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VENTURA
O texto traça algumas reflexões sobre a língua portuguesa e conceitos sobre as suas variedades, a
partir da constatação do preconceito que se tem aos registros incultos verificados em boa parte
dos territórios nacional, e um reforço conceitual sobre a unidade lingüística como um processo
Inculta. Sociedade.
A língua, segundo Fiorin (2000), é algo difuso e único enquanto unidade de
como mães e filhas determinadas pelo fator tempo que as introduz o gérmen da
rejuvenescência. Com isso, pretende-se que uma língua em si não subsiste sem que seus
reflexos atinjam todos os pontos de uma ou várias regiões por que é falada. Ela mantém sua
Uma língua é sempre produto e subproduto de si mesma e, com ela, variantes de sua
subdivisão constante perfazem o núcleo e semente de todas e quaisquer regiões onde suas
variedades determinadas pela diatopia ou regiões por onde ela é expressa tem uma
da região. Desse modo, a língua mantém uma relação de extrema importância com a
sociedade e tem seu papel determinado nas camadas sociais que a utiliza, de forma
Eis a questão de quem esquece que fala o português para falar o “purtugués” dos
gramáticos normativistas. É esse preconceito cultivado por quem fala e por quem ouve de que
ter em conta todos os fatores ou alguns dos significantes que incorreram na diversificação de
várias contingências do português. Bagno (1999) mostra que em toda e qualquer variedade de
que não são usadas em outra variante da mesma língua. Ressalte-se a mistura e união de
povos de culturas e línguas diferentes, com entonações vocais particulares, que se entrosaram
na nossa história, a história do Brasil, e continuam sendo os principais geradores de um
instância, uma tentativa de elucidar que não importa quantos netos já adquiriu esta avó,
Como diz o Fiorin (2000), “toda língua são rastros de velhos mistérios”, – toda língua
em determinada região sofre variações, que podem ser positivas ou negativas dependendo do
destacar em relação à de outros grupos. Segundo Tânia Alkimim1, “qualquer língua, falada
por uma comunidade, exibe sempre variações”. Pode-se afirmar, mesmo, que nenhuma língua
se apresenta como entidade homogênea. Isso significa que qualquer língua é representada por
os diferentes modos de falar utilizado pelo conjunto de seus falantes do Brasil, em Portugal,
O que se nota é que a língua, dentro de determinada comunidade, sofre certo prestígio
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1
Apud MUSSALIN, Fernanda e BENTES, Anna (orgs). Introdução à Lingüística:
Domínios e fronteiras, v1. São Paulo: Cortez, 2001 (p.21-42).
As variedades lingüísticas que se entrosam num país continental, como o Brasil, têm
muita história e são, desse modo, a maior riqueza deste, visto que a língua é a expressão direta
de uma cultura e o Brasil, pela sua história e contingência de imigrantes, abarca uma
variedade dos mais diversos grupos com variações de cultura e língua particulares.
É, para Benveniste (1963), dentro da, e pela língua, que indivíduo e sociedade se
determinam mutuamente – dado que ambos só ganham existência pela língua. Assim é, que a
linguagem sempre se realiza dentro de uma língua, de uma estrutura lingüística definida e
nação, sempre se terá uma língua institucionalizada como a língua padrão, mesmo que
econômico e histórico de uma ou várias regiões. No Brasil, por exemplo, é comum termos
como língua padrão ou privilegiada, a língua que se fala nas regiões metropolitanas ou nos
centros de maior produção econômica do País. Desse modo, nos locais de menor produção
econômica, teremos uma língua menos valorizada. Esses aspectos econômicos e sociais
região improdutiva, castigada pela seca, assim como outras, uma região pobre, carente de
recursos e outros determinantes. Já regiões como São Paulo, Rio de Janeiro, entre outros,
melhor modo de falar e as regras do bom uso da língua correspondem aos hábitos lingüísticos
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Uma das diferenças que podemos encontrar quando nos referimos à língua padrão ou
culta está na associação que dela se tem às classes elitizadas das não elitizadas.
Na classe elitizada, predomina o domínio culto da língua, o que é explicado pela visão
de mundo a que se atribui o falante culto. Quanto mais se conhece o mundo, mais
enriquecedor se torna a língua pessoal. Uma visão de mundo abrangente permite que o falante
constitua uma bagagem lingüística e cultural tanto de seu meio social quanto de outras
camadas sociais. O tipo de registro desse falante consciente pode variar segundo o contexto
pobres, com um contato limitado com outras camadas sociais, adquirem uma língua
homogênea ao seu ambiente e costumes, que tornam, desse jeito, a língua com uma
Muito se fala sobre a língua e, dentre as várias definições que a assistem, parece
louvável a de Celso Cunha (1984 p.25), em que afirma que: “a língua é um conjunto de sinais
que exprimem idéias, sistema de ações e meio pelo qual uma dada sociedade concebe e
expressa o mundo que a cerca, tendo ela que viver em perpétua evolução, paralela a do
organismo social que a criou”. O sistema de sinais ou signos é o ponto fundamental para se
chegar aos níveis mais elevados da língua. A língua começa a existir como uma necessidade, e
convencional adquirido pelos indivíduos no convívio social”, ou seja, não podemos separar a
língua do contexto social, visto dever este sua existência à língua. Pois é utilizando-a em sua
plenitude que podemos descrever o que somos, o ambiente social que nos envolve e os meios
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Sem a língua a limitação do homem viria à tona, fazendo com que o ser desprovido
dela se fechasse e se excluísse do quadro social e, embora exagere Bertoni (Apud Cunha1984
superficialidade preconceituosa de muitas camadas sociais, dada a sua condição social, existe
uma associação do nível lingüístico ao nível cultural. É um erro, pois toda língua é adequada à
comunidade que a utiliza, é um sistema completo que permite a um povo exprimir o mundo
pretendem homogênea, devemos ter em mente essas diferenças e, com elas, avaliar os nossos
das discriminações irrefletidas cultuadas por uma massa que se julga no limiar da fonética
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2
Ibidem p.7
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REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico: o que é, como se faz. 31. ed. São Paulo:
Ed.Loyola, 1999.
CUNHA, Celso Ferreira da. Política do idioma. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.
FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. 7. ed. São Paulo: Ed. Ática, 2000.
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Lingüística Geral. 28. ed. São Paulo: Ed. Cultrix, 2000.