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REFLEXÃO

ADEQUAÇÃO DE UM MODELO TEÓRICO DE


ENFERMAGEM AOS CUIDADOS DE URGÊNCIA

Vasco Filipe Pinto Penela


Mestrado Enfermagem Médico-Cirúrgica
Unidade Curricular de Enfermagem
Evolução Histórica e Epistemológica
Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Escola Superior de Saúde

Abril 2011
Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

RESUMO
A urgência, caracteriza-se pela multiplicidade do tipo de doentes que recorrem à
mesma, enquanto muitos necessitarão de cuidados mais focalizados na descompensação
física, outros necessitarão de cuidados mais focados na descompensação psicológica ou
social ou então holisticamente necessitarão de cuidados que englobem abordagem
complexa com abrangência de todos os sistemas. A aplicação dos modelos teóricos de
enfermagem, nestas circunstâncias torna-se uma tarefa complicada, pois não há
adequação de apenas um modelo na sua integridade como sendo o mais acertado, e
também não existe nenhum modelo criado apenas para a adequação à urgência ou
doente crítico. Faz parte da evolução da enfermagem, a criação de modelos teóricos,
pois são estes que guiam a nossa prática na acção, naturalmente criados pela reflexão na
acção e por isso mesmo, quando as teorias deixam de se adequar às práticas, quer pela
evolução das mesmas ou quer por alguma mudança das circunstâncias ou da sociedade,
colocam-se de lado e criam-se outras.
Palavras-chave: Modelo teórico, evolução de enfermagem, reflexão

ABSTRACT
The emergency care unit is characterized for its multiplicity of people
pathologies that appeal to it, while many need focused cares in the physical needs,
others will need cares more focused in the psychological or social needs or then in
a holistic approach they will need cares that embrace a complex boarding with
focus to all the systems. The application of the theoretical models of nursing, in
these circumstances becomes a complicated task, therefore it doesn’t have
adequacy of only one model in its integral way as being the most correct, and also
it does not exist no model made only for the adequacy to the emergency or critical
care. It is part of the nursing evolution, the creation of theoretical models, they are
the guide to the practice, of course created by the reflection in action and
therefore, when the theories are no longer adjusted to the practices, caused either
by its evolution or for some change of the circumstances or of the society, they are
discarded and created others.
Key Words: Nursing theory, nursing evolution, reflection.

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Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

ÍNDICE

1- INTRODUÇÃO 4
2- CONTEXTUALIZAÇÃO 5
3- CONCEPTUALIZAÇÃO 6

3.1 Breve Abordagem Histórica 6


3.2 Breve Abordagem aos Modelos Teóricos 6
3.2.1 Florence Nightingale 7
3.2.2 Hildegard Peplau 7
3.2.3 Virgínia Henderson 8
3.2.4 Dorothea Orem 8
3.2.5 Dorothy E. Johnson 9
3.2.6 Faye Glenn Abdellah 10
3.2.7 Ida Jean Orlando 11
3.2.8 Imogene M. King 12
3.2.9 Martha Rogers 12
3.2.10 Irmã Callista Roy 14

4- REFLEXÃO 15

4.1 Definição de estratégias de escolha 15


4.2 Caracterizando os cuidados 17
4.3 Adaptação da teoria à prática 19
5- CONCLUSÃO 22
BIBLIOGRAFIA 23

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1- INTRODUÇÃO

Dia a dia apresentamo-nos no serviço de urgência, no nosso local de trabalho, no


meio da azáfama de doentes e cuidados, é inquestionável o exercício mental ininterrupto
sobre os cuidados de enfermagem que estamos a prestar. No entanto, será reflexão na
acção, reflexão para a acção ou nem um nem outro, será apenas pensar para actuar?
Será que muitos de nós, já parámos realmente para pensar sobre que tipo de
cuidados enfermagem que prestamos aos nossos clientes, que teoria ou modelo
conceptual utilizamos para orientar a nossa prestação de cuidados.
Visto que a evolução da enfermagem, movido pelos contextos socioculturais,
políticos, filosóficos, económicos e tecnológicos, exigiu dos seus profissionais, a
concepção de modelos teóricos que dessem sustentação às suas práticas, na mesma
medida que a criação desses mesmo modelos contribuíram novamente para a evolução,
autonomia e identificação da enfermagem como ciência, como podemos nós agora
sequer ousar não os utilizar, ignorando-os como filhos que ignoram quem os gerou?
Sinceramente eu não, por isso mesmo parto para este trabalho com uma
motivação acrescida, de forma a eliminar a minha ignorância, que me fragiliza enquanto
enfermeiro, que se julgando responsável e competente, desenvolvia os cuidados pelo
que achava que sabia e não pelo que efectivamente deveria saber.
Cabe-nos então, reflectir sobre as nossas práticas, com o objectivo de nos
situarmos como enfermeiros do séc. XXI, adaptando-nos às exigências dos nossos
tempos, dos nossos doentes, pessoas, que não vão exigir mais de nós senão o cuidar.
Citando (Colliére 1989, p. 306) “(…) Cuidar será mobilizar em alguém o que
vive, tudo o que é portador de vida, toda a sua vitalidade, o seu vital poder, como
Florence Nightingale gostava de dizer, isto é, todo o seu potencial de vida, mas também
toda a vida que tem em potência e que pede para se desenvolver como na criança ou
toda a vida que existe em potência até ao limiar da morte, não para prolongara todo o
custo, mas para procurar aquilo que a pessoa ainda dá valor. Com aquele olhar a uma
pessoa querida, aquela mão que ainda deseja tocar.”

