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Belo dia, indo pra uma aula, passei pela porta do DCE 3
E, pela primeira vez vi a Glorinha, estirada no sofá que tinha na entrada.
Linda ela, moreninha, toda certinha, quase uma índia. Acho que era de Goiás
Me chamou pra ficar do lado dela. Ficamos a tarde toda lá.
Conversamos sobre tudo, política principalmente.
Ela era bem culta. Estava dentro do movimento estudantil.
Um dia, em 1968, me chamou: vai ter uma passeata no Largo da Carioca, você
vai, não?
Posso ir no seu carro, ela acrescentou?
Essa época dirigia o carro de meu pai que, de tão grande, era apelidado de
Jabiraca 4
É sim, vou sim, é claro que sim, disse eu.
No dia marcado, chegamos na Escola de Filosofia, que ficava da Av. Chile.
Discursos inflamados, ainda mais com notícias de cerco da PM.
De lá seguimos pelo Largo da Carioca em direção à Avenida Rio Branco.
Sabíamos que a polícia cercava todas as passagens, mas fomos destemidos.
Cantando músicas de protesto e palavras de ordem, seguimos em frente.
E eu só pensava na Glorinha.
De repente, estava eu com uma picareta na mão, que tirei dum canteiro de obras
próximo.
E a levantei bem alto e gritei alto e com raiva: Abaixo a ditadura!
E a galera ficou ainda mais inflamada. Afinal a picareta era o um dos símbolos do
socialismo.
E catamos pedras pra nos defender da PM.
E ela gostou muito de minha atitude.
Aí eu notei que, naquele momento, eu era muito importante pra ela.
A multidão começou a parar pra ouvir Travassos e Vladimir Palmeira,
Que começaram a discursar na esquina das ruas Alfândega e Sete de Setembro.
Todos estávamos juntos, quando uma moça que se disse jornalista, chegou a
mim dizendo:
Te cuida cara e, apontando o dedo, disse: aquele sujeito lá é do DOPS e está te
seguindo desde o Largo da Carioca.
Glorinha então pediu pra eu me afastar rápido.
E o panaca aqui, fez o contrário: fui em direção do tal sujeito e o desafiei. Aí
muitos estudantes correram pra cima dele e começou outra grande confusão.
Nisso, a cavalaria da PM entrou pra valer em cima de nós.
Fiquei esse tempo todo sem saber o que aconteceu com ela.
Sentia não ter feito mais pra ajudá-la.
E só agora, em 2010, é que tive notícias dela, que está bem.
É Professora da Escola de Belas Artes da UFRJ.
Aonde vem fazendo uma bela carreira.