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INTRODUÇÃO
1. OS MUSEUS DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES
1.1.Enquadramento institucional
1.2.Documentação das colecções
1.2.1.Processo e opções metodológicas
1.2.2.Estado actual dos trabalhos
2. COLECÇÕES ETNOGRÁFICAS E DOCUMENTAÇÃO MUSEAL
2.1.Análise da problemática a nível internacional
2.1.1.Grupo de Trabalho para a Etnografia do Comité para a
Documentação do ICOM
2.1.2.Experiências regionais e nacionais
3. O PATRIMÓNIO ETNOGRÁFICO NOS MUSEUS DA REDE REGIONAL AÇORIANA
3.1.Metodologia utilizada na recolha da informação
3.2.Representatividade do património etnográfico face à totalidade das
colecções
3.2.1.Informatização dos inventários
3.3.Caracterização temática das colecções etnográficas
4. DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÓNIO ETNOGRÁFICO
4.1.Arquitectura da folha de registo EA da base de dados MUSA
4.2.Linguagens documentais
CONCLUSÃO
FONTES E BIBLIOGRAFIA
2
INTRODUÇÃO
3
que não o seu, necessitam ainda de maior detalhe ao nível da sua
documentação. Uma vez que se prendem com a promoção e a defesa da
identidade de um determinado território, a sua importância simbólica aumenta
de dia para dia e é fundamental que o público passe a ter acesso à informação
contextual relativa às mesmas, por outras palavras, aos dados sobre a função
dos objectos, o modo como eram produzidos e usados, as diferentes fases da
sua utilização, as suas conotações culturais, a maneira como foram recolhidos e
estudados, etc.
Tendo em conta que cinco dos oito museus tutelados pela administração
regional dos Açores possuem maioritariamente colecções de carácter
etnográfico, considerei pertinente, no âmbito do Seminário sobre Antropologia
Cultural da Pós-graduação em Património, Museologia e Desenvolvimento
(Universidade dos Açores), abordar as referidas colecções na perspectiva da
documentação museológica.
Começarei por traçar o enquadramento institucional dos oito museus,
apresentando em seguida o processo, as opções metodológicas, os objectivos e o
ponto actual dos trabalhos no respeitante à documentação do património
museológico regional.
Na segunda parte do trabalho, afigurando-se indispensável abordar a
problemática da documentação das colecções etnográficas a nível internacional,
no sentido de contextualizar as opções tomadas nos Açores, é analisada a acção
desenvolvida ao longo da última década pelo Grupo de Trabalho para a
Etnografia do Comité Internacional para a Documentação do ICOM e relatadas
duas experiências concretas, de nível regional e nacional – o projecto de
estruturação documental e de difusão das colecções etnográficas dos museus da
região francesa do Ródano-Alpes e o projecto de construção do Thesaurus dos
museus etnográficos holandeses.
A terceira parte é dedicada à caracterização quantitativa e qualitativa do
património etnográfico existente nos museus da rede regional dos Açores,
mediante o tratamento dos resultados do inquérito por questionário levado a
cabo para o efeito em Julho de 2001.
Se bem que o conceito operatório de “património etnográfico” aplicado
seja o que foi definido no contexto do Seminário sobre Património Etnológico,
realizado no Museu da Graciosa em 1997 - «Conjunto dos elementos e
complexos culturais produzidos, consumidos e utilizados no arquipélago dos
Açores, em qualquer época, e considerados relevantes na perspectiva
metodológica da Etnologia.» -, neste caso apenas foram tidas em conta as
tecnologias tradicionais e não as tecnologias industriais.
A análise detalhada do modo como são documentadas as colecções em
causa, nomeadamente da estrutura da folha de recolha de dados específica e
das linguagens documentais utilizadas, constitui a quarta e última parte do
presente trabalho.
Cumpre-me agradecer à Senhora Penelope Theologui-Gouti, Presidente
do Grupo de Trabalho de Etnografia do Comité para a Documentação do ICOM
e Secretária da Comissão Nacional Grega da referida organização internacional,
a informação que gentilmente me cedeu para o efeito.
4
1. OS MUSEUS DA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES
1.1.Enquadramento
1.1.Enquadramento institucional
2
Alíneas m) do Artigo 69.º, h) do n.º 1 do Artigo 71.º e h) do Artigo 73.º do Decreto Regulamentar
Regional n.º 11/98/A, de 5 de Maio.
3
Decreto Regulamentar Regional n.º 13/2001/A, de 7 de Novembro.
4
Artigo 3.º
5
Alínea a) do art. 4.º
6
Alínea b) do mesmo artigo.
5
Segundo o diploma, compete em especial aos museus regionais, sob a
coordenação da DRaC, colaborar no inventário dos bens de interesse
museológico, públicos ou privados, existentes na Região, participar na
elaboração de propostas de planos regionais de tratamento, preservação,
conservação, difusão e valorização do património museológico, contribuindo
para a fixação de critérios e normas que visem a sua conveniente salvaguarda,
apoiar, quando necessário, outras entidades públicas ou privadas nesse sentido
e promover a classificação de espécimes museológicos7.
As competências dos museus de ilha, para além das funções
museológicas genéricas, incidem, preferencialmente, na inventariação,
preservação e divulgação de fontes (documentos em diversos suportes) de
carácter monográfico, etnográfico e histórico que testemunhem a identidade da
ilha (território, população, cultura) onde se localizam. Estes museus funcionam
igualmente como pólos de dinamização de actividades culturais, representando
a DRaC na respectiva ilha, através da promoção e apoio à realização das
mesmas quando de reconhecido interesse, da cooperação com as autarquias e
outras entidades no desenvolvimento de planos de acção na área da cultura e
da colaboração com as escolas em acções de natureza pedagógica ou cientifico-
pedagógica (neste caso, tal como os museus regionais)8.
1.2.Documentação
1.2.Documentação das colecções
6
para se proceder à informatização era imprescindível a uniformização prévia
tanto de critérios como de métodos de recolha e registo de informação –
inventário –, a DRaC desenvolveu, a partir de 1996, um trabalho sistemático a
esse nível.
O 1º Módulo do Curso Sobre Noções Básicas de Museografia9,
destinado à formação e reciclagem profissional do então pessoal técnico
auxiliar10 e auxiliar técnico dos ditos oito museus, incidiu precisamente sobre a
Documentação Museológica. Este módulo de trinta horas foi, por nós,
preparado com base:
9
Realizado, a par dos restantes três módulos do bloco inicial, nas instalações do CECRA, em Angra do
Heroísmo, entre os dias 29 de Abril e 21 de Junho de 1996.
10
Correspondendo, actualmente, à carreira de técnico profissional de museografia.
11
Salienta-se, neste caso, o manual Sistema de Documentación para Museos do Departamento de Cultura
do Governo Autonómico da Catalunha, publicado em 1982 sob os auspícios do Conselho Internacional
dos Museus (ICOM).
12
Se bem que já não fosse muito actual, a lição “5 – Identificação e Registo” de Ernesto Veiga de
Oliveira, inserida nos seus Apontamentos sobre Museologia: Museus de Etnologia (1971), constituía um
dos textos mais interessantes.
13
Gonçalves, Cristina. 1996. “Relatório do trabalho realizado na área dos museus (Janeiro – Setembro de
1996)”, Angra do Heroísmo: 1-3.
7
património do museu. Esta orientação radicou no facto de que o Livro de
Registo inclui a informação básica de todo o sistema de documentação
(encontrando-se, por conseguinte, essa informação num único documento) e
assegura que só se deu um número a cada um dos objectos e que não há
espaços vazios na numeração.