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2- CONTEXTUALIZAÇÃO

O campo de estudo e intervenção é o OBS do Serviço de Urgência do Hospital


de Santa Luzia do ULSAM, que é constituído por uma equipa de 18 elementos na
prestação de cuidados e um chefe. Fisicamente é constituído por uma ala única em
forma de L, com 15 cama individualizadas por cortinas, sendo que 5 camas são
eléctricas e 10 são mecânicas, constituindo um tipo de boxes, dotadas de uma saída de
oxigénio, uma de vácuo, uma de ar e têm 8 tomadas eléctricas por cama.
Na zona central, nas camas 7 a 11, onde se encontram as camas eléctricas, estão
igualmente dotadas de um monitor fixo sobre a cama, tendo a cama 7 a particularidade
de ser usada para a ocupação de doentes com necessidade de ventilação invasiva, por a
ela estar associada o ventilador.
Os turnos têm a dotação de três enfermeiros, independentemente ser noite,
manhã ou tarde, sendo um destacado como enfermeiro responsável do turno, excepto
nos que coincidem com a presença no mesmo da chefia.
Existe na Urgência Geral, um tipo de triagem, feita pelos Enfermeiros para
colocar um doente no OBS, que nos transcende em termos de decisão, opção, escolha,
na compreensão assim como na perspectiva da necessidade de cuidados diferenciados
desses doentes, uma vez que não existem critérios de admissão definidos. Assim é
muito frequente que os doentes admitidos no OBS o sejam não pela necessidade de
maior vigilância, de cuidados diferenciados, de monitorização hemodinâmica, ou de
fluidos, ou de consciência, mas apenas pelo seu grau de dependência.
Esta característica que define o tipo de doente a admitir no OBS, acaba também
por definir o tipo de cuidados prestados, sendo uma unidade destinada à estabilização
do doente crítico, acaba por ser uma unidade em que a maior parte dos doentes tem na
sua maior dependência a necessidade de higiene e conforto.

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3- CONCEPTUALIZAÇÃO

3.1 Breve Abordagem Histórica


Numa retrospectiva histórica, da origem e evolução da enfermagem, damo-nos
conta da sua existência, em tempos imemoriais, baseando-se na sua essência como
refere Wanda Horta (1979, p. 3)“o Ser-Enfermeiro é gente que cuida de gente”, com o
compromisso puro do desejo, de manter as pessoas saudáveis ou em melhorá-las o mais
possível, proporcionando o maior nível de autonomia possível.
Assim era no tempo das tribos, dos Xamãs por exemplo, mas numa perspectiva
mais simples e básica, também as mães aprendem a “cuidar” dos seus filhos através dos
ensinamentos das suas próprias mães e estas aprenderam por sua vez das suas e assim
foi ao longo dos tempos. Collière (1989) referia que, desde que tinha surgido a vida,
existiam cuidados porque é preciso (tomar conta) da vida para que ela possa
permanecer. Para que fosse garantida o perpetuar da espécie, da vida humana,
comprometida pela sua fragilidade.
Ainda segundo Collière (1999), os cuidados de enfermagem, estavam longe de
ser um ofício, muito menos uma profissão, estes diziam respeito a qualquer pessoa que
ajudava outro de forma a garantir-lhe o que precisava para a sua sobrevivência. Esta
formação inicialmente, seria uma formação na prática, com base na repetição, com uma
fundamentação teórica da prática pela prática, num ritual de passagem de informação
àquele que por vocação seguia as pisadas do seu antecessor.
A formação dos cuidados de saúde em enfermagem, evoluiu até aos nossos dias,
arrastada pela própria evolução da ciência, mas principalmente como fruto da reflexão
sobre si própria, acontecendo um passo decisivo aquando da passagem da vocação para
a profissionalização dos mesmos, contributo de Florence Nightingale, a quem nos
devemos como Enfermeiros como somos hoje, a quem devemos a nossa evolução para
o amanhã.
3.2 Breve Abordagem aos Modelos Teóricos
A formulação de modelos teóricos na Enfermagem reflecte a sua evolução no
sentido da autonomia, da definição e delimitação da abrangência das suas acções e da
fundamentação teórica da prática. Muitos teóricos influenciaram de forma determinante

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o desenvolvimento da enfermagem como ciência. Abordarei de seguida algumas delas


que acho terem sido as mais pertinentes.
2.1.1 Florence Nightingale
Foi através de Florence Nightingale, que se deram os primeiros passos para a
profissionalização da enfermagem. Basicamente as enfermeiras estavam entre a vocação
e a profissionalização, como consequência os cuidados eram muito básicos,
fundamentalmente faziam aquilo que o médico lhes delegava.
O modelo de Nightingale, baseava-se no pressuposto de que as condições
externas eram capazes de prevenir doenças, suprimi-las ou contribuir para elas.
Algumas das condições que identificou eram a ventilação, o aquecimento, a luz, o ruído,
a limpeza, os esgotos e a nutrição, são exemplos de condições que ao se
desequilibrarem, provocariam alterações na pessoa comprometendo a sua recuperação e
a sua cura. De igual modo, também as condições precárias de higiene na casa das
pessoas e exterior, poderiam afectar a sua saúde. Citando [ CITATION Geo00 \p 35 \l
2070 ] “ Casas mal construídas fazem com os saudáveis o mesmo que hospitais mal
construídos fazem com os doentes. Assegurando-se o ar estagnado, a doença certamente
virá a seguir”. (Nightingale, 1859/1992)
Apesar de ser muito limitada na sua perspectiva, é simultaneamente muito
generalista na sua aplicabilidade, uma vez que ainda hoje, podemos aplicar este modelo
com relativas melhorias para a saúde dos doentes.
A função do enfermeiro, seria além de equilibrar o meio ambiente, ser capaz de
oferecer as melhores condições possíveis ao doente para a natureza poder agir.
Focalizando o seu objectivo na recuperação mais rápida possível da sua independência.
Com os conhecimentos científicos que temos hoje, não seria coerente atribuir a
recuperação de uma doença, directamente aos factores ambientais, como sendo a
melhoria das condições de higiene, a iluminação, a nutrição adequada, o arejamento da
enfermaria, etc., mas ao pensarmos bem, tem algo de fundamental para o bem-estar dos
doentes e favorecedor à sua recuperação.
3.2.1 Hildegard Peplau
Por sua vez Hildegard Peplau, construi um modelo, que pelas suas
características, revela a sua vivência como enfermeira em Psiquiatria. Esta teoria
assente nos fundamentos do crescimento e do desenvolvimento, tem por base a relação
entre o enfermeiro e o doente, daí chamar-se teoria das relações interpessoais, que como

