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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

Juliano Marmitt

BRICs: O BRASIL TEM POTENCIAL PARA ESTAR ENTRE OS


GRANDES?

Porto Alegre
2008
Juliano Marmitt

BRICs: O BRASIL TEM POTENCIAL PARA ESTAR ENTRE OS


GRANDES?

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao


Departamento de Ciências Econômicas da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
como exigência para obtenção do título de
Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientador: Prof. Dr. André Moreira Cunha

Porto Alegre
2008
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Crescimento real (estimado) dos BRICs até 2050 (Var. % média)............................ 13
Gráfico 2 – Proporção dos BRICs e do G7 na população e PIB bruto mundial, 2007.................. 15
Gráfico 3 – PIB (estimado) dos BRICs, N-11 e G7 (US$ bilhões) em 2050 ................................ 22
Gráfico 4 – Variação na estimativa do PIB entre 2003 e 2006, para o ano de 2050..................... 23
Gráfico 5 – Variação na estimativa da renda per capita entre 2003 e 2006, para o ano de 2050 . 24
Gráfico 6 – Investimento dos BRICs em 2007 (% do PIB) .......................................................... 27
Gráfico 7 – Crescimento real do PIB, 2000-2007 (Var. % a.a.).................................................... 28
Gráfico 8 – Exportações, 2000-2007 (Var. % a.a.) ....................................................................... 29
Gráfico 9 – Transações correntes, 2000-2007 (% do PIB)............................................................ 30
Gráfico 10 – Flutuação das taxas nominais de câmbio, 2000-2007 .............................................. 31
Gráfico 11 – Inflação ao consumidor, 2000-2007 (Var. % em 12 meses) .................................... 32
Gráfico 12 – Investimento direto externo líquido, 2000-2007 (US$ bilhões)............................... 33
Gráfico 13 – Reservas internacionais, 2000-2007 (US$ bilhões, fim do período)........................ 34
Gráfico 14 – Dívida externa bruta, 2000-2007 (% do PIB)........................................................... 35
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Indicadores de crescimento brasileiro, 2000-2007 ...................................................... 42


Tabela 2 – Indicadores externos da economia brasileira, 2000-2007............................................ 44
Tabela 3 – Indicadores de finanças públicas brasileiras do Setor Público consolidado (% do PIB),
2000-2007...................................................................................................................................... 46
Tabela 4 – Despesas realizadas do setor público consolidado brasileiro (R$ bilhões), 2000-2007
....................................................................................................................................................... 48
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 6
1. OS BRICS E O SONHO ........................................................................................................... 9
1.1. O INÍCIO DA JORNADA ATÉ 2050...................................................................................... 9
1.2. O MODELO ........................................................................................................................... 11
1.3. O NEXT ELEVEN................................................................................................................... 16
1.4. DESAFIOS AO CRESCIMENTO ......................................................................................... 17
1.5. NOVAS ESTIMATIVAS....................................................................................................... 22
2. CONVENCENDO O MUNDO............................................................................................... 27
2.1. EVOLUÇÃO DOS BRICS..................................................................................................... 27
2.2. RÚSSIA, ÍNDIA E CHINA ................................................................................................... 35
2.2.1. Rússia.................................................................................................................................. 35
2.2.2. Índia .................................................................................................................................... 37
2.2.3. China................................................................................................................................... 38
3. BRASIL .................................................................................................................................... 40
3.1. UMA BREVE INTRODUÇÃO ............................................................................................. 40
3.2. O POTENCIAL DE CRESCIMENTO BRASILEIRO .......................................................... 41
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................. 55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 58
“Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo.”
Liev Tolstói
6

INTRODUÇÃO

O mundo e sua economia mudaram drasticamente nos últimos anos. Atualmente, o mundo
está cada vez mais globalizado, e as economias cada vez mais interligadas. O tamanho da
economia mundial vem crescendo, e há perspectivas de que cresça ainda mais nos próximos 10
anos, ficando em torno de 80% maior do que era no ano 2000 (National Intelligence Council,
2004). Nesse contexto, países emergentes que vêm apresentando taxas de crescimento elevadas
passariam a representar importante papel no cenário econômico e político mundial. Este é o caso
dos países que compõe o grupo de emergentes criado pelo banco de investimentos Goldman
Sachs denominado como BRIC, abreviação para Brasil, Rússia, Índia e China.

Atualmente, Brasil, Rússia, Índia e China vêm por enquanto apresentando dados que dão
sustentação aos estudos feitos em 2003, com altas taxas de crescimento econômico. O Brasil é o
país que apresenta a menor taxa de crescimento dentre eles, e vem inclusive apresentando
crescimento inferior a outros países emergentes. Mesmo com melhorias desde que o estudo foi
feito e o recente aumento do prestígio internacional em relação ao país na questão do bom
andamento de suas políticas macroeconômicas, é necessário averiguar se o Brasil realmente tem
condições de, além de manter o crescimento sustentável ao longo dos anos, aumentar esse índice
e, por conseqüência, fazer jus à sua inclusão nesse grupo de grande importância.

Segundo as projeções do Goldman Sachs, os quatro países do BRIC estarão entre as


maiores potências mundiais no ano de 2050, e por isso é fundamental verificar se com as atuais
políticas praticadas pelos BRICs é possível manter o crescimento no longo prazo, sem sofrer
muito com possíveis ciclos negativos econômicos. Caso isto venha a se concretizar, o mundo terá
mudanças importantes em diversos aspectos. Vários países irão ganhar com o enorme
crescimento esperado da economia mundial, pois, dado o grande tamanho das populações que
compõem os BRICs, o consumo deve aumentar em larga escala, aumentando a produção e
desenvolvendo a tecnologia em níveis globais. Essas expansões difundirão entre os diversos
países, propiciando novos tipos de relações comerciais, aumentando ainda mais o
desenvolvimento do comércio mundial, e com mais países se desenvolvendo e se integrando à
economia internacional, cresce a influência e o poder dos emergentes, e esse maior grau de
7

integração tende a levar à maior liberalização e, conseqüentemente, maior eficiência econômica,


e os agentes tendem a ganhar. Novas alianças podem ser formadas, mudando o cenário político.

Os impactos do crescimento acelerado também podem mudar drasticamente o ambiente


em que vivemos, causando maior êxodo rural e alterando o meio ambiente, podendo levar à má
qualidade de vida e à pobreza. A enorme integração entre os mercados de capitais irá atrair
investidores, movimentando grandes quantidades monetárias entre os países e possibilitando mais
oportunidades de crescimento. Um diagnóstico correto dos pontos principais a serem corrigidos
ajuda a reduzir os custos do desenvolvimento, melhorando a alocação dos recursos econômicos e
garantindo qualidade de vida à população. Logo, projeções acerca de futuras potências permitem
que sejam formadas estratégias relevantes no presente, sendo direcionadas para melhorar e
prevenir eventuais problemas futuros.

No caso do Brasil, é importante que as perspectivas de crescimento levem o país a adotar


as medidas necessárias para que haja sustentação no longo prazo. Um estudo sobre os problemas
do país pode ajudar no processo de tomada de decisões pelo governo, ou seja, há a possibilidade
de melhorar o planejamento e a distribuição de renda, diminuindo as desigualdades através da
adoção de políticas públicas corretas.

O objetivo principal do trabalho é verificar se o Brasil tem a capacidade de crescimento


estimada pelos estudos de longo prazo e por conseqüência ser citado como potência futura entre
os emergentes do BRIC. Dado o atual momento de menos pessimismo em relação ao país, uma
análise de aspectos macroeconômicos relevantes para o crescimento é importante para determinar
se o atual andamento das políticas é correto e se há boas perspectivas para seqüência no longo
prazo. Um objetivo secundário é verificar se os outros países do BRIC também apresentam
condições de manter o crescimento sustentado no longo prazo, tornando-se assim novas potências
no futuro.

A hipótese do trabalho é a de que o país possui capacidade para continuar crescendo de


forma sustentável, e que merece ser citado como possível grande potência do futuro, já que vem
praticando políticas macroeconômicas ideais para a formação de uma base econômica bastante
8

sólida, tais como metas de inflação, que vem se mantendo de acordo com as metas estipuladas,
câmbio flutuante, que vem se apreciando, e superávit fiscal, que vem apresentando recordes de
arrecadação.

Para desenvolver os argumentos inicia-se com uma breve revisão teórica no capítulo 1,
explicando o que é o acrônimo BRIC e o porquê de serem estes países os que são considerados os
maiores dentre os emergentes. Explicita-se a metodologia utilizada pelo Goldman Sachs,
tomando como base de referência os modelos convencionais do tipo Solow. Em seguida, são
discutidos outros determinantes do crescimento, que são confrontados com outras referências.

No capítulo 2, evidências empíricas sobre os BRICs são analisadas e discutidas. Alguns


dados macroeconômicos, assim como uma breve análise sobre Rússia, Índia e China são vistos
para verificar como estes países andam se comportando economicamente.

No capítulo 3, dados relevantes sobre o Brasil são revisitados, assim como trabalhos
específicos sobre a economia brasileira são vistos. Segue, depois de um breve histórico, uma
análise da atual situação econômica vivida pelo Brasil, mostrando problemas enfrentados e
sugerindo soluções.

Por fim, no capítulo 4 seguem as considerações finais acerca do trabalho.


9

1. OS BRICS E O SONHO

1.1. O INÍCIO DA JORNADA ATÉ 2050

O interesse nos países emergentes cresceu muito, dado que o crescimento que eles vêm
apresentando é bastante considerável. Particularmente, quatro países chamam mais a atenção:
Brasil, Rússia, Índia e China, os chamados BRICs. O acrônimo BRIC foi criado pelo banco
Goldman Sachs para distinguir Brasil, Rússia, Índia e China como os principais emergentes que,
no futuro, poderão desempenhar um papel importante na economia mundial. Ainda que o grupo
possa deixar de fora outros países emergentes igualmente relevantes, os BRICs estão entre os
países que possuem as maiores economias e populações mundiais, tendo um massivo mercado
consumidor a ser explorado.

É importante frisar que os BRICs não formam um bloco político-econômico separado ou


uma união aduaneira. Por enquanto, é tão somente uma abreviação dos países apontados como os
maiores emergentes. Porém, eles podem vir a formar uma poderosa união no futuro, já que a
expectativa é de que China e Índia sejam os grandes fornecedores de bens manufaturados e
serviços, enquanto que Brasil e Rússia serão os grandes fornecedores de matérias-primas. O papel
dos países emergentes na economia global não só vem crescendo como deve continuar crescendo
ainda mais ao longo deste século, sendo que os BRICs, caso as previsões se confirmem, devem se
tornar os carros-chefe da economia, juntamente com os Estados Unidos.

Como se tratam de países com enorme capacidade futura, foi feito um estudo inicial pelo
Goldman Sachs, em 2003, utilizando projeções demográficas e dois modelos similares de
crescimento econômico, o GSDEER (Goldman Sachs Dynamic Equilibrium Exchange Rate) e o
GSDEEMER (Goldman Sachs Dynamic Equilibrium Emerging Market Exchange Rates). Esse
estudo dá mais destaque a Brasil, Rússia, Índia e China por se tratarem de emergentes que
possuem enorme capacidade de crescimento. Os modelos utilizados são relativamente simples,
incluindo perspectivas de acumulação de capital, produtividade e emprego. Com os resultados,
10

foram feitas previsões sobre crescimento do PIB, renda per capita e variação nas taxas de câmbio
dos países do BRIC até 2050. Se até lá as medidas corretas forem mantidas e novas medidas no
sentido de manter o crescimento forem adotadas, Brasil, Rússia, Índia e China estarão entre as
maiores economias do mundo, superando, somadas, a economia dos EUA, Japão, Alemanha,
França, Itália, Reino Unido e Canadá (G7), sendo que já em 2025 o BRIC poderá representar
mais da metade da economia gerada pelo G7, e em 2040 poderá ultrapassar o G7 (Purushothaman
e Wilson, 2003).

Isto leva a crer que os BRICs serão um grupo da maior importância no cenário
econômico, político e militar mundial nos próximos anos, responsável por uma enorme fatia da
demanda e consumo mundiais, além de receber grande quantidade de recursos dos investidores
do mundo todo, que poderão encontrar uma ótima oportunidade de lucros no longo prazo. Os
países podem se tornar líderes regionais, desenvolvendo os países vizinhos, criando novos blocos
de comércio, possibilitando oportunidades de crescimento decorrentes da maior atividade
econômica gerada. Mais empresas sediadas nos BRICs podem aparecer entre as maiores do
mundo, e os produtos gerados e a demanda nesses países poderão modificar ou até mesmo ditar
os padrões de consumo ao redor do mundo.

