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"Este trabalho social é gratificante ; tenho que estar em contato todos os dias com o problema alcoolismo ; ajudando pessoas

estou me ajudando também".

     Comecei a ingerir bebidas alcoólicas aos 14 anos de idade, com a turma da mesma idade, tudo isto para mostrar que já estava preparado para as baladas.Dai para começar a usar a
maconha e outras drogas foi um passo! Vivia em torno das drogas.

     Minha mãe, uma pessoa simples e sem estudo, não tinha condições de ver que na época eu já estava me tornando um bêbado como era chamado, pois ninguém tinha noção que o
alcoolismo era uma doença! Muito menos eu!!

     O tempo foi passando e eu naquele ambiente de álcool e drogas mais pesadas, pois uma droga leva a outra. Perdi vários empregos e não sabia porque era dispensado sem ter
chances profissionais.

     As empresas não tinham preocupação de saber se o funcionário necessitava de uma ajuda, como já existe hoje em algumas empresas preocupadas com seus funcionários.

     Casei e continuei a beber e usar outras drogas. Não tinha noção do mal que fazia para mim minha esposa e para meus familiares, pois o Alcoólatra ou Alcoolista, como chamamos
hoje, acha que não existe problema algum com ele, acha que todos são contra ele e sempre é a vitima. Por ironia a mulher com quem casei era viúva e seu marido morreu de cirrose.
Imagine o trauma para esta mulher ter de novo um alcoólatra/alcoolista ao seu lado?

     As brigas começaram e ela me abandonou. Voltei para casa de meus familiares, perdi novamente o emprego e me senti um trapo ambulante. Resolvi com ajuda de meus familiares
que daria um basta naquele sofrimento e mostraria que poderia ser útil. Queria voltar para minha esposa e fazê-la feliz. Foram 6 meses de separação e parecia que eu estava preso, os
amigos de bar me abandonaram. Não saia de casa com vergonha de ser chamado de bêbado.

     Eu só descobri quando realmente vi que estava começando a perder tudo. A família, esposa e o respeito das pessoas, geralmente têm que se tomar um baque deste para despertar
uma luz e isto aconteceu comigo mas nem sempre acontece com todos os alcoolistas e geralmente não há tempo para isto. Muitos morrem. Apesar de ser uma doença que o efeito é
demorado a pessoa só vai sentir depois de vários anos.

     Dai procurei a Associação Antialcoólica de São Paulo em junho de 93, quando comecei a freqüentar reuniões. Comecei a ver que tinham várias pessoas com o mesmo problema que
o meu e que tinham conseguido vencer. Fui ganhando confiança aos poucos da minha família e parei totalmente de ingerir álcool e outras drogas. Consegui voltar com minha esposa e
tenho a dizer que ela foi uma das pessoas mais importantes na minha recuperação, pois mesmo separado, quando viu que eu queria ser ajudado não me abandonou e me deu apoio
para a lutar contra esta doença chamada alcoolismo.

     A família é fundamental na ajuda da recuperação do alcoólatra/Alcoolista e é claro que o mesmo também queira ser ajudado.

     Atualmente ajudo outras pessoas através do site Alcoolismo.com.br onde desenvolvo um trabalho social e gratuito quero ajudar através da internet pessoas com o alcoolismo e dar
orientações a familiares e amigos como lidar com esta doença grave em nosso Pais”.

O que é?
O alcoolismo é o conjunto de problemas relacionados ao consumo excessivo e prolongado do
álcool; é entendido como o vício de ingestão excessiva e regular de bebidas alcoólicas, e todas
as conseqüências decorrentes. O alcoolismo é, portanto, um conjunto de diagnósticos. Dentro
do alcoolismo existe a dependência, a abstinência, o abuso (uso excessivo, porém não
continuado), intoxicação por álcool (embriaguez). Síndromes amnéstica (perdas restritas de
memória), demencial, alucinatória, delirante, de humor. Distúrbios de ansiedade, sexuais, do
sono e distúrbios inespecíficos. Por fim o delirium tremens, que pode ser fatal.
Assim o alcoolismo é um termo genérico que indica algum problema, mas medicamente para
maior precisão, é necessário apontar qual ou quais distúrbios estão presentes, pois geralmente
há mais de um.

O fenômeno da Dependência (Addiction)


O comportamento de repetição obedece a dois mecanismos básicos não patológicos: o reforço
positivo e o reforço negativo. O reforço positivo refere-se ao comportamento de busca do
prazer: quando algo é agradável a pessoa busca os mesmos estímulos para obter a mesma
satisfação. O reforço negativo refere-se ao comportamento de evitação de dor ou desprazer.
Quando algo é desagradável a pessoa procura os mesmos meios para evitar a dor ou
desprazer, causados numa dada circunstância. A fixação de uma pessoa no comportamento de
busca do álcool, obedece a esses dois mecanismos acima apresentados. No começo a busca
é pelo prazer que a bebida proporciona. Depois de um período, quando a pessoa não alcança
mais o prazer anteriormente obtido, não consegue mais parar porque sempre que isso é
tentado surgem os sintomas desagradáveis da abstinência, e para evitá-los a pessoa mantém o
uso do álcool. Os reforços positivo e negativo são mecanismos ou recursos normais que
permitem às pessoas se adaptarem ao seu ambiente.
As medicações hoje em uso atuam sobre essas fases: a naltrexona inibe o prazer dado pelo
álcool, inibindo o reforço positivo; o acamprosato diminui o mal estar causado pela abstinência,
inibindo o reforço negativo. Provavelmente, dentro de pouco tempo, teremos estudos avaliando
o benefício trazido pela combinação dessas duas medicações para os dependentes de álcool
que não obtiveram resultados satisfatórios com cada uma isoladamente.

Tolerância e Dependência
A tolerância e a dependência ao álcool são dois eventos distintos e indissociáveis. A tolerância
é a necessidade de doses maiores de álcool para a manutenção do efeito de embriaguez
obtido nas primeiras doses. Se no começo uma dose de uísque era suficiente para uma leve
sensação de tranqüilidade, depois de duas semanas (por exemplo) são necessárias duas
doses para o mesmo efeito. Nessa situação se diz que o indivíduo está desenvolvendo
tolerância ao álcool. Normalmente, à medida que se eleva a dose da bebida alcoólica para se
contornar a tolerância, ela volta em doses cada vez mais altas. Aos poucos, cinco doses de
uísque podem se tornar inócuas para o indivíduo que antes se embriagava com uma dose. Na
prática não se observa uma total tolerância, mas de forma parcial. Um indivíduo que antes se
embriagava com uma dose de uísque e passa a ter uma leve embriaguez com três doses está
tolerante apesar de ter algum grau de embriaguez. O alcoólatra não pode dizer que não está
tolerante ao álcool por apresentar sistematicamente um certo grau de embriaguez. O critério
não é a ausência ou presença de embriaguez, mas a perda relativa do efeito da bebida. A
tolerância ocorre antes da dependência. Os primeiros indícios de tolerância não significam,
necessariamente, dependência, mas é o sinal claro de que a dependência não está longe. A
dependência é simultânea à tolerância. A dependência será tanto mais intensa quanto mais
intenso for o grau de tolerância ao álcool. Dizemos que a pessoa tornou-se dependente do
álcool quando ela não tem mais forças por si própria de interromper ou diminuir o uso do álcool.

O alcoólatra de "primeira viagem" sempre tem a impressão de que pode parar quando quiser e
afirma: "quando eu quiser, eu paro". Essa frase geralmente encobre o alcoolismo incipiente e
resistente; resistente porque o paciente nega qualquer problema relacionado ao álcool, mesmo
que os outros não acreditem, ele próprio acredita na ilusão que criou. A negação do próprio
alcoolismo, quando ele não é evidente ou está começando, é uma forma de defesa da auto-
imagem (aquilo que a pessoa pensa de si mesma). O alcoolismo, como qualquer diagnóstico
psiquiátrico, é estigmatizante. Fazer com que uma pessoa reconheça o próprio estado de
dependência alcoólica, é exigir dela uma forte quebra da auto-imagem e conseqüentemente da
auto-estima. Com a auto-estima enfraquecida a pessoa já não tem a mesma disposição para
viver e, portanto, lutar contra a própria doença. É uma situação paradoxal para a qual não se
obteve uma solução satisfatória. Dependerá da arte de conduzir cada caso particularmente,
dependerá da habilidade de cada psiquiatra.

Aspectos Gerais do Alcoolismo


A identificação precoce do alcoolismo geralmente é prejudicada pela negação dos pacientes
quanto a sua condição de alcoólatras. Além disso, nos estágios iniciais é mais difícil fazer o
diagnóstico, pois os limites entre o uso "social" e a dependência nem sempre são claros.
Quando o diagnóstico é evidente e o paciente concorda em se tratar é porque já se passou
muito tempo, e diversos prejuízos foram sofridos. É mais difícil de se reverter o processo.
Como a maioria dos diagnósticos mentais, o alcoolismo possui um forte estigma social, e os
usuários tendem a evitar esse estigma. Esta defesa natural para a preservação da auto-estima
acaba trazendo atrasos na intervenção terapêutica. Para se iniciar um tratamento para o
alcoolismo é necessário que o paciente preserve em níveis elevados sua auto-estima sem,
contudo, negar sua condição de alcoólatra, fato muito difícil de se conseguir na prática. O
profissional deve estar atento a qualquer modificação do comportamento dos pacientes no
seguinte sentido: falta de diálogo com o cônjuge, freqüentes explosões temperamentais com
manifestação de raiva, atitudes hostis, perda do interesse na relação conjugal. O Álcool pode
ser procurado tanto para ficar sexualmente desinibido como para evitar a vida sexual. No
trabalho os colegas podem notar um comportamento mais irritável do que o habitual, atrasos e
mesmo faltas. Acidentes de carro passam a acontecer. Quando essas situações acontecem é
sinal de que o indivíduo já perdeu o controle da bebida: pode estar travando uma luta solitária
para diminuir o consumo do álcool, mas geralmente as iniciativas pessoais resultam em
fracassos. As manifestações corporais costumam começar por vômitos pela manhã, dores
abdominais, diarréia, gastrites, aumento do tamanho do fígado. Pequenos acidentes que
provocam contusões, e outros tipos de ferimentos se tornam mais freqüentes, bem como
esquecimentos mais intensos do que os lapsos que ocorrem naturalmente com qualquer um,
envolvendo obrigações e deveres sociais e trabalhistas. A susceptibilidade a infecções
aumenta e dependendo da predisposição de cada um, podem surgir crises convulsivas. Nos
casos de dúvidas quanto ao diagnóstico, deve-se sempre avaliar incidências familiares de
alcoolismo porque se sabe que a carga genética predispõe ao alcoolismo. É muito mais comum
do que se imagina a coexistência de alcoolismo com outros problemas psiquiátricos prévios ou
mesmo precipitante. Os transtornos de ansiedade, depressão e insônia podem levar ao
alcoolismo. Tratando-se a base do problema muitas vezes se resolve o alcoolismo. Já os
transtornos de personalidade tornam o tratamento mais difícil e prejudicam a obtenção de
sucesso.

