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Assunto: Editorial

Título: 1q As metas do milênio/Editorial


Data: 22/02/2009
Crédito: Visão do Correio

Visão do Correio
Na série de cinco reportagens deste jornal sobre a posição do Brasil em relação ao Objetivo de
Desenvolvimento do Milênio (ODM), coexistem dados positivos e negativos. Conforme
compromisso firmado com a Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000, as nações filiadas ao
organismo mundial assumiram o compromisso de erradicar situações de risco às populações e dar-
lhes acesso a padrões dignos de sobrevivência. Ou melhor, resgatar contingentes humanos atirados
aos mais baixos níveis da condição social.
A importância do levantamento não reside apenas em retratar os resultados até agora obtidos para
atender ao pacto firmado com a ONU, cuja execução deverá ocorrer até 2015. Serve, acima de tudo,
como advertência aos gestores públicos — federal, estaduais e municipais — sobre o esforço que
deverão realizar para cumprir as metas estabelecidas no ODM. Nação candidata a ingressar no
clube dos países desenvolvidos, cabe ao Brasil cota de responsabilidade compatível com o potencial
econômico.
No plano da educação, o desempenho brasileiro, malgrado ainda insuficiente, avançou de modo
significativo em algumas áreas. Destaca-se a inclusão no sistema de ensino, nos últimos 10 anos, de
97,69% de crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos. No quesito, o país está bem próximo de
alcançar a meta do milênio. Mas, no tocante à universalização da instrução, ainda tem longo
caminho a percorrer: há no Brasil 14,6 milhões de analfabetos. Difícil honrar até 2015 o acerto com
a ONU.
Quanto às políticas de saúde pública, a despeito dos obstáculos ainda não superados no
funcionamento do Sistema Único de Saúde, um dado é expressivo da luta empreendida para reverter
o quadro adverso. A taxa de mortalidade infantil caiu em 50% desde as ações desenvolvidas pelo
governo a partir de 1990. Registre-se a precariedade da assistência médico-hospitalar nas
comunidades mais remotas do país. No geral, muita energia deverá ser despendida pelos entes
oficiais para atender às recomendações da ONU.
Um dos pontos destacados pelo ODO refere-se ao tratamento igualitário entre homem e mulher.
Malgrado a inexistência de estatísticas com percentuais precisos, sabe-se que o problema é sério no
Brasil. Inquéritos sociais testemunham, pelo menos, que, no âmbito das empresas privadas, a
remuneração paga à trabalhadora é, de regra, menor do que a destinada ao homem. Conforta,
porém, saber que, no particular, o Brasil se encontra em boa companhia. No Estados Unidos, a
desigualdade tem a mesma dimensão.
Das conjunturas sociais graves renitentes no Brasil, a falta de saneamento básico ocupa posição
exponencial. Nada menos de 34,5 milhões de brasileiros não são servidos por sistemas de
esgotamento sanitário. É questão que não será resolvida até 2015. Que o levantamento do atraso do
país em relação ao cumprimento das metas do milênio desperte mais dinamismo dos órgãos
governamentais no sentido de implementá-las.

Nos últimos 20 anos, o Brasil conseguiu dar um salto no acesso ao ensino fundamental. Se em 1992
o percentual de crianças de 7 a 14 anos que frequentavam a escola era de 81,4%, o índice, em 2007,
subiu para 97,6%. Com esse ritmo de crescimento, tanto o governo federal quanto as Nações Unidas
e as organizações da sociedade civil envolvidas não têm dúvidas de que, provavelmente antes de
2015, o país atingirá o segundo objetivo do milênio estipulado pela ONU: universalizar a educação
primária. Mas, na segunda reportagem da série sobre o monitoramento das metas, o Correio mostra,
com base em dados oficiais, que o tamanho do desafio é maior do que parece.

“O país está perto de atingir os objetivos 1, 2, 3 e 6 (erradicar a fome, promover acesso universal à
educação primária, promover a igualdade entre os sexos e combater o HIV/Aids e outras doenças)

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em termos de média. Mas, se olharmos cada município, vemos que há muito trabalho a ser feito.
Não podemos ficar satisfeitos com a média”, diz Márcio Fávilla, secretário-executivo da Secretaria
de Relações Institucionais da Presidência da República.

