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REGIS TOCACH
CURITIBA
2009
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REGIS TOCACH
CURITIBA
2009
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................... 01
1. Metodologias empregadas .................................................................. 05
2. Introdução ao desenvolvimento sustentável e ao conceito de inovação
.................................................................................................................. 07
2.1 Ciência .................................................................................. 08
2.2 Tecnologia ........................................................................... 13
2.3 Inovação ............................................................................... 17
2.4 Desenvolvimento .................................................................. 24
Introdução
1. Metodologias empregadas
2001, p. 24). Ou seja, o que Celso Furtado afirma 25 anos antes continua se
repetindo como um dos alicerces da economia capitalista, a inovação
tecnológica, o esgotamento das tecnologias e o desenvolvimento econômico
serão condições necessárias para que o capitalismo se renove e continue em
processo crescente.
A descrição da dinâmica tecnológica e do processo de
desenvolvimento gerado pela criação e aplicação das inovações tecnológicas
será o ponto inicial desta dissertação. Com tal procedimento se pretende
consolidar a temática através de um corpo conceitual sólido e homogêneo para
que, somente após esta fase inicial, se possa confirmar ou não as hipóteses
acima apresentadas como possíveis para o problema proposto.
A formação do processo de desenvolvimento local sustentável através
da criação, aplicação e substituição de inovações tecnológicas depende da
definição clara do que será considerado inovação, do que será considerado
ciência, o que será considerado tecnologia e, principalmente, o que se
considerará desenvolvimento para os fins acima propostos.
Portanto, para se caracterizar esse processo contínuo de formação e
superação de barreiras, de inclusão e abandono de inovações tecnológicas, se
faz necessário definir quais serão os limites de entendimento de cada um
desses conceitos de ciência, tecnologia, inovação e desenvolvimento, sob pena
de se formar a vã expectativa de se analisar o problema sob enfoques que não
se mostram adequados para os objetivos e as hipóteses perseguidos.
2.1. Ciência
2.2. Tecnologia
2.3. Inovação
Para que a idéia de um novo produto ou processo inventado passe a ser uma
inovação, é necessário que seja colocado à disposição do mercado e principalmente
usado por ele. A criatividade de um invento ou o valor de uma descoberta não
garante o seu êxito como inovação. Para tanto, as possibilidades técnicas abertas
pela nova idéia devem ser associadas à criação de oportunidades de mercado. Se
essa combinação não for corretamente estimada ou calculada pela empresa, a sua
iniciativa pode resultar em completo fracasso (REIS, 2004, p. 43-44).
2.4. Desenvolvimento
... o que caracteriza uma economia dependente é que nela o progresso tecnológico é
criado pelo desenvolvimento, ou melhor, por modificações estruturais, que surgem
inicialmente do lado da demanda, enquanto que nas economias desenvolvidas o
progresso tecnológico é, ele mesmo, a fonte do desenvolvimento. De uma
perspectiva mais ampla, cabe reconhecer que o desenvolvimento de uma economia
dependente é o reflexo do progresso tecnológico nos pólos dinâmicos da economia
mundial. Contudo, convém assinalar que o elemento dinâmico não é a irradiação do
progresso tecnológico, e sim a deslocação da curva da demanda. Desta forma, do
ponto de vista do país dependente, o desenvolvimento surge como uma modificação
na estrutura produtiva. (FURTADO, 1975, p. 134-135)
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tem características especiais e, na maioria das vezes, únicas, o que, por si só,
garante uma condição de privilégio e de vantagem comparativa, e,
principalmente, consolida uma nova concepção: da tecnologia ser resultado de
um processo cumulativo não linear multidimensional e irreversível, um legítimo
processo na acepção técnica do termo.
Em outras palavras, a tecnologia passa a ser compreendida como uma
processo multidimensional irreversível, inexorável, e a busca incessante pela
proteção de privilégios ou de exclusividades por longos períodos torna-se
incompatível com as novas necessidades do público consumidor e com a nova
velocidade dos ciclos de produtos, cada vez menores e mais acelerados. A
maximização da lucratividade com a inovação e com o avanço tecnológico
passa a ser dar com a difusão controlada e supervisionada da tecnologia
àqueles que até então eram os principais rivais e concorrentes na busca da
condição de líder de mercado, mas que agora passam a ser consumidores de
tecnologia e recompensar de forma consideravelmente maior o criador da
tecnologia ou da inovação através de contratos de transferência de tecnologia,
notadamente de licenciamento de uso e emprego de know-how.
