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Fazer analogia com um iceberg nos ajuda a entender o que acontece quando os planos são uma
coisa e o resultado é outra. Os 10% visíveis constituem a missão, a visão e as metas. Os 90% que
ficam abaixo d’água representam medos, hábitos, crenças, sentimentos e valores das pessoas.
Se o vento sopra na superfície vai para o norte e as correntes do mar se dirigem para o sul, o
iceberg segue para o sul, apesar do esforço do vento.
Esse exemplo vale tanto para uma organização como para um indivíduo. A felicidade e suas
conseqüências em termos de sucesso prático são resultados do alinhamento da parte de cima
com a de baixo.
Um outro programa semelhante num grande banco brasileiro, um executivo me disse que estava
com dificuldade de equilibrar sua vida profissional e familiar com seu desenvolvimento como ser
humano. Para muitos, os malabarismos diários entre esses três fatores nos deixam exaustos e
sem preenchimento. No começo do dia, estamos num “carrosel” de pensamentos, palavras e
ações que nos despeja na cama 18 horas depois zonzos e esgotados, para acordar no dia
seguinte para mais uma rodada.
A resposta das duas situações acima está em entender dois aspectos fundamentais:
Se não identificamos quem somos, não sabemos o que fazemos. Se não sabemos o que
queremos fazer, não faremos nada de substancial.
Aquele que se identifica com os papéis que desempenha no trabalho, na rua ou em casa,
fatalmente acaba passando a vida num “carrosel” de cenas, situações e transações.
Cresce, amadurece, definha e morre sem sair dele. Pior, nem percebe que a vida poderia
ser diferente. Aquele que só se identifica com os sucessos externos – na vida ou no
trabalho – se condena a passar pela tristeza dos fracassos também.
O desafio de qualquer ser humano é “des-cobrir” ou “des-envolver” seu potencial latente. Por
causa do rush das atividades na parte visível do iceberg, não damos atenção devida à mina de
qualidades e poderes que carregamos dentro de nós. Quem se identifica com o seu lado mais
profundo encontra lastro para agüentar os mares altos. As ondas podem ser fortes, mas esse
indivíduo não afunda.
Minha decalcomania para este ano de tantas crises é “Apesar de....Apesar dos obstáculos e
problemas, eu tenho dentro de mim tudo o que preciso para vencê-los. Não tenho de equilibrar ou
conciliar nada com nada, porque eu sou a mesma pessoa de dentro para fora – apesar dos
diversos papéis e atividades profissionais, familiares e sociais. Essa autenticidade me poupa de
muitos pensamentos inúteis e negativos que acabam sendo os verdadeiros ladrões da minha
felicidade.
Uma vez me pediram para ajudar 300 pessoas da área de compras de uma grande fabricante de
automóveis no Brasil a lidar com seu estresse. Nessa indústria específica, há muitas pressões que
tendem a se identificar com a chegada de novos fabricantes no mercado. Eu disse que, embora
as pressões reais fossem piorar, a única saída seria aprender a diminuir as pressões irreais que
criamos internamente com o excesso de pensamentos inúteis e negativos.
Estes geram tal estado de confusão e peso que não temos a clareza suficiente para tomar
decisões corretas. “por que ele fez isso comigo?” “Como vou sair desta?” “Onde tudo vai
terminar?” A lista enorme de perguntas e possíveis respostas nos rouba a energia que deveríamos
estar usando para resolver os problemas.
A felicidade é o prêmio para aquele que têm a clareza de saber quem é e o que quer. Sem um
propósito pessoal, a vida roda como uma mangueira solta. O indivíduo tem grande vontade e
potencial para fazer algo, mas não sabe o quê, e a vida passa numa espécie de hemorragia
existencial. Saber o que quer e querer o que reconhece como correto e verdadeiro é a fórmula
para ser feliz. A felicidade tem exatamente o mesmo tamanho do potencial interno realizado na
vida prática.
*Ken O’Donnell, australiano radicado no Brasil, é consultor de empresas nas áreas de planejamento estratégico,
desenvolvimento organizacional e pessoal. Autor de dez livros publicados em diversas línguas. Coordenador para a
América do Sul da Organização Brahma Kumaris, uma ONG com status consultivo geral na ONU e no Unisef.