Em termos gerais, o sistema de documentação aplicado nos referidos
museus passou a compreender as componentes e a desenrolar-se de acordo com
as fases esquematizadas no quadro da página seguinte:
8
P R O C E S S O D A D O C U M E N T A Ç Ã O M U S E O L Ó G IC A
1 . IN G R E S S O D O O B JE C T O N O M U S E U
A CERV O PER M A N EN TE A C E R V O T E M P O R Á R IO
T ra b a lh o s
C o m p ra R e c o lh a A rq u e o ló g ic o s
* O f e rta d ire c ta
* O fe rta in d ire c ta
P e s q u is a s is te m á tic a D e p ó s ito s
* D ir e ito d e a q u is iç ã o
A c h a d o s f o r tu ito s
p r e f e r e n c ia l d o E s ta d o
* H a sta s p ú b lic a s P e rm u ta s
* T ra n s a ç õ e s te s ta m e n tá ria s
E m p r é s tim o s
D oações
L egados
te s ta m e n tá r io s
P a g a m e n to d e
d ív id a s trib u tá ria s (d a ç ã o )
2. D O C U M E N TA Ç Ã O
* R e c ib o s * F ic h a d e c a m p a n h a a rq u e o ló g ic a
o u p a le o n to ló g ic a
* F a c tu ra s
* O f íc io s ( c ó p ia ) * F ic h a d e re c o lh a e tn o g rá f ic a
* D e c la ra ç õ e s * C a tá lo g o d e c o ta s d o s a c h a d o s
* O u tro s d o c u m e n to s * E x p e d ie n te s e a rq u iv o s
3. N U M ER A ÇÃ O D O
O B JE C T O -M A R C A Ç Ã O
4 . R E G IS T O
5 . IN V E N T Á R IO
6 . D IG IT A L IZ A Ç Ã O
7 . P E S Q U I S A E S P E C I A L I Z A D A ( D O S S I E R S ,...)
RESERVA S E X P O S IÇ Ã O
8 . D IV U L G A Ç Ã O
9
Estavam criadas as condições para se avançar em pleno no sentido da
informatização.
Conhecendo previamente as características de outros programas
disponíveis em Portugal, como o "Matriz" e o "In Arte", a DRaC iniciou, também
no mesmo período, o estudo de viabilidade da adopção do programa
informático DocBase.Museu, uma vez que este programa oferecia como
fundamentos:
14
International Guidelines for Museum Object Information : the CIDOC Information Categories (1995)
15
Alínea a) do Artigo 73.º do Decreto Regulamentar Regional n.º 11/98/A, de 5 de Maio, acima citado.
10
1ª fase (1998) - Instalação do programa e utilização em monoposto, em
cada um dos oito museus;
Carregamento de registos;
Integração dos mesmos no catálogo central do património
museológico da Região (DRaC);
11
qualidade da informação – circulares normativas, relatórios periódicos de
progresso e de detecção de problemas e grelhas de correcção de registos.
Com vista a assegurar uma gestão mais eficaz do projecto, em Abril de
2000 foi nomeado seu coordenador João Paulo Constância, Conservador do
Museu Carlos Machado, dada a colaboração sistemática verificada entre este e a
DRaC a partir de 1994, no contexto do estudo e da implantação de um
programa informático de documentação museológica que, para além de
normalizar critérios de descrição, contribuísse para a permuta (trabalho em
rede) e a divulgação de informação sobre a história e o património cultural dos
Açores junto do público, e ainda o facto dos trabalhos envolvidos requererem
não apenas formação em Museologia como também sólidos conhecimentos a
nível da Informática e da Multimédia aplicadas a projectos desta natureza,
conhecimentos esses demonstrados pelo referido Conservador.
A situação presente poderá ser caracterizada, de forma resumida, nos
seguintes pontos:
Carregamento de registos
Desde Novembro de 1998 que os museus da Região têm vindo a
proceder ao carregamento de registos e ao seu envio para a DRaC.
Em Junho de 2002 o cômputo geral indicava cerca de dezasseis mil
registos informatizados.
Em resultado da análise dos dados enviados, foram efectuadas, em
1999 e em 2001, revisões gerais dos registos por parte de cada Museu,
sob a supervisão e com o acompanhamento do coordenador.
16
Para visualização imediata, pois já se encontra associada ao registo através do Módulo Multimédia.
12
funcionalidades no programa, a melhoria das apresentações visuais e
a criação de novos formatos de visualização e de impressão de dados.
Considerando que, a nível da arquitectura das folhas de recolha de
dados e da definição dos respectivos campos, isto é, a nível técnico –
museológico -, a versão do programa DocBase.Museu em uso nos
museus da rede regional se deveu em grande parte ao trabalho
realizado por João Paulo Constância e pela autora e que, apesar disso,
não se salvaguardou devidamente na altura essa participação da
DRaC nos direitos autorais, está também a ser equacionada a
assinatura de um protocolo de cooperação entre a DRaC e a DID, de
modo a ficar assegurada a parceria das duas entidades na evolução
do programa.
13
Museu Carlos Machado 742
Museu de Angra do Heroísmo 2000
Museu da Graciosa 861
Museu de São Jorge 328
Museu do Pico 713
Museu dos Baleeiros 573
Museu do Vinho 140
Museu da Horta 164
Total – 4 808
14
2. COLECÇÕES ETNOGRÁFICAS E DOCUMENTAÇÃO MUSEAL
2.1.Análise
2.1.Análise da problemática a nível internacional
18
Participaram, nesta conferência, alguns técnicos superiores do Museu de Angra do Heroísmo e o então
director do Museu das Flores, João António Gomes Vieira.
19
Theologui-Gouti, 1996: 21-23
15
normalização foi lançada pelo Governo20, por uma agência central ou por uma
associação.
Atendendo a esta realidade, o GTE iniciou a sua acção em 1993 com o
projecto de elaboração de um corpus internacional de tratamento normalizado
da informação em Etnologia/Etnografia, cujo plano de trabalho e fins ulteriores
eram os seguintes:
Nesse sentido, foi realizado nos anos de 1994 e 1995 um inquérito sobre
os campos utilizados nos museus de EEA e departamentos de museu com este
tipo de colecções para a sua descrição. Participaram dezoito países,
representando 226 museus, departamentos de museu e ecomuseus
seleccionados. Desse número, somente 109 utilizava sistemas informatizados
para documentar as suas colecções, proporção considerada pouco significativa
na comunidade internacional dos etno-museus devido ao facto de terem sido
apenas as instituições mais importantes de cada país, isto é, aquelas que
utilizam a priori uma documentação manual e/ou informatizada, as que
participaram no inquérito.
Certos países, como por exemplo a Roménia, a Bulgária, o Reino Unido,
a Bélgica e a Espanha, criaram um sistema de documentação e de classificação
aplicável a todos os tipos de objectos. Outros países, como a Eslovénia,
colaboram com a Museum Documentation Association (MDA, Reino Unido)
para a tradução e a elaboração de modelos nas suas línguas, adaptados às suas
necessidades. Numerosos museus (123) criaram os seus próprios sistemas de
classificação e de documentação.
Na sequência da comparação do relatório de análise dos resultados do
inquérito com as normas documentais da MDA, o dicionário de normas da
Canadian Heritage Information Network (CHIN), as já citadas International
Guidelines for Museum Object Information do CIDOC e as normas existentes para
Arte e Arqueologia, foram identificados os seguintes grupos e campos de
informação21:
1. Identificação da instituição
1.1. Localização da instituição
1.2. Morada da instituição
20
Como é o caso da Região Autónoma dos Açores, através da DRaC.
21
Theologui-Gouti, 1996: 22. Apresentados pela primeira vez na Conferência trienal do ICOM, em
Stavenger, Noruega, em Julho de 1995.
16
2. Identificação do objecto
2.1. Número de inventário do objecto
2.2. Nome ou descritor de classificação
2.3. Nome do objecto
2.4. Nome local/outro do objecto
2.5. Número de elementos ou peças
2.6. Descrição
3. Descrição tipológica do objecto
3.1. Dimensões
3.2. Materiais
3.3. Técnica
3.4. Decoração
3.5. Inscrições/marcas
3.6. Estado de conservação
4. História do objecto
4.1. Fabricação
4.1.1.Local de fabricação
4.1.2.Fabricante: pessoa/corpo constituído
4.1.3.Data de fabricação
4.1.4.Objectivo de fabricação
4.2. Utilização
4.2.1.Local de utilização
4.2.2.Utilizador: pessoa/corpo constituído
4.2.3.Data (Período) de utilização
4.2.4.Uso
4.2.5.Modo de utilização
4.3. Aquisição
4.3.1.Local de aquisição
4.3.2.Modo de aquisição
4.3.3.Proprietário aquando da aquisição
4.3.4.Data de aquisição
4.3.5.Colector
4.4. Informação complementar
5. Identificação do responsável pelo registo
5.1. Nome do responsável pelo registo
5.2. Data do registo
6. Localização do objecto
7. Referências (e códigos de ligação à informação complementar – dossier da
peça)
17
Ao mesmo tempo, o GTE constatava que um dos maiores problemas da
documentação deste tipo de colecções residia nos sistemas adoptados para as
classificar, bem como na sua terminologia.
