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Analise do Comportamento: do que estamos falando?

Eduardo Alencar [eduardo_alencar]


31/8/06

Autor: Eduardo Alencar - UNINOVE

Este artigo apresenta uma das abordagens da ciência da Psicologia que toma como
objeto de estudo o comportamento dos organismos, abordagem com base filosófica no
Behaviorismo Radical do americano B.F. Skinner que define comportamento como a
interação entre indivíduos e o seu meio ambiente, o que nos permite observar, analisar e
descrever comportamentos sobre um foco diferenciado dentro da psicologia, mantendo
todo o rigor e metodologia científica exigida pela comunidade de psicólogos ao longo do
desenvolvimento desta ciência e dos avanços de suas abordagens.

Palavras Chaves: Analise do Comportamento, Behaviorismo Radical, Psicologia,


Comportamtno Humano.

Atualmente, a Psicologia concentra áreas teóricas, conceituais, filosóficas e


experimentais em constante desenvolvimento que possibilitam infinitas maneiras de
compreender o homem, o mundo, e a relação entre eles. Dentre as principais abordagens
que formam a ciência denominada “Psicologia”, encontramos a Análise do
Comportamento Humano que possui suas raízes filosóficas no Behaviorismo Radical do
americano B.F. Skinner.

A análise do comportamento lida com o manejo de nosso próprio comportamento e do


comportamento dos outros. Estamos sempre ajustando nossas ações às demandas do
mundo ao nosso redor.

Analisar comportamento é simplesmente estudar estes ajustamentos.


Assumindo que pessoas, lugares e coisas estão sempre controlando as ações de
quaisquer indivíduos, analistas do comportamento por tanto, tentam descobrir como
estabelecer, facilitar, impedir ou evitar esse controle.

Sidman (2003) afirma que a ciência da Análise do Comportamento tem suas raízes na
filosofia, então, destinguiu-se como um ramo da emergente disciplina da psicologia e
está
agora no processo de desengajar-se desta psicologia, uma vez que esta, como o próprio
nome sugere, é o estudo da mente, da alma. Já a Análise do Comportamento, é a ciência
do comportamento.

Matos e Tomanari (2002), parecem concordar com Sidman quando afirmam que o
Behaviorismo Radical propõe que o objeto de estudo da psicologia deva ser o
comportamento dos seres vivos, especialmente do homem. É radical na medida em que
nega ao psiquismo a função de explicar o comportamento, embora não negue a
possibilidade de , por meio de uma estrutura da linguagem, estudar eventos encobertos,
tais como pensamento e as emoções, só acessíveis ao próprio sujeito, ou seja, tanto na
filosofia quanto no momento atual desta abordagem, o foco é o comportamento
humano.

Baseado em alguns conceitos acerca do comportamento, entre eles o de comportamento


respondente, o de comportamento operante e o de comportamento verbal, onde o
comportamento operante é fortalecido ou enfraquecido por eventos posteriores a
resposta de um organismo, como por exemplo: cada vez que eu abro a porta (Resposta
do organismo) tenho acesso à outro lugar (Evento posterior a resposta), o
comportamento de abrir a porta para acessar outros lugares é fortalecido, de maneira
que não vemos nenhum organismo abrindo as paredes de uma casa quando querem
acessar determinados locais, além de sua característica principal focar a possibilidade de
aprendizagem e interação entre o homem e o ambiente, os comportamentos operantes
são aprendidos pelo organismo ao longo de sua história de vida.

Enquanto o comportamento respondente é controlado pelos estímulos antecedentes a


resposta de tal organismo, como por exemplo fecho os olhos (Resposta do organismo)
quando recebo um estímulo oficiante de luz (Evento antecedente a resposta), tendo
ainda como característica, comportamentos relacionados à espécie, ao fisiológico,
também conhecidos como fatores filogenéticos, estes possuem um caráter “mecânico”
Estímulo-Resposta.

E por fim, o termo comportamento verbal foi introduzido por Skinner em 1957, quando
a publicação do seu livro Verbal Behavior. Para analistas do Comportamento, o termo
veio como substituição da palavra "linguagem", pelas várias interpretações que esse
ultimo termo possui. Foi proposto "comportamento verbal", para enfatizar que
"linguagem" é um comportamento modelado e mantido por consequências e não é algo
ou uma propriedade que alguém possua ou, muito menos, uma entidade interna. A
característica do comportamento verbal é a de que ele é estabelecido e mantido por
reforçamento (Estímulos que seguem uma resposta do organismo, afetando-o,
fortalecendo ou enfraquecendo a resposta, como no exemplo do abrir a porta) mediado
por outra pessoa.

A ausência de uma compreensão clara acerca destes conceitos gera entre os próprios
estudantes da graduação de psicologia, críticas injustas à respeito desta abordagem,
como por exemplo: tratamento mecanicista do ser humano, não oferece tratamento para
os problemas de natureza emocional, entre outras.

Todo comportamento, seja ele operante, respondente ou verbal, alinhados à outros


conceitos da Analise do Comportamento (reforço, coerção, esquemas de reforçamento,
punição, dentre outras definições que percorrem a teoria), proporcionam aos Psicólogos
adeptos desta abordagem, o exercício de eficientes práticas, analises e técnicas para
correção de déficits comportamentais e transtornos de ordem “mental”, como o
Transtorno Obsessivo – Compulsivo, a Anorexia,o Autismo, dentre outros transtornos
mentais de alçada de psiquiatras e psicólogos.

