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O GLOBO ● RIO ● PÁGINA 14 - Edição: 19/05/2011 - Impresso: 18/05/2011 — 22: h AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

14 O GLOBO Quinta-feira, 19 de maio de 2011

. RIO
Fotos de Ana Branco
O ENTULHO

M
Isabela Bastos
resultante da
ontanhas de escom-
bros, resultado de de- demolição de
molições realizadas
um prédio no
pelo poder público,
viraram um transtor- Recreio (à
no urbano e caso de esquerda) e os
saúde pública. Do Fundão ao Pontal,
restos de construções irregulares ou escombros
condenadas pela Defesa Civil levam ao deixados pela
aparecimento de lixões e à prolifera-
ção de ratos e mosquitos. Na Ilha do implosão do
Fundão, o entulho da implosão da ala esqueleto do
sul do Hospital Clementino Fraga Fi-
lho, da UFRJ, completa hoje cinco me- Hospital do
ses. No Recreio, a região que chegou a Fundão
ser batizada de “epicentro da desor-

A cidade dos
dem” virou o “epicentro dos escom-
bros”. Oito demolições feitas pela Ope-
ração Choque de Ordem dão ao local
aspecto de terra bombardeada.
Escombros de

u
demolições feitas

n
Demolições em áreas de risco, so-

e t lhos
bretudo após as chuvas de abril de
2010, também viraram dor de cabeça.
Segundo associações de moradores, o
entulho de 200 casas demolidas no Bo-
pelo poder público
rel, na Tijuca, e no Morro dos Prazeres,
em Santa Teresa, não foi removido. não são removidos
— Eram casas de risco e hoje são
entulhos de risco — critica Roberta
Ferreira, presidente da Associação
e viram problema
de Moradores do Morro do Borel.
Elisa Brandão, presidente da Asso- ambiental e sanitário
ciação de Moradores do Prazeres, diz
que as demolições aconteceram em ju-
lho passado, para evitar que as famí-
lias voltassem às áreas de risco. Mas a
limpeza só começou há 20 dias.
Implodida em dezembro, depois de
um abalo nos pilares, a “perna seca”
do Hospital do Fundão virou uma pilha
de concreto e ferros retorcidos. A
UFRJ diz que é feito o controle de ve-
tores no local, mas a solução para
137,5 mil toneladas de entulho deverá
demorar seis meses. Depois de saber
que a remoção custaria cerca de R$ 8,5
milhões, a universidade está negocian-
do uma saída alternativa para o caso.

Empresas devem
reaproveitar material
● De acordo com o professor Pablo
Benetti, da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo, a UFRJ espera fechar
um acordo com a Cruz Vermelha para
que o material seja reaproveitado por
empresas. O conselheiro da Cruz Ver-
melha no Rio, Luiz Carlos Santos, dis-
se que já há interessados, mas a en-
tidade ainda busca um parceiro para
o beneficiamento do entulho. Ele es-
pera assinar o convênio com a UFRJ
até o próximo dia 28. Os recursos da
venda seriam revertidos para a cons-
trução de centros de convivência pa-
ra idosos na Região Serrana. VIVIANE DOS SANTOS, moradora da Rua Gilka Machado, no Recreio, estende roupa num varal improvisado junto aos restos de demolição: preocupação com focos de dengue
Alvo das primeiras operações Cho-
que de Ordem, em janeiro de 2009, o — Minhas duas filhas tiveram Os valores crescem em caso de rein- ceirizada faça a retirada de até 33.600 culdades para notificar e multar os
Pontal tem hoje pelo menos oito pon- dengue este mês — conta a dona do cidência. Apesar das regras rígidas, a metros cúbicos de entulho (2.400 via- proprietários das obras demolidas:
tos de demolição nas ruas Gilka Ma- varal, Viviane dos Santos. prefeitura reconheceu ontem que não gens de caminhão). A prioridade será — Há um imbróglio jurídico sobre a
chado, DW e 2W. Segundo moradores, O empresário Edson Oliveira re- vem conseguindo imprimir à limpeza o dada às comunidades com casas de- propriedade daquelas áreas que, para
os terrenos particulares — que abriga- clama que os moradores ficaram mesmo ritmo das demolições. molidas em encostas onde o entulho complicar, são alvos de invasões.
vam prédios e lojas irregulares — vi- com o ônus de uma briga entre a Segundo o secretário municipal de tenha virado caso de saúde pública. Mas entulho não precisa ser neces-
raram lixões e focos de ratos, baratas prefeitura e os donos dos terrenos: Conservação e Serviços Públicos, Sobre as demolições em áreas par- sariamente um problema. Iniciativas
e mosquitos. Até árvores crescem en- — A prefeitura não limpa e o dono Carlos Roberto Osorio, foram demo- ticulares, Osorio diz que a responsa- públicas vêm mostrando que escom-
tre os escombros. O problema chegou do terreno também não. lidas 3.259 construções irregulares bilidade é dos proprietários. Mas, pa- bros de obras podem ser reaproveita-
a ser denunciado pelo GLOBO há qua- Sancionado em 2001, o Código de em 2009 e 2010, numa demanda que ra amenizar os transtornos aos mora- dos. A estratégia está sendo usada nas
se um ano e meio, mas, desde então, a Limpeza Urbana do Rio proíbe a colo- superou a capacidade de resposta da dores do Pontal, hoje uma força-tarefa reformas do Sambódromo e do Mara-
situação só se agravou. Num dos ter- cação de entulho, sem autorização, em secretaria. Para resolver o problema, da Comlurb visitará o bairro, para fa- canã e será empregada na construção
renos, o entulho fica tão próximo das terrenos privados ou públicos. A puni- a prefeitura fará uma licitação, de R$ zer o controle de vetores. Segundo o do Transoeste e do Transcarioca. ■
casas que uma moradora esticou um ção prevista é multa inicial de R$ 200 a 2,9 milhões. Com prazo de um ano, o secretário especial da Ordem Pública,
varal aproveitando os vergalhões. R$ 500, conforme o volume de entulho. contrato prevê que uma empresa ter- Alex Costa, a prefeitura tem tido difi- COLABOROU Ludmilla de Lima

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