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CHAPEUZINHO VERMELHO NA IMPRENSA

Veja como seria tratado a história da Chapeuzinho Vermelho em diferentes


programas, revistas e jornais:

JORNAL NACIONAL
(William Bonner): ‘Boa noite.. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na
noite de ontem. (Fátima Bernardes): ‘… mas a atuação de um caçador evitou uma
tragédia’.

PROGRAMA DA HEBE
(Hebe Camargo): ‘… que gracinha gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina
linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?’

BRASIL URGENTE
(Datena): ‘.. onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades? !
A menina ia para a casa da vovozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem
transporte público!
E foi devorada viva… Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!! Porque eu falo mesmo,
não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não.’

REVISTA VEJA
Lula sabia das intenções do lobo.

REVISTA CLÁUDIA
Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.

REVISTA NOVA
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama.

FOLHA DE S. PAULO
Legenda da foto: ‘Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador’.
Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos dos lobos e um imenso
infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.

O ESTADO DE S. PAULO
Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT.

O GLOBO
Petrobrás apóia ONG do lenhador ligado ao PT que matou um lobo pra salvar menor
de idade carente.

O ESTADO DO PARANÁ
Avó de Chapeuzinho nasceu no PR.

AGORA
Sangue e tragédia na casa da vovó
REVISTA CARAS
(Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte)
Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: ‘Até ser devorada, eu não
dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa’

PLAYBOY
(Ensaio fotográfico no mês seguinte)
Veja o que só o lobo viu.

REVISTA ISTO É
Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.

REVISTA CARTA CAPITAL


Lobo Mau tinha ligações com FHC e o objetivo era desestabilizar o governo Lula e o PT.

G MAGAZINE
(Ensaio fotográfico com lenhador)
Lenhador mostra o machado & o Lobo suas maldades…

SUPER INTERESSANTE
Lobo mau! mito ou verdade ?

DISCOVERY CHANNEL
Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver.
Falar bonito

Entre nós há uma unanimidade. Adoramos gente que fala bonito.


Manipular palavras com esmero é pura sedução. Com ela sonhamos à
noite e nos cochilos diurnos. A fluência verbal abre portas. Dirime
controvérsias. Conquista adeptos. O orador desenvolto solta o verbo
de improviso. Cativa platéias. O que diz? Não importa. É comum
ouvir o suspiro de um deslumbrado. Depois, o comentário:

— Que maravilha! Como ele é culto!

Não captei muita coisa. Mas ele fala tão beeeeeeeeeeem. Ah! A
adoração fica por conta do falar. Não do dizer. Os políticos sabem
disso. Não poupam vênias e excelências. Períodos longos, vocábulos
complicados, mil orações intercaladas, metáforas, desvios pra lá e
pra cá, vale tudo. No final, a gente não entende o recado. Mas bate
palmas.

Como explicar a verbolatria? “O brasileiro desconfia do que entende”,


diagnosticou Nelson Rodrigues. “O brasileiro tem alma de vira-lata.
Sempre se sente diminuído”, deduziu Glauber Rocha. Antonio
Cândido chamou o fenômeno de deslumbramento do colonizado. É
mais ou menos isto: a meia dúzia de instruídos que existiam no Brasil
dos séculos 17, 18 e 19 estudaram na Europa. Chegando a
Pindorama, encontravam uma população formada por analfabetos.
Para quem falar? Para quem escrever? Fizeram uma mágica. O corpo
ficou aqui, mas a cabeça em Lisboa, Paris ou Londres. Quando abriam
a boca ou pegavam a pena, dirigiam-se a um público imaginário —
culto e refinado.
FALAR BONITO

A moda pegou. Falar bonito tornou-se obsessão. Virou motivo de


gozação de escritores e humoristas. Quer um exemplo? Vale lembrar
a piada que ironiza Rui Barbosa. O baiano exibido ignorava o leitor ou
o ouvinte. Só tinha olhos para a ponta do nariz ou o próprio umbigo.
Exibia erudição a quem se apresentasse a sua frente. Eis a história:

Ao chegar em casa, Rui Barbosa ouviu um barulho estranho vindo do


quintal. Chegando lá,
constatou haver um ladrão tentando levar os patos de criação.
Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao
tentar pular o muro com as amadas penosas, disse-lhe:

— Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos


bípedes palmípedes, mas pelo ato vil e sorrateiro de profanares o
recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à
socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para
zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado,
dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e
o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que
o vulgo denomina nada.

O ladrão, confuso, perguntou:

— Doutor, eu levo ou deixo os patos?

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