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Resumo
Este trabalho apresenta um modelo demográfico para representar a evolução do contingente de
escravos africanos e de seus descendentes numa província brasileira – neste caso, em Pernambuco – de
1560 a 1872. A principal conclusão proposta neste estágio da pesquisa é a confirmação de que as
conhecidas combinações de parâmetros de mortalidade e fecundidade, dentro dos amplos intervalos
divulgados pela historiografia, podem de fato gerar populações nos tamanhos e, principalmente, com
as composições etárias e de sexo apontadas pelos primeiros dados censitários disponíveis. Tais
combinações também reforçam as análises baseadas na hipótese de que o tráfico foi o grande motor do
crescimento da população de escravos e de seus descendentes. A modelagem demográfica é uma
vertente metodológica ainda pouco explorada no Brasil, complementar à reunião de dados novos a
partir de fontes primárias e à análise crítica de dados agregados. As principais vantagens da
modelagem demográfica são a possibilidade de avaliar, em etapas seqüenciais, a compatibilidade das
diversas informações que emergem das novas pesquisas com os dados até então conhecidos e a
possibilidade de, dentro de certo contexto de informações, gerar dados indisponíveis e indicadores
impossíveis de serem calculados unicamente a partir dos dados existentes. Essa capacidade de “ir
além” dos dados históricos decorre da lógica da equação demográfica. O modelo descrito apresenta,
em formato ainda preliminar, resultados que congregam duas das principais fontes atuais sobre a
demografia de Pernambuco até o século XIX: a série histórica de importação de africanos de Silva &
Eltis e os dados do Censo de 1872.
∗
Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29 de
setembro a 03 de outubro de 2008.
♣
Uniconsult, Rio de Janeiro. Economista e Mestre em História Social (UFRJ). heitormoura@yahoo.com.br
1
ESCRAVOS EM PERNAMBUCO, 1560-1872.
Ensaio de reconstituição demográfica ∗
Introdução
Este trabalho apresenta um modelo demográfico para representar a evolução do contingente de
escravos africanos e de seus descendentes numa capitania/província brasileira qualquer, de 1560 a
1872. No presente texto, empregamos dados referentes a Pernambuco. Trata-se de nova etapa na
exploração crítica das fontes de dados disponíveis sobre a população desta província, através de
modelagem demográfica, abordada em outros trabalhos (MOURA FILHO, 2005; 2006). Servimo-nos
de dois conjuntos de dados essenciais para a aferição do modelo: a série histórica de desembarques de
escravos africanos, pesquisada e organizada por Daniel Domingues da Silva e David Eltis (2008),
como o principal movimento demográfico a influir sobre esta população; e os dados do Censo de
1872, como referencial final, utilizado para ajustar os parâmetros de mortalidade e a fecundidade total
do modelo.
∗
Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29 de
setembro a 03 de outubro de 2008.
♣
Uniconsult, Rio de Janeiro.
2
Como exemplos: “Uncertainty as to the size of the Brazilian population at the beginning of the nineteenth century makes it
difficult to establish a benchmark for analysis of trends in the period prior to 1872.”(MERRICK e GRAHAM, 1979:26) e
“Os dados conhecidos para a demografia do passado colonial brasileiro são, em geral, fragmentários e descontínuos, além de
se apresentarem revestidos de pouca credibilidade. Deste modo, não se tem a visão integral das suas estruturas demográficas
e muito menos da dinâmica da sua população [nosso grifo].” (BALHANA, 1986:21)
2
Entretanto, mesmo dados falhos e incompletos podem ser úteis, se devidamente analisados e
ajustados, como propõe Giorgio Mortara:
Em trabalho pioneiro, Mortara (1941) reconheceu a existência de diversos tipos de erros nos
censos brasileiros e propôs sua retificação por métodos que sobrepõem aos valores pontuais
registrados pelos censos a combinação de tendências gerais e taxas demográficas de longo prazo3.
Uma das metodologias que discute para efetuar tais correções é a aplicação de coeficientes de tábuas
de sobrevivência aos dados, de modo a se obter distribuições etárias em tamanho semelhante às
populações analisadas, mas com distribuções etárias compatíveis com a progressão do fenômeno de
mortalidade observado no Brasil. Faremos uso deste mesmo método para corrigir a composição etária
da população de descendentes de africanos no censo de 1872, gerando a distribuição etária a ser
empregada como “alvo” para nossa população modelada.
