27
2. CONVENCENDO O MUNDO
Até o fim de 2007, víamos um cenário de aumento do preço das commodities que
favoreceu bastante o crescimento dos BRICs, principalmente o Brasil, exportador de commodities
metálicas e a Rússia, detentora de grandes reservas de petróleo e gás natural. Outro fator
importante para o crescimento foi o nível de investimentos nos países. O ciclo de expansão passa
pelo setor público e privado. Com fortes superávits comerciais, os emergentes podem financiar
suas obras sem se endividar. O gráfico 6 mostra o nível estimado de investimento como
participação no PIB nos BRICs em 2007. China e Índia investem grande parte do PIB em infra-
estrutura, o que é típico de países em desenvolvimento, enquanto que Rússia e Brasil apresentam
níveis menores.
40
35
30
25
20
15
10
0
Brasil Rússia Índia China
Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos da Central Intelligence Agency World Factbook.
28
O gráfico 7 mostra como o crescimento real dos BRICs vem se comportando nos últimos
anos. A China apresenta um crescimento que não fica abaixo de 8%, e só vem crescendo no
período, terminando o ano de 2007 com quase 12% de crescimento. A Índia, a partir de 2002,
vem crescendo bastante, fechando 2007 com 9% de crescimento, uma grande diferença
comparando com 2000, que foi de apenas 4%. A Rússia apresentou um declínio até 2002, e
depois subiu o patamar de crescimento, ainda que oscilando entre 2004 e 2005, fechando 2007
com um pouco mais de 8% de crescimento. O Brasil apresentou crescimento mais baixo em
relação aos outros países, apresentando uma tendência de crescimento a partir de 2005, fechando
2007 com um pouco mais de 5% de crescimento.
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Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Deutsche Bank Research Country Infobase.
crescendo, só que a taxas menores, ou seja, exporta-se mais em volume, mas menos em
proporção.
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2004
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Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Deutsche Bank Research Country Infobase.
Pela análise das transações correntes do gráfico 9, somente a China vem apresentando
crescimento da conta corrente sobre o PIB. A Rússia e o Brasil apresentam um comportamento
semelhante de queda a partir de 2004, contudo o Brasil fica com o saldo em conta corrente quase
zerado como proporção do PIB, enquanto que a Rússia tem um volume acima de 5%. A Índia
vem apresentando déficits em conta corrente desde o final de 2004.
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Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Deutsche Bank Research Country Infobase.
O gráfico 10 mostra a flutuação das taxas de câmbio para os países do BRIC frente ao
dólar. Enquanto as moedas estiveram desvalorizadas, as exportações cresceram, e a partir do
momento em que o câmbio começa a se apreciar, há redução no crescimento das exportações,
pois os produtos começam a perder um pouco de competitividade dado o aumento do preço
relativo.
Outro fator importante que advém da valorização cambial é a redução da dívida assumida
em moeda estrangeira, pois o volume de moeda doméstica que deveria ser destinado para o
pagamento diminui. Além do mais, uma moeda forte é sinal de políticas econômicas bem
administradas, e aumenta a riqueza e poder de consumo da população doméstica. O Real foi a
moeda que apresentou maior variação, enquanto que o Yuan (moeda chinesa) ficou praticamente
inalterado até a mudança de regime cambial em 2005, pois o governo mantinha a taxa de câmbio
artificialmente desvalorizada. O Rublo (moeda russa) e a Rupia (moeda indiana) têm o valor da
taxa de câmbio menor frente ao dólar, mas estão da mesma forma que as outras moedas
apresentando apreciação ao longo dos anos.
31
19/06/00
04/12/00
21/05/01
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22/04/02
07/10/02
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24/01/05
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12/06/06
27/11/06
14/05/07
29/10/07
Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos da Bloomberg.
O gráfico 11 mostra como a inflação vem se comportando nos quatro países. Uma
inflação baixa e controlada evita distorções e é importante fator para o crescimento econômico
sustentável. Pela análise do gráfico, verifica-se que China e Índia são os países que apresentaram
as menores inflações em boa parte do período, e a Rússia sempre teve a maior inflação dentre os
quatro países. Ao final de 2007, a China, que possuía a menor inflação durante quase todo o
período, apresentou um aumento, possuindo agora a segunda maior, perdendo somente para a
Rússia, que tem uma inflação acima de 10%. O país com menor inflação em 2007 foi o Brasil,
ficando abaixo dos 5%.
Podemos atribuir o sucesso da redução das taxas de inflação no Brasil à adoção do regime
de metas para a inflação. De fato, dentre os BRICs, o Brasil é o único sistema no qual a
autoridade monetária adota todas as características formais do sistema de metas: ausência de
outra âncora nominal, comprometimento institucional com a estabilidade de preços, ausência de
dominância fiscal, independência de instrumentos e política transparente, que busca prestar
contas à sociedade.
