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Foi com rapidez e contundência que Jose Luis Oreiro e Flávio Basílio (doravante
“O&B” ) responderam a meu comentário. Mas não somente ao meu comentário,
porque este de fato apresenta uma “oportunidade impar de fazer uma critica
sistemática da 'ortodoxia' brasileira...e sua total incapacidade de apresentar
criticas consistentes e honestas ao Keynesianismo no Brasil.”2. Somos também
acusados de tecer “um comentário intelectualmente desnonesto”3 e de
“desonestidade intelectual” (MO pg. 2), uma acusação repetida várias vezes ao
longo do texto.
1
Economista-chefe, CM Capital Markets. (tony.volpon@cmcapitalmarkets.com.br)
2
Ver “Miséria da Critica Ortodoxa” disponível no blog http://alternativabrasil.typepad.com/,
pagina 1. Doravante “MO”.
3
O&B parecem confundir coisas um tanto elementares e não citar frases por inteiro. No meu
trabalho eu escrevo “Apesar de correta a constatação, faltou aqui, na nossa opinião, uma
melhor avaliação do processo que levou, a partir do choque positivo com a maior alta na
demanda e nos preços das matérias primas nos últimos 40 anos (algo que começou de fato no
final de 2001), a uma dinâmica de alta nos investimentos.”(grifo nosso). Me parece obvio que
minha afirmação era sobre o trabalho que eu estava comentando (“aqui”), e não sobre o total do
extenso corpus acadêmico de Oreiro e seus muitos colaboradores. A parte grifada não é citada
em MO. Depois, na pagina 2, B&O escrevem “Se a sua (i.e. Volpon) critica fosse apenas algo
como 'neste artigo vocês exploraram pouco o diagnostico da crise que vocês mesmos
desenvolveram em outras oportunidades', seria uma critica útil e construtiva. Não foi o caso. É
uma pena”. Que mistério...
4
Outro mistério é porque O&B me acusam de ter “entendido a gravidade da crise” quando a
citação claramente diz que era o governo, e não eu, que esperava um crescimento de 4% ao ano
1
devemos acreditar que uma análise feita sobre o que deveria acontecer com o
Brasil se não tivesse ocorrido a crise demonstra incoerência por não “bater’ com
um comentário feito sobre a situação da economia brasileira na crise. Um
mistério!
Isto é, o governo nesse caso tem o dever de mentir. A ideia não é nova: Platão
iniciou a tradição da “mentira nobre” em A República, e ideias iguais foram
defendidas por pensadores tão dispares como Lenin e Leo Strauss. O que,
porém, qualquer estudante da política concordaria, é que tal atitude é
profundamente antidemocrática. Seria isso uma consequência não muito
importante (ou talvez muito analisada) do pensamento dessa escola, ou de fato
algo que demonstra um ponto essencial sobre o posicionamento político e
ideológico destes? Vamos, no final desse trabalho, voltar a essa questão.
em 2009. A verdade, e isso é publico via as analises que publiquei no final do ano e no meu
blog, era que eu esperava um crescimento de 1% na época para 2009, numero que
subsequentemente revisei para 0%. De fato, se é para ficar se autocitando, publiquei artigo no
site do PPS no dia 5 de setembro (porém antes da quebra do Lehman Brothers), argumentando
que a crise já tinha chegado ao Brasil (ver http://portal.pps.org.br/portal/showData/101986).
Aparentemente há também um “problema conceitual” (ver MO pg. 3) em eu usar conceitos
keynesianos na minha explicação sobre a performance da economia brasileira, como se eu
estivesse criticando a economia keynesiana (e porem me furtando do direito de usar seus
conceitos), e não o trabalho de alguns keynesianos, duas coisas bastante diferentes.
5
MO pg. 5, meu grifo.
2
Segundo, tentar esquecer a função política desse discurso por trás do insight de
Keynes sobre “animal spirits” é de uma enorme ingenuidade (ou não é? Vamos
discutir isso mais adiante...). Já comentei isso no meu blog6.