A reunião de dados a partir de fontes primárias é, sem dúvida, etapa essencial para o aumento
de nossos conhecimentos sobre os temas demográficos. A estes novos dados, devemos trazer ainda a
análise crítica – e os conseqüentes ajustes – dos dados censitários falhos, conforme advogado por
Mortara. Cremos, entretanto, que existe mais uma vertente metodológica, complementar às duas
anteriores e pouco explorada no Brasil, que é a modelagem matemática sobre dados demográficos.
O modelo proposto
Variáveis
O modelo proposto, cujas equações estão descritas no anexo, calcula o tamanho da população
dividida em grupos por nacionalidade (africanos e brasileiros), por sexo e por 101 faixas etárias,
constituindo 404 subpopulações, todas acompanhadas ao longo do período de 1560 a 1872, isto é, por
313 anos, perfazendo, assim, mais de 126.000 tamanhos de população a calcular para cada
combinação de parâmetros em estudo. Para chegar a esses totais, o modelo calcula o número anual dos
seguintes 1080 eventos demográficos:
3
“Como o exame das distribuições por idade da população do Brasil constantes dos vários censos nos mostrou serem elas
afetadas por graves erros (...), logo se evidencia a conveniência de retificar essas distribuições para poder melhor utilizá-las,
direta e indiretamente, nas indagações sobre a demografia do Brasil. / Mas a multiplicidade e as interferências recíprocas dos
erros que afastam da verdade os dados censitários tornam extremamente difícil toda tentativa de correção que enfrente estes
erros separadamente. Além disto, em muitos casos faltam alicerces para essa tentativa. / Achamos, logo, que, para chegar a
uma retificação satisfatória das distribuições por idade, é preciso procurar a correção simultânea e integral de todos os vários
erros, aplicando um processo sistemático que, embora válido só para a retificação da distribuição por idade dos recenseados
naturais do Brasil, nos parece idôneo ao nosso fim.” (MORTARA, 1941:39-40)
3
a) óbitos ocorridos em cada uma das 404 populações;
c) nascimentos totais para as mães de cada uma das 70 faixas etárias férteis (de africanas e
brasileiras);
Parâmetros
São parâmetros, informados a priori e que podem ser alterados para analisar resultados
alternativos, as seguintes distribuições etárias:
a) composição etária dos escravos chegados por tráfico (uma distribuição para homens e
outra para mulheres);
e) composição etária dos emigrantes ou seja, uma “propensão a emigrar”, por faixa etária,
normalizada para o total de um emigrante/ano.
Também são parâmetros as seguintes séries anuais, para cada ano do período de estudo, de
1560 a 1872:
Ajuste do modelo
Por sua construção parametrizada, o modelo tem condições de – havendo informações
confiáveis – representar a maior parte das características sincrônicas associadas às populações em
geral e, especificamente, às populações de escravos e de seus descendentes, tais como curvas de
mortalidade diferenciadas e composição de recém-chegados. Além disso, incorpora, em sentido
diacrônico, a possibilidade de se ajustar os resultados aos dados cronológicos, procurando reproduzir
mais fielmente as flutuações nos fluxos de entrada por tráfico ou na natalidade em função de guerras,
revoltas e epidemias.
Para qualquer combinação de parâmetros, recalcula-se o modelo de modo que suas populações
finais (de homens e mulheres, brasileiros e africanos) correspondam ao totais fixados no censo de
1872 (ou a tamanhos ajustados desses totais). Além disso, buscaram-se distribuições de taxas
4
específicas de mortalidade que aproximem as composições etárias finais do modelo às verificadas em
1872.
O ajuste mais trabalhoso foi, sem dúvida, encontrar estas curvas de taxas específicas de
mortalidade que fizessem as populações finais terem a mesma composição etária apontada pelo censo.