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jan/01
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Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos da Bloomberg.
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Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Deutsche Bank Research Country Infobase.
Pelo gráfico 13 podemos ver que a quantidade de reservas internacionais vem aumentando
nos quatro países. Essas reservas são importantes para que os países consigam cumprir seus
compromissos financeiros e monetários, garantindo liquidez à economia, além de proteger a
economia local contra choques externos. Como os BRICs pretendem garantir o crescimento
sustentável sem sofrer muito com abalos econômicos, eles praticam políticas monetárias para
adquirir reservas, ainda que, no momento, todos possuam regimes de câmbio flutuante. Um fator
que permitiu que os BRICs adquirissem reservas estrangeiras foi a valorização de suas moedas
frente a outras moedas.
A China lidera a acumulação bruta, ficando acima de US$ 1,5 trilhão. A Rússia, com seu
fundo advindo dos recursos do petróleo, conseguiu adquirir mais de US$ 400 bilhões. A Índia em
2007 possuía cerca de US$ 300 bilhões, enquanto que o Brasil fechou o ano de 2007 com quase
US$ 200 bilhões. Esses dados mostram que os BRICs estão com bastante reserva monetária em
moeda estrangeira para suprir eventuais necessidades extras de crédito da economia local e
impedir que crises que venham a atingir a economia mundial abalem profundamente a economia
local.
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Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Deutsche Bank Research Country Infobase.
Ainda que a crise de liquidez que recentemente atingiu o mundo venha a repercutir nos
BRICs, eles continuarão recebendo investimentos externos, porém de forma menos intensa que
nos recentes períodos de extrema expansão econômica. De acordo com o World Investment
Report (2008), os BRICs estão entre os cinco países mais atrativos para investimentos no mundo.
Em duas pesquisas realizadas, o quadro permaneceu o mesmo entre 2007 a 2009, na primeira
pesquisa, e 2008 a 2010 na segunda pesquisa. A China aparece em primeiro, Índia em segundo,
Estados Unidos em terceiro, Rússia em quarto e o Brasil em quinto lugar.
O gráfico 14 mostra como a dívida externa bruta em proporção do PIB vem caindo em
todos os países. A acumulação de reservas, o investimento externo e os saldos em transações
correntes permitem que os países financiem parte dessa dívida. A China é o país que possui a
menor dívida externa em relação ao PIB, seguida por Brasil, Índia e Rússia, país detentor da
maior dívida externa em relação ao seu PIB. Este é um importante indicador, pois sinaliza que os
países estão conseguindo cumprir com seus compromissos externos e sanear as contas de alguma
forma, confirmando que as políticas macroeconômicas estão desempenhando seu papel de forma
ideal, pois com menos dívida para pagar, os recursos podem ser investidos em outras áreas, fora a
35
credibilidade internacional que é adquirida, importante para dar segurança aos investidores. Os
BRICs são, atualmente, credores externos líquidos.
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Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Deutsche Bank Research Country Infobase.
2.2.1. Rússia
estrangeira, dado o superávit das exportações. No processo, as taxas reais de juros foram caindo,
e o consumo voltou a crescer (Goldman Sachs, 2007).
As projeções para a Rússia no longo prazo projetam que o país pode ser a maior economia
da Europa, e deve alcançar nível de vida semelhante ao dos países do G7. As novas projeções do
Goldman Sachs (2007) são melhores em relação às antigas na parte macroeconômica. Neste
quesito, A Rússia vai relativamente bem em relação a outros países em desenvolvimento, com
inflação abaixo da média, grande superávit fiscal devido aos preços do petróleo e possui o maior
PIB per capita entre os BRICs. O maior problema enfrentado na Rússia estaria então no âmbito
institucional.
De acordo com Ahrend (2004) e Beck, Mileva e Kamps (2007), o país irá crescer à taxas
elevadas, mas somente por alguns anos. A importância do petróleo para a Rússia é ainda
fundamental (mas vem perdendo participação em relação a outros setores produtivos) e o
crescimento ainda corre risco de ser influenciado por flutuações nos preços do petróleo, ou seja,
como o país ainda é bastante dependente do produto, apesar do recente resultado fiscal positivo
ser não dependente do petróleo.