As previsões são bastante realistas, pois elas assumem que os países do BRIC continuarão
com suas taxas de crescimento em níveis consideráveis ao longo do período analisado. Em 50
anos, a economia pode mudar drasticamente, e projeções para períodos longos como esse são
uma incógnita, e o tempo acabou mostrando que várias previsões no passado acabaram não se
concretizando no presente. Mesmo assim, esse tipo de prognóstico é importante, ainda que não se
concretize no longo prazo, pois pode ajudar a direcionar os recursos a serem aplicados nos países
em questão de melhor forma, indo de acordo com as sugestões apresentadas. É então apontado
como fundamental, para sustentar o crescimento, que os BRICs adotem medidas através da
implantação e manutenção de políticas que dêem suporte ao crescimento (Purushothaman e
Wilson, 2003).
11

1.2. O MODELO

Como já citado, o modelo utilizado pelo Goldman Sachs é o GSDEER e o GSDEEMER.


São modelos simples de crescimento econômico que levam em conta três fatores: produtividade
total dos fatores, acumulação de capital e crescimento do emprego. O modelo é uma função do
tipo Cobb-Douglas, onde as três variáveis acima estão incluídas, e é composto da seguinte
maneira:

Y = AK α L1−α
Onde:
• ‘A’ é a produtividade total dos fatores, visto como um processo de catch-up1 entre os
países do BRIC e os Estados Unidos. À medida que o tempo passa, as diferenças
tecnológicas em relação aos países mais ricos irão diminuir, e a velocidade desse
processo é tão mais lento quanto mais a renda per capita dos países do BRIC se
aproximar dos países desenvolvidos. As diferenças são medidas através da seguinte

At  rendaperca pita PED 


equação: = 1.3% − β ln   , onde ‘β’ é a velocidade
At −1  rendaperca pita EUA 
de convergência da produtividade total dos fatores entre Países Em Desenvolvimento
(PED) e os Estados Unidos (EUA) e o valor de 1.3% é a taxa estimada de crescimento
de longo prazo da economia norte americana. O valor de β é assumido como 1.5%,
uma variação entre valores obtidos através de projeções acadêmicas.

I 
• ‘K’ é a acumulação de capital, medida pela formula: Kt +1 = Kt (1− δ ) +  t Yt ,
 Yt 
onde ‘δ’ é a depreciação do capital, assumida como 4% (estimativa do World Bank) e
‘I’ é a taxa de investimento. As taxas utilizadas, baseadas num histórico recente, são de
19% para o Brasil, 25% para a Rússia, 22% para a Índia e 36% para a China até 2010,
depois declinando para 30% até 2050.

1
Catch-up é um termo inglês que significa se aproximar, alcançar ou até mesmo ultrapassar algo. Nesse caso, o
catch-up produtivo é o processo que reduz o hiato da produtividade entre os países desenvolvidos e os emergentes.
12

• ‘L’ é o crescimento do emprego, com dados obtidos pela Agência Censitária


Americana da população economicamente ativa com idades entre 15 e 60 anos.

• ‘α’ é a participação do capital na renda dos fatores, com valor assumido de 1/3, uma
suposição padrão em cálculos de crescimento econômico.

Esse é um modelo de Solow com progresso tecnológico. Segundo Jones (2000), de acordo
com esse modelo, os países ficam mais ricos ao longo do tempo por investir mais e ter menores
taxas de crescimento populacional, permitindo maior acumulação de capital por pessoa
economicamente ativa, aumentando assim a produtividade da mão-de-obra. Além do mais, o
crescimento sustentado que se verifica nos países que atendem a esses requisitos se dá pelo
aumento na produtividade total dos fatores, ou, de outra forma, progresso tecnológico. Como há
retornos decrescentes do capital, com ausência de progresso tecnológico o crescimento per capita
cessa ao longo do tempo. O papel da tecnologia é, então, acabar com essa tendência declinante do
capital, e fazer com que os países continuem crescendo no ritmo do crescimento tecnológico.

O rápido crescimento verificado nos BRICs seria decorrência então do maior retorno do
capital, devido ao aumento de produtividade, e da possibilidade do uso de tecnologias já
empregadas nos países desenvolvidos, o que permite que os países em desenvolvimento reduzam
o hiato tecnológico através do processo de catch-up produtivo. Assim, aumenta a produtividade
nestes países, com Rússia e China liderando o crescimento da produtividade total dos fatores num
primeiro momento, mas Brasil e Índia tendem a convergir para o mesmo nível. As projeções de
produtividade são também um meio de analisar as futuras taxas de câmbio dos países do BRIC,
sendo que aqueles que obtiverem maior produtividade do que os Estados Unidos terão sua moeda
apreciada. Como conseqüência do aumento de produtividade, há uma dramática apreciação
cambial das moedas nacionais. Com o desenvolvimento ocorrendo ao longo do tempo, há
aumento do PIB per capita e da renda, e o crescimento econômico nos BRICs tende a ficar mais
lento depois de 2050. O gráfico 1 mostra certa convergência entre as médias das taxas estimadas
de crescimento dos BRICs.
13

Cabe ressaltar que os valores assumidos no modelo são estimativas feitas em 2003 e
podem ser modificados, mudando as previsões futuras. Além disso, os ciclos econômicos típicos
do sistema capitalista são desconsiderados, e há ainda algumas variações propositalmente feitas,
como menor velocidade de convergência da produtividade total dos fatores no Brasil e na Índia
até 2020, dados os baixos investimentos em infra-estrutura e baixos níveis de escolaridade em
comparação com China e Rússia. Após esse período, a velocidade de convergência passa a ser
similar entre os quatro países (Purushothaman e Wilson, 2003).

Gráfico 1 – Crescimento real (estimado) dos BRICs até 2050 (Var. % média)

Brasil China Índia Rússia


8

0
2006-2015

2015-2020

2020-2025

2025-2030

2030-2035

2035-2040

2040-2045

2045-2050

Fonte: Elaboração do autor com dados do Goldman Sachs.

Conclusões similares são apontadas por Jensen e Larsen (2004), que fizeram algumas
considerações sobre os BRICs depois do trabalho do Goldman Sachs em 2003. Para que haja
diminuição no hiato entre os países do BRIC e os países desenvolvidos, é necessário crescimento
sustentável ao longo do tempo. Num cenário otimista de crescimento, com as taxas atuais altas,
entre 4% e 6% em relação aos Estados Unidos, os países vão conseguir melhorar bastante seus
índices de PIB per capita ajustado pela paridade do poder de compra em um período de tempo
muito curto, variando em cada país. O ponto essencial desse aspecto, então, é como os países do
BRIC vão sustentar rendas maiores, dado o crescimento econômico ao longo do tempo. Isso
14

depende do resultado dos fatores de produção, capital, mão-de-obra e desenvolvimento da


produtividade.

De acordo com o Comission On Growth And Development (2008), antes da segunda


metade do século passado, nenhum país conseguiu manter altas taxas de crescimento por 25 anos
consecutivos, mas isso seria possível nos dias de hoje dada a enorme integração econômica
mundial. O processo de catch-up entre as diversas economias é diminuído pelo intenso volume de
informação que é divulgado pela rede mundial, aumentando a educação e produtividade dos
trabalhadores. Os produtores se vêem obrigados a ampliar a produção, já que se o foco for
unicamente interno, a tendência é de que ocorra uma saturação do mercado. Através da
exportação eles conseguem, além de lucros, estímulos para aumentar a eficiência e produtividade
para fazer frente aos seus concorrentes. Ainda, a enorme força trabalhadora que está disponível
nos países emergentes vai, com o tempo, deslocar os cidadãos da área rural para a área urbana,
mais produtiva.

Outro fator determinante usado no modelo, o emprego, tem papel mais importante no
desenvolvimento. O crescimento populacional estimado em 2007 pelo World Bank para o Brasil
é de 1.2%, mesmo valor estimado para a Índia. Na China o crescimento populacional está
estimado em 0.6%, e na Rússia o crescimento populacional é negativo, -0.6%. Nesse ponto,
Brasil e Índia são os mais beneficiados. Há, porém, um incômodo que ocorre devido ao maior
crescimento populacional: a renda per capita cresce mais vagarosamente do que nos países que
tem crescimento populacional controlado e declinante, caso da China e Rússia, respectivamente.
Como o bloco é composto por países de grandes populações, que tendem a aumentar (com
exceção da Rússia) é presumível que o bloco se torne um grande consumidor, sendo responsável
por grande parte da demanda mundial. De fato, o trabalho de Purushothaman e Wilson (2003)
aponta que a parcela de demanda dos BRICs irá ultrapassar a demanda do G7 nos próximos 10
anos, o que mostra o poderio desses países emergentes. O gráfico 2 mostra qual a proporção das
populações e dos PIBs dos BRICs e do G7 em relação à população mundial. Os BRICs
correspondem a cerca de 42% da população mundial, o que mostra o seu potencial mercado
consumidor. Por outro lado, a participação no PIB mundial é muito menor que a do G7, que com
apenas 11% da população mundial, corresponde por mais da metade do PIB mundial.
15

Gráfico 2 – Proporção dos BRICs e do G7 na população e PIB bruto mundial, 2007

Fonte: Elaboração do autor com dados do World Bank World Development Indicators.

Para Jensen e Larsen (2004), os países do BRIC tiveram aumento de prosperidade, em


relação aos Estados Unidos. Em termos absolutos, os países continuam com padrão de vida
baixo. O crescimento populacional dos países do BRIC tende a cair com o tempo, e isso
contribuirá para aumentar a riqueza per capita. A distribuição desigual de renda se faz presente
nos países do BRIC, em especial no Brasil, país que tem a pior distribuição de renda dentre os
quatro. China e Índia, apesar disso, conseguiram diminuir os índices de pobreza absoluta, devido
aos altos índices de crescimento.

Para testar a validade do modelo, o Goldman Sachs aplicou-o também para economias
desenvolvidas e economias em desenvolvimento. Os dados usados foram de 1960, e a projeção
foi para 40 anos depois. Os resultados obtidos mostraram que os níveis previstos para os países
desenvolvidos ficaram muito próximos dos verdadeiros, só variando em relação aos países em
desenvolvimento, que ficaram abaixo do esperado, e isso pode ser explicado, pois alguns países
emergentes acabaram adotando políticas econômicas pouco satisfatórias, falhando em atingir seus
objetivos pretendidos durante esse período de análise.
16

1.3. O NEXT ELEVEN

Há hoje na economia vários países emergentes. A questão relevante que deve ser feita a
respeito deles é: quais irão concretizar as expectativas futuras? Quais são os que possuem maior
potencial de crescimento? O potencial dos BRICs já foi exposto. Mas além dos BRICs há um
outro grupo de emergentes que também possui grandes taxas de crescimento econômico e um
bom potencial para despontar no futuro como potência econômica no mundo: trata-se do Next
Eleven, ou N-11. O grupo é formado por onze países: Bangladesh, Egito, Coréia, Vietnã,
Filipinas, Irã, México, Nigéria, Turquia, Indonésia e Paquistão. É um grupo bastante
diversificado culturalmente, e foi agrupado dessa forma por causa das grandes massas
populacionais dos seus integrantes. O Goldman Sachs, atento ao potencial desses novos
emergentes, fez estimativas utilizando o mesmo modelo de crescimento usado para estimar o
crescimento dos BRICs. As estimativas sobre crescimento mostram que o N-11 aumentou sua
participação na produção global, e pode crescer até 4% nos próximos 20 anos, com a condição de
que um ambiente favorável a isso seja estabelecido.

Pela análise do Goldman Sachs (2007) e de O’Neill, Purushothaman, Stupnytska e Wilson


(2005), dentro do N-11 há apenas dois países que se destacam: México e Coréia, mercados que já
são mais maduros, com Turquia e Vietnã tendo um potencial um pouco menor. Os outros países
teriam ainda muitos problemas a serem resolvidos para manter o crescimento sustentável ao
longo do período. Os resultados obtidos mostram que os BRICs continuam sendo um grupo com
mais potencial de crescimento do que o N-11. Ainda que o N-11 não faça frente aos BRICs, seu
papel no desenvolvimento mundial será importante, dado que o aumento nas rendas devido ao
crescimento econômico pode servir de mercado consumidor para os países do BRIC, assim como
os investidores podem direcionar seus recursos para lá.
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1.4. DESAFIOS AO CRESCIMENTO

Os problemas do crescimento acelerado vão além das variáveis econômicas, envolvendo


outros tipos de fatores. Uma rápida industrialização hoje necessita de uma estrutura bem
desenvolvida para poder retardar os problemas derivados dela. A China, por exemplo, está
passando por um processo muito rápido de urbanização, que acaba sendo caótico. A enorme
massa populacional que se desloca às cidades em busca de emprego cria a necessidade de mais
infra-estrutura para poder abrigar essas pessoas. Como o deslocamento é dado num ritmo mais
rápido do que a urbanização, problemas como moradias de baixa qualidade, sem saneamento,
acabam aparecendo nos arredores da cidade. A criminalidade aumenta, assim como demanda por
alimentos, energia, educação e saúde. A proliferação de indústrias e automóveis gera
externalidades negativas como poluição e barulho. Esses são problemas que não só a China
enfrenta e enfrentará, mas também os outros países do BRIC, assim como os N-11.