Sidman (2003), chama a nossa atenção para o fato de que não é “nenhum bicho de 7
cabeças”, analisar a conduta humana, desde que consigamos manter um rigor
metodológico e científico de nossas práticas, então afirma que conduta se refere a
freqüências de respostas, ou seja, chamamos alguns alunos de falantes, pois observamos
que ele fala bastante, chamamos alguns alunos de inteligentes, ao ver que eles estudam
muito, chamamos alunos de céticos, pois estes questionam muito seus professores,
chamamos pessoas de felizes, pois observamos que sorriem demais, e assim por diante.
Não precisamos recorrer a aspectos “mentais” para realizar Analises acerca do
Comportamento Humano, nesta abordagem, considera-se ainda que a consciência, os
sentimentos, as emoções, a personalidade, são frutos de contingências que formam
repertórios comportamentais que socialmente, aprendemos a nomear de inteligente,
dinâmico, carinhoso, bravo, chato, legal, ativo, perspicaz, burro, etc.

Parece simples, mas a abordagem vai além do que chamamos de “fácil”, embora o
comportamento operante seja colocado sob controle de estímulos (antecedentes,
posteriores, ou ambos à resposta de um organismo), tal controle é apenas parcial e
condicional. A resposta operante de erguer o garfo para comer, por exemplo, não é
simplesmente eliciada pela vista da comida no prato ou pela presença do garfo. Depende
também da nossa fome, preferências alimentares frutos de nossa história de vida, e
outras variedades de condições de controle.

Analisar o comportamento humano (Abordagens comportamental) é tão complicado


quanto analisar a mente humana (Abordagens Psicodinâmicas) ou analisar a existência
do homem no mundo (Abordagens Existenciais).

Embora tenham muito mais a oferecer, os analistas do comportamento são talvez mais
freqüentemente chamados para lidar com problemas de comportamento - autodestruição
em retardos ou autismo, destruição do ambiente (exceto, naturalmente, quando os
exploradores fazem isso por lucro), violações de normas sociais e condutas que afligem
as famílias e a comunidade.

Um exemplo destas contribuições são apontadas na obra Sidman (2003) que nos ensina
que se queremos diminuir a desistência das escolas e aumentar a participação, um
primeiro passo útil seria uma análise comportamental. Desistir é, afinal de contas,
comportamento; uma maneira de torná-lo mais ou menos provável é arranjar
conseqüências apropriadas. Comece examinando interação entre alunos e professores,
alunos e alunos, alunos e administradores escolares, identifique e elimine estimulação
aversiva (o que enfraquece a freqüência de resposta de ir à escola) de que tornam a fuga
deste ambiente tão reforçador (Fortalece a freqüência da resposta de freqüentar outros
ambientes que não a escola).

Gostaria de finalizar este artigo explicando porque sou adepto da terapia


comportamental, começando a destacar o aspecto mais distinto que faz o diferencial
desta abordagem, caracterizando-a como uma das ciências que fornece a possibilidade
de comando, dando ao terapeuta tanto no planejamento da estratégia geral da terapia
quanto no controle dos detalhes e informações, à medida em que prossegue, a
possibilidade de corrigir um tipo de técnica quando esta, não apresenta a eficiência
desejada.

Em contra partida, quando há mudanças comportamentais desejadas, é nítido e pode ser


facilmente mantida e/ou reforçada no repertório dos nossos clientes, contribuindo assim
para melhorias no dia - a - dia de nossos clientes. As observações científicas permitem a
previsão e conseqüentemente planejamento de eficazes intervenções.
Tais aspectos fortalecem o fato de que esta terapia é muito requisitada para ajustar
hábitos indesejados (Neuroses, transtornos, psicoses, etc.), tanto por profissionais da
saúde quanto por próprios psicólogos adeptos de outras abordagens.

REFERENCIA BIBLIOGRAFICA

MATOS, M. A e TOMANARI, G.Y. A análise do comportamento no laboratório


didádico. Cap. I e II. Ed. Manole. Barueri, São Paulo, 2002

SIDMAN, M. Coerção e suas implicações. Ed. Livro Pleno. Campinas, São Paulo,
2003.

SKINNER, B.F. Ciência e comportamento Humano. Ed. Martins Fontes. 2000.


João dos Santos Carmo I; Marcelo Quintino Galvão Batista II

I  Universidade da Amazônia
II Universidade Federal do Pará

RESUMO

     Analistas do comportamento têm dificuldades em comunicar seus conhecimentos


para outras comunidades de cientistas e, principalmente, para as comunidades que
poderiam aplicá-los, tais como professores, pais, enfermeiros, engenheiros, etc. Este
ensaio apresenta reflexões e fomenta discussões relativas à análise de razões pelas quais
ocorrem essas dificuldades e de busca de meios para as superar. A adequada
comunicação entre analistas e não-analistas é importante devido ao retorno social que
dela resulta.

Palavras-chave: comunicação; analistas do comportamento; não-analistas; análise do


comportamento; educação

ABSTRACT

     Behavior analysts have some difficulties in communicating their knowledge to other
scientific communities, mainly to those that could apply it, like teachers, parents,
nurses, engineers and so on. This essay presents some reflections, as well as promotes
discussions, on the reasons why those difficulties occur, and points out ways to
overcome them. The adequate communication between behavior analysts and non-
analysts is important on account of the social return it conveys.