A diversidade dos objectos EEA e a pluralidade das culturas tornam, na
verdade, a sua classificação muito difícil.
Além disso, quando os museus utilizam sistemas de documentação
manuais, normalmente, e como acima foi referido, não aplicam sistemas de
classificação ou vocabulários controlados, registando a maior parte das
informações em texto livre.
Os sistemas de classificação dependem, ainda, do carácter e da
especialização de cada museu. Os objectos EEA podem ser ordenados segundo
o seu material, o seu modo de produção, a sua utilização, etc. Certos etno-
museus criaram sistemas de classificação mais complexos, cruzando diversos
critérios – por exemplo, a função e o material, o material, a morfologia e o modo
de produção do objecto, etc.
Poucos países abordaram esta questão de uma maneira global,
estabelecendo sistemas de classificação unificados e vocabulários controlados
(Thesauri, listas normalizadas de termos22), como é o caso da Dinamarca, da
França, da Rússia e, mais recentemente, da Holanda, cuja experiência será
referida no ponto 2.1.2. Nos países que não dispõem de um modelo central de
sistema de documentação, a cooperação entre os etno-museus parece menos
evidente. Com frequência, desenvolvem, em paralelo aos seus próprios
sistemas de classificação e às suas listas de palavras-chave ou descritores, que
cobrem apenas as suas necessidades, sistemas de documentação
informatizados, trabalhando de forma independente ou, no melhor dos casos,
colaborando com um pequeno número de outros etno-museus.
A tradução e a simples adopção dos sistemas de classificação e Thesauri
existentes constituirão um fraco contributo para mudar a situação, visto que o
domínio da Etnologia varia de país para país, devendo a terminologia ter em
conta as variantes locais.
Considerando, por um lado, que as diferentes maneiras de classificar os
objectos EEA dificultam a comunicação entre os etno-museus e que, por outro
lado, seria útil que os museus de cada país colaborassem e tomassem em
consideração os sistemas de classificação e Thesauri existentes no sentido de
chegarem a acordo sobre um vocabulário comum, a fim de facilitar a
documentação e a troca de informação, após a Conferência de Nairobi, o GTE
encetou o seu segundo projecto que consistiu na realização de um inquérito
sobre os sistemas de classificação utilizados pelos etno-museus, em diversos
países, no âmbito da documentação das suas colecções.
O inquérito foi publicado em 1999, igualmente em edição bilingue
(Inglês/Francês) do GTE, sob o título Guia dos Sistemas de Classificação
Utilizados pelos Etno-Museus.
22
As listas normalizadas de termos são, geralmente, listas alfabéticas de palavras-chave, com frequência
de nomes de pessoas ou de denominações geográficas (também chamadas ficheiros de autoridade). Nas
bases de dados dos museus, como é caso do programa DocBase.Museu, essas listas normalizadas de
termos tomam a forma de listas de validação, surgindo no écran aquando do preenchimento do(s)
campo(s) a que estão associadas ou aquando da pesquisa de dados. Vd. Voort, 1997: 30.
18
A análise dos resultados que antecede a apresentação dos sistemas de
classificação reflecte a seguinte realidade:
19
Registo de inventário em 18 colunas da Direcção dos Museus de
França.
Utilizado em 6 dos museus participantes.
20
Presentemente, trabalha-se na elaboração de um dicionário multilíngue
de nomes de campos utilizados na documentação dos objectos EEA, dando
seguimento ao primeiro projecto do GTE.
23
Lazier, 1987: 63-65.
24
Encarregada de missão da Agência Regional de Etnologia Ródano – Alpes, Grenoble.
21
uma melhor gestão, conhecimento e valorização dos fundos
existentes;
dar a cada museu e ao conjunto das instituições relacionadas, à escala
regional, os meios para racionalizar as opções e a política de
aquisição de novas colecções;
oferecer aos outros museus regionais, em particular aos pequenos
museus, um instrumento de gestão e de pesquisa documental
susceptível de corresponder às suas necessidades e aos seus recursos;
oferecer aos estabelecimentos mais diversos (bibliotecas, escolas,
universidades, delegações de turismo, etc.) um sistema de consulta à
distância das colecções etnográficas;
promover o desenvolvimento e o reconhecimento do património
etnológico junto dos investigadores e curiosos, bem como dos
responsáveis administrativos preocupados pelas acções conduzidas
em torno deste tipo de património;
enfim, e sobretudo, através da imagem relacionada, abrir, o mais
largamente possível ao público, as colecções e documentos
conservados nos museus da região, constituindo uma verdadeira
documentação regional cuja principal característica seria estar
descentralizada em diversos pontos do território.
22
holandeses mas envolvera-se gradualmente no processo de informatização dos
museus nacionais, introduzindo o uso de bancos de imagens, as normas da já
citada MDA e a gestão da informação como uma disciplina indispensável no
caminho a percorrer.
A experiência do museu de Roterdão revelou não só o potencial de um
sistema integrado, mas também alguns problemas importantes, relacionados
particularmente com a documentação das colecções etnográficas. Uma das
grandes vantagens do MARDOC consistia no facto de que o conhecimento e os
recursos seriam partilhados entre os participantes. Se para a parte técnica do
projecto (gestão do hardware, do software, dos dados e da rede) isso se tornou
eficaz, o mesmo não se pôde dizer a nível da infra-estrutura lógica do sistema.
Os planos do projecto incluíam a construção e implementação de um Thesaurus.
Cedo se tornou evidente que a componente etnográfica do Thesaurus
necessitava de um tratamento especial.
Por volta de 1990, diversas condições favoráveis permitiram aos museus
holandeses planear a construção de bases de dados de documentação das
colecções. Nesse contexto, os museus da OVM alcançaram um duplo acordo, no
sentido de:
Uma vez que o dito acordo, cujo cumprimento iria requerer um elevado
grau de cooperação, estabelecia que o sistema de informação seria acessível a
um grupo utilizador comum, era óbvia a necessidade de definição de uma
infra-estrutura também comum. Havia, por isso, que normalizar a infra-
estrutura técnica e lógica do sistema de informação.
Na parte técnica, em virtude dos museus participantes se encontrarem
integrados em diferentes estruturas organizacionais (de nível nacional,
municipal, universitário, privado, etc.) que decidiam na escolha do hardware e
do software, verificou-se uma situação de quebra-cabeças, em que os oito
museus trabalhavam com quatro bases de dados separadas. Perante este facto,
foi estabelecido, aquando da concepção do projecto, que tais bases de dados
individuais seriam futuramente ligadas, através de novas ferramentas do
software, num ambiente de utilização comum ou convertidas e consolidadas
num sistema partilhado.
Melhores resultados foram obtidos na definição de uma infra-estrutura
lógica partilhada. Primeiramente, havia sido elaborado um manual de dados
normalizados comum, que se baseava nas normas da MDA e fora talhado em
certa medida para as necessidades dos museus etnográficos. Com estas normas,
a arquitectura formal do sistema de informação foi depois definida
apropriadamente.
23
Contudo, a normalização dos conteúdos do sistema era um processo
mais complexo, pois não se podia converter simplesmente a documentação
existente em registos da base de dados. Havia que definir, a nível do sistema
informático, os agrupamentos de critérios e as relações entre os termos usados,
pois, se não se controlasse a terminologia, a pesquisa na base de dados pecaria
por defeito ou por excesso de informação.
Segundo Jos Taekema, a terminologia na documentação de colecções
etnográficas não é muito consistente devido a variadíssimas razões, entre as
quais:
24
A experiência do projecto MARDOC tornara evidente que um Thesaurus
poderia ser uma ferramenta valiosa, na medida em que o seu principal
objectivo consiste em fazer a ponte, em ser um intérprete entre a linguagem
natural, usada pelo público em geral ou na documentação tradicional, na
literatura e na pesquisa (percepção do utilizador), e a “linguagem do sistema”,
isto é, a linguagem normalizada, formal, usada nas bases de dados.
Considerando as questões acima referidas, os museus OVM decidiram
que deveria ser desenvolvido um Thesaurus para constituir a espinha dorsal da
infra-estrutura lógica. Uma subvenção governamental habilitou-os a contratar
um coordenador geral para o projecto, Jos Taekema, e a definir a extensão e os
limites do seu empreendimento com maior clareza.