Tratamento do Alcoolismo
O alcoolismo, essencialmente, é o desejo incontrolável de consumir bebidas alcoólicas numa
quantidade prejudicial ao bebedor. O núcleo da doença é o desejo pelo álcool; há tempos isto é
aceito, mas nunca se obteve uma substância psicoativa que inibisse tal desejo. Como prova de
que inúmeros fracassos não desanimaram os pesquisadores, temos hoje já comprovadas, ou
em fase avançada de testes, três substâncias eficazes na supressão do desejo pelo álcool, três
remédios que atingem a essência do problema, que cortam o mal pela raiz. Estamos falando
naltrexona, do acamprosato e da ondansetrona. O tratamento do alcoolismo não deve ser
confundido com o tratamento da abstinência alcoólica. Como o organismo incorpora
literalmente o álcool ao seu metabolismo, a interrupção da ingestão de álcool faz com que o
corpo se ressinta: a isto chamamos abstinência que, dependendo, do tempo e da quantidade
de álcool consumidos pode causar sérios problemas e até a morte nos casos não tratados. As
medicações acima citadas não têm finalidade de atuar nessa fase. A abstinência já tem suas
alternativas de tratamento bem estabelecidas e relativamente satisfatórias. O Dissulfiram é uma
substância que força o paciente a não beber sob a pena de intenso mal estar: se isso for feito,
não suprime o desejo e deixa o paciente num conflito psicológico amargo. Muitos alcoólatras
morreram por não conseguirem conter o desejo pelo álcool enquanto estavam sob efeito do
Dissulfiram. Mesmo sabendo o que poderia acontecer, não conseguiram evitar a combinação
do álcool com o Dissulfiram, não conseguiram sequer esperar a eliminação do Dissulfiram.
Fatos como esses servem para que os clínicos e os não-alcoólatras saibam o quanto é forte a
inclinação para o álcool sofrida pelos alcoólatras, mais forte que a própria ameaça de morte.
Serve também para medir o grau de benefício trazido pelas medicações que suprimem o
desejo pelo álcool, atualmente disponíveis. Podemos fazer uma analogia para entender essa
evolução. Com o Dissulfiram o paciente tem que fazer um esforço semelhante ao motorista que
tenta segurar um veículo ladeira abaixo, pondo-se à frente deste, tentando impedir que o
automóvel deslanche, atropelando o próprio motorista. Com as novas medicações o motorista
está dentro do carro apertando o pedal do freio até que o carro chegue no fim da ladeira. Em
ambos os casos, é possível chegar ao fim da ladeira (controle do alcoolismo). Numa o esforço
é enorme causando grande percentagem de fracassos; noutro o esforço é pequeno, permitindo
grande adesão ao tratamento. Vejamos agora algumas informações sobre as novas
medicações.

Naltrexona
A naltrexona é uma substância conhecida há vários anos; seu uso restringia-se ao bloqueio da
atividade dos opióides. É uma espécie de antídoto para a intoxicação de heroína, morfina e
similares. Recentemente verificou-se que a naltrexona possui um efeito bloqueador do prazer
proporcionado pelo álcool, cortando o ciclo de reforço positivo que leva e mantém o alcoolismo.
A naltrexona foi a primeira substância a atingir a essência do alcoolismo: o desejo pelo
consumo de álcool. Como era uma medicação conhecida quanto aos efeitos benéficos e
colaterais, sua utilização para o alcoolismo foi relativamente rápida pois já se encontrava no
mercado há muitos anos: bastou que se acrescentasse na bula uma nova indicação, o
tratamento do alcoolismo. Os principais efeitos colaterais da naltrexona, o enjôo e o vômito não
são intensos o suficiente para impedir o seu uso. Os principais efeitos da naltrexona são inibir o
desejo pelo álcool e mesmo que se beba, o prazer da sensação de estar "alto" é abolido.
Assim, a bebida para o alcoólatra em uso de naltrexona se torna sem graça. Como não há uma
interação danosa entre Álcool e naltrexona, a naltrexona exerce uma real atividade terapêutica.
Os estudos mostram que a recaída do alcoolismo é menor entre as pessoas que fazem uso de
naltrexona em relação ao placebo; o baixo índice de efeitos colaterais da naltrexona permite
que os pacientes adiram ao tratamento prolongado. Agora ficou mais fácil diferenciar o
alcoólatra impotente perante seu vício daquele que simplesmente não quer abandonar o prazer
da embriaguez. O paciente que se nega a tratar-se por perceber que a naltrexona abole o
prazer é o alcoólatra por opção; aquele que adere ao tratamento era a vítima do vício. Por fim,
não podemos esquecer que nem todos os pacientes se beneficiam da naltrexona, ou seja, há
uma parcela da população que mesmo em uso da naltrexona mantém o prazer da bebida e
nesses o tratamento é ineficaz. A naltrexona foi o primeiro e grande passo para o tratamento do
alcoolismo, mas não resolveu todo o problema sozinho.

Acamprosato
Essa substância ao contrário da naltrexona é nova e foi criada especificamente para o
tratamento do alcoolismo. Está sendo introduzida no mercado brasileiro pela Merck, mas já é
usada na Europa há alguns anos. O mecanismo do acamprosato é distinto da naltrexona
embora também diminua o desejo pelo álcool. O acamprosato atua mais na abstinência,
reduzindo o reforço negativo deixado pela supressão do álcool naqueles que se tornaram
dependentes. Podemos dizer que há basicamente dois mecanismos de manutenção da
dependência química ao álcool: inicialmente há o reforço pelo estímulo positivo, pela busca de
gratificação e prazer dadas pelo álcool. À medida que o indivíduo se torna tolerante às
primeiras doses passa a ser necessária sua elevação para voltar a ter o mesmo prazer das
primeiras doses. Nessa fase o indivíduo já é dependente e está em aprofundamento e
agravamento da dependência. A bebida não dá mais prazer algum e por outro lado trouxe uma
série de problemas pessoais e sociais; o alcoólatra está preso ao vício porque ao tentar
interromper o consumo de álcool surgem os efeitos da abstinência. Nessa fase o alcoolista
bebe não mais por prazer, mas para não sofrer os efeitos da abstinência alcoólica. É nesta fase
que o acamprosato atua. Além de inibir os efeitos agudos da abstinência como os
benzodiazepínicos fazem, o acamprosato inibe o desejo pelo álcool nessa fase, diminuindo as
taxas de recaída para os pacientes que interromperam o consumo de álcool. A principal
atividade do acamprosato é sobre os neurotransmissores gabaérgicos, taurinérgicos e
glutamatérgicos, envolvidos no mecanismo da abstinência alcoólica. O acamprosato tem
poucos efeitos colaterais: os principais indicados foram consufão mental leve, dificuldade de
concentração, alterações das sensações nos membros inferiores, dores musculares, vertigens.

Ondansetrona
Esta medicação vem sendo usada e aprovada como inibidor de vômitos, principalmente nos
pacientes que fazem uso de medicações que provocam fortes enjôos como alguns
quimioterápicos. Está em estudo a utilização na bulimia nervosa para conter os vômitos
induzidos por esses pacientes. Mais recentemente vem sendo estudado seu efeito no
tratamento do álcool. Esses estudos ainda estão em fase preliminar; uma possível aprovação
para o alcoolismo deverá levar talvez alguns anos. Essa medicação tem um efeito específico
como antagonista do receptor serotoninégico 5-HT3. Por enquanto há poucos estudos da
eficácia da Ondansetrona no alcoolismo, o que se obteve, por enquanto, é uma maior eficácia
no tratamento do alcoolismo nas fases iniciais. Alcoolistas de longa data e doses altas não
apresentaram resultado muito superior ao placebo. Se aprovada hoje, sua utilização recairia
sobre os pacientes alcoólatras há pouco tempo. A forma de ação é parecida a da naltrexona,
inibindo o reforço positivo, o prazer que o álcool dá nas fases iniciais do alcoolismo. Os
pacientes que tomam Ondansetrona tendem a beber menos que o habitual. Os autores de um
recente trabalho com a Ondansetrona (JAMA. 2000;284:963-971) consideraram-se frustrados
com o resultado clínico obtido.