Key words: communication; behavior analysts; non-analysts; behavior analysis;


education

                                                                                           "Nós sabemos como construir


escolas melhores"
                                                                                                        Skinner, (1989/ 1991,
p. 131)

     Para aqueles que estão familiarizados com os princípios comportamentais, a


afirmação acima não causa espanto. Na década de 30, Skinner propõe o estudo de
organismos relativamente simples (ratos e pombos) a fim de descrever as leis que regem
o comportamento de qualquer outro organismo, incluindo o homem. O que diferenciou
sua proposta da de outros cientistas foi um conjunto de procedimentos e de noções que
ficou mais tarde conhecido como Análise Experimental do Comportamento (AEC).
Basicamente, o que interessava era a observação e o registro de uma única resposta
produzindo uma mudança no ambiente experimental, e a alteração da freqüência
daquela resposta a partir da mudança ambiental produzida. O dado básico, portanto, era
a freqüência de resposta de um único sujeito e a noção fundamental era de que o
comportamento não se encontra nem no organismo nem fora deste, e sim na interação
entre organismo e ambiente. O estudo de sujeitos como seu próprio controle
contrapunha-se à ênfase em médias estatísticas e curvas de aprendizagem montadas com
base na soma dos desempenhos de vários sujeitos experimentais. A noção de
comportamento enquanto interação opunha-se às noções mentalistas de explicação do
comportamento. Skinner fundava o Behaviorismo Radical, sustentado pelos dados
produzidos em AEC, em contraposição aos outros behaviorismos e aos sistemas
mentalistas da época.

     A partir do empreendimento de Skinner, um número cada vez maior de investigações


produziu um conjunto coerente de dados que possibilitaram observar, descrever, prever,
alterar e reproduzir, sob condições controladas, a sensibilidade de organismos a
determinadas modificações no ambiente, particularmente a sensibilidade às
conseqüências que ocorrem imediatamente após uma determinada ação. As
regularidades identificadas na interação organismo-ambiente também foram observadas
em situações fora do laboratório e desenvolveram-se técnicas e procedimentos de
modificação e controle do comportamento humano, aplicáveis em campos
especializados (instituições de ensino, hospitais, clínicas, etc.). Iniciava-se a
constituição de uma Psicologia Comportamental fundamentada em princípios
filosóficos (Behaviorismo Radical), metodológicos (Análise Experimental do
Comportamento) e práticos (Análise Aplicada do Comportamento). Além dos
psicólogos comportamentalistas, outros profissionais começaram a pautar suas
investigações (teóricas ou experimentais) e ações profissionais nos princípios
anteriormente citados, razão pela qual se pode falar na existência de uma comunidade, a
dos Analistas do Comportamento.

     Nestes setenta anos de empreendimento científico, muito conhecimento foi


acumulado. Sabe-se como construir melhores escolas, melhores hospitais, melhores
sistemas de trânsito. Sabe-se muito sobre o comportamento dos organismos e
particularmente sobre o comportamento da espécie humana. Porém, ainda não se sabe
como comunicar conhecimentos para outras comunidades de cientistas e,
principalmente, para as comunidades que poderiam aplicar aquilo que se sabe:
professores, pais, líderes comunitários, administradores, assistentes sociais, agentes
prisionais, juizes, enfermeiros, engenheiros, etc. É bastante provável que, ao se
depararem com esta afirmação, muitos leitores lembrem de uma série de experiências
isoladas e bem-sucedidas de aplicação dos princípios do comportamento a campos
especializados, bem como de textos e artigos cujos conteúdos estão ao alcance de
qualquer cidadão letrado (embora este adjetivo seja passível de questionamento).
Entretanto, com exceção da área clínica e da educação especial, qual o impacto atual
dos conhecimentos obtidos sobre os campos especializados? Na Educação,
particularmente, observa-se que há duas atitudes básicas de educadores (professores,
técnicos, administradores e pesquisadores em educação) em relação aos pressupostos de
ensino e aprendizagem em Análise do Comportamento: 1) rejeição explícita a tudo que
possa lembrar Behaviorismo; 2) uma certa tolerância aos enunciados behavioristas, que
seria mais bem traduzida como uma condescendência àqueles que são julgados como
ultrapassados. A primeira atitude foi constatada por diversas pesquisas, dentre as quais,
uma conduzida por Rodrigues (1999) envolvendo profissionais de educação atuantes em
instituições públicas de ensino (a maioria, em sala de aula), com formação diversificada,
variando de 2o grau em magistério a pós-graduação. Os resultados da pesquisa
indicaram uma não identificação e uma antipatia dos participantes com essa abordagem
no seu trabalho. O que está por trás das atitudes referidas e da dificuldade de
comunicação do que se sabe? É possível apontar vários fatores responsáveis por essa
situação. Por exemplo, quanto à antipatia relativa ao Behaviorismo, Rodrigues (1999)
indica um desses fatores a forma como ocorre (e se ocorre) a formação de educadores
nessa abordagem e sugere investigá-la, "para verificar como a teoria é apresentada e
quais as incorreções e deturpações mais comuns" (p. 244). Outro fator que se sobressai
diz respeito ao uso, entre os analistas do comportamento, de uma linguagem hermética,
somente acessível aos próprios analistas. Essa linguagem é freqüentemente criticada por
utilizar-se de termos que são de difícil entendimento para o leigo, têm um significado
diferente do usual e/ou trazem um peso ideológico muito forte.