Primeiramente, apenas seriam incluídos os termos que fossem relevantes
para as suas colecções. O Thesaurus deveria simplesmente providenciar meios
normalizados, ainda que flexíveis, de acesso às bases de dados dos museus
participantes. Em segundo lugar, o dito documento seria desenvolvido em
Holandês, porque essa é a língua da documentação nuclear existente sobre as
colecções, bem como da maior parte do seu público. Como terceiro princípio,
foi decidido que o Thesaurus adoptaria, tanto quanto possível, normas
internacionais, baseando-se na estrutura principal do Art & Architecture
Thesaurus (AAT) do Getty Art History Information Program, que rapidamente
ganhava terreno como a norma internacional de terminologia destinada às
organizações que produzem informação sobre Arte e Arquitectura. Para as
áreas específicas que não se encontravam cobertas pelo AAT, respeitar-se-ia
qualquer norma ou lista de autoridade disponível. Caso estas não existissem,
seria necessário estabelecer um corpo de referência próprio.
A subvenção governamental permitiu igualmente aos museus OVM
lançar um projecto-piloto, cujo objecto foram as colecções africanas. Os museus
recolheram na sua documentação a terminologia própria da proveniência
cultural dessas colecções. Foram os conservadores do grupo de trabalho para a
África que seleccionaram e validaram os termos. Os termos não autorizados
foram devolvidos aos respectivos museus proponentes, acompanhados por
sugestões (quais os termos que os deveriam substituir, etc.). A terminologia
aprovada foi comparada à do AAT – identificação dos termos equivalentes e
mapeamento dos novos termos na hierarquia dos Estilos e Períodos do referido
Thesaurus. Todas as discrepâncias, bem como todas as adições propostas, foram
submetidas ao conselho de redacção do AAT.
Da conclusão do projecto-piloto resultou um certo número de lições. Em
primeiro lugar, provou-se ser impossível sincronizar o processo de contributos
(inputs) no seio dos museus participantes. A desigualdade na dimensão das
colecções, no número de técnicos disponíveis e na qualidade da documentação
tornou evidente que seria impossível resolver todos os problemas e cobrir a
área total de uma só vez. Foi, então, decidido que o Thesaurus seria
desenvolvido por versões. Para cada versão, os museus OVM fariam um acordo
sobre o nível das suas participações: quais as regiões culturais com que
contribuiriam para a terminologia do Thesaurus; a sua participação nos grupos
de trabalho; e o seu nível de conformidade com o dito documento. Este método
25
permitiria aos museus programar o seu próprio ritmo de construção da base de
dados e de controlo da terminologia, enquanto que no processo global ficariam
disponíveis produtos claramente definidos (segmentos do Thesaurus) para a
comunidade de utilizadores.
Em segundo lugar, confinou-se o projecto apenas aos objectos
museológicos, não sendo contemplados, na primeira versão, outros tipos de
colecções (fotografia, filme, vídeo, som, documentos bibliográficos). O processo
de integração e expansão do sistema de informação seria regulado pela
modularidade. Com este método passo a passo, os museus OVM esperavam
manter um controlo firme sobre o sistema, dado que permitiria avaliar cada
passo e planear cuidadosamente os novos desenvolvimentos.
Foi ainda decidido limitar (durante esta fase) o alcance do Thesaurus aos
seguintes elementos de informação nuclear sobre as colecções: proveniência
geográfica; proveniência cultural (etnónimo, cultura, estilo, período); e tipologia
(nome do objecto, incluindo nomes indígenas e específicos). Seria tentador
cobrir muito mais informação sobre as colecções. Porém, o desenvolvimento
paralelo das bases de dados e do Thesaurus nos museus, no âmbito do projecto
de Thesaurus comum, já exigia demasiada capacidade, a nível das respectivas
equipas técnicas, tão só para trabalharem esses dados26.
Para cada uma das dez grandes regiões culturais representadas nas
colecções dos museus OVM, foi formado um grupo de trabalho especializado,
composto por conservadores, documentalistas e um coordenador de projecto, o
qual é responsável pela validação da terminologia para o Thesaurus.
Passando da definição do âmbito e dos métodos utilizados no projecto ao
seu cronograma de realização, a construção da primeira versão do Thesaurus foi
planeada para o período de 1995 a 1999.
As categorias de dados (proveniências geográfica e cultural e tipologia)
foram cobertas em fases separadas. Em 1995, após ter sido alvo de uma triagem,
a terminologia relativa à proveniência geográfica das colecções foi integrada
numa área específica do Thesaurus. A proveniência cultural foi tratada e
integrada na fase seguinte, em 1996, e os termos tipológicos em 1997 - 1998. A
verificação da consistência do Thesaurus e a avaliação e actualização das suas
partes componentes decorreram no segundo semestre de 1998 e ao longo do
ano seguinte.
Em reuniões bimensais, o coordenador geral do projecto, os responsáveis
pelo carregamento de dados e os documentalistas dos museus orientavam o
processo de construção das bases de dados e discutiam os problemas surgidos
nos seus esforços de normalização e na implementação do Thesaurus. A
consistência e a fiabilidade das normas acordadas eram primeiramente
avaliadas nessas reuniões.
26
No sentido de responder à procura de maiores conteúdos, foi desenvolvido um sistema simples para a
classificação dos objectos relativamente às suas funções originais, o qual representa uma verdadeira
amálgama de diversos sistemas de classificação que já estavam em uso em cada museu. Permite às
equipas dos museus indicar a(s) função(ões), conceitos associados ao objecto ou qualquer nível requerido
de detalhe através da respectiva codificação. A abordagem funcional deste sistema de classificação
complementa a abordagem tipológica do(s) nome(s) do objecto.
26
Para assegurar a continuidade do Thesaurus, os museus OVM criaram a
“Fundação para o Thesaurus Etnográfico Holandês”. Esta fundação assegura a
gestão do projecto e detém os direitos de autor sobre os seus produtos
(Thesaurus e respectiva aplicação informática de desenvolvimento). A existência
da mesma ilustra bem o compromisso dos museus perante o seu objectivo
comum: a construção de um sistema de informação que permita à comunidade
museológica trabalhar mais eficazmente com as suas colecções e facultar o
acesso à parte da herança cultural do mundo que se encontra sob a sua
custódia.
27
3. O PATRIMÓNIO ETNOGRÁFICO NOS MUSEUS DA REDE REGIONAL AÇORIANA
3.1.Metodologia
3.1.Metodologia utilizada na recolha da informação
28
museológicos, o qual encontra-se associado ao programa DocBase.Museu e é
utilizado em todos os museus da Região para a validação dos nomes e a
classificação dos objectos, no âmbito do inventário das suas colecções.
3.2.Representatividade
3.2.Representatividade do património etnográfico face à totalidade das
colecções
*
Número aproximado.
(1)
Registos introduzidos numa base de dados antiga (Filemaker).
(2)
Idem.
29
O Museu da Graciosa é o que detém maior número, logo seguido do
Museu dos Baleeiros e do Museu Carlos Machado, em terceiro lugar.
Embora o Museu Carlos Machado seja o mais antigo museu público
dos Açores, inaugurado em 1880 com a denominação de “Museu Açoreano”
e reflectindo as preocupações científicas da época no campo da História
Natural, a constituição da Secção de Etnografia Regional verificou-se, à
semelhança do acontecido com a Secção de Arte, já em 1912, no contexto do
movimento regionalista açoriano, que destacava a necessidade das recolhas
etnográficas e da fundação de museus regionais para fomentar a coesão e a
solidariedade do povo açoriano. A dita secção conheceu o seu período áureo
sob a orientação de Luís Bernardo Leite de Ataíde, cujo trabalho foi
continuado mais tarde por Alfredo Bensaúde (1930-1937)28, devendo a
Armando Côrtes-Rodrigues, responsável pela mesma entre 1949 e 1966, a sua
última reformulação expositiva, com o objectivo de melhor representar o
modus vivendi do micaelense. Em termos de evolução, será lícito afirmar que
o enriquecimento equilibrado e exponencial deste acervo não fez parte das
prioridades dos responsáveis pela gestão do museu ao longo dos últimos
trinta anos, pelo menos, ocorrendo antes de forma esporádica.