Pelo Comission On Growth And Development (2008) e National Intelligence Council


(2004), os desafios derivados da rápida industrialização seriam: mudanças climáticas, mudança
nos preços e problemas demográficos. A mudança climática no mundo, devido à proliferação dos
gases nocivos na atmosfera, principalmente por causa dos países desenvolvidos, deve ser um
problema a ser enfrentado pelos novos emergentes imediatamente, já que na medida em que eles
convergem para uma mesma renda per capita dos países desenvolvidos, suas emissões se tornam
equivalentes, e uma alternativa para prevenir a poluição futura seria investir em tecnologias
energéticas limpas. Outro problema é a mudança nos preços que deve ocorrer dada a crescente
demanda dos emergentes. Quanto mais rica vai ficando a população devido ao crescimento
econômico, mais ela demanda, e isso irá causar um aumento nos preços de alimentos e da energia
no mundo todo.

O problema demográfico nos países ricos decorreria da decrescente fertilidade ao longo


dos anos, aumentando a população idosa que necessita de cuidados extras, e isso poderá causar
queda no crescimento. Nos países pobres, as altas taxas de fertilidade podem acarretar em
epidemias e disseminação de doenças, e isso deve ser controlado. Uma boa política de migração
18

poderia resolver o problema de excesso populacional num país pobre e a necessidade de


população jovem num país rico. Nesse aspecto, então, seria importante que os países do BRIC
prestassem atenção nesses problemas para que, ao longo do processo de crescimento esperado,
eles tenham seus efeitos reduzidos ao máximo.

Importante é destacar que o mundo cresceu muito nas últimas décadas, muito devido à
maior globalização, e isso trouxe benefícios para os países que souberam colher os frutos do
desenvolvimento. Os BRICs, além dos desafios acima, que decorrem do rápido crescimento,
deverão antes se preocupar em manter esse crescimento no decorrer dos anos. As previsões feitas
em 2003 são bastante realistas, e se assemelham aos verdadeiros índices de crescimento atingidos
pelos países do BRIC, o que dá um bom grau de confiança ao modelo. De acordo com as
variáveis relevantes deste, e não levando em consideração outros fatores importantes na
determinação do crescimento econômico, trabalho, capital e produtividade por si só seriam um
grande determinante para corroborar com as previsões futuras. Mas há, além destes, outros
fatores que ajudam a explicar o crescimento econômico, e a ausência de políticas corretas para
remediar tais problemas provavelmente levará os países do BRIC a falharem em suas metas de
crescimento sustentável.

O trabalho de Barro (1989) utiliza outras variáveis para explicar o crescimento econômico
dos países. O autor faz uma análise do tipo cross-country entre 98 países diferentes e chega a
conclusões de que o capital humano, a fertilidade, gastos do governo e estabilidade política são
variáveis relevantes na explicação do crescimento. Assim, no modelo de Solow exposto
anteriormente, de rendimentos crescentes de capital, o crescimento per capita dos países é
inversamente proporcional ao nível inicial de renda per capita, sendo que a evidência empírica
mostra que essa correlação é próxima de zero.

Utilizando dados sobre capital humano (medidos pelos níveis de escolaridade), Barro
verifica que passa a ocorrer correlação positiva entre a renda per capita e os níveis de capital
humano. Desse modo, países pobres com altos índices de capital humano tendem a se igualar aos
países ricos, mostrando que a educação é importante para o crescimento. Outro fator sobre a
educação é que países com altos índices de capital humano têm taxas de fertilidade menores,
19

contribuindo para uma maior renda per capita. Com relação aos gastos do governo, Barro conclui
que são negativamente relacionados com o crescimento da renda per capita e investimento
privado. A explicação dada é a de que o governo introduziria distorções na economia (tais como
subsídios e tarifas), prejudicando o crescimento. Por fim, mostra que a falta de estabilidade
política nos países, assim como má administração econômica, é inversamente relacionada com
crescimento econômico e investimento. Isso pode ser explicado pelo fato de que não se
respeitando as instituições e a propriedade privada, os investidores tendem a não aplicar seus
recursos no país, com medo de não ter retornos.

Então se torna evidente que é necessário adotar medidas que mantenham o crescimento de
forma sustentável. Políticas macroeconômicas são essenciais, pois lidam com fatores importantes
como inflação, taxa de câmbio, política monetária e fiscal. É sabido que os países do BRIC não
tiveram um passado comprometido com esses aspectos, mas agora é o momento ideal para que os
governantes possam soltar as amarras que ainda prendem suas economias. O poder das
instituições também se faz necessário, mas nessa área os BRICs ainda devem se desenvolver. A
educação é outra grande preocupação, já que foi provado que o capital humano desempenha
papel importante no crescimento, dado que empregados mais instruídos tendem a ser mais
produtivos. Nesse ponto, os países do BRIC também devem apresentar melhores resultados.
Quanto à abertura econômica, os BRICs que abriram mais a sua economia conseguiram maior
prosperidade através de maiores níveis de exportação. Países em desenvolvimento têm capital e
tecnologia em escassez, e uma maior abertura econômica garante acesso ao capital e tecnologia
de países desenvolvidos, propiciando maior crescimento. Além disso, os mercados se expandem e
a competitividade aumenta, gerando maiores ganhos à população.

A análise de Jensen e Larsen (2004) aborda também outros fatores de crescimento dos
BRICs além dos abordados no modelo. Sobre o aspecto das instituições, citam o trabalho de
Rodrik (2004) sobre o crescimento econômico, que fala da necessidade de desenvolvimento e
manutenção de um bom ambiente institucional para que haja sucesso na sustentabilidade do
crescimento econômico no longo prazo. Segundo os autores, é importante então que os BRICs
aperfeiçoem as instituições, reformando o sistema judiciário, criando programas de educação e
saúde, desenvolvendo o sistema financeiro e a administração pública. Além disso, sugerem que o
20

desenvolvimento das instituições deve garantir políticas macroeconômicas que garantam


estabilidade e sejam capazes de diminuir os efeitos de choques externos, já que uma economia
instável acaba atrapalhando o processo de crescimento e sua sustentabilidade. Nesse ponto, os
BRICs então tem muito o que desenvolver em relação aos países ricos, afirmam os autores.

Ainda sobre outros aspectos não levados em conta no modelo, Amadeo (2008) faz uma
análise de quatro pontos relevantes que devem ser considerados quando desejamos medir de
algum modo essas diferenças entre os países do BRIC, quais sejam: direitos, regulação, reformas
e prioridades. O autor diz que os BRICs são economias que possuem pontos em comum em
alguns aspectos, como o tamanho da economia, que é grande, além de estarem passando por um
processo de relativa liberalização política e econômica, transitando de regimes autoritários para
democráticos e reduzindo de certa forma a intervenção do Estado, voltando-se mais para o
mercado. Contudo, há também grandes diferenças entre os países, que são discutidas abaixo.

A começar pelos direitos, podem ser divididos em dois grupos: direitos de propriedade e
direitos civis. Os direitos de propriedade fazem menção ao cumprimento correto das regras e
garantia da propriedade privada, enquanto que os direitos civis se referem ao respeito às
liberdades de expressão e organização política. O Brasil é, juntamente com a Índia, o que mais
respeita os direitos civis, mas não respeita tanto os direitos de propriedade como na China e na
Índia. A China, ao lado da Índia igualmente, é o que mais respeita os direitos de propriedade, mas
com relação aos direitos civis, se sai pior que Brasil e Índia. No extremo negativo está a Rússia,
que pouco respeita ambos os direitos. Sobre os resultados, o autor faz referência ao passado
democrático da Índia para explicar o bom desempenho quanto aos direitos. Já no caso da Rússia,
houve um passado de governos extremamente intervencionistas e autoritários, fazendo com que o
país tenha os dois tipos de direitos fracamente desenvolvidos.

Com relação à regulação, há dois aspectos importantes quando queremos medir a


liberalização: estabilidade das regras e menor burocracia por parte do Estado. O Brasil, apesar de
ainda possuir muita intervenção estatal e burocracia, é o país que possui a economia mais voltada
ao mercado e maior estabilidade das regras dentre os quatro países do BRIC. No caso da Índia, as
regras são estáveis, mas ainda há muita burocracia. A China se tornou uma economia mais
21

voltada ao mercado, com menos burocracia, mas as regras são menos estáveis. Novamente no
extremo negativo, a Rússia tem um governo altamente intervencionista, que interfere na
estabilidade das regras e na liberalização econômica.

As reformas adotadas pelos países são o terceiro aspecto analisado, no sentido de


aumentar o crescimento econômico e manter a estabilidade em suas economias. A Rússia é dessa
vez o extremo positivo: é o país que possui maior estabilidade e produto potencial, dado que tem
investimentos em infra-estrutura e educação. O Brasil optou por maior estabilidade na economia,
com instrumentos macroeconômicos como a Lei de Responsabilidade Fiscal e metas de inflação,
mas não investe tanto quanto a China e a Rússia. A China possui enorme quantidade de
investimentos, e é o país que possui maior crescimento entre os quatro países do BRIC, mas não
prioriza a estabilidade macroeconômica. No extremo negativo dessa vez encontra-se a Índia, com
baixos investimentos em infra-estrutura e educação e pouca estabilidade econômica devido à má
gerência das contas públicas.

Por último, Amadeo (2008) faz uma análise das prioridades de cada país. Segundo ele,
todos desejam crescer redistribuindo renda, mas dada a limitação de recursos, os governos têm
que escolher entre priorizar gastos com infra-estrutura ou com programas sociais. Nesse aspecto,
o Brasil preteriu investimentos em infra-estrutura, optando pelo social. A China fez o contrário,
optando mais por investimentos em infra-estrutura. Nos extremos encontram-se a Rússia do lado
positivo, com o melhor resultado entre os quatro países, e a Índia do lado negativo, com o pior
desempenho em relação a ambos os critérios.

Como foi visto pelos autores, os BRICs possuem características específicas e diferentes
experiências históricas. O consenso é de que ainda há muitos aspectos a melhorar para que os
BRICs atinjam a meta do crescimento sustentável e não apresentem um mero período de “milagre
econômico”. Os principais pontos problemáticos foram abordados de maneira bastante
convincente, e as soluções parecem bastante razoáveis. Medidas mal sucedidas podem levar os
BRICs a um rumo completamente distinto do previsto, mostrando a necessidade dos países em
levar essas análises em consideração antes da criação de novas políticas públicas e
22

macroeconômicas. Desvios de rota não são desejáveis, dada a enorme capacidade dos BRICs em
crescer e contribuir para a economia mundial.

1.5. NOVAS ESTIMATIVAS

Depois da criação do termo BRIC, muitos estudiosos passaram a utilizá-lo em seus


trabalhos. A discussão lançada pelo Goldman Sachs sobre esses poderosos emergentes atraiu a
atenção, e muitos questionamentos foram levantados sobre a real capacidade deles. Já foi dito que
as previsões feitas em 2003 eram bastante otimistas, e que dependeriam de várias mudanças
macroeconômicas e esforço político para que o crescimento se sustentasse. Em projeções refeitas
pelo Goldman Sachs no final de 2005 e em 2006, os países do BRIC provaram que o sonho vem
se tornando uma realidade, conseguindo superar as expectativas anteriormente feitas, dado o
cenário econômico mundial favorável, em parte devido ao crescimento dos BRICs. O gráfico 3
mostra as maiores economias do mundo em 2050 entre o G7, os BRICs e o N-11.

Gráfico 3 – PIB (estimado) dos BRICs, N-11 e G7 (US$ bilhões) em 2050

80000

70000
60000

50000
40000

30000
20000
10000
0
N ha

Fr ia
do a

Co a
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Re J a

ig

lip
U
m
o
ta
Es

Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Goldman Sachs.


23

Apesar dos outros emergentes apresentarem potencial, os BRICs acabam ultrapassando-os


em performance de crescimento. Segundo as novas projeções, em 2050 a China será a maior
economia do mundo, com a Índia na 3ª colocação, Brasil na 4ª colocação e Rússia na 6ª
colocação. Atualmente, o crescimento dos BRICs corresponde por mais da metade do
crescimento do G7.

