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À imagem
e semelhança

Novela de
Evana Ribeiro

Capítulo 63

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CENA 1 - TORITAMA/HOTEL/QUARTO - INT - NOITE

Continuação da cena final do capítulo anterior.

LEON
Eu só vejo uma explicação. (pausa) Ela tá querendo tirar onda com a gente e
daqui a pouco aparece.

MILENA
Não, isso não faz sentido. Não vindo da Ana Paula!

LEON
Ela também pode ter passado mal no meio do show e tá num hospital. Mas...
Se isso tivesse acontecido ela teria me chamado...

MILENA
Agora me ocorreu um negócio. (pausa) Será que ela e o Raul não tavam de
caso pensado?

LEON
Mas ele nem veio pra cá!

MILENA
Por isso mesmo que eu tô pensando nisso. Eles podem ter combinado tudo.

LEON
Ou não.

MILENA
Essa Ana Paula definitivamente não presta, viu?

LEON
Olha, não vamos ficar tirando conclusões precipitadas sem saber o que
realmente aconteceu. Vamos tentar de novo o celular dela e, se não der, a
gente continua procurando amanhã. Você tá cansada demais.
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MILENA
É. Tudo o que eu quero é cair na cama... Mas aí dona Ana Paula vai e me
apronta uma dessas!

LEON
Ah, ela já é bem grandinha, sabe se virar.

MILENA
Sei não... Sei não.

Em Milena,

CORTA PARA

CENA 2 - STOCK SHOT

Tomada aérea de Salvador ao som da música Kool thing – Sonic Youth.

CORTA PARA

CENA 3 - CASA DE FERNANDO/SALA - INT - NOITE

Pietra está deitada no sofá, vendo TV, muito aborrecida. A campainha toca; ela
levanta, muito a contragosto, e abre. Ao ver Leandro, tenta fechá-la, mas ele a
impede e entra.

LEANDRO
Não adianta se esconder que a gente vai ter que falar sério.

PIETRA
A gente não tem nada pra conversar.

LEANDRO
Tem sim! Ou você acha que não deve uma explicação pro que eu vi? Você se
agarra com uma ’amiga’ e acha que não deve explicação?
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PIETRA
A vida é minha, caramba! Não fica me cercando.

LEANDRO
Escuta aqui, você quer terminar tudo?

PIETRA
(assustada)
Terminar?

LEANDRO
É, terminar. Você é cheia dos segredinhos, das mentiras, não quer que eu
participe da sua vida, por que é que a gente tá junto?

PIETRA
Porque a gente se gosta...

LEANDRO
Eu não consigo gostar de ninguém assim. Pra falar a verdade acho que nem
conheço você!

PIETRA
(hesitante)
Eu... Já que é assim, então vou te contar uma coisa sobre mim que você não
sabe e na verdade eu não queria que ninguém soubesse.

LEANDRO
O que é?

PIETRA
Eu gosto de homens e de mulheres. Pronto, é isso. Isso é tudo o que eu
escondia de você, tá bom?
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LEANDRO
Isso é sério?

PIETRA
É.

LEANDRO
Mas...

PIETRA
Ah, e eu também tenho que admitir que fui muito fraca e te traí com umas
garotas... Umas duas ou três. (pausa) Juro que me arrependi depois, em todas
as vezes.

LEANDRO
Se arrependia e fazia tudo de novo depois, né?

PIETRA
Eu... Eu não sei, eu simplesmente não conseguia evitar!

LEANDRO
Acabei de confirmar que não podemos mesmo continuar juntos. Depois de
saber disso, acho que não vou mais confiar.

PIETRA
Mas eu gosto de você.

LEANDRO
Me traindo? Não, eu não acredito nesse tipo de afeto. É melhor a gente parar
por aqui, tá?

PIETRA
(triste)
Se você quer assim...
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LEANDRO
Depois que a poeira baixar, talvez a gente possa manter a amizade.

PIETRA
É. (pausa) Agora eu queria ficar um pouco sozinha.

LEANDRO
Tudo bem. (pausa) A gente se vê por aí.