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é referido em George (2000), a enfermagem pode ser encarada como sendo uma relação
interpessoal, uma vez que envolve a relação de duas ou mais pessoas, visando uma meta
comum. Era este o meio pelo qual se atingia a cura para os doentes, através da discussão
e do reconhecimento dos problemas, com estabelecimento de metas por acordo mútuo
até a resolução dos mesmos. Relação esta que se desenvolvia, especificamente com o
doente, ignorando o seu ambiente, meio social comunidade ou família, como referido
em George (2000).
3.2.2 Virgínia Henderson
A definição de Virgínia Henderson (1955) da enfermagem citada por
[ CITATION Geo00 \p 62 \l 2070 ] “ A enfermagem, basicamente, é o auxílio ao
indivíduo (enfermo ou em boas condições) na realização daquelas actividades que
favorecem a saúde ou a sua recuperação (ou morte tranquila), que ele faria sozinho,
caso tivesse força, a vontade ou o conhecimento necessário. É, da mesma forma,
singular contribuição da enfermagem, a de auxiliar a pessoa a tornar-se independente
desse auxílio o mais breve possível” contém a essência pelo que a enfermagem é
conhecida hoje. Constituída por 14 necessidades essenciais.
Na reflexão sobre as necessidades, conseguimos perceber que, o enfermeiro
apenas vai centrar a sua atenção sobre a necessidade afectada, substituindo a pessoa
nessa actividade, até que se torne independente. Baseados em aspectos físicos e
emocionais do indivíduo, segundo George (2000), reconhece uma falha importante na
concepção desta teoria, como sendo a falta de articulação entre as necessidades
agrupadas nestes dois grupos dos aspectos fisiológicos e as características humanas.
Fica portanto por apresentar um conceito holístico, sendo vago a forma como
Henderson articula entre si estas necessidades e por sua vez com o cuidado de
enfermagem.
Sabemos no entanto, que ainda hoje são usadas as 14 necessidades básicas para
fazer o levantamento dos diagnósticos de enfermagem, contribuindo para um cuidado
de qualidade, tanto na promoção, prevenção ou recuperação da saúde.
3.2.3 Dorothea Orem
A teoria de Dorothea Orem do autocuidado, segundo Meleis (2007) é a que tem
sido mais discutida e usada em Enfermagem. Segundo George (2000), nesta teoria o
enfermeiro providencia a assistência necessária à pessoa, quando esta é incapaz de
desenvolver o autocuidado, fazendo uma excepção adaptada às crianças, em que os

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cuidados de enfermagem se tornam necessários quando os pais ou responsáveis não são


capazes de proporcionar a quantidade ou qualidade de cuidados necessários.
A sua teoria geral é composta por três teorias inter-relacionadas:
 a teoria do autocuidado
 teoria do deficit de autocuidado
 teoria dos sistemas de enfermagem
A teoria do autocuidado inclui a capacidade humana em se cuidar, os factores
condicionantes básicos, a totalidade de acções de autocuidado necessárias e as três
categorias de requisitos de autocuidado: universal, desenvolvimentista e de desvio da
saúde.
A necessidade da enfermagem, fica definida na sua teoria do deficit do
autocuidado, que é segundo George (2000) o núcleo da teoria geral de enfermagem de
Orem.
Começamos a compreender que, por muito simples esta teoria pudesse parecer à
primeira vista, ela vai-se tornando mais complicada e intrincada, à medida que se vai
aprofundando. Segundo George (2000), embora seja uma teoria abrangente, extensa, a
interligação entre os conceitos propostos por Orem é facilmente compreensível, uma
vez que o conceito base de auto- cuidado tem uma aplicação universal e que é
facilmente transportado para a prática da Enfermagem.
Meleis (2007), refere que a teoria do autocuidado, potencia o envolvimento da
pessoa no processo do seu cuidar, pese embora que seja de uma forma dependente, pois
o processo e as metas são definidas pelo enfermeiro, espera-se no entanto que o doente
se envolva de modo a potenciar a suas capacidades de autocuidado e autonomia. Se por
outro lado o doente não quiser, preferindo que outros cuidem dele, ter-se-á que ajudar
ao mesmo a desenvolver o conceito da necessidade em ser um agente no seu cuidar.
3.2.4 Dorothy E. Johnson
Modelo de sistema comportamental em que se reconhecem sete subsistemas
como sendo a ligação e afiliação, dependência, ingestão, eliminação, sexualidade,
agressão e realização.
A teoria criada por Johnson, é de certa forma uma criação conjugada com a sua
aluna, Sister Calister Roy e Betty Neuman. Segundo Meleis (2007), Johnson definiu em
todas as suas publicações de metateorias e teorias que, o que diferencia a enfermagem
da medicina e de todas as ciências da saúde, é a perspectiva por parte da enfermagem do

