Duelo

Duelo
Gustavo Martins
 Duelo

Os dois homens se entreolhavam desafiadoramente. A tensão gerada

entre os dois podia ser sentida a quilômetros de distância. Ambos
estavam pondo suas vidas em risco.

Tudo começou com um desafio informal numa sexta-feira quente.

Toda a cidade estava agitada e era natural que os ânimos também
estivessem. Por toda a parte, pequenas brigas começavam e
terminavam, mas nada no nível da que ocorria no saloon.

West e Easthill eram conhecidos por suas habilidades ímpares no

manuseio de armas. Se um deles podia partir uma maçã ao meio com
um tiro, o outro com dois derrubava um leão. A única coisa maior que a
habilidade daqueles pistoleiros era a rivalidade entre ambos. Esta se
iniciou quando, após uma longa briga de bar, apenas os dois
permaneceram de pé. O que poderia ser o começo de uma parceria
serviu de gatilho para um duelo. Dizem que a batalha só não trouxe o
bar abaixo devido à munição dos dois lados acabar. A partir daí, toda
vez que se encontravam, West e Easthill iniciavam um combate. E
daquela vez não foi diferente.

Numa pequena cidade do no norte do Kansas os dois cruzaram

caminhos. Após um duelo que resultou na destruição de uma pequena
casa, concordaram que era hora de decidir, de uma vez por todas, qual
dos dois era O melhor. O embate derradeiro teria início à meia-noite, no
saloon da cidade. Não poderiam sair de dentro do estabelecimento,
sendo que se um dos dois o fizesse teria então assumido sua derrota. Na
hora marcada, os dois homens entraram no bar, posicionaram-se frente
a frente e se preparam mentalmente para aquilo que estava por vir.

Após longos minutos de análises e jogadas táticas o final estava se

aproximando em passos de gigante. Ao leste, West dedilhava aquele
objeto que provaria sua superioridade. Ao oeste, Easthill suava,
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tentando prever a próxima ação do adversário. Todos ao redor assistiam

à cena, apreensivos. Podia-se ver em cada pessoa lá presente um temor
do resultado daquela contenda. Não importava qual dos dois ganhasse,
eles perderiam.

Easthill ameaçou sacar, porém recuou ante o olhar furioso de West.

Aquela ação precipitada poderia ter lhe custado tudo. Respirou o ar
embriagado do saloon, forçando seus neurônios a se reposicionarem.
Colocou sua mão de volta à posição inicial e mais uma vez observou
seu rival, tentando prever-lhe.

Alguns dos que assistiam àquilo se preparavam para executar o

sobrevivente. Aqueles dois já haviam causado mais danos á todos do
que uma tempestade de areia poderia sonhar em fazer. Não só isso, mas
também havia uma grande recompensa pelas cabeças de ambos.
Homens e mulheres, jovens e velhos, estavam com suas pistolas
engatilhadas, prontos para disparar no que saísse vitorioso. Mas por
hora tinham de aguardar.

West sabia que se não terminasse com aquilo rapidamente iria ser
batido. Tinha de vencer no próximo saque. Sentiu o suor correr-lhe a
face quando colocou o dedo sobre o objeto que decidiria o destino
daquele duelo. A sensação fria, limpa, proporcionada pela superfície
uniforme percorreu-lhe todo o caminho até o cérebro em uma
velocidade que faria a luz se impressionar. Olhou aquilo que poderia
definir uma vitória ou derrota, colocando-o frente a sua face.

Sorriu.

Tinha o que precisava para vencer. Levantou-se confiante e apontou

o item para a face de Easthill. Encheu os pulmões de ar e bradou com
toda a força que tinha:
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—Blackjack!

Um silêncio profundo tomou todo o lugar. Ninguém ousava respirar.

Ninguém ousava piscar. E Easthill, estupefato, apenas olhava para
West, descrente do que acabara de ocorrer.

Foi então que começou. Um velhote mal encarado sacou uma Colt .
38 e efetuou seis disparos na direção dos dois combatentes. As balas
passaram passando raspando por West, que logo virou a mesa, usando-a
de barricada. Easthill, com seu chapéu agora furado e fumegante, deu
uma cambalhota para o lado, sacando sua arma e disparando contra o
velho.

Errou.

Porém, enquanto o homem caçoava de como o lendário pistoleiro o

havia errado, recebeu entre os olhos um projétil da Magnum .44 de
West, caindo com violência por sobre uma mesa. Mas antes que
pudessem achar que tinha acabado, todos os que estavam no saloon
sacaram suas armas. Uma variedade enorme de pistolas, rifles,
espingardas, facas, garrafas quebradas, sapatos e tudo mais que pudesse
ser usado para matar.

West e Easthill entreolharam-se e, como se lendo a mente um do

outro, posicionaram-se de costas um para o outro. Naquela noite nasceu
a dupla que faria do oeste um lugar selvagem.