Problemas Clínicos
Diversos são os problemas causados pela bebida alcoólica pesada e prolongada. Fugiria ao
nosso objetivo entrar em detalhes a esse respeito, por isso abordaremos o tema
superficialmente.
Sistema Nervoso - Amnésias nos períodos de embriaguez acontecem em 30 a 40% das
pessoas no fim da adolescência e início da terceira década de vida: provavelmente o álcool
inibe algum dos sistemas de memória impedindo que a pessoa se recorde de fatos ocorridos
durante o período de embriaguez. Induz a sonolência, mas o sono sob efeito do álcool não é
natural, tendo sua estrutura registrada no eletroencefalograma alterado. Entre 5 e 15% dos
alcoólatras apresentam neuropatia periférica. Este problema consiste num permanente estado
de hipersensibilidade, dormência, formigamento nas mãos, pés ou ambos. Nas síndromes
alcoólicas pode-se encontrar quase todas as patologias psiquiátricas: estados de euforia
patológica, depressões, estados de ansiedade na abstinência, delírios e alucinações, perda de
memória e comportamento desajustado.
Sistema Gastrintestinal - Grande quantidade de álcool ingerida de uma vez pode levar a
inflamação no esôfago e estômago o que pode levar a sangramentos além de enjôo, vômitos e
perda de peso. Esses problemas costumam ser reversíveis, mas as varizes decorrentes de
cirrose hepática além de irreversíveis, são potencialmente fatais devido ao sangramento de
grande volume que pode acarretar. Pancreatites agudas e crônicas são comuns nos alcoólatras
constituindo-se uma emergência à parte. A cirrose hepática é um dos problemas mais falados
dos alcoólatras; é um problema irreversível e incompatível com a vida, levando o alcoólatra
lentamente à morte.
Câncer - Os alcoólatras estão 10 vezes mais sujeitos a qualquer forma de câncer que a
população em geral.
Sistema Cardiovascular - Doses elevadas por muito tempo provocam lesões no coração
provocando arritmias e outros problemas como trombos e derrames conseqüentes. É
relativamente comum a ocorrência de um acidente vascular cerebral após a ingestão de grande
quantidade de bebida.
Hormônios Sexuais - O metabolismo do álcool afeta o balanço dos hormônios reprodutivos no
homem e na mulher. No homem o álcool contribui para lesões testiculares o que prejudica a
produção de testosterona e a síntese de esperma. Já com cinco dias de uso contínuo de 220
gramas de álcool os efeitos acima mencionados começam a se manifestar e continua a se
aprofundar com a permanência do álcool. Essa deficiência contribui para a feminilização dos
homens, com o surgimento, por exemplo, de ginecomastia (presença de mamas no homem).
Hormônios Tireoideanos - Não há evidências de que o alcoolismo afete diretamente os níveis
dos hormônios tireoideanos. Há pacientes alcoólatras que apresentam alterações tanto para
mais como para menos nos níveis desses hormônios; presume-se que quando isso ocorre seja
de forma indireta por afetar outros sistemas do corpo.
Hormônio do crescimento - Alterações são observadas em indivíduos que abusam de álcool,
mas essas alterações não provocam problemas detectáveis como inibição do crescimento ou
baixa estatura, pelo menos até o momento.
Hormônio Antidiurético - Esse hormônio inibe a perda de água pelos rins, o álcool inibe esse
hormônio: como resultado a pessoa perde mais água que o habitual, urina mais, o que pode
levar a desidratação.
Ociticina - Esse hormônio é responsável pelas contrações do útero no parto. O álcool tanto
pode inibir um parto prematuro como atrapalhar um parto a termo, podendo tanto ser
terapêutico como danoso.
Insulina - O álcool não afeta diretamente os níveis de insulina: quando isso acontece é por
causa de uma possível pancreatite que é outro processo distinto. A diminuição do açúcar no
sangue não se deve a ação do álcool sobre a insulina ou sobre o glucagon (outro hormônio
envolvido no metabolismo do açúcar).
Gastrina - Este hormônio estimula a secreção de ácido no estômago preparando-o para a
digestão. O principal estímulo para a secreção de gastrina é a presença de alimentos no
estômago, principalmente as proteínas. É controverso o efeito do álcool sobre a gastrina,
alguns pesquisadores dizem que o álcool não provoca sua liberação, outros dizem que
provoca, o que levaria ao aumento da acidez estomacal. Podem provocar úlceras no aparelho
digestivo.

Recaída
A taxa de recaída (voltar a beber depois de ter se tornado dependente e parado com o uso de
álcool) é muito alta: aproximadamente 90% dos alcoólatras voltam a beber nos 4 anos
seguintes a interrupção, quando nenhum tratamento é feito. A semelhança com outras formas
de dependência como a nicotina, tranqüilizantes, estimulantes, etc, levam a crer que um há um
mecanismo psicológico (cognitivo) em comum. O dependente que consiga manter-se longe do
primeiro gole terá mais chances de contornar a recaída. O aspecto central da recaída é o
chamado "craving", palavra sem tradução para o português que significa uma intensa vontade
de voltar a consumir uma droga pelo prazer que ela causa. O craving é a dependência
psicológica propriamente dita.
As mulheres são mais vulneráveis ao álcool que os homens?
Aparentemente as mulheres são mais vulneráveis sim. Elas atingem concentrações
sanguíneas de álcool mais altas com as mesmas doses quando comparadas aos homens.
Parece também que sob a mesma carga de álcool os órgãos das mulheres são mais
prejudicados do que o dos homens. A idade onde se encontra a maior incidência de alcoolismo
feminino está entre 26e 34 anos, principalmente entre mulheres separadas. Se a separação foi
causa ou efeito do alcoolismo isto ainda não está claro. As conseqüências do alcoolismo sobre
os órgãos são diferentes nas mulheres: elas estão mais sujeitas a cirrose hepática do que o
homem. Alguns estudos mostram que o consumo moderado de álcool diário aumenta as
chances de câncer de mama. Um drink por dia não afeta a incidência desse câncer.

Filhos de Alcoólatras
Milhões de crianças e adolescentes convivem com algum parente alcoólatra no Brasil. As
estatísticas mostram que eles estarão mais sujeitos a problemas emocionais e psiquiátricos do
que a população desta faixa etária não exposta ao problema, o que de forma alguma significa
que todos eles serão afetados. Na verdade 59% não desenvolvem nenhum problema. O
primeiro problema que podemos citar é a baixa auto-estima e auto-imagem com conseqüentes
repercussões negativas sobre o rendimento escolar e demais áreas do funcionamento mental,
inclusive em testes de QI. Esses adolescentes e crianças tendem quando examinados a
subestimarem suas próprias capacidades e qualidades. Outros problemas comuns em filhos e
parentes de alcoólatras são persistência em mentiras, roubo, conflitos e brigas com colegas,
vadiagem e problemas com o colégio.

O alcoolismo é genético?
Esta pergunta bastante antiga vem sendo mais bem estudada nas últimas décadas através de
estudos com gêmeos, e será mais aprofundada com o projeto genoma. A influência familiar do
alcoolismo é um fato já conhecido e aceito. O que se pergunta é se o alcoolismo ocorre por
influência do convívio ou por influência genética. Para responder a essa pergunta a melhor
maneira é a verificação prática da influência, o que pode ser feito estudando os filhos dos
alcoólatras. Estudos como esses podem investigar os gêmeos monozigóticos (idênticos) e os
dizigóticos. Constatou-se que quando um dos gêmeos idênticos se torna alcoólatra o irmão se
torna mais freqüentemente alcoólatra do que os irmãos gêmeos não idênticos. Essa
constatação mostra a influência genética real, mas não explica porque, mesmo tendo os "gens
do alcoolismo," uma pessoa não se torna alcoólatra. Os estudos familiares mostraram que a
participação genética é inegável, mas apenas parcial, os demais fatores que levam ao
desenvolvimento do alcoolismo não estão suficientemente claros.

Problemas Psiquiátricos Causados pelo Alcoolismo

Abuso de Álcool
A pessoa que abusa de álcool não é necessariamente alcoólatra, ou seja, dependente e faz
uso continuado. O critério de abuso existe para caracterizar as pessoas que eventualmente,
mas recorrentemente têm problemas por causa dos exagerados consumos de álcool em curtos
períodos de tempo. Critérios: para se fazer esse diagnóstico é preciso que o paciente esteja
tendo problemas com álcool durante pelo menos 12 meses e ter pelo menos uma das
seguintes situações: a) prejuízos significativos no trabalho, escola ou família como faltas ou
negligências nos cuidados com os filhos. b) exposição a situações potencialmente perigosas
como dirigir ou manipular máquinas perigosas embriagado. c) problemas legais como desacato
a autoridades ou superiores. d) persistência no uso de álcool apesar do apelo das pessoas
próximas em que se interrompa o uso.
Dependência ao Álcool
Para se fazer o diagnóstico de dependência alcoólica é necessário que o usuário venha tendo
problemas decorrentes do uso de álcool durante 12 meses seguidos e preencher pelo menos 3
dos seguintes critérios: a) apresentar tolerância ao álcool -- marcante aumento da quantidade
ingerida para produção do mesmo efeito obtido no início ou marcante diminuição dos sintomas
de embriaguez ou outros resultantes do consumo de álcool apesar da continua ingestão de
álcool. b) sinais de abstinência -- após a interrupção do consumo de álcool a pessoa passa a
apresentar os seguintes sinais: sudorese excessiva, aceleração do pulso (acima de 100),
tremores nas mãos, insônia, náuseas e vômitos, agitação psicomotora, ansiedade, convulsões,
alucinações táteis. A reversão desses sinais com a reintrodução do álcool comprova a
abstinência. Apesar do álcool "tratar" a abstinência o tratamento de fato é feito com diazepam
ou clordiazepóxido dentre outras medicações. c) o dependente de álcool geralmente bebe mais
do que planejava beber d) persistente desejo de voltar a beber ou incapacidade de interromper
o uso. e) emprego de muito tempo para obtenção de bebida ou recuperando-se do efeito. f)
persistência na bebida apesar dos problemas e prejuízos gerados como perda do emprego e
das relações familiares.
Abstinência alcoólica
A síndrome de abstinência constitui-se no conjunto de sinais e sintomas observado nas
pessoas que interrompem o uso de álcool após longo e intenso uso. As formas mais leves de
abstinência se apresentam com tremores, aumento da sudorese, aceleração do pulso, insônia,
náuseas e vômitos, ansiedade depois de 6 a 48 horas desde a última bebida. A síndrome de
abstinência leve não precisa necessariamente surgir com todos esses sintomas, na maioria das
vezes, inclusive, limita-se aos tremores, insônia e irritabilidade. A síndrome de abstinência
torna-se mais perigosa com o surgimento do delirium tremens. Nesse estado o paciente
apresenta confusão mental, alucinações, convulsões. Geralmente começa dentro de 48 a 96
horas a partir da ultima dose de bebida. Dada a potencial gravidade dos casos é recomendável
tratar preventivamente todos os pacientes dependentes de álcool para se evitar que tais
síndromes surjam. Para se fazer o diagnóstico de abstinência, é necessário que o paciente
tenha pelo menos diminuído o volume de ingestão alcoólica, ou seja, mesmo não
interrompendo completamente é possível surgir a abstinência. Alguns pesquisadores afirmam
que as abstinências tornam-se mais graves na medida em que se repetem, ou seja, um
dependente que esteja passando pela quinta ou sexta abstinência estará sofrendo os sintomas
mencionados com mais intensidade, até que surja um quadro convulsivo ou de delirium
tremens. As primeiras abstinências são menos intensas e perigosas.
Delirium Tremens
O Delirium Tremens é uma forma mais intensa e complicada da abstinência. Delirium é um
diagnóstico inespecífico em psiquiatria que designa estado de confusão mental: a pessoa não
sabe onde está, em que dia está, não consegue prestar atenção em nada, tem um
comportamento desorganizado, sua fala é desorganizada ou ininteligível, a noite pode ficar
mais agitado do que de dia. A abstinência e várias outras condições médicas não relacionadas
ao alcoolismo podem causar esse problema. Como dentro do estado de delirium da abstinência
alcoólica são comuns os tremores intensos ou mesmo convulsão, o nome ficou como Delirium
Tremens. Um traço comum no delírio tremens, mas nem sempre presente são as alucinações
táteis e visuais em que o paciente "vê" insetos ou animais asquerosos próximos ou pelo seu
corpo. Esse tipo de alucinação pode levar o paciente a um estado de agitação violenta para
tentar livrar-se dos animais que o atacam. Pode ocorrer também uma forma de alucinação
induzida, por exemplo, o entrevistador pergunta ao paciente se está vendo as formigas
andando em cima da mesa sem que nada exista e o paciente passa a ver os insetos sugeridos.
O Delirim Tremens é uma condição potencialmente fatal, principalmente nos dias quentes e
nos pacientes debilitados. A fatalidade quando ocorre é devida ao desequilíbrio hidro-
eletrolítico do corpo.
Intoxicação pelo álcool
O estado de intoxicação é simplesmente a conhecida embriaguez, que normalmente é obtida
voluntariamente. No estado de intoxicação a pessoa tem alteração da fala (fala arrastada),
descoordenação motora, instabilidade no andar, nistagmo (ficar com olhos oscilando no plano
horizontal como se estivesse lendo muito rápido), prejuízos na memória e na atenção, estupor
ou coma nos casos mais extremos. Normalmente junto a essas alterações neurológicas
apresenta-se um comportamento inadequado ou impróprio da pessoa que está intoxicada. Uma
pessoa muito embriagada geralmente encontra-se nessa situação porque quis, uma leve
intoxicação em alguém que não está habituado é aceitável por inexperiência mas não no caso
de alguém que conhece seus limites.
Wernicke-Korsakoff (síndrome amnéstica)
Os alcoólatras "pesados" em parte (10%) desenvolvem algum problema grave de memória. Há
dois desses tipos: a primeira é a chamada Síndrome Wernicke-Korsakoff (SWK) e a outra a
demência alcoólica. A SWK é caracterizada por descoordenação motora, movimentos oculares
rítmicos como se estivesse lendo (nistagmo) e paralisia de certos músculos oculares,
provocando algo parecido ao estrabismo para quem antes não tinha nada. Além desses sinais
neurológicos o paciente pode estar em confusão mental, ou se com a consciência clara, pode
apresentar prejuízos evidentes na memória recente (não consegue gravar o que o examinador
falou 5 minutos antes) e muitas vezes para preencher as lacunas da memória o paciente
inventa histórias, a isto chamamos fabulações. Este quadro deve ser considerado uma
emergência, pois requer imediata reposição da vitamina B1(tiamina) para evitar um
agravamento do quadro. Os sintomas neurológicos acima citados são rapidamente revertidos
com a reposição da tiamina, mas o déficit da memória pode se tornar permanente. Quando isso
acontece o paciente apesar de ter a mente clara e várias outras funções mentais preservadas,
torna-se uma pessoa incapaz de manter suas funções sociais e pessoais. Muitos autores
referem-se a SWK como uma forma de demência, o que não está errado, mas a demência é
um quadro mais abrangente, por isso preferimos o modelo americano que diferencia a SWK da
demência alcoólica.
Síndrome Demencial Alcoólica
Esta é semelhante a demência propriamente dita como a de Alzheimer. No uso pesado e
prolongado do álcool, mesmo sem a síndrome de Wernick-Korsakoff, o álcool pode provocar
lesões difusas no cérebro prejudicando além da memória a capacidade de julgamento, de
abstração de conceitos; a personalidade pode se alterar, o comportamento como um todo fica
prejudicado. A pessoa torna-se incapaz de sustentar-se.