O gráfico 4 e o gráfico 5 mostram as variações que ocorreram da estimativa feita em 2003


para a feita em 2006 para o ano de 2050. As diferenças entre as estimativas são consideráveis. O
PIB da China e do Brasil teve incremento significativo, enquanto a Rússia e a Índia ficaram um
pouco abaixo. O PIB brasileiro tem a melhor variação nas estimativas, alcançando quase 100%
de melhoria, o que mostra que o país conseguiu progressos no período entre as projeções. Ainda
que o cenário econômico mundial tenha favorecido demais para que as estimativas mudassem, a
atual crise não deve abalar muito os BRICs, já que eles souberam aproveitar o bom momento,
praticando políticas externas corretas para evitar este tipo de choque externo.

Gráfico 4 – Variação na estimativa do PIB entre 2003 e 2006, para o ano de 2050
2003 2006 Variação
80000 90
85
70000
80
60000 75
PIB (US$ bilhões)

70
50000
65 %
40000 60
55
30000
50
20000 45
40
10000
35
0 30
China Índia Brasil Rússia

Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Goldman Sachs.


24

Quanto à renda per capita, igualmente há uma melhora notável, acima de 50%, com
exceção da Índia que apresentou pouca melhora em comparação com os outros países do BRIC.
A Rússia melhorou sua projeção de renda per capita em quase US$ 30 mil, e o Brasil, que
anteriormente se encontrava abaixo da China, agora a ultrapassa em 2050, com pequena
vantagem. Os melhores desempenhos quanto ao aumento do PIB e da renda per capita foram do
Brasil, que quase dobraram.

Gráfico 5 – Variação na estimativa da renda per capita entre 2003 e 2006, para o ano de 2050
2003 2006 Variação
90000 100
80000 90
70000 80
60000
70
50000
US$

%
60
40000
50
30000
20000 40

10000 30

0 20
Rússia China Brasil Índia

Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Goldman Sachs.

A gigantesca interligação recente entre os mercados tem rompido com velhos


paradigmas, contribuindo para um maior crescimento através do aumento do comércio e
liberalização (National Intelligence Council, 2004, Comission on Growth and Development,
2008). O crescimento da participação dos BRICs na economia mundial continua crescendo, e o
comércio entre os países do BRIC também. O fluxo de capitais para os BRICs vem aumentando
significativamente, e os mercados de capitais foram valorizadas. Houve também uma maior
acumulação de reservas internacionais, que foi adquirida através do grande aumento nas
exportações. As reservas contribuíram na valorização das taxas de câmbio, e isso tem ajudado a
aumentar os níveis de crescimento dos BRICs.
25

O desafio futuro para os BRICs continua sendo aliar potencial com realidade, e isso só é
possível através de melhorias estruturais. O tamanho populacional é um fator importante, já que
ele é responsável pelos retornos de capital maiores que nos países desenvolvidos, e nisso os
BRICs se saem muito bem, mas não é o ponto essencial. O Goldman Sachs analisou então os
países do BRIC através de uma perspectiva diferente, um emaranhado de condições relevantes
para o crescimento sustentável, o chamado GES (Growth Enviroment Score). Estas variáveis são
consideradas relevantes, como já referido anteriormente, para o processo de crescimento
sustentável. São elas:
a) inflação (alta inflação desencoraja investimentos, dificultando o crescimento);
b) déficit governamental (pode causar inflação e instabilidade econômica);
c) dívida externa (aumenta o risco de crises no país e tende a elevar as taxas de juros reais,
o que trava os investimentos);
d) taxas de investimento (altas taxas de investimento contribuem para a acumulação de
capital, fator importante ao crescimento);
e) abertura econômica (economias mais abertas tendem a ser mais ricas, pois não
dependem só da economia local);
f) penetração de telefones, penetração de computadores, penetração de internet (medidas
de tecnologia que ajudam na automação e intercomunicação);
g) média de anos de educação secundária (como já dito anteriormente, mais educação
contribui para maior produtividade dos trabalhadores);
h) expectativa de vida (variável que se mostra positivamente correlacionada com
crescimento econômico);
i) estabilidade política (cria um clima de credibilidade necessário para que haja
investimentos);
j) direitos de propriedade (direitos de propriedade bem definidos tendem a elevar o
investimento e por conseguinte o crescimento econômico);
k) corrupção (que tem efeitos negativos ao crescimento).

Analisando cada país, O’Neill, Purushothaman, Stupnytska e Wilson (2005) chegam as


seguintes conclusões: O Brasil possui boa estabilidade política, expectativa de vida e penetração
tecnológica, mas tem baixos níveis educacionais, pouco investimento, alto déficit governamental
26

e pouca abertura comercial; a Rússia possui boa educação, penetração tecnológica, superávits
fiscais, abertura comercial e expectativa de vida alta, mas há alta instabilidade política; a Índia,
por sua vez, possui boa regulação e baixa inflação, mas possui pouca penetração tecnológica e
baixos níveis educacionais, além de pouca abertura; por fim, a China possui boa estabilidade
macroeconômica, altos índices de investimento, capital humano e abertura. O problema estaria na
corrupção e na penetração tecnológica, que está um pouco abaixo do esperado.

Como podemos ver pela análise, os países do BRIC tem semelhanças, mas também têm
necessidades distintas. Essas variáveis analisadas, apesar de representarem mais um bom
indicativo de crescimento, não são únicas na explicação do mesmo. Assim, os autores afirmam
que os BRICs estão fazendo o seu papel, mas ainda precisam se desenvolver mais para garantir
um futuro promissor.
27

2. CONVENCENDO O MUNDO

2.1. EVOLUÇÃO DOS BRICS

Até o fim de 2007, víamos um cenário de aumento do preço das commodities que
favoreceu bastante o crescimento dos BRICs, principalmente o Brasil, exportador de commodities
metálicas e a Rússia, detentora de grandes reservas de petróleo e gás natural. Outro fator
importante para o crescimento foi o nível de investimentos nos países. O ciclo de expansão passa
pelo setor público e privado. Com fortes superávits comerciais, os emergentes podem financiar
suas obras sem se endividar. O gráfico 6 mostra o nível estimado de investimento como
participação no PIB nos BRICs em 2007. China e Índia investem grande parte do PIB em infra-
estrutura, o que é típico de países em desenvolvimento, enquanto que Rússia e Brasil apresentam
níveis menores.

Gráfico 6 – Investimento dos BRICs em 2007 (% do PIB)


45

40

35

30

25

20

15

10

0
Brasil Rússia Índia China
Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos da Central Intelligence Agency World Factbook.
28

O gráfico 7 mostra como o crescimento real dos BRICs vem se comportando nos últimos
anos. A China apresenta um crescimento que não fica abaixo de 8%, e só vem crescendo no
período, terminando o ano de 2007 com quase 12% de crescimento. A Índia, a partir de 2002,
vem crescendo bastante, fechando 2007 com 9% de crescimento, uma grande diferença
comparando com 2000, que foi de apenas 4%. A Rússia apresentou um declínio até 2002, e
depois subiu o patamar de crescimento, ainda que oscilando entre 2004 e 2005, fechando 2007
com um pouco mais de 8% de crescimento. O Brasil apresentou crescimento mais baixo em
relação aos outros países, apresentando uma tendência de crescimento a partir de 2005, fechando
2007 com um pouco mais de 5% de crescimento.

Gráfico 7 – Crescimento real do PIB, 2000-2007 (Var. % a.a.)

Brasil Rússia Índia China

14

12

10

0
2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Deutsche Bank Research Country Infobase.

O gráfico 8 mostra a evolução das exportações no período, enquanto que o gráfico 9


mostra o desempenho das transações correntes como proporção do PIB. É interessante ver no
gráfico 8 que há um comportamento semelhante entre os quatro países. Há um declínio entre
2001 e 2002 com relação ao ano anterior, e depois todos os quatro países apresentam recuperação
fantástica, atingindo o ápice entre 2004 e 2005, exportando acima de 25% a mais que o ano
anterior. A partir daí o volume em porcentagem declina um pouco, mas as exportações continuam
29

crescendo, só que a taxas menores, ou seja, exporta-se mais em volume, mas menos em
proporção.

Gráfico 8 – Exportações, 2000-2007 (Var. % a.a.)

Brasil Rússia Índia China


45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
-5
-10
2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007
Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Deutsche Bank Research Country Infobase.

Pela análise das transações correntes do gráfico 9, somente a China vem apresentando
crescimento da conta corrente sobre o PIB. A Rússia e o Brasil apresentam um comportamento
semelhante de queda a partir de 2004, contudo o Brasil fica com o saldo em conta corrente quase
zerado como proporção do PIB, enquanto que a Rússia tem um volume acima de 5%. A Índia
vem apresentando déficits em conta corrente desde o final de 2004.

Ainda que os países venham a apresentar déficits na conta corrente, o volume de


investimentos externos crescentes que os BRICs recebem, como será visto adiante, conseguem
financiar esse déficit e equilibrar o balanço de pagamentos. Uma das causas para essas quedas em
transações correntes é o aumento das importações, que são necessárias a qualquer país que esteja
em desenvolvimento, que é o caso dos BRICs. Importando bens de capital de países
desenvolvidos, há um ganho de produtividade e progresso tecnológico, o que contribui para
acelerar a convergência entre os países.
30

Gráfico 9 – Transações correntes, 2000-2007 (% do PIB)

Brasil Rússia Índia China


20

15

10

-5
2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007
Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Deutsche Bank Research Country Infobase.

O gráfico 10 mostra a flutuação das taxas de câmbio para os países do BRIC frente ao
dólar. Enquanto as moedas estiveram desvalorizadas, as exportações cresceram, e a partir do
momento em que o câmbio começa a se apreciar, há redução no crescimento das exportações,
pois os produtos começam a perder um pouco de competitividade dado o aumento do preço
relativo.

Outro fator importante que advém da valorização cambial é a redução da dívida assumida
em moeda estrangeira, pois o volume de moeda doméstica que deveria ser destinado para o
pagamento diminui. Além do mais, uma moeda forte é sinal de políticas econômicas bem
administradas, e aumenta a riqueza e poder de consumo da população doméstica. O Real foi a
moeda que apresentou maior variação, enquanto que o Yuan (moeda chinesa) ficou praticamente
inalterado até a mudança de regime cambial em 2005, pois o governo mantinha a taxa de câmbio
artificialmente desvalorizada. O Rublo (moeda russa) e a Rupia (moeda indiana) têm o valor da
taxa de câmbio menor frente ao dólar, mas estão da mesma forma que as outras moedas
apresentando apreciação ao longo dos anos.
31

Gráfico 10 – Flutuação das taxas nominais de câmbio, 2000-2007

Real Yuan Rupia Rublo


50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
03/01/00

19/06/00

04/12/00

21/05/01

05/11/01

22/04/02

07/10/02

24/03/03

08/09/03

23/02/04

09/08/04

24/01/05

11/07/05

26/12/05

12/06/06

27/11/06

14/05/07

29/10/07
Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos da Bloomberg.

O gráfico 11 mostra como a inflação vem se comportando nos quatro países. Uma
inflação baixa e controlada evita distorções e é importante fator para o crescimento econômico
sustentável. Pela análise do gráfico, verifica-se que China e Índia são os países que apresentaram
as menores inflações em boa parte do período, e a Rússia sempre teve a maior inflação dentre os
quatro países. Ao final de 2007, a China, que possuía a menor inflação durante quase todo o
período, apresentou um aumento, possuindo agora a segunda maior, perdendo somente para a
Rússia, que tem uma inflação acima de 10%. O país com menor inflação em 2007 foi o Brasil,
ficando abaixo dos 5%.

Podemos atribuir o sucesso da redução das taxas de inflação no Brasil à adoção do regime
de metas para a inflação. De fato, dentre os BRICs, o Brasil é o único sistema no qual a
autoridade monetária adota todas as características formais do sistema de metas: ausência de
outra âncora nominal, comprometimento institucional com a estabilidade de preços, ausência de
dominância fiscal, independência de instrumentos e política transparente, que busca prestar
contas à sociedade.
32

Gráfico 11 – Inflação ao consumidor, 2000-2007 (Var. % em 12 meses)

China Brasil Rússia Índia


35

30

25

20

15

10

-5
jan/00

jan/01

jan/02

jan/03

jan/04

jan/05

jan/06

jan/07
Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos da Bloomberg.

O gráfico 12 mostra o volume de investimento direto externo líquido direcionado aos


BRICs. A necessidade de infra-estrutura de boa qualidade se faz necessária nos BRICs, para que
haja desenvolvimento econômico e social. Como a capacidade do governo de investir é muito
aquém do necessário, o investimento externo vem tendo papel fundamental no desenvolvimento
das economias emergentes, já que eles suprem as necessidades não atendidas pelos governos
(Unctad, 2008).