Leandro se aproxima para beijá-la, mas pára no meio do caminho e sai. Pietra
anda pela sala, sem rumo, e depois sobe a escada.

CORTA PARA

CENA 4 - STOCK SHOT

Tomada aérea de Salvador à noite/começo do dia.

CORTA PARA

CENA 5 - CASA DE FERNANDO/QTO DE PIETRA E DARREN - INT - DIA

Pietra dorme, enquanto Darren, sentada na cama, rabisca uma folha na
agenda. Pietra acorda, mas não levanta.

PIETRA
Acordada a essa hora?

DARREN
É... Ja faz uma hora que eu tô aqui.

PIETRA
Escrevendo o quê?

DARREN
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Nada... Só tava marcando aqui na agenda o dia do fim do curso.

PIETRA
Já vai acabar? Até parece que você chegou aqui semana passada...

DARREN
Pois é, o tempo passou ligeiro. Já é tempo de me preparar pra volta...

PIETRA
(afunda a cabeça no travesseiro, triste)
É... Parece que a onda agora é todas as pessoas que eu amo se afastando de
mim.

DARREN
Não, que é isso... Tem muita gente por aqui que gosta de você!

PIETRA
Não tem não. (pausa) O Leandro acabou tudo comigo ontem.

DARREN
Por quê?

PIETRA
Por um monte de coisas. (pausa) E o pior é que não sei se isso é bom ou ruim.

DARREN
Como?

PIETRA
Não sei se eu gostava de verdade, não sei de mais nada.

Pietra começa a chorar em silêncio, molhando o travesseiro. Darren não nota e

continua a escrever na agenda.
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CORTA PARA

CENA 6 - STOCK SHOT

Tomada aérea de Londres ao som da música Manhã de Londres - Taiguara.

CORTA PARA

CENA 7 - FLAT DE VALENTINA/SALA - INT - DIA

Lucille lê jornais na sala, quando a campainha toca. Ela interrompe a leitura e
levanta para atender. Ao abrir a porta, dá de cara com Herman, que fica
visivelmente desconsertado.

HERMAN
Bom dia.

LUCILLE
Bom dia! Não esperava me encontrar aqui, não é?

HERMAN
Sinceramente, não.

LUCILLE
Tininha e eu fizemos as pazes. (pausa) Decidi esquecer tudo aquilo, não queria
que ela ficasse mais aborrecida comigo.

HERMAN
Sei... Ela já está pronta?

LUCILLE
Está terminando de se aprontar. Quer que eu chame?

VALENTINA
(entrando)
Não precisa, já estamos prontas!
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LUCILLE
Sem querer ser muito indiscreta... Onde vão?

VALENTINA
Vamos passar o dia na casa de Herman. Acho que não voltamos antes do
almoço.

Lucille faz cara de desapontamento, mas depois sorri.

LUCILLE
Bem, divirtam-se! E não se preocupem comigo, eu me viro bem sozinha.

VALENTINA
Tá certo! Angela, dá um beijo na vovó e vamos lá.

Angela vai até Lucille, que se abaixa para receber o beijo. Em seguida eles
saem. Sozinha, Lucille volta a sentar e pega o jornal.

LUCILLE
Tanta alegria... Pena que vai acabar logo, não é? (pausa) Mas a vida é assim
mesmo, uns ficam felizes e os outros se sacrificam. Dessa vez, Tininha, você
vai ter que ser sacrificada.

Nela,

CORTA PARA

CENA 8 - CASA DE LAYLA/ATELIER - INT - DIA

Layla está mexendo em seu material de trabalho, mas não consegue iniciar
nenhuma figura. Está visivelmente atordoada, triste. Johann entra sem bater.

JOHANN
(andando, sem prestar atenção nela)
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Layla, uma amiga sua acabou de telefonar e disse que... (olha para ela) Algum
problema?

LAYLA
Acabei de receber uma notícia nada agradável. Uma amiga, que eu conheci a
pouco tempo, faleceu de madrugada.

JOHANN
Conheceu naquela sua viagem?

LAYLA
Sim. Era amiga da minha mãe...

JOHANN
Sua mãe?