A coordenadora do programa de educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef),
Maria de Salete Dias, diz que as Nações Unidas também não se contentam com médias. “É um
conceito que esconde, não permite identificar os problemas. Puxa para cima quem está ruim e para
baixo quem está bem”, diz. O Acre, por exemplo, sequer chegou aos 90%. Tem a pior cobertura do
país: em 2007, somente 88,6% das crianças de 7 a 14 anos estavam na escola. Já Santa Catarina é a
unidade da Federação mais próxima de alcançar o objetivo do milênio. A taxa líquida de matrícula
no ensino fundamental é de 96,7%.

Maria de Salete Dias também lembra que, para um país grande como o Brasil, qualquer índice que
não seja 100% é insuficiente. “Os nossos 2% são maiores que os 2% dos outros. Representam 680
mil crianças fora da escola”, diz, referindo-se ao número que falta para o país, de fato, universalizar
o acesso ao ensino fundamental. “Mas só quem vai poder identificar quem são essas crianças, por
que estão nessa situação e como fazer para levá-las para a escola são os municípios. Os governos
federal e estaduais não podem, por si só, fazer isso. Para mim, esse deve ser o desafio maior e mais
nobre dos prefeitos que assumiram neste ano: não deixar uma criança sequer fora da escola.”

Insatisfação
As estatísticas da universalização também não bastam para Ana Rosa Soares, oficial de avaliação e
monitoramento de ODMs do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no
Brasil. “Universaliza a matrícula, e aí? Mede-se só a entrada, o registro. Não se mede se a criança
continua na escola. Quando se analisa outros dados, vemos que o índice de distorção idade/série é
assustador”, afirma.

Natural de Pirapora (MG), Moacir Rosa da Fonseca, 17 anos, entra para as estatísticas da defasagem
escolar. Pela idade, deveria estar no último ano do ensino médio. Porém, ainda frequenta a 8ª série
do ciclo fundamental. O morador da comunidade rural de Curralinho, a 30km do Plano Piloto,
reprovou na 3ª, na 4ª e na 5ª séries. Sempre em matemática, matéria que mais tem dificuldade. O
jovem, que nunca viu de perto um computador com internet, garante que a escola é boa, e joga a
culpa na falta de atenção. Ele garante que quer ser o primeiro da família de lavradores a conseguir
um diploma de curso superior. Mas sabe que haverá muitas dificuldades. “Se eu passar para o
ensino médio vai ser meio complicado continuar estudando. Porque, aí, vou ter de comprar
passagem e o dinheiro não dá.”

Cruzamentos de estatísticas feitos pelo Pnud mostram o quanto a renda influencia na distorção
idade/série. Nos municípios com maior proporção de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, o
índice chega a 48,2%. Já naqueles com menos pessoas com renda per capita familiar de até meio
salário mínimo, a taxa é de apenas 15,1%. No Nordeste, 72% dos municípios registram defasagem
escolar acima de 40% no nível fundamental. No Sul, a proporção decresce drasticamente: apenas
0,3% das cidades encontram-se nessa situação.

Para Maria de Salete Dias, porém, as políticas públicas do Ministério da Educação estão em
sintonia com o problema. Ela conta que um estudo ainda inédito do Unicef vai mostrar que a maior
parte dos recursos voluntários da pasta são destinadas às cidades mais pobres. Outro acerto, aponta,
é a transferência de verba direcionada às reais necessidades dos municípios que, hoje, podem eleger
suas prioridades, em vez de receber o dinheiro já predestinado. Mesmo assim, afirma: “Temos todas
as condições de atingir a meta da universalização. Mas a de qualidade, não. O país tem um enorme
desafio pela frente”.