2.2.2. Índia
O país de segunda maior população mundial, a Índia, desde a abertura de sua economia,
também vem chamando a atenção, com taxas de crescimento bastante altas. A Índia tem força de
trabalho com nível de educação bastante alto, e apresenta aumento na demanda por bens e
serviços, o que ajuda no crescimento. Nos últimos 20 anos, o país é um dos que mais cresceu,
mesmo sem muito crescimento na acumulação de capital e investimento estrangeiro, o que dá a
entender que o país pode crescer ainda mais, desde que consiga atingir certas expectativas, como
crescimento da poupança pública e privada, para aumentar os investimentos no país. Para que o
nível de poupança aumente, são necessárias então reformas no sistema financeiro, que vem
crescendo, e maiores rendas. A inflação está sendo contida devido à política de metas adotada
pelo Banco Central do país, o nível de reservas internacionais é alto e a dívida externa é baixa,
mas o déficit fiscal do país é um grande problema. Assim, no âmbito macroeconômico, a Índia
está relativamente bem, e tende a apresentar sustentabilidade do crescimento no longo prazo. Para
isso, é necessário que as políticas pró-crescimento continuem (Goldman Sachs, 2007).
Na análise de Rodrik e Subramanian (2004) para a Índia entre 2005 e 2025, através de um
modelo de crescimento, a acumulação de capital físico irá aumentar na Índia, dado o cenário
sendo considerado favorável, pois o nível de poupança doméstica e privada necessária para a
acumulação serão adequados. Este nível de poupança ajudará também nos investimentos no país.
Do outro lado, um fator que pode causar riscos ao crescimento indiano é o mesmo apontado no
trabalho do Goldman Sachs (2007), o enorme e maior déficit fiscal, comparado com os outros
países do BRIC. Os autores apontam também que o crescimento do país é melhor sustentado se o
setor privado tiver incentivos e interesse em investir no país.
38
2.2.3. China
País com a maior população do planeta, a China é hoje uma das maiores economias do
mundo. Passou de um sistema centralizado para uma economia mais aberta ao mercado nas
últimas décadas, aumentando a participação do setor privado, e hoje é apontada como o grande
país do futuro, e já desempenha papel fundamental na economia mundial. O país passou por
reformas gradualistas na implementação da liberalização, permitindo a entrada de capital externo
na economia. Como resultado, a China teve crescimento estrondoso do PIB desde que permitiu a
maior liberalização econômica. As projeções indicam que nos próximos anos o país continuará
crescendo a taxas bastante altas, e ultrapassará muitas economias ricas.
Kuijs e Wang (2005) tratam de dois cenários distintos para a China, obtidos através de
modelos, sendo que no primeiro há manutenção das atuais políticas econômicas. Nesse cenário,
para manter o crescimento acelerado, o país precisaria continuar investindo, na indústria, uma
quantia correspondendo a cerca de 55% do PIB, acarretando em menos recursos para o setor de
serviços. Na visão dos autores, esse cenário é impraticável. O segundo cenário, que seria
alternativo, com menores subsídios à indústria, apresenta maior balanço entre o crescimento
industrial e dos serviços, necessitando de menor acumulação de capital e volume de
investimentos em relação ao cenário anterior.
39
3. BRASIL
Apesar de terem sido décadas com perspectivas bem diferentes, ambas tinham um inimigo
em comum, que seguidamente era tema de discussão entre economistas na época: a inflação.
Vários planos e medidas econômicas foram adotadas para tentar corrigir o problema, mas se
mostraram ineficazes, e por vezes contribuíram para piorá-lo. Com a eleição do presidente
Fernando Collor de Mello, houve uma tentativa de maior abertura econômica através de
privatizações. Porém, as medidas antiinflacionárias não surtiam efeito.
ortodoxia e praticaria políticas populistas. O Real foi fortemente desvalorizado, juntamente com
outros ativos brasileiros.
Dos quatro países do BRIC, um deles chamava menos a atenção até poucos anos atrás. O
Brasil apresentou taxas de crescimento bem inferiores em relação aos outros países do BRIC,
incitando dúvidas a respeito da real capacidade do país de conseguir honrar as expectativas. O
período inicial do governo Lula ainda trazia muita incerteza quanto às políticas econômicas, e
esse fato acabou sendo um agravante inicial. Mantido o compromisso do governo em continuar
com a política de longo prazo do governo anterior, a situação começou a mudar. O governo
passou a adotar medidas importantes para incentivar setores estratégicos, como o exportador, e a
investir mais em infra-estrutura, ainda que o nível esteja abaixo do desejado.
para alcançar um maior crescimento. O crescimento de 2003 realmente não chegava a empolgar.