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doente como sendo um sistema comportamental. Assim sendo, define-se que a medicina
tem o seu enfoque na parte biológica do doente enquanto que a enfermagem apenas se
concentra na parte comportamental.
Apoia de certa forma as suas ideias nas concepções de Nightingale, notando-se à
semelhança desta o distanciamento directo da doença, no entanto enquanto Nightingale
se focava nas questões ambientais, Johnson referia-se ao comportamento como factor
controlador da doença. George (2000) refere que, a actuação da enfermeira recai sobre o
comportamento da pessoa, promovendo uma conduta eficiente e eficaz de modo a
prevenir a doença, apoiando-se também na Medicina e no modelo do sistema biológico,
enfoca a doença em si mesmo.
Meleis (2007) abordando a teoria de johnson, refere que o doente é então
reconhecido como um sistema comportamental, com múltiplos subsistemas, sendo
imperativo por parte da enfermagem, reconhecer aqueles que possam estar
dequilibrados podendo potêncialmente provocar uma doença ou a hospitalização.
Segundo ainda o mesmo autor (2007), a teoria de Johnson fornece uma definição muito
útil de pessoa, saúde, problemas de enfermagem, tratamentos de enfermagem, mas não
dá nenhum tipo de definição de processo de enfermagem, interacção ou ambiente.
Denota-se portanto que nesta teoria, existe um senão que se prende com o facto
de que a enfermagem apenas actua perante o reconhecimento de instabilidade, isto é,
apenas no processo de doença e não num estado de saúde para a promoção da mesma,
não tendo sequer em conta a parte fisiológica da pessoa.
3.2.5 Faye Glenn Abdellah
Conhecida pelos vinte e um problemas de enfermagem, desenvolveu o seu
trabalho com o objectivo em promover um cuidado abrangente e centralizado no doente.
Citando [ CITATION Geo00 \p 119 \l 2070 ] “…a enfermagem é baseada na arte e na
ciência moldada nas atitudes, na competência intelectual e nas habilidades técnicas
individuais da enfermeira, visando o desejo e a capacidade de ajudar pessoas, doentes
ou sadias, a enfrentarem as suas necessidades de saúde.”
Segundo Tomey & Alligood (2006), Abdellah pegou nas catorze actividades de
vida de Virginia Henderson e através da investigação em enfermagem, estabeleceu a
classificação dos problemas de enfermagem. No entanto difere de Henderson pelo facto
de estes problemas estarem focalizados nos cuidados de enfermagem, os quais são
usados para determinar as necessidades do doente.

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Citando [ CITATION Geo00 \p 125 \l 2070 ] “Se a enfermeira ajudar o cliente a


atingir todas as metas declaradas nos problemas de enfermagem, ele será encaminhado à
saúde.”
Através da reflexão sobre a teoria de Abdellah, depressa se chega a uma das
limitações do mesmo, que se prende com o facto de ao ser totalmente centrado na
enfermagem, deixa um pouco indefinido aquilo que o doente pretende para si ou os
objectivos em saúde a atingir. Outra limitação está no facto de se limitar à resolução de
problemas, e ao desintegrá-los do seu contexto, perde a noção de holismo, podendo daí
advir limitações no tratamento do doente.
3.2.6 Ida Jean Orlando
A teoria de enfermagem definida por Orlando, define-se como sendo de inter-
relação entre Enfermeiro e o paciente. Centrando-se no paciente como um indivíduo,
pessoa com características individuais, reagindo para situações similares e doenças
similares de maneira diferente. Meleis (2007) refere que o enfoque da teoria de Orlando
está na identificação e clarificação do processo de interacção durante o processo saúde
ou doença.
A actuação do enfermeiro é despoletada, pela observação do comportamento do
paciente, na sua expressão verbal e não verbal. Nesta última fazem parte as
manifestações fisiológicas como os sinais vitais, a sudorese, a eliminação, o edema, etc.,
sendo que estas podem ser influenciadas pela percepção, pelos pensamentos e
sentimentos em relação à conduta do doente, actuação esta que pode ser automática ou
profissional disciplinada.
Referente ao cuidado disciplinado, citando [ CITATION Geo00 \p 134 \l 2070 ]
“apenas a última leva ao cuidado de saúde efectivo, isto é, ao alívio do sentimento de
desamparo do doente”. Sendo que a primeira a automática, é desenvolvida sem tomar
em conta as necessidades efectivas do doente, como sendo por exemplo as prescrições
médicas.
Assim, conseguimos chegar à conclusão que, o resultado esperado para a
intervenção da enfermagem, será a melhoria no comportamento do doente. Em que o
processo de enfermagem é despoletado pelo comportamento do mesmo. Segundo
Meleis (2007, p. 347) “quando um paciente não consegue lidar com as suas
necessidades sem ajuda, eles tornam-se stressados com sentimentos de impotência.”
(Orlando 1961)