O investimento direto externo líquido é gigantesco na China, ultrapassando os 80 bilhões


de dólares, e vem desempenhando papel importante no crescimento chinês. Rússia e Índia
apresentam comportamentos semelhantes, ficando bem abaixo da China. Até 2005, o
investimento líquido não chegava a 10 bilhões de dólares nestes países, mas depois aumentou até
2007. O Brasil teve bom fluxo de investimentos, mas foi declinando, chegando até mesmo a ficar
negativo. De 2006 em diante o país teve novos fluxos positivos de investimento.
33

Gráfico 12 – Investimento direto externo líquido, 2000-2007 (US$ bilhões)

Brasil Rússia Índia China

100

80

60

40

20

-20
2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007
Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Deutsche Bank Research Country Infobase.

Pelo gráfico 13 podemos ver que a quantidade de reservas internacionais vem aumentando
nos quatro países. Essas reservas são importantes para que os países consigam cumprir seus
compromissos financeiros e monetários, garantindo liquidez à economia, além de proteger a
economia local contra choques externos. Como os BRICs pretendem garantir o crescimento
sustentável sem sofrer muito com abalos econômicos, eles praticam políticas monetárias para
adquirir reservas, ainda que, no momento, todos possuam regimes de câmbio flutuante. Um fator
que permitiu que os BRICs adquirissem reservas estrangeiras foi a valorização de suas moedas
frente a outras moedas.

A China lidera a acumulação bruta, ficando acima de US$ 1,5 trilhão. A Rússia, com seu
fundo advindo dos recursos do petróleo, conseguiu adquirir mais de US$ 400 bilhões. A Índia em
2007 possuía cerca de US$ 300 bilhões, enquanto que o Brasil fechou o ano de 2007 com quase
US$ 200 bilhões. Esses dados mostram que os BRICs estão com bastante reserva monetária em
moeda estrangeira para suprir eventuais necessidades extras de crédito da economia local e
impedir que crises que venham a atingir a economia mundial abalem profundamente a economia
local.
34

Gráfico 13 – Reservas internacionais, 2000-2007 (US$ bilhões, fim do período)

Brasil Rússia Índia China

1800
1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007
Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Deutsche Bank Research Country Infobase.

Ainda que a crise de liquidez que recentemente atingiu o mundo venha a repercutir nos
BRICs, eles continuarão recebendo investimentos externos, porém de forma menos intensa que
nos recentes períodos de extrema expansão econômica. De acordo com o World Investment
Report (2008), os BRICs estão entre os cinco países mais atrativos para investimentos no mundo.
Em duas pesquisas realizadas, o quadro permaneceu o mesmo entre 2007 a 2009, na primeira
pesquisa, e 2008 a 2010 na segunda pesquisa. A China aparece em primeiro, Índia em segundo,
Estados Unidos em terceiro, Rússia em quarto e o Brasil em quinto lugar.

O gráfico 14 mostra como a dívida externa bruta em proporção do PIB vem caindo em
todos os países. A acumulação de reservas, o investimento externo e os saldos em transações
correntes permitem que os países financiem parte dessa dívida. A China é o país que possui a
menor dívida externa em relação ao PIB, seguida por Brasil, Índia e Rússia, país detentor da
maior dívida externa em relação ao seu PIB. Este é um importante indicador, pois sinaliza que os
países estão conseguindo cumprir com seus compromissos externos e sanear as contas de alguma
forma, confirmando que as políticas macroeconômicas estão desempenhando seu papel de forma
ideal, pois com menos dívida para pagar, os recursos podem ser investidos em outras áreas, fora a
35

credibilidade internacional que é adquirida, importante para dar segurança aos investidores. Os
BRICs são, atualmente, credores externos líquidos.

Gráfico 14 – Dívida externa bruta, 2000-2007 (% do PIB)

Brasil Rússia Índia China


70

60

50

40

30

20

10

0
2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007
Fonte: Elaboração do autor com dados obtidos do Deutsche Bank Research Country Infobase.

2.2. RÚSSIA, ÍNDIA E CHINA

2.2.1. Rússia

A Rússia, após 1999, conseguiu se reerguer após um período de extrema recessão. O


crescimento econômico passou a apresentar índices bastante favoráveis. Com o presidente
Vladimir Putin, houve reformas no Estado e na economia. O rublo desvalorizado re-estruturou
vários setores produtivos, retomando a competitividade. O PIB aumentou consideravelmente,
juntamente com a renda. Os preços do petróleo e a queda nas importações, juntamente com a
criação de um fundo de estabilização, que taxa os barris de petróleo, ajudou o governo a financiar
os déficits, e o Banco Central russo conseguiu acumular grande quantidade de reservas em moeda
36

estrangeira, dado o superávit das exportações. No processo, as taxas reais de juros foram caindo,
e o consumo voltou a crescer (Goldman Sachs, 2007).

As projeções para a Rússia no longo prazo projetam que o país pode ser a maior economia
da Europa, e deve alcançar nível de vida semelhante ao dos países do G7. As novas projeções do
Goldman Sachs (2007) são melhores em relação às antigas na parte macroeconômica. Neste
quesito, A Rússia vai relativamente bem em relação a outros países em desenvolvimento, com
inflação abaixo da média, grande superávit fiscal devido aos preços do petróleo e possui o maior
PIB per capita entre os BRICs. O maior problema enfrentado na Rússia estaria então no âmbito
institucional.

De acordo com Ahrend (2004) e Beck, Mileva e Kamps (2007), o país irá crescer à taxas
elevadas, mas somente por alguns anos. A importância do petróleo para a Rússia é ainda
fundamental (mas vem perdendo participação em relação a outros setores produtivos) e o
crescimento ainda corre risco de ser influenciado por flutuações nos preços do petróleo, ou seja,
como o país ainda é bastante dependente do produto, apesar do recente resultado fiscal positivo
ser não dependente do petróleo.

Para Gianella (2007), o crescimento depende muito da administração correta do fundo de


estabilização criado para arrecadar fundos através do petróleo, que vem apresentando altas
constantes de preço. O autor diz que a inflação elevada causa impacto negativo nos
investimentos, freando o crescimento. Assim, uma política fiscal, administrada pelo uso do
fundo, agiria no sentido de diminuir a inflação e proteger a economia russa de possíveis
flutuações dos preços do petróleo, tornando-a estável e contribuindo para a sustentabilidade do
crescimento econômico.
37

2.2.2. Índia

O país de segunda maior população mundial, a Índia, desde a abertura de sua economia,
também vem chamando a atenção, com taxas de crescimento bastante altas. A Índia tem força de
trabalho com nível de educação bastante alto, e apresenta aumento na demanda por bens e
serviços, o que ajuda no crescimento. Nos últimos 20 anos, o país é um dos que mais cresceu,
mesmo sem muito crescimento na acumulação de capital e investimento estrangeiro, o que dá a
entender que o país pode crescer ainda mais, desde que consiga atingir certas expectativas, como
crescimento da poupança pública e privada, para aumentar os investimentos no país. Para que o
nível de poupança aumente, são necessárias então reformas no sistema financeiro, que vem
crescendo, e maiores rendas. A inflação está sendo contida devido à política de metas adotada
pelo Banco Central do país, o nível de reservas internacionais é alto e a dívida externa é baixa,
mas o déficit fiscal do país é um grande problema. Assim, no âmbito macroeconômico, a Índia
está relativamente bem, e tende a apresentar sustentabilidade do crescimento no longo prazo. Para
isso, é necessário que as políticas pró-crescimento continuem (Goldman Sachs, 2007).

Na análise de Rodrik e Subramanian (2004) para a Índia entre 2005 e 2025, através de um
modelo de crescimento, a acumulação de capital físico irá aumentar na Índia, dado o cenário
sendo considerado favorável, pois o nível de poupança doméstica e privada necessária para a
acumulação serão adequados. Este nível de poupança ajudará também nos investimentos no país.
Do outro lado, um fator que pode causar riscos ao crescimento indiano é o mesmo apontado no
trabalho do Goldman Sachs (2007), o enorme e maior déficit fiscal, comparado com os outros
países do BRIC. Os autores apontam também que o crescimento do país é melhor sustentado se o
setor privado tiver incentivos e interesse em investir no país.
38

2.2.3. China

País com a maior população do planeta, a China é hoje uma das maiores economias do
mundo. Passou de um sistema centralizado para uma economia mais aberta ao mercado nas
últimas décadas, aumentando a participação do setor privado, e hoje é apontada como o grande
país do futuro, e já desempenha papel fundamental na economia mundial. O país passou por
reformas gradualistas na implementação da liberalização, permitindo a entrada de capital externo
na economia. Como resultado, a China teve crescimento estrondoso do PIB desde que permitiu a
maior liberalização econômica. As projeções indicam que nos próximos anos o país continuará
crescendo a taxas bastante altas, e ultrapassará muitas economias ricas.

O cenário macroeconômico chinês é bastante favorável, possui o maior nível de reservas


em moeda estrangeira do mundo, as exportações estão crescendo e há grande fluxo de
investimento estrangeiro se direcionando ao país. Há grande demanda por commodities e
petróleo, o nível de investimentos domésticos é alto e o consumo vem aumentando. Para o
Goldman Sachs (2007), a taxa de câmbio nominal deve ser valorizada para acabar com as
pressões inflacionárias, ajudando assim no investimento doméstico e ajustando a demanda
internacional, fator pelo qual a China é altamente dependente, e há necessidade de reformas no
setor financeiro.

Kuijs e Wang (2005) tratam de dois cenários distintos para a China, obtidos através de
modelos, sendo que no primeiro há manutenção das atuais políticas econômicas. Nesse cenário,
para manter o crescimento acelerado, o país precisaria continuar investindo, na indústria, uma
quantia correspondendo a cerca de 55% do PIB, acarretando em menos recursos para o setor de
serviços. Na visão dos autores, esse cenário é impraticável. O segundo cenário, que seria
alternativo, com menores subsídios à indústria, apresenta maior balanço entre o crescimento
industrial e dos serviços, necessitando de menor acumulação de capital e volume de
investimentos em relação ao cenário anterior.
39

Para Maddison e Wu (2003), ao revisarem o PIB chinês utilizando uma metodologia


própria, concluíram que as estatísticas oficiais chinesas acabavam distorcendo o real crescimento,
pois usavam uma metodologia diferente da usada por outros países. Analisando diferentes
setores, chegam à conclusão que o setor de serviços tem maior impacto do que a indústria no PIB
chinês. Com os novos resultados obtidos por outro método, os autores acharam um produto e
crescimento um pouco menores que os oficiais, mas ainda assim expressivos.
40

3. BRASIL

3.1. UMA BREVE INTRODUÇÃO

Durante o período do regime militar no final da década de 1960 e década de 1970, o


Brasil vivenciou o chamado “milagre econômico”, com altas taxas de crescimento, dada a
enorme quantidade de capital externo que ingressava no país devido à maior liberalização e aos
grandes níveis de investimento do governo. Com os choques do petróleo, o Brasil não conseguiu
mais adquirir financiamento externo com a facilidade de outrora, e teve que sofrer um processo
de ajuste externo na década de 1980. A política adotada então foi fortemente contracionista, e o
país passou a transferir recursos ao exterior através do superávit que decorria da grande queda da
absorção interna. O investimento e a produtividade caíram e o estoque de capital e a infra-
estrutura depreciaram. A população, que havia passado por um período de crescimento
gigantesco e previa tempos áureos para o país agora vivenciava uma crise de escassez no país.

Apesar de terem sido décadas com perspectivas bem diferentes, ambas tinham um inimigo
em comum, que seguidamente era tema de discussão entre economistas na época: a inflação.
Vários planos e medidas econômicas foram adotadas para tentar corrigir o problema, mas se
mostraram ineficazes, e por vezes contribuíram para piorá-lo. Com a eleição do presidente
Fernando Collor de Mello, houve uma tentativa de maior abertura econômica através de
privatizações. Porém, as medidas antiinflacionárias não surtiam efeito.

Com a eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso em 1994, houve a


implementação do Plano Real, e mais adiante, em 1999, o país adotou medidas ortodoxas na
política econômica através de três pilares: metas de inflação, lei de responsabilidade fiscal e taxa
de câmbio flutuante. Seguido a isso, o país enfrentou choques externos: a crise na Rússia, no
México e dos tigres Asiáticos. Dadas essas crises, as medidas quase foram substituídas. Com a
eleição do presidente Lula em 2002, representante do Partido dos Trabalhadores, que possui
tendências esquerdistas, os investidores estrangeiros acreditaram que o governo iria abandonar a
41

ortodoxia e praticaria políticas populistas. O Real foi fortemente desvalorizado, juntamente com
outros ativos brasileiros.