     Termos usados freqüentemente por behavioristas, como controle, treino,


condicionamento, punição, estão associados, no discurso leigo e no entendimento de
algumas comunidades acadêmicas e profissionais, a autoritarismo e práticas abusivas de
cerceio à liberdade de ação e, por conseguinte, levantam inevitáveis e inesgotáveis
questões políticas, éticas e morais. Estímulo e resposta são também termos associados a
uma visão reducionista e acanhada de homem. Contingências de reforçamento,
esquemas de reforçamento contínuo, esquemas de reforçamento intermitente (razão
fixa, razão variável, intervalo fixo, intervalo variável), DRO, DRL, time out, esquiva,
fuga, discriminação simples, discriminação condicionada, extinção, matching to sample,
topografias de controle de estímulos, equivalência de estímulos, encadeamento de
respostas, consequenciação...; a lista de termos é quase interminável. A utilização dessa
terminologia, afirmam os analistas, é necessária e facilita a comunicação entre os
cientistas comportamentais. Sem dúvida que sim. Mas poder-se-ia também acrescentar
que aumenta a distância entre os analistas e os não-analistas.

     Encurtar esta distância, particularmente entre os analistas e os educadores


(integrantes do mundo "lá fora"), faz parte da preocupação de um dos expoentes da
Análise do Comportamento - Murray Sidman. Em uma de suas obras, Sidman (1994),
não somente expressa tal preocupação, ao apontar uma profunda separação entre a
pesquisa (experimental) e a aplicação educacional de seus resultados (no ensino, por
exemplo), como também sugere esforços concretos para a solução desse problema: 1) a
inserção de analistas em estabelecimentos educacionais, para propiciar-lhes aceitação do
uso prático dos métodos de ensino oriundos do laboratório; 2) a melhoria dos canais de
comunicação entre pesquisadores e professores (de ambas as partes são erigidos muros
reais ou barreiras imaginárias, comprometendo essa comunicação), pela divulgação dos
resultados da pesquisa numa linguagem não técnica.

     Evidentemente não se trata de propor uma mudança no vocabulário. Há, entretanto,
analistas que, em seu contato com o público de educadores, tentam usar sinônimos de
alguns dos termos mencionados, no esforço de serem compreendidos. Talvez, com
sucesso. Tal esforço não chega a ser uma mudança no vocabulário, porém pode ser visto
como uma espécie de "tradução" de termos para uma comunidade não familiarizada
com a AEC (ver Rodrigues, 1999). A mudança no vocabulário descaracterizaria todo
um campo científico já estabelecido. Tampouco se trata de esperar que todos entendam
o analista em sua linguagem hermética; tal linguagem, conforme aponta Sérgio Luna
num artigo em que discute a participação dos analistas do comportamento na solução da
crise da educação (Luna, 2001), é propensa a "arrepiar mesmo os mais insensíveis" (p.
149). Uma linguagem que não oferece atrativos para o leigo. Uma linguagem que, além
disso e contrariamente ao seu propósito, abre espaço para interpretações errôneas, tem
poucas chances de ser aceita fora da comunidade do analista. Se o analista, em sua
atuação na escola, no hospital, no lar, na rua, na prisão, no bar, no trânsito... está lidando
com fatos da vida, por que não é suficientemente entendido em suas análises e
propostas?

     Outra possível razão para um entendimento errôneo ou inadequado dos princípios
comportamentais, e que se soma à ineficiência do analista em comunicar o que sabe,
seria a difusão ampla, na academia e algumas vezes na imprensa escrita, de textos e
artigos que criticam o Behaviorismo de uma forma, no mínimo, grosseira. É comum,
por exemplo, a veiculação, entre os educadores, de duas idéias deturpadas: 1) o
Behaviorismo possui uma visão mecanicista de homem; 2) o Behaviorismo propõe um
ensino baseado em estímulos e respostas. Acrescente-se a essa crítica, outra que associa
Análise do Comportamento à corrente pedagógica do Tecnicismo. Ora, no Tecnicismo
encontram-se alguns elementos de programação de repertórios que, sem dúvida, foram
retirados dos estudos de analistas experimentais do comportamento. Como o
Tecnicismo chegou ao Brasil no período infeliz da ditadura militar, e pesquisas
educacionais inspiradas no modelo tecnicista foram amplamente financiadas na época,
alguns críticos rasteiramente englobam em uma mesma classe tecnicismo,
Behaviorismo, Análise do Comportamento e repressão militar. É preciso enfatizar que
muitos críticos do Behaviorismo sequer fazem a diferença entre a proposta behaviorista
radical de Skinner e a de outros behavioristas. Assim, tem-se uma difusão deturpada de
Behaviorismo na academia (particularmente em cursos de Pedagogia, Sociologia,
Filosofia e nas licenciaturas em geral, em que há disciplinas pedagógicas), diga-se de
passagem, de um Behaviorismo primitivo e totalmente distanciado do que se conhece
hoje.

     Não é propósito deste trabalho rebater essas e outras críticas, as quais já foram
sobejamente esclarecidas em diversos textos. Dada a sua pertinência, convém,
entretanto, citar brevemente um desses textos (Medeiros, 1997), no qual o autor discute
a respeito de preconceitos contra a abordagem comportamental.

     Essa discussão é pertinente, em especial porque o autor a tece sob dois pontos de
vista. Primeiramente, como uma crítica do analista-professor ao pouco conhecimento
que os alunos têm sobre a real função de um laboratório didático no qual se ensina a
pesquisa:

     O fato é que as informações a respeito da função de um laboratório são pouco


conhecidas, ensejando, por isso mesmo, uma visão estereotipada, como se os
equipamentos em uso se aproximassem daqueles utilizados em contextos não
acadêmicos como sanatórios e prisões (...). (Medeiros, 1997, p. 8; itálico acrescentado)

