DO VISUAL AO SIMBÓLICO:

A Cultura Arquitetônica da Madeira no Paraná

Área Temática: A Arquitetura como fato cultural

Silmara Dias Feiber

Arquiteta e Urbanista, Mestre em Geografia e Aluna do Programa de Pós-graduação em Geografia –
Doutorado – UFPR
Professora Pesquisadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Assis Gurgacz
Endereço: Rua Costa e Silva, 1152 – Cascavel/PR – CEP 85803-500
Contato: (45)3038-2067, (45) 9132-7949, e-mail: silmaradias@fag.edu.br

Moacir José Dalmina Junior

Arquiteto e Urbanista, Especialista – UNIPAR/PR
Professor Titular da Faculdade Mater Dei – Pato Branco/PR
Professor Titular da Faculdade Assis Gurgacz – Cascave/PR
Endereço: Rua José Caldart, nº 986 – Cascavel/PR – CEP 85.819-570
Contato: (45) 3224-8979, (45) 9914-5999, moa.dalmina@hotmail.com
 DO VISUAL AO SIMBÓLICO:
A Cultura Arquitetônica da Madeira no Paraná

Diante da temática sugerida “Arquitetura em Transição” o estudo aqui apresentado revela uma
decodificação de um signo específico – arquitetura em madeira do Paraná – partindo de sua imagem e
representação. No atual estado da contemporaneidade onde os territórios passam a ser globais o resgate e
propagação de uma cultura em particular manifesta-se como um dos maiores desafios perante a
preservação das identidades locais. Neste estudo investiga-se o papel das formas espaciais – físicas e
simbólicas – responsáveis pela construção identitária do indivíduo pós-moderno. Diante do exposto
esclarece-se que entre as diversas maneiras do homem se posicionar no espaço, seja num viés material ou
subjetivo, a arquitetura acaba por contribuir nesta ação como sendo a maneira de significar o espaço
agregando valor simbólico ao espaço cotidiano fortalecendo assim os laços que unem o indivíduo ao seu
lugar. Encontra-se neste sentido uma análise interessante dentro da proposta de Bakhtin (1997) quando a
ela (obra arquitetônica) é agregado o poder de comunicação, de transmitir mensagens.

No estado do Paraná a arquitetura em madeira nasce da técnica construtiva denominada de “tábua e

mata-junta”. Reflexo de um período onde pioneiros recém chegados, principalmente da Europa e do sul do
país, passam a construir suas moradas e locais de prática religiosa em madeira devido à abundância deste
material nesta região do Brasil. Assim surge a raiz de nossa cultura arquitetônica a qual, segundo Moscovici
(2003) se cria por meio da comunicação e é regida por princípios organizacionais que refletem as relações
sociais que são implícitas neste fenômeno de comunicação. Este fato ao ser analisado em seus aspectos
visuais e simbólicos encontra nos estudos do filósofo De Botton (2007) um pensamento instigante onde o
autor sugere que “A noção que as construções “falam” nos ajuda a colocar no centro das nossas charadas
arquitetônicas a questão dos valores segundo os quais queremos viver. Em essência nos fala de certos
estados de espírito que busca incentivar e sustentar”. Este texto nos coloca a presença das obras
arquitetônicas não apenas como formadoras e organizadoras de espaços urbanos e rurais, mas como
elementos capazes de incentivar e moldar a ação dos indivíduos perante sua presença. Dentro desta
perspectiva se encontra o enunciado concreto que emana desta manifestação social que é a obra
arquitetônica. A capacidade de transmitir um conteúdo é inerente à arquitetura, porém de acordo com o
pensamento de De Botton (2007) “ A arquitetura pode muito bem trazer mensagens morais, só não tem o
poder de impô-las. Ela sugere, em vez de ditar leis. Ela nos convida, e não ordena, a seguir o seu exemplo
e não é capaz de impedir a violência contra si mesma.” Então a interpretação sígnica passa a ser elaborada
pelo indivíduo dentro de sua bagagem cultural e do meio social em que se encontra. Então, como
considerar as condições culturais para realizar uma arquitetura com sentido de transcendência e significado
cultural? Talvez a resposta a esta pergunta possa ser o resgate e a afirmação desta cultura por meio de
uma proposta de releitura de sua linguagem plástico-formal. A exemplo disto temos a proposta do arquiteto
paranaense Vilanova Artigas para a Casa Baeta (1956). Nela o autor declara a inspiração nas casas
paranaenses onde insere as tábuas da empena no sentido vertical aos moldes da concepção estrutural das
casas de madeira do Paraná. Assim a proposta de empena cega onde as próprias formas do concreto
proporcionam a textura da madeira são o que se denomina neste estudo de “fio condutor da história”. Esta
prática se tivesse sido incorporada e levada a cabo, ao longo das gerações de arquitetos paranaenses,
teríamos na contemporaneidade o que Pacheco (2004) denomina de “Escola Paranaense” transcendendo
assim seu significado cultural.