O Museu da Graciosa e o Museu dos Baleeiros, precedidos pelas casas
de etnografia criadas nas ilhas de Santa Maria, Graciosa, Pico, São Jorge,
Flores e Corvo pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 25/77/A, de 5 de
Setembro, precisamente com a finalidade de recolher, conservar e expor o
património etnográfico, «aquele que mais directamente se prende à vida do
dia-a-dia das populações, reflectindo o seu modo de viver e dando-nos a
conhecer do habitat, dos costumes e usos do povo açoriano» 29, foram das
primeiras deste tipo de instituições museológicas, mais tarde designadas
“museus de ilha”30, a ser inauguradas, em 1983 e 1988, respectivamente, isto
é, num período em que a recolha, fruto do trabalho de campo, por doação ou
por compra não se revestia ainda das dificuldades sentidas pelos museus de
mais recente organização, como é o caso do Museu de S. Jorge e do Museu de
Santa Maria, em sétimo e oitavo lugar.
O Museu das Flores, em quarto lugar, deve a totalidade do espólio
que nele se encontra depositado ao esforço de três décadas de recolha
sistemática realizada por João António Gomes Vieira.
A afirmação do acima referido movimento regionalista propiciou,
também, o aparecimento das colecções que iriam dar origem aos Museus da
Horta e de Angra do Heroísmo, nos anos de 1930-40. No entanto, tal como o
Museu Carlos Machado, estes museus localizados nos restantes dois maiores
centros urbanos do arquipélago adquiriram uma vocação multitemática, na
qual a componente etnográfica foi perdendo preponderância ao longo do
tempo. Daí, situarem-se em quinto e sexto lugar.
28
Defendia, em conjunto com Luís Bernardo Leite de Ataíde, «a criação de um grande “Museu de
Etnografia Açoriana”, em S. Miguel. Todavia, em 14 de Agosto de 1940, quando da comemoração dos
centenários, no novo edifício do “Museu Carlos Machado” apenas abriu ao público uma secção de
etnografia regional, com peças representativas da cultura material e espiritual do povo das duas ilhas
orientais.» Oliveira, 1994: 21.
29
4.º considerando.
30
Alínea b) do art. 4.º do Decreto Regulamentar Regional n.º 40/91/A, de 25 de Novembro.
30
O Museu do Pico/Vinho, em nono e último lugar, apresenta o número
mais reduzido de objectos etnográficos em virtude da totalidade da sua
colecção ser igualmente reduzida e de atravessar dificuldades de vária
ordem a nível do enriquecimento desta.
31
representam 54,4% da totalidade do património museológico detido pela
Região Autónoma dos Açores ou à sua guarda.
31
Se bem que este Museu deva rever os registos introduzidos na antiga base de dados e proceder ao seu
carregamento na base MUSA do programa DocBase.Museu.
32
3.3.Caracterização
3.3.Caracterização temática das colecções etnográficas
Estrutura de Classificação
1. Construção
1.1.Fragmentos de construção
2. Objectos domésticos
2.1.Acessórios de interiores
2.2.Equipamentos de serviços domésticos
2.3.Iluminação
2.4.Mobiliário
2.5.Utensílios de cozinha/mesa
3. Objectos pessoais
3.1.Acessórios de indumentária
3.2.Higiene do corpo
3.3.Indumentária
3.4.Objectos de adorno
4. Equipamento agrícola
4.1.Alfaias braçais
4.2.Alfaias mecânicas
4.3.Alfaias de tracção animal
4.4.Apetrechos de vitivinicultura
4.5.Farinação de cereais e leguminosas
5. Equipamento de pecuária
5.1.Tecnologias tradicionais de produção de lacticínios
6. Apetrecho de pesca
6.1.Pesca costeira
6.2.Captura de cetáceos
7. Apetrecho de caça
8. Equipamento de artistas/artesãos
32
Vol. I.
33
A qual teve de ser incluída por figurar na resposta de um dos museus.
33
8.1.Amolador
8.2.Caiador
8.3.Cantaria
8.4.Carpintaria
8.5.Construção naval
8.6.Desenho
8.7.Entalhador
8.8.Escultura
8.9.Ferreiro
8.10.Gravura em marfim e osso
8.11.Latoaria
8.12.Marcenaria
8.13.Ourivesaria/relojoaria
8.14.Papel recortado
8.15.Pedreiro
8.16.Pintor
8.17.Produção de cerâmica
8.18.Sapateiro
8.19.Serralheiro
8.20.Tanoaria
8.21.Tecnologias tradicionais de transformação do cachalote
12. Transportes
12.1.Acessório de transporte marítimo
12.2.Acessório de transporte terrestre
12.3.Transporte marítimo
12.4.Transporte terrestre
34
14.2.Trabalhos de escama de peixe
14.3.Trabalhos de miolo de figueira
17. Diversos
9 Objectos pessoais
Equipamento agrícola
8
Equipamento de pecuária
7 Apetrecho de pesca
6 Apetrecho de caça
Equipamento de artistas/artesãos
5 Equipamento de fiação e tecelagem
4 Equipamento de actividades comerciais
Instrumentos musicais
3
Transportes
2 Objectos cerimoniais
1 Artes visuais
Objectos de lazer / desporto
0
Documentos fotográficos
Diversos
35
Diversidade temática nas colecções de etnografia
dos Museus da Região
Museu da Horta
Museu de S. Jorge
Museu da Graciosa
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Equip
Equip
36
«... o objecto etnográfico não existe em si. É a sociedade que lhe concede
ou lhe recusa esse estatuto, escolhendo, assim, fazê-lo desaparecer ou
conservá-lo como testemunho da sua história e de modos de vida que ela
deseja ver transmitidos à posteridade. Uma certa história e certos modos de
vida. Essa sociedade que concede às relíquias, às recordações, aos vestígios,
aos resíduos, tanto irrisórios como essenciais, um estatuto de objectos de
museu, sagrados e inalienáveis, está ela própria em mutação permanente e
em permanência à procura da sua identidade - isso não explicará a evolução
constante do domínio etnográfico que ela constitui, ou melhor, que ela
inventa?»34
34
Martinet, 1987: 32-33. A tradução é minha.
35
Aula de 26.3.2001 do seminário de Antropologia Cultural dos Açores, Pós-Graduação em Património,
Museologia e Desenvolvimento.
37
4. DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÓNIO ETNOGRÁFICO
4.1.Arquitectura
4.1.Arquitectura da folha de registo EA da base de dados MUSA
A definição dos campos da folha EA, trabalho levado a cabo pela autora
nos anos de 1997 e 1998, baseou-se em critérios de normalização,
nomeadamente nas já citadas directrizes difundidas pelo CIDOC em 1995 e nos
grupos e campos de informação do Corpus Internacional de Tratamento
Normalizado de Dados em Etnologia/Etnografia do GTE36, e atendeu à
necessidade de harmonização da respectiva estrutura com as estruturas das
outras duas folhas de recolha de dados de inventário (MUSA e HN), o que
permite a leitura dos campos gerais de um mesmo registo em qualquer uma
delas.
Assim, a estrutura da folha EA compreende as seguintes secções:
38
Descrição técnica e histórica (função), Informação de catálogo, Autor,
Produção, Colecção, Objectos relacionados, Imagem, Bibliografia,
Dossier de peça);
HISTÓRIA;
INDEXAÇÃO/CLASSIFICAÇÃO (Descritores, Classificações decimal universal
e específica, dados relativos ao inventariador e ao revisor do registo).
SECÇÃO: HISTÓRIA
Nome local
Definição
Designação local do objecto, seguida da menção do local e/ou da ilha.
Exemplo
PRODUÇÃO Local
Definição
Nome do local geográfico onde foi produzido o objecto.
Exemplo
39
PRODUÇÃO Freguesia
Definição
Nome da freguesia na qual se situa o local geográfico onde foi produzido o
objecto.
Exemplos
Cedros
Ribeira Quente
PRODUÇÃO Concelho
Definição
Nome do concelho no qual se situa o local geográfico onde foi produzido o
objecto.
Exemplos
Horta
Vila do Porto
PRODUÇÃO Ilha
Definição
Nome da ilha na qual se situa o local geográfico onde foi produzido o
objecto.
Exemplos
Santa Maria
Corvo
PRODUÇÃO Região
Definição
Nome da região na qual se situa o local geográfico onde foi produzido o
objecto.
40
Exemplos
Açores
Minho
PRODUÇÃO País
Definição
Nome do país no qual se situa o local geográfico onde foi produzido o
objecto.
Exemplos
Portugal
Angola
Autor
Nomes alternativos
• Artista
• Desenhador
• Fabricante
Definição
A pessoa, grupo, ou organização associada à produção do objecto.