Com tal desenvolvimento da nova concepção tecnológica e de
inovação, a relação deixa de ser entendida como um relacionamento de mera
compra e venda de tecnologia firmada entre duas ou mais empresas
interessadas em melhorar suas capacidades de produção ou incrementar seus
produtos para garantir-lhes melhores posições mercadológicas. A fronteira
tecnológica passa a ser representada pela posição nacional de
desenvolvimento, suplantando a anterior concepção de serem as empresas
nacionais integralmente responsáveis pelo avanço em tecnologia e inovação. A
concepção de capacidade tecnológica de cada país torna-se um referencial
importante e o novo fluxo de tecnologia passa a ser uma oportunidade para os
países periféricos e semi-periféricos alcançarem níveis de produtividade e de
concentração tecnológica que não seriam capazes de fazer por conta própria.
É exatamente o que Glauco ARBIX descreve quando diz que
fluxo de tecnologia mundial, feito entre suas próprias unidades, sucursais, filiais
ou subsidiárias.
implicações, a tecnologia podia ser vista como uma atividade rotineira sempre que as
implicações fossem deduzidas e compreendidas.
Qualquer inovação tecnológica poderia ser seguida no tempo a ser compreendida
como uma conseqüência lógica da mais recente teoria científica ou descoberta feita
nessa linha de desenvolvimento. O período entre teoria e inovação, o chamado
intervalo entre a pesquisa fundamental e a sua aplicação prática, podia ser usado
como um parâmetro para avaliar a eficácia ou a ineficácia tecnológica (REIS, 2004, p.
62).
O risco de não inovar é difuso e praticamente impossível de ser calculado. Por isso,
não inovar não tem custos financeiros. Mas quando a empresa que
conservadoramente não inovou se deparar com novas condições de mercado,
estruturadas pelas empresas que o fizeram, raramente conseguem adaptar-se a tais
condições dentro do tempo definido pelo mercado. Tendem a perder posições de
mercado, e por vezes seus capitais anteriormente acumulados.
O risco de inovar é mais definível e, embora difícil, é mais calculável. Mas, por isso
mesmo, o investimento necessário para inovar desde logo aparece como custo
financeiro e só eventualmente como benefício a ser apropriado. Isto de fato tem um
certo efeito paralisante ou conservador. Mas quando a clientela sanciona por meio do
mercado a inovação, os benefícios para a empresa inovadora tendem a ser bastante
recompensadores (PASSOS, 2002, p. 20).
A trama está integrada, assim, por agentes localizados num plano “micro” e pelo
conjunto de relações formais e informais que incluem transferência de informação,
conhecimentos e tecnologia em sentido amplo. Seus traços específicos são
influenciados pelo grau de desenvolvimento de competências técnicas e
organizacionais das firmas, pela complexidade alcançada no seu vínculo, pelo tipo de
instituição que age no entorno dos agentes pela sinergia dos ambientes (sistemas
locais) nos quais operam e pelo marco regulador macrossetorial e macroeconômico.
O conceito de trama produtiva faz referência, assim, a um amplo conjunto de
situações caracterizadas pela existência de fluxos muito desiguais de relações
“preço” e “não-preço” entre seus componentes. Isso significa que as relações de
compra e venda entre os agentes, embora constituam uma condição necessária, não
são elementos mais importantes, como na relação entre insumo e produto tradicional
(YOGUEL et alli, 2001, p. 37-38).
Tal concepção deve ser vista com parciais reservas, pois conforme
descrito acima, a atual Sociedade do Conhecimento e suas novas formas de
cooperação e competição entre empresas tornam o ciclo de produtos e
serviços tão rápido e curto que o patenteamento e a publicação da pesquisa
científica por vezes podem inviabilizar a agilidade necessária ao processo
como um todo. Nos novos moldes da prática comercial e industrial, em que as
empresas tenderão a estabelecer relação formais e materiais de cooperação, a
proteção da propriedade imaterial representada pelo know-how, pelas marcas,
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Se seu cliente precisa de uma tecnologia agora, adquira-a – não a crie. (...) em um
mercado de alto crescimento, a aquisição pode criar uma fatia maior para ambos os
envolvidos. (...) se houver incerteza substancial sobre como um setor evoluirá, aposte
com cuidado em mais de uma possibilidade (COHAN, 1998, p. 94).
