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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N.O 06333/03

Objeto: Verificação de Cumprimento de Acórdão


Relator: Auditor Renato Sérgio Santiago Melo
Responsável: Gildivan Lopes da Silva
Advogados: Dr. Johnson Gonçalves de Abrantes e outros

EMENTA: PODER EXECUTIVO MUNICIPAL - ADMINISTRAÇÃO


DIRETA - DENÚNCIA - REALIZAÇÃO DE DESPESAS SEM A EFETIVA
COMPROVAÇÃO DOS SERVIÇOS CONTRATADOS - IMPUTAÇÃO DE
DÉBITO E APLICAÇÃO DE PENALIDADE - FIXAÇÕES DE PRAZOS
PARA RECOLHIMENTOS - VERIFICAÇÃO DE CUMPRIMENTO DE
DECISÃO - Indícios de fraude na restituição do valor imputado -
Ausência de pagamento da multa - Não cumprimento do aresto.
Remessa dos autos à Corregedoria da Corte para a adoção de
providências.

Vistos, relatados e discutidos os autos da Verificação de Cumprimento do Acórdão


APL - TC - 470/04, de 18 de agosto de 2004, publicado no Diário Oficial do Estado do dia 09
de setembro do mesmo ano, exarado quando da análise de denúncia formulada pela
Sra. Dvani Leite Ferreira, Vereadora do Município de São José de Caiana/PB, em face da
administração do Prefeito da Comuna, Sr. Gildivan Lopes da Silva, acordam, por
unanimidade, os Conselheiros integrantes do TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA
PARAÍBA, em sessão plenária realizada nesta data, na conformidade da proposta de decisão
do relator a seguir, em:

1) CONSIDERAR NÃO CUMPRIDO o referido aresto.

2) REMETER os autos à Corregedoria deste Sinédrio de Contas para a adoção das seguintes
providências:

a) REPRESENTAR ao Procurador-Geral do Estado, Dr. Harrison Alexandre Targino, e à


Procuradora-Geral de Justiça, Ora. Janete Maria Ismael da Costa Macedo, acerca do não
recolhimento pelo Prefeito Municipal de São José de Caiana/PB, Sr. Gildivan Lopes da Silva,
dos valores relativos ao débito de R$ 6.552,00 (seis mil, quinhentos e cinqüenta e dois reais)
e à multa de R$ 1.000,00 (um mil reais), cominados no supracitado aresto; e

b) OFICIAR ao substituto do Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba,


Dr. José Martinho Lisboa, então relator do Processo n.o 999.2006.000427-5/001, a respeito
da conduta implementada pelo Chefe do Poder Executivo de São José de Caiana/PB,
Sr. Gildivan Lopes da Silva, encaminhando cópia da presente decisão ao ilustre magistrado.

Presente ao julgamento o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas


Publique-se, registre-se e intime-se.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 06333/03

TCE - Plenário Ministro João Agripino

João Pessoa, j q de :'OI (Vi 0 () de 2008

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Auditor R~n to Si~i~(1~~b~'Melo


Relator

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Fui Presente / .+-'L ~.~ ./
Representantedo Ministério Público Especialç--
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N.O 06333/03

Trata-se da Verificação de Cumprimento do Acórdão APL - TC - 470/04, de 18 de agosto de


2004, fls. 55/59, publicado no Diário Oficial do Estado do dia 09 de setembro do mesmo ano,
fl, 60, lavrado quando da análise da denúncia formulada pela Sra. Dvani Leite Ferreira,
Vereadora do Município de São José de Caiana/PB, em face da administração do Prefeito da
Comuna, Sr. Gildivan Lopes da Silva.

In limine, é importante realçar que este ego Tribunal, através do mencionado aresto,
considerou procedente a denúncia formulada pela representante do Poder Legislativo e
decidiu: a) imputar o débito de R$ 6.552,00 ao Alcaide, referente à realização de despesas
sem a efetiva comprovação dos serviços contratados; b) fixar o prazo de 60 (sessenta) dias
para o recolhimento voluntário do citado valor aos cofres públicos municipais; c) aplicar
multa à referida autoridade, no montante de R$ 1.000,00; d) assinar o lapso temporal de 60
(sessenta) dias para o pagamento da penalidade ao Fundo de Fiscalização Orçamentária e
Financeira Municipal; e) fazer recomendações ao Chefe do Poder Executivo da Comuna;
f) remeter cópia dos autos à Procuradoria Geral de Justiça do Estado da Paraíba; e g) enviar
cópia da decisão aos interessados, à Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba e à
Diretoria de Auditoria e Fiscalização desta Corte.