O governo, porém, manteve as políticas ortodoxas anteriormente praticadas, e com a forte


expansão da economia durante os últimos anos, o país começou a ganhar credibilidade ao redor
do mundo. A demanda mundial aumentou significativamente, e aproveitando o câmbio ainda
desvalorizado, as exportações brasileiras atingiram níveis jamais vistos anteriormente. Com a
estabilidade sendo mantida, muito dinheiro passou a entrar no país através de investimentos
estrangeiros, e isso permitiu uma valorização da moeda nacional. A apreciação do Real
proporcionou ao governo adquirir reservas internacionais no valor de aproximadamente 200
bilhões de dólares, tornando o país credor líquido internacional, colaborando para o
amortecimento dos impactos de outras possíveis crises, pois acaba fornecendo moeda estrangeira
para manter a liquidez ou investir na economia. Além disso, contribui para reduzir a inflação e
permite que as empresas importem bens de capital estrangeiros a preços menores.

3.2. O POTENCIAL DE CRESCIMENTO BRASILEIRO

Dos quatro países do BRIC, um deles chamava menos a atenção até poucos anos atrás. O
Brasil apresentou taxas de crescimento bem inferiores em relação aos outros países do BRIC,
incitando dúvidas a respeito da real capacidade do país de conseguir honrar as expectativas. O
período inicial do governo Lula ainda trazia muita incerteza quanto às políticas econômicas, e
esse fato acabou sendo um agravante inicial. Mantido o compromisso do governo em continuar
com a política de longo prazo do governo anterior, a situação começou a mudar. O governo
passou a adotar medidas importantes para incentivar setores estratégicos, como o exportador, e a
investir mais em infra-estrutura, ainda que o nível esteja abaixo do desejado.

No trabalho de Purushothaman e Wilson (2003), os autores notaram que as projeções de


crescimento brasileiras feitas em 2003 para os próximos anos eram mais otimistas do que as
verdadeiras taxas de crescimento observadas no período, e que o país precisaria então de esforços
42

para alcançar um maior crescimento. O crescimento de 2003 realmente não chegava a empolgar.
Os autores consideravam as taxas de crescimento estimadas como muito otimistas, considerando
que o país não conseguiria atingi-las em tão pouco tempo. Os problemas que eram apontados na
época eram a menor abertura comercial em relação aos outros países do BRIC, o baixo nível de
investimentos e a alta dívida pública e externa, problemas estes que ainda persistem, como será
visto adiante, mas de forma menos grave. O principal motivo para um crescimento não tão
elevado quanto o dos outros países do BRIC é a política econômica de estabilização de longo
prazo. Dado o temor inflacionista, a manutenção das políticas macroeconômicas se faz
necessária. O investimento acaba não sendo tão elevado quanto o governo gostaria, e a taxa de
juros é extremamente controlada.

Desde o primeiro estudo de 2003, as melhorias da estabilização tiveram importante papel


no atual bom desempenho brasileiro. A inflação caiu nos últimos anos, dado o regime de metas;
as taxas de juros permitiram o ingresso de grande quantidade de capitais estrangeiros; a
valorização da moeda permitiu a aquisição de reservas; as exportações apresentaram recordes
históricos e o déficit público foi se reduzindo. O custo da aquisição da manutenção da
estabilidade foi os baixos índices de crescimento, devido ao gradualismo do plano. Apesar disso,
o país possui maior capacidade de crescimento. O plano de estabilização freou-o de certa forma,
mas não é o responsável direto por isso. A tabela 3.1 mostra alguns indicadores de crescimento
do Brasil.

Tabela 1 – Indicadores de crescimento brasileiro, 2000-2007


2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
PIB nominal (US$ bilhões) 643,1 553,5 505,71 552,24 663,55 881,75 1072,4 1313,6
PIB per capita (US$) 3700 3100 2800 3100 4000 4800 5700 6900
Investimento (% do PIB, preços correntes) 16,8 17 16,4 15,3 16,1 15,9 16,5 17,6
Crescimento real do PIB (var. % a.a.) 4,31 1,31 2,66 1,15 5,71 3,16 3,97 5,42
Inflação (var. % a.a., fim do período) 5,97 7,67 12,53 9,3 7,6 5,69 3,0 4,5
Fonte: Deutsche Bank Research Country Infobase, Banco Central do Brasil e Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística.

O PIB nominal de 2000 até 2003 caiu, e apresentou recuperação em 2004. De 2005 em
diante, o PIB apresentou maiores incrementos, mas o crescimento real ainda era baixo, com
exceção de 2003 para 2004, justamente o período que o PIB se recuperou. O PIB per capita
apresentou um aumento considerável de 2003 a 2007, mas ainda continua baixo, e esse indicador
43

por si só não diz muita coisa, já que a distribuição de renda brasileira é uma das piores do mundo.
A média do crescimento no período foi baixa, inferior a 3%. No ano de 2007, porém, o Brasil
cresceu mais do que 5%, o que era esperado, dado o excelente período da economia mundial e a
maior capacidade de crescimento do país.

Como visto no capítulo 2, o investimento é um fator importante incluso no modelo, um


dos catalisadores do crescimento. Um dos principais fatores que limita um maior crescimento
brasileiro é a baixa taxa de investimento. O país entrou num processo de crescimento sustentável
e o investimento é necessário para passar pelos gargalos da infra-estrutura. Oscilando entre 15% e
17% no período analisado, o investimento está aquém do ideal. A China e a Índia, por exemplo,
investem mais de 30% de seu PIB na economia. O Brasil, apesar das reservas de US$ 200
bilhões, ainda caminha a passos lentos.

O governo começou a se apoiar mais na iniciativa privada, justamente porque a


capacidade de investimento do governo é limitada: o BNDES é um grande fomentador de
recursos do governo, mas há também um crescimento dos fundos privados. Há recursos, mas é
preciso melhorar a capacidade gerencial do governo, principalmente na parte fiscal, como será
visto adiante. A ineficiência e burocracia do governo (Amadeo, 2008), muitas vezes delongam
obras. O Brasil vem visivelmente avançando, e deve investir um volume maior nos próximos
anos (Ministério da Fazenda, 2008), mas o desempenho ainda é insatisfatório quando comparado
ao dos outros BRICs.

A taxa de juros real, que era extremamente alta durante a primeira fase do Plano Real,
caiu bastante em comparação a períodos recentes (Ministério da Fazenda, 2008), expandindo o
investimento e o crédito. O demasiado controle anti-inflacionário mostra que o governo trata
deste assunto com seriedade, e visa manter a estabilidade de preços. Inflação baixa é base para a
estabilidade econômica. Um país carente de reformas estruturais, com um Estado maior do que
sua economia pode suportar e ainda com muitos gargalos de infra-estrutura a solucionar não pode
sonhar com crescimento sem inflação. Assim, um pequeno aumento na inflação não deve ser tão
mal visto pelos agentes econômicos. Atualmente, o custo envolvido para manter a inflação baixa
é aceito pela população.
44

Pelo lado externo, o Brasil vem apresentando bons resultados. O grande volume de
investimento externo cria uma posição de robustez frente aos choques externos e contribuem para
a diminuição da dívida externa, além de financiar possíveis déficits em transações correntes. Os
saldos positivos mostram que a indústria brasileira está mais competitiva e produtiva, e pode
fazer frente aos concorrentes internacionais. Isso pôde ser obtido graças a incentivos ao setor
exportador, como isenção de tarifas (Bonelli e Pinheiro, 2007), uma política que deveria também
ser praticada em outros setores produtivos não-exportadores no Brasil. Ainda que as exportações
tenham aumentado, elas ainda estão, em proporção, abaixo da China e Rússia, que se mostram
mais abertos ao comércio exterior. O Brasil conseguiu avanços na área externa, mas ainda deve
procurar diminuir barreiras comerciais para abrir ainda mais a economia, pois este é um dos
fatores que ajudam no crescimento. A tabela 3.2 mostra alguns dados do setor externo brasileiro.

Tabela 2 – Indicadores externos da economia brasileira, 2000-2007


2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Exportações (US$ bilhões) 55,1 58,3 60,4 73,2 96,7 118,5 137,8 160,6
Exportações (variação % a.a.) 14,8 5,7 3,7 21,1 32,1 22,6 16,3 16,6
Balança Comercial (US$ bilhões) -0,7 2,7 13,2 24,9 33,8 44,9 46,5 40
Conta Corrente (US$ bilhões) -24,3 -23,2 -7,6 4,17 11,67 14 13,6 1,5
Conta Corrente (% do PIB) -3,8 -4,2 -1,6 0,8 1,8 1,6 1,3 0,13
Investimento Direto Externo líquido (US$ bilhões) 30,5 24,7 14,1 9,9 8,7 12,5 -8,5 27,6
Reservas Internacionais (US$ bilhões) 32,4 35,6 37,5 48,8 52,5 53,2 85,2 179,4
Dívida externa bruta (US$ bilhões) 236 210 210,7 215 201,3 169,5 172,5 193,5
Dívida externa bruta (% do PIB) 33,6 37,9 41,8 38,8 30,3 19,2 16,2 14,9
Fonte: Deutsche Bank Research Country Infobase e Banco Central do Brasil.

As exportações mais do que dobraram no período analisado, mostrando que o setor


exportador brasileiro está mais forte e competitivo internacionalmente. A balança comercial
apresentava déficit em 2000, com o volume de importações ultrapassando o de exportações. Com
a desvalorização da taxa de câmbio, o volume de exportações passa a superar o de importações
em grande quantidade. Em 2007, porém, observou-se uma queda no saldo da balança comercial,
pois dessa vez, com o câmbio valorizado, o volume de importações cresceu, o que não é
indesejável. A conta corrente passou a apresentar superávit em 2003, e em 2007 apresentou uma
queda acentuada em relação a 2006, devido à redução do saldo da balança comercial e do
aumento das despesas com rendas e serviços.
45

As reservas internacionais aumentaram drasticamente no período e o investimento direto


externo líquido cresceu consideravelmente nos últimos anos, o que permite o financiamento de
possíveis déficits em transações correntes. A dívida externa bruta vem caindo como proporção do
PIB, ainda que tenha aumentado em valor bruto em 2006 e 2007. Essa queda, em proporção,
mostra que o país está gerando mais recursos para poder pagar a dívida externa, e a capacidade de
honrar seus compromissos externos é bem vista pelos investidores.

A política de acumulação de reservas internacionais visou diminuir a vulnerabilidade de


nossa economia, que, até 2002, nos sujeitou a freqüentes crises, com muitos efeitos danosos. Tal
acumulação nos últimos anos, período no qual ocorreu significativa apreciação cambial, acabou
constituindo operação financeira bastante onerosa aos cofres públicos, pois se bancou títulos do
Tesouro dos Estados Unidos em dólares - que perderam valor frente ao real - um ativo que pouco
rendeu, com um passivo caro, a dívida pública em reais. Assim, seu custo deve ser interpretado
como a compra de um seguro contra crises. Por outro lado, uma acumulação demasiada,
sobretudo quando seu custo é grande, pode não ser recomendável.

De acordo com o trabalho de Bonelli e Pinheiro (2007), o país conseguiu aumentar as


exportações devido a uma taxa de câmbio mais competitiva, maior grau de liberdade da economia
(privatizações e investimento externo), subsídios governamentais, cenário mundial favorável e
eliminação de preconceitos com o setor exportador, principalmente com o setor exportador
agrícola. Apesar do país ainda estar relativamente pouco aberto economicamente, o aumento das
exportações foi responsável por 80% do crescimento do PIB no período de 2001 a 2005, e fez o
Brasil aumentar sua participação nas exportações mundiais, mostrando que o país já é uma
economia mais importante a nível global.

Na visão de Moreira (2004), o crescimento lento do Brasil vem ocorrendo devido à


limitada abertura econômica brasileira. O autor argumenta que o comércio exterior favorece o
aumento de importação de capital, o que leva conseqüentemente ao aumento da produtividade.
Segundo o autor, os ganhos com o comércio internacional estão ligados a uma política
macroeconômica brasileira desfavorável, discordando, portanto, da visão dos outros autores. O
Brasil, ao se proteger demais, adota taxas proibitivas de importação em relação aos outros países
46

em desenvolvimento – incluindo os do BRIC – o que acarreta em perdas, se compararmos com os


cenários em que há maior liberalização.

A dívida líquida do setor público consolidado engloba a União, os Estados, Municípios e


empresas estatais. É considerada por analistas um dos principais indicadores das economias, pois
indica a capacidade de pagamento de um governo. A necessidade de financiamento externo
aumentou o déficit público e a dívida externa durante os choques do petróleo e durante o Plano
Real, que elevou os juros a níveis elevados para estimular a entrada de capitais, necessários para
adquirir as reservas internacionais que mantinham o Real valorizado. Uma dívida pública muito
alta é um fator agravante ao crescimento. A tabela 3.3 mostra indicadores de finanças públicas
brasileiras.