Os autores consideravam as taxas de crescimento estimadas como muito otimistas, considerando
que o país não conseguiria atingi-las em tão pouco tempo. Os problemas que eram apontados na
época eram a menor abertura comercial em relação aos outros países do BRIC, o baixo nível de
investimentos e a alta dívida pública e externa, problemas estes que ainda persistem, como será
visto adiante, mas de forma menos grave. O principal motivo para um crescimento não tão
elevado quanto o dos outros países do BRIC é a política econômica de estabilização de longo
prazo. Dado o temor inflacionista, a manutenção das políticas macroeconômicas se faz
necessária. O investimento acaba não sendo tão elevado quanto o governo gostaria, e a taxa de
juros é extremamente controlada.
O PIB nominal de 2000 até 2003 caiu, e apresentou recuperação em 2004. De 2005 em
diante, o PIB apresentou maiores incrementos, mas o crescimento real ainda era baixo, com
exceção de 2003 para 2004, justamente o período que o PIB se recuperou. O PIB per capita
apresentou um aumento considerável de 2003 a 2007, mas ainda continua baixo, e esse indicador
43
por si só não diz muita coisa, já que a distribuição de renda brasileira é uma das piores do mundo.
A média do crescimento no período foi baixa, inferior a 3%. No ano de 2007, porém, o Brasil
cresceu mais do que 5%, o que era esperado, dado o excelente período da economia mundial e a
maior capacidade de crescimento do país.
A taxa de juros real, que era extremamente alta durante a primeira fase do Plano Real,
caiu bastante em comparação a períodos recentes (Ministério da Fazenda, 2008), expandindo o
investimento e o crédito. O demasiado controle anti-inflacionário mostra que o governo trata
deste assunto com seriedade, e visa manter a estabilidade de preços. Inflação baixa é base para a
estabilidade econômica. Um país carente de reformas estruturais, com um Estado maior do que
sua economia pode suportar e ainda com muitos gargalos de infra-estrutura a solucionar não pode
sonhar com crescimento sem inflação. Assim, um pequeno aumento na inflação não deve ser tão
mal visto pelos agentes econômicos. Atualmente, o custo envolvido para manter a inflação baixa
é aceito pela população.
44
Pelo lado externo, o Brasil vem apresentando bons resultados. O grande volume de
investimento externo cria uma posição de robustez frente aos choques externos e contribuem para
a diminuição da dívida externa, além de financiar possíveis déficits em transações correntes. Os
saldos positivos mostram que a indústria brasileira está mais competitiva e produtiva, e pode
fazer frente aos concorrentes internacionais. Isso pôde ser obtido graças a incentivos ao setor
exportador, como isenção de tarifas (Bonelli e Pinheiro, 2007), uma política que deveria também
ser praticada em outros setores produtivos não-exportadores no Brasil. Ainda que as exportações
tenham aumentado, elas ainda estão, em proporção, abaixo da China e Rússia, que se mostram
mais abertos ao comércio exterior. O Brasil conseguiu avanços na área externa, mas ainda deve
procurar diminuir barreiras comerciais para abrir ainda mais a economia, pois este é um dos
fatores que ajudam no crescimento. A tabela 3.2 mostra alguns dados do setor externo brasileiro.
Tabela 3 – Indicadores de finanças públicas brasileiras do Setor Público consolidado (% do PIB), 2000-2007
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Dívida interna líquida 36,54 38,85 37,48 41,66 40,17 44,14 47,38 51,68
Dívida externa líquida 9 9,59 12,99 10,69 6,82 2,33 -2,66 -9,01
Dívida total líquida 45,54 48,44 50,46 52,36 46,99 46,47 44,72 42,67
Resultado primário 3,24 3,35 3,55 3,89 4,18 4,35 3,86 3,97
Resultado nominal -3,37 -3,29 -4,17 -4,65 -2,43 -2,96 -3 -2,26
Fonte: Banco Central do Brasil.
Parte do aumento da dívida interna pode ser vista como um custo necessário a ser cobrado
para a manutenção das reservas em moeda estrangeira, fundamentais para que o país passe uma
imagem de credibilidade aos investidores estrangeiros que aqui pretendem investir capital
privado. A dívida líquida total do setor público consolidado vem caindo como proporção do PIB
ao longo dos anos, porém o que contribui para essa queda é a dívida externa líquida, pois a dívida
interna líquida vem crescendo no período. Medrano, Mendonça e Sachsida (2008) analisam os
efeitos de maiores gastos públicos do governo na economia brasileira. Os autores verificam que
enquanto o gasto privado aumenta devido a eles, há também uma espécie de efeito crowding out
devido ao aumento de juros causado pelo incremento dos gastos públicos, diminuindo o
investimento privado.
pagamento de juros. Contudo, o déficit nominal vem caindo ao longo dos anos, o que mostra
relativamente uma boa gerência do governo em diminuí-la, dada a política fiscal praticada
considerada ineficiente em alguns aspectos. Segundo o Goldman Sachs (2007), a principal causa
para o baixo crescimento está na política fiscal do governo, e é aí que o governo deve atacar. O
estado brasileiro cresceu demais, gastando muito. Para financiar isto, a carga tributária brasileira
teve que aumentar muito, ficando em torno de 36% do PIB em 2007, um valor muito acima de
outros países em desenvolvimento. O setor produtivo acaba arcando com uma quantidade muito
grande de impostos, quando o ideal seria que o governo usasse os recursos adquiridos com os
superávits comerciais para poder reduzí-los em parte, desonerando o processo produtivo.
