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PEDAGOGIA QUÂNTICA

Por: Jorge Schemes

A física quântica surgiu no século XX como uma ciência que estuda o movimento dos átomos e das
partículas subatômicas. Ela revolucionou o entendimento da realidade e superou, em certo sentido, as
explicações da física de Newton.

Segundo a física clássica, o mundo é visto com certezas avaliativas de objetos, fornecendo fórmulas e
instrumentos para calcular peso, distância, força, impacto, velocidade, etc. Porém, as mesmas leis e fórmulas
não se aplicam na física quântica. No lugar do determinismo da física clássica, a física quântica apresenta o
princípio da incerteza, ou seja, que no microcosmo do mundo quântico as partículas subatômicas se
comportam de maneira imprevisível. As partículas microscópicas do átomo são vistas como ondas de
possibilidades, pois podem estar ali, aqui e acolá. Por exemplo, o elétron, que é uma partícula subatômica,
comporta-se como uma partícula, mas também se comporta como onda, pois não pára quieto e pode estar
em vários lugares ao mesmo tempo. Os elétrons são ondas que se propagam pelo espaço, mas também são
partículas, ou seja, objetos microscópicos. Essa dupla característica é denominada pelos físicos modernos de
"dualidade onda-partícula". E um aspecto não funciona sem o outro, pois é um conjunto aparentemente
contraditório.

Todavia, ficou comprovado em laboratório, por meio de experimentos científicos, que ao serem
observados com instrumentos tecnológicos, os elétrons sofrem uma interferência no seu movimento ou
rumo. Quando um elétron é observado ele pára em um só ponto. Ou seja, o cientista é capaz de interferir no
rumo do elétron e alterar a realidade do mundo microscópico da física quântica, embora não tenha controle
sobre o lugar em que a partícula vai parar.

Há outro fator que é impressionante na realidade quântica. Ficou comprovado pela ciência moderna
que um elétron pode influenciar outro elétron quando sofre alguma interferência por meio da observação. E
o mais fantástico é que isso pode ocorrer à distância. Os cientistas, por meio de tecnologias em laboratórios
são capazes de estimular a "comunicação" e a interação dos átomos entre si. É possível fazer com que os
átomos se comportem de forma interligada, por exemplo, ao mexer em um átomo o outro também se mexe.
O mais surpreendente disso é o fato de que para ocorrer esse processo de interdependência a distância é
irrelevante, ou seja, a interdependência independe da distância entre as partículas. É como se o espaço não
existisse, pois se o cientista mexer com um átomo no Brasil pode fazer com que outro se movimente na
China, ou mais distante ainda, em Saturno. Na década de trinta, Albert Einstein batizou esse fenômeno de
"ação fantasmagórica a distância". Atualmente esse princípio quântico é conhecido como "entrelaçamento
de partículas".

Ao pensar na educação dentro destes conceitos quânticos, podemos fazer um paralelo e ao mesmo
tempo uma aplicação destes princípios. Se, por meio da observação instrumental, o ser humano é capaz de
influenciar a realidade do microcosmo das partículas subatômicas, também seria possível alterar nossa
realidade por meio do pensamento positivo.

Considerando que nosso corpo é composto de átomos, bem como toda realidade que nos cerca, e
que o pensamento também é uma onda de energia. Diante desta premissa faz-se necessário que os
educadores tenham uma atitude positiva e aprendam a desenvolver o pensamento positivo sobre si mesmos
e o seu ofício. Se acreditamos que nossa mente é capaz de alterar nossa realidade, se acreditamos que a
nossa realidade é o resultado de nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações, então não podemos
continuar pensando coisas mesquinhas sobre o que somos e fazemos. Precisamos eliminar os sentimentos
negativos que são alimentados por meio de nossos pensamentos e palavras, ou seja, coisas como baixa auto-
estima, derrota, desânimo, ódio, inveja ou qualquer outro sentimento negativo precisam dar lugar a
pensamentos e palavras de otimismo. Se desejamos receber coisas boas de nossos alunos em sala de aula,
devemos pensar e falar destas coisas com eles. Assim como o elétron é influenciado em seu rumo quando
observado e sofre uma parada, também podemos mudar o rumo de nossa atividade docente quando
mudamos a nossa disposição mental e passamos a pensar predominantemente de maneira positiva.