Tabela 3 – Indicadores de finanças públicas brasileiras do Setor Público consolidado (% do PIB), 2000-2007
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Dívida interna líquida 36,54 38,85 37,48 41,66 40,17 44,14 47,38 51,68
Dívida externa líquida 9 9,59 12,99 10,69 6,82 2,33 -2,66 -9,01
Dívida total líquida 45,54 48,44 50,46 52,36 46,99 46,47 44,72 42,67
Resultado primário 3,24 3,35 3,55 3,89 4,18 4,35 3,86 3,97
Resultado nominal -3,37 -3,29 -4,17 -4,65 -2,43 -2,96 -3 -2,26
Fonte: Banco Central do Brasil.

Parte do aumento da dívida interna pode ser vista como um custo necessário a ser cobrado
para a manutenção das reservas em moeda estrangeira, fundamentais para que o país passe uma
imagem de credibilidade aos investidores estrangeiros que aqui pretendem investir capital
privado. A dívida líquida total do setor público consolidado vem caindo como proporção do PIB
ao longo dos anos, porém o que contribui para essa queda é a dívida externa líquida, pois a dívida
interna líquida vem crescendo no período. Medrano, Mendonça e Sachsida (2008) analisam os
efeitos de maiores gastos públicos do governo na economia brasileira. Os autores verificam que
enquanto o gasto privado aumenta devido a eles, há também uma espécie de efeito crowding out
devido ao aumento de juros causado pelo incremento dos gastos públicos, diminuindo o
investimento privado.

Quanto ao resultado fiscal, o governo vem adquirindo superávits primários relevantes,


porém há um déficit nominal, mesmo com a enorme carga tributária brasileira, devido ao
47

pagamento de juros. Contudo, o déficit nominal vem caindo ao longo dos anos, o que mostra
relativamente uma boa gerência do governo em diminuí-la, dada a política fiscal praticada
considerada ineficiente em alguns aspectos. Segundo o Goldman Sachs (2007), a principal causa
para o baixo crescimento está na política fiscal do governo, e é aí que o governo deve atacar. O
estado brasileiro cresceu demais, gastando muito. Para financiar isto, a carga tributária brasileira
teve que aumentar muito, ficando em torno de 36% do PIB em 2007, um valor muito acima de
outros países em desenvolvimento. O setor produtivo acaba arcando com uma quantidade muito
grande de impostos, quando o ideal seria que o governo usasse os recursos adquiridos com os
superávits comerciais para poder reduzí-los em parte, desonerando o processo produtivo.

Ainda que o plano de estabilização, com a Lei de Responsabilidade Fiscal, consiga


superávits primários (financiado principalmente pelo aumento dos impostos), o volume dos
mesmos não vem sendo suficiente para diminuir a dívida interna líquida na mesma proporção,
pois ela cresce mais do que o superávit. Como pode ser visto na tabela 3, a dívida pública interna
líquida está crescendo, enquanto que a dívida pública externa líquida contribuiu para que a dívida
pública total líquida tivesse decréscimo. Então, os recursos do governo que poderiam ser
destinados ao investimento em infra-estrutura acabam sendo utilizados para pagar a crescente
dívida interna brasileira. Com menos investimento público, a infra-estrutura deprecia, e a
produtividade acaba diminuindo. Porém, assim como a dívida externa líquida, os déficits
nominais estão reduzindo, e essas reduções que estão ajudando para a diminuição da dívida
externa total líquida do setor público consolidado.

Hausman, Rodrick e Velasco (2006) dizem que o problema brasileiro está no baixo nível
da taxa de poupança doméstica, que é muito baixa em relação ao PIB, e isso acaba encolhendo o
crescimento. Assim, o Brasil vem utilizando poupança externa para financiar o crescimento e
eleva as taxas de juros para remunerar a poupança doméstica. Isso mostra um conflito entre alta
demanda por investimento e baixos níveis de poupança, e então seria necessário aumentar a taxa
de poupança doméstica. Porém, conseguir aumentá-la seria difícil, pois o governo brasileiro tem
muitas despesas com encargos e uma carga tributária que já é excessiva demais. Esta, por ser
muito alta, deveria gerar uma grande quantidade de recursos para o investimento. Mas, aliada à
baixa taxa de investimento, a alta carga tributária mostra que o país administra muito mal a
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política fiscal, pois gasta mais do que o necessário com o social para um país em
desenvolvimento, reduzindo os recursos disponíveis ao setor privado.

Os recursos arrecadados não são usados para aumentar a poupança doméstica, e o efeito
positivo das altas taxas de juros para a poupança privada é anulado pelo efeito negativo sobre a
poupança doméstica, pois aumenta o custo da dívida pública, e isso obstrui o crescimento. O alto
grau de rigidez do gasto público, dominado por despesas previdenciárias e com pessoal gera
necessidade de superávits primários. Ao mesmo tempo, o espaço para aumento de impostos é
praticamente inexistente, e a capacidade de redução significativa do gasto público restrita. Para os
autores, seria necessário então, para aumentar a poupança doméstica, reduzir o desperdício
gerado pela má política fiscal cortando gastos com pessoal e encargos. Isso possibilitaria uma
redução da taxa de juros, contribuindo para amenizar os gastos com a dívida pública (Hausman,
Rodrick e Velasco, 2006).

A tabela 4 mostra os gastos realizados do governo consolidado. É possível verificar que as


despesas correntes cresceram mais rápido que as despesas de capital, sendo as despesas com
pessoal e encargos sociais e outras despesas correntes as responsáveis por esse aumento. Nas
despesas por função, os maiores gastos sociais são com a previdência social, e uma reforma nessa
parte seria necessária para corrigir o problema da insuficiência de poupança pública (Hausman,
Rodrick e Velasco, 2006). As considerações de Amadeo (2008) sobre as prioridades de cada país
do BRIC também apontam o problema de falta de investimento e excesso de gastos sociais no
Brasil.

Tabela 4 – Despesas realizadas do setor público consolidado brasileiro (R$ bilhões), 2000-2007
Despesa 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Despesas correntes 435,40 503,07 574,97 671,51 753,86 863,89 1.026,21 1.141,53
Pessoal e encargos sociais 213,22 219,08 198,81 227,16 248,38 259,06 293,86 339,24
Juros e encargos da dívida 47,43 63,32 66,92 79,39 88,59 105,95 168,64 158,60
Transferências correntes 35,13 39,70 - - - - - -
Outras despesas correntes 139,62 180,97 309,24 364,96 416,89 498,88 563,71 643,69
Despesas de capital 398,41 340,36 373,68 529,56 511,07 633,82 601,87 597,71
Investimentos 27,41 33,37 34,09 29,67 37,91 45,40 57,26 72,87
Inversões financeiras 16,79 24,52 26,66 27,40 26,56 28,10 33,36 38,29
Transferências de capital 1,36 1,24 - - - - - -
Total 833,81 843,43 948,65 1.201,07 1.264,93 1.497,71 1.628,09 1.739,24
Fonte: Ministério da Fazenda/Secretaria do Tesouro Nacional.
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Blanco e Herrera (2006) mostram que aumento dos gastos públicos, quando investidos na
infra-estrutura, tende a beneficiar a economia brasileira. A carga tributária, pelo contrário,
quando aumenta, tem um efeito negativo sobre a economia. Por isso, os autores alertam para que
o governo não financie o investimento público através do aumento de gastos, pois isso levaria a
um aumento dos impostos. Seria necessária então uma revisão da composição dos gastos
governamentais, analisando aonde se encontra a maior proporção, para realocar parte desses
recursos para o investimento público.

Para Cerisola e Singh (2006), apesar do consenso de que ineficiências fiscais prejudicam
o crescimento, a rigidez orçamentária torna difícil que reformas no sistema fiscal sejam feitas. No
Brasil, as causas da rigidez provêm de grandes transferências para estados e municípios e das
receitas que tem destino específico e não podem ser utilizadas em outras áreas, pois a legislação
não permite. Assim, mesmo que uma área determinada esteja necessitando muito de recursos, as
receitas que já tem destino específico não podem ser usadas para essas áreas necessitadas, o que
torna a política fiscal pró-cíclica e resistente à redução de gastos. Ou seja, nos momentos
favoráveis do ciclo econômico, a política fiscal é expansionista (pois se gasta mais devido à parte
que tem destino específico, que é proporcional à receita do governo), enquanto que nos períodos
desfavoráveis do ciclo a política fiscal é contracionista. Tal fenômeno gera perdas de eficiência
na economia e redução do nível de investimento privado. Com isso, a própria taxa de crescimento
de longo prazo do produto é negativamente afetada. Os autores sugerem então que, para melhorar
a situação do problema fiscal, o governo deve diminuir a carga tributária e promover reformas
fiscais que diminuam essa rigidez orçamentária para ajudar no crescimento. Estas reformas
dariam ao governo mais recursos para serem alocados em investimento e educação de melhor
qualidade para o maior desenvolvimento.

Outro problema resultante da carga tributária excessiva é o crescimento da informalidade,


pois os agentes visam evitar a necessidade de pagar impostos. Estudo da McKinsey&Company
(2004) afirma que a informalidade no Brasil é tratada como problema social, quando deveria ser
um problema econômico. Ela é responsável por queda no crescimento econômico, sendo que se
as barreiras à formalidade fossem combatidas, esse problema iria desaparecer. O problema da
informalidade está ligado à baixa produtividade, que, por conseguinte, leva a um menor
50

crescimento, pois ela é um dos fatores determinantes do modelo visto no capítulo 2. Como o
Brasil já está inserido num contexto mais estável, ao ser eliminada a informalidade, a
produtividade brasileira teria um grande salto, diminuindo as diferenças em relação aos países
desenvolvidos, contribuindo para consolidar ainda mais a estabilidade econômica e incentivar o
crescimento do investimento privado.

O Trabalho de Bacha e Bonelli (2004) procura entender quais os motivos para a tendência
declinante do crescimento brasileiro que ocorre desde o início da década de 1980, analisando os
fatores que podem ter levado a queda no rendimento da economia. Verificam que há uma
aparente correlação entre acumulação de capital e o crescimento do PIB, ainda que o PIB flutue
mais abruptamente em relação à acumulação de capital. A seguir, tentam explicar o que teria
causado a queda na acumulação de capital nas ultimas décadas, concluindo que o nível de
poupança apresenta pouca correlação com a acumulação de capital, sendo um fator que não
explica por si só esta queda.

Então, investigam outros fatores, que são o nível de utilização da capacidade, o preço
relativo dos bens de investimento e a razão entre produto e capital em uso. Conforme a análise,
estes fatores são relevantes na determinação da queda do crescimento do PIB. O preço relativo
dos bens de investimento no Brasil cresceu muito em relação ao mundo, mesmo após o período
de estabilização de preços, e o nível de utilização da capacidade decaiu. Desde a década de 1980,
o Brasil parece não conseguir voltar à plena capacidade da indústria, apresentando uma média de
7.6% de ociosidade até 2002. Causas para essa queda, na visão dos autores, seriam o grande
aumento da dívida pública e externa e o aumento explosivo da carga tributária, causando um
aumento da informalidade, o que levaria a uma queda da produtividade e do crescimento
(McKinsey&Company, 2004).

Para verificar o potencial de crescimento brasileiro, as variáveis são observadas através de


dois modelos: o modelo AK, onde a acumulação de capital é a única variável que explica o
crescimento, e o modelo Solow-Swan, que inclui o nível de emprego na economia e a
produtividade total dos fatores. De acordo com o modelo AK, pela perspectiva da acumulação de
capital, com capacidade de utilização e razão produto-capital constantes, o crescimento brasileiro
51

ficaria por volta de 2.1%. Pelo modelo Solow-Swan, o potencial de crescimento no estado
estacionário ficaria por volta de 4.3%.

Algumas considerações dos autores sugerem que, com uma capacidade de utilização
maior da indústria, e uma inflação controlada, a demanda cresce, e mantidas as outras variáveis
constantes, a acumulação de capital cresceria. De outra forma, se o preço do investimento caísse
a níveis semelhantes aos da década de 80, o que seria possível por incentivos à importação de
bens de capital mais produtivos, a acumulação de capital poderia crescer ainda mais. Aliado a um
aumento da poupança, não seria difícil conseguir uma taxa de acumulação de capital que fique
perto da proporção estimada pelo modelo Solow-Swan. Para que o crescimento aumente ainda
mais, seria necessário adotar medidas como maior liberalização, investimento em capital
humano, reformas fiscais, dentre outros.

