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META ESTUDOS ORIENTADOS – Aulas de reforço escolar – 3225-9556

Português – prof. Carolina 31)8771-7597 ximenes.carolina@gmail.com


No Osso
Luiz Felipe Pondé (Adaptado)

A vida é um drama sem solução. Atualmente, são os homens que esperam pelo príncipe encantando.

ESTOU FELIZ. Estou feliz porque vi um filme que me deu esperança no cinema dos próximos
anos: “Inverno da Alma“, de Debra Granik. Com os 80 anos do grande Clint Eastwood, temo por sua
herança. Encontrei em Debra Granik uma esperança. Quem achar estranho que uma mulher seja a
herdeira de um cineasta que fala de virilidade engana-se.
Num cenário como o atual no qual os homens, quase todos, falam fino e pedem permissão às
mulheres para dizer o que pensam, só podíamos mesmo ter esperança que as cineastas mulheres
se tornassem as possíveis herdeiras daquilo que os homens estão a perder: a coragem de dizer que
a vida é um drama sem solução. Hoje, são os homens que esperam o príncipe encantando.
“Inverno da Alma” é filme de gente grande, coisa rara na medida em que a democracia de
mercado avança (e tem que avançar mesmo, senão todo mundo morre de fome, como na África) e
faz do cinema coisa para retardados.
A luta no capitalismo avançado e na democracia de massa é pela defesa da inteligência, que
sofre o risco constante de atolar num pântano de bobagens para fazer a classe média se sentir
segura.Nada contra filmes divertidos, de ação, de terror e coisas assim. Mas quando o cinema
resolve salvar o mundo, mudar o mundo, mudar as pessoas, meu Deus, que tédio.
Parafraseando o grande Oscar Wilde (1854-1900), que disse algo como “toda poesia sincera
é ruim”, todo filme no qual o diretor quer salvar o mundo é ruim. Mas como a audiência costuma ter o
mesmo nível mental do diretor, quase ninguém percebe que está diante de coisa do jardim da
infância.
Em 2004, Debra Granik já fizera “Down to the Bone“, filme sobre uma mulher que luta contra
as drogas em meio à criação de seus filhos. Agora ela volta “ao osso” para falar de uma menina de
17 anos que luta para achar seu pai, que meteu sua família numa fria das sérias. Sua mãe,
imprestável, é uma deprimida apática. Em meio à pobreza, a garota cria seus dois irmãos mais
novos e cuida de tudo mais. Sozinha diante da vida, sem frescuras, sem “mapa moral”, sem a
ladainha política de vítima social. O filme se passa num desses Estados atrasados do sul americano,
pobre e rural.
Uma das coisas que pode tornar o filme “difícil” é exatamente o fato de ele não oferecer o
“mapa moral” que todo mundo gosta de receber quando vai ao cinema ou quando pensa sobre a
vida e os costumes. O filme não oferece “mapa moral” porque todos os personagens estão atolados
na vida, que é essencialmente um fenômeno amoral, sem os tais “valores” de que todo mentiroso
gosta de falar.
Apesar de que ficou na moda todo mundo desfilar “princípios éticos” por aí, a semelhança da
hipocrisia cristã do passado, no silêncio de nossas almas nós sabemos que fazemos tudo que for
necessário para sobreviver. E quem é exceção, não faz marketing do bem, apenas morre cedo.
Sim, uma dose de “ilusão moral” constitui a vida em sociedade. A própria noção de amor
familiar como fato óbvio é uma dessas ilusões (as famílias, às vezes, são máquinas de moer gente e
nem toda mãe ama seus filhos, às vezes os odeia e às vezes, com razão).
A metáfora do “osso” aqui é essencial. Em inglês, chegar ao osso é chegar ao fundo das
coisas, na sua estrutura mais elementar. É chegar ali onde a ilusão não habita.
A cena na qual a protagonista com a ajuda das mulheres que a tinham espancado, “resolve o
enigma” é uma ode à genuína piedade.
Não consigo pensar em maior canto à sofrida dignidade humana (esta mesma que os
marketeiros do bem maculam com seu papo-furado) do que a heroína Ree (Jennifer Lawrence), ao
final, tranquilizando seus irmãos pequenos, dizendo que não conseguiria viver “sem o peso deles
nas costas”. Eis um filme para se ver de joelhos.
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1) Segundo o autor,diferentemente do que se poderia pensar, Debra Granik é uma esperança para
os órfãos de Clint Eastwood. EXPLIQUE a causa de o autor atribuir um estranhamento a esse fato.
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2)“Hoje, são os homens que esperam o príncipe encantando.”

a) IDENTIFIQUE a causa da afirmação acima.


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b) Sobre o excerto em destaque EXPLICITE a relação estabelecida entre realidade e ficção no


contexto.
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3) “...quase ninguém percebe que está diante de coisa do jardim da infância.” EXPLIQUE a
compração feita pelo autor.
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4) “Agora ela volta “ao osso””. Diante do contexto INDIQUE o significado que podemos extrair da
expressão em destaque.
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5) IDENTIFIQUE a consequência para o fato de, segundo o autor, o filme “não apresentar um ‘mapa
moral’.
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6) O texto apresenta uma oposição que marca a vida da sociedade moderna. IDENTIFIQUE essa
oposição, levando em consideração a perspectiva ilusão x realidade x entretenimento.
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7) “Eis um filme para se ver de joelhos.” EXPLIQUE o duplo sentido do enunciado em destaque.
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