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A reconstrução de Ananindeua

Em dezembro de 2004, a rede pública de Ananindeua, na região metropolitana de Belém (PA), não
tinha currículo próprio, apresentava índices de baixa qualidade no ensino fundamental e apresentava
um déficit de 90% na oferta de vagas da educação infantil. No ano seguinte, a prefeitura decidiu
reestruturar a educação na cidade. Lançou o programa Escola Anani — Escola Cidadã, com
objetivo de promover a inclusão social por meio da democratização do ensino.

As vagas na educação infantil foram ampliadas e foi instituído um programa de formação


continuada para os professores, além de o município ampliar os espaços de arte, cultura e lazer. As
escolas foram revitalizadas, foram criados telecentros comunitários, a alimentação escolar ganhou
reforço. Os resultados são enumerados pela secretária de Educação do município, Elieth Braga: as
matrículas aumentaram, a evasão diminuiu e caíram os índices de reprovação. Como
reconhecimento, Ananindeua ganhou o Prêmio ODM, da Presidência da República, em 2007. O
Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) é o retrato do projeto. Na última aferição do MEC,
o município tirou nota 4,2, ultrapassando a meta estabelecida pelo ministério.

Assunto: Conexão diplomática


Título: 1a Hillary e Obama diante da esfinge
Data: 21/02/2009
Crédito: Silvio Queiroz

Silvio Queiroz
Hillary e Obama diante da esfinge
Os radares estarão atentos, na América Latina, para acompanhar o encontro da secretária de Estado
Hillary Clinton com o ministro Celso Amorim, em Washongton, na quarta-feira de cinzas. Será o
primeiro contato oficial de alto escalão entre os dois governos desde a posse de Barack Obama,
menos um mês antes de o presidente brasileiro ir ao encontro do colega. Lula vai desembarcar nos
EUA forrado pelo sucesso da cúpula latino-americana de dezembro, na Bahia — o primeiro
encontro de líderes da região sem tutela de nenhuma potência, como todos fizeram questão de frisar.

Entre outros assuntos, estará sobre a mesa a Cúpula das Américas, em abril. Obama já confirmou
que vai a Trinidad e Tobago, e poderá ter a primeira chance de olhar nos olhos da esfinge latino-
americana. O enigma é como proceder à distensão com Cuba, definida em Salvador como salvo-
conduto para se reaproximar de uma região que se sentiu abandonada por Bush — e escolheu
caminhar com as próprias pernas. Os anfitriões da cúpula escolhem os convidados, e já deram sinais
de que podem incluir Raúl Castro na lista. Por sinal, na visita que fez a Brasília, depois de conhecer
a Bahia, Raúl disse que conversa com Obama “onde e quando” o americano quiser. Com uma só
condição: que seja de igual para igual.

Papo firme
Também está agendada para a semana que vem uma reunião de Hillary com o chanceler
colombiano, Jaime Bermúdez. A conversa promete. Desde quando ainda disputavam a candidatura
democrata à Casa Branca, tanto ela como Obama deixaram claro que o Plano Colômbia deve
continuar, porém com cobrança de resultados no combate ao narcotráfico — o objetivo inicial,
definido por Bill Clinton em 2000. A secretária e o presidente mantêm o tom depois da posse, e
mais: já avisaram que o tratado de livre comércio só sai quando a Colômbia proteger melhor os
sindicalistas.

Último ato?
O Nuevo Herald, de Miami, afirma que o chefe militar das Farc, Jorge Briceño, agoniza na selva
colombiana sem conseguir insulina para controlar o diabetes. O Mono Jojoy, como é conhecido, faz

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gênero de Pancho Villa, inclusive com a fama de “bandoleiro”. Não é estudado, como o líder
máximo da guerrilha, Alfonso Cano, e a maioria do novo secretariado (alto comando). Mas bobo
não é: como o falecido patriarca Tirofijo, é um camponês matreiro, bom de tiradas. Tive com ele um
encontro rápido (e revelador) durante uma série de reportagens, em 2000. Mal saído do
acampamento, sem fuzil nem cinturão de balas, ele apontou minha caneta e provocou: “Eu estou
desarmado, você não”.