Síndrome de abstinência fetal


A Síndrome de Abstinência Fetal descrita pela primeira vez em 1973 era considerada
inicialmente uma conseqüência da desnutrição da mãe, posteriormente viu-se que os bebês
das mães alcoólatras apresentavam problemas distintos dos bebês das mães desnutridas,
além de outros problemas que esses não tinham. Constatou-se assim que os recém-natos das
mães alcoólatras apresentam um problema específico, sendo então denominada Síndrome de
Abstinência Fetal (SAF). As características da SAF são: baixo peso ao nascer, atraso no
crescimento e no desenvolvimento, anormalidades neurológicas, prejuízos intelectuais, más
formações do esqueleto e sistema nervoso, comportamento perturbado, modificações na
pálpebra deixando os olhos mais abertos que o comum, lábio superior fino e alongado. O
retardo mental e a hiperatividade são os problemas mais significativos da SAF. Mesmo não
havendo retardo é comum ainda o prejuízo no aprendizado, na atenção e na memória; e
também descoordenação motora, impulsividade, problemas para falar e ouvir. O déficit de
aprendizado pode persistir até a idade adulta.

O estresse pode provocar alcoolismo?


O estresse não determina o alcoolismo, mas estudos mostraram que pessoas submetidas a
situações estressantes para as quais não encontra alternativa, tornam-se mais freqüentemente
alcoólatras. O álcool possui efeito relaxante e tranqüilizante semelhante ao dos ansiolíticos. O
problema é que o álcool tem muito mais efeitos colaterais que os ansiolíticos. Numa situação
dessas o uso de ansiolíticos poderia prevenir o surgimento de alcoolismo. Na verdade o que se
encontra é a vontade de abolir as preocupações com a embriaguez e isso os ansiolíticos não
proporcionam, ou o fazem em doses que levariam ao sono. O homem quando submetido a
estresse tende a procurar não a tranqüilidade, mas o prazer. Daí que a vida sexualmente
promíscua muitas vezes é acompanhada de abuso de álcool e drogas. O fato de uma pessoa
não encontrar uma solução para seu estresse não significa que a solução não exista. A
Logoterapia, por exemplo, ajuda o paciente a encontrar um significado na sua angústia. Não
suprime a fonte da angústia, mas a torna mais suportável. Quando uma dor adquire um
sentido, torna-se possível contorná-la, continuar a vida com um sorriso, desde que ela não seja
incapacitante. Sob esse aspecto a logoterapia pode ajudar a vencer o alcoolismo nas suas
etapas iniciais, quando ainda não surgiu dependência química. Uma situação de estresse real
que passamos atualmente é o desemprego. Este problema social é de difícil resolução e
geralmente faz com que as pessoas se ajustem às custas de elevação da tensão emocional
prolongada, que é a mesma coisa de estresse.

Alcoolismo e desnutrição
As principais funções do processo alimentar são a manutenção da estrutura corporal e das
necessidades energéticas diárias. Uma alimentação equilibrada proporciona o que precisamos.
O álcool é uma substância bastante energética, em épocas passadas, chegou a ser usado em
pacientes após cirurgias para uma reposição mais rápida da energia perdida na cirurgia.
Apesar de altamente calórico o álcool não é armazenável. Não fossem os efeitos prejudiciais
ao longo do tempo, o álcool seria um excelente meio de perder peso. Para que se possa
entender como o álcool fornece energia e ao mesmo tempo não é armazenável é necessário
entender seu mecanismo metabólico o que não será abordado aqui. Pelo fato do usuário de
álcool possuir suas necessidades energéticas supridas ele não sente muita ou nenhuma fome,
assim não há vontade de comer. A diminuição da oferta das substâncias (proteínas, açucares,
gorduras, vitaminas e minerais) usadas na constante reconstrução dos tecidos, não interrompe
o processo de destruição natural das células que estão sendo substituídas constantemente.
Assim o corpo do alcoólatra começa a se consumir. Esse processo leva a desnutrição.

Testes Neuropsicológicos
Os pacientes alcoólatras confirmados ao se submeterem a testes de inteligência apresentam
45 a 70% normais. Contudo, esses mesmos ao fazerem testes mais específicos em
determinadas áreas do funcionamento mental, como a capacidade de resolver problemas,
pensamento abstrato, desempenho psicomotor, memória e capacidade de lidar com novidades,
costumam apresentar problemas. Os testes normalmente representam atividades
desempenhadas diariamente e não situações especiais ou raras. Este resultado mostra que os
testes superficiais deixam passar comprometimentos significativos. Os testes neuropsicológicos
são mais adequados e precisos na medição de capacidades mentais comprometidas pelo
álcool. Tem sido observado também que no cérebro dos alcoólatras ocorrem modificações na
estrutura apresentada nos exames de tomografia ou ressonância, além de comprometimento
na vascularização e nos padrões elétricos. Como esses achados são recentes, não houve
tempo para se estudar a relação entre essas alterações laboratoriais e os prejuízos
psicológicos que eles representam.

Efeitos do Álcool sobre o Cérebro


Os resultados de exames pos-mortem (necropsia) mostram que pacientes com história de
consumo prolongado e excessivo de álcool têm o cérebro menor, mais leve e encolhido do que
o cérebro de pessoas sem história de alcoolismo. Esses achados continuam sendo
confirmados pelos exames de imagem como a tomografia, a ressonância magnética e a
tomografia por emissão de fótons. O dano físico direto do álcool sobre o cérebro é um fato já
inquestionavelmente confirmado. A parte do cérebro mais afetada costumam ser o córtex pré-
frontal, a região responsável pelas funções intelectuais superiores como o raciocínio,
capacidade de abstração de conceitos e lógica. Os mesmos estudos que investigam as
imagens do cérebro identificam uma correspondência linear entre a quantidade de álcool
consumida ao longo do tempo e a extensão do dano cortical. Quanto mais álcool mais dano.
Depois do córtex, regiões profundas seguem na lista de mais acometidas pelo álcool: as áreas
envolvidas com a memória e o cerebelo que é a parte responsável pela coordenação motora.

O Processo Metabólico do Álcool


Quando o álcool é consumido passa pelo estômago e começa a ser absorvido no intestino
caindo na corrente sanguínea. Ao passar pelo fígado começa a ser metabolizado, ou seja, a
ser transformado em substâncias diferentes do álcool e que não possuem os seus efeitos. A
primeira substancia formada pelo álcool chama-se acetaldeído, que é depois convertido em
acetado por outras enzimas, essas substâncias assim com o álcool excedente são eliminados
pelos rins; as que eventualmente voltam ao fígado acabam sendo transformadas em água e
gás carbônico expelido pelos pulmões. A passagem do intestino para o sangue se dá de
acordo com a velocidade com que o álcool é ingerido, já o processo de degradação do álcool
pelo fígado obedece a um ritmo fixo podendo ser ultrapassado pela quantidade consumida.
Quando isso acontece temos a intoxicação pelo álcool, o estado de embriaguez. Isto significa
que há muito álcool circulando e agindo sobre o sistema nervoso além dos outros órgãos.
Como a quantidade de enzimas é regulável, um indivíduo com uso contínuo de álcool acima
das necessidades estará produzindo mais enzimas metabolizadoras do álcool, tornando-se
assim mais "resistente" ao álcool. A presença de alimentos no intestino lentifica a absorção do
álcool. Quanto mais gordura houver no intestino mais lenta se tornará a absorção do álcool.
Apesar do álcool ser altamente calórico (um grama de álcool tem 7,1 calorias; o açúcar tem
4,5), ele não fornece material estocável; assim a energia oferecida pelo álcool é utilizada
enquanto ele circula ou é perdida. A famosa "barriga de chop" é dada mais pelos aperitivos que
acompanham a bebida.