Hausman, Rodrick e Velasco (2006) dizem que o problema brasileiro está no baixo nível
da taxa de poupança doméstica, que é muito baixa em relação ao PIB, e isso acaba encolhendo o
crescimento. Assim, o Brasil vem utilizando poupança externa para financiar o crescimento e
eleva as taxas de juros para remunerar a poupança doméstica. Isso mostra um conflito entre alta
demanda por investimento e baixos níveis de poupança, e então seria necessário aumentar a taxa
de poupança doméstica. Porém, conseguir aumentá-la seria difícil, pois o governo brasileiro tem
muitas despesas com encargos e uma carga tributária que já é excessiva demais. Esta, por ser
muito alta, deveria gerar uma grande quantidade de recursos para o investimento. Mas, aliada à
baixa taxa de investimento, a alta carga tributária mostra que o país administra muito mal a
48
política fiscal, pois gasta mais do que o necessário com o social para um país em
desenvolvimento, reduzindo os recursos disponíveis ao setor privado.
Os recursos arrecadados não são usados para aumentar a poupança doméstica, e o efeito
positivo das altas taxas de juros para a poupança privada é anulado pelo efeito negativo sobre a
poupança doméstica, pois aumenta o custo da dívida pública, e isso obstrui o crescimento. O alto
grau de rigidez do gasto público, dominado por despesas previdenciárias e com pessoal gera
necessidade de superávits primários. Ao mesmo tempo, o espaço para aumento de impostos é
praticamente inexistente, e a capacidade de redução significativa do gasto público restrita. Para os
autores, seria necessário então, para aumentar a poupança doméstica, reduzir o desperdício
gerado pela má política fiscal cortando gastos com pessoal e encargos. Isso possibilitaria uma
redução da taxa de juros, contribuindo para amenizar os gastos com a dívida pública (Hausman,
Rodrick e Velasco, 2006).
Tabela 4 – Despesas realizadas do setor público consolidado brasileiro (R$ bilhões), 2000-2007
Despesa 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Despesas correntes 435,40 503,07 574,97 671,51 753,86 863,89 1.026,21 1.141,53
Pessoal e encargos sociais 213,22 219,08 198,81 227,16 248,38 259,06 293,86 339,24
Juros e encargos da dívida 47,43 63,32 66,92 79,39 88,59 105,95 168,64 158,60
Transferências correntes 35,13 39,70 - - - - - -
Outras despesas correntes 139,62 180,97 309,24 364,96 416,89 498,88 563,71 643,69
Despesas de capital 398,41 340,36 373,68 529,56 511,07 633,82 601,87 597,71
Investimentos 27,41 33,37 34,09 29,67 37,91 45,40 57,26 72,87
Inversões financeiras 16,79 24,52 26,66 27,40 26,56 28,10 33,36 38,29
Transferências de capital 1,36 1,24 - - - - - -
Total 833,81 843,43 948,65 1.201,07 1.264,93 1.497,71 1.628,09 1.739,24
Fonte: Ministério da Fazenda/Secretaria do Tesouro Nacional.
49
Blanco e Herrera (2006) mostram que aumento dos gastos públicos, quando investidos na
infra-estrutura, tende a beneficiar a economia brasileira. A carga tributária, pelo contrário,
quando aumenta, tem um efeito negativo sobre a economia. Por isso, os autores alertam para que
o governo não financie o investimento público através do aumento de gastos, pois isso levaria a
um aumento dos impostos. Seria necessária então uma revisão da composição dos gastos
governamentais, analisando aonde se encontra a maior proporção, para realocar parte desses
recursos para o investimento público.