Em seguida, o então Subprocurador-Geral de Justiça do Estado da Paraíba, Dr. Doriel Veloso


Gouveia, mediante o Ofício n.O 437/2005jCCIA, fl. 70, solicitou cópia da Notas de Empenhos
n.? 1261 e 1262, emitidas no exercício financeiro de 2003, relativas à despesa para
recuperação de banheiros e muradas das escolas municipais, objeto da denúncia em
comento. Em resposta, o Conselheiro Corregedor deste Sinédrio de Contas, Dr. Flávio Sátiro
Fernandes, encaminhou reprodução do registro constante no balancete do mês de
julho/2003 do Poder Executivo de São José de Caiana/PB, fl. 71.

Ato contínuo, o Prefeito, Sr. Gildivan Lopes da Silva, apresentou documentos, fls. 72/79,
onde comunica o recolhimento, em 11 de outubro de 2004, da quantia a ele imputada,
R$ 6.552,00, anexando, inclusive, comprovante de depósito bancário, fl. 75.

Logo depois, o Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, Dr. José


Martinho Lisboa, encaminhou a esta Corte o Ofício n.O 2.341/2007, fl. 80, datado de 14 de
março de 2007, solicitando que lhe fosse informado se a multa imposta ao Chefe do Poder
Executivo de São José de Caiana/PB foi recolhida pelo Alcaide ou pelo Município. O pedido
foi reiterado através do Ofício n.O 5.038/2007, de 29 de maio do mesmo ano, fl. 86-A.

Ultrapassados mais de dois anos do trânsito em julgado da decisão, a Corregedoria deste


Tribunal realizou inspeção in loco na Comuna no período de 09 a 14 de abril de 2007,
constatando, conforme relatório técnico de fls. 202/204, que: a) foi contabilizada no
balancete mensal de outubro/2004 uma receita sob o título de OUTRAS RESTITUIÇÕES, na
importância correspondente ao débito imputado ao Sr. Gildivan Lopes da Silva, R$ 6.552,00,
fI. 89; b) este valor foi depositado na CONTA CORRENTE N.o 10.480-9 pertencente
Município de São José de Caiana/PB, em 11 de outubro de 2004, fl. 112; c) a quan
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porém, foi retirada, na mesma data, da CONTA CORRENTE N.o 10.812-X, também
pertencente à Urbe, fi. 113/ indicando a possibilidade de utilização de verbas municipais para
a quitação do débito imputado ao gestor; d) embora solicitado, não foi apresentado nenhum
documento que comprovasse a autoria do suposto depósito; e e) quanto à multa de
R$ 1.000/00/ também não foi disponibilizado nenhum comprovante que atestasse o seu
efetivo pagamento.

Seguidamente, o Conselheiro Corregedor deste Pretório, em atendimento às solicitações


feitas pelo Tribunal de Justiça da Paraíba - TJ/PB, encaminhou cópia do relatório da
Corregedoria desta Corte ao Desembargador José Martinho Lisboa, f!. 205.

Devidamente notificado, fls. 207/211/ 213/218 e 220/223/ o Prefeito do Município de São


José de Caiana/PB, Sr. Gildivan Lopes da Silva, deixou o prazo transcorrer in a/bis.

Encaminhado o feito ao Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, este emitiu o parecer
de f!. 225 (anverso e verso), no qual pugna pela: a) declaração de não cumprimento das
determinações contidas no Acórdão APL - TC - 470/04/ fls. 55/56/ pelo Sr. Gildivan Lopes da
Silva, Prefeito de São José de Caiana; e b) representação, através da Corregedoria desta
Corte de Contas, à Procuradoria-Geral do Estado e ao Ministério Público Comum, acerca do
não recolhimento, pelo interessado, dos valores relativos ao débito de R$ 6.552/00 e à multa
pessoal de R$ 1.000/00/ cominados em sede do mencionado aresto.

Solicitação de pauta, conforme fls. 226/227 dos autos.

É o relatório.