    Em segundo lugar, como uma autocrítica do analista-professor que, ao interagir com
seus alunos, contribui para que estes adquiram preconceitos contra a abordagem
comportamental. O autor afirma: "(...) não temos percebido que na relação professor-
aluno, muitas vezes, fazemos uso de 'estigmas', com efeitos muito semelhantes aos dos
estímulos físicos aversivos (...) e, nem, por isso, nos indignamos ou mesmo repudiamos
essas práticas" (Medeiros, 1997, p. 8). Ao fazer essa autocrítica, aquele autor propõe
uma saída para a solução do problema que é a instalação de comportamentos
preconceituosos contra a abordagem comportamental. Ele aponta essa saída ao
considerar a importância de o pesquisador-analista (que também é professor) levar em
conta o papel da própria emoção quando ele interage com a emoção de outras pessoas
seus alunos, por exemplo, e pessoas analfabetas participantes de pesquisas como
sujeitos experimentais. Para Medeiros, é comum haver pessoas analfabetas que, ao
participarem de pesquisas voltadas para o ensino de leitura e escrita, se emocionam
quando se percebem capazes de adquirir tais processos comportamentais, e isso lhes
possibilita uma auto-estima positiva. Considerar a emoção, quando o pesquisador
(analista do comportamento) interage com os alunos e sujeitos experimentais, é
demonstrar-se sensível perante a subjetividade e lidar com a subjetividade é, segundo
Medeiros, uma forma de lidar com preconceitos contra a Análise do Comportamento.
Daí a importância de ser incluída a emoção enquanto um dos aspectos comportamentais
que faz parte do que se concebe como conhecimento e não apenas os aspectos "formais
e acadêmicos da aprendizagem" (Medeiros, 1997, p. 15).

     Seguindo outro rumo com este trabalho, propõem-se as seguintes questões para
reflexão dos próprios analistas do comportamento. Dispõe-se de manuais que falem a
mesma linguagem do professor, com um mínimo de termos técnicos e que, ao mesmo
tempo, não desvirtuem o entendimento dos princípios do comportamento? Se sim, por
que tais manuais não chegam até esses educadores? Se não, a omissão estaria
contribuindo para a manutenção dessa visão deturpada entre os educadores? Seria um
exagero afirmar que parte significativa dos textos produzidos, embora de linguagem
clara e acessível ao público leigo, é direcionada à apreciação e ao consumo apenas entre
os analistas? Sidman (1994) expressa a necessidade de serem produzidos textos para
professores que enfatizem aplicações baseadas, conforme o interesse particular desse
autor, no paradigma de equivalência de estímulos. A materialização dessa proposta seria
um passo no sentido de se atingir um outro público, o formado pelos professores, para
os quais a Análise do Comportamento soa como algo estranho. O êxito do contato desse
público com esses textos decorreria de sua linguagem não técnica, gerando esta
adequada compreensão e resultando, por sua vez, em julgamento crítico. Mas o domínio
de uma linguagem não técnica, após treinamento intensivo e rigoroso no domínio de
uma linguagem técnica é uma habilidade difícil de ser adquirida e manifestada. Daí,
talvez, a resistência ao uso de uma linguagem não técnica. Uma boa forma de o analista
testar a sua habilidade (quando a tem) em comunicar seus conhecimentos aos
professores, seria não apenas produzir textos acessíveis (como aponta Sidman), mas
também submetê-los ao julgamento crítico desses profissionais.

     Quanto ao aproveitamento do conjunto de conhecimentos produzidos, cabe indagar:


quem são os consumidores dos relatos (a grande maioria em inglês e, portanto, distante
da real condição de acessibilidade do professorado) que tratam de modificação de
comportamento (de professores e de alunos) em sala de aula? Quantas experiências há,
no Brasil, de implantação de escolas experimentais? O que tem dificultado a
implantação dessas escolas? Como se tem reagido perante as dificuldades nesse sentido
- enfrentando-as ou retrocedendo? Tem-se aprendido com os esforços bem-sucedidos
nesse campo, em algumas universidades? Os conhecimentos disponíveis sobre aquisição
de leitura e escrita têm sido oferecidos aos analfabetos do país? Algumas experiências
mostram que sim, mas a oferta desses conhecimentos tem sido parcial e pouco
significativa. Há registro de experiências positivas junto a pessoas analfabetas do Brasil.
Convém mencionar uma delas (Amaral, 1983), por ter ocorrido num dos bairros mais
pobres de Belém, um município do Norte do país. Foi a implementação de um projeto
de alfabetização de adultos, com base no método Keller (modelo de instrução
personalizada) e no método Paulo Freire. O êxito da experiência não foi somente ter
gerado a alfabetização de alguns dos participantes do projeto, mas também o fato de
eles terem lutado pela melhoria das condições sócio-econômicas de sua localidade.
Quais esforços coletivos têm sido despendidos por associações e agremiações
comportamentalistas junto à comunidade educacional? A pouca ou não significativa
existência desses esforços não estaria relacionada ao fato de analistas do
comportamento, por exemplo, dos que atuam na academia, estarem despreparados ou
mal preparados para analisar o sistema educacional como um todo? Aqui, vale inserir
um trecho do artigo de Luna (2001), em que discute a justificativa dada por analistas
para sua omissão a essa análise. "Podemos sair pela tangente, afirmando que somos
psicólogos, não pedagogos, orientadores educacionais ou coordenadores pedagógicos.
Mas continuaremos falando para nós mesmos, publicando para nós mesmos e mantendo
nosso status na academia" (p. 152).