LAYLA
É, ela era amiga da minha mãe e eu fui lá para me encontrar com ela. Não
disse antes porque não tinha certeza do que ia encontrar lá.

JOHANN
Então era este o segredo!

LAYLA
Era. (pausa) Ela estava tão doente... Mas eu esperava vê-la uma outra vez,
saber de mais coisas...

JOHANN
Infelizmente, não é possível fazer mais nada.

LAYLA
Pois é.

JOHANN
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Foi só isso?

LAYLA
Sim.

JOHANN
Então vou deixá-la um pouco sozinha, você deve estar tentando trabalhar.

LAYLA
Não, pode ficar! Eu estava só passando o tempo. (pausa) Acho que
precisamos de um tempinho juntos, não é?

JOHANN
É verdade.

Johann senta ao lado de Layla e faz um carinho nela.

CORTA PARA

CENA 9 - STOCK SHOT

Tomada de pontos turísticos de Recife, ao som de Eterna Busca - Seu Jorge.
Deve indicar passagem de algumas horas.

CORTA PARA

CENA 10 - AP DE ANA PAULA/SALA - INT - TARDE

Leon e Milena estão ao lado de Jerri, que chora copiosamente.

LEON
Ô Jerri! Chorar desse jeito não vai resolver nada!

JERRI
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Você fala isso porque não é a sua mulher que fugiu! Ela vivia dizendo que me
odiava, mas depois ela me agarrava e me jogava e eu pensava até que ela
tinha esquecido, sabe?

MILENA
Olha, pode ser que ela volte!

JERRI
Não, eu sei que ela não volta! Ela me odeia! Queria tanto que ela me amasse
como eu amo ela!

LEON
Jerri, pensa direito. Você acha que ela merece você? Depois de ter te tratado
como te tratou? Se eu fosse você, teria um pouco mais de amor próprio e partia
pra outra.

JERRI
Eu não consigo!

LEON
Consegue sim! Levante daí, vá tomar um banho, bote uma roupa decente, vá
pra rua e quero ver se consegue ou não.

JERRI
(levanta, não muito animado)
Tá, vou tentar. Mas não garanto nada, viu?

LEON
Vai lá, vai.

Jerri sai.

LEON
Coitado... Espero que ele esqueça a Ana Paula de uma vez.
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MILENA
Também espero. Mesmo ela sendo minha amiga, acho que Jerri merece coisa
melhor.

Neles,

CORTA PARA

CENA 11 - RECIFE/RUAS - EXT - TARDE

Manoel e Jairo caminham pelas ruas da cidade, param várias pessoas para
pedir informação, mas não recebem nenhuma resposta positiva. Toda a ação
deve ser acompanhada da música Citizen ship - Patti Smith, durando todo o
tempo da música. No fim da seqüência, eles sentam-se em um banco de praça,
cansados.

MANOEL
Meu irmão... Nunca andei tanto!

JAIRO
Nem eu. E o pior é que não encontramos aquela criatura! Não sei mais onde
procurar, não tem nenhuma pista...

MANOEL
Agora só restam os hospitais... E o IML.

JAIRO
Você acha que Luciana pode ter morrido?

MANOEL
Quem sabe? Pode ter acontecido qualquer coisa.

JAIRO
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Prefiro que ela esteja num hospital aí. Já pensou se ela tá morta? Como é que
a gente conta pro Talles?

MANOEL
Muito difícil... Ou talvez ela nem esteja mais aqui na cidade.

JAIRO
Acho bem difícil. Mas acho que por ora a gente já pode voltar pro hotel, não?

MANOEL
Vamos lá. Amanhã a gente vai até o IML e aos hospitais.

Eles levantam do banco e seguem rumo a uma parada de ônibus.

CORTA PARA

CENA 12 - STOCK SHOT

Tomada aérea de São Paulo, ao som da música Glitter in their eyes. Deve
encerrar mostrando o aeroporto.

CORTA PARA

CENA 13 - SÃO PAULO/AEROPORTO/HALL DE DESEMBARQUE - INT -

TARDE
Raul e Ana Paula aparecem, entre um grupo não muito grande de passageiros.
Ana Paula olha para os lados, deslumbrada.