Consequências corporais do alcoolismo


À medida que o alcoolismo avança, as repercussões sobre o corpo se agravam. Os órgãos
mais atingidos são: o cérebro, trato digestivo, coração, músculos, sangue, glândulas
hormonais. Como o álcool dissolve o mucus do trato digestivo, provoca irritação na camada
externa de revestimento que pode acabar provocando sangramentos. A maioria dos casos de
pancreatite aguda (75%) são provocados por alcoolismo. As afecções sobre o fígado podem ir
de uma simples degeneração gordurosa à cirrose que é um processo irreversível e
incompatível com a vida. O desenvolvimento de patologias cardíacas pode levar 10 anos por
abusos de álcool e ao contrário da cirrose pode ser revertida com a interrupção do vício. Os
alcoólatras tornam-se mais susceptíveis a infecções porque suas células de defesas são em
menor número. O álcool interfere diretamente com a função sexual masculina, com infertilidade
por atrofia das células produtoras de testosterona, e diminuição dos hormônios masculinos. O
predomínio dos hormônios femininos nos alcoólatras do sexo masculino leva ao surgimento de
características físicas femininas como o aumento da mama (ginecomastia). O álcool pode
afetar o desejo sexual e levar a impotência por danos causados nos nervos ligados a ereção.
Nas mulheres o álcool pode afetar a produção hormonal feminina, levando diminuição da
menstruação, infertilidade e afetando as características sexuais femininas.

ALCOOLISMO

Sinônimos:

Abuso e dependência química do álcool  

O uso de substâncias que modificam o estado psicológico tem ocorrido em todas as


culturas conhecidas desde a Antigüidade mais remota. Costumavam ser associadas a
rituais tradicionais nas várias culturas. Um remanescente desse aspecto ritualístico do
uso de substâncias mantém-se na igreja católica que segue usando vinho durante sua
celebração. O alcoolismo é uma doença que afeta a saúde física, o bem estar emocional
e o comportamento do indivíduo. Segundo estatísticas americanas, atinge 14% de sua
população e no Brasil estima-se que entre 10 a 20% da população sofra deste mal. O
álcool é classificado como um depressor do sistema nervoso central.    

EFEITOS FÍSICOS  
Os efeitos físicos ocasionados pelo álcool são muito amplos no ser humano. Diminuição
dos reflexos e sedação são comuns. O uso a longo prazo aumenta o risco de doenças
como o câncer na língua, boca, esôfago, laringe, fígado e vesícula biliar. Pode ocasionar
hepatite, cirrose, gastrite e úlcera. Quando usado em grande quantidade pode ocasionar
danos cerebrais irreversíveis. Pode levar à desnutrição. Pode causar problemas cardíacos
e de pressão arterial. É uma causa conhecida de malformação congênita quando usado
durante a gestação.  

EFEITOS EMOCIONAIS  

Os efeitos emocionais e comportamentais são muito frequentes e variáveis conforme a


tolerância do indivíduo e a dose ingerida. Perda da inibição, sendo que pessoa
intoxicada com álcool pode fazer coisas que normalmente não faria, como, por
exemplo, dirigir um carro em alta velocidade. Alteração do humor, ocasionando raiva,
comportamento violento, depressão e até mesmo suicídio. Pode resultar em perda de
memória. Prejuízo na vida familiar do alcoolista, ocasionando desentendimento entre o
casal, e problemas emocionais a longo prazo nas crianças. Diminuição da produtividade
no trabalho.   

COMO A PESSOA DESENVOLVE ALCOOLISMO  

Um indivíduo pode tornar-se alcoolista devido a um conjunto de fatores, incluindo


predisposição genética, estrutura psíquica, influências familiares e culturais. Sabe-se
que homens e mulheres têm 4 vezes mais probabilidade de ter problemas com álcool se
seus pais foram alcoolistas.   

EFEITOS DO ÁLCOOL  

Geralmente está associado a outras condições psiquiátricas como transtornos de


personalidade, depressão, transtorno afetivo bipolar (ou psicose maníaco depressiva),
transtornos de ansiedade e suicídio.   

INTOXICAÇÃO POR ÁLCOOL  

Os sintomas dependem da concentração de álcool no sangue. No início do quadro a


pessoa pode tornar-se séria e retraída, ou falante e alegre. Podem ocorrer crises de riso
ou choro. Em geral ocorre sonolência. Gradativamente o indivíduo começa a perder a
coordenação motora, apresentando dificuldade para falar e caminhar. Os reflexos
tornam-se mais lentos. Intoxicações graves com concentrações maiores de álcool no
sangue podem levar ao coma, depressão respiratória e morte.    

INTOXICAÇÃO PATOLÓGICA  

Caracteriza-se por intensas mudanças de comportamento e agressividade após a


ingestão de uma pequena quantidade de álcool. A duração é limitada, sendo comum o
black out (amnésia). Pela violência das manifestações pode ser necessário até internar o
paciente além de medicá-lo. 

SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA AO ÁLCOOL  


Ocorre em pacientes que fazem uso de álcool em grande quantidade e por tempo
prolongado, e que param de consumir a bebida. Os primeiros sintomas de abstinência
iniciam 12 horas após parar de beber. Os sintomas mais comum são os tremores,
acompanhados de irritabilidade, náuseas, vômitos, ansiedade, sudorese, pupilas
dilatadas e taquicardia. Pode evoluir para uma condição clínica mais grave chamada
Delirium por abstinência de álcool (Delirium Tremens)    

DELIRIUM TREMENS  

É uma emergência médica e, quando não tratado adequadamente, pode levar o paciente
a convulsões e morte em até 20% dos casos. Inicia geralmente na semana em que o
paciente para de beber. O paciente apresenta taquicardia, sudorese, febre, ansiedade,
insônia. Pode apresentar alucinações, como, por exemplo, enxergar insetos ou outros
pequenos bichos na parede. O nível de consciência do paciente "flutua" desde um estado
de hiperatividade até um de letargia.    

COMO O MÉDICO FAZ O DIAGNÓSTICO  

O diagnóstico é feito através de uma anamnese (entrevista) com o paciente e sua família
e exame físico. Os exames de laboratório não servem para diagnosticar alcoolismo,
porém podem dar "pistas" se o paciente faz uso crônico de álcool, e conseguem dar uma
idéia aproximada do grau de lesão de alguns órgãos ocasionado pelos efeitos tóxicos do
álcool, como por exemplo no fígado.   

COMO SE TRATA  

Em primeiro lugar é preciso esclarecer que não existe um tratamento ideal para o
alcoolismo. Por isso, os casos devem ser considerados individualmente, e a partir de um
bom exame clínico, deve-se indicar o tratamento mais apropriado para cada paciente de
acordo com o grau de dependência e do ponto de desenvolvimento da doença em que se
encontra a pessoa. É preciso lembrar que as recaídas são comuns nos pacientes
alcoolistas. Na grande maioria dos casos, o próprio paciente não consegue perceber o
quanto está envolvido com a bebida, tendendo a negar o uso ou mesmo a sua
dependência dela. Nestes casos, pode-se começar o tratamento ajudando o paciente a
reconhecer seu problema e a necessidade de tratar-se e de tentar abster-se do álcool. A
indicação de internação, pelo menos como fase inicial de desintoxicação, costuma ser a
regra.  

Em ambulatório, os tratamentos disponíveis são a psicoterapia cognitivo


comportamental e a psicoterapia de orientação analítica, realizadas individualmente ou
em grupo.  

Os grupos de auto-ajuda, como os Alcoólicos Anônimos, têm-se mostrado uma das


alternativas mais eficazes no tratamento do paciente alcoolista e no acompanhamento de
sua família, o que costuma ser indispensável para o bom andamento do tratamento.
Algumas medicações podem ser utilizadas para causar uma reação física violenta se a
pessoa ingere álcool ou ainda bloquear a vontade e o prazer de beber.  

Alcoolismo começa em casa


26/11/2005

Jovens começam a beber dentro de casa

O alcoolismo está entre as drogas de maior relevância no Brasil, sendo o


consumo superior ao das drogas ilícitas. Estima-se que 11,2% da população seja
dependente de álcool, conforme pesquisa do Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas Psicotrópicas – Cebrid.

Os dados específicos da Região Sul apontam que 69,4% da população já


consumiu álcool alguma vez na vida.
Outra pesquisa desenvolvida pelo Cebrid com estudantes de 10 capitais apontou
que 40% dos entrevistados de 12 a 18 anos ingeriram bebida alcoólica pela
primeira vez em casa. Os dados confirmam que nos últimos anos têm aumentado
a dependência entre jovens e mulheres.

Conforme a Associação dos Alcoólatras Anônimos de Santa Catarina, geralmente


o dependente de álcool demora para aceitar a dependência. Nesses casos, o
apoio da família e dos amigos é fundamental.

Geralmente a pessoa é levada para o grupo pelos amigos, onde são


compartilhadas experiências. O tempo de recuperação depende de cada pessoa.
Aos poucos, a pessoa vai tendo consciência dos seus limites e volta a ter uma
vida normal - disse um dos membros da AAA/SC. Atualmente a Associação dos
Alcoólatras Anônimos possui 235 grupos no Estado.

O Impacto do Álcool
na Família

Escrito por Web master   

16-Nov-2007
Falar do álcool e do seu consumo implica distinguir entre o consumo moderado e o consumo excessivo. Ao contrário
de outras substâncias tóxicas, como a heroína e a cocaína, o álcool é uma substância em que se aceita um consumo
moderado, em adultos saudáveis. A maior parte das famílias portuguesas lidam com esta substância de forma
saudável, outras pelo contrário, sofrem os malefícios de uma substância que se assume como uma droga quando é
consumida em excesso. Neste caso existem duas tipologias clínicas de problemas de consumo excessivo:
   o abuso
   a dependência ou alcoolismo
tendo respectivamente um aumento da gravidade e dos danos.

O abuso é hoje um padrão de consumo frequente nos adolescentes e jovens adultos, que se caracteriza pelo beber
com intenção de ficar intoxicado e com alterações de comportamento. As famílias muitas vezes não estão sensíveis
para este problema, desculpando e desvalorizando os consumos dos seus filhos e sem querer estão a incentivar e
perpetuar um padrão de consumo de risco com danos claros para o próprio e para o sistema familiar, por exemplo, o
álcool e a condução é a principal causa de morte dos jovens portugueses. Por outro lado temos o Alcoolismo ou
Síndroma de Dependência Alcoólica, uma doença cada vez mais frequente em idades mais jovens, e nas mulheres.