     O modelo de instrução personalizada proposto e implementado por Fred Keller é


uma experiência constante de muitos textos que tratam do modelo comportamentalista
de ensino e aprendizagem. Sem dúvida essa parece ser a experiência educacional mais
conhecida, cuja implementação se estendeu, com êxito, a diversas partes do mundo.
Infelizmente, porém, apesar do entusiasmo pelo modelo de ensino de Keller, a maioria
dos diretores escolares, técnicos educacionais e professores de diferentes partes do
Brasil, se indagados, diriam desconhecer tal proposta. Por outro lado, se o analista tem
propostas e experiências positivas em educação, outros (não-analistas) também as
possuem. Caberia, talvez, olhar as experiências alheias e exercitar traduzir o que elas
oferecem em termos de princípios do comportamento. Talvez até não caiba a tarefa de
propor métodos de ensino. Alguns analistas do comportamento erraram ao ver a escola
como um grande laboratório, desconsiderando as peculiaridades do ambiente de ambos,
não obstante os aspectos de aproximação de um em relação a outro (Baptista & Assis,
2002) e concebendo a variáveis de ensino e de aprendizagem, no âmbito da escola,
como passíveis do mesmo tipo de controle exercido no laboratório experimental. Mas
cabe reler as experiências bem-sucedidas de ensino e sistematizá-las operacionalmente
para usufruto da sociedade em geral.

     Freqüentemente refere-se à programação de repertórios acadêmicos e identificam-se


os componentes (comportamentais e ambientais) envolvidos em diversos procedimentos
de ensino, dentro ou fora da escola. Nas três últimas décadas informatizou-se a coleta de
dados, de maneira menos ou mais sofisticada, e lida-se com os procedimentos de
pareamento ao modelo, fading e exclusão (para falar de alguns), como se fossem
tecnologias de vanguarda. Porém, vê-se diariamente tais procedimentos (e os princípios
que os norteiam) sendo utilizados em softwares educacionais e jogos virtuais,
produzidos por técnicos e engenheiros que, muito provavelmente, desconhecem os
princípios da Análise do Comportamento. Alguns analistas podem argumentar que há
casos em que a utilização de alguns desses procedimentos é reflexo direto do
conhecimento dos princípios subjacentes (o que pode ser verdade, mas não na maioria
dos casos). Mesmo quando isso ocorre, tal fato não deve ser tomado como indicativo de
uma relação entre o domínio dos princípios da Análise do Comportamento e a sua
aplicação.

     Como o analista do comportamento tem desempenhado o seu papel social de


produtor de conhecimento? A quem serve o conhecimento de que ele dispõe?
Referindo-se ao mesmo problema, mas em relação à psicologia, Botomé (1979), há
bastante tempo, havia posto a seguinte questão: "a quem é acessível a literatura e
divulgação da psicologia?" (p. 9). Ele próprio já apontava uma resposta, ao dizer:
"Talvez quem tem acesso à informação (...). Talvez apenas alguns economicamente
privilegiados (...)" (p. 9; itálico acrescentado). Prosseguindo, ele dizia: "Os conceitos e
conhecimentos produzidos nas pesquisas, experimentos e laboratórios (...) deveriam
servir à população que produz as condições que sustentam o cientista (...) (p.11-12).

     A mudança social não se dará pela Análise do Comportamento, embora ela se valha
dos pressupostos do Behaviorismo Radical como sua sustentação filosófica, o que
implicaria constituir-se em um fator de mudança, em termos potenciais. Considerar a
forma pela qual o homem é concebido na sua interação com o meio em se insere,
deporia a favor do caráter transformador da Análise do Comportamento, pelo menos em
tese, mas não tem sido reivindicada para ela uma vinculação às ideologias de mudança
social. Têm sido poucas, relativamente, as práticas transformadoras levadas a cabo por
analistas do comportamento, no âmbito social, e poucas também têm sido as práticas de
analistas inspirados em ideologias de mudança. É mais provável que analistas do
comportamento se engajem em práticas propiciadoras de mudança por um compromisso
com uma determinada ideologia de mudança social do que por um compromisso com a
filosofia que sustenta a Análise do Comportamento.

     Se a mudança social não se dará pela Análise do Comportamento, em si mesma, o


analista tem obrigação de contribuir para essa mudança. "O homem, como o
conhecemos, melhor ou pior, é o que o homem fez de si mesmo" (Skinner, 1971/1983,
p. 154). A mudança social pode ser conseqüência da decisão que se toma. Conforme
Botomé (1979), ainda em referência à psicologia, "será o conhecimento científico uma
arma de dominação a instrumentar autônomos para a 'cura' dos problemas? Ou devemos
alterar isto e (...) promover melhores condições para comportamentos humanos mais
significativos?" (p. 12).

     Crucial é que o analista do comportamento contribua para a mudança social. De


acordo com a posição de alguns críticos extremistas da Análise do Comportamento
Aplicada, mencionados por Escala e Sánchez (1977, p. 339), se, por um lado, esta atua,
na América Latina, para a domesticação e não para a libertação, moldando o indivíduo à
sociedade, em virtude de sua vinculação à classe social dominante e servindo como um
"instrumento idôneo do status quo", por outro lado, concebe-se que é preciso enfatizar
as práticas sociais transformadoras empreendidas por analistas do comportamento, ainda
que raras, e enfatizar as possibilidades de mudança social via mudança educacional.
Tais possibilidades sustentam-se, em parte, no fato, discutido por esses autores - em
oposição a esses críticos extremados - de que os analistas, na América Latina, têm-se
voltado para a discussão dos critérios filosóficos norteadores de sua prática e têm
refletido acerca da desvinculação dessa prática a ideologias de mudança educativa. O
posicionamento de Holland (1983) acerca da relação entre o Behaviorismo e a mudança
social, no sentido de que essa abordagem seja parte da solução e não parte do problema,
configura-se pertinente. Contudo, esse posicionamento revela um compromisso social
do autor e não indica, explicitamente, sua defesa do atrelamento dessa filosofia ou da
prática que ela suporta a ideologias de mudança.

