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Conflito entre índios e Aracruz repercute na Alemanha

Protesto da ONG Robin Wood em frente à fábrica da Procter & Gamble em Neuss

ONG alemã faz manifestação em frente à fábrica de empresa que


compra celulose brasileira. No Brasil, Aracruz contesta relatório da
Funai e diz que protesto indígena já causou prejuízo de um milhão
de reais.
O conflito entre os índios tupiniquins e guaranis e a Aracruz Celulose, no
norte do Espírito Santo, está repercutindo também na Alemanha. A
organização não governamental Robin Wood realizou esta semana protestos
em frente à fábrica da Procter & Gamble (P&G) Deutschland, em Neuss, na
Renânia do Norte-Vestfália.

A ONG pede que a subsidiária alemã da norte-americana P&G suspenda a


compra de celulose da Aracruz até que seja resolvido o conflito de terras
envolvendo a ampliação da reserva indígena.

A Aracruz, uma das maiores fornecedoras de celulose do mundo, plantou


mais de 250 mil hectares de eucaliptos na região. Segundo um relatório da
Funai (Fundação Nacional do Índio), 11 mil hectares dessa área são
tradicionais territórios dos tupiniquins e guaranis. A empresa contesta esta
informação.

Na quarta-feira (11/10), cerca de 150 índios provocaram um incêndio e


voltaram a cortar árvores na propriedade da Aracruz Celulose, para
pressionar o Ministério da Justiça a decidir sobre a demarcação de terras
indígenas. A empresa informou que os protestos dos indígenas já causaram
prejuízos de 1 milhão de reais.

Caso pode se arrastar

Nesta quinta-feira, terminou um prazo de 30 dias no qual a Justiça deveria


anunciar uma decisão sobre o caso. "Como não houve decisão, é provável
que o conflito, que acompanhamos há mais de um ano e meio, ainda se
arraste por muito tempo", disse o diretor de florestas tropicais da Robin
Wood, Peter Gerhard, à DW-WORLD.
Gerhard admitiu que o caso é "muito complexo. Temos, por um lado, os
índios que reivindicam seu direito à terra com o apoio da Funai, que quer
ampliar a reserva. Por outro lado, há os trabalhadores da Aracruz, que
defendem a posição da empresa. Mesmo que houvesse uma decisão
favorável aos índios, a Aracruz já anunciou que vai recorrer", disse.

Outdoor envolvendo o conflito no Espírito SantoA


empresa baseia sua contestação num estudo feito por 15 especialistas,
entre eles, historiadores, antropólogos, geógrafos e cartógrafos. A equipe
fez um levantamento dos registros de imóveis, com suas cadeias
sucessórias, de centenas de terrenos comprados pela Aracruz desde 1967,
além de minuciosa pesquisa sobre a história das comunidades indígenas do
Espírito Santo desde o século 16. O resultado do trabalho foi reunido em 14
volumes, com cerca de 15 mil páginas de documentos.
"Além da documentação referente à aquisição de terras de seus
proprietários, existem provas de que os índios tupiniquins e guaranis não
habitavam aquelas terras nem em tempos imemoriais", afirma a empresa
em seu site na internet.

Em maio de 2005, os índios demarcaram as terras que reivindicam,


construíram duas aldeias, mas a Aracruz obteve uma ordem de despejo na
Justiça, que foi executada com ajuda da Polícia Federal.

As reservas indígenas do Espírito Santo, localizadas no município de


Aracruz, contam atualmente com sete aldeias, em uma área total de 7062
hectares, sendo quatro tupiniquim e três guarani. A Aracruz garante que
"busca uma solução estável no relacionamento com as comunidades
indígenas que tenha como premissa a segurança jurídica que ora lhe falta".

Reação da P&G alemã

A Procter & Gamble Deutschland lamentou que o conflito tenha se acirrado.


"Havíamos esperado que ambas as partes tivessem a paciência para
aguardar e aceitar a decisão das instituições brasileiras responsáveis,
prevista para breve. Também nós deixamos nossos procedimentos
seguintes na dependência dessa decisão. A Aracruz está plenamente
consciente de que a P&G quer uma solução pacífica", informou a empresa
num comunicado.
Segundo informações do jornal alemão die tageszeitung, a P&G alemã
produz mais de sete milhões de lenços de papel por dia. Contatada pela
DW-WORLD, a assessoria de imprensa da empresa disse que não pode
revelar o volume de celulose comprada da Aracruz nem quis comentar os
protestos da Robin Wood às portas da fábrica em Neuss.

"A P&G falou com representantes da Aracruz, dos povos indígenas e de


organizações não-governamentais bem como com juristas. Estamos
confiantes de que há consenso entre todas as partes de que o conflito deve
ser resolvido por um procedimento em conformidade com a Constituição.
Vamos acompanhar atentamente o caso e esperamos, com isso, contribuir
para que haja uma solução rápida, justa e legal para o conflito", diz o
comunicado.

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