O Itamaraty pede passagem


A diplomacia tem vez no samba, ao menos na obra de dois clássicos do gênero: Moreira da Silva e
Cartola. No primeiro caso, como comédia. O rei do samba de breque, especialista em parodiar o
cinema, descreve um hilariante imbroglio diplomático em Moreira da Silva contra 007. O agente
secreto, imbatível na tela, se dá mal com Morengueira numa tentativa de sequestrar Pelé, com ajuda
da musa Claudia Cardinale, para tirá-lo do caminho da seleção de Sua Majestade:

Moreira leva James Bond para o Dops e na fofoca mais fofoca que eu já vi
vem jornalista, o embaixador inglês se irrita e entra na fita todo o Itamaraty

Cartola, com a elegância de sempre, faz do samba embaixador em Tempos idos. A letra exalta a
jornada desde os batuques de terreiro até os “salões da sociedade” e o reconhecimento
internacional:

O nosso samba, humilde samba, foi de conquistas em conquistas


Conseguiu penetrar no Municipal depois de atravessar todo o universo
Com a mesma roupagem que saiu daqui exibiu-se para a duquesa de Kent no Itamaraty

Dedos cruzados
No Itamaraty há uma torcida discreta para que a chanceler Tzipi Livni continue no cargo. Não
apenas porque faria um contraponto ao premiê Benjamin Netanyahu, que certamente dificultará o
processo de paz com os palestinos. Agora que tem atuado com mais desenvoltura no Oriente Médio,
o ministro Celso Amorim estabeleceu um diálogo fluido com a colega israelense. Os dois se
reuniram em janeiro, durante viagem do chanceler brasileiro à região, como parte do esforço
internacional por uma trégua entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.

Assunto: Mundo
Título: 1j Bibi terá sua segunda chance de governar
Data: 21/02/2009
Crédito: Silvio Queiroz da equipe do Correio

Silvio Queiroz da equipe do Correio


personagem da notícia
Aos 59 anos, Benjamin Netanyahu só esperava pela segunda oportunidade. Em 1996, quando se
tornou o mais jovem primeiro-ministro da história de Israel, como líder do partido direitista Likud,
sua experiência política era reduzida. E não são poucos os observadores e mesmo aliados que
atribuem à falta de tarimba boa parte do seu fracasso: em 1999, o premiê viu-se obrigado a
convocar eleições antecipadas e perdeu.
Seu governo foi breve, mas Bibi, como é chamado, congelou o processo de paz iniciado em 1992
pelos trabalhistas Yitzhak Rabin e Shimon Peres. Sua política de retomar a colonização judaica na
Cisjordânia e Gaza alimentou as tensões e desconfianças entre as partes.
Desde que deixou o poder, Netanyahu comandou uma oposição que a cada ano e a cada eleição foi
migrando para a direita. Mesmo com a volta do Likud ao governo, sob o comando de Ariel Sharon
— um general com credenciais direitistas acima de qualquer suspeita —, Bibi acabou de novo na
oposição. Depois de atuar como chanceler em 2002 e ministro de Finanças em 2003 a 2005,

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rebelou-se quando Sharon decidiu retirar colonos e tropas de Gaza. Tomou a direção do partido e
provocou a formação do centrista Kadima, onde o general linha-dura se uniu a Peres.
A vida e a carreira política de Netanyahu foram marcadas pelo espetacular resgate dos passageiros
tomados como reféns em um avião desviado para Uganda quando voava de Paris para Telavive, em
1976. O coronel Yonatan Netanyahu, irmão mais velho, foi o único militar israelense morto na ação.
Bibi, que era ele próprio um capitão, trocou a farda pelas salas de aula do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT) e iniciou mais uma temporada nos Estados Unidos, onde havia estudado na
adolescência. Dizem que voltou americanizado: trocou o nome hebraico (Binyamin) pela forma
atual. Filiado ao Likud, elegeu-se deputado em 1988 e tornou-se líder da bancada cinco anos mais
tarde.
"Netanyahu quer nossa participação para estabilizar seu governo. Mas não a terá"
Tzipi Livni, chanceler israelense.

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