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Introdução
De outra parte, o artigo 1.798 do Código Civil Pátrio estabelece que: “Legitimam-se
a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão”.
Estamos, portanto, diante de um conflito de normas, vez que o citado artigo 1.597
reconhece os filhos havidos por fecundação artificial póstuma como concebidos durante o
casamento, ao passo que o artigo 1.798 diz que somente as pessoas nascidas ou já concebidas
no momento da abertura da sucessão estão legitimadas a suceder, o que, em tese, excluiria o
nascido após a morte do autor da herança, mediante fecundação artificial, sem que tenha
havido prévia concepção, à participação na sucessão.
Tentaremos, através do presente trabalho, elucidar o assunto que vem sendo objeto
de discussões acaloradas, à luz dos princípios basilares da nossa Carta Magna.
Desenvolvimento
Desejando ter um filho do seu amado, Corine procurou o banco de sêmen para se
submeter à inseminação artificial. Contudo a empresa recusou-se em atendê-la alegando falta
de amparo legal.
Tendo em vista a demora na solução do litígio, a inseminação não teve sucesso, vez
que os espermatozoides já não mais estavam potencializados para a fecundação.
Esse caso ensejou vários debates em alguns países que evoluíram, se concretizando
em normas legais que tentaram, de alguma forma, acompanhar o avanço da genética.
Carlos Alberto Ferreira Pinto[1] diz que alguns países encontraram algumas
soluções, destacando que: “a) Alemanha e Suécia, vedam a inseminação post mortem. b)
França: Veda inseminação post mortem e dispõe que o consentimento externado em vida
perde o efeito. c) Espanha: Veda a inseminação post mortem, mas garante direitos ao
nascituro quando houver declaração escrita por escritura pública ou testamento. d) Inglaterra:
Permite-se a inseminação post mortem, mas não garante direitos sucessórios, a não ser que
haja documento expresso neste sentido.”
O Conselho Federal de Medicina - CFM, com o fito de regular o tema, pelo menos
entre os integrantes da classe, editou a Resolução nº 1.358/92, que aborda a questão da
reprodução humana medicamente assistida à luz dos princípios constitucionais e do
ordenamento jurídico brasileiro. Porém, esta norma representa apenas uma diretriz para a
classe médica, não tendo força de lei.
Por seu turno, o artigo 227, § 6º, da CF, estabelece o princípio da igualdade da
filiação, vedando quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Este princípio
deriva do princípio maior de que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza” (art. 5º, caput, da CF).
Destarte, diante do referido princípio, não se pode aceitar como possível uma lei
infraconstitucional que restrinja o direito do filho concebido por inseminação artificial
póstuma. Se o texto constitucional não estabeleceu nenhuma exceção, não pode o legislador
ordinário, nem mesmo o intérprete, estabelecê-la.
Há ainda dois princípios fundamentais que são citados por alguns estudiosos sobre o
tema para reforçar o posicionamento favorável à reprodução humana medicamente assistida
post mortem: o princípio da legalidade e o da anterioridade. O primeiro reforça o
entendimento de que se não há proibição legal, então será permitido. O segundo dá guarida ao
entendimento de que tal procedimento não é criminoso, visto que não há lei anterior que
assim o defina.
Não se pode olvidar ainda da redação dada ao artigo 1.799 do Código Civil, tida por
alguns autores como a solução para o caso do filho concebido post mortem ser considerando
herdeiro, havendo apenas uma exigência: a necessidade de ser contemplado em testamento.
Diz o artigo 1.799 do CC que: “Na sucessão testamentária podem ainda ser
chamados a suceder: I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador,
desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão;” (destaque nosso).
Conclusão
Apesar das críticas de alguns autores de que a inseminação artificial não se justifica,
devido a não mais existir a figura do casal, podendo resultar em perturbações psicológicas
graves à criança e à mãe, cremos que se tratam de argumentações puramente sentimentalistas,
vazias, distantes da realidade. Esquecem esses autores que nosso cotidiano é rico em casos de
filhos que nasceram sem que seus pais estivessem vivos, ou mesmo de mães que faleceram
após dar a luz a seus filhos, sem, contudo, impor-se, de logo, aos nascidos o estigma de que
seriam pessoas perturbadas emocionalmente ou mesmo infelizes. Ora, sendo assim, não se
encontrariam pessoas com tais problemas estando seus pais vivos.
O que importa saber é que mesmo que a prática da inseminação artificial póstuma
seja proibida, com a sua criminalização e penalização, como se comportará o direito e a
sociedade se acaso for utilizada, resultando na concepção e no nascimento de um ser vivo?
Que direitos terá essa criança?
Portanto, havendo essa parametrização, concluímos que não se cogitaria afirmar que
os princípios constitucionais da igualdade plena entre os filhos, da proibição de qualquer
forma discriminatória e do melhor interesse da criança estariam sendo desrespeitados, quando
da invocação de direitos sucessórios.
Notas
[1] Carlos Alberto Ferreira Pinto. Reprodução Assistida: Inseminação Artificial Homóloga
Post Mortem e o Direito Sucessório. Disponível em:
http://recantodasletras.uol.com.br/textosjuridicos/879805. Acesso em: 01 maio, 2010.
[2] Citado por Carlos Cavalcanti de Albuquerque Filho. Fecundação Artificial Post Mortem
e o Direito Sucessório. Disponível em: http://www.esmape.com.br/esmape/index2.php?
option=com_docman&task=doc_view&gid=78&Itemid=99999999. Acesso em: 01 maio,
2010.
[3] Idem ibidem.
[4] Idem ibidem.
Bibliografia