Informativo Cultural

OUTRAS FARPAS
Ano I –Nº 01 Contato: outrasfarpas@gmail.com

LEITOR DE BOM SENSO,

LITERATURA E OUTRAS FARPAS

APROXIMA-TE E VÊ Achega-te, pois, a nós de olhos e ouvidos

bem abertos. Seremos para teus olhos lanternas
“Temos um objeto importante em mãos, e com ele
na escuridão; sussurraremos em teus ouvidos
podemos rasgar as entranhas da ignorância e iniciar
gritos do passado e do presente e um dia, de
uma nova fase em nossas relações interpessoais” surpresa, perceberás que plantamos uma farpa
Página 02 em tua mente!
Página 04

Entre o Sublime e o Abjeto

“crianças nascidas através de cópulas sobre papelões catavam para seus pais (algozes de suas
vidas), novos papéis e jornais para cruzamentos ordinários.”
Página 03

Os comentários de uma mulher do prazer...

“Quando o cinema surgiu, acreditou-
se na possibilidade de uma captação
fidedigna da realidade[...]
o cinema materializaria de forma
imparcial o desejo do "congelamento
de instantes"”
Sexual. Hetero. Maior. Página 08
Página 06
AINDA NESTA EDIÇÃO...

Os relatos de uma pesquisadora ............................................................................................... Página 05.

IMPÉRIO DOS SENTIDOS: Uma farpa cinematográfica .................................................... Página 07.

SOPA DE FARPA: Nova culinária para um novo milênio .................................................... Página 09.
Leitor de bom senso, que Queiroz. O restante vai requerer espantados a nossa volta e a falta
folheia este pequeno
do leitor uma busca um pouco de iniciativa, de diálogo, do bom
material, aproxima-te e vê.
mais apurada. e velho álcool, da influência
Por: Manoel das Neves* maligna do próprio satã é
Porém, as farpas que o leitor
chocante.
Chega mais perto, não há o que agora possui são outras, assim
temer. Aproxima o papel do teu como outros são os nossos O pragmatismo exacerbado, que
rosto e nota que a xérox ainda tempos. Não que uma por vezes sem que saibamos
está quente. São as Outras considerada parte daqueles penetra nossos poros e toma de
Farpas, feitas por aqueles magistrais comentários não assalto o nosso ser, não deve
mesmos jovens de outrora - hoje possam ser aplicados aos nossos transformar esta etapa de nossas
mais pesados e menos cabeludos dias e que a língua não coce para vidas num frio corredor onde
-, que vêm buscar mais uma vez a que saiamos às ruas a gritar que cada um de nós leva certo tempo
tua atenção, pois, indignados o país perdeu a inteligência e a para atravessar, sem sequer olhar
escrevem e escrevem. Jovens que consciência moral e que a prática para os lados, sem escutar o que
ainda não perderam de todo a da vida tem por única convicção a o outro tem a dizer e a
energia surgida nas revoluções conveniência, atestando todo o acrescentar em nossas vidas. Eis o
hormonais, a energia que brilhantismo do autores motivo e eis também o veículo.
propulsiona a típica vontade louca portugueses e os escolhendo Perde esse medo, caro leitor, vem
e burra de mudar o mundo por se como nossos profetas. nos conhecer e permite que te
sentirem incomodados com as Poderíamos sim, e ainda conheçamos também.
coisas tal como estão. estaríamos causando os nossos
Temos um objeto importante em
Acobertam-se desta vez sob o arranhões. Mas a vida
mãos, e com ele podemos rasgar
manto inspirador do escritor Eça contemporânea nos presenteou
as entranhas da ignorância e
de Queiroz, esperando deste a também com outros espaços,
iniciar uma nova fase em nossas
sua benção, e o fazem ao ousar onde podemos introduzir o nosso
relações interpessoais,
denominar de farpas o resultado arame e por lá deixar a nossa
principalmente nós estudantes.
deste trabalho. marca.