Durante o período do Plano Real, o baixo nível de poupança foi a principal causa do baixo
crescimento, enquanto que o aumento da capacidade de utilização da indústria contribuiu para
que o índice não fosse ainda menor. O governo de Fernando Henrique Cardoso tentou acabar
com o aumento dos preços dos bens de investimento e o declínio da acumulação de capital,
aumentando a capacidade de utilização da indústria. Apesar do aumento das importações e
privatizações, que aumentaram a produtividade, o crescimento não aconteceu, pois a acumulação
de capital foi interrompida devido aos choques externos que o país teve que enfrentar. Porém, a
estabilidade ajudou o país no bom momento vivido durante a bonança da economia mundial
(Bacha e Bonelli, 2004).

São da mesma opinião Adrogué, Cerisola e Gelos (2006). Para os autores, as reformas que
aconteceram já no período da metade da década de 1990, como a adoção do Plano Real para
combate à inflação, ajudaram a manter a estabilidade de preços e do setor financeiro. Isto, junto
com a política macroeconômica que foi introduzida em 1999, serviu como sustento e contribuiu
no aumento do crescimento brasileiro até 2004. Os autores ainda dizem que o custo do
investimento, dado a alta taxa de juros, e o gasto excessivo do governo com encargos e
programas sociais ineficientes são fatores que contraem o crescimento econômico.
52

Para Bonelli e Pinheiro (2005), o Brasil demorou a fazer reformas de mercado, mas
eventualmente conseguiu superar isso de forma gradual, e até mesmo superou os outros países da
América Latina com as privatizações. O Plano Real ajudou para aumentar a produtividade, mas a
taxa de poupança não evoluiu, e a acumulação de capital apresentou um resultado muito aquém
do esperado. Os autores dizem que o custo do investimento é uma das principais causas, sendo
que o que aumenta o custo é o setor financeiro brasileiro, pois a falta de crédito apropriado de
longo prazo para o investimento acaba elevando o seu preço, o que acaba freando o crescimento.
Ainda, o setor financeiro tem uma contribuição muito pequena para o crescimento, pois há
barreiras que impedem um melhor financiamento, como a grande dívida pública brasileira, que
leva a uma preferência por investimentos de curto prazo, e a carga tributária excessiva, que
aumenta a informalidade. Para que a situação se resolva, seria necessário então reduzir impostos
que incidem sobre o setor financeiro, promover maior competição entre os bancos e prover
crédito de longo prazo a pequenas empresas. Isso garantiria que os recursos da poupança seriam
direcionados ao investimento, que é necessário ao crescimento.

Sintetizando a análise do Goldman Sachs (2007), para aumentar o crescimento, o Brasil


deverá ser mais ousado, adotando reformas e políticas que visem expandir a capacidade de
crescimento brasileira. É preciso então reformar a política fiscal, reduzindo a carga tributária e
revendo as alocações dos recursos, que são ineficientes; aumentar as taxas de poupança
doméstica e investimento, principalmente em infra-estrutura; diminuir barreiras protecionistas;
aumentar a produtividade através da melhoria da educação e reformas das instituições. Desde a
queda do crescimento populacional, o crescimento brasileiro tem vindo da acumulação de capital
e produtividade. Se o Brasil continuar com os atuais baixos índices de investimento e poupança,
dificilmente as taxas de crescimento do país continuarão entre 4% e 5% ao ano.

Num relatório desenvolvido pelo Ministério da Fazenda (2008), são apontados diversos
dados que visam provar a sustentabilidade econômica do país no longo prazo. O relatório destaca
que o Brasil cresce de um jeito equilibrado, com menores desigualdades, impulsionado pelo
mercado interno e comércio exterior. Outros pontos que são considerados:
a) baixa vulnerabilidade externa, com superávits comerciais, aumento das reservas
internacionais e diversificação dos parceiros;
53

b) baixa vulnerabilidade monetária, com inflação controlada e mais baixa que a maioria
dos outros emergentes;
c) responsabilidade fiscal, com seguidos superávits fiscais e queda no déficit nominal
(tendendo a zero) e da dívida pública em proporção ao PIB;
d) crescimento mais vigoroso do Brasil, com PIB, consumo e investimento crescendo
seguidamente e setor financeiro desenvolvido.

Ainda, o relatório mostra que o país está muito menos vulnerável a crises devido a esses
pontos discutidos acima. Seguindo a mesma linha de raciocínio dos outros trabalhos discutidos, o
que deve ser feito, pela ótica do Ministério da Fazenda, é reduzir a carga tributária, controlar os
gastos correntes (que, como visto antes, são muito grandes), aumentar o investimento em infra-
estrutura e fazer uma reforma tributária, política e previdenciária (outro ponto que foi discutido
anteriormente, é o maior gasto do governo na parte social, mostrando que uma reforma nessa
parte é fundamental, já que a população idosa no país deve crescer muito, e o atual sistema onera
demasiadamente as contas públicas).

Apesar de todos os problemas que o Brasil enfrenta e que deverá continuar enfrentando, o
interesse no país cresceu muito. Até o final do primeiro semestre de 2008, ele vinha sendo alvo
de grandes volumes de investimento externo, sendo o último país dos BRICs a receber o
investment grade, confirmando que as políticas macroeconômicas de cunho ortodoxo estão
surtindo efeito no sentido de criar um ambiente confiável para investimentos externos no país, o
que acaba contribuindo, junto com outros fatores, no crescimento. O investment grade cria para o
país acesso a algumas oportunidades novas, principalmente ao dinheiro dos fundos de pensão
estrangeiros. As empresas que se apresentam no mercado internacional de crédito vindo de um
país que é investment grade conseguem captar recursos a taxas mais baixas. Isso viabiliza novos
investimentos para as empresas brasileiras, fazendo com que ganhem em competitividade.

A situação atual do Brasil é decorrente de uma evolução institucional, política, financeira


e macroeconômica incentivada pelo setor privado, pela expansão econômica e aumento de
liquidez internacional recente e também pelo governo, ainda que não haja tanto investimento em
infra-estrutura como deveria haver no país. O nível de atividade aumentou e agora o país é visto
54

como uma democracia estável. Os bons fundamentos da economia brasileira, de baixa inflação e
estabilidade política, formam a base para o crescimento.

O trabalho de Cunha, Bichara e Prates (2008) diz que o país adquiriu o grau de
investimento tardiamente, mas mostra que a estabilidade macroeconômica que vem se mantendo
no país e todas as melhorias apresentadas nos últimos anos refletem o bom momento da
economia brasileira, e agora, sob a base da estabilidade, o desafio do país é elevar o crescimento.
Este, que antes era na média abaixo de 2.5% ao ano, agora está entre 4% e 5% ao ano,
confirmando que a estabilidade está propiciando resultados positivos. Ainda que esteja abaixo
dos outros países do BRIC, esse crescimento é mais sustentável no longo prazo, ou seja, ele deve
ser mantido nesse mesmo nível durante um bom tempo, enquanto que os outros países integrantes
do BRIC tendem a desacelerar o crescimento no mesmo período.
55

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O fato de o modelo ter previsto que os BRICs estarão entre as maiores economias do
mundo em 2050 não significa que de fato isso ocorrerá. Há algumas décadas, parecia irreal que
eles conseguiriam alto crescimento de forma sustentável, já que houve casos em que outros países
com grande potencial, como os BRICs, acabaram parando no tempo, não confirmando-o. Porém,
atualmente, a economia está muito mais globalizada, e isso permite que países emergentes
consigam incorporar tecnologias de países desenvolvidos de forma muito mais rápida, acelerando
e sedimentando o crescimento, diminuindo as diferenças em relação aos países desenvolvidos ao
longo do tempo. O conhecimento e a informação fluem com maior rapidez, aumentando a
eficiência e produtividade dos trabalhadores. As rápidas vias da integração transmitem
voluptuosos recursos que são investidos na economia, o que melhora a infra-estrutura e, por
conseqüência, incrementa a renda e qualidade de vida da população.

Os BRICs, nesse aspecto, estão investindo boa parte do PIB na economia, mantendo um
ambiente macroeconômico favorável que vem, por enquanto, a confirmar as expectativas criadas
a seu respeito. Ainda que haja certa desconfiança envolvendo estes países, as atuais medidas
tomadas por eles para manter o crescimento torna as oportunidades de investimento atrativas, já
que uma onda de consumidores está por vir. Todos os quatro países adquiriram o investment
grade, mostrando que há progressos em suas respectivas economias. Contudo, os desafios que
devem ser enfrentados por esse grupo de emergentes são grandes, e requerem esforços políticos
para que sejam combatidos da melhor maneira possível. Atuar com firmeza em áreas críticas
através de reformas e/ou políticas públicas já se faz necessário para evitar incômodos futuros e
garantir o crescimento e desenvolvimento sustentável.

O tempo irá dizer se as previsões irão se concretizar. Fato é que os países estão no
caminho certo e, se as reformas adequadas forem feitas, mudanças drásticas a nível nacional,
regional e mundial poderão ser vistas. O poderio da ascensão dos emergentes implica na
necessidade de rever o atual rumo da política e economia internacional. Com o mundo cada vez
mais integrado, o impacto causado por essas novas forças econômicas pode mudar radicalmente o
56

cenário geopolítico. Se os BRICs resolverem usar seu enorme poder de influência para agir
coletivamente, podem moldar um novo formato ao mundo, e este é um motivo fundamental para
que ações coordenadas sejam direcionadas à esforços pacíficos durante a jornada à consolidação
de suas economias. Com Brasil, Rússia, Índia e China se integrando ao grupo das grandes
economias, além de haver maior oportunidade de desenvolvimento aos seus países vizinhos, se
dividirá o ônus das decisões relevantes sobre o mundo entre mais países, que hoje é incumbido a
poucos países desenvolvidos.

Quanto ao Brasil, o país já apresentou crescimento elevado, chegando a ser chamado de


“país do futuro” durante a década de 70, mas não conseguiu manter a estabilidade econômica
para sustentar o crescimento nos anos que se seguiram. Hoje, contudo, o país está sob políticas
macroeconômicas muito mais favoráveis e estáveis do que algumas décadas atrás. Recentemente,
o país apresentou índices de crescimento menores em relação aos outros países do BRIC dado os
ajustes graduais que foram efetivados em 1999 e continuaram sendo praticados durante o governo
Lula. Porém, isso não é motivo para descrer no futuro promissor do país como potência mundial.

O Brasil é o país mais estável dos BRICs. A política de estabilização é requisito


necessário para o crescimento sustentável. Ela está propiciando ao país inflação baixa, grande
volume de exportações, taxa de câmbio apreciada e um cenário de credibilidade pelas melhorias
relativas na área fiscal, garantindo a conquista do investment grade, que garante a segurança
necessária aos investidores estrangeiros para aplicar no país seus recursos e pela menor
vulnerabilidade a choques externos. Mesmo que o “milagre” seja passado, podemos dizer que o
Brasil tem, hoje, o potencial para crescer a taxas relevantes, fato que já ocorreu em 2007 e vai
ocorrer novamente em 2008, assim como pode vir a ser uma grande potência em 2050.

Se ainda pairava alguma dúvida, a robustez demonstrada pela economia brasileira à crise
recente é prova que há hoje condições incomparavelmente melhores de resistir às adversidades
internacionais do que havia até pouco tempo atrás. Boa parte da melhora deve-se inegavelmente
ao crescimento das economias asiáticas e da grande disponibilidade de crédito que se viu nos
últimos anos. As políticas de melhora do perfil da dívida pública e de acumulação de reservas
cambiais tiveram também importante papel.
57

É importante alertar, contudo, que para continuar com o bom desempenho, o tripé de
estabilização por si só não garante crescimento sustentável ao Brasil por tanto tempo. A base de
sustentação brasileira precisa de mais apoios para se firmar com segurança, e isso só será possível
caso o governo ponha em prática reformas que reduzam os agravantes ao crescimento. Pelas
análises dos autores vistos no trabalho, ainda que haja outros problemas de natureza não
econômica, podemos ver que grande parte dos problemas está na política fiscal praticada pelo
governo.

Para se obter o crescimento sustentado, é imprescindível que se reformule o regime fiscal


de forma a conter o enorme aumento real dos gastos públicos que vem ocorrendo desde o Plano
Real. Com uma política fiscal adequada, a carga tributária e a taxa real de juros diminuem, e a
dívida pública tende a reverter o processo de crescimento. Eliminando as ineficiências, os gastos
excessivos e desnecessários e direcionando os recursos para áreas mais importantes, a taxa de
poupança aumenta, canalizando os recursos ao investimento, tão necessário ao crescimento.

Como não há efeitos imediatos, essas reformas podem ser muito difíceis de virem à pauta,
pois devem causar descontentamento em grande parte da população brasileira ao ter que reduzir a
enorme generosidade do governo brasileiro. Resta agora aos governantes assumirem os custos
políticos de implantar e resolver os problemas que atrapalham e impedem um maior crescimento
do Brasil.
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