Exemplos
Domingos Rebelo
Cerâmica Vieira
Escola de Coimbra
Definição
Referência ao papel desempenhado pelo autor na feitura do objecto. Incluir
elementos comprovativos da autoria.
Exemplos
Pintor (assinatura)
Fabricante (marca)
41
Pintores (Atribuído por Reinaldo dos Santos in História da Arte em
Portugal)
Campo repetível
PRODUÇÃO Fabrico
Definição
Circunstâncias de fabrico.
Exemplo
Definição
Data ou período associado à produção do objecto e menção aos elementos
justificativos.
Exemplos
1883 [datado]
Notas
O registo de datas exige o maior rigor possível e a utilização sistemática do mesmo
formato - os quatro dígitos do ano. Por exemplo, 1994 e não 94.
Pode ser necessário registar períodos de tempo ou qualificar a data registada de alguma
forma. Se assim for, utilizar sempre o mesmo critério na indicação de qualquer
qualificação.
PRODUÇÃO Finalidade
Definição
Fim para o qual o objecto foi produzido.
Exemplo
Serrar lenha
Campo repetível
42
UTILIZAÇÃO Local
Definição
Nome(s) do(s) local(is) onde o objecto foi utilizado no decurso da sua
história.
Exemplo
UTILIZAÇÃO Freguesia
Definição
Nome(s) da(s) freguesia(s) na(s) qual(is) se situa(m) o(s) local(is) onde o
objecto foi utilizado no decurso da sua história.
Exemplos
Cinco Ribeiras
Bretanha, Candelária
UTILIZAÇÃO Concelho
Definição
Nome(s) do(s) concelho(s) no(s) qual(is) se situa(m) o(s) local(is) onde o
objecto foi utilizado no decurso da sua história.
Exemplos
Nordeste
S. Roque, Madalena
43
UTILIZAÇÃO Ilha
Definição
Nome(s) da(s) ilha(s) na(s) qual(is) se situa(m) o(s) local(is) onde o objecto
foi utilizado no decurso da sua história.
Exemplos
Terceira
Flores, S. Miguel
UTILIZAÇÃO Região
Definição
Nome da região na qual se situa(m) o(s) local(is) onde o objecto foi utilizado
no decurso da sua história.
Exemplos
Açores
Ribatejo
UTILIZAÇÃO País
Definição
Nome do país no qual se situa(m) o(s) local(is) onde o objecto foi utilizado
no decurso da sua história.
Exemplos
Portugal
Angola
UTILIZAÇÃO Utilizador
Definição
Pessoa, grupo humano ou instituição que tenha utilizado o objecto no
decurso da sua história.
44
Exemplo
João Ávila (ferreiro)
Campo repetível
UTILIZAÇÃO Período
Definição
Período de tempo no decurso do qual o objecto foi utilizado.
Exemplo
1920-1985
UTILIZAÇÃO Uso
Definição
Finalidade da utilização do objecto nas diferentes fases da sua história.
Exemplos
Presente de casamento
Traje de trabalho
UTILIZAÇÃO Modo
Definição
Modo de utilização do objecto nas diferentes fases da sua história.
Exemplo
[Mantilha] Colocada por cima do vestuário, sobre os ombros.
Campo repetível
4.2.Linguagens
4.2.Linguagens documentais
45
recipiente (de determinadas dimensões e morfologia) para conservação de
carne ou peixe salgado.
Toda a documentação dos objectos museológicos, efectuada a partir do
seu registo no Livro de Tombo, baseia-se na forma como os denominamos e no
sistema segundo o qual os classificamos. Logo, o controlo da terminologia,
tendo como fim último o estabelecimento de uma codificação que assegure a
recuperação total e consistente dos dados, desempenha um papel da maior
importância neste contexto. Só assim se poderá ultrapassar quer o problema da
indefinição na atribuição dos nomes dos objectos (quadro e pintura, por
exemplo), quer o problema das diferentes denominações para um único tipo de
objecto, consoante a zona ou a região, quer ainda os problemas colocados na
indexação e classificação, e, em contrapartida, aumentar enormemente a
identificação e o conhecimento acerca dos mesmos.
No tempo em que os ficheiros eram produzidos manualmente, poderia
ser tolerada uma certa dose de subjectividade na apresentação da informação e
confiar-se na maravilhosa combinação do olho e do cérebro humanos para
esquadrinhar através de ortografias, de sinónimos, de contextos, e cruzar
informação dispersa sobre um mesmo conceito. O computador é menos flexível
e indulgente. O armazenamento da informação automatizada e os sistemas de
recuperação baseiam-se, como tem sido enunciado ao longo deste trabalho, na
normalização de critérios, de procedimentos e de estruturas de dados. Caso não
se aplique uma coerência rigorosa no carregamento de dados, a sua
recuperação não será bem sucedida.
Nesse sentido, o módulo de gestão de linguagens documentais do
programa DocBase.Museu constitui uma ferramenta informática que possibilita
a construção e o uso de Thesauri e de listas normalizadas de termos –
associados, no módulo de catalogação, a diversos campos das folhas de recolha
para a validação dos dados em linha, aquando do preenchimento de um
registo; e disponíveis no módulo de pesquisa para a recuperação da
informação37. Actualmente, encontram-se incorporadas no primeiro módulo
referido as seguintes linguagens documentais:
37
Ao seleccionar um descritor (referente ao nome do objecto, classificação específica, etc.), surgem os
registos associados.
46
THISNT – Lista das instituições museológicas;
THNUC – Lista dos núcleos museológicos;
THCDU – Classificação Decimal Universal;
e THPEA - Corpus do Património Etnográfico dos Açores.
classificação funcional;
classificação morfológica;
classificação espacial;
classificação temporal.
38
Organizado pela DRaC, no âmbito do Curso Sobre Noções Básicas de Museografia, e destinado aos
técnicos superiores e actuais técnicos profissionais de museografia dos museus da Região.
47
Este corpus foi posteriormente adaptado à estrutura de Thesaurus e
inserido no módulo de gestão de linguagens documentais do programa de
inventário com a designação de THPEA. Porém, uma vez que se encontra
incompleto e cruza conceitos operatórios (os diversos complexos culturais, por
exemplo) com classes funcionais e nomes de objectos, torna-se difícil a sua
utilização, a não ser no campo Descritores39.
Em contrapartida, dado tratar-se de um vocabulário controlado que
apresenta um sistema internamente consistente para a classificação e
denominação de artefactos, aplicando-se a colecções museológicas
multidisciplinares (à excepção da História Natural), a DRaC estabeleceu junto
dos museus da Região, desde o início do carregamento de registos, em 1998, a
aplicação sistemática do Thesaurus para Acervos Museológicos40 na validação
da informação a inserir nos campos Objecto, Descritores e Classificação
Específica.
A construção deste Thesaurus, coordenada pela museóloga Maria Helena
Bianchini e pela documentalista Helena Dodd Ferrez, ambas técnicas do Museu
Histórico Nacional (Rio de Janeiro, Brasil), baseou-se nas directrizes da
UNISIST41 e da Associação Francesa de Normalização para o estabelecimento de
Thesauri monolingues.
O critério segundo o qual se encontram organizados os termos/nomes
de objectos no Thesaurus reside na sua função, pressupondo-se, de acordo com
Robert Chenhall42, que todo o objecto fabricado pelo Homem foi
originariamente criado para cumprir uma função (conhecida ou inferida). A
função original é o único denominador comum – atributo imutável – presente
em todos os artefactos e, portanto, a única característica que pode ser utilizada
como fundamento para uma classificação sistematizada, independentemente do
uso que esses objectos possam vir a ter mais tarde. Recorde-se que grande parte
dos objectos utilitários cumpre, hoje, uma função decorativa.
Na fase da classificação, começou-se por determinar as relações
género/espécie impostas pelo significado dos termos/nomes dos objectos e, a
partir dessas relações e com base na respectiva função original, reuniu-se os
mesmos em classes funcionais. A título de exemplo: conceituados e
seleccionados os termos/nomes de objectos “prato de sobremesa” e “xícara de
café”, estes foram hierarquicamente subordinados aos termos “prato” e
“xícara”, respectivamente. “Prato” e “xícara”, por terem a característica
funcional comum de utensílios relacionados com a cozinha/mesa, puderam,
ainda, por sua vez, integrar uma classe funcional maior que reunia todos os
termos/nomes de objectos ligados ao funcionamento interno de uma casa ou
edifício.