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Esta intervenção, caracteriza-se por ser num momento preciso e não prolongada
no tempo, foca-se em demasia à resolução do problema imediato, descurando aqueles
que pela sua complexidade se prolongam, assim como refere George (2000). Uma das
características mais importantes na teoria de Orlando, como refere ainda este autor, é
que raramente os diagnósticos elaborados pela enfermagem estão errados, pois as
intervenções e a clarificação do comportamento do doente são continuamente
reavaliadas e ajustadas até à resolução do problema.
3.2.7 Imogene M. King
Segundo George (2000), King assentou o seu modelo conceptual, numa estrutura
de sistemas abertos. Este modelo que se baseia em quatro conceitos entre eles, os
sistemas sociais, a percepção, as relações interpessoais, a saúde como um processo
interactivo, irá servir de base para o desenvolvimento da teoria da obtenção de metas.
Os conceitos dos sistemas pessoais são a percepção, o ser, a imagem corporal, o
crescimento e o desenvolvimento, o tempo, o aprendido e o espaço. Os conceitos dos
sistemas interpessoais são o papel, a interacção, a comunicação, a transacção e o stress.
Os conceitos dos sistemas sociais são a organização, o poder, a autoridade, o status, a
tomada de decisão, o controle e o papel.
Esta teoria centra-se no sistema interpessoal e nas interacções que têm lugar
entre indivíduos, particularmente na relação enfermeira-doente. No processo de
enfermagem,cada membro da díade percebe o outro, faz juízos e toma atitudes. Em
conjunto essas actividades culminam em reacção. Daí, resulta a interacção e, se houver
congruência perceptual e as perturbações forem conquistadas, ocorrem as transacções.
O sistema é aberto para permitir o feedback, porque cada fase da actividade influencia
potencialmente a percepção.
Citando [ CITATION Geo00 \p 178 \l 2070 ] “A enfermagem é definida como
um processo de acção, reacção e interacção pelo qual a enfermeira e o cliente
compartilham informações sobre as suas percepções na situação de enfermagem” (King,
1981)
Os cuidados de enfermagem, pressupõem sempre uma intecâmbio relacional
com o doente, pelo que se apresenta como uma limitação, a qual é reconhecida por
King, como referem Tomey & Alligood (2006) quando dizem que a teoria tem sido
criticada por não se poder aplicar-se em áreas de enfermagem em que os pacientes são
incapazes de interactuar devidamente com a enfermeira.

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3.2.8 Martha Rogers


Teoria humanista que considera o ser humano unitário.
Segundo Meleis (2007), para Rogers o ser Humano e o ambiente são unos,
considerando que nem um nem outro podem ser discutidos, considerados ou entendidos
isoladamente, são inter-relacionados de um modo irredutível, indivisível,
pandimensionais e identificados por padrão, beneficiam-se da enfermagem que participa
em harmonia com seu processo de mudança.
Segundo George (2007), no trabalho de Rogers, relativamente aos seres
humanos, existem cinco pressupostos.
Primeiro que é um todo unificado possuindo uma integridade individual e
manifestando características que são mais e diferentes que a soma das partes. Segundo,
presume que o indivíduo e o ambiente estão em constante interacção, trocando matéria e
energia entre si. Terceiro, a vida decorre numa única direcção, nunca podendo voltar
atrás para algo que previamente fora, tornando o ser humano a expressão da totalidade
de eventos. Quarto, prende-se com os padrões de vida como reflexo da sua totalidade
inovadora e da sua identificação. O quinto pressuposto é a caracterização do ser humano
como único ser com capacidades de pensamento consciente, linguagem, sensação e
emoção, que percebem e ponderam sobre a vastidão do cosmos.
Citando [ CITATION Geo00 \p 187 \l 2070 ], “O indivíduo é o receptor dos
serviços de enfermagem, os processos de vida da humanidade são o núcleo em torno do
qual gira a enfermagem.”
Baseado nos princípios da hemodinâmica da integralidade que se define como o
processo de interacção contínuo, mútuo e simultâneo entre os campos humanos/
ambientais, constitui-se pela helicidade que engloba os conceitos de mudança rítmica,
influência evolutiva e campos humano/ambientais unitários e pela ressonância que é a
identificação do campo humano e ambiental através de ondas de curtas.
Segundo George (2000), revela que a dificuldade na compreensão dos
princípios, assim como a falta de definições operacionais e os instrumentos inadequados
para a mensuração são as principais limitações ao uso efectivo da teoria.
Meleis (2007), por sua vez reconhece em Martha Rogers como sendo a pioneira
no estabelecimento da relação entre enfermagem e física e que providenciou a visão
optimista da saúde que confere poder ao indivíduo assim como ao enfermeiro.

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3.2.9 Irmã Callista Roy


Modelo de adaptação de Roy, é realizado com por base na teoria geral dos
sistemas de Von Bertalanffy (1968) e na teoria da adaptação de Helson (1964).
Define como sendo o receptor dos cuidados, a pessoa, a família, podendo ser
uma comunidade ou uma sociedade, cada um sendo considerado como um sistema
adaptativo holístico. Tomey & Alligood (2006) referem-se à teoria de Roy, como
considerando as pessoas sistemas holísticos de adaptação e o centro de atenção da
enfermagem, em que as pessoas estão em constante interacção com o seu meio, sendo
por ele afectadas e simultâneamente afectando-o.
Tendo em mente um sistema, este caracteriza-se por entradas e saídas, controles
e retroalimentação, este tipo de teoria, aplica-se na perfeição ao corpo humano, no
percurso de vida, em que monitorizamos o que comemos e bebemos, o que gastamos
nas nossas actividades, as nossas relações afectivas e sociais e os seus impactos em cada
ser humano com consequentes e no seu ser, a relação que tem com o meio ambiente
como sendo a poluição, o frio e o calor, o bem ou o mal que se sente.
A capacidade de cada indivíduo, em responder de forma positiva aos estímulos
ambientais, é o que define a sua capacidade de adaptação, consequentemente a
adaptação fomenta a sobrevivência, o crescimento, a reprodução, o dominio e as
transformações das pessoas e do seu meio. Segundo George (2000), estas respostas
podem ser adaptativas ou ineficientes, as quais derivam de mecanismos reguladores e
cognatos, como por exemplo o nosso sistema de defesa, no entanto, outros são
aprendidos, como o uso de antisépticos para limpar uma ferida, respectivamente.
Citando [ CITATION Tom06 \p 373 \l 2070 ], “Roy define a saúde como um
estado em que um ser humano se torna completo e integrado.”