Um doente alcoólico é uma pessoa que sofre e que faz sofrer aqueles que lhe
são próximos afectivamente, é considerada uma doença do “sistema familiar”,
pois todos são afectados, sendo que o seu tratamento também apela a uma
abordagem de todo o sistema.
Em que áreas é que a família pode ser afectada pelo abuso de álcool?
   Área económico-social
Carências económico-sociais motivadas pela despromoção profissional e desemprego.

   Área Relacional


Perturbações relacionais e deterioração progressiva da vida familiar, sendo frequente situações de:
Maus tratos físicos e psicológicos aos diferentes elementos do agregado;
Violações e situações de incesto;
Negligência nos cuidados aos filhos e nas responsabilidades parentais;
Rupturas do sistema familiar (separação, divórcio).

   Na descendência
O lar do doente alcoólico é simultaneamente um lar patogénico e patológico, com graves repercussões sobre os
restantes elementos, nomeadamente sobre os filhos. A instabilidade, a insegurança, o ambiente tenso e conflituoso,
são características frequentes no ambiente familiar do doente alcoólico e que têm repercussões negativas ao nível do
desenvolvimento das crianças que nele vivem e no desenvolvimento de patologias depressivas nos adultos. Quando é
o pai o doente, estão comprometidas em termos psicológicos, a identificação com esta figura de referência. Quando é
a mãe a doente, são frequentes situações de carência de afecto e de cuidados, negligência e abandono.
O ambiente patológico, e desestruturado em que vivem os filhos dos doentes alcoólicos  em geral é responsável por
muitas  patologias infantis, nomeadamente:
- atrasos no desenvolvimento
- dificuldades na aprendizagem
- perturbações no comportamento
- insucesso escolar
- abandono escolar
- comportamentos desviantes
- Parentalização dos filhos; assumem responsabilidades dos pais (cuidam dos irmãos, das tarefas domésticas), e
deixam de ser crianças.

Entre as acções directamente tóxicas do consumo excessivo de álcool sobre os filhos, deve-se distinguir as acções
tóxicas pré-natais (consumo de álcool durante a gravidez) e que podem levar a abortos espontâneos, nascimentos da
criança morta, partos prematuros, malformações que podem constituir o Síndroma Fetal Alcoólico. Por outro lado,
temos as acções pós-nascimentos (ingestão de álcool durante a amamentação e durante a primeira infância), que
provoca atrasos no desenvolvimento geral, para além de uma maior predisposição para desenvolverem uma doença
alcoólica em idades muito precoces.

Quais os padrões de funcionamento mais comuns em famílias de alcoólicos?


   Falta de confiança
A família deixa de confiar no doente alcoólico que promete sempre que foi a última vez que bebeu em excesso. Os
conflitos são frequentes independentemente do doente estar intoxicado. 

   Irresponsabilidade
Os doentes alcoólicos são frequentemente negligentes em relação às responsabilidades familiares e sentimentos para
com a família: passam muito tempo fora da família, não acompanham a educação dos filhos e gastam recursos
económicos que fazem falta em outras áreas. Dependendo da fase de progressão da doença, chega a um momento
em que o doente bebe para viver e vive para beber, tudo é pensado em função do álcool, que se assume como a
prioridade da sua vida.

   Medo
A família vive o dia a dia em stress e medo permanente que o doente se embriague e a consequência disso nas suas
vidas: chegar irritado, violento ou  ter um acidente.

   Culpa
A família tende a culpabilizar-se secretamente pela situação de alcoolismo que assombra a sua família.  Os filhos
acham-se “maus filhos”, sendo por essa razão que o pai ou a mãe bebe.

   Solidão e isolamento


A lei do silêncio impera entre os vários elementos do sistema familiar; o álcool assume-se como o segredo da família e
a comunicação entre os elementos fica perturbada, levando à solidão dos seus membros e ao isolamento social.

   Vergonha
O sentimento de vergonha leva a família a evitar contextos sociais, com receio do comportamento vexante que o
familiar alcoólico poderá vir a ter. Esta vergonha é a razão que impede muitas famílias de pedirem ajuda e que
contribui para o seu isolamento.
   Zanga, Mágoa
Sentimentos que vão-se instalando com o tempo de progressão da doença e que vão desgastando os elementos do
sistema que se vêem impotentes perante o problema do familiar. A negação típica do doente alcoólico e a sua
dificuldade em pedir ajuda desgasta a família ao ponto de levar à ruptura.

Tipos de ajuda para as famílias de doentes alcoólicos


Grupos de Auto-Ajuda
Grupos de Familiares e Amigos de Alcoólicos - Al- ANON
Tel. 21 216 03 97

Nestes grupos a família pode:


- Encontrar outras pessoas com os mesmos problemas
- Encontrar esperança em vez de desespero
- Melhorar a vida familiar
- Aprender a lidar com a doença alcoólica
- Recuperar a sua Auto-estima

Alcoolismo

Alcoolismo na Família
  Alcoolismo na família: Que fazer?

  Se tens amigos, vizinhos ou colegas do trabalho que sofrem por problemas ligados
ao álcool, já se apercebeu, com certeza da gravidade das suas dificuldades.

O alcoolismo não atinge unicamente as pessoas dependentes do álcool, mas tem


também repercussões na família, no seu conjunto, nas relações profissionais e privadas,
assim como na sociedade em geral.

Há em Portugal cerca de 600.000 dependentes do álcool, e relacionados com estes,


haverá cerca de 2.400.000 pessoas que vivem directa ou indirectamente as consequências
da doença alcoólica.

Mas há, no entanto, soluções meios e pessoas que poderão ajudar os doentes
alcoólicos e as suas famílias a sair dos seus problemas e reencontrar a esperança para todos.

O processo de resolução deste problema é constituído por 3 etapas:

Informação sobre a doença alcoólica;

Conhecimento e compreensão do papel de cada um no seio da família com problemas


ligados ao álcool;

Procura de ajuda por si próprio e restantes elementos envolvidos no sistema família

 
Informação sobre a doença alcoólica
 

O que é o alcoolismo?
 

A coisa mais importante a saber: O Alcoolismo não é uma fraqueza de caracter, nem
um vicio, mas sim uma doença.

O alcoolismo é caracterizado por uma dependência do álcool ( etanol ), do ponto de


vista físico e psíquico.

O indivíduo dependente perdeu a liberdade de se abster no consumo de bebidas


alcoólicas, não conseguindo controlar o seu consumo; a necessidade de beber ocupa os
seus pensamentos, modificando o seu comportamento.

Considera-se que se trata de uma doença complexa, em que as causa são múltiplas:

no indivíduo: no plano biológico genético e psicológico;

no meio circundante: a nível social e a nível cultural.

A dependência do álcool conduz a uma necessidade física de beber, provocada pela


falta de álcool. A isto bem juntar-se a necessidade psicológica de consumir: O indivíduo
dependente tem a ideia de não conseguir viver sem álcool.

Uma doença que afecta toda a família no seu conjunto


 

O problema do alcoolismo não diz respeito apenas à pessoa que consome bebidas
alcoólicas. Os membros da sua família, as pessoas mais próximas, são particularmente
atingidas no plano afectivo e no seu quotidiano, sentindo-se tão desamparados como o
doente alcoólico.

A dependência atinge toda a família, divide-a e isola-a do resto do mundo. Os


sentimentos, os pensamentos e os comportamentos de cada membro da família são
dirigidos para o consumo de bebidas alcoólicas pelo familiar dependente.

O alcoolismo é portanto, mais que um problema individual, na medida em que


atinge a família no seu conjunto.

Considera-se muitas vezes “ doença do sistema familiar “: uma vez que cada um
esta envolvido, quer no processo de desenvolvimento do problema, quer na sua resolução.

Para se sair da dependência do álcool, é preciso aprender a conhecer esta doença e


desfazer mitos, falsos conceitos e ideias pré-concebidas.

A moderação
 

Muitos dos consumidores sentem imediatamente efeitos agradáveis logo que


ingerem bebidas alcoólicas: prazer, desinibição e conviabilidade.

No entanto a maior parte das pessoas que as consomem com moderação


conseguem-no fazer deste modo durante toda a vida.

Para se beber sem perigo é indispensável a moderação.

Consumir moderadamente é beber de modo a não ter problemas, nem


os criar nos outros.
Mas o álcool é uma droga que actua de maneiras diferentes, de indivíduo para
indivíduo. Em certas situações e em certas pessoas, uma pequena quantidade de álcool
basta para fazer desequilibrar no sentido da dependência.

Como é criada a dependência?


 

A dependência física e psíquica caracterizam a doença alcoólica. Esta dependência


só fica claramente visível quando se instala. Conhecer as diferentes etapas da doença pode
ajudar a família a melhor compreender o que é o alcoolismo e tornar eficaz a ajuda a
prestar ao doente e a ela própria.

Consumo de risco
 

Por razões diversas certas pessoas perdem o controle do consumo de álcool. Eles
encontram no álcool efeitos tão particulares e vantagens tão importantes de ponto de vista
psíquico e/ou social, que não conseguem prescindir dele. Daí resulta um consumo de risco.
D e facto o organismo habitua-se ao efeito do álcool, assim como a vida social; muitas vezes
arranjam inúmeros pretextos para beber em sociedade.

Consumo problemático
 

Quanto mais o álcool influenciar a vida do consumidor, mais facilmente se instalará


a dependência. A tolerância aumenta, e ele bebe cada vez mais para sentir os seus efeitos.
Vai-se afastando pouco a pouco dos outros e começa a perder interesse pelas coisas. Bebe
diariamente, muitas vezes ás escondidas e luta para controlar o consumo. Alguns tentam
definir os seus limites e conseguem deste modo viver alguns períodos de abstinência.
Infelizmente estes períodos são geralmente de curta duração. Nesta fase o consumo
começa a influenciar negativamente a vida do indivíduo, as suas responsabilidades e o seu
ambiente familiar e profissional. Há assim um sério risco de alcoolismo.

A dependência
 

O álcool domina a vida do indivíduo que se tornou totalmente dependente do


álcool. Nesses casos bebe, para não sentir os efeitos da sua falta; o seu organismo tem
necessidade de álcool para funcionar “normalmente”. O alcoólico perde as suas ambições, a
dependência torna-o inseguro. As suas faculdades intelectuais diminuem, e tem medos não
habituais, tornando-se desconfiado e retraído. A família sofre também as consequências
dessa mudança.

Como actua o álcool no organismo?


 

O abuso do álcool, com o decorrer dos anos, vai causando inúmeros desgastes na
saúde. O álcool é um tóxico para o organismo, destruindo células. Grandes doses, bebidas
durante um longo período de tempo podem danificar a maior parte dos órgãos vitais.