Penso que muitos problemas em sala de aula são causados pelos próprios professores devido a sua
disposição mental negativa em relação a si mesmos, ao que fazem e a seus alunos. É comum, na hora do
intervalo das atividades docentes, professores reclamarem de seus alunos e falarem mal de sua profissão. O
pensamento, as palavras e o sentimento que predomina são de desânimo, tristeza, rancor e revolta. Eles já
saem da sala dos professores com "pedras nas mãos" para se defender da indisciplina e das atitudes de
violência de seus alunos. E o que acontece? Justamente o que não desejam, ou o que temem. Os alunos
acabam refletindo o que seus professores pensam, sentem e falam a seu respeito. Esse princípio é chamado
por alguns teóricos da física quântica de "lei da atração". Ou seja, atraímos para a nossa vida aquilo que
dedicamos atenção, energia e concentração. Certamente você já ouviu dizer que amor gera amor, ódio gera
ódio, medo gera medo, confiança gera confiança, respeito gera respeito, etc. Desta maneira, se desejamos
despertar o melhor em nossos alunos devemos pensar, falar, sentir e desejar o melhor deles. Devemos
acreditar que eles têm o melhor para nos oferecer e esperar com confiança que irão corresponder aos
nossos pensamentos, palavras e sentimentos.

O princípio quântico de entrelaçamento de partículas revela que há uma sincronicidade no universo,


ou seja, não há coincidências, pois tudo está interligado. Sendo assim, não estamos separados do todo, mas
somos parte do universo. Diante disto, o dualismo psicofísico de R. Descartes cai por terra, ou seja, sua tese
de que somos apenas substância extensa (corpo) e substância pensante (mente) já não é mais suficiente para
entender a nossa realidade. Porém, o que norteia a concepção de realidade do mundo capitalista e
neoliberal é justamente a concepção cartesiana, de que o ser humano é como uma máquina programada e
fragmentada, separado do todo.

A idéia cartesiana do sujeito como ser pensante promove o individualismo egoísta. A propósito, esta
concepção cientificista de ser humano influenciou fortemente os modelos pedagógicos por meio da
psicologia experimental de B. Skinner com sua tese do behaviorismo. Todavia, pela física quântica
percebemos a realidade de modo totalmente inverso, ou seja, não somos seres fragmentados, mas estamos
todos interligados pelo mesmo princípio que rege o entrelaçamento de partículas. O que quer que o ser
humano faça, não está fazendo apenas a si mesmo. Não tecemos a rede da vida, somos apenas um nó desta
rede. Se de fato, estamos todos interligados no universo, precisamos rever as nossas concepções de
educação, de ser humano e de sociedade.

Na perspectiva do princípio quântico do entrelaçamento de partículas, como educadores não


podemos pensar no conhecimento de forma fragmentada ou separado do todo. A especialização é
necessária, mas nada mais é do que saber cada vez mais acerca de cada vez menos. Há urgência em
desenvolver uma concepção integral da realidade e do ser humano. O conhecimento não pode ser visto
como algo linear, mas sistêmico. Em sala de aula devemos pensar, falar, sentir e agir de forma interdisciplinar
e transdisciplinar.
Devemos perceber o entrelaçamento de nossa prática com as demais práticas. Chegou o momento
de parar de fazer educação de forma fragmentada, separada e alienada da realidade de nossos colegas de
trabalho e de nossos alunos. Mas como é possível mudar nossa prática? Devemos primeiro mudar os nossos
pensamentos, palavras e sentimentos. Platão já nos disse que este não é um processo fácil. Sair da caverna é
sentir o desconforto de questionar as nossas certezas. Embora a física quântica nos ajude a entender a
realidade sob outro prisma, o que irá determinar de fato a mudança será o pensamento positivo, o qual se
manifestará em nossas palavras e sentimentos e criará, por meio da lei da atração, a realidade que
desejamos.

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