Finalmente, definidas as relações genéricas que, ao estabelecerem os
diferentes níveis hierárquicos da terminologia, constituem a estrutura do
39
Termos que definem um assunto.
40
Na sequência da pesquisa efectuada em 1997 e da análise do Inventário dos Thesauri ou Vocabulários
Controlados de Objectos, publicado pelo CIDOC em 1994, verificou-se ser um dos Thesauri mais
abrangentes a nível internacional.
41
UNISIST. 1973. Principes directeurs pour l’établissement et le dévelopement de thesaurus
monolingues. Paris, UNESCO, 34 p.
42
Chenhall, 1978: 8.
48
Thesaurus, determinou-se as relações associativas (ex. Bengala-Bengaleiro) e
partitivas (ex. Espada-Bainha).
Esta rede de inter-relações e a inclusão em determinada classe é que
conferem, com suficiente rigor, significado aos termos/nomes de objectos, para
que não apresentem ambiguidades.
Em suma, o esquema de classificação consiste em três níveis básicos de
terminologia, hierarquicamente relacionados: classes; subclasses; e uma lista
aberta de termos/nomes de objectos que pode ser expandida, de forma
controlada, pelos utilizadores do Thesaurus.
Exemplo:
INTERIORES Classe – Género
UTENSÍLIO DE COZINHA/MESA Subclasse – Espécie
PRATO Espécie ou Termo/nome de objecto
PRATO DE SOBREMESA Termo/nome de objecto
XÍCARA
XÍCARA DE CAFÉ
Exemplos:
TELHA (Fragmento)
ESPADA (Fragmento); lâmina
a) Brinquedos
Nos casos em que reproduzem à escala reduzida objectos reais, como um
carro, um carrossel, uma panela ou uma cadeira., o termo/nome de
objecto usado para identificá-los será “brinquedo”, seguido do(s)
termo(s) que o(s) qualifique(m) entre parêntesis.
Exemplos:
Brinquedo (carrossel)
49
Brinquedo (panela)
b) Modelos
Consideram-se modelos a representação, em escala reduzida ou não, de
objectos ou construções que se pretende executar em tamanho maior ou
em quantidade. Dada a semelhança dos termos modelo e maqueta,
optou-se pelo primeiro, por ser o mais abrangente. Os modelos têm, pelo
menos, uma função que permite que assim sejam classificados.
Exemplos:
Cómoda (modelo de venda)
Toalha de banho (modelo de patente)
Fragata (modelo de projecto)
Forte (modelo de exposição)
Espingarda (modelo de instrução)
c) Miniaturas
Consideram-se miniaturas, por exclusão, os objectos reproduzidos em
escala reduzida que não têm a função do objecto real e que não se
enquadram nos conceitos de brinquedo e de modelo. O termo/nome de
objecto usado para identificar uma miniatura deve ser o mesmo que é
usado para identificar o objecto em tamanho real, acrescido do termo
miniatura entre parêntesis, como qualificador.
Exemplos:
Arado (miniatura)
Pipa (miniatura)
Canhão (miniatura)
Exemplos:
Pintura religiosa (réplica)
Moeda (moldagem)
50
Na Ordem de Serviço n.º 12/98, de 23 de Outubro:
É de salientar, uma vez mais, que o campo Objecto remete para o tipo
genérico de objecto, identificando a sua função, e que deve prevalecer
sempre o termo existente no Thesaurus (THMUSA). Quando não existir
nenhum termo no Thesaurus que identifique ou se aproxime
satisfatoriamente do objecto em causa, deverá ser proposto um novo
termo, que depois de avaliado será incluído na referida lista e dado a
conhecer aos diferentes Museus.
[...]
Campo Objecto
[...], é imprescindível que o campo Objecto seja sempre, e unicamente,
carregado através do Thesaurus (THMUSA), devendo ser proposta uma
nova designação, através do formulário próprio, caso o termo não exista e
adiada a sua informatização, até aprovação do novo termo.
[...]
51
Campo Descritores
Deverão ser usados termos que permitam caracterizar genericamente o
objecto em causa, identificando grupos temáticos, mais ou menos
abrangentes, nos quais o objecto pode ser incluído.
[...]
F4 – activar o Índice/Thesaurus
Seleccionar o Thesaurus THMUSA – procurar o objecto em
questão
Seleccionar o termo genérico TG, no quadro da direita
que define o grupo a que pertence o objecto
Opção Visualizar
Seleccionar o TG no quadro da esquerda
Validar
[...]
«Objecto
Sempre que a designação de um objecto não exista no Thesaurus de
Objectos Museológicos (THMusa), não sendo, por isso, possível a sua
validação, a nova designação deverá ser colocada, no campo objecto,
entre parêntesis e enviada a proposta de inclusão do novo termo.»
52
Periodicamente, a DRaC, através da Divisão do Património Móvel,
Artístico e Arqueológico e do coordenador da gestão da documentação
museológica, analisa as propostas de incorporação de novos termos enviadas
pelos diversos museus, seguindo a metodologia indicada no ponto 7.7. da
Ordem de Serviço n.º 12/98 e no item Aspectos relativos ao Thesaurus de objectos
museológicos da Circular n.º1/99. Caso se confirme a inexistência no Thesaurus
do termo que identifique de forma inequívoca um determinado objecto – por
vezes, basta apenas substituir o termo usado no Brasil pelo termo sinónimo
mais comum em Portugal –, procede-se à inclusão do termo proposto ou de
outro mais adequado na lista de termos correspondente às respectivas classe e
subclasse funcional, sem esquecer o preenchimento das notas de glossário (GL)
e de aplicação (NA)43.
Entre os anos de 1999 e 2002 foram adicionados cerca de 230 novos
termos, tendo-se ampliado ou restrito o significado de termos já existentes e
eliminado, por substituição, alguns outros termos não usados em Portugal.
É este processo de revisão e actualização que torna o THMUSA uma
linguagem documental dinâmica, permitindo verificar o seu nível de qualidade
e adequação e possibilitando um constante aperfeiçoamento. Cada nova versão
é distribuída pelos museus utilizadores.
Por seu lado, a existência dos glossários de termos de objectos e técnicas
etnográficas elaborados pelos museus, ao permitir determinar as
correspondências entre os termos que nas diversas ilhas designam o mesmo
objecto, bem como a representatividade de tais correspondências, contribui
igualmente, e por consequência, para a tomada de opções correctas sobre a
adopção do nível nacional ou regional44 como norma para designar
determinado objecto.
A funcionalidade do trabalho em rede e a troca de dados entre os
museus depende, em grande parte, de tal definição. Daí a sua importância.
A adopção de um nível não implica, porém, que as outras designações
do objecto se percam, pois, ao serem introduzidas no Thesaurus como não
descritores, estabelecem-se relações automáticas com o termo autorizado,
permitindo a recuperação da informação, mais concretamente do registo do
objecto, quer a partir de um termo regional, por exemplo, quer do termo
nacional ou local.
As circulares normativas, o apoio e a consultoria assegurados pelo
coordenador, assim como o preenchimento de grelhas de correcção de registos,
a elaboração de relatórios de progresso e das acima referidas propostas para a
inclusão de novos termos no Thesaurus por parte dos diferentes museus, tornam
possível a avaliação global do andamento do projecto, não só do ponto de vista
da inspecção periódica e detecção de problemas, mas também do ponto de vista
43
Utilizadas mais comummente para delimitar o âmbito das classes e subclasses funcionais, no caso de
um termo/nome de objecto, indicam o contexto em que o mesmo se aplica, particularmente quando
existem dúvidas. Ex.: COPO
NA – Usar somente quando não tiver pé.
44
Há objectos etnográficos do património açoriano que não encontram correspondência no património das
outras regiões do País. Cite-se, a título de exemplo, a área da baleação.
53
do controlo do rigor e da qualidade da informação contida na base de dados do
património museológico dos Açores45.
CONCLUSÃO
45
Tarefa que, em primeira instância, incumbe aos conservadores e técnicos superiores de cada museu.
54
do primeiro projecto, e de um manual de normas de classificação para as
mesmas, são outras iniciativas mais recentes levadas a cabo pelo GTE, no
sentido de facilitar o contacto e promover a cooperação entre os etno-museus.