     Antes de se pretender empreender alguma mudança social, é necessário começar a


tentar mudar as próprias posturas. Por exemplo, perante a reação dos interlocutores do
analista quando, ao interagirem, eles demonstram não compreender o que lhes é
comunicado. Manter-se-á o analista enclausurado em sua comunidade verbal e, assim,
irredutível quanto à possibilidade de usar uma linguagem acessível a ouvintes que
extrapolam essa comunidade, para que, assim, com competência, divulgue seus
conhecimentos? Ou, pelo contrário, aceitará o analista o desafio de se comunicar com os
não-analistas de forma compreensível, sem comprometer o caráter científico da
terminologia da Análise do Comportamento?

     Espera-se que estas e as questões anteriores gerem reflexões, especialmente a


respeito de como o analista possa empreender a comunicação dos conhecimentos
produzidos em Análise do Comportamento com os não-analistas, de forma alternativa à
que, em geral, vem ocorrendo. Cabe salientar que não se pretende que as reflexões a
respeito da comunicação sejam caracterizadas como a busca de um consenso em torno
das idéias behavioristas ou de formar prosélitos entre os que não fazem parte da
comunidade de analistas. Espera-se que as reflexões envolvam perguntas passíveis de
levar à obtenção de respostas, a exemplo de uma pergunta final, dirigida ao leitor, em
especial analista do comportamento: estará ele sensível ao controle contextual?
O Conceito de Análise do
Comportamento

Detalhes
Escrito por Anderson de Moura Lima | Publicado em Segunda, 19 Janeiro 2009
21:21

Quando nós brasileiros ouvimos a palavra comportamento pensamos imediatamente no


conjunto de reações de um indivíduo em face do meio social. Em português esta palavra
tem tradicionalmente um sentido mais restrito do que em inglês. Nessa língua a palavra
comportamento se refere tanto a ações de um indivíduo quanto a sentimentos,
pensamentos e falas.

A palavra análise talvez não guarde muitos segredos para a maioria das pessoas que a
ouçam e seu significado em português não difere do significado inglês. Análise, de
acordo com o Aurélio, é a decomposição de um todo em suas partes constituintes ou o
exame de cada parte de um todo, para conhecer a sua natureza, ou ainda a determinação
dos elementos que se organizam em uma totalidade, dada ou a construir, material ou
ideal.

Todo dia realizamos vários tipos de análises: clínicas, quando cedemos uma parte de
nosso sangue para ser avaliado em um laboratório médico; morfológicas, quando
determinamos o processo de formação das palavras mediante a classificação dos seus
elementos mórficos para conhecermos como elas surgem; sintáticas, quando os
professores de português dividem um período em orações para classificá-las em seus
elementos constituintes; léxicas, quando determinamos a classe gramatical de uma
palavra e combinatórias, quando examinamos o número de disposições possíveis dos
membros de uma conjunto em seus subconjuntos, por exemplo, quando a FIFA sorteia
os subgrupos das seleções que irão competir na Copa do Mundo.

E a análise do comportamento, quando realizamos? Alguns poderiam dizer que sempre


estamos analisando o comportamento das pessoas: dos nossos colegas de turma, da
nossa família, de nossa namorada e do ator do filme. De certa forma uma análise é feita,
mas assim como na Gramática existe vários tipos de análises (morfológica, léxica e
sintática) também podemos dizer que vários tipos de análises do comportamento podem
ser feitas. Depende da área do conhecimento que utilizamos como base para realizar
esta análise.

Uma das áreas do conhecimento utilizadas para se analisar o comportamento é chamada


Análise do Comportamento. A Análise do Comportamento é uma ciência natural que
estuda o comportamento de organismo vivos e íntegros.[1]

O conceito utilizado para definir comportamento no nome Análise do Comportamento é


o conceito inglês, isso por que Análise do Comportamento é a tradução de Behavior
Analysis, um nome norte-americano. Assim para a Análise do Comportamento a palavra
comportamento se refere tanto a ações de um indivíduo quanto a sentimentos,
pensamentos e falas.

A compreensão de cada palavra que compõe o conceito de Análise do Comportamento é


essencial para entendermos essa consideração.

A Análise do Comportamento se divide em três partes: o seu braço teórico, filosófico,


histórico, seria chamado de Behaviorismo Radical. O braço empírico seria classificado
como Análise Experimental do Comportamento. O braço ligado à criação e
administração de recursos de intervenção social seria chamado de Análise Aplicada do
Comportamento.[2]

Uma ciência é um conjunto de declarações verbais sobre o mundo sob o controle de


contingências bem discriminadas, que constituem assim um método, uma forma
específica de falar sobre o mundo. Uma ciência natural é um discurso sobre o mundo
que descreve relações entre eventos naturais. Um evento natural é um fenômeno que
tem dimensões temporais e/ou espaciais discerníveis pelos órgãos sensoriais de um ser
humano comum; distingue-se de eventos supranaturais ou imateriais, que não
manifestam essas dimensões (...) a característica básica necessária e suficiente para uma
ciência natural é que as relações que ela declara ocorram entre eventos naturais e que
essa declaração inclua a descrição dos meios também necessariamente naturais através
dos quais essas relações possam ser estabelecidas.[3] STARLING, Roosevelt Riston.
Breves considerações sobre Ciência, teoria e fenômenos: falamos porque é verdade, é
verdade porque falamos ou simplesmente falamos? Boletim informativo da Associação
Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental, 2001.