Para Cerisola e Singh (2006), apesar do consenso de que ineficiências fiscais prejudicam
o crescimento, a rigidez orçamentária torna difícil que reformas no sistema fiscal sejam feitas. No
Brasil, as causas da rigidez provêm de grandes transferências para estados e municípios e das
receitas que tem destino específico e não podem ser utilizadas em outras áreas, pois a legislação
não permite. Assim, mesmo que uma área determinada esteja necessitando muito de recursos, as
receitas que já tem destino específico não podem ser usadas para essas áreas necessitadas, o que
torna a política fiscal pró-cíclica e resistente à redução de gastos. Ou seja, nos momentos
favoráveis do ciclo econômico, a política fiscal é expansionista (pois se gasta mais devido à parte
que tem destino específico, que é proporcional à receita do governo), enquanto que nos períodos
desfavoráveis do ciclo a política fiscal é contracionista. Tal fenômeno gera perdas de eficiência
na economia e redução do nível de investimento privado. Com isso, a própria taxa de crescimento
de longo prazo do produto é negativamente afetada. Os autores sugerem então que, para melhorar
a situação do problema fiscal, o governo deve diminuir a carga tributária e promover reformas
fiscais que diminuam essa rigidez orçamentária para ajudar no crescimento. Estas reformas
dariam ao governo mais recursos para serem alocados em investimento e educação de melhor
qualidade para o maior desenvolvimento.
crescimento, pois ela é um dos fatores determinantes do modelo visto no capítulo 2. Como o
Brasil já está inserido num contexto mais estável, ao ser eliminada a informalidade, a
produtividade brasileira teria um grande salto, diminuindo as diferenças em relação aos países
desenvolvidos, contribuindo para consolidar ainda mais a estabilidade econômica e incentivar o
crescimento do investimento privado.
O Trabalho de Bacha e Bonelli (2004) procura entender quais os motivos para a tendência
declinante do crescimento brasileiro que ocorre desde o início da década de 1980, analisando os
fatores que podem ter levado a queda no rendimento da economia. Verificam que há uma
aparente correlação entre acumulação de capital e o crescimento do PIB, ainda que o PIB flutue
mais abruptamente em relação à acumulação de capital. A seguir, tentam explicar o que teria
causado a queda na acumulação de capital nas ultimas décadas, concluindo que o nível de
poupança apresenta pouca correlação com a acumulação de capital, sendo um fator que não
explica por si só esta queda.
Então, investigam outros fatores, que são o nível de utilização da capacidade, o preço
relativo dos bens de investimento e a razão entre produto e capital em uso. Conforme a análise,
estes fatores são relevantes na determinação da queda do crescimento do PIB. O preço relativo
dos bens de investimento no Brasil cresceu muito em relação ao mundo, mesmo após o período
de estabilização de preços, e o nível de utilização da capacidade decaiu. Desde a década de 1980,
o Brasil parece não conseguir voltar à plena capacidade da indústria, apresentando uma média de
7.6% de ociosidade até 2002. Causas para essa queda, na visão dos autores, seriam o grande
aumento da dívida pública e externa e o aumento explosivo da carga tributária, causando um
aumento da informalidade, o que levaria a uma queda da produtividade e do crescimento
(McKinsey&Company, 2004).
ficaria por volta de 2.1%. Pelo modelo Solow-Swan, o potencial de crescimento no estado
estacionário ficaria por volta de 4.3%.
Algumas considerações dos autores sugerem que, com uma capacidade de utilização
maior da indústria, e uma inflação controlada, a demanda cresce, e mantidas as outras variáveis
constantes, a acumulação de capital cresceria. De outra forma, se o preço do investimento caísse
a níveis semelhantes aos da década de 80, o que seria possível por incentivos à importação de
bens de capital mais produtivos, a acumulação de capital poderia crescer ainda mais. Aliado a um
aumento da poupança, não seria difícil conseguir uma taxa de acumulação de capital que fique
perto da proporção estimada pelo modelo Solow-Swan. Para que o crescimento aumente ainda
mais, seria necessário adotar medidas como maior liberalização, investimento em capital
humano, reformas fiscais, dentre outros.
Durante o período do Plano Real, o baixo nível de poupança foi a principal causa do baixo
crescimento, enquanto que o aumento da capacidade de utilização da indústria contribuiu para
que o índice não fosse ainda menor. O governo de Fernando Henrique Cardoso tentou acabar
com o aumento dos preços dos bens de investimento e o declínio da acumulação de capital,
aumentando a capacidade de utilização da indústria. Apesar do aumento das importações e
privatizações, que aumentaram a produtividade, o crescimento não aconteceu, pois a acumulação
de capital foi interrompida devido aos choques externos que o país teve que enfrentar. Porém, a
estabilidade ajudou o país no bom momento vivido durante a bonança da economia mundial
(Bacha e Bonelli, 2004).