Compulsando os autos, constata-se que o Acórdão APL - TC - 470/04 não foi cumprido pelo
Prefeito Municipal de São José de Caiana, Sr. Gildivan Lopes da Silva, fls. 202/204. Com
efeito, no tocante ao débito imputado, R$ 6.552/00/ verificou-se que, no mês de outubro de
2004/ foi contabilizada uma receita, a título de OUTRAS RESTITUIÇÕES, no valor
correspondente, f!. 89. Entretanto, mediante análise dos extratos bancários, observou-se
que, em 11 de outubro de 2004/ a referida quantia foi retirada da CONTA CORRENTE
N.o 10.812-X (FPM) e depositada na CONTA CORRENTE N.O 10.480-9 (DIVERSOS), ambas
pertencentes ao referido Município, indicando a possibilidade utilização de verbas municipais
para a quitação do débito imputado ao gestor, fls. 112/113. É importante frisar que, embora
tenha sido solicitado pelos técnicos desta Corte, não foi apresentado nenhum documento
capaz de identificar a origem e autoria do suposto pagamento.

No que respeita à penalidade imposta ao Alcaide, na importância de R$ 1.000/00/ inexiste


nos autos comprovante do seu efetivo recolhimento aos cofres do Fundo de Fiscalização
Orçamentária e Financeira Municipal, conforme previsto no art. 3°/ alínea "a", da .
Estadual n.O 7.201/ de 20 de dezembro de 2002/ in verbis:
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Art. 3°. São recursos do Fundo:

a) o produto das multas aplicadas pelo Tribunal a seus jurisdicionados;

Diante do exposto e comungando com o entendimento do Ministério Público Especial, fI. 225
(anverso e verso), vislumbra-se in casu a possibilidade de representação, também conhecida
como representação administrativa, através da qual se comunica formalmente
irregularidades ou abusos de poder na prática de atos da Administração à autoridade
competente para conhecer e coibir a ilegalidade apontada. Ademais, cabe destacar que a
referida prerrogativa foi conferida não só aos Tribunais de Contas, mas a todo e qualquer
cidadão, conforme estabelecido no art. 5°, inciso XXXIV, alínea "a", e no art. 71, inciso XI,
da Carta Magna, verbum pro verbo:

Art. 5° (omissis)

1-( ...)

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de


taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra


ilegalidade ou abuso de poder;

...
( )

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido


com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:

1-( ...)

XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos


apurados.

Trata-se de obrigação constitucional cuja finalidade é efetivar a tão almejada harmonia entre
os Poderes do Estado (art. 2°, CF). Portanto, diante de máculas apuradas na apreciação do
presente feito, cabe a este Colegiado de Contas dar ciência, necessariamente, aos órgãos
estaduais para a adoção das medidas pertinentes, notadamente, ao Ministério Público
Comum e ao Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, tendo em vista que os fatos podem
caracterizar o cometimento de ilícitos penais.

Neste sentido, merece transcrição os ensinamentos do festejado doutrinador Hely Lopes


Meirelles, in Direito Administrativo Brasileiro, 28a ed., São Paulo, Malheiros, 2003, p. 64?, "

ipsis litteris: .
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PROCESSOTe N.o 06333/03

o direito de representar tem assento constitucional e é incondicionado,


imprescritível e independe do pagamento de taxas (CF, art. 50, XXXIV, "a'').
Pode ser exercitado por qualquer pessoa, a qualquer tempo e em quaisquer
circunstâncias: vale como informação de ilegalidades, a serem conhecidas e
corrigidas pelos meios que a Administração reputar convenientes. Como não
se exige qualquer interesse do representante para exercitar o direito público
de representação, não se vincula o signatário da denúncia ao procedimento
a que der causa, mas poderá ser responsabilizado civil e criminalmente por
quem for lesado pela falsidade da imputação.

Ante o exposto, proponho que o TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA PARAÍBA:

1) CONSIDERE NÃO CUMPRIDO o Acórdão APL - TC - 470/04.

2) REMETA os autos à Corregedoria deste Sinédrio de Contas para a adoção das seguintes
providências:

a) REPRESENTAR ao Procurador-Geral do Estado, Dr. Harrison Alexandre Targino, e à


Procuradora-Geral de Justiça, Dra. Janete Maria Ismael da Costa Macedo, acerca do não
recolhimento pelo Prefeito Municipal de São José de Caiana/PB, Sr. Gildivan Lopes da Silva,
dos valores relativos ao débito de R$ 6.552,00 (seis mil, quinhentos e cinqüenta e dois reais)
e à multa de R$ 1.000,00 (um mil reais), cominados no supracitado aresto; e

b) OFICIAR ao substituto do Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba,


Dr. José Martinho Lisboa, então relator do Processo n.O 999.2006.000427-5/001, a respeito
da conduta implementada pelo Chefe do Poder Executivo de São José de Caiana/PB,
Sr. Gildivan Lopes da Silva, encaminhando cópia da presente decisão ao ilustre magistrado.
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