Que ao virar a última página deste

Para que todos saibam, As Farpas Já não nos basta “bater de frente”
protótipo, leitor de bom senso,
foi o nome dado por Eça, como fizemos anteriormente
paire em teu ser algum tipo de
juntamente com o seu amigo através dos meios virtuais, em
excitação, e que te sintas
Ramalho Ortigão à publicação textos retirados dos mares do
motivado a caminhar junto
lançada pela dupla em Portugal a sarcasmo – alguém ainda se
conosco, buscando meios de
partir do ano de 1871, onde a lembra de um certo site?. Hoje
efetivar esta idéia, criando uma
ironia e o riso desleixado não existe a necessidade de re-
ferramenta de informação e
encontravam fronteiras nem construir e acrescentar,
transformação.
respeitavam autoridades e aproveitando a existência de
costumavam incomodar muita espaços vazios para lançar as Um forte abraço.
gente, como incomodam as nossas discussões. Talvez nem o
farpas, tendo seus arranhões mais pessimista pudesse afirmar ___________________________
alcançado até o Brasil. Uma parte que viria a ser uma farpa o
*Manoel das Neves – Durrel -
destes textos pode ser facilmente simples fato de se comentar
Graduando do curso de Direito da
encontrada no site despretensiosamente sobre
Universidade do Estado da Bahia –
www.dominiopublico.gov.br, literatura, cinema, música,
UNEB – CAMPUS XV – Valença.
compilada sob o título Uma comportamento e outros assuntos
Campanha Alegre, uma espécie no promissor ambiente (e-mail: manoelsaj@hotmail.com)
de resgate dos textos de Eça de universitário, mas olhamos
ENTRE O SUBLIME E O de uma indolente existência, e perversões inomináveis
ABJETO
enquanto a encantadora cidade caminhavam agora encolhidos e a

Por: Acton Lobo* ganhava novas tonalidades, passos largos, negando e

personagens e diálogos, assistia a repudiando o que estava
Caminhava silenciosamente, transformação de antigos casarios nascendo em cores disformes,
atento aos meus pensamentos e a - outrora imponentes mansões -, mas com vida e forte pulsação.
lenta chegada do crepúsculo. O em um desprezível registro de Uma nova Salvador surgia das
céu diante dos meus olhos impôs uma fase áurea, esquecida ruas transversais e becos
uma hipnótica transição de cores atualmente por todos. imundos, sob o vento frio e da
ao Centro da Cidade. Mais um dia Testemunhava o vagaroso e calma garoa que iniciava o seu
chegara ao fim, e, todos que pestilento caminhar de fantasmas efusivo espetáculo.
transitavam naquele momento, anônimos, estes, por sua vez,
em um ir e vir quase que infinito, O queimar do filtro do cigarro
resignados pela fome e por
desejavam somente encontrar os despertou-me daquela reflexão
incontáveis desgraças que os seus
seus lares, as suas novelas atordoante e subitamente o
respectivos espíritos carregavam.
preferidas ou, na melhor das “transe” chegou ao fim. Diante da
A noite trazia consigo uma nova e
hipóteses, algumas horas de melancólica chuva que se iniciava,
indesejada dinâmica ao olhar
sadio entorpecimento em um bar. um único desejo começou a
comum.
Inconscientemente, a sensação de explodir em meu coração: Pegar

missão cumprida pulsava em cada Criaturas subumanas surgiam um táxi e ir ao encontro do meu

um, pois, estava findando mais com seus trapos chamados de tranqüilo refúgio, descansar e

um ciclo: Acordar, trabalhar e ir vestes, enquanto, crianças encerrar sob os afagos de meu