São da mesma opinião Adrogué, Cerisola e Gelos (2006). Para os autores, as reformas que
aconteceram já no período da metade da década de 1990, como a adoção do Plano Real para
combate à inflação, ajudaram a manter a estabilidade de preços e do setor financeiro. Isto, junto
com a política macroeconômica que foi introduzida em 1999, serviu como sustento e contribuiu
no aumento do crescimento brasileiro até 2004. Os autores ainda dizem que o custo do
investimento, dado a alta taxa de juros, e o gasto excessivo do governo com encargos e
programas sociais ineficientes são fatores que contraem o crescimento econômico.
52
Para Bonelli e Pinheiro (2005), o Brasil demorou a fazer reformas de mercado, mas
eventualmente conseguiu superar isso de forma gradual, e até mesmo superou os outros países da
América Latina com as privatizações. O Plano Real ajudou para aumentar a produtividade, mas a
taxa de poupança não evoluiu, e a acumulação de capital apresentou um resultado muito aquém
do esperado. Os autores dizem que o custo do investimento é uma das principais causas, sendo
que o que aumenta o custo é o setor financeiro brasileiro, pois a falta de crédito apropriado de
longo prazo para o investimento acaba elevando o seu preço, o que acaba freando o crescimento.
Ainda, o setor financeiro tem uma contribuição muito pequena para o crescimento, pois há
barreiras que impedem um melhor financiamento, como a grande dívida pública brasileira, que
leva a uma preferência por investimentos de curto prazo, e a carga tributária excessiva, que
aumenta a informalidade. Para que a situação se resolva, seria necessário então reduzir impostos
que incidem sobre o setor financeiro, promover maior competição entre os bancos e prover
crédito de longo prazo a pequenas empresas. Isso garantiria que os recursos da poupança seriam
direcionados ao investimento, que é necessário ao crescimento.
Num relatório desenvolvido pelo Ministério da Fazenda (2008), são apontados diversos
dados que visam provar a sustentabilidade econômica do país no longo prazo. O relatório destaca
que o Brasil cresce de um jeito equilibrado, com menores desigualdades, impulsionado pelo
mercado interno e comércio exterior. Outros pontos que são considerados:
a) baixa vulnerabilidade externa, com superávits comerciais, aumento das reservas
internacionais e diversificação dos parceiros;
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b) baixa vulnerabilidade monetária, com inflação controlada e mais baixa que a maioria
dos outros emergentes;
c) responsabilidade fiscal, com seguidos superávits fiscais e queda no déficit nominal
(tendendo a zero) e da dívida pública em proporção ao PIB;
d) crescimento mais vigoroso do Brasil, com PIB, consumo e investimento crescendo
seguidamente e setor financeiro desenvolvido.
Ainda, o relatório mostra que o país está muito menos vulnerável a crises devido a esses
pontos discutidos acima. Seguindo a mesma linha de raciocínio dos outros trabalhos discutidos, o
que deve ser feito, pela ótica do Ministério da Fazenda, é reduzir a carga tributária, controlar os
gastos correntes (que, como visto antes, são muito grandes), aumentar o investimento em infra-
estrutura e fazer uma reforma tributária, política e previdenciária (outro ponto que foi discutido
anteriormente, é o maior gasto do governo na parte social, mostrando que uma reforma nessa
parte é fundamental, já que a população idosa no país deve crescer muito, e o atual sistema onera
demasiadamente as contas públicas).
Apesar de todos os problemas que o Brasil enfrenta e que deverá continuar enfrentando, o
interesse no país cresceu muito. Até o final do primeiro semestre de 2008, ele vinha sendo alvo
de grandes volumes de investimento externo, sendo o último país dos BRICs a receber o
investment grade, confirmando que as políticas macroeconômicas de cunho ortodoxo estão
surtindo efeito no sentido de criar um ambiente confiável para investimentos externos no país, o
que acaba contribuindo, junto com outros fatores, no crescimento. O investment grade cria para o
país acesso a algumas oportunidades novas, principalmente ao dinheiro dos fundos de pensão
estrangeiros. As empresas que se apresentam no mercado internacional de crédito vindo de um
país que é investment grade conseguem captar recursos a taxas mais baixas. Isso viabiliza novos
investimentos para as empresas brasileiras, fazendo com que ganhem em competitividade.
como uma democracia estável. Os bons fundamentos da economia brasileira, de baixa inflação e
estabilidade política, formam a base para o crescimento.
O trabalho de Cunha, Bichara e Prates (2008) diz que o país adquiriu o grau de
investimento tardiamente, mas mostra que a estabilidade macroeconômica que vem se mantendo
no país e todas as melhorias apresentadas nos últimos anos refletem o bom momento da
economia brasileira, e agora, sob a base da estabilidade, o desafio do país é elevar o crescimento.