A dependência instala-se de modo lento e insidioso. Ela pode, mesmo antes de ser
reconhecida, ter já causado inúmeros danos, e até provocar em alguns casos, a morte. Esta
degradação do corpo é felizmente reversível, ou pelo menos controlável, se o indivíduo
parar de beber.

Os primeiros sinais
 

O cérebro é o órgão mais vulnerável: a percepção, a coordenação e as funções


motoras deterioram-se. O indivíduo pode perder a memória.

Sinal de alarme
 

Um alcoolismo de longa duração afecta o cérebro, o fígado, o coração e o pâncreas;


aumenta o risco de cancro, e atinge também o sistema imunitário: as defesas orgânicas
diminuem, tornando o indivíduo vulnerável a doenças graves.

Estado de crise
 

Graves lesões orgânicas, cancros, doenças infecciosas, acidentes e suicídios podem


conduzir a uma morte prematura.

A negação
 

As pessoas alcoólicas têm uma constante necessidade de justificar os seus excessos


relativamente às bebidas.

Desenvolvem um mecanismo de defesa, a negação, que lhes permite ignorar que se


tornaram dependentes do álcool. Podem assim afirmar que não têm problemas com as
consequências desse consumo.

A negação é uma forma de esconder o problema a si próprio e aos outros. Com


efeito ele faz batota com a realidade. É por isso que se ouve dizer que “...os alcoólicos são
mentirosos“.

A negação é uma atitude muito comum, mesmo admitindo a existência de um


problema, os alcoólicos atribuem a causa a tudo, menos ao consumo de álcool.

Por exemplo: “tenho problemas com o meu chefe, mas é porque ele não gosta de mim...”

Eles confundem muitas vezes as causas e as consequências:”...se nós não


discutíssemos tanto, eu beberia menos”, assim, enquanto o alcoólico encontrar desculpas
para continuar a beber, ele não conseguirá abordar o seu verdadeiro problema.

Falsos conceitos sobre o álcool e o alcoolismo


 

A maior parte das pessoas têm uma representação do alcoolismo que não
corresponde à realidade. Estes mitos e falsas ideias impedem uma melhor compreensão
sobre a doença alcoólica e o seio da família, entre amigos ou no meio laboral.

Os alcoólicos dizem:
 

“...mas eu bebo apenas cerveja”.


A cerveja também tem álcool. Numa cerveja de 33cl, há tanto álcool como num
copo de vinho, ou num cálice de aguardente.

“...mas eu tenho um bom emprego...”

A maioria dos alcoólicos estão ainda inseridos profissionalmente, sejam eles,


trabalhadores, quadros técnicos ou independentes. Um bom local de trabalho não impede
os problemas com o álcool.

A família pensa :
 

“... Mas é uma pessoa tão simpática ...”

Muitos alcoólicos são simpáticos e agradáveis. Não existe “uma personalidade


alcoólica “.

“Mas o nosso lar é tão afectuoso”

Durante muito tempo os alcoólicos mantêm o equilíbrio familiar.

“Mas ele quase nunca se embriaga”

São raros os alcoólicos que se embriagam. Eles bebem apenas o necessário para se
sentirem bem.

No trabalho ouve-se :
 

“Mas ele é tão inteligente para ser alcoólico...”

Não há qualquer ligação entre o quotidiano e a doença alcoólica.

“Mas eu nunca o vi embriagado...”

As pessoas dependentes do álcool conseguem muitas vezes esconder dos seus


colegas e chefias as suas alcoolizações.

“... Mas ele vem trabalhar todos os dias...”


Muitos alcoólicos são assíduos ao trabalho, chegando mesmo a dar a entender que
estão em forma, e a dissimular a sua grande apetência para as bebidas.

A sociedade decreta :
 

“... Mas é um vadio “

A maior parte dos dependentes do álcool é gente normal e respeitável. Só um


pequeno número acaba na rua.

“... Mas ele não tem ar de alcoólico...”

Não há um “fácies alcoólico”, e quando existe, muitas vezes é bem disfarçado pelo
alcoólico, para não chamar a atenção.

“... Mas ele é de tão boas famílias...”

A doença alcoólica afecta qualquer pessoa, qualquer que seja o estrato social,
familiar ou económico.

Conhecer e compreender os papéis de cada um


 

O meio familiar é um elemento importante da doença alcoólica,


porque os diferentes papeis de cada membro pode influenciar de maneira
determinante a evolução da doença.
Por à pessoa dependente e/ou para tornar a sua vida mais suportável, os familiares
adoptam comportamentos que na maioria das vezes mantêm o problema e por vezes até o
acentuam.

Logo que se toma consciência do papel que cada um desempenha no mecanismo de


dependência, os familiares podem então reagir, modificar as suas atitudes e distanciarem-
se. Neste sentido, a família terá a possibilidade de influenciar positivamente a evolução da
dependência.

Como reage a família


 
A maneira de viver do alcoólico afecta-o a si próprio e á sua família. As tensões e a
insegurança ocasionadas pelo seu comportamento, influenciam todos e deterioram o
ambiente familiar.

Dúvidas , desconfianças
 

Muitos membros da família desconfiam do doente alcoólico. Isto leva a numerosos


confrontos e conflitos, independentemente do facto de se beber ou não. Estas
desconfianças permanentes são desmoralizadoras.

Insegurança
 

Os doentes alcoólicos são frequentemente negligentes no que diz respeito ás


responsabilidades familiares e sentimentos para com a família. O seu comportamento põe
também em risco, o emprego e a economia familiar. Este facto é causa de grande
insegurança.

Medo
 

Uma família que luta com dificuldades imprevisíveis, vive um clima de stress e de
medo. Medo que o doente regresse á noite, de novo embriagado, arriscando-se a um
acidente de condução ou irritado e violento. Medo de que a família se divida.

Sentimentos de culpa
 

A família sente-se por vezes responsável pela alcoolização do doente. Cada um


pensa secretamente que “se eu fosse simpático, mais calmo para com ele, ele beberia
seguramente menos...”

Desilusão
 

As pessoas alcoólicas não são capazes de cumprirem as suas promessas. Assim,


também a família não se ilude, não esperando outra coisa do doente.
 

Solidão , isolamento
 

A lei do silêncio impõe á família não se pronunciar em conjunto, acerca do problema do


álcool. A comunicação fica perturbada e cada um fica sozinho face ás suas angústias.

Vergonha
 

O sentimento de vergonha leva a família a evitar os lugares onde possam ser vistos
com o familiar alcoólico, este pode, de facto, ter um comportamento vexante sempre que
bebe, o que perturba profundamente a sua família. Esta vergonha vai também impedir a
procura de ajuda no exterior.

Cólera , rancor
 

Os doentes alcoólicos exigem demasiado das suas famílias: paciência, coragem e


persistência. A cólera, a frustração e rancor aparecem. A unidade da família está em perigo.

Sofrimento, dor
 

É particularmente doloroso para os familiares, ver quem amam, modificar-se por


causa do álcool. Mais ainda, se os esforços para o ajudarem, as conversas havidas não
tiverem qualquer efeito, levando ao afastamento.

QUE PAPEL CABE A CADA UM ?


 

A dependência desenvolve-se de forma dissimulada. Os familiares adoptam muitas


vezes papéis que acentuam, ainda que involuntariamente este fenómeno.

Estes papéis são muitas vezes uma adaptação inconsciente da família a uma
situação demasiadamente pesada. Eles trazem todos, benefícios a curto prazo.

Mas a longo prazo, prolongam e reforçam os comportamentos de dependência, é


por isso que é importante reconhecer estes papéis, a fim de os poder ultrapassar. O sistema
familiar pode assim reencontrar, com muita paciência e persistência, a sua serenidade.

Os papéis mais observados na família onde há problemas ligados ao álcool, estão


descritos abaixo, no masculino, mas tanto podem ser adoptados por homens como por
mulheres.

Procurar ajuda
 

Fora do meio familiar


 

O alcoolismo é ultrapassável :
 

Cada pessoa pode modificar alguma coisa na sua própria vida para não sofrer todas
as consequências desta doença.

Os membros de uma família comparados com o problema devem primeiro aprender


a libertar-se da pressão em que vivem e tornarem-se independentes do alcoólico, pois ao
tornarem-se independentes os membros da família preparam-se para ajudar de uma forma
mais efectiva.

Assim, o processo de ajuda não começa por proibir ou impedir, mas pela tomada de
consciência do poder que o álcool representa sobre o seu próprio comportamento e pela
necessária libertação.

O passo não é fácil de dar, por isso necessitam de um suporte e de uma ajuda, que
deve ser procurada fora da família.

O distanciamento fará a mudança possível, mas ela não implica que se retire o
afecto à pessoa alcoólica.

Existem numerosos organismos de aconselhamento e grupos de auto-ajuda que


podem acompanhar e aconselhar o alcoólico da família, pois sair da dependência uma
mudança de maneira de pensar e de agir.

Onde encontrar ajuda e orientação?


 

Um primeiro passo importante, consiste em procurar ajuda fora do sistema familiar.


A família tem necessidade de ajudar por parte de pessoas que conhecem bem o
alcoolismo e todas as consequências desta doença.

O Defensor
 

O defensor insinua-se muitas vezes na vida do alcoólico para o ajudar.

Se um indivíduo alcoólico é incapaz de trabalhar ou de cumprir uma obrigação, o


defensor estará lá para justificar a sua ausência e para o substituir no seu trabalho.

Estas atitudes vão ajudar a proteger o alcoólico das consequências desagradáveis

O Protector
 

O protector assume tudo para que o alcoólico não seja responsabilizado.

Neste caso também é reforçado o comportamento abusivo do alcoólico.

O Revoltado
 

O revoltado tenta, por uma conduta inadaptada, desviar a atenção da família para
outros aspectos que não o problema ligado ao álcool.

Assim as crianças sentem-se prisioneiros desta situação familiar, podendo reagir


com maus resultados escolares, com agressividade ou outros comportamentos excessivos.

O Herói
 

O herói tenta desviar a atenção do problema com o álcool, adoptando um


comportamento exemplar. Ele espera secretamente que esta atitude ajude o alcoólico a
deixar de beber.

O Acusador
 

O Acusador atribui ao álcool a causa de todos os problemas familiares. O alcoólico


torna-se o principal alvo, o que vai reforçar a raiva e a impotência da pessoa dependente,
dando-lhe novas razões para beber.

O Passivo, fechado em si próprio


 

O passivo é apático para se distanciar e se proteger da dor e da culpa. Esta


indiferença é um mecanismo de defesa muito profundo, que não significa em caso nenhum,
um desinteresse pelo doente alcoólico.

A pessoa passiva sofre interiormente, recusando-se a confrontar-se com o problema


do álcool e suas consequências.

Conseguir :
 

Conhecer as atitudes que sustentam a dependência.