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4- REFLEXÃO

4.1 Definição de estratégias de escolha


Após ter feito o levantamento das teorias que achei serem as mais pertinentes,
cabe-me agora a difícil tarefa de as interpretar de forma a encontrar a mais adequada à
minha prática. Na verdade, o que acabei de dizer torna-se uma incongruência, uma vez
que para existirem cuidados de qualidade é necessário estes se adequarem ou apoiarem
num modelo conceptual. No entanto não reconheço que os cuidados de enfermagem
prestados no meu serviço sejam parcos em qualidade.
Se por um lado, não existe um modelo explícito, existe com toda a certeza um
modelo implícito que vou tentar escrutinar.
Segundo Meleis (2007), a escolha de uma teoria para a sua prática por parte dos
enfermeiros, está relacionada com alguns factores, como sendo:
 Motivos pessoais, motivos que se prendem com o uso pessoal de critérios com
os quais se sentem confortáveis em usar, e a congruência da teoria relativamente
com a sua filosofia de vida.
 Mentor, em que há aqueles que usam uma teoria por terem sido dirigidos para
ela por um teorista, ou expostos ao ensino da teoria que lhes tenha marcado e
influenciado profundamente e transformado a sua perspectiva de vida.
 Teorista, outros escolhem uma teoria, baseado na imagem do teorista na
sociedade, o seu status, respeito, contacto pessoal.
 Suporte bibliográfico, outros escolhem uma teoria, porque tiveram a
oportunidade e disponibilidade de ler e escrever extensivamente sobre uma
teoria, que lhes deram a segurança e reconhecimento do nível de significado da
teoria e do seu status
 Congruência sociopolítica, outro motivo de escolha pode ser relacionada coma
situação económica e social, com as suas limitações e tendências, assim como a
imposição institucional.
 Utilidade, a facilidade com que uma teoria é entendida e aplicada, é um dos
factores principais que dirigem a escolha.
Meleis (2007), refere uma coisa curiosa que se prende com, o facto de se
proceder uma escolha de uma teoria da forma mais objectiva possível, tentando eliminar

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ao máximo da subjectividade, poderá resultar na utilização de uma teoria que não seja
tão verdadeira às premissas e proposições da mesma e o contrário é igualmente verdade.
Assim, na escolha de um modelo tórico de assistência, devemos obter
informações básicas, que permitam prever o grau de envolvimento do doente no seu
tratamento, algumas estratégias que possam ser mais úteis para este e o grau de
articulação com outros profissionais que a situação possa necessitar. Esta fase
preliminar auxilia direccionar e a estabelecer prioridades na colheita de dados e definir
qual modelo poderá ser mais congruente às condições do cliente.
A análise de selecção do modelo leva também em consideração que alguns são
mais aplicáveis a indivíduos, outros à família e outros à comunidade, alguns
pressupõem as acções centradas no enfermeiro, enquanto outros favorecem o
autocuidado e outros centram os cuidados no doente.
Faz-me então sentido fazer inicialmente uma divisão das teorias de enfermagem,
segundo os paradigmas criados por Kérouac (2007), de categorização, integração e
transformação, simultaneamente nas escolas de pensamento a eles associados para
posteriormente estreitar a selecção para as teorias integradas em cada um deles. Assim:
 O paradigma da categorização não tem escola de pensamento associada, uma
vez que se tomava o problema de forma isolada, descontextualizando-a do
doente como um todo, tomando como foco de atenção apenas a parte.
 O paradigma da integração, caracteriza-se pela orientação dos cuidados de
enfermagem para a pessoa  tomando-o como um todo em inter-relação consigo e
com o ambiente que o rodeia. Compreende as escolas das necessidades, dos
efeitos desejados, da interacção e da promoção da saúde
 Paradigma da transformação, que compreende as escolas do ser humano unitário
e a escola do cuidar, dentro desta óptica a pessoa é considerada como
um ser único cujas múltiplas dimensões formam uma unidade, este ser íntegro e
único é indissociável do seu universo. A pessoa está relacionada com o
seu interior e com o seu exterior.
Tendo feito esta divisão, para continuar vou ter que responder às perguntas
chave:
 Que fazem os enfermeiros?
 Como fazem os enfermeiros?
 Porque fazem os enfermeiros?

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 A quem se dirigem os cuidados de enfermagem?


