por Antonio Carlos Mazzeo, sexta, 20 de maio de 2011 às 11:13
A trágica morte de Felipe Ramos de Paiva, estudante da FEA/USP reacende o debate
sobre a presença da PM no Campus Universitário. Essa é uma questão complexa. Existem problemas estruturais de segurança no Campus da USP. Não é de hoje que se escuta falar de assaltos e estupros dentro do Campus.
Mas também é verdade que as sucessivas reitorias pouco fizeram e vem fazendo para melhorar a situação da precária segurança interna. A guarda universitária é mal preparada e mal aparelhada para lidar com o problema. Mais preocupada com a segurança patrimonial da USP, pouco fizeram para integrar a segurança com a comunidade acadêmica. A reitoria nada vem fazendo para melhorar e modernizar a manutenção da iluminação precaríssima do Campus.
Para os reacionários de plantão essa é a oportunidade para reafirmar suas convicções da necessidade de um corpo estranho para o meio universitário como a PM, como pudemos verificar na palavras do reitor João Grandino Rodaspedindo mais PMs no Campus.
Sabemos de que tipo de polícia estamos falando. A PM de São Paulo não prima por um comportamento civil e cidadão. Ao contrário. Diariamente somos informados de "incidentes" entre cidadãos e policiais, de violações de direitos e de truculência por parte dessa corporação. Diga-se, eles são treinados e doutrinados para ver o cidadão, principalmente se for pobre e não branco, como inimigo potencial. Basta que olhemos para o que acontece cotidianamente nas periferias da cidade. Agem como tropa de ocupação, como capitães do mato em pleno século XXI.
Os PMs não estão subordinados à cidadania, mas a seus comandantes. Uma vez acionados, agem sob ordens, ignorando os contextos sócio-ecômicos e políticos de seus teatros de operações, vistos e compreendidos sob ótica de ação militar. Isso explica as inúmeras agressões à civis e à população trabalhadora. Isso explica as operações violentas em situações relativamente simples que poderiam ter sido facilmente contornadas apenas com diálogo, como ocorreu na própria USP, quando a uma reitora ensandecida decide chamar a PM, que não só espancou estudantes e funcionários em greve, como invadiu o prédio da História e Geografia, lançando bombas de gás e de efeito moral.
No Brasil hodierno, a PM é uma superfetação autocrática à sociedade, hoje mais democrática e com seus segmentos sociais mais organizados. Fruto da ditadura militar, a polícia militarizada não tem espaços dentro de uma sociedade onde os trabalhadores estão cada vez mais críticos e organizados em suas reivindicações. Os estudantes sabem da ineficácia e da ameaça que a presença da PM no Campus pode significar, como bem ressalta uma estudante de história: "Não acho que o policiamento funcione nas ruas, que dirá no Campus".
O anacronismo autocrático e rançoso da PM fica evidente na fala de Mauro Maia, o capitão que atendeu à ocorrência trágica da noite de 18 de maio: " A alunada que ficar fumando sua maconha e fazendo bagunça sem ser incomodada"
O que fica dessa terrivel lição é a necessidade de que seja articulada a segurança do Campus da USP com o conjunto da comunidade acadêmica. Que modernizem a infraestrutura do local, que seja melhorado o controle de entradas nas dependências universitárias, que alunos, funcionários e professores sejam chamados à realizar a segurança coletiva e democrática juntamente com uma guarda universitária preparada e pronta para agir em situações como essa.
Quem deseja a PM nos Campi das Universidades Públicas, são, em última instância, aqueles que diuturnamente agridem a democracia e a autonomia universitária e apoiam explícita ou envergonhadamente sua privatização. Fora a PM dos Campi Universitários!