Comportamento é a interação entre um organismo, fisiologicamente constituído como


um equipamento anatomo-fisiológico, e o seu mundo, histórico e imediato.[4] (...)
Definimos comportamento como a relação entre estímulo e resposta. [5] Estímulo é
uma parte ou mudança em uma parte do ambiente; resposta é uma mudança no
organismo.[6]

Organismos vivos são aqueles que têm composição química complexa, uma organização
celular, a capacidade de nutrição, reagem a estímulos do ambiente emitindo repostas,
mantêm o seu meio interno em condições estáveis, crescem e se reproduzem,
modificam-se ao longo do tempo através do processo de evolução, desenvolvendo
adaptação adequadas á sobrevivência. São íntegros os organismos por que se
desmembrados do todo do qual fazem parte não conseguem viver no ambiente.

O Behaviorismo Radical é a parte da Análise do Comportamento que estuda os


conceitos vistos acima: ciência, ciência natural, evento natural, ambiente, estímulo,
resposta e comportamento.

Quem analisa o comportamento? Todas as pessoas, corriqueiramente, fazem algum tipo


de análise do comportamento, mas uma análise científica defere muito de uma análise
corriqueira. Os Analistas do Comportamento são aquelas pessoas – pesquisadores ou
profissionais – que analisam o comportamento de forma científica. No Brasil eles são
majoritariamente registrados em conselhos profissionais de Psicologia ou cursam
graduações e pós-graduações de Psicologia e trabalham em clínicas, escolas, postos de
saúde, indústrias empresas, ONGs, hospitais, sindicatos, cooperativas, associações de
moradores, fundações, universidades, centros de pesquisa e faculdades.

Como os Analistas do Comportamento realizam seus estudos? Inicialmente ele colhe os


dados de pesquisa utilizando experimentos, quase-experimentos, observações,
entrevistas ou pesquisas de campo e após a coleta dos mesmos fazem a análise
funcional. A análise funcional é o reconhecimento da múltipla e complexa rede de
determinações de instâncias de comportamento, representada pela ação em diferentes
níveis (filogênese, ontogênese e cultura) das conseqüências do comportamento sobre a
probabilidade de respostas futuras da mesma classe [de comportamentos] (...) A análise
deve agora se voltar para as “funções” das respostas e para os modos através dos quais
as mudanças por elas produzidas afetam a probabilidade de comportamento futuro. A
análise funcional requerida passa a ser aquela que identifica relações de tríplice
contingência responsáveis pela aquisição e manutenção de repertórios comportamentais.
[7] Contingências são componentes das relações comportamentais que apresentam
relação de dependência entre si, filogênese é a evolução ou desenvolvimento da história
de uma espécie, ontogênese é o desenvolvimento ou curso da história de aprendizagem
de um organismo e cultura é o conjunto de comportamentos que são ou não reforçados
e/ou punidos por um grupo de pessoas em um ambiente comum.[8]

Os Analistas do Comportamento também realizam o que chamam de revisão e análise


conceitual quando os métodos de pesquisa ou trabalho acima são complexos ou quando
procuram aplicar os resultados dos seus estudos no seu cotidiano de trabalho. Revisão
conceitual é a recomendação de propostas de mudança de conceitos que já existem já a
análise conceitual é a proposição de novos conceitos.

A Análise Experimental do Comportamento é a parte da Análise do Comportamento que


fica responsável por estudar as formas de coleta, mensuração e análise dos dados
advindos das pesquisas que se utilizam da análise funcional e de conceitos revistos e
analisados.

Mas por que alguém analisaria o comportamento de forma científica? A justificação da


existência da Análise do Comportamento perpassa necessariamente pela necessidade
dos cientistas e profissionais resolverem problemas práticos do cotidiano.

É importante para o bem-estar e, muitas vezes, para a própria sobrevivência de


organismos, espécies e culturas obter soluções aceitáveis para eventuais problemas
práticos, sejam eles de natureza física ou social. Membros individuais especialmente
felizes e constantes em obter tais soluções foram chamados de sábios em outras épocas
e, na nossa, costumam ser chamados de cientistas. Modos de organizar o mundo através
de declarações verbais sobre os fenômenos e/ou práticas de intervenção direta nos
fenômenos que regularmente obtêm tais soluções são chamados de sabedoria ou ciência.
Exatamente que tipo de situação seria considerada um “problema prático” para as
diversas comunidades humanas é também algo que se subordina a lugar e tempo.[9]

Assim os Analistas do Comportamento são as pessoas que aplicam os conhecimentos


advindos do Behaviorismo Radical e da Análise Experimental do Comportamento para
solucionar problemas comportamentais humanos onde quer que eles existam.

Onde o comportamento existe?


Não há nada mais familiar do que o comportamento humano. Estamos sempre na
presença de ao menos uma pessoa que se comporta [mesmo que seja nós mesmos]. Nem
há algo mais importante que o comportamento, quer seja o nosso, quer o de outrem,
quer seja ao que vemos todo dia, quer seja ao que vemos todos os dias, quer seja ao que
seja responsável pelo que acontece no mundo de um modo geral.[10]

A Análise Aplicada do Comportamento teria duas funções vitais: (1) manter o contato
com o mundo real e alimentar os pesquisadores na área com problemas
comportamentais do mundo natural e (2) mostrar a relevância social de tais pesquisas e
justificar sua manutenção e ampliação da área como um todo. Como uma ciência
baconiana, não contemplativa, a Análise do Comportamento tem compromissos de
melhoria da vida humana e o seu braço aplicado pode funcionar como um eficiente
aferidor das conseqüências práticas prometidas.[11]

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