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Qualidade cada vez mais apreciada no mundo corporativo, a intuição é tema de Blink,
livro que virou coqueluche entre os executivos americanos
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São flashes rapidíssimos que alertam sobre um perigo, indicam uma saída
para um impasse profissional, dão pistas de como contornar uma briga
amorosa. São segundos da mais legítima intuição, que, para os já treinados,
ajudam a encontrar soluções. Os céticos acreditam que essas impressões
instantâneas são apenas frutos da imaginação. Para o americano Malcolm
Gladwell, contudo, são uma forma de ratificar a fama de bom escritor e guru
de executivos. O autor do recém-lançado Blink: the Power of Thinking
without Thinking (algo como Em um Piscar de Olhos: o Poder de Pensar sem
Pensar, ainda sem tradução em português) está fazendo enorme sucesso nos
Estados Unidos porque revela, por meio de uma série de histórias saborosas,
que basta prestar atenção a preciosos ''dois segundos'' para tomar boas
decisões.
AP
A INTUIÇÃO DE JUNG
Para o psicanalista Carl Jung, a intuição é uma das quatro maneiras de o
homem entender a realidade. As outras são sensação, pensamento e
sentimento. Segundo Jung, a intuição utiliza a psique para discernir sobre
fatos e pessoas. Veja as características de um ser intuitivo listadas por ele
observa holisticamente confia nos pressentimentos
é consciente do futuro imaginativo
visionário
Se existisse uma frase que define melhor a intuição, esta seria: ''Sei o que
fazer, mas não sei por quê''. A maioria das pessoas já sentiu medo de tomar
uma decisão sabidamente acertada, mas impulsiva, e depois se arrependeu de
não ter agido de imediato. Em seu livro Manual de Intuição Prática, a
consultora americana Laura Day, que atende famosos como a atriz Demi
Moore, explica que ''a intuição simplesmente sabe. Instantaneamente.
Enquanto a razão trabalha, a intuição procede em flashes. A intuição capta
vislumbres da realidade em fragmentos e pedaços, normalmente em forma
simbólica. Esses símbolos precisam portanto ser interpretados e montados
para que surja uma figura coerente''.
Mirian
Fichtner/ÉPOCA
Investir na intuição contribui na hora de fazer um
diagnóstico médico, ganhar uma partida esportiva,
fechar um bom projeto. Como todo profissional é
bombardeado por uma infinidade de dados, tem de ser
capaz de identificar rapidamente o que de fato
importa. Um dos principais conselhos que Malcolm
Gladwell dá no livro é justamente diminuir a base de
dados. ''Hoje, as decisões são tomadas sem muito
tempo para ponderações e com informações em
excesso. O profissional que sabe ouvir a intuição e
tem a visão do todo é mais valorizado'', diz Marcelo
Massarani, professor de Engenharia Mecânica e
fundador do Laboratório de Criatividade da Escola
Politécnica (Poli), da Universidade de São Paulo. Para CONFIANÇA
ele, a hipótese mais coerente sobre a manifestação da TOTAL Flávio
intuição é que a enorme quantidade de informações conta que a
sensoriais, coletadas e armazenadas na mente, é intuição faz com
acionada diante de um problema ou de uma que se imagine em
inquietação. Ele exemplifica: ''Uma pessoa vai situações
comprar um carro que pretende vender depois de vitoriosas
pouco tempo de uso. Subitamente, 'sente' que a
melhor escolha recai sobre um modelo cinza, 1.0. Esta solução surge sem
motivo aparente, mas é a expressão daquela massa de dados guardada na
memória, já que, no bairro onde trabalha, a maior parte dos carros tem essas
características''.
Para ser bom executivo já não basta ter no currículo um diploma de MBA
ou dominar duas ou três línguas estrangeiras. Aprender a ir além dos limites
da razão é um dos requisitos considerados ''básicos''. Pesquisa da empresa
americana Lee Hecht Harrison, especializada em desenvolvimento de
lideranças empresariais, com a participação de mais de cem executivos de
92 organizações, indica qual o novo modelo de líder desejado: aquele que
sabe trafegar entre o desconhecido - a idéia intuitiva, inovadora - e o
conhecido - o real. ''O que faz a diferença, com a atual instabilidade
econômica e a rapidez no ritmo dos negócios, é a agilidade com que o líder
alterna esses dois comportamentos'', diz Iêda Novais, sócia da Mariaca &
Associates, que trabalha com treinamento e recrutamento. ''No passado, um
CEO podia ser bom sem fazer grandes inovações. Hoje, ele tem de lidar
com mais riscos, saber avaliar rapidamente a situação e conduzir a empresa
para bons resultados. Então, deve ouvir a intuição, mas conhecer com
excelência o que faz.'' Treinada para entrevistar candidatos a presidente de
empresa e conselheiro de administração, Iêda conta que bastam 60 segundos
para fazer a primeira avaliação. ''Percebo se vale a pena ir em frente ou não,
se a pessoa tem o perfil que estou procurando. É pura intuição'', diz.
''Depois, durante a conversa, levo em conta o background acadêmico, a
carreira.''
Cientistas não têm intuição sobre arte - só sobre ciência. Músicos costumam
ter flashes criativos sobre... música. Pode parecer estranho, mas é o
conhecimento adquirido que faz o profissional ter um canal aberto com a
intuição. ''As pessoas não têm mais talento, têm mais paixão por seus
assuntos. Einstein investia tempo, todos os dias, viajando pelo imensurável
espaço além da atmosfera terrestre com sua imaginação intuitiva. Quem
quiser ter mais intuição sobre alguma coisa deve aumentar sua paixão sobre
ela'', aconselha a psicóloga Sharon. Nizan Guanaes, dono da agência África,
é um publicitário que segue à risca esse preceito e faz da intuição uma lei de
vida. ''As pessoas acham meio esotérico, mas não é. É bom ficar em estado
de Jedi, ver com os olhos fechados'', brinca. Guanaes acha que profissionais
de comunicação, publicitários em especial, têm capacidade de sentir o que
vai fazer sucesso. As pesquisas de opinião, para ele, nem sempre são o
melhor indício daquilo que vai agradar ao consumidor. ''Às vezes, é preciso
deixar de lado a mania de querer provar. Nem tudo é exato'', afirma. ''Todas
as vezes que contrariei minha intuição me dei mal nos negócios e na vida.''