Ou seja, conforme dito acima, muito mais eficaz que formar um exército
de mão-de-obra qualificada excedente, é fundamental que se forme um novo
quadro de empresários e empreendedores atentos à nova realidade da
Sociedade do Conhecimento. E com empresários e empreendedores atentos a
tais especificidades será necessária a alteração do atual perfil de nossos
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Para os países que ainda não estão na vanguarda, é geralmente mais prático adquirir
novos conhecimentos e tecnologia em vez de inventá-los. A transferência de
tecnologia pode ser realizada de diversas formas: investimento direto estrangeiro;
licenciamento, assistência técnica; tecnologia embutida em bens, componentes ou
produtos de capital; cópia e engenharia reversa; estudos no exterior; informações
técnicas publicadas, especialmente na Internet; twinning (liderança compartilhada
entre um país desenvolvido e outro emergente); parcerias para treinamento
cooperativo; aprendizagem a distância; e outras mais (RODRIGUEZ et alli, 2008, p.
33).
A base produtiva brasileira é, por decisões tomadas nos anos 1950, fortemente
“multinacionalizada”. Empresas estrangeiras foram atraídas para explorar o mercado
interno brasileiro, e não para que se tornassem bases de importação, ou para que
desenvolvessem, aqui, novos produtos. A pesquisa, o desenvolvimento e parte
substancial da engenharia localizavam-se (e localizam-se) no exterior. Estimular
inovação não era política pública no arranque da industrialização posterior à Segunda
Guerra Mundial. As políticas os anos 1960/1970 reforçam o quadro com mercados
fechados, altas taxas de importação, financiamento facilitado para construção de
fábricas, e Lei do Similar Nacional para induzir a fabricação local, mas não
necessariamente incentivaram o projeto local do produto (SALERNO, KUBOTA, 2008,
p. 31).
Rodovia BR-116 que cruza a cidade de norte a sul e que seria no futuro
transformada em uma avenida de integração viária importante.
Desse modo as montadoras foram instaladas em áreas privilegiadas,
com amplo acesso aos principais eixo rodoviários do Estado, com acesso
direto ao Porto de Paranaguá e ao Aeroporto Afonso Pena e a distância
desprezível do centro da cidade de Curitiba e de sua Cidade Industrial que
ainda poderia absorver grandes parte dos pequenos e médios fornecedores de
tais montadoras.
Além das vantagens locacionais o Estado do Paraná ofereceu
facilidades e incentivos fiscais, além da mão-de-obra barata e altamente
qualificada já formada durante os últimos 20 (vinte) anos pós instalação da
Cidade Industrial de Curitiba.
Com a conjugação de tais fatores se formou a condição ideal de
instalação das montadoras transnacionais que rapidamente constituíram suas
tramas produtivas que IGLIORI irá caracterizar e definir como o “terceiro tipo de
cluster”:
modo que, na grande maioria dos casos, não se verifica algo muito maior que
uma rede de desenvolvimento em que nem sempre se terá uma relação ganha-
ganha que seria o início da consolidação de um sistema de cooperação mais
aprimorado.
O caso ora analisado, da montadora RENAULT em São José dos
Pinhais, foi escolhido por ter sido o primeiro dessa nova fase de consolidação
do Pólo Automotivo da Região Metropolitana de Curitiba e serviu de modelo
para as demais montadoras, a saber, VOLKSWAGEN-AUDI em São José dos
Pinhais e DODGE-CHRYSLER em Campo Largo.
Muitas das regras de atração e de incentivo foram criadas ad hoc
especialmente para servir ao processo de instalação da RENAULT e foram
aproveitadas pelo governo do Estado do Paraná para os demais processos,
servindo de balizamento para o acirramento da guerra fiscal deflagrada entre
os Estados brasileiros (ARBIX, 2001, p. 280).
rodoviários e ferroviários, assim como uma área exclusiva para a empresa no porto
de Paranaguá. O suprimento de energia seria feito a uma taxa 25% inferior à
praticada pelo marcado. Do capital investido, 40% (com um teto de US$ 300 milhões)
seriam de responsabilidade do estado do Paraná. Os empréstimos oficiais à Renault
seriam vinculados aos níveis de produção da empresa, não teriam correção
inflacionária e começariam a ser pagos dez anos depois de iniciadas as operações. A
Renault ainda receberia isenção de impostos locais por dez anos, assim como todos
os fornecedores que viessem a se instalar na área – que, diga-se de passagem, é de
proteção ambiental (ARBIX, 2001, p. 280).