Este, que antes era na média abaixo de 2.5% ao ano, agora está entre 4% e 5% ao ano,
confirmando que a estabilidade está propiciando resultados positivos. Ainda que esteja abaixo
dos outros países do BRIC, esse crescimento é mais sustentável no longo prazo, ou seja, ele deve
ser mantido nesse mesmo nível durante um bom tempo, enquanto que os outros países integrantes
do BRIC tendem a desacelerar o crescimento no mesmo período.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fato de o modelo ter previsto que os BRICs estarão entre as maiores economias do
mundo em 2050 não significa que de fato isso ocorrerá. Há algumas décadas, parecia irreal que
eles conseguiriam alto crescimento de forma sustentável, já que houve casos em que outros países
com grande potencial, como os BRICs, acabaram parando no tempo, não confirmando-o. Porém,
atualmente, a economia está muito mais globalizada, e isso permite que países emergentes
consigam incorporar tecnologias de países desenvolvidos de forma muito mais rápida, acelerando
e sedimentando o crescimento, diminuindo as diferenças em relação aos países desenvolvidos ao
longo do tempo. O conhecimento e a informação fluem com maior rapidez, aumentando a
eficiência e produtividade dos trabalhadores. As rápidas vias da integração transmitem
voluptuosos recursos que são investidos na economia, o que melhora a infra-estrutura e, por
conseqüência, incrementa a renda e qualidade de vida da população.
Os BRICs, nesse aspecto, estão investindo boa parte do PIB na economia, mantendo um
ambiente macroeconômico favorável que vem, por enquanto, a confirmar as expectativas criadas
a seu respeito. Ainda que haja certa desconfiança envolvendo estes países, as atuais medidas
tomadas por eles para manter o crescimento torna as oportunidades de investimento atrativas, já
que uma onda de consumidores está por vir. Todos os quatro países adquiriram o investment
grade, mostrando que há progressos em suas respectivas economias. Contudo, os desafios que
devem ser enfrentados por esse grupo de emergentes são grandes, e requerem esforços políticos
para que sejam combatidos da melhor maneira possível. Atuar com firmeza em áreas críticas
através de reformas e/ou políticas públicas já se faz necessário para evitar incômodos futuros e
garantir o crescimento e desenvolvimento sustentável.
O tempo irá dizer se as previsões irão se concretizar. Fato é que os países estão no
caminho certo e, se as reformas adequadas forem feitas, mudanças drásticas a nível nacional,
regional e mundial poderão ser vistas. O poderio da ascensão dos emergentes implica na
necessidade de rever o atual rumo da política e economia internacional. Com o mundo cada vez
mais integrado, o impacto causado por essas novas forças econômicas pode mudar radicalmente o
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cenário geopolítico. Se os BRICs resolverem usar seu enorme poder de influência para agir
coletivamente, podem moldar um novo formato ao mundo, e este é um motivo fundamental para
que ações coordenadas sejam direcionadas à esforços pacíficos durante a jornada à consolidação
de suas economias. Com Brasil, Rússia, Índia e China se integrando ao grupo das grandes
economias, além de haver maior oportunidade de desenvolvimento aos seus países vizinhos, se
dividirá o ônus das decisões relevantes sobre o mundo entre mais países, que hoje é incumbido a
poucos países desenvolvidos.
Se ainda pairava alguma dúvida, a robustez demonstrada pela economia brasileira à crise
recente é prova que há hoje condições incomparavelmente melhores de resistir às adversidades
internacionais do que havia até pouco tempo atrás. Boa parte da melhora deve-se inegavelmente
ao crescimento das economias asiáticas e da grande disponibilidade de crédito que se viu nos
últimos anos. As políticas de melhora do perfil da dívida pública e de acumulação de reservas
cambiais tiveram também importante papel.
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É importante alertar, contudo, que para continuar com o bom desempenho, o tripé de
estabilização por si só não garante crescimento sustentável ao Brasil por tanto tempo. A base de
sustentação brasileira precisa de mais apoios para se firmar com segurança, e isso só será possível
caso o governo ponha em prática reformas que reduzam os agravantes ao crescimento. Pelas
análises dos autores vistos no trabalho, ainda que haja outros problemas de natureza não
econômica, podemos ver que grande parte dos problemas está na política fiscal praticada pelo
governo.
Como não há efeitos imediatos, essas reformas podem ser muito difíceis de virem à pauta,
pois devem causar descontentamento em grande parte da população brasileira ao ter que reduzir a
enorme generosidade do governo brasileiro. Resta agora aos governantes assumirem os custos
políticos de implantar e resolver os problemas que atrapalham e impedem um maior crescimento
do Brasil.
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