Os familiares que se deixam manipular pelo comportamento de um bebedor,


tornam-se eles próprios parte integrante do problema. Indirectamente eles mantêm o
abuso do álcool da pessoa em causa e deterioram a sua própria qualidade de vida. Tudo isto
impede a resolução do problema.

Reforços
 

Certos membros da família não suportam ver sofrer o alcoólico e reagem com
atitudes que paradoxalmente mantêm a dependência. Estes comportamentos provêm
frequentemente das pessoas afectivamente mais próximas do doente – o cônjuge, um filho,
amigos, colegas de trabalho. Todos podem adoptar inconscientemente e por durante muito
tempo tal atitude.

Não responder ás próprias necessidades


 

À força de se ocuparem das dificuldades do alcoólico, os membros da família não


podem viver uma vida normal e não respondem mais ás suas dificuldades, sem o querer,
são os alcoólicos que terão o poder de comandar as suas vidas.

Andar em círculo
 

Assim durante o longo tempo em que o sistema familiar foi dominado pelo álcool
ficará preso um circulo vicioso. O grande consumo da pessoa dependente vai induzir no seu
meio familiar comportamentos que a seu tempo incitarão o alcoólico a beber ainda mais. Só
as pessoas exteriores a este sistema familiar poderão quebrar este circulo vicioso.

Conseguir:
 

Adoptando novos comportamentos


 

Em geral, o primeiro passo para conseguir a resolução de um problema familiar


ligado ao álcool, não consiste em modificar as atitudes dos outros membros da família.

Centrando-se nas suas próprias necessidades, recusando o apoio às alcoolizações,


procurando suporte externo, a família porá em marcha o processo de remissão. Para isso é
necessário estar determinado em se distanciar das atitudes do alcoólico e de se interessar
por si próprio.

Cada um é responsável pelos seus actos


 

Logo que família deixa de proteger o alcoólico do abuso que ele não controla, dos
excessos e das eventuais abstinência, ela passa a desculpabilizar-se e atribui à pessoa em
causa a inteira responsabilidade dos seus actos. Porque cada um faz a sua vida e deve ser
livre para o fazer. A família pode, por isso, legitimamente distanciar-se do alcoólico para não
se sentir responsável pela sua dependência.

Assim todos ganham em autonomia.

Concentrar-se nas suas próprias necessidades


 

Logo que a família deixa de ser influenciada pela doença alcoólica, começam então
a resolução de uma parte do problema.

Dando prioridade às necessidades de cada um, os membros da família, dão um


passo decisivo em direcção a uma vida mais livre e de melhor qualidade. Só se pode ajudar
o outro quando se é forte e equilibrado.

Quebrar o círculo vicioso


 

Reconhecer que existe um problema de álcool na sua família e que o problema diz
respeito a cada um, permite falar das dificuldades sentidas, tanto no exterior como no
interior.

Quebra-se assim, para cada pessoa, a “lei do silêncio” que fazia do problema um
tabu.

Agir e querer mudar as coisas, não é fácil. Ajuda, suporte e compreensão vindas do
exterior, serão mais uma vez de grande utilidade.

Quem pode ajudar a família do alcoólico?


 

Logo que os membros da família se sintam preparados para aceitar a ajuda exterior,
eles compreenderão que não são os únicos a ter este tipo de problema. Muitas outras
pessoas estão confrontadas com as mesmas dificuldades.

Assim, a família terá à sua disposição apoios que não são de desprezar:

Grupos de auto-ajuda, serviços especializados, etc...

Grupos de Auto-Ajuda
 

Estes grupos são compostos por pessoas que vivem ou viveram o mesmo problema,
ou seja, alcoolismo família.

Tais grupos dirigem-se não só aos familiares de alcoólicos, mas também a pessoas
que crescem numa família alcoólica, sofrendo por isso as respectivas consequências.
Estes grupos oferecem um clima de confiança, calor humano, apoio para ultrapassar
os problemas do álcool no seio familiar, facilitando também as trocas de experiência.

Serviços especializados
 

Muitas famílias procuram ajuda junto de instituições especializadas. Há neste


âmbito, muitas possibilidades.

Os centros de alcoologia não são os únicos a poder ajudar. Eles podem também
propor outras alternativas terapêuticas. O seu conselho não só e gratuito, como também
esta sujeito ao sigilo profissional.

Estes serviços oferecem a possibilidade de discutir a sós ou com a família, este tipo
de problemas. Encontraremos o endereço na lista. Diferem uns dos outros, por vezes
conforme a região, o tipo de técnicos e técnicas usadas no que respeita ao álcool, e
toxicodependências , mas no fundamental, todos saberão aconselhar a orientar para outros
serviços.

Os centros de Saúde, os médicos de família e outros estarão também aptos a


aconselhar sobre os problemas ligados a álcool.

Quem pode ajudar o doente alcoólico?


 

Após a abordagem franca do problema pelos membros da família, o doente


alcoólico poderá sentir-se desprotegido. Isto pode, numa primeira fase estimular o aumento
do consumo, mas pouco a pouco, os esforços da família para se sentir melhor, terão efeitos
no indivíduo alcoólico.

Estas mudanças familiares levá-lo-ão a enfrentar a realidade e obrigá-lo-ão a ter que


assumir as suas responsabilidades. Esta crise momentânea oferece uma possibilidade ao
bebedor de admitir a sua doença e de pedir ajuda.

Para o doente alcoólico existem também inúmeras possibilidades, desde que


efectivamente queira voluntariamente mudar a sua situação.

O objectivo de todos os tratamentos é o mesmo: aprender a assumir e a resolver os


seus próprios problemas sem recorrer ao álcool.

O primeiro passo é a abstinência alcoólica- tratamento físico.

O tratamento
 

Significa parar totalmente o consumo de bebidas alcoólicas. Esta paragem não pode
ser progressiva, mas imediata.

Uma vez abstinente, há medicamentos específicos eficazes para ajudar o doente a


ultrapassar sem sofrimento o síndroma de abstinência daí resultante.

Este estado de abstinência, pode, por vezes, trazer riscos para a saúde, e por isso é
necessário um acompanhamento médico efectivo. Por isso se efectua tratamento em
hospitais ou clínicas especializadas.

Contudo, é possível efectuar este tratamento em regime ambulatório.

O tratamento de desintoxicação física é apenas uma das etapas do sentido da


recuperação. O doente deverá aprender a viver sem álcool, uma vez que a dependência o
impede de voltar a beber, mesmo que moderadamente.

GRUPOS DE AJUDA
 

Os grupos de auto-ajuda reúnem pessoas que vivem uma dificuldade comum e se


entre ajudam para a ultrapassar. Neste casos, manter a abstinência é a maior dificuldade. A
participação regular em reuniões de tais grupos é uma forma corrente de tratamento. Os
grupos estão sempre disponíveis para as pessoas que tenham problemas de álcool, e que
procurem quem os ouça e quem os ajude. Estes grupos(Alcoólicos Anónimos, Alcoólicos
Tratados, etc.), tal como as instituições especializadas, oferecem este tipo de apoio.

MÉDICO DE FAMÍLIA
 

O médico de família é um profissional importante para a abordagem dos problemas


ligados ao álcool no seio da família. A relação de confiança entre o médico e o seu paciente
facilitará indiscutivelmente a abordagem do problema da dependência, quer física quer
psíquica. O médico de família pode dar informações necessárias sobre a doença, falando
com o seu paciente procurando soluções realistas. Pode de acordo com as necessidades,
propor locais de tratamento e tratamentos especializados.

TRATAMENTO AMBULATÓRIO
 

O tratamento ambulatório permite abordar o problema sem interromper a


actividade da vida profissional. Para isso, o doente deve encontrar-se regularmente com o
terapeuta ou com o técnico de Serviço Social, mantendo as actividades quotidianas
habituais.

TRATAMENTO EM REGIME DE INTERNAMENTO


 

O internamento destina-se a pessoas dependentes que têm necessidade de tempo


para efectuar o tratamento físico e restabelecer o equilíbrio psicológico sem álcool. Regra
geral dura 2 a 4 semanas, e são efectuados em instituições especializadas, ou em clínicas.
Em princípio é aconselhado posteriormente um seguimento regular em regime ambulatório
durante 1 ou 2 anos. A maior parte dos tratamentos da doença alcoólica propõe a
participação do cônjuge ou da família no processo de recuperação do sistema familiar.

A ESPERANÇA EXISTE
 

Muitos alcoólicos mantêm a abstinência alcoólica após o tratamento. A recuperação


é um processo lento, é preciso tempo, para que sejam visíveis as modificações. O alcoolismo
é uma doença crónica, por isso a recaída pode surgir em qualquer momento. A recaída não
deve ser considerada como um insucesso, uma fraqueza da pessoa, mas como um sinal de
que as dificuldades ainda não estão totalmente ultrapassadas e de que o indivíduo não
poderá recorrer ao álcool para as resolver. É neste momento que o doente alcoólico tem
necessidade de suporte para encontrar a sobriedade. Neste âmbito são essenciais os
programas de acompanhamento em regime ambulatório e pós-cura, bem como a preciosa
intervenção dos grupos de auto-ajuda.

É com a ajuda e suporte de pessoas exteriores à família, com muita paciência,


compreensão e perseverança recíproca, que o doente alcoólico e a sua família tomam
consciência dos seus problemas pessoais e das suas necessidades. Só assim admitirão os
seus próprios limites de forma a poderem encontrar o seu caminho e ultrapassar esta crise
dolorosa, aspirando a uma existência mais feliz na sociedade.

CONCLUSÃO
 

Na abordagem deste tema facilmente nos apercebemos de três elementos: o álcool,


alcoólico e a família, que estão intimamente relacionados. O abuso de álcool provoca
alterações não só no indivíduo mas também em tudo o que o rodeia, família e amigos. É
importante salientar que o alcoolismo não é um vício mas sim uma doença. Este é um
problema que afecta todas as camadas sociais, desde pobre vagabundo á família mais rica.
Facilmente se fica dependente do álcool mas é difícil de se libertar. Existem contudo várias
instituições que podem ajudar a família alcoólica, a recuperar desta doença. Nunca nenhum
alcoólico se culpa por beber, este culpa sempre os outros. Não assume que tem uma
doença e foge sempre a razão. Vai envolvendo tudo, deixa de se interessar pelas coisas e
pensa unicamente no seu companheiro que o compreende e ouve sem repreender, a sua
querida garrafa, onde ele apaga todas as suas mágoas. Deparamo-nos também, com o
problema da violência familiar que nestes últimos anos têm aumentado sensivelmente nas
crianças e mulheres sendo as vítimas. Os maiores problemas de violência são devido ao
abuso do álcool.

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