 Como é que os enfermeiros participam no processo de cura?
 Como é que os enfermeiros participam na promoção da saúde?
4.2 Caracterizando os cuidados
Respondendo às perguntas formuladas anteriormente, os cuidados de
enfermagem, prestados num serviço de urgência, nomeadamente no serviço de OBS,
caracterizam-se cuidados a doentes em situação crítica e não crítica em doentes com
patologias agudas ou crónicas agudizadas mas com algum grau de estabilidade.
Em todos os níveis de intensidade de prestação de cuidados, situação crítica ou
não, reconheço-os (cuidados) como estímulos que damos aos doentes, esperando da
parte dos mesmos algum tipo de reacção, sabendo que qualquer indivíduo é diferente do
seu semelhante, é realmente necessário uma vigilância de forma a avaliar os resultados
que estabelecemos como metas, pois o mais provável é que será ligeiramente diferente
do esperado. Cabendo-nos aí adaptarmos os cuidados, reavaliando e reformulando os
mesmos, de forma que se obtenham melhores resultados do sistema fisiológico ou
psicológico do doente.
Como refere Macphail (2001) os enfermeiros de urgência, ao contrário de
outros, afirmam-se pela diversidade de conhecimentos: de doentes e de processos
fisiopatológicos de doença, de inovações tecnológicas mais recentes de equipamento de
monitorização e de tratamento.
Os cuidados de enfermagem ao doente crítico, são caracterizados por muitos
autores, como sendo despersonalizados, com uma vertente focalizada na técnica,
descurando o ser humano como pessoa única e irrepetível na sua necessidade, condição
e nas suas fragilidades. Como referem Vaz e Catita (2000) no seu artigo, em que o
serviço de urgência pelas suas características intrínsecas, a intensidade de trabalho físico
e mental, o stress, o desgaste psicológico, a responsabilidade profissional, a
confrontação continua com a morte e as ameaças constantes de perda e de fracasso, é
indutor de despersonalização e desumanização dos cuidados prestados.
Realmente esta característica dos cuidados de urgência, pode parecer à primeira
vista, ao observador ocasional, que não está inserido na equipa de cuidados, na azáfama
e confusão aparente que transparece durante a prestação de cuidados ao doente crítico,
no entanto, mesmo durante esses momentos, os cuidados de enfermagem são prestados
atendendo ao doente como pessoa, definida como único com necessidades

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individualizadas que são avaliadas numa perspectiva holística, adequando os cuidados


de enfermagem aos mesmos. Durante este processo, torna-se imprescindível fazê-lo
através da monitorização e utilização de tecnologias que se ache necessário para
optimizar os cuidados, não sendo por isso que se descure os cuidados humanizados,
estabelecendo uma relação de ajuda, valorizando as necessidades, vontade e autonomia
da decisão do doente, porque embora seja nas grandes coisas, que a visualização da
concretização seja mais evidente, é nas pequenas coisas, pormenor que a enfermagem
faz a diferença para a qualidade.
Tendo em mente uma situação, como sendo a paragem cardio-respiratória, em
que o enfermeiro inicia de imediato toda a cadeia de sobrevivência, não é por esta ser
praticamente uma actuação automática e generalizada, que durante o seu
desencadeamento não se vá adequando os cuidados de forma dirigida e
individualizados, à condição do doente e à pessoa. Não é por ele estar inconsciente, que
não se respeita como ser humano, integrante de num meio social e familiar, os quais
serão informados e integrados no processo de cuidar, mais que não seja através das
informações que nos possam disponibilizar durante a fase de avaliação e colheita de
dados, quer pela informação que nós ou o médico lhes podemos facultar.
Todos os cuidados são prestados em articulação contínua com os restantes
profissionais de saúde, seja o médico, a assistente operacional, seja a assistente social ou
outro qualquer profissional que quer pela necessidade do doente ou da equipa seja
solicitado para integrar a equipa de cuidados.
Segundo refere Macphail (2001) relativamente à complementaridade entre a
equipa de saúde num serviço de urgência, considera que em nenhuma outra vertente dos
cuidados de saúde é tão essencial o trabalho em equipa e o respeito mútuo.
O doente, quer tenha alta ou seja transferido para outro serviço intra ou extra-
hospitalar, é sempre garantida a continuidade de cuidados, através das notas de
enfermagem, ou de carta de alta. A avaliação do conhecimento da sua própria condição
é sistematicamente avaliada, tentando-se dentro da nossa competência, colmatar as
necessidades de conhecimentos adequadas à situação, sempre que seja necessário, na
perspectiva do enfermeiro ou de outro elemento da equipa de saúde, chama-se o
familiar/cuidador ou cuidador informal, de forma a fornecer os conhecimentos e ensinos
que se achem pertinentes para a continuidade de cuidados/promoção da saúde.

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Julgo que realmente conseguimos prestar cuidados numa perspectiva holística,


conseguindo articular os nossos conhecimentos na prática, emanando um espírito de
confiança tanto para o doente como para a restante equipa, aplicando competências
técnicas e científicas adequadas, assim como relacionais e de comunicação, visando a
optimização dos cuidados, numa clara evidência da necessidade dos enfermeiros em
fornecer cuidados de qualidade e realmente holísticos.
Segundo Mcphail (2001), o resultado adquirido por intermédio dos cuidados
prestados no serviço de urgência poderá ser determinantemente influenciado, pelo
esforço da equipa no terreno, durante a estabilização inicial, a transferência e pela
comunicação continua.
4.3 Adaptação da teoria à prática
Tendo reflectido imenso, sobre tudo aquilo que me debrucei, tanto em revisão
bibliográfica, como em produção reflexiva sobre teoria dessa mesma revisão como
sobre as minhas práticas e dos meus colegas no serviço de OBS da Urgência, devo
determinantemente dizer que numa primeira abordagem, repelo veemente, as práticas de
cuidados minimamente agregada ao paradigma de categorização. Com a mesma
convicção, incluo os cuidados praticados, tanto na urgência geral como no OBS no
paradigma da integração. Estreitando progressivamente a escolha, situo os cuidados na
escola de pensamento dos efeitos desejados, na qual se integra o modelo de adaptação
de Sister Callista Roy pelo qual admito afinidade e consigo relacionar com os cuidados
de enfermagem prestados neste serviço.
Aprofundando este modelo, pareceu-me quase de imediato, aquele que melhor
se aplica aos cuidados de urgência. Pela sua definição de cuidados de enfermagem que
se baseiam, segundo George (2000) promover a saúde, potenciando as respostas
adaptativas das pessoas. Como dito atrás, na descrição da teoria, face aos estímulos
externos e internos, será o nível de adaptação aos mesmos que determinará se haverá ou
não uma resposta positiva. Neste sentido, a enfermagem terá sobre seu cuidado, a
diminuição das respostas ineficientes, promovendo as respostas adaptativas. O mesmo
autor resume então que o enfermeiro, promove a saúde em todos os processos da vida,
incluindo o morrer com dignidade. (Roy & Andrews, 1991)
Neste modelo, inserido no sistema adaptativo, existem quatro modos adaptativos
que se designam por:
 Modo fisiológico, que representa as respostas fisiológicas aos estímulos