(d) a RENAULT S/A, graças à tecnologia de ponta e aos conhecimentos técnicos por
ela desenvolvidos, conquistou renome mundial no campo da criação, fabricação e
comercialização de veículos automotores, tecnologia e conhecimentos técnicos estes
que ela transferirá à RENAULT DO BRASIL para a realização de seu objeto, por força
principalmente da concessão de licenciamentos a serem contratados entre essas
últimas;
5.3. – Por outro lado, a RENAULT S.A. cuidará para que a RENAULT DO BRASIL
participe de programas de formação técnica no campo que lhe diz respeito, junto com
institutos e universidades especializadas do ESTADO DO PARANÁ, transmitindo-lhes
seus conhecimentos técnicos.
... que define a condição hegemônica dos Estados e empresas, pois é por seu
intermédio que se impõem os padrões gerais de reprodução e multiplicação da
acumulação. Se ela puder combinar-se com a ampla disponibilidade de força de
trabalho e de matérias-primas estratégicas, está completada uma condição central
para o exercício de hegemonia (DUPAS, 2001, p. 21)
Ou seja, reitera-se aquilo que ERBER (2004, p. 43) deixa claro em seu
discurso: sem estimulo oficial as empresas optarão pela importação de
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O mundo cambiante não será compreendido em sua dinâmica a partir das premissas
do modo clássico de geração de conhecimento, cujas “regras do jogo” forjou uma
ciência para a sociedade praticada longe do escrutínio público e da participação
cidadã. Na lógica excludente do modo clássico, uns geram, outros transferem e
adotam, sem interação crítica entre estes atores para assegurar a relevância do
processo, seus produtos e impactos. Só uma ciência da sociedade facilita a
construção de um futuro melhor para todas as formas de vida no planeta (SOUZA
SILVA, 2004, p. xii).
6. Considerações finais
residuais dessas nações se justifica na falta de ação própria das nações que
aguardam um salto tecnológico ou algum outro acontecimento especial e
imprevisível para o progresso científico nacional e, também, na ação das
nações do núcleo orgânico que possuem interesse na manutenção do status
quo.
Portanto, a falta mais grave do Estado torna-se a omissão, sua falta de
ação em direção ao desenvolvimento tecnológico, a ausência de incentivo e
estímulo à produção local de inovações e a falta de controle e domínio sobre as
tecnologias transferidas. Aqui reside a falta grave do Estado do Paraná no caso
analisado de implantação da RENAULT no pólo automotivo da Região
Metropolitana de Curitiba.
A implantação, a conformação da trama produtiva, a consolidação da
RENAULT como empresa-rede foram realizadas dentro da esperada
normalidade e da necessária agilidade de um ramo de alto dinamismo, o
processo de desenvolvimento local foi deflagrado com a considerável inversão
de capital e a geração de milhares de empregos diretos e indiretos, porém, o
processo não atingiu sua plenitude.
Não atingiu sua plenitude porque o Estado do Paraná deixou de exigir
uma política clara e deixou de definir condições específicas para a
transferência e o controle da tecnologia recebida pela subsidiária nacional.
A lógica econômica efetivamente suplantou a lógica tecnológica no
caso analisado, ainda que a lógica tecnológica tivesse sido utilizada como
legitimadora de toda a guerra fiscal deflagrada pelo Estado do Paraná,
tornando sem sentido e sem propósito a considerável quantidade de incentivos
oferecidos para a atração e retenção dos investimentos estrangeiros.
Perdem-se oportunidades e o Estado brasileiro ainda trata a tecnologia
importada como fazia na época do ciclo da substituição de importações, com o
agravante de já possuir um parque industrial consolidado que necessita de tais
inovações e novos processos inovadores para manter-se competitivo.
As tendências de concentração de empresas, a criação de pequenas e
médias empresas de base tecnológica, a formação de novos processos
adequados às novas demandas e a adequação ao ritmo do fluxo de
informações e tecnologias na Sociedade do Conhecimento não mais permitem
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Referências Bibliográficas
ARBIX, G. Desenvolvimento regional e guerra fiscal entre Estados e Município
no Brasil. In: Nadya de Araújo Guimarães e Scott Martin (orgs.).
Competitividade e Desenvolvimento: atores e instituições locais. São Paulo:
SENAC São Paulo, 2001.
_______. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Nacional, 2005.
108
SANTOS, M., et al. Fim do século e globalização. 3. ed. São Paulo: Hucitec-
Anpur, 1997a.