No momento a presença desta representação do passado apresenta-se como a materialização da

história no instante em que se observa sua imagem e se traduz em comportamentos e sentimentos
particulares. Nos atuais processos de globalização onde a banalização da imagem substitui conceitos e
passa a ser tomada como elemento referencial na prática projetual torna-se premente o alerta a essência do
que se denomina arquitetura. Esta enquanto manifestação cultural deve ser fixada em processos identitários
que direcionem e dêem argumentos às novas propostas arquitetônicas. A arquitetura enquanto disciplina é
interpretada neste estudo como agente capaz de “guardar” e retratar a essência do ser e a alma do lugar.
Ao se resgatar esta memória numa ação subjetiva a obra parece se perpetuar no tempo. Representa nesta
visão particular um espaço vivido longínquo que transborda valores sociais que atualmente se encontram
perdidos. Mesmo que hoje, em tempos onde sua função original de morada familiar não mais é exercida,
sua presença e aparente integridade física podem sugerir ou “comunicar” valores essenciais que, de acordo
com a visão capitalista, estão ultrapassados. Nas sociedades atuais onde a dimensão tempo é quase
extinta acaba por dificultar e muitas vezes eliminar a possibilidade de sedimentação da memória social e,
por conseqüência a propagação da cultura e identidade de um grupo social dentro de seu território. Este é o
risco atual que esta arquitetura, raiz identitária paranaense está correndo, pois ao não justificar sua
presença como elemento utilitário acaba por não gerar interesse em sua preservação para apreciação das
futuras gerações. Assim o “fio condutor da história” se romperá, rompendo também os laços identitários que
fornecem a âncora para a fixação dos indivíduos pós-modernos numa estrutura social e espacial
estabilizada.

Palavras-Chave: Arquitetura em Madeira, Identidade, Paraná.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997;
DE BOTTON, Alain. A Arquitetura da felicidade. Rio de Janeiro: Rocco, 2007;
MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis:Ed.
Vozes, 2003;
PACHECO,Paulo César Braga. O Risco Paraná e os Concursos Nacionais de Arquitetura, 1962-1981.
Curitiba: PUC-PR, 2004.
 FROM THE VISUAL TO THE SYMBOLIC:
The Architectural Culture of Wood in Parana State

Given the suggested theme "Architecture in Transition" the study presented here shows a decoding of a
specific sign - wooden architecture of Paraná - considering the image and representation. In the current state
of the contemporary world where the territories become global, the rescue and propagation of a particular
culture manifests itself as a major challenge before the preservation of local identities. This study
investigates the role of spatial forms - physical and symbolic - responsible for the identity construction of the
postmodern individual. In this light it is stated that among the many ways man's position in space, whether in
material or subjective bias, the architecture has to contribute to this action as a way to signify the space,
adding symbolic value in order to strength their ties that connect the individual to his place. In this sense an
interesting analysis can be found within the proposal by Bakhtin (1997) when to this architectural work is
added the power of communication to transmit messages.

In the state of Paraná, wooden architecture born of the construction technique called "board and joint."
Reflection of a time when pioneers have just arrived here, mainly from Europe and the south of Brazil.They
started to build their homes and places of religious practice because of the abundance of material in this
region of the country. Thus arises the root of our architectural culture which, according to Moscovici (2003) is
created through communication and is governed by organizational principles that reflect the social relations
that are implied in this phenomenon of communication. When this fact are analyzed in its visual and
symbolic aspects we found in the studies of the philosopher De Botton (2007) a provoking thought, where
the author suggests that "The notion that the buildings speak it help us to put in the heart of our architectural
conundrums the question about the values by which we live. In essence tells us of certain state of spirit that
seeks to encourage and sustain”. This text presents to us the architectural works not only as organizers of
urban and rural areas, but as elements that can stimulate and shape the actions of individuals before their
presence. Within this perspective there is the solid statement emanating from the manifestation of social
work which is the architecture work. The ability to transmit a content is inherent to the architecture, but
according to the thought of De Botton (2007) "Architecture may bring moral messages, but there is no power
to impose them. It suggests, instead of dictating laws. She invites us, not orders, to follow his example and is
not able to prevent violence against itself. "So the segnic interpretation is being developed by individuals
within their cultural and social environment in which it is. Then, how to consider the cultural conditions to
achieve an architecture with a sense of transcendence and cultural significance? Perhaps the answer to this
question may be the redemption and the affirmation of this culture through a proposal for a rereading of his
plastic-formal language. Like this we have the proposal of the architect Vilanova Artigas from Parana,Brazil
to the House Baeta (1956). In it the author declare the inspiration in Paraná houses where boards of the
gable are inserted in the vertical lines of the structural design of wooden houses. Thus the proposed blind
wall where the very forms of the concrete provide the texture of wood are what this study is called a "thread
of history." This practice if it had been built and carried out along the Parana generations of architects, we
would have what in contemporary Pacheco (2004) calls "School Paranaense" thereby exceeding their
cultural significance.

At this moment the presence of the representation of the past presents itself as the embodiment of
history at the moment you notice your image and translates into specific behaviors and feelings. In the
current globalization process where the image replaces the trivialization of concepts and is to be taken as a
reference in practice projectual is an urgent alert to the essence of what is called architecture. This cultural
event as shall be fixed in the identity processes that guide and give arguments to the new architectural
proposals. The architecture as a discipline is interpreted in this study as an agent able to "save" and portray
the essence of being and the soul of the place. When you redeem this memory in a subjective action the
work seems to perpetuate itself in time. This represents a particular view of lived space overflowing distant
social values that currently are lost. Even today, in a time when its original function of address family is no
longer exercised their presence and apparent limb may suggest or "communicate" the core values that,
according to a capitalist vision, are over. In contemporary societies where the time dimension is almost
extinct makes it difficult and often eliminate the possibility of sedimentation of social memory, and
consequently the spread of culture and identity of a social group within its territory. This is the current risk
this architecture, Parana root identity, is running for failing to justify its presence as a utility element , it does
not generate interest in their preservation for consideration of future generations. So the "common thread of
history" will break, also breaking the bonds of identity that provides the anchor for the establishment of
individuals in a post-modern social structure and spatial shape.

Keywords: Architecture in Wood, Identity, Paraná.