O projecto VIDERALP, primeira experiência francesa nesta área, levada a
cabo na década de 1980 pelos museus da região do Ródano-Alpes, demonstra-
nos a possibilidade de construção de um banco de dados e de imagens do
património regional, pertencente a diversas instituições culturais, com o
envolvimento e cooperação activa de parceiros de âmbito local, territorial e
nacional.
O projecto de construção do Thesaurus dos museus etnográficos
holandeses, iniciado em 1995, evidencia a importância do controlo de
terminologia para que haja coerência e fiabilidade na informação produzida,
logo, eficácia na sua recuperação, bem como os necessários critérios de
agrupamento, de molde a que o sistema possa suportar pesquisas relacionais.
Além disso, o Thesaurus deve constituir a espinha dorsal da infraestrutura
lógica ou sistema de informação.
Certas fases desse processo assemelham-se ao trabalho desenvolvido nos
Açores, salvaguardadas as devidas proporções, nomeadamente quanto ao
levantamento, selecção e validação de termos a incorporar no Thesaurus.
Das lições extraídas, destacam-se especialmente duas. A primeira refere-
se à solução encontrada para fazer face à impossibilidade de sincronizar os
contributos no seio dos museus participantes – o processo de integração e
expansão do sistema de informação é regulado pela modularidade e para cada
módulo / versão do Thesaurus os diversos museus farão um acordo sobre o seu
nível de participação, o que permite avaliar cada módulo e planear
cuidadosamente os novos desenvolvimentos. A segunda lição diz respeito à
fundação criada para assegurar a gestão do projecto e os direitos de autor sobre
os seus produtos.
Centrando-nos agora no património etnográfico açoriano, e em primeiro
lugar, no tocante à sua representatividade face ao conjunto das colecções dos
museus da rede regional, os resultados do inquérito realizado em Julho de 2001
indicam-nos que o Museu da Graciosa é o que detém maior número de objectos
etnográficos, embora apresente uma estimativa percentual média
comparativamente às suas outras colecções, ao contrário dos restantes museus
de ilha, nos quais a representatividade da colecção etnográfica situa-se entre os
71% e os 90%. No contexto dos museus regionais, as percentagens oscilam entre
os 4% e os 14%, por serem museus multitemáticos que se reportam, na
globalidade, ao percurso histórico das cidades e das ilhas onde estão inseridos,
exceptuando-se os dois Museus do Pico, devido aos seus acervos de vincada
natureza etnográfica. Em suma, as colecções etnográficas representam 54,4% do
património museológico dos museus da rede regional dos Açores.
As diferenças numéricas e percentuais existentes entre os vários museus
a nível da informatização dos inventários das colecções etnográficas radicam,
com evidência, no número de objectos que integram essas colecções e no
pessoal afecto / tempo de dedicação à tarefa em causa.
55
Quanto à caracterização temática das colecções, o inquérito revelou-nos a
existência de 17 categorias, correspondendo as mais representadas, no conjunto
dos museus, ao equipamento agrícola, aos objectos domésticos e pessoais, aos
equipamentos de artistas/artesãos (ofícios tradicionais) e de fiação e tecelagem
e aos objectos cerimoniais/de culto. As menos representadas são os apetrechos
de caça, o equipamento de actividades comerciais e os objectos de
lazer/desporto. Curiosamente, as actividades ligadas ao mar – pesca costeira e
captura de cetáceos – registam ocorrências médias, assim como o equipamento
de pecuária. Um pouco acima da média encontram-se os transportes. O Museu
Regional Carlos Machado e os Museus de Ilha da Graciosa e das Flores são os
que possuem maior diversidade de objectos etnográficos.
Avançar do terreno das hipóteses para qualquer interpretação sólida dos
dados de caracterização temática acima mencionados, implica que se
empreenda previamente a história das colecções etnográficas e dos respectivos
museus, trabalho que só recentemente começou a ser desenvolvido.
O tratamento diferenciado das colecções etnográficas no contexto do
plano integrado de gestão da informação do património museológico açoriano
consistiu, em primeiro lugar, na criação de uma folha de recolha de dados de
inventário específica. Embora a sua estrutura reflicta os mesmos critérios de
normalização e se harmonize com as estruturas das outras duas folhas de
recolha, a arquitectura da secção suplementar HISTÓRIA baseou-se,
fundamentalmente, nos grupos, campos de informação e respectivas definições
do Corpus Internacional de Tratamento Normalizado de Dados em
Etnologia/Etnografia do GTE, com a preocupação de contextualizar
detalhadamente o objecto, cartografando no espaço e no tempo, quando
possível, dados como o nome local, as circunstâncias do fabrico e da utilização,
para permitir uma melhor identificação, facilitar a investigação acerca do
mesmo e, ainda, o intercâmbio regional e supra regional de informação.
Em segundo lugar, poder-se-á afirmar que a construção e utilização de
linguagens documentais no âmbito da gestão da informação do património
museológico açoriano se deveu em grande parte aos problemas colocados pelas
colecções etnográficas, quer na denominação, quer na indexação e classificação
dos respectivos objectos. Daí, a elaboração dos glossários correspondentes a
cada ilha, em 1997, e a aplicação, a par da implementação do sistema
informático no ano seguinte, do Thesaurus para Acervos Museológicos, com a
devida adequação à realidade cultural portuguesa e as revisões e actualizações
periódicas, para as quais contribui decisivamente a adição de novos termos de
objectos etnográficos propostos pelos museus utilizadores deste sistema de
documentação.
56
missão uma análise de conformidade em relação ao Modelo Conceptual de
Referência Orientado por Objectos46, documento submetido à ISO e da
responsabilidade desse Comité Internacional do ICOM.
Retomando a ideia da citação introdutória, um bom sistema de
documentação deve permitir que o conhecimento dos objectos vá além dos
mesmos. Para que isso se concretize, é necessário ter em conta que as redes
físicas, como as informáticas, não funcionam sem existir uma rede humana. Por
outro lado, há que cooperar e estabelecer parcerias com outras entidades,
nacionais e internacionais, que se debrucem sobre o mesmo assunto, ainda que
sob diferentes perspectivas. No caso da documentação das colecções
etnográficas, reveste-se do maior interesse a cooperação com o CIDOC/GTE, o
CEE da Universidade dos Açores, o Instituto Português de Museus e o Serviço
de Museus do Departamento de Cultura da Generalitat da Catalunha
(Espanha), cuja base de dados do sistema de documentação das colecções dos
seus museus dependentes, designada Documentação Assistida de Colecções
(DAC), foi construída a partir dos mesmos fundamentos (normalização e
controlo de terminologia) do programa DocBase.Museu e apresenta, além de
características técnicas idênticas, uma estrutura semelhante.
46
O CIDOC Object-oriented Conceptual Reference Model é um instrumento fundamental no que
concerne à normalização da transferência de informação.
57
FONTES E BIBLIOGRAFIA
58
1. Fontes
2. Bibliografia geral
Lord, Barry, Gail Dexter Lord. 1998. Manual de Gestión de Museos. Barcelona,
Editorial Ariel: 89-96.
59
Rasse, Paul, Éric Necker (colab.). 1997. Techniques et cultures au musée: enjeux,
ingénierie et communication des musées de société. Presses Universitaires de
Lyon: 42-50.
3. Bibliografia específica
Directory of Thesauri for Object Names. 1994. S. l., CIDOC Data and
Terminology Working Group, 58 p.
Ferrez, Helena Dodd, Maria Helena Bianchini. 1987. Thesaurus para Acervos
Museológicos. Rio de Janeiro, Fundação Nacional Pró-Memória/Coordenadoria
Geral de Acervos Museológicos, 2 Vols.
Gonçalves, Cristina. 2000. “A rede regional dos museus dos Açores: visão de
síntese sobre a experiência de coordenação da Direcção Regional da Cultura na
década de 1990”, Boletim Informativo da Associação Portuguesa de
Museologia, 1/2 – III Série. Lisboa, APOM: 56-61.
60
Martinet, Chantal. 1987. “L’object ethnographique est un object historique”,
Muséologie et ethnologie. Paris, Editions de la Réunion des musées nationaux:
31-36.
Voort, Jan P. Van. 1997. “Controlled vocabulary and the quality of indexing in
museums”, CIDOC Newsletter/Bulletin, 8. Antuérpia, Yolande Morel-Deckers
– Koninklijk Museum voor Schone Kunsten: 28-32.
61