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 Modo de autoconceito, que se relaciona com a necessidade básica de integridade


psíquica
 Modo de função papel, que identifica os padrões de interacção social da pessoa
em relação aos outros.
 Modo de interdependência, é onde as necessidades afectivas são preenchidas,
como o valor humano, afeição, amor e afirmação.
Tomando como referência o modo fisiológico, com o objectivo de fazer uma
diferenciação para a escola das necessidades, na minha perspectiva baseando-me na
reflexão na acção, não se interpreta a dispneia por exemplo, como uma descompensação
da respiração per si a ser compensada, sabemos de imediato, que a dispneia surge como
consequência de algo, sendo esta uma adaptação do organismo como consequência de
um outro evento ou estímulo que poderá ser externo ou interno, como sendo numa asma
um alergéneo ou uma descompensação de uma Insuficiência cardíaca, respectivamente
aos estímulos referidos.
Como enfermeiros compete-nos abordar o doente de forma holística e numa
aplicação do processo de enfermagem de forma sequencial, rápida e sistemática,
conforme o modelo de Roy, investigamos os comportamentos do doente, seguidamente
averiguamos que estímulos estão a provocar esses comportamentos. Em terceiro lugar, o
enfermeiro faz os diagnósticos de enfermagem do seu estado e capacidades de
adaptação, de seguida estabelece metas para promover a adaptação e finalmente como
última etapa o enfermeiro promove e potencia a interacção da pessoa com o seu
ambiente, promovendo assim a sua saúde.
Operacionalizando isto com um exemplo adaptado à prática, podemos por
exemplo ter um doente com um choque séptico, reconhecemos que esta situação é uma
resposta ineficaz do organismo para combater um estímulo que neste caso é a infecção,
desenvolvendo um conjunto de sinais e sintomas que são a manifestação dessa
incapacidade adaptativa, isto é, respostas do organismo ou comportamentos neste caso
fisiológicos. Cabe então ao enfermeiro, reconhecer os comportamentos do doente e
tentar descobrir qual é o estímulo interno ou externo que está os está a provocar.
Através da colheita de dados, dos antecedentes, dos sintomas, isto é, da história
do doente, vai tentar saber, entre outras informações, quais são os seus comportamentos
ou respostas habituais aos estímulos, como sendo a sua tensão arterial habitual ou pulso,
os seus hábitos de vida, por exemplo de está num lar ou em casa, uma vez que num lar

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estaria mais sujeito a estímulos externos como sendo agentes infecciosos, ou se está
acamado, etc.
Seguidamente ou simultaneamente levanta diagnósticos de enfermagem,
relacionados com os sinais e sintomas como por exemplo hipotensão e anúria em
consequência com choque séptico, com atingimento multiorgânico, intervindo-se
através da administração de fluidos e vasoconstritores, o que se traduz em estímulos que
estimulam uma resposta adaptativa. De imediato estipulam-se metas de aumento da
tensão arterial para os estímulos fornecidos e caso as respostas adaptativas não sejam as
adequadas, reavalia-se toda a situação adaptando os estímulos à nova situação. As
avaliações são sistemáticas e continuadas com o objectivo de verificar a eficácia das
acções de enfermagem implementadas.
Este exemplo, foi um exercício para mim próprio, de forma a validar a
aplicabilidade do modelo de Roy, que me parece ajustada à realidade.

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5- CONCLUSÃO

A realização deste trabalho foi uma experiência realmente muito enriquecedora,


para a minha formação profissional, assim como pessoal, adicionando-me competências
que já há muito devia ser portador.
Esta minha reacção surge como reflexo do quanto necessitava deste estímulo,
para regressar às origens da evolução da enfermagem, para também eu evoluir como
enfermeiro.
Como pretendi argumentar neste trabalho, os modelos teóricos, têm um papel de
destaque nos cuidados de enfermagem, norteando a nossa prática rumo aos cuidados de
excelência. Os cuidados de enfermagem de urgência, embora se envolvam por
circunstâncias especiais de actuação, carecem da mesma forma de um processo de
enfermagem, de forma a proceder a uma avaliação inicial, levantamento de
diagnósticos, planeamento, implementação e avaliação de cuidados de forma organizada
e precisa.
Citando [ CITATION She01 \p 9 \l 2070 ] “A utilização proficiente do processo
de enfermagem proporciona a base para cuidados eficientes e abrangentes em todas as
áreas da prática de enfermagem”
A mesma autora referindo-se ao ambiente de urgência refere que pelo ritmo
acelerado por que se caracteriza a urgência, o enfermeiro tem que ser especialista
clínico e de diagnóstico, para conseguir assimilar dados essenciais para elaborar o plano
de cuidados junto do doente.
Os cuidados de enfermagem devem ser sempre individualizados, adequados a
cada doente, sendo assim o processo de enfermagem também o tem que ser, para que
seja o mais eficaz possível, pois para além de cada pessoa ser diferente do seu
semelhante, também cada caso patológico o é.
Depreendo daqui também, a necessidade e a importância de uma adequação
perfeita de uma teoria ou modelo conceptual de enfermagem, que transpareça e que
permita a prestação de cuidados de qualidade promovendo a saúde, que julgo ter
conseguido.

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