Dadas essas distribuições, os ajustes de tamanho foram realizados alterando-se, subjetivamente, o
nível de mortalidade total ou ou nível de fecundidade total, “conduzindo” as ferramentas da planilha
eletrônica para uma solução plausível. Estudos mais detalhados deverão examinar os efeitos de
variações na série de “propensões a emigrar” e nos demais parâmetros do modelo, bem como estudar a
sensibilidade dos resultados a alterações nos parâmetros.
A população-alvo do modelo
Consideramos como a população a ser modelada aquela constituída pelos escravos africanos
trazidos a Pernambuco e seus descendentes. Para permitir que esta população seja modelada em
separado do conjunto da população de Pernambuco, consideramos como descendentes dos escravos
unicamente os filhos de mães africanas e da descendência feminina dessas mães, excluindo, portanto,
toda a descendência de mães de outras origens com pais africanos ou descendentes de africanos, grupo
que só pode ser modelado ao trabalharmos sobre o conjunto da população de Pernambuco.
O cruzamento dessas duas classificações não pode ser realizado de modo unívoco. Vemos,
assim, que, embora as categorias censitárias que englobam “escravos” e “pretos livres” podem ser
incluídas sem maiores dificuldades na população a ser modelada de “descendentes de escravos
africanos”. Ao excluirmos as categorias “brancos livres” e “caboclos” e incluirmos a dos “pardos
livres”, incorremos em pequenos erros em conseqüência de estas categorias apresentarem
subconjuntos, de maior ou menor relevância, que ficam incorretamente excluídos ou incorretamente
incluídos na população sendo modelada. Em termos práticos, construiremos a população-alvo de 1872
a partir das categorias censitárias: “pardos livres”, “pretos livres”, “pretos escravos” e “pardos
escravos”, incorretamente deixando de fora os seguintes subconjuntos:
a) brasileiros libertos e livres descendentes de africanos que tiverem sido classificados como
“caboclos” no censo;
b) brasileiros libertos e livres descendentes de africanos que tiverem sido classificados como
“brancos” no censo.
5
Figura 1 – Possíveis combinações da classificação censitária e da classificação do modelo,
quanto à inclusão na população modelada
CATEGORIA CENSITÁRIA
Brancos Caboclos Pardos Pretos Pretos Pardos
CATEGORIA DO MODELO livres livres livres livres escravos escravos
Corretamente
Escravos africanos incluídos
Corretamente
Libertos africanos incluídos
Corretamente Corretamente
Escravos brasileiros incluídos incluídos
EXCLUÍDOS INCLUÍDOS
A figura adiante apresenta as três distribuições etárias, todas com o mesmo tamanho de
população entre 0 e 10 anos: a recenseada, uma calculada segundo a tábua de sobrevivência de
Bulhões de Carvalho (“A”) e outra calculada segundo tábua de sobrevivência com maior mortalidade,
construída “sob medida” para aproximar a distribuição censitária (“B”). A esperança de vida ao nascer
da população recenseada é de 23,7 anos, da população “A” é 28,8 anos e da população “B” é 23,8
anos.
6
Figura 2 – Pernambuco (1872). Três distribuições etárias da população masculina
descendente de africanos
12.000
Censo 1872
10.000 População A
População B
Distribuição etária
8.000
6.000
4.000
2.000
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Idade
Nota: “Censo 1872” – Distribuição etária da população recenseada de “pardos livres”, “pretos
livres”, “pardos escravos” e “pretos escravos”. “População A” – Distribuição etária de população
fictícia, calculada a partir da tábua de sobrevivência de Bulhões de Carvalho sobre o Censo de 1920,
de modo que a população total com idades de 0 a 10 anos seja igual à população recenseada nas
mesmas faixas etárias. “População B” – Distribuição etária de população fictícia, calculada a partir
de tábua própria de sobrevivência, com a mesma igualdade das faixas de 0 a 10 anos, porém com
mortalidades específicas mais próximas às mortalidades aparentes nos dados censitários de 1872.
12.000
Períodos com dados Períodos com dados
estimados detalhados por viagem
Número de escravos desembarcados
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
0
1560 1590 1620 1650 1680 1710 1740 1770 1800 1830
7
Alguns resultados
Evolução da população4
Ao examinarmos a evolução secular da população masculina modelada, percebemos três
momentos claramente distintos de relação entre os grupos africano e brasileiro da população de
descendentes de africanos. (Ao incluirmos a população feminina, estas distinções se amplificam na
medida em que a proporção de mulheres no grupo de africanos é bem menor do que entre os
brasileiros.)
No “Período 1”, de 1560 a 1630, a subpopulação de brasileiros cresce (a uma média de 4,86%
ao ano) basicamente em função do próprio crescimento da população africana, ou seja, representa
essencialmente primeira e segunda gerações de brasileiros de uma população africana em crescimento
muito rápido (5,80% ao ano).
No “Período 2”, de 1630 a 1830, a população de brasileiro continua crescendo, mas a ritmo
mais lento (a uma média de 1,3% ao ano), enquanto a população de africanos oscila em função das
entradas pelo tráfico, permanecendo abaixo do patamar de 100.000 habitantes.
100.000
População
10.000
População de africanos
População de brasileiros
População total
1.000
1560 1610 1660 1710 1760 1810 1860
4
“População”, “população masculina” etc. são sempre referências às populações de africanos e seus
descendentes, conforme descrito inicialmente. Não tratamos aqui da população total de Pernambuco.
8
Distribuição entre africanos e brasileiros
Numa outra forma de se ver a mesma dinâmica entre o número de brasileiros e de africanos,
examinamos abaixo a evolução da proporção de africanos na população total, dado freqüentemente
disponível nos relatos coevos e, assim, útil para comparações entre a população modelada e fontes
específicas.
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1560 1610 1660 1710 1760 1810 1860
Vemos o crescimento desta proporção até 1630, correspondente ao aumento das importações
de africanos. Desta data até 1830, a proporção de africanos se reduz em decorrência do crescimento
total da população e dos picos de importações de escravos. Após 1830, a proporção se reduz até
desaparecer.
2.500 7.000
Composição etária
1830 1830
1.000 3.000
2.000
500
1.000
0 0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
9
Assim, a curva de distribuição etária dos africanos se eleva e ao final baixa, pelo aumento e
depois redução no número de habitantes, mas mantém-se próxima à distribuição etária fixa dos recém-
chegados. A dos brasileiros “engorda”, em conseqüência do envelhecimento, ainda que parcial, devido
ao crescimento natural. Além disso, as curvas se expandem para cima pelo aumento da população.
Essas distintas evoluções das composições etárias também podem ser compreendidas pelo
exame da evolução das idades médias das duas populações. Enquanto a idade média dos brasileiros se
mantém abaixo dos 25 anos, demonstrando sua composição de população em crescimento natural, mas
com alta mortalidade, a idade média dos africanos se mantém – como esperado – acima da idade
média dos recém-chegados, oscila conforme as flutuações do volume do tráfico e se eleva rapidamente
a partir da diminuição das importações.
É interessante notar que, no período anterior a 1630, quando o principal responsável pelo
crescimento da população brasileira era o próprio crescimento da população africana (e, portanto, do
número de potenciais mães de brasileiros), este rápido crescimento rejuvenecia a população de
brasileiros, pois aumentavam os nascimentos no Brasil.
40
35
30
25
20
15
10 Brasileiros
5 Africanos
0
1560 1610 1660 1710 1760 1810 1860
Nota: Ambos os grupos começam com idade média de 22 anos, pois essa foi a
idade média escolhida tanto para os grupos de desembarcados como para um
contingente de 1000 brasileiros, tidos como uma população inicial em 1560.
70%
Mulheres brasileiras
60% Homens africanos
Mulheres africanas
50%
40%
30%
20%
10%
0%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
10
As curvas de taxas específicas de mortalidade, por faixa etária, foram construídas por
aproximações sucessivas, a partir da curva obtida pela tábua de Bulhões de Carvalho, para que a
composição etária final, em 1872, fosse muito próxima da distribuição censitária ajustada (conforme
se ilustra na Figura 2). Como esta curva de taxas de mortalidade foi mantida idêntica por todo o
período de estudo5, o único fator que altera a taxa geral de mortalidade (figura seguinte) é a evolução
da composição etária das populações, que também podemos acompanhar por sua idade média.
80
60
40
20
0
1560 1610 1660 1710 1760 1810 1860
Vemos que a taxa geral de mortalidade dos africanos se eleva em estágios, com seu (pequeno)
envelhecimento, mantendo-se oscilante em torno de 60 por mil durante a maior parte do período, até o
final do tráfego, em 1850. A partir daí, aumenta bastante, em decorrência do envelhecimento
sistemático da população africana residual. Na população brasileira, o envelhecimento tem efeito
contrário, pois tal envelhecimento significa redução na incidência das faixas infantis (de mortalidade
mais alta) e aumento das faixas de adultos (de menor mortalidade). O quadro adiante resume estes
dados.
Africanos Brasileiros
Período
Idade Idade
TGM TGM
Média Média
1560-1630 48,9 26,9 44,5 16,7
1631-1830 64,6 29,9 35,3 21,1
1831-1850 73,5 31,7 35,3 22,5
1851-1872 108,7 39,8 35,0 23,3
5
O modelo aceita curvas de mortalidade específica diferenciadas por subperíodos ou até anualmente. O principal
empecilho à opção mais detalhada é a capacidade de computação disponível.
11
Natalidade e fecundidade
Dentro da combinação de parâmetros escolhida para este primeiro teste do modelo, a evolução
da natalidade e da fecundidade, por mães de cada nacionalidade, apresentam comportamentos
semelhantes, claramente influenciados pelo composição etária geral da população em cada período.
Ambas as taxas se estabilizam com valores maiores para as mães brasileiras do que para as mães
africanas, em conformidade com a proporção entre seus respectivos parâmetros de fecundidade total.
As flutuações das taxas referentes a mães africanas deve-se essencialmente às alterações trazidas à
composição da população de mulheres em idade fértil pelas importações oscilantes. Para as mães
brasileiras, as taxas partem de valores médios correspondentes à hipotética população inicial, baixando
radicalmente, na medida em que a população brasileira cresce, aumentando o número de crianças, e se
estabilizando quando a população brasileira atinge composição etária também estável.
40 160
35 140
30 120
25 100
20 80
15 60
10 40 Mães africanas
Mães africanas
5 20 Mães brasileiras
Mães brasileiras
0 0
1560 1610 1660 1710 1760 1810 1860 1560 1610 1660 1710 1760 1810 1860
Natalidade Fecundidade
(nascimentos totais por 1000 habitantes) (nascimentos por 1000 mulheres em idade fertil)
Forças de crescimento
Podendo dispor, pela própria construção do modelo, de séries completas tanto para as
populações como para os eventos demográficos, torna-se simples analisar os componentes da variação
total da população, distinguindo um efeito corrente de imigração e outro do crescimento natural.
50 Variação migratória
8 Variação migratória
40 6
30 4
20 2
10 0
0 -2
-10 -4
-20 -6
1560 1610 1660 1710 1760 1810 1860 1830 1840 1850 1860 1870
12
Reforçamos a necessidade de se definir e expor com muito cuidado esse tipo de indicador,
pois o “efeito migratório” não se resume à população entrada ano a ano, que certamente também influi
sobre as gerações seguintes, nascidas de mães imigrantes, como tivemos ocasião de comentar acima
com relação ao aumento inicial da natalidade de mães brasileiras, quase que exclusivamente
decorrente do aumento da imigração de africanos. Tratamos aqui do indicador em sua forma mais
simples: o total de imigrantes relativo à população média do período.
Até o início do século XVIII, vemos efeitos migratórios importantes, que se limitam nas
décadas seguintes à faixa até 20 por mil. O componente de variação natural apresenta-se negativo por
quase todo o período de estudo (a não ser logo nos primeiros anos) e só demonstra uma tendência
efetiva de impulso ao crescimento a partir da década de 1860, conforme transparece da figura na
direita, ampliação do gráfico completo para as últimas décadas do período.
Comentário final
Não examinamos de modo sistemático as diversas alternativas lógicas e históricas,
proporcionadas pela aplicação do modelo, que poderiam validar ou invalidar comentários coevos e
fontes demográficas conhecidas sobre mortalidade e natalidade de escravos e livres descendentes de
escravos. Trata-se de trabalho de grande fôlego, a ser realizado coletivamente e a longo prazo, para o
qual esperamos que este modelo ou seus sucedâneos venham contribuir, aumentando certezas onde as
fontes só indicam possibilidades. Esperamos ter demonstrado aqui, contudo, a amplitude de recursos
que um modelo matemático pode trazer para a análise demográfica, permitindo a exploração de
diversas combinações de parâmetros e das interrelações de características e dinâmicas das populações.
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2008
14
ANEXO – DESCRIÇÃO DO MODELO
1. CARACTERÍSTICAS GERAIS
SÍMBOLO DESCRIÇÃO
Varíavel de população X, referente ao final do período t, associado à coorte com
idade completa i
X(t,i)
ou variável de fluxo demográfico X, referente ao fluxo durante o período t,
associada à mesma coorte
XA(t,i) Idem, referente somente ao grupo de africanos
XB(t,i) Idem, referente somente ao grupo de nascidos no Brasil
Taxa específica (de mortalidade, de fecundidade) associada à coorte de idade
x(i) completa i;
ou percentual de uma população na faixa entre as idades completas i e i+1
Idem, referente somente ao grupo de africanos (A); idem referente ao grupo de
xA(i)
brasileiros (B)
P ou p Variável referente à população ou algum subconjunto seu.
D ou d Variável referente a óbitos
N Variável referente a nascimentos
I Variável referente a imigrações/importações de escravos
E ou e Variável referente a emigrações/exportações de escravos
F ou f Variável referente a mulheres em idade fértil ou a fecundidade
s Proporção de homens em alguma população ou fluxo demográfico
r Razão de masculinidade em alguma população ou fluxo demográfico
[P] Indica ser um parâmetro, fornecido a priori
[V] Indica ser uma variável, que será calculada pelo modelo
15
1.4. Evolução da descendência
O modelo considera como descendência da população modelada os filhos das mulheres africanas e de
suas filhas brasileiras, com pais pertencentes ou não à população modelada. Não se incluem no
modelo os descendentes de homens pertencentes ao modelo com mulheres fora do modelo (brancas ou
indígenas), o que iria requer modelar toda a população. Este projeto está sendo desenvolvido.
A população modelada é composta por toda essa descendência, sem distinção de condição social
(livre, escravo) ou características de cor/origem étnica. Pretendemos incorporar tais decomposições
em futuras versões do modelo. Assim, a estimativa do número de alforrias, que afeta unicamente a
decomposição por condição social, não será considerada aqui.
2. IMPORTAÇÃO DE ESCRAVOS
SÍMBOLO DESCRIÇÃO
I(t,i) [V] Número de recém-chegados, durante o ano t, com idade completa i,
I(t,•) [P] Número total de recém-chegados durante o ano t
sRC [V] Percentual de homens nos recém-chegados
rRC [P] Razão de masculinidade dos recém-chegados
pRC(i) [P] Distribuição etária percentual dos recém-chegados, igual para todos os t.
O número total de recém-chegados por ano, I(t,•), é parâmetro fundamental, dado pela série histórica
estimada por Eltis & Silva.
a) para homens:
sendo rRC medida em homens por cada mulher (e não por 100 mulheres).
b) para mulheres:
em ambos os casos,
[4] ∑i pRC(i) = 1.
As distribuições etárias pRC(i) são específicas para homens e mulheres. (Evitamos incluir mais esta
característica na notação para não torná-la desnecessariamente densa.)
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3. ÓBITOS
SÍMBOLO DESCRIÇÃO
D(t,i) [V] Óbitos de africanos e brasileiros, durante o ano t, com a idade i completa
DA(t,i) [V] Óbitos de africanos durante o ano t, com a idade i completa
DB(t,i) [V] Óbitos de brasileiros durante o ano t, com a idade i completa
dA(i) [P] Taxas específica de mortalidade de africanos entre as idades i e i+1
[P] Taxas específica de mortalidade de africanos recém-chegados, entre as idades i
dRC(i)
e i+1
dB(i) [P] Taxas específica de mortalidade de brasileiros entre as idades i e i+1
Os óbitos de africanos em cada ano são calculados sobre a população em risco ao final do ano anterior,
às taxas específicas de mortalidade referentes à coorte um ano mais velha, acrescidos dos óbitos dos
recém-chegados no mesmo ano.
Para a faixa etária inicial, até 1 ano completo (i=0), aplica-se a fórmula:
O número anual de óbitos de africanos é igual à soma dos totais por faixa etária:
Os óbitos de brasileiros em cada ano são calculados sobre a população em risco ao final do ano
anterior, às taxas específicas de mortalidade referentes à coorte um ano mais velha.
Para a faixa etária inicial, até 1 ano completo (i=0), aplica-se a fórmula:
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O número anual de óbitos de brasileiros é igual à soma dos totais por faixa etária:
4. NASCIMENTOS
SÍMBOLO DESCRIÇÃO
N(t,i) [V] Número de nascimentos, durante o ano t, de mães com idade completa i,
N(t,•) [V] Número total de nascimentos durante o ano t
NA(t,i) [V] Idem, nascimentos de mães africanas (A); idem, de mães brasileiras (B)
sN [V] Percentual de homens entre os recém-nascidos
rN [P] Razão de masculinidade dos nascimentos
[P] Taxas específica de fecundidade normalizada de africanas entre as idades i e
fA(i)
i+1
[P] Taxas específica de fecundidade normalizada de brasileiras entre as idades i e
fB(i)
i+1
f(t,•) [P] Taxa de fecundidade total, variável conforme o ano t
F(t,i) [V] Número de mulheres em idade fértil, com i anos completos, ao final do ano t
FA(t,i) [V] Idem, para mulheres africanas (A); idem, para brasileiras (B)
F(t,•) [V] Número total de mulheres em idade fértil, ao final do ano t
A razão de masculinidade ao nascer (e, portanto, o percentual de nascimentos de homens) é fixa para
todos os grupos (africanos-brasileiros) e todos os períodos em 1,05. As distribuições específicas de
fecundidade são fixas em sua forma, mas podem refletir variações anuais de fecundidade total, através
do parâmetro f(t,•).
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4.4. Número de nascimentos
O número de nascimentos, de mães em certa faixa etária, é calculado como o resultado da incidência
da fecundidade específica normalizada da faixa, sobre a fecundidade total desejada para aquele ano t,
multiplicado pelo número total de mulheres férteis, na faixa etária, ano a ano.
O número total de nascimentos do ano t é igual à soma dos nascimentos para mães de todas as faixas
etárias (equivalente a somente as faixas férteis, já que as taxa específicas fora desse intervalo são
nulas), durante aquele ano:
Idem somente para mães africanas NA(t,•) ou para mães brasileiras NB(t,•).
5. EMIGRANTES
SÍMBOLO DESCRIÇÃO
E(t,i) [V] Emigrantes, durante o ano t, com a idade i completa
E(t,•) [V] Total de emigrantes no ano t
EA(t,i) [V] Emigrantes africanos durante o ano t, com a idade i completa
EB(t,i) [V] Emigrantes brasileiros durante o ano t, com a idade i completa
[P] Propensão específica normalizada de emigração de africanos entre as idades i e
eA(i)
i+1
[P] Propensão específica normalizada de emigração de brasileiros entre as idades i e
eB(i)
i+1
e(t,•) [P] Percentual da população total ao final do ano t-1 a emigrar no ano t
Probabilidades específicas de emigração referentes a escravos recém-chegados são úteis para modelar
os movimentos de interiorização de escravos recém-chegados em períodos como o pico da economia
aurífera.
Sendo e(i) a propensão específica normalizada para emigração da população com idade completa i,
isto é,
[14] ∑i e(i) = 1 ,
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e e(t,•) a proporção de emigrantes em certo ano, relativamente à população ao final do ano anterior,
P(t-1,•), o número de emigrantes de cada faixa etária, em cada ano, é dado por:
6. POPULAÇÃO
SÍMBOLO DESCRIÇÃO
P(t,•) [V] População total no ano t
PA(t,•) [V] População total de africanos no ano t (A); idem para brasileiros (B)
P(t,i) [V] População total, ao final do ano t, com a idade i completa
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