para casa descansar. nascidas através de cópulas sobre amor, ao som da voz “etérea,
papelões catavam para seus pais flexível e levemente rouca” de
A medida que avançada pela (algozes de suas vidas), novos Billie Holiday, mais um ciclo.
Avenida Sete, diálogos alheios papéis e jornais para cruzamentos
tomavam as minhas reflexões de E assim, esquecia-me do Abjeto...
ordinários. O sublime dava
assalto: Uns queixavam-se da passagem ao abjeto, enquanto o ___________________________
situação econômica do país, Sol era engolido pelo horizonte. O
outros, mostravam-se perplexos degradante de nossa sociedade *Acton Lobo é licenciado em
com a crescente onda de estava ali: correndo, catando lixo, Geografia pela Universidade do
violência, culpando o governo, a carregando suas proles Estado da Bahia – UNEB – Campus
televisão e a falta da união indesejadas, multiplicando-se V. Atualmente reside em Salvador.
familiar por tais situações. Entre como ratos e incomodando a (e-mail: actonlobo@hotmail.com)
as várias conversas “içadas” pelo metafísica serenidade das pacatas
meu silêncio, unânime somente e gélidas vidas de quem circulava
era a solução para tais por aquela avenida.
infortúnios. Ao “onisciente,
onipresente e onipotente” restava O lento precipitar de uma chuva

o desafio de corrigir todas as fina enriqueceu a paisagem do

mazelas humanas existentes e Centro, escondendo os passantes

que muitos, aqui entre nós, se sob incômodos guarda-chuvas.

divertiam em dar formas, cores e Indivíduos, pensamentos, anseios,

contornos. preocupações, ódios, frustrações

amorosas, projetos de vida
Cada vez mais sereno, encontrava indefinidos, objetivos cancelados
no ar frio os elementos furtivos
 LITERATURA E “OUTRAS retórico para dar vazão à reflexão No entanto, a farpa que, uma
FARPAS”! vez introduzida produz muito
chave do presente artigo: Ora, se a
literatura tem tanto a nos dizer sobre incômodo, pode, todavia, com o
Por: Jean Michel F. Santos*
passar do tempo e a regeneração
o passado, não teria, pois, muito a
lenta das carnes machucadas,
Já faz algum tempo que a nos dizer também sobre o presente e
principalmente em organismos fortes
literatura tem servido de fonte conseqüentemente sobre nossas (e nós sabemos o quão, fortes e
privilegiada para análise do social. expectativas futuras? Creio que sim! E adaptáveis, são as hipócritas e
Muitos pensadores das ciências antes que algum polvo metafísico mesquinhas ideologias que sustentam
humanas e sociais têm se debruçado venha tentar repousar seus tentáculos o “desajuste” nacional),
paulatinamente perder seu caráter
nos documentos literários em busca sobre meu discurso, deixo de
incomodativo e passar despercebida,
de respostas para suas indagações, antemão claro que à minha crença ele
apenas como uma lembrança vaga e
pois, com o surgimento de novas nada tem a dizer. Já o vejo fugir,
desbotada do passado.
metodologias de abordagem, fica cada deixando para trás apenas a mancha
dia mais claro que os relatos deixados negra da sua vergonha e desespero. Talvez seja isso que tenha
por literatos têm muito mais a nos acontecido com os avisos de Gregório
Não vos assusteis, portanto, de Matos, Lima Barreto, Pedro