6
Ver, entre outros, http://alternativabrasil.typepad.com/alternativa_brasil/2009/02/faz-muit-
barulho-reze-para-o-obama-acertar.html
7
A principal tese do meu livro, “A Globalizacao e a Politica: de FHC a Lula”, Editora Revan,
2003.
3
de uma simples visão monetarista do mundo do que da visão bem mais
complexa de Keynes.
Eu defenderia que quem poderia ter ajudado mais, nesse caso, seriam os
colegas keynesianos de OBS no Ministério da Fazenda, que poderiam ter
abandonado a obsessão (eleitoreira?) pelo PAC e lançado mão de cortes
mais pesados de impostos e contribuições8
Ora, não acho errado afirmar que políticas anticíclicas devem ser de fato
temporárias! Por isso que são chamadas de anticíclicas. A crise trás, por vários
mecanismos, um colapso da demanda do setor privado. Nesse caso, há uma
função legitima por parte do Estado de suprir, de forma temporária rapida, essa
queda de demanda. O mais rápido que isso aconteça, melhor, porque evita a
queda do crescimento e a desarticulação que isso causa. O PAC, como já é
bastante conhecido, é um programa com largos problemas de implementação
efetiva. O&B talvez confundem o anuncio de medidas de investimento com a
execução da mesmas. Lógico que talvez o que se procura não é uma política
8
Meu trabalho, pagina 5.
4
anticíclica temporária, mas sim uma aumento permanente do nível de gestão
dos investimentos pelo Estado. Voltamos a discutir isso adiante.
Fora isso devemos notar que não há todo esse consenso que O&B defendem
sobre a relativa eficácia de aumentar gastos contra cortar impostos. Qualquer
pessoa que acompanha o debate nos EUA sabe disso – e isso em um pais com
uma propensão marginal a consumir muito menor que um pais mais pobre,
como o Brasil. De fato, os colegas de O&B no IPEA argumentam que a
vantagem de programas como a Bolsa Família é exatamente a propensão do
consumidor brasileiro a poupar quase nada. E, ao nosso ver, como
argumentamos na nossa critica, a rapidez de medidas como o corte de impostos
é extremamente importante para enfrentar os efeitos imediatos da crise, quando
isso de fato se demonstra necessário.
Mais uma vez, temos uma citação de outro trabalho de Oreiro e mais um outro
colega, dessa vez de cunho empírico. Porém, o ponto principal da minha critica
original prossegue. Se, no regime ”flexível” de Oreiro & Cia., o BC tem a
flexibilidade de fixar uma Selic menor no caso de choques de oferta (ver MO pg.
8), e pressupondo uma Selic igual a do regime atual nos outros estados, então
“a taxa Selic seria sempre menor em todos, ou quase todos, os estados da
natureza.”10 Não há nada de sofisticado nessa conclusão. Os perigos e
problemas de fazer isso apontados na minha critica prosseguem11.
9
Meu trabalho pagina 5
10
Meu trabalho pagina 5.
11
Já que o O&B gostam de se autocitar, sugiro que ele produz uma artigo ou paper onde ele
argumentou para a necessidade de aumentar o Selic, em algum ponto do passado. Isso ajudaria
muito em aumentar a credibilidade de sua proposta.
5
Conclusões Finais
Mas quando um renomado membro de uma escola reage com tanta violência a
um comentário que ele mesmo se constrange em qualificar como “bem
educado”, tecendo acusações pessoais em quase todas as páginas, temos a
tarefa de perguntar, por quê?
Não vou aqui, feito O&B, proclamar algum tipo de “talento” em penetrar o estado
de consciência do outro, pressuposto necessário para ficar acusando alguém de
“desonestidade intelectual”. Não sei o que realmente passa pela cabeça deles, e
se eles estão ou não tentado ser “honestos”.
Parte desse “world view” defende a inerente instabilidade dos mercados, estilo
Das Kapital volume 3. Para essa escola, somente a forte intervenção do Estado,
especialmente na questão dos investimentos, pode dar ao sistema alguma
estabilidade.
6
Temos, nessa visão, uma certa mutação da visão pos-keynesiana. Poucos hoje
admitem ser marxista-leninistas, mas acredito que estamos vendo a formação
de um keynesianismo-leninismo.