ANA PAULA
Caramba! Até parece sonho que eu andei de avião e tô aqui agora!

RAUL
(rindo)
Sabe que para marinheira de primeira viagem, você se saiu muitíssimo bem?
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ANA PAULA
Você não imagina o esforço que fiz pra não começar a gritar... Até formiguinha
no pé eu senti!

RAUL
Daqui a uns tempos você se acostuma. Afinal, quando for uma atriz famosa, vai
ter que viajar para muitos lugares. E não mais de ônibus.

ANA PAULA
Ah! Mal posso esperar!

Eles se afastam até sumirem do campo de visão da cena.

CORTA PARA

CENA 14 - CASA DE MEIRE/QUARTO - INT - TARDE

Meire está dormindo com a janela do quarto aberta, tranqüilamente. De repente
ela começa a se mexer de um lado para o outro, movendo os braços como se
tentasse alcançar algo.

MEIRE
(levanta bruscamente)
Ana Paula, você tá aí?

Meire olha para os lados, não encontrando ninguém.

MEIRE
Nossa, que sonho esquisito. (pausa) Acho que vou ligar pra elas mais tarde.

Meire respira fundo, levanta da cama e sai.

CORTA PARA

CENA 15 - CASA DE LUIGI - EXT - TARDE

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Giulia e Meire estão sentadas na frente da casa, conversando.

MEIRE
Fazia muito tempo que eu não sonhava com a Aninha, viu...

GIULIA
Como era esse sonho?

MEIRE
Não era nada demais... Eu tava passeando com elas três, e de repente eu tava
chamando a Aninha, como se ela fosse uma criança pequena, entende?

GIULIA
Mais ou menos...

MEIRE
Esses meus sonhos são tão estranhos! Não sei se é algo bom, ou se é ruim...

GIULIA
Tenta pensar que é algo bom... Ou que no fim não é nada demais, você só tá
sonhando porque não vê sua filha há muito tempo.

MEIRE
Hm... É, deve ser isso mesmo. Mas de todo jeito vou ligar pra casa do Jairo pra
saber como estão as coisas.

CORTA PARA

CENA 16 - SÃO PAULO/RUA - EXT - TARDE

Ana Paula e Raul caminham pela rua; ele aparenta estar cansado, já ela está
bem disposta.

RAUL
Não era melhor deixar esse passeio aí pra depois?
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ANA PAULA
Não, não! Estou precisando de umas coisinhas pra ontem. Afinal, o que é que
custa ir procurar uma lojinha...

RAUL
Mas a gente vai ter tanto tempo!

ANA PAULA
(pára e o abraça, carinhosa)
Ah, mas eu quero hoje... Só dessa vez, vai...

RAUL
Eu não resisto a esse rostinho mesmo... Vamos lá, vamos.

Raul beija Ana Paula e segue abraçado com ela.

CORTA PARA

CENA 17 - CASA DE LUIGI - EXT - TARDE

Continuação da cena 15.

GIULIA
Ah, antes de vir pra casa, eu almocei com o Daniel.

MEIRE
Ele ainda tá te cercando, é?

GIULIA
Ele tem sido bastante gentil comigo e tal...

MEIRE
Cuidado, menina...
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GIULIA
Eu sei, eu sei! Só que eu devo confessar que ele é... Encantador!

MEIRE
Tá bom... Mas você viu o que esse encanto todo fez com a Lila, não é?

GIULIA
Sim, tô vendo...

Giulia e Meire param de conversar e ficam apenas observando o fraco

movimento da rua. Nesse momento, Ana Paula e Raul passam abraçados do
outro lado da rua.

MEIRE
(impressionada)
Meu Deus. Giulia, aquela garota ali.

GIULIA
Qual?

MEIRE
A que está abraçada com o homem ali. Ela é idêntica a minha filha!

GIULIA
É?

MEIRE
Deve ser ela!

GIULIA
E se não for?

MEIRE
(levanta e grita)
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Ana Paula!

Do outro lado da rua, Ana Paula olha na direção de onde vem o chamado. Ela
e Meire se encaram.

FIM DO CAPÍTULO 63