dizer sobre a sociedade em que estes
apressado leitor, desse tão novo e já Kilkerry, Chavier Marques, Graciliano
viveram do que se supunha. A
Ramos e tantos outros literatos mais
fugidio século XXI, pois não
literatura apresenta-se então, sob atentos às realidades contraditórias
perturbarei vosso atribulado e
essa nova perspectiva, como produto que às ideologias apaziguadoras. Hoje
rendoso dia com informações sobre muitos se voltam para esses
de uma realidade social, por
algo deveras enfadonho e “farpadores” e tentam ouvir nas
conseqüência passível de
desnecessário com é nossa história. emaranhadas teias da [re]constituição
decodificação.
Procedendo dessa maneira estaria tão historiográfica os ecos dos gritos que
A ciência histórica talvez seja desajustado ao nosso tempo, como suas farpas provocaram. Porém, fica o
alerta para que estejamos atentos a
a área em que o texto literário venha estavam desajustados o poeta e seu
outras farpas que virão. Achega-te,
sendo abordado de forma mais halo no lodaçal de macadame.
pois, a nós de olhos e ouvidos bem
frutífera nas últimas décadas. abertos. Seremos para teus olhos
Principalmente a partir da década de É, porém, no desajuste que
lanternas na escuridão; sussurraremos
reside o cerne da questão: a farpa que
70 do século XX muitos historiadores em teus ouvidos gritos do passado e
se acomodou tão desagradavelmente
têm lançado mão do documento do presente e um dia, de surpresa,
entre a unha indolor da ilusão
perceberás que plantamos uma farpa
literário como fonte principal de seus federativa e a carne mestiça e dolorida
em tua mente!
trabalhos. Nomes como os de Pierry do povo da nação. E quem percebeu a
Bourdieu, Robert Darnton, Roger farpa e seu incômodo antes dos ____________________________
Chartier são representativos no que literatos? Ninguém poderia tê-la
percebido antes deles, já que foram
diz respeito aos diálogos que história
eles próprios que a introduziram ao
e literatura vêem travando. No Brasil
notarem a distância gritante das *Jean Michel F. Santos é licenciado em
esse processo deu-se de forma mais
ideologias para a realidade. E quando História pela Universidade do Estado
significativa a partir da década de se tornou tácito que a ideologia, que da Bahia – UNEB – Campus V,
1990, tendo nomes como os de aqui chamamos unha, fora de forma Mestrando em Cultura, Memória e
Sandra Jatahy Pesavento, Nicolau tão estanque selada à realidade que
Desenvolvimento Regional também
Sevcenko, Roberto Schwarz, Sidney aparentemente passou a compor
pela UNEB – Campus V e Graduando
também essa realidade, veio a mente
Chalhub, dentre outros, entre os
livre dos literatos e cravou entre do curso de Direito da UNEB – Campus
defensores da literatura como fonte
ideologia e realidade a farpa da XV. Atualmente reside entre Valença e
para trabalhos historiográficos. dúvida, que é a centelha de toda nova Santo Antonio de Jesus.
criação! A farpa é, pois, um incômodo
Paciência. Essa nota
na suposta paz entre unha e carne; a (e-mail: jeansaj@hotmail.com)
introdutória sobre a importância que a farpa é um aviso; a farpa é uma
literatura vem galgando como fonte tomada de consciência e um presságio
ante as ciências que analisam o para o novo!

passado é apenas um estratagema

 Relatos de uma pesquisadora maioridade? Se o ECA não mais exige trabalham, contribuem de maneira
atenção e proteção depois dos 18 produtiva e não mais incomodam as
Por: Andréa Barreto Borges de Souza * anos completos, para onde vão, o que “autoridades da cidade”.
sentem o que pensam os sujeitos,
Há quase dois anos, estou vivendo um Pelo menos por um motivo eu me
especialmente aqueles que passaram
relacionamento intenso. Sim, quase sinto realizada até agora: se esses
um tempo nas ruas e depois foram
um casamento e, como tal, com suas sujeitos que eu entrevisto eram
atendidos nas instituições?
crises, momentos de amor, brigas, silenciados até agora, eles estão tendo
conflitos, insônias... Ah! Estou me O nosso desafio não foi apenas a chance de falar. Muitos poderão
referindo a esse momento louco de localizar os (ex) meninos de rua, ouvir dizer que se tratam apenas de
produção da dissertação de Mestrado. suas memórias, compreendê-las... pessoas que repetem um discurso
É louco mesmo e assim deve ser: já Isso porque nós buscamos burguês, já que consideram que
ouvi professores doutores na coisa compreender a realidade pesquisada precisam trabalhar e ser homens de
dizendo que na seleção de Mestrado por meio dos discursos dos sujeitos bem. Mas há no discurso as formas de
deveria haver teste psicológico... da pesquisa. O discurso não é uma resistência, outros sentidos que
porque os certos não deveriam entrar. trilha plana, reta e onde se vislumbra precisam ser compreendidos. Os
E eu concordo. Mas nem adianta um fim previsível e transparente; ao inconformismos diante da exclusão,
tentar explicar demais, quem viver contrário, os caminhos serão dos preconceitos sofridos, dos
essa situação, verá. tortuosos e deslizantes, pois são estereótipos... Mas eu não vou contar
múltiplos os seus territórios. Os tudo agora, até mesmo porque eu
O meu tema de pesquisa já me rendeu
dizeres não são tramas pré- ainda estou trilhando os caminhos
até um apelido carinhoso, ou talvez
estabelecidas. São possíveis pelos desta pesquisa, estou tentando
irônico, dos meus colegas: Menina de
movimentos da história e das descobrir os silêncios e as vozes
rua. Não que eu trabalhe diretamente
condições de produção. As palavras sobre a rua...
com esses sujeitos. Meu interesse,
não são transparentes...
na verdade, são os sujeitos, hoje Enquanto isso, eu continuo aqui com
adultos, que viveram parte de sua Eu vos confesso que compreender os meus conflitos, certezas e incertezas.
infância e adolescência nas ruas de discursos daqueles que já viveram nas E estas são bem melhores.
Santo Antonio de Jesus. Digamos, ruas tem sido um desafio. Os sentidos
minha pesquisa está voltada para (ex) ___________________________
são múltiplos. Há memórias
meninos de rua. Interessa-me as suas discursivas que derivam do contato
*Andréa Barreto Borges de Souza é
memórias sobre a rua e como estas com a polícia, com a família, com
Mestranda do Programa de Pós-
influenciam na construção das igrejas (a maioria das instituições são
Graduação em Cultura, Memória e
identidades. mantidas por igrejas católicas ou
Desenvolvimento Regional da
protestantes), centros de
A inquietação diante desta temática Universidade do Estado da Bahia –
ressocialização para adolescente
surgiu, caro leitor, enquanto eu fazia UNEB.
infrator, dentre outras instituições.
parte do Conselho Tutelar de Santo
Nessas memórias, há a idéia de que (e-mail: deabborges@hotmail.com)
Antônio de Jesus. Lá, comecei a ver
“menino de rua” é o “trombadinha”, o
que, na tentativa de cumprir o que
“pivete”, o “malandro”, é um sujeito
rege o ECA _ Estatuto da Criança e do
que incomoda, atrapalha, suja a
Adolescente, eram criados muitos
cidade. Por isso, nos discursos
projetos voltados para crianças e
produzidos, os entrevistados já não
adolescentes. Mas uma angústia
querem identificar-se com a vida de
sempre permanecia: o que acontece
“menino de rua”. Querem ser
com os sujeitos que completam a
“cidadãos de bem”, aqueles que
Mulher rodada, me apelidou um amigo- E é exatamente isso que
experimentada e com-toque) e minha uma primeira vez é para
vivida comenta. deliciosa voz de nordestina mim. Sempre diferente, um
Nada científico. boa de cama. Eu era um convite ao novo, ao nunca
sucesso. experimentado, ao prazer,
se bem que às vezes pode
Por: Patrícia So Só tinha um problema: eu
levar a algo ruim (como o
era virgem. Uma virgem
Pensei, repensei, procurei, primeiro empréstimo
sexy, tudo bem, mas uma
fiquei doida e não encontrei bancário para quitação da
virgem. Esse detalhe me
jeito de começar isso. Vai casa onde vai morar com
impediu de usufruir de
do jeito que deu mesmo. um marido que depois de
tantos homens
Fui convidada a falar do um tempo não irá comê-la
maravilhosos que conheci
que significa uma primeira mais e ainda a trairá com
nessa época, que só de
vez para uma mulher. Aqui sua prima gostosa). Eu
lembrar hoje, dá dor no
vai a minha. recomendo as primeiras
coração (e um arrepio no
vezes, mas com cuidado.
Na verdade, sou cheia de meio das coxas).
Permita-se conhecê-las,
primeiras vezes. A primeira Como toda boa virgem, eu lambuze-se delas, mas não
transa, a primeira estria era louca pra me perder. Só seja burro. A pressa é
visível, a primeira lingerie que ainda tinha essas inimiga da ereção.
sexy, o primeiro homem de bobagens de cara certo,
barriga verde, enfim, Então, já que dei todas as
amor, relação estável, etc.,
muitas primeiras vezes a dicas de primeira, você já
esses detalhes bestas que a
contar. Ah, se começo aqui pode começar planejar a
gente cria pra adiar os
segunda, que sempre é
a falar de todas elas, logo prazeres. Porque sexo, hoje
meus queridos leitores melhor, a terceira, nem se
eu sei, é pura felicidade.
largariam esta folha. Seria fala, e por aí vai. Quando
Eu até tinha um namorado, perceber, já vai ter virado
realidade demais, demais.
Atentar-me-ei então ao bonitinho e com uma uma pessoa rodada,

primeiro encontro. Sexual. bundinha deliciosa, mas experimentada e vivida,

Hetero. Maior. tesão que é bom, nada. assim como eu.

Acabei tendo minha
Risos.
Na condição de mulher primeira vez com o amigo
livre, desinibida e um que me apelidou de coral.
pouco acima do peso, Foi bom, diferente do
sempre fui irresistível aos esperado, meio doloroso e
olhares masculino- viciante. Nunca mais
selvagens. Eles adoravam larguei. O sexo né, porque
minha inteligência, meu o cara já era.
olhar de cobra-coral (assim
 prazer, vai muito além das de Sada. O sexo é tratado sem
cenas de sexo predominantes nenhum pudor, como deve
O IMPÉRIO DOS
no filme. ser, diga-se de passagem. As
SENTIDOS cenas mostram desde um
Ambientado na década de 30
defloramento grupal até a
e lançado nos anos 70, é um
introdução de um ovo na
filme que rompe com o
vagina que logo depois é
conservadorismo milenar da
ingerido. De tão incansáveis, a
sociedade japonesa,
relação desgasta-se e nada
introduzindo no cinema
mais parece satisfazê-los a
oriental uma nova perspectiva
não ser a dor, inclusive nas
de análise das relações
várias tentativas de
humanas, sobretudo as
enforcamento durante o coito,
paixões que permeiam e
culminando na cena final do
sobrepujam todo o decoro
filme, em que Sada castra
moralista, não só da sociedade
Tikisan.
nipônica, mas também do
mundo ocidental. Enfim, longe dos clichês do
gênero, “O Império dos
O diretor, Nagisa Oshima,
Sentidos” mescla elementos do
fugindo de qualquer
Direção: Nagisa Oshima. drama e do romance para
linearidade, utiliza-se do sexo
romper com um falso
Ano: 1976. para dissecar e expor,
moralismo e expor as relações
incisivamente, as relações
País: França, Japão. interpessoais de maneira crua,
humanas naquilo que mais se
visceral.
Por: Caio Dimitri, aproximam do estado natural,
das loucuras, quando da busca ____________________________
Visceral e revolucionário, o
ilimitada pela realização dos
Império dos Sentidos é *Caio Dimitri é graduando do
desejos mais escusos e
constantemente citado como curso de Direito da
condenáveis pela sociedade
uma das mais importantes Universidade do Estado da
hipócrita.
obras eróticas do cinema Bahia – UNEB – Campus XV.
mundial. A história de Sada, A aparente relação de amor Atualmente reside em Valença.
uma ex-prostituta que ao ser entre os protagonistas
contratada por Tikisan, senhor desmancha-se na necessidade
de uma propriedade, inicia quase que vital do sexo, e
uma viagem pela busca Tikisan se vê cada vez mais
incessante e insaciável do envolvido pela insaciabilidade
O OLHO DA FARPA
Um cisco no olho, uma "farpa na
mente"
Por: Leandro Santos Bulhões de Jesus
O ser que contempla uma paisagem a
torna possível pelo enquadramento do
olho. Não existe um olhar puro que
possa traduzir uma dita realidade, por
isso, as impressões que se têm a partir
das visibilidades estarão sempre
relacionadas ao universo cultural sob o
qual o espectador está inserido.
Quando o cinema surgiu, acreditou-se na
possibilidade de uma captação fidedigna
da realidade. Numa cadência histórica de
tentativas de representação do real, que
vem desde os desenhos das cavernas,
esculturas, teatro de sombras, pinturas,
xilogravuras, iluminuras, fotografia, o
cinema materializaria de forma imparcial
o desejo do "congelamento de
instantes".
No entanto, o processo de popularização
deste engenho é também explicado pelo
fascínio que os seres humanos têm pela
ilusão (captação, manipulação,
representação) da realidade. Logo, ele
vai se tornar um dos maiores símbolos
da modernidade e do lazer e, da mesma
forma, um poderoso instrumento de
veiculação e propagação ideológica
daqueles que o produzem, financiam e
distribuem.
Tendo como marco sua primeira exibição
no ano de 1895 num porão, em Paris,
pelos Irmãos Lumière, a história do
século XX se confunde com a sua. Este
invento passou a permitir às futuras
gerações um poder até então atribuído
aos deuses, pois, depois da câmera, as
pessoas podem ver projetados
acontecimentos, representações,
personagens, destacados ou anônimos
da história, num teatro de
conveniências.
Hoje, mais de cem anos depois de seu
lançamento, as fábricas de ilusões
multiplicaram-se, potencializaram-se, e o
próprio cinema traz estas questões. A
trilogia Matrix, por exemplo, levanta
problemas acerca do poderio da
manipulação da realidade por meio da
construção de uma sociedade
programada e controlada por
inteligências artificiais.
Em Matrix, há um mundo projetado
diante dos olhos das pessoas de modo
que não possam constatar suas
condições de escravos, nascidos num
cativeiro, encarcerados num tipo de
prisão que não se consegue sentir ou
tocar: a prisão da mente.
Mesmo lançado há quase dez anos, as
idéias propostas em Matrix atualizam as
discussões que se referem às
concepções do real, à ordem, aos
referenciais que constituem o universo
material e simbólico que estamos
envolvidos.
Fazendo-nos pensar sobre o estado das
coisas que nos rodeiam e sobre os
limites de nossa autonomia, é possível
estabelecer uma ponte também sobre o
poder que o cinema exerce na
sociedade, esta hoje, considerada por
diversos campos do conhecimento,
como marcada por uma cultura audio-
imagética. Não basta afirmar que o
cinema, ou que as imagens, como a
fotografia, as charges, as pinturas, os
outdoors, as campanhas publicitárias,
dentre outras, têm influenciado a
sociedade, que ditam regras, modas,
mudam costumes, vícios, tradições. Faz-
se necessário refletir de que forma isso
se torna possível.
Ao longo do século XX, as sociedades
industrializadas investem no
desenvolvimento de uma cultura de
massas e os novos meios de
comunicação, como o cinema e o rádio,
serão utilizados como armas políticas tão
poderosas quanto qualquer outro
instrumento bélico. Quando o cinema se
desenvolve e se desenvolvem também
as técnicas, sobretudo tendo como pano
de fundo as possibilidades lucrativas do
invento, a sedução às massas se dá a
partir da inserção de temas populares
que teriam uma rápida identificação com
o espectador através das
representações. Nesta perspectiva, o
sistema propagandístico terá seu pilar
calcado na extensão de interesses ligada
à magia, graça e fascínio reelaborados
agora pela arte cinematográfica. Hitler,
por exemplo, utilizou-se bastante dessa
estratégia no processo de hegemonia
nazista na Alemanha na década de
trinta, o que pode ser percebido a partir
da análise das obras financiadas em seu
governo, onde se destaca a
documentarista oficial do partido nazista
Leni Riefenstahl.
Hoje, mesmo cercados por todos os
lados de materiais visuais, ainda são
escassas as formas de leitura dessas
linguagens, até mesmo porque, durante
muito tempo, teóricos de diversas áreas
do conhecimento, negligenciaram as
possibilidades de interpretação da
sociedade por meio de "fontes para além
do papel", algo que já está mudando.
Estarmos atentos às questões
ideológicas presentes nos discursos que
emanam dos materiais visuais é um dos
desafios de nossa época que já
constatou o poderio dessas linguagens,
sem, no entanto, ter desenvolvido
instrumentalizações sofisticadas de
interpretações, afinal, quando e como
ler as imagens e utilizá-las de forma
cognitiva, sobretudo para além do
ambiente acadêmico?
A utilização do cinema na sala de aula e
a incorporação de diferentes linguagens
no processo ensino/aprendizagem, bem
como a existência de cineclubes permite
avanços destas questões.
Não tomar como verdadeiro as
proposições apresentadas pelo mundo
dado, significa estar com uma "farpa na
mente", tal como Morpheu diagnostica o
mal-estar de Neo frente às
incompreensões do mundo instituído da
Matrix. Não podemos esquecer que as
formas de questionamentos da
sociedade que fazemos parte perpassam
também pelas representações visuais
das quais produzimos e consumimos
cotidianamente, e que os exercícios de
desconstrução e dessacralização do
potencial discursivo das imagens,
funciona tal qual um cisco em nossos
olhos, quebrando a calmaria engendrada
por um caleidoscópio, que, a priori,
apresenta-se como ideal, verdadeiro e
conformador.
________________________________
* Leandro Santos Bulhões de Jesus é
graduado em História e mestrando em
Cultura, memória e desenvolvimento
regional - UNEB Campus V.
(e-mail: leocapadocio@yahoo.com.br)
SOPA DE FARPA
Cocina española casera
Por: Las Loras.
Aconteceu de repente:
“Vamos comer amanhã, aí!”
Que almoço agradável! As
coisas e as idéias se fundiram
com mágica. Entradas com
Josefina, farofa, tomates.
Éramos cinco, em volta de
uma mesa no quintal de casa.
Cigarros, cervejas, e (o alecrim é o carro chefe da
Mercedez Soza criaram um
cenário propício para nossas
conversas, atualizações e
risos. Em cima da mesa:
“Cocina española casera”.
Uma deliciosa Carne de
Cerdo (carne de porco). Nos
fez recordar uma cena do
filme VOLVER de Amodóvar.
Na cena, Raimunda cozinha
para um grupo de 30 pessoas
que estavam rodando uma
“película”. Éramos cinco, entre
estudantes e amantes da boa
cozinha, da música e de
filmes que nos inspiram até na
hora de cozinhar. Pensava na
boa cena que ali tínhamos,
nos enquadramentos, em
nossos instantes mais
dramáticos do nosso bate-
papo, no melodrama de
alguns... A arte imitava nossa
vida.
Santo Antonio de Jesus como
todos sabem, é uma cidade
repleta de restaurantes ou de
apenas lugares que se paga
para comer, o que nos obriga
a transformar a casa dos
amigos em espaços de
bebedeira, boemia,
intelectuais e simpatizantes,
adoradores de Baco e de oliva simples
degustadores insaciáveis (o
que é de fácil aceitação por
parte dos donos da casa).
E ai, coitada de mim que sem
grana tenho que alimentar
periodicamente essas mentes
incapazes de desfrutar e até
reconhecer o talento
gastronômico dos emergentes
moradores dessa cidade.
Enfim, sinto-me na obrigação
de passar para os leitores
desse jornal, uma receita
saboreada, lambida,
mastigada e aprovada por
esse grupo tão seleto. Esse
grupo, que são os meus
amigos, esse bando de
insensíveis.
Ai vai a fantástica receita.
Observações valiosas: A
carne de suíno está na moda,
é mais barata que a carne
bovina e, além disso, é
sofisticado saborear bisteca
de porco com ervas finas.
1 kg de costela de porco
1/2 kg de batatas
3 cebolas grandes
3 dentes de alho
Azeite extra virgem ou azeite
Pitadas generosas de alecrim,
tomilho e pimenta calabresa
receita. As demais ervas são
substituíveis ou dispensáveis)
Preparo: Tempere a carne
com tempero pronto pra
carnes. Descasque as batatas
e corte-as em quatro, faça o
mesmo com as cebolas, os
dentes de alho descasque-os
simplesmente. Coloque tudo
em uma assadeira, salpique
as ervas e regue com prazer o
azeite. Asse em forno alto até
que a carne fique dourada, em
um tempo aproximado de 40
minutos. Esta delícia pode ser
acompanhada de arroz e
farofa, muito prático!
Dica: saboreiem prazerosamente
depois de um sexo, monogâmico,
à dois ou grupal, de acordo a sua
preferência.