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Resumo
Este trabalho tem como objetivo propor práticas para administração de materiais, para resolver os
principais problemas encontrados neste setor e evitar conseqüências indesejáveis para a
manutenção.
As práticas propostas se aplicam a empresas dos mais diversos segmentos, entre eles, o
farmacêutico, alimentício, automotivo, químico, metalúrgico, eletro-eletrônico, siderúrgico, papel e
celulose, petróleo e petroquímico, máquinas e equipamentos, transportes, telecomunicações,
saneamento e mineração.
Introdução
A importância de uma boa administração de materiais de manutenção pode ser medida através da
quantidade de recursos envolvidos na área, que é demonstrada pela Abraman Associação Brasileira
de Manutenção (www.abraman.org.br).
A pesquisa “A Situação da Manutenção no Brasil” realizada em 2003 mostra que os gastos com
manutenção no país representam 4,27% do PIB, totalizando US$ 19,2 bilhões de dólares anuais.
Deste total 31,86% são gastos com materiais, conforme pode ser visto na figura 1, totalizando
aproximadamente US$ 6 bilhões de dólares anuais.
Além destes custos, podemos citar os seguintes gastos adicionais ou prejuízos decorrentes de
paradas de produção por falta de sobressalentes ou por uso de sobressalentes inadequados:
Para lidar com o envolvimento da área de manutenção com os setores de operação, segurança,
qualidade e meio ambiente, e em função do impacto que as ações na área de materiais podem
provocar, diversas empresas passaram a adotar um conjunto de ações de Engenharia de Materiais
que se configuram hoje nas principais práticas para administração de materiais.
03 TRABALHO TÉCNICO
Estas ações tem sido aplicadas em empresas que fazem uso intensivo de ativos físicos para produzir
seus produtos. Estas empresas estão distribuídas nos mais diversos segmentos como: farmacêutico,
alimentício, automotivo, químico, metalúrgico, eletro-eletrônico, siderúrgico, papel e celulose,
petróleo e petroquímico, máquinas e equipamentos, transportes, telecomunicações, saneamento e
mineração, envolvendo uma ou mais plantas dentro do mesmo grupo empresarial.
Todas têm em comum, equipes de manutenção enxutas, trabalham com grande número de
equipamentos e grande diversidade de sobressalentes, muitas delas mantém o almoxarifado sob
administração da manutenção, tem a necessidade de redução constante de custos, alto grau de
produtividade, e desejam manter-se à frente de seus concorrentes.
A seguir serão descritas as ações de engenharia de materiais associadas aos principais problemas e
conseqüências encontradas na área de materiais, agrupadas nas categorias de racionalização,
acondicionamento, localização, acurácia, padronização, indicadores e documentação.
Racionalização
No caso de quantidade inferior a desejada, pode ocorrer falta de material no momento que se precisa
dele, causando o prolongamento da parada do equipamento, em virtude da necessidade de compra
durante a parada, e provocando compras mais caras, em função da baixa qualidade das cotações e
aumento da possibilidade de erros de especificação.
No caso inverso, onde há excesso de material, é necessária área física maior para armazenagem,
provocando maior custo financeiro calculado sobre o valor estocado, maior custo operacional para
manutenção do almoxarifado, aumento da obsolescência e acúmulo de sucata.
Melhores práticas
· Definir que itens devem ser estocados e calcular as quantidades mínimas necessárias de cada item.
Envolver nos cálculos das quantidades mínimas, fatores como a probabilidade de falha dos
equipamentos, segurança operacional e ciclo de ressuprimento, utilizando ferramentas estatísticas
para calcular a quantidade ideal de peças no estoque, conforme mostrado na Figura 2.
04 TRABALHO TÉCNICO
Probability - Lognormal
99,00
Lognormal
TANQ0001
50,00
10,00
5,00
m=6,
6811, s=1,
0287
· Estabelecer procedimento para tratar sucatas e materiais obsoletos, observando itens não
movimentados (Figura 3) e itens associados a equipamentos não mais utilizados na empresa.
Acondicionamento
Muitas vezes ignorado, o acondicionamento das peças merece atenção especial da gerência do
almoxarifado. A criação de técnicas e rotinas de acondicionamento elimina o problema da perda da
qualidade da peça, motivada, por exemplo, pela oxidação, umidade, corrosão, travamento ou
aquecimento excessivo. Estes fatores acabam por provocar, em última instância, o aumento da
manutenção corretiva operacional logo após as substituições de peças danificadas.
Outro fator ligado à armazenagem está associado à perda do prazo de validade do item, pois a falta
de procedimento para manuseio de materiais perecíveis provoca perdas pela não utilização dos itens
mais antigos.
Melhores práticas
Localização
A má identificação dos itens nos leva a falta de agilidade na entrega, induzem a erros na entrega e na
apuração contábil, acarretando problemas durante as auditorias, e provocam aumento do custo
operacional do almoxarifado.
Melhores práticas
· Utilizar etiquetas de identificação com código de barras e coletores de dados para separação de
materiais (Figura 6), e definir procedimento para incorporação de novos itens.
Acurácia
A diferença entre a quantidade de peças de um item existente na prateleira do almoxarifado e
àquelas registradas no sistema de gerenciamento de estoque constitui um grave problema de
integridade e confiabilidade de dados.
Este fato ocorre devido à falha no registro de entrada de peças, como o retorno de peça ao
almoxarifado que foi comprada para projeto ou para aplicação direta, e falha no registro de saída de
peças, como digitação incorreta do código do material.
A falta de acurácia no almoxarifado provoca erro no setor de contabilidade, pois não se consegue
fechar dados de compras para aplicação direta, projetos e estoques, e provoca erro no setor de
custos, pois não obtém valores reais de custo dos itens.
Além disso, se a peça consta no sistema como disponível, mas não existe de fato, no momento que se
precisa dela será necessário comprar em regime de urgência, realizando processo de compra com
baixa qualidade e pagando mais caro.
Se a peça não consta no sistema como disponível, mas existe de fato, no momento que se precisa
dela será disparado novo processo de compra, totalmente desnecessário, visto que a peça está na
prateleira.
08 TRABALHO TÉCNICO
Padronização
A falta de padronização na descrição dos materiais interfere no trabalho de todos os profissionais que
lidam com materiais, provocando, principalmente, baixa eficiência no processo de compra, com
cotações lentas e caras.
Além disto, provoca a duplicidade de itens no cadastro, aumento do controle sobre dados repetidos e
dificuldade de especificação de material, por parte da manutenção, no momento de requisitá-los.
09 TRABALHO TÉCNICO
Melhores práticas
· Definir quais são os conteúdos possíveis para cada uma das características listadas. A Figura 11
mostra lista de conteúdos possíveis para uma característica obrigatória na descrição do material.
· Preparar especificações de compra (Figura 12) e integrar sistema de padronização com sistema de
gerenciamento, garantindo a padronização durante a inclusão de novos itens à lista de almoxarifado.
Indicadores de desempenho
Melhores práticas
Implantar indicadores de movimentação financeira como o relatório de análise ABC por custos
(Figura 13), que possibilita a identificação dos itens mais importantes. Implantar o relatório de custo
total do material estocado e relatório financeiro para integração com contabilidade;
11 TRABALHO TÉCNICO
· Implantar relatórios de controle de movimentação como o relatório de análise de consumo por item
(Figura 14), a fim de estabelecer políticas de compra mais vantajosas através de contratos de
fornecimento.
· Implantar relatório de itens abaixo do mínimo (Figura 15), para identificar itens com quantidades
estocadas abaixo da quantidade mínima especificada e para disparar o processo de ressuprimento.
12 TRABALHO TÉCNICO
Documentação
Melhores práticas
A seguir são demonstrados os benefícios obtidos com a implementação de uma das ações de
engenharia de materiais na unidade industrial de Cumbica da Warner Lambert, pertencente ao
Grupo Pfizer.
Esta unidade produz confeitos muito conhecidos por todos no Brasil como Halls, Trident, Dentine,
Baballoo, Clorets e Chiclete Adams. A unidade conta com linhas de fabricação de massa e máquinas
de embalagem e conta com 52 funcionários na manutenção.
Situação anterior
O almoxarifado de manutenção possui 10.000 itens cadastrados, sendo 7.500 itens com efetiva
movimentação física, distribuídos entre rolamentos, materiais hidráulicos, pneumáticos, elétricos,
correias, EPIs, lubrificantes, solventes, desmoldantes e peças específicas agrupadas por máquina.
A equipe do almoxarifado é composta por 1 supervisor e 3 almoxarifes, trabalhando 24 horas por dia,
de segunda à sábado. São geradas em torno de 30 requisições de materiais por turno, envolvendo
1.400 itens por mês.
O valor total estocado no almoxarifado era de R$ 4,5 milhões, e precisava ser reduzido, segundo
orientação da gerência de fábrica.
14 TRABALHO TÉCNICO
Proposição
Após análise dos principais processos administrativos do almoxarifado, verificou-se que a rotina de
inventário consumia número significativo de horas da equipe e que este processo poderia ser
melhorado, liberando número significativo de horas dos profissionais para a revisão dos itens
estocados.
Para a realização da rotina de inventário em cada grupo de 250 itens, era necessário o trabalho de 3
pessoas, durante 2 dias, em trabalho de 3 turnos, totalizando 48 horas de trabalho. Esta tarefa era
realizada simultaneamente ao atendimento aos clientes do almoxarifado e consistia na emissão de
lista de itens, contagem física nas prateleiras, conferência de saldos no sistema informatizado e
eventuais recontagens.
Decidiu-se então pela automação do processo de inventário a fim de transferir as horas gastas neste
processo para novos processos de reavaliação dos itens estocados, melhorando a acurácia dos
dados do sistema, mas continuando preparados para as constantes auditorias da área contábil.
O plano
Para automatizar o processo foi necessário comprar impressora especial para impressão de etiquetas
com códigos de barras (Figura 17), a fim de identificar ruas, prateleiras, gavetas e peças do
almoxarifado, e coletor de dados (Figura 18) para eliminar a transcrição de dados nas planilhas de
inventário.
Figura 17: Impressora para código de barras Figura 18: Coletor de dados
15 TRABALHO TÉCNICO
A implantação do projeto durou 6 meses, mas poderia ter sido menor se o programa de inventário
utilizado no coletor de dados já estivesse desenvolvido e integrado com o sistema de gerenciamento
de estoque. Foram investidos aproximadamente R$ 50 mil.
Resultados
O tempo total anual gasto na rotina de inventário foi reduzido em 1200 horas e diminuiu o tempo de
atendimento aos clientes em razão da diminuição do erro na identificação das peças nas prateleiras,
melhorando muito a qualidade do serviço.
Com tempo disponível os profissionais da Warner realizaram análise ABC sobre a movimentação dos
itens, redefiniram estoques mínimos e máximos, levantaram itens obsoletos e não movimentados, e
promoveram redução de aproximadamente R$ 1 milhão no valor estocado.
Conclusão
Reorganizar e gerenciar almoxarifados para garantir menores estoques com quantidade e qualidade
necessárias para o atendimento da manutenção é a principal função da Engenharia de Materiais,
resultando em compras mais eficientes